Potencialidade ornamental e paisagística - PPGAgro

Propaganda
iii
UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA
POTENCIALIDADE ORNAMENTAL E PAISAGÍSTICA,
CARACTERIZAÇÃO MORFO-ANATÔMICA E PROPAGAÇÃO
DE Erythrina cristagalli L.
ARIANE GRATIERI-SOSSELLA
ORIENTADORA: Profa. Dra. CLÁUDIA PETRY
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Agronomia da
Faculdade de Agronomia e Medicina
Veterinária da UPF, para obtenção
do título de Mestre em Agronomia área de concentração em Produção
Vegetal.
Passo Fundo, abril de 2005
iv
“Apesar
dos nossos defeitos,
precisamos enxergar que somos pérolas únicas no teatro da vida
e entender que não existem pessoas de sucesso ou pessoas fracassadas.
O que existe são pessoas que lutam pelos seus sonhos ou desistem deles.”
Por isso...
Nunca desista dos seus sonhos!
Augusto Cury
v
DEDICO
vi
AGRADECIMENTOS
À Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade
de Passo Fundo, pela acolhida e concessão de bolsa de estudos, em
especial à Coordenação do Programa de Pós-graduação pela eficiência e
colaboração.
À Professora Dra. Cláudia Petry, que muito além da orientação, nos
brindou com sua dedicação, amizade e confiança, mostrando que somos
presenteados por Deus com pessoas maravilhosas.
Aos Professores Alexandre Nienow e Cerci Carneiro pela coorientação, essencial à realização do trabalho.
Aos Professores Eunice Calvete, Dileta Cecchetti, Jonez Severo,
Erlei Reis e aos demais professores da UPF pelos conhecimentos e
dedicação a nós dispensados. Bem como os funcionários do Setor de
Horticultura, ao Maximino Nunes, funcionário do viveiro de mudas da
UPF, aos funcionários dos Laboratórios de Sementes e Fitopatologia e a
todos os que colaboraram, pelo apoio e amizade.
Ao Professor João Pires, pelo fornecimento de material botânico
para a estaquia e informações importantes e ao Viveiro Garden Sul de
Erechim pelo fornecimento das mudas.
A todos os colegas, mas em especial aos mais presentes em nosso
dia-a-dia, Daniela Fávero, Karinne, Ana Rúbia e Odirce pela amizade e
companheirismo.
À minha família, pelo amor e carinho. Ao Rinaldo, pelo apoio,
compreensão e amor em todos os momentos.
vii
SUMÁRIO
Página
LISTA DE TABELAS.............................................................
xi
LISTA DE FIGURAS..............................................................
Xiii
RESUMO.................................................................................
2
SUMARY.................................................................................
3
1 INTRODUÇÃO.....................................................................
5
2 REVISÃO BIBLIOGRÀFICA..............................................
7
2.1 Relação paisagem-paisagismo-horticultura.....................
7
2.1.1 Aplicação do estudo da paisagem............................
7
2.1.2 Paisagismo e ecologia..............................................
9
2.1.3 Seleção hortícola para uso em paisagismo...............
12
2.1.4 A vegetação e a paisagem de rio..............................
15
3 Fenologia................................................................................
18
3.1 Descrição botânica .........................................................
18
3.2 Aspéctos ecológicos e taxonômicos da Erythrina
cristagalli.................................................................................
20
3.3 Representações na paisagem..........................................
22
3.3.1 Distribuição geográfica..........................................
22
4 Valorização da paisagem regional........................................
25
5 Aspectos culturais ligados à Erythrina cristagalli...............
29
6 Aspectos da vegetação ornamental.......................................
32
6.1 Plasticidade.....................................................................
33
6.1.1 Forma......................................................................
34
6.1.2 Textura....................................................................
33
viii
6.1.3 Transparência.........................................................
35
6.1.4 Cor e brilho.............................................................
35
7 Os sistemas de tecidos vegetais e células componentes.......
36
8 Aspectos anatômicos importantes relacionados à família
Fabaceae....................................................................................
37
9. Propagação............................................................................
42
9.1 Sementes e germinação..................................................
42
9.2 Dormência e dureza......................................................
44
9.3 Fatores ambientais envolvidos na germinação..............
45
9.3.1 Umidade e aeração................................................
45
9.3.2 Temperatura..........................................................
45
9.3.3 Luz........................................................................
46
9.4 Problemática dos aspectos fitossanitários em espécies
florestais..................................................................................
46
9.5 Propagação vegetativa: estaquia...................................
48
9.5.1 Princípios anatômicos do enraizamento..............
51
9.5.2 Princípios fisiológicos do enraizamento...............
51
9.5.2.1 Substâncias reguladoras do crescimento das
plantas.....................................................................................
52
9.5.2.2 Auxinas........................................................
52
9.5.2.3 Citocininas...................................................
53
9.5.2.4 Giberilinas..................................................
54
9.6 Fatores que afetam a propagação por estacas...............
54
9.6.1 Fatores internos....................................................
55
8.6.2 Fatores externos...................................................
56
ix
CAPÍTULO I -
ANÁLISE MORFO-FENOLÓGICA E
POTENCIALIDADE ORNAMENTAL DE Erythrina cristagalli
L......................................................................................................
59
RESUMO.......................................................................................
59
ABSTRACT..................................................................................
60
1 INTRODUÇÃO..........................................................................
61
2 MÉTODOS.................................................................................
64
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO...............................................
65
3.1 Fenologia.............................................................................
65
3.2 Plasticidade..........................................................................
74
3.3 Potencialidade ornamental...................................................
77
4 CONCLUSÕES...........................................................................
86
CAPÍTULO II – ANATOMIA COMPARADA DE Erythrina
cristagalli L. ADAPTADA A DOIS AMBIENTES – SECO E
BANHADO...................................................................................
87
RESUMO......................................................................................
87
ABSTRACT..................................................................................
88
1 INTRODUÇÃO.........................................................................
89
2 MATERIAL E MÉTODOS.......................................................
91
2.1 Local e período da coleta.....................................................
91
2.2 Análise anatômica................................................................
92
2.3 Análise em microscopia fotônica (Mf).................................
93
2.3.1 Preparação das laminas.................................................
93
2.3.2 Microscopia fotônica e tomada das imagens................
93
x
2.3.3 Grau de esclereificação (GE).......................................
93
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................
94
3.1 Pecíolo..................................................................................
94
3.2 Lâmina Foliar.......................................................................
94
3.2.1 Epiderme......................................................................
96
3.2.2 Mesofilo.......................................................................
97
3.2.3 Sistema Vascular..........................................................
99
4 CONCLUSÕES...........................................................................
CAPÍTULO
III
–
GERMINAÇÃO
E
108
PROBLEMAS
FITOSSANITÁRIOS EM SEMENTES DE Erythrina cristagalli
L. ...................................................................................................
109
RESUMO.......................................................................................
109
ABSTRACT...................................................................................
110
1 INTRODUÇÃO..........................................................................
111
2 MATERIAL E MÉTODOS.........................................................
113
2.1 Teste de germinação.............................................................
113
2.2 Teste de sanidade................................................................
114
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................
115
3.1 Análise das vagens..............................................................
115
3.2 Germinação das sementes...................................................
118
3.3 Sanidade das sementes.........................................................
120
4 CONCLUSÕES..........................................................................
122
CAPÍTULO IV – PROPAGAÇÃO DA CORTICEIRA DO
BANHADO (Erythrina cristagalli L.) PELO PROCESSO DE
ESTAQUIA....................................................................................
123
xi
RESUMO........................................................................................
123
ABSTRACT....................................................................................
124
1 INTRODUÇÃO...........................................................................
125
2 MATERIAL E MÉTODOS.........................................................
129
2.1 Propagação da corticeira do banhado (Erythrina
cristagalli L.) por estacas lenhosas e uso do AIB.........................
130
2.2 Propagação da corticeira do banhado (Erythrina cristagalli
L.) por estacas semilenhosas e uso do AIB....................................
131
2.3 Propagação da corticeira do banhado (Erythrina cristagalli
L.) por mini-estacas herbáceas e uso do AIB................................
132
2.4 Propagação da corticeira do banhado (Erythrina cristagalli
L.) por estacas foliares em diferentes substratos...........................
132
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................
133
3.1 Resultados............................................................................
133
3.2 Discussão.............................................................................
138
4 CONCLUSÕES...........................................................................
142
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................
143
DIRETRIZES.................................................................................
145
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................
148
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela
Página
CAPÍTULO I
1 vEventos fenológicos de Erythrina cristagalli L., avaliados
cronologicamente no período de agosto de 2003 a agosto de
2004, em plantas do ambiente seco e úmido no município de
Passo Fundo, RS..........................................................................
2
Características
referentes
à
plasticidade
da
Erythrina
cristagalli L., Passo Fundo, RS, 2004.........................................
3
67
76
Características ornamentais da Erythrina cristagalli L. de
acordo com o Índice Composto de Potencial Ornamental de
Espécies Tropicais estruturado e com valores numéricos
sugeridos por Chamas e Matthes (2000), Passo Fundo, RS,
2004.............................................................................................
80
CAPÍTULO III
1
Análise das sementes em vagens de Erythrina cristagalli
coletadas em cinco locais. Total de 100 vagens/local, no
município de Passo Fundo, 2004................................................
117
xiii
2
Germinação, apodrecimento e dormência de sementes não
escarificadas, e sobrevivência de plantulas de Erythrina
cristagalli, na região de Passo Fundo, após 180 dias no
germinador, Passo Fundo, RS, 2004..........................................
3
119
Percentual e gêneros de fungos encontrados nas sementes de
Erythrina cristagalli, coletadas na região de Passo Fundo, em
teste de ágar, no Laboratório de Fitopatologia da UPF em
Passo Fundo, RS, 2004...............................................................
121
CAPÍTULO IV
1
Porcentagem de enraizamento, de mortalidade e comprimento
da maior raiz de mini-estacas herbaceas de corticeira do banhado
(Erythrina cristagalli L.), tratadas com ácido indolbutírico
(AIB). Passo Fundo, FAMV, 2004 ...............................................
2
135
Massa fresca e seca de raiz e parte aérea de mini-estacas
herbáceas de corticeira do banhado (Erythrina cristagalli L.),
tratadas com acido indolbutírico (AIB). Passo Fundo, FAMV,
2004................................................................................................. 137
xiv
LISTA DE FIGURAS
Figura
Página
CAPÍTULO I
1
Erythrina cristagalli no período de inverno, sem a
folhagem, Passo Fundo, 2003..............................................
2
Erythrina cristagalli em fase de brotamento no período de
primavera, Passo Fundo, 2003.............................................
3
70
71
Erythrina cristagalli em plena florada no período de
primavera verão, Passo Fundo, 2003/2004.........................
72
4
Erythrina cristagalli em frutificação, Passo Fundo, 2004...
73
5
Características do tronco de Erythrina cristagalli L.nos
ambientes, seco e banhado: (A) tronco com ranhuras
profundas da planta do banhado, (B, C) espécies epífitas
alojadas sobre o tronco da planta do banhado, (D) tronco
da planta do ambiente seco com menos ranhuras e epífitas.
6
82
Morfologia da folhas e das inflorescências de Erythrina
cristagalli com destaque para o contraste de cores (A) e
detalhe das flores (B), Passo Fundo, 2004..........................
7
83
Imagem do interior da copa de uma Erythrina cristagalli,
mostrando a densidade da folhagem durante (A) e após a
floração (B), Passo Fundo, 2004..........................................
8
Adaptabilidade da Erythrina cistagalli L. a diversos
ambientes: (A) Ambiente seco no jardim da UPF; (B)
alagado em banhado da região e (C) em ambiente urbano
84
xv
cercada por cimento, Passo Fundo, 2004............................
85
CAPÍTULO II
1
Algumas características anatômicas de E. cristagalli L. em
diferentes ambientes, Passo Fundo, RS, 2004......................
2
Secção transversal da porção mediana do pecíolo de
Erythrina cristagalli............................................................
3
103
104
Secção transversal da lâmina foliar de Erythrina
cristagalli: (A) Epiderme abaxial mostrando as papilas na
planta do banhado (400x MF), (B) Epiderme abaxial com
papilas na planta do ambiente seco (400x MF), (C)
epiderme adaxial não papilosa e a abaxial papilosa (100x
MF).......................................................................................
4
105
Secção transversal do mesofilo de Erythrina cristagalli:
(A) bordo foliar (100x MF), (B) Parênquima clorofiliano
paliçádico da planta do ambiente seco (400x MF), (C)
Parênquima clorofiliano paliçádico da planta do banhado
(100x MF), (D) Parênquima clorofiliano lacunoso
(400xMF).............................................................................. 106
5
Secção transversal do mesofilo de Erythrina cristagalli,
evidenciando a extensão da bainha do feixe vascular (I),
células aclorofiladas entre o tecido paliçádico e o lacunoso
(II), feixes vasculares secundários (III), (100x MF)............
6
Secção transversal do mesofilo de Erythrina cristagalli, na
107
xvi
região da nervura central: (A) Arco vascular semi-fechado
na planta do banhado (100x MF), (B) Disposição dos
feixes em arco na face abaxial com um pólo de feixes na
face adaxial da folha na planta do ambiente seco (100x
MF)......................................................................................
108
CAPITULO IV
1
Gráfico da curva de Regressão, evidenciando o índice de
mortalidade das mini-estacas herbáceas em relação as
doses de AIB utilizadas........................................................
136
1
POTENCIALIDADE ORNAMENTAL E PAISAGÍSTICA,
CARACTERIZAÇÃO MORFO-ANATÔMICA E PROPAGAÇÃO
DE Erythrina cristagalli L.
Ariane Gratieri-Sossella1, Claudia Petry2, Alexandre Augusto Nienow2,
Cerci Carneiro2
RESUMO GERAL - Espécies nativas são pesquisadas a fim de adaptálas ao uso em paisagismo. Erythrina cristagalli L. é uma espécie nativa
higrófita que tolera ambientes mesofíticos, o que permite sua ampla
utilização em ornamentação de praças, parques e jardins. Objetiva-se
estudar alguns fatores envolvidos no fenômeno adaptativo e de
propagação desta espécie arbórea para fins ornamentais. O trabalho foi
desenvolvido na Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da
Universidade de Passo Fundo, RS, onde se avaliou a potencialidade
ornamental da planta, observando estádios fenológicos e a plasticidade
ornamental da espécie, situada em ambientes de banhado e seco na
região, avaliadas mensalmente durante um ano. Também foram
realizadas análises anatômicas de folhas e pecíolos, germinação e teste de
sanidade das sementes e propagação vegetativa por estaquia da espécie
estudada. A mesma pode ser classificada como tendo máximo potencial
ornamental devido à beleza, contraste de cores, interação com a fauna e
grande adaptabilidade, possuindo grande aplicabilidade em paisagismo.
Brotamento, floração e frutificação ocorrem nos meses mais quentes do
1
Bióloga, aluna do curso de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Agronomia,
área de concentração em Produção Vegetal da FAMV/UPF.
2
Professores Orientadores.
2
ano (setembro/março) e senescência no período mais frio do ano
(maio/agosto). A análise anatômica evidenciou epiderme papilosa na face
abaxial; mesofilo isobilateral. No banhado as células paliçádicas são mais
compactadas em relação ao ambiente seco; o sistema vascular é formado
por um arco vascular semifechado mostrando na planta do banhado,
xilema mais desenvolvido, mais calibroso, porém com paredes celulares
mais delgadas em relação à planta do ambiente seco. Apenas 48 % das
sementes do exemplar cultivado e 13,25 % das sementes dos exemplares
à campo puderam ser consideradas sadias. O teste fitossanitário
demonstrou a presença de Penicillium, Alternaria e Phomopsis
associados às sementes. Em teste de germinação, que durou 180 dias,
apenas 24,5 % das sementes germinaram mostrando elevado grau de
dormência para a espécie. Para testar a viabilidade da estaquia foram
utilizadas estacas lenhosas, testadas no outono-inverno e foliares, semilenhosas e juvenis no verão, em experimentos distintos. Não foi
observada diferença estatística nas variáveis analisadas, no entanto, a
porcentagem de estacas juvenis enraizadas no verão (93,3 %) foi superior
às lenhosas do outono-inverno (3,0%), às foliares (1,4 %) e semilenhosas (0%) testadas no verão. Deste modo, além da bela plasticidade,
em função de sua excelente adaptabilidade em ambientes diversos, é
possível instalar capões de corticeiras ou “ceibais” em ambientes urbanos
e secos, graças às técnicas do jardim clonal.
Palavras chave: corticeira do banhado, paisagismo, anatomia, estaquia.
3
ORNAMENTAL AND LANDSCAPE POTENCIALITY, MORPHOANATOMIC CHARACTERIZATION OF Erythrina cristagalli L.
ABSTRACT - Native species are researched in order to they be framed
in landscape project. The Erythrina cristagalli L. is hydrophyte native
specie, fact that allows your wide use in ornamentation of squares, parks
and gardens. This work has as objective to study the behavior of the
Erythrina cristagalli L. for ornamental finality. This work was developed
in Agronomy and Veterinary University of Passo Fundo, RS. The
ornamental potentiality of plants of Erythrina cristagalli L. of the two
areas were analyzed with base in the Tropical Species Ornamental
Potential Composed Index. This index includes an analysis of the
phenologycal characteristic and ornamental plasticity of the plants.
Vegetative stadium, leaves, trunk and, flowering were analyzed in plants
located in two soil moisture conditions (mangrove marsh and hill top)
monthly for one year. This specie has a maximum potential index due to
the beauty of the group, leaves, flowers, log, contrast of colors,
interaction with the fauna and great adaptability due to the characteristic
rusticity of pioneering plants. The phenological phases are closed with
climatic variations, when the budding, flowering and fruits in the hottest
months of the year (summer and spring) and leaves died in the period
colder of the year (winter/autumn). The plants anatomical analysis
showed adaptability of the epidermis, when in the plants growing in the
mangrove the cells are bigger and with a high density. In this plants,
there is a decreasing of the spongy tissue. The xylem is more developed
4
in the plants that growing in the mangrove, as well as a high vascular
density and diameter of the vascular bundles. However, the wall of cells
of plants growing in the mangrove is thinner than plants growing in the
hilltop. Difference significant statistics was not observed in none of the
analyzed variables, however, the percentage of juvenile planting cuttings
taken root in the summer (93,3 %) it was superior largely the woody of
the autumn-winter (3%), as well as of the planting cuttings foliate (1,4%)
and semi-woody (0%) tested in the summer. The Erythrina cristagalli L.
besides your beautiful plasticity, wrinkled and tortuous log, structures
mixed, delicate foliage and exuberant flowering, interacts with the fauna
and flora attracting birds and insects and carrying in the grooves of your
log great epiphytes diversity. Still in function of your excellent
adaptability in such several atmospheres, it will be possible the
installation of this species in the urban environment with water soil
deficit.
Key words: swamp corticeira, landscape, anatomy, cuttings.
5
1 INTRODUÇÃO
O gênero Erythrina pertence à família Fabaceae (Cronquist, 1981) e
ocorre nas regiões tropicais e subtropicais do mundo, possuindo, segundo
Ferreira e Brandão (1978), cerca de 104 espécies, das quais 51 são
americanas, 32 africanas, 18 asiáticas e 3 australianas. O nome Erythrina
vem do grego “erytros”, que significa vermelho, em alusão à cor de suas
flores. Apesar de apresentar-se naturalmente em locais com solos muito
úmidos e alagados, componente da vegetação higrófita adapta-se muito
bem a ambientes diversos, além de apresentar incomparável beleza,
podendo ser usada amplamente em paisagismo urbano.
Num
primeiro
momento,
torna-se
necessário
uma
sucinta
dissertação sobre a relação entre paisagem, paisagismo e horticultura
visando atender as atuais exigências do desenvolvimento sustentável na
gestão territorial para, em seguida, apresentarmos algumas características
importantes da espécie nativa Erythrina cristagalli L. Desta, apresentarse-á aspectos botânicos e principais eventos fenológicos, hábitos em
ambientes naturais, distribuição geográfica e representações nas paisagens
fitogeográficas, características que lhe são inerentes e conferem um
grande potencial como planta ornamental, demonstrando como a
plasticidade característica de uma espécie pode ser determinante nas
formações vegetais. Outro ponto é demonstrar a importância de alguns
aspectos culturais que são gerados em torno da espécie e de que forma as
árvores podem servir como marcos identitários do lugar.
6
Num segundo momento, serão apresentados alguns fatores
importantes que dizem respeito à fisiologia e anatomia da planta, da
propagação e potencialidade de regeneração natural através de sementes.
Além disso, será abordada a técnica de propagação vegetativa por
estaquia com o uso de fitorreguladores em diferentes tipos de estacas e
épocas do ano.
A sobrevivência da humanidade está relacionada com a preservação
da vegetação nativa, em virtude dos diferentes ecossistemas que compõe
a natureza, oportunizando a realização de processos biológicos. Para
preservar é preciso conhecer o objeto da preservação. As espécies nativas
são pouco conhecidas e por isso pouco cultivadas. Não sendo cultivadas
não são adotadas em projetos de tratamento paisagístico. Por isso,
pretendemos destacar a importância de apreciar e difundir o
conhecimento dessa espécie nativa e a possibilidade de produção de
mudas para uso em arborização urbana.
É importante que sejam clareados alguns princípios fisiológicos das
adaptações de E. cristagalli L. às diferentes condições edáficas, e nesse
caso, veremos algumas diferenças anatômicas da planta quando
implantada em local seco. Pretende-se também estudar os problemas e
elementos intrínsecos relacionados à sua propagação averiguando qual o
melhor método de propagação para esta espécie. Ainda, avaliar e destacar
elementos da plasticidade da planta que lhe conferem grande
potencialidade ornamental assim estimulando o uso de espécies nativas
cujo potencial genético ainda é pouco estudado e pouco explorado.
7
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Relação paisagem-paisagismo-horticultura
2.1.1 Aplicação do estudo da Paisagem
Inicialmente, é importante resgatar que a Convenção européia da
paisagem, estabelecida na carta de Florença em 2000, define paisagem
como “uma parte do território tal qual é percebida pelas populações, cujo
caráter resulta da ação de fatores naturais e/ou humanos e de suas interrelações” (Convention..., 2000). Ela designa ainda a política da paisagem;
o objetivo de qualidade paisagística; e a proteção, gestão e manejo das
paisagens européias. Esse avanço legal na gestão das paisagens, é
considerado como complemento de instrumentos jurídicos internacionais
como a “Convenção da Unesco sobre a proteção do patrimônio mundial,
cultural e natural” (Paris, 16/11/1972); e as convenções do Conselho da
Europa sobre: “conservação da vida selvagem e do meio natural” (Berna,
19/09/1979), “pela salvaguarda do patrimônio arquitetural” (Granada,
3/10/1985) e “pela proteção do patrimônio arqueológico” (La Vallette,
16/01/1992) da Europa. Além do que, complementa ainda a iniciativa
internacional de “estratégia pan-européia da diversidade biológica e
paisagística” (Sofia, 25/10/1995) (Convention..., 2000). Em outras
palavras, na Europa, paisagem é patrimônio, é tema interdisciplinar por
excelência e é protegida por lei internacional.
Como então avaliar seu valor estético? Um diagnóstico das
características estéticas da paisagem, para Cabanel (2000) engloba
8
dissertar
sobre
a
textura
dos
materiais
e
suas
nuances;
a
complementaridade, oposição e dominância das cores; os contrastes; a
escala; a composição; as formas que se repetem; os enquadramentos
visuais; a transparência; as visões abertas e fechadas; os odores e
sonoridades associadas,... E seu valor cultural e afetivo é percebido
principalmente através de entrevistas junto aos moradores do local onde
ela se encontra. France (1994) recomenda, para identificar e caracterizar
as paisagens, fazer a identificação de unidades paisagísticas; a localização
de sítios e de paisagens institucionalizadas; a identificação de
representações iconográficas de paisagens, assim como a identificação
das paisagens de interesse local através de entrevistas nas comunidades
envolvidas no estudo. Com exceção deste último item, os outros serão
tratados ao longo da dissertação.
Como o objetivo deste trabalho é o de estudar uma espécie arbórea
nativa higrófita, que prefere zonas úmidas, torna-se necessário identificar
os locais de sua ocorrência, para identificar assim os recursos
paisagísticos neles contidos. Em obra clássica sobre o manejo das
paisagens, Cabanel (2000) identificou 9 tipos de zonas úmidas na França,
constituídas pelos elementos água, canais de evacuação, bombas e matas
ciliares (ripisylve), cujos interesses no seu manejo são: depuração das
águas, efeito esponja na atenuação das enchentes, grande riqueza
ecológica (paraíso de pássaros e batráquios), produção de arroz, sal e
turfa; pesca; pecuária; caça, turismo, horticultura (hortillonnages) e
militar. Os efeitos paisagísticos são os observatórios de natureza multisensorial (ruídos, cantos e cheiros), visões abertas (olhar sobre a
9
superfície d´água e sob o céu) e fechadas (o olhar se perde no labirinto de
árvores e plantas diversas); e paisagem aquática de contornos indecisos.
A grande ameaça que pesa sobre esses espaços na França é a drenagem
para produção de milho. No caso brasileiro, além da agricultura intensiva
não conservacionista, a outra grande ameaça seria a urbanização sem
planejamento.
Sobre a paisagem de banhado e similares, Donadieu e Dumont-Fillon
(1999) estudando o caso do marais (banhado) Vernier em Normandia,
observaram que os habitantes do lugar estão recriando suas identidades
territoriais, seja reconduzindo estereótipos regionais como a chaumière
(casa enxaimel com espesso telhado de capim) normanda, seja inventando
novas imagens e novos espaços de vida selvagem no banhado. Estudos
ecológicos sobre rios começam também a envolver análises simbólicas.
Sobre o apego e uso cultural que as pessoas lhe atribuem, por exemplo, o
ensaio de Antoine e Pizzorni-Itié (2000) apresenta a redescoberta da
“Bièvre”, riacho que nasce ao sul de Paris e que em seu último trecho
antes de afluir no rio Sena, na capital, ele encontra-se completamente
canalizado.
2.1.2 Paisagismo e ecologia
Como as tendências atuais em paisagismo na França buscam
aproximar o respeito à memória dos lugares e o respeito ao ambiente,
buscando manejos que visem o desenvolvimento sustentável (Corajoud,
2000), surgem técnicas como o PBI (protection biologique integrée, algo
10
como controle integrado de pragas) ou a gestão diferenciada dos espaços
verdes, utilização de recipientes biodegradáveis e reutilização dos
resíduos vegetais, além do conceito de jardim perfumado e do jardim
habitado (Lien Horticole, 2005). Segundo Martine Georget, integrante da
Astredhor (Associação nacional de estruturas de experimentação e de
demonstração em horticultura), dos 330 ensaios que serão realizados pela
rede de estações desta associação, 21 estarão relacionados diretamente
com a paisagem (Lien Horticole, 2005). Esta tendência de relacionar a
horticultura com a ecologia e a paisagem tem ganhado muitos adeptos
após a conferência Rio 92.
Um
dos
paisagistas
contemporâneos
franceses
que
trabalha
predominantemente com princípios ecológicos em seus projetos é Gilles
Clement. Ele criou as concepções de “Jardim planetário” (um projeto
“político” que integra plantas exóticas e nativas), “Jardim em
movimento” (manejo de capoeiras urbanas) (Clement, 1997), e “Terceira
paisagem” (para se referir aos espaços livres abandonados) (Clement,
2004). Em se tratando de desenvolvimento sustentável, Normand (2004)
lembra ainda que os cursos d’água em meio urbano, mesmo sendo
pequenos, quando acompanhados de sua mata ciliar, contribuem para o
efeito de corredor biológico. Santos (1997) relatou a importância,
sobretudo ecológica, das araucárias remanescentes em Curitiba para ligar
pontos na paisagem da capital paranaense.
No Brasil, cita-se Roberto Burle Marx e Fernando Chacel. Este
último, discípulo do primeiro, inclusive criou a noção de ecogênese no
paisagismo, ao criar modelos “parque”, “caatinga” e “mangue” nos seus
11
projetos paisagísticos, restabelecendo assim a configuração vegetal
original dos locais manejados. Por exemplo, no projeto do Parque de
educação ambiental professor Mello Barreto, nas margens da lagoa da
Tijuca, no Rio de Janeiro, a associação de exemplares de Erythrina
falcata Benth sobre maciços de bromélias nativas terrestres, tendo como
pano de fundo o manguezal (Chacel, 2001), foi fascinante por ser, ao
mesmo tempo, uma composição bonita e que remeteu à fisionomia
vegetal das restingas destruídas na região. Já Burle-Marx, foi um mestre
no uso de espécies nativas de uma forma artística muito marcante e de
estilo inconfundível e segundo Flavio Motta:
“Reconhecendo que, para muitos, “a planta é
simplesmente mato”, Burle Marx insiste, com seus
projetos, em criar as mediações indispensáveis para
que a totalidade da população possa aprofundar seus
conhecimentos da flora com a participação na
paisagem. O estudo da nomenclatura vulgar das plantas
pode conduzir ao conhecimento das relações efetivas
entre determinada tradição científica e a visão popular,
a tradição oral, cotidiana, da paisagem”. (Motta, 1983,
p.5).
Em países mais antigos e desenvolvidos como a França, observase, portanto que a vegetação é considerada patrimônio (Dubost, 1994)
sendo cada vez mais festejada em feiras, encontros e exposições
temáticas, além da importância crescente no usufruto dos espaços verdes
de excelência – parques, praças e jardins – ao passo que no Brasil, este
interesse é ainda incipiente para a maioria da população. Petry (2003a)
12
considera esse pouco caso com o verde, como uma herança cultural, fruto
da adaptação dos colonizadores pioneiros a um país com uma natureza
pródiga (paisagem natural grandeur nature) a qual sempre se recuperava
facilmente da intensa exploração extrativista a qual era submetida. Os
graves problemas ambientais da atualidade exigem que este mito do
pioneiro seja revisto com urgência.
2.1.3 Seleção hortícola para uso em paisagismo
Vários trabalhos buscam atualmente, através de entrevistas com a
população, resgatar a importância cultural das árvores na paisagem rural
francesa, como o cultivo do álamo (populiculture) na região de Angers
(Le Floch e Terrasson, 1995), ou compreender as razões do
desaparecimento da macieira de poda alta na Bretanha (Perichon, 2002)
assim como a presença secular da castanha em pequenas propriedades
rurais de Ille-et-Vilaine (Perichon, 2004). Quanto ao uso das árvores no
meio urbano, na França este hábito começou no final do século 18 e em
1830, álamos (Populus spp.) invadiam as cidades, depois os olmos
(Ulmus spp.) e enfim o uso maciço de plátanos (Platanus spp.) após a
doença dos olmos eliminar a maioria daqueles em espaços públicos.
Todas essas espécies tiveram outros usos anteriores, seja como
arborização nas estradas ou como suporte de canhão, no caso o olmo, ou
madeira para aquecimento no inverno (Corvol, 2000).
Recentemente, têm-se ampliado a paleta de espécies arbóreas
usadas nos alignements (arborização urbana) e parques urbanos franceses.
13
Por exemplo Thiery (2001a) cita 21 espécies de Acer já disponíveis para
uso em paisagismo, com diferentes plasticidades, sobretudo nas diferentes
colorações da folhagem e no porte, e 37 espécies de carvalho (Thiery,
2001b), que além dos fatores acima citados apresentam grande variedade
de formato de folhas. Além do aspecto estético, a filial hortícola
holandesa analisa a resposta ecofisiológica de cerca de 8 a 10 novos
cultivares de árvores introduzidos anualmente na arborização urbana
(Lien horticole, 2004a), ao todo já foram analisadas mais de 70 espécies e
cultivares plantadas nas calçadas, trata-se de uma parceria3 da
Universidade de Wageningen com o Naktuibouw (serviço de controle
holandês da horticultura). Por exemplo, em 2004, o Salon du Vegetal de
Angers na França escolheu seis espécies desse projeto, devido aos seus
interesses ornamentais e paisagísticos aliado à qualidade de seus
comportamentos
em
meio
urbano.
As
espécies
foram:
Betula
albosinensis, Prunus sargentii ‘Rancho’, Cercidiphyllum japonicum,
Liquidambar styraciflua “worplesdon”, Malus “Rudolph” e Tília
cordata’Rancho” (Lien Horticole, 2004a).
Após os anos 70, na França acentuou-se a idéia de diversificar nos
jardins, criando verdadeiras coleções pessoais. D’Esse (2005) sugere
discernimento e estudo na escolha das espécies para jardins,
recomendando não escolher espécies de crescimento horizontal muito
vigoroso (hábito rizomatoso) ou com raiz pivotante muito profunda, de
forma a evitar a proliferação descontrolada destas em toda a área. Deve-se
levar em conta as necessidades culturais precisas para cada espécie (pH,
3
Site do projeto: www.straatbomen.nl
14
temperatura, umidade relativa e necessidade hídrica) que normalmente
estão relacionadas com seus centros de origem, além de avaliar a
resistência à pragas, à doenças e à exposição a períodos de seca. O autor
conclui dizendo que não existe planta sem necessidade de manutenção;
mesmo as forrações perenes e vivazes, todas têm respostas fenológicas e
ritmos diferentes, dependentes dos fatores ambientais e climáticos dos
locais onde estão implantadas. O estabelecimento de protocolos de
produção e de acompanhamento das plantas em meios naturais ou
antrópicos torna-se então cada vez mais urgente e necessário.
No caso da diversificação vegetal na paisagem, Cottu (2004) diz
que este fenômeno não é uma moda passageira, ele é um raciocínio lógico
sobre o meio ambiente, que leva em conta dados científicos e técnicos
permitindo realizar o plantio e manutenção mais adequados. Para o autor,
diversificar determina economias ambientais no consumo d’água, de
adubos e agrotóxicos, além de racionalizar a eliminação de dejetos (podas
e cortes de relvados,...), aumenta a biodiversidade animal e participa
efetivamente na restauração do equilíbrio natural. O sucesso na escolha é
observado nas espécies que não apresentam patologias particulares e que
demonstram não necessitar de intervenções repetitivas. Entretanto,
constata-se ainda uma grande deficiência de diversidade - sobretudo de
espécies indígenas – na oferta dos viveiristas profissionais. Como é o caso
da corticeira do banhado, aqui estudada.
15
2.1.4 A vegetação e a paisagem de rio
Para Franco (1997) qualquer projeto de intervenção no espaço
(urbanístico ou territorial) não prescinde do desenho ambiental como
instrumento de detecção da qualidade e encaixe do projeto ao locus, sem
que, todavia, se eliminem as preocupações estético-funcionais herdadas
do paisagismo. A autora sugere assim a integração das curvas irregulares
da natureza às formas simples da geometria clássica. A teoria francesa,
mais culturalista, é retomada por France (1994) no “método de Atlas de
paisagens” ao dizer que a paisagem, pertence desde sua origem à um
domínio
simbólico,
estético
e
fenomenológico,
marcado
pela
subjetividade, enquanto que a ecologia é do domínio científico e objetivo,
onde os especialistas elaboram métodos de avaliações e de medida dos
fenômenos, como a evolução de uma população de fauna ou da flora, a
poluição das águas, etc. Entretanto, as relações entre ambas as noções
existem, pois os processos ecológicos intervém na evolução das paisagens
e as paisagens permitem ler ou revelar esses processos.
Com idéias inovadoras e atuais como estas, que integram a
ecologia à paisagem, percebe-se o enorme potencial que se tem ao cruzar
conhecimentos de domínios diferentes, neste caso, o estudo de uma
árvore nativa higrófita, sua valorização na paisagem natural regional e seu
uso no paisagismo. Conhecer seus hábitos, estrutura e plasticidade,
permite inferir no tipo de uso em paisagismo. Por exemplo, embora
tolerando ambientes mais secos, a corticeira necessita espaços maiores e
livres, sem impermeabilização, para aproveitar melhor a água da chuva e
16
também para evitar acidentes com quebras de galho, já que é uma espécie
com longos ramos tortuosos e de madeira flexível e pouco densa. Nesse
sentido, a Sociedade Francesa de Arboricultura desenvolve um grande
projeto de estudos biomecânicos sobre as “rupturas estivais” de galhos em
árvores situadas no espaço público, devido à importância que o assunto
vem ganhando nos últimos anos (Lien Horticole, 2004b).
O paisagista francês Michel Corajoud (2000) ao dissertar sobre
seus projetos paisagísticos, situa o rio como um elemento rico em
contradições, principalmente ao atravessar uma cidade. O rio necessita de
espaço para circular, principalmente nos momentos de enchentes, pois ele
vai alterar as suas margens (parte mineral e a vegetação ciliar). O autor
expressou num projeto para a Cité Internationale em Lyon às margens do
rio Rhône, que seu manejo usando regras da ecologia podem ser
portadores de beleza e de formas. A parte mais próxima do rio recebeu
uma vegetação variada e conforme a margem se aproximava da parte
urbanizada, ela foi separada em maciços mais homogêneos e mais altos, o
que permitiu vistas para o rio em toda a extensão do projeto.
Relacionando com a corticeira, ela pode ser perfeitamente utilizada
isoladamente às margens de rios, como ponto focal em locais estratégicos,
ou em grupo, formando maciços espigados e sinuosos, que ainda assim
permitirão a transparência em direção ao rio (principalmente quando a
espécie se apresentar caduca).
Os rios engendram paisagens fascinantes, segundo Cabanel
(2000), tendo como elementos constitutivos: o próprio rio, que se oferece
aos olhares, pela sonoridade que ele gera, pelos prazeres que ele propõe
17
em termos de pesca, navegação e passeios; o fluxo d’água; as matas
ciliares; as pradarias inundáveis; a planície aluvial; as margens que
formam o vale (abruptas ou suaves) e o patrimônio associado (moinhos,
pontes, calçadas, diques...). A presença de um curso d’água é um
elemento essencial da qualidade de uma paisagem e seus efeitos
paisagísticos são oriundos do fato que um rio orienta uma paisagem
atribuindo seus componentes; a mata ciliar sublinha seu traçado
conferindo-lhe seu volume; assim como as margens por onde ele corre,
podem criar paisagens abertas ou fechadas, austeras ou serenas (Cabanel,
2000). O principal interesse das paisagens de rio dizem respeito às suas
matas ciliares, que podem melhorar a qualidade da água que chega ao rio,
como também reter o solo das margens, salvar pessoas durante
inundações, além de auxiliar na manutenção da biodiversidade e
reprodução de peixes, entre outros benefícios também citados por
Rodrigues e Leitão Filho (2001). Sem dúvida, as paisagens de rio
constituem-se importantes pólos de atração turística, tendo os vales
aluviais solos muito férteis para a produção agrícola.
Atualmente, muitos estudos interdisciplinares sobre as matas ciliares
apresentam dados sobre a riqueza da biodiversidade e a importância
geológica e ecológica destes ecossistemas para o equilíbrio da região
onde estão situados (Rodrigues e Leitão Filho, 2001). Segundo Rodrigues
e Nave (2001), de 43 levantamentos florísticos realizados em matas
ciliares brasileiras em regiões extra-amazônica - estudo que gerou uma
lista de 955 plantas arbustivo-arbóreas - a presença da corticeira do
banhado foi citada em 4 destes estudos (ou seja, 8,7%), estando estas
18
matas situadas no Paraná e em São Paulo. Como apenas 76 espécies
foram amostradas no mínimo em 24% das áreas onde foram realizados os
trabalhos e destas, apenas 9 espécies foram amostradas no mínimo em
48% destas áreas estudadas, os autores concluem que a heterogeneidade
ambiental é certamente a principal geradora dessa riqueza florística, e que
os projetos de manejo e recuperação de matas ciliares devem portanto,
levar em conta os recursos florísticos regionais, seja utilizando listagens
de trabalhos já desenvolvidos na região ou fazendo coleta de sementes
nos remanescentes florestais ciliares da própria região.
Relacionando com a baixa freqüência da corticeira do banhado neste
estudo citado acima, observa-se a importância de sua re-inserção em
locais onde foi constatada sua presença. No nosso estudo, as corticeiras
amostradas na região estavam na área periurbana e rural de Passo Fundo,
em fluxos d’água da microbacia do rio Passo Fundo - o rio que deu o
nome à cidade. A presença dessa espécie nesses locais sugere, portanto,
que além da importância ecológica, o seu uso paisagístico poderia ser
mais valorizado se auxiliasse a marcar as margens ribeirinhas na área
urbana, visto que o genius loci e vernacular da cidade é o rio.
3 Fenologia
3.1 Descrição botânica
A corticeira do banhado é uma árvore regular, medindo de 6 a 8
metros de altura, caule proporcionalmente grosso (até 60 cm de
diâmetro), armado de acúleos, embora pouco numerosos, às vezes raros e
19
até completamente ausentes em plantas adultas, tortuoso e suberoso de
coloração acastanhada; os ramos são cilíndricos, compridos e contorcidos,
às vezes quase trepadores; as folhas apresentam pecíolos longos, inermes
ou com acúleos, pinadas, compostas por três folíolos peciolados rígidos,
verde escuro dependendo da idade da planta e da luminosidade do
ambiente, e vernicosos na parte superior, glabros, um pouco mais claros e
freqüentemente glaucos na parte inferior, sendo que na base de cada
folíolo lateral existe uma glândula e na base do folíolo terminal duas
glândulas (Corrêa, 1984).
Sua copa é irregular, principalmente no período do inverno, quando
é observado o ramo arqueado e pontiagudo devido à folhagem ser decídua
(Santos e Teixeira, 2001). Os pedúnculos florais podem se apresentar
solitários ou fasciculados, não bracteados, com flores de coloração que
vai de rósea, em ambientes quentes, a vermelho vivo em locais mais frios
(Lorenzi, 1992; Brandão, 2002). Na região sul as flores são bem
vermelhas, fato que leva Lorenzi a tratá-la como raça geográfica. As
flores estão dispostas em racemos ou cachos terminais e possuem cálice
campanulado envolvendo o estandarte longo-ovado, enrolado e curvo. O
fruto é uma vagem pedunculada medindo até 15 cm de comprimento,
aguda nas extremidades, contendo 6-12 sementes oblongas de cor
castanha, hilo lateral branco, idêntico a feijões comuns (Lorenzi, 1992).
20
3.2 Aspectos ecológicos e taxonômicos da Erythrina cristagalli L.
Esta espécie, para alguns autores, como Joly (1998), é pertencente à
família Leguminosae, subfamília Faboideae. Já Cronquist (1981) e
Longhi (1995) enquadram o gênero Erythrina, bem como os demais
gêneros pertencentes à subfamília Faboideae, como componentes da
família Fabaceae. As duas classificações são aceitas pela comunidade
científica, no entanto, neste trabalho será utilizada a classificação de
Cronquist (1981) e a família será tratada como Fabaceae.
A espécie é decídua, geralmente encontrada em lugares ensolarados,
sendo claramente dependentes de luz, não ocorrendo no sub-bosque.
Presente em clareiras ou nas bordas das florestas, sua dispersão é maior
nas formações secundárias, como capoeiras, sendo raramente encontradas
no interior da mata densa (Gandolfi e Rodrigues, 1996). Pertencendo ao
grupo das pioneiras em sucessões ecológicas (IBGE, 1986; Roderjan et al,
2002; Lorenzi, 1992), é classificada como higrófita por Corrêa (1984);
IBGE (1986); Reitz et al, (1988); Paz e Bassagoda (2002); Lorenzi
(1992). Apesar de produzir anualmente boa quantidade de sementes, estas
são fortemente atacadas por insetos, diminuindo seu potencial de
regeneração natural (Machado e Ferreira, 1978; Lorenzi, 1992).
Floresce predominantemente durante os meses de setembro a
dezembro, sendo a época de floração intimamente ligada ao fator
climático temperatura. A maturação dos frutos é verificada de janeiro a
março (Lorenzi, 1992; Brandão, 2002).
21
O tronco rugoso e corticoso é ótimo para a fixação de plantas epífitas
e as flores vermelhas atraem beija-flores e abelhas. Com base em análises
realizadas em amostras de mel coletadas no município de São João
Batista, MA, em áreas próximas à vegetação do mangue, há uma intensa
utilização pelas abelhas de pólen de espécies de Fabaceae durante os
meses de novembro e dezembro, mostrando uma freqüência de pólen
dominante, chegando a 70%, sendo esta família considerada importante
na produção de mel pelos apicultores do Maranhão (Reis Neto et al,
2004). Erythrina cristagalli L. também é chamada de espécie apícola por
Brandão (2002).
Os beija-flores, por seu tamanho, beleza e agilidade de vôo, são
aves que despertam grande interesse e podem ser observados visitando
flores onde quer que elas existam. De maneira geral, as aves preferem
aquelas flores de corola tubulosa e colorido vistoso, onde além do néctar
possam encontrar pequenos insetos. A polinização, fenômeno do
transporte de grãos de pólen até o estigma é, nas plantas tropicais, muito
dependentes dos animais, estando, portanto, os insetos e aves visitantes
dos gêneros vegetais provavelmente envolvidos em sua polinização (Reis
et al., 1994).
Está comprovado que os beija-flores atuam como importantes
agentes polinizadores ao se alimentarem do pólen das flores (RagusaNeto, 2002). Em levantamento de espécies de plantas que poderiam ser
cultivadas ou preservadas para atender à alimentação dessas aves, foram
listadas várias espécies do gênero Erythrina, dentre elas a E. cristagalli
(Saturnino, 1978; Ragusa-Neto, 2002). O último autor ainda ressalta a
22
ação polinizadora de dois outros grupos de aves: Psittacidae e Icterinae
em espécies do gênero Erythrina.
Essas são características inerentes à espécie botânica que reforçam
seus
valores
ecológicos,
desempenhando
importante
papel
no
ecossistema, tornando-a mais fascinante também sob o aspecto
ornamental (Lorenzi, 1992).
3.3 Representações na paisagem
3.3.1 Distribuição geográfica
Erythrina cristagalli é natural do Brasil e Argentina, encontrada em
várzeas pantanosas ou alagadiças desde o Maranhão até o Rio Grande do
Sul (Lorenzi, 1992). Em minas Gerais, ocorre sobre terrenos aluviais nas
bacias do rio Grande e do rio São Francisco (Brandão, 2002). No Rio
Grande do Sul é bastante difundida, sendo encontrada desde as Florestas
pluviais da Encosta Atlântica, em Torres e Osório, até áreas do Sudeste
ou escudo Riograndense, bacia do rio Ibicuí, bacia do rio Jacuí,
Depressão Central, e na região do Planalto, na Floresta de Araucárias.
Faz parte da vegetação higrófita das planícies litorâneas e lacustres
da restinga, especialmente na zona lacustre dos banhados do Taím no Rio
Grande do Sul. No parque do Espinilho, na região do Sudoeste, a
corticeira do banhado é muito freqüente na formação das florestas de
galerias (Reitz et al, 1988).
Em levantamento de recursos naturais e fitogeográficos do Rio
Grande do Sul, realizado pelo IBGE (1986), a presença de Erythrina
cristagalli foi listada para todas as regiões fitoecológicas, que são:
23
Planalto Sul Riograndense, em florestas de galeria; nas savanas em
formações gramíneo-lenhosas; em estepes...
“Ao longo das drenagens que apresentam deposições
recentes periodicamente inundáveis, as galerias são
descontinuas e abertas formadas por E. cristagalli
(corticeira)...”
Teixeira et al., (1986) p. 562
Na savana estépica gramíneo-lenhosa (IBGE, 1986; Girardi-Deiro et al,
2002)...
“Nos locais de relevo ondulado e solo profundo, as
florestas de galeria, em forma de aléias ao longo das
drenagens são dominadas por Erythrina cristagalli...”
Teixeira et al. (1986) p. 564
Em floresta estacional semidecidual; em floresta aluvial em áreas
freqüentemente inundáveis e de drenagem lenta; em floresta ombrófila
mista (IBGE, 1986) e em formações pioneiras de influencia fluvial
(IBGE, 1986; Roderjan et al, 2002). Lindman chama de “Capões” aos
fragmentos florestais de tamanhos diversos, distribuídos esparsamente nas
áreas campestres (Marchiori, 2002), sendo a principal apresentação da
corticeira na paisagem.
Harley e Giuletti (2004) num récito naturalista contemporâneo, em
obra bilíngüe sobre a flora nativa na Chapada Diamantina, descreveram a
flora na paisagem através do percurso de trilhas, onde abordaram além
dos aspectos botânicos, os geográficos, históricos e culturais. A seguir
uma passagem com o gênero Erythrina:
24
“Viraremos à esquerda e subiremos a estrada de terra que
passa entre os campos. Pequenos riachos atravessam-na
durante a estação das chuvas e muitos trechos podem ter
lama. Logo adiante, à direita, passaremos por baixo de
uma árvore velha de Mulungu. Esta é a Erythrina velutina
(Leguminosae:Papilionideae) (Pr.51c), que possui belas
flores
vermelho-alaranjadas
e
são
polinizadas
por
pássaros. As sementes têm a forma do feijão mas são
vermelhas. Há grande número de plantas na beira da
estrada e só será possível mencionar poucas delas. Sob um
Mulungu menor, à direita, pode-se ver a Lithraea
molleoides (Anacardiaceae), de folhas pinadas ...” (p.134).
A distribuição de plantas em escala global define os principais
elementos florísticos, ou seja, conjunto de táxons que apresentam áreas de
ocorrência ou centros de riqueza semelhantes e que, supostamente, foram
submetidas a eventos paleogeográficos similares. A família Fabaceae,
incluindo o gênero Erythrina, são representantes da flora nativa do Rio
Grande do Sul, relatado por Waechter (2002) no elemento pantropical,
que engloba a flora tropical amplamente distribuída, ao menos em regiões
tropicais e subtropicais americanas, africanas e asiáticas. Esse elemento
florístico foi reconhecido por Rambo em diferentes publicações e
correspondente ou aproximado por Waechter (2002).
Paz e Bassagoda (2002) estudaram regiões fronteiriças entre o
Brasil e o Uruguai, no que se refere à plantas que compõe os bosques
principalmente árvores e arbustos, sendo encontradas 54 famílias, e a que
possui maior numero de gêneros é a Fabaceae, com 21 gêneros e 49
25
espécies. Dentre as espécies hidrófitas, os autores citam o “ceibo” (E.
cristagalli), como a mais freqüente, em contato direto com a água ou em
solos saturados. Os mesmos autores ainda relatam para a Província
Uruguaiense a presença endêmica de E. cristagalli var. leucochlora.
“Matorral” é um tipo de comunidade lenhosa uruguaia formada por
agrupamentos de árvores ou arbustos, constituindo comunidades, que
recebem nomes de acordo com a espécie dominante. Para agrupamentos
de espécies hidrófitas onde predominam as corticeiras do banhado, Paz e
Bassagoda (2002), referem o Ceibal como conjunto de ceibos ou
comunidades compostas de E. cristagalli L.
4 Valorização da paisagem regional
A organização dos primeiros jardins no Brasil partiu das tentativas
da coroa portuguesa, preocupada no final do século 18 em fomentar o
conhecimento das possibilidades econômicas da flora local e exótica. A
iniciativa tinha um caráter científico, agrícola e econômico e o objetivo
era aclimatar plantas úteis ao comércio de especiarias e ampliar o
conhecimento sobre plantas nativas que pudessem competir com as
culturas orientais (Segawa, 1996).
A cultura científica oitocentista introduziu a noção de salubridade
urbana, atribuindo à vegetação uma função pragmática, muito além do
sentido pitoresco ou romântico que a arte impusera sobre a paisagem
natural na época (Segawa, 1996).
26
“A presença massiva de vegetação, gramados e flores
provoca nos mais agitados, nos mais excitados da vida
moderna, um repouso físico e moral que não se pode
negar. É um elemento incontestável de calma e
quietude.”
Do Manual de Daniel Bellet e Will Dawillé, Ce
que Doit être la cité moderne, início século 20.
In: Segawa (1996) p. 73
AB`Saber (2003) afirma que a paisagem é uma herança em todo
sentido da palavra: herança de processos fisiográficos, biológicos e
patrimônio coletivo dos povos que historicamente os herdaram como
território de atuação de suas comunidades.
A perda progressiva das raízes históricas e regionais das diferentes
culturas e a adoção generalizada dos modismos estéticos é que permitiram
a emergência de paisagens genuinamente “internacionais” na sua gama de
elementos de composição. O paisagismo contemporâneo tem o papel de
promover o encontro entre os grupos sociais (Leite, 1982). Nossa vida se
desenvolve cada vez mais nos espaços públicos, que devem abrigar tanto
os propósitos humanos quanto os processos naturais.
Pela opinião de Neves (1982), as paisagens se mostram diferente em
função de quem as observa, dada a carga cultural, maneira e freqüência de
observação. Qualquer paisagem é composta não apenas pelo que se
estende defronte aos olhos, mas pelo que se encontra dentro das mentes,
ou seja, somos capazes de ver aquilo que conseguimos interpretar. A
possibilidade de identificar fontes de beleza na natureza trouxe também a
possibilidade de selecionar apenas o mais belo, construindo paisagens
27
mais bonitas (Leite, 1982). Paiva e Alves (2001) citam Burle Marx
dizendo que o importante ao formarmos parques e jardins é que sejam
ecologicamente bem sucedidos, adaptando-se à paisagem e ao clima
local, tornando evidente a importância do uso de espécies nativas.
Com efeito, as paisagens vegetais, resultantes das diversas “formas
de crescimento”, respondem às pressões exercidas pelas condições do
meio ambiente Warming (1860) citado por Acot (1996).
Ao falarmos da fisionomia do Rio Grande do Sul não podemos
deixar de lembrar Avé-Lallemant, que em meados do século 19 fez um
valioso registro da paisagem gaúcha. O caráter transacional subtropical da
flora foi admiravelmente sintetizado pelo naturalista e transcrito por
Waechter (1996) na seguinte expressão:
“O Rio Grande tem um raro encanto botânico de que
aqui se estendem largamente para o sul as plantas dos
trópicos, sem de modo algum prejudicar a natureza
extratropical. Antes de tudo o que ocorre nos trópicos e
fora deles lá se ajunta promiscuamente, se emaranha e
cresce; e não se pode fazer uma excursão sem ser
surpreendido por impressionantes contrastes...” p. 81
Desde os tempos da colonização houve interesse pelas plantas
ornamentais encontradas na América. A região Neotropical (América
Central e do Sul) foi a que promoveu maior número de espécies
ornamentais para o mercado mundial de plantas vistosas para jardins, por
ser a região mais rica em biodiversidade do mundo (Rapoport, 1992).
Tanto é verdadeiro, que exemplares de E. cristagalli, espécie com vários
atributos ornamentais e cuja planta é o objeto maior de nosso estudo, foi
28
introduzida na Europa em 1771, relatado por Simon & Schuster`s (1992).
A partir de 1833 os floricultores europeus conseguiram variedades
versicolor graças a cruzamentos com outras espécies do gênero como E.
herbácea L., dos Estados Unidos (Corrêa, 1984). Essas variedades tem
pouca variabilidade na coloração das flores, as quais tomam diversas
nuances e às vezes chegam a ficar apenas branco-avermelhadas.
Atualmente continua sendo cultivada na Europa (Corrêa, 1984).
A espécie é mantida em cultivo no Jardim Botânico didático da
escola “E Toti” di musile de Piave em Veneza na Itália, aclimatada há
séculos em seus jardins. É utilizada em estudos de espécies tropicais e
devido a seu poder adaptativo a ambientes diversos (Rossi, 2004).
Rambo (1994), em suas viagens, relata regiões do Rio Grande do Sul
com formações vegetais de arbustos de galhos tortuosos, dispostos
espaçadamente. Não fosse o solo pantanoso, o viajante teria a impressão
de se encontrar em plena caatinga nordestina. Cita que a vegetação arbórea
era composta quase exclusivamente de árvores de madeira imprestável a
não ser para consumo em fogueiras. Sem mencionar espécie alguma,
talvez estivesse o naturalista referindo-se a aglomerados de corticeira.
Talvez Rambo tratara da mesma madeira que Corrêa (1984). Madeira
branco-amarelada, muito leve e mole, porosa da corticeira, muito utilizada
para construção de canoas, jangadas, cochos, gamelas, cepas de tamancos,
colméias, assoalhos de galpões e estábulos e até para carvão de pólvora
fina. Funções também atribuídas à madeira por Lorenzi (1992). Ferreira e
Saturnino (1978) relatam o uso dos frutos e sementes da corticeira para a
confecção de arranjos ornamentais “secos”, reduzindo dessa forma sua
29
propagação natural e provocando, assim como a exploração da madeira,
grande diminuição das populações.
Embora tão valorizada como planta ornamental na Europa, a
corticeira tem seu potencial pouco explorado por aqui. São escassas as
referências de uso no paisagismo. No entanto, os poucos estudos
realizados com nativas de potencial ornamental talvez ocultem sua
utilização.
5 Aspectos culturais ligados à Erythrina cristagalli L.
A proteção e a preservação dos bens culturais de um determinado
local tem como objetivo principal promover a identidade dos habitantes
daquela região. As modificações ocorridas em um ambiente podem ser
responsáveis pela perda da identificação do indivíduo com o local em que
vive. As árvores, naturalmente, funcionam no cotidiano da população das
cidades como elementos referenciais marcantes (Trindade, 1996).
Erythrina cristagalli foi reconhecida como a flor nacional da República
Argentina (Corrêa, 1984) e considerada a árvore nacional da Argentina e
do Uruguai (Lorenzi, 1992), onde é amplamente utilizada na
ornamentação de praças públicas.
O município de Sananduva (região nordeste do RS) assim é
chamado em alusão a E. cristagalli, por ser este um de seus vários nomes
populares. A planta é um referencial da riqueza natural da região,
valorizada pela população de Sananduva, e ocupa lugar de destaque na
praça central da cidade.
30
Corrêa (1984) trata do uso da corticeira para fins medicinais em
função de possuir propriedades como casca adstringente, cicatrizante e
desobstruente. Este autor relata que o cozimento da casca pode ser usado
como hipnótico por possuir o alcalóide “erythrina” também útil no
tratamento de hepatites crônicas e do reumatismo. As sementes passam
por venenosas, por conter o mesmo alcalóide. Os ramos contém saponina
e peroxidases, e das flores esmagadas pode ser obtida tinta vermelha.
A arte de muitas formas expressa o amor e o apego das pessoas à
paisagem de seu lugar. “O homem nada pode quando se perde de suas
raízes”. Para Segawa (1996) a paisagem é a consciência humana diante de
um ambiente, produto do seu potencial imaginativo e criador, uma
contemplação visual formulando significados e novas imagens. Grimal
(1974) ao dissertar sobre o nascimento de um estilo, retoma a idéia que
além da filosofia e literatura, também a pintura, o jardim, a arquitetura, o
teatro e a música contribuem profundamente a formar e a generalizar uma
estética difusa, a qual os escritores transformarão em teoria.
Petry (2003a) analisando as paisagens sul brasileiras e as identidades
territoriais ali geradas verificou a importância da música na tradição oral
sobre o imaginário das paisagens e ambientes, principalmente a influência
da música gaúcha na reprodução do apego ao pampa e suas
representações. Neste sentido, “Sonho em Flor” é uma bela música que
expressa o mais puro nativismo gaúcho. Composta por Gujo Teixeira e
interpretada por Luis Marenco (2002), faz uma romântica homenagem à
beleza da corticeira e comprova sua presença na vida do gaúcho.
“Ah! Minha flor pequena...
31
(Dessas que nascem pelos rincões)
Trazendo a graça das corticeiras
Enfeita a tarde por ser tão bela
Deixa meu sonho acordar o teu
E o meu silêncio te adormecer
Quando a saudade vier me ver
com teu sorriso...
... na minha janela
Eu que andei tão distante me encontrei em mim
Sem mesmo perceber que a vida pode ser assim...
Ter a graça de uma flor bonita, dessas corticeiras
E ao mesmo tempo ser por inteira
Aquilo tudo que já sonhou.
Ah! Minha flor pequena...
Que traz guardada sonhos demais
Deixa que a alma mostre teu rumo
Que anda hoje perto do meu
Traz teu sorriso de flor vermelha...”
Luiz Marenco (2002) In: Ao vivo duplo (música 5- CD2)
A música “Tropa de Osso” composta por Humberto Gabbi Zanatta e
Luiz Carlos Borges é uma milonga campeira, que nos remete à
lembranças do passado, e foi interpretada por vários cantores, dentre eles
Délcio Tavares (2002), deixando clara a presença marcante das
corticeiras na infância dos gaúchos quando diz:
“Gado de osso que foi parte do meu mundo
32
Carro de lomba e trator de corticeira
O meu bodoque e o banho de açúde
Foram na infância minha vida verdadeira...”
Délcio Tavares (2002) In: Sucessos do Rio Grande
(música 4)
6 Aspectos da vegetação ornamental
“A monotonia da paisagem dos campos é abrandada pela
ocorrência de agrupamentos arbóreos marginais aos rios
ou isolados sobre o campo, de formas e dimensões
variadas...”
(Roderjan et al, 2002) p. 86
Essa citação de Roderjan et al, (2002) para a estepe paranaense é
oportuna para destacarmos a importância das formações vegetais, quer
seja em paisagens naturais ou em projetos paisagísticos. Dessa forma, o
conhecimento das características plásticas da vegetação é fundamental
tanto para a classificação de paisagens quanto para o auxílio na escolha
de espécies com valor estético para uso em paisagismo. O processo de
estudo e seleção de vegetação para uso em paisagismo está baseado,
além dos valores culturais que valorizam a vegetação, nos fatores
ambientais que permitam adaptabilidade da espécie, e na plasticidade da
planta que deve atender aos anseios de quem a utiliza, possibilitando a
constituição
de
formações
ecologicamente bem sucedidas.
vegetais
harmoniosas,
bonitas
e
33
Germani (2004) ao apresentar os tipos vegetais e sua relação com
o projeto paisagístico, lembra que estes são designados relacionando a
arquitetura da planta, sua forma (árvore, arbusto, ...) e a ocupação que o
vegetal terá no espaço. Recomendando o trabalho interdisciplinar, a
autora enumera as características da vegetação em paisagismo em
estruturais (que devem levar em conta a escala humana); as
características visuais (forma, porte, folhagem, floração, caule, galhos,
frutos e raízes), as características físicas (adequabilidade, ciclo,
associação,
mutabilidade,
adaptabilidade
e
resistência)
e
as
características funcionais (utilitárias, de conforto ambiental, fitométricas,
sensoriais, botânicas, psicológicas, de espacialização e de revestimento).
Nessa última classificação, ela situa as características simbológicas e
históricas, onde cita a corticeira, juntamente com os chorões, uma vez
que “lembram margens de lagoas, lagos e rios, pois se desenvolvem em
zonas úmidas” (Germani, 2004).
6.1 Plasticidade
Plasticidade é o efeito visual que transmite uma planta, obtido pelo
conjunto de elementos constituintes de sua parte aérea (Demattê, 1997;
Grolli, 1997; Petry, 2003b): volume da planta, com e/ou sem folhagem,
forma, diâmetro e altura, que devem ser observados quando as plantas
estiverem adultas e determinam o porte das mesmas (Grolli, 1997).
Outras características como texturas, cores, brilhos e transparências
34
(Grolli, 1997; Petry, 2003b) são bastante variadas entre os diferentes
grupos vegetais e conferem belezas particulares às plantas.
6.1.1 Forma
Refere-se à estrutura da planta e seu contorno em crescimento
normal (Grolli, 1997; Petry, 2003b). Podemos citar alguns tipos de
estrutura para árvores: umbeliformes, globosas, globosa chorona,
ovaladas, piramidais, colunares, transparentes e estruturas mistas, que
apresentam tortuosidade e não formato claramente definido (Grolli,
1997; Lira Filho, 2002; Petry, 2003b). Para Sabatke (2004) no grupo das
plantas ornamentais, as árvores são as mais valiosas e de maior
interferência no ambiente, pois atestam a maturidade de um jardim e
atuam como vegetação estrutural. Quanto ao formato da copa, a autora
cita além das que apresentam copa escultural (piramidal, cônica e
colunar) as de formato clássico: ovalada, globular, semiglobular e
plataforma, onde se enquadraria a corticeira do banhado.
6.1.2 Textura
Compõe o aspecto geral da superfície dos vegetais. Pode ser
observada na folhagem, nos troncos, flores e fruto, enfim em todo o
corpo da planta. É o elemento que nos dá a impressão visual de uma
superfície ao tato (Grolli, 1997; Lira-Filho, 2002).
Particularmente, as plantas ornamentais oferecem uma variedade
de texturas que compõem ótimos efeitos visuais (Lira-Filho, 2002).
Assim podemos tirar proveito de uma série de texturas encontradas na
35
conformação da copa das árvores, nas ranhuras dos troncos e até mesmo
nas formas pontiagudas de folhas, e ramos de plantas caducas.
A corticeira, principalmente quando adulta, apresenta texturas
fortemente contrastantes, pois suas folhas e flores têm aparência
delicada e aveludada, enquanto seu tronco é bastante rústico e corticoso.
6.1.3 Transparência
Está relacionada ao volume, tipo e tamanho das folhas que formam
uma copa mais ou menos transparente (Grolli, 1997). É um atributo das
palmeiras ou árvores pernaltas (Petry, 2003b), porém árvores
caducifólias apresentam transparência quando deixam cair as folhas.
Este é também um atributo de mobilidade na paisagem, neste caso
temporal e espacial, por permitir que se tenha perspectiva aberta nas
estações que a planta se encontra caduca. Cabanel (2000) atribui
transparência também na visão interna de uma floresta, quando esta
encontra-se estruturada pela possante arquitetura de tronco e ramos, com
a folhagem criando um teto de verde semi-transparente em múltiplas
tonalidades, dando uma impressão de casulo na natureza. Sentar-se sob
uma corticeira, desfrutando sua sombra rala causa com certeza este
efeito.
6.1.4 Cor e brilho
A cor pode ser explorada de diversas partes da planta, como
tronco, folhas, flores ou frutos. O brilho é uma característica refinada
relacionada à camada externa das estruturas, que podem ser cerosas,
36
vernicosas ou ainda opacas (Lira Filho, 2002). Lopes (1981) por sua vez,
caracteriza a suínã-do-brejo como sendo de porte médio, com diâmetro
em torno de 6 m, cujo principal uso paisagístico é pela floração
vermelha, ocorrente na primavera-verão.
Conhecer as características morfológicas de determinada espécie é
fundamental para entender seus fenômenos biológicos. No entanto, as
estruturas internas das plantas podem auxiliar na compreensão desses
eventos e, além disso, baseado nelas, levantarmos hipóteses sobre
fenômenos não compreendidos pela comunidade científica sobre a
adaptação em ambientes diversos (Lira Filho, 2002). Porém, não apenas
a exuberância do vermelho ceroso das flores contrastando com o verde
forte e envernizado da folhagem conferem beleza à corticeira. Mas
também as mesclas de marrons e cinzas presentes nos troncos, ramos e
frutos. Aspectos que harmonizam em uma só planta atributos opostos
como delicadeza e brilhos com rusticidade e tons opacos.
7 Os sistemas de tecidos vegetais e células componentes
Há muito se reconhece que os principais tecidos vegetais das plantas
vasculares estão organizados em amplas unidades em todos os órgãos
vegetais. Estes grupos são conhecidos como sistemas de tecidos e são
classificados como: o básico ou sistema fundamental, formado por três
tecidos
fundamentais
chamados
parênquima,
colênquima
e
esclerênquima; o sistema vascular, que consiste de dois tecidos
condutores, o xilema e o floema; e o sistema dérmico, formado pela
37
epiderme em crescimento primário e a periderme em crescimento
secundário (Raven, 1996).
8 Aspectos anatômicos importantes relacionados à família Fabaceae
A anatomia é uma área da botânica muito ampla e abrangente,
porém nosso objetivo será destacar principalmente as estruturas do caule
e das folhas da Magnoliopsydas (antes chamadas dicotiledôneas) mais
especificamente de exemplares da família Fabaceae.
Nas Magnolipsidas a folha geralmente consiste de uma porção
expandida, a lâmina ou limbo, e de uma porção pedunculada, o pecíolo
(Raven, 1978; Raven, 1996), que mantém as características estruturais do
caule (Esaú, 1985). De acordo com Raven (1996), a variação na estrutura
das folhas das angiospermas (Magnoliphyta) depende, em grande parte do
habitat em que se encontram e a disponibilidade de água é um fator
especialmente importante afetando o formato e a estrutura. As folhas
podem ser caracterizadas como mesófitas quando requerem solo com
água em abundância e atmosfera relativamente úmida; hidrófitas as que
dependem de um suprimento abundante de água e crescem parcial ou
completamente submersas; e xerófitas adaptadas à habitats áridos.
O mesofilo é particularmente especializado para a fotossíntese,
composto principalmente por tecido fundamental com grande volume de
espaços intercelulares e numerosos cloroplastos. Os estômatos ligam os
espaços intercelulares ao meio externo, facilitando as trocas gasosas e
aumentando a eficiência da fotossíntese. Nas mesófitas, o mesofilo se
38
apresenta diferenciado em parênquima paliçádico e parênquima lacunoso.
As células do tecido paliçádico são colunares, com o eixo mais longo
formando ângulo reto com a epiderme. O lacunoso apresenta formato
irregular e geralmente apresenta menor número de cloroplastos que o
paliçádico (Esaú, 1985; Raven, 1996). O grau de diferenciação do
mesofilo e a proporção de tecido lacunoso e paliçádico variam conforme
a espécie e o habitat (Esaú, 1985).
Todo mesofilo foliar é percorrido pelos feixes vasculares ou
nervuras, que são contínuos com o sistema vascular do caule. As nervuras
contêm xilema e floema, os quais são geralmente de origem primária,
porém a nervura principal pode apresentar tecido secundário (Esaú, 1985;
Raven, 1996). As nervuras maiores são circundadas por células de
parênquima, que contém poucos cloroplastos, enquanto as menores
geralmente se apresentam envolvidas por uma ou mais camadas de
células dispostas compactamente, formando a bainha do feixe (Raven,
1996). As células da bainha podem conter cristais (Esaú, 1985). As
bainhas dos feixes asseguram que nenhuma parte do tecido vascular fique
exposta ao ar dos espaços intercelulares, e que todas as substâncias que
entrem ou saiam dos tecidos vasculares tenham que passar através da
bainha (Raven, 1996).
Em muitas Magnoliopsidas placas de células similares as da bainha
se estendem e estão conectadas com uma ou ambas as faces da folha. Tais
conexões são chamadas extensões da bainha do feixe (Esaú, 1985; Raven,
1996). Além de oferecer suporte mecânico à folha, aparentemente
conduzem água do xilema para a epiderme e facilitam a comunicação
39
com o tecido lacunoso, funcionando como intermediário para tornar mais
eficiente o transporte de fotoassimilados e componentes nitrogenados
entre as células do mesofilo e o floema (Esaú, 1985; Raven, 1978;
Menezes, 1985; Vilela e Palácios, 1985; Raven, 1996). Vilela e Palácios
(1985) relataram a presença de extensão da bainha do feixe em
exemplares de Fabaceae.
A estrutura foliar das leguminosas tem sido estudada sob vários
aspectos e é bastante variável, devido aos diferentes tipos de folha destas
plantas (Menezes, 1985).
O pecíolo tem considerável importância taxonômica, pois sua
estrutura parece ser pouco afetada pela variação dos fatores ecológicos
(Metcalfe e Chalk, 1957; Menezes, 1985). Os autores afirmam que a base
do pecíolo constitui uma das regiões mais importantes no sistema
vascular do órgão foliar. Por outro lado, Irwin (1964) citado por Menezes
(1985), considera a região mediana como “característica” na organização
do sistema vascular do órgão foliar. Considerações têm sido feitas sobre o
sistema vascular da parte basal do pecíolo, que é geralmente caracterizada
pela presença do pulvino (Menezes, 1985). Essas estruturas, folha e
pecíolo, receberam destaque na revisão bibliográfica por representarem o
foco principal de nossa avaliação anatômica em Erythrina cristagalli.
Metcalfe e Chalk (1957) e Menezes (1985) afirmam que os cristais
constituem característica particular do mesofilo das leguminosas,
diferenciando as famílias Caesalpinaceae, Fabaceae e Mimosaceae, onde
são
quase
invariavelmente
solitários,
de
forma
romboédrica
(especialmente acompanhando a bainha dos feixes vasculares) ou
40
estilóides, este mais característico do mesofilo ou da epiderme. Os autores
mencionam a ocorrência de cristais do último tipo na epiderme e no
tecido paliçádico de espécies da família Fabaceae.
Células secretoras com conteúdo variado são comuns no mesofilo
das leguminosas, com conteúdo aparentemente taninífero de coloração
marrom-avermelhado, ocorrendo com relativa freqüência próximo aos
feixes, o que condiz como um dos elementos secretores apontados para a
família, observado em espécies de vários gêneros de Fabaceae (Metcalfe
e Chalk, 1957; Menezes, 1985).
As
variações
anatômicas
da
família
estão
largamente
correlacionadas com a diversidade de ambientes em que vivem,
demonstrados em diferentes gêneros e espécies (Metcalfe e Chalk, 1957).
Segundo as descrições do autor a família Fabaceae apresenta a epiderme
da folha caracterizada pela comum ocorrência de células com formato
angular dispostas de forma anticlinal, ocorrendo o desenvolvimento de
papilas, especialmente na face abaxial da folha, em um grande numero de
gêneros. Para o gênero Erythrina os autores citam a presença das
seguintes estruturas: pelos epidérmicos do tipo não glandulares com haste
unisseriada; nectários extraflorais ou estipulas; epiderme abaxial da folha
papilosa ou sub-papilosa; mesofilo foliar ocupado por células que contém
pequenos cloroplastos e, ainda, células com conteúdo taninífero de
coloração marrom.
As estruturas de condução são variáveis, podendo se apresentar com
ou sem bainha de esclerênquima. No pecíolo do gênero Erythrina, o autor
cita a presença de um cilindro denominado por ele de aproximadamente
41
circular, também chamado de semifechado. Pode apresentar elementos
secretores, que são células contendo tanino, proteínas ou substâncias
gelatinosas, de cor marrom, observados em várias partes do mesofilo ou
pecíolo de vários gêneros. Cristais estilóides, geralmente solitários, estão
inclusos no tecido paliçádico. Também podem ocorrer na epiderme da
folha.
Em trabalho realizado por Ferreira e Assumpção (1978), análises
anatômicas comparativas entre as espécies do gênero Erythrina listaram
para a lâmina foliar de E. cristagalli as seguintes estruturas: epiderme
adaxial com células epidérmicas de paredes lisas e unisseriadas;
epiderme abaxial com células de paredes lisas, com dobramentos
cuticulares acentuados, unisseriada e papilosa, com ausência de pelos ou
tricomas.; o mesofilo foliar isobilateral paliçádico, com três camadas de
células na face adaxial e duas camadas na face abaxial; os estômatos
classificados como paracíticos e nervura também com epiderme
unisseriada possuindo dois a três extratos de células de colênquima, uma
porção de parênquima clorofiliano na região adaxial e cilindro vascular
anômalo, confirmando as descrições de Metcalfe e Chalk (1957). As
estruturas foram observadas em cortes transversais e paradérmicos.
Para o pecíolo da espécie, Ferreira e Assumpção (1978) observaram
a epiderme unisseriada, com cutícula bem desenvolvida apresentando
logo abaixo duas a três camadas de células de colênquima. O parênquima
cortical possui antocianinas e idioblastos cristalíferos, contendo cristais
romboédricos. O arco vascular, classificado como semifechado, também
corrobora as afirmações de Metcalfe e Chalk (1957).
42
Outro aspecto de suma importância na compreensão de estudos
biológicos é o conhecimento de como ocorre a propagação natural das
espécies vegetais, possibilitando o uso das sementes para produção de
mudas ou uso de vias alternativas de propagação como é o caso da
propagação vegetativa.
9 Propagação
É pertinente ao estudarmos uma espécie vegetal que conheçamos
como ocorre a propagação natural dessa espécie, pois se trata de um
evento fenológico fundamental para a continuidade e perpetuação da
mesma e de seus ecossistemas naturais. Em vista disso, abordaremos a
seguir alguns aspectos sobre as sementes de Erythrina cristagalli L.e sua
germinação. No entanto, quando se deseja propagar plantas em grande
escala e/ou garantir características da planta mãe, pode-se contar também
com técnicas de propagação vegetativa, como é o caso da estaquia, cujos
fundamentos também serão abordados.
9.1 Sementes e germinação
A vida de qualquer organismo começa por meio de um processo
reprodutivo. A fase embrionária, o período entre a fertilização e a
maturação da semente, é marcado pela intensa divisão celular,
diferenciação, formação primária dos órgãos, estoque de carboidratos,
lipídeos, proteínas e substâncias minerais nos tecidos embrionários e no
43
endosperma, cuja função de regulação é exercida pelos fitormônios
(Larcher, 2000).
Após a semente ter atingido a maturidade, é normal passar por um
período durante o qual o desenvolvimento e o crescimento do embrião
permanecem numa pausa. O ressurgimento das atividades metabólicas
após essa pausa recebe o nome de germinação (Toledo e Marcos Filho,
1977). Segundo os mesmos autores, a absorção de água é o primeiro
fenômeno que se verifica na germinação. A água penetra na semente por
absorção, por osmose através dos tegumentos ou através da micrópila, em
algumas espécies. A absorção de água pelo embrião e tecidos de reserva
causa o intumescimento e rompimento dos tecidos amolecidos do
tegumento da semente e, geralmente, é a radícula que provoca esse
rompimento.
Os fitormônios dão o sinal para uma nova síntese de enzimas,
levando à mobilização de substâncias de reserva no endosperma, seguido
de vários fenômenos químicos que sinalizam a germinação. O processo
está completo quando a nutrição não mais depende dos materiais de
reserva e ao mesmo tempo a plântula realiza autotrofia (Larcher, 2000).
Plântulas normais são consideradas as que apresentam todas as
estruturas essenciais, ou seja, radícula, hipocótilo e/ou epicótilo e
presença de cotilédones, sendo capazes de produzir plantas normais no
campo ou viveiro (Rodrigues e Vieira, 1988).
44
9.2 Dormência e dureza
Após atingir a maturidade fisiológica as sementes passam por um
período de repouso ou latência, com pequena atividade metabólica.
Sementes de certas plantas silvestres, tidas como viáveis, nem sempre
germinam quando colocadas em condições ambientais favoráveis; elas
apresentando um período de repouso persistente e são classificadas como
dormentes (Toledo e Marcos Filho, 1977). Segundo Lovato et al, (1999),
a variação intrapopulacional no grau de dormência das sementes pode ter
um significado adaptativo, oferecendo condições para que a germinação
no banco de sementes seja distribuído ao longo do tempo. A germinação é
impedida devido à presença de um tegumento externo duro, à presença de
substâncias inibidoras e, freqüentemente, também por fatores externos
(Larcher, 2000). Sementes dormentes caracterizam-se por permanecerem
até o final dos testes de germinação sem germinar ou apodrecer, tendo, no
entanto, absorvido água (Rodrigues e Vieira,1988).
Sementes duras apresentam um tipo especial de dormência devido
ao tegumento impermeável à água e apresentam-se, ao final do teste de
germinação, sem absorver água, mantendo seu tamanho original (Toledo
e Marcos Filho, 1977; Marcos Filho et al, 1987; Rodrigues e Vieira,
1988), ocorrendo principalmente em leguminosas (Marcos Filho et al,
(1987).
45
9.3 Fatores ambientais envolvidos na germinação
9.3.1 Umidade e aeração
O fornecimento de água é condição fundamental para que uma
semente germine normalmente. O substrato utilizado deve ser
suficientemente úmido para garantir o crescimento do embrião ao mesmo
tempo que permita aeração adequada das sementes (Marcos Filho et al,
1987; Rodrigues e Vieira, 1988).
9.3.2 Temperatura
A maioria das sementes germinam sob limites relativamente amplos
de temperatura, enquanto outras apresentam exigências mais restritas
(Marcos Filho et al, 1987). Já Suné e Francke (2001) afirmam que as
sementes apresentam capacidade germinativa em limites bem definidos
de temperatura, variável de espécie para espécie, que caracterizam sua
distribuição geográfica.
Nas Regras para Análises de Sementes são prescritas temperaturas
constantes (15º C, 20º C, 25ºC, 30ºC) e alternadas (20-30ºC, 10-30ºC)
(Rodrigues e Vieira, 1988; Brasil, 1992) para avaliar o poder germinativo.
A temperatura influi no processo de germinação especialmente por alterar
a velocidade de absorção de água e modificar a velocidade das reações
químicas que irão acionar o desdobramento, o transporte das reservas e a
ressíntese de substâncias para a plântula. A faixa de temperatura ótima é
aquela onde acontece a germinabilidade máxima, registrando o percentual
mais alto de germinação no menor tempo médio (Rosa e Ferreira, 2001).
46
9.3.3 Luz
Percepção, interpretação e transdução dos sinais luminosos são
captados por fotoreceptores, sendo o fitocromo o principal responsável
por essas funções. Em muitas espécies a germinação das sementes é
mediada pelo fitocromo diante das condições de luminosidade presentes.
A resposta à luz pode se manifestar por um incremento na germinação
(fotoblastismo positivo), enquanto para outras espécies a ausência de luz
é o que promove a germinação (fotoblastismo negativo) (Rosa e Ferreira,
2001).
Nas Regras para Análises de Sementes (Brasil, 1992) não são
encontradas informações sobre a germinação das sementes do gênero
Erythrina, dificultando os testes e a propagação do gênero através desse
método, que é ainda mais dificultado por problemas fitossanitários
relacionados às sementes.
9.4 Problemática dos aspectos fitossanitários em espécies florestais
Os prejuízos causados em sementes pelo ataque de insetos,
constituem um dos grandes problemas em essências florestais no Brasil.
A necessidade de reflorestamento com espécies nativas e formação de
mudas torna-se ainda mais problemática pela dificuldade de obtenção de
sementes de boa qualidade (Sagrillo, 1984, citados por Link e Costa,
1995). A coleta de sementes sem poder germinativo é freqüente devido ao
ataque de insetos (Link e Costa, 1988, citados por Link e Costa, 1995).
47
A ocorrência freqüente de elevado número de vagens totalmente
danificadas por insetos e o pequeno número de mudas obtidas de
sementes atacadas são motivos de preocupação para aqueles que se
dedicam à produção de mudas de essências florestais (Link e Costa,
1995).
Além dos insetos e da dormência das sementes, outro fator que pode
reduzir o vigor germinativo, além de promover a formação de plântulas
anormais ou sua morte, é a presença de microorganismos, dentre os quais
os fungos e as bactérias são os mais comuns (Martins-Corder e Borges
Junior, 1999).
Os fungos patogênicos associados às sementes podem deteriorá-las
e ocasionar a morte, bem como prejudicar os testes de germinação e a
formação de mudas reduzindo seu vigor (Lazzari, 1993). A contaminação
das sementes de essências florestais ocorre predominantemente no solo
onde os frutos e sementes podem ser colonizados por gêneros de fungos
como Fusarium, Alternaria, Phoma, Phomopsis, Rhizoctonia, Phythuim,
Cylindrocladium, dentre outros (Martins-Corder e Borges Junior, 1999).
De acordo com Muniz et al, (2003), foram encontrados associados às
sementes de Erythrina cristagalli, utilizada em arborização urbana, os
gêneros Fusarium, Penicilium, Aspergillus e Cladosporium, patógenos
que podem ser transmitidos para as plântulas e causar problemas na
produção de mudas dessa espécie.
48
9.5 Propagação vegetativa: estaquia
A propagação de plantas é realizada de duas formas, ou seja, sexual,
que acontece através das sementes, e assexual ou vegetativa. Esta é de
grande importância quando se deseja multiplicar um genótipo altamente
heterozigoto e que apresenta características consideradas superiores, que
se perdem quando propagadas por sementes (Paiva e Gomes, 1995). Os
mesmos autores ressaltam que cada planta, produzida por meio vegetativo
é, na maioria das vezes, geneticamente idêntica à planta-mãe,
constituindo, assim, o motivo maior da aplicação desse método.
Dentre os meios de propagação vegetativa de plantas, nos deteremos
ao método de estaquia, por fazer parte desse trabalho de pesquisa, tendo
por objetivo descrever a técnica aplicada a espécies arbóreas, buscando
contribuir com informações pertinentes ao processo.
A estaquia é um dos métodos de propagação assexual onde ocorre a
multiplicação dirigida de partes das plantas, baseada na capacidade de
algumas estruturas vegetais, que determinadas espécies possuem, de
formarem um novo indivíduo completo através da regeneração dos
tecidos e emissão de raízes, quando destacada da planta-mãe e colocadas
em condições ambientais propícias para o enraizamento (Melletti e
Teixeira, 2000; Grolli, 2000).
O segmento retirado da planta-mãe, com pelo menos uma gema
vegetativa, capaz de originar uma nova planta, é denominado estaca,
podendo esta ser de ramos, de raízes ou de folhas. Portanto, o método
consiste na retirada e propagação de um segmento da planta matriz
49
(estaca), que deve ser colocada em condições ambientais favoráveis e
induzida a formar raízes e brotos (Fachinello et al, 1995).
A formação de raízes adventícias deve-se à interação entre os fatores
existentes nos tecidos e a translocação de substâncias localizadas nas
folhas e gemas (Fachinello et al, 1995). Segundo Hartman e Kester
(1990), a capacidade de enraizamento das estacas depende do balanço
entre as substâncias promotoras e inibidoras do enraizamento, que, de
modo geral, varia entre as espécies.
A estaca ao ser preparada pode sofrer uma lesão em sua base, com o
objetivo de obter uma resposta ao traumatismo, fenômeno observado em
algumas espécies, pois as células da superfície ao serem lesionadas
desencadeiam um processo de cicatrização e regeneração, onde ocorre a
formação de uma massa parenquimatosa pouco diferenciada, denominada
calo, de onde possivelmente surgirão as raízes (Fachinello et al, 1995;
Wilhelm, 2000).
As vantagens da produção de plantas por estacas são: a obtenção de
número elevado de mudas a partir de uma única planta matriz e em
relativamente curto espaço de tempo; baixo custo e fácil execução; boa
uniformidade e qualidade de mudas; redução no período juvenil; e
produção de plantas que possuem as mesmas características da planta que
lhe deu origem (Fachinello et al, 1995).
A propagação por estacas não apresenta grandes inconvenientes,
porém, algumas espécies ou cultivares podem apresentar baixo potencial
genético de enraizamento, resultando em pequena porcentagem de mudas
obtidas ou, mesmo havendo formação de raízes, o desenvolvimento pode
50
ser insuficiente para a sobrevivência após o plantio (Fachinello et al,
1995).
A viabilidade do uso da estaquia na propagação, com objetivo
comercial, depende da facilidade de enraizamento que cada espécie e/ou
cultivar apresenta, da qualidade do sistema radicular formado e do
desenvolvimento posterior da planta na área de produção (Fachinello et
al, 1995).
São utilizadas técnicas para viabilizar o processo de estaquia para as
espécies que apresentam grau de dificuldade para enraizar, destacando-se
o uso de nebulização intermitente, a aplicação de fitorreguladores, o
anelamento, o estiolamento, a dobra dos ramos, entre outros (Fachinello
et al, 1995).
A multiplicação por estacas lenhosas é considerada por Browse
(1979) uma das técnicas mais simples de propagação vegetativa, pois em
virtude da estaca não ter folhas é mínimo o controle do ambiente
necessário para assegurar o êxito da propagação. Estacas lenhosas são
altamente lignificadas, apresentam alta taxa de regeneração potencial e
devem ser coletadas no período de dormência, que acontece no inverno
(Fachinello et al, 1995), obtidas de ramos sadios.
A capacidade de uma estaca emitir raízes depende dos fatores
endógenos e das condições ambientais proporcionadas ao enraizamento.
O conhecimento desses fatores é necessário para que se possa explicar
por que uma espécie tem facilidade ou dificuldade em enraizar. Além
disso, o adequado manejo dos mesmos permite que haja maior chance de
51
sucesso na produção de mudas por estaquia (Faquinello et al, 1995;
Oliveira, 2002).
9.5.1 Princípios anatômicos do enraizamento
O conhecimento da estrutura interna do caule permite entender a
origem das raízes adventícias (Alvarenga e Carvalho, 1983). Conforme
estes autores, a maioria das raízes adventícias de estacas de caule
originam-se de células capazes de tornarem-se meristemáticas. Nas
estacas herbáceas, essas células se encontram fora e entre os feixes
vasculares e em estacas de plantas perenes lenhosas as raízes adventícias
das estacas se originam do tecido do floema secundário jovem ou de
outros tecidos, como o câmbio, raios vasculares e medula.
No enraizamento de estacas, dois aspectos, do ponto de vista
anatômico são considerados fundamentais: a desdiferenciação e a
totipotência, onde o primeiro é o processo pelo qual as células de um
tecido já diferenciado retornam a atividade meristemática, originando um
novo ponto de crescimento, e o segundo é a capacidade que uma célula
tem de originar um novo indivíduo, pois contém a informação genética
necessária para reconstituir todas as partes da planta e sua função
(Hartman e Kester, 1990; Fachinello et al, 1995).
9.5.2 Princípios fisiológicos do enraizamento
52
A formação de raízes adventícias deve-se à interação entre os
fatores existentes nos tecidos, promotores e inibidores, e a translocação de
substâncias localizadas nas folhas e gemas (Fachinello et al, 1995).
9.5.2.1 Substâncias reguladoras do crescimento nas plantas
O uso de substâncias reguladoras de crescimento no enraizamento
de estacas é largamente difundida, sendo uma técnica importante para
viabilizar a produção através da estaquia em espécies de difícil
enraizamento (Fachinello et al, 1995).
Paiva e Gomes (1995) relata a eficiência de substâncias à base de
auxinas sintéticas na indução de enraizamento em estacas, em
contrapartida, outras substancias como citocininas e giberilinas podem
apresentar efeito inibitório na formação de raízes.
9.5.2.2 Auxinas
A auxina é um promotor de crescimento das plantas, produzida no
meristema apical e nas folhas novas. Apresentam um mecanismo de
transporte polar que flui do meristema apical para as extremidades das
raízes (Meyer et al, 1965; Valio, 1979; Paiva e Gomes, 1995). Valio
(1979) afirma que a velocidade de síntese de auxinas varia, influenciada
por fatores do meio ambiente e pela idade fisiológica da planta ou do
órgão. Em tecidos clorofilados, a síntese de auxinas é maior à luz do que
no escuro; folhas e frutos apresentam variações no nível de auxinas
53
durante seu desenvolvimento. No caso de plantas perenes, de regiões
temperadas, os níveis de auxina variam com as estações do ano,
ocorrendo em maiores concentrações durante a primavera e o verão, e em
menores concentrações durante o outono e o inverno.
As auxinas compõem o grupo de reguladores de crescimento que
apresenta o maior efeito na formação de raízes em estacas, pois possuem
ação na formação de raízes adventícias, na ativação das células do câmbio
e na promoção do crescimento das plantas. Além de influenciarem a
inibição das gemas laterais e a abscisão de folhas e frutos, podem ser
usadas na forma de produtos sintéticos, dentre eles, o ácido indolbutírico
(AIB), ácido naftalenoacético (ANA) e ácido indolacético (AIA) (Paiva e
Gomes, 1995).
9.5.2.3 Citocininas
As citocininas são substâncias que estimulam a divisão celular e,
quando em níveis relativamente altos, induzem a formação de gemas, e
inibem a de raízes (Hartmann e Kester, 1976, citado por Paiva e Gomes,
1995). Os meristemas tendem a formar gemas ou primórdios de folhas
quando a quantidade de auxina é baixa em relação aos compostos de
citocinina; quando a proporção é elevada, formam-se primórdios de
raízes; e quando a proporção de auxina e citocinina são equilibradas
forma-se um “calo” sem qualquer diferenciação.
Espécies com elevados teores de citocininas são em geral mais
difíceis de enraizar do que aquelas com conteúdos menores, sugerindo
54
que a aplicação de citocininas inibe a formação de raízes em estacas, com
exceção para estacas radiculares (Fachinello et al, 1995).
9.5.2.4 Giberelinas
As substâncias reguladoras de crescimento das plantas, que formam
o grupo das giberelinas parecem não serem necessárias para a formação
de raízes adventícias em estacas caulinares. Ao contrário, os testes
realizados em diversas espécies de plantas mostram uma inibição do
enraizamento. É possível que o efeito inibitório das giberilinas no
enraizamento de estacas seja causado pelo estímulo ao crescimento
vegetativo, que compete com a formação de raiz (Hartmann e Kester,
1976, citado por Paiva e Gomes, 1995).
9.6 Fatores que afetam a propagação por estacas
Dentre os vários fatores dos quais dependem o enraizamento de
estacas, destacam-se os fatores ambientais, o estado fisiológico, a
maturação, o tipo de propágulo, a sua origem na copa e a época de coleta,
que influenciam, sobretudo, a capacidade e a rapidez do enraizamento
(Gomes, 1987 citado por Paiva e Gomes, 1995). Verger et al, (2001)
agrupam estes fatores em internos e externos, distinguindo nestes últimos
os tratamentos efetuados sobre a planta-mãe e os efetuados sobre a estaca.
Em síntese, os fatores internos correspondem à espécie, clone, idade das
plantas-mães e sua origem (in vitro, enxertia, estaquia, semeadura,...),
posição da estaca na planta-mãe, sua dimensão e estádio de
desenvolvimento no momento da coleta.
55
Os tratamentos efetuados sobre a planta-mãe, segundo os mesmos
autores, dizem respeito aos tratamentos agronômicos (nutrição hídrica,
mineral e orgânica), suplemento de luz ou estiolamento forçado, técnicas
de manutenção ou de restauração do estado juvenil propício ao sucesso da
propagação vegetativa (tamanho da planta-mãe, estaquia em cascata outro
nome para a técnica do jardim clonal – e pulverização de substâncias
hormonais indutoras). Por último, as estacas podem ser submetidas à
conservação ao frio (T°C, duração), substratos específicos, aporte de
substâncias exógenas (auxinas,...), manutenção de alta umidade relativa
do ar (irrigação ou nebulização intermitentes). Mas o sucesso de
sobrevivência dependerá de acompanhamento agronômico (fertilização e
tratamentos fitossanitários).
9.6.1 Fatores internos
Dentre os fatores internos considerados de maior importância para o
enraizamento de estacas estão: a condição fisiológica e a idade da planta
mãe, época do ano e o tipo de estaca (lenhosa, semilenhosa, herbácea e
foliar; apical, mediana e basal), a oxidação de substâncias e o balanço
hormonal da planta na época da coleta das estacas (Paiva e Gomes 1995;
Antunes et al, 2000). A época do ano e o tipo de estaca podem ser
decisivos no processo de estaquia e deve-se usar o mais adequado a cada
espécie.
Há consideráveis evidências de que a nutrição da planta mãe exerce
forte influência sobre o desenvolvimento de raízes e ramos (Hartmann e
Kester, 1976, citado por Paiva e Gomes, 1995).
56
Segundo o mesmo autor o teor de carboidratos na planta mãe deve
ser alto e o nitrogênio baixo. Porém, Antunes et al, (2000) relatam que o
conteúdo de amido nas estacas durante a dormência é alto, diminuindo na
primavera e verão, sendo que o alto enraizamento coincide com seu baixo
conteúdo, provavelmente resultante da reduzida ação de sistemas
enzimáticos ativados pelo conteúdo endógeno de auxinas. Sabe-se, no
entanto, que elevado nível de reservas com uma elevada relação C/N
favorece o enraizamento. As reservas parecem ser indispensáveis à
sobrevivência
do
propágulo
até
o
enraizamento
e
posterior
desenvolvimento (Gomes, 1987, apud Paiva e Gomes, 1995).
Com relação à idade da planta mãe, Paiva e Gomes (1995) afirmam
que em plantas difíceis de enraizar este pode ser um fator relevante. Em
geral, estacas tomadas de plantas jovens (em crescimento juvenil)
enraízam com maior facilidade que estacas de ramos mais velhos, em
crescimento adulto. O autor ainda afirma que quanto mais juvenil for o
material maior será o sucesso do enraizamento, quer pela rapidez de
formação, pela qualidade das próprias raízes ou pela capacidade de
crescimento da nova planta.
9.6.2 Fatores externos
A umidade, a temperatura, a luminosidade e o substrato são os
fatores externos mais importantes no processo de estaquia, também
devem ser considerados as lesões na base da estaca e a aplicação de
fitorreguladores.
57
A presença de folhas nas estacas é um forte estímulo para a
formação de raízes, no entanto, a perda de água pela transpiração pode
levar as estacas a morrerem antes que se formem as raízes (Paiva e
Gomes, 1995). Para contornar o problema da transpiração, deve-se manter
a umidade relativa do ar na região das estacas em torno de 80 a 100 %,
conservando a turgescência dos tecidos. Em ambientes protegidos, a
umidade relativa do ar é muito variável, sendo inversamente proporcional
aos valores de temperatura do ar diminuindo muito no período diurno e
aumentando durante a noite, chegando a quase 100 %, devido à queda de
temperatura e à retenção de vapor de água pela cobertura plástica
(Sentelhas e Santos, 1995). Pode-se reduzir essas variações com o uso de
um sistema de nebulização que proporcione uma fina película de água na
superfície da estaca, reduzindo, assim, a transpiração e mantendo a
temperatura relativamente constante nas estacas (Paiva e Gomes, 1995).
A temperatura tem importante função regulatória no metabolismo
das estacas. Esta deve adequada e fornecer condições para que haja a
indução, desenvolvimento e sobrevivência das folhas, gemas e ramos
(Bertoloti e Gonçalves, 1980, citado por Paiva e Gomes, 1995).
A luminosidade fornecida às estacas durante o período de
enraizamento é de fundamental importância na formação de raízes. Em
todos os tipos de crescimento das plantas a luz é de suma importância,
uma vez que constitui fonte de energia na fotossíntese. Nas condições
brasileiras, a intensidade luminosa geralmente precisa ser reduzida,
protegendo a planta com sombrite (50%) (Paiva e Gomes, 1995), ou
58
plásticos apropriados (Sentelhas e Santos, 1995) para evitar a insolação
excessiva das estacas.
O substrato desempenha importante função no processo de estaquia,
basicamente por propiciar sustentação às estacas, mantendo na sua base
um ambiente úmido, escuro e suficientemente aerado e com temperatura
ideal (Hartman e Kester, 1990; Fachinello et al, 1995, citado por Oliveira
2002). Para Fermino e Bellé (2000), um substrato para estaquia deve
apresentar densidade adequada para sustentar as estacas, porém sem
problema de compactação; deve ter estrutura estável; capacidade de reter
umidade, para manter as células túrgidas de forma a evitar constantes
regas; boa porosidade para drenar a água em excesso, permitindo aeração
adequada ao desenvolvimento das raízes; e deve estar isento de sementes
de ervas daninhas, patógenos e substâncias fitotóxicas.
A utilização de fitorreguladores no enraizamento é prática bastante
difundida e, em muitas espécies, é o principal fator que viabiliza a
produção de mudas por meio de estaquia (Fachinello, 1995; Paiva e
Gomes, 1995; Oliveira, 2002). O AIB é tido, por alguns pesquisadores,
como o mais eficiente no enraizamento de estacas (Hartman e Kester,
1990; Assis e Teixeira, 1998), pois apresenta maior estabilidade à
exposição solar que os demais e não é tóxico para as plantas numa ampla
gama de concentrações, sendo eficiente para estimular o enraizamento em
grande número de espécies de plantas (Hartman e Kester, 1990). No
entanto, a concentração ideal está na dependência de diversos fatores e
varia de acordo com a espécie e/ou cultivar a ser reproduzida.
59
CAPÍTULO I
ANÁLISE MORFO-FENOLÓGICA E POTENCIALIDADE
ORNAMENTAL DE Erythrina cristagalli L.
Ariane Gratieri-Sossella1, Cláudia Petry2
RESUMO - Através de estudos fenológicos é possível obter dados
importantes sobre a biologia e ecologia e subsídios para o cultivo e
manejo de espécies nativas. Os objetivos do estudo são registrar as
características fenológicas e destacar a plasticidade e potencialidade
ornamental ligada à importância ecológica e cultural de Erythrina
cristagalli L., através de observações de exemplares encontrados em
remanescentes de Floresta Ombrófila Mista e Savana no município de
Passo Fundo. Os registros das fenofases e demais características, foram
feitos em análises visuais de plantas visitadas mensalmente no período de
ago/2003 a ago/2004. A potencialidade ornamental foi analisada com
base no Índice Composto de Potencial Ornamental de Espécies Tropicais.
De acordo com o Índice a espécie pode ser classificada como tendo
máximo potencial ornamental devido à beleza do conjunto, folhas, flores,
tronco, contraste de cores, interação com a fauna e grande adaptabilidade
devido à rusticidade, característica de plantas pioneiras.
_____________________________________________
1 Bióloga, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Agronomia, área de
concentração em Produção Vegetal, da FAMV/UPF
2 Orietadora, Dra., prof. de Paisagismo e Floricultura da FAMV/UPF.
As fenofases estão ligadas às variações climáticas, ocorrendo
brotamento, floração e frutificação nos meses mais quentes do ano
60
(setembro/março) e senescência seguido de dormência no período mais
frio do ano (maio/agosto). Devido às características inerentes a espécie,
que foram observadas durante o estudo, pode-se afirmar que a mesma
possui grande aplicabilidade em paisagismo.
Palavras chave: paisagismo, corticeira do banhado, plasticidade
ornamental.
MORPHO-PHENOLOGICALA
AND
ORNAMENTAL
POTENCIALITY OF Erythrina cristagalli L.
ABSTRACT - Through phenology studies it is possible to get itself given
important on biology and ecology and subsidies for the culture and
handling of native species. The objective of the study is to register the
phenology characteristics and to detach the plasticity and on ornamental
potentiality to the ecological and cultural importance of Erythrina
cristagalli L. through comments of units found in remainders of Mixing
Ombrófhyl Forest and Savannah in the city of Passo Fundo. The registers
of phenophases, and excessively characteristic, had been to visual
analyses of plants visited monthly in the period of ago/2003 ago/2004.
The ornamental potentiality was analyzed on the basis of the Composed
Index of Ornamental Potential of Tropical Species. In accordance with
the Index the species can be classified as having maximum ornamental
potential due to beauty of the set, leaves, flowers, trunk, contrast of
colors, interaction with the fauna and great adaptability due to rudimental,
61
characteristic of pioneering plants. Phenophases is on to the climatic
variations occurring budding and fruition in the months hottest of the year
(will spring/summer) and followed senescence of dormant in the period
most cold of the year (autumn / winter). Had to the inherent
characteristics the species, that had been observed during the study, it
could be affirmed that the same one possess great applicability in
landscaping projects.
Key words: landscape, swamp corticeira, ornamental plasticity.
1 INTRODUÇÃO
O mercado de flores e plantas ornamentais está distribuído por todo
o país, tanto no consumo quanto na produção, embora alguns estados se
destaquem. O número de novos empreendedores no setor produtivo a
cada ano é surpreendente, em grande parte devido à atenção despertada
pela mídia. Pequenos produtores estão deixando de cultivar produtos que
exigem grande escala para produzir plantas ornamentais, principalmente
no sul do país, agregando valores às pequenas propriedades (Aki e
Perosa, 2002) e fixando o homem no campo (Matthes et al, 1985 citado
por Chamas e Matthes, 2000). A atividade contabiliza números
significativos no Brasil, cultivando uma área proxima de 5,2 mil hectares
anualmente. Estima-se, em todo o país, a geração de 50 mil empregos
(Junqueira e Peetz, 2002).
O balanço das exportações nacionais de flores e plantas ornamentais
mostra valores que atestam o vigor e a importância crescentes da
floricultura do País. O comércio internacional de plantas ornamentais
62
alcança aproximadamente três bilhões de dólares anuais (Chamas e
Matthes, 2000).
Junqueira e Peetz (2002) são ainda mais otimistas,
afirmando que nos primeiros sete meses de 2003 esse patamar foi
superado em 34%. A análise por grupos de produtos evidencia a notável
especialização do país na exportação de mudas de plantas ornamentais,
(Junqueira e Peetz, 2002) de espécies tropicais (Castro, 1993, apud
Chamas e Matthes, 2000), fator que, por si só, justifica estudos com
plantas nativas potencialmente ornamentais.
Na história do paisagismo brasileiro, é observado desde a época
colonial o uso de plantas exóticas em detrimento das autóctones. Os
europeus e norte-americanos sempre estiveram atentos à beleza e à
riqueza da flora do Brasil. Muitas espécies foram levadas, multiplicadas,
hibridizadas e comercializadas e, aqui retornavam como importadas
(Hoelne, 1930 citado por Chamas e Matthes, 2000). O elenco de nativas
estudadas, cultivadas e comercializadas é pouco representativo diante da
diversidade existente (Chamas e Matthes, 2000).
A proteção e a preservação dos bens culturais de um determinado
local têm como objetivo principal promover a identidade dos habitantes
daquela região. As modificações ocorridas em um ambiente podem ser
responsáveis pela perda da identificação do indivíduo com o local em que
vive (Trindade, 1996). O ambiente urbano e o rural apresentam tanto um
conjunto de elementos naturais quanto de elementos construídos,
refletindo os processos de interação social e econômica do homem. Neste
contexto, à procura de melhor qualidade de vida nas cidades ou no
campo, a vegetação assume papel de destaque pelas funções que
63
desempenha (Neto e Angelis, 1999), tanto pelo embelezamento quanto
pela importância de seus valores ambientais, históricos, culturais e de
referência.
Com o quadro de rápida e intensa devastação da natureza, é
necessário resgatar espécies com possibilidade de aplicação e divulgar
(Chamas e Matthes, 2000), conscientizando a população sobre sua
importância (Trindade, 1996) na identidade, cultura e qualidade de vida
do local. A introdução de uma planta em cultivo pode ser um instrumento
de conservação (Irgang, 1988, citado por Chamas e Matthes, 2000;
Lorenzi, 2003).
Corbin (2001) afirma que toda a atenção e cuidados são bem-vindos
quando se pretende estudar a paisagem visto que sempre se parte da
percepção individual. A plasticidade que a planta assume é determinante
na fisionomia da vegetação regional. Castan-Bañeras (1999) ao falar de
paisagismo, reforça as tendências para o paisagismo local, com uso de
espécies nativas que possibilitam redescobrir e reinventar as raízes do
lugar. Acrescido a isso, ressaltamos a importância do estudo de espécies
nativas representativas da região, no nosso caso, a corticeira do banhado,
que funcionaria como uma espécie representativa das paisagens de áreas
úmidas, com toda sua importância ecológica e paisagística. Além disso,
apresentando rusticidade característica de plantas pioneiras (IBGE, 1986;
Roderjan et al, 2002; Lorenzi, 1992), instalando-se sobre áreas
pedologicamente instáveis (IBGE, 1986; Roderjan et al, 2002),
encontrada esparsamente distribuída e adaptada a diferentes condições
edáficas e de altitude (IBGE, 1986).
64
O nosso intuito na condução desse estudo é descrever a plasticidade
específica de Erythrina cristagalli L., juntamente com análise de
caracteres morfológicos, fenológicos, de rusticidade e facilidade
reprodutiva para o cultivo (Ver capítulos III e IV) e potencialidade
ornamental para uso em paisagismo, destacando suas características mais
marcantes e com isso promover uma maior valorização dessa espécie
local.
2 MÉTODOS
O estudo foi realizado em remanescentes fitoecológicos de Savana e
Floresta Ombrófila Mista no município de Passo Fundo que está inserido
no Planalto Médio do Rio Grande do Sul-RS, região geomorfológica
“Planalto das Missões” (IBGE, 1986; Petry, 1996) e enquadrado pela
classificação de Köppen na Zona Climática fundamental temperada (C).
O clima local é descrito como subtropical úmido (Cfa) (Cunha, 1997) e o
solo como Latossolo Vermelho.
Foram registrados os principais eventos fenológicos, caracteres
morfológicos e a plasticidade (porte, estrutura, textura das superfícies,
transparências, cores e brilhos) assumidos pela planta na paisagem em
pequenos grupamentos de Erythrina cristagalli L. Além disso, foi
analisada a potencialidade ornamental da espécie, baseada em
características morfológicas, fenológicas e de rusticidade, analisados de
acordo com o Índice Composto de Potencial Ornamental de Espécies
Tropicais, elaborado por Chamas e Matthes (2000).
65
Algumas inflorescências na planta do jardim da UPF, da
floração de 2003, foram marcadas e analisadas levando em conta seu
tamanho, tempo de abertura e duração das flores. O acompanhamento
iniciou-se em 25 de novembro, época em que a planta apresentava plena
floração.
No período de agosto/03 a agosto/04, quando foram realizadas as
avaliações, os dados médios meteorológicos para a região foram:
temperatura média de 18,5 º C, precipitação total de 1637,6 mm, umidade
relativa de 77,8 % e somatório de insolação de 2824,9 horas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Fenologia
Este fenômeno foi observado em Erythrina cristagalli L. quando
submetida à análise fenológica (Tabela 1).
O brotamento, a floração e a frutificação ocorreram nos períodos
mais quentes do ano (setembro/março) e a queda das folhas ocorre
preferencialmente nos meses mais frios do ano, iniciando com a queda na
temperatura, apresentando-se com maior expressão após o mês de junho
(Figura 1), onde foram registrados os menores índices térmicos.
O surgimento das inflorescências ocorreu em épocas diferentes de
acordo com o tipo de ambiente em que a planta estava localizada.
Enquanto que na planta do ambiente seco a primeira inflorescência surgiu
na primeira semana de novembro, no ambiente úmido isto ocorreu
somente na ultima semana do mesmo mês. A plena florada e ainda o
66
inicio da maturação dos frutos também são antecipados no ambiente seco,
talvez devido ao estresse causado pela menor disponibilidade de água ou
maiores oscilações de tempereturas (Tabela 1).
A senescência das folhas ocorreu simultaneamente nos dois
ambientes, seco e úmido (Tabela 1). Segundo Larcher (2000) este evento
é controlado por programa genético. Em espécies perenes o sinal para a
senescência é originado por fatores externos, como dias curtos, ocorrência
de certos limites de temperatura (queda) ou por situações de estresse. No
entanto esses eventos são controlados em nível de organismo pelos
hormônios vegetais, principalmente o ácido abscísico, o ácido jasmônico
e o etileno.
67
Tabela 1. Eventos fenológicos de Erythrina cristagalli L., avaliados cronologicamente no período de agosto de
003 a agosto de 2004, em plantas do ambiente seco e úmido no município de Passo Fundo, RS
Ambiente seco
Ambiente úmido
Agosto/ 2003
Caduca
Caduca
Setembro/ 2003
Inicio da Brotação
Caduca
Outubro/ 2003
Brotos vegetativos e floríferos
Brotos vegetativos e floríferos
Novembro/ 2003
Inicio Floração (1ª semana) e folhagem
Inicio Floração (4ª semana) e folhagem
Dezembro/ 2003
Fim da floração, permanência da folhagem
Plena floração e folhagem
Janeiro/ 2004
(4ª semana) Frutos maduros e folhagem
(4ª semana) Frutos verdes e folhagem
Fevereiro/ 2004
Vagens abertas e folhagem
Vagens maduras (1ª e 2ª semana) e folhas
Março/ 2004
Vagens abertas e folhagem
Vagens abertas e folhagem
Abril/ 2004
Folhagem
Folhagem
Maio/ 2004
Amarelamento da folhagem
Amarelamento da folhagem
Junho/ 2004
Senescência
Senescência
Julho/ 2004
Caduca
Caduca
Agosto/ 2004
Caduca
Caduca
67
Período
68
Nas regiões tropicais e subtropicais há árvores que só apresentam flores
nos ramos nus após a queda das folhas. Exemplos dessa fenologia são
citados para algumas espécies do gênero Erythrina. Nas geófitas de
primavera as gemas florais estão totalmente diferenciadas durante o
inverno e, portanto, prontas para abrir quando a temperatura se elevar.
Assim as plantas são capazes de utilizar o breve período entre o final do
inverno e o máximo desenvolvimento da folhagem para o florescimento e
o inicio da formação do fruto (Larcher, 2000).
“As cores amarelada, cinza e pardacenta, que predominavam no
inverno, rapidamente desaparecem, e os vários tons de verde das novas
brotações dão um colorido mais alegre à paisagem” (Romariz, 1996).
Os fatores ambientais, em conjunto com a regulação dos
mecanismos endógenos, influenciam na floração, no inicio da frutificação
e no amadurecimento das sementes, principalmente pelo efeito do estado
nutricional (Larcher, 2000). O autor relata ainda que plantas lenhosas
adaptam-se ao frio do inverno por meio de mudanças periódicas no estado
do
protoplasma,
na
atividade
metabólica,
nos
processos
de
desenvolvimento e na resistência às baixas temperaturas, e podem se
tornar pré-condicionadas ao congelamento e desidratação deixando cair as
folhas.
Em espécies perenes, o sinal para a senescência é freqüentemente
originado por fatores externos, como dias curtos e ocorrência de certos
limites de temperatura, além do programa genético da espécie (Larcher,
2000). Com temperaturas mais elevadas e com o aumento das horas do
dia, a dormência endógena termina e a iniciação do crescimento é
determinada pelas condições do clima.
69
O início e a duração das distintas fases de desenvolvimento variam
de ano para ano e geograficamente, dependendo das condições climáticas,
sendo considerados fatores decisivos os suprimentos de nutrientes, água,
temperatura e fotoperíodo (Tonello et al, 1998; Larcher, 2000).
Aparentemente a coloração das flores da corticeira também está
associada às variações climáticas. Lorenzi (1992) afirma que na região
Sul a espécie produz flores mais vermelhas chamando-a de raça
geográfica, enquanto Brandão (2002) relata para Minas Gerais flores
rosadas. Entre diferentes árvores da mesma espécie podem ocorrer
diferenças na coloração das flores, e talvez sejam variedades ainda não
identificadas.
Ainda, se tratando da mesma região, ocorre diferença na coloração
das flores, podendo ser observado tons vermelhos fortes nos exemplares
do ambiente natural e tons mais rosados em plantas introduzidas no meio
urbano. Talvez devido às diferenças de condições microclimáticas, de
umidade e temperatura, existente entre os dois ambientes.
As inflorescências analisadas apresentaram em média 40 cm de
comprimento e 40 flores, que iniciam a abertura da base para o ápice,
típico de racemos. O período para a abertura total dos botões foi de 10
dias, permanecendo as flores no ramo por, aproximadamente, mais 10
dias. Quando coletadas e testadas em arranjos florais, as inflorescências
não duram mais do que um dia, e todas as flores se desprendem do ramo
mesmo sem apresentar sinais de murchamento. Não é incomum
observarmos flores no ápice e pequenas vagens já formadas na base da
inflorescência o que comprova que o tempo de duração das flores é curto.
70
Em relação ao número de flores, o número de vagens formado por cacho
é relativamente pequeno, em torno de 5 vagens.
Figura 1. Erythrina cristagalli no período de inverno, sem a folhagem,
Passo Fundo, 2003
71
Figura 2. Erythrina cristagalli em fase de brotamento no período de
primavera. Passo Fundo, 2003
72
Figura 3. Erythrina cristagalli em plena florada no período de primavera
verão. Passo Fundo, 2003/2004
73
Figura 4. Erythrina cristagalli em frutificação, Passo Fundo, 2004
74
3.2 Plasticidade
Entende-se por plasticidade o efeito visual que transmite uma
planta, obtido pelo conjunto de seus elementos, a estrutura da planta e
seus contornos. Texturas muitas vezes rústicas e exóticas, que compõem o
aspecto geral das superfícies, de todas as partes dos vegetais e que unidas
à cores exuberantes e brilhos variados (Tabela 2) conferem características
de beleza, particulares a cada espécie (Demattê, 1997; Grolli, 1997; Petry,
2003).
As corticeiras são árvores de aspecto muito típico que com silhueta
de estrutura mista inconfundível, destacando-se sempre na paisagem. O
tronco marronzeado e rugoso, é grosso, mas sempre muito retorcido e
esgalhado; a casca é espessa e protegida, às vezes, por uma camada de
cortiça crivada por ranhuras, verdadeiros suportes para espécies epífitas
(Figura 2), em uma simbiose encantadora. As árvores são geralmente
baixas (6 a 8 metros), de troncos e galhos retorcidos, apresentando na
parte superior formas muito irregulares, principalmente no inverno,
assumindo um certo aspecto de transparência.
Na primavera a folhagem verdeja a copa e as longas inflorescências
vermelhas começam a surgir contrastando fortemente (Figura 2), com
cores que se complementam (Petry, 2003) atraindo, não somente nossos
olhares de admiração, mas vários insetos e bandos de beija-flores.
Quando os frutos surgem na forma de longas vagens verdes, que
com o passar do tempo se tornam marrons, abrindo-se e dispersando as
sementes, muito provavelmente, com a ajuda da avifauna. Os dias passam
75
e as folhas tornam-se amareladas, e caem, como quem houvesse cumprido
mais uma jornada.
A Tabela 2 lista algumas das principais características plásticas da
espécie.
76
Tabela 2. Características referentes à plasticidade da Erythrina cristagalli L., Passo Fundo, RS, 2004
Órgão da
Planta
Porte (m)
Altura Diâm.
Copada e
Folhagem 6 - 10
Tronco
Flores
Frutos
10
58 cm
Estrutura
Mista
Tortuoso
Racemo
Vagens
Textura
Lisa
Lisojovem;
Rugoso,
com
estriasadulto
Delicada
Rústicas
PLASTICIDADE
TranspaDensidade
rência
Caduci- Sombra rala,
folia
deixa penetrar
(transpar raios de sol
ente 4
meses
ao ano)
Cor
Verde
Forte
Adaxial;
Verde
claro
Abaxial
Marrom /
Acinzentado
Densas
Ralos
Brilho
Levemente
vernicosa
Opaco
Vermelhas Cerosas
Marrons Opacos
76
77
3.3 Potencialidade ornamental
Com o intuito de avaliar a utilização da espécie no paisagismo,
efetuou-se uma pesquisa bibliográfica, destacando a importância de
difundir o conhecimento de espécies nativas e seu uso em arborização.
Ferreira e Saturnino (1978) relatam o uso dos frutos e sementes da
corticeira em arranjos de plantas secas para decorações. Para Lorenzi
(1992), a árvore é bastante ornamental quando em flor, prestando-se para
formação de parques e jardins, pois, apesar de ser higrófita, se adapta a
terrenos secos. Simon & Schuster` (1992) afirmam ser uma planta linda
para decoração de parques e jardins e até para uso em “containers”.
Teixeira (1999) cita a presença da espécie na arborização urbana em
bairros de Santa Maria-RS. Santos e Teixeira (2001) consideram suas
flores expressivas devido à cor vermelha e abundância de racemos.
Brandão (2002) afirma ser uma planta ornamental por excelência. Pallazo
Junior e Both (2003) indicam o uso da espécie para jardins parques
ecológicos por ser muito atrativa à fauna. Apresenta folhagem não tão
densa (Figura 4), deixando passar raios solares, podendo ser usada
próximo à canteiros.
Além das características plásticas já destacadas da espécie, que lhe
conferem uma beleza indiscutível, existem outros fatores que favorecem
seu bom desempenho paisagístico, quer seja em meios urbanos ou
paisagens naturais.
Um fator que se destaca é a rusticidade característica de espécies
pioneiras que se instalam sobre áreas pedologicamente instáveis (Figura
6) (IBGE, 1986; Roderjan, 2002), adaptando-se ao clima, razão pela qual
78
são amplamente distribuídas geograficamente e adaptadas a diferentes
condições edáficas (IBGE, 1986). Apresentam dormência e formam
banco de sementes, crescem rapidamente, possuem dispersão zoocórica, a
madeira é pálida e de baixa densidade apresentando alta plasticidade
fenotípica (Gandolfi e Rodrigues, 1996).
Possuem flores vistosas que são comuns nas formações vegetais
abertas, características de clima com estacionalidade. Flores são
consideradas adaptações para assegurar a propagação natural da espécie
(Leite e Klein, 1990) por atraírem animais polinizadores e dispersores,
principalmente aves (Ragusa-Neto, 2002) e morcegos.
As sementes da Erythrina cristagalli são grandes (Figura 5) e caem
com a gravidade formando grupamentos de indivíduos. Porém sua ampla
distribuição se deve, provavelmente, à interação com a fauna. Matthes
(1980) e Morelato (1991) citados por Gandolfi e Rodrigues (1996) e
Ragusa-Neto (2002) confirmam a grande dependência destas espécies
vegetais em relação aos animais que são seus polinizadores e/ou
dispersores. Morellato e Leitão Filho, citados por Reis et al. (1994)
afirmam que a dispersão de 60 a 90% de sementes florestais depende da
ação dos animais, ainda afirmando que 90% das espécies florestais
tropicais dependem da ação animal para polinização.
Leite e Klein (1990) ainda acrescentam que plantas com casca
corticosa e com folhas coriáceas são tidas como munidas de adaptações
para se desenvolverem em solos mais secos.
Devido às características adaptativas e biológicas da espécie, que
foram mencionadas, a planta pode ser usada em recuperação de áreas
ciliares, em solos encharcados hidromórficos, áreas próximas a cursos
79
d`água, à beira de lagos, piscinas e, também em solos enxutos. Nesse
aspecto o que impera é a criatividade e o bom gosto do paisagista.
A Tabela 3 mostra as características que merecem destaque como
ornamentais na espécie Erythrina cristagalli adaptadas ao Índice
Composto de Potencial Ornamental de Espécies Tropicais (Chamas e
Matthes, 2000). Em função da faixa numérica do resultado, a espécie é
categorizada em sua potencialidade: máxima, alta, média e mínima. Os
valores numéricos utilizados pelos autores na constituição do Índice são
empíricos e essa planilha de avaliação é aplicável às plantas que
manifestam
algumas
potencialidades
ornamentais,
que
devem
primeiramente ser enquadradas em um dos grupos taxonômicos
estabelecidos, a saber: “Pteridophyta”, Gymnospermae”, “Angiospermae
Tipo 1”, “Outras Angiospermae”, “Flor de Corte” e “Folha de Corte”.
Não sendo a folhagem a característica ornamental mais importante,
utilizamos a coluna “Outras Angiospermae”.
Definido o grupo taxonômico e, conseqüentemente a coluna a ser
utilizada para a espécie, deve-se proceder à leitura sequencial descendente
das características ornamentais, avaliando se o atributo especificado é um
aspecto que sobressai ao se analisar a ornamentabilidade da espécie. Em
caso positivo, incluir o valor absoluto correspondente proposto pelos
autores no somatório de pontos. Para categorização da espécie, no final,
identificar em que intervalo se localiza o resultante do somatório de
pontos: 0-29, mínimo; 30-39, médio; 40-59, alto; e 60-100, máximo
potencial ornamental.
80
Tabela 3. Características ornamentais da Erythrina cristagalli L. de
acordo com o Índice Composto de Potencial Ornamental de Espécies
Tropicais estruturado e com valores numéricos sugeridos por Chamas e
Matthes (2000), Passo Fundo, RS, 2004
CARACTERÍSTICAS ORNAMENTAIS
Morfologia
Flor ou
Inflorescência
Fruto
Folha
Tronco
Arquitetura da
planta
Coloração da
planta
Fenologia
Interação
Floração
Frutificação
Rusticidade
Ocorre em
diferentes
Cor
Grupo
Taxonômico
Outras
Angiospermas
7
Quantidade
Forma
Tamanho
Cor
Forma
Forma incomum
Medianamente
subdivid.
Textura
Forma incomum
3
3
2
7
3
6
0
Forte contraste
cores
Cores fortes
Longo período s/
folhas
Atração
polinizadores
Fornece
alimento à fauna
Umidades
8
Altitudes
(amplitude
mínima 100m)
1
4
8
- 10
3
2
2
1
81
Quantidade
Indivíduos ou
populações
6 a 10
2
Cultivo
Indicativo
negativo
-2
Aplicabilidade
Imediata
Fortemente
doente
(sementes)
Pronta para
domesticação
Já
comercializada
Originalidade
Somatório
60 a 100 pontos = Máximo potencial ornamental
4
6
61
Segundo o Índice e o somatório dos pontos atribuídos à espécie
Erythrina cristagalli L., esta pode ser classificada como tendo máximo
potencial ornamental.
Chamas e Mathes (2000) ao estabelecer este índice consideram
plantas caducifólias como aspecto negativo para uso em paisagismo. No
entanto, para a região Sul do país, onde o inverno é rigoroso, plantas que
perdem as folhas não apenas podem, mas devem ser utilizadas em
arborização urbana, pois permitem maior incidência solar sobre o solo e
com isso a diminuição da umidade e proliferação de fungos prejudiciais
ao sistema respiratório humano. Além do fato que, a beleza da corticeira
não é prejudicada neste período pois possui uma bela arquitetura com
estrutura mista.
82
A
C
B
D
Figura 5 Características do tronco de Erythrina cristagalli L.nos
ambientes, seco e banhado: (A) tronco com ranhuras
profundas da planta do banhado, (B, C) espécies epífitas
alojadas sobre o tronco da planta do banhado, (D) tronco da
planta do ambiente seco com menos ranhuras e epífitas.
83
A
B
Figura 6 Morfologia da folhas e das inflorescências de Erythrina
cristagalli com destaque para o contraste de cores (A) e
detalhe das flores (B), Passo Fundo, 2004.
84
A
B
Figura 7 Imagem do interior da copa de uma Erythrina cristagalli,
mostrando a densidade da folhagem durante (A) e após a
floração (B), Passo Fundo, 2004.
85
A
B
C
Figura 8 Adaptabilidade da Erythrina cistagalli L. a diversos ambientes:
(A) Ambiente seco no jardim da UPF; (B) alagado em banhado
da região e (C) em ambiente urbano cercada por cimento. Passo
Fundo, 2004.
86
4 CONCLUSÕES:
- As fenofases de Erythrina cristagalli L. estão ligadas às estações
climáticas ocorrendo brotamento, floração e frutificação no período mais
quente do ano (setembro/março) e senescência seguida de dormência no
período mais frio do ano (maio/agosto);
- A espécie possui máximo potencial ornamental devido à plasticidade
que lhe confere incomparável beleza, rusticidade e alta adaptabilidade,
além de atrair a fauna que atua como polinizadora e dispersora de suas
sementes;
- Possui grande aplicabilidade em uso paisagístico.
87
CAPÍTULO II
ANATOMIA COMPARADA DE Erythrina cristagalli ADAPTADA A
DOIS AMBIENTES – SECO E BANHADO
Ariane Gratieri-Sossella1, Cláudia Petry2, Cerci Maria Carneiro2
RESUMO - A Erythrina cristagalli L. apresenta-se naturalmente em
locais com solos muito úmidos e alagados, componente da vegetação
higrófita, mas tolera muito bem, ambientes mesofíticos, com condições
intermediárias de umidade, fato que permite sua ampla utilização em
ornamentação de praças, parques e jardins. Tendo em vista esta
característica adaptativa da espécie, é importante que sejam estudadas
algumas características que possam estar envolvidas nesse fenômeno
adaptativo, como a morfo-anatomia da espécie. O material estudado foi
coletado de plantas localizadas em ambientes seco e banhado, no
município de Passo Fundo. A análise anatômica do material vegetal foi
processada em folhas e pecíolos adultos, fixados em FAA 50. As lâminas
foram montadas a partir do material fixado em FAA 50, desidratado em
série alcoólica-etílica ascendente, álcool-xilol 3:1, 1:1, 1:3 e xilol puro.
_____________________________________________
1 Bióloga, mestranda do Programa de Pós-graduação em Agronomia, área de
concentração em Produção Vegetal, da FAMV/UPF.
2 Professoras Orientadoras.
88
A seguir foram processadas a infiltração e a inclusão em parafina. A
microtomização foi realizada em micrótomo rotatório, onde foram obtidas
secções isoladas ou seriadas de 10 µm de espessura. A análise anatômica
evidenciou epiderme unisseriada tabular na face adaxial e papilosa na
abaxial; mesofilo isobilateral (com parênquima paliçádico nas duas faces,
adaxial e abaxial, intercalados por parênquima lacunoso) sendo que no
exemplar do banhado as células paliçádicas mostraram-se mais baixas e
compactadas em relação ao ambiente seco. No banhado também ocorre
diminuição do tecido lacunoso; o bordo foliar não apresenta parênquima
clorofiliano, apenas parênquima com conteúdo granuloso; o sistema
vascular é formado por um arco vascular semifechado mostrando-se na
planta do banhado com xilema mais desenvolvido, maior número de
elementos de vaso, com maior calibre, porém com as paredes celulares
mais delgadas em relação à planta do ambiente seco.
Palavras chave: corticeira do banhado, anatomia adaptativa.
COMPARED ANATOMY OF Erythrina cristagalli L ADAPTED TO
TWO ENVIRONMENTS – DRY AND SWAMP.
ABSTRACT - The Erythrina cristagalli L. is presented of course in
places with ground very humid and flooded, component of the
hygrophyte vegetation, but it tolerates very well environments with
intermediate conditions of humidity, fact that allows its ample use in
ornamentation of squares, parks and gardens. In view of this adaptation’s
characteristic of the species, it is important that some characteristics are
studied that can be involved in this adaptation, as the morph-anatomy of
89
the species. The studied plants had been collected in mangrove and hilltop
environments, in the city of Passo Fundo. The anatomical analysis of the
plant material was processed in leaves and petioles adults, settled in 50
FAA. The blades had been mounted from the material settled in FAA 50,
dehydrated in ascending alcoholic-etílic series, alcohol-xylol 3:1, 1:1, 1:3
and pure xylol. To follow, they had been processed, infiltration and the
inclusion in paraffin. The anatomical analysis evidenced tabular
uniseriate epidermis in the adaxial surface and papillae face in the abaxial
surface; mesophyll isobilateral (with parenchyma palisade in the two
faces, superior and inferior, intercalated by spongye tissue) being that in
the unit of bathed the palisade cells they had revealed lower and compact
in surrounding relation to the dry one. In also the bathed one reduction of
the fabric occurs spongye mesophyl; the foliar edge does not present
chlorophyll, only parenchyma with granular content; the vascular system
is formed by a anomalous vascular arc revealing in the plant of the bathed
one with xylem more developed, bigger number of vessel elements, with
bigger bore, however with the thinner cellular walls in relation to the
surrounding plant of the dry one.
Key words: swamp corticeira, adaptative anatomy.
1 INTRODUÇÃO
O gênero Erythrina pertence à família Fabaceae (Cronquist, 1981) e
ocorre nas regiões tropicais e subtropicais do mundo, possuindo, segundo
Ferreira e Brandão (1978), cerca de 104 espécies, das quais 51 são
90
americanas, 32 africanas, 18 asiáticas e 3 australianas. O nome Erythrina
vem do grego “erytros”, que significa vermelho, em alusão à cor de suas
flores.
Para o Brasil estão relacionadas cerca de 12 espécies, das quais seis
foram coletadas e estudadas em Minas Gerais por Ferreira e Assumpção
(1978). Uma das espécies brasileiras, à qual está direcionado o estudo, é
Erythrina cristagalli, considerada nativa do Brasil e da Argentina,
encontrada naturalmente em várzeas pantanosas ou alagadiças desde o
Maranhão até o Rio Grande do Sul onde é bastante difundida. É
encontrada desde as Florestas Pluviais da Encosta Atlântica em Torres e
Osório, até as áreas do Sudeste ou Escudo Rio Grandense, Bacia do rio
Ibicuí e Jacuí ou Depressão Central e no planalto nos remanescentes de
Florestas de Araucárias. Faz parte, freqüentemente, das formações de
florestas de galerias (Lorenzi, 1992; Brandão, 2002; Reitz et al, 1988).
A literatura botânica registra alguns trabalhos de anatomia de
Fabaceae, como Metcalfe e Chalk (1957) que apresentaram características
gerais da família e seus gêneros, dentre eles Erythrina; Vilela e Palácios
(1995) descreveram características dos estômatos e relataram a presença
de extensão da bainha do sistema vascular em exemplares da família.
Carneiro e Bordignon (2004) analisaram anatomicamente populações de
Lotus corniculatus, representantes herbáceos da família com valor
forrageiro. Bessa e Mendonça (1998) trabalharam com a anatomia foliar
de Dipterix odorata, valiosa pelos efeitos terapêuticos e apresentando
epiderme com células tabulares na face adaxial; parênquima lacunoso
formado por células irregulares; feixes colaterais circundados por uma
bainha com extensões que, segundo os autores, são típicas à família.
91
Chaves et al, (1996) fizeram considerações sobre a morfologia e
anatomia, como características dos estômatos, mesofilo com estrutura
dorsiventral e feixes vasculares colaterais, de plantas jovens de Erythrina
falcata Benth., uma Fabaceae arbórea utilizada na recuperação de áreas
degradadas. Por fim, um dos raros trabalhos realizados tratando da
anatomia de Erythrina cristagalli, foi o de Ferreira e Assumpção (1978),
que por considerar o gênero pouco estudado, fizeram análises anatômicas
comparativas entre seis espécies brasileiras de Erythrina, listando as
principais estruturas de folhas e pecíolos das espécies estudadas.
No entanto, a literatura botânica é muito escassa quanto a trabalhos
sobre a anatomia de Erythrina cristagalli L.. Diante disto, considerando
sua importância ecológica natural como portadora de microecossistemas,
(grupos vegetais e animais), recuperadora de ambientes degradados, na
reposição de matas ciliares com solos permanentemente encharcados e,
além disso, seu forte potencial como planta ornamental e adaptação a
solos enxutos, este trabalho tem por finalidade contribuir para a melhor
caracterização específica e auxiliar no estudo anátomo-ecológico e
adaptativo da espécie a diferentes condições de umidade do solo.
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Local e período de coleta
O material botânico para a análise morfo-anatômica da espécie foi
obtido em diferentes locais (úmido e seco) no dia 17 de dezembro de
92
2003, época em que a espécie apresentava floração, no município de
Passo Fundo, Rio Grande do Sul.
O material referente ao ambiente úmido foi coletado em um
remanescente florestal próximo à Perimetral Norte do Município de Passo
Fundo (próximo à antiga pedreira da prefeitura) junto ao Rio Passo
Fundo. O material de solo seco, foi proveniente de uma planta
introduzida, coletado na UPF, Campus I, próximo ao restaurante
universitário. Ambos os materiais foram acondicionados em sacos
plásticos borrifados com água, para evitar a desidratação dos tecidos, e
levados ao Laboratório de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas da
UPF para fixação.
As plantas, das quais foi coletado o material para estudo, estão
inseridas em locais de pleno sol, o que é característico para a espécie.
2.3 Análise anatômica
Os estudos anatômicos foram efetuados em folhas e pecíolos de
plantas adultas. Os órgãos em questão podem ser considerados maduros,
por se tratar do final da primavera, e foram retirados no 11º nó a partir do
ápice do ramo. Foram utilizadas as partes medianas do pecíolo e do
folíolo central, e também foi analisado o bordo do folíolo central, todos
secionados em cortes transversais, e estudados a epiderme, mesofilo,
nervuras de médio e pequeno porte e bordo foliar.
A análise
anatômica foi processada em material botânico fixado em FAA 50,
conforme Johansen (1940).
93
2.4 Análise em microscopia fotônica (Mf)
2.4.1 Preparação das lâminas
As lâminas permanentes foram montadas a partir do material fixado
em FAA 50, desidratado em série alcoólica-etílica ascendente, álcoolxilol 3:1, 1:1, 1:3 e xilol puro. A seguir foram processadas a infiltração e
a inclusão em parafina, conforme Sass (1951).
A microtomização foi realizada em micrótomo rotatório, onde
foram obtidas secções isoladas ou seriadas de 10 µm de espessura. Para
colagem e distensão das secções empregou-se adesivo de Bissing
conforme Bissing (1974) citado por Carneiro (1994). Para coloração
utilizou-se fucsina básica e azul de alcian, diluídos a 0,5 % em álcool
etílico 50. Como meio de montagem utilizou-se Permount.
2.4.2 Microscopia fotônica e tomada das imagens
O laminário foi analisado em microscópio Olympus e as melhores
secções foram selecionadas e tomadas as imagens em Capturador Sony.
2.4.3. Grau de esclereificação (GE)
A massa da matéria seca da folha, quando relacionada com sua área,
propicia o conhecimento do grau de esclereificação desta folha (g/dm²).
Geralmente há um aumento na esclereificação com o déficit hídrico, pela
redução marcante da elongação celular e da área foliar (Buriol, 1983 apud
94
Petry, 1991). Neste caso, relacionou-se a massa seca com a área foliar de
33 folhas ativas em 3 plantas diferentes, totalizando 99 folhas avaliadas.
3 RESULTADOS DISCUSSÃO
3.1 Pecíolo
A análise realizada no material preparado do pecíolo de E.
cristagalli, tanto para o exemplar do Campus (seco) como para o do
banhado, mostrou que a epiderme é uniestratificada, com células que
apresentam formato sub-papiloso, com cutícula espessa e lisa (Figura 1 A
e D).
De acordo com Eames e MacDaniels (1947), as camadas de cutícula
variam grandemente em espessura e características. A cutícula é fina em
plantas de sombra e lugares úmidos, geralmente espessa em situações
secas e ensolaradas. A espessura em folhas e frutos da mesma planta,
varia conforme a posição na planta e de estação para estação, com as
condições do tempo.
Nos exemplares de E. cristagalli L. analisados, entretanto, não
foram observadas diferenças significativas na cutícula, talvez devido ao
fato de serem ambas as plantas heliófitas e viverem a pleno sol. Porém,
embora haja diferença na disponibilidade de água entre os dois ambientes,
a cutícula mostrou-se relativamente espessa nos dois casos.
95
Na camada sub-epidérmica do pecíolo aparecem alguns estratos,
três a quatro de colênquima, o que confirma a descrição de Ferreira &
Assumpção (1978) para a espécie.
A região cortical apresenta de 5 a 6 estratos de células
parenquimáticas, algumas apresentando idioblastos com conteúdo
granuloso. Os mesmos idioblastos são visíveis também junto ao
esclerênquima e no floema, ocorrendo em grande número (Figura 1 B). O
floema mostra-se bem desenvolvido.
O sistema vascular peciolar apresenta um anel concêntrico de fibras
envolvendo todo o conjunto de feixes, e cada feixe por sua vez, também é
circundado por 2 a 3 camadas de células de fibras, as quais são a
continuação do anel (Figura 1 C). Os elementos do metaxilema
apresentam-se bem desenvolvidos.
A medula é composta por células parenquimáticas de contorno
arredondado, isodiamétricas e com amplos espaços intercelulares.
Foram observadas no pecíolo algumas células cambiais, que
provavelmente não estivessem ativas na planta.
Em relação aos ambientes, as papilas são aparentemente mais curtas
no material do ambiente seco, quando comparado com o do ambiente
úmido.
3.2 Lâmina foliar
A lâmina foliar tem organização isobilateral.
96
3.2.1 Epiderme
A cutícula varia em espessura, e pode ser lisa ou provida com
espessamentos granulares, ou estriada (Solereder, 1908, citado por
Carneiro, 1994). Na espécie estudada a cutícula é lisa independentemente
do ambiente em que se encontra, delgada e se torna mais evidente na
nervura central.
Segundo Esau (1974), as células epidérmicas podem apresentar
paredes anticlinais sinuosas. A sinuosidade pode sofrer variações
conforme a região da folha, podendo ser mais pronunciada na zona entre
as nervuras (Cutter, 1986), ou mesmo na epiderme adaxial (Solereder,
1908, citado Carneiro, 1994; Metcalfe e Chalk, 1979).
A epiderme vista em corte transversal apresenta-se unisseriada. Na
face adaxial mostra algumas células com aspecto levemente papiloso,
porém a grande maioria não se apresenta dessa forma, possuindo formato
tabular. Na face abaxial é papilosa (Figura 2 C), formada por um estrato
de células altas, porém, essas papilas se apresentam mais baixas junto à
nervura central evidenciando a cutícula. As estruturas observadas são
concordantes com as descrições feitas por Ferreira e Assumpção (1978),
que dizem ser a epiderme abaxial formada de células com paredes lisas,
com dobramentos acentuados. Quatro a cinco camadas de células
colenquimáticas localizam-se sob a epiderme na nervura central. Na
região do bordo foliar a epiderme abaxial não possui papilas. A folha é
anfiestomática.
Metcalfe e Chalk (1979) relatam diferenças significativas quanto à
forma e o tamanho entre as células epidérmicas situadas entre ou sobre as
97
nervuras e na região marginal da folha. Solereder (1908), citado por
Carneiro (1994) observa que espécies de ambientes úmidos possuem
paredes mais sinuosas do que espécies que ocorrem em lugares secos. O
autor registra, ainda, a existência de pequenas variações no tamanho
celular da epiderme de indivíduos de uma mesma espécie que ocorre em
habitats diferentes. Metcalfe e Chalk (1979) e Cutter (1986) indicam
fatores ambientais como intensidade luminosa e umidade atmosférica,
como influenciadores do tamanho e da forma das células epidérmicas.
Aparentemente as células papilosas se apresentaram mais baixas no
ambiente seco em relação ao banhado (Figura 2 A e B), confirmando o
descrito por Solereder (1908), citado por Carneiro (1994).
3.2.2 Mesofilo
Segundo
Raven
(1996),
o
parênquima
paliçádico
está
freqüentemente localizado na superfície adaxial da folha, e o lacunoso na
superfície abaxial em plantas mesofíticas. Em certas plantas, porém, o
parênquima paliçádico ocorre em ambas as faces da folha, sendo
classificado como isobilateral. Conforme Ferreira e Assumpção (1978), o
mesofilo foliar de E. cristagalli é isobilateral, contendo três camadas de
células paliçádicas na face adaxial e duas na abaxial.
Neste estudo, examinado no terço médio do folíolo, o mesofilo
mostra estrutura isobilateral de forma irregular, com parênquima
clorofiliano paliçádico formado por quatro a cinco camadas na superfície
adaxial, e três a quatro camadas na face abaxial, informação confirmada
em Metcalfe e Chalk (1979), intercalados por parênquima lacunoso de
98
células braciformes. O parênquima clorofiliano interrompe depois do
último feixe vascular, limitado nos bordos do limbo por um parênquima
de células arredondadas com conteúdo granuloso (Figura 3 A).
A superfície adaxial da folha exibe parênquima paliçádico frouxo e
com células altas, rico em idioblastos com conteúdo granuloso,
abrangendo parte da nervura central, sendo interrompido somente na
região central da nervura.
Em cortes transversais, feitos no material coletado no banhado, o
mesofilo apresentou parênquima paliçádico ocupando aproximadamente
2/3 do mesofilo relacionado à face adaxial (Figura 3 C), com cinco a seis
extratos de células que aparecem mais baixas (curtas) e compactadas em
relação ao ambiente seco. Também ocorre diminuição do parênquima
lacunoso, que se mantém braciforme. As células do parênquima
paliçádico, na planta do ambiente seco, mostraram-se mais delgadas e
altas (longas) (Figura 3 B), configurando três estratos na face adaxial e
de dois a três na abaxial, intercalados por parênquima braciforme (Figura
3 D).
Dispersos no mesofilo, são observados grande número de
idioblastos com conteúdo marrom, provavelmente contendo taninos
(Metcalfe e Chalk, 1957) e cristais.
Foram observadas algumas diferenças no que diz respeito ao
mesofilo da espécie, nos dois ambientes estudados. Ocorre diminuição
considerável do tecido parenquimático lacunoso, porém, continua
braciforme, na planta do banhado. Ainda nesse ambiente as células do
parênquima paliçádico aparecem mais baixas e compactadas como um
paliçádico típico, ocorrendo nas duas faces da folha e intercalado por
99
parênquima lacunoso, ficando evidente o formato isobilateral. No
ambiente seco as células do parênquima paliçádico são mais finas e altas,
formando um paliçádico frouxo. A presença de tecido lacunoso nesse
ambiente é mais evidente, dificultando, em certas porções da folha, a
classificação como isobilateral. Essas alterações provavelmente estejam
relacionadas com a disponibilidade de água, buscando maior eficiência
fotossintética.
3.2.3 Sistema vascular
O sistema vascular foliar possui uma nervura mediana, de grande
porte, circundada por um feixe de fibras cujas células não estão
completamente lignificadas, apresentando resquícios de conteúdo celular.
Cutter (1986) afirma que as células ao redor do tecido vascular são
morfologicamente diferentes das células do mesofilo adjacentes e, muitas
vezes, são maiores, com poucos cloroplastídios e parede mais espessa.
Essas células constituem a bainha do feixe. Em algumas espécies as
bainhas do feixe se estendem para as superfícies foliares, formando as
extensões da bainha do feixe (Esaú, 1974; Cutter, 1986). Ainda, segundo
Cutter (1986), existe alguma evidência de que a bainha do feixe e suas
extensões funcionem na condução e no armazenamento de alimento.
Como característica da espécie, foi observada a presença de uma
extensão da bainha do feixe, composto por células parenquimáticas, que
se estendem dos feixes (de segunda e terceira ordem) até as duas faces da
folha (Figura 4, seta I), fatos citados por Bessa e Mendonça (1988) como
característica de Fabaceae. Ocorre grande quantidade de idioblastos
100
cristalíferos com formato prismático, distribuídos próximo às fibras
perifloemáticas. Células de parênquima aclorofilado ocorrem na interface
do tecido paliçádico e lacunoso ligando um feixe ao outro (Figura 4, seta
II).
Nos feixes de pequeno porte esta extensão é feita por apenas uma
fileira de células, que se expandem junto à epiderme, passando a ter duas
a três células, adquirindo formato de taça. Os feixes de médio porte têm a
extensão da bainha formada por duas fileiras de células, e próximo à
epiderme, três células ligam a bainha à epiderme (Figura 4, seta III e I
respectivamente). Junto ao floema e ao xilema ocorre a presença de uma
calota de fibras.
A nervura central do exemplar do banhado mostra um arco vascular
semi-fechado, classificado pelos autores Ferreira e Assumpção (1978) e
por Metcalfe e Chalk (1957) como cilindro vascular anômalo (Figura 5
A). O exemplar do ambiente seco mostrou o sistema vascular composto
por um arco de feixes na face abaxial, com um pólo na adaxial (Figura 5
B).
A literatura botânica, em sua maioria, trata das diferenças morfoanatômicas atribuídas ao ambiente apenas em espécies herbáceas. Porém,
inúmeros pesquisadores têm demonstrado que os estudos de tolerância de
espécies arbóreas ao alagamento devem ser tratados de forma holística,
onde é necessário conhecer alguns aspectos importantes. O grande
número de espécies de plantas vasculares arbóreas que ocupam áreas
alagáveis, reflete a variedade de características dos habitats e, por
conseqüência, diversifica as estratégias de tolerância ao alagamento
101
(Anjos et al, 1999),
justificando o estudo, tendo em vista que E.
cristagalli é adaptada tanto a solos alagados como secos.
Em se tratando especificamente da lâmina foliar, quando se avalia
o grau de esclereificação (GE) em plantas sob déficit hídrico, este tende a
apresentar valores maiores com o passar do tempo. No caso da corticeira,
os exemplares dos dois ambientes (seco e banhado) apresentaram o
mesmo valor de 0,23 g/dm². Já Petry (1991), estudando três cultivares de
soja, encontrou valores que variaram de 0,35 a 0,52 g/dm²,
respectivamente das plantas submetidas temporariamente a estresse
hídrico (1/3 da CC) e das testemunhas. No caso das folhas das corticeiras,
parece ter havido uma adaptação morfológica natural aos dois ambientes,
no que diz respeito ao GE.
Muitas das comunidades inundáveis estão nas regiões tropicais e
sub-tropicais, e são ricas em espécies arbóreas. Pouco se sabe sobre os
mecanismos
de
tolerância
ao
alagamento
que
estas
espécies
desenvolveram. Entretanto, estudos têm mostrado que tanto adaptações
metabólicas como morfológicas e anatômicas são importantes para
possibilitar a adaptação destas plantas em condições de hipóxia na raiz
(Pimenta et al, 1996). Os autores citam a hipertrofia do caule como uma
característica adaptativa.
Foloni et al, (1996) relatam um crescimento da espessura das raízes
e caules de Inga striata (Mimosaceae) em alagamento, devido,
principalmente, ao aumento de diâmetro das células corticais e dos
elementos de vaso.
Segundo Nascimento et al, (1998), os elementos estruturais do
tecido xilemático de espécies arbóreas crescendo em diferentes regiões
102
mostram diferença entre e dentre espécies. Em estudo realizado em
leguminosas da Amazônia, constataram que os elementos de vasos são de
tamanhos médios a grandes, poucos por milímetro quadrado e com
paredes muito finas. Concluíram que a porosidade difusa e o tamanho dos
elementos de vaso aumentam com a disponibilidade de água, e
conseqüentemente, as madeiras tendem a apresentar baixa densidade.
Erythrina cristagalli L. coletada no banhado apresentou xilema mais
desenvolvido, contendo maior número de elementos condutores mais
calibrosos em relação ao ambiente seco, concordando com os autores
citados acima. O material do ambiente seco, por sua vez, apresentou
menor número de elementos condutores do xilema com paredes mais
espessas e lignificadas (Quadro 1). Estas adaptações morfológicas,
certamente, permitem a manutenção de uma produção energética
satisfatória para a planta.
103
Quadro 1: Algumas características anatômicas de E. cristagalli L. em
diferentes ambientes, Passo Fundo, RS, 2004
CARATER
Epiderme Adaxial
Epiderme Abaxial
BANHADO
-Algumas células
levemente papilosas,
maioria tabulares;
-Unisseriada
-Unisseriada,
-Papilosa,
-Com cutícula espessa
Mesófilo
-Isobilateral
-Celulas paliçádicas baixas
e compactadas com 5 a 6
camadas adaxial e 4
abaxial, intercalado por
lacunoso,
- Diminuição parenquima
lacunoso
Nervura Central
-Arco vascular semifechado, xilema mais
desenvolvido, mais
elementos de vaso, floema
bem desenvolvido, paredes
xilema delgadas
-Ausencia parenquima
clorofiliano, parenquima
com conteúdo granuloso,
epiderme abaxial não
papilosa
-Epiderme
uniestratificada, cutícula
espessa e lisa, 2 a 3
camadas colênquima,
feixes com fibras
Bordo Foliar
Pecíolo
SECO
Semelhante
-Unisseriada,
-Papilas menores,
-Com cutícula
espessa
-Isobilateral (menos
pronunciado),
- Células paliçadicas
mais finas e altas,
frouxo, 3 camadas
adaxial e 2 a3
camadas abaxial,
intercalado por
lacunoso
-Menos elementos
xilema, paredes mais
lignificadas, arco de
feixes abaxial com
pólo adaxial
Semelhante
Semelhante
104
A
B
C
D
Figura 2 Secção transversal da porção mediana do pecíolo de Erythrina
cristagalli:
A – Regiões (50 x MF)
B – Feixe Vascular (400x MF)
C – Sistema vascular (400x MF)
DCórtex (400x Mf)
105
B
A
Adaxial
Abaxial
C
Figura 3. Secção transversal da lâmina foliar de Erythrina cristagalli: (A)
Epiderme abaxial mostrando as papilas na planta do banhado
(400x MF), (B) Epiderme abaxial com papilas na planta do
ambiente seco (400x MF), (C) epiderme adaxial não papilosa
e a abaxial papilosa (100x mF)
106
A
B
C
D
Figura 4. Secção transversal do mesofilo de Erythrina cristagalli: (A)
bordo foliar (100x MF), (B) Parênquima clorofiliano
paliçádico da planta do ambiente seco (400x MF), (C)
Parênquima clorofiliano paliçádico da planta do banhado
(100x MF), (D) Parênquima clorofiliano lacunoso (400xMF)
107
I
II
III
Figura 5. Secção transversal do mesofilo de Erythrina cristagalli,
evidenciando a extensão da bainha do feixe vascular (I),
células aclorofiladas entre o tecido paliçádico e o lacunoso (II),
feixes vasculares secundários (III), (100x MF).
108
A
B
Figura 6. Secção transversal do mesofilo de Erythrina cristagalli, na
região da nervura central: (A) Arco vascular semi-fechado na
planta do banhado (100x MF), (B) Disposição dos feixes em
arco na face abaxial com um pólo de feixes na face adaxial da
folha na planta do ambiente seco (100x MF)
4 CONCLUSÕES
A anatomia comparativa de E. cristagalli em ambientes distintos
mostrou diferenças e semelhanças estruturais significativas entre os
exemplares estudados.
As características mais divergentes foram encontradas no mesofilo
foliar quanto à distribuição e formato do parênquima clorofiliano e nos
feixes vasculares, quanto às características do xilema que mostrou-se
mais numeroso e calibroso nas plantas do banhado, mostrando a
interferência e importância dos fatores ambientais nas espécies vegetais.
109
CAPÍTULO III
GERMINAÇAO E PROBLEMAS FITOSSANITÁRIOS EM
SEMENTES DE Erythrina cristagalli L.
Ariane Gratieri-Sossella1, Cláudia Petry2
RESUMO - O objetivo desse trabalho foi avaliar alguns princípios
básicos da propagação natural e germinação da espécie bem como
considerar a presença de fitopatógenos sementes que podem prejudicar
sua germinação. As sementes de Erythrina cristagalli L. foram colhidas
entre o dia 26/01/2004 a 07/02/2004 em remanescentes florestais da
região e em plantas introduzidas no Campus da Universidade de Passo
Fundo. Analisou-se o número de sementes por vagem, o número de
sementes sadias por vagem e o número de sementes anormais ou
danificadas por vagem. Fez-se teste de germinação e sanidade nos
Laboratórios de Análises de Sementes e de Fitopatologia da UPF,
respectivamente. Apesar de apresentar considerável número de sementes
por vagem, apenas 48 % do exemplar cultivado e 13,25 % das sementes
dos exemplares à campo puderam ser consideradas sadias. O teste
fitossanitário das sementes demonstrou a presença de Penicillium (25 %
nos exemplares a campo e 5 % na planta cultivada), Alternaria sp. (3 % e
_________________________________________
1 Bióloga, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Agronomia, área de
concentração em Produção Vegetal, da FAMV/UPF
2 Orietadora, Dra., prof. de Paisagismo e Floricultura da FAMV/UPF.
110
3,33 %, respectivamente) e Phomopsis sp. (5 % apenas nas plantas a
campo). Durante os 180 dias que as sementes permaneceram no
germinador, apenas 24,5 % germinaram mostrando um elevado grau de
dormência na espécie.
Palavras chave: corticeira do banhado, propagação sexuada, fitopatologia.
GERMINATION AND PHYTO SANITARY PROBLEMS IN
SEEDS OF Erythrina cristagalli L
ABSTRACT - The aim objective of this work was to evaluate some basic
principles of the natural propagation and germination of the species as
well as considering the presence of pests and diseases associated to the
seeds that can harm its germination. The seeds of Erythrina cristagalli L.
were harvested between 26/01/2004 the 07/02/2004 in forest remainders
of the region and in plants introduced in the Campus of the Passo Fundo
University. The number of seeds for pods was analyzed; the number of
healthy seeds for pod and the number of seeds abnormal or damaged for
pod. One became test of germination and diseases in the Laboratories of
Analyses of Seeds and Phytopatology of the UPF, respectively. Although
to present considerable number of seeds for string bean, only 48 % of the
seeds of cultivated unit and 13,25 % of the seeds of the environmental
natural’s units could have been considered healthy. The health test the
seeds demonstrated the presence of Penicillium (25 % in the units natural
and 5 % in the cultivated plant), Alternaria sp. (3 and 3,33 %
respectively) and Phomopsis sp. (5 % only in the plants of the nature
environment). During the 180 days that the seeds had remained in the
111
germinator, only 24,5 % had germinated showing a high degree of
dormancy in the seeds of the species.
Key words: swamp corticeira, sexual propagation, phyto pathology.
1 INTRODUÇÃO
A exploração de plantas nativas como ornamentais e seu uso no
paisagismo começa a ser difundida no país. A maioria das espécies
vegetais nativas têm sido usadas de forma extrativista, e o crescimento da
população humana e a ocupação de áreas naturais vêm aumentando a
pressão destrutiva dessa flora (Rosa e Ferreira, 2001). Entre as especies
podemos destacar a presença de corticeira (Erythrina cristagalli L.), uma
Fabaceae nativa de grande valor ornamental, listada como planta imune
ao corte pelo Conama (Reitz et al, 1988), tamanha a devastação de seu
habitat natural.
A disponibilidade de informações sobre propagação de plantas
arbóreas nativas é escassa na literatura. Assim, o estudo da germinação de
sementes desta espécie torna-se importante, uma vez que não consta nas
Regras para Análises de Sementes (Brasil, 1992). Tem sido observada
dificuldade de obtenção de mudas em testes de propagação vegetativa da
espécie quando adulta (ver capítulo IV).
O conhecimento das condições ótimas para a germinação,
principalmente temperatura, luz e substrato, é importante, pois a
influencia desses fatores varia entre as sementes de diferentes espécies
(Suñé e Francke, 2001). Por outro lado, o desconhecimento da
112
metodologia para o teste de germinação prejudica sensivelmente a
avaliação da qualidade dos lotes de sementes.
No processo de germinação de sementes atuam fatores exógenos e
endógenos. Os fatores exógenos são as condições ambientais,
determinadas principalmente pelos níveis de umidade, temperatura e
oxigênio. Já os fatores endógenos controlam o processo de dormência
(Marcos Filho et al, 1987; Rodrigues e Vieira, 1988; Brasil, 1992;
Larcher, 2000; Suné e Francke, 2001).
Segundo Lovato et al, (1999), a dormência de sementes está
relacionada
com
a
heterogeneidade
ambiental,
favorecendo
a
sobrevivência em relação aos fatores adversos do ambiente. Quanto à
temperatura, Suné e Francke (2001) afirmam que as sementes apresentam
capacidade germinativa em limites bem definidos de temperatura,
variável de espécie para espécie, que caracterizam sua distribuição
geográfica.
De acordo com Rocha et al, (1996), ocorre grande diversidade de
espessura da testa nas sementes das leguminosas fator que reflete no seu
grau de dormência.
A ocorrência freqüente de elevado número de vagens de E.
cristagalli totalmente danificadas por insetos e o pequeno número de
mudas obtidas de sementes atacadas são motivos de preocupação.
Além dos insetos e da dormência das sementes, outro fator que pode
reduzir o vigor germinativo é a presença de microorganismos, dentre os
quais, fungos e bactérias são os mais comuns (Martins-Corder e Borges
Junior, 1999).
113
A pretensão na realização desse trabalho foi avaliar alguns
princípios básicos da propagação sexuada e germinação da espécie, bem
como verificar a presença de fitopatógenos junto às sementes, que
poderiam prejudicar o poder germinativo.
2 MATERIAL E MÉTODOS
As sementes de Erythrina cristagalli foram colhidas entre os dias
26/01/2004 e 07/02/2004 em remanescentes florestais da região de Passo
Fundo e em plantas introduzidas no Campus da Universidade de Passo
Fundo – RS. O material coletado de 5 locais diferentes, 100 vagens por
local, foi analisado quanto ao número de sementes por vagem, o número
de sementes sadias e anormais ou danificados por vagem. As sementes
consideradas íntegras foram separadas e acondicionadas em envelopes de
papel para posterior teste de germinação e sanidade. Os testes foram
realizados no Laboratório de Análises de Sementes e Laboratório de
Fitopatologia da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da
Universidade de Passo Fundo.
2.1 Teste de germinação
Em função do baixo número de sementes sadias obtidas nas coletas,
foi necessário adaptar o estudo a dois experimentos.
114
Experimento 1: No qual utilizou-se três repetições de 100 sementes
colhidas em exemplares da espécie E. cristagalli introduzidas no Campus
da UPF.
Experimento 2: Utilizou-se quatro repetições de 60 sementes foram
colhidas em diferentes lugares nos remanescentes florestais da região.
Os testes de germinação foram realizados em germinadores, com
temperatura constante a 25 ºC e na presença de luz constante em rolos de
papel filtro.
Foram efetuadas contagens semanais a partir da primeira semente
germinada, sendo considerado para tal avaliação o critério botânico de
germinação. O período de duração do teste foi de 180 dias. As sementes
germinadas foram classificadas em normais e as não germinadas como
podres ou duras.
Foram avaliadas a porcentagem de sementes germinadas, a
porcentagem de sobrevivência das plântulas transplantadas e a
porcentagem de sementes podres e duras.
2.2 Teste de sanidade
Para as sementes do ambiente natural foram usadas 10 repetições de
10 sementes e para as sementes do Campus foram 12 repetições de 10
sementes. Foi realizada assepsia das sementes em hipoclorito de sódio a
1% por 2 minutos. Após foram incubadas em placas de Petri contendo
meio ágar (Machado, 1988) em sala iluminada por 12 horas diárias, à
temperatura de 25ºC (+ ou – 2°C) por 7 a 10 dias.
115
O fundamento da incubação de sementes em meio ágar enriquecido
consiste no estímulo a formação de colônias de fungos a partir das
sementes. Essas sementes previamente tratadas em hipoclorito de sódio
permitem que os resultados sejam indicação da associação íntima dos
patógenos com as sementes (Machado, 1988).
Após foi feita a leitura da ocorrência de fungos com auxílio de lupa
binocular.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Análise das vagens
Os prejuízos causados em sementes pelo ataque de insetos
constituem um dos grandes problemas em essências florestais no Brasil
(Link e Costa, 1995).
Entre as essências florestais nativas pioneiras e de rápido
desenvolvimento, a corticeira do banhado se destaca pela ampla dispersão
no país e rusticidade, sendo passível de utilização em paisagismo e
reflorestamento. No entanto os números apresentados na Tabela 1
mostram a problemática da obtenção de sementes viáveis, livres do
ataque de insetos.
As vagens coletadas da planta introduzida no Campus da UPF
apresentaram a maior porcentagem de sementes sadias por vagem (48 %),
provavelmente devido a menor incidência de insetos em relação aos
remanescentes florestais, concordando com Lorenzi (2003) que afirma
116
que o cultivo de espécies nativas talvez represente a melhor forma de
preservá-las da extinção.
As plantas localizadas em seu habitat natural apresentaram maior
porcentagem de sementes atacadas por insetos (média de 86,5 %),
diminuindo altamente os índices de viabilidade (Tabela 1).
117
Tabela 1. Análise das sementes em vagens de Erythrina cristagalli coletadas em cinco locais.
Total de 100 vagens/local, no município de Passo Fundo, 2004
Anormais
Vagem (nº)
1,84
Anormais
Vagem (%)
51,0
Zoológico UPF
4,55
0,11
2
4,44
97,6
Banhado-mata
3,50
0,89
25
2,61
74,6
Banhado
APUPF
Parque
industrial
Média
4,54
0,52
11
4,02
88,0
3,35
0,51
15
2,84
85,0
3,90
0,75
20,76
3,15
79,24
Vagem (nº)
Jardim UPF
117
3,59
Sadias
Vagem (nº)
1,75
Sementes
Sadias
Vagem (%)
48
Local
118
3.2 Germinação das sementes
As sementes de E. cristagalli apresentam grande heterogeneidade na
germinação. De acordo com Rodrigues e Vieira (1988) muitas sementes
florestais necessitam de um longo período para germinar.
Apenas 24,6 % das sementes testadas germinaram, 41,0 %
apodreceram e 34,4 % permaneceram em dormência (Tabela 2)
caracterizada pela impermeabilidade do tegumento a água, classificada
como dureza. Segundo Rocha et al, (1996) a grande diversidade da
espessura da testa das leguminosas reflete-se no grau de dormência.
A dormência de sementes no gênero Erythrina foi citada por Silva
Junior et al, (2004) para E. velutina Willd. e para E. falcata Benth.
Devido ao fato da metodologia para germinação da espécie não
constar nas Regras para Análises de Sementes (Brasil, 1992), as mesmas
foram mantidas no germinador por um longo período de tempo (180
dias).
O tamanho da semente é outro fator complicador nestes testes em
que se avalia a germinação, pois as sementes menores, por necessitarem
de menor volume de água, são as primeiras a germinar (Nakagawa, 1944;
Gomes et al, 1998).
A velocidade de germinação é um dos conceitos mais antigos de
vigor de sementes. Lotes de sementes com porcentagens de germinação
semelhantes, freqüentemente mostram diferenças em suas velocidades de
germinação, indicando que existem diferenças de vigor entre eles. Os
lotes que apresentam maior velocidade de germinação de sementes são os
119
mais vigorosos mostrando uma relação direta entre a velocidade e o vigor
das sementes (Nakagawa, 1944).
De acordo com o observado no teste de sementes de E. cristagalli
pode-se observar que apresentaram baixo vigor, devido ao longo período
em que as sementes apresentaram germinação.
Tabela 2. Germinação, apodrecimento e dormência de sementes não
escarificadas, e sobrevivência de plantulas de Erythrina
cristagalli, na região de Passo Fundo, após 180 dias no
germinador, Passo Fundo, RS, 2004
Ambiente
Germinação
Natural
(%)
24,0
Introduzido
25,3
Sementes
podres
(%)
28,0
Sementes
duras
(%)
48,0
54,0
20,6
Plantas
Sobreviventes
(%)
56,9
42,0
Sementes coletadas nas plantas do ambiente natural apresentaram
maior índice de dureza (Tabela 2). Esse resultado, de acordo com Silva
Junior et al, (2004) indica que as sementes estão mais aptas a resistirem às
condições ambientais. Lovato et al, (1999) afirmam que a variação intrapopulacional no grau de dormência das sementes pode ter um significado
adaptativo, oferecendo condições para que a germinação no banco de
sementes seja distribuído ao longo do tempo.
Embora as sementes do ambiente natural apresentem maior
porcentagem de dureza a sobrevivência das plântulas foi maior nas
sementes deste ambiente em relação às plantas introduzidas em meio
urbano.
120
O índice de germinação obtido (Tabela 2) ocorreu na presença de
luz. Segundo Suné e Francke (2001) as plantas não domesticadas, na sua
forma nativa, necessitam de mais estudos para a germinação, mas
freqüentemente as sementes são fotoblásticas (+).
3.3 Sanidade das sementes
Foram encontrados associados às sementes da corticeira os gêneros
de fungos, Alternaria, Phomopsis e Penicillium (Tabela 3).
Conforme Martins-Corder e Borges Junior (1999), os fungos
patogênicos do solo são freqüentemente os principais agentes causadores
de doenças em plântulas quando associados com as sementes, podendo
também deteriorar as sementes e ocasionar a morte. Os testes de
germinação e a formação de mudas podem ser comprometidos por causa
da ação de agentes patogênicos conduzidos pelas sementes. A
contaminação das sementes florestais ocorre predominantemente no solo
onde os frutos e sementes podem ser colonizados por diversos gêneros de
fungos. No entanto, as sementes da espécie estudada foram coletadas
ainda na planta e apresentaram contaminação por fungos (Tabela 3),
provavelmente levados por vetores como os insetos que atacam as
vagens.
121
Tabela 3. Percentual e gêneros de fungos encontrados nas sementes de
Erythrina cristagalli, coletadas na região de Passo Fundo, em
teste de ágar, no Laboratório de Fitopatologia da UPF em
Passo Fundo, RS, 2004
Ambiente Natural
Planta introduzida
Patógeno
Incidência (%)
Alternaria sp.
Phomopsis sp.
Penicillium sp.
Alternaria sp.
Penicillium sp.
3,0
5,0
25,0
3,3
5,0
No ambiente natural houve maior incidência de fungos, assim como,
maior ataque das vagens por insetos em relação à planta em condições de
cultivo.
Muniz et al, (2003) listaram alguns gêneros de fungos associados às
sementes de E. cristagalli: Fusarium sp., Penicillium sp., Aspergilllus sp.
e Cladosporium sp.. Desses, apenas o gênero Penicillium apareceu no
teste realizado, além dele, os gêneros Alternaria sp. e Phomopsis sp.
foram encontrados. Segundo os autores, o aspecto sanitário das sementes
da corticeira do banhado pode prejudicar a viabilidade e sobrevivência
dessa espécie no seu ambiente natural.
122
4 CONCLUSÕES
- O alto número de sementes atacadas por insetos representa um
grande problema para a propagação sexuada da Erythrina cristagalli
L., pois diminui grandemente a viabilidade das sementes;
- As sementes de E. cristagalli apresentaram baixo vigor e foi
oferecido um longo período de germinação com média de 2 a 3
sementes por semana por 180 dias;
- As sementes apresentaram um tipo de dormência, chamada dureza,
no qual o tegumento é impermeável à água;
- As sementes coletadas no ambiente natural apresentaram maior
índice de dormência;
- Os fungos Alternaria, Phomopsis e Penocillium estão associados às
sementes de Erythrina cristagalli.
123
CAPÍTULO IV
PROPAGAÇÃO DA CORTIÇEIRA DO BANHADO (Erythrina
cristagalli L). PELO PROCESSO DE ESTAQUIA
Ariane Gratieri-Sossella1, Cláudia Petry2, Alexandre Augusto Nienow3
RESUMO - O trabalho conduzido na FAMV/UPF, teve como objetivo o
estudo da formação de mudas de Erythrina cristagalli L. pela técnica da
estaquia, destinadas ao uso ornamental e/ou vegetação de áreas
desprotegidas ou degradadas, tendo em vista a dificuldade de obtenção
de sementes, pela baixa produção e qualidade das mesmas, e a
desuniformidade da germinação. Em quatro experimentos, foram testadas
doses do fitorregulador ácido indolbutírico (AIB), em diferentes tipos de
estacas (lenhosas, semilenhosas, herbáceas e foliares) e substratos de
enraizamento. Os resultados demonstraram que estacas herbáceas,
coletadas de plantas jovens, com menos de um ano de idade, são as mais
indicadas (75 % a 100 % de enraizamento), sendo que o uso do AIB
diminuiu a mortalidade das estacas favorecendo o enraizamento. O
comum ataque de insetos (brocas) aos
__________________________________________
1 Bióloga, mestranda do Programa de Pós-graduação em Agronomia, área de
concentração em Produção Vegetal, da FAMV/UPF.
2 Orientadora, Dra. Profa. De Paisagismo e Floricultura da FAMV/UPF.
3 Co-orientador, Dr. Prof. de Fruticultura e Silvicultura da FAMV/UPF.
124
ramos no habitat natural, recomendam a formação de matrizeiros no
viveiro, para fornecer material juvenil e sadio em maior escala para a
propagação por estacas desta espécie.
Palavras chave: propagação vegetativa, estacas, juvenilidade.
PROPAGATION OF SWAMP CORTICEIRA (Erythrina cristagalli
L.) BY CUTTINGS PROCESS
ABSTRACT - The work, carried out at FAMU/UPF, had the aim at
studying the plantlet formation of Erythrina cristagalli L using the cutting
technique, with the intention of ornamental use and/or vegetation of
protected area or depredated, considering the difficulty of obtaining the
seeds, as they have a low quality and production and also because the
germination is not uniform. In four experiments, doses of the phyto
regulator Indole Butyric Acid (IBA) were tested, in different types of
cuttings (woody plants, semi woody plants, herbaceous and leafy) and
rooting substrates. The result showed that herbaceous cuttings, collected
from young plants, with less than a year old, are the most indicated ones
(75% to 100% of rooting), apart from that the use of IBA reduced the
cutting mortality favoring rooting to avoid the common attack of insects
(Isopera) to the branches in natural habitat, it is advisable the formation of
matrix plants in the nursery to supply new and healthy material in large
amounts for the cutting propagation of this species.
Key words: Vegetative propagation, cuttings, juvenility
125
1 INTRODUÇÃO
Pertencente à família Fabaceae, a Erythrina cristagalli L. é uma
árvore que ocorre em terrenos muito úmidos, desde o Maranhão até o Rio
Grande do Sul, nas formações abertas secundárias. No entanto, tolera bem
ambientes drenados, o que permite incrementar o uso no paisagismo. O
interesse pela espécie se deve, além do fato de ser uma árvore nativa, às
características ornamentais do caule, das folhas e das flores, de coloração
vermelha, do belo arranjo espacial arquitetônico e da alta importância
ecológica, abrigando plantas epífitas e atraindo várias aves e insetos.
Além do valor ornamental, E. cristagalli L. é uma planta imune ao corte
pela Lei Estadual 9.519/92 (Art. 33º), que protege figueiras e corticeiras
em todos os casos, exigindo imediata reposição da espécie quando algum
exemplar for retirado do ambiente. Embora a espécie frutifique todos os
anos, as sementes são amplamente atacadas por brocas, diminuindo o
potencial de regeneração natural (Lorenzi, 1992; Pires4, 2003), além do
fato do gênero apresentar sementes dormentes (Linsingen et al., 2000).
A técnica de multiplicação vegetativa mais comumente utilizada
para a clonagem de plantas lenhosas, em larga escala, tem sido o
enraizamento de estacas. Esse método oferece certas vantagens, quando
comparado com a reprodução sexuada. A segregação e recombinação
gênica, verificadas na propagação sexuada de espécies alógamas, resultam
em alto grau de variabilidade, enquanto a reprodução por vias vegetativas
redunda em uniformidade de crescimento, das características morfológicas
4
PIRES, J. C. S., Eng. Agrônomo, viveirista e consultor da área ambiental.
Comunicação pessoal.
126
e das qualidades tecnológicas (Assis e Teixeira, 1998, citados por Borges
Junior e Martins-Corder, 2002).
A propagação comercial de mudas por estaquia é viável, mas
depende da capacidade de enraizamento de cada espécie, da qualidade do
sistema radicular formado e do desenvolvimento posterior da planta
(Fachinello et al., 1995). A dificuldade no enraizamento de estacas de
algumas espécies pode ser superada se fornecidas condições e fatores
ótimos para o enraizamento (Verger et al., 2001). Segundo Pio et al.
(2003), vários fatores podem influenciar o enraizamento das estacas, tanto
intrínsecos, relacionados à própria planta, como extrínsecos, relacionados
às condições ambientais.
Verger et al. (2001) agrupam os fatores em internos e externos. Em
síntese, os fatores internos correspondem à espécie, ao clone, à idade da
planta matriz e origem, posição da estaca na planta matriz, dimensão e
estádio de desenvolvimento no momento da coleta. São fatores externos,
os tratamentos efetuados sobre a matriz, como suplementação hídrica,
nutrição mineral e orgânica, suplemento de luz ou estiolamento forçado, e
técnicas de manutenção ou de restauração do estado juvenil, propício ao
sucesso da propagação vegetativa.
Ainda relacionados aos fatores externos, podem as estacas serem
submetidas a substratos específicos, aporte de substâncias exógenas
(auxinas,...) e manutenção de alta umidade relativa do ar (irrigação ou
nebulização intermitente). Mas o sucesso de sobrevivência dependerá do
acompanhamento agronômico (fertilização e tratamentos fitossanitários)
posterior ao enraizamento (Verger et al., 2001).
127
Santos et al. (1994), citados por Pio et al. (2003), afirmam que
condições internas da planta podem ser traduzidas pelo balanço entre
inibidores, promotores e cofatores relacionados ao enraizamento, que
interferem na emissão e crescimento das raízes, ocorrendo o processo de
iniciação radicular quando o balanço hormonal é favorável às substâncias
promotoras. Uma das formas mais comuns de favorecer o balanço
hormonal é a aplicação exógena de reguladores de crescimento sintéticos
na base das estacas, elevando o teor de auxinas no tecido.
A auxina sintética aplicada externamente mais utilizada no
enraizamento de estacas é o ácido indolbutírico (AIB), por se tratar de
uma substância fotoestável, de ação localizada e menos sensível a
degradação biológica (Assis e Teixeira, 1998), em comparação às demais
auxinas sintéticas. Vários autores (Tofanelli et al., 1997; Roncato et al.,
1999; Biasi et al., 2000; Martins et al., 2001; Tonietto et al., 2001;
Oliveira, 2002) relatam que o uso do AIB aumenta o número de raízes
emitidas por estaca, decorrente da ação na antecipação do enraizamento, e
promove maior porcentagem de estacas enraizadas.
A utilização de concentrações adequadas de AIB é de extrema
importância, sendo que a dose ideal varia com a espécie (Verger et al.,
2001; Hartmann e Kester, 1990, apud Pio et al., 2003).
Para o controle dos fatores externos, as condições ambientais
favoráveis podem ser oferecidas em ambientes protegidos. Como por
exemplo, o uso de nebulização intermitente, proporcionando umidade
adequada às estacas. O substrato desempenha importante função no
processo de estaquia, basicamente por proporcionar sustentação às
estacas, mantendo na sua base um ambiente úmido, escuro e
128
suficientemente aerado (Hartmann e Kester, 1990; Fachinello et al., 1995;
Oliveira, 2002; Fermino e Bellé, 2000).
Na propagação por estacas caulinares, são destacados segmentos de
ramos que contém gemas laterais ou terminais, podendo variar de
herbáceas a lenhosas. Quanto mais herbácea e mais nova for a estaca,
maior será a capacidade de regeneração (Paiva e Gomes, 1995).
Mattos (1976), citado por Paiva e Gomes (1995), afirma que as estacas
lenhosas têm, em geral, a idade de um ano, sendo parcialmente
lignificadas, e diferem entre si no formato e nas dimensões, conforme a
categoria. Ainda, as estacas muito lignificadas, especialmente nas espécies
de difícil enraizamento e que formam anel de esclerênquima contínuo, não
são as mais apropriadas para enraizar (Paiva e Gomes, 1995).
A possibilidade de utilização de espécies nativas, tanto para fins
ornamentais como para a vegetação de áreas desprotegidas ou degradadas,
depende da disponibilidade de sementes e do conhecimento dos métodos
de produção de mudas. Este trabalho teve como objetivo o estudo da
formação de mudas de E. cristagalli L. através da técnica da estaquia,
tendo em vista a dificuldade de obtenção de sementes, pela baixa
produção e qualidade das mesmas, e a desuniformidade da germinação.
Em quatro experimentos, foram testadas doses do fitorregulador ácido
indolbutírico
(AIB)
em
diferentes
tipos
de
estacas
(lenhosas,
semilenhosas, herbáceas e foliares) e substratos de enraizamento.
129
2 MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido no Setor de Horticultura da Faculdade
de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo,
em Passo Fundo, RS, município situado na região do Planalto Médio,
norte do estado (28º 15’ S e 52º 24’ O), a 687 m de altitude. O clima local
é descrito como subtropical úmido (Cfa), com chuvas bem distribuídas
durante o ano e temperatura média anual em torno de 17° C (Cunha,
1997).
A pesquisa foi conduzida em uma estufa de 210 m2, com 2,5 m de
altura (pé direito), em estrutura de alumínio galvanizado, teto em arco,
revestida com polietileno de baixa densidade (PEBD), dotada de cortinas
laterais móveis, instalada no sentido norte-sul. Para a redução da
temperatura e insolação (Sentelhas e Santos, 1995), foi disposta
internamente, a 2,5 m de altura e nas laterais, uma tela tipo sombrite, com
capacidade de 75% de sombreamento.
O sistema de irrigação, do tipo intermitente, constou de seis linhas
distanciadas 1,5 m, com bicos nebulizadores dispostos a cada 1 m. O
sistema, controlado por um timer, era acionado a cada 10 minutos, com
período de molhamento de 8 segundos.
A espécie estudada foi a Erythrina cristagalli L., conhecida como
corticeira-do-banhado, sananduva, mulungu ou suinã, dentre outros
nomes populares, testando tipos de estacas, doses de AIB e substratos.
130
2.1 Experimento 1 – Propagação da corticeira do banhado (Erythrina
cristagalli L.) por estacas lenhosas e uso do AIB.
Foram testadas estacas lenhosas, coletadas em 16/06/2003, de plantas
localizadas em terreno mal drenado, no município de Passo Fundo. A
planta matriz apresentava sintomas de infestação por brocas (51 % do
material coletado danificado) e a porção apical dos ramos seca, restando
os ramos basais.
As estacas basais foram padronizadas com 12 cm de comprimento,
contendo, no mínimo, dois nós, separadas em dois grupos. As estacas
com diâmetro basal entre 1,5 cm e 2,4 cm (24,8 g de massa fresca)
formaram o grupo A e, entre 2,5 cm e 3,5 cm (54,1 g de massa fresca), o
grupo B.
O experimento consistiu no tratamento dos dois grupos (A e B) de
estacas com ácido indolbutírico (AIB), nas doses de 0, 1500, 3000 e 4500
mg L–1. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente
casualizado, com os tratamentos arranjados no sistema bifatorial (2 x 4),
com três repetições e 10 estacas por parcela (total de 240 estacas).
As soluções foram preparadas diluindo o AIB em 50 mL de álcool
93 °GL e completado o volume com água destilada até 100 mL. Antes da
imersão nas soluções de AIB, duas lesões longitudinais, em lados opostos
da base das estacas, foram feitas com canivete, para provocar maior
exposição do câmbio e induzir o enraizamento. A seguir, duas a duas, a
base das estacas (3 cm) foram imersas nas soluções de AIB por 5
segundos, e imediatamente enterradas cerca de 7 cm de profundidade no
substrato de casca de arroz carbonizada. Como containers, foram
utilizadas caixas plásticas de colheita de frutas, com dimensões de 59 cm
131
de comprimento x 29 cm de largura x 12,5 cm de altura, revestidas com
jornal, perfurado para permitir a drenagem.
Após 134 dias, foi avaliada a porcentagem de estacas enraizadas e
de estacas brotadas. Paralelamente, foram colocadas em outra caixa,
estacas para a verificação do tempo de enraizamento, retirando, após 15
dias do início do experimento, 2 estacas por semana, durante 8 semanas.
2.2 Experimento 2 - Propagação da corticeira do banhado (Erythrina
cristagalli L.) por estacas semilenhosas e uso do AIB.
Num segundo experimento, foram testadas estacas semilenhosas,
coletadas após a brotação da primavera, em 12/01/2004. As estacas, em
média com 7 cm, contendo dois nós, foram subdivididas em basais,
medianas e apicais.
Os tratamentos consistiram em submeter os três tipos de estacas
(apicais, medianas e basais) a cinco doses de AIB (0, 1000, 2000, 3000,
4000 mg L-1). O delineamento experimental utilizado foi em blocos
casualizados, com os tratamentos arranjados num bifatorial 3 x 5, com
quatro repetições e 10 estacas por parcela (total de 600 estacas).
As estacas foram desinfestadas mediante imersão por 5 minutos
em solução de hipoclorito de sódio a 1 % e, posteriormente, lavadas com
água corrente. Sem realizar lesão na base, as estacas foram imersas (3
cm), por 5 segundos, nas soluções de AIB, preparadas como relatado
anteriormente, e imediatamente enterradas cerca de 3 cm em bandejas
alveoladas, contendo casca de arroz carbonizada. O material permaneceu
no leito de enraizamento por 60 dias, de 12/01/2004 a 20/03/2004.
132
2.3 Experimento 3 - Propagação da corticeira do banhado (Erythrina
cristagalli L.) por mini-estacas herbáceas e uso do AIB.
No terceiro experimento foram utilizadas mini-estacas herbáceas,
retiradas de plantas com um ano de idade, obtidas de semente e cultivadas
em vasos, contendo pelo menos duas gemas vegetativas (4-5 cm), com
massa fresca de 0,94 g.
O experimento comparou o efeito de cinco doses de AIB (0, 1000,
2000, 3000, 4000 mg L-1), com os tratamentos dispostos no delineamento
experimental em blocos casualizados, com quatro repetições e três estacas
por parcela (total de 180 estacas), considerando a escassez de material.
Sem realizar lesão na base, as estacas foram imersas (2 cm), por 5
segundos, nas soluções de AIB, e imediatamente enterradas cerca de 2 cm
em bandejas alveoladas contendo casca de arroz carbonizada. O estudo
foi conduzido por 26 dias, de 22/01/2004 a 17/02/2004.
Foram avaliadas as variáveis porcentagem de estacas enraizadas e
mortas, comprimento da maior raiz, massa fresca e seca de raiz e de parte
aérea. Os resultados foram submetidos à análise de regressão polinomial.
2.4 Experimento 4 - Propagação da corticeira do banhado (Erythrina
cristagalli L.) por estacas foliares em diferentes substratos.
No quarto experimento, o enraizamento de estacas foliares,
coletadas no final do verão (primeira semana de março), de árvores de
diferentes idades cronológicas: adulta (mais de quinze anos), média
(menos de cinco anos) e jovem (com um ano), foi testado em dois
substratos: casca de arroz carbonizada (CAC) e mistura de solo
133
mineral:CAC:composto orgânico (2:1:1), acondicionados em bandejas de
isopor alveoladas.
O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados,
com os tratamentos arranjados num bifatorial 3 x 2, com quatro repetições
e 12 estacas por parcela (total de 288 estacas). Após 30 dias, foi avaliado
o percentual de enraizamento e o comprimento da maior raiz.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 RESULTADOS
Utilizando estacas lenhosas (experimento 1), coletadas e colocadas
para enraizar em 16/06/03, a brotação iniciou 25 dias após e, aos 67 dias,
59,2 % das estacas se encontravam brotadas, com alguns brotos
alcançando até 14 cm de comprimento. No entanto, a porcentagem de
enraizamento foi muito baixa, de 2,5 % (3 estacas) no grupo A (diâmetro
basal entre 1,5 cm e 2,4 cm) e no grupo B (diâmetro basal entre 2,5 cm e
3,5 cm).
No total de 6 estacas enraizadas, 4 emitiram raízes quando tratadas
com a dose de 4500 mg L-1 de AIB, 1 com 3000 mg L-1 de AIB e 1 com
1500 mg L-1 de AIB, indicando a tendência da necessidade de doses mais
elevadas para o enraizamento da espécie. Os resultados concordam com
os obtidos por Chaves et al. (2004), que testando estacas lenhosas de
Erythrina cristagalli L. obteve melhor resultado com 3000 mg L-1 de AIB
e baixa porcentagem de enraizamento (8,3 %).
134
No segundo experimento, com estacas semilenhosas, coletadas e
colocadas para enraizar em 12/01/04, ou seja, num período de
temperaturas médias mais elevadas, que por um lado poderia auxiliar no
enraizamento mas, por outro, provocar maior estresse, o resultado foi
ainda mais negativo, não ocorrendo enraizamento, com mortalidade de
100 % ao final de 60 dias.
No terceiro experimento, com mini-estacas herbáceas coletadas e
estaquiadas em 22/01/04, a análise de regressão revelou efeito de doses de
AIB apenas para mortalidade de estacas. Em média, após 26 dias, foi
obtido 93,3 % de enraizamento. Em que pese não ter ocorrido diferença
significativa, com a aplicação de AIB o enraizamento variou de 91,5 % a
100 % e, sem o tratamento, o enraizamento foi de 75 % (Tabela 1).
Também com o uso do AIB a mortalidade de estacas foi menor, em
especial com as maiores concentrações (Figura 1).
A justificativa para a menor mortalidade com o uso do AIB
provavelmente seja a de que o regulador de crescimento tenha
proporcionado maior rapidez no enraizamento, causando menor estresse
às estacas e, conseqüentemente, maior capacidade de sobrevivência.
O comprimento médio da maior raiz foi de 3,5 cm. A massa fresca e
seca das raízes foi de 0,07 g e 0,005 g, e da parte aérea de 0,94 g e 0,16 g,
respectivamente. A massa d’água média das raízes e da parte aérea foi de
0,0065 g e 0,78 g, respectivamente (Tabela 2).
Portanto, os resultados apontam para a perspectiva de se trabalhar
com mini-estacas, retiradas de materiais jovens, preferencialmente de
jardins clonais, submetidas a tratamento com AIB, o que diminui a
mortalidade das estacas.
135
Tabela 1. Porcentagem de enraizamento, de mortalidade e comprimento
da maior raiz de mini-estacas herbáceas de corticeira do
banhado (Erythrina cristagalli L.), tratadas com ácido
indolbutírico (AIB). Passo Fundo, FAMV, 2004
Doses de AIB
-1
(mg L )
Enraizamento
Comprimento maior
(%)
raiz (cm)
0
75,0ns
2,7ns
1000
91,5
2,7
2000
100,0
4,4
3000
100,0
2,9
4000
100,0
5,0
Média
93,3
3,5
C.V. (%)
20,4
48,3
ns – não significativo em nível de 5 %.
136
30
Mortalidade (%)
25
2
y = 18,32 - 0,0058x ; R = 0,72
20
15
10
5
0
0
1000
2000
3000
4000
-1
Doses de AIB (mg L )
5000
Figura 1. Gráfico da curva de Regressão, evidenciando o índice de
mortalidade das mini-estacas herbáceas em relação as doses de
AIB utilizadas.
137
Tabela 2. Massa fresca e seca de raiz e parte aérea, massa d’água de raiz e
parte aérea de mini-estacas herbáceas de corticeira do banhado
(Erythrina cristagalli L.), tratadas com ácido indolbutírico
(AIB). Passo Fundo, FAMV, 2004
Doses de AIB
(mg L-1)
Massa fresca
(g)
Massa seca
(g)
0
Raiz
0,11ns
Aérea
0,75ns
Raiz
0,000ns
Aérea
0,16ns
1000
0,01
0,99
0,000
0,21
2000
0,08
0,88
0,005
0,14
3000
0,04
0,87
0,002
0,12
4000
0,13
1,22
0,008
0,18
Média
0,07
0,94
0,005
0,16
C.V. (%)
96,7
38,5
190,0
48,8
ns – não significativo em nível de 5 %.
No quarto experimento, de estacas foliares, do total de 288
estacas apenas 4 enraizaram, ou seja, 1,4 %. Todas eram estacas de
plantas jovens (com um ano de idade), mantidas em substrato de casca de
arroz carbonizada, apresentando comprimento da maior raiz que variava
entre 2,0 e 9,4 cm.
138
3.2 DISCUSSÃO
Os resultados obtidos nos diferentes experimentos demonstraram
capacidade muito baixa de enraizamento de estacas lenhosas e
semilenhosas, mesmo com o uso do AIB. Nas lenhosas, apenas 5 % do
total de estacas enraizaram (experimento 1) e, quando utilizadas estacas
semilenhosas, não houve enraizamento (experimento 2). Estacas foliares
(experimento 4) evidenciaram potencial para o enraizamento, mas muito
baixo, de apenas 1,4 % do total de estacas, devendo ser melhor estudado.
Já a estaquia de material herbáceo (mini-estacas), retirado de plantas
jovens, com um ano de idade, apresentou, após 26 dias, porcentagens de
enraizamento que variaram de 75 % a 100 %.
Os experimentos evidenciaram que os materiais mais herbáceos,
retirados de tecidos com maior juvenilidade (menor idade fisiológica),
possuem
maior
apresentarem
potencial
de
enraizamento,
maior concentração
de
auxinas
provavelmente
endógenas,
por
menor
diferenciação e grau de lignificação, em relação às estacas provindas de
plantas adultas.
Fett-Neto et al. (1998) constataram que a rizogênese é menor quanto
maior a idade da planta-mãe, em espécies de Eucalyptus. Segundo Borges
Junior e Martins-Corder (2002), e Paiva e Gomes (1995), a idade da
planta matriz das estacas é de fundamental importância, uma vez que em
muitas espécies arbóreas o processo de maturidade possui correlação
negativa com o potencial de formação de raízes adventícias. Hartmann e
Kester (1990), e Paiva e Gomes (1995), afirmam que as estacas herbáceas
e semilenhosas geralmente enraízam com maior facilidade e rapidez que
139
as lenhosas, pois a menor lignificação dos tecidos facilita a passagem das
raízes formadas no periciclo.
Entretanto, Verger et al. (2001) lembram que em espécies lenhosas,
plantas matrizes mais velhas podem produzir estacas mais aptas a enraizar
que plantas jovens, pois outros fatores podem influenciar esta aptidão,
como por exemplo as reservas glicídicas da espécie ou clone utilizado. De
acordo com Assis e Teixeira (1998), uma estratégia para fornecer
melhores condições para materiais adultos enraizarem, consiste no
rejuvenescimento de partes aéreas utilizando o anelamento de ramos, que
provoca o aumento do nível de auxinas naturais acima do corte e
diminuição abaixo.
Paiva e Gomes (1995) afirmam que o problema apresentado por
material adulto, é o aparecimento ou a produção de substâncias inibidoras
do enraizamento, e que também a lignificação, especialmente nas
espécies de difícil enraizamento, pode representar a formação de um anel
de esclerênquima contínuo. Chaves et al. (2004), estudando a propagação
por estacas da Erytrina cristagalli L., atribuiram a baixa porcentagem de
enraizamento (8,3 %) a grande quantidade de esclerênquima e compostos
fenólicos presentes. De fato, em análise anatômica realizada no caule de
E. cristagalli L. (Capítulo II), foi possível constatar a presença de grande
quantidade de fibras esclerenquimáticas.
Embora as estacas lenhosas tenham apresentado maior peso e,
provavelmente, mais reservas nutritivas, essas foram utilizadas na intensa
brotação, possivelmente em detrimento da formação de raízes. Segundo
Hartmann e Kester (1976), citado por Paiva e Gomes (1995), é possível
que as giberilinas causem estímulo ao crescimento vegetativo, competindo
140
com a formação de raízes, tendo efeito inibitório às mesmas. Oliveira
(2002) sugeriu que o enraizamento de estacas lenhosas de pessegueiro
tenha sido prejudicada pela brotação ocorrida, competindo com as raízes
pelas reservas da estaca. Pivetta (1994) relata, para estacas de roseiras, que
as reservas utilizadas para o crescimento das raízes foram oriundas das
folhas remanescentes, e que a maior contribuição das folhas novas foi para
o crescimento da parte aérea.
A importância dos carboidratos na emissão e formação de raízes é
ressaltada por Pio et al. (2003) e Fachinello et al. (1995), afirmando que
reservas abundantes de carboidratos correlacionam com maiores
porcentagens de enraizamento e sobrevivência das estacas, por ser uma
importante fonte de carbono para que a auxina realize a biossíntese dos
ácidos nucléicos e proteínas, além de suprir as necessidades de energia
para a formação de raízes.
A capacidade de enraizamento está relacionada com o conteúdo
hormonal, de cofatores, de substâncias inibidoras e de carboidratos, além
das características do tecido vegetal, estando evidenciado na espécie
estudada que os tecidos mais jovens apresentam maior potencial. Assim,
algumas estratégias podem ser estudadas, como o uso de jardins clonais,
podas sucessivas das matrizes para induzir a juvenilidade e o
sombramento das mesmas.
Conforme Wendling et al. (2003), a implantação de jardins
miniclonais, com minicepas rejuvenescidas, pode permitir a obtenção de
maior vigor e qualidade dos brotos produzidos para propagação clonal por
miniestaquia, principalmente em relação ao maior potencial de
enraizamento, visto o maior grau de juvenilidade. O princípio do jardim
141
clonal é recomendado por Chaves et al. (2004) para o enraizamento de
estacas de Erythrina cristagalli L.
Paiva e Gomes (1995) afirmam que quanto mais juvenil for o
material, maior será o sucesso no enraizamento. Assim, recomendam
induzir as plantas a um estádio juvenil por meio de podas sucessivas, com
o aproveitamento das brotações.
Conforme Johnson e Hamilton (1997), citados por Roncato et al.
(1999), a alta intensidade de luz promove a ativação da enzima AIAoxidase, que destrói a auxina. Dessa forma, o nível de auxina deve ser
mais elevado em plantas desenvolvidas sob luz reduzida.
Dutra et al. (2000) citam trabalhos usando a exclusão da luz para
promover o enraizamento adventício de varias espécies. Segundo
Hartman e Hansen (1957), citados pelos autores, isso ocorre pelo aumento
no conteúdo de auxina e de outras substâncias que são instáveis na
presença de luz, e por manter os níveis endógenos de auxina elevados. Os
autores associam o incremento do enraizamento com a redução da
radiação, sugerindo que a síntese de inibidores naturais de crescimento é
dependente de luz.
A variação no enraizamento pode ser atribuída à constituição
genética dos materiais, ao estado nutricional das estacas, à sanidade e a
época de colheita das estacas (Antunes et al., 2000). Verger et al. (2001),
além de recomendarem a juvenilização de plantas matrizes para retirar as
estacas, advertem que fatores climáticos naturais, como temperatura e
fotoperíodo, também podem explicar efeitos de anos de maior ou menor
sucesso em estaquia, sugerindo repetir os mesmos experimentos em anos
subseqüentes, caracterizando a fundo o material vegetal de origem.
142
Conforme relata Verger et al. (2001), é essencial definir protocolos
precisos que detalhem as condições experimentais e os fatores testados,
definindo critérios simples de avaliação dos resultados, percentual e,
principalmente, qualidade do enraizamento (simetria do sistema
radicular), assim como percentual de sobrevivência após a fase do
enraizamento. Dados registrados permitirão a geração de um dossiê do
modo operacional de estaquia para cada espécie. Enfim, em parte é o que
se buscou alcançar para a Erythrina cristagalli L. com este trabalho.
4
CONCLUSÕES
Nas condições em que os experimentos foram conduzidos, os
resultados obtidos permitem concluir que:
- estacas herbáceas de Erythrina cristagalli L., coletadas de plantas
jovens, com menos de um ano de idade, são as mais indicadas para a
propagação desta espécie;
- o uso do AIB à partir de 1000 mg L-1 pode retardar a mortalidade das
estacas aumentando significativamente a sobrevivência das mesmas, e
com isso favorecer o enraizamento quando utilizadas estacas herbáceas de
plantas jovens;
- o comum ataque de insetos (brocas) aos ramos no habitat natural,
recomendam a formação de matrizeiros no viveiro, para fornecer material
juvenil e sadio em maior escala para a propagação por estaquia desta
espécie.
143
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O cultivo de plantas nativas como ornamentais pode ser um meio de
conservação e para isso precisamos conhecer seus aspectos biológicos.
Arborizar cidades com nativas é um procedimento concreto para
promover a biodiversidade e uma das formas de buscar difundir o
conhecimento das mesmas. As fenofases de Erythrina cristagalli L. estão
ligadas às variações climáticas e contribuem para que a espécie apresente
máximo potencial ornamental juntamente à plasticidade que lhe confere
incomparável beleza, rusticidade e alta adaptabilidade, além de atrair a
fauna que provavelmente atua como polinizadora e dispersora de suas
sementes. Devido a esses fatores, a espécie possui grande aplicabilidade
em uso paisagístico.
A anatomia comparativa de E. cristagalli em ambientes distintos
mostrou diferenças e semelhanças estruturais significativas entre os
exemplares estudados sendo que as características mais divergentes foram
encontradas no mesofilo foliar quanto à distribuição e formato do
parênquima clorofiliano e nos feixes vasculares, quanto às características
do xilema mostrando a interferência e importância dos fatores ambientais
nas espécies vegetais.
O alto número de sementes atacadas por insetos representa um
grande problema para a propagação natural da mesma, pois diminui
grandemente a viabilidade das mesmas além de servirem como vetores de
fitopatógenos. Além disso, a ausência de normas técnicas para o teste de
germinação dificultou a realização do mesmo. As sementes apresentaram
baixo vigor e tiveram um longo período de germinação, em média 2 a 3
144
sementes por semana, por 180 dias. As sementes apresentaram dormência
física, chamada dureza, devido ao tegumento impermeável à água. As
sementes coletadas no ambiente natural apresentaram maior índice de
dormência, provavelmente em adaptação às condições ambientais que
podem ser mais desfavoráveis.
Quanto à estaquia, o material juvenil de E. cristagalli L. é o mais
indicado para enraizamento, provavelmente por possuir maior capacidade
rizogênica, característica de plantas jovens, maior concentração de
auxinas endógenas e apresentar melhores condições de sanidade em
relação às estacas lenhosas e semilenhosas, estas também apresentaram
alto grau de lignificação dos tecidos o que prejudicou a formação de
raízes adventícias.
As condições do material encontrado a campo não foram favoráveis
à propagação vegetativa em viveiro, sendo de suma importância a
formação de matrizeiros nestes, oferecendo material juvenil em maior
escala para a eficiente propagação vegetativa por estaquia desta espécie a
nível comercial. Entretanto, vislumbra-se a propagação por estaquia de
material lenhoso diretamente em áreas inundadas de matas ciliares,
quando o objetivo é enriquecê-las com esta espécie, se ela já estiver
presente.
Deste modo, a corticeira além de sua bela plasticidade, tronco
rugoso e tortuoso, estrutura mista, folhagem delicada e floração
exuberante, interage com a fauna e flora, atraindo aves e insetos, e
portando nas ranhuras de seu tronco grande diversidade de epífitas. Em
função de sua excelente adaptabilidade em ambientes tão diversos,
verifica-se ser possível a instalação de capões de erythrinas ou “ceibais”
145
em ambientes urbanos e secos, graças ao emprego das técnicas do jardim
clonal.
DIRETRIZES
1 Para produtores
Como produzir mudas de Erythrina cristagalli (corticeira do banhado)?
Através das sementes:
A corticeira frutifica todos os anos. No entanto, as sementes são
dormentes e fortemente atacadas por insetos;
Pode-se obter em torno de 25% de germinação das sementes sem
escarificação;
A germinação é lenta devido à dormência, germinando em média
2 a 3 sementes por semana por vários meses (5 a 6 meses);
Através da estaquia:
Para propagar a espécie por estaquia recomenda-se o uso de
estacas de plantas em crescimento juvenil, podendo ser obtido,
nesta técnica, em torno de 93% de enraizamento das estacas;
Recomenda-se a formação de matrizeiros em viveiro, nos quais
pode ser mantida a juvenilidade das plantas através de poda ou
estiolamento forçado.
146
2 Para paisagistas
A corticeira pode ser usada em diferentes ambientes, desde
condições de alagamento até solos mais secos, de preferência usar
em ambientes alagados, estagnados e de drenagem lenta, ao invés
de locais com fluxo rápido (direto no leito do rio);
É uma excelente espécie para uso em recomposição de áreas
degradadas por ser de fácil adaptação e crescimento rápido;
É indicada para paisagismo em áreas ribeirinhas, marcando e
valorizando as margens de rios, riachos e córregos;
Apesar de preferir locais úmidos se adapta muito bem à solos bem
drenados, podendo ser usada em paisagismo de parques, jardins e
meios urbanos, desde que tenham bastante espaço livre pois sua
copada é ampla e pode deixar cair galhos;
Não é recomendado seu uso em arborização de vias públicas, por
ser de porte baixo (6 a 10 metros) e diminuir a visibilidade do
transito.
3 Para pesquisadores
Alguns estudos complementares são necessários para otimizar a
produção e uso da espécie em arborização.
Aspectos relacionados ao vigor das sementes;
Métodos eficazes de quebra de dormência das sementes da
espécie,
que
provavelmente
impermeabilidade do tegumento;
esteja
envolvida
com
a
147
Mais estudos é recomendado envolvendo estaquia da espécie,
levando em conta diferentes tipos de estacas, idade da planta mãe
e épocas do ano;
Estudos de aplicação da espécie, em arborização urbana e
revitalização de matas ciliares, também podem ser recomendado.
148
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