REVISÃO - DESIGUALDADE, MÓDULO E FUNÇÕES Marina Vargas R. P. Gonçalvesa a Departamento 1 de Matemática, Universidade Federal do Paraná, [email protected], http:// www.estruturas.ufpr.br REVISÃO DE DESIGUALDADE O conjunto dos números reais será representado pela simbologia IR. Em IR estão definidas duas operações, adição (+) e multiplicação (·) e uma relação (≤). A adição associa a cada par (x, y) de números reais um único número real, representado por x + y, a multiplicação, um único real, indicado por x · y. Admitiremos que a quádrupla (IR, +, ·, ≤) é um corpo ordenado, ou seja, satisfazem: i) (x + y) + z = x + (y + z) ii) y + x = x + y iii) x + 0 = x iv) Para todo x ∈ IR existe um único y ∈ IR tal que x + y = 0, ou seja x = −y. Denominamos esse y de oposto de x, e o denotamos por −x. Assim x + (−x) = 0. v) x(yz) = (xy)z vi) xy = yx vii) x · 1 = x viii) Para todo x ∈ IR com x 6= 0existe um único y ∈ IR tal que x · y = 1. Tal y é denominado de 1 inverso de x e indicado por x−1 ou . Assim x · x−1 = 1. x ix) x(y + z) = xy + xz x) x ≤ x xi) x ≤ y e y ≤ x ⇒ x = y xii) x ≤ y e y ≤ z ⇒ x ≤ z xiii) Quaisquer que sejam os reais x e y, tem-se que x ≤ y ou y ≤ x. xiv) Quaisquer que sejam os números reais x, y, z, w e x ≤ y ⇒x+z ≤y+w z ≤ w somando-se, membro a membro, desigualdades de mesmo sentido, obtém-se outra de mesmo sentido. 1 xv) Quaisquer que sejam os números reais x, y, z e x ≤ y 0 ≤ z ⇒ xz ≤ yz multiplicando-se ambos os membros de uma desigualdade por um mesmo número positivo, o sentido da desigualdade se mantém. Desta forma é possível resolver a inequação a seguir Exemplo 1.1 5x + 3 < 2x + 7 Solução: 5x + 3 < 2x + 7 ⇔ 5x < 2x + 4 ⇔ 3x < 4 4 ⇔ x< 3 4 Assim, {x ∈ IR|x < }. 3 Graficamente: Figure 1 Exemplo 1.2 Estude o sinal da expressão x − 3 Solução: • Se x − 3 = 0 ⇒ x = 3 • Se x − 3 < 0 ⇒ x < 3 • Se x − 3 > 0 ⇒ x > 3 Assim, Figure 2 Exemplo 1.3 Determine o conjunto de valores de x ∈ IR para os quais Solução: 2x − 6 < 1. x−1 2x − 6 −1<0 x−1 2x − 6 − x + 1 <0 x−1 x−5 <0 x−1 • x−5 • x−1 Figure 3 Assim, {x ∈ IR|1 < x < 5}. Ver Exemplos 07, 08 e 09 das páginas 07, 08 e 09 - livro do Guidorizzi (1995). Ver Exemplo 08 da página 10 - livro do Leithold (1994). 2 REVISÃO DE MÓDULO Seja x um número real; definimos o módulo (ou valor absoluto) de x por: Definição 2.1 |x| = x −x se se x≥0 x<0 (1) Da definição (2.1), o valor absoluto de um número é um número positivo ou zero; ou seja, não negativo. Em termos geométricos, o valor absoluto de um número real x é sua distância em relação ao valor zero. Figure 4 • |13| = 13 Exemplo 2.1 • | − 4| = 4 • |0| = 0 • |x2 | = x2 • |x − 1| = x − 1, −x + 1 se se x≥1 x<1 A desigualdade |x| < a, onde a > 0, estabelece que na reta numérica real a distância da origem até o ponto x é menor que a unidades; ou seja, −a < x < a. Portanto, x está no intervalo aberto (−a, a), ver Fig.(5). Figure 5 O que nos leva ao Teorema (2.1) Teorema 2.1 Seja x ∈ IR e a > 0. Então |x| < a se e somente se −a < x < a Demonstração: Como |x| = x se x ≥ 0 e |x| = −x se x < 0, segue que o conjunto solução da desigualdade |x| ≤ a é a união dos conjuntos {x | x < a e x ≥ 0} e {x | − x < a e x < 0} Observe que o primeiro desses conjuntos é equivalente a {x | 0 ≤ x < a}, e o segundo é equivalente a {x | − a < x < 0} pois −x < a é equivalente a x > −a. Assim o conjunto solução de |x| < a é {x | 0 ≤ x < a} ∪ {x | − a < x < 0} ⇔ {x |a < x < a} Comparando a desigualdade dada e o seu conjunto-solução, concluímos que |x| < a ⇔ −a < x < a Exemplo 2.2 Resolva cada uma das equações para x. a) |3x + 2| = 5 b) |2x − 1| = |4x + 3| c) |5x + 4| = −3 Solução: a) Essa equação estará satisfeita se • 3x + 2 = 5 ou −3x − 2 = 5 Portanto x = 1 ou − 7 3 b) Essa equação estará satisfeita se • 2x − 1 = 4x + 3 ou 2x − 1 = −(4x + 3) Portanto x = −2 ou − 1 3 c) Como o valor absoluto de um número não pode ser negativo, logo essa equação não tem solução. Teorema 2.2 Se a, b ∈ IR, então |ab| = |a| · |b| (2) a |a| = b |b| (3) |a + b| ≤ |a| + |b| (4) Teorema 2.3 Se a, b ∈ IR e b 6= 0, Teorema 2.4 (Desigualdade Triangular) Se a, b ∈ IR, então Corolário 2.1 Se a, b ∈ IR, então |a − b| ≤ |a| + |b| Corolário 2.2 Se a, b ∈ IR, então |a| − |b| ≤ |a − b| Ver Leithold (1994). 3 REVISÃO DE FUNÇÕES Definição 3.1 Entendemos por uma função f uma terna (A, B, a 7→ b), que também pode ser representada por f: A → B a 7→ b onde A e B são dois conjuntos e a 7→ b, uma regra que nos permite associar a cada elemento a de A um único b de B. O conjunto A é o domínio de f e indica-se por Df , assim A = Df . O conjunto B é o contradomínio de f , então B = CDf . Definição 3.2 Quando x percorre o domínio de f , f (x) descreve um conjunto denominado imagem de f . Este é indicado por Imf onde, Imf = {f (x)|x ∈ Df } ou Imf = {y ∈ CDf | ∃x ∈ Df com f (x) = y} Uma função de f de domínio A e contradomínio B é usualmente indicado por f : A → B. Uma função de uma variável real a valores reais é uma função f : A → B, onde A e B são subconjuntos de IR1 . Exemplo 3.1 Seja f : IR → IR . x 7→ x3 Têm-se: a) Df = IR; b) Imf = {y = x3 |y ∈ IR}, pois para todo y em IR existe x real tal que x3 = y. c) O valor que f assume em x é f (x) = x3 . Esta função associa a cada real x o número real f (x) = x3 . Definição 3.3 O gráfico de uma função real f : A → B é o subconjunto de pontos (x, y) ∈ IR2 tais que x ∈ Df e y = f (x): Gf = {(x, y) ∈ IR2 |x ∈ Df e y = f (x)}. Exemplo 3.2 Seja f a função dada por f (x) = √ x. Tem-se: a) Df = {x ∈ IR|x ≥ 0}; √ b) Imf = {y ∈ IR|y ≥ 0}, pois para todo y em IR existe x real tal que x = y. √ c) Gráfico de f . A função f é dada pela regra x 7→ y, y = x. Quando x cresce, y também cresce, sendo o crescimento de y mais lento que o de x; quando x aproxima-se de zero, y também aproxima-se de zero, só que mais lentamente que x. Figure 6 Exemplo 3.3 Considere a função g dada por g(x) = y = 1 1 . Tem-se: x Até menção em contrário, só trataremos com funções de uma variável real a valores reais. a) Dg = {x ∈ IR|x 6= 0}; b) Img = {y ∈ IR|y 6= 0}. Essa função associa a cada x 6= 0 o real g(x) = c) g(x + h) = 1 onde x 6= −h. x+h d) Gráfico de g. Figure 7: software Maple 13. 3.1 Conceitos Fundamentais 1. Função Par: f (−x) = f (x). Exemplo: f (x) = x2 . 2. Função Ímpar: f (−x) = −f (x). Exemplo: f (x) = x3 . 3. Funções por partes: x<0 −x, 2 x , 0 ≤ x≤1 f (x) = 1, x>1 4. Função com valor absoluto: f (x) = |x|, ou ainda, f (x) = −x, x < 0 x, x ≥ 0 1 . x 5. Função Composta: Exemplo: f (x2 + 1) = √ f ◦ g(x) = f (g(x)). √ x2 + 1, sendo f (x) = x e g(x) = x2 + 1. 6. Translação de Gráfico - Vertical y = f (x) + k • Translada o gráfico k unidade para cima se k > 0. • Translada o gráfico |k| unidade para baixo se k < 0 Figure 8: Para transladar o gráfico f (x) = x2 para cima (ou para baixo), adicionamos constantes positivas (ou negativas) à fórmula de f . 7. Translação de Gráfico - Horizontal y = f (x + h) • Translada o gráfico h unidade para a esquerda se h > 0. • Translada o gráfico |h| unidade para a direita se h < 0 Figure 9: Para transladar o gráfico f (x) = x2 para a esquerda, adicionamos uma constante positiva a x. Para transladar o gráfico para a direita, adicionamos uma constante negativa a x. 8. Função Injetora: ∀x1 , x2 x1 = 6 x2 ⇒ f (x1 ) 6= f (x2 ) x1 = x2 ⇒ f (x1 ) = f (x2 ) 9. Função Sobrejetora: Uma função é sobrejetora (ou sobrejetiva) quando o conjunto imagem coincide com o contradomínio da função. 10. Função Bijetora: Uma função bijetiva (função bijetora, correspondência biunívoca ou bijecção), é uma função injetiva e sobrejetiva (injetora e sobrejetora). 11. Função Inversa: f (x) tem que ser bijetora. Observação 3.1 f −1 (x) 6= e 1 f (x) 1 = [f (x)]−1 f (x) Se f é injetora ela pode ser invertida de modo que mande de volta cada valor assumido ao ponto do qual ele veio. 12. Função Exponencial: f (x) = ax , para a > 1 Exemplo: f (x) = 2x . 13. Função Logarítmica: y = loga x ⇔ x = ay Propriedades: • aloga x = x • loga ax = x, (a > 0, a 6= 1, x > 0) log x • Mudança de base: loga x = log a 14. Funções Trigonométricas: f (x + p) = f (x) para qualquer valor de x e p é o período da função. Exemplo: cos(θ + 2π) = cos(θ) e p = 2π. 3.1.1 Coeficiente Angular Definição 3.4 Seja a equação da reta y = mx + b, onde y para pelos pontos (x1 , y1 ) e (x2 , y2 ), então podemos dizer que m é o coeficiente angular da reta y com m= ∆y y2 − y1 = ∆x x2 − x1 e a equação da reta y pode ser reescrita como y − y1 = m(x − x1 ) ou y − y2 = m(x − x2 ) 4 LISTA DE EXERCÍCIOS 1. Resolva as inequações: a)x − 3 > 0 b)x + 3 ≤ 6x − 2 c)2x + 1 ≥ 3x 2x − 1 <0 d) x+1 x−3 e) 2 <0 x −1 f) x(2x − 1) ≤ 0 g) (2x − 3)(x2 + 1) < 0 2. Faça a análise de sinal das expressões a) 5x − 4 b) 7 − x x−6 c) x−3 (x − 1) d) (x − 1)2 2 − 3x e) x+2 f) (x − 2)(x + 2) g) (2x − 1)(x2 + 1) 3. Ache o conjunto solução das inequações: a)|3x + 4| > 7 b) |x2 + 4x + 7| > 3 4. Provar o Teorema (2.2) e os Corolários (2.1) e (2.2). 5. Calcule: 1 a) h(−1) e h , sendo h(x) = −x3 + x2 − 3 2 √ x b) g(0), g(2) e g( 2), sendo g(x) = 2 x −1 1 6. Calcule o domínio de f (x) = p . |x| − x 7. Escreva se as funções abaixo são funções pares, ímpares ou nenhuma delas e faça o gráfico de cada uma delas. a) f : IR → IR, tal que x 7→ f (x) = 1 − x4 b) f : IR → IR, tal que x 7→ f (x) = x5 + x c) f : IR → IR, tal que x 7→ f (x) = 2 − x3 8. Existe uma função que seja par e ímpar ao mesmo tempo? Se existir, dê um exemplo. REFERENCES Guidorizzi H.L. Um Curso de Cálculo, volume I. LTC, 1995. Leithold L. O Cálculo com Geometria Analítica, volume I. Harbra, 1994.