universidade tuiuti do paraná - TCC On-line

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Maria Luiza Del Gragnano Stasiak
AUTOCONFIANÇA E APRENDIZAGEM
Curitiba
2010
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AUTOCONFIANÇA E APRENDIZAGEM
Curitiba
2010
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Maria Luiza Del Gragnano Stasiak
AUTOCONFIANÇA E APRENDIZAGEM
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Pós
Graduação em Psicopedagogia da
Universidade Tuiuti do Paraná, como
requisito parcial para a obtenção do
Título
de
Psicopedagoga.
Orientadora: Profª Ms. Laura Bianca
Monti.
Curitiba
2010
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A grandeza de uma profissão é talvez, antes de tudo, unir
os homens: não há senão um verdadeiro luxo e esse é o
das relações humanas.
Antoine de Saint-Exupéry
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TERMO DE APROVAÇÃO
Maria Luiza Del Gragnano Stasiak
AUTOCONFIANÇA E APRENDIZAGEM
Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Especialista em
Psicopedagogia no Curso de Pós Graduação em Psicopedagogia da Universaidade Tuiuti
do Paraná.
Curitiba, ____ de ___________________________ de 2010.
__________________________________________
Pós-Graduação em Psicopedagogia (2009-2010)
Centro de Atendimento Psicopedagógico
Universidade Tuiuti do Paraná
Coordenadora: Maria Letizia Marchese Mecking
Orientadora: Profª Ms. Laura Bianca Monti
Profª. Ms. Jurândi Serra Freitas
Profª. Ms. Laura Bianca Monti
Profª. Ms. Margaret Maria Schroeder
Profª. Ms. Maria Letizia Marchese Mecking
Prof. Ricardo Westphalen Jucá
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SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................. 6
1 APRENDIZAGEM ................................................................................................ 7
2 CONHECIMENTOS QUE O ALUNO POSSUI – SABERES.............................. 11
3 A RELAÇÃO PROFESSOR – ALUNO .............................................................. 12
4 AFETIVIDADE ................................................................................................... 14
5 A AUTOCONFIANÇA ........................................................................................ 16
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 19
7 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 22
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RESUMO
Aprender faz parte da natureza humana. É sabido que o ser aprende desde que
nasce, seja pela necessidade de sobrevivência, pela imitação, por curiosidade, ou
por outros motivos e situações. Entendendo a aprendizagem como um processo
natural e espontâneo, é compreensível que surja uma questão angustiante aos
envolvidos no processo de ensino formal: por que algumas crianças, apresentando
condições de aprendizagem, não alcançam o tão esperado e desejado sucesso
escolar? Dentre os muitos fatores que podem interferir nesse processo, o presente
estudo teórico busca refletir a relação entre a autoconfiança e o sucesso na
aprendizagem. Partindo de conceitos, de algumas teorias de aprendizagem,
valorizando os saberes que a criança possui ao vir para a escola, pensando a
relação professor-aluno, analisando a afetividade de acordo com alguns teóricos e
buscando a relação entre a autoconfiança e o sucesso na aprendizagem, este
trabalho é relevante na medida em que apresenta algumas situações que auxiliam o
desenvolvimento da autoconfiança na criança e o papel do Psicopedagogo nesse
processo.
Palavras-chave: Aprendizagem; Psicopedagogia; Autoconfiança;
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1.
APRENDIZAGEM
O ser humano nasce com tendência para a aprendizagem. Conforme afirma
Bossa (2007), é a aprendizagem que garante a sobrevivência e a condição de
humano. A autora afirma também que basta lembrar que o ser humano inicia o
processo de aprendizagem bem cedo. Aprende coisas que irão garantir a
sobrevivência e o tornar humano.
Para compreender o modo como as pessoas aprendem e quais as
condições necessárias para que isso ocorra, diversos estudiosos têm criado teorias
que buscam reconhecer a dinâmica existente nos atos de ensinar e aprender, visto
que a aprendizagem acontece em um contexto e na interação entre as pessoas.
Jean Piaget, famoso biólogo suíço, conhecido mundialmente por seus
estudos na área da Psicogenética, “revolucionou o modo de encarar a educação de
crianças ao mostrar que elas não pensam como os adultos e constroem o próprio
aprendizado.” (Nova Escola, 2008, p.55).
De acordo com Phillips (1971), Piaget, que recorreu à Psicologia como
campo de pesquisa, percebeu que as estruturas cognitivas mudam, conforme a
criança se desenvolve, através de dois processos distintos e interligados de
adaptação: “a assimilação que ocorre sempre que um organismo utiliza algo do
ambiente e o incorpora; e a acomodação se refere a modificações dos sistemas de
assimilação por influência do mundo externo”. (p. 11).
Phillips (1971) ressalta que Piaget, através de testes e observações, criou
uma teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento natural da criança que
passa por quatro estágios, também chamados de estádios, entendidos como um
conjunto de etapas características do desenvolvimento das estruturas da
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inteligência: o primeiro, chamado de estágio sensório-motor, vai do nascimento aos
dois anos. É o período em que a criança passa de atividades reflexas à formação
dos primeiros hábitos e constrói um conjunto de esquemas de ação que permitem a
compreensão da realidade e o seu funcionamento. A inteligência sensório-motora
visa o êxito. É essencialmente prática, sem função simbólica, determinada com a
presença do objeto, das situações, das pessoas, através da percepção. O estágio
pré-operatório que vai dos dois aos sete anos caracteriza-se pelo aparecimento da
linguagem e da representação por meio de símbolos. Período de egocentrismo, do
surgimento da curiosidade e do aparecimento do pensamento intuitivo. É a “idade
dos porquês”, uma vez que a criança pergunta sobre tudo e em todos os momentos.
Ainda segundo Phillips (1971), o terceiro estágio definido por Piaget é o das
operações concretas. Acontece no período aproximado dos sete aos doze anos e
tem como marca o início da capacidade de classificação, de agrupamento e
aquisição da noção de reversibilidade. Por fim, o quarto estágio, das operações
formais, ocorre por volta dos doze anos, quando começa o domínio do pensamento
lógico e dedutivo que possibilita à criança a capacidade de pensar, usando
abstrações e raciocinar sobre hipóteses. Ao final desse período, aproximadamente
aos quinze anos, a pessoa atinge a maturidade intelectual, quando a linguagem dá
suporte ao pensamento conceitual, à formulação de hipóteses e a passagem da
heteronomia para a autonomia em relação às regras sociais.
A compreensão destes estágios, suas características, possibilidades e
necessidades permitem aos envolvidos com a educação a realização de um trabalho
mais adequado ao maior e melhor desenvolvimento do aluno.
Com ênfase no social, conforme cita Nova Escola (2008), o psicólogo russo
Vygotsky compreende o homem como um ser que se forma em contato com a
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sociedade numa relação dialética, onde o homem modifica o meio e é por ele
modificado.
Nova Escola (2008) ainda revela que, para Vygotsky, o indivíduo deve estar
inserido em um grupo social e aprende o que seu grupo produz. O conhecimento
surge primeiro no grupo, para só depois ser interiorizado. É na presença do outro
que o homem se constrói. Assim, a aprendizagem ocorre no relacionamento do
aluno com o professor e com outros alunos, mediados pela linguagem, a qual é
produto da atividade social.
Na ótica de Oliveira, a intervenção pedagógica
provoca avanços que não ocorreriam espontaneamente. A importância da
intervenção deliberada de um indivíduo sobre outros como forma de
promover desenvolvimento articula-se com um postulado básico de
Vygotsky: a aprendizagem é fundamental para o desenvolvimento desde o
nascimento da criança. A aprendizagem desperta processos internos de
desenvolvimento que só podem ocorrer quando o individuo interage com
outras pessoas. O processo de ensino-aprendizagem que ocorre na escola
propicia o acesso dos membros imaturos da cultura letrada ao
conhecimento construído e acumulado pela ciência e a procedimentos
metacognitivos, centrais ao próprio modo de articulação dos conceitos
científicos. (1992, p.33)
Na escola, muitos professores trabalham, mesmo sem conhecer o teórico, o
conceito de zona de desenvolvimento proximal que é a distância entre o
desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial da criança, ou seja, a
possibilidade que a criança tem de, sob orientação, resolver problemas. Conforme
cita Nova Escola, fica evidente a importância da escola na construção do
conhecimento, pois:
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a intervenção pedagógica provoca avanços que não ocorreriam
espontaneamente. Ao formular o conceito de zona proximal, Vygotsky
mostrou que o bom ensino é aquele que estimula a criança a atingir um
nível de compreensão e habilidade que ainda não domina completamente,
"puxando" dela um novo conhecimento. "Ensinar o que a criança já sabe
desmotiva o aluno e ir além de sua capacidade é inútil", diz Teresa Rego. O
psicólogo considerava ainda que todo aprendizado amplia o universo mental
do aluno. O ensino de um novo conteúdo não se resume à aquisição de
uma habilidade ou de um conjunto de informações, mas amplia as
estruturas cognitivas da criança. Assim, por exemplo, com o domínio da
escrita, o aluno adquire também capacidades de reflexão e controle do
próprio funcionamento psicológico. (Nova Escola, 2008 p.59)
Visca (1991) afirma que a aprendizagem é concebida como uma construção.
Revela, ainda, que esta construção depende dos aspectos energéticos e estruturais
e declara que a mesma implica em uma tematização. Apesar de a aprendizagem
possuir uma continuidade genética, o autor afirma que na sua evolução é possível
observar diferenças qualitativas que permitem identificar quatro níveis:
- Proto-aprendizagem, também conhecida como aprendizagem das primeiras
relações vinculares;
- Deutero-aprendizagem, também chamada de apreensão da cosmovisão do grupo
familiar;
- Aprendizagem assistemática ou aquisição instrumental das técnicas e recursos que
permitem o desempenho na comunidade;
- Aprendizagem sistemática que se dá na interação com reativos particularmente
selecionados e que a sociedade veicula através de instituições de nível primário,
médio e superior.
Visca conclui que
todo o processo de aprendizagem transcende a estruturação cognitiva
porque requer a afetização do objeto e transcende também a afetividade,
visto que implica na utilização de operações cognitivas; sem esquecer que
se pode denominar de tematização, ou conteúdo adquirido mediante os
recursos cognitivos-afetivos postos em jogo. (Visca, 1991, p. 49)
Visca (1987) ainda constata que além da existência destes quatro grandes
níveis, a aprendizagem se dá em função de aspectos energéticos e estruturais e
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pela tematização dos esquemas da ação e que o processo geral e as aprendizagens
particulares respondem a princípios estruturais, construtivistas e interacionais. É
óbvio que desde o nascimento até a morte, as pessoas não deixam de se comportar.
Revela, também, que nem toda conduta é uma aprendizagem, mas toda
aprendizagem é uma conduta. Aponta, em outros termos, que a aprendizagem é um
fenômeno que se opera em nível de integração psicológica.
Assim, as teorias de aprendizagem buscam reconhecer o processo que
ocorre no ato de ensinar e de aprender, para explicar a relação entre o
conhecimento já existente e o novo conhecimento que ocorre através da interação
entre as pessoas.
Para que a aprendizagem escolar seja realizada com sucesso, existem
elementos centrais: o aluno, o professor e a situação de aprendizagem.
Considerando, entretanto, a complexidade do fenômeno da aprendizagem seu
estudo deve realizado por diversos campos do conhecimento, ou seja, a análise dos
fenômenos relativos à aprendizagem requer a intervenção de uma equipe
multidisciplinar. Um dos profissionais fundamentais nessa equipe é o Psicopedagogo
institucional que, preparado para trabalhar na área da educação, presta assistência
aos professores e aos demais profissionais da escola, para promover a melhoria das
condições do processo de ensino e de aprendizagem e prevenir possíveis
problemas de aprendizagem.
A Psicopedagogia, segundo Bossa, (2007), é a área do conhecimento que se
dedica ao estudo do processo de aprendizagem e como os elementos envolvidos
podem facilitar ou prejudicar seu desenvolvimento. Nasceu para atender as
dificuldades da aprendizagem, porém, tem-se voltado cada vez mais para uma ação
preventiva. Assim sendo, a atuação da Psicopedagogia, numa ação preventiva, é a
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de propor novas alternativas voltadas para a melhoria da prática pedagógica nas
escolas. A Psicopedagogia tem como objeto de estudo o indivíduo como ser
possível de educação, um ser em formação através de sua interação com a cultura,
e de seus processos evolutivos através da influência recebida dos meios nos quais
está inserido: a escola, a família e a sociedade em geral. Portanto, a Psicopedagogia
lança um novo olhar sobre a questão da aprendizagem e, conforme Bossa, o
Psicopedagogo “pode auxiliar para que todos que participam da escola entendam
como e por que transformá-la em um lugar de construção de conhecimento.” (p. 72).
Dessa forma, o Psicopedagogo passa a ser um elemento valioso, com a
equipe da escola, o qual deve zelar para que todos tenham “um olhar” e “uma
escuta” para o sujeito, visando o auxílio para a efetiva aprendizagem escolar.
2.
CONHECIMENTOS QUE O ALUNO POSSUI – SABERES
É indiscutível a importância da escola, como instituição responsável pelo
ensino formal. A criança, cada vez mais cedo, é inserida nesse contexto. Entretanto,
mesmo as que não frequentaram berçários, creches ou escolas de Educação Infantil
já possuem saberes construídos na interação com os adultos e com outras crianças
de seu convívio. Portanto, todas possuem saberes, habilidades e representações
sobre a escola, a relação professor-aluno, a relação com outras crianças e trazem,
sobretudo, expectativas sobre esse novo espaço educativo. Elas sabem que vão
aprender muitas coisas e, a mais importante: ler e escrever.
Essa idéia é reforçada por Weiss (2008), quando destaca a ideia básica de
aprendizagem
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como um processo de construção que se dá na interação permanente do
sujeito com o meio que o cerca. Meio esse expresso, inicialmente pela
família, depois pelo acréscimo da escola, ambos permeados pela sociedade
em que estão. Finalizamos com Vygotsky (1989), ao frisar que a
aprendizagem da criança começa muito antes da aprendizagem escolar e
que esta nunca parte do zero. Toda a aprendizagem da criança na escola
tem uma pré-história. (2008, p.27)
A escola deve identificar e valorizar a cultura e os saberes do aluno, tomandoos como ponto de partida ou âncora para a construção de novos conhecimentos.
Valorizar a cultura do aluno é a chave para o processo de conscientização
defendido por Paulo Freire e é o centro de seu método de alfabetização, formulado
inicialmente para o ensino de adultos, mas aplicável em todas as idades.
Freire, citado por Nova Escola (2008), alerta que ninguém ensina nada a
ninguém, mas que, também, ninguém aprende sozinho, pois a educação ocorre
entre os homens, mediados pelo mundo. Assim, ressalta um princípio fundamental:
o de que o aluno, alfabetizado ou não, chega à escola levando uma cultura
que não é melhor nem pior do que a do professor. Em sala de aula, os dois
lados aprenderão juntos, um com o outro – e para isso é necessário que as
relações sejam afetivas e democráticas, garantindo a todos a possibilidade
de se expressar. (Nova Escola 2008, p.71).
O aluno, ao perceber que tem saberes, que é valorizado, fica aberto a novas
aprendizagens, pois percebe que é capaz de aprender.
Desta forma, pode-se concluir que toda criança é capaz de aprender e que
toda criança possui saberes. É indispensável, portanto, o professor descobrir,
acreditar, valorizar e incentivar a cultura e a capacidade de seus alunos.
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3. A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO
A escola e a família devem ficar atentas, uma vez que através das palavras
ou dos gestos, reforçam a autoconfiança das crianças, colaborando, assim, para o
sucesso na escola e na vida.
Freire reforça que:
se trabalho com crianças, devo estar atento à difícil passagem da
heteronomia para a autonomia, atento à responsabilidade de minha
presença que tanto pode ser auxiliadora como pode virar perturbadora da
busca inquieta dos educandos;... (2008, p.70)
A educação é um processo amplo e complexo que abrange diversos sujeitos
em diferentes modalidades de aprendizagem e que distingue e personaliza esse
jeito de aprender.
A aprendizagem é um processo contínuo de construção e superação do não aprender temporário. É fundamental que o professor conheça os saberes que cada
aluno possui para compreensão de suas estruturas mentais e seu modo de reflexão,
para a evolução e a construção do conhecimento que ocorre na inter-relação entre
sujeitos que deve ser num clima de confiança e troca.
A inter-relação deve acontecer num clima natural de confiança e desejo,
conforme Bossa ressalta: “É assim que deve ser a aprendizagem escolar: um
processo natural e espontâneo, mais até, um processo prazeroso. Descobrir e
aprender devem ser um grande prazer.” (2007, p. 11).
O vínculo entre o professor e o aluno precisa existir, para facilitar a
aprendizagem. O aluno deve ver seu professor com admiração, identificar-se com
ele. O professor deve respeitar seu aluno, não se colocar como “dono da verdade”,
superior. De acordo com Fernandez, “não aprendemos de qualquer um, aprendemos
daquele a quem outorgamos confiança e direito de ensinar”. (1991, p.52).
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A aprendizagem envolve inúmeras características, sendo necessária uma
identificação e uma relação prazerosa, tanto com o conhecimento, como também
com o educador, num processo dinâmico, ativo e contínuo. Conforme Weiss, “é
preciso que o professor competente e valorizado encontre o prazer de ensinar para
que possibilite o prazer de aprender.” (2008, p.18)
O ato de aprender, processo pessoal, gradativo e crescente, envolve diferentes
aspectos, competências e habilidades que incorpora novas experiências e novos
saberes aos já existentes.
O espaço educativo é o espaço de relação e não pode ser ação mecânica,
repetitiva, como lembra Piaget citado por Porto:
O papel do mestre deve ser aquele de incitar à pesquisa, de fazer tomar
consciência dos problemas e não aquele de ditar a verdade. Não podemos
nos esquecer de que uma verdade imposta não é mais uma
verdade:compreender é inventar, reinventar e dar uma lição
prematuramente é impedir a criança de inventar e redescobrir as soluções
por si mesma. (2009, p. 18)
Enfim, conforme Leite e Tassoni,
Pode-se afirmar que as relações de mediação feitas pelo professor,
durante as atividades pedagógicas, devem ser sempre permeadas por
sentimentos de acolhimento, simpatia, respeito e apreciação, além de
compreensão, aceitação e valorização do outro; tais sentimentos não só
marcam a relação do aluno com o objeto de conhecimento, como também
afetam a sua auto-imagem, favorecendo a autonomia e fortalecendo a sua
confiança em suas capacidades e decisões. (s/d, p.20)
A criança desenvolve sentimentos positivos quando recebe um sorriso, uma
palavra de elogio ou de incentivo. É importante que o elogio seja merecido, sincero,
para que ela sinta-se satisfeita consigo mesma.
Em certos momentos muitas crianças sofrem na escola. No entanto, ninguém
sofre porque quer.
aprendizagem.
Esse sofrimento pode ser originado por problemas de
Para enfrentar essas situações, a escola que tem um
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Psicopedagogo em sua equipe, tem mais condições de identificar a causa do
problema e seguir um plano de intervenção, pois o Psicopedagogo institucional “vai
atuar junto aos professores e outros profissionais para a melhoria das condições do
processo de ensino-aprendizagem, bem como para a prevenção dos problemas de
aprendizagem.” (Bossa, 2007, p.12)
Fica evidente que o Psicopedagogo tem muito o que fazer na escola,
principalmente socorrer o aluno que esteja sofrendo.
4.
AFETIVIDADE
A afetividade é o agente motivador da atividade cognitiva. Deste modo, a
afetividade e a razão constituiriam termos complementares.
Para Jean Piaget a afetividade seria a energia, o que move a ação, enquanto
a razão seria o que possibilitaria ao sujeito identificar desejos, sentimentos
variados, e obter êxito nas ações. O desenvolvimento intelectual possui dois
componentes que são o cognitivo e o afetivo. Ambos se ocorrem paralelamente e é
de fundamental importância o cuidado com o aspecto afetivo no processo de
ensino-aprendizagem, pois é a dimensão que representa a dificuldade na tomada
de consciência do eu e do outro. (Taille 1992).
Vygotsky (2003), declara que a emoção e o sentimento são fatores
determinantes no desenvolvimento cognitivo. Sendo a escola o local onde a
intervenção pedagógica interacional desencadeia o processo ensino-aprendizagem,
o professor deve ter em mente que
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Se quisermos que os alunos recordem melhor ou exercitem mais o
pensamento, devemos fazer com que as atividades sejam emocionalmente
estimuladas. A experiência e a pesquisa têm mostrado que um fato
impregnado de emoção é recordado mais sólido, firme e prolongado que um
feito indiferente. Cada vez que comunicarem algo ao aluno tente afetar seu
sentimento. A emoção não é uma ferramenta menos importante que o
pensamento. (Vygotsky, 2003, p.121)
Segundo Tassoni (s/d, p.5), Wallon dedicou grande parte de sua vida ao
estudo das emoções e da afetividade, identificando as primeiras manifestações
afetivas do ser humano, suas características e a complexidade do desenvolvimento.
Para ele, a afetividade tem um papel fundamental na constituição e funcionamento
da inteligência, atribuindo às emoções um papel essencial na formação da vida
psíquica. Assim, desde o início, as relações da criança com o mundo exterior são
relações de sociabilidade, pois ao nascer não tem
meios de ação sobre as coisas circundantes, razão porque a satisfação das
suas necessidades e desejos tem de ser realizada por intermédio das
pessoas adultas que a rodeiam. Por isso, os primeiros sistemas de reação
que se organizam sob a influência do ambiente, as emoções, tendem a
realizar, por meio de manifestações consoantes e contagiosas, uma fusão
de sensibilidade entre o indivíduo e o seu entourage. (Wallon, 1971, citado
por Tassoni,s/d. p.5).
Para Wallon (2007), as emoções têm um papel preponderante no
desenvolvimento da pessoa. É por meio delas que o aluno exterioriza seus desejos
e suas vontades. Nessa teoria, a construção do eu depende, essencialmente, do
outro. Segundo ele, a criança responde às impressões que as coisas lhe causam
com gestos dirigidos a elas. Apresenta a noção de pessoa como uma síntese dos
conjuntos funcionais (afetivo, motor e cognitivo) e integração entre o orgânico e o
social. Sua teoria descarta a compreensão do ser humano de forma fragmentada,
conforme alerta:
É contra a natureza tratar a criança fragmentariamente. Em cada idade, ela
constitui um conjunto indissociável e original. Na sucessão de suas idades,
ela é um único e mesmo ser em curso de metamorfoses. Feita de contrastes
e de conflitos, a sua unidade será por isso ainda mais susceptível de
desenvolvimento e de novidade. (WALLON, 2007, p. 198).
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O ser é integral. Não se pode, portanto, separar afetividade e cognição.
Paulo Freire, o mais célebre educador brasileiro, indaga: “Como ser educador,
se não desenvolvo em mim a indispensável amorosidade aos educando com quem
me comprometo a ao próprio processo formador de que sou parte?” (2008, p.67)
Conforme Mesquita e Sopelsa no processo do ensino e da aprendizagem a
afetividade
se revela quando o professor oferece diferentes situações e locais para que
todos participem. É necessário oferecer atividades diferentes e a
possibilidade de a criança escolher as atividades que a atraia, chamar o
aluno pelo nome, mostrar que ela é percebida pelo grupo. Oportunizar que a
criança participe no decorrer das atividades por meio da sua contribuição e
de seus questionamentos. O professor precisa demonstrar disposição ao
responder aos questionamentos da criança que busca conhecer o mundo.
Torna-se fundamental no tocante à afetividade que se reconheça e respeite
as diferenças entre os alunos, sempre respeitando os limites para que
ocorra uma relação solidária. No processo do ensino e da aprendizagem, o
limite precisa ser colocado, precisa existir para que assim seja garantido o
bem-estar de todos os envolvidos, uma vez que limite também é afetividade.
(2009, p. 7)
Ao pensar em amorosidade, alegria, afetividade, deve ficar evidente que não
existe amor sem exigência, como enfatiza Freire:
É falso também tomar como inconciliáveis seriedade docente e alegria,
como se alegria fosse inimiga da rigoridade. Pelo contrário, quanto mais
metodicamente rigoroso me torno na minha busca e na minha docência,
tanto mais alegre me sinto e esperançoso também. A alegria não chega
apenas ao encontro do achado mas faz parte do processo da busca. E
ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da
alegria. O desrespeito à educação, aos educandos, aos educadores e às
educadoras corrói ou deteriora em nós, de um lado, a sensibilidade ou a
abertura ao bem querer da prática educativa, de outro, a alegria necessária
ao que-fazer docente. É digna de nota a capacidade que tem a experiência
pedagógica para despertar, estimular e desenvolver em nós o gosto de
querer bem e o gosto da alegria sem a qual a prática educativa perde o
sentido. É esta força misteriosa, às vezes chamada vocação, que explica a
quase devoção com que a grande maioria do magistério nele permanece,
[...] e não apenas permanece, mas cumpre, como pode, seu dever.
Amorosamente, acrescento. (2008, p.142)
Através do afeto garante-se a autoconfiança da criança e a crença de que é
capaz de realizar uma ação obtendo êxito. Principalmente, no início da
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aprendizagem, o sucesso é muito importante. Assim, é preciso que o educador
acredite na capacidade do aluno. Elogios, incentivos e limites, quando feito de forma
sincera, afetiva e responsável, levam a criança a se sentir valorizada, desenvolver
sua autonomia, tendo mais chance de alcançar o sucesso na aprendizagem e na
vida.
5.
A AUTOCONFIANÇA
É na infância que se inicia o desenvolvimento da autoconfiança. Pessoas
inseguras e despreparadas para assumir responsabilidades são o resultado de uma
educação superprotetora, autoritária ou sem limites. As crianças que têm
possibilidades de expressarem suas opiniões e desejos desenvolvem a capacidade
de decidir mais com confiança. (MELO, s/d)
Para avançar, é preciso ter condições e coragem de expor idéias, hipóteses,
pensamentos e sentimentos. Sem autoconfiança o aluno, inseguro, não diz o que
pensa ou o que sabe por medo e por pensar que não é capaz. Reconhecer as
próprias habilidades é determinante para a vida escolar. O professor deve intervir,
incentivar e despertar no aluno o desejo de enfrentar e superar os desafios do
processo de aprendizagem, processo esse que nem sempre é fácil, mas pode, e
deve, ser perfeitamente possível e prazeroso. Alunos por vezes considerados como
tendo dificuldades, na verdade não tem coragem de enfrentar as contradições que
surgem no decorrer desse processo. O professor precisa ajudá-los a redimensionar
a autoconfiança perante os desafios, considerando a possibilidade dos erros e
valorizando o caminho percorrido. (Gouveia, 2010)
Hermann Hesse convida a família e a escola a estimularem a criança
perceber que “Não há nada que eu possa te dar que já não exista dentro de ti
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mesmo. Apenas posso propor outras imagens além das tuas... E assim ajudo a
tornar visível teu próprio universo.” (Hesse, citado por Dufor, 2005, p.57).
Infelizmente, muitas vezes, na escola é comum uma criança dizer que não
sabe ler, que não consegue e que não sabe isto ou aquilo. Essa situação, por vezes
reforçada pelo meio, pode e deve ser revertida. Portanto, a escola e a família devem
ficar atentas, pois através das palavras ou dos gestos ajudam a desenvolver a
autoconfiança das crianças, colaborando assim, para o sucesso na escola e na vida.
O Psicopedagogo deve reforçar os aspectos positivos, pois há casos em que
somente trabalhando com o vínculo, com o agente corretor e com o conhecimento, a
criança melhora. Além do vínculo, a criança deve ser levada ao compromisso com
as suas dificuldades, sendo incentivada a superá-las, aumentando assim, sua autoestima e autoconfiança. (Visca 1987).
A autoconfiança é construída com pequenos êxitos, baseados no esforço
diário, lembrando resultados positivos e acreditando em sua capacidade para atingir
o sucesso.
Gouveia ressalta que “é papel do educador ajudar o aluno a redimensionar a
autoconfiança e valorizar mais a reflexão do que o resultado de cada trabalho.”
(2010, p.1).
A prática da valorização dos saberes do aluno e a busca de alternativas para
o desenvolvimento da autoconfiança pode ser percebido por um aluno da Professora
Maluquinha, quando revisita, através da lembrança, sua sala de aula, e percebe que
todos aprendiam de maneira prazerosa: “Só agora percebemos que, primeiro ela
descobria uma qualidade destacável de um de nós e aí, inventava o concurso, ... No
fim do ano, todo mundo tinha ganho uma medalha. O último, parece, ganhou o
primeiro lugar em cuspe a distância.“ (ZIRALDO 1995, p. 83).
22
Entretanto, é importante ressaltar que penas ter autoconfiança não é a
garantia de bom aproveitamento. No entanto, ela gera a motivação para o estudo, o
que leva ao sucesso da aprendizagem.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A criança ao ser indagada sobre o que fará na escola, prontamente responde:
vou aprender ler e escrever! Carrega consigo uma autoconfiança, demonstra
entusiasmo e credibilidade na sua capacidade e da escola. Enfim, acredita no
sucesso o qual significa prosperidade pessoal, conquista do respeito, da admiração
e da segurança.
O sucesso escolar que pais, professores e principalmente alunos esperam
alcançar
depende,
entre
outros
fatores,
também,
da
autoconfiança.
É
experimentando o sucesso que se abre a porta para a construção do vínculo positivo
com as diferentes áreas da aprendizagem.
Quem trabalha com crianças deve procurar entender e praticar o respeito à
individualidade de cada uma delas, pois nem todas aprendem do mesmo jeito e ao
mesmo tempo, mas todas são capazes de aprender. É preciso que a escola, os pais
e demais pessoas, expressem ao máximo os gestos, as atitudes, as palavras que
reforcem a autoconfiança favorecendo, assim, o sucesso na sala de aula e na vida.
São as pequenas palavras e gestos que podem ser decisivos na vida presente e
futura.
Vale ressaltar que a afetividade, as palavras de estímulo, a alegria e a
amorosidade não excluem a competência técnica e política do educador, não exclui,
a autoridade, a exigência e o compromisso com o ensino.
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O ambiente de aprendizagem deve estar atento às diferenças, ser motivador,
encorajador, estimulador, fazer com que as crianças se desenvolvam guiadas pelo
prazer e pelo desejo de aprender. Esse ambiente deve ter um novo “olhar”, um olhar
psicopedagógico que busca compreender como são utilizados os elementos do
sistema cognitivo e emocional para a aprendizagem, a relação do aluno com o
conhecimento, a qual é permeada pelo professor e pela escola.
Com o surgimento e as contribuições da Psicopedagogia, os conceitos
envolvidos no processo de ensino e de aprendizagem estão sendo reconsiderados.
O Psicopedagogo ajuda a promover mudanças, intervindo nas dificuldades,
trabalhando os equilíbrios/desequilíbrios, resgatando o desejo de aprender, a
autoconfiança que faz com que a pessoa acredite em sua capacidade, acredite em
si mesmo e tenha mais facilidade em demonstrar uma reação positiva diante das
situações do cotidiano. Para tanto, estrutura formas de ação, de intervenções e
orienta o caminho pois compreende o aprendiz de maneira interdisciplinar, apoiado
em diferentes áreas do conhecimento e analisa a aprendizagem no contexto familiar
e escolar, enfocando os aspectos afetivo, cognitivo e biológico.
Dessa forma, o trabalho psicopedagógico preventivo trabalha os elementos
que envolvem a aprendizagem de maneira que os vínculos estabelecidos sejam
sempre bons e a relação entre sujeito e objeto seja construída positivamente para
que o processo ensino-aprendizagem ocorra de maneira saudável e prazerosa.
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