QB75B – Práticas de Físico-Química – 2017 Prof. Dr. João Batista Floriano Prof. Dr. Luiz Marcos L. Faria Experimento nº 6: Tensão superficial e determinação da CMC de um surfactante Objetivo: Determinar a tensão superficial de água e butanol através do Método do anel (método de Du Nöuy); determinar a concentração micelar crítica (cmc) de um tensoativo aniônico. Introdução: A tensão superficial surge nos líquidos como resultado do desequilíbrio entre as forças que agem sobre as moléculas da superfície em relação àquelas que se encontram no interior da solução 1. A figura 1 mostra a tendência das moléculas da superfície a migrarem para o interior do líquido, o que faz com que as superfícies líquidas apresentem tendência em reduzir sua área a um valor mínimo. Figura 1: Diagrama esquemático comparando as forças atrativas entre moléculas na superfície e no interior de um líquido. Fonte: Shaw et al (1992)2 Ao trabalho necessário para se aumentar a área superficial de um líquido dá-se o nome de tensão superficial1, que pode ser expressa matematicamente como: 𝑑𝑤 = 𝛾𝑑𝜎 QB75B – Práticas de Físico-Química – 2017 Prof. Dr. João Batista Floriano Prof. Dr. Luiz Marcos L. Faria Sendo que dw é a quantidade de trabalho efetuado para aumentar a área numa quantidade infinitesimal dσ e γ é a constante de proporcionalidade chamada tensão superficial. Esta grandeza é dependente da temperatura e seu valor indica quão forte são as interações intermoleculares presentes no liquido. No caso de soluções, seu valor pode aumentar ou diminuir com a concentração do soluto, dependendo da natureza das interações soluto-solvente. O conhecimento e o controle da tensão superficial de soluções aquosas de tensoativos são fundamentais em diversas aplicações de produtos industrializados, sendo as principais aplicações o aumento da molhabilidade de uma substância, melhor dispersão de partículas e maior poder de limpeza, por exemplo3. A tensão superficial pode ser medida por diferentes técnicas, como a da determinação do diâmetro de gotas, do anel de Du Nöuy e da ascensão capilar. O primeiro baseia-se na contagem do número de gotas gerado por um determinado volume de uma solução da amostra (o qual é medido a partir de uma bureta) e sua relação com o número de gotas gerado por este volume de solução3. Esta metodologia baseia-se no princípio de que a força exercida pelo peso de uma gota (m∙g) na ponta de uma bureta é máxima no momento exatamente anterior ao seu desprendimento da ponta. Neste momento, o peso da gota é equilibrado pela tensão superficial do líquido (γ) multiplicada pelo perímetro (2.π.r) da ponta da bureta. Assim, a tensão superficial de um líquido pode ser calculada pela medida da massa (m) de uma gota deste líquido, de acordo com a Equação 13: γ= 𝑚∙𝑔 2𝜋∙𝑟∙𝑓 Equação 1 Sendo que m é a massa média de uma gota, g é a aceleração da gravidade e r é o raio da ponta da bureta. O termo f é um fator de correção necessário devido ao fato da gota não se separar da ponta da bureta na forma completamente esférica. Um estudo pioneiro publicado no Journal of the American Chemical Society, em 1918, sugere que o fator de correção f depende da razão r/V1/3, sendo V é o volume médio de uma gota. O valor de f pode ser então determinado através de interpolação gráfica com QB75B – Práticas de Físico-Química – 2017 Prof. Dr. João Batista Floriano Prof. Dr. Luiz Marcos L. Faria valores de (r/V1/3) 4. O gráfico que correlaciona os valores destes dois parâmetros é mostrado na figura 2. Figura 2: Dependência entre o fator de correção (f) e a razão r/V1/3. Fonte: BEHRING, J. L. et al. (2004)1. Outra metodologia que pode ser empregada para a determinação da tensão superficial é através do anel de Du Nöuy. Neste método, o líquido está contido um recipiente que é elevado até que se registre a quebra do filme de líquido formado no interior do anel. A tensão marcada no equipamento no exato momento da ruptura corresponde à tensão superficial do líquido. Nesta aula prática, são propostas as medições dos valores de tensão superficial de duas substâncias puras (água destilada e butanol) à temperatura ambiente (pelo método do anel de Du Nöuy) e também a determinação da concentração micelar crítica (cmc) do surfactante dodecilbenzenosulfonato de sódio (DBSNa) (pelo método da gota). QB75B – Práticas de Físico-Química – 2017 Prof. Dr. João Batista Floriano Prof. Dr. Luiz Marcos L. Faria Procedimento: (LER TODO O PROCEDIMENTO ANTES DE INICIAR O EXPERIMENTO) Parte 1 – Método da gota – Determinação da cmc do dodecilbenzenosulfonato de sódio. Materiais e Reagentes Água destilada 1 béquer de 100 mL Solução DBSNa 30 mmol∙L 10 balões volumétricos de 25 mL Copos de plástico pequenos (café) Bureta de 10 mL Filme de PVC 1 pipeta graduada de 10 mL Espátula 1 pipeta graduada de 1 mL Bastão de vidro 1 pipeta de Pasteur Termômetro -1 - Determinação do raio do tubo (r): 1. Anotar a temperatura de uma porção de água destilada em intervalos de tempo regulares e reportar esses valores no relatório; 2. Aferir a massa de um copo plástico na balança analítica e anotar o valor; 3. Colocar um pouco de água destilada na bureta. Inclinar a bureta e preencher lentamente para evitar a formação de bolhas. Certificar-se de que não há bolhas de ar no interior da bureta! 4. Transferir aproximadamente 2,0 mL de água para o copo, gota a gota, deixando que as gotas se formem lentamente. Indica-se regular a torneira da bureta para que o desprendimento das gotas se dê a cada 3 segundos, aproximadamente. Contar quantas gotas de água correspondem ao volume exato adicionado e anotar os valores (número de gotas e volume); 5. Cobrir o copo com o filme de PVC para evitar perdas de água por evaporação; QB75B – Práticas de Físico-Química – 2017 Prof. Dr. João Batista Floriano Prof. Dr. Luiz Marcos L. Faria 6. Meça a massa do copo com a água (sem o filme de PVC). Não demore para não perder água por evaporação. 7. Realizar este procedimento em duplicata e calcular a massa média de uma gota, m, e a estimativa do desvio padrão associado a estes valores. 8. Determinar o raio do tubo através da Equação 2 (empírica)1: 𝑟 = −0,02815 cm + (3,81292 cm · g −1 ) ∙ 𝑚 Equação 2 - Determinação da cmc do DBSNa: 1. Preparar 10 soluções de DBSNa, nas concentrações de 25, 18, 12, 10, 8, 6, 4, 2, 1 e 0,5 mmol∙L-1 diluindo a solução de 30 mmol∙L-1 que já se encontra preparada. Utilizar balões volumétricos de 25 mL; Aferir os meniscos dos balões adicionando água destilada lentamente e escorrendo pela borda interna do balão, para minimizar a formação de espuma; 2. Preencher a bureta com a solução 0,5 mmol∙L-1 ; 3. Aferir a massa de um copo plástico e anotar o valor; 4. Transferir aproximadamente 2,0 mL de solução para o copo gota a gota. Novamente, cuidar para que as gotas se desprendam lentamente e numa taxa constante. Contar quantas gotas de água correspondem ao volume exato adicionado e anotar os valores (número de gotas e volume); 5. Cobrir o copo com o filme de PVC para evitar perdas por evaporação; 6. Aferir a massa do copo com a solução e anotar os valores; 7. Calcular a massa de uma gota. 8. Realizar este procedimento em duplicata e ao fim do processo, calcular a massa média de uma gota (e o desvio padrão associado), o volume médio de uma gota (e o desvio padrão associado); 9. A partir do valor do raio do tubo (r) previamente calculado (Equação 2), calcular o valor de r/V1/3 e encontre o fator de correção f, através do gráfico da figura 2; 10. Calcular o valor da tensão superficial (γ) através da Equação 1. 11. Repetir todo o procedimento para as demais soluções, das mais diluídas para as mais concentradas. QB75B – Práticas de Físico-Química – 2017 Prof. Dr. João Batista Floriano Prof. Dr. Luiz Marcos L. Faria Orientações para o relatório: 1) Reporte a temperatura em que as tensões superficiais foram determinadas no texto e também nas tabelas e gráficos; 2) Faça um gráfico da tensão superficial em função da concentração da solução de tensoativo e discuta o comportamento das moléculas de tensoativo no sistema, relacionando-o a cada região do gráfico; 3) A partir do gráfico, identifique o ponto correspondente à cmc do DBSNa; 4) Compare o valor da cmc obtida com o da literatura; 5) Avalie e a metodologia executada em relação a: reprodutibilidade, possíveis fontes de erro e incerteza. Parte 2 – Método do anel de Du Nöuy – Determinação da tensão superficial de água e butanol. Materiais e Reagentes Termômetro Tensiômetro Água destilada Bico de Bunsen Butanol 1. Anotar a temperatura de uma porção de água destilada; 2. Medir, em triplicata, a tensão superficial da água destilada no tensiômetro disponível no laboratório seguindo as instruções detalhadas: a. Enxaguar o anel de platina-irídio com água destilada; b. Limpar o anel de platina-irídio na chama do bico de bunsen. Cuidado ao manusear o anel, nunca tocar diretamente nele e não deformá-lo; c. Preencher o recipiente de vidro com aproximadamente 75 mL de água destilada a ser medida; d. Encaixar o anel no braço do tensiômetro e travá-lo; QB75B – Práticas de Físico-Química – 2017 Prof. Dr. João Batista Floriano Prof. Dr. Luiz Marcos L. Faria e. Posicionar o recipiente de vidro na base móvel do tensiômetro. Neste momento a base deve estar com a distensão máxima na direção vertical (controlada pelo botão logo abaixo da mesma!). Elevar a base até o anel estar mergulhado aproximadamente 0,5 cm no líquido; f. Destravar o braço de torção e, utilizando o botão à direta do tensiômetro (sentido antihorário), alinhar a marca do espelho com a referência do braço de torção. Com o auxílio do botão localizado logo abaixo da escala na frente do aparelho, posicione o vernier (escala móvel) para a leitura do zero na escala mais externa; g. Desça a base móvel lentamente sempre mantendo alinhada a marca do espelho com a referência do braço de torção. A superfície do líquido se distenderá, porém o alinhamento deverá ser mantido. Continue os dois movimentos simultâneos (descida da base e ajuste do braço com o botão do lado direito) até a ruptura do filme do líquido no anel. A leitura da escala no momento da quebra do filme fornecerá o valor de tensão superficial. 3. Repetir o procedimento para o butanol; Orientações para o relatório: 1) Reporte a temperatura em que as tensões superficiais foram determinadas no texto e também nas tabelas e gráficos; 2) Calcular um valor médio de tensão superficial para a água e outro para o butanol, utilizando todos os dados coletados, e também o respectivo desvio-padrão de cada valor médio; 3) Compare os valores médios de tensão superficial obtidos para a água e o butanol com os apresentados na literatura; 4) Avalie a metodologia executada comparando-a com o método da contagem de gotas. QB75B – Práticas de Físico-Química – 2017 Prof. Dr. João Batista Floriano Prof. Dr. Luiz Marcos L. Faria Referências [1] BEHRING, J. L. et al. Adaptação no método do peso da gota para determinação da tensão superficial: Um método simplificado para a quantificação da CMC de surfactantes no ensino da química. Química Nova, v. 27, n. 3, p. 492–495, 2004. [2] SHAW, Duncan J. Introduction to colloid and surface chemistry. 4 ed. :Butterworth-Heinemann, 1992. [3] NETO, É. T.; MALTA, M. M.; DOS SANTOS, R. G. Medidas de tensão superficial pelo método de contagem de gotas: Descrição do método e experimentos com tensoativos não-iônicos etoxilados. Química Nova, v. 32, n. 1, p. 223–227, 2009. [4] HARKINS, W. D.; BROWN, F. E. The determination of surface tension (free surface energy), and the weight of falling drops: the surface tension of water and benzene by the capillary height method. Journal of the American Chemical Society, v. 41, n. 4, p. 499–524, 1918.