Resumo Expandido - FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE

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FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE BESOUROS COPRÓFAGOS E
NECRÓFAGOS EM UM REMANESCENTE DE MATA ATLÂNTICA DE
JOÃO MONLEVADE, MINAS GERAIS, BRASIL
Ana Karoline Silva1, Lucas do Nascimento Miranda Fagundes1, Marcus Alvarenga Soares1,2,
Geisla Teles Vieira1, Lorena Dornelas Marsolla1, José Cola Zanuncio2
1. Departamento de Recursos Naturais, Ciências e Tecnologias Ambientais,
Universidade do Estado de Minas Gerais
2. Departamento de Biologia Animal, Universidade Federal de Viçosa
RESUMO
A Mata Atlântica é um dos biomas com maior diversidade do planeta e também um dos mais
ameaçados. Por meio das respostas de alguns organismos vivos, é possível mensurar e
qualificar o impacto sofrido. A pesquisa verificou a flutuação populacional de coleópteros da
família Scarabaeidae em um remanescente de Mata Atlântica de João Monlevade, Minas
Gerais, Brasil. Os insetos foram coletados utilizando-se armadilhas de solo com sardinha
apodrecida como isca atrativa. Os meses de avaliação foram maio, junho e julho
compreendendo as estações do outono e inverno de 2010. Em períodos de baixas temperaturas
é possível observar uma queda considerável do número de espécimes de Scarabaeidae
coletados na área, sugerindo que os benefícios providos por esses indivíduos são mais
acentuados em épocas mais quentes do ano. Em períodos com altas temperaturas, o número
de espécimes de Sacarabaeidae observados foi alto, indicando presença de mamíferos na área
e adequado funcionamento do sistema biológico com ciclagem de nutrientes.
Palavras-chave: Mata Atlântica; coleópteros; Scarabaeidae.
INTRODUÇÃO
Segundo Leitão filho (1987), a Mata Atlântica é a formação mais antiga do Brasil. É
considerada um dos três mais importantes hotspots para a conservação da biodiversidade
(MITTERMEIER et al.,1999), sendo um dos biomas mais diversos do planeta, diretamente
responsável pela qualidade de vida de milhares de pessoas e também um dos mais ameaçados,
restando apenas 5% da sua cobertura vegetal original.
Em geral, a alteração da abundância, diversidade e composição de insetos indicadores
mede a perturbação do ambiente (BROWN,1997). Os insetos são considerados bons
indicadores dos níveis de impacto ambiental, devido a sua grande diversidade de espécies e
habitat, além da sua importância nos processos biológicos dos ecossistemas naturais (WINK,
2005).
A ordem Coleoptera é a maior ordem dos insetos e algumas famílias possuem
atributos desejáveis para serem incluídas como bioindicadores, pois são grupos que possuem
parte das espécies com alta fidelidade ecológica, sendo diversificados taxonômica e
ecologicamente, facilmente coletáveis em grandes quantidades e funcionalmente importantes
nos ecossistemas. Os besouros da família Scarabaeidae têm papel fundamental nas florestas
tropicais, pois utilizam excrementos e carcaças em decomposição para alimentação de larvas e
adultos.
Segundo Halffter e Matthews1 (1966 apud CONDÉ, 2008, p. 2), esses besouros são
conhecidos vulgarmente como “rola-bosta”, devido ao fato de algumas espécies construírem
bolas com matéria orgânica em decomposição para depositar seus ovos e transportar até locais
protegidos onde constroem seus ninhos.
O objetivo da pesquisa foi verificar a flutuação populacional de coleópteros da família
Scarabaeidae em um remanescente de Mata Atlântica de João Monlevade, Minas Gerais,
Brasil.
MATERIAIS E MÉTODOS
A área de Estudo compreende uma reserva de Mata Atlântica, do tipo floresta
estacional semidecidual, situada nas limitações do Embaúbas Tênis Clube, no bairro Vila
Tanque, no município de João Monlevade, Minas Gerais, Brasil, que está localizado a leste do
Estado, nas coordenadas 19° 48’ 36” S e 43° 10' 26" W, e possui um clima classificado como
tropical de altitude devido à sua localização à 900 metros do nível do mar (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2009).
Os insetos foram capturados na estação do outono e do inverno, utilizando-se
armadilhas de solo do tipo Pitfall, cada uma constituída de um recipiente plástico tipo garrafa
“pet” cortada ao meio, de 8 cm de comprimento por 9 cm de diâmetro, contendo: uma solução
de álcool 70% (200 ml), para a conservação do material; formol 2% (2ml), para ajuda da
manutenção das características dos insetos; detergente neutro (2ml), para a aderência do
inseto à solução, evitando sua fuga; e água (2 litros). Próximo da abertura da armadilha foi
transpassado um fio de arame, contendo um recipiente com a isca, de maneira que esta ficasse
suspensa e com livre movimentação no centro do frasco. Como isca atrativa, foi utilizada
sardinha apodrecida.
Dez exemplares da armadilha foram utilizados, de forma aleatória, ao longo de uma
trilha existente dentro da reserva. Após quatro dias, as armadilhas foram recolhidas e o
material coletado, levado para o Laboratório de Zoologia da Faculdade de Engenharia
(FaEnge) da Universidade do Estado de Minas Garais, campus João Monlevade, onde as
espécimes coletadas foram transferidas para frascos, contendo álcool 70%, devidamente
identificados (data da coleta e números de indivíduos), para posteriormente irem para triagem,
montagem e identificação taxonômica. Para a identificação das espécimes de insetos foram
utilizadas as chaves de identificação taxonômica de Borror e Delong (1988).
RESULTADO E DISCUSSÃO
O número de espécies da família Scarabaeidae (Figura 1) coletadas foi maior em
períodos em que a temperatura média foi superior (Figura 2; Tabela 1), mostrando uma
correlação positiva entre o forrageamento dos insetos e o clima. Isso se deve à incapacidade
dos artrópodes de manter a temperatura interna do seu corpo constante. Segundo Rodrigues
(2008), a temperatura influencia as reações químicas e biológicas necessárias para o
desenvolvimento destes insetos, assim como as propriedades bioquímicas do recurso
alimentar. Além disso, alguns insetos apresentam diminuição da atividade testicular e da
oogênese e, consequentemente, da oviposição em temperaturas mais frias (IPERTI, 19992
apud RODRIGUES, 2008).
Em períodos quentes, foi observado um grande número de indivíduos, com média
geral de 250 (Figura 2). Este número é importante, pois sugere a presença de grande
quantidade de mamíferos na área, indicando um adequado funcionamento do sistema
biológico.
Figura 1: Scarabaeidae coletado na reserva de Mata Atlântica do Embaúbas Tênis Clube no período de maio a
julho de 2010, em João Monlevade, Minas Gerais
Foto: Marcus Alvarenga Soares
300
R= 1,0
2
f= 755 -638x+133X
Número de indivíduos
250
200
150
100
50
0
-50
Maio
Junho
Julho
Figura 2: Curva de regressão para número de indivíduos da família Scarabaeidae, coletados na reserva de Mata
Atlântica do Embaúbas Tênis Clube, no período de maio a julho de 2010, em João Monlevade, Minas Gerais.
Tabela 1: Temperaturas máximas e mínimas e precipitação nos dias de coleta
Temp. máx.
Precipitação
(ºC)
(mm)
Maio
16.6
13.8
10.9
14.9
23.7
0
14.9
23.8
0
16.4
24.7
0
Temperatura média do período: 18,6 ºC
Junho
12.3
16.9
0
7.5
18.4
0
8.7
21.4
0
8.7
20.8
0
Temperatura média do período: 14,33 ºC
Julho
9.9
21.8
0
10.3
24.4
0
12
25.7
0
14.1
23.5
0
Temperatura média do período: 17,71 ºC
Fonte: Somar Meteorologia (2010)
Temp. min.
(ºC)
Dias
1
2
3
4
1
2
3
4
1
2
3
4
A coprofagia e a necrofagia realizadas por estes besouros são importantes por
incorporarem ao solo porções de excrementos ou carcaças de animais para provimento de sua
prole, auxiliando na fertilidade do solo, além de promoverem o soterramento de uma parcela
de ovos de parasitos que são, em parte, destruídos (KOLLER et al., 2007 apud SILVA;
GARCIA; VIDAL, 2009).
CONCLUSÃO
Em períodos de baixas temperaturas, é possível observar uma queda considerável do
número de espécimes de Scarabaeidae, sugerindo que os benefícios providos por esses
indivíduos são mais acentuados em épocas mais quentes do ano. Em períodos com altas
temperaturas, o número de espécimes de Sacarabaeidae observadas foi alto, indicando
presença de mamíferos na área e adequado funcionamento do sistema biológico com ciclagem
de nutrientes.
REFERÊNCIAS
BORROR, D. J.; DELONG, D. M. Introduction to the study of insects. Stamford:
Thomson, 1988.
BROWN, K. S. Diversity, disturbance, and sustainale use Neotropical Forests: Insects as
indicators for conservation monitory. Journal of Insect Conservation, v. 1, n. 1, 1997. p. 2542.
CONDÉ, P. A. Comunidade de Besouros Scarabaeinae (Coleoptera: Scarabaeidae) em
duas áreas de Mata Atlântica do Parque Municipal da Lagoa do Peri, Florianópolis SC: Subsídios para o Biomonitoramento Ambiental. 2008. 51 f. Monografia (Graduação em
Ciências Biológicas)- Departamento de Ecologia e Zoologia, Centro de Ciências Biológicas,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008. Disponível em:
<http://www.ccb.ufsc.br/biologia/TCC-BIOLOGIA-UFSC/TCCPaulaCondeBioUFSC-081.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2010.
LEITAO FILHO, H. F. Considerações sobre a florística de florestas tropicais e subtropicais
do Brasil. Scientia Forestalis, Piracicaba: IPEF, n. 35, p. 41-46, abr. 1987. Disponível em:
<http://www.ipef.br/PUBLICACOES/SCIENTIA/nr35/cap02.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2010.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades@, Brasília, 2009.
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=313620>.
Acesso em: 19 jun. 2010.
MITTEMEIER, R.A.; Myers, N.; Gil, P.R.; Mittermeier, C.G. 1999. Hotspots: Earth’s
biologically richest and most endangered terrestrial ecoregions. Cemex,
Conservation International and Agrupación Sierra Madre. Monterrey, México.
431p, 1999.Disponivel em:
http://www.bioatlantica.org.br/Artigo%20publicado%20em%20Biodiversidade%20para%20c
omer%20vestir%202006.pdf. Acesso em: 15 jul. 2010.
RODRIGUES, M. M. Besouros coprófagos (Coleoptera: Scarabaeoidea) em três
diferentes usos do solo no Sul de Mato Grosso so Sul, Brasil. 2008. 62 f. Dissertação
(Mestrado em Entomologia e conservação da biodiversidade)-Universidade Federal da
Grande Dourados, Dourados, 2008. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp074034.pdf>. Acesso em: 19 jun.
2010.
SILVA, P. G.; GARCIA, M.A.R.; VIDAL, M. B. Besouros copro-necrófagos (coleoptera:
scarabaeidae sensu stricto) do município de Bagé, RS (bioma campos sulinos). Biociências,
Porto Alegre, v. 17, n. 1, p. 33-43, dez. 2009.
SOMAR METEOROLOGIA. Jornal do Tempo, São Paulo, 2010. Disponível em:
<http://jornaldotempo.uol.com.br/index.html/>. Acesso em: 2 ago. 2010.
WINK, Charlote et al. Insetos edáficos como indicadores da qualidade ambiental. Revista de
Ciências Agroveterinárias, Lages, v. 4, n.1, p. 60-71, 2005.
_____________________________
1
Halffter, G.; Matthews, E. G. The natural history of dung beetles of the subfamily Scarabaeinae (Coleoptera,
Scarabaeidae). Folia Entomológica Mexicana, n. 12/14, p. 1 -312, 1966.
2
Iperti, G. Biodiversity of predaceous coccinellidae in relation to bioindication and economic importance.
Agriculture, Ecosystems and Environment, n. 74, p. 323-342, 1999.
3
KOLLER, W. W. et al. Scarabaeidae e aphodiidae coprófagos em pastagens cultivadas em área do cerrado sulmato-grossense. Revista Brasileira de Zoociências, v. 9, n. 1, p. 81-93, 2007.
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