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15 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, sexta-feira, 25 de julho de 2014
Cientistas da Austrália constataram que ingerir esses micro-organismos por mais de nove semanas
reduz a pressão arterial. O benefício ocorre devido à melhora nos níveis de colesterol e de açúcar no sangue
Probióticos ajudam a
conter a hipertensão
s probióticos — microorganismos vivos que auxiliam no funcionamento da flora intestinal —
também contribuem para o bom
funcionamento do coração. É o
que mostra um estudo feito por
cientistas da Austrália. Eles analisaram a pressão arterial de pessoas que consumiram suplemento com essas bactérias benéficas e
constataram uma melhora na
pressão sanguínea delas, principalmente nas hipertensas. Segundo o grupo, os probióticos agem
no controle do colesterol e do açúcar no organismo e, dessa forma,
auxiliam também a regularização
do fluxo sanguíneo. A descoberta,
publicada na edição desta semana da revista Hypertension, pode
ajudar indivíduos saudáveis a se
protegerem desses males e melhorar a dieta de quem sofre com
problemas no coração.
Nove estudos científicos serviram de objeto de análise. Neles,
foram observados o quanto a ingestão de probióticos auxiliou a
estabilizar a pressão arterial de
adultos que os ingeriam regularmente. “A pequena coleção de
O
trabalhos que analisamos sugere
que o consumo regular desses micro-organismos pode ser parte de
um estilo de vida saudável e também ajudar a reduzir a pressão arterial elevada, bem como manter
saudáveis os níveis de pressão sanguínea. Isso inclui essas bactérias
presentes em iogurte, no leite, em
queijo fermentado e azedo e nos
suplementos de probióticos”, destacou, em um comunicado, Jing
Sun, autora principal da pesquisa
e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Griffith.
Participaram dos nove trabalhos analisados 543 pessoas, entre
saudáveis, hipertensas e cardíacas. Uma parte ingeriu suplementos de probióticos, e outra não (veja infográfico). Os cientistas notaram uma estabilidade na pressão
de todos os que ingeriram as bactérias. Além disso, constataram
melhoras mais significativas nas
pessoas que os consumiram por
um tempo mais longo. “Dois estudos tiveram uma curta duração de
ingestão, de três a quatro semanas, o que pode ter afetado os resultados globais da análise. Porém, foi observado uma estabilidade maior em pessoas que consumiram os probióticos por nove
Gorduras do fígado
são eliminadas
Os probióticos também podem ajudar na redução do acúmulo de gordura no fígado. Pesquisadores espanhóis realizaram
um experimento que comprovou
esses efeito da suplementação
dessas bactérias em ratos obesos.
A descoberta, detalhada nesta semana na revista Plos One, pode
auxiliar futuramente em tratamentos mais eficazes contra a
obesidade e o diabetes.
No estudo, foram utilizados
três tipos de micro-organismos
vivos, com concentrações distintas de bactérias. Os ratos, que
se tornaram obesos em decorrência de uma mutação genética
Palavra de especialista
Preços maiores
no Brasil
“O probiótico tem amplos efeitos, desde a capacidade de fermentação dos alimentos até a composição final da microbiota intestinal.
Essas bactérias fazem com que prevaleçam no intestino as bactérias
saudáveis sobre as ruins. Mas é importante observar que a quantidade de probióticos que produzem
efeitos positivos indicada na pesquisa australiana não é possível de
ser obtida com o consumo de iogur-
te. A quantidade que se obtém com
o suplemento probiótico é infinitamente maior. Portanto, não é razoável acreditar que haja redução
da pressão arterial consumindo-se
só iogurtes, por mais que esse alimentos sejam saudáveis. O aspecto
limitante, para a nossa realidade, é
ainda o custo dos probióticos no
Brasil. Enquanto um vidro com 90
cápsulas custa US$ 20 nos EUA,
aqui cobram entre R$ 200 e R$ 300”
ldemir Mangabeira, professor do
curso de Gastronomia do Centro
Universitário IESB e mestre em
Nutrição Humana.
cipante do estudo, explica que a
estabilização da pressão sanguínea indicada no estudo australiano é um reflexo de que o organismo está entrando em equilíbrio
com o auxílio do suplemento. “Já
sabemos que algumas bactérias
que vivem no nosso corpo estão lá
para o nosso bem, como na boca,
em que evitam infecções. As probióticas auxiliam o intestino a entrar em equilíbrio e funcionar melhor.” De acordo com Munerato,
esses micro-organismos presentes em iogurte e coalhada auxiliam a liberação de hormônios
que regulam a quantidade de gordura, açúcar e outros nutrientes, o
que auxilia na circulação de sangue, regularizando a pressão.
Alta concentração
semanas”, destacou Sun.
Os efeitos positivos foram
mais significativos também nos
participantes hipertensos. Segundo a cientista, essa influência benéfica sobre a pressão arterial é consequência de outros
efeitos sobre a saúde humana,
incluindo a melhoria do colesterol total e a redução da glicose no
sangue. “Os probióticos ajudam
a regular o sistema hormonal,
que, por sua vez, regula a pressão
sanguínea”, explica. Sun pondera, porém, que estudos adicionais ainda são necessários antes
que os médicos possam recomendar com confiança esses micro-organismos para o controle e
a prevenção da pressão alta.
Rafael Munerato, cardiologista
do Laboratório Exame e não parti-
induzida, receberam essas soluções durante 30 dias. Depois desse período, os ratos tiveram redução da gordura acumulada no fígado, que em excesso pode causar a esteatose hepática.
“As estirpes probióticas reduziram a esteatose hepática
agindo com um efeito anti-iflamatório”, explica, no artigo divulgado, Julio Plaza-Diaz, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular
da Universidade de Granada e
um dos autores do estudo. De
acordo com os cientistas, a doen-
Danos celulares
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» VILHENA SOARES
Os cientistas da universidade
australiana ressaltam que somente os produtos com unidades formadoras de colônias (UFC) acima
de 10, o equivalente a 100 milhões
de bactérias, trouxeram benefícios à pressão sanguínea dos participantes. Isso se explica pela
“força” do suplemento, com uma
quantidade maior do que a presente em alguns alimentos co-
mercializados em mercados, segundo Rosália Torres, cardiologista e professora da Faculdade de
Medicina da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG).
“Não é qualquer tipo de produto com probióticos que traz esses
benefícios. Alguns alimentos prometem ter essas substâncias, mas
a quantidade não é suficiente.
Acredito que deveria haver um
controle maior para que a compra
fosse realmente algo consciente”,
destaca a especialista, informando, em seguida, que há soluções
farmacêuticas com a quantidade
de UFC recomendada.
Torres também explica que a
melhora obtida na pressão sanguínea dos participantes do estudo australiano é pequena e pode
ser comparada com os benefícios
obtidos com o controle do consumo de sal. “É uma melhora suave,
mas, ainda assim, pode auxiliar as
pessoas que precisam controlar a
dieta e as que querem evitar problemas de pressão arterial. Ao serem incorporados em reeducações alimentares adequadamente
por um médico, os probióticos
podem servir como um auxiliar,
um bom coadjuvante na luta para
conter a pressão alta”, destaca.
A condição é provocada pelo acúmulo de gordura no fígado. O órgão já tem naturalmente uma quantidade
dessa substância, mas, quando ultrapassa 10% do peso hepático, os médicos consideram e existência de
esteatose hepática. O início da doença não causa sintomas graves, mas, com o agravamento, há danos às
células do fígado, com inflamações no local que geram dor abdominal, pele amarelada e vômitos, entre
outros sintomas. As causas da enfermidade estão ligadas à ingestão exagerada de bebidas alcoólicas, mas
a doença também pode ser causada pelo colesterol alto, pelo excesso de peso ou pelo diabetes.
ça hepática não seria curada
com probióticos, mas os microorganismos podem ser utilizados como terapia de apoio em
utilização conjunta com outros
tratamentos.
Outro ponto positivo do tra-
balho foi a prova de que nenhum
malefício foi diagnosticado nas
cobaias após o uso de probióticos durante tratamento, o que
elimina possíveis agressões aos
organismo causadas pelo suplemento. “As camadas intestinais
parecem normais em todos os
grupos experimentais. Esses resultados sugerem que os probióticos não alteram a morfologia desses órgãos, reforçando a
segurança em seu uso para terapias”, destaca Plaza-Diaz.
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