artigo jefferson sobre a PELE

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A PELE
Compartilhando minhas
experiências na mata.
Jefferson Gomes Aliseda
O maior órgão do ser humano é a pele. São quase 2m². É portanto um dos pontos mais
vulneráveis para quem se aventura em condições inóspitas. Perdemos calor pela pele.
Sofremos queimaduras pelo sol, às vezes gravíssimas. A pele está sujeita a ferimentos por
espinhos, folhas urticantes, picadas de insetos. Quando o Canal DISCOVERY lançou a série
“LARGADOS E PELADOS” (Naked and Afraid” em inglês), sabemos que a atração maior seria o
fato de um casal que nunca se viu antes estar num lugar totalmente selvagem e sem roupa
alguma. Isso gera curiosidade e portanto audiência. Mas, ao olharmos o programa sob o ponto
de vista de quem tem que sobreviver sem recursos, estar sem roupas aumenta muito as
dificuldades. Mesmo em lugares de clima ameno, as temperaturas baixam muito à noite.
Quando chove ou a umidade relativa do ar aumenta, a sensação de frio piora. À despeito de
todos os outros desafios que os participantes tem que enfrentar, o simples fato de estar sem
proteção alguma contra o sol, os insetos ou o frio já é um senhor problema. Certa vez fizemos
uma pequena incursão na mata, e eu fui totalmente “desprevenido”. O pessoal me chamou
para uma remada num local novo que eles haviam descoberto, e eu pensei que seria só a
remada. Mas ao chegarmos na entrada da mata, o grupo decidiu deixar a canoa ali e explorar
o novo local. Era uma tarde de calor, eu estava de camiseta e bermuda, sem boné ou jaqueta
de brim (gandola). Os insetos incomodaram um pouco, mas no deslocamento, eu me arranhei
em alguns espinhos, foi que incomodou mais. Totalmente careca e sem nenhum chapéu, sofri
um arranhão mais forte na cabeça, que me incomodou quando já estava no carro, de volta
para casa. Ao passar a mão no local, percebi que um espinho havia ficado no ali, por baixo da
pele. Quando cheguei em casa, pedi ajuda, e com uma pinça, me extraíram da cabeça um
espinho de 1 centímetro de comprimento, que havia ficado paralelo ao crâneo, por baixo da
pele. A dor não foi tanta, mas se multiplicarmos este pequeno ferimento por dez, cem, etc,
começamos a entender a dificuldade de sobreviver sem proteger a pele. Insetos são um
capítulo à parte. Não creio que possam levar alguém a morte, mas incomodam tanto,
atrapalham ou até impedem o repouso e o sono, que a pessoa rapidamente perde energia,
moral, capacidade de raciocinar e lutar pela sobrevivência, pode entrar em pânico e ter um fim
nada agradável. Passei uma vez a noite no mato, dormindo numa rede, com uma simples lona
por cima, o que foi até certo ponto confortável e eficiente contra a chuva que caiu. Não
haveria problemas se eu não tivesse a péssima ideia de não levar meias. No escuro total, de
tênis, calça comprida, camiseta e jaqueta de brim, e uma toalha sobre o rosto, eu estaria
totalmente invulnerável contra os insetos, exceto pela pequena área exposta entre o tênis e as
calças. Os insetos, tão pequenos que eu nem os vi, orientados pelo calor que nosso corpo
emite, se dirigiam para aquele local, somente ali, e faziam seu banquete, já que eles se
alimentam do nosso sangue, e me impediram de dormir. Veja que só faltaram as meias.
Imagine sem roupa nenhuma. Por isso sobreviver no mato não é fácil. Passar algumas horas
caminhando, ou apenas um pernoite, quando sabemos onde estamos e quando voltaremos
para a civilização é até fácil. Quem se perde, sobrevive a uma queda de avião ou naufrágio, vai
ter muitas dificuldades, a começar pela pele, nosso primeiro ponto vulnerável. Os índios
sabem passar no corpo substâncias que protegem a pele (o urucum, por exemplo), dormem
próximos do fogo, tem a pele já curtida e resistente a tantas agruras. Nós não, precisamos de
proteção, e portanto, não devemos nos aventurar na mata, por menor que seja a caminhada
ou o tempo de permanência, sem calçados e meias adequados, calças e mangas compridos,
boné ou chapéu. Protejamos a nossa pele, o maior órgão do corpo humano. Se ficar apenas
largados no mato já é superdifícil, imagine como seria ficar largado e pelado.
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