MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira 28a SEMANA DO FAZENDEIRO Agenda 5 a 8 de junho de 2006 Caderno I EMARC - URUÇUCA Editor: Miguel Antonio Moreno-Ruiz Editoras Assistentes: Jacqueline C.C. do Amaral e Selenê Cristina Badaró Editoração eletrônica: Jacqueline C.C. do Amaral e Selenê Cristina Badaró Endereço para correspondência: SIDOC/CEPEC/CEPLAC Caixa Postal 07, 45600-970, Itabuna, Bahia, Brasil Telefone: (73) 3214 -3217 Fax: (73) 3214 - 3218 E-mail: [email protected] Tiragem: 3000 exemplares Endereço para correspondência: CEPLAC/CENEX/EMARC Rua Dr. João Nascimento, s/n 45680-000 Uruçuca, Bahia, Brasil Telefone: (73) 3239 -2121 Fax: (73) 3239 - 2221 633.74063 S471 2006 SEMANA DO FAZENDEIRO, 28a, Uruçuca, 2006. Agenda. Uruçuca, CEPLAC/CENEX/EMARC. 426p. 2 vols. 1. Theobroma cacao - Encontro. 2. Agricultura - Encontro. 3. Pecuária - Encontro. I. Título APRESENT AÇÃO APRESENTAÇÃO Durante o período de 05 a 08 de junho de 2006, a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira - CEPLAC promoverá na Escola Média de Agropecuária Regional da CEPLAC-EMARC, em Uruçuca, Bahia, a 28ª Semana do Fazendeiro. Durante o evento serão apresentados e discutidos temas técnico-científicos relevantes para a agropecuária sustentável da região sul da Bahia. Estima-se a presença de 5.000 pessoas. A Semana do Fazendeiro emergiu para o cenário da agropecuária baiana, nas regiões de atuação da CEPLAC, no transcurso dos anos 60. Trata-se de um evento voltado para o debate das questões atinentes à dinamização das atividades agro econômicas, mais especificamente nos aspectos das políticas: social, econômica, tecnológica e ambiental. Desde quando se realizam estes encontros constata-se a aplicação do princípio da articulação e interação entre agricultores, trabalhadores, pesquisadores, extensionistas e empresários vinculados às áreas afins, conjunto que responde pela cristalização das idéias, concepções, conhecimentos e experiências explicitadas nas palestras e reuniões que integram o conclave.Ressaltase que as temáticas em discussão sintonizam com as expectativas do público alvo, abordando assuntos pertinentes a agroecologia, relações de intercâmbio e trabalho, recursos naturais renováveis, aspectos tecnológicos (cacauicultura, apicultura, clonagem, palmiteiros, piscicultura, bovinocultura e outros), administração rural, política de crédito, desenvolvimento sustentável e agroindustrialização. O evento tem como tema: "ESTIMULAR O AGRONEGÓCIO COM RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL", propondo promover o debate entre os atores dos meios de produção dos agrossistemas do Sul da Bahia. Além desta vertente, buscar, indicar soluções para os graves problemas que afligem ou conturbam o ambiente de atuação dos produtores.Por fim, promover a revisão e adoção de atitudes que resultem na construção do desenvolvimento agrossilvopastoril em bases sustentáveis, centrado nos princípios que norteiam as relações: homem, trabalho e natureza. Tais premissas pressupõem a inclusão social, geração de emprego e renda, redução das desigualdades, segurança alimentar, resgate da cidadania e fortalecimento da democracia. Comissâo Organizadora OBJETIV OS OBJETIVOS ♦ Promover o fortalecimento do associativismo e cooperativismo; ♦ Agregar valor ao agronegócio com responsabilidade sócioambiental; ♦ Difusão de tecnologias para o agronegócio do cacau e outros sistemas agroflorestais; ♦ Integrar os agentes da cadeia produtiva regional, visando o fortalecimento do produtor; ♦ Apresentar as vantagens da agroindustrialização como suporte para a diversificação agropecuária; ♦ Incentivar o desenvolvimento da verticalização da produção como agregadora de valor (renda) ao setor primário; ♦ Debater as novas técnicas de enxertia e manejo integrado de cacaueiros clonados que devem ser adotados; ♦ Discutir e recomendar a diversificação agropecuária como atividade lucrativa e alternativa para a região cacaueira; ♦ Promover a integração e intercâmbio entre produtores rurais, expositores, estudantes, agroindústrias, técnicos e demais participantes; ♦ Difundir modelos de agricultura sustentável e estimular a utilização correta dos recursos naturais renováveis, através do entendimento da importância destes fatores para a vida em equilíbrio. 6 Índice Adoção do sistema agroflorestal cacau x seringueira - melhoria de condições de cultivo e agregação de valores Cultivo e controle de pragas e doenças do coqueiro Produção de frutos de açaí, juçara e pupunha Criação racional de suínos produção de mudas: frutíferas e flores tropicais fabricação artesanal de licor, chocolate e seus derivados fertilização do cacaueiro Importância dos sistemas agroflorestais para a sustentabilidade dos biomas tropicais desenvolvimento sustentável através da ovinocaprinocultura plantio de mudas de cacaueiros clonados por estaquia poda de cacaueiro clonado por estaquia farinha de rochas para os cultivos orgânicos ou não criação de frango e galinha caipira doenças mais importantes do cacaueiro beneficiamento da mandioca e agregação de valor aos seus derivados paisagismo e jardinagem o dendezeiro como cultura energética para os trópicos úmidos criação de avestruz Apicultura comercial no sul da Bahia Criação racional de peixes Territórios rurais como unidade de planelamento das políticas públicas Programa nacional de fortalecimento da agricultura familiar - PRONAF Desenvolvimento tecnológico para o cultivo da cajazeira Biocaldas para agricultores de baixa renda Manejo estratégico da pastagem e o sucesso do agronegócio de carne e leite O agronegócio borracha como alternativa ao desenvolvimento do sul da Bahia Associação e cooperativa de produtores rurais Produção e comercialização de palmito de pupunha (Bactris gasipaes kunth) in natura no sistema de integração da inaceres agrícola 7 9 10 24 33 41 54 62 64 74 84 90 94 103 113 122 124 129 133 144 147 161 172 179 182 192 205 221 223 Conceitos e aspectos legais sobre áreas de preservação permanente Conservação do solo e da água na região Cacaueira da Bahia Cultivo de flores tropicais na região Sul da Bahia A obtenção de bezerros de boa qualidade e a produção de leite O agropolo vale do rio das contas no estado da bahia como instrumento de desenvolvimento regional Agricultura de baixo uso de insumos externos e agroecologia Agroindústria como alternativa de agregação de valores Construção com solo cimento Compostagem de resíduos orgânicos Cultivo da graviola Controle de pragas e doenças da gravioleira Turismo sustentável como negócio Ecoturismo: Planejamento para a sustentabilidade Pronaf, sistemas agroflorestais e desenvolvimento sustentável no baixo Sul da Bahia A piaçava do litoral da Bahia Qualidade e beneficiamento do cacau Controle biológico de doenças do cacaueiro Produção orgânica de leite no Sul da Bahia Fitoterapia Ecoturismo e o direito ambiental: Um olhar de articulação municipal Administração rural e os testes de competência administrativa Manejo do rebanho bubalino para produção de leite Curso de horticultura Pragas e doenças da seringueira Agronegócio dendê - uma potencialidade para o baixo sul Baixa produtividade em áreas com cacaueiros clonados - causasalgumas recomendações para solucionar o problema Vassoura-de-bruxa, evolução do fungo e necesidade de remoção das partes afetadas em clones resistentes 8 243 251 258 267 274 281 287 289 295 303 307 312 315 324 334 343 347 354 365 371 381 389 396 403 411 417 423 ADOÇÃO DO SISTEMA AGROFLORESTAL CACAU X SERINGUEIRA - MELHORIA DE CONDIÇÕES DE CULTIVO E AGREGAÇÃO DE VALORES José Raimundo Bonadie Marques Wilson Reis Monteiro CENÁRIO ATUAL DA REGIÃO CACAUEIRA BAIANA Várias culturas perenes há muito tempo vêm sendo exploradas em monocultura no sudeste baiano, o que trouxe inicialmente grandes vantagens dadas as facilidades do manejo da própria cultura em extensas áreas, proporcionando, assim, um sistema voltado à obtenção de altas produções com lucros substanciais. Todavia, este sistema é muito frágil podendo, inclusive comprometer a viabilidade dos agronegócios. Inúmeros fatores podem ser apontados, como por exemplo, o custo inicial de manutenção de certos cultivos até a sua entrada em produção, a concorrência entre plantas, a extensão de áreas ocupadas com baixa densidade de plantas e a suscetibilidade a instabilidades ambientais, biológicas e econômicas. Esses fatores, geralmente, elevam o custo de produção, tornando o agronegócio pouco competitivo, especialmente em ocasiões de crise, como as provocadas pela escassez de crédito, aumento da oferta do produto no mercado interno e mundial, aumento do custo dos insumos e da mão-de-obra e queda de preço do produto e da produtividade. A economia regional está fortemente alicerçada na cultura do cacau que nos últimos anos vem atravessando uma crise sem precedentes em razão dos problemas anteriormente mencionados. A incidência e severidade das enfermidades como a vassoura-de-bruxa veio agravar mais ainda a economia local. Soma-se a isto os problemas fitossanitáros relacionados às outras culturas como, por exemplo, o mal-das-folhas na seringueira e o Engenheiro Agrônomo, M Sc – Genética e Biologia Molecular. CEPLAC/CEPEC/SEGEN – Laboratório de Biotecnologia. Cx. Postal 7 – 45600-970 – Itabuna (BA). 9 anel vermelho nas palmáceas. Tudo isto tem concorrido para o empobrecimento geral e progressivo, levando os produtores à exploração ilegal e irracional de espécies mais nobres e de grande importância para o ecossistema Mata Atlântica, comprometendo seriamente este ecossistema. A fragilidade da monocultura evidencia a necessidade de implementação de estratégias mais eficazes, capazes de promover meios para o desenvolvimento de uma agricultura mais rentável, ambientalmente correta e geradora de empregos, com vistas ao fortalecimento dos agronegócios. Entre outras iniciativas, os sistemas agroflorestais (SAF) envolvendo o cacaueiro e a seringueira, despontam como uma das opções viáveis para promover o desenvolvimento sustentável que a região tanto necessita. Por isso, tem-se recomendado a inclusão da outras espécies arbóreas de valor econômico como sombreamento permanente dos cacaueiros, especialmente em substituição das eritrinas, aproveitando a ocasião em que um programa de renovação da lavoura está em curso. Os dados estatísticos do CENEX/CEPLAC mostram que dos 660 mil hectares de cacau da região 200 mil foram sombreados com eritrina e espécies afins, o que representa uma área bastante expressiva, devendo, assim, ser levada em consideração. O QUE CREDENCIA A RECOMENDAÇÃO DA SERINGUEIRA COMO ÁRVORE DE SOMBRA PARA O CACAU. Há experiências locais positivas com a introdução de cacaueiros sob seringais adultos. Estes seringais, na sua grande maioria, apresentavam baixa densidade de plantas em decorrência do manejo inadequado e/ou ataques severos de doenças foliares como o mal-das-folhas e a requeima (Marques e Monteiro, 2003) e, conseqüentemente, baixa produtividade. Nestas situações, a consorciação trouxe benefícios para as duas culturas, traduzidos em maior produção, redução das perdas relacionadas à incidência de doenças, melhoria das propriedades do solo e de sua conservação, além de proporcionar maior receita e uso racional da mãode-obra (Alvim, 1989). Esta prática está sendo cada vez mais adotada por heveicultores baianos, estimando-se, atualmente, algo em torno de 8.000 hectares implantados neste sistema. Em condições de cultivo é bom ressaltar que a seringueira pode atingir uma altura de até 25 metros e é normalmente plantada em espaçamentos 10 maiores, ocupando extensas faixas livres de terra que poderiam ser aproveitadas economicamente. Também, existem clones de seringueira que apresentam características que favorece a sua utilização como árvore de sombra para o cacaueiro, que por ser uma espécie de sub-bosque, normalmente o seu cultivo requer um sombreamento de qualidade indispensáveis ao crescimento, desenvolvimento e produção das plantas. Todavia, a adequação deste sistema agroflorestal é imprescindível para o sucesso do empreendimento, devendo-se observar uma combinação de fatores tais como: a escolha das variedades clonais, o manejo cultural, o dispositivo dos plantios e a densidade de plantas. DISPOSITIVOS DE PLANTIO E VARIEDADES CLONAIS Arranjos de plantio vêm sendo desenvolvidos e testados pela CEPLAC para o plantio simultâneo de ambas as culturas e para a substituição por seringueiras do sombreamento permanente formado por eritrinas (Marques et al., 2004). Nesta última situação propõem-se alternativas de espaçamentos em que a densidade de plantas varie conforme a topografia do terreno e o tamanho da área (Tabela 1). Maiores rendimentos podem ser esperados considerando ajustes no manejo cultural e, mais precisamente, da variedade clonal a ser utilizada como árvore de sombra, de maneira que não apresentem competição entre si, o que certamente inviabilizaria tecnicamente a adoção desse sistema agroflorestal. Tabela 1 – Dispositivo de plantio da seringueira em linhas simples e renques duplos. Espaçamento da seringueira Plantas/ hectare Espaçamento da seringueira Plantas/ hectare 9,0 m x 2,5 m 444 9,0 m x 3,0 m 370 12,0 m x 2,5 m 333 12,0 m x 3,0 m 277 15,0 m x 2,5 m 267 15,0 m x 3,0 m 222 *15 m x 3,0 m x 2,5 m 444 *15 m x 3,0 m x 2,5 m 370 * Apenas neste espaçamento em renques duplos há redução do estande de cacaueiros para 780 plantas/hectare, nos demais será mantida a mesma densidade de 1111 plantas/ hectare. 11 Os clones de seringueira devem apresentar características agronômicas importantes tais como: precocidade, alta produção de borracha, resistência a doenças foliares, arquitetura adequada de copa e baixa densidade foliar o que proporcionaria um sombreamento mais adequado e de qualidade para o cacaueiro. Os clones da série SIAL (893, 839, 931 e 1005) reúnem todas estas características e, por isso, estão sendo indicados para a substituição das eritrinas. Dentre estes, o SIAL 1005 tem apresentado um crescimento excepcional com uma taxa média anual de 9,0 cm e uma boa formação de fuste, o que permite o aproveitamento da sua madeira após a exploração do ciclo econômico da borracha. CUIDADOS, VANTAGENS E POTENCIALIDADES DA SUBSTITUIÇÃO A CEPLAC está tendo o cuidado de recomendar este modelo somente para aquelas áreas em que não há impedimentos físicos à consorciação e que apresentem solos profundos e bem drenados. Chama a atenção também para o fato de que, até atingirem a maturidade produtiva, as duas culturas requerem cuidados técnicos e maior aporte de recursos financeiros. Para amortizar os custos nos anos iniciais recomenda-se também que se faça a intercalação com outras culturas de ciclo curto e/ ou semiperene, especialmente quando se trata de agricultores de baixa renda. Na fase produtiva do seringal, cuidado especial deve ser dispensado no tratamento preventivo de doenças fúngicas que ocorrem no painel, pois ambos as culturas são suscetíveis ao ataque de Phytophthora sp, principalmente em períodos de alta umidade relativa do ar. As vantagens agronômicas que este sistema oferece são: Fixação do homem e de sua família no campo – as duas atividades são de longo ciclo de exploração econômica e demandam trabalhos contínuos; Tratos culturais – aqueles normalmente dispensados aos cacaueiros atendem plenamente às necessidades fisiológicas de ambas as culturas; Flexibilidade da comercialização - os dois produtos podem ser comercializados em épocas mais favoráveis e durante todo o ano; Melhorias nas condições ambientais – promove melhorias nas propriedades físicas do solo, maior reciclagem de nutrientes e, ainda, possibilita o desenvolvimento de um microclima mais favorável à proliferação de polinizadores naturais, a microfauna do solo. Evita desmatamentos - a 12 adoção desse sistema não implica na incorporação de novas áreas ao processo de produção, causando assim menor pressão ambiental, o que o torna mais atrativo sobre aspectos prático, econômico, social e, mais especificamente, ecológico. A potencialidade do sistema reside na sua capacidade de promover todas as melhorias possíveis a um custo extremamente reduzido que corresponde, no máximo, até 30% a mais do custo da implantação do cacau solteiro, pois implica apenas no pagamento das despesas extras com a mão-de-obra para derruba e retiradas das árvores de sombra (eritrinas), balizamento, abertura de covas e plantio e na aquisição e/ou produção de mudas enxertadas. O produtor poderá, ainda, amortizar os gastos extras pela comercialização da madeira proveniente das árvores de sombra retiradas, o que na região já vem sendo feito para diversos fins. Além disso, este sistema está ecologicamente correto, pois a substituição das eritrinas por seringueiras em áreas de cacau, especialmente onde há irregularidades no sombreamento, não causará qualquer impacto ambiental, pelo fato de ser uma espécie exótica ao ecossistema cacaueiro. Tampouco comprometerá a sua preservação, já que a sua substituição só será feita em até 40% da área total. REPERCUSSÃO DA SUBSTITUIÇÃO Estima-se um déficit da ordem de três milhões de toneladas de borracha para atender à crescente demanda mundial na segunda década do século XXI. Este cenário abre amplas perspectivas para a expansão da heveicultura nacional. E dentre as regiões produtoras, o sudeste baiano oferece as melhores condições para a expansão desses agronegócios, o que certamente colocará o país numa posição de destaque internacional dessas duas commodities, simplesmente pela ampliação da área plantada com seringueiras em sobreposição às áreas de cultivo com cacau. Se ações governamentais forem implementadas desde então, espera-se que, nos próximos 10 anos, haja um aumento real de produção de borracha de três a quatro vezes maior que a atual. Igualmente esperam-se aumentos significativos em produção e produtividade de cacau, apenas com a melhoria da qualidade do sombreamento, associada à renovação das lavouras de cacau por variedades mais produtivas e resistentes a doenças e à recomposição do estande. 13 LITERATURA CONSULTADA ALVIM, R. 1989. O cacaueiro ( Theobroma cacao L.) em sistemas agrossilviculturais. Agrotrópica 1(2): 89-103. MARQUES, J.R.B e MONTEIRO, W.R. 2003. Substituição da Eritrina por outras Espécies Arbóreas de Valor Econômico – Um Enfoque Sustentável de Modernização Agrícola, 25ª Semana do Fazendeiro. EMARC – Uruçuca, BA, 2003. Agenda Técnica - Produzir, Alimentar, Vender e Conservar. CEPLAC/EMARC. pp. 143 – 147. MARQUES, J.R.B.; MONTEIRO, W.R. M.H.S. I.C.L.B. 2004. Proposta para a substituição da eritrina por seringueira (Hevea sp.) em sistema agroflorestal contínuo com o cacaueiro (Theobroma cacao) na Bahia. In : V Congresso Brasileiro Sistemas Agroflorestais. “SAFs: Desenvolvimento com proteção Ambiental” Documentos pp. 368-370. 14 CULTIVO E CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS DO COQUEIRO Joana Maria Santos Ferreira INTRODUÇÃO O coqueiro, Cocos nucifera L. é uma cultura de grande importância para a região Nordeste do Brasil pelo seu elevado potencial socioeconômico. É uma planta perene, de grande versatilidade e cultivada em sua grande maioria por pequenos produtores. Cerca de 96% da produção mundial vem de propriedades de 0,5 a 4 hectares, o que mostra sua importância relativa para aqueles produtores, que tem nesta cultura sua principal fonte de renda (Pershly, 1992). No Brasil, gera em torno de 100.000 empregos diretos e indiretos, além de ser fator decisivo de fixação do homem no meio rural. Trata-se de uma planta bastante adaptada as condições adversas de clima e de solo nas quais é cultivada, onde resiste bem a longos períodos de estiagem e cresce satisfatoriamente em regiões de solos pobres e de solos salinos. Apesar da baixa produtividade registrada no Brasil (20 a 35 frutos/planta/ano) a cultura do coqueiro é uma atividade agrícola que atraiu, nos últimos anos, grandes investidores em virtude do seu potencial produtivo, podendo atingir 120 ou mais frutos/planta/ano com material genético melhorado e técnicas adequadas de cultivo, e pela diversificação de uso de seus produtos e subprodutos, na indústria química e de alimentos, na construção civil, na forma de artesanatos diversos e também como fonte de energia. Por seus múltiplos usos o coqueiro é considerado a “Arvore da Vida” (Ohler, 1986). Embrapa Tabuleiros Costeiros. Av. Beira Mar, 3250. CEP 49025 040, Aracaju/SE [email protected] 15 CULTIVO DO COQUEIRO A muda de coco é um insumo básico de grande importância cuja escolha acertada pode condicionar a viabilidade econômica da plantação. Plantar a semente “bola” diretamente no campo, utilizar mudas raquíticas, estioladas, doentes e/ou já praguejadas são situações que devem ser evitadas, pois, irão refletir negativamente na precocidade e na produtividade das plantas. Uma boa muda de coqueiro tem que ter como atributos específicos, qualidade, sanidade e legitimidade da semente (gigante, híbrido, anão) e ser adquirida de viveirista idôneo. Pode ser produzida pelo sistema tradicional de germinadouro e viveiro, em raízes nuas ou em sacos plásticos, e transferidas para o campo com até um ano de idade, 6 a 7 folhas vivas e bom desenvolvimento do coleto ou produzidas pelo sistema alternativo. Quando se faz opção pelo sistema alternativo as mudas são transplantadas mais cedo, com 5 a 6 meses de idade e 3 a 4 folhas vivas, diretamente do germinadouro para o campo. Nestas condições apresenta maior teor de reservas no endosperma da semente e menor transpiração das folhas, o que permite um maior índice de pegamento da muda no campo sem comprometimento da sua qualidade, além da vantagem de reduzir custos com mão de obra, transporte e uso de insumos (Fontes, et al., 2002). Tratase de um sistema de produção simples, acessível e de comprovada eficácia. O terreno para implantação do coqueiral deve ter relevo plano ou com pouca declividade e ser profundo e bem drenado. As covas de plantio demarcadas, abertas e preparadas com 30 dias de antecedência obedecendo ao espaçamento entre plantas (densidade) preconizado para cada variedade/cultivar, bem como, o sentido Norte-Sul para estabelecimento da linha principal de plantio de forma a possibilitar melhor aproveitamento da luminosidade. A escolha do material genético está diretamente condicionada a finalidade da produção (Tabela 1). A demanda pela indústria e uso domestico in natura é essencialmente de frutos do coqueiro-gigante e do coqueiro-híbrido, pelo tamanho do fruto e espessura do albume sólido. Os frutos do coqueiro-anão são preferencialmente utilizados para consumo de água, pelo seu sabor, mas, recentemente seus frutos também estão sendo aceitos pela indústria. Embora essa variedade apresente na indústria menor rendimento/fruto, essa perda é compensada pela sua maior produtividade (número de frutos/planta). Produção/variedade constantes na Tabela 1 podem ser obtidas na ausência de fatores estressantes à cultura. 16 Tabela1 Variedade/ Cultivar Espaçamento (m) Densidade do plantio (plantas/ha) Quadrado Triângulo Produtividade (frut/plant/ano) Gigante 9,0 123 143 60 Híbrido 8,5 138 160 =120 Anão 7,5 177 205 =150 Finalidade Coco-seco Coco-seco e Cocoverde Coco-verde Tradicionalmente o coqueiro era cultivado de forma semi-extrativista, sem obedecer a espaços definidos entre plantas, sendo utilizado em algumas situações o plantio em quadrado com 10m de lado, correspondendo a 100 plantas/ha. Hoje, o sistema de cultivo recomendado é mais adensado, implantado em triângulo eqüilátero, propiciando aumento de 15% no número de plantas por área e aumento de produtividade da cultura, gerando conseqüentemente, maior demanda por água e nutrientes. Como desvantagem este sistema favorece a formação de microclima úmido favorável ao desenvolvimento de doenças, principalmente, as fúngicas. Em áreas de novos plantios pode-se obter bons resultados modificando o sistema de plantio de triângulo eqüilátero para retângulo ou quadrado a fim de proporcionar maior luminosidade e permitir a consorciação de culturas de ciclo curto nas entrelinhas de plantio sem os problemas de sombreamento normalmente observados nos sistemas mais adensados, gerando assim receita adicional ao produtor e beneficiando indiretamente a cultura do coqueiro (Fontes, 2005). As praticas de manejo vão depender da natureza do solo, topografia do terreno, espécies de plantas daninhas predominantes, disponibilidade de mão-de-obra e condições financeiras do produtor. A pratica da adubação é fundamental no manejo da plantação e deve ser feita com base na análise de solo e folhas e a freqüência de acordo com o sistema de cultivo adotado. Os nutrientes (químicos e/ou orgânicos) devem ser espalhados na zona do coroamento da planta e incorporados ao solo. O uso da tecnologia da irrigação é indispensável à exploração do coqueiro, principalmente, nas áreas com irregularidade de chuvas e lençol freático profundo (>3m). 17 AS PRAGAS As pragas são responsáveis por perdas consideráveis na plantação e podem afetar a planta nas diversas fases de seu desenvolvimento, crescimento e produção. Bondar (1940) relatou 75 espécies associadas ao coqueiro no Brasil, sendo que destas, somente cerca de 15% podem causar danos econômicos suficientes para serem consideradas pragas. A capacidade reprodutiva da maioria dessas espécies pode constituir uma ameaça eminente para uma plantação de coco, principalmente, quando se registra na região, a ausência de fatores naturais de mortalidade provocada ou pela intervenção desastrosa do homem ou pelas condições adversas do clima. Na planta se alimentam em partes específicos, seja, da folhagem, das flores, dos frutos, do estipe ou das raízes causando atraso no desenvolvimento da planta, perda ou atraso na produção e morte. Algumas dessas espécies têm preferência pela planta jovem, por seus tecidos mais tenros, enquanto outras preferem as mais velhas e em produção. Os surtos de pragas no coqueiro são favorecidos por diversos fatores, dentre os quais: i) a produção contínua e mensal de folhas e a permanência prolongada dessas estruturas vegetais na planta, fazendo com que a planta tenha sempre sua copa formada por folhas jovens, folhas em estágio de maturação (intermediárias) e folhas em senescência (mais velhas); ii) a emissão contínua e mensal de inflorescências que dão origem aos cachos dos frutos, cachos estes presentes na planta em diferentes graus de maturação; e iii) ao não sincronismo das emissões florais dentro da plantação, o que torna o coqueiro bastante suscetível à ação de diversas espécies-praga. Entre estas, destacam-se aquelas associadas aos frutos do coqueiro, como os ácaros Aceria guerreronis e Amrineus cocofolius e a traça Hyalospila ptychis, as associadas a partes especificas da planta, como as brocas, Rhinostomus barbirostris, Rhynchophorus palmarum, Homalinotus coriaceus e o Amerrhynus ynca, e alguns desfolhadores (Brassolis sophorae), sugadores, raspadores, entre tantas espécies; todas amplamente distribuídas no Brasil, ocasionando perdas, inclusive nas regiões Sudeste e Norte, onde a cocoicultura teve rápida expansão, nas duas últimas décadas. Nos frutos os ácaros provocam necroses marrom-escuras com rachaduras longitudinais e deformações que depreciam seu valor no mercado de coco verde, reduzem o peso do albúmem sólido e o volume da água afetando o produto destinado a industria, além de provocar a queda 18 dos frutos antes da colheita. A ação conjunta dos dois ácaros-praga sobre os frutos do coqueiro pode resultar em grandes perdas na produção. Vários acaricidas organofosforados já foram testados para A. guerreronis, poucos se mostraram eficientes e a maioria demonstraram potencial para induzir surtos de pragas secundárias. O uso alternativo de óleo de algodão bruto a 1,5% + detergente neutro a 1%, testado por Chagas (2002) e recomendado em pulverizações quinzenais (3 a 4) e com pulverizações de manutenção a cada 30 dias é o método mais eficaz de controle dos ácaros do coqueiro. Moléculas químicas testadas para controle do A. cocofolius foram eficientes com apenas uma pulverização; outras requerem duas pulverizações em intervalos quinzenais (Ferreira et al., 2004a). A traça H. ptychis ataca principalmente as flores femininas recém-abertas e os frutos novos, causando na maioria das vezes, a queda prematura destas estruturas vegetais; frutos que atingem a maturação se deformam, perdem peso e o valor comercial. A ação desta praga chega a causar perdas de até 50% da produção e seu combate é feito unicamente com princípios ativos, de amplo espectro de ação e sem eficiência comprovada. As brocas causam sérios danos ao coqueiro. A broca-do-olho R. palmarum, encontra-se largamente distribuída nos coqueirais brasileiros. A planta é danificada tanto pela larva quanto pelo adulto, principal vetor da doença letal “anel-vermelho”, transmitida pelo nematóide Bursaphelenchus cocophilus. Nas áreas epidêmicas, o período de surto da doença sempre coincide com o de alta população do vetor. Vários são os métodos utilizados para controle, dentre os quais se destaca o uso do feromônio de agregação Rincoforol associado a iscas de tecidos vegetais com poder de fermentação, que servem tanto para fazer o monitoramento da praga na área quanto para reduzir significativamente sua população nas plantações de coqueiro e de dendezeiro. O fungo Beauveria bassiana é um agente natural com grande potencialidade de reduzir a população da broca em campo. Sua liberação em programas de controle da praga pode ser feita tanto via machos infectados como através de iscas atrativas inoculadas. Nesta última técnica, os adultos são atraídos para as armadilhas de autocontaminação, e uma vez contaminados nas iscas passam a atuar como vetor do patógeno causando infecção na população ao se agregar com outros indivíduos dessa espécie (Ferreira, 2004b). A broca R. barbirostris se desenvolve no interior do estipe onde forma galerias que reduzem a circulação da seiva e enfraquecem a região danificada do estipe causando a quebra da planta pelos ventos fortes. O adulto tem hábito 19 noturno e durante o dia fica escondido na copa da planta. Plantas quebradas e/ou mortas pela ação da praga devem ser imediatamente cortadas e queimadas. Esta é uma medida profilática trabalhosa, mas, extremamente necessária para conter o aumento da população da broca. O habito minador das larvas e a escassez de equipamentos capazes de atingir a copa da planta a dezenas de metros de altura e matar o adulto que se abriga nas axilas das folhas são fatores que dificultam a obtenção de medidas eficazes para controlar a praga na lavoura. Os danos da broca H.coriaceus em coqueiro começam a partir do início da produção da planta. A larva, ao eclodir, penetra no pedúnculo pelas laterais e danifica os tecidos seccionando os vasos liberiano-lenhosos, interrompendo a passagem da seiva para o cacho. Isto provoca o abortamento de flores femininas e queda de cocos e até do cacho inteiro. Fazendo-se dissecação folha a folha de uma planta atacada encontram-se todas as fases de desenvolvimento do inseto. O adulto fica abrigado durante o dia nas bainhas foliares e seu controle é realizado através de pulverizações trimestrais usando produtos químicos com ação de contato direcionando a calda para a região das axilas foliares da planta infestada. Em geral, é difícil controlar espéciespragas que constroem galerias no interior do estipe ou na região da copa da planta. De certa forma, os locais nos quais as larvas se alojam, protegeas contra tratamentos químicos, principalmente, quando os produtos usados têm ação de contato. Espécies que danificam as folhas do coqueiro provocam desfolhamento, secamento e conseqüentemente redução da área foliar e atraso no desenvolvimento da planta. Ataques da lagarta das folhas, B. sophorae causa atrasos na produção em ate 18 meses. As lagartas se refugiam durante o dia dentro de ninhos (bolsas) que tecem com fios de seda revestidos por vários folíolos e que ficam pendurados nas folhas. Fazer a catação manual desses ninhos é uma medida apropriada para conter a população da praga. Por se tratar de uma praga rica em inimigos naturais é recomendável fazer tratamento com bioinseticidas a base de Bacillus thuringiensis ou B. bassiana durante os surtos da praga visando reduzir sua população e ao mesmo tempo preservar sua entomofauna benéfica. Alem das pragas, o coqueiro está sujeito à ação de várias doenças. Dentre as mais importantes destacam-se as doenças foliares (queimadas-folhas, lixa-pequena e lixa-grande) causadas por fungos fitopatogênicos. A associação dessas doenças provoca a morte prematura das folhas do coqueiro. Em conseqüência, os cachos ficam sem 20 sustentação, envergam e os frutos caem antes de completar sua maturação. A planta doente não morre, mas, perde cerca de 50% das suas folhas, o que reflete significativamente na produtividade e na vida útil da planta. Não existem medidas eficazes no controle das doenças foliares. O Anel-vermelho é uma doença letal encontrada em toda região produtora de coco das Américas Central e do Sul e nas ilhas do Caribe. Tem como agente causal o nematóide Bursaphelenchus cocophilus. Folhas com coloração avermelhada, partindo das folhas mais velhas para as mais novas, e a presença de um anel marrom-avermelhado na parte interna do estipe são os principais sintomas da doença. O controle da doença é obtido com a adoção das seguintes medidas: erradicação de plantas mortas, com sintomas da doença ou não; desinfecção das ferramentas utilizadas no corte das plantas doentes; não causar ferimentos em plantas sadias; tratar ferimentos com piche ou óleo queimado; e, usar armadilhas atrativas contendo cana mais o feromônio de agregação Rincoforol para capturar a broca-do-olho principal responsável pela transmissão da doença no campo. A Murcha-de-fitomonas é uma doença causada por protozoário. Os sintomas da doença se iniciam a partir das folhas mais baixas para as mais altas e da extremidade para a base da folha. As folhas vão ficando amareladas e com a progressão da doença tornam-se marronsavermelhadas, coloração esta que varia a depender da variedade da planta. As inflorescências tornam-se necrosadas e secas, ocorrendo à queda prematura dos frutos. A inflorescência da espata fechada encontra-se parcial ou totalmente enegrecida, sintoma este característico da doença. Como principais medidas de controle recomendam-se: a erradicação das plantas doentes; eliminação das plantas daninhas; limpeza das plantas sadias retirando-se as folhas secas que servem de abrigo ao percevejo vetor; e, controle químico do vetor a cada três meses. A Podridão-seca é doença grave, principalmente, em coqueiro jovem, de etiologia ainda desconhecida, mas, provavelmente, causada por um fitoplasma. O sintoma externo da doença caracteriza-se pela paralisação do crescimento e pelo secamento da folha central. Internamente, aparece no coleto, lesões internas de coloração marrom com aparência de cortiça. Para prevenir a disseminação da doença no plantio recomenda-se proceder à erradicação das plantas doentes, evitar a instalação do viveiro em locais úmidos, eliminar ervas daninhas, principalmente, as gramíneas; e, realizar o controle químico do inseto vetor. 21 Nos plantios tradicionais de coco, o baixo rendimento obtido com a cultura faz com que o pequeno produtor aceite naturalmente as perdas ocasionadas pelas pragas e doenças sem investir em medidas de controle; como conseqüência estas propriedades tornam-se focos de multiplicação desses organismos. Nos plantios comerciais esta atitude não prevalece, pois a meta é atingir altas produções. Neste caso, o recurso utilizado de imediato é a pulverização com produtos químicos, apesar dos riscos de poder acarretar sérios problemas, como ressurgência em pragas-chaves, surtos de novas pragas devido à eliminação de seus inimigos naturais, além do surgimento de resistência aos produtos rotineiramente utilizados, intoxicações dos operários e animais, danos ambientais e risco à saúde dos consumidores. Na agricultura, é prática comum, a utilização indiscriminada e abusiva de um grande número de defensivos agrícolas no combate as pragas e doenças visando à obtenção de grandes colheitas, o que contribui para a ocorrência de surtos mais constantes e graves na plantação. A tendência moderna é buscar soluções alternativas que sejam práticas, viáveis e de menor agressão ao meio ambiente. É nesse contexto, que se considera a presença dos agentes naturais de controle biológico, como forma de utilizar recursos que a natureza dispõe e precisa para sua auto-sustentabilidade. Nos últimos anos, tem-se identificado em vários países do mundo alguns inimigos naturais das pragas de coqueiro, sendo estudada a possibilidade de utilização destes agentes em programas de controle biológico visando minimizar os efeitos deletérios causados pelo uso indiscriminado dos defensivos agrícolas ao meio ambiente e nas populações rurais e urbanas. A crescente demanda pela proteção ambiental tem sinalizado para a adoção de métodos alternativos de controle de pragas e doenças no que se refere à proteção das colheitas, sem contudo, excluir a utilização dos produtos químicos, desde que, utilizados de forma racional. Poucos são os produtos oficialmente registrados no Brasil para uso em coqueiro, muito embora, inúmeros trabalhos de pesquisa tenham demonstrado, ao longo dos anos, a eficiência de várias moléculas no controle de espécies-pragas e de doenças. Importante advertência se faz ao uso de produtos clorados ou com moléculas de cloro, a despeito dos resultados satisfatórios alcançados pela pesquisa. Convém alertar que produtos dessa natureza estão proibidos em quase todo o mundo, inclusive no Brasil, pelo Ministério de Agricultura e do Abastecimento, em publicação no Diário Oficial da União, de 20 de fevereiro de 1987, por se tratar de produtos extremamente perigosos para o homem e para o meio ambiente. 22 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BONDAR, G. Insetos nocivos e moléstias do coqueiro (Cocos nucifera L.) no Brasil. Salvador: Tipografia Naval, 1940. 156p. CHAGAS, M.C.M.; BARRETO, M.F.P.; SOBRINHO, J.F.S.; GUERRA, A.G. Controle de pragas associadas à queda de frutos do coqueiro (Cocos nucifera L.). In: Congresso Brasileiro de Fruticultura, 17. Belém, PA, 2002. Anais....CD-Rom, 27p. FERREIRA, J. M. S.; ARAÚJO, R. P. C. de; SARRO, F. B. Perspectivas para o uso de fungos entomopatogênicos no controle microbiano das pragas do coqueiro. Aracaju: Embrapa Tabuleiros Costeiros, 2001. 24 p (Embrapa Tabuleiros Costeiros. Circular Técnica, 26). FERREIRA, J.M.S.; ARAÚJO, R.P.C; MICHEREFF FILHO, M.; SARRO, F.B.; MICHEREFF, M.F.F. Controle químico do ácaro da mancha anelar do fruto do coqueiro. In : CONGRESSOS BRASILEIROS DE FRUTICULTURA, 20. 2004. Florianópolis, SC. Resumo expandido. CD-ROM. FERREIRA, J.M.S. Controle biológico do Rhynchophorus palmarum, agente transmissor do nematóide causador do anel-vermelho-do-coqueiro. Congresso Brasileiro de Fruticultura, 17, 2002, Belém, PA, Anais... CD-ROM, 27p. FONTES, H.R.F.; FERREIRA, J.M.S.; SIQUEIRA, L.A. Sistema de produção para a cultura do coqueiro. Embrapa Tabuleiros Costeiros, 2002. 63p (Embrapa Tabuleiros Costeiros: Sistema de produção, 01). Disponível em http/www.cpatc.embrapa.br FONTES, H.R.F. Densidades e sistemas de plantio utilizados na cultura do coqueiro no Brasil. Disponível em http/www.boletimpecuario.com.br/ artigos/showartigo.php?arquivo=artigo1252.txt;http/ www.agronline.com.br/artigos/artigo.php?id=269. PERSLEY, G. J. Replanting the tree of life; towards an international agenda for coconut palm research. C. A. B. International 1992, UK: Redwood Press Ltd, Melksham, 1992. 156p. OHLER, J.G. Coconut, tree of life. Roma : FAO, 1984. 446p 23 PRODUÇÃO DE FRUTOS DE AÇAÍ, JUÇARA E PUPUNHA Maria das Graças Conceição Parada Costa Silva INTRODUÇÃO A produção de frutos de açaizeiro (Euterpe oleracea Marth), de juçara (Euterpe edulis Mart) e de pupunheira (Bactris gasipaes Kunt) é uma atividade ainda sem expressão econômica na região, mas que apresenta grandes possibilidades de expansão em virtude da alta demanda do mercado e das ótimas condições ambientais existentes. Entre estes, o açaí é o mais conhecido fora da sua região de origem, norte do Brasil, graças à farta divulgação na mídia das suas propriedades nutritivas e energéticas. O uso da polpa de açaí está generalizada em todo o país e o cultivo do açaizeiro e o processamento do seu fruto, estão sendo fomentados em vários estados brasileiros, principalmente no sul da Bahia. O uso da polpa do fruto de juçara, que tem qualidades nutritivas e energéticas similares às do açaí, é incipiente na região porque a maioria da população ainda não conhece essas suas propriedades. Embora esteja sendo divulgado na mídia e em eventos agropecuários, a escassez de frutos de juçara para processamento, como conseqüência do extrativismo do palmito que ainda ocorre na região, limita o uso. O fruto da pupunheira, conhecido como pupunha, é largamente consumido na região amazônica e em outros países da América do Sul e na América Central, onde é encontrada em estado nativo. Embora o palmito seja atualmente o principal produto da pupunha em termos econômicos, nas regiões de origem, o fruto continua sendo o principal produto de consumo. Engª Agrônoma, MSc Ceplac/Cepec/Sefop . Km 22 Rod Ilhéus – Itabuna. Cx Postal 07 CEP 45600-970. Itabuna, Bahia. E-mail: [email protected] 24 CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS E USOS DOS FRUTOS DA JUÇARA, AÇAÍZEIRO E PUPUNHEIRA NA ALIMENTAÇÃO 1. JUÇARA A juçara é uma palmeira unicaule, isto é, não produz perfilhos, o que significa que a extração do palmito implica no sacrifício da planta. Essa atividade quando é realizada sem critérios ou sem cuidados com a sustentabilidade ambiental, pode comprometer a continuidade da espécie e de vários animais que se alimentam de seus frutos. Quando feita desta forma, essa atividade tem o nome de extrativismo, e é considerado crime ambiental, previsto na Lei de Crimes Ambientais - Lei 9.605 de fevereiro de 1998. A curto prazo, uma possibilidade de agregar recursos financeiros aos remanescentes florestais onde existe juçara, seria a colheita de frutos para produção de polpa. O uso da polpa da juçara é similar ao uso da polpa de açaí na região: puro ou misturado com outras polpas de frutas regionais, com granola, guaraná em pó, como sorvete, pudim, entre outros. A escassez de frutos para beneficiamento da polpa é um dos gargalos para a expansão dessa atividade, além da falta de divulgação das propriedades nutritivas da polpa do fruto da juçara, comprovadas em análises realizadas pelo Laboratório de Tecidos Vegetais da Ceplac por Silva et al. (2004) como mostram as tabelas abaixo: Tabela 1. Composição mineral da polpa dos frutos de açaí e juçara, na Matéria Seca. Elementos minerais P (g/kg) K (g/kg) Ca (g/kg) Mg (g/kg) açaí 1,4ª 7,4 b 4,8ª 1,4ª 328,5 b 10,1 b 20,4ª 34,3ª Juçara 0,8b 12,1ª 4,3ª 1,5ª 559,6ª 12,2ª 14,0 b 43,4ª Espécies Fe Zn Cu (mg/kg) (mg/kg) (mg/kg) Mn (mg/kg) Fonte: Ceplac/Cepec/Sefis, 2004 P= fósforo; K= potássio; Ca= cálcio; Mg= magnésio; Fe=ferro; Zn=zinco; Cu= cobre; Mn = manganês. 25 Tabela 2. Características químicas da polpa de açaí e juçara na matéria seca. Características química Espécies pH Proteína g/kg Açucares tot. g/kg Lipídio g/kg Caloria Kcal/100g Açaí 4,8ª 77,6ª 10,2b 130,90b 152,93 Juçara 4,7ª 67,2b 12,08ª 137,80ª 155,74 Fonte: Ceplac/ Cepec/Sefis Pesquisas realizadas por outros autores, constaram teor de antocianina, pigmento presente em ambos frutos, em maior quantidade na juçara (Laderoza et al. 1992). Esse pigmento pertence à família dos flavanoides, que possui função antioxidante e anti-radical que asseguram uma melhor circulação sanguínea e protegem o organismo contra o acúmulo de placas de gordura. As antocianinas possuem ainda capacidade de adiar as perdas de memória, da coordenação motora, perda da visão e diminuem os efeitos do mal de Alzheimer (Rogez et al. 2000). A extração da polpa e os cuidados pós-colheita seguem os mesmos procedimentos realizados para a extração da polpa de açaí. 2. AÇAÍ O açaizeiro é uma palmeira que produz inúmeros perfilhos formando touceiras, que são manejadas para a extração de palmito. Face à pressão dos órgãos ambientais, vários projetos de manejo sustentável dos açaizais estão sendo implementados no Pará, visando principalmente à produção de frutos, que além do alto consumo local, (no meio rural o açaí é consumido três vezes ao dia) tornou-se produto de exportação para vários estados do Brasil e para o exterior do país. A polpa de açaí é consumida pelos habitantes da região amazônica com farinha de mandioca ou tapioca, com peixe frito, no feitio de sorvetes, pudins, doces, entre outros, porém, sempre o açaí puro, sem misturar com outras frutas como é usado nas regiões sul e sudeste do país. Nestas regiões, a preferência é o açaí misturado com granola, banana, guaraná, originando o “açaí na tigela”, ou como suco, sempre misturado com outras polpas mais conhecidas. 26 Procedimentos do processamento da polpa: 1. Colheita dos cachos; 2. debulhamento dos frutos; 3. lavagem em água corrente e de boa qualidade; 4. imersão em água morna (40º C) por 15 minutos para amolecimento da polpa; 5. despolpamento em maquinário apropriado, ou, quando em pequenas quantidades, em liquidificador sem o cortador de hélice ou em peneira de malha grossa, amassando manualmente os frutos. O tempo de batimento não deve ser demorado (4 a 6 minutos), para evitar alteração na qualidade da polpa; 6. se a extração for manual o produto deve ser coado; as despolpadeiras mecânicas possuem sistema de filtragem e o produto já sai isento de impurezas; 7. o produto obtido deve ser usado imediatamente ou conservado sob congelamento. 3. PUPUNHA A pupunheira também é uma palmeira que perfilha e pode chegar a 20 metros de altura. No Brasil, na região amazônica e no Peru, Costa Rica, Equador, Colômbia, entre outros da América Tropical, a pupunha é muito apreciada e consumida, constituindo-se em valoroso alimento para esses povos. A pupunha é um fruto carnoso, muito rico em nutrientes, principalmente em caroteno, precursor da vitamina A e não pode ser consumido cru, porque possui uma enzima, que inibe a digestão das proteínas, e um ácido que irrita a mucosa da boca. Normalmente é consumido simplesmente cozido com água e sal, podendo ser acompanhado de manteiga, maionese, mel e geléia. Pode ser usada como legume, em ensopados, em sopas, vitaminas, entre outros. Como farinha, é usada nos feitios de diversas iguarias domésticas e no acompanhamento de alguns pratos em substituição à farinha de mandioca. Procedimentos para se obter a farinha, em nível caseiro: 1. Lavar os frutos em água de boa qualidade; 2. abrir os frutos em bandas para sacar as sementes; 27 3. Descasca-los e coloca-los para cozinhar por aproximadamente 30 minutos. 4. Após o cozimento, colocar os frutos para escorrer a água e para esfriar. 5. Se o fruto estiver muito úmido, devem ser colocados para secar um pouco ao sol ou em forno médio a mínimo, por 5 a 10 minutos. 6. Passar o fruto no moinho ou no ralo, peneirando em seguida, se quiser um produto fino tipo amido de milho. Está pronta para ser usada em feitios de bolo, pão, paçoca, canjica, mingaus, entre outros. Para uso imediato da farinha, sem necessidade de secagem, devem-se utilizar frutos mais secos, não muito maduros e evitar cozimento excessivo. Procedimentos para se obter a farinha com grande quantidade de frutos 1. Abrir os frutos para sacar as sementes; 2. Lavá-los em água de boa qualidade; 3. Ralar os frutos cozidos no mesmo maquinário usado para a obtenção da farinha de mandioca; 4. Levar a massa ralada para secar em forno de farinha de mandioca em temperatura branda por 40 a 45 minutos, mexendo continuamente para não embolar; 5. Peneirar a massa seca para separar as cascas e outras impurezas, que podem ser fornecidas para animais de pequeno porte (galinha); 6. Esfriar e armazenar a farinha em vasilhames hermeticamente fechados. COMO MANEJAR OS PALMITEIROS PARA PRODUÇÃO DE FRUTOS 1. JUÇARA Como a juçara é nativa da Mata Atlântica, os frutos são encontrados naturalmente nas populações que ainda existem nos remanescentes florestais da região. Um dos cuidados que se deve ter, após a extração da polpa, é em repor as sementes nas áreas onde os frutos foram colhidos. As sementes podem ser semeadas na mata a lanço, ou em pequenas covas abertas com a ponta do facão, em local não muito sombreado para permitir o desenvolvimento mais rápido da planta. 28 2. AÇAÍ / PUPUNHA 1. Sementes: devem ser sadias de boa qualidade. A semeadura é realizada em canteiros compostos de areia e serragem curtida, em partes iguais, em local protegido da luz solar, próximo à água para facilitar a rega, que deve ser diária. A germinação inicia-se 30 dias após a semeadura (para a pupunha) e em poucos dias para o açaí. 2. Preparo da muda: os sacos de polietileno, com capacidade de 2 kg, devem ser cheios com terriço de boa qualidade ou enriquecido com esterco de gado, na proporção de 1 parte para 3 de solo. Podem ser mantidas sob sombra de uma árvore frondosa ou em viveiro, com cobertura de palha ou outro tipo de cobertura. 3. A transferência da plântula para o saco de polietileno deve ocorrer antes do lançamento da segunda folha. Dois meses após essa transferência, adubar as mudas com pulverização ou regas, utilizando uma solução de 50 g de uréia para 10 litros de água. Aos 90 e 120 dias, pulverizar com uma solução de 50 g de uréia e 30 g de cloreto de potássio, para 10 litros de água. 4. As mudas devem ser mantidas sem ervas daninhas, e isentas de pragas e doenças; o produtor tem que estar atento a qualquer sinal de anormalidade, e chamar um técnico para diagnosticar e indicar o defensivo apropriado. 5. Após 4 a 6 meses de viveiro, as mudas estão aptas para serem transplantadas. Um mês antes, porém, faz-se um raleamento na cobertura do viveiro, para adaptação das mudas às condições do campo. 6. O plantio é realizado em época de chuva, com mudas sadias e vigorosas, apresentando altura entre 30 a 40 cm, com 5 a 6 folhas. 7. A área do plantio deve estar limpa e balizada no espaçamento de 4 x 4, para o açaí, se for plantio solteiro ou de acordo com o espaçamento do consorte, de maneira que o plantio não fique muito adensado para não prejudicar a produção de frutos. A pupunha deve ser plantada a pleno sol, no espaçamento 5 x 5 m (400 plantas / ha) estimando-se uma produção de até 20 t de frutos / ha. É possível o plantio em Sistemas Agroflorestais com cacau, cupuaçu, entre outras, onde a pupunha entra como sombreamento para os consortes e o espaçamento será de acordo com a espécie consorciada. Pode ser implantados nas linhas de cultivo, inicialmente, inhame, batata doce, mandioca e outros cultivos de ciclo curto. 29 8. As covas, na dimensão de 40 x 40 x 40 cm, devem ser adubadas com 100 g de superfosfato triplo colocado ao fundo. Misturar na terra retirada dos primeiros 20 cm, 5 litros de matéria orgânica e reencher a cova com essa mistura, 30 dias antes do plantio. 9. A adubação deve ser realizada de acordo com os resultados da análise do solo. Mas, pesquisas realizadas na Ceplac (Reis, 1997), indicam as seguintes recomendações para a pupunheira, que por falta de resultado de pesquisa para o açaizeiro, o autor supra citado recomenda a mesma tabela, para as condições de solos regionais. (Quadros 1 e 2): Quadro1. Adubação de pupunheira nos três primeiros anos de desenvolvimento. IDADE DAS PLANTAS (meses) FERTILIZANTES (g / planta) 2 4 8 12 16 20 24 28 34 20 20 40 40 40 40 40 60 60 Superfosfato triplo - - - - 100 - - 100 - Cloreto de potássio - 20 - 20 20 - 20 20 20 Uréia Fonte: Ceplac/Cepec.1997 Quadro 2. critérios para adubação da pupunheira em produção. Fonte: Ceplac/Cepec. 1997 30 1. Algumas pragas e doenças ocorrem no plantio, e mais uma vez o produtor deve consultar um técnico ao primeiro sinal de anormalidade nas pupunheiras. 2. Nos plantios de frutos de pupunha, deixar além da planta matriz, 2 a 3 perfilhos por touceira, que serão cortados para extração de palmito à medida que apresentarem o diâmetro adequado. Quando a planta matriz apresentar altura que dificulte a colheita dos frutos, deve-se planejar deixar esses perfilhos para produzir frutos, em uma possível substituição da planta matriz. Esse processo é seguido continuamente, ao longo do ciclo reprodutivo da espécie. 3. Nos plantios de produção de frutos de açaí, a partir de dois anos de campo, retirar o excesso de perfilhos nas touceiras, eliminando os mais fracos e os mal formados, deixando 3 perfilhos por touceira de tamanhos diferentes, bem distribuídos ao redor da planta, além da planta matriz, que deve ser mantida até que a sua altura dificulte a colheita. Quando isto acontecer, deve-se planejar o corte da planta matriz e simultaneamente, deixar que novos perfilhos, em número máximo de 4 (um por ano), se desenvolvam para a substituição dos perfilhos antigos. Todos os perfilhos potencialmente produzirão frutos, em número médio de 3 cachos por perfilho, pesando de 1,5 a 2 Kg de frutos / cacho. Se o produtor optar em produzir fruto e palmito no mesmo cultivo, o recomendável é deixar 4 a 6 perfilhos para serem manejados para palmito. 4. Colheita: a pupunha começa a produzir frutos a partir de 3,5 a 4 anos de campo. As primeiras produções geralmente apresentam muitos frutos partenocárpicos, (sem sementes), sendo alguns de coloração verde e de aspecto alongado e outros com aparência de fruto normal. Porém, com o tempo, a tendência é diminuir essa incidência, pois os insetos que fazem a polinização começam a ser colonizados na área, que aliada ao manejo adequado do plantio, promoverão a fecundação e o desenvolvimento de frutos normais. Os cachos devem ser aparados com lona para evitar contaminação e perdas de frutos no impacto com o solo. 5. A colheita do açaí começa após 3,5 a 4 anos de campo, a depender do sombreamento do plantio. A pleno sol inicia mais cedo. Os cachos também devem ser aparados com lona. 6.Tanto o fruto de pupunha como o de açaí é bastante perecíveis, principalmente o açaí, que mesmo sob refrigeração não se conserva por mais de 12 horas, sob pena de alteração da cor e do sabor. A pupunha não 31 deve ultrapassar 24 horas de colhida, em temperatura ambiente, pois como é muita amilácea, pode ocorrer o processo de fermentação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS IADEROZA, M. et al. Antocyanins from fruits of açaí (Euterpe oleracea, Mart) and juçara (Euterpe edulis mart). Tropical Science, London, England, 32, p. 41-46, 1992. REIS, E. L. Adubação da Pupunheira para produção de palmito no Sul da Bahia. Folder. Ceplac / Cepec, 1997. ROGEZ, H. Açaí : Preparo, Composição e Melhoramento da Conservação. Belém, EDUFPA, 2000, 313 p. SILVA, M. G. C. P. C.; BARRETTO, W. S.; SERÔDIO, M. H. Caracterização Química da Polpa dos Frutos de Juçara e de Açaí. In XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA. Florianópolis, Santa Catarina, 22 a 26 de novembro de 2004. Anais... CD ROOM, Florianópolis, SC, 2004. 32 CRIAÇÃO RACIONAL DE SUÍNOS Elcir de Souza Alves A criação de suínos, é uma atividade que requer cuidados específicos para que se tenha sucesso. Neste trabalho, abordaremos de forma sucinta, alguns aspectos técnicos, que ao nosso ver, servirão de subsídio para aqueles que criam ou pretendem criar racionalmente suínos. 1.0 - Reprodução 1.1 - Idade para reprodução: Na espécie suína tanto as fêmeas como os machos, das raças modernas, como Landrace, Large White, Duroc, Pietrain, Wessex e as marcas comerciais, quando bem alimentados, estão em condições para a reprodução entre 7 a 8 meses de idade, pesando de 110 a 120 kg de Peso Vivo. Quando a marrã (leitoa) apresentar o primeiro cio, o criador deverá desprezar e esperar o segundo cio para realizar a primeira cobertura da fêmea. O cio é caracterizado por modificações gradativas nos órgãos genitais externos e internos, bem como no comportamento do animal. Tanto a alimentação, o manejo, bem como as condições ambientais, exercem grande influencia sobre a manifestação do cio. De uma maneira prática, o criador observa os seguintes sintomas: Inquietação da fêmea (nervosismo), vulva intumescida, avermelhada, micção constante, diminuição do apetite, montam e se deixam montar por outras fêmeas, ao toque do homem em seu dorso ficam imóveis, procuram o macho e aceitam o macho. Esses são, portanto os sintomas externos visíveis. 1.2 - Duração e intervalo entre cios: Na espécie suína a duração do cio é de 2 a 3 dias e o intervalo entre um cio e outro é de 21 dias; Engº Agrônomo - Especialização em Forragicultura e Pastagens; Professor de Suinocultura e Nutrição Animal CEPLAC/EMARC-UR. Rua Dr. João Nascimento S/N, Uruçuca-Bahia . 33 1.3 - Momento ideal para se realizar a cobertura: O melhor momento para se realizar a cobertura da fêmea é de 12 a 24 horas após os primeiros sintomas do cio. De uma maneira prática, a fêmea que apresentar os primeiros sintomas do cio pela manhã, poderá ser coberta na tarde do mesmo dia, e uma segunda cobertura na manhã do dia seguinte. A que apresentar os sinais pela tarde, deverá ser coberta na manhã, e na tarde do dia seguinte. 1.4 - Cobertura: Seguindo as orientações descritas acima, o criador deverá conduzir a fêmea para a báia do reprodutor ou para um piquete próprio para que haja a monta. Durante a monta, o criador, deverá acompanhar e observando o tempo em que o macho ficou em cima da fêmea. Para que haja uma boa cobertura o tempo mínimo é de 5 minutos podendo se estender até 20 ou mais minutos. Após esse período a fêmea deverá ser reconduzida para a sua báia, e para garantir melhor a fecundação, deverá ser coberta pela segunda vez conforme descrito acima. 1.5 - Gestação: Uma vez fecundada, a gestação na espécie suína tem duração de 114 dias, ou seja, 3 meses, 3 semanas e 3 dias. Durante o período de gestação, a fêmea adquire uma aparência melhor, ou seja, os pelos ficam mais sedosos, a barriga irá crescer, as tetas aumentarão de volume, aumenta o apetite fica mais dócil. 1.6 - Cuidados com a fêmea gestante: O ambiente em que a fêmea gestante deve ficar, há de ser, o mais tranqüilo possível, evitando: brigas, pancadas, ou quaisquer outra coisa que possa favorecer o aborto. Nesse período, o manejo com a fêmea, deverá ser o mais técnico possível. Após a cobertura fornecer ração de gestação na quantidade de 2,5 a 3,0 quilos de ração por dia, sendo metade pela manhã e a outra metade à tarde até os 80 dias de gestação. De 80 a 112 dias de gestação, deverão receber ração de lactação na quantidade de 3,0 quilos por dia, sempre metade pela manhã e metade à tarde. Nos últimos dias de gestação, ou seja, de 112 a 113 dias, diminuir a ração para 2,0 quilos por dia. Já no dia do parto, não oferecer ração para a fêmea, deixar apenas água disponível. A fêmea gestante deverá ficar em sua báia ou em gaiola individual se for o caso, até uma semana antes do parto, quando então, deverá ser lavada com água e sabão de coco e deverá ser conduzida para a maternidade a qual, deverá estar desinfetada com solução desinfetante à base de iodo. Uma informação importante é que 14 dias antes do parto quando a fêmea ainda estiver na báia de gestação, realizar a everminação, utilizando um vermífugo de largo espectro. 34 1.7 - Parto: O parto normal na espécie suína tem a duração de 2 a 4 horas, podendo em alguns casos ir até 6 horas o parto deverá ser acompanhado pelo tratador, evitando-se com isso perdas desnecessárias de leitões. Recomenda-se a partir dos 110 dias de gestação acompanhar diariamente a fêmea. De uma maneira geral o parto ocorre com 114 dias de gestação, mas pode ocorrer a antecipação ou o atraso. Uma das maneiras práticas para saber se a porca irá parir naquele dia, é observando a vulva, que apresenta edema, edema esse, que evolui de forma gradativa até o dia do parto, mas a melhor maneira para se saber se o parto está próximo, é fazendo uma ordenha nas tetas da porca, se estas liberar uma secreção leitosa em forma de jato, dentro de mais ou menos 6 horas irá iniciar o trabalho de parto. Durante o parto, os leitões são expulsos através de contrações uterinas. Entre o nascimento de um leitão e outro o intervalo é de 10 a 20 minutos. O criador deverá observar se todos os leitões foram expulsos e se a placenta foi eliminada totalmente, a placenta pode sair imediatamente ou até uma hora após o nascimento do último leitão; se demorar muito mais do que isso pode ter havido problemas, o tratador, deve também observar a temperatura da porca, o seu apetite durante os três primeiros dias após o parto, caso a porca apresente temperatura elevada, não demonstre interesse pela ração, não esteja liberando leite, é o caso de se chamar alguém com mais experiência, pois pode ter havido problemas de infecção uterina o que poderá ocasionar a morte do animal. 2.0 Manejo 2.1 - Manejo com os recém-nascidos: Já foi comprovado cientificamente que as perdas maiores chegando a 70%, ocorrem na primeira semana de vida do leitão, portanto os cuidados de higiene, controle de temperatura etc. deve ser observado com muito critério nesse primeiro momento. Iremos colocar o manejo ideal para os leitões do nascimento até a desmama: 2.1.1 - Aparar, limpar e massagear o leitão: Na hora do nascimento, o tratador deverá aparar, enxugar o leitão com papel toalha ou um pano limpo, eliminando assim os restos fetais e membranas que envolvem externamente os recém–nascidos. A limpeza deverá ser iniciada, próxima à cavidade bucal e narinas, evitando-se assim, a obstrução das vias respiratórias, depois, se limpa o restante do corpo massageando o dorso do animal, visando ativar a circulação e estimular a respiração. 35 2.1.2 - Amarrar, cortar e desinfetar o cordão umbilical: Recomenda-se amarrar e cortar com uma tesoura previamente desinfetada, o cordão umbilical de 3 a 4 cm do ventre, (mais ou menos dois dedos) e logo após, mergulhar numa solução de iodo a 10% evitando-se assim a contaminação por agentes infecciosos. 2.1.3 - Colocar para mamar o colostro: os leitões recebem os anticorpos através da ingestão do colostro. A saúde, e sobrevivência do leitão dependem em grande parte da ingestão do colostro, por isso, é importante que os leitões recebam logo esse leite, pois eles nascem praticamente sem nenhuma proteção contra os organismos patogênicos. A composição do colostro modifica-se rapidamente, além do mais, a capacidade de absorção dos anticorpos pelos intestinos do leitão é diminuída e praticamente nula com o passar das horas, por isso, é importante que se coloque imediatamente os leitões recém-nascidos para mamar o colostro e depois se fazem as demais práticas de manejo. 2.1.4 - Fornecimento de fonte de calor: Atualmente, é uma prática comum, fornecer um micro-ambiente adequado aos bacorinhos, através de uma fonte de calor sob a forma de uma lâmpada acessa, com mais ou menos 30 a 40 cm do piso colocada no escamoteador, na primeira semana de vida, com uma temperatura de 32º C, na segunda semana a temperatura poderá ser de 28º C e na terceira semana 24º C. isso porque, o leitão ao nascer não tem o seu sistema termo regulador funcionando de forma satisfatória, podendo perder temperatura com muita facilidade, e o leitão sentindo muito frio, conseqüentemente, consome suas reservas de glicose o que irá acarretar a hipoglicemia (deficiência de açúcar nas células) podendo até mesmo leva-lo à morte. A construção do escamoteador que é uma caixa de madeira poderá ficar na frente da gaiola parideira que abrigará os leitões no momento em que não estão se alimentando. O escamoteador é por demais importante. 2.1.5 - Corte dos dentes e Corte da cauda: O leitão nasce com oito dentes pontiagudos, os quais poderão ferir as tetas da porca no momento das mamadas, podendo causar problemas sérios, ou mesmo ferir o rosto dos outros leitões, na disputa pela teta. Para evitar que isso ocorra, deve ser feito o corte dos oito dentes, logo após os leitões terem mamado o colostro, utilizando para isso alicate próprio previamente desinfetado. Na operação tomar os devidos cuidados para não ferir a gengiva, ou a língua dos leitões, bem como, evitar deixar pedaços de dentes, os quais funcionarão como uma navalha, ferindo as tetas. 36 Com relação ao corte do terço final da cauda, é interessante, uma vez que com essa medida previne-se à prática do canibalismo. O corte deverá ser feito com uma tesoura previamente desinfetada e no local colocar uma solução de iodo. O corte poderá ser feito no mesmo dia ou no máximo até o terceiro déia de vida do leitão. 2.1.6 - Aplicação de ferro: Deve-se aplicar no segundo ou terceiro dia de vida, 200 mg de ferro dextrano o que corresponde a 1 ou 2 ml do produto comercial, a depender da concentração do ferro, para suprir a necessidade diária desse elemento, uma vez que os leitões necessitam de 7 mg/dia e que através do leite materno só adquirem em torno de 20% dessa quantidade diária. Assim sendo, faz-se necessário, a aplicação da dose de ferro para suprir as necessidades, evitando a anemia ferropriva, anemia essa, que o predispõe a infecções secundárias além do péssimo desenvolvimento. 2.1.7 - Marcação dos leitões: Existem diversas maneiras para a identificação do leitão, como brincos, tatuagem, porém um método simples e eficiente e barato, é a marcação dos animais pelo sistema Australiano, que consiste em piques e furos nas orelhas dos mesmos, utilizando-se alicate especial de marcação. Com esse método, o criador poderá marcar sem repetição até 1.599 leitões. Cada pique e furo corresponde a um número. O pique na orelha direita na parte inferior corresponde ao número 1 e pode ser repetido até duas vezes, já na parte superior corresponde a 3 e pode ser repetido três vezes. Na orelha esquerda na parte inferior corresponde ao número 10 e pode ser repetido duas vezes, na parte superior corresponde a 30 podendo ser repetido três vezes. Na ponta da orelha direita corresponde a 100 e só pode uma vez e na ponta da orelha esquerda corresponde a 200 e só pode uma vez. Já os furos, o da orelha direita, correspondem a 400 e da orelha esquerda, 800. 2.1.8 - Fornecimento da primeira ração aos leitões: A finalidade de se fornecer ração aos leitões que ainda estão mamando, é a de suprir as suas necessidades nutritivas, favorecendo assim o crescimento bem como acostuma-los a alimentos sólidos para quando forem desmamados. Quanto mais cedo se oferecer à ração, maior será o peso do leitão a desmama. Recomenda-se oferecer ração no inicio da segunda semana de vida dos leitões, colocando pequenas quantidades em cochos próprios localizados ao lado da gaiola parideira na maternidade. Essa quantidade deve ser aumentada gradativamente, até a desmama. A Ração recomendada para esse período é a chamada ração pré-inicial. 37 2.1.9 - Castração de leitões: Os leitões destinados ao abate, obrigatoriamente têm que ser castrados, uma vez que nos testículos são produzidas substâncias que transferem para a carne um odor e um sabor desagradáveis. Recomenda-se então realizar a castração dos leitões o mais novo possível, de 10 a 15 dias de nascidos. A castração realizada com o animal nessa idade tem grandes vantagens como, por exemplo, a cicatrização mais rápida, melhor facilidade na operação, menor chance de ocorrer infecções além de ser mais difícil ocorrer hemorragias. 2.1.10 - Desmame: Atualmente as granjas modernas e tecnificadas, estão desmamando os leitões com 21 dias, porém para as criações menos tecnificadas e sem instalações adequadas, o desmame poderá ser realizado com 28 ou 35 dias, quando os animais apresentarem condições de peso suficiente para serem desmamados. A desmama nada mais é do que a separação da porca dos seus filhotes (leitegada). No dia do desmame, não se deve realizar nenhuma outra prática com os leitões, para evitar o estresse. Com relação à alimentação, não é recomendado fornecer ração aos leitões no dia do desmame. No dia seguinte oferecer 50 gramas pela manhã e 50 gramas à tarde e aumentar gradativamente até chegar a 500 gramas no final do quinto dia, e daí por diante, ração à vontade. 2.1.11 - Transferência dos leitões para a creche: Nas granjas tecnificadas, o local, aonde os leitões vão após serem desmamados, denomina-se de creche. Nesse local, os leitões devem formar lotes uniformes com relação ao peso e tamanho, de no máximo 20 leitões por báia e que ficarão até atingirem o peso médio de 25 quilos, peso esse, que completam em torno de 63-70 dias de vida. Após a creche, os leitões são transferidos para os barracões de recria /terminação onde completam o período de crescimento e engorda, o que em granjas onde a nutrição é bem equilibrada, e os animais apresentam um bom potencial genético, completa-se em média com 150 dias de vida, onde estarão atingindo de 95 a 100 quilos de peso vivo estando prontos para a comercialização para o abate. 3.0 Nutrição 3.1 - O item alimentação, sem dúvida é o que deve ser mais bem analisado, numa granja de suínos, uma vez, que, dos custos totais, a alimentação, chega a 70% desses custos. Por isso, quanto mais houver 38 economia nessa área, maior é a possibilidade de lucro nessa atividade. Em granjas tecnificadas, a alimentação é à base de ração comercial, porém para pequenos criadores a ração comercial pode e deve ser substituída parcialmente por outros alimentos alternativos encontrados com mais facilidade na fazenda onde a suinocultura estiver instalada. Apenas como fonte de informação, para aqueles que desejarem fabricar a sua própria ração na fazenda, sugerimos algumas formulações, colocadas no quadro abaixo, que poderão ser utilizadas com sucesso. Para cada 100 Kg Milho Ração de Gestação Ração de Lactação 56,00 Kg 62,50 Kg Ração de Recria 62,00 Kg Ração de Terminação 70,00 Kg Farelo de Soja 10,00 Kg 18,00 Kg 20,00 Kg 12,50 Kg Farelo de Trigo 30,00 Kg 15,00 Kg 15,00 Kg 15,00 Kg Premix. (núcleo) 4,00 Kg 4,50Kg 3,00 Kg 2,50 Kg Se o criador for oferecer a ração de forma controlada, as quantidades diárias a serem oferecidas aos animais podem ser as seguintes: 3.2 - Porcas em Gestação: Ração de Gestação Da cobertura até 80 dias de gestação oferecer de 2,5 a 3,0 Kg/dia divididos em duas refeições. De 80 até 112 dias oferecer ração de lactação 3,0 kg/dia. Nos dois últimos dias de gestação diminuir para 2 quilos por dia e no dia do parto não oferecer ração. 3.3 - Porcas em Lactação: Ração de Lactação No dia do parto, não oferecer ração. No dia seguinte oferecer 2 quilos de ração/ dia metade pela manhã e metade à tarde e aumentar gradativamente de meio a 1 quilo por dia até atingir de 5 a 6 quilos/dia no quinto dia. Daí por diante continuar oferecendo de 5 a 6 quilos/dia sempre divididos em duas refeições diárias até à véspera da desmama. No dia da desmama não oferecer ração para a porca. 3.4 - Leitões na Fase de Recria Período entre 70 a 120 dias de vida. Animais entre 25 a 60 quilos de peso vivo: Ração de Recria. Oferecer de 2 a 3 quilos/dia metade pela manhã e metade à tarde. 39 3.5 Leitões na fase de Terminação/Engorda: Período entre 120 a 150 dias de vida. Animais entre 60 a 100 quilos de peso vivo: Ração de Terminação. Oferecer de 3 a 4 quilos/dia metade pela manha e metade à tarde. Obs: Premix ou Núcleo, nada mais é do que um complexo vitamínico mineral. Existem hoje no mercado, diversas marcas de premix ou núcleos, bem como para cada fase da criação, e é de suma importância na ração para o equilíbrio nutricional do animal. Tanto o Milho como o Farelo de Trigo, que são produtos energéticos podem ser substituídos parcialmente por outros produtos energéticos como por exemplo a mandioca ou o sorgo, o importante é que o teor de proteína e a energia de cada ração, fique dentro da exigência do animal e para isso o técnico irá fazer os devidos cálculos para a substituição dos respectivos produtos para que a ração fique balanceada adequadamente. Como os suínos são animais onívoros, ou seja, comem de tudo, o pequeno criador poderá oferecer uma gama de alimentos que poderão ser encontrados na fazenda, como: frutas, restos de hortaliças, mandioca, soro de leite, um pouco de capim, cascas de frutas, cana etc. associando a uma certa quantidade de ração, para que haja uma boa nutrição do animal. Esses produtos, preferencialmente, devem ser oferecidos aos animais na fase de engorda e um pouco para as matrizes em gestação. Evitar oferecer para animais novos na fase de crescimento, bem como as matrizes em lactação, pois os mesmos necessitam de maior equilíbrio nutricional para o seu bom desenvolvimento e produtividade. 40 PRODUÇÃO DE MUDAS: frutíferas e flores tropicais Carlos Josafá de Oliveira "Dentre os temas de interesse público e profissional, o mais eminente é a sustentabilidade". (João Dantas - Engo. Agro. atual Presidente do CREA/BA) FRUTÍFERAS: SALTO QUALITATIVO NOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO Os sistemas de produção de frutas no Brasil desenvolveram-se através do uso de insumos químicos desde os primórdios dos anos 60 com a Revolução Verde. Porém, diante do novo cenário mercadológico, desencadeou-se processos de aprimoramento para todos os seguimentos que compõem as cadeias produtivas, iniciando com a cadeia produtiva da maçã (Embrapa-R.G.S.). Hoje, com o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, consolidou-se um projeto com viabilidade técnica e econômica de produção de frutas para todo o Brasil, para as cadeias produtivas de uva, banana, mamão, manga, citros etc. Outras cadeias sentiram-se estimuladas e começaram a se organizar para a implantação da produção integrada que privilegia a sustentabilidade e a segurança alimentar, pré-requisitos para a conversão das propriedades, ou seja, “passagem” do sistema convencional para os Sistemas Agroecológicos de Produção, fato que tem atraído uma crescente quantidade de agricultores familiares. Novos valores imperam no novo cenário agroecológico/mercadológico: a conservação ambiental e a qualidade de vida. Engo. Agro. EMARC-UR/CENEX/CEPLAC 41 INFLUÊNCIA DA PRODUÇÃO DE MUDAS NA CADEIA PRODUTIVA A cadeia produtiva agrícola, conforme modelo proposto pela Embrapa é composta de 05 seguimentos, começando pelo fornecedor de insumos. O segundo seguimento é representado pelo AGRICULTOR/Sistema de produção. O terceiro pela agroindústria; o quarto pelo comerciante e o quinto pelo mercado consumidor. A base fundamental da cadeia está no segundo seguimento com o agricultor responsável pelo processo produtivo. Na cadeia produtiva agrícola, o produto final de qualidade, começa no viveiro com a produção de mudas de qualidade. No caso das frutíferas, o vigor e a fitossanidade expressos pelas boas condições hídricas e nutricionais e a qualidade dos frutos que elas irão produzir no futuro, como árvores, para o último seguimento que é o mercado consumidor, irão depender, em primeira mão, da qualidade técnica dos tratos culturais que serão dados a elas quando ainda estiverem na “creche” – o viveiro. Portanto, o profissionalismo, ou seja, o conhecimento e a qualificação da mão-deobra, são indispensáveis ao processo, quando se pensa em fazer parte da cadeia produtiva. As mudas frutíferas visando sobretudo, a saúde humana e as mudas de flores tropicais, pela sua exuberância, a beleza e harmonia do ambiente. Acrescem-se a esses cuidados, as práticas agroecológicas para se produzir com sustentabilidade. FLORES TROPICAIS: A produção de flores no Brasil foi, até pouco tempo, uma atividade notadamente restrita aos estados do Sudeste. Mas, com um potencial de mercado interno de mais de 150 milhões de consumidores e um mercado internacional que movimenta nove bilhões de dólares por ano, a floricultura vem ampliando suas fronteiras e alavancando a economia de outras regiões, como o Nordeste. Só o estado do Ceará passou em poucos anos de grande consumidor de espécies importadas ao maior exportador brasileiro de rosas e flores tropicais. IMPORTANTE: Portaria do MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, cria a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Flores e Plantas ornamentais. Publicação no Diário Oficial da União de 19.01.2006, Seção II, pág. 2. 42 LIVRO SOBRE FLORES TROPICAIS A Embrapa Agroindústria Tropical de Fortaleza-CE, lançou o livro sobre Flores Tropicais, dos pesquisadores Daniel Terao e Ana Cristina Carvalho, com informações relevantes sobre o cultivo, cuidados na pós-colheita e comercialização de espécies exuberantes como as bromélias, orquídeas, antúrios, heliconias etc., com informações e fotografias – 226 pág. LEGISLAÇÃO PARA PRODUÇÃO DE MUDAS RENASEM – Registro Nacional de Sementes e Mudas: - Instituído no MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento pelo Art. Nº 7 da Lei Nº 10.711 de 5 de agosto de 2003, dispõe sobre os critérios legais para a produção de mudas a nível nacional. Validade do Registro - 3 anos Comunicação para alterações - 30 dias Cancelamento automático - 60 dias após o vencimento. Art. Nº. 8: ficam isentos da inscrição no RENASEM os agricultores familiares, os assentados da reforma agrária e os indígenas que multipliquem sementes ou mudas para a distribuição, troca ou comercialização entre si. ASPECTOS DA LEI: o material de propagação (vegetativa ou seminal) de qualquer gênero, espécie ou cultivar, para a produção de mudas, deverá ser proveniente de planta matriz, jardim clonal ou borbulheira, previamente inscrita no órgão fiscalizador. O Art. 5º atribui competência aos Estados para elaborar normas e procedimentos relativos à produção de sementes e mudas exercer fiscalização do comércio estadual. O processo de produção de mudas compreende as seguintes etapas: Obtenção da planta básica Obtenção da planta matriz Instalação do jardim clonal Instalação de borbulheira Produção da muda 43 NORMAS TÉCNICAS: 1 - As mudas deverão ser produzidas de acordo com as normas de padrões estabelecidos pelo RENASEM – Registro Nacional de Sementes e Mudas, e autorizadas pela Delegacia Federal de Agricultura do Estado da Bahia, DFA-BA. 2 - O local onde se fixarão viveiros de mudas deverá ser de fácil acesso para inspeções, possuir topografia plana e atender as exigências segundo as espécies, dispor de água suficiente e boa qualidade para irrigação do viveiro. 3 - A repicagem nos processos de seleção de mudas fiscalizadas sob forma de pé franco, deverá constituir prática indispensável para conferir qualidade e uniformidade às mudas. 4 - O produtor deverá selecionar as áreas para a fixação de viveiros de mudas de acordo com as presentes Normas e com as exigências ou tipo de multiplicação da espécie. PADRÃO DO VIVEIRO 1 - O viveiro de produção de mudas deverá ser instalado de acordo com as normas e padrões estabelecidos para a espécie. 2 - Os canteiros ou talhões de mudas serão identificados com uma plaqueta onde contenham: espécie, número de plantas e data de plantio. 3 - A verificação dos padrões do viveiro será feita através de vistorias obrigatórias, pelo Responsável Técnico, principalmente nas fases de plantio (preparo de terriço fertilizado), enxertia ou repicagem e pré-comercialização. 4 - A não realização das vistorias obrigatórias ou descumprimento às normas pelo Responsável Técnico, implicará no cancelamento do viveiro de mudas. DA RESPONSABILIDADE TÉCNICA 1 – A responsabilidade técnica é exclusiva do Engenheiro Agrônomo, Florestal ou Fiscal Federal Agropecuário, em suas respectivas áreas de competência, devidamente registrado no CREA-BA ou com o visto deste. 44 2 - O Responsável Técnico (RT), indicado pelo produtor por ocasião do credenciamento, poderá contar com técnicos auxiliares e auxiliares de nível médio, que atuarão sob sua responsabilidade técnica. DAS INSPEÇÕES 1 - Entende-se por inspeção o processo de acompanhamento de produção de mudas em todas as suas fases, até a identificação do produto final. 2 - O exercício da inspeção da produção de mudas será efetivada por inspetor Engenheiro Agrônomo e/ou Florestal e/ou Fiscal Federal Agropecuário que portar´[a carteira de Identidade Funcional, expedida pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. AOS INSPETORES COMPETE: 1 – Inspecionar as diversas fases do processo de produção, a fim de verificar a correta obediência aos padrões e normas estabelecidos, emitindo o respectivo Laudo de Inspeção. 2 – Cumprir e fazer cumprir a legislação, normas, padrões e procedimentos pertinentes à produção de sementes e mudas. 3 – Orientar, quando necessário, o Responsável Técnico quanto aos aspectos técnicos recomendáveis para o aprimoramento de seu trabalho na produção de mudas. DO LAUDO DE INSPEÇÃO: 1 – Recomendar técnicas agrícolas e procedimentos a serem adotados pelos produtores de sementes e mudas e seus responsáveis técnicos. 2 – Observar as irregularidades constatadas por ocasião das inspeções, advertindo para as medidas corretivas a serem adotadas. 3 – Recusar, temporariamente, as condições das instalações, até que sejam sanadas as irregularidades constatadas. 45 4 – Condenar, parcial ou totalmente, as sementeiras ou viveiros de mudas pela inobservância das normas técnicas e padrões vigentes. 5 – Relatar as condições da sementeira, viveiro de mudas, das plantas e campo de matrizes ou jardim clonal. DEFINIÇÕES : Muda – material de propagação vegetal de qualquer gênero, espécie ou cultivar, proveniente de reprodução sexuada ou assexuada, que tenha finalidade específica de plantio. Muda-detorrão – muda com as raízes envolvidas por porção de terra devidamente acondicionada. Muda-de-raíz-nua – muda com raízes expostas, devidamente acondicionadas. Viveiro – área convenientemente demarcada para a produção de mudas. Viveiro a céu aberto - área livre demarcada para o plantio de mudas. Viveiro rústico – com cobertura e laterais protegidas com material rústico (folhas de palmeiras etc.) Planta matriz – planta original com bons atributos genéticos de onde se extrai as hastes (garfos e borbulhas) para a propagação vegetativa. Propagação vegetativa – processo de reprodução assexuada. Produtor de mudas – pessoa física ou jurídica que produza sementes ou mudas por meio de semeadura ou plantio, assistido por um responsável técnico. Enxertia – método de propagação vegetativa para substituição da copa de uma planta visando a melhoria genética. Porta-enxerto ou cavalo – parte da enxertia que fornece as raízes, Enxerto ou cavaleiro – parte superir da enxertia que fornece a copa. Clone – planta ou conjunto de plantas genéticamente iguais à planta matriz. Estaquia – método de propagação vegetativa pelo enraizamento de estacas. Estaca – parte caulinar(pedaços do caule) usada para enraizamento. 46 Alporquia – processo de multiplicação de plantas por enraizamento dos ramos antes de serem destacados da planta matriz ou planta-mãe. Pé-franco – muda obtida de semente, estaca ou raiz, sem o uso de enxertia. Muda-de-raíz-nua – muda com raízes expostas devidamente acondicionadas. Muda-de-torrão – muda envolvida por porção do solo devidamente acondicionada. Muda seminal – originária de semente. Muda clonal – originária de um clone. PROPAGAÇÃO DE MUDAS RESISTENTES DE FRUTÍFERAS Abacaxizeiro - Propagação em campo. O abacaxizeiro é propagado assexuadamente através de seus órgãos vegetativos. No cultivo da abacaxi, a sanidade do material de plantio assume grande importância, uma vez que, a fusariose e a cochonilha constituem os principais problemas fitossanitários dessa cultura. Tipos de mudas: a) Rebentos - ramos foliáceos que se desenvolvem de gemas encontradas na parte subterrânea do caule. b) Rebentões – ramos foliáceos que surgem de gemas encontradas na zona entre o caule e o pedúnculo. c) Ramos foliáceos que crescem de gemas do pedúnculo, logo abaixo do fruto. A EMBRAPA/Cruz das Almas-BA – lançou em 2003, o Abacaxi Imperial resistente à doença fusariose (apodrecimento do fruto) causada pelo fungo Fusarium subglutinans, responsável pelas perdas de produção do país, superiores a 80%. Bananeira - propagação em campo Tipos de mudas: a) Chifrinho - com 50cm b) Chifre – com 80cm 47 c) Chifre-de-veado - de 80cm a 1,0m d) Pedaços de 1 kg de rizoma e) Pedacinhos triangulares extraídos do rizoma MUDAS DE CULTIVARES DE BANANEIRAS RESISTENTES A Sigatoka Negra, Sigatoka Amarela e ao Mal-do-panamá: 1. Caipira 2. Pakovan Ken 3. Thap maeo 4. Fhia 18 5. Fhia 01 6. Tropical VARIEDADES DE FLORES TROPICAIS Sorvete (Zingíber spectalis) – família das Zingiberáceas, a mesma do Costus, destaca-se pela exuberância de suas flores globosas no ápice das hastes, tomando a forma de um sorvete. Dá um toque especial nos arranjos ornamentais junto às helicônias. Multiplicação por rizomas. Bastão do Imperador (Etlingera elatior) - multiplicação por bulbos e rebentos foliares. Folhagem alta, produz lindos cachos de flores vermelhos. Características de clima similar às heliconias. Heliconias – multiplicação por rizomas, dispensa o replantio. Floração: o ano todo. Folhagem de porte alto, dependendo da variedade, pode atingir até 2,5m de altura. Produz flores pendulares com cores que variam de amarela, vermelha ou combinadas entre si.. Forma touceiras. Adapta-se a qualquer clima, mas prefere calor e umidade. Originária da América do Sul. Nome vulgar: banana-do-mato. Variedades: Heliconia wagneriana; Heliconia rostrata; Heliconia bihai (preferida pelo mercado europeu); Heliconia rauliniana etc. Bastão-de-príncipe – similar ao bastão-do-imperador, porém, de porte baixo, flores cor de rosa e vermelhas. SUBSTRATO: terriço para as mudas A qualidade do terriço é essencial para o bom desenvolvimento das mudas, pois é desse material que as novas plantas vão retirar os nutrientes para os seus primeiros 90 a 120 dias de vida. A depender da origem, deve ser tratado e fertilizado tecnicamente. O lixo urbano de 5 anos pode ser 48 utilizado como terriço, todavia merece cuidados fitossanitários, uma vez que, constitui fonte de inoculo de nematóides do gênero Meloidogyne spp, são vermes microscópicos, parasitas de raízes das plantas cultivadas. Há uma recomendação agroecológica com cinzas de madeira para o tratamento: misturar bem as cinzas ao terriço em proporções adequadas. Solos pobres de barranco devem ser fertilizados tecnicamente. FERTILIZAÇÃO DO TERRIÇO Em experiências com os nossos alunos do curso de Agropecuária da Emarc-UR alcançamos bons resultados com o seguinte preparo: 1000 litros de terriço (50 latas) 01 kg da fórmula 4 -14- 8 (ou similar que guarde a mesma relação 1-3-2) Composto orgânico na proporção de 5:2 ( se enquecido c/ fósforo:5:1) Obs,: Para facilitar o manejo, trabalhamos com porções de 250 litros (média de 50 pás de bico). PROPAGAÇÃO VEGETATIVA EM VIVEIROS: 1. ESTAQUIA - multiplicação por enraizamento de estacas. O Instituto Biofábrica de Cacau utiliza o fitormonio industrializado, Ácido Indolbutírico (pó branco) como indutor de raízes para a produção de mudas de cacau e outras espécies botânicas. Receita agroecológica para indução de raízes Naturalmente, as plantas possuem o fitormônio Indolbutírico para a formação específica de suas raízes. Porém, é sabido que as gramíneas dandá e tiririca, concentram quantidades mais elevadas dessa substância. O viveirista Arnor, do Viveiro II de Plantas Ornamentais, funcionário da Emarc-Ur nos apresenta a seguinte Receita: MATERIAIS: 1) Dandá ou Tiririca 2) Álcool cereal 3) Água PROCEDIMENTO: Moer ou macerar bem os bulbos (batatinhas) com as folhas e colocar na água durante 48 horas, em seguida, coar e colocar no álcool. DURAÇÃO: 30 dias 49 USO: imersão da estaca até a metade durante uns 2 minutos. FOLHAGENS: destacam-se as Cordylines, Dracenas, Pandanos e Filodendros; Dracenas – multiplicação por enraizamento. Corta-se a haste 30 ou 40cm do broto terminal, elimina-se as 3 folhas inferiores e coloca-se num vaso com água para enraizar. Após o enraizamento, transporta-se para o vaso definitivo com composto orgânico umedecido. Cordiline ou dracena-rosada (Cordyline sp) – multiplicação igual às dracenas. Filodendro (Philodendron selloum) – outros nomes vulgares imbé ou cipó-de-imbé. Multiplicam-se por estacas. As folhagens normalmente preferem lugares claros, mas protegidas da incidência direta da luz solar. RECEITAS DE PREPARO DE SOLOS PARA PLANTAS ORNAMENTAIS 1. Mistura Universal – uma receita que segundo os paisagistas, satisfaz as necessidades do maior número de plantas: 7 partes de terra argilosa preta 3 partes de esterco curtido ou composto orgânico 2 partes de areia grossa Podendo aperfeiçoa-la adicionando em cada 5 kg da mistura acima os seguintes ingredientes: ½ colherinha de giz moído ou calcário (exceto para as azáleas que preferem solo ácido); 2 colherinhas de farinha de ossos ou 1 de cinzas de ossos; 2 colherinhas de superfostato simples; 1 colherinha de sulfato de potássio ou cloreto de potássio. Obs.: dispensar o potássio se o composto orgânico teve em sua composição fragmentos do pseudo-caule inteiro com as folhas de bananeira. 2. Receita de preparo de solos para as plantas tropicais em geral: 2 partes de areia lavada grossa; 50 1 parte de argila solta; 1 parte de terra preta; 1 parte de composto orgânico ou esterco curtido ou ½ parte de húmus de minhoca. Para cada 5 kg da mistura, adicionar os seguintes ingredientes: 1 colher-de-sopa de carvão em pedacinhos 1 colherinha de giz moído ou calcário 3. Receita para roseiras - preparo de canteiros: Os canteiros devem ser preparados 8 dias de antecedência do plantio; Fofar a terra 30 a 40 cm de profundidade; Misturar 10 a 15 kg de esterco curtido ou 5 a 7,5Kg de húmus de minhoca por metro quadrado (m2); Completar a adubação, misturando bem 100 a 200 gramas de farinha de ossos ou 50 gramas de cinzas de ossos. Obs.: Além de roseiras, este preparo de canteiros serve também para bulbos e plantas tropicais diversas. Cuidados com as mudas: Conservar as mudas de roseiras na sombra até a hora do plantio e plantar o mais rápido possível. Espaçamento das mudas: de acordo com as variedades. Roseiras de menor porte - 30 a 50cm Roseiras de maior porte - 70cm, 1,0 a 2,0m Plantio das mudas de roseiras: Abrir as covas com 30 cm de profundidade Colocar a muda na cova, enchendo-a com terra aos poucos apertando levemente junto às raízes e logo após, regar bem.. Se a muda for de torrão basta retirar a sacola plástica que a envolve e plantar. Se as mudas forem de raiz nua, ao retirar a embalagem que protege as raízes, mergulha-las em água por 2 a 3 minutos. Ao colocar a muda na cova, localizar o ponto do enxerto, deixando-o a 1 cm acima do solo. Nos meses quentes, proteger as mudas recém plantadas, durante 15 a 20 dias, com folhas de palmeiras ou ramos de folhagens. Regar diariamente, de preferência à tarde com o sol mais frio, até o início da floração. Depois só nos dias quentes. Roseiras não gostam muito de água. Manter a terra do canteiro sempre fofa e livre de plantas invasoras. Importante: Assim que surgir as primeiras folhas, fazer uma aplicação do fungicida Dithane - 45 a 0,02%, pois nesse período o ataque de doenças é mais severo. 51 CACAU: ENXERTIA DE MUDAS EM VIVEIROS E BROTOS BASAIS EM CAMPO Tipos de enxertia mais usados pelos produtores na região cacaueira: a) Garfagem de topo em fenda cheia: neste caso, o diâmetro do enxerto deve ser compatível com o diâmetro do porta-enxerto. b) Garfagem de topo em meia-fenda: o diâmetro do enxerto é mais fino que o do porta-enxerto. Tamanho dos garfos: condicionado ao número de gemas, mínimo de 2 e máximo de 4. (Gemas - são as pequenas estruturas no canto da folha ou seja, na axila foliar) Tempo de realização de cada enxerto: em torno de 30 segundos, para evitar oxidação da seiva. Fitossanidade: descartar garfos praguejados e doentios. No corte do bisel é comum observar-se algumas estrias castanho-escuras que são sintomas da doença fúngica Lasiodiplodia. A cigarrinha-dos-ramos, por sua vez, deixa os ramos inchados com fendilhamentos ressecados. Garfos com esses danos devem ser eliminados. COLETA DE HASTES OU VERGÔNTEAS a) As hastes devem ser colhidas de clonesou matrizes certificadas, oficialmente recomendadas de jardins clonais devidamente credenciados. b) As hastes devem ser colhidas nas horas mais frescas do dia, pela manhã ou à tarde. c) Conservação das hastes: Parafinar 1 a 2cm das extremidades para evitar a desidratação. Acondiciona-las em papel jornal umedecido e transportar em caixas de isopo. PORTA-ENXERTOS - Com o advento da doença mal-do-facão, no Sul da Bahia, a Ceplac passou a recomendar sete clones descendentes do clone IMC, tolerantes ao fungo Ceratocystes fimbriata, causador da doença: TSH - 1188; CEPEC - 42; TSA - 654; TSA - 792; TSA - 656; TSH 774 e TSH - 565. 52 CONSULTA BIBLIOGRÁFICA: Revista Agroanalysis; FGV; ago. 2001. GOMES, Pimentel - Fruticultura Brasileira - 1987. FLORASSULBA - Flores [email protected] e Folhagens Tropicais. E-mail: COMPTON, Joan - Plantas Para Casa - 1978. RENASEM- Registro Nacional de Sementes e Mudas/ Delegacia Federal de Agricultura do Estado da Bahia- Legislação sobre Produção de Sementes e Mudas - Ago/2003. BIOFÁBRICA DA EMBRAPA/Cruz maurí[email protected] das Almas/BA. E-mail: INSTITUTO BIOFÁBRICA DE CACAU - Informativo - 2004. TITCHMARSH, Alan - O Fascinante Livro das Plantas. Edições Siciliano1983. CHEPOTE, Rafael Edgardo e outros. Recomendações de Corretivos e Fertilizantes na Cultura do Cacaueiro no Sul da Bahia- 2ª aproximação - 2005. MURAYAMA, Shizuto - FRUTICULTURA - 1980. AGENDA - 26ª Semana do Fazendeiro/Ceplac/Emarc-Uruçuca - 2004. PEREIRA, Aldo - Jardinagem Prática - 1978. REVISTA Roselândia Nº 24 - 1996. DONADIO, Luiz Carlos e outros - Fruticultura Tropical - 1992. COMISSÃO ESTADUAL DE SEMENTES E MUDAS NA BAHIA - Delegacia Federal de Agricultura na Bahia -DFA-BA/MAPA. 53 FABRICAÇÃO ARTESANAL DE LICOR, CHOCOLATE E SEUS DERIVADOS Rita de Cássia Oliveira Lavinsky 1 - FABRICAÇÃO ARTESANAL DE LICOR Os povos antigos misturavam xarope, álcool e ervas para fazer licor, uma bebida bastante apreciada devido ao seu poder digestivo. Foram os árabes em 900 a.C. que inovaram o processo, com o método de fabricação por fermentação alcoólica. No Brasil, a prática de fabricação de licor foi passada de geração a geração até chegar à produção em escala industrial, através de processos mais sofisticados. No entanto, os licores artesanais constituem uma alternativa para aproveitamentos de produtos regionais, agregando valor e renda, em especial, à família rural. Licor é a bebida alcoólica por mistura com graduação de 15 a 54% em volume, a 20° C, e um elevado percentual de açúcar, elaborado com álcool de cereal ou destilado alcoólico, adicionada dos princípios aromáticos extraídos das frutas, folhas, flores, cascas, raízes e grãos, ou produtos de origem animal e também, de substâncias aromatizantes, saborizantes, corantes e outros aditivos permitidos em ato administrativo complementar. O segredo do licor artesanal está na combinação harmônica dos seus componentes básicos (princípio aromático, álcool e açúcar) que resultará num produto de cor, aroma e sabor; conferido pela qualidade da matéria prima e os rigorosos cuidados de higiene durante a fabricação. O sabor e aroma evidenciados por frutas regionais, subprodutos e derivados de cacau, a exemplo do jenipapo, mel e amêndoa de cacau, serão considerados principalmente noutros centros consumidores, como de alto valor econômico. Técnica em Alimentos da SETEA/CEPEC/CEPLAC e Bacharel em Ciências Econômicas. 54 Classificação de licor quanto à concentração de açúcar: Seco - contém 30 a 100 gramas de açúcares, por litro; Fino - contém 100 a 350 gramas de açúcares, por litro; Creme – contém mais de 350 gramas de açúcares, por litro; Cristalizado - saturada de açúcares parcialmente cristalizados. Tempo de Infusão - a depender do tipo da matéria prima 30 dias – extratos de frutas e demais substâncias aromatizantes; 60 dias – folhas, flores, cascas, raízes e grãos. Matéria-prima Água – limpa inodora, incolor, apropriada ao consumo e de padrão de qualidade; Açúcar – refinado, bem seco, claro e sem odor; Álcool – de Cereais, com graduação de 96% GL (Gay Lussac). Equipamentos e utensílios Os utensílios e equipamentos utilizados nesta atividade deverão ser fabricados em materiais como vidro, louça e aço inox. Outros materiais reagem com o álcool e as substâncias ácidas dos princípios aromáticos do licor e podem afetar a qualidade da bebida e a saúde do consumidor; Filtros: Flanela branca, coadores de náilon e filtros de papel; Vasilhames de vidro para envase/rolhas de cortiças. Legislação O Decreto nº. 2.314/97 regulamenta a Lei nº. 8.918, de 14 de julho de 1994, que dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a produção, rotulagem e a fiscalização de bebidas, estando os estabelecimentos produtores de licores inclusos neste regulamento. Estes estabelecimentos deverão ser obrigatoriamente registrados no Ministério da Agricultura e do Abastecimento. 55 Etapas de processamento Jenipapo Mel de cacau Grãos de cacau Recepção Recepção Recepção Seleção da fruta Seleção dos frutos Seleção dos grãos Lavagem Lavagem Torrefação Sanitização Sanitização Descascamento Prensagem Prensagem Limpeza nos nibs Infusão Fervura do mel e açúcar Infusão Envelhecimento Resfriamento Envelhecimento Filtração Filtração Filtração Mistura do xarope Adição do álcool Mistura do xarope Engarrafamento Engarrafamento Engarrafamento Rotulagem Rotulagem Rotulagem Expedição Expedição Expedição Considerações finais Apesar do avanço tecnológico, o processo ainda é rudimentar. Filtração com peneiras de náilon ou flanela deixa o produto com sedimentos que interfere no aspecto. A filtragem por algodão é demorada e expõe o produto a agentes contaminantes. Equipamentos disponíveis no mercado são inacessíveis à produção de baixa escala. Inovação tecnologias em equipamentos a vácuo ou filtros prensa que atenda pequena escala será fator de desenvolvimento para a atividade agroindustrial. 2 – FABRICAÇÃO DE CHOCOLATE E SEUS DERIVADOS O cacau tem como centro de origem as florestas tropicais do continente americano. Colombo durante sua descoberta a América conheceu o cacau, porém não lhe deu a devida importância. O mérito de tornar o cacau conhecido para o mundo europeu deve-se Hernando Cortez, que conquistou o México para a Espanha em 1528. Cortez admirava o foto de grãos de cacau ser usados como moeda corrente e de Montezuma (Imperador dos Astecas), apreciar a bebida e ter hábitos de degustá-los 56 em copos novos de ouro e descarta-los em seguida para provar o quanto valorizava a bebida. De volta a Espanha Cortez aconselhou ao rei a plantar esta árvore de dinheiro em colônias de clima tropical a exemplo de Trindad e Haiti na América Central e Ilha de Fernando-Po na costa da África Ocidental e daí para Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões, hoje principais produtores de cacau. Com o advento da revolução industrial e a invenção de diversas máquinas, tornaram possível a produção em escala tornando o produto mais acessível a todos, e daí para o Mundo Novo onde foi fundada a primeira fábrica de chocolate, aumentando o hábito de beber chocolate na América do Norte. Os holandeses plantaram cacau nas suas colônias, nas ilhas Orientais (atual Indonésia). Em 1828 um fabricante Holandês Conrad Van Houtten, descobriu um método de extrair a gordura do cacau moído, e obter manteiga de cacau. Os pedaços resultantes, após moagem foram transformados em pó, facilmente dissolvidos em água quente. No entanto, chocolate em tablete se tornou possível 20 anos depois através duma empresa inglesa que misturou o cacau moído com manteiga de cacau e açúcar. Após 30 anos, um fabricante Suíço adiciona leite in natura. E daí então inúmeras fábricas em diversos países produziram diferentes tipos de chocolate – doce, meio amargo, amargo, ao leite, com adição de nozes, licor e frutas. No Brasil, produtores de cacau fino buscam nas tecnologias pós-colheitas amêndoas com características especiais, para atendimentos a clientes externos que valorizam o sabor do chocolate. Os produtores de cacau orgânicos através de praticas limpas de campo produzem produtos que valorizam a saúde do consumidor. Estes produtores têm seus preços acima da cotação do mercado, o que acaba fugindo da commodity convencional de cacau. Num futuro próximo esperase a difusão do processo, maior disponibilidade de equipamentos no mercado nacional, produtos especiais promovendo desta forma a fabricação de chocolate partindo da amêndoa de cacau com alto sabor de chocolate. Processamento de chocolate e seus derivados Sabe-se que o sabor de chocolate se desenvolve com boas práticas de campo, Fermentação e secagem são etapas crucias na formação dos precursores de chocolate. Na etapa de fermentação, consideram-se como fatores importantes: sistema de fermentação, temperatura da massa a fermentar, pH e acidez da polpa e cotilédones, duração e temperaturas do 57 processo, revolvimentos da massa, microflora e outros. Na etapa de secagem a umidade da amêndoa fermentada que estava na faixa de 4050% atinge 6-8%. Esta faixa de umidade é importante para garantir uma boa conservação da amêndoa durante o armazenamento, antes de ser submetida à torração. No entanto, o processo de fabricação de chocolate começa com a torrefação que se caracteriza pelos seguintes processos metabólicos: desenvolvimento do aroma e sabor pela reação de Maillard, a partir dos precursores formados durante a fermentação; perda do teor de água ao nível de 1-1,5%; diminuição dos ácidos voláteis, como o ácido acético; inativação das enzimas capazes de oxidar a manteiga de cacau e mudanças da textura dos cotilédones (mais quebradiço), facilitando desta maneira através de equipamentos o seu descascamento (separação da testa e cotilédone), e a conseqüente transformação em nibs. O refino, conchagem e temperagem são etapas industriais subseqüentes que ajudam a conferir ao produto final sabor pleno de chocolate. No refino é importante que a massa atinja partículas de dimensões variando de 10 a 15 micros, já que os botões (glândulas) gustativos não conseguem distinguir partículas menores que 10 micros. Além da percepção sensorial, nesta faixa o chocolate atinge a fluidez desejável. A conchagem tem a finalidade de melhorar a viscosidade da massa, produzir ou liberar compostos, eliminando substâncias de sabor não desejado. A temperagem por sua vez é responsável pelo brilho, textura e maciez de chocolate. A manteiga exibe um complexo sistema de cristalização, dado pela combinação de vários ácidos graxos que conferem formas polimórficas cristalinas, cujas características são importantes quanto ao aspecto do chocolate, para formação de cristais estáveis na solidificação do produto final. Segue-se a moldagem pelo enchimento das formas, retirada do ar contida na massa do chocolate; endurecimento através de túnel de resfriamento (controle de temperatura e umidade relativa), onde ocorre contração da massa e liberação dos bombons, tabletes e figuras ocas em fino acabamento. Para fabricar chocolate partindo das sementes até o produto final, a sua cadeia produtiva é composta por cinco processos distintos: o do agricultor, o dos comerciantes, o das indústrias moageiras, fabricantes de chocolate e fabricantes de chocolate caseiros. Cabe ao agricultor fermentar e secar; aos comerciantes e exportadores armazenar e transportar; às indústrias moageiras transformar em “liquor”, torta e manteiga, à indústria chocolateira fabricar a massa, e as empresas de chocolates caseiros 58 espelhados por todos os cantos, utilizar a massa das indústrias chocolateiras e a transformar em diversos tipos de bombons com recheios especiais. Atualmente, o Centro de Pesquisa do Cacau através do Laboratório de Subprodutos de cacau, dispõe de uma pequena linha fabricação de chocolate, tornando possível o desenvolvimento de um processo tecnológico de fabricação de chocolate de pequeno porte, através de instalações apropriadas e dos seguintes maquinários: Torrador, fragmentador/descascador, máquina multifunção (mesclar, refinar e conchar), temperadeira, envasadeira, túnel de resfriamento, centrifugas para figuras ocas e estufa de secagem de formas. Espera-se num futuro próximo a difusão do processo e disponibilidade no mercado de produtos com formulações com sabor mais acentuado de chocolate a preço mais acessível. O objeto deste mini-curso será a fabricação de chocolate partindo duma massa elaborada e formulada com alto teor de massa de cacau (Padrão CEPEC), tal quais as indústrias de chocolates caseiros com o diferencial no recheio utilizando frutas e produtos regionais, tanto na elaboração de bombons como de figuras ocas, ressaltando as técnicas caseiras quanto à temperagem, moldagem, resfriamento e acondicionamento. Será demonstrada também a fabricação da cocada e pó de cacau, através de técnicas artesanais, torrefação dos grãos, descascamento manual, utilizando apenas: fogão, liquidificador, moinho de café e utensílios domésticos. Espera-se ao final do mini-curso que tenha contribuído para o conhecimento das técnicas de fabricação de chocolate (bombons, recheio e figuras ocas) e seus derivados e a conseqüente promoção do aumento do consumo de cacau. BIBLIOGRAFIA BAUMREISTER, P. Cocoa liquor roasting. The Manufacturing Confectionery,Glen Rock, v10 p 43-45 1981. BECKETT, S. T. Fabricación y Utilización Industrial del Chocolate. Trad.Mariano González Alonso. Zaragoza: Acribia, 1994. 432p. 59 Recheios de Bombons com Durabilidade Prolongada. ITAL. Instituto de Tecnologia de Alimentos. Campinas, São Paulo. 1997. LOPEZ, A. S. & QUESNEL , V. C. Volatile fatty acid production in cacao fermentation and effect on chocolate flavor. J. Sci. Food Agric. 24(3):319-324, 1973. LOPEZ, A. S.; McDONALD C. R. A definition of descriptors to be used for the qualification of chocolate flavours in organoleptic testing. Revista Theobroma, v. 11, n.3, p. 209-217, 1981. MORORÓ, R. C., FREIRE, E. S., SERÔDIO, R. S., LAVINSKY, R. C. 1996. Como Aumentar o Consumo de Chocolate no Brasil. 12ª Conferencia Internacional de Pesquisa de Cacau, Salvador, Bahia. 1996. SCHWAN, R.F., LOPEZ, A., SILVA, D.O., VANETTI, M.C.D. Influência da freqüência e intervalos de revolvimentos sobre a fermentação do cacau e qualidade do chocolate. Agrotrópica, v 2, n 1, p 22-31, 1990. STAUFFER, M. B. Chocolate Manufacturing: critical process controls – An overview. The Manufacturing Confectioner. 92-94, jun. 1994. URBANSKI, J. J. Chocolate Flavor/Origins and Descriptions. The Effects of process and Bean Source. The Manufacturing Confectioner v. 72, n. 11, p 69-82, 1992. LIMA, J. R. A delícia sagrada: como o chocolate é feito? Revista Galileu, Rio de Janeiro, n°162, janeiro 2005. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT883986-1716,00.html> Acesso em: 07de maio 2006. MINDEL, N. A história do chocolate. Disponível em: <http:// www.chabad.org.br/biblioteca/artigos/chocolate/home.html> Acesso em: 07 de maio 2006. Resposta Técnica. Disponível em: <http://sbrt.ibict.br/upload/sbrt327.pdf> Acesso em 07 maio 2006. 60 BRAGANÇA, M. G. L. Como produzir licores. Rev. Tecnologia e Treinamento, Viçosa. Disponível em: <http://www.tecnologiaetreinamento.com.br/ sessao.php?go=materiastecnicas&mat=0251>. Acesso em: 07 de maio 2006. EMATER Agroindústria: Processamento Artesanal de Frutas– Licor. Disponível em:<http://www.emater.mg.gov.br/site_emater/Serv_Prod/ Livraria/Agroindustria/Livraria_Agroindustria.asp#>. Acesso em: 07 de maio 2006 61 FERTILIZAÇÃO DO CACAUEIRO Rafael E. Chepote Edson Lopes Reis O Brasil e a Malásia, dentre os países produtores de cacau, são os que vêm utilizando com maior intensidade sistemas de produção com tecnologia moderna, incluindo o emprego de corretivos e fertilizantes. No Sul da Bahia são evidentes as respostas à adubação na cultura do cacaueiro. Resultados experimentais constataram, em nível de fazenda, uma associação estreita entre área adubada e produtividade. As recomendações de corretivos e fertilizantes consideram o grau e distribuição do sombreamento, o estado fitossanitário da plantação e as características físico-químicas do solo, tais como textura, profundidade efetiva, drenagem, pH, H+ + Al3+, P-disponível e bases trocáveis de K+, Ca2+ e Mg2+. Além desses aspectos, as inundações que ocorrem periodicamente em algumas zonas, o regime hídrico e a impedimento físicos ao bom desenvolvimento do sistema radicular do cultivo com reflexos sobre a produção. Pesquisas desenvolvidas recentemente pela Seção de Solos e Nutrição de Plantas (CEPEC/SENUP) com corretivos e adubos têm dado suporte técnico-científico na atualização das recomendações de corretivos e fertilizantes no cacaueiro no Sul da Bahia. Assim o uso de corretivos além de corrigir a acidez do solo e toxidez de alumínio e manganês, visa também o fornecimento de cálcio e magnésio ao solo. Os critérios de calagem na cultura do cacau no Sul da Bahia fundamentam-se na elevação dos teores de cálcio e magnésio para 3,0 cmolc/dm3 em solos Latossolos distróficos e na redução da saturação de alumínio para valores de 30% em solos Argissolos distróficos e Aluviais Argilosos distróficos. As quantidades totais de corretivos a serem aplicadas ao ano dependem da textura do solo: 2000 kg/ha/ano para solos de textura argilosa e 1000 kg/ha/ano para solos de textura franca. O uso de gesso agrícola (sulfato de cálcio diidratado - CaSO42H2O) deve-se utilizar na melhoria do ambiente radicular do cacaueiro nas camadas subsuperficiais (20 a 40cm), quando os teores de Ca2+ são ≤ 0,4 cmolc/dm3 e tem elevados teores de alumínio (> 0,5 cmolc/dm3 de Al3+ e/ou P e s q u i s a d o r e s ( C E P L A C / C E P E C / S E N U P ) . E - m a i l : r c h e p o t e @ c e p e c . g o v. b r ; [email protected] 62 saturação por Al3+ ≥ 30%). Este é o caso dos solos Aluviais Argilosos distróficos de Linhares e Argissolos distróficos do Sul da Bahia. A adubação do cacaueiro baseia-se nas doses de nitrogênio, determinadas em ensaios de campo e nos níveis críticos de fósforo e potássio disponíveis que proporcionam maior desenvolvimento e produção do cacaueiro. Desta maneira disponibilizaram-se doze formulações (Tabela 1) com as respectivas quantidades de nutrientes por hectare e doses de fertilizantes a serem utilizados. São apresentadas também, recomendações de adubação orgânica do cacaueiro a base de composto de casca do fruto do cacau e de esterco de curral, na presença e ausência de adubos minerais, adubação a base de micronutrientes e foliar. Como técnica de monitoramento do estado nutricional do cacaueiro, a diagnose foliar, é utilizada: recomenda-se coletar a terceira folha a partir do ápice de um lançamento recém amadurecido, na meia altura da copa da planta. A época de coleta é no verão (dezembro a janeiro) evitando-se o período de lançamento. Coletar quatro folhas por planta (uma em cada quadrante), percorrendo-se uma área homogênea, num total de 10 cacaueiros por amostra composta. As folhas deverão ser coletadas e acondicionadas em sacos de papel e remetidas de modo a darem entrada no laboratório no mesmo dia. Se o tempo entre a coleta e a entrada no laboratório for superior a duas horas, devem-se manter as amostras a baixa temperatura em um isopor com gelo. Tabela 1. Quantidades de N, P2O5 e K2O, composição dos fertilizantes e respectivas doses para as diferentes idades das plantações. Doses de Fertilizantes NPK 1 As quantidades recomendadas por planta devem ser fracionadas em três aplicações para os dois primeiros anos e em duas aplicações para os anos subseqüentes. 63 IMPORTÂNCIA DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS PARA A SUSTENTABILIDADE DOS BIOMAS TROPICAIS Manfred Willy Müller Os Sistemas Agroflorestais (SAF’s) são reconhecidamente modelos de exploração de solos que mais se aproximam ecologicamente da floresta natural e, por isso, considerados como importante alternativa de uso sustentado do ecossistema tropical úmido (Almeida, et 2002; Bandy et al., 1994; Canto et al., 1992; Huxley, 1983; Nair, 1993; Müller, et al., 2002). A importância da utilização de Sistemas Agroflorestais fica mais evidente, quando constatamos a existência de extensas áreas improdutivas em conseqüência da degradação resultante, principalmente, da prática do cultivo itinerante, reconhecidamente uma modalidade de exploração não sustentável dos solos. A pecuarização é outra realidade na exploração de terras no Brasil sendo, em geral, uma atividade resultante da implantação de grandes projetos, principalmente na Amazônia, mas não somente naquela região, a qual promove a elevação do índice de desemprego e representa grande risco de degradação ambiental. Existe atualmente na literatura uma grande variedade de termos empregados para conceituar práticas que combinam espécies florestais com culturas agrícolas e/ou com a pecuária. Também há uma grande confusão no uso da terminologia agroflorestal no Brasil. Muitos confundem sistemas agroflorestais com consorciação de cultivos. Resumidamente pode-se dizer que todo SAF é uma consorciação de cultivos, contudo o inverso nem sempre é verdadeiro. Na verdade Agrofloresta é um termo novo para uma prática bastante antiga já utilizada pelos indígenas. King e Chandler (1978) conceituaram os SAF’s como sendo os “Sistemas sustentáveis de uso da terra que combinam, de maneira simultânea ou em seqüência, a produção de cultivos agrícolas com plantações de árvores frutíferas ou florestais e/ou animais, utilizando a mesma unidade de terra e aplicando técnicas de Eng° Agro., Ph.D., CEPLAC/CEPEC/ESOMI [email protected] 64 manejo que são compatíveis com as práticas culturais da população local”. Este conceito talvez seja o mais adequado para caracterizar os SAF’s porque faz alusão ao fator sustentabilidade, adotabilidade e, também, a classificação temporal dos sistemas agroflorestais. Esta definição implica que: a) SAF envolve normalmente duas ou mais espécies de plantas (ou plantas e animais), onde pelo menos uma delas é lenhosa; b) SAF tem sempre dois ou mais produtos e; c) mesmo o mais simples SAF é sempre mais complexo, ecologicamente (na sua estrutura e função) e economicamente, do que os sistemas de monocultivos (Nair, 1993). Existem muitas classificações dos sistemas agroflorestais (Nair, 1993; Dubois et al., 1997; Montagnini at al., 1992). Na classificação mais empregada, distinguem-se os seguintes sistemas: o Silviagrícola ou Agrosilvicultura, o Silvipastoril e o Agrosilvipastoril. Os sistemas silviagrícolas são caracterizados pela combinação de árvores, arbustos ou palmeiras com espécies agrícolas, por exemplo, o consórcio de cacaueritrina ou cacau-espécies nativas (cabruca). Os sistemas silvipastoris preconizam a associação de árvores dentro da atividade agropecuária ou a criação de animais dentro de povoamentos florestais, em resumo a associação de pastagens e/ou animais e árvores. Sistemas agrosilvipastoris são caracterizados pela criação e manejo de animais em consórcios silviagrícolas, por exemplo, criação de animais em agroflorestas. A parte “florestal” da palavra agroflorestal não quer dizer que a espécie arbórea do sistema deva ser uma espécie da floresta ou uma espécie madeireira. Na Amazônia, por exemplo, muitos desses sistemas têm apenas árvores frutíferas e cultivos perenes. A sustentabilidade é uma característica inerente aos sistemas agroflorestais, pois estão alicerçados em princípios básicos que envolvem aspectos ecológicos, econômicos e sociais. Todo método ou sistema de uso da terra somente será sustentável se for capaz de manter o seu potencial produtivo também para gerações futuras. Além disso, os SAF’s para serem considerados sustentáveis devem envolver os aspectos sociais, econômicos e ecológicos, isto é necessitam que sejam socialmente justos, economicamente viáveis e ecologicamente corretos. Função social: Os SAF’s quando implantados em um determinado local ou região, possuem uma importante função social, a de fixação do homem ao campo devido principalmente ao aumento da demanda de mãode-obra e sem sazonalidade, ou seja, a sua distribuição é mais uniforme 65 durante o ano (os tratos culturais e colheita ocorrem em épocas diferentes), e da melhoria das condições de vida, promovida pela diversidade de produção (produtos agrícolas, florestais e animais). A conservação das espécies arbóreas medicinais e frutíferas, também é uma importante função social dos SAF’s (Müller et al., 2003 e 2003). Os sistemas agroflorestais, quando comparados aos monocultivos, geralmente produzem maior número de serviços e produtos para o consumo humano tendo em vista, principalmente, a utilização de grande diversidade de espécies florestais arbóreas e arbustivas, e pelas diferentes alternativas de consorciação com espécies agrícolas e/ou animais, em uma mesma área de terra. Função econômica: A alternância da produção ao longo do ano e a diversificação de produtos conferem aos SAF’s fluxo de caixa mais favorável, principalmente pelas receitas obtidas com os cultivos intercalares de ciclo curto; maiores lucros por unidade de área cultivada e maior estabilidade econômica pela redução dos riscos e incertezas de mercado. Neste caso, a escolha das espécies utilizadas nos SAF’s deve apoiar-se em um estudo de mercado para detectar os produtos de maior aceitação e venda em determinadas épocas do ano. Os sistemas agroflorestais, pela diversidade de culturas necessitando para o seu manejo uma gama variada de mão-de-obra e, também, pelo fato de a maioria das culturas perenes utilizadas serem produtoras de matéria prima (madeira, látex, resinas, gomas, corantes, etc.) ou de alimentos (óleos, palmito, frutas, etc.), que podem demandar industrialização imediata, geram maiores oportunidades de emprego no meio rural. Função ecológica: A característica mais importante dos SAF’s parece ser a estabilidade ou sustentabilidade ecológica. Esta sustentabilidade resulta da diversidade biológica promovida pela presença de diferentes espécies vegetais e/ou animais, que exploram nichos diversificados dentro do sistema. A multiestratificação diferenciada de grande diversidade de espécies de múltiplos usos, que exploram os diferentes perfis verticais e horizontais da paisagem nos SAF’s, otimizam o máximo aproveitamento da energia solar (Macedo, 2000). Como importância ambiental dos SAF’s pode ser citada: proteção contra erosão e degradação dos solos, conservação dos remanescentes florestais, conservação das espécies arbóreas de valor ecológico (proteção 66 e alimentação à fauna, espécies endêmicas e espécies em extinção), conservação de nascentes e cursos d’água, substituição das matas ciliares mantendo a função de proteção e, atuação de corredores ecológicos interligando fragmentos florestais (Müller et al., 2002 e 2003). Uma das vantagens mais conhecidas da agrofloresta é o seu potencial para conservar o solo e manter sua fertilidade e produtividade. As espécies arbóreas, normalmente por possuírem raízes mais longas que exploram maior volume de solo, são capazes de absorverem nutrientes e água que os cultivos agrícolas não conseguiriam, uma vez que, geralmente, suas raízes absorventes estão concentradas na camada superior do solo até 20 cm de profundidade. O dossel de copas formado pela diversidade de espécies vegetais proporciona cobertura de solo através da deposição de camada densa de material orgânico, gerada continuamente pela queda de folhas e ramos das diferentes culturas. Isso aumenta a proteção do solo contra a erosão, diminui o escorrimento superficial da água de chuva aumentando o seu tempo de infiltração, reduz a temperatura do solo, aumenta a quantidade de matéria orgânica e, conseqüentemente, melhora as suas propriedades químicas, físicas e biológicas. O Quadro 1 demonstra a importância dos SAFs na função de proteção contra perda de solo por erosão. Os dados são provenientes de quatro tipos de cobertura do solo durante a exploração da terra (sem cobertura, cultivo intensivo - mandioca e milho -, cultivos perenes - SAFs - e floresta nativa) em um Ultisol com 7% de declividade na Costa do Marfim. Observase que a perda de solo nos cultivos perenes é baixa e praticamente igual à floresta nativa (Quadro 1). Quadro 1. Perdas de solo por erosão em Ultisols com 7% de declividade na Costa do Marfim. Erosão (t/ha/ano) Cobertura Solo exposto (sem vegetação) 125 Cultivo de milho 92 Cultivo de mandioca 32 Cultivos perenes* (SAFs) 0,3 Floresta nativa 0,1 Fonte: Ollagnier et al. (1978). 67 Isto é particularmente relevante nos trópicos onde os solos são, em geral, mais pobres e menos produtivos, comparados aos de zona temperada. A Tabela 1. mostra a distribuição dos principais grupos de solos nos três continentes tropicais. Os oxisols e ultisols, que predominam nos solos dos trópicos úmidos, constituindo, em média, 41% dos solos tropicais e chegando a representar 55% dos solos tropicais do continente americano, são solos altamente lixiviados, possuem baixo teor de bases trocáveis, baixa reserva de nutriente, alto teor de alumínio e baixa disponibilidade de fósforo (Sanchez, 1976). Os solos de moderada a alta fertilidade (Alfisols, Vertisols, Mollisols e Andisols) constituem, em média, somente 23% dos solos tropicais (Tabela 1). Tabela 1. Distribuição geográfica das ordens de solo nos trópicos, baseado nos solos dominantes do mapeamento da FAO na escala de 1:5 milhões. América tropical Solos Oxisols Ultisols Entisols Inceptisols Andisols Alfisols Vertisols Aridisols Mollisols Histosols Spodosols Total 1 Africa tropical Asia tropical Área1 % Área1 % Área1 502 320 124 204 31 183 20 30 65 4 10 33,6 21,4 8,3 13,7 2,1 12,3 1,3 2 4,4 0,2 0,7 316 135 282 156 1 198 46 1 0 5 3 27,6 11,8 24,7 13,7 0,1 17,3 4 0,1 0 0,4 0,3 1.493 100 1.143 100 Área em ha x 106 Total % Área1 % 15 294 168 172 11 178 97 56 9 27 7 1,4 28,4 16,2 16,6 1,1 17,4 9,3 5,4 0,9 2,6 0,7 833 749 574 532 43 559 163 87 74 36 20 22,7 20,4 15,7 14,5 1,2 15,2 4,4 2,4 2 1 0,5 1.034 100 3.670 100 Fonte: Szott at al., (1991). Os supostos efeitos (benéficos e adversos) das árvores nos sistemas agroflorestais são (Nair, 1993): EFEITOS BENÉFICOS 1. Adição ao solo Manutenção ou aumento da matéria orgânica 68 Fixação de nitrogênio Absorção de nutrientes (reciclagem de nutrientes) Deposição atmosférica de nutrientes Exsudação de substâncias promotoras de crescimento na rizosfera 2. Redução de perdas pelo solo Proteção contra erosão Recuperação de nutrientes (reciclagem de nutrientes) 3. Efeito sobre propriedades físicas do solo Modificação de extremas temperaturas do solo 4. Efeito sobre propriedades químicas do solo Redução da acidez Redução da salinidade Redução da perda de MO do solo por oxidação (efeito do sombreamento) EFEITOS ADVERSOS Perda de MO e nutrientes por colheita (espécie madeireira) Competição por nutrientes e água entre as espécies arbóreas e os cultivos agrícolas Produção de substâncias inhibidoras de germinação e crescimento Um aspecto que deve ser enfatizado em Sistemas Agroflorestais é a ciclagem de nutrientes, especialmente os de fácil lixiviação como cálcio (Ca), potássio (K) e enxofre (S). O cultivo consorciado tem a vantagem de retirar estes nutrientes das camadas mais profundas do solo e devolvêlos à superfície pela queda das folhas e ramos das espécies arbóreas, os quais tornam-se nutrientes disponíveis às plantas após a decomposição da matéria orgânica e posterior mineralização. Fontes (2006) estudando a ciclagem de nutrientes em diferentes SAfs de cacaueiro no Sul da Bahia (SAF's-Cabruca e SAF's-Eritrina) observou que, apesar das taxas de liberação de nutrientes pela ciclagem biogeoquímica da serrapilheira variarem entre os diferentes SAFs cacau, o balanço de nutrientes para a produção de 1.000 kg de amêndoas secas foi positivo para todos os sistemas avaliados e a quantidade de nutrientes 69 na serrapilheira e cascas de cacau são relevantes para a manutenção do potencial produtivo do sistema. No sistema solo-planta, os nutrientes da planta estão em um "status" contínuo de transferência dinâmica. As plantas absorvem os nutrientes do solo e os usam nos processos metabólicos. As partes da planta que retornam ao solo, como folhas mortas, ramos e raízes, formam o "litter" ou biomassa que por ação da atividade de microorganismos do solo se decompõem e liberam os nutrientes para serem absorvidos novamente pelas plantas. Em uma visão mais restrita, ciclagem de nutrientes referese a esta contínua transferência de nutrientes do solo para planta e de volta para o solo. No aspecto mais amplo, ciclagem de nutrientes envolve a transferência continua de nutrientes dentro dos diferentes componentes do ecossistema, incluindo processos tais como intemperização de minerais, atividades da biota do solo e outras transformações que ocorrem na biosfera, atmosfera, litosfera e hidrosfera (Nair, 1993). Nos SAF's a utilização de espécies florestais ou frutíferas que interagem simbioticamente com bactérias do gênero Rhizobium, contribui para, além na ciclagem normal de outros elementos, também para aumentar a quantidade de nitrogênio no solo. No Quadro 2 pode-se observar a importância da ciclagem de nutrientes em áreas de cacau sombreadas com espécies nitrificadoras. Para comparação, foi incluída no Quadro 2 a necessidade da planta para repor os nutrientes retirados da área por ação da lixiviação e colheita dos frutos. Observa-se que a quantidade de nutrientes aportados (N, P, K, Ca e Mg) pela litter produzido por qualquer uma das três espécies é sempre maior do que o total de nutrientes removidos pela colheita dos frutos e por lixiviação. Naturalmente que existe outra fonte de remoção de nutrientes muito importante que não consta do Quadro 2 que é a parte de nutrientes utilizado para a formação de órgãos e tecidos da planta. De qualquer forma, mesmo que os nutrientes aportados pela biomassa não se igualem às exportadas (lixiviação e colheita) e utilizadas (metabolizção) pela planta, o que seria o ideal, mas pelo menos reduzem bastante a necessidade de importação destes elementos para a área. Os sistemas agroflorestais podem ser considerados como uma das alternativas de manejo racional dos recursos naturais renováveis que equacionam os principais problemas da agricultura e de seus impactos negativos sobre o meio ambiente, assim como oferecem possibilidades para amenizar e/ou solucionar as dificuldades financeiras de grande parte dos agricultores brasileiros (Tsukamoto Filho, 1999). 70 Atualmente o mundo se preocupa com a sustentabilidade e preconiza como alternativa viável para atingir o desenvolvimento sustentável, os sistemas agroflorestais. Desta forma os SAFs passaram a fazer parte de diretrizes centrais de desenvolvimento rural sustentável pelo potencial de serem implantados em áreas já degradadas, reincorporando-as ao processo produtivo e minimizando, assim, o desmatamento sobre florestas primárias. São uma opção estratégica para pequenos produtores por causa da baixa demanda de insumos, ao maior rendimento líquido por unidade de área em comparação com sistemas convencionais de produção e por fornecerem inúmeros serviços sócio-ambientais. Esses serviços podem ser valorados, e convertidos em créditos ambientais, propiciando agregar valor à propriedade agrícola (Gandara e Kageyama, 2001). O avanço dos SAFs a partir da experimentação empírica por agricultores e, mais recentemente, a partir de experimentos mais formais denominados científicos, vem mostrando que os sistemas mais complexos, imitando as florestas naturais, utilizando o conceito de biodiversidade e sucessão ecológica, apontam para novos horizontes a agricultura nos trópicos. Quadro 2. Produção de biomassa, teores de nutrientes aportados por algumas espécies componentes de SAFs com o cacaueiro e quantidade de nutrientes removidos através da colheita de frutos de cacau e lixiviação. yth a oe a a Co d a a odo a G 1 Frutos equivalentes a 1.000 kg de amêndoas secas. 71 d a se REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Almeida, C. M. V. C. de; Müller, M. W.; Sena-Gomes, A. R. e Matos, P. G. G.. 2002. Pesquisa em Sistemas Agroflorestais e Agricultura Sustentável: Manejo do Sistema. Workshop Latino-americano sobre Pesquisa de Cacau, Ilhéus, Bahia, 22 – 24 de outubro de 2002. Anais com resumo expandido (CD-ROM). Bandy, D.; Garraty, D. P.; Sanches, P. 1994. El problema mundial de la agricultura de tala y quema. Agroforesteria en las Américas, 1 (3):14-20. Brito, A. M. de; Silva,, G.C.V.; Almeida, C.M.V.C. e Matos, P.G.G.. 2002. Sistemas agroflorestais com o cacaueiro (Theobroma cacao L.) para o desenvolvimento sustentável do estado do Amazonas. IV Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais, 21 a 26/10/2002, Ilhéus, Bahia. Anais com resumo expandido (CD-ROM). Canto, A. do C., Silva, S. E. L. da. e Neves. E. J. M. 1992. Sistemas agroflorestais na Amazônia Ocidental: aspectos técnicos e econômicos. In: II Encontro Brasileiro de Economia e Planejamento Florestal. Curitiba 30 de setembro a 4 de outubro de 1991, EMBRAPA-CNPF, 1992, Anais V.1, p. 23-36. Dubois, J.C.: Viana, V.M. e Anderson, A.B. 1997. Manual Agroflorestal para a Amazônia: primeiro volume. Rio de Janeiro, RJ. REBRAF. 228p. Gandara, F.B. e Kageyama, P.Y. 2001. Biodiversidade e dinâmica em sistemas agroflorestais. In: Documentos: Palestras III Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais (eds. Macêdo, J.L.V.; Wandelli, E.V. e Silva Júnior, J.P.). pp.25-32. Embrapa Amazônia Ocidental. Documentos. 21 a 25/11/ 2000, Manaus, AM. Huxley, P. A. 1983. Plant Research and Agro forestry. International Council for Research in Agro forestry (ICRAF), Nairobi, Kenya. 617 p. 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Por isto mesmo este é o momento exato para discutir o seu futuro, e quais os caminhos para consolidá-la como atividade pecuária produtiva e economicamente viável. Lançamos então o Programa de Desenvolvimento de Sustentabilidade Rural, onde o foco é o pequeno e médio produtor na busca de alternativas para a unidade produtiva. A idéia do Programa de ovinocaprinocultura não é substituir a atividade principal da fazenda, a idéia é somar. A proposta é que o rebanho faça parte do negócio da fazenda e seja utilizado inclusive na integração com a agricultura, com aproveitamento de restos culturais e em consorciação. Podemos citar inclusive o Sistema Agroflorestal onde se aproveita cada etapa no processo de consorciação, trabalhos estão sendo desenvolvidos para este setor. O Programa contempla também o que eu chamo de A “Pecuária do Eucalipto” (CORREIA, 2003) é um sistema racional e eficiente de uso da terra. Nesse sistema, árvores são cultivadas em consórcio com culturas agrícolas e/ou criação animal que propicia, entre outras vantagens, a recuperação da fertilidade dos solos, o fornecimento de adubos verdes e o controle de ervas daninhas. Consiste numa prática de manejo na qual as culturas são cultivadas nas ruas entre as fileiras arbóreas, geralmente são leguminosas, e na qual as espécies lenhosas são podadas periodicamente durante a época de cultivo. 1 Arquiteta e urbanista, técnica em agropecuária, especialização em produção de pequenos ruminantes, Diretora-Presidente da ACCOSULBA Assoc. de Criadores de Caprinos e Ovinos do Extremo Sul – BA, autora e coordenadora do Programa OC 13M para o desenvolvimento sustentável através da Ovinocaprinocultura, instrutora do setor ovinos/caprinos SENAR/Extremo Sul. Contato: 73-3291.3892, 73-9992.4926, [email protected], [email protected] 74 Neste sistema implantamos uma produção consorciada envolvendo um componente arbóreo com um cultivo agrícola e um tipo animal, de forma a maximizar a ação compensatória e minimizar a competição entre as espécies, com o objetivo de conciliar o aumento de produtividade e rentabilidade econômica com a proteção ambiental e a melhoria da qualidade de vida das populações rurais, promovendo, assim, o desenvolvimento sustentado. O principal enfoque é o sócio-econômico-ambiental, com integrações e diversidade dos sistemas monoculturais que constituem a matéria trocada entre si, melhorando e conservando as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Refere-se à composição, os três grupos de componentes a serem manejados: O florestal, que pode ser representado pelas árvores; o agrícola, com plantas herbáceas ou arbustivas, incluindo plantas forrageiras; o animal, ovino/caprino. O arranjo espacial contempla a densidade de plantio e a distribuição das plantas na área. As árvores podem ser plantadas em aberto, como no uso de árvores de sombra em pastagem podendo sua distribuição ser de forma misturada com os outros componentes, (bracatingas, no sul do Brasil), em zonas estreitas entre fileiras (microzonais), ou largas plantadas em fileiras, faixas, ou blocos distantes uns dos outros (macrozonais), cercas- vivas, quebra- ventos, bancos de proteína, e em terraços para rotação e conservação de solo. (SAF’s incluindo o pastoril). Este trabalho encontra-se em execução e ainda não podemos afirmar com exatidão a população animal por hectare ano. Já no Sistema de Produção semi-extensiva, afirmo com exatidão, que trabalhando-se com complementação de cocho e rotação de pastagens, podemos ter um resultado impressionante de 60 arrobas por hectare / ano, o que nos estimula cada vez mais na atualização das técnicas e tecnologia da atividade. A Importância da criação de Ovinos e Caprinos no contexto econômico e a rentabilidade a curto, médio e longo prazo abrem espaço e avança no processo de estímulo aos criadores; iniciando a criação de forma estratégica, usando a tecnologia como válvula propulsora de desenvolvimento para o manejo integrado de toda a produção. Baseada nas oportunidades identificadas - na demanda nacional que 75 hoje importa 50% da matéria prima consumida nos grandes centros, através de pesquisas e demonstrações de aptidão local, e por esta região comportar muito mais de 60 assentamentos de reforma agrária com pequenas áreas onde as propriedades rurais encontram-se improdutivas e agricultores familiares com necessidades básicas de inclusão socioeconômica em busca de oportunidades. Os principais problemas que requerem decisões administrativas em uma empresa rural são: Quanto produzir - Como produzir - O que produzir. Ou seja, o produtor rural deve definir qual a combinação de atividades a serem exploradas, qual o método de produção das atividades e que gastos serão efetuados para se atingir determinado patamar de produção. A escolha das atividades deve estar estritamente relacionada com a disponibilidade de recursos na propriedade; disponibilidade de mercado para os produtos; habilidade, objetivo e preferência do produtor. Lembrando sempre que todo negócio de sucesso é aquele que se sabe fazer. Em geral, os estudos consideram como se a ovinocaprinocultura da Bahia fosse uma atividade homogênea, explorada de maneira igual em todo o estado. Contudo, questões agro-ecológicas e sócio-econômicas fizeram com que os produtores passassem a adotar diferentes sistemas de produção. A produção de caprinos e ovinos ocorre, principalmente, em estabelecimentos de base familiar, frágeis financeiramente, com baixa tecnologia e pouco acesso a crédito. A comercialização de caprinos, ovinos e seus produtos se caracteriza por canais de comercialização relativamente curtos, em zonas rurais ou pequenas cidades do interior, com pouca ou nenhuma participação de frigoríficos e indústrias de embutidos. No entanto, começam a ser observadas mudanças nos segmentos de produção e comercialização de caprinos e ovinos na Bahia. Nosso Objetivo é preparar o produtor rural na passagem da atividade tradicional, para o trabalho empresarial investindo em sua propriedade como uma empresa e acreditando que os seus animais são seus funcionários, colaboradores e acionistas (CORREIA, 1998). Nossa Meta é aumentar o poder de negociação dos produtores em suas relações com o mercado (pós-porteira) e favorecer na formação e expansão da ovinocaprinocultura com a transferência de conhecimentos (atacado/varejo): Levar informações de qualidade e atualizadas a esse público; Capacitação técnica; 76 transferência de tecnologia; 0rganizar a unidade produtiva à luz do agronegócio administrar a unidade produtiva de forma empresarial; transformar o perfil do caprino-ovinocultor; qualificar a mão-de-obra; mudar e/ou criar hábitos culturais na população; auferir competitividade ao setor: - produtividade; - qualidade de produto; - preço do produto compatível com o mercado; - disponibilidade do produto em nível do consumidor; - constância na oferta. Nossa Missão é o Desenvolvimento da Sustentabilidade Rural, eficiência e autonomia na unidade produtiva como passo inicial de todo Programa profissionalizando o empresário rural na busca de seu resgate e integridade bio-psico-social. Para se ter qualidade e quantidade, na Tabela abaixo vão os resultados que a tecnologia nos oferece. ÍNDICES MÉDIOS Taxa de lotação de pastagens (matriz/ha) Idade a 1a cobertura (dias) Fertilidade (%) Prolificidade (%) SISTEMA TRADICIONAL SISTEMA SEMIEXTENSIVO NORMAL SISTEMA IZ DE ABATE SUPER PRECOCE 10-12 20-25 30-35 330 300 540 85 87 87 1 30 145 145 Intervalo entre partos (meses) 12 10 8 Peso ao nascer (kg) 3,5 4,5 4,5 Idade de desmame (dias) Peso ao desmame (kg) Ganho de peso pré-desmame (g/dia) Peso vivo ao abate (kg) 90 60 45 18,8 12,7 15,1 170 28-30 220 280 28-30 28-30 Idade de abate (dias) 169 120 95 Ganho de peso pós-desmame (g/dia) 130 190 240 Rendimento de carcaça fria 42% 45% 45% Custo estimado (R$ / kg de carcaça) 2,26* 2,40 2,32 77 Abate deverá ser humanitário de 120 dias a 180 dias no máximo para machos e para fêmeas. Na precocidade podendo chegar machos com 25 a 35 kg aos 100 dias e fêmeas aos 120 dias (futuro da produção para exportação). Para um ovino/caprino chegar ao seu ponto melhor de abate ele deverá estar no máximo com 6 meses entre 28 e 32 kg que é igual em média a um ganho de 0,166 kg/dia, por tanto devemos pesar este animal a cada 30 dias, quanto maior for a precocidade maior rentabilidade. ESCOLHA DAS RAÇAS A raça Santa Inês é resultado de cruzamentos indiscriminados entre três raças, Morada Nova, Bergamácia e Somalis, seguido de um período de evolução e seleção, principalmente para o aumento do porte e perda total da lã. É de porte médio a grande, com aptidão para a produção de carne e pele (ARCO, 1989) e apresenta o maior potencial para ganho de pesos entre as raças da região. Nos Caprinos a raça Bôer com aptidão para corte e a Anglo-nubiana com aptidão mista corte e leite, nas duas raças encontramos peles de boa qualidade e alto valor comercial. O cabrito pasta para cima (ramoneio), tentando subir nos arbustos, e o cordeiro pasta para baixo consumindo o rasteiro do pasto. Para os capins Aruana e Amendoim Forrageiro, está sendo usado 28 dias de descanso com 04 dias de pastejo em um grupo de animais, desta forma teremos 8 divisões na pastagem. Nessas condições a taxa de lotação tem variado de 40 a 60 ovinos por hectare /período, com um ganho peso diário variando de 80 a 160 gramas. AS INSTALAÇÕES É importante ressaltar que o capital investido em instalações não deve exceder de 20 a 35% do investimento inicial. Assim, é possível para o produtor alocar maior quantidade de recursos na aquisição de animais de alto potencial para produção. Ao planejar as instalações, o produtor deve considerar a possibilidade de futuras ampliações, a serem financiadas pelos recursos obtidos da própria atividade. 78 Observação: Rebanhos fechados, onde são mantidos e manejados sem associação com outros animais é de grande valor na prevenção dos problemas sanitários, com risco de transmissão de agentes patogênicos entre outras espécies animais, da mesma forma cães e gatos não devem ter acesso às instalações e alimentos dos caprinos e ovinos, é importante lembrar que as medidas de controle sanitárias devem ser estendidas a todos os animais da propriedade. Animais doentes devem ter dependências especialmente construídas para tal finalidade (enfermarias) tem como objetivo concentrar a fonte de infecção numa área restrita e controlável para reduzir os riscos de infestação para outros animais. MANEJO DOS ANIMAIS Logo após o nascimento as crias devem ser separadas da mãe, cabendo ao tratador enxugá-las com pano limpo , massageando todo corpo para estimular as funções respiratórias e circulatórias, e removerem os restos placentários das narinas e boca. Devem ser identificados no primeiro momento e alojados em local limpo e arejado, sem vento, chuva ou frio, podendo-se utilizar cama de feno ou outro material seco. O cordão umbilical deve ser cortado a uma distancia de 2 dedos do abdome com tesoura limpa e aplicação de tintura de iodo a 10% durante 3 dias. O recém nascido deve ingerir pelo menos 5% de seu peso em colostro, (150 a 200ml) nas 6 primeiras horas de vida. (dividido em 4 mamadas) por 5 dias. As crias devem ser aleitadas em baldes ou mamadeiras, devidamente limpas, com o próprio leite ou de vaca pasteurizado na proporção de 1:2. No caso de aleitamento na mãe direto os tetos deverão ser desinfetados e limpos antes do aleitamento. No caso de rejeição ou pouca quantidade de leite o aleitamento deverá ser feito com leite de vaca na mistura de 1:2. Após a ordenha o leite deve ser rapidamente resfriado a 4°C e mantido nesta temperatura até a pasteurização que é um processo obrigatório para qualquer tipo de consumo. 79 ALIMENTAÇÃO O concentrado a partir dos 15 dias com 12 a 18% de P.B. além do volumoso, pode ser oferecido feno de rami, leguminosas e o sal mineral. O desmame 50 dias, machos para abate desmame 40 dias. Abate a 150 dias no máximo para machos 180 dias para fêmeas. Na precocidade podendo chegar machos com 25 a 35 kg aos 100 dias e fêmeas aos 120 dias. Para o pasto após os 60 dias, antes, somente banho de sol no solário que deve ser de terra sem nenhuma vegetação. Aos 15 dias, entrar com ração balanceada. Descorna no 10º dia com ferro quente, Caprinos. Reprodução do macho após 1 ano de idade. Reprodução da fêmea após 7 meses ou atingir acima de 30 kg. Castração para abate aos 180 dias não é necessário, após os 120 dias separar por sexo os animais jovens. SIMPLES MANEJO PARA ALIMENTAR 20 ANIMAIS Plante 1 hectare de capim de boa qualidade, mais 2.500 m2 de napier, Jaraguá, Rhodes, gordura, colonião, capim elefante consorciado com leguminosas (feijão guandu, leucena, amendoim forrageiro); Para o inverno na estação seca, deve-se plantar milho, mandioca, rami. Também, um ótimo consórcio é a palma forrageira e fenos de capim quicuio e jaraguá. Para simplificar o trabalho, também pode ser oferecido como complemento folha de bananeira, ameixeira ou amoreira. De vez em quando pode-se utilizar produtos de podas de jardim, pomar e excedentes de horta ou outras plantações como batata doce, cenoura, folhas de abacate, cítricos, e até palha de feijão. Sal e sal mineral não podem faltar e a água deve ser potável e limpa. Evitem que comam erva tenra em excesso ou pasto orvalhado que ocasionam indigestão e diarréias. Corte a capineira após as 10 h da manhã quando o capim já secou e as larvas dos vermes caíram por terra. É aconselhável na complementação alimentar dos animais 50% de farelo de milho, 30% de farelo de trigo, ou 55% de fubá grosso de milho, 35% de quirera de milho, 20% de farelo de coco ou 50% de raspas de mandioca e outras opções que se tem na propriedade. 80 Não vão a pasto em dia de chuva. O capim cortado deve estar murcho desde que não esquente nem esteja fermentado. As refeições devem ser oferecidas sempre no mesmo horário. O rolão de milho é o concentrado mais indicado (pés, espigas) 700g por animal adulto, 300g para cabritos. As necessidades de proteína bruta é de 21%. Em pastagem para pisoteio podemos utilizar : Humidícola que está entre 8 a 11% de PB (proteína bruta); Quicuio (Pennisentum clandestinum) está entre 13 a 18% de PB; Amendoim forrageiro está entre 18 a 23% de PB; Capim estrela está entre 7 a 10% de PB; Capim buffel. Pisoteio; Capim coast-cross. Pisoteio; Aruana, ótimo para o pastejo quando rebaixado. Para CAPINEIRAS de corte. Podemos utilizar o que temos na região em média com 60 a 90 dias em três cortes: napier Cana de açúcar:- Capineira. Proteína 2 a 3%. Camerum Colonião Capim elefante - 55 a 60 dias para ensilagem e capineira. As LEGUMINOSAS são: Feijão guandu Leucena Amendoim forrageiro Cunha Outras são: Milho Mandioca ou aipim. A capacidade produtiva animal além da genética é dependente de diversos fatores, dentre eles, os nutricionais. Para se obter níveis elevados de produtividade todos os componentes da dieta devem ser considerados 81 e fornecidos, pelo menos, nas quantidades mínimas exigidas. Quantidades totais e mínimas necessárias de todo e qualquer nutriente, do macro ao micro elemento. Quando, por exemplo, a pastagem não oferecer aos animais algum nutriente na(s) quantidade(s) necessária(s), este deve ser complementado da forma mais econômica possível. Um caso típico é a mineralização dos animais através do fornecimento de sais minerais em saleiros. O mesmo pode acontecer para nutrientes protéicos e/ou energéticos através do uso de misturas múltiplas para todo o rebanho ou de alimentação restrita (creep feeding) para animais jovens. O crescimento pós-natal é acentuado durante as primeiras semanas de vida, logo decrescendo o ritmo e assim originando uma curva com tendência à horizontalidade. Nascendo o animal, por exemplo, com aproximadamente 5% do seu peso adulto (PA) geneticamente definido, em apenas 10 semanas ele multiplica por 5 vezes este peso atingindo 25% do PA, nas 10 semanas seguintes ele apenas consegue dobrar o seu peso vivo (PV) para alcançar 50% do PA, em seguida no mesmo período de tempo aumenta em apenas 1/2 o seu PV alcançando 75% do PA e segue com ganhos cada vez menores, o que exigirá dezenas de semanas para que atinja o seu PA definido geneticamente. Polpa cítrica: Complementação em cocho. Pode ser usado na proporção de 10% (pectina, laranja e limão). Nitrogênio na estação das secas. Mineral NRC 81. Palma forrageira: Reserva estratégica para os rebanhos nos anos de baixa produção de forragem são elas:- palma gigante, palma redonda, palma doce. O plantio deve ser feito 2 meses antes da estação chuvosa, utilizando-se raquetes da 3ª rama, colocadas na posição vertical com a base voltada para o solo, com 1 metro entre fileiras e ½ metro entre raquetes. Os alimentos são classificados em concentrados e volumosos. CONCENTRADOS São alimentos com altos teores de nutrientes. concentrados protéicos são alimentos que apresentam acima de 82 18% de proteína bruta, com baixos teores de fibra e de fácil digestão. Destacam-se a torta de algodão, o farelo de soja, a torta de mamona, e a uréia. Concentrados energéticos são os alimentos que apresentam elevados teores de energia e de fácil digestão. Os mais comuns são, o milho, o farelo de trigo e o melaço. VOLUMOSOS São alimentos com elevados teores de fibra, componentes essenciais aos ruminantes, além de conterem nutrientes tais como, proteína, energia, vitaminas e sais minerais. Os mais comuns são: forragens verdes, fenos, silagens, subprodutos da agroindústria e os restos culturais - bagaços e resíduos resultantes do processamento industrial de frutas, cana de açúcar, tomates, leveduras, e os pós-colheitas - palhadas, cascas, folhas e talos. CONCLUSÃO Este trabalho só terá fundamento se tivermos por excelência a certeza de que estamos possibilitando aos pequenos produtores rurais, através da comercialização de seus produtos, o resgate da dignidade conseguida pela valorização de seu trabalho. 83 PLANTIO DE MUDAS DE CACAUEIROS CLONADOS POR ESTAQUIA Robério Gama Pacheco Jorge Luiz Lima Cordier PREPARO DA ÁREA ADEQUAÇÃO DO SOMBREAMENTO Por ocasião do plantio no campo, as mudas clonadas por estaquia necessitam de sombreamento de 60 a 70%. Portanto, deve-se ajustar o sombreamento provisório com, pelo menos, seis meses de antecedência do plantio das mudas, utilizando-se o próprio cacau, a bananeira e/ou gliricidia. Estas espécies são recomendadas pela facilidade de propagação, velocidade de crescimento, quantidade e qualidade dos restolhos produzidos para uso como cobertura morta e incorporação de nutrientes ao solo e, especialmente, no caso da bananeira, pelo aproveitamento da produção dos frutos, gerando receitas e melhorando a alimentação na fazenda. Por ocasião do desbaste das bananeiras e poda nas gliricidias e respectivos pseudocaules e folhagens, podem ainda ser utilizados na alimentação animal. Após esse período e antes da adubação básica, deve ser realizada a poda e ou levantamento das copas das árvores que constituem o sombreamento provisório, com o objetivo de reduzir sombra para cerca de 50% em relação ao estágio inicial.Esta prática deve ser repetida a cada ano ou de acordo com as necessidades da área. CEPLAC/CEPEC 84 ABERTURA, ADUBAÇÃO E ENCHIMENTO DA COVA Em solos de média fertilidade abrir covas com dimensões 30 x 30 x 40 cm. Para solos ácidos de baixa fertilidade, abrir covas de 40 x 40 x 40 cm. Em solos Hidromórficos de textura argilosa e aluvial argilosos, as covas devem ter as dimensões de 40 x 40 x 50 cm, sendo imprescindível a realização da drenagem antecipada da área com valetas de 70 a 80 cm de profundidade. Utilização de corretivos nas covas Independente do corretivo a ser aplicado na área, o calcário deverá ser incorporado na cova como fonte de cálcio e magnésio. Este calcário deverá ser misturado com o solo e adicionado na camada inferior (20-40 cm) da cova. Adubação fosfatada na cova A aplicação de fósforo na cova deve-se realizar de acordo com os resultados da análise de solo, podendo-se utilizar diferentes fontes de adubos fosfatados, os quais devem ser aplicados na metade superior da cova juntamente com os micronutrientes e a matéria orgânica. Adubação orgânica na cova A adubação orgânica compreende a utilização e aproveitamento de resíduos orgânico de origem animal, vegetal ou industrial devidamente processados para uso agrícola, sempre que a matéria orgânica no solo for inferior a 30g kg. Os adubos orgânicos em solos de baixa fertilidade (ácidos e com baixo conteúdo de matéria orgânica) visam melhorar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, favorecendo a disponibilidade de nutrientes. Os adubos orgânicos na cova devem ser aplicados nas seguintes quantidades: 2 kg/cova, de composto de casca de cacau e/ou esterco de gado ou 1 kg/cova no plantio de composto de cacau e/ou esterco de gado, mais 50% da dose de adubo mineral, recomendado pela análise de solos. Adubação com micronutrientes na cova A utilização de micronutrientes visa repor a carência desses elementos 85 no solo, notadamente em solos ácidos e de baixa fertilidade para o cacaueiro. Atualmente, com a introdução de clones com maior demanda nutricional é importante à utilização de adubos com micronutrientes. Pesquisas mostram que o Zinco é o elemento que mais freqüentemente manifesta deficiência em Latossolo distrófico e Argissoloso distróficos. Quando os teores desses elementos no solo se encontram abaixo de 1,5 mg dm³, deve-se aplicar 4kg de Zn por ha, na forma de óxido ou sulfato de zinco em pó. No plantio, recomenda-se aplicar 15g de FTE NEW Centro oeste, por cova. ADUBAÇÃO FOLIAR A capacidade das plantas em absorver nutrientes por meio das folhas constitui um fundamento para a adubação foliar, a qual é uma forma de aplicar esses elementos nas diversas culturas. A adubação foliar pode constituir-se uma alternativa quando se visa complementar a adubação aplicada no solo ou em cultivo intensivo (floricultura e horticultura) e em viveiros. Estes fertilizantes foliares podem ser aplicados conjuntamente com defensivos agrícolas (inseticidas e fungicidas), desde que sejam compatíveis. É interessante consultar o Escritório local da CEPLAC, em caso de dúvidas. TRANSPORTE Mesmo não sendo considerada uma etapa do processo de produção, o transporte das mudas da unidade de produção para a propriedade requer uma série de cuidados, sem os quais o sucesso do plantio de muda clonal ficará comprometido. Meio de Transporte O transporte é geralmente feito por caminhões ou automóveis utilitários com a parte superior e as laterais protegidas contra chuvas e vento, a fim de evitar a desidratação; deve-se também equipar os veículos com grade para acomodação das bandejas. Horário de transporte Durante o dia os melhores períodos para transporte são definidos até 86 às 9 horas e a partir das 16 horas. O transporte feito entre as 9 e 16 horas em dias quentes aumenta a perda de água das plantas, contribuindo para aumentar o stress das mesmas. Assim, dias mais úmidos, com temperaturas entre 22°C e 25°C e chuvas de pequenas intensidades são desejáveis durante o transporte. Em distância superior a 100 km, recomenda-se irrigar as mudas a cada 2 horas. RECEPÇÃO DAS MUDAS NA FAZENDA As mudas devem ser colocadas em bancada de bambu, ripas com suporte de arame liso. PLANTIO DAS MUDAS FORMADAS EM TUBETES Considerando que a cova já foi aberta e cheia com terra devidamente enriquecida (adubada) com a devida antecedência, o plantio da muda deve ser feito obedecendo a seguinte seqüência: 1 - Regar as mudas por ocasião da transferência um dia antes da ida para o campo. 2 - Abrir um buraco com um furão a fim de facilitar a deposição da muda sem dobrar as raízes. Obs: O furão é um pedaço de madeira roliça com cerca de 1 metro de comprimento e 25 cm de diâmetro, cuja extremidade basal vai afunilando a partir dos últimos 25 cm. À semelhança da ponta de um lápis. 3 - Colocar a muda no buraco, atentando para que o torrão fique cerca de 5 cm abaixo do nível do solo. 4 - Ao colocar a muda no buraco, não forçar para baixo para que a muda não venha a dobrar as pontas das raízes, fazendo com que as mesmas não se desenvolvam no sentido vertical. 5 - Quando a área for declivosa, não esquecer de posicionar a muda no buraco com a inclinação da brotação principal voltada para a parte de cima da encosta, procedimento que contribui para a melhor sustentação da planta quando adulta. Completar o volume do buraco com solo, seguido de rega (para promover melhor contato entre o solo e a raiz), complementado pela compactação do solo ao redor das raízes, a fim de eliminar “bolsões de ar”. 87 COBERTURA MORTA Deve ser realizada por ocasião da adequação do sombreamento provisório e da limpeza da área. É fundamental para diminuir a concorrência por água e nutrientes entre cacaueiros e as plantas invasoras. Quando do uso de pseudocaule de bananeira, este deverá ser dividido em pedaços de aproximadamente 50 cm, aberto ao meio e depositado ao redor do cacaueiro, com a face cortada voltada para o solo. Cobertura morta com pedaços de tronco de bananeira (50 cm). MANJEO DE PRAGAS PÓS-PLANTIO Em condições de pós-plantio as pragas mais freqüentes são: Raspadores e sugadores Sugadores Ácaro de gema Trips Ácaro mexicano Monalonio Pulgões Lagartas Cochonilhas Lagarta enrola folha Cigarrinhas Lagarta de compasso Broca da Muda, Formiga Cortadeira e Vaquinha Os inseticidas atualmente recomendados e registrados no MAPA são: Endosulfan (250 ml/100 litros de agua); Deltametrina (100 ml/l00 litros de agua); Malathion (200 ml/100 litros de agua); Decis (200 ml/100 litros de agua); Óleo mineral emulcionável. Controle de formigas Época Seca: Utilização de isca e inseticida à base de Sulflurramida e Diflubenzuron; Época Chuvosa: Uma isca inseticida com utilização de porta-isca; 88 termonebulização: utilizar 50ml de Deltametrina ou 100ml de Malathion por litro, de óleo de soja ou óleo Diesel; Obs: Empregar termonebulizador ou adaptar pulverizador costal ou motorizado para nebulização. Controle Preventivo da Broca da Muda Identificar os fatores fitotécnicos causadores de estress hídricos nas plantas, corrigindo e garantindo sombreamento adequado da área. Usar cobertura morta e práticas que aumentem a disponibilidade de água do solo. Favorecer o rápido enraizamento das mudas com emprego da calagem e adubação. Pós-plantio: Mudas no campo (até 12 meses). Vistorias semanais, tratos culturais (limpeza, roçagem, cobertura morta, etc.). Observar sintomas e danos, especialmente das duas principais pragas (trips e monalonio); Controle: Aplicação localizada dos inseticidas Endosulfan, Deltametrina e Malathion, nas doses anteriores prescritas; é imprescindível realizar teste de vazão dos pulverizadores, para determinar o volume de água por hectare. Em seguida, calcular a diluição do produto, por exemplo: se o volume determinado de água for 200 litros/ha, multiplica-se a dose do inseticida por 2. 89 PODA DE CACAUEIRO CLONADO POR ESTAQUIA Jorge Luiz Lima Cordier Robério Gama Pacheco PODA DE MUDA CLONADA POR ESTAQUIA A modernização da cacauicultura no estado da Bahia por meio de propagação vegetativa ou assexuada, obriga a dar ao cacaueiro um manejo de poda oportuno e permanente, visando a formação adequada da arquitetura da planta com o objetivo de promover a formação de áreas de produção. Um fator decisivo para um bom manejo integral do cultivo, é o conhecimento fisiológico da planta de cacau. O estudo do ciclo de brotação, crescimento e repouso vegetativo da planta, assim como a floração e a frutificação são aspectos fundamentais para a definição da época e freqüência de poda. Também, deve-se levar em consideração o comportamento das chuvas, que é o fator ambiental que mais modifica o crescimento vegetativo e reprodutivo do cacaueiro. Os resultados das avaliações fisiológicas da árvore de cacau mostram que a sua produção depende da área foliar ativa. Portanto, a conformação de uma copa balanceada para a captação de energia solar deve se constituir no aspecto fundamental do manejo da planta, que permita uma produção suficiente de substâncias básicas para o desenvolvimento dos frutos. A poda deve responder a critérios fisiológicos, econômicos e fitossanitários de tal forma, que os clones de cacau expressem o seu potencial genético através de produtividade, sem que esta, se converta em uma prática antieconômica para o produtor e prejudicial para as plantas. CEPLAC/CEPEC 90 FUNÇÃO DA PODA A poda tem como função eliminar os ramos chupões e as partes doentes ou secas do cacaueiro que consomem as substâncias nutritivas e mantêm um ambiente úmido prejudicial dentro da plantação, bem como promover a renovação e reorientação da arquitetura da planta, tornando-a equilibrada e mais produtiva. Para o desenvolvimento normal de um fruto de cacau são necessárias de 12 a 15 folhas sadias, indicando dessa maneira a importância de conservar e manejar bem o índice de área foliar. Uma redução drástica da folhagem, quando se efetua poda forte, afeta sobremaneira a produção de frutos. Estas devem ser feitas buscando uma estrutura adequada da planta para que haja maior aeração e boa penetração de luz, com o objetivo de aumentar sua eficiência na fotossíntese. TIPOS DE PODA O cacaueiro tem grande capacidade para regenerar seu tecido foliar e sempre emite novas brotações, quando se efetua a poda. Geralmente a planta produz ramificações abundantes ao redor do corte, sendo necessário selecionar entre 2 a 3 ramos bem distribuídos para formar a copa da planta. A poda pode ser de formação, de manutenção e de produção. Poda de Formação Tem como finalidade formar uma arquitetura adequada e conservar a zona de produção da planta. Esta poda consiste na eliminação de ramos e brotos na muda, desde o viveiro, quando se devem eliminar ramos que brotam na base da muda, até o início da fase produtiva da planta no campo. No campo, recomenda-se realizar a eliminação de todos os ramos que brotam entre 0,75 cm até 1,0 m de altura. Neste ponto devem ser selecionados ramos bem distribuídos espacialmente para formação da forquilha. Daí surgirão ramos secundários e terciários que formarão a copa definitiva. A maior parte da produção da planta se concentra nos ramos secundários e terciários do tronco. 91 Importância da poda de formação: Permite escolher os ramos que formarão a arquitetura do cacaueiro; Prepara a planta para a fase produtiva; Favorece a entrada de luz no interior da copa; Facilita o controle de pragas e doenças; Aumenta o arejamento da copa; Facilita as práticas de capina, adubação e Colheita. Poda de Manutenção Visa à eliminação de ramos secos, doentes, danificados, autosombreados, entrelaçados com plantas vizinhas e aqueles com crescimento excessivo. Poda de Produção Elimina os ramos que se cruzam. Deve ser realizada de dentro para fora das plantas, sem deixar grandes espaços, permitindo a incidência da luz direta no tronco e no solo. Quando esta poda deixa de ser realizada, ocorre excesso de folhas no interior da copa aumentando a competição na planta e entre plantas, pelo fato de reduzir a fotossíntese no interior da copa. As folhas sombreadas atuam mais como dreno do que como fontes de carboidratos, afetando a produção. Quando a poda é praticada em excesso, diminui os ramos produtivos e aumenta a freqüência de lançamentos foliares, afetando sobremaneira a produção de frutos. FREQUÊNCIA E ÉPOCA APROPRIADA DA PODA As podas de manutenção e produção devem ser realizadas duas vezes ao ano, de maneira leve, para estimular a atividade fisiológica e, conseqüentemente a produtividade da planta. É importante respeitar cada planta, de acordo com o vigor do clone, desenvolvimento, idade, características topográficas e climáticas da região e intensidade do sombreamento. A época mais apropriada para realização da poda deve coincidir com os períodos de baixa produção, floração e atividade foliar, normalmente no final da época seca e início das chuvas. 92 Devem-se adubar as plantas antes da realização das podas. MATERIAL UTILIZADO NA PODA Tesoura de poda usada para cortar partes vegetais finas, ao alcance do operário; Tesoura de poda de (1,0, 1,5 e 2,0 m) usada para despontar ramos finos, localizados nas partes altas da planta e para remoção de vassouras; Serrote de poda empregado para cortar ramos grossos. O corte deve ser uniforme para se evitar ferimentos; Facão usado para cortes de ramos muito grossos. Deve-se tomar muito cuidado para não causar lesões na planta; Canivete usado para fazer pequenos cortes em brotos pequenos; Hipoclorito de sódio na proporção de 0,2% usado para desinfetar as ferramentas após o uso em cada planta. Tesoura de poda 1.00 x 1.5 x 2.00m. LEMBRETES IMPORTANTES O cacaueiro necessita de boa nutrição e luminosidade, para produzir os carboidratos básicos, necessários ao crescimento e desenvolvimento da planta; A incidência de luz em toda a extensão do cacaueiro favorece o equilíbrio da planta e o seu potencial produtivo; O excesso de poda prejudica a produção, porque o cacaueiro precisa manter uma quantidade de folhas sadias, para garantir o bom crescimento do caule, refoliações, reativação de botões florais, desenvolvimento de frutos e prolongar sua vida útil, além de afetar negativamente os ciclos vegetativos e produtivos, aumentar o peco fisiológico (perda de bilros) e de frutos em desenvolvimento e favorecer o ataque de vassoura-de-bruxa e doenças vasculares como o mal-de-facão e morte súbita. 93 FARINHA DE ROCHAS PARA CULTIVOS ORGÂNICOS OU NÃO Antonio Carlos Murillo A recuperação de solos degradados, sempre foram utilizadas pelos produtores desde tempos antigos. Rochas virgens podem sofrer processos de moagem, britagem, separação, tratamentos térmicos ou químicos, tendo como produtos e subprodutos naturais ou não, de alta a baixa solubilidade: fertilizantes em pó ou granulados, pó de rochas ou farinha de rochas, algumas apresentam poucos nutrientes e outras além da sílica chegam até mais de 70 elementos, utilizadas pela agricultura tradicional ou agro ecológica. No primeiro caso utilizam-se corretivos calcários e silicatos, fertilizantes simples ou compostos para atender necessidades específicas. Aos agroecologistas, farinha de rochas ou rochagem, com todos os macros e micro nutrientes essenciais, cuja finalidade principal é recuperar e ou enriquecer a fertilidade natural do solo, e assegurar a qualidade alimentar e da vida das populações atuais e futuras. Os solos tropicais, a exemplo da região cacaueira baiana, bastante chuvosa, sofrem intensivos processos de perdas constantes de nutrientes, principalmente (Ca, Mg e K), alterando o comportamento químico dos solos. Literalmente os latossolos do Sul da Bahia, são pobres em rochas apatitas e fosforitas sendo essa última rica em fontes de fósforos, contribuindo com mais um entrave para as baixas produções agrícolas, principalmente para os cultivos perenes predominantes nessa região. As principais fontes de fósforo utilizado na agricultura são processadas através da indústria química que a faz, no tratamento de rochas fosfáticas naturais (apatitas e fosforitas) com ácidos, resultando em um produto de alta solubilidade a exemplo do superfosfato simples quando as rochas são tratadas com ácido sulfúrico, o superfosfato triplo com ácido fosfórico e, o fosfato monoamônico (MAP), fosfato de amônio (DAP), resultam da reação do amoníaco com ácido fosfórico, os termofosfatos (Yoorin) são CEPLAC/CENEX 94 adubos obtidos por fusão a1500 ºC, resultando em um material vítreo moído, produzindo o óxido de cálcio, e o óxido de magnésio e traços de fósforo solúvel em água. Em geral, a eficiência dos fosfatos naturais com ácidos são solúveis em água, fertilizantes simples ou compostos, porém a sua eficácia é de curto prazo, enquanto a eficiência dos fosfatos naturais sem ácidos aumenta com o tempo decorrido aproximadamente de 2 a 5 anos, quando aplicado ao solo. A diminuição do pH favorece ao rompimento da apatita para liberação de fósforo. pH acima de 6,5 proporciona uma reduzida eficiência dos fosfatos naturais ao mesmo tempo em que a eficiência desses fosfatos de baixa solubilidade tende a aumentar com o tempo em solos ácidos. Nos anos 80, o fosfato de GAFSA reativo, rocha de origem sedimentar era comercializado no Brasil e devido às dificuldades de sua aplicação na forma de pó, o produto foi granulado provocando significativa redução da eficiência agronômica, resultando no desaparecimento do mercado nacional. Nos últimos anos a utilização de fontes alternativas mais baratas como os fosfatos naturais na forma de farelados, aumentou acentuadamente embora estes produtos apresentam baixa solubilidade em água, principalmente o de origem nacional, quando comparados aos fosfatos solúveis (tratados com ácidos), existentes no mercado. Alguns fosfatos naturais reativos têm demonstrado eficiências semelhantes às das fontes solúveis, o que pode ser compensador. A eficiência dos fosfatos naturais depende dos seguintes fatores: origem do material/reatividade, tamanho das suas partículas, propriedade do solo, atividade microbiana, tipo da cultura a ser instalada e como e quando deve ser aplicado e tempo decorrido da sua aplicação. Em 1916, o pesquisador LIPMAN, estudava a relação entre atividade microbiana e a capacidade produtiva do solo, descobriu que a utilização de enxofre elementar misturado com rocha fosfática ocorria à imediata oxidação do enxofre pela bactéria Thiobacillus thiooxidans, formando o ácido sulfúrico ao qual solubilizar a rocha fosfática do solo. Pelo seu pioneirismo e contribuição, é considerado o pai da bioquímica do solo, área que só consolidou-se na década de 60, com Mclaren. Na mesma época como conseqüência dos avanços sobre entendimento da solubilização, surgiram os inoculantes bacterianos contendo solubilizadores e fosfatos chamados fosfobacterinas, cuja aplicação tornou-se popular em alguns países como União Soviética, Índia, mas com resultados duvidosos sobre sua eficácia como insumos agrícolas biológicos. Os 95 microorganismos solubilizadores de fosfatos inorgânicos (MSP), acham-se distribuídos por todos os grupos de microorganismos do solo, destacandose os gêneros de bactérias bacillus, pseudomonas e agrobácterium e de fungos aspergillus e penicillium. Existe a possibilidade e capacidade de solubilizar certos isolados fitossimbiontes radiculares com rizóbio e fungos micorrízicos, no entanto a maioria solubilizar fosfatos de cálcio mais poucos são capazes de solubilizar fosfato de alumínio e ferro. Em 1970, AGNIHOTRI, avaliou a capacidade solubilizadora de dezoito espécies fúngicas do solo e observou que a percentagem de fósforo solubilizadora variou de zero a mais de 80%, para os fosfatos de cálcio e fluorapatita em uma escala de zero a 58%, para a hidroxiapatita, poucos fungos foram capazes de solubilizar, o autor indicou que a liberação de ácidos orgânicos é o principal mecanismo de solubilização, facilmente encontrados na matéria orgânica e compostos orgânicos encontrados nos solos. No Brasil, a Fundação Mokiti Okada têm trabalhado com vários grupos de microrganismos (bactérias produtora de ácido lático, leveduras, actinomicetos, fungos bactérias fotossintéticas), chamados EM (microrganismos eficazes) e o produto biológico Bokashi. Em 1990, o uso de fosfato natural para aplicação direta no solo representava 3% do total de P2O5 consumido na agricultura brasileira, na atualidade, o percentual aumentou para 4.2%, principalmente na forma de fosfatos naturais reativos. As fontes de fosfatos mais comercializadas são de origem do Norte da África, Oriente Médio e dos EUA e as nacionais de diversas marcas comerciais cujas eficiências estão relacionadas com os teores de P2O5 total, insolúveis em água, porém solúveis em ácidos cítricos e fórmicos, discriminados nas Tabelas 1 e 2. Tabela 1. FOSFATO NATURAL Rochas de origem: fosforitas (Importado) P2O5 TOTAL ARAD (Israel) DJEBEL ÔNK (Argélia) CAROLINA DO NORTE (EUA)* DAOUI (MARROCOS) GAFSA (TUNISIA) SOLUBILIDADE RELATIVA – P2 O5 (Extratores Químicos) Ácido Cítrico 2% 33 29 30 32 29 Fonte Consultada: Souza et al (1999). 96 12 11 13 10 12 Ácido Fórmico 2% 19 20 23 19 21 Tabela 2. FOSFATO NATURAL Rochas de origem: Apatitas (Nacional) Irecê (Fosbahia) Patos de Minas Olinda Abaeté Araxá Catalão P2O5 TOTAL SOLUBILIDADE RELATIVA – P2 O5 (Extratores Químicos) Ácido Cítrico 2% 24 24 26 28 36 37 4 5 5 2 4 3 Ácido Fórmico 2% 4 7 2 4 2 Fonte consultada: Rezende e Vitti (2000). Legislação Brasileira relativa à regularização dos fertilizantes fosfatados - Princípios básicos para produção e comercialização dos fertilizantes naturais, corretivos e inoculantes (Brasil 1983): O fósforo (P) deve ser expresso como P2O5 Garantias mínimas: Fosfato natural P2O5 total - nunca inferior a 24% e a solubilidade de 4% em solução de ácido cítrico a 2% na relação de 1:100. Fosfato natural reativo P2O5 total - nunca inferior a 28%, solubilidade de 9%, em solução de ácido cítrico a 2% na relação de 1:100. Misturas que contenham fosfatos naturais, termo fosfatos e outras fontes solúveis: P2O5 total, entre 20 a 25% e o teor de P2O5 solúvel em ácido cítrico ³ 9% em solução 2% na relação de 1:100 e solubilidade em água = 5%. Obs: Garantias e tolerâncias: Para menos de 15% quando o teor for igual ou inferior a 5% e até 10% quando o teor for superior a 5% sem exceder as duas unidades. Garantias para granulométrica Fosfato natural - deve passar 85% em peneira de 0,075 mm (ABNT nº 200); 97 Formulação pó - deve passar 100% em peneira de 2 mm (Associação Brasileira de Normas Técnicas, (ABNT nº. 10) e 50% em peneira de 0,3 mm (ABNT nº. 50); tolera-se até 5% material retido na peneira de 2mm). Fosfato natural reativo - produto constituído de partículas que devem passar 100% em peneiras 4,8 mm (ABNT nº. 4) e 80% em peneira 2,8 mm (ABNT nº. 7); tolera-se até 15% em partículas maiores do que 4,8 mm. CONSIDERAÇÕES PARA UTILIZAÇÕES DE FONTES DE FÓSFOROS NATURAIS E FOSFATOS NATURAIS REATIVOS As recomendações de uso e os estudos de economicidade deve ser feito com base no teor de P2O5. A eficiência de fosfatos natural é maior quando toda à área for preparada, incorporada, e ao contrário a eficiência menor. Culturas de ciclo médio só indicar fosfatos naturais reativos, quando o pH do solo for superior a 5. pH acima de 6,5, fosfatos naturais e reativos tornam-se inócuos sua dissolução no solo. A velocidade de dissolução dos fosfatos naturais é inversamente proporcional ao pH do solo; quanto mais ácido for o solo maior é a liberação da fonte de fósforo; e a relação entre os extratores (ácido cítrico e fórmico), permite melhor distinção entre os fosfatos naturais e os reativos. Para uso de fontes de fósforo natural ou pouco reativo, em solos pobres em fósforo (P), aconselha-se com o uso de enxofre ou gesso, em observância aos limites permitidos (S ≤ 50kg/ha e CaSO4 2 H2O sendo que a percentagem de argila (%) for : de 0 a 15 = 0,4 t/ha; argila de 15 a 35 = 0,4 a 0,8t/ha; argila 35 a 60 = 0,8 a 1,2 t/ha). Uso de fosfato reativo exclui o uso de enxofre ou gesso, exceto se o solo estiver precisando. A produção de ácidos orgânicos é o principal mecanismo de solubilização do fósforo (P) mais não é o único responsável pela ação. A capacidade de suprir fósforo (P) dos cultivos perenes ou de ciclo mais longos toma-se como base ao segundo ano de cultivo o início do efeito residual, para os fosfatos naturais reativos. 98 Aos cultivos de ciclo curto, optar por uma fonte de fósforo mais solúvel. Uso alternativo de fontes de fósforos na cova: a) Fontes de fósforos (P) solúveis em água, para os cultivos de ciclo curto e médio. b) Fontes de fósforos (P) insolúveis em água (fosfatos naturais reativos) para os cultivos de ciclo médio e longo. c) Fontes de fósforos (P) insolúveis em água (fosfatos naturais) para os cultivos de ciclo longo. PÓ DE ROCHAS OU ROCHAGEM, SILICATOS DE CÁLCIO E MAGNÉSIO, COMO UMA OPÇÃO PARA UTILIZAÇÃO NA AGRICULTURA Depois do oxigênio, o elemento mais abundante na crosta terrestre é o silício (Si), representa de 1 a 10% da matéria seca das plantas, sendo componente majoritário de minerais do grupo dos silicatos (Raij, 1991) ocorre em concentrações elevadas nos solos e sua maioria na forma de silicatos e no quartzo (SiO2, fonte inerte das areias). Há um reconhecimento sobre sua influência na resistência das plantas, aos ataques bactérias, fungos, insetos e nematódeos, possível eficiência na fotossíntese, muito embora sua função não foi bem esclarecida, por isso não é considerado ainda um nutriente (Epstein, 1999). O uso de silício de cálcio e magnésio na agricultura contempla a oportunidade de prover a correção do solo através de outra fonte com a incorporação deste elemento. Em relação à disponibilidade de (Si) e a textura do solo (teor de argila) tem sido considerada como um dos principais parâmetros para se prever a necessidade de (Si) para as plantas. As formas importantes de silício (Si) encontradas no solo são: a) Si (solúvel) (H4SiO4, Ácido monossílicico); b) Si adsorvido ou precipitado com óxido de ferro e alumínio e nos minerais silicatados (cristalinos ou amorfos); a solubilidade destes, depende do tamanho das partículas, temperatura, pH, composição química e presença de fissura em sua estrutura. A dissolução destes minerais no solo são influenciados pela: umidade, matéria orgânica, potencial de óxi - redução e teores de sesquióxidos. As principais fontes de silicatos encontradas no mercado são originadas das escórias da produção de ferro e aço e sub-produtos na produção de 99 fósforo elementar na industrialização dos fertilizantes, podendo ser utilizados aqueles que não são contaminastes dos solos com metais pesados. A Wollastonita é um sub-produto na produção de fósforo elementar é considerada uma fonte, silicato de cálcio padrão, bastante utilizado em trabalhos de pesquisas. As escórias de ferro e do aço são fontes abundantes e baratas de silicatos, são processadas em temperaturas superiores a 1400ºC da reação de calcário (calcítico, magnesiano ou dolomítico) com a sílica (SiO2) contida no minério de ferro. SiO2 + CaCO3 + MgCO3 CaSiO3 + MgSiO3 + CO2 (Silicato de cálcio e magnésio). A solubilidade da Si conforme o tipo de escória: Alto forno - maior teor de silício com baixa solubilidade (utilizado na agricultura ecológica). Produção de aço (aciaria) - menor teor de silício e maior solubilidade, constantes na tabela abaixo: Teor total de SiO2, % solúvel, SiO2 "solúvel" por lixiviação, CaO, MgO e poder de neutralização (PN) de algumas fontes de silício. Fonte consultada: GPSi – ICIAG – UFU – Boletim Técnico 01 100 Outras fontes derivadas da Indústria Siderúrgica são utilizadas como calcário tendo uma (Recmix/Agrosílicio) apresentado baixo teores de metal pesado, conforme Tabela abaixo: Fonte consultada: GPSi – ICIAG – UFU – Boletim Técnico 01 Tanto calcário quanto à escória, a reatividade varia conforme a sua granulometria, tipo de solo, dosagem e o tempo no solo, segundo “Alcárdio”1992. O silicato de cálcio é 6.78 vezes mais solúvel que o carbonato de cálcio. CaSiO3 = O,095g dm-3 Ca CO3 = 0,014g dm-3 Ação dos silicatos Wollastonita e Recmix como corretivo de acidez do solo, conforme Figura 1 abaixo. Kg/ha de Si 800 800 400 400 200 0 200 100 100 0 Wollastonita Recmix Figura 1 - Efeito da aplicação de silicatos de Ca+Mg sobre o pH (CaCl2) do solo após 56 dias de incubação (Fonte: Pereira & Korndorfer). 101 SILICATOS NA AGRICULTURA, CARACTERÍSTICAS E RECOMENDAÇÕES a) Produto: Altos teores de CaO e MgO Efeitos residuais prolongado Alta reatividade (poder de neutralização) Boas propriedades físicas (granulometria fina e facilidade de aplicação) Custos comparáveis à outra fonte de Ca e Mg b)No solo: Correção do pH e aumento na saturação por base Aumento nos teores: Ca e Mg e Si (residual) Aumento da disponibilidade de fósforo (P) c) Na planta: Maior absorção de Si, Ca e Mg, e distribuição do Mn na planta Maior resistência aos efeitos da temperatura, perda de água, parede celular aos ataques de pragas. Os silicatos de Ca e Mg têm composições semelhantes aos carbonatos, pode substituir os calcários, sendo assim a dose de silicato aplicado no solo, obedecem aos mesmos critérios para os corretivos, levando em consideração a CTC. Caso os solos apresentem níveis adequados de Ca e Mg, as utilizações dos silicatos não devem ultrapassar a 800kg por hectare. 102 CRIAÇÃO DE FRANGO E GALINHA CAIPIRA Dionísio José de Lima INTRODUÇÃO Importância Atual das Aves Caipira As mudanças de hábitos alimentares de uma significativa parcela da população, notadamente de maior poder aquisitivo, vêm ampliando a procura por alimentos cuja origem seja uma produção mais natural e ecológica. As exigências por textura, coloração e sabor natural tem estimulado os PEQUENOS E MÉDIOS PRODUTORES a se voltarem para a produção de alimentos alternativos, como a “Galinha Caipira”. Engana-se quem avalia a criação de frangos e de galinha caipira como uma atividade condenada ao prejuízo. Se bem planejada, administrada e com a utilização de manejo correto, a produção de carne e de ovos caipiras pode alcançar excelente lucratividade. A saída para se obter uma galinha caipira com boa produção de ovos e/ ou carne foi à utilização de linhagens de aves melhoradas em sistema Semi - Intensivo. Com isso a galinha caipira passou a ser produtiva, embora ainda menos que a industrial e pode atender a um “nicho de mercado” que, se nunca deixou de existir, agora está mais aquecido do que nunca. A falta de informações básicas sobre esta criação, a falta de mão-deobra treinada e de técnicos capacitados para orientá-los tem levado produtores a eventuais erros, acarretando-lhes prejuízos. É recomendável que se procure uma assessoria técnica, principalmente quando o objetivo é implantar uma criação que envolva disponibilização de recursos financeiros. É melhor planejar corretamente o que será feito, e como ser feito, para que os erros e gastos inúteis sejam minimizados e até mesmo evitados. Técnico Agrícola/ Economista/Consultor Rural da CONSULCOOP. 103 OS SISTEMAS DE CRIACÃO Sistema Extensivo - é o sistema predominante em nossa região, não se tem um acompanhamento ou controle sobre a criação. Com manejo inadequado a produção de ovos ou carne é baixíssima e a atividade tornase antieconômica, desmotivando o produtor a continuar com a criação. Sistema Semi-Intensivo - Neste sistema o modelo de criação é um pouco mais sofisticado; durante á noite as aves dormem nos galpões com poleiros suficientes. Estes galpões devem abrigar, de 4 a 5 aves por metro quadrado; e estar dotados de comedouros, bebedouros e ninhos suficientes para atender a demanda das aves. Durante o dia, as aves terão à sua disposição um piquete para tomar sol, ciscar e comer verde à vontade (frutas, verduras, capins etc).Este piquete deverá ser cercado de tela, cerca elétrica, bambu ou varas de pau-a-pique.Terá que dispor 10m² para cada “ave de postura” ou 5m² para cada “frango de corte”. Este sistema é mais indicado para nossa região, porque o produtor terá um controle efetivo sobre a sua criação. Sistema intensivo - Neste caso as aves permanece presas durante todas as fases da criação. É para nós um sistema inviável, torna-se inadequado para nossa região, devido a uma serie de fatores negativos. Sendo, o pior deles, o custo da ração. CLASSIFICAÇÃO DAS RAÇAS Quanto à aptidão: Poedeiras, Corte, Dupla Aptidão, Ornamentais e Combatentes. Quanto à origem: Norte-Americanas, Mediterrâneas, Inglesas, Européias e Asiáticas. Raças Puras: Plymouth Rock, Rhode-Island-Red, New Hampshire, Leghorn, Wyandotte, Label-Rouge, etc. Linhagens Híbridas: Caipira Negra, Paraíso Pedrês, Carijó Caipira, Gigante Negro, Isa Já-57, Isa Brown, Acoblak, Sussex, Menora, Orpington, etc. 104 TABELA DO CONSUMO DIARIO DE RACÃO PARA FRANGOS CORTE. Da 1ª a 4ª Semana Fornecer Ração Inicial Da 5ª a 9ª Semana Fornecer Ração de Crescimento Da 10ª a 13ª Semana Fornecer Ração para Engorda Nº de semana Quantidade ração/ ave/dia (gramas) Quantidade ração/ semana(gramas) 1º 10 70 - 2º 20 140 210 3º 30 210 420 4º 40 280 700 5º 40 280 980 6º 50 350 1.330 7º 60 420 1.750 8º 70 490 2.240 9º 80 560 2.800 10º 90 630 3.430 11º 100 700 4.130 12º 110 770 4.900 13º 120 840 5.740 NOTAS: a) Total Ração Inicial................................700 g b) Total Ração Crescimento..................... 2.100 g c) Total Ração Engorda............................ 2.940 g d) Verificar o peso das Aves semanalmente 105 Total ração consumida(gramas) TABELA DO CONSUMO DIARIO DE RAÇÃO PARA AVES CAIPIRA DE POSTURA. Da 1ª a 7ª Semana Da 8ª a 12ª Semana Fornecer Ração Inicial Fornecer Ração de Crescimento Da 13ª a 19ª Semana Fornecer Ração Pré Postura Da 20ª a 70ª Semana Fornecer Ração Postura Da 71 a 75ª Semana Fornecer Milho Triturado Nº semanas Período semanal Quantidade ração/ ave/dia (gramas) Quantidade ração/ semana(gramas) 1ª a 7ª 7 10 a 40 1.225 8ª a 9ª 2 50 700 10ª 1.260 a 12ª 3 60 13ª a 19ª 7 70 3.430 20ª a 70ª 51 80 28.560 71ª 75ª 5 100 3.500 a Total de Semanas = 75 Total de Consumo = 38.675 gr/aves ALIMENTAÇAO NATURAL P/ AVES FRANGOS DE CORTE E GALINHAS DE POSTURA GRAMAS E CAPINS FRUTAS VERDURAS CAPIM QUICUIA GOIABA COUVE CAPIM COAST-CROSS MAMÃO CHUCHU CAPIM TIFTON BANANA .BATATA CAPIM PANGOLA .ABACATE MAND PICADA CAPIM BRACHIÁRIA JACA PICADA RAMÍ CAPIM NAPIER FOLHA DE BANANA GUANDÚ GRAMA ESTRELA CENOURA CAPIM BATATÁIS ABÓBORA 106 FRANGO CAIPIRA DE CORTE PLANTEL COM 500 FRANGOS ANALISE DA RENTABILIDADE da 107 GALINHA CAIPIRA POEDEIRAS PLANTEL COM 500 AVES ANALISE DA RENTABILIDADE da 108 ESCALAMENTO DA PRODUCÃO DE OVOS MODULACÃO 3:1 O Escalamento tem por finalidade fazer um planejamento coerente e preciso da produção diária de ovos. Ex: Qual a quantidade de AVES, para que se possa produzir 20 dúzias de ovos? 1°) Utilizamos a fórmula matemática: Onde: NA= Numero de Aves Q O = Quantidade de Ovos diária I P = índice de Produção desejada 2°) Aplicando a Fórmula, no exemplo acima, teremos: NA = 343 aves 3°) Conclui - se que, para produzir 20 dúzias de ovos diariamente, temos que dispor de 343 aves na fase produtiva. 4°) Dividimos em 3 lotes de 115 aves, cada lote, para efetuar o ESCALAMENTO; ou seja, 3 lotes em fase produtiva e um em crescimento. 5°) Fazemos o escalamento da seguinte forma: Quando o 1 ° lote atingir a idade de 18 semanas; adquire - se um 2° lote; e quanto este atingir 18 semanas adquire - se um 3º; quanto este ultimo atingir 18 semanas adquire - se um 4° lote; teremos então 3 lotes produzindo e um em crescimento. Quando o 4° lote; iniciar a produção elimina - se o 1º lote, faz - se o “VAZIO SANITARIO” de 2 semanas e se introduz um novo lote neste galpão. Assim teremos 3 lotes produzindo e um em crescimento, fazendo o rodízio na modulação 3:1 109 PRINCIPAIS DOENÇAS DAS AVES 1. BOUBA AVIÁRIA - Causada por Vírus Sintomas: Falta de apetite, sonolência e aparecimento de nódulos na face, crista e barbelas. É disseminada por mosquito e surge normalmente durante os meses quentes do ano. 2. NEWCASTLE - Causada por Vírus Sintomas: Redução no consumo da ração; encefalite, resfriado, bico aberto com ar ruidoso; diarréia abundante, tremor nas pernas e torcicolo no pescoço. Esta doença é altamente contagiosa, espalha-se rapidamente através do ar, dizimando todo o lote. Não existe tratamento curativo. 3. MAREK - Também causada por Vírus Sintomas: Paralisia das pernas e das asas. Esta doença manifestase a partir dos 30 dias de idade. Previne-se vacinando os pintos no 1º dia de vida. 4. CÓLERA AVIÁRIA - Causada por Bactéria Sintomas: O inchaço do rosto e barbeIas caracteriza a forma crônica. É transmitida de ave para ave; por isso devem-se eliminar as portadoras e iniciar o tratamento das sadias com antibióticos. A vacina para esta doença não é muito eficaz. 5. SALMONELOSES - (Tifo Aviário e a Pulorose) - Estas doenças são causadas por bactérias; - São identificadas através de exames laboratoriais; - O tratamento quando viável é feito à base de antibióticos; - As aves atacadas por estas doenças devem ser incineradas; pois pode contaminar outros animais da propriedade, inclusive o próprio homem. MANEJO SANITARIO DAS AVES Limpeza dos galpões e equipamentos Desinfecção das instalações (medidas profiláticas) 110 CALENDÁRIO DE VACINAÇÃO REGRAS BÁSICAS PARA O SUCESSO DA CRIAÇÃO DE GALINHA CAIPIRA 1. Iniciar a criação com aquisição de Pintos de 30 dias; 2. Vacinar os pintos, principalmente contra as doenças mais freqüentes da região 3. Não construir o galinheiro em terreno úmido 4. Fornecer água limpa e fresca; sem contaminação; 5. O dormitório deve ser bem arejado; 6. Manter o galinheiro sem corrente de ventos; 7. Ração tem que ser de boa procedência 111 8. Distribuição de verde diariamente, quando as aves são confinadas em piquetes; 9. Manter higiene rigorosa nos dormitórios; 10. Uma vez por ano, pintar o dormitório com cal; 11. Manter ninhos suficientes, de acordo com o número de poedeiras: 4 poedeiras para cada ninho; 12. Evitar que os pintos se molhem; mantendo-os em lugares protegidos. Pinteiros por exemplo; 13. Trocar a cama dos ninhos, desinfetando-os; 14. Galinhas ou pintos que morrem devem ser queimados ou enterrados; 15. Espalhar cal nos parques para evitar o aparecimento de doenças contagiosas; 16. Espaço adequado nos dormitórios e piquetes; no intuito de evitar brigas; 17. Não traga frangos e galos dos vizinhos; pois está susceptível a trazer doenças para a sua criação. 112 DOENÇAS MAIS IMPORTANTES DO CACAUEIRO Luiz Carlos Cordeiro de Almeida DOENÇAS DA PARTE AÉREA Vassoura-de-bruxa É uma das mais importantes doenças do cacaueiro na Bahia, porque além de reduzir drasticamente a produção também é capaz de dizimar plantios, caso não seja adotado um manejo adequado. O agente causal é o fungo Crinipellis perniciosa (Stahel) Singer, que tem mostrado variabilidade patogênica entre os isolados, à qual pode ser responsável pela redução da resistência de cultivares melhoradas para o controle dessa doença. Como plantas hospedeira do patógeno existem algumas dos gêneros Theobroma e Herrania; da família Solanaceae, a exemplo de jurubeba, jiló, caiçara, berinjela, pimentão e pimenta malagueta; além do urucum e um tipo de cipó que ocorre no Sul da Bahia. O fungo se reproduz sexuadamente nos tecidos doentes secos, produzindo basidiocarpos durante a estação chuvosa, quando ocorre alternância de períodos secos com períodos úmidos. Os basidiocarpos liberam basidiósporos, preferencialmente à noite, quando a umidade relativa é alta, entre 80 e 85 % e a temperatura variando de 20 a 25 oC. Além do homem, que é o responsável pelo transporta de material vegetal contaminado para longas distâncias, as correntes aéreas são responsáveis pela disseminação do patógeno e são capazes de levá-los a alguns quilômetros da fonte de inóculo. A produção de basidiocarpos é impedida por chuvas contínuas e fortes ou em períodos secos prolongados. O patógeno sobrevive nas vassouras secas e nos frutos mumificados, tanto na planta como no solo, os quais constituem as principais fontes de inóculo primário para o início dos surtos epidêmicos. Ceplac/Cepec/Sefit 113 As infecções ocorrem em tecidos meristemáticos, como nas gemas vegetativas, nas almofadas florais e nos frutos. Estes são mais suscetíveis até os três meses de idade. Os sintomas mais comuns no cacaueiro são: vassouras vegetativas, vassouras de almofadas; flores hipertrofiadas; frutos dos tipos morango e cenoura; e frutos com os mais variados aspectos da doença, em função dos vários estádios de desenvolvimento. A doença se manifesta nos frutos na forma de lesões negras, duras e irregulares; lesões necróticas escuras e irregulares, circundadas ou não por uma zona amarelada; deformações, com setores abaulados, causados pela hipertrofia das células do pericarpo; zonas de maturação precoce; pequenas lesões deprimidas; manchas aquosas, na forma de um mosqueado e pontuações negras, que progridem e coalescem e, internamente, há necrose e hidrólise das sementes; e áreas verdes em casca amarela. Somente infecções em frutos próximos à maturação é que permitem o aproveitamento de sementes para o beneficiamento. O controle integrado contempla as remoções das partes doentes dos cacaueiros, em intervalos trimestrais, e as aplicações de TRICOVAB, fungicida bio-controlador produzido pela CEPLAC, sobre o material removido jogado no solo, tem a finalidade de reduzir o potencial de inóculo nos plantios. Para a proteção dos frutos pode-se utilizar seis aplicações de óxido cuproso, 3 gramas de ingrediente ativo (i.a.) por planta ou três aplicações de 6 gramas de i.a. no início da frutificação. Entretanto, quatro a cinco aplicações de tebuconazole, a 1,2 litros por hectare, tem mostrado eficácia na redução de infecções em almofadas florais, diminuindo ou eliminando a produção de frutos morango e vassouras vegetativas, além de reduzir a formação de vassouras em lançamentos foliares e a infecção de frutos. Por outro lado, as plantas suscetíveis devem ser enxertadas com material resistente e produtivo, o que pode não excluir o uso da remoção ou da aplicação de fungicidas no futuro, caso os órgãos vegetativos ou os reprodutivos não continuem apresentando alta resistência, devido ao surgimento de um isolado mais agressivo do patógeno. Isolados com essa característica podem ser introduzidos no plantio através de material botânico proveniente de outros locais onde a doença existe. Talvez nos plantios constituídos por clones resistentes os números de remoções e de aplicações de fungicidas e também de suas dosagens possam ser reduzidos, tornando viável economicamente a adoção dessas práticas, mesmo com os baixos preços do cacau. 114 Podridão-parda É uma doença que depois do surgimento da vassoura-de-bruxa tem causado pequenos prejuízos á produção de cacau na Bahia. Em média, as perdas estimadas atingiam entre 20 e 30 % da produção anual, embora alguns plantios em áreas foco apresentassem incidência superior a 50 %. A podridão parda na Bahia é causada pelos fungos Phytophthora citrophthora (Smith) Leonian, a espécie mais agressiva, P. palmivora (Butler) Butler e P. capsici Leonian, a espécie predominante. A espécie P. palmivora tem como culturas hospedeiras a mamona, a seringueira, as palmeiras diversas, os citros, a pimenta-do-reino e outras; P. capsici, o pimentão, a berinjela, o tomate e cucurbitáceas; e P citrophthora, os citros e muitas rosáceas. Todas as espécies de Phytophthora que causam podridão parda do cacaueiro produzem esporângios, resultantes da reprodução assexuada, em todas as partes infectadas da planta. Estes esporângios germinam em condições úmidas, liberando os zoósporos, que são móveis e constituem as principais unidades de infecção do patógeno. A formação e germinação dos esporângios e o processo de infecção são regulados por diversos fatores ambientais, entre os quais água e temperatura são os mais importantes. A exceção de P. capsici, as outras espécies produzem clamidósporos, que são esporos de origem assexuada e sobrevivem em solos e em casqueiros. Entretanto, P. palmivora e P. capsici produzem oósporos, resultantes da reprodução sexuada, são esporos responsáveis também pela sobrevivência destas espécies, mas somente P. capsici é capaz de produzi-los. A presença de frutos na planta, temperaturas baixas, umidade relativa acima de 85 % e chuvas frequentes favorecem a ocorrência de surtos epidêmicos, que resultam em maior incidência nas áreas de baixada do que nas áreas de topo. De modo geral as espécies sobrevivem em casqueiros e nas partes infectadas do cacaueiro, a exceção de P. capsici que não sobrevive associada às raízes. Os frutos podem ser atacados desde os bilros até os maduros. Os sintomas iniciais são pequenas manchas cloróticas na superfície, perceptíveis um ou dois dias após a infecção, Estas manchas tornam-se castanho-escuras, de superfície regular, crescem rapidamente para formar lesões marrons, mais ou menos circulares de início, tornando-se elípticas mais tarde, de textura firme e com margens ligeiramente irregulares, 115 podendo tomar totalmente a superfície entre 10 e 14 dias. Em condições de alta umidade relativa, três a cinco dias após o aparecimento dos primeiros sintomas surge, a partir do centro das lesões, uma cobertura rala, pulverulenta e esbranquiçada formada pelo micélio e esporângios do fungo. A colonização interna da casca e das sementes é relativamente lenta e por isso há grande aproveitamento de sementes em frutos infectados próximo à colheita, o que não ocorre nos frutos verdes. Os bilros, no estádio final da doença, podem ser confundidos com os sintomas finais do peco fisiológico. Os ramos e os chupões jovens apresentam manchas cor de chocolate abaixo do ponto de inserção do pecíolo no ramo, do lado oposto da axila. Estas lesões atingem o limbo foliar, que se torna marrom e enrolado. Quando a haste do ramo ou do chupão é circundada pela infecção, ocorre o secamento a partir deste ponto. Se a infecção ocorre nas folhas jovens, as nervuras são rapidamente lesionadas, tornando-se marrom escuras, secando em seguida. Em condições favoráveis pode-se observar a esporulação do patógeno. A primeira medida de controle integrado a ser usada consiste na remoção das partes doentes da planta, como chupões e frutos, principalmente no final da safra, para não deixar fonte de inóculo para a próxima bilração. Esse material deve ser amontoado e coberto com folhagem ou preferencialmente levado para as clareiras das roças. Se a doença ocorrer durante a safra, as remoções deverão ser feitas na época das colheitas, cujos intervalos não devem ultrapassar de um mês. Porém, se o cacaual está localizado em área foco da doença, recomenda-se a aplicação de fungicida antes que a incidência atinja 1 %. Os fungicidas são à base de cobre, como óxido cuproso, oxicloreto de cobre e hidróxido de cobre, que deverão ser aplicados mensalmente, nas dosagens de 3 g de i.a. por planta, totalizando quatro ou três aplicações a depender, respectivamente, do início precoce ou tardio do surto epidêmico. Em áreas sujeitas ao alagamento é importante drená-las com valetas, e se o sombreamento for excessivo deve-se raleá-lo. Murcha-de-ceratocystis Conhecida como mal-do-facão, é uma doença de grande importância econômica porque é capaz de reduzir drasticamente a população de cacaueiros nas plantações, principalmente quando se trata de material 116 suscetível. Levantamento realizado no ano 2000 revelou incidência de até 30 % entre plantas da variedade Theobahia, em uma fazenda do município de Uruçuca. O agente causal é o fungo Ceratocystis cacaofunesta Engelbrech & Harrington (ex C. fimbriata Ellis & Halsted). Este patógeno apresenta agressividade variada e na Bahia foi detectado um dos isolados mais agressivos ao cacaueiro. O fungo é distribuído mundialmente sobre uma variedade de hospedeiros, afetando mais de 50 famílias de angiospermas e, entre elas, as culturas do coco, café, seringueira, batata doce, manga e cacau, cássia, crotalária e mamona. A ocorrência de surtos da doença está associada ao estresse das plantas por uma ampla diversidade de condições ambientais, tanto causados por períodos secos como por períodos chuvosos. O fungo se multiplica através de esporos de origem sexuada, os ascósporos, e assexuada, os conídios, que são produzidos, principalmente, dentro dos tecidos da planta e, em especial, nas galerias abertas por espécies de insetos dos gêneros Xyleborus e Xylosandrus, atraídos pelos tecidos doentes. Os esporos são liberados no ambiente, juntamente com o póde-serra produzido pelos insetos, e podem ser disseminados pelo vento, pelos próprios insetos e por respingos de chuva. Os clamidósporos, esporos assexuados de resistência, produzidos nos vasos dos tecidos infectados também podem ser disseminados através do uso de ferramentas, como podão, facão e tesoura durante a execução das diversas práticas culturais. A presença destes esporos, observada em microscópio nos cortes longitudinais do tecido doente, é suficiente para diagnose da doença. O fungo sobrevive nas plantas mortas e nas partes doentes removidas, jogadas no solo. Os sintomas da doença na parte aérea são observados primeiramente nas folhas que se mostram murchas, pendendo verticalmente, que em seguida amarelecem, enrolam, secam e permanecem aderidas aos ramos por algumas semanas, mesmo após a morte da planta. Durante esse processo os ramos também secam. Ao se inspecionar galhos, tronco e colo da planta doente, observa-se a presença de lesão necrótica deprimida ou cancro, sobre as quais, em condições úmidas, se formam peritécios que produzem os ascósporos. A lesão inicia com a penetração do fungo através de ferimentos causados na execução de práticas como poda, 117 limpeza do solo, desbrota e colheita de frutos, assumindo coloração escura, de onde se pode observar, algumas vezes, a exsudação de líquido escuro. No lenho, a lesão apresenta-se com coloração castanha avermelhada a púrpura, estendendo-se para cima e para baixo do ponto de infecção. Variações na coloração e presença de estrias podem ser atribuídas a outros fungos invasores secundários. A morte da planta ocorre pela obstrução dos vasos do lenho, que impede a passagem de água para a parte aérea. A primeira medida de controle integrado a ser adotada é não introduzir na fazenda mudas provenientes de plantios com suspeita de ocorrência da doença. Ao se detectar a doença em um plantio, deve-se arrancar a planta doente, queimá-la e aplicar 2 kg de cal virgem na cova e incorporar ao solo, visando a decomposição do material não removido. Toda a ferramenta usada na erradicação do cacaueiro doente, bem como nas operações de poda e desbrota em áreas onde a doença ocorre, deve ser desinfestada com hipoclorito de sódio a 1 %. Os trabalhos de poda e desbrota devem ser direcionados às plantas sadias e de modo a não deixar extremidades que dificultam a cicatrização dos cortes. Recomenda-se efetuar inspeções periódicas no plantio para detectar a doença logo no início, para evitar a sua disseminação. As plantas mortas devem ser substituídas por material genético resistente, como RT 01, VB 681, SL 70, VB 1151, VB 1139, PH 159, LP 06, FB 21, TSH 1188 e Parazinho. DOENÇAS DE RAÍZES São doenças que matam o cacaueiro pelo sistema radicular, reduzindo a população do plantio, e ocorrem em áreas onde existem tocos remanescentes de plantas derrubadas antes ou depois da implantação do cacaual. As doenças de maiores destaques são a podridão-negra, que ataca plantas de qualquer idade, e a podridão-vermelha, plantas com até seis anos de idade, na maioria das vezes. Podridão-negra Essa doença é causada pelas espécies do fungo Rosellinia pepo Pat., a mais frequente nos cacauais baianos, e R. bunodis (Berk. et Br.) Sac., a mais virulenta. Ao se observar o micélio sob a casca das raízes de uma 118 planta doente, nota-se que a coloração de R. pepo é esbranquiçada e a de R. bunodis é acinzentada. As espécies atacam várias culturas de importância econômica como café, seringueira, citros, abacate, banana, guandu, cânfora, mandioca, crotalária, gengibre, fruta-pão, inhame japonês, noz-moscada taioba, pimenta-do-reino, chá, eritrina, mangostão, pinha-do-sertão, entre outras. O contato das raízes das plantas sadias com as raízes dos tocos ou de plantas infectadas é o principal meio de disseminação da doença. Quanto maior o sistema radicular da planta doente maior o seu poder de disseminar o patógeno, que é o caso da eritrina. A doença ocorre em reboleiras com incidência mais ou menos elevada, em decorrência das condições topográficas e da maior ou menor presença de restos vegetais no solo. A ocorrência da doença chega a ser inexpressiva em locais com chuvas pouco frequentes, com pouco acúmulo de húmus ou de restos vegetais e onde o sombreamento do cacaueiro é deficitário, mas tem-se observado uma tendência de maior expressividade em solos mais leves e bem drenados. Porém há evidências que a textura do solo, associada à topografia e umidade, exercem influência na manifestação da doença. O fungo sobrevive em tocos remanescentes da derruba de árvores, em restos culturais e na matéria orgânica no solo. Os sintomas podem variar em função da idade da planta. Em cacaueiros novos, a necrose do sistema radicular se dá de forma generalizada, mais ou menos rápida e uniforme, enquanto que a parte aérea apresenta sintomas reflexos de murcha, amarelecimento e seca das folhas, as quais permanecem presas à planta, mesmo após sua morte. Em cacaueiros mais velhos, além dos sintomas descritos, podem ser também observados murcha, amarelecimento, seca e queda das folhas, deixando os galhos desfolhados, de forma apenas parcial na planta, uma vez que a manifestação da doença, em tais casos, é aparentemente mais lenta porque o sistema radicular não foi totalmente infectado. Muitas vezes a planta emite brotações, que frequentemente se apresentam cloróticas e com folhas pequenas. Com o progresso da infecção, ao atingir o coleto, ocorre a morte da planta. Ao se inspecionar o sistema radicular, observase em algumas situações, sobre a casca, estendendo-se até um pouco acima do nível do coleto, o crescimento micelial do fungo na cor cinzaescuro, quase preto, com margens claras, que se funde para formar uma massa carbonácea com superfície lanosa. Algumas vezes, quando o sistema radicular é removido pode-se observar também o crescimento do 119 fungo sobre o solo aderido às raízes. Ao se remover a casca necrosada, observa-se sobre o lenho estruturas miceliais em forma de leque ou estrela. O controle integrado deve começar pela destoca e remoção dos restos vegetais por ocasião do preparo do terreno para o plantio da cultura, mas sua adoção pode ser inviabilizada pela elevação dos custos de implantação de novas áreas. Quando a doença é detectada em uma área, proceder a eliminação das plantas com sintomas, procurando retirar do solo a maior parte das raízes e seus fragmentos. É importante retirar da área o material removido e queimá-lo e evitar o replantio imediato. Inspeções frequentes devem ser feitas, buscando-se detectar plantas em estádio inicial de infecção para evitar a contaminação das outras plantas. Pela dificuldade do controle, deve-se evitar a introdução de plantas hospedeiras provenientes de propriedades com suspeita de ocorrência da podridão-negra. Podridão-vermelha É uma doença causada pelo fungo Ganoderma philippii (Bres. et Henn.) que é considerado um fraco patógeno. São hospedeiras as plantas lenhosas, como cacaueiro, seringueira, chá, coco, cânfora, café, mandioca, dendê, cravo-da-índia, guaraná e urucum. Alguns fatores ambientais têm sido relacionados com o desenvolvimento da doença em alguns cultivos. Clima seco acentua a severidade dos sintomas de murcha e da morte das plantas. Fatores como má drenagem, inundação, manejo inadequado com proliferação de ervas-daninhas, além de desordens nutricionais, têm sido considerados como predisponentes à infecção. A disseminação da doença ocorre basicamente pelo contato das raízes das plantas sadias com as raízes das plantas afetadas e também com as fontes de inóculo, como os tocos remanescentes das plantas derrubadas. No passado, a mandioca contribuiu para o aumento dessa doença nos cacauais da Bahia. O fungo não cresce no solo, embora cresça muito lentamente na planta hospedeira. O patógeno sobrevive na planta morta e em restos de cultura, como os tocos. No cacaueiro é possível visualizar a coloração castanho-avermelhada em certos estádios de desenvolvimento da infecção e após lavagem do sistema radicular. Na diagnose, três aspectos devem ser considerados: a) presença de micélio de coloração característica sobre as raízes, b) 120 aparência do lenho apodrecido, e c) presença dos basidiocarpos do fungo. A detecção da doença no estádio inicial é difícil porque a parte aérea apresenta-se aparentemente sadia até que a infecção atinja o coleto da planta e impeça o transporte de água e de nutrientes para a parte aérea. Os sintomas observados na parte aérea são os mesmos observados em cacaueiros atacados pela podridão-negra. Em fase avançada, o sistema radicular e o coleto encontram-se necrosados e revestidos por micélio, que ao coalescerem vão se aderindo às partículas de solo e restos vegetais para formar uma crosta revestida por uma película de coloração escura. Tal película, em contato com os dedos, desprende-se facilmente, deixando exposto o micélio esbranquiçado do fungo sobre a casca. As medidas de controle integrado são as mesmas recomendadas para a podridão-negra. Porém, na fase inicial da doença, pode-se aplicar cal ou calcário, na proporção de 2 kg por planta, inclusive nas plantas circunvizinhas. Esta prática pode ser feita após a remoção de planta morta. Seis meses após pode-se efetuar replantio. 121 BENEFICIAMENTO DA MANDIOCA E AGREGAÇÃO DE VALOR AOS SEUS DERIVADOS José Jorge Siqueira Bahia A mandioca é uma cultura considerada como a, mas versátil das tuberosas tropicais. Encontrada sobre várias condições de manipulação e processamento, oferece uma gama de produtos e sub-produtos aos mercados consumidores, para a industria, o processamento concentrase em farinha. As etapas ou operações unitárias do processamento de farinha de mandioca são: colheita, transporte, descascamento e lavagem, ralação ou moagem, prensagem, esfarelamento, secagem, classificação e embalagem. Calcula-se que cerca de 80% das raízes sejam consumidas para este fim, a maioria em farinheiras não formais, distribuídas por todo o Brasil. Cerca de 3% podem ser contabilizados formalmente como sendo destinadas à extração de fécula e suas modificações. O restante vai para a alimentação animal. Por outro lado, a partir de 1997, com a disponibilização e a introdução de novas tecnologias que permitiram novos estabelecimentos de industrias de processamento de palitos pré-cozidos e congelados, houve um aumento significativo de industrialização do processamento culinário artesanal, valorizando as raízes, mas levando a uma tendência de diminuição do volume comercializado do produto in natura. Dentro da industrialização da mandioca, temos como produto principal à farinha de mandioca, cuja fabricação é generalizada, sendo um alimento amplamente apreciado pelos brasileiros, que dela se servem de várias maneiras, de acordo com os costumes das diversas regiões. No país, a variabilidade de tipos de farinhas é muito grande, o que dificulta em muito a comercialização. Essas diferenças dependem das características de variedades, mas principalmente, do processamento. Fornos muito CEPLAC/CEPEC/NUCEX-ITABUNA. E-mail: [email protected], (73) 3211-2563 122 quentes ou frios, cargas elevadas ou muito pequenas, prensagem mais ou menos intensiva são fatores que podem influenciar o padrão da farinha. Essas variações tornam quase impossível a proposta de um padrão nacional de qualidade. De origem indígena, o processamento da mandioca para obtenção de farinha ainda guarda alguns vestígios dessa origem. A farinha d‘água é muito comum no norte do Brasil e a desintegração da raiz é facilitada pela fermentação em água. As raízes fermentadas são mais fáceis de descascar e podem ser desmanchadas sem necessidade do ralador. Outros produtos da mandioca: beijos, tapioca, carimã ou massa puba, tucupi, tacacá, amidos modificados, dextrinas, glicose, xarope de glicose, polvilho, doce e azedo, produtos de panificação e massas, massas mistas em percentagem que variam de 10 a 15% para pão até 35% em macarrão, farinha de raspas. Com mais de 300 sub-produtos aproveitados comercialmente, permitindo uma agregação de valor ao cultivo da mandiocultura. Recentemente, com a utilização do resíduo, a manipueira ou água vegetal, considerada até há pouco tempo, poluente, constituí-se hoje, numa nova fonte de renda com sua utilização como: bioinseticida, biofungicida, bioacaricida e biofertilizante. 123 PAISAGISMO E JARDINAGEM Noemia Pinheiro de Almeida COMO PROPAGAR AS PLANTAS ORNAMENTAIS Novas mudas podem ser obtidas por sementes ou por partes do vegetal (propagação vegetativa). Neste caso, as plantas que se formarão serão idênticas à planta que lhes deu origem (planta mãe). SEMEADURA NO LOCAL DEFINITIVO A propagação por sementes produz uma grande quantidade de novas plantas, e requer pouco esforço. Com custo de alguns pacotes de sementes, é possível obter-se uns canteiros coloridos de flores, semeandose diretamente no solo. a. Defina as áreas a serem semeadas individualmente, e coloque terra de boa qualidade, passe o ancinho sobre a superfície do solo. b. Faça a semeadura a lanço, se for material da mesma cor, ou faça fileiras se quiser separar e distinguir cores. c. Cubra as sementes com terra. E se quiser marque cada área com etiqueta impermeável. d. Depois de germinadas faça o raleamento do excesso. SEMEADURA EM SEMENTEIRA a. Faça a semeadura em sulcos, assim será possível distinguir com facilidade as mudas das ervas invasoras jovens. b. Faça a repicagem usando uma vareta e selecionando as melhores mudas. Técnica em agropecuária - paisagista 124 c. Deixe as sementes com revestimento duro na água durante uma noite. Para reforçar a absorção da água, lixe as muito duras antes de colocálas de molho. PROPAGAÇÃO POR ESTOLHOS Os estolhos são ramos que saem da planta e em contato com a terra emitem raízes. A partir desses ramos surgem novas plantas. Quando estas atingirem um tamanho adequado, podem então ser separadas da plantamãe (ex: clorofito, barba de judeu, juventude, etc.), Para separá-las, basta cortá-las e colocá-las em outro vaso. PROPAGAÇÃO POR RAÍZES AÉREAS Algumas plantas (ex: filodendros e outras trepadeiras) emitem ao longo do caule pequenas raízes. Estas plantas podem facilmente ser propagadas, bastando apenas que se corte um pedaço de caule com um número razoável de raízes, incluindo algumas hastes e folhas. PROPAGAÇÃO POR DIVISÃO Exemplo de plantas que podem ser reproduzidas por divisão: sanseviera, palmeira areca bambu, palmeira rafis grama e muitas outras que possuem caules subterrâneos (rizomas). Para propagá-las, basta separar partes do rizoma que possuam gemas. Estas gemas é que darão origem a novas mudas. Também as plantas que possuem tubérculos e bulbos subterrâneos podem ser multiplicadas por divisão. PROPAGAÇÃO POR BROTOS É bastante fácil em cactos e outras plantas suculentas (ex: agave, eufórbia, etc.). É só separar um broto da planta e enterrá-lo em local adequado. Devemos ter um especial cuidados com plantas que naturalmente soltam látex, pois geralmente são venenosas. 125 PROPAGAÇÃO POR ESTACAS As estacas são pedaços de caule ou de ramos que enterrados, produzem raízes que dão origem a novas plantas. Para algumas espécies o enraizamento é difícil e muitas vezes ocorre naturalmente. Existem à venda pós de enraizamento (hormônios), que fazem com que a formação de raízes seja mais rápida. Neste caso, as bases das estacas devem ser mergulhadas no pó e em seguida enterradas. A umidade é um fator importante para o enraizamento das mudas. Por isso, mantenha a terra sempre úmida, porém não encharcada. As plantas herbáceas, isto é, com caules mais flexíveis, enraízam mais fácil do que as de caules lenhosos (plantas com caules duros). Um bom meio de promover o enraizamento das estacas é plantálas em caixa de areia, tomando-se o cuidado de mantê-la sempre úmida. PROPAGAÇÃO POR FOLHAS Exemplos: begônias, sanseviera, gloxínia, violeta e outras. Estas plantas têm relativa facilidade de se reproduzirem através de folhas ou mesmo pedaços de folhas. Novas mudas de sanseviera (espada de são Jorge) podem ser obtidas cortando-se uma folha em pedaços e enterrando-os verticalmente. Em breve estes pedaços enraízam na base e dão origem a novas plantas. A única diferença é que as novas mudas não possuem os bordos amarelados das folhas. Para as begônias, basta fazer pequenos cortes ao longo das nervuras da folha. Os cortes devem ser a intervalos de 3 a 4 cm. Em seguida, a folha deve ser colocada com a parte inferior em contato com a terra, que precisa ser mantida úmida. Para a folha ficar bem junta com a terra, coloque sobre ela algumas pedrinhas ou pequenos pesos. Quando a folha começar a secar, surgem dos cortes as novas mudinhas, que com o tempo, desenvolvem raízes suficientes para serem transplantadas. As gloxínias e outras plantas que possuem folhas suculentas e nervuras salientes podem ser reproduzidas do mesmo modo. ÁRVORES DENTRO DE CASA Existe uma variedade grande de árvores nativas de nossas florestas, que podem ser cultivadas dentro de casa. Elas dão um efeito bastante 126 criativo na decoração de ambientes, fugindo-se assim das opções mais comuns. Por árvores, podemos entender plantas de grande porte e, segundo esta definição, temos desde as enormes diefembaquias até árvores como a cabreúva e os pinheiros. Para tê-la dentro de casa, é necessário que haja condições específicas de temperatura, umidade e principalmente, luminosidade. É mais conveniente colocá-las próximas a janelas ensolaradas, e deve-se ter em mente que os vasos devem ser de tamanho proporcional ao porte das plantas e permitir que as raízes se desenvolvam livremente. A terra deve ser fértil e a cada dois anos renovada. Alguns exemplos de árvores que podem ser cultivadas dentro de casa: Cheflera (Schefflera): é natural da Austrália, onde são sempre verdes e podem atingir mais de 30m de altura (no solo). Suas flores são vermelhas e surgem no verão, porém, estas plantas dificilmente florescem quando estão em ambientes fechados e pouco iluminados. Necessitam de temperaturas elevadas e de ambiente protegido de correntes de ar. No verão precisam ficar em local iluminado, porém, protegidos dos raios solares diretos. As regas devem ser moderadas e no período de repouso (inverno) devem ser mantidas secas. O solo deve ser rico e com boa drenagem. Cabreúva ( Myrocarpus frondosu): apresenta forma arredondada, atingindo até 15 m de altura. Floresce em outubro e suas flores são de coloração creme-amarelada. O tronco tem coloração cinza-pardo e, normalmente, tem 80 cm de diâmetro. De preferência, devem permanecer próximas à janela, num local bem arejado e protegido de correntes de vento. As regas devem ser moderadas e freqüentes e o solo composto de uma mistura de terra vegetal e argila. As podas devem ser ligeiras e apenas utilizadas para eliminar os ramos secos e deformados. A maneira mais rápida e fácil de obter mudas é através de sementes, que germinam sob a árvore adulta. Fícus Benjamina, F. Deltóidea, F. Elástica, F.Lyrata, F. Religiosa, F.montana e outras: existem plantas com folhas grandes e pequenas e com formas diversas. De modo geral, necessitam de temperaturas superiores a 18ºC, boa iluminação, devendo ser orientadas para a luz direta do sol. No inverno, a temperatura não deve ser inferior a 12ºC, e nesta 127 época as regas devem ser moderadas. A umidade é importante e por isso é aconselhável pulverizar sempre as folhas com água. O solo deve ser de boa fertilidade e ligeiramente calcário. As adubações são importantes e devem ser feitas quando a terra for renovada. Dracenas: embora não sejam árvores típicas, muitas espécies quando bem tratadas atingem grande porte e o tronco, por vezes, torna-se bastante grosso.Elas são plantas resistentes, necessitando poucos cuidados. Por isso, são especialmente recomendadas para ambientes internos. A quantidade de luz que precisam é pouca: embora gostem de locais bem iluminados, não toleram sol direto. A maioria das espécies prefere temperaturas amenas, que vão dos 15 aos 18°C. As regas devem ser moderadas e freqüentes, cuidando-se para que a terra não fique por muito tempo ressecada. A terra usada deve ser rica em matéria orgânica. Com estas condições, obtém-se plantas vistosas e muito decorativas. As espécies mais utilizadas para decoração são: Dracena drago (dragoeiro): D.fragans; D.goseffiana; D.marginata. D.sanderiana e outras. BIBLIOGRAFIA Plantas e flores - Editora Três Flores e Plantas no lar -PEREIRA Aldo Dicas e Sugestões de Jardinagem - Editora Nobel Plantas Ornamentais no Brasil LORENZI Harri / MOREIRA DE SOUZA Hermes. 128 O DENDEZEIRO COMO CULTURA ENERGÉTICA PARA OS TRÓPICOS ÚMIDOS Jonas de Souza As reservas mundiais de petróleo conhecidas concentram-se no Oriente Médio (64%) e diminuem à medida que aumenta o consumo em nível mundial. Jonas de Souza, Chefe do CEPEC/CEPLAC, <e.mail [email protected]> 129 A produção em larga escala de energia a partir da biomassa torna-se cada vez mais importante, especialmente nos países tropicais com abundante disponibilidade de área, água e energia solar. O dendezeiro representa hoje a melhor opção para atingir as metas da Lei 11.097; 2005 em função do seu alto potencial de produção por unidade de área, chegando a mais de 5 toneladas de óleo por hectare/ano. •Lei 11.097/2005: Estabelece percentuais mínimos de mistura de biodiesel ao diesel e o monitoramento da inserção do novo combustível no mercado. 2008 a 2012 Mercado Potencial: 800 milhões de Litros/ano Mercado Firme: 1 bilhão de Litros/ano Mercado Firme: 2,4 bilhões de Litros/ano Brasil é o país que apresenta as melhores condições em função da alta disponibilidade de terras aptas para o seu cultivo, localizadas na região amazônica e na região da mata atlântica no estado da Bahia e do completo conhecimento da tecnologia de produção de óleo a partir desta palmeira e possui mais de 70 milhões de hectares com condições de solo e clima adequados ao seu cultivo. Por outro lado, esta é a única espécie perene que, como a floresta, garante conservação ambiental e produção sustentada. Somente na Região Sudeste da Bahia, que depende quase que exclusivamente da monocultura do cacau, há cerca de 1 milhão de hectares, remanescentes da mata atlântica, próprios à cultura do 130 dendezeiro, com potencial de produção de 4 a 6 milhões de toneladas de óleo, equivalentes a aproximadamente 25 milhões de barris de petróleo por ano, ou mais de 65 mil barris diários. Cem mil empregos diretos poderiam ser criados somente no setor agrícola. Como em todo cultivo arbóreo perene, a implantação de dendezais não é um projeto de maturação econômica imediata, pois a palmeira começa a produzir a partir do 3° ano e atinge o seu pleno potencial a partir de sétimo ano de campo. A consorciação de espécies vegetais de ciclo curto oferece amplas possibilidades de antecipação de renda e rápida remuneração do capital, além de incentivar a criação de novos pólos de produção de alimentos. Experimento conduzido na Estação Experimental Lemos Maia, em Una, demonstrou a ampla possibilidade de produção de combustíveis de biomassa e alimentos a partir da combinação de culturas no processo de estabelecimento de dendezais. Os intercultivos abacaxi, mandioca e pimenta do reino foram plantados nas estrelinhas do dendezeiro (7,8m). Estes cultivos promoveram renda em curto prazo, com recuperação e remuneração antecipadas do capital investido. O abacaxi foi o mais eficiente intercultivo proporcionando um ponto de nivelamento econômico (receita bruta igual à despesa bruta) em um período inferior a dois anos. A mandioca reduziu, no mesmo período 50% do investimento total de capital no plantio misto, além de reduzir os custos com o controle de ervas daninhas. As culturas intercalares aceleraram ainda o crescimento do dendezeiro, em seus estágios iniciais de estabelecimento e, posteriormente promoveram maiores produções de cachos por ha em relação ao cultivo tradicional. O dendezeiro como cultura alimentícia e ou/energética, pode se constituir em um empreendimento estratégico e de alta viabilidade econômica. No caso especifico da produção de biocombustíveis, cultivar dendê em sistemas agroflorestais é um projeto de resultados duradouros - provavelmente mais baratos - do que perfurar poços de petróleo no Brasil. Uma rápida análise destes números conduz à evidente conclusão de que a alternativa dos óleos vegetais não pode ser desprezada como real contribuição ao equilíbrio das contas do país, a geração de empregos e a produção de alimentos. É importante ressaltar que a substituição do óleo diesel por óleos vegetais transesterificados não requer qualquer modificação nos motores de ciclo diesel e que a produção destes óleos pode ser realizada em pequena escala e próxima aos locais de consumo. 131 A CEPLAC, através do CEPEC testou três intercultivos bem sucedidos, mas são muitas as oportunidades de plantio combinado de dendezeiros e espécies vegetais produtoras de alimentos, fibras e até outras fontes de matéria prima para combustíveis. Em sua fase produtiva o dendezeiro poderá ainda se consorciar a animais para produção de carne, como bovinos e ovinos deslanados, sendo, para isto, necessário algumas pesquisas visando à produção combinada de forrageiras tolerantes à sombra. 132 CRIAÇÃO DE AVESTRUZ Eduardo Simões de Oliveira APRESENTAÇÃO O presente trabalho visa prioritariamente promover uma coletânea de informações sobre a Criação de Avestruz, obtidas quando em visitas a criatórios assistidos tecnicamente pela CEPLAC, pelas declarações de outros criadores que tivemos oportunidade de contatar, as informações ilustrativas de alguns criatórios, pioneiros na introdução, com sucesso, desta magnífica ave da Família Ratita (Aves não voadoras). O contato inicial com a criação ocorreu a partir da busca de Agricultores pôr orientações, sobre essa atividade e, possibilidade de diversificar a pecuária, e as perspectivas desta nova opção. INTRODUÇÃO A criação de Avestruz iniciou-se no Brasil a partir dos anos de 95/96, através da importação de diversas matrizes e filhotes (em numero de 300), e face ao aumento vertiginoso de criadores, criou-se à necessidade de um posicionamento pôr parte das autoridades fiscalizadoras quanto ao controle sanitário destas criações, levando a uma suspensão destas importações até a ocorrência de definições sobre o adequado controle e suas manifestações na forma de lei específica, passando a ter nova denominação de animal “Silvestre” para animal “Exótico”, o que levaria num futuro próximo à caracterização de animal “Zootécnico”, enquadrado no “Plano Nacional de Sanidade Avícola”, e por conseguinte com direito de importação, desde que atendendo a legislação em vigor. * Engenheiro Agrônomo, CEPLAC/CENEX/ Escritório Local de Una. 133 HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS A Avestruz (Struthio Camelus sp.), é de origem Egípcia e depois dispersando para a África, pertencente à família das “Ratitas” (aves que não apresentam a capacidade de voar), que se caracterizam pôr seu grande porte podendo atingir 2,8 m de altura e pesar acima de 150 kg, serem longevas atingindo até 70 anos e uma excelência reprodutiva em torno de 40 anos, porém nunca perdendo a fertilidade. O nome Struthio Camelus provém de duas importantes características do avestruz, correr em zigue-zague para escapar de predadores (Struthio) e ser altamente resistente à falta de água (Camelus). O início do interesse comercial desta ave dista de muito tempo (épocas Faraônica e Romana), visando única e exclusivamente à utilização de suas plumas de características puramente ornamentais (perfeita simetria e beleza), e as cascas dos ovos para transporte de água quando em longas travessias no deserto e em face de elevada demanda de plumas no século passado, aconteceu o incentivo para instalação de criações domesticas, e como conseqüência provocou a redução das populações naturais e os animais fruto destas criações iniciais de forma extensiva não eram abatidos e sim utilizados para a retirada anual de plumas para posterior exportação para Europa e Estados Unidos. A débâcle (derrocada financeira) de Wall Street no inicio do século XX, provocou uma diminuição da excitabilidade mercadológica das plumas, levando a uma redução pôr muito tempo, do interesse pelas criações, que só ocorreu após o advento das duas grandes guerras, com a busca pôr uma alimentação alternativa de momento, levando a pesquisa a identificar as qualidades positivas da carne de avestruz, que apresenta em relação comparativa com as demais (bovina, suína e frango) características bem mais saudáveis de gordura e colesterol além de sabor similar à da bovina. Com o descortinar da vantagem, de se consumir a cada vez mais, uma alimentação comprovadamente saudável, iniciada na década de sessenta, reiniciou-se os trabalhos em prol do desenvolvimento de tecnologias racionais de criação de avestruz (Estrutiocultura), haja vista a certeza quanto à valorização da carne, o reconhecimento das qualidades majestosas de seu couro e o retorno da utilização das plumas já historicamente conhecidas, tudo isto aliado à elevada relação de rendimento, obtido pôr área deste produto, em nível de criação (produtividade = Kg/ha) propiciando perspectivas ao criador, de auferir 134 interessantes rendimentos, pois toda carne comercializada no presente momento, encontra fácil colocação no mercado, a preços extremamente compensadores pôr quilo no mercado Mundial, e em relação ao Brasil o mercado de São Paulo tem se apresentado como potencial consumidor, o couro cotado em nosso mercado variando entre R$700,00 a R$ 1.200,00 por unidade processada, sendo utilizado pôr grandes Estilistas no mundo, na confecção de bolsas, sapatos, cintos, casacos e outros, direcionado ao comercio de pessoas de elevado poder aquisitivo, e as plumas de reconhecida beleza e com característica de ser antimagnética, (sua eletrostática amplia a capacidade de absorção de poeira, pôr isso limpa totalmente as superfícies tratadas) comercializadas como adorno e para o fabrico de espanadores de pó, com franca utilização na industria de aparelhos elétricos e eletrônicos, variando seus preços entre R$ 10,00 a R$ 90,00 por quilo a depender da utilização a ser dada. Outro produto bastante interessante de comercialização, os ovos não fertilizados vendidos para o fabrico de artesanato, na forma de peças decorativas, atingindo excelente valor. RAÇAS COMERCIAIS Definem-se comercialmente três raças: Black Neck – Pescoço Preto mais conhecido como African Black é um animal domesticado (Struthio Camelus Domesticus) fruto de seleção empírica feita pêlos sul africanos ao longo dos últimos 150 anos. Red Neck – Pescoço vermelho, é uma ave mais agressiva, que pode chegar a atacar pessoas uma vez se sentindo ameaçada. Blue Neck – Pescoço Azul, é uma ave também agressiva, não gosta do convívio com pessoas nem com outras raças de avestruzes. A classificação acima esta direcionada a cor da pele dos adultos, porém todas as raças possuem como característica comum, a mesma coloração de penas, sendo os machos predominantemente pretos com a extremidade das plumas principais brancas e as fêmeas cinza amarronzadas. A raça Black Neck, também chamada de “African Black”, é na verdade uma raça domesticada, que recebe preferência dos fornecedores de plumas, enquanto a raça Blue Neck, tem como característica principal seu grande porte, sua similaridade com a Red Neck. Com o interesse crescente pela carne da avestruz, a tendência foi o 135 cruzamento entre raças, para a obtenção de um maior peso de abate, surgindo então a raça “Blue Black”, que se apresenta como uma melhoria genética, unificando características positivas de seus elementos paternais (predecessores), tais como maior fertilidade e precocidade (maior numero de ovos e inicio de postura precoce), docilidade (manejo mais simples), alta densidade de plumas (maior ganho com esta venda). SANIDADE A característica de elevada rusticidade e longevidade da Avestruz, leva aos pesquisadores pelo seu Histórico evolutivo, a considerar esta ave o ser de maior capacidade imunológica do Reino animal, justificando a elevada perenidade de sua raça, bem como a elevada capacidade de adaptação a uma grande diversidade de ecossistemas. O que não implica na falta de cuidados normais e corriqueiros na condução do manejo de uma criação. Medida fundamental para a manutenção da segurança sanitária reside no total impedimento de criação de outras espécies de aves na área, pois se apresentam como potenciais fontes de transmissão de doenças infectocontagiosas. Outras medidas tais como, instalação de reservatórios de higienização, também chamadas de “Rodolúvios”, na entrada dos criatórios e reservatórios menores, os “Pedilúvios”, na entrada dos piquetes e instalações gerais para higienização dos calçados dos funcionários e visitantes que adentrem nos mesmos. Acrescido dos cuidados normais de higiene (acima), deve-se priorizar sempre o controle da água e dos alimentos servidos, os cuidados quando da introdução de novos animais no plantel, criando-se um esquema de quarentena (mínimo de 04 semanas de isolamento). Na região cacaueira do Sul da Bahia, pelas suas características de elevada umidade, evitar toda a possibilidade de formação de alagamentos, poças e similares na área dos piquetes, mantendo sempre uma condição mínima de drenagem. Evitar transportar e manter junto, aves de idades e tamanhos diferentes, precavendo-se contra traumatismos, evitando também o excesso de tráfego e visitações no criatório, pois é característica marcante o estresse causado pelas movimentações. Com relação à sanidade é bom realçar que as vacinações, em 136 avestruzes ainda não é coisa totalmente definida, pois os resultados laboratoriais podem acusar vírus patogênico, na amostra vacinal ou amostra patogênica como resultado de exames, levando por tanto, a não ser compulsória no Brasil a vacinação contra Newcastle, contra influenza aviária o país não possui vacina, aliais, não existe nenhum registro de vacina para avestruz e a Febre Hemorrágica Criméia Congo, que tem no carrapato seu agente principal, não se apresentou, no Brasil, nenhum caso. PRINCIPAIS DOENÇAS SEUS SINTOMAS TRATAMENTO/ PROFILAXIA Influenza Aviária - Erradicada do Brasil, porém, o avestruz é hospedeiro, apesar de não contrair a enfermidade, por isso o risco para o plantel avícola brasileiro de importações descontroladas, sugere-se a importação de ovos, pois isso reduz o risco de introdução de novos patógenos de endo e ecto parasitos. Newcastle – Como sintoma constata-se catarro, bronquite e perturbações nervosas, às vezes com tosse e espirro, os ovos apresentam casca fraca e forma irregular. A profilaxia reside no isolamento das aves doentes e sacrifício das que apresentam sintomas nervosos, desinfecção dos abrigos e queima das camas. Doenças diversas São classificadas como doenças diversas, aquelas ocasionadas pelo manejo inadequado da criação e são caracterizadas pela apresentação das seguintes sintomatologias: Raquitismo, Rotação tibiotarso, Impactação, Ingestão de corpos estranhos, traumatismos, diarreias, verminoses. O “raquitismo” é fruto de alimentação errônea sem o devido balanceamento nutricional. “Rotação Tibiotarso” resultado de excesso de proteína, fatores nutricionais, contaminações infecciosas, localização errônea de cochos e qualidade de pisos. “Impactação” é proveniente do consumo de alimentos impróprios que se acumulam no ventrículo, próventrículo e intestinos cessando a movimentação digestiva. Ingestão de corpos estranhos e traumatismos relacionam-se ao 137 manejo e instalações inadequados, como por exemplo, os pisos cimentados muito lisos que promovem escorregões com muita facilidade, atentando também com relação ao piso de concreto que o mesmo eleva muito a sensação de frio nas aves novas o que pode gerar forte stress podendo levar até a morte do animal, por isso é aconselhável o uso de campânula de aquecimento para o controle térmico. 1. Mercado (perspectivas) Os mais variados tipos de carnes, sempre têm preferência quando há sobra no orçamento familiar, destinado a ingestão de proteínas, a carne bovina apresentando perspectiva de aumento de preço dado à tendência dos criadores em reter os animais para forçar uma elevação de seus valores atuais, quanto ao frango, os exportadores animados pela desvalorização do Real, prevêem aumentos de exportações e recuperação de mercados externos, a suinocultura beneficiada pelo aumento tanto na taxa de desfrute, quanto no peso dos animais abatidos, espera novo impulso nas exportações de carne principalmente para a Argentina e Hong Kong, também pôr conta da desvalorização da moeda brasileira ante o Dólar. Apesar do consumo per capita de carnes no Brasil, vir se mantendo constante nos últimos quatro anos, apresentando como dados os seguintes: Carne bovina, 34 a 37 kg (01 porção de 90 g/dia), carne suína, 09 a 10 kg, carne de frango 22 a 24 kg, carne de peixe 4,5 kg levando a se prever que no caso da disponibilidade de outras carnes nobres o mercado encontra-se aberto para aquisição, consumo e ou exportação destas. Consumo (perspectivas) Consumo/carne t/ano Bovino Frango Suíno Pescado Avestruz 1% relação Boi Avestruz 1% relação Todos 5.895.000 3.969.000 1.585.000 700.000 58.950 114.490 138 Carne/animal kg 240 0,96 60 1,2 30 30 Abate Anual Cabeças 24.562.500 4.134.375.000 26.416.666 583.333 1.965.000 3.816.333 2. Mercado (perspectiva) Imaginando acertadas as perspectivas do quadro acima, nos obrigaria a estimar um rebanho previsto em 154 mil avestruzes (1% em relação Boi) ou 298 mil avestruzes (1% em relação Todos), isto sustentado no princípio da utilização de casais de aves e não o terno (trio) quando se utiliza um macho para duas fêmeas (redução de 20% da produtividade prevista), e numa produção média de 50 ovos pôr ano com um percentual de fertilidade destes de 80%, percentual de eclosão também de 80% e índice de mortalidade médio nos primeiros três meses de 20%, ou seja em condições ótimas 50% de taxa de desfrute. Exemplo: - 01 casal → 50 ovos/ano(80% fertilidade) → 40 ovos/férteis (80% eclosão) → 32 pintos (20% índice mortalidade) → 25 filhotes (50% Taxa de Desfrute). Índices Técnicos Postura 44 / 50 ovos Fertilidade 73 / 80% Incubação/Eclosão 80% Mortalidade (nasc.) 15 / 20% Taxa Desfrute 50% 20 % perdas * Distribuição do lucro, por animal Discriminação % Couro 60 Carne 35 Plumas 5 139 Instalações A característica principal das instalações, esta relacionada à extrema simplicidade das mesmas, deve-se inicialmente construir piquetes de dimensões de 1.000 m² (20m x 50m) podendo também ser de 1400 m² (20m x 70m) utilizando-se de telas especiais (campestres) com altura de 1,60m não devendo ser soldada as emendas e sim costuradas, para promover a contenção e integridade das aves, com a preocupação de se instalar corredores de dimensões variando de 1,5m a 2,0m entre os piquetes que impossibilitem e ou inviabilizem o contato direto entre as aves impedindo a ocorrência de possíveis disputas (brigas), e no piquete instalar cochos de água, ração e sal sem a necessidade de serem protegidos de intempéries normais(sol e Chuva). Com o resultado do progresso de manejo dos pastos efetuamos a redução dos piquetes segundo orientações dos mais experientes para 800m² (20m x 40m) para acomodar um casal de aves (400 m²/Cab.) e temos constatado considerável sobra de forrageiras quando da rotação dos mesmos. No caso de se optar pela cerca de arame liso, promover um distanciamento entre os fios de 10,15 e 20 cm atentando para a altura de 1,60m ou 1,80m. Temos visto em outras propriedades a opção de se utilizar unicamente 5 fios de arame liso distanciados a 25 cm apresentando espaçamento entre mourões a cada 6 metros e balancins distanciados a cada 1,5 metros, ficando para o futuro a responsabilidade de registrar o sucesso ou fracasso da instalação. Outra curiosidade interessante, está na formação de colônias de animais em piquetes em numero de 02 com capacidade de abrigar 30 animais medindo [180 X 200 metros] cada um, deixando para este tipo de colônia uma única sugestão, de se utilizar animais em desenvolvimento, pois no caso deles se encontrarem em fase de reprodução dificilmente se teria a certeza dos casais geradores e fertilizadores dos ovos produzidos. Nos piquetes implantar gramíneas resistentes ao pisoteio e de porte baixo bem manejados e fertilizados, atentando para manter uma altura mínima de pastejo. No intuito de se promover a melhoria da qualidade nutritiva das pastagens, introduzir leguminosas em consorcio com a gramínea, optando por aquela que apresente característica de agressividade, facilidade de implantação e pegamento, perenidade e disponibilidade de se adquirirem 140 mudas em nossa região, aliado ao excelente potencial nutritivo do mesmo. O amendoim forrageiro registra índices 60 a 70 % de digestibilidade e 19% de proteína bruta. Peculiaridades Origem África Plumagem Macho – Penas Pretas Fêmea – Penas Cinza Amarronzadas Altura 2,20m a 2,80m Peso 110 kg a 150 kg Alimentação Pasto e Ração (concentrado) Peso médio do ovo 1.230 g / 1.525 g Produtividade Média 60 ovos / ano Produção de Plumas 1,20 kg / ano Carne 35 / 40 kg de carne limpa c/ 12 meses Incubação 42 / 43 dias Longevidade Até 70 anos Fertilidade Plena Até 40 anos Produção de couro 1,2 m² Comparativa Pecuária x Avestruz x Ovino Espécie Bovino Avestruz Ovino Gestação/Incubação (dias) 280 dias 42 dias 150 dias Crias 01 bezerro 20/30 aves 1,5 cordeiro Idade de abate 645 dias 407 dias 269 dias kg de carne abate 240 kg 1.217 kg 30 kg Couro (m2) 3 24/36 0,75 Plumas (kg) - 28/30 - Vida economicamente ativa 10 anos 20 a 40 anos 5 anos 141 Valores Nutricionais Comparativos da Carne (100 g) Gordura Protídeos Lipídeos Colesterol Calorias (mg ) (mg) (Kcal) (mg ) (%) Bovino Suino Frango Avestruz Peru Javali Ema 9,3 9,7 7,4 2,8 5,3 2,8 3,1 27 28 32 26 22 - 18 22 04 02 02 91 99 86 63 76 45 57 282 324 165 114 170 160 105 Ferro (mg) Proteína (%) 3,0 1,1 1,2 3,2 1,8 2,1 - 29,9 29,3 28,9 26,9 29,3 22 22,9 ALIMENTAÇÃO No tocante a alimentação desta ave, deve-se considerar o consumo de pedras/pedregulhos a serem ingeridos pelas aves até a armazenagem total de 1,5 a 2,0 kg e localizadas no ventrículo, para auxílio na digestão dos alimentos, que devido ao desgaste natural destas pedras devem ser repostas. A alimentação consiste basicamente de pasto (gramíneas e leguminosas) além de ração balanceada. 1- Pastagens: Proporcionalmente as avestruzes pastam mais e com maior eficiência do que o gado, tendo o hábito de pastejar similar ao das ovelhas, privilegiando pastos baixos. Qualquer gramínea ou leguminosa é bem aceita. Quanto mais nutritiva for a pastagem, menor o consumo de ração. Na ausência de pasto, deve-se fornecer capim elefante ou Cameron picado. 2- Ração: Peletizada dá um melhor aproveitamento, menor desperdício e, maior homogeneidade dos nutrientes e vitaminas. Como as necessidades nutricionais se modificam de acordo com a idade, deve-se usar diferentes composições de ração para acompanhar estas modificações. 142 Existem no mercado rações específicas para avestruzes. Consumo Médio de Ração - 01 a 08 semanas de idade* 0,25 a 0,50 kg/cab/dia - 09 a 16 semanas de idade 0,50 a 1,00 kg/cab/dia - 17 a 24 semanas de idade 1,00 a 1,40 kg/cab/dia - 25 a 42 semanas de idade 1,40 a 1,60 kg/cab/dia - Acima de 42 semanas: 1,60 a 1,80 kg/cab/dia MANEJO Captura / Contenção: Ao se promover algum trato às aves, deve-se proceder a captura utilizando-se do gancho apropriado para esta finalidade, de forma nenhuma se deve utilizar cordas ou quaisquer outros instrumentos que venha a dificultar a livre respiração destes ou promover traumatismos ao longo do pescoço da ave, a operação deve ser rápida, colocando-se um capuz que vede a passagem de luz, gerando um estado de tranqüilidade ao animal, reduzindo as movimentações, atentando sempre para que quando deste trabalho seja utilizado o mínimo de duas pessoas para execução da tarefa, e em animais maiores e muito pesados, trabalhar com o mínimo de três pessoas para capturar e conter a ave, sempre imobilizando pêlos lados pois o chute frontal pode gerar enorme perigo para quem lida com a ave. CRITÉRIOS BÁSICOS PARA INGRESSAR NA ATIVIDADE Quando da aquisição de animais além de consultar Profissionais de reconhecida competência, deve visitar criatórios de sucesso para observar a produtividade do plantel, manejo, consangüinidade, defeitos genéticos, experiência do criador. 143 APICULTURA COMERCIAL NO SUL DA BAHIA Ediney de Oliveira Magalhães A exportação de MEL aumentou 14 mil%, passou de R$ 700 mil, em 2001 para R$ 138 milhões, em 2004. De 18 toneladas em 1999, passou para 40 mil toneladas em 2004, já são 500 mil Apicultores no Brasil, 2,5 milhões de colméias instaladas. No Estado da Bahia, durante os últimos dez anos a produção apícola deu um salto de 550 toneladas para 4.000 toneladas, colocando o estado na 8ª posição no ranking nacional. O número de apicultores, no mesmo período, passou de 680 para 5.200. Os números evidenciam o grande interesse dos produtores para a criação de abelhas em todo o Estado da Bahia. No sul da Bahia, a produção de mel e pólen vem se destacado em diversos municípios a exemplo de Una, Canavieiras, Ilhéus (pólen) e Santa Cruz da Vitória, Teixeira de Freitas (mel). São 1.200 apicultores organizados em 22 associações de apicultura e 2 cooperativas, uma de mel (Santa Cruz da Vitória) e outra voltada para a produção de pólen (Canavieiras). O dados acima, demonstram o quanto à atividade apícola cresceu nos últimos anos, gerando novas oportunidade de trabalho e renda para uma parte significativa das comunidades com baixo poder econômico e a CEPLAC vem tendo um papel importante neste processo, atuando em diversas vertentes da cadeia produtiva. Os diversos ecossistemas no sul da Bahia permitem a produção de mel, pólen, própolis, geléia real, apitoxina (veneno das abelhas), para tanto basta que os apicultores conheçam bem a potencialidade da cada região onde será instalado seu empreendimento. Para facilitar essa compreensão, dividimos o sul da Bahia em cinco grandes áreas de acordo com a sua potencialidade apícola. Engenheiro Agrônomo, com mestrado em Desenvolvimento e Gestão Ambiental, responsável pelo Setor de Apicultura do Centro de Pesquisas do Cacau – CEPEC. Email: [email protected] Tel: (73) 32143250 144 1 - Litoral do sul da Bahia: área indicada para a produção de pólen em decorrência das grandes floradas das palmáceas, em especial os coqueiros e as áreas de restinga. Os apicultores podem também produzir própolis e mel. Para a produção da própolis, os manguezais são fornecedores em abundancia de resinas, cujo produto final é uma própolis vermelho com grande ação terapêutica, já comprovada através de estudos pela UNICAP. Com relação a produção do mel, trabalhos realizados pela CEPLAC, verificaram um teor de umidade em torno de 19 a 20%, sendo o ideal 17%. Isto não inviabiliza a produção deste produto nesta áreas, apesar do produto necessitar de cuidado especiais com relação ao seu armazenamento e tempo em prateleira. Figura 1 – Apiário instalado em manguezais. 2 – Áreas de Transição: são localidades onde o índice pluviométrico é baixo e se constata a presença de vegetação rasteira (pasto sujo) e capoeiras. São áreas indicadas para a produção de mel, pode-se citar como exemplo os municípios de Santa Cruz da Vitória, Floresta Azul, Dario Meira. 145 Figura 2: Área de Transição em Floresta Azul. 3 - Áreas com grandes concentrações de plantio de cacau: Nestas áreas as abelhas aproveitam as árvores de sombreamento para a produção de mel e pólen. São localidades com umidade alta, onde o apicultor deve ter o máximo de cuidado para que não ocorra a podridão européia (doenças causadas por bactérias). É possível também a exploração da própolis nestas áreas. O cajá é grande fornecedora de néctar e pólen. A floração do cajá ocorre nos meses de novembro e dezembro, neste período o apicultor pode deslocar suas colméias para estas áreas, onde poderá obter uma produtividade média de 800 gramas de pólen por dia, 800% maior do que a média anual, que é de 100 gramas. 4 - Áreas com plantios de eucalipto: Estas áreas estão localizadas mais para o extremo sul e são indicadas para a produção de mel, cuja produtividade pode alcançar 50 quilos por colméias. É possível também a produção de pólen em determinada época, diferentemente do litoral que produz o ano todo. Maiores informações, o produtor poderá fazer contato com a CEPLAC através dos seus escritórios locais ou ligar para o Centro de Pesquisa do Cacau, através do número (73) 3214-3250 ou enviar e-mail para [email protected] 146 CRIAÇÃO RACIONAL DE PEIXES Marta Emília Moreno do Rosário Caldas INTRODUÇÃO O Brasil e a região cacaueira têm um dos maiores potenciais do mundo para o desenvolvimento da piscicultura, particularmente devido ao seu clima, diversidade de espécies, quantidade e qualidade de água e tipos de solo. Essas condições e a carência alimentar da maioria dos brasileiros torna o potencial da criação de peixes uma exigência social. TIPOS DE PISCICULTURA Extensiva É aquela praticada em reservatórios, lagos, lagoas e açudes que não foram construídos para o cultivo de peixes, mas para outra finalidade, a exemplo de bebedouro de animais, geração de energia elétrica etc. Este tipo de piscicultura apresenta os menores índices de produtividade uma vez que a alimentação dos peixes depende da produção natural dos corpos d’água. A taxa de estocagem utilizada é de um peixe para cada 10 m2. Semi-intensiva É a criação de peixes praticada em aguada disponível na propriedade, geralmente viveiro de barragem, e que o homem contribui com alguns melhoramentos a exemplo do enriquecimento da água com adubações orgânicas ou inorgânicas, visando aumentar a quantidade de alimentos naturais - fitoplâncton e zooplâncton, e com a oferta aos peixes de Bióloga, pesquisadora/CENEX. Email [email protected] 147 subprodutos disponíveis na propriedade tais como mandioca, milho, frutas, verduras, etc. A taxa de estocagem utilizada é de 3 a 5 peixes por m2. Intensiva Essa criação é realizada em viveiros projetados especialmente com o fim de se criar peixes. Os viveiros possuem sistema de abastecimento e escoamento controlados e são povoados com peixes de valor comercial, a taxa de estocagem é programada como manda uma criação comercial de alta produtividade e, para aumentar o crescimento dos peixes usa-se, além da fertilização, a ração balanceada. Para a criação ser economicamente viável, a ração deve proporcionar elevada conversão alimentar capaz de promover um crescimento rápido, e o peixe, por sua vez, deve alcançar alto valor de mercado. Os parâmetros ligados à qualidade da água nos viveiros devem ser monitorados através de equipamentos próprios. Considerando a taxa de estocagem a ser utilizada, necessário se torna a renovação periódica geralmente à noite - da água do viveiro ou a utilização de aeradores para elevar o nível de oxigênio dissolvido. A produção estimada é de 10.000 a 15.000 kg de peixe por hectare/ano. Superintensiva É a criação de peixes realizada em ambientes confinados - tanques-rede, fabricados de materiais não perecíveis onde uma única espécie de peixe é cultivada em alta densidade de povoamento. Os peixes são alimentados somente com ração balanceada, preferencialmente na forma extrusada. Os tanques-rede são utilizados em lagos, grandes reservatórios e em rios de pequeno fluxo. As águas desses locais devem ser livres de poluição e bem oxigenadas. Os tanques-rede de volume inferior a 5m³ são os mais recomendáveis por permitirem troca de água mais eficiente. Neste tipo de piscicultura cultiva-se peixes de alto valor de mercado, a exemplo da tilápia, não podendo contar com os alimentos naturais da água. O Brasil, com mais de 5 milhões de hectares de águas represadas, surge como o maior potencial do mundo para esse sistema de cultivo de peixes em água doce. Para tilápia, a produção estimada varia de 60 a 120 kg/m³. 148 INSTALAÇÃO DE TANQUES E VIVEIROS Localização Em uma represa, nascente, ou baixada onde haja controle dos fluxos de entrada e saída de água, você pode criar peixes. Os principais fatores a serem observados são: Tipo de solo Disponibilidade de água Topografia do terreno Proximidade do mercado consumidor Facilidade de acesso ao local. Tipos de Solo O tipo de solo indicado à construção de viveiros é o argilo-arenoso ou sílico argiloso com composição mínima de 40% de argila, pois não se encharca tanto como o argiloso e não é tão permeável quanto o arenoso. Topografia Devem ser escolhidos os terrenos levemente inclinados ou suavemente ondulados. A inclinação deve ser inferior a 5% ou seja, a distância de nível entre dois pontos distanciados em 100m deve ser inferior a 5m por tornar o custo de construção menor e por facilitar o escoamento da água quando da drenagem dos viveiros. Disponibilidade de Água A quantidade de água necessária para o desenvolvimento da piscicultura é calculada observando-se a área e a profundidade do viveiro. No dimensionamento de um projeto deve considerar-se uma vazão suficiente para encher o maior viveiro em quatro dias , noventa e seis horas, e repor a água perdida pelos processos de infiltração e evaporação. Esta perda diária é da ordem de 1cm. Tipos de Viveiros Viveiro em piscicultura é um reservatório escavado em terreno natural, dotado de sistema de abastecimento e drenagem que permita encher ou secar em um espaço de tempo relativamente curto. 149 Os viveiros são divididos, de forma estrutural, em três tipos: Viveiros de barragem Viveiro de derivação Tanques CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICAS DA ÁGUA As características físicas e químicas da água são fundamentais para os organismos que nela vivem, pois determinam as condições ambientais que favorecem o crescimento e a sobrevivência de espécies vegetais e animais aquáticos. As variações mais importantes que devem ser monitoradas em cultivo de peixes são: Temperatura A temperatura exerce profunda influência sobre a vida aquática e desempenha papel preponderante na alimentação, respiração e reprodução dos peixes. Ela também influência diretamente na disponibilidade de oxigênio dissolvido regulando o apetite dos peixes. Daí a vantagem das regiões tropicais para a piscicultura, uma vez que nelas os peixes comem praticamente durante todo o ano. pH É a medida que expressa se uma água é ácida ou alcalina em escala que varia 0 a 14. O pH intervém freqüentemente na distribuição dos organismos aquáticos. A respiração, fotossíntese, adubação, calagem e poluição são fatores capazes de alterar o pH na água. Oxigênio dissolvido O oxigênio da água é proveniente da atmosfera e dos vegetais que ocorrem submersos e que liberam o oxigênio através da fotossíntese. O oxigênio é consumido pelos animais (como os peixes) pelos vegetais (algas e plantas aquáticas submersas) e também, pelo processo de decomposição da matéria orgânica. Turbidez As águas naturais não são puras e apresentam uma série de materiais 150 dissolvidos e em suspensão, tais como partículas de argila, detritos orgânicos e os próprios microorganismos que vivem na água. Esse conjunto de materiais dispersos na água reduz a penetração da luz, impedindo que grande parte atinja as camadas mais profundas. Este efeito de redução de luz ao atravessar a coluna d’água é chamada de TURBIDEZ. Sais dissolvidos Muitas substâncias encontram-se dissolvidas na água. Enquanto algumas são essenciais para a sobrevivência dos organismos, como o nitrogênio e o fósforo, outras são tóxicas, como a amônia, e provocam mortalidade e insucesso nos cultivos. MANEJO DOS PEIXES NOS VIVEIROS A produtividade de um viveiro de peixe depende basicamente das técnicas de cultivo empregadas, das espécies criadas, da disponibilidade e qualidade da água, das condições de solo, assim como do maior ou menor grau de dedicação do produtor ao cultivo. Tipos de cultivo A capacidade de suporte de um viveiro depende da qualidade da água e do teor de oxigênio dissolvido que ela contém. Monocultivo Neste sistema somente uma única espécie é criada. No Brasil, este tipo de sistema na maioria das vezes, apenas é praticado onde não existe oferta de alevinos de diferentes espécies uma vez que as fontes de alimentos existentes no viveiro ficam subtilizadas por não fazerem parte do hábito alimentar da espécie cultivada Policultivo Praticada quando mais de duas espécies de peixes com hábito alimentar diferente são cultivadas no mesmo viveiro, explorando melhor as fontes de alimento existentes. Neste tipo de sistema deve-se estabelecer a densidade de estocagem dos viveiros e a proporção relativa ideais das espécies - principal ou secundária - a serem neles criadas buscando uma maior produtividade. 151 Calagem Por calagem se entende a aplicação de calcário dolomítico ou cal virgem, de forma homogênea, no fundo limpo e seco do viveiro para: Realizar assepsia contra ovos e larvas de predadores e parasitas; Corrigir o pH do solo ou da água; Corrigir a turbidez causada pela mineralização da matéria orgânica; Melhorar a produtividade primária dos viveiros. A calagem provoca a elevação do pH, aumenta o teor de alcalinidade e a dureza da água, o que torna mais saudável a vida dos microorganismos e dos peixes nos viveiros. A calagem interfere nas características físicas e químicas do solo do fundo dos viveiros, provocando melhor aproveitamento dos fertilizantes orgânicos e minerais. Adubação É uma técnica utilizada para incrementar a produção de alimento natural no meio aquático ou seja, através da adubação nós forneceremos às algas, que são as mais importantes produtoras de matéria orgânica de um viveiro, elementos básicos necessários à fotossíntese - processo através do qual as plantas clorofiladas - fitoplâncton - transformam materiais inorgânicos (compostos de carbono, fosfato e nitratos), em materiais orgânicos (proteínas, hidratos de carbono, gorduras, vitaminas etc.), na presença da energia solar e da água. Os adubos mais utilizados na piscicultura são os orgânicos. Alimentação Para se obter sucesso na piscicultura é fundamental a administração de uma alimentação adequada aos peixes. A alimentação tem efeito direto na sobrevivência, no crescimento e na produção. O alimento dos peixes necessita conter proteínas, hidratos, vitaminas, minerais etc. Sem estes elementos os peixes não crescem. Existem dois tipos de alimentos: Natural Artificial Os alimentos naturais são aqueles produzidos no viveiro e que são consumidos pelos peixes. Exemplos de alimentos naturais: - Fitoplâncton - algas 152 - Zooplâncton - microorganismos animais - Matéria orgânica morta. Todos os organismos que vivem em um viveiro, direta ou indiretamente, participam da produção de carne de peixe. Os alimentos artificiais são as rações balanceadas para peixes ou similares, extrusadas, peletizadas ou em pó e todos os subprodutos agropecuários locais que o piscicultor possa oferecer aos peixes, a exemplo de raízes, grãos e farelos, verduras, legumes e frutas. Os peixes crescem mais rapidamente quando há disponibilidade de alimentos. O crescimento pode paralisar quando há escassez de alimentos, sejam eles naturais ou artificiais. O alimento artificial deve ser administrado diariamente na quantidade de 3-5% da biomassa dividido em duas refeições, durante pelo menos 5 dias por semana, de preferência no mesmo local e às mesmas horas do dia (pela manhã e final da tarde). A quantidade de alimento a ser administrado é calculada através da biometria mensal de uma amostra da população de peixes de um viveiro, que são capturados através da utilização de rede ou tarrafa. ALIMENTO CRESCENTE POUCO ALIMENTO NESTE CASO NÃO SE OBSERVA CRESCIMENTO DOS PEIXES MANTEM O CRESCIMENTO CONTÍNUO DOS PEIXES ALIMENTO DECRESCENTE PERDEM PESO E ENFRAQUECEM 153 Quando da utilização de subprodutos na alimentação, o piscicultor deve observar a quantidade ofertada e a quantidade consumida, de modo que não haja excesso de alimento artificial no viveiro de um dia para o outro pois o acúmulo de matéria orgânica traz mais desvantagens do que vantagens. A forma de preparo dos alimentos e a sua distribuição são fatores importantes. Para pós-larvas e alevinos a ração, em forma de farinha, deve ser distribuída ao longo das margens dos viveiros. Para peixes de 10 a 50 gramas, as raízes, grãos, verduras, frutas e sementes devem ser oferecidas em pequenos pedaços de modo que o peixe possa abocanhar. Uma boa prática é deixar as sementes, raízes e grãos de molho pelo menos 24 horas antes da distribuição. Taxa de Estocagem nos Viveiros O número de alevinos adequado para se povoar um viveiro depende de diversos fatores dentre os quais destacamos os mais importantes: A boa qualidade do solo e da água Disponibilidade de adubo orgânico e inorgânico Disponibilidade de subprodutos na propriedade e de recurso para aquisição de ração Tipo de cultivo adotado considerando a produção final que deseja o piscicultor obter com seus peixes. A densidade de povoamento dos peixes normalmente ocorre de acordo com o tipo de cultivo. 2 Cultivo extensivo - 1 peixe para cada 10m ; 2 Cultivo semi-intensivo - 5 peixes para cada 10m ; Cultivo intensivo - 1 a 3 peixes por metro quadrado. Na utilização de tanques-rede para criação de machos de tilápia são 3 estocados de 50 a 100 alevinos/m3 em gaiolas de volume maior que 5m . Para gaiolas pequenas (mais eficientes por unidade de volume devido a maior facilidade para a troca de água) a taxa de estocagem pode chegar até 300 alevinos/m3. A produtividade varia de 50 a 150kg de tilápias/m3. 154 ESPÉCIES RECOMENDADAS AO CULTIVO • Carpa Comum (Cyprinus carpio) Seu regime alimentar é omnívoro, alimentando-se de zooplâncton na fase juvenil e animais de fundo - minhocas, larvas de insetos, detritos etc. - quando adulta. Em um ano de cultivo atinge peso médio de 1,0kg. No sistema de policultivo, se adapta bem com o tambaqui, a carpa capim, a carpa prateada e a tilápia. • Carpa Prateada (Hypophthalmichthys molitrix) Alimenta-se das menores algas do viveiro e somente consome alimentos artificiais quando na forma farelada. Sua alimentação é incrementada através da adubação. Em policultivo, se adapta bem com a carpa comum e o tambaqui. Alcança com um ano de vida peso aproximado a 2,0kg. 155 • Carpa Cabeça Grande (Aristichthys mobilis) Alimenta-se de algas em colônias, rotíferos e pequenos microcrustáceos. Cresce bem junto a carpa prateada, a curimatã e o tambaqui. Atinge cerca de 2,0kg com um ano de cultivo. • Carpa Capim (Ctenopharyngodon idella) É um peixe herbívoro que consome não somente as plantas aquáticas mas também gramas e capins verde e fresco (não seco). É um peixe de piracema. Excelente produtor de adubo orgânico - pode consumir diariamente de 30 a 80% do seu peso. Alcança cerca de 1,8kg com um ano de cultivo. 156 • Curimatã Pacu (Prochilodus marggravii) É um peixe lodófago e seu alimento natural constitui-se de matéria orgânica em decomposição ou de plantas e pequenos animais que vivem aderidos em pedras ou qualquer outro substrato no fundo do viveiro. Pode ser usado no policultivo com carpa prateada, carpa cabeça grande e tambaqui. Alcança com um ano de cultivo 1,0kg. • Tambaqui (Colossoma macropomum) A alimentação principal do tambaqui é constituída por microcrustáceos planctônicos e frutas. Come também algas filamentosas, plantas aquáticas frescas e em decomposição, insetos aquáticos e terrestres que caem na água, caracóis, caramujos, frutas secas e carnosas e sementes duras e moles. Nos viveiros os tambaquis podem ser alimentados com frutas, tubérculos, sementes e rações peletizadas e extrusadas. O tambaqui alimenta-se rápido e agressivamente, não dando tempo para outros peixes comerem, no entanto, em sistema de policultivo pode ser cultivado junto com a curimatã, carpa comum, carpa prateada, carpa cabeça grande e carpa capim. Atinge peso médio de 1,5kg em um ano de cultivo. 157 Despesca É a colheita ou retirada dos peixes dos viveiros ao alcançarem o peso de mercado ou de consumo. A despesca pode ser parcial - quando se retira o peixe a ser comercializado com rede de arrasto e total - quando o viveiro é totalmente esvaziado e o peixe coletado no final. A drenagem do viveiro deve ser feita lentamente, de modo a provocar o refúgio dos peixes na parte mais profunda reduzindo o tempo em que os mesmos ficam em contato com a lama do fundo. Os viveiros devem ser secos anualmente para manutenção e assepsia. MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO DO PESCADO O pescado é um produto que se decompõe em um curto espaço de tempo e a velocidade de deterioração depende de vários fatores: - Temperatura; - Método de captura; - Espécie de peixe trabalhada; - Manuseio A conservação do pescado tem por objetivo retardar o processo de deterioração e torná-lo disponível durante todo o ano em diversas localidades onde se faça presente o mercado consumidor. Resfriamento É o método mais simples de conservação. Os peixes e o gelo devem ser armazenados em camadas alternadas de modo que um peixe não toque em outro nem nas paredes da caixa coletora. Congelamento Embora seja um dos métodos mais eficientes, é pouco utilizado para peixes de água doce pela necessidade de armazenamento em túnel de congelamento. 158 Salga Método utilizado para preservar o pescado através da penetração do sal no interior dos tecidos musculares, reduzindo a quantidade de água presente e inibindo a atividade bacteriana. Defumação O pescado é submetido a um tratamento térmico de modo a perder toda a água contida nos tecidos e ao mesmo tempo receber partículas de fumaça que lhe conferem gosto, aspecto e proteção especial. BENEFICIAMENTO Inúmeras são as formas de beneficiar as espécies atualmente mais trabalhadas na piscicultura brasileira, destacamos entre elas: Peixe inteiro eviscerado Peixe em posta Filé de peixe Peixe defumado Fishburguer Costelinhas, almôndegas e quibe Patê congelado e defumado Peixe salgado Caldo de peixe. Do peixe ainda podemos beneficiar as peles através do curtimento, produzir a farinha de peixe e extrair a hipófise - glândula sexual utilizada no estímulo à propagação artificial de peixe de piracema. COMERCIALIZAÇÃO Os peixes podem ser comercializados “in natura” nas feiras livres ou diretamente para áreas de lazer e pesque-pague. Quando beneficiado, o pescado pode ser comercializado junto a bares, lanchonetes, restaurantes, hotéis e supermercados. 159 BIBLIOGRAFIA BOYD, C.E. Water quality in warmwater fishponds. 3 ed. Auburn: Auburn University, 1984. 344p. HONDA, E.M.S. Contribuição ao conhecimento da biologia de peixes do Amazonas. Alimentação do tambaqui, Colossoma bidens (Spix). Acta Amazonica, v.4, n.2. p.47-53. 1974. PRIETO, A . Manual para la prevenciión y el tratamiento de enfermedades en peces de cultivo en agua dulce. Santiago: ONU/FAO, 1991. 65p. WOUNAROVICH, E., HORVATH, L. A propagação artificial de peixes de águas tropicais. Manual de Extensão. Brasília - DF.: FAO/CODEVASF/ CNPq., 1983. 220p. BOYD, C.E. 1990. Water Quality in Ponds for Aquaculture. Birmingham Publishing Co., First printing, Alabama. 482p. 160 TERRITÓRIOS RURAIS COMO UNIDADE DE PLANEJAMENTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS Elieser Barros Correia INTRODUÇÃO O enfoque territorial é uma estratégia essencialmente integradora de espaços, atores sociais, agentes, mercados e políticas públicas de intervenção, e tem na equidade, no respeito à diversidade, na solidariedade, na justiça social, no sentimento de pertencimento, na valorização da cultura local e na inclusão social, as bases fundamentais para conquista da cidadania. O objetivo dessa construção, que só se concretiza mediante amplo processo democrático, é identificar e conceber os territórios a partir da composição de identidades regionais como elemento aglutinador e promotor do desenvolvimento rural sustentável. Realçam-se como desafios dessa estratégia, a promoção e apoio ao processo de desenvolvimento de competências humanas e institucionais nos espaços concebidos como territórios, articulando a construção e implementação de políticas públicas através da elaboração participativa de Planos de Desenvolvimento Territoriais Sustentável, tendo como enfoque o fortalecimento das comunidades rurais, com ênfase na agricultura familiar. A adoção da abordagem territorial como referência conceitual nos processos de desenvolvimento rural sustentável constitui premissa fundamental para a concepção desse espaço enquanto unidade de planejamento, bem como do seu reconhecimento como instrumento de descentralização e de autogestão de políticas públicas. Msc em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente Chefe do Centro de Extensão da CEPLAC 161 CONCEITO DE TERRITÓRIO Várias são as concepções existentes. A assimilação que os atores do desenvolvimento territorial na Bahia possuem deste conceito levam a compreensão de território como a área geográfica de atuação de um projeto político-institucional, que se constrói a partir da articulação de instituições em torno de objetivos e métodos de desenvolvimento comuns. Partindose deste entendimento político, desenvolvem-se projetos produtivos, sociais, culturais e ambientais, normalmente orientados ou liderados por um projeto dominante ou idéia-guia. O território, enquanto espaço socialmente organizado, configura-se no ambiente político institucional onde se mobilizam os atores regionais em prol do seu projeto (ou seus projetos, mesmo que encerrem conflitos de interesses) de desenvolvimento. O principal objetivo é a geração de relações de cooperação positivas e transformadoras do tecido social. (ROCHA; SCHEFLER e COUTO, 2004). TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE A discussão acerca de território começa com as acepções do termo. Originário do latim territorium, adjetivo derivado de territorialis que significa pedaço de terra apropriada, este sentido era-lhe atribuído antes do século XVIII. Nos anos 1920, os termos território e territorialidade transferem-se do domínio político-administrativo para o da etologia, adquirindo status de conceito científico, deixando de ser uma qualidade jurídica para transformar-se num sistema de comportamento dos animais. No campo da etologia, o território está associado à demarcação e dominação de lugar, à extensão e limites, enquanto territorialidade é definida como a conduta de um organismo para tomar posse de seu território e defenderse contra os membros de sua própria espécie. Em geografia, Milton Santos refere-se ao território, como sendo “(...) o chão da população, isto é sua identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é a base do trabalho, da residência, das trocas materiais e espirituais e da vida, sobre os quais ele influi.” (SANTOS, 2000, p.96). 162 UM ESPAÇO DE PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO RURAL Busca-se um consenso em que o Estado deve ser gerido como um espaço público, onde a participação da sociedade seja um instrumento básico de decisão sobre os rumos e prioridades do desenvolvimento. A democratização dos órgãos públicos, a transparência administrativa, a participação popular nos conselhos, câmaras e nos orçamentos são elementos balizadores do planejamento territorial. Na análise de Sepúlveda (2003), in (SEI, 2004) o território surge como foco do desenvolvimento rural sustentável. Parte-se de um conjunto de aspectos diagnosticáveis do território que compreendem: a) as características da economia rural da região; b) a heterogeneidade espacial e socioeconômica do setor rural; c) a diversidade institucional e política dos espaços locais; d) a variedade de oportunidades e possibilidades regionais; e) as diferenças ecológicas entre as unidades territoriais; f) as interligações entre essas unidades e o restante da economia. Deriva dessa compreensão, a formulação de políticas que garantam o desenvolvimento e corrijam as desigualdades rurais. Além da coesão social, o desenvolvimento rural prescinde da coesão territorial, ressaltam (Rocha; Schefler e Couto, 2004). Sepúlveda aponta ainda o caráter institucional-multidisciplinar do desenvolvimento territorial. Este se revela importante na definição e condução das políticas públicas territoriais, que devem conter objetivos múltiplos e promover um sistema participativo de base. O enfoque territorial para o desenvolvimento apresenta uma nova concepção onde os aspectos ambientais, econômicos, sociais, histórico-cultural, político e institucional interagem no espaço do território. A economia rural não é mais puramente agrícola, e, sim compreende o conjunto de atividades agrícolas e nãoagrícolas regionais e dos recursos naturais da região (SEPÚLVEDA, 2003). Abramovay (2001b e 2003) sugere que o território possui, antes de tudo, um tecido social, com relações de bases históricas e políticas que vão além da análise econômica. À dimensão territorial do desenvolvimento somam-se as já estudadas dimensões temporais (ciclos econômicos) e setoriais (a exemplo dos complexos agroindustriais). Citando os estudos de Casarotto Filho e Pires (1998), o autor lembra que a formação de um território – ou pacto territorial – deve responder a cinco pré-requisitos: 1) mobilizar os atores em torno de uma idéia-guia; 2) contar com o apoio 163 desses atores, não apenas na execução, mas na própria elaboração do projeto; 3) definir um projeto orientado ao desenvolvimento das atividades de um território; 4) realizar o projeto em um tempo definido; e 5) criar uma entidade gerenciadora que expresse a unidade entre os protagonistas do pacto territorial. Uma estratégia para o planejamento de desenvolvimento territorial sustentável deve estar fundada num processo de implantação e consolidação de metodologias que se completa em dois momentos: um de apoio à auto-organização, formação dos fóruns e planejamento dos territórios; e outro de desenvolvimento das capacidades territoriais e articulação interinstitucional de políticas públicas. Diagrama da Construção Sistêmica do Desenvolvimento Territorial ÿ ÿ ÿ ÿ ÿ 164 TERRITÓRIOS BAIANOS Enquanto estratégia do Governo Federal para fortalecimento do Campo brasileiro, a Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA) animou um processo de divisão da Bahia, com a participação do Governo do Estado, organizações sociais e outras instituições, em 23 potenciais territórios rurais. Desses, seis situados na área de atuação da CEPLAC. Paralelamente ao trabalho da SDT, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) firmou três Projetos de Cooperação Técnica (TCP) com o Governo Federal, visando apoiar a implementação do Programa Fome Zero (PFZ). A junção das experiências avaliadas como replicáveis, permitiu à FAO montar uma metodologia de desenvolvimento territorial, que se assemelha à da SDT. Da mesma forma, outras instituições, governamentais e não-governamentais, têm trabalhado com metodologias semelhantes para o desenvolvimento territorial. Essas metodologias foram discutidas no âmbito da Coordenação Estadual dos Territórios da Bahia (CET) com o objetivo de se montar uma metodologia de referência para o desenvolvimento de territórios rurais, que deve ser usada pelos outros parceiros dos territórios. Explicando: além dos territórios apoiados pela SDT, outros territórios estão sendo ou serão apoiados por instituições parceiras, que precisam de uma metodologia para implementar as ações. É o caso do projeto FAO/MDA (UTF/BRA/ 057) que vem implementando essa metodologia de referência no território do Sertão do São Francisco. Da mesma forma a CEPLAC vem utilizando dessa metodologia nos territórios de Itapetinga, Médio Rio das Contas, Vale do Jiquiriçá e Extremo Sul. Outras instituições como CODEVASF, Governo da Bahia, Banco do Nordeste e DNOCS têm sinalizado com a intenção de usar essa metodologia em outros territórios baianos. Para se atingir o desenvolvimento almejado, tem-se trabalhado duas linhas estratégicas de atuação: a linha política, que deve ser entendida como ação-meio para alcance do desenvolvimento, e a linha técnica, que é a ação-fim. Na linha política, deve-se buscar a articulação e o entendimento das instituições locais e outras externas ao território em torno de objetivos e métodos comuns de desenvolvimento. Espera-se que a concertação institucional permita que: (1) seja formado um fórum para defender politicamente o desenvolvimento do território e que (2) se definam 165 responsabilidades para as instituições envolvidas, considerando-se suas competências e áreas de atuação. Estas responsabilidades devem estar colocadas em um Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável (PDTS). Na linha técnica, deve-se estimular três processos: diagnósticos participativos nas comunidades; capacitação dos assentados da reforma agrária, agricultores familiares e de outras categorias fragilizadas, nas áreas temáticas de maior demanda identificadas nos diagnósticos; e elaboração, implementação e acompanhamento de projetos pilotos, de apoio à capacitação (aprender fazendo) e que possam ser replicados a partir das decisões do fórum. Tabela Resumo da Metodologia de Referência 166 TERRITORIALIZAÇÃO RURAL BAHIA, 2004 167 TERRITÓRIOS RURAIS APOIADOS BAHIA, 2004 168 TERRITORIALIDADE NO ÂMBITO DE ATUAÇÃO DA CEPLAC 169 DESAFIOS O plano plurianual da CEPLAC para 2005/2007, consideradas as dimensões econômicas, sociais e ambientais no contexto da territorialidade de sua atuação, indicou trabalhar ações capazes de promover a “Inclusão social e redução das desigualdades sociais” e o “Crescimento com geração de emprego e renda, ambientalmente sustentável com redução das desigualdades”, Mega-Objetivos Estratégicos do Projeto BRASIL DE TODOS, do Governo Federal. Para tanto a intervenção institucional nos seus territórios se dará mediante os seguintes desafios: Incorporar a Visão do Desenvolvimento Territorial Implementar metodologia que viabilize captar demandas dos diferentes segmentos da população rural, em especial, da Agricultura Familiar; Propiciar a participação efetiva das comunidades na definição e implementação das políticas públicas Fortalecer a organização social e da produção numa perspectiva Integral e, de Cadeias Produtivas. LITERATURA CONSULTADA ABRAMOVAY, Ricardo. Ruralidade e desenvolvimento territorial. Gazeta Mercantil, São Paulo, p. A-3, 15 abr. 2001a. ABRAMOVAY, Ricardo. Sete desafios para o desenvolvimento territorial. Disponível em: www.banf.org.br. Acesso em: 04 set. 2005. COMISSÃO EXECUTIVA DO PLANO DA LAVOURA CACAUEIRA – CEPLAC. Diretrizes para a Programação 2005. Ilhéus: CEPLAC/SUBES, 2004, 23p. COUTO FILHO, Vitor Athayde; SILVA Dr. Jeová Torres e GAVÍNIA Lydda. (Org.). Desenvolvimento Territorial na Bahia: (Cartilha/CD/DVD). 2005 ROCHA, Alynson dos S. ; SCHEFLER, Maria de L. M. e COUTO, Vitor de Athayde. Organização Social e Desenvolvimento Territorial: reflexos sobre 170 a experiência dos CMDRS na região de Irecê – Ba. In SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. Análise Territorial da Bahia Rural. Salvador: SEI, 2004, 222p. (série estudos e pesquisas, 71). SABOURIN, Eric. Planejamento municipal. Brasília: Embrapa, 1999, 124p. SANTOS, Milton. Território e sociedade: entrevista com Milton Santos. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2000. SEPÚLVEDA, Sérgio. Desarrollo rural sostenible: enfoque territorial. [19-?]. SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. Análise Territorial da Bahia Rural. Salvador: SEI, 2004, 222p. (série estudos e pesquisas, 71). 171 PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR - PRONAF José Brandt Silva Filho O que é o PRONAF ? O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF é um programa do Governo Federal criado em 1995, com o intuito de atender de forma diferenciada os mini e pequenos produtores rurais que desenvolvem suas atividades mediante emprego direto de sua força de trabalho e de sua família. Qual o objetivo ? Tem como objetivo o fortalecimento das atividades desenvolvidas pelo produtor familiar, de forma a integrá-lo à cadeia de agronegócios, proporcionando-lhe aumento de renda e agregando valor ao produto e à propriedade, mediante a modernização do sistema produtivo, valorização do produtor rural e a profissionalização dos produtores familiares. Quais as vantagens do PRONAF ? a) Para os produtores: I. Obtenção de financiamento de custeio e investimento com encargos e condições adequadas a realidade da agricultura familiar, de forma ágil e sem custos adicionais; Eng. Agr. Analista técnico rural regional de Ilhéus 172 II. O aumento de renda mediante melhoria de produtividade, do uso racional da terra e da propriedade; III. Melhoria das condições de vida do produtor e de sua família; IV. Agilidade no atendimento; V. Para os produtores que honrarem seus compromissos, garantia de recursos para a safra seguinte, com a renovação do crédito até 5 anos, no caso de custeio das atividades. b) Para o país: I. Maior oferta de alimentos, principalmente dos que compõem a cesta básica: arroz, feijão, mandioca milho, trigo e leite; II. Estimula a permanência do agricultor no campo com mais dignidade e qualidade de vida. Quem pode obter o financiamento ? Os produtores rurais que atendam as condições abaixo e apresentem a Declaração de Aptidão ao Pronaf - DAP, emitida pelas instituições e órgãos oficiais autorizados. a) explorem a terra na condição de proprietário, posseiro, arrendatário, parceiro ou concessionário do Programa Nacional de Reforma Agrária; b) residam na propriedade ou em local próximo; c) possuam, no máximo 4 módulos fiscais (6 módulos fiscais, no caso de atividade pecuária); d) tenham o trabalho familiar como base da exploração do estabelecimento; e) tenham renda bruta anual, conforme apresentado no Quadro 1. 173 Quadro 1 – Beneficiários do PRONAF. Grupos Características A Agricultores familiares assentados pelo Programa Nacional de Reforma Agrária que não foram contemplados com operação de investimento sob à égide do PROCERA ou com crédito de investimento para estruturação no âmbito do PRONAF; e beneficiados por programas de crédito fundiário do Governo Federal. A/C Agricultores familiares egressos do Grupo A, que se enquadrem nas condições do Grupo C e que se habilitem ao primeiro crédito de custeio isolado B Agricultores familiares, inclusive remanescentes de quilombos, trabalhadores rurais e indígenas que obtém renda bruta anual de até R$ 2.000,00, excluídos os proventos vinculados a benefícios previdenciários decorrentes das atividades rurais. C Agricultores familiares e trabalhadores rurais, inclusive os egressos do PROCERA e/ou Grupo A, que obtém renda bruta anual familiar acima de R$ 2.000,00 e até R$ 14.000,00, excluídos os proventos vinculados a benefícios previdenciários decorrentes das atividades rurais.. D Agricultores familiares e trabalhadores rurais, inclusive os egressos do PROCERA e/ou Grupo A, que obtém renda bruta anual familiar acima de R$ 14.000,00 e até R$ 40.000,00, excluídos os proventos vinculados a benefícios previdenciários decorrentes das atividades rurais. E Agricultores sociais e trabalhadores rurais egressos do PRONAF ou ainda beneficiários daquele programa, que obtém renda bruta anual familiar de até R$ 60.000,00, excluídos os proventos vinculados a benefícios previdenciários decorrentes de atividades rurais. 174 Quais as demais condições de financiamento do PRONAF ? Quadro 2 – Condições do Financiamento. PISO /TETO ENCARGOS FINANCEIROS REBATE PRAZO Grupos Custeio A B - Invest. Até R$ 16.500 R$ 1.000 - Custeio Invest. Custeio Invest. Custeio Invest. - 1,15% ao ano - 40% s/ principal - Até 10 anos c/até 5 anos de carência - 1% ao ano - 25% s/ saldo devedor - Até 2 anos c/ até 1 ano carência 2% ao ano - R$ 200 - Até 2 anos R$ 200 A/C R$ 500 a R$ 3.000 C R$ 500 a R$ 3.000 R$ 1.500 a R$ 6.000 4% ao ano 3% ao ano D R$ 6.000 R$ 18.000 4% ao ano 3% ao ano E R$ 28.000 R$ 36.000 (*) (*) 7,25% ao ano 7,25% ao ano - - - R$ 700 - - Até 2 anos - Até 8 anos c/ até 5 anos carência Até 2 anos Até 8 anos c/ até 5 anos carência Até 2 anos Até 8 anos c/ até 3 anos carência Obs.: (*) o somatório do crédito de custeio + investimento não pode ultrapassar 60% da renda bruta anual do beneficiário. Os valores mencionados no quadro 2 poderão ser aumentados nos seguintes casos: Em operações de Custeio (não cumulativos): Do Grupo C – os limites dos créditos podem ser aumentados em até 50%, desde que: 175 a) a proposta contemple novas atividades agregadoras de renda ou aumento da área explorada; b) os recursos sejam destinados: I. à bovinocultura de corte ou de leite, bubalinocultura, carcinicultura, fruticultura, olericultura e ovinocaprinocultura; II. à avicultura e suinocultura desenvolvidas fora do regime de parceria ou integração com agroindústrias; III. a agricultores em fase de transição para a produção agroecológica,mediante comprovação por empresa credenciada; IV. a sistemas agroecológicos de produção, cujos produtos sejam certificados; V. ao atendimento de propostas de créditos relacionadas com com projetos específicos de interesse da mulher e/ou de jovens que apresentem DAP própria. Em operações de Investimento (não cumulativos): Dos Grupos C ou D – os limites de créditos poderão ser elevados em até 50%, desde que o projeto técnico ou proposta de crédito contemple novas atividades agregadoras de renda ou o aumento da área explorada e os recursos sejam destinados a: a) bovinocultura de corte ou de leite, bubalinocultura, carcinicultura, fruticultura, olericultura e ovinocaprinocultura; b) avicultura e suinocultura desenvolvida fora do regime de parceria ou integração com agroindústrias; c) a agricultores em fase de transição para a produção agroecológica, mediante comprovação por empresa credenciada; d) a sistemas agroecológicos de produção, cujo produto seja certificado; e) atividades relacionadas com o turismo rural (Pronaf Turismo); f) aquisição de máquinas, tratores e implementos agrícolas, veículos utilitários, embarcações, equipamentos de irrigação e outros bens dessa natureza destinados especificamente à atividade agropecuária (Pronaf Máquinas e Equipamentos); g) Projetos de infra-estrutura hídrica, inclusive aquelas atividades relacionadas com projetos que visem dar segurança hídrica ao empreendimento. 176 Quais as novas linhas de crédito do PRONAF ? Pronaf Alimentos – crédito especial para estimular a produção de cinco alimentos básicos da mesa dos brasileiros – arroz, feijão, mandioca, milho e trigo. Os agricultores terão 30% a mais de crédito para a produção dessas culturas. (Grupos A/C, C e D) Pronaf Mulher – crédito especial de investimento relacionados com projetos específicos de interesse das esposas ou companheiras dos agricultores familiares, sempre que o projeto técnico ou a proposta contemplar atividades agregadoras de renda e/ou novas atividades exploradas pela unidade familiar, observadas as condições previstas para os Grupos “C”, “D” e “E”, limitado a um crédito em cada grupo, independentemente dos tetos de investimentos já concedidos a unidade familiar. Pronaf Jovem – crédito especial de investimento relacionados com projetos específicos de interesse de jovens, de 16 a 25 anos, que tenham concluído ou estejam cursando o último ano em centros familiares de formação por alternância ou em escolas técnicas agrícolas de nível médio ou que tenham participado de curso de formação profissional, filhos(as) dos agricultores familiares enquadrados nos Grupos “C”, “D” e “E”, que apresentem projeto técnico ou proposta contemplando as atividades agregadoras de renda e/.ou novas atividades exploradas pela unidade familiar, observadas as condições: juros 1% ao ano e prazo de pagamento de até 10 anos, com até 3 anos de carência e teto máximo de R$ 6.000,00, limitado a um crédito em cada grupo, independentemente dos tetos de investimentos já concedidos a unidade familiar. Pronaf Semi-Árido – crédito especial para os agricultores da região do semi-árido, enquadrados nos Grupos “A”, “C” e “D”, destinados à construção de pequenas obras hídricas, como cisternas, barragens para irrigação e dessalinização da água, com juros de 1% ao ano e prazo para pagamento de 10 anos, com até 3 anos de carência e teto máximo de R$ 6.000,00.. Pronaf Florestal – Crédito especial de investimento destinados ao financiamento de projetos de silvicultura e sistemas agroflorestais e exploração extrativista sustentável, para produtores enquadrados nos Grupos “C” e “D”, observadas as condições de juros de 3% ao ano, prazo 177 de até 12 anos, com até 8 anos de carência; limites/tetos de R$ 4.000,00 (Grupo C) e R$ 6.000,00 (Grupo D), limitado a dois créditos por unidade familiar independentemente dos tetos de investimentos já concedidos a unidade familiar. Pronaf Agroindústria – Créditos de custeio e de investimento para Agregação de renda à atividade rural (agroindústria), destinado a produtores enquadrados nos Grupos “C”, “D” e “E”, cooperativas, associações ou outras pessoas jurídicas e que comprovam, em projeto técnico, que mais de 70% da matéria prima a ser beneficiada ou industrializada seja de produção própria ou de associados participantes, observadas as condições: juros de 8,75% ao ano (custeio) e de 3% ao ano (investimento), prazo de pagamento de até 12 meses (custeio) e de até 8 anos, com até 5 anos de carência (investimento), limites/tetos de R$ 5.000,00 (custeio) e R$ 18.000,00 (investimento) por beneficiário em uma ou mais operações. Pronaf Agroecologia – Créditos de investimento para financiar produtores familiares enquadrados nos Grupos “C” e “D” e que estejam em fase de transição para a produção agroecológica, mediante a apresentação de documento fornecido por empresa credenciada conforme normas definidas pela SAF/MDA, ou que utilizam sistemas agroecológicos de produção, cujos produtos são certificados com observância das normas estabelecidas pelo MAPA, observadas as condições: juros de 3% ao ano, prazo de pagamento de até 8 anos, com até 3 anos de carência, limites de R$ 6.000,00 (Grupo C) e R$ 18.000,00 (Grupo D), por beneficiário em uma ou mais operações. 178 DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO PARA O CULTIVO DA CAJAZEIRA José Vanderlei Ramos INTRODUÇÃO A cajazeira encontra-se amplamente disseminada em quase toda a região Nordeste do Brasil. No Sul da Bahia, é encontrada como planta de sombreamento permanente para o cacaueiro e como importante fonte de renda adicional ao produtor. Sua exploração, que envolve basicamente mão-de-obra familiar, ainda é feita de modo extrativista, em que a maior parte da produção é perdida em virtude do método tradicional de coleta dos frutos. A qualidade deles, especialmente para a obtenção de polpa, é prejudicada por caírem naturalmente de plantas muito altas e por isso, são danificados. O elevado porte da planta que alcança 30 m de altura e o grande período juvenil das cajazeiras oriundas de sementes são verdadeiros entraves para a exploração comercial dessa fruteira. Na busca de soluções técnicas para o cultivo da cajazeira o Cepec vem desenvolvendo trabalhos de pesquisas nas áreas de seleção e avaliação de genótipos, estudos fenológicos, métodos de propagação, desenvolvimento de técnicas de manejo, sistemas agroflorestais e caracterização físico-química dos frutos. Os resultados de pesquisas obtidos até o momento são bastante promissores para os produtores interessados na exploração industrial dessa importante fruteira. Serão relatados de forma sucinta os resultados preliminares e conclusivos dos trabalhos desenvolvidos pelo Cepec. 1. Propagação vegetativa Foram testados os métodos de borbulhia, estaquia herbácea, enxertia lateral e garfagem de topo em fenda cheia em mudas de cajazeira na Engº Agrº., MSc., Fitotecnia. Ceplac/Cepec/Sefop 179 casa de vegetação do Centro de Pesquisas do Cacau (Cepec). O maior índice de pegamento foi alcançado pelo método de garfagem no topo em fenda cheia com 65%, seguido pela enxertia lateral 45%, borbulhia 30% e estaquia 20%. 2. Seleção e avaliação de clones de cajazeiras (Spondia mombin L.) no sul da Bahia. Na avaliação das características fenológicas de crescimento, diâmetro de caule e da copa em altura, clones de cajazeiras mostrou uma grande velocidade de crescimento vegetativo da planta, atingindo doze metros de altura no clone Cepec 1 aos seis anos de idade. Tabela 1 - Características fenológicas de seis clones com idade de 6 anos (altura da planta, diâmetro do tronco e diâmetro da copa). 3. Fenologia da cajazeira na região sul da Bahia Visando determinar os eventos fenológicos (queda de folhas, floração, frutificação, colheita) da cajazeira, foram avaliadas vinte plantas no município de Ilhéus, Pau Brasil, São José da Vitória e Santa Luzia durante cinco anos. Os dados revelaram que o período de queda de folha ocorre nos meses de julho a agosto; a floração de outubro a dezembro; frutificação de novembro a janeiro e a colheita de janeiro a maio. 4. Plantio de estacas lenhosas Foram plantadas estacas lenhosas com 1,20 m de comprimento e com 180 5 a 10 cm de diâmetro no espaçamento de 12 x 12 m na Estação Experimental Lemos Maia, (Una). As cajazeiras iniciaram a produção após 24 meses de campo. Visando reduzir o porte são realizadas podas para manter as plantas com até 6 m de altura. Sistemas agroflorestais (SAF) Em face de seu elevado porte e de seu valor econômico, a cajazeira está sendo consorciada com cacaueiro e cupuaçuzeiro em dois experimentos localizados na Estação Experimental Lemos Maia (Una) e no Centro de Pesquisas do Cacau (Cepec). As cajazeiras foram plantadas no espaçamento de 12 x 12 m; cacaueiros 3 x 3 m e cupuaçuzeiro em dois espaçamentos 3 x 3 m e 6 x 6 m. 5. Caracterização físico química dos frutos de cajazeira de diversos genótipos no sul da Bahia. Objetivando determinar a qualidade dos frutos do cajá de onze genótipos, foi realizado um ensaio no Cepec no ano de 2004, cujos resultados médios foram: ºBrix 12,77; Acidez total titulável 1,26; mg, vitamina C 35,14; mg e Acides total 12,94; Massa do fruto 14,04 mg e, rendimento da polpa 55,57%. 181 BIOCALDAS PARA AGRICULTORES DE BAIXA RENDA Antonio Carlos Murillo Existem diversos tipos de caldas biológicas como: Biofertilizantes, biofungicidas, bioinseticidas e outros produtos utilizados na agricultura ecológica, oriunda de produtos facilmente encontrados no campo a exemplo da cana-de-açúcar, caldo de cana, açúcar mascavo, cama de frangos, esterco bovinos e caprinos, leite, urina de vaca, manipueira, pimenta-doreino, urtiga, samambaia, e outros oriundos da bioindústria de produtos ecológicos. Um modelo sustentável correta, tem como fundamental, reter o máximo de renda gerado pela agricultura nas mãos dos agricultores, por isso destacamos primordialmente a utilização de biocaldas com matérias primas existentes no próprio imóvel, de baixo custo, de fácil acesso e manipulação na região cacaueira. 1 - Manipueira: subproduto ou resíduo da mandioca por ocasião da prensagem da raiz para obtenção de fécula ou farinha de mandioca. É um líquido com aspecto leitoso e cor amarelo-claro, rico em potássio (K), contendo outros macros e micros nutrientes, como nitrogênio (N), magnésio (Mg), fósforo (P), cálcio (Ca) enxofre (S), ferro (Fé), zinco (Zn), cobre (Cu), manganês (Mn), tendo em sua composição química cianetos livres e totais ácidos, (quadro 1 anexo) - que variam na concentração conforme as variedades das mandiocas mansas ou bravas, produto este importante na eficiência, quando utilizamos a manipueira como fungicida, inseticida, bactericida, acaricida e outras utilidades a exemplo da Tabela 1 anexo. CEPLAC/CENEX 182 2 – Urina de vaca ou cabra: é um biofertilizante que aumenta a resistência das plantas, com boa eficiência nas culturas do tomate, alface, quiabo, jiló e holerículas diversas, e o abacaxizeiro combate à doença fusariose. Modo de preparar: colocar urina de vaca ou de cabra em recipiente plástico fechado durante três dias, para conversão da uréia em amônia. Modo de usar: pulverizações quinzenais nas holerículas na concentração de 1% (urina de vaca) ou 0,5% (urina de cabra), ou seja, 1 litro de urina para 100 de água e 0,5 litro de urina para 100 de água, utilizando pulverizador costal manual. Importante: Urina de vaca ou cabra, utilizar animais que estejam em lactação, porque tem mais substâncias hormonais e fenóis; O uso do biofertilizante em alface deve ser dirigido ao solo e nunca nas folhas. Urina de vaca na concentração de 30% ou de cabra a 15%, combate o carrapato. 3 – Franfresco: é um biofertilizante obtido dos resíduos de frango, usados em pulverizações foliares, promovendo desenvolvimento rápido das mudas que apresentem deficiências nutricionais, principalmente nitrogênio. Modo de preparar: em um recipiente, colocar cama de frango na concentração de 10% ou utilizar esterco fresco entre 3 a 5% ou seja: 1 litro de cama de frango em 10 litros de água ou 370 gramas de esterco para 10 litros de água. Quatro horas após o preparo coar e colocar no pulverizador e utiliza-lo. 4 – Biobov – obtido através da fermentação do esterco fresco de bovinos, água, leite, caldo de cana, com efeito, no controle de fungos e bactérias sobre doenças das plantas, além da produção de componentes nutricionais principalmente nitrogênio e hormônios vegetais. Modo de preparar: 80 a 100 kg de esterco bovino 05 litros de soro de leite ou leite sem sal 02 litros de caldo de cana 05 kg de cama de frango ou esterco de aves 100 litros de água limpa 183 Misturam-se todos os ingredientes dentro de um recipiente, utilizandose água aos poucos até encher. Agita-se uma vez por dia durante 15 dias no verão e 30 dias no inverno, para poder usá-lo. Usa-se um recipiente com capacidade de 200 litros ou até mesmo um buraco no solo, revestido com lona plástica preta com espessura de 150 a 200 micras, por uma proteção ou cobertura. Modo de usar: a dose recomendada é 1 litro por cova, por ocasião do transplante das mudas, o concentrado deve ser diluído 1 litro em 3 litros de água. Em pulverizações a concentração é de 3 a 5%.- resultado de análise químicas de amostras do biobov – Quadro nº 2 anexo. 5 – Bioframbov – obtido através da fermentação de esterco fresco de bovino, cama de frango ou esterco fresco de galinha, água, leite, caldo de cana. Além do nitrogênio (N), potássio (K) e cálcio (Ca), fornecem quantidade significativa de outros macros e micros nutrientes. Vide anexa quadro nº 3 anexo e pode ser utilizado em substituição ao uso de uréia e cloreto de potássio (K), nas adubações de cobertura, principalmente na cultura do tomateiro. Modo de preparar: 50 kg de esterco de galinha ou cama de frango 50 kg de esterco bovino 05 litros de soro de leite ou leite sem sal 02 litros de caldo de cana Procedimentos ao preparo igual ao biobov. Modo de usar. Vide igual ao biobov 6 – Água de cinzas e cal: é um protetor de plantas devido à qualidade de resistência ao que confere a mistura de cal e cinzas, contém macros (K, Ca e Mg) Vide quadro nº 4 anexo, com resultados de análise. Além de contribuir como defensivo ecológico. É utilizado como auxiliar no controle de pragas, principalmente pulgão (Mysus persicae). Modo de preparar: 05 kg de cal hidratada ou 05 kg de cinza vegetal 100 litros de água 0,5 kg de cal 0,5 kg de cinza 10 litros de água Misturam-se os materiais em vasilhame plástico e agita-se a mistura 3 a 4 vezes com o auxílio de um pedaço de madeira ou similar. A água de cinza pode ser utilizada de 1 a 6 horas após o preparo, porém no quarto 184 agito do preparo dá um intervalo de 15 minutos, coar e colocar no pulverizador costal e utiliza-la na concentração de 2 a 5% (400 ml a 1 litro da solução cal e cinza para 19 litros de água). Importante colocar na mistura um espalhante adesivo, podendo ser utilizado a farinha de trigo a 2% ou 40 gramas por pulverizador de 20 litros. 7 – Leite e cinza: Modo de preparar: 2,5 litros de leite 1,5 kg de cinza 1,5 de caldo de cana 1,5 de esterco fresco de bovino 100 litros de água Modo de usar: Misture os ingredientes acima citados em um pano fino, filtre o material e coloque no pulverizador e utiliza sobre as culturas. Indicação: Fungos de pepino, pimentão, tomate, batata. Sem contra indicação para as hortaliças. Aplicar em culturas perenes a cada 15 dias a exemplo do café e em culturas temporárias a cada 10 dias. 8 – Pimenta: (Capsicum sp) inseticida biológico, indicado no tratamento de vaquinhas. Modo de Preparar: 450 gramas de pimenta 50 gramas de sabão 4.5 litros de água Macerar pimenta com sabão, colocar água dissolvendo a mistura até completar os 5 litros da solução, em seguida coar. Modo de usar: colocar a solução integral no pulverizador costal manual e pulverizar sobre as plantas atacadas. 9 – Pimenta-do-reino: (Piper nigrum) inseticida biológico, indicado no tratamento de pulgões, ácaros e cochonilhas. Modo de Preparar: 100 gramas de pimenta-do-reino 60 gramas de sabão de coco 01 litro de álcool 01 litro de água Primeira mistura – colocar 100 gramas de pimenta-do-reino em 1 litro de álcool durante 1 semana. 185 Segunda mistura – dissolver 60 gramas de sabão de coco em 1 litro de água fervida, em seguida misturar a primeira mistura com a segunda, formando uma solução que deve ser coada. Modo de usar: utilizar a solução obtida, e pulverizar a 1% (100ml da solução em 10 litros de água). 10 – Samambaia: (Piteridium aquillinum) Inseticida biológica, indicado no tratamento de ácaro cochonilhas e pulgões. Modo de Preparar: 500 gr de folhas frescas ou 100 g de folhas secas 01 litro de água 1ª Opção: deixar de molho durante 01 dia, em seguida ferver essa mistura durante 30 minutos e a solução estará pronta. 2ª Opção: deixar de molho a solução durante o8 dias, e a solução estará pronta. Modo de usar: pulverizações quinzenais da solução a 10% (1 litro da solução em 10 litros de água). 11 – Urtiga (Urtiga urnes) inseticida e fungicida biológica, indicado no tratamento de fungos e pulgões das plantas. Modo de Preparar: 500 gramas de urtiga frescos ou 100 gramas secos. 10 litros de água Colocar 500 gramas de urtiga em 10 litros de água podendo-se utilizar a partir do 2º dia até o 15o dia. 1ª Opção: do 2º ao 8º dia na concentração de 5% (0,5 litro da solução em 10 litros de água). 2ª Opção: do 9º ao 15º dia na concentração de 10% (1 litro da solução em 10 litros de água). 186 Quadro 1 MANIPUEIRA (Manihot esculenta Crantz) CONCENTRADO COMPONENTE QUANTIDADE (ppm) Nitrgênio (N) 425,5 Fósforo (P) 259,5 Potássio (K) 1853,5 Cálcio (Ca) 227,5 Magnésio (Mg) 405,0 Enxofre (S) 195,0 Ferro (Fe) 15,3 Zinco (Zn) 4,2 Cobre (Cu) 11,5 Manganês (Mn) 3,7 Boro (B) 5,0 Cianeto Livre (Cn) 42,5 Cianeto Total 604,0 * * 55mg/Litro 187 Tabela 1 USO DA MANIPUEIRA (Água da Mandioca) 188 Legenda: M = (milho) – MF = (milho e feijão) – H = (hortaliças) - Praguecida = Fungicida ou inseticida ou bactericida ou acaricida. Quadro 2- Resultados de análises químicas de amostras de Biobov* * Resultados expressos em material seco a 750C. Biofertilizantes elaborados por S.A. Claro. Análises realizadas no Laboratório de Análises do Departamento de Solos (FA/ UFRGS) 189 Quadro 3- Resultados de análises químicas de amostras de cama de frango , para produção do Bioframbov* Amostra Determinação 01 Umidade a 750C - % Matéria seca - % pH em água Carbono orgânico - % Nitrogênio total - % Fósforo total - % Potássio total - % Cálcio total - % Magnésio total - % Cobre total – mg/kg Zinco total – mg/kg Ferro total - % Manganês total – mg/kg Sódio total – mg/kg Enxofre total - % Boro total – mg/kg 13 87 7,9 20 1,86 1,45 1,87 2,71 0,65 97 513 2,74 553 0,21 0,37 60 02 22 78 8,6 14 1,97 1,73 2,06 1,60 0,58 100 497 2,55 530 0,20 0,38 49 * Resultados expressos em material seco a 750C. Biofertilizantes elaborados por S.A. Claro. Análises realizadas no Laboratório de Análises do Departamento de Solos (FA/ UFRGS). 190 Quadro 4. Resultados das análises de cal hidratada sólida, cinza de casca de arroz sólida, água de cinza e cal límpida e com turbidez, analisados 1 hora e 6 horas após a mistura do cal e da cinza com a água. * = 1 hora. ** = 6 horas. Análises realizadas pelo Laboratório de análises de solo da UFRGS, em 1996. Amostras de um experimento para investigar a composição da água de cinza e cal (filtrado) com diferentes graus de turbidez (límpida e com turbidez) obtida uma hora após a mistura dos ingredientes e 6 horas após. Trabalho realizado por S.A. Claro no curso de mestrado em 1996 (UFRGS). Colaboradores: I. Barros e F. Paganella. 191 MANEJO ESTRATÉGICO DA PASTAGEM E O SUCESSO DO AGRONEGÓCIO DE CARNE E LEITE José Marques Pereira CARACTERIZAÇÃO E PERSPECTIVAS DO AGRONEGÓCIO O sudeste da Bahia apresenta condições edafoclimáticas ideais para produção de leite e carne a pasto. Adicionalmente, já existe disponibilidade de tecnologia, tais como novos genótipos de forrageiras altamente produtivos, técnicas de manejo racional da pastagem e qualidade genética dos rebanhos, entre outras, suficiente para se auferir índices competitivos de produtividade. Infelizmente a produtividade média da pecuária regional ainda é baixa. Segundo dados oficiais a produtividade média de leite por vaca por dia ainda está entre 800 e 1000 litros, correspondendo a cerca de 600 a 800 kg de leite/ha/ano. Quanto ao gado de corte a produtividade é de 4,5 a 5,0 @ de carcaça/ha/ano. Esses índices são ainda muito insignificantes e bem abaixo da potencialidade dos agrossistemas pastoris existentes na região e das possibilidades tecnológicas disponíveis. A tecnologia disponível é adaptável a diferentes tamanhos de imóveis e principalmente à capacidade da sua adoção pelos produtores. Com o uso de tecnologia de fácil adoção, portanto ao alcance de um número maior de produtores em face de sua baixa complexidade, pode-se exclusivamente em regime de pasto, obter cerca de 5.800 kg de leite/ ha/ano para gado de leite e de 13 a 15 @ de carcaça/ha/ano para gado de corte. Em exploração com maior uso de tecnologia disponível e, portanto mais intensiva e com mais investimentos pode-se obter respectivamente 21.500 kg de leite/ha/ano e cerca de 35@ de carcaça/ha/ano. Eng. Agr. DS. 1FFA/Pesquisador - CEPLAC/CEPEC 192 A Tabela 1 mostra as estimativas dos rendimentos brutos e líquidos obtidos com os índices de produtividade médios da região sul da Bahia, com os obtidos em sistemas de exploração com tecnologia de fácil adoção e com índices obtidos em sistemas de alta tecnologia, possível de adoção, mas restrita a um número menor de produtores. Conforme se observa à atividade leiteira responde mais à adoção de tecnologia em termos de rendimento líquido, embora à medida que aumenta a intensidade do sistema, o grau de especialização dos animais também aumenta havendo necessidade de suplementação com concentrado. Assim rendimentos líquidos de R$ 1.596,00 por ha podem ser obtidos nesses sistemas mais intensivos. Para gado de corte, foi considerada a exploração exclusivamente a pasto, somente com o uso de suplemento mineral. Desta forma o aumento do rendimento líquido de um nível de exploração para outro cresce menos, mas a exploração é mais fácil de conduzir e mais apropriada para áreas mais extensas. O aumento no ganho de peso diário dos bovinos de corte, sem suplementação com concentrados, também não cresce muito, devendose os ganhos ao aumento da capacidade de suporte das pastagens. Os limites de ganhos médios por animal para bovinos em regime de pasto exclusivo podem chegar a 700 – 800 g/cab/dia, cerca de 80 a 100% a mais do que os ganhos obtidos em regime extensivo, a exemplo da média regional(Tabela 2). No entanto a produtividade em termos de @/ha pode chegar à cerca de seis vezes mais à média regional por conta do aumento da capacidade de suporte. Esses ganhos, mesmo com suplementação com concentrados e com volumoso no período seco ficariam entre 1.000 a 1.100 g/cab/dia, considerando a média anual com índice de rentabilidade Tabela 1 – Estimativa de rendimentos brutos e líquidos em diferentes níveis de exploração pecuária. R$/ha/ano Nível de exploração Média estadual Rendimento bruto Rendimento líquido Leite Leite Carne Carne 245,00 218,50 171,50 163,87 Tecnologia de fácil adoção 2.030,00 650,00 812,00 414,00 Tecnologia de possível adoção(2) 6.387,50 1.610,00 1.596,87 724,50 193 Tabela 2 – Produtividade das pastagens em diversas regiões do Brasil. Pastagem Kg/ha de N Braquiarão1 160 756 Fonte PEREIRA (Prelo) 200/300 882 CORREIA, 2000 Coast Cross2 200 906 CORREIA, 2000 Tanzânia1 320 1370 TOSI, 1999 1 430 1672 MAYA, 2003 300 2064 FONSECA et al (2001) Tnazânia Tanzânia Napier 1 2 Kg. PV/ha 3 Produção anual; 2 Época das águas; 3 Produção em aproximadamente 18 meses líquida duvidosa em relação ao sistema exclusivo de pasto, em um sistema bem manejado. Já a pecuária leiteira pode passar de 12 kg/ha de leite em regime de pastagem exclusivo, para até 25 kg/ha com suplementação, desde que as vacas tenham potencial de produção( Tabela 3). No entanto a produção de leite e carne em regime de pastagem é a mais recomendada para o ambiente tropical, principalmente porque animais leiteiros de alta produção não se adaptam bem ao regime de pasto, dependendo exageradamente de concentrados. Para essas condições tem-se obtido bons resultados com o uso de vacas mestiças holandês-zebu em regime de pastagem com suplementação mínima estratégica para garantir bons índices de reprodução do rebanho (Tabelas 3 e 4). Tabela 3. – Produção de leite por vaca e por hectare em pastagens do ecossistema Mata Atlântica. 1.Sem concentrado, águas 180 dias; 2. Concentrado - 2 kg/vaca/dia, 302 dias; 3. Concentrado 3 kg/vaca/dia; 4. Concentrado - 6 kg/vaca/dia. 194 Tabela 4 – Índices de produção - Faz. Barra de Manguinhos – Ilhéus, BA. Lotação 3 vacas/ha – 7 litros/vaca/dia MANEJO RECOMENDADO PARA A PASTAGEM Foi evidenciado que a forma mais econômica para a produção de leite e de carne é em regime de pasto. Mostrou-se também que é possível a obtenção de índices de produtividade competitivos com esse sistema, desde que se adotem recomendações racionais de manejo da pastagem. Essas recomendações são apresentadas a seguir. Escolha da forrageira A produtividade da pecuária a pasto está diretamente relacionada com o potencial da forrageira, sua adaptabilidade ao ecossistema e principalmente com o manejo adotado. As forrageiras, quanto à sua exigência nutricional e conseqüentemente resposta à adubação podem ser classificadas em três grupos, apresentados na Tabela 5. Tabela 5 – Classificação das forrageiras quanto à exigência nutricional. B d ctyo e a 195 B dec be s É fundamental que na fazenda sejam atribuídas às áreas mais férteis forrageiras mais exigentes e produtivas. O plantio de forrageiras mais exigentes em solos pobres implica necessariamente na adubação da pastagem para que não haja queda de produtividade seguida da sua degradação. O capim-humidicola estabelecido em solo de tabuleiros costeiros necessitaria pouquíssima adubação fosfatada para produzir satisfatoriamente, já o capim-braquiarão (marandu), nessas mesmas condições, necessitaria de calagem, maior dosagem de fósforo, além nitrogênio e potássio. Além da exigência nutricional outro fator importante na escolha da forrageira é a sua adaptabilidade às condições de excessiva umidade do solo e capacidade de cobertura do solo. Para áreas sujeitas a alagamento devem-se preferir os capins, braquiaria-de-brejo, capim-bengo, humidicola e estrela africana, ordenados de acordo com o nível de tolerância. Áreas com topografia muito acidentada devem preferentemente ser deixadas como áreas de reserva permanente. Nas áreas medianamente acidentadas devem ser utilizadas forrageiras estoloníferas/decumbentes como é o caso de alguns capins dos gêneros Brachiaria (decumbens e humidicola) e do Cynodon (coastcross, tifton). Na história da pecuária brasileira tem sido comum a substituição de forrageiras mais exigentes em fertilidade de solos, portanto mais produtivas, por forrageiras menos exigentes, à medida que se observa a queda da fertilidade do solo. Com isso acontece um verdadeiro retrocesso, com redução de produtividade, sem evitar que com o passar do tempo, ocorra à degradação da pastagem. Nesse caso é preferível não substituir a forrageira, mas sim proceder à reposição dos nutrientes, seguida do manejo adequado da pastagem. O mais grave também acontece, substituir forrageira de baixa exigência nutricional em pastagens degradadas por outra mais exigente sem o correspondente uso de fertilizante e manejo adequado. Manejo da pastagem O correto manejo das pastagens é fundamental para garantir a produtividade sustentável do sistema de produção e do agronegócio. Atrelados ao bom manejo estão a conservação dos recursos ambientais, evitando ou minimizando os impactos negativos da erosão, compactação e baixa infiltração de água no solo, de ocorrência comum em áreas mal manejadas e/ou degradadas. O manejo incorreto das pastagens é o 196 principal responsável pela alta proporção de pastagens degradadas observada em todas as regiões do Brasil. O princípio básico do bom manejo é manter o equilíbrio entre a taxa de lotação e a taxa de acúmulo de massa forrageira, ou seja, a oferta de forragem (quantidade e qualidade). Para atender esse pré-requisito é necessário compreender a dinâmica dos componentes do ecossistema de pastagem: forrageira (potencial produtivo, taxa de crescimento, adaptabilidade), solo (fertilidade, textura, topografia) clima, animal (comportamento ingestivo, taxa de lotação). A taxa de lotação, o número de cabeças/ha, novilhos/ha, vacas/ha ou UA/ha (UA= unidade animal = 450 kg de PV), deve variar dentro e entre estações do ano em função da oferta de forragem. Essa oferta depende da taxa de crescimento das forrageiras que por sua vez, varia em função do clima (chuva, temperatura, radiação solar). No sudoeste da Bahia observa-se variação nas taxas de crescimento entre estação e nas diferentes ecoregiões. Na ecoregião de Itapetinga observa-se um período seco bem definido. Na ecoregião do extremo sul observa-se um inverno chuvoso, mas as baixas temperaturas observadas nesse período (junho a agosto), reduzem a taxa de crescimento das forrageiras (Tabela 6) sugerindo redução na taxa de lotação ou suplementação com volumoso nesse período. Tabela 6 – Taxa de crescimento observada para gramíneas e leguminosas forrageiras no extremo sul da Bahia. Forrageiras Mínima precipitação Máxima precipitação Kg/ha/dia Gramínea 1 Leguminosas 1 2 Média de 5 espécies ou cultivares. Fonte: PEREIRA, et al. (1995) 37,9 91,5 13,3 41,7 2 Média de 5 espécies ou cultivares. No manejo das pastagens existem basicamente dois sistemas de pastejo: o pastejo contínuo (lotação contínua) e o pastejo rotacionado (lotação rotacionada). Os demais são derivações do pastejo rotacionado, tais como pastejo alternado, pastejo diferido, etc. Esses sistemas de pastejo estão representados na Figura 1. 197 Fonte: Adaptado de RODRIGUES e REIS (1997). Pastejo limite = pastejo alternado Figura 1 - Sistemas de pastejo mais utilizados. Tanto no pastejo continuo como no rotacionado pode-se se obter boas produções desde que se respeite a taxa de crescimento das forrageiras, ou seja, a oferta de forragem. Aliás, em baixas lotações ou em explorações extensivas, pouca diferença tem sido observada entre pastejo rotacionado e contínuo. Já em sistemas intensivos com elevados níveis de adubação e com forrageiras com elevado potencial produtivo, é imprescindível o uso do pastejo rotacionado, por apresentar maior aproveitamento da forragem produzida (eficiência de pastejo), maior aproveitamento do adubo utilizado e conseqüentemente maior produtividade animal. No pastejo contínuo torna-se mais difícil o ajuste da taxa de lotação em função da oferta de forragem. O ideal nesse sistema, em termos práticos, seria a manutenção da pastagem em uma altura constante (área foliar uniforme) ou seja, o animal estaria consumindo quantidade de forragem correspondente ao consumo da forrageira mais as perdas. Na prática, 198 isso pode ser difícil principalmente em sistemas com aplicação de níveis elevados de insumos, onde a dificuldade de manter esse equilíbrio é maior ainda. A manutenção dos capins braquiarão/xaraés, decumbens e humidicola com altura de respectivamente 40, 30 e 25 cm em pastejo contínuo pode ser recomendada. O que se observa em geral no campo, é que o produtor pratica um misto de sistemas, contínuo, alternado e às vezes rotacionado, não sistematizado. No entanto, na última década tem aumentado muito o uso de pastejo com lotação rotacionada, principalmente com a adoção de forrageiras mais produtivas e com o uso da adubação Na implantação do sistema de pastejo com lotação rotacionada tornase necessário determinar: o período de descanso (PD), o período de ocupação (PO) e o número e tamanho dos piquetes. O período de descanso é o tempo que o piquete fica sem animais para possibilitar a rebrotação da forrageira (capim ou leguminosa) após o pastejo. A duração do PD varia com a forrageira, com estação do ano (condições climáticas) e com o nível de adubação utilizado. No período seco ou de menor precipitação as forrageiras crescem menos, então o PD deveria ser maior. No período chuvoso seria menor. Se escolher o período chuvoso para definir o PD (mais curto), deve-se preparar para retirar parte dos animais do sistema, no período seco (ou de inverno) ou suplementa-los com volumoso produzido fora do sistema. Em regiões com período seco definido, quanto maior for à taxa de lotação no período das águas maior será a necessidade de suplementação com volumoso no período seco. Se escolher o PD em função do período seco (PD mais longo), devem-se diferir alguns piquetes por um ou dois ciclos de pastejo e armazenar o excedente de forragem desses piquetes para o período seco. Na região sudoeste da Bahia, principalmente na região cacaueira e do extremo sul, geralmente se toma como base o período de maior crescimento das forrageiras e suplementa os animais no período mais crítico, com volumoso produzido fora do sistema. O importante é que ao final do PD a forrageira tenha atingido a taxa máxima de acúmulo de forragem e que a forragem em oferta tenha um bom valor nutritivo. Conforme se deduz, o PD é muito variável e a rigor deve ser estudado para cada caso ou unidade de produção. O número de dias estipulado é na verdade em função da quantidade e da qualidade da forragem acumulada no período. Se o período for mais curto pode-se ter baixa produção e a planta não ter ainda tido tempo suficiente para recuperar suas reserva. Se for muito longo o capim fica excessivamente maduro, com baixo valor 199 nutritivo (muita fibra, baixa digestibilidade, baixo teor protéico). Nessa ocasião a taxa de crescimento é muito baixa ou nula, nenhuma folha nova vai mais surgir e a quantidade de folhas senescentes (velhas ou mortas), tende a aumentar. O manejo da pastagem, portanto, deve ter uma certa flexibilidade, sem perder de vista a sua praticidade. Uma forma prática de se definir o PD ideal é tomar como base a altura do pasto a ser atingida no final do período. Se não for atingida, o PD deve ser reajustado. Para o sul da Bahia, à luz da experiência acumulada, poderia se sugerir para os principais grupos de forrageiras cultivadas, os períodos de descansos e altura do pasto para a entrada e saída dos animais no piquete, detalhadas na Tabela 7. O período de ocupação (PO), é o tempo que os animais ficam pastejando em cada piquete. A sua duração deve ser compatível com a oferta de forragem acumulada e esta é realmente quem define a taxa de lotação pretendida. Na definição do período de ocupação também deve ser observado o resíduo pós-pastejo, que deve ser adequado para garantir a rebrotação no período de descanso seguinte. Sugestões sobre alturas de resíduos para algumas forrageiras são apresentadas na Tabela 3. O PO nunca deve exceder a 7 dias. O ideal é que fique entre 1 e 3 dias para gado de leite e 3 a 5 dias para gado de corte, dependendo da intensidade e do potencial de produção dos animais. O gado de leite é mais sensível a períodos de ocupação mais longos, pois à medida que passam os dias à produção de leite cai. Assim, para vacas com produção acima de 12 kg de leite/dia, o ideal é adotar PO de 1 dia. Tabela 7 – Período de descanso e altura do pasto na entrada e na saída dos animais em pastejo com lotação rotacionado sugeridos para os principais grupos de forrageiras. Forrageiras Período de descanso (dias) Altura do pasto (cm) Entrada Saída Capim-elefante 36 110 - 120 40 – 50 Colonião, tanzânia, mombaça 36 70 - 80 30 – 40 Braquiarão, xaraés 36 40 – 50 20 – 25 Brachiaria decumbens 28 30 – 40 15 – 20 21 – 28 20 – 30 10 - 12 Capim humidicola, tifton 85, coastcross, estrela africana 200 O tamanho do piquete depende do número de animais definido em função da oferta de forragem, do período de ocupação e da área total disponível para o sistema. A área dos piquetes não deve ser necessariamente a mesma. O importante é que a disponibilidade de forragem dentro do piquete, ou seja, a área útil. Piquetes com topografia muita acidentada ou com áreas alagadas, pedras, etc. devem ser maiores. O número de piquetes quando se tem somente um lote por sistema de pastejo é calculado pelo quociente do PD pelo PO, somado a 1. O uso de mais de um lote em um mesmo sistema de pastejo é mais difícil de ajustar, devendo ser evitado. Devem-se preferir piquetes na forma quadrada ou retangular, com a largura mínima igual a um terço do comprimento. O planejamento do sistema deve ser feito por técnico especializado em manejo de pastagem. Corredores, bebedouros, cochos saleiros ou para suplementação, áreas de descanso, devem ser alocados de modo a reduzir e tornar mais o cômodo possível o percurso dos animais. Em área acidentada, os corredores devem ser projetados cortando o declive, a fim de evitar a erosão e amenizar o esforço dos animais. Isso se torna mais importante ainda em gado leiteiro, onde a posição do estábulo/sala de ordenha deve também ser levada em consideração no planejamento do sistema de partejo. Uma vaca leiteira deixa de produzir cerca de 0,5 litro de leite/dia para cada quilometro percorrido em terreno plano. Em área acidentada essa redução pode triplicar. O arranjo de sistema de partejo com lotação rotacionada mais utilizado é aquele que adota uma área de descanso (do piquete do animal), onde são alocados os bebedouros (ou aproveitamento de corpos de água naturais), cochos saleiros, com livre acesso dos animais a partir do piquete que estão utilizando. De acordo o tamanho dos piquetes e área total do sistema pode haver de uma a várias áreas de descanso. O nível de produtividade obtido no sistema de pastejo está diretamente relacionado com a fertilidade do solo ou com o nível de adubação adotado e com o potencial de resposta da forrageira. Para forragens do grupo 1 (Tabela 1) o nível de fósforo no solo deve ser mantido em no mínimo 10 ppm. Utilizando-se os capins elefante e braquiarão e com adubação de 160 kg/ha de N, 60 kg/ha de K2O e 160 kg/ha de P2O5, em um sistema de partejo com lotação rotacionada (3 x 36 dias), na Essul/Ceplac, Itabela, obtiveram-se taxas de lotação, ganhos de peso diário e ganho de peso/ha de respectivamente, 4,6 e 4,1 UA/ha, 359 a 456 g/nov/dia e 785 e 756 kg/ ha, no período de 385 dias. 201 LEGUMINOSAS COM POTENCIAL PARA INCLUSÃO NOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO A utilização de pastagens consociadas tem como vantagem principal aumentar o aporte de nitrogênio ao sistema de pastagem, reduzido os custo com adubação. Adicionalmente contribui para manter a oferta de forragem para o animal ao longo do ano contornando o problema de escassez no período crítico. São poucas as leguminosas forrageiras divulgadas atualmente e que tenham despertado interesse por parte dos produtores ou empresas distribuidoras de sementes. Neste contexto, as que no momento tem maior potencial de uso são: Arachis pintoi (amendoim forrageiro cv. Belmonte) , S. guianensis cv. Mineirão, Campo Grande (S. capitata e S. Macrocephala), Desmodium ovalifolium cv. Itabela, Pueraria phaseoloides, Calopogonio muconoides, e leguminosas arbóreas/arbustivas, como a Leucaena leucocephala (leucena) , Cajanus cajan (guandu), Gliricidia serpium, entre outras. No entanto, mesmo essas leguminosas têm uso ainda muito restrito, dependendo não só do aperfeiçoamento de técnicas de manejo, como também de maior trabalho de difusão. No gênero Arachis sp, A. pintoí, com as cultivares Amarilho e Belmonte e A. glabrata, despontam no momento como as mais promissoras, pela sua qualidade nutricional e persistência sob pastejo sendo motivo de entusiasmo no meio científico e despertando cada vez mais a atenção dos produtores. No entanto não vai ser a solução para todas as situações. A. pintoí, vem sendo difundida em vários ecossistemas, mas sua adaptação tem sido maior em ecossistemas úmidos ou semi-úmidos, com curta estação seca, como é o caso da Amazônia, Mata Atlântica e tabuleiros costeiros. Em regiões com maior período seco sua utilização pode ficar restrita a várzeas úmidas. O amendoim forrageiro cv. Belmonte com baixa produção de sementes vem sendo disseminada por meio de propagação vegetativa. Em consorciação com os capins humidicola e dyctioneura, tem dados bons resultados com produção média de 12 @/há e persistência por mais de 15 anos. Há notícias de amplas áreas desta cultivar implantadas no estado do Acre e em menor escala nos tabuleiros costeiros da Bahia e Sergipe(observação do autor). No período 2003/04 a Ceplac distribuiu material de propagação para cerca de 1200 produtores em todo o Brasil, com ênfase para o Sul e Sudeste. 202 Em alguns casos ajustes de manejo devem ser feitos para evitar que a leguminosa, como é o caso do amendoim forrageiro, em face de sua agressividade, domine a gramínea, principalmente quando esta é também de boa qualidade, reduzindo a quantidade de energia disponível para os animais. A lotação contínua parece aumentar a proporção desta leguminosa na pastagem em regiões sem período seco definido. O gênero Stylosanthes sp. com as cultivares Mineirão e Campo Grande ( S. capitata e S. macrocephala ) estão bastante divulgadas como leguminosas adaptadas aos cerrados. O cv. Mineirão tem apresentado baixa persistência quando associado aos braquiarias em geral principalmente ao cv. Marandu com reflexos na produção animal. A máximo período de pastejo encontrado na literatura foi de três anos, permanecendo na pastagem na proporção de 10% em média A sua utilização como banco de proteína e recuperação de pastagens degradadas parece ter maior probabilidade de adoção junto ao produtor. O estilosantes Mineirão vem se tornando popular no Brasil, e alguns produtores de sementes estão interessados na divulgação destes cultivares criando expectativas de aumentar o volume de adoção, ainda pequeno (Fazenda Primavera, observação pessoal). Pesquisas adicionais sobres manejo e formas de utilização desta cultivar foram detectadas na literatura revisada. Sobre o multilinha Campo Grande de lançamento recente, há ainda poucas informações sobre sua qualidade e persistência sob pastejo. Pueraria phaseoloides(cudzu tropical) e Calopogonio muconoides, têm sido muito utilizados na Amazônia e no sul da Bahia. Com relação ao cudzu tropical as experiências obtidas no sul da Bahia pela Ceplac indicam persistência de até quatro anos quando consorciadas com os braquiarias em geral. São leguminosas que juntamente com Stylosanthes sp podem ser mais utilizadas estrategicamente no período seco. Desmodium ovalifolium cv. Itabela, lançado pela Ceplac, tem problema de qualidade influindo negativamente na sua palatabilidade, mas por ser muito persistente, sua presença na pastagem tem mostrado reflexos positivos no ganho de peso dos animais, face à reciclagem de N que beneficia a gramínea. Tem atualmente uso restrito ao sul da Bahia, com pouca saída de sementes para outros estados. È recomendada para ecossistemas úmidos e semi-úmidos. Das leguminosas arbustivas a leucena, é a mais estudada. È relativamente bem disseminada em todo o Brasil, tendo o seu uso se consolidado na formação de bancos de proteína. No semi-árido tem sido 203 utilizada como componente do sistema CBL (caatinga, capim-buffel, leucena). Nesse sistema a caatinga é utilizada do período das chuvas e o capim-buffel juntamente com a leucena em banco de proteína e na forma de silagem e feno, no período seco. Nos sul da Bahia é recomendada em banco de proteína principalmente com os braquiarias. O Guandu e a gliricidia são menos utilizadas. A primeira tem problema de persistência e a segunda, mais adaptada a ecossistemas úmidos tem palatabilidade de regular a baixa. 204 O AGRONEGÓCIO BORRACHA COMO ALTERNATIVA AO DESENVOLVIMENTO DO SUL DA BAHIA Adonias de Castro Virgens Filho 1 - INTRODUÇÃO A região cacaueira do Sul da Bahia teve o seu desenvolvimento alicerçado na economia do cacau. Ao longo do século passado, esta lavoura contribuiu para a geração de riquezas, chegando a produzir 360.000 toneladas em amêndoas secas, sustentando a economia de 102 municípios, figurando em certo momento como o principal sustentáculo da economia do estado. A partir da introdução e disseminação do fungo Crinipellis perniciosa, causador da doença vassoura-de-bruxa nos cacauais, a região passou a vivenciar uma séria crise, devido à queda da produção de cacau, a ocorrência de condições climáticas adversas e ao endividamento dos agricultores, reduzindo, desse modo, o nível de emprego nas propriedades rurais, provocando tensões sociais tanto na zona rural como urbana. Tal situação obrigou milhares de famílias a migrarem para as cidades, dentro e fora da região, sem a qualificação profissional necessária à sobrevivência digna neste meio. Nas quatro últimas décadas, inúmeros programas foram implementados na tentativa de diversificar a economia regional, mas apesar da importância dessa iniciativa, nenhum desses foi capaz de restabelecer parte da renda e dos empregos perdidos com a crise do cacau. Entre os problemas encontrados mencionam-se: baixa produtividade dos sistemas produtivos, sobretudo das palmáceas (coco, dendê e piaçava), da heveicultura tradicional, especiarias (cravo-da-índia, pimenta-do-reino), e estimulantes (guaraná); a comercialização dos produtos sem valor agregado; a baixa competitividade de uma parcela da pecuária e sua vulnerabilidade às variações de preço. Diante dessa situação torna-se Pesquisador da CEPLAC/CEPEC/SEFOP 205 necessária a busca de alternativas de investimento com melhor perspectiva de mercado, diversidade de renda e regularidade no fluxo de caixa. Entre as opções disponíveis mencionam-se os sistemas agroflorestais com a seringueira. Os sistemas agroflorestais consistem na exploração de arranjos multiculturais seqüenciados, que promovem melhor uso dos fatores de produção, maior lucro por superfície cultivada e melhor distribuição das receitas ao longo do ano. Esses modelos possibilitam mecanismos biológicos interativos, promovem maior reciclagem de nutrientes e melhor aproveitamento residual dos insumos. 2 - A HEVEICULTURA NA BAHIA O estado da Bahia ocupa o terceiro lugar na produção nacional de borracha natural do país com 11.637 ton em 2004 (IBGE, 2005) e é o terceiro em área plantada. No final dos anos oitenta, a Bahia chegou a ocupar a hegemonia na produção nacional, posição hoje conquistada pelo Estado de São Paulo. A Bahia possui uma destacada infra-estrutura de produção e processamento da borracha, com três usinas de beneficiamento (Agro Industrial Ituberá, Michelin e Inducompre/Vipal) que processaram 20.245 mil toneladas de granulado escuro brasileiro (GEB) em 2005, segunda maior produção beneficiada do país. Dispõe de um expressivo contingente de mão-de-obra qualificada trabalhando nos seringais e uma experiência acumulada na tecnologia do cultivo. Adicionalmente, detém condições para integrar todos os ciclos da cadeia produtiva, pela possibilidade de atrair novos investimentos para o setor, o que já vem ocorrendo. Recentes investimentos para instalação de indústrias de pneumáticos, recauchutagem e artefatos apontam para a formação de um cluster, condição que no futuro próximo tornará o a Bahia o segundo pólo da indústria de borracha do país. 3 - O MERCADO DA BORRACHA O mercado mundial de elastômeros, correspondente à soma das borrachas sintética e natural, até os anos recentes se caracterizava por apresentar uma oferta ligeiramente superior à demanda (Quadro 1). 206 Esse comportamento, apresentado no quadro 1, mostra que nos últimos dez anos houve um excedente médio de 240 mil toneladas, à exceção do ano 2000, quando os preços mais baixos da borracha natural motivaram um aumento acentuado do consumo, sendo o déficit de 550 mil toneladas e em 2005 com menos 12 mil toneladas. Entre os anos de 1996 e 2005 o consumo total de elastômeros teve um aumento de 31,5 %, passando de 15.700 mil toneladas para 20.659 mil toneladas, enquanto a oferta incrementou em 27,4 %, evoluindo de 16.200 mil toneladas para 20.647 mil toneladas. 3.1 - Borracha natural 3.1.1 - Produção e consumo mundial Nas três últimas décadas o mercado mundial de borracha natural registrou praticamente um equilíbrio entre a oferta e a demanda (figura 1). Apenas no ano de 1996, período de baixos preços no mercado, a produção superou o consumo em mais de 300 mil toneladas, enquanto nos anos 2000 e 2002, o consumo foi maior que a oferta em 580 e 240 mil toneladas, respectivamente. 207 Nos anos 2003 e 2004, a retomada nos preços da borracha natural estimulou o aumento da oferta na Tailândia, Indonésia, Malásia e Índia, o que contribuiu para a elevação da produção em mais de 800 mil toneladas, permitindo a superioridade da oferta em relação ao consumo. A oferta de borracha natural evoluiu 184 % no período, passando de 3.050 mil toneladas em 1975 para 8.682 mil em 2005 (Figura 1). Nessa fase houve aumento na participação da Tailândia, Indonésia, Índia, China e Vietnã. A Malásia, apesar de sofrer uma redução na produção no final dos anos noventa, voltou a aumentar a sua oferta nos últimos anos com a melhoria dos preços da borracha no mercado. O consumo de borracha natural teve um crescimento de 183 % entre os anos de 1975 e 2005, passando de 3.080 mil toneladas para 8.742 mil toneladas. No ano 2005, observou-se uma demanda global de 8.742 milhões de toneladas de borracha natural contra uma oferta de 8.682 milhões. Nesse 208 período a Ásia produziu 8.100 mil toneladas de borracha natural, o que correspondeu a 93,2 % da oferta global, enquanto o continente africano produziu 391 mil toneladas (4,5 %) e a América Latina 191 mil toneladas (2,2 %), conforme apresentado no quadro 2. A produção asiática é concentrada na região sudeste com destaque para a Tailândia, Indonésia, Índia, Malásia, China e Vietnã. A China, apesar de participar com 5,7 % da produção mundial, possui déficit em borracha natural, tendo em vista que nos últimos dez anos o seu consumo cresceu a taxas maiores que a oferta. A Malásia, apesar de ser um país que figura entre os grandes produtores de matéria-prima, passou a grande exportadora de produtos manufaturados. A Malásia, Indonésia e Tailândia passaram a adotar uma postura alinhada, a partir do acordo firmado em dezembro de 2001 que deu origem a International Tripartite Rubber Cooperation (ITRC). Esta organização tem o objetivo de regular os preços internacionais da borracha natural, por meio do controle da produção e das exportações no mercado aberto. Apesar dos benefícios alcançados desde o início, este acordo começou a dar resultados mais concretos em outubro de 2003, após a formalização do International Rubber Consortium Ltd. - IRCo que passou a controlar os estoques e os preços da borracha natural. 209 Quanto ao consumo mundial de borracha natural, em 2005 a Ásia junto a Oceania apresentaram uma demanda de 5.200 mil toneladas com destaque para a China, Japão, Índia, Coréia do Sul e Malásia. Em segundo lugar participou a União Européia com 1.332 mil toneladas (15 %), seguida da América do Norte com 1.316 mil toneladas (15 %) consumidas principalmente nos Estados Unidos. A América Latina consumiu 555 mil toneladas, sendo 304,5 mil toneladas utilizadas pelo Brasil (Quadro 2). 3.1.2 - Tendências futuras do mercado da borracha Estudos realizados sobre o mercado da borracha natural por Burger K. & Smith H. P. (The Natural Rubber Market. Review, analyses, policies and outlook, 1997) projetam para as próximas décadas, uma elevação nos preços do produto, devido ao aumento do consumo (11.000 milhões de toneladas em 2020) e ao menor incremento na oferta, o que se constituiria numa boa oportunidade para os países com possibilidades de expansão da heveicultura, a exemplo do Brasil. Os autores citados analisaram o aumento populacional, o crescimento da economia mundial, e estimaram um incremento expressivo no consumo de pneumáticos, que atingirá 14,7 milhões de unidades em 2020 - o dobro do início dos anos noventa - enquanto o consumo global das borrachas natural e sintética, estimado para este mesmo ano, atingirá a soma de 28 milhões de ton. Essas projeções vêm se confirmando ao longo dos anos e são corroboradas pela ANRPC, entidade que congrega os principais países produtores de borracha. Em 2005 o consumo de borracha natural foi de 20.659 mil toneladas, quantidade que nas previsões de Burguer & Smlith só seria atingida em 2006. Estimativas apresentadas por Vignes (2002), apontam para uma estabilização da oferta mundial de borracha natural, pelo menos nos próximos 15 anos, redução do nível atual de participação deste produto em relação ao mercado total a pouco mais de 25 %, e crescimento do mercado de elastômeros (BN + BS) (Figura 2). As projeções indicam uma taxa de crescimento do consumo mundial de elastômeros de 2,2 % ao ano, nos próximos anos. Se a indústria não se adaptar a outras alternativas de complemento da oferta de matéria-prima, a tendência dos preços será ascendente, até um nível suportável pelo mercado. 210 Figura 2. Projeção da produção de BN e sua participação no consumo total de elastômaros (BN + BS) Fonte: Vignes, 2002 3.1.3 - Produção e consumo nacional A produção brasileira de borracha natural entre os anos de 1991 e 2005 aumentou 238 %, passando de 29.587 toneladas para 100.000 toneladas de borracha seca (quadro 3). O consumo de borracha natural evoluiu 146 % entre os anos de 1991 a 2005, passando de 122.900 toneladas para 302.500 toneladas (quadro 3). O déficit entre a produção e o consumo tem aumentado à importação de borracha, a qual correspondeu a 203.900 toneladas em 2005 e tende a continuar crescendo. O consumo de pneumáticos foi responsável por 74 % da demanda por borracha natural em 2005, o que correspondeu a 224.910 toneladas, das quais 63 % foram importadas. As indústrias de artefatos consumiram 77.591 toneladas, correspondentes a 26 % do total da demanda, de acordo com a ANIP (Associação Nacional das Indústrias de Pneumáticos) / ABIARB. (Associação Brasileira das Indústrias de Artefatos de Borracha). 211 3.1.3.1 - Produção de borracha natural por estado O quadro 4 apresenta a produção de borracha natural por estado na forma de látex coagulado conforme dados do IBGE (2005) - para converter esses dados em borracha seca, multiplicar por 61 %. O Brasil, a partir da Segunda Guerra Mundial, passou da condição de exportador para importador de borracha natural. Até o ano de 1986, a maior parte da produção interna era oriunda dos seringais nativos da Amazônia, sendo o estado do Acre o primeiro produtor do país. Nessa fase, a exploração era sustentada por preços praticados pelo governo em valores superiores aos do mercado internacional. Apesar dos incentivos governamentais para a expansão da heveicultura na região norte do país, não se alcançaram os resultados esperados, em 212 face de problemas fitossanitários e de infra-estrutura. A exceção do Mato Grosso que dispõe de áreas de escape ao mal-das-folhas da seringueira (Microcyclus ulei P. Henn), os plantios realizados ao abrigo do Programa de Incentivo à Produção de Borracha Natural - PROBOR, não obtiveram o sucesso esperado. A partir da expansão da heveicultura nas áreas de escape, o Brasil aumentou a sua produção, o que contribuiu para reduzir parte do déficit entre o consumo e a demanda. Entre os anos de 1995 e 2004 a produção brasileira de borracha natural evoluiu de 79.958 toneladas de coágulo para 164.639 toneladas. Tal incremento foi devido principalmente à entrada em produção dos seringais dos estados de São Paulo e Mato Grosso, a melhoria da produtividade dos seringais da Bahia e Espírito Santo, e ao surgimento de novos estados produtores como Minas Gerais, Goiás e Tocantins. 213 Na Bahia, o crescimento da produção foi devido principalmente a melhoria dos métodos de exploração e manejo dos seringais, motivado por um trabalho de assistência mais efetiva das usinas de borracha e dos treinamentos promovidos por estas em parceria com a CEPLAC. Nos últimos dois anos, a produção brasileira se manteve estável e tende a se manter estabilizada por um médio prazo, sendo isso conseqüência da falta de investimento em novos plantios. Tal fato aliado à perspectiva de déficit no mercado da borracha, mostra a necessidade de uma política de fomento da heveicultura através de sistemas agroflorestais, a fim de fazer frente a crescente demanda, considerando os benefícios que trarão às regiões produtoras. 4 - Bases para o desenvolvimento do Agronegócio Borracha na Bahia 4.1 - Estratégia de ação A iniciativa de promover o desenvolvimento do agronegócio borracha no estado da Bahia, fundamenta-se na perspectiva promissora do mercado da borracha e na necessidade de desenvolver proposições geradoras de trabalho e renda que contribuam de maneira concreta para o desenvolvimento do sul da Bahia. Tal proposta vem sendo implementada mediante a integração de esforços do governo federal com as esferas estadual e municipal, e em parceria com a sociedade e o setor privado. Para tanto, se tem buscado a integração dos setores primário e secundário, no sentido de promover o desenvolvimento do agronegócio borracha sob a visão de cadeia agroindustrial. Na esfera federal a ação do Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento, através da CEPLAC, tem propiciado os trabalhos de assistência técnica e pesquisa. Brevemente contar-se-á com a participação da EMBRAPA, sobretudo na concepção e execução de um programa de amplitude nacional, o qual será integrado à CEPLAC na sua área de atuação. O Ministério do Desenvolvimento Agrário, através do Programa Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF), vem participando com recursos para o financiamento e assistência aos mini, pequenos produtores e assentados da reforma agrária. Em face à visão integrada dessa iniciativa também será relevante à interação com o Ministério do Meio Ambiente, 214 Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome; e Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. No âmbito regional as instituições locais têm manifestado o seu apoio, com o propósito de integrar essa iniciativa às estratégias municipais de desenvolvimento. Para tanto se tem buscado uma ação conjunta com as prefeituras municipais e as associações regionais de municípios. 4.2 - Público meta § Agricultores caracterizados como mini e pequenos produtores, que integram a agricultura familiar, organizados em associações, cooperativas e assentamentos. § Médios e grandes produtores interessados em investir no plantio da seringueira em sistemas agroflorestais. O fomento inclui cooperativas, grupos organizados e produtores individuais. § Agricultores que estão em processo de renovação de suas plantações de cacau por meio da clonagem com material produtivo e tolerante a vassoura-de-bruxa. 4.3 - Pesquisa assistência técnica e capacitação A CEPLAC, a Plantações Michelin da Bahia e a UESC vêm desenvolvendo trabalhos de pesquisa com foco nas demandas da região, sobretudo quanto ao desenvolvimento de variedades clonais produtivas e tolerantes ao Microcyvlus ulei e práticas de manejo e exploração dos seringais. Do mesmo modo, buscar-se-á a integração com outros centros de pesquisa e universidades, como o Instituto Agronômico de Campinas, a EMBRAPA e a ENCAPA com vistas à participação em ações voltadas ao desenvolvimento de tecnologias que tenham amplitude nacional. A CEPLAC e a EBDA vêm desenvolvendo trabalhos de assistência técnica e extensão rural em parceria com empresas privadas como a Plantações Michelin da Bahia e a Agroindústria Ituberá. O SENAR em parceria com os sindicatos rurais desenvolvem treinamentos de mão-deobra em parceria com a CEPLAC, sobretudo quanto às práticas de enxertia e exploração de seringais. O SEBRAE, as escolas de formação de profissionais de nível médio e as universidades também terão papel relevante na difusão de informações e na capacitação de pessoal. 215 4.4 - Agentes financeiros O Banco do Nordeste do Brasil vem participando ativamente no financiamento dos plantios com recursos do PRONAF e FNE-Verde. Também vem atuando na definição de normas de financiamento, visando à identificação de planos que considerem o perfil do agronegócio borracha em sistema agroflorestal, suas peculiaridades em termos de prazo e carência, a necessidade de viabilizar a inclusão social, bem como a disponibilização dos recursos necessários para o crédito de investimento e custeio. 4.5 - Metas e investimentos È prevista a implantação de 60.000 hectares de seringueira em dez anos no estado da Bahia, conforme metas detalhadas no Quadro 5. Para o alcance desses objetivos serão necessários R$ 530.978,80 ao longo de dez anos, sendo R$ 198.246,80 no plantio simultâneo de SAFs com seringueira com valor de R$ 9.912,30 por hectare e R$ 332.732,00 na substituição de eritrina por seringueira no sombreamento do cacaueiro com o custo de 8.318,00 que inclui o plantio da seringueira, replantio e clonagem do cacau, e manutenção por quatro anos. 216 4.6 - Aumento da produção de borracha A implantação dessa iniciativa possibilitará a retomada da produção baiana, após o início de uma fase de declínio da oferta de matéria-prima, a qual apresentará um período de crescimento até estabilizar, por volta do ano 2026 com 73.730 mil toneladas de borracha seca (Figura 3). Figura 3. Evolução da produção de borracha na Bahia. 4.7. Geração de emprego e renda 4.7.1. Geração de empregos A heveicultura é conhecida pela sua capacidade de geração de trabalho permanente, bem como pelo caráter intensivo no emprego da mão-deobra, uma vez que a sua exploração não comporta mecanização. Adicionalmente, reserva um espaço ao trabalho da mulher, tendo em vista 217 que a sangria é uma atividade especializada, a qual exige habilidade, sensibilidade e não é associada a grande esforço físico. O emprego da seringueira em sistema agroflorestal gera oportunidade para a mão-de-obra familiar. Sob o ponto de vista da renda mensal, um módulo de 3,0 hectares possibilita ganhos que variam de 2,0 a 4,0 salários mínimos na fase de reembolso do financiamento e 4,0 a 6,0 salários na fase subseqüente. Do ponto de vista da capacidade de trabalho, a área ideal para uma família é de 6,0 hectares de sistema agroflorestal. Considerando a relação de 6,0 hectares por família com força de trabalho de três membros cada, a expectativa é que o programa gere trabalho e renda para mais 10.000 trabalhadores na Bahia. Nas áreas de substituição de eritrina por seringueira em plantações de cacau, a relação é de dois trabalhadores para cada 6,4 hectares, o que corresponde à viabilização de 12.500 empregos diretos, tendo em vista que essa sistema contribuirá para a modernização das áreas com cacau. A oferta de empregos evoluirá de 2.933 postos de trabalho, existentes atualmente na Bahia para 22.500 até o ano 2015, enquanto a falta de uma política de incentivo ao agronegócio borracha natural representaria a redução do nível atual de emprego no setor para 2.200.até o ano 2022. Com o fomento de novos plantios haverá necessidade de instalação de mais usinas e ampliação das existentes, sendo essa uma oportunidade para o produtor participar diretamente de projetos visando à agregação de valor, seja por meio de cooperativas ou de associações. 4.7.2. Geração de renda A receita estimada com o incentivo ao agronegócio borracha na Bahia evoluirá de R$ 39.960.000,00 para R$ 272.802.000,00 até 2026. Na falta de uma política de incentivo ao setor, a receita cairia para R$ 23.976.000,00, no mesmo período. Por sua vez a arrecadação de ICMS evoluirá de R$ 6.793.200,00 para R$ 46.376.400,00 até 2026, enquanto a inexistência de uma política de apoio ao setor provocaria a queda de produção devido ao estado de decadência dos seringais mais antigos, reduzindo a arrecadação de ICMS para R$ 4.075.900,00 até 2025. 4.8. Impactos ecológicos Os sistemas agroflorestais buscam a simulação de um ecossistema 218 original, sendo, por isso, de importância no contexto ambiental. Eles contribuem para reduzir a degradação ambiental e a ineficiência energética dos sistemas produtivos tradicionais. Eles promovem a diversificação da produção, fazem uso mais eficiente dos recursos não renováveis, integram ciclos e controles biológicos naturais, e sustentam a produtividade agrícola em longo prazo e contribuem para o seqüestro de carbono da atmosfera, funcionando assim como um mecanismo de desenvolvimento limpo, contribuindo para mitigar os efeitos decorrentes da emissão de gases de efeito estufa. As áreas implantadas, mesmo nas pequenas propriedades, serão orientadas no sentido de se formar um corredor de vegetação natural com espécies nativas, objetivando a migração de espécies animais e a conseqüente dispersão de sementes o que contribui para a preservação da biodiversidade. 219 220