Demências Definição “Síndrome que inclui o prejuízo da memória de curto e de longo prazo, associado à redução da capacidade de pensamento abstrato, de julgamento e a presença de outros distúrbios de funções corticais superiores” (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) A alteração pode ser grave o suficiente para prejudicar a vida profissional e social do indivíduo. Este paciente pode se tornar repetitivo, esquecer compromissos e/ou desorientação temporal. Epidemiologia “Um terço da população idosa morre com algum tipo de demência atualmente na Europa- e os países em desenvolvimento devem seguir este padrão nas próximas décadas.” (Dados divulgados no 18º Congresso Europeu de Psquiatria, em março de 2010) A prevalência dessa síndrome aumenta com a idade. 3-11% em pacientes acima de 65 anos. Um estudo em Catanduva em 1997 mostrou uma prevalência de 7%. A incidência também aumenta com a idade. O estudo de Framingham em 1993 indica uma incidência anual: 65-69 anos 70-74 anos 75-79 anos 80-84 anos 0,7% 2,7% 5,2% 8,1% Etiopatogenia As demências resultam de distúrbios dos circuitos neuronais cerebrais. A quantidade de perda neuronal e a localização irão determinar o distúrbio específico. Os sinais e sintomas e o tratamento dependerão do tipo de demência diagnosticada. Diagnostico Anamnese: Perguntar início, duração e ritmo de evolução da demência. Intoxicação Início agudo ou subagudo delirium Infecção Anormalidade metabólica Idosos com perda de memória progressiva 75% das vezes é Demência de Alzheimer (DA) Alteração de personalidade, desinibição e obsessão alimentar Alucinações visuais, parkinsonismo e delirium História de AVE súbito D. Fronto-temporal D. com Corpúsculos de Lewy D. por múltiplos infartos Progressão rápida associada a rigidez motora e mioclonias D. de Creutzfeldt-Jakob História de múltiplos parceiros sexuais e usuário de drogas D. por HIV TCE D. Pugilística Exame Físico: Rigidez axial, paralisia supranuclear do olhar e manifestação de ELA Síndrome parkinsoniana DCL Distonia e síndrome da mão alienígena Hemiparesia DFT Degeneração Corticobasal (DCB) D. por múltiplos infartos Exames laboratoriais TSH, VitB12, Hemograma completo, eletrólitos e HIV. Neuroimagem TC e RM Transição entre perda cognitiva normal para idade e demência O processo de envelhecimento da população tem relação direta com a saúde pública. Uma de suas principais conseqüências é o aumento da prevalência de demências. A redução da capacidade cognitiva é normal durante o envelhecimento, mas também pode ser um indicador de um processo inicial de demência. Assim, torna-se de demasiada importância a diferenciação entre o declínio cognitivo esperado para a idade a fase de transição para demência. Essa fase transicional é chamada de comprometimento cognitivo leve (CCL). “Sabemos hoje que existe a presença de uma síndrome que leva à doença e é isso que as pesquisas estão focando. Buscamos entender o processo para desenvolver terapêuticas mais eficazes, capazes de mudar a patogenia da demência, atenuar seu processo natural, interrompendo, quem sabe, a evolução.” (Orestes Vicente Forlenza- Psiquiatra) Comprometimento Cognitivo Leve - CCL Definição “Declínio cognitivo maior do que o esperado para idade do individuo e seu nível de escolaridade sem que haja comprometimento de suas atividades cotidianas.” (Conversando com Especialistas|EPA 2010 |Pesquisa Médica |Nº14|Abr/Jun 2010) Comprometimento da memória, preferentemente confirmado por algum informante e pela testagem cognitiva, estando o desempenho nos teste pelo menos 1,5 desvio padrão abaixo da média do grupo controle pareado por idade e nível educacional, e apresentando escore 0,5 na Escala CDR; Preservação das demais funções cognitivas; Desempenho independente nas atividades da vida diária; Ausência de síndrome demencial. Epidemiologia Nos países industrializados a prevalência é de 10-25% entre os maiores de 65 anos. Etiopatogenia Fatores metabólicos e endócrinos envolvidos no CCL: Não modificáveis idade, genética, deficiência de B12 e reposição hormonal acima de 65 de idade. Modificáveis hipertensão, hiperlipidemia, DM, tabagismo, sedentarismo, deficiência de vit D, disfunção tireoidiana e doença renal crônica. A identificação precoce e o tratamento dos fatores reverssíveis é essencial para prevenir a progressão da CCL e a manifestação da demência. Pacientes com DRC têm maior prevalência de doença vascular cerebral subclínica, sendo associada, de acordo com o estudo “Cardiovascular Health Cognition”, a um aumento de 37% de risco para demência. Diagnóstico O ponto de partida é a queixa do paciente ou de alguém que o conheça, mostrando preocupação com seu funcionamento cognitivo. E então, com base na história (preferentemente uma entrevista estruturada) e no exame do estado mental, o clínico deve decidir se o paciente apresenta cognição normal ou demência. Se a cognição estiver alterada, mas não comprometer significativamente as atividades funcionais do dia-a-dia, então os critérios de demência não são satisfeitos, e o diagnóstico mais apropriado é o de CCL. A seguir, a fim de classificar o CCL, o clínico realiza uma testagem neuropsicológica abrangente, que inclua testes de memória episódica, particularmente de aprendizado de lista de palavras. O CCL pode então ser classificado em: a) amnésico puro (CCL-a), se apenas a memória estiver comprometida, com escores abaixo do esperado para a idade do paciente; b) amnésico, de múltiplos domínios (CCL-amd), se houver também déficits leves em outro(s) domínio(s) cognitivo(s); c) não amnésico, de múltiplos domínios (CCL-namd); d) não amnésico, de um único domínio (CCL-naud), manifestando-se, por exemplo, como déficit visuoespacial isolado. Como já ressaltado anteriormente, o valor desta classificação é que ela já fornece pistas etiológicas; Finalmente, a causa ou etiologia subjacente deve ser avaliada com testes e exames laboratoriais, de modo similar a investigação das síndromes demenciais. O consenso recomenda que, em nível primário, o clínico geral deve realizar exames para rastrear doenças sistêmicas como a anemia, hipotiroidismo, deficiências vitamínicas e fatores de risco cerebrovascular como a hipertensão arterial e diabetes (hemograma completo, TSH, B12, ácido fólico, glicose, colesterol e outros pertinentes). Se estes exames não identificam a causa, o paciente é reavalidado periodicamente e, em caso de déficits cognitivos mantidos ou progressivos, ele é encaminhado a um especialista, em nível secundário ou terciário de assistência. O especialista deve solicitar aos pacientes com queixas de memória passarem por exame físico geral e neurológico, testes neuropsicológicos abrangentes e detalhados (para determinação do subtipo de CCL) e exames laboratoriais e de neuroimagem (tomografia computadorizada –TC- ou ressonância magnética – RM- cerebral e tomografia SPECT). Tratamento Tratar a doença sistêmica se existir. No 18º Congresso Europeu de Psquiatria, em março deste ano (2010) o pesquisador Lars Vedel Kessing afirmou que “o uso continuado do lítio está associado com a redução das taxas de demência”. No Brasil, a utlização do lítio no tratamento de CCL na prevenção de demências esta sendo avaliada. “Existe uma série de falhas relacionadas ao conceito: as pessoas diagnosticadas hoje com CCL não têm Alzheimer incipiente, como se imaginava anteriormente. De um grupo de indivíduos diagnosticados com CCL, alguns desenvolverão Alzhzeimer, mas muitos terão outros desfechos“ (Orestes Vicente Forlenza- Psiquiatra) Alzheimer Definição É uma doença degenerativa, progressiva que compromete o cérebro. Leva a perda de memória, dificuldade no raciocínio e alterações comportamentais. Pode se manifestar a partir dos 40 anos de idade, sendo sua incidência muito maior depois dos 60. Epidemiologia Corresponde de 50-60% de todas as demências. Em 2006 o numero de pessoas diagnosticadas com Alzheimer no mundo foi de cerca de 15 milhões. Etiopatologia O único fator de risco conhecido e bem aceito atualmente para a DA é a idade. Assim, fatores genéticos e ambientais combinados podem ser a causa da doença. A história familiar também é um provável fator. Sexo mulheres são mais afetadas Escolaridade quanto maior o índice de escolaridade menor a incidência de Alzheimer O aspecto patológico macroscópico observado na DA é a atrofia. Na microscopia podemos observar a presença de placas neuríticas (ou placas senis), que são acúmulos de proteína β-amielóide. Diagnóstico Anamnese e Exame Físico Ao médico cabe perguntar ao paciente ou acompanhante: A descrição dos primeiros sinais de anormalidade que foram detectados: data, tipo etc. A evolução dessas anormalidades, tempo de duração, ocorrências importantes descrição detalhada das alterações atuais; Doenças pregressas especialmente AVC, cardiopatias, diabetes, depressão e doenças neurológicas; Ocorrências mal definidas do passado: desmaios, convulsões, quedas com contusão craniana, quedas suspeitadas não testemunhadas etc. Medicação utilizada anteriormente, no presente momento e os resultados obtidos. Tem alteração de memória? Mudança brusca de comportamento? Tem problemas de comunicação ou autonomia? Dificuldade de orientação temporo-espacial? Hábitos: fumo, álcool, drogas...? O exame físico pode estar normal no início da doença. Podem estar presentes: Sinais extrapiramidais em cerca de 35% bradcinesia e rigidez Babinski positivo Mioclonias em 7-10% Teste de avaliação cognitiva MEEM e Escala de Blessed Quando o paciente queixa-se de perda de memória e toma a iniciativa de procurar ajuda médica, existe maior possibilidade de estarmos diante de um quadro de depressão. Por outro lado, quando são amigos ou familiares que marcam a consulta, a possibilidade de ser uma doença neurodegenerativa é maior. Uma outra coisa que é observada com freqüência no consultório é que o paciente com doença de Alzheimer, especialmente nas fases iniciais, se esforça para mostrar um bom desempenho nos testes de avaliação cognitiva, enquanto que os portadores de depressão desistem rapidamente e muitas vezes simplesmente dizem que não estão com vontade de fazer o que lhes foi solicitado. Um outro dado comumente observado durante a anamnese é o chamado “sinal de virar a cabeça”. Quando perguntado, por exemplo, quantos filhos têm, os pacientes com DA automaticamente viram a cabeça em direção ao acompanhante e lhes dirigem a mesma pergunta. Imagem TC Uma tomografia normal não exclui definitivamente o diagnóstico de doença de Alzheimer, assim como o diagnóstico de atrofia cerebral não selará o diagnóstico. RM É possível avaliar áreas específicas de importância na doença de Alzheimer como o hipocampo. Esse método é útil na aproximação do diagnóstico clínico, se bem que a perda volumétrica da área hipocampal não seja exclusiva da doença de Alzheimer. PET O vermelho representa a contagem mais alta, depois vem o amarelo, depois o verde. Azul, violeta e preto representam respectivamente os níveis mais baixos de atividade. Normalmente esses traçadores distribuem-se em proporção direta no fluxo sangüíneo ou ao consumo de glicose no cérebro, os quais representam medidas fiéis do funcionamento cerebral regional. Tratamento Melhorar a cognição Terapia colinérgica. Na DA a acetilcolina está reduzida, assim, são usados agonistas colinérgicos ou inibidores colinesterasicos. Deve ser usada nas fases iniciais da doença. Tratamento sintomático Drogas antipsicóticas devem ser usadas em dosagens seguras e suficientes para controlar crises de agressividade e vagância noturna. A escolha da droga vai depender dos efeitos colaterais, histórico da resposta anterior do paciente e também da experiência do médico com o manejo do medicamento. Os ansiolíticos devem ser evitados e de preferência tentar inicialmente abordagens não medicamentosas. Só se essas tentativas fracassam ou não são viáveis deve-se utilizar benzodiazepínicos e de curta ação como o lorazepan (Lorax) por apresentar menos efeitos colaterais. Zyprexa para pacientes com sintoma de alucinações e agitação (os sintomas são bem controlados com doses de 15mg). Para tratar a depressão os inibidores seletivos da recaptação de serotonina são a classe de escolha por apresentarem menos efeitos colaterais; paroxetina (Aropax) , sertralina (Zoloft),citalopran (Cipramil), fluoxetina (Prozac) quando comparados com os tricíclicos que devem ser evitados por seu pronunciado efeito anticolinérgico. Hipótese amielóide Novas drogas estão sendo estudadas para evitar a formação das placas amielóides. São drogas inibidoras de secretases, que são fundamentais na gênese da protenína amielóide. “os cientistas poderão um dia ser capazes de injetar uma substância na corrente sanguínea para extrair o amilóide através do líquido cefalorraquidiano. Isso pode acontecer com ratos – mas nós não sabemos se será possível em humanos”. (diz Marcelle Morrison-Bogorad,PhD., diretor do NIA´s “Neuroscience and Neuropsychology og Aging Program”.) Drogas em teste: AMPALEX A droga modularia os receptores AMPA (receptores de glutamato). ALZHEMED Objetivo: Evitar a formação e o depósito de amilóide. ATORVASTATIN (LÍPITOR) Objetivo: Evitar a formação e o depósito de amilóide. Demência Vascular: Conceito: È uma demência associada á doença vascular, que pode ser dividida em duas categorias: Demência por múltiplos infartos Doença de Binswanger 1) Demência por múltiplos infartos: Etiologia: Indivíduos que tiveram diversos AVE’s podem desenvolver um déficit cognitivo crônico, mais conhecido como demência por múltiplos infartos. Dependendo da extensão desses infartos, diversas regiões do cérebro são comprometidas. A demência ocorre dependendo do volume total de córtex lesionado, sendo mais comum em indivíduos com lesões do hemisfério esquerdo. Os pacientes com demência vascular freqüentemente apresentam fatores de risco como diabetes, hipertensão, hiperlipidemia, tabagismo, coronariopatia e outras manifestações de aterosclerose difusa. Manifestações Clínicas: Pacientes relatam episódios de deterioração neurológica súbita. Ao exame físico observa-se hemiparesia, reflexo de Babinski unilateral, defeito dos campos visuais ou paralisia pseudobulbar. 2) Doença de Binswanger (Doença Difusa da Substância Branca) Etiologia: È uma microangiopatia decorrente de doença oclusiva das pequenas artérias e arteríolas cerebrais penetrantes. Os pacientes com a doença de Binswanger, em geral, mas nem sempre, apresentam hipertensão ou qualquer doença que causa estenose dos pequenos vasos cerebrais Manifestações clínicas: Na doença de Binswanger, a demência tem um início insidioso e lento. Os sintomas iniciais são confusão leve, apatia, alterações de personalidade, depressão, déficit de memória ou da função executiva. Sinais piramidais e cerebelares podem estar presentes no paciente. Pode haver distúrbios de marcha em alguns pacientes. Na doença avançada observa-se incontinência urinária, disartria, convulsões e abalos mioclônicos. Diagnóstico: Na neuroimagem há alterações isquêmicas da substância branca de moderadas a graves, infartos focais, em localizações estratégicas ou em ambos. Os critérios para o diagnóstico de demência vascular incluem: (1) Presença de demência; (2) Presença de doença cérebro vascular tanto pelo exame, quanto pela neuroimagem; (3) Uma possível relação entre ambas. Arteriopatia Cerebral Autossômica Dominante com Infartos Subcorticais e Leucoencefalopatia: È uma forma hereditária dominante da doença de Binswanger, causada por mutações no gene notch 3. È um tipo de demência progressiva que aparece nas quinta e sétima décadas de vida, e que também podem ter um histórico de enxaqueca, AVE e hipertensão. Manifestações Clínicas: Oftalmoplegia, degeneração da retina, surdez, miopatia, neuropatia ou diabetes Diagnóstico: È feito pela biópsia do tecido afetado e pelos valores dos níveis de lactato e piruvato no soro e no LCR que estarão anormais. Tratamento: O tratamento deve ser feito para as causas subjacentes á demência, com anti-hipertensivos, interrupção do tabagismo e anticoagulantes como aspirina, com ou sem dipiridamol, ou clopidogrel para evitar futuros acidentes vasculares. Inibidores da acetilcolinesterase também são usados no tratamento da demência vascular. Doenças Infecciosas - Doenças Relacionadas a Príons Conceito: São transtornos neurodegenerativos raros, que possuem a demência como a principal manifestação clínica. Não há fatores de risco relacionados. Epidemiologia: A incidência da doença priônica mais comum é de 0,5 a 1,5 casos por milhão de habitantes por ano e de menos de uma morte por milhão por ano. Etiologia: Em todos os transtornos priônicos, há uma conversão pós-tradução da proteína priônica celular (PrPc), em uma isoforma anormal (PrPSc). Há diferentes formas de doenças priônicas em seres humanos, que são: Doença de Creutzfeldt-Jakob esporádica e familiar; Doença de Gerstmann-Sträussler-Scheinker ( sendo a esporádica a mais comum); Insônia familiar fatal e Kuru Doença de Creutzfeldt-Jakob: Manifestações Clínicas: Os pacientes podem apresenta ataxia cerebelar, cegueira cortical e amiotrofia. Diagnóstico: Geralmente é feito com idade de 50 a 70 anos. O diagnóstico pode ser feito a partir de ondas periódicas agudas no EEG e sinais piramidais ou extrapiramidais. Há também um conteúdo elevado da proteína 14-3-3 no LCR e alterações do sinal nos gânglios da base em aquisição de imagens por RM. Complexo de Demência Associado ao HIV do Tipo 1: Manifestações Clínicas: Os pacientes apresentam apatia, perda de memória e lentificação cognitiva. Diagnóstico: È feito apartir de características clínicas e testes laboratoriais. Microscopicamente, há atrofia frontotemporal, células gigantes multinucleadas, nódulos microgliais e infiltrados perivasculares. Demência Frontotemporal A DFT manifesta-se principalmente no período pré-senil, entre 45 e 65 anos, sendo os homens os mais afetados. Fator genético A história familiar de demência é observada em metade dos casos, sugerindo importante papel de fatores genéticos no desenvolvimento da DTF. As mutações genéticas mais comuns que causam uma forma autossômica dominante de DFT envolvem os genes tau ou progranulina, ambos no cromossomo 17. A mutação errônea no gene progranulina causa uma incapacidade na produção direta da proteína progranulina. Esta desempenha um papel importante, mas não conhecida anteriormente, na sobrevivência dos neurônios. A mutação deste gene pode tanto se iniciar precocemente (em torno dos 50 anos) ou tardiamente (90 anos). “Quem quer que desenvolva uma mutação no gente pragranulina irá desenvolver DFT em algum momento da vida, se viver tempo suficiente” Manifestações Clínicas A DTF caracteriza-se por significativa alteração da personalidade e do comportamento, com relativa preservação das funções cognitivas praxia, gnosia e memória. As habilidades vísuo-espaciais também se encontram intactas. A linguagem, por sua vez, é progressivamente afetada, podendo ocorrer dificuldades na compreensão e na expressão verbal, com redução da fluência ou mesmo mutismo. Como as alterações comportamentais e da personalidade são bastante significativas, o psiquiatra desempenha papel importante no reconhecimento precoce da DFT. As queixas freqüentemente são trazidas por familiares, pois a maioria dos pacientes ignora suas alterações de personalidade, comportamento e de conduta social. Como a memória encontra-se preservada no início da doença, e a alteração dessa função é requerida para diagnóstico sindrômico de demência, conforme os critérios do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-IV), que privilegiam sobremaneira os déficits cognitivos, o diagnóstico de DFT não é realizado ou é feito tardiamente. Subdivisão do lobo frontal e correlação com os sintomas A divisão funcional do lobo frontal em três áreas distintas – orbital, medial e dorso-lateral –, possibilita uma abordagem explicativa dos sintomas na DFT. O comprometimento orbital estaria associado a desinibição, impulsividade e comportamentos anti-sociais e estereotipados. Os comportamentos estereotipados ou ritualísticos podem assumir diferentes formas, desde estereotipias motoras e verbais simples, como repetir freqüentemente gestos e palavras, até rotinas complexas, que incluem mudança dos hábitos alimentares, com aumento da ingestão oral e preferência por alimentos doces. O comprometimento fronto-medial correlaciona-se com apatia, passividade, perda da motivação e tendência a isolamento social. Sintomas depressivos podem estar presentes. O comprometimento dorso-lateral correlaciona-se com disfunções executivas. Conforme o predomínio do comprometimento das áreas frontais pelo processo degenerativo focal, poderiam surgir diferentes tipos clínicos da DFT, a saber, desinibido, apático e estereotípico. Contudo, na prática, há grande superposição entre essas subsíndromes clínicas. Por exemplo, Caixeta & Nitrini, estudando 10 casos de DFT, observaram comportamento repetitivo ou estereotipado em todos eles, com predominância de desinibição em seis e apatia em quatro pacientes. Exames diagnósticos Os exames de neuroimagem tendem a mostrar atrofia dos lobos fronto-temporais. Entretanto, nas fases iniciais da DFT, essas alterações estruturais podem não ser evidentes. Nesses casos, a tomografia por emissão de fóton único (SPECT) pode revelar hipoperfusão nas áreas frontais (principalmente ventromedial) e/ou temporais (principalmente ântero-lateral), sendo exame mais sensível para auxiliar o diagnóstico de DFT. Ressonância magnética cerebral em um dos pacientescom demência frontotemporal (JL). Nas imagens observa-se umaatrofia frontotemporal de predomínio direito. SPECT cerebral em um dos pacientes com DFT (LJ).Nas imagens observa-se uma hipoperfusão frontotemporal bilateral de predomínio direito Diagnóstico Diferencial de DTF Como comentado previamente, além da DFT, que representa mais de 70% dos casos, duas outras condições clínicas constituem manifestações da degeneração lobar frontotemporal. A primeira seria a demência semântica, também denominada variante temporal da DFT, responsável por cerca de 15% dos casos. Na demência semântica, os pacientes apresentam progressivo comprometimento da compreensão verbal e do reconhecimento de objetos e pessoas (agnosia), com grande dificuldade para nomeá-los. Entretanto, a estrutura gramatical e fonológica do discurso dos pacientes permanece intacta. As alterações comportamentais tendem a ser bem menos proeminentes do que na DFT. A outra manifestação da degeneração lobar frontotemporal seria a afasia progressiva nãofluente, marcada pela redução progressiva da fluência verbal, discurso com erros fonológicos e sintáticos e anomia. Nesse caso, as alterações comportamentais são também menos intensas. O principal diagnóstico diferencial da DFT é com a DA(Doença de Alzheimer), responsável por mais da metade dos casos de demência. Os pacientes com DA buscam atenção médica com queixas de alterações da memória, de funções vísuoespaciais ou outras funções cognitivas18. As alterações comportamentais e/ou da personalidade ocorrem mais tardiamente. Nos pacientes com DFT, as modificações comportamentais são precoces, enquanto as funções cognitivas são relativamente preservadas nas fases iniciais da doença. O diagnóstico diferencial com a DV(Demência Vascular), que também pode afetar estruturas frontotemporais, baseia-se na história (instalação súbita e curso flutuante, presença de fatores de risco vasculares ou passado de acidentes vasculares encefálicos) e nos exames clínico (presença de sinais motores focais) e de neuroimagem (infartos únicos ou múltiplos, alteração difusa da substância branca). Do ponto de vista neuropsicológico, os pacientes com DV exibem predominantemente padrão subcortical de demência, caracterizado por déficits de funções executivas, que incluem planejamento de atos e pensamentos, autoregulação e flexibilidade mental. Terapêutica farmacológica da DFT A abordagem terapêutica atual das doenças neurodegenerativas baseia-se essencialmente na estratégia de reposição de neurotransmissores. Ao contrário do que ocorre em outras demências primárias, como na DA e na demência com corpos de Lewy, estudos neuroquímicos não evidenciaram alterações do sistema colinérgico na DFT. Assim, os inibidores da acetilcolinesterase empregados no tratamento dessas demências primárias não beneficiam os pacientes com DFT. Alterações no sistema serotoninérgico são encontradas em diferentes condições clínicas que manifestam apatia/depressão ou desinibição/impulsividade. Déficits serotoninérgicos foram também encontrados em pacientes com DFT, em que esses transtornos comportamentais são marcantes. É interessante notar que estudos sobre a modulação serotoninérgica na função do córtex pré-frontal indicam que este neurotransmissor afeta de modo seletivo as tarefas relacionadas à parte órbito-frontal, como a tarefa de tomada de decisões e a tarefa de aprendizagem reversa, que são também aquelas nas quais os pacientes com DFT mostraram prejuízo mais significativo. Uma série de estudos abertos demonstrou eficácia terapêutica de drogas serotoninérgicas, notadamente os inibidores seletivos da recaptação de serotonina(PAROXETINA), no controle dos sintomas comportamentais da DFT. Foi demonstrado que os inibidores seletivos da recaptação de serotonina afetam a função serotoninérgica no córtex pré-frontal orbital após 8 semanas de uso. O papel de disfunção dopaminérgica na DFT é controverso, uma vez que existem tanto resultados positivos como negativos. Distúrbios do comportamento, especialmente desinibição e agressividade, que expõem o paciente ou seus cuidadores a riscos, podem ser controlados com antagonistas dopaminérgicos ou antipsicóticos. Nesse caso, a tendência atual é a de se empregar preferencialmente os antipsicóticos atípicos. Há a proposta de que mesmo os agonistas dopaminérgicos, como a bromocriptina, possam melhorar certas dimensões do funcionamento cognitivo frontal. Ressalta-se, entretanto, que a dopamina relaciona-se, sobretudo, com a modulação de funções executivas, como memória de trabalho, planejamento e controle da atenção, e com a porção dorso-lateral do córtex pré-frontal, que estão menos implicadas na DFT, podendo ser afetadas mais tardiamente na evolução da doença. Assim, são necessários mais estudos sistemáticos para a demonstração do benefício terapêutico das drogas de ação dopaminérgica na DFT. Em termos de abordagem terapêutica dirigida especificamente ao processo fisiopatológico subjacente à DFT, intervenções que inibam a agregação da proteína tau podem ser promissoras no futuro. É importante ressaltar que a agregação patológica da proteína tau parece relacionar-se à patogênese de várias doenças neurodegenerativas,denominadas genericamente de taupatias, que incluem DA, DFT, degeneração córtico-basal e paralisia supranuclear progressiva. Caso Clínico Ilustrativo e Discussão Trata-se do paciente A., 56 anos, sexo masculino, casado, engenheiro aposentado. O paciente foi encaminhado com história de depressão há 2 anos, sem melhora clínica com o tratamento antidepressivo com tricíclicos e inibidores seletivos da recaptação de serotonina. Segundo o paciente, desde a aposentadoria, há cerca de 2 anos, apresentava-se desanimado, sem interesse em participar de qualquer atividade laborativa ou lúdica, tendendo a isolar-se socialmente. Negava, contudo, sentimentos de tristeza, idéias negativistas ou de morte. Mesmo com os tratamentos antidepressivos empregados, negava melhora clínica. Segundo a esposa, além desses sintomas, A. passou a exibir comportamento desinibido em ambiente social, marcado principalmente por jocosidade dirigida mesmo a pessoas nãofamiliares. Isso freqüentemente gerava situações constrangedoras, que A. não reconhecia como tal, representando uma significativa mudança da personalidade do paciente, que sempre fora discreto e tímido. A. também modificou os hábitos alimentares, aumentando o consumo de água e preferindo alimentos adocicados. Repetidamente, empregava palavras e gestos estereotipados, como ficar batendo os dedos na mesa. A história médica pregressa e a história familiar do paciente não eram relevantes. O exame clínico-neurológico não evidenciou sinais neurológicos focais, sendo que, no teste de triagem cognitiva – o Mini-Exame do Estado Mental–, A. executou adequadamente todas as tarefas, pontuando o escore total. Desempenhou corretamente também o teste do relógio. O paciente desenvolvia invariavelmente um discurso prolixo, mas com idéias lógicas, tendendo a minimizar as alterações comportamentais referidas pela esposa. Algumas vezes, mostrava-se mais desinibido, ironizando sua condição. De nota, A. sempre trazia consigo um copo plástico com água, que freqüentemente levava à boca, justificando que “tinha muita sede”. Os exames de triagem hematológica, bioquímica e sorológica não mostraram alterações. A testagem neuropsicológica, incluindo avaliações de inteligência geral, linguagem, memória, habilidades vísuoconstrutivas e funções executivas, mostrou desempenho fraco do paciente apenas em relação a funções executivas e na tarefa de tomada de decisões. A ressonância magnética do encéfalo evidenciou hipotrofia dos lobos frontais e temporais bilateralmente. SPECT revelou hipoperfusão fronto-temporal. O caso relatado ilustra o desenvolvimento da DFT, em que sintomas de apatia e retração social podem sugerir, inicialmente, uma síndrome depressiva. Entretanto, a presença de alterações marcantes da personalidade – no caso, sob a forma de desinibição –, associada à falta de crítica, indica inequivocamente processo demencial. A ocorrência de comportamentos estereotipados e hiperoralidade reforça a hipótese de comprometimento fronto-temporal. O Mini-Exame do Estado Mental e o teste do relógio não são capazes de identificar precocemente os casos de DFT10. Nesse sentido, foi realizada avaliação neuropsicológica pormenorizada, que mostrou prejuízo em testes de avaliação das funções dos lobos frontais, principalmente das regiões órbitofrontal (tomada de decisões) e dorso-lateral (disfunção executiva), e preservação das demais funções cognitivas. Os exames de neuroimagem corroboraram o diagnóstico de DFT ao demonstrarem comprometimento fronto-temporal. Em relação à terapêutica, o emprego de diferentes antidepressivos, incluindo os inibidores seletivos da recaptação de serotonina, não foi eficaz no controle dos sintomas de apatia ou desinibição exibidos pelo paciente, salientando a dificuldade de abordagem farmacológica na DFT. Conclusão Na DFT, há marcante alteração do comportamento e da personalidade do paciente, com relativa preservação das funções cognitivas tradicionalmente avaliadas para o diagnóstico de demência, sobretudo a memória. Assim, o psiquiatra tem importante papel no reconhecimento dessa forma de demência. No atendimento de indivíduos no período pré-senil com alterações comportamentais ou com síndromes depressivas de instalação recente, deve estar atento, portanto, ao diagnóstico de DFT. Diagnóstico Diferencial das Demências Nem todos os doentes com queixas de perda de memória têm demência. Alguns não têm mesmo perda de memória enquanto outros apenas têm um déficit ligeiro insuficiente para o diagnóstico de demência. Várias situações podem cursar com perda de memória ou déficits cognitivos. As doenças que causam dificuldades de memória em idosos, freqüentemente negligenciadas pelas equipes nos estabelecimentos de saúde, têm diagnóstico diferencial firmado pela avaliação neuropsicológica, favorecendo a detecção precoce, acompanhamento e tratamento dos transtornos cognitivos. “No contexto brasileiro de um ambulatório de Psiquiatria Geriátrica, 72,4% dos indivíduos que se queixaram de problemas de memória tinham efetivamente um diagnóstico de demência” Revista da Associação Médica Brasileira 1. Depressão “Déficits de memória estão muitas vezes associados à depressão major no idoso.” Introdução Demência e depressão são os transtornos neuropsiquiátricos mais comuns em idosos. A demência afeta cerca de 5% dos idosos aos 65 anos de idade e cerca de 20% daqueles com 80 anos ou mais. Recente estudo mostrou que, no Brasil, a incidência de demência em idosos residentes na comunidade alcança a taxa de 13,8 por 1000 habitantes/ ano, sendo que para Doença de Alzheimer (DA) o índice é de 7,7. O diagnóstico diferencial entre demência e depressão é freqüentemente difícil e nem sempre excludente, o que evidencia a necessidade da utilização de instrumentos que permitam, por meio da avaliação do estado cognitivo, distinguir melhor ambas as condições. A depressão e a demência constituem duas das enfermidades mais prevalentes em psicogeriatria. Com freqüência se associam, ou mesmo uma pode simular a outra, o que ocasiona dificuldades diagnósticas. A realização da avaliação cognitiva pode ser um instrumento útil na avaliação global do paciente idoso, permitindo ao clínico geral, psiquiatra, neurologista ou geriatra obter informações que subsidiem tanto o diagnóstico etiológico do quadro em questão quanto o planejamento e execução das medidas terapêuticas e de reabilitação a serem realizadas em cada caso. Sintomas principais Tristeza persistente Distúrbios do sono e apetite Perda de energia, anedonia Lentificação psicomotora Sentimento de culpa e pensamentos recorrentes sobre a morte Perda ou ganho acentuado de peso, na ausência de controle alimentar Depressão concomitante à demência: há sobreposição de sintomas Isolamento social Perda do interesse ou do prazer Alteração do apetite Alteração do ciclo sono/vigília Habilidade reduzida para pensar ou para se concentrar Tanto a depressão quanto a demência causam lentificação psíquica, apatia, irritabilidade, descuido pessoal, dificuldades com concentração e memória, e mudanças no comportamento e personalidade. Além disto, a depressão pode ser um sintoma da demência e, não raramente, ambas as situações coexistem (Raskind, 1998). Depressão x Demência: outro ponto de vista “Depressão geriátrica com déficits cognitivos transitórios frequentemente evolui para demência poucos anos depois” Yaffe ET AL, 1999; Chen ET AL, 1999 Depressão é um fator de risco independente para a demência. História de demência em algum momento da vida aumenta o risco de DA. “A inflamação do tecido cerebral, que ocorre quando uma pessoa está deprimida, pode contribuir para a demência. Certas proteínas encontradas que aumentam com a depressão também podem ser responsáveis pelo desenvolvimento da doença”, disse Jane Saczynski, da Universidade de Massachusetts Características Clínicas Diferenciais Delirium Demência Depressão Sem mudanças, apresenta falta de interesse ATENÇÃO Dificuldade em manter Distrai-se com facilidade NÍVEL DE CONSCIÊNCIA Alterado.Diminuído Sem mudanças Sem mudanças HUMOR Sem mudanças Geralmente Deprimido, Ansioso Geralmente Deprimido, Ansioso INÍCIO Normalmente abrupto Lento, Gradual Rápido, semanas CURSO Flutuante Declínio Progressivo Declínio Rápido Desorganizado, Lento Capacidade de julgamento prejudicada. Negativos, Possível Embotados afasia, agnosia e apraxia Recente normalmente preservada Prejuízo progressivo da recente até a de longo prazo. Dificuldade de Aprendizado PENSAMENTO MEMÓRIA Queixa de prejuízo maior que a realidade Ilusões. Ilusões. Alucinações visuais Possíveis e táteis. alucinações Nenhuma PERSONALIDADE Sem alterações Alterada. Acentuação do perfil negativo anterior Irritadiço CICLO SONOVIGÍLIA Marcadamente alterado Sem alterações importantes. Pode apresentar irritação por cansaço ou sono. Alterado. Insônia. Acorda com freqüência. Piora pela manhã. Agitação. Inquietude Vagância com ansiedade Diminuída quando necessita de algo MUDANÇAS NA PERCEPÇÃO ATIVIDADE PISCOMOTORA Observações Finais A presença de depressão diminui a validade preditiva das queixas de memória quanto ao diagnóstico de demência. Idosos com prejuízo cognitivo podem melhorar seu desempenho em seguida ao tratamento com antidepressivos, particularmente na memória e funções executivas sem, contudo, alcançar níveis normais em domínios específicos. Como a depressão com déficits cognitivos pode predizer o desenvolvimento de demência, é importante o seguimento destes pacientes para avaliar a eficácia do tratamento e impedir a progressão dos déficits. 2. Delírio O delírio ou estado confusional agudo é outra patologia que é comum no idoso. De acordo com a DSM-IV, o delírio requer: Disturbios da consciência com redução da capacidade de focar, reter ou mudar de assunto; Alteração da cognição com déficits de memória, desorientação e distúrbios da linguagem ou desenvolvimento de distúrbios da percepção; Desenvolvimento num curto período de tempo e com flutuações diárias. Delírios, alucinações e discurso incoerente podem estar presentes, o ciclo do sono está muitas vezes alterado e a atividade psicomotora está diminuída ou aumentada. O delírio está associado a várias doenças sistêmicas, infecções e distúrbios tóxicos e metabólicos Os doentes hospitalizados em geral e os doentes cirúrgicos em particular, têm mais propensão para desenvolver delirium. Dados que permitem diferenciá-lo da demência incluem o início rápido, a curta duração e os distúrbios da consciência que flutua entre a agitação e a letargia. É importante reconhecer que doentes com demência tem risco aumentado para o delírio e que o delírio e a demência podem coexistir. Referências Bibliográficas Sites: http://rnp.fmrp.usp.br/aulas/Francisco/CCLProgressaoparaDA2007mi21.pdf http://www.scielo.br/pdf/rbp/v27n1/23718.pdf http://www.idosos.com.br/doencasccl.htm http://www.alzheimermed.com.br/m3.asp?cod_pagina=1051 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010442302006000600018&lng=pt&nrm=iso Livros: MERRITT / TRATADO DE NEUROLOGIA - 11ª EDIÇÃO LEWIS P. ROWLAND Cecil - Tratado de Medicina Interna; Elsevier Harrison Medicina Interna – 2º Volume - Fauci, Braunwald, Kasper, Hauser, Longo, Jameson e Loscalzo