MARCIA BALREIRA DE SOUZA O USO MEDICINAL E MÍSTICO DE PLANTAS POR MORADORES DO BAIRRO MORRETES, MUNICÍPIO DE NOVA SANTA RITA, RIO GRANDE DO SUL CANOAS, 2007. MARCIA BALREIRA DE SOUZA O USO MEDICINAL E MÍSTICO DE PLANTAS POR MORADORES DO BAIRRO MORRETES, MUNICÍPIO DE NOVA SANTA RITA, RIO GRANDE DO SUL Trabalho de conclusão do curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário La Salle UNILASALLE, como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas, sob orientação do Prof. Dr. Sérgio Augusto de Loreto Bordignon. CANOAS, 2007 TERMO DE APROVAÇÃO MARCIA BALREIRA DE SOUZA O USO MEDICINAL E MÍSTICO DE PLANTAS POR MORADORES DO BAIRRO MORRETES, MUNICÍPIO DE NOVA SANTA RITA, RIO GRANDE DO SUL Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas do Centro Universitário La Salle – UNILASALLE, pelo avaliador: Prof. Dr. Sérgio Augusto de Loreto Bordignon UNILASALLE Canoas, 12 de julho de 2007. Entrego ao Universo o produto de meu trabalho, dedicando-o a meu pai, de quem herdei o amor ao saber, tendo certeza de que, de onde estiver, está vibrando por meus êxitos e, com carinho, aos moradores do Bairro Morretes, Nova Santa Rita, especialmente à D. Ângela, D. Jueci, D. Onira, D. Marlene, D. Lorena e sua filha Ione que, com muita paciência e gentileza, partilharam comigo seu conhecimento sobre as plantas. Dedico também este trabalho ao meu netinho Gui Xavier, atualmente com oito meses, com amor. AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para que minha jornada fosse concluída com êxito, em especial: À minha mãe, Neusa, exemplo de força e coragem em meio a todas as adversidades. A meu irmão Marcos, pela eterna presteza e boa vontade em auxiliar. A meu parceiro de vida Ricardo, aos meus filhos Ivan, o biólogo, Gabriel, o professor e Bruno, o baterista, pelo incentivo, apoio e, principalmente, por acreditarem na minha capacidade, mesmo nos momentos em que eu mesma duvidava. Á prestimosa Iolanda, oferecendo cotidianamente todo o suporte necessário à manutenção do funcionamento da casa, enquanto eu estudava. A todos os meus professores, dentro e fora da Academia, e, em especial, ao meu orientador, professor Sérgio Bordignon, com quem compartilho o amor pela botânica. Ao reino vegetal, fonte de contemplação e inspiração, por ofertar ao mundo as tão humildes quanto grandiosas plantas, que não necessitam matar para viver. "Não julgues nada pela pequenez dos começos. Uma vez fizeram-me notar que não se distinguem, pelo tamanho, as sementes que darão ervas anuais das que vão produzir árvores centenárias." (Josemaría Escrivá) RESUMO Este trabalho, realizado durante os meses de março a junho de 2007, apresenta o levantamento das plantas que vêm sendo utilizadas para fins medicinais e místicos e de que forma é feito esse uso por moradores do bairro Morretes, município de Nova Santa Rita, estado do Rio Grande do Sul, comparando com alguns trabalhos desta natureza já realizados em outros municípios do estado. A metodologia empregada foi a de entrevistas semi-estruturadas com as cinco primeiras pessoas indicadas pela comunidade como conhecedoras de plantas para fins medicinais e místicos. As informantes demonstraram vasto conhecimento de plantas medicinais, indicando, no total, 184 plantas, perfazendo uma média de 36,8 plantas citadas para cada informante, distribuídas em 99 táxons e 48 famílias botânicas, das quais sobressaem as famílias Asteraceae e Lamiaceae, com 14,7% e 13,6% de citações, respectivamente. O hábito herbáceo predominou nas citações, podendo esse fato se justificar pela sua facilidade de cultivo. A maior parte das plantas mencionadas é exótica, tendo sucesso na colonização do ambiente ruderal provavelmente devido a séculos de adaptação a ambientes antropizados nos seus locais de origem. Sugerese o aprofundamento de estudos ecológicos, botânicos e sociais envolvendo a utilização medicinal e ritualística de plantas na região. Palavras-chave: plantas medicinais, etnobotânica, Nova Santa Rita, Morretes, Rio Grande do Sul. ABSTRACT The present work, performed from march to june of 2007, presents a mapping of the plants that are being used for medicinal and mystic purposes and in which ways they are used by residents of Morretes neighbourhood, city of Nova Santa Rita, in the State of Rio Grande do Sul. The results are compared against similar works carried out elsewhere in the State. The methodology employed consisted of semi-structured interviews with the first five people appointed by the community as having knowledge about plants used for medicinal and mystic purposes. These informers showed vast knowledge on herbal medicines and mentioned a total of 184 of them, yielding an average of 36.8 plants per informer, spread across 99 táxons and 48 botanical families. Foremost among these are the Asteraceae and Lamiaceae families with 14.7% and 13.6% of quotes respectively. The herbaceous habit was predominant among such quotes giving its ease of cultivation. The majority of the mentioned plants is exotic, showing success in the colonization of the ruderal environment probably due to centuries of adaptation to anthropic environments in their places of origin. The author suggests further ecological, botanical and social studies involving the medic and ritualistic usage of plants in the region. Keywords: herbal medicines, etnobotany , Nova Santa Rita, Morretes, Rio Grande do Sul. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 1.1 A importância de estudos etnobotânicos As lideranças de saúde em todo o mundo estão reconhecendo que a medicina tradicional e o uso de plantas medicinais continua sendo uma parte importante da cultura, história e crenças de um país, e que essas práticas na sua maioria devem ser analisadas como parte do sistema de saúde do país. (World Health Organization, 2002, p. 30). Desde os primórdios, o homem vem se relacionando com as plantas, dependendo delas para sua sobrevivência, manipulando-as não somente para suas necessidades mais urgentes, mas também na sua magia e medicina, no uso empírico ou simbólico, nos ritos gerenciadores de sua vida e mantenedores de sua ordem social (ALBUQUERQUE, 2005). Freqüentemente, esse conhecimento empírico tem servido como base para a descoberta de novos medicamentos, através da pesquisa do uso tradicional por populações durante décadas ou algumas centenas de anos, e a coincidência de usos entre as diferentes populações (VENDRUSCULO, 2004). Estudos demonstram que essas observações empíricas acumuladas ao longo da história da humanidade são coincidentes com modernos conceitos de química, farmacologia e medicina. Muitas drogas importantes foram descobertas a partir de plantas, como aspirina, codeína, pilocarpina quinina e outras (KUBO, 1997). Evidentemente, é necessário o estudo aprofundado de determinada planta sob os pontos de vista químico, farmacológico e toxicológico para que ela possa ser usada medicinalmente com segurança, e, atualmente, o processo de formulação de um medicamento através de estudos de plantas medicinais leva de 7 a 20 anos. Sendo assim, quanto antes se descobrirem indicações como subsídio para pesquisas, tanto melhor (VENDRUSCULO, 2004). Pesquisas na área de conhecimentos tradicionais acerca da utilização de plantas com fins medicinais são desenvolvidas principalmente pelas disciplinas de etnobotânica e etnofarmacologia. 10 O termo “etnobotânica” foi utilizado pela primeira vez em 1895 pelo americano Harshberger e, desde então, seu conceito vem-se ampliando. Modernamente, o termo compreende o estudo de plantas associadas ao conhecimento de diferentes grupos humanos (KUBO, 1997). Para o americano Richard Schultes, a etnobotânica existe desde os primórdios da humanidade e só foi nos últimos 100 anos que ocorreu o seu reconhecimento como uma disciplina científica, sendo que, nas últimas décadas, devido aos esforços mundiais de conservação, cresceu vertiginosamente como um ramo teórico e prático da botânica (ALBUQUERQUE, 2005). A etnobotânica, pela estrutura do termo, é uma ciência interdisciplinar que combina antropologia e botânica, mas, para ser bem conduzida, precisa da colaboração entre várias outras matérias, incluindo química, farmácia, engenharia agronômica, entomologia, ecologia e outras. Isto, devido à necessidade de compreensão do manejo e demais hábitos no trato com as plantas presentes nas culturas tradicionais). Pesquisas recentes, por exemplo, indicam que os índios possuem vasto conhecimento ecológico que pode ser aprendido a partir tanto do estudo de seu manejo nas florestas quanto de seus mitos (PRANCE, 1991). Em levantamento sobre pesquisas etnobotânicas na América Latina, foi constatada a necessidade de se intensificarem os estudos sobre o conhecimento botânico de grupos humanos específicos, dada a diversidade cultural da América Latina, gerando uma demanda crescente para estudos interdisciplinares (KUBO, 1997) que levem em conta aspectos sócio-econômicos, culturais, bem como biológicos e bioquímicos. A etnofarmacologia é um ramo da ciência ainda mal compreendida e mal desenvolvida no Brasil. Sua disciplina praticamente não existe nos cursos de pósgraduação. Além disso, é pouco acreditada por amplos setores da ciência oficial. No entanto, a etnofarmacologia é um elemento metodológico hoje fundamental para empresas dos Estados Unidos e Europa pesquisarem plantas nos trópicos (BARATA, 1998). Esse interesse por práticas tradicionais ou alternativas aos sistemas de assistência médica vem crescendo por parte de muitos países industrializados. Isto foi constatado nos EUA, Países Baixos e Inglaterra. (KUBO, 1997) e, de um modo geral, em diversos outros países desenvolvidos, cada vez mais pessoas estão usando práticas tradicionais e complementares combinadas ou 11 em substituição da medicina alopática para aliviar dores crônicas e/ou melhorar a qualidade de vida (WHO, 2002). A empresa inglesa Hutton Molecular Development e a americana Shaman Pharmaceuticals adotam a etnofarmacologia para sua estratégia de pesquisar medicamentos. O National Institutes of Health (NIH), um dos mais famosos centros médicos de pesquisa dos EUA, nos anos 90 publicou um edital internacional divulgando seu interesse de pesquisar plantas medicinais das regiões tropicais para AIDS e câncer, porém, exigindo a pesquisa de informações diretamente com curandeiros e outros profissionais não reconhecidos pela ciência ortodoxa (BARATA, 1998). Por esses motivos, as grandes multinacionais farmacêuticas vêm-se interessando cada vez mais na produção de fitoterápicos, e, sendo o Brasil o país com a maior biodiversidade do mundo, existe um grande potencial econômico na pesquisa de plantas medicinais para o país. Note-se que a Inglaterra e os EUA já transformam produtos naturais da região Amazônica brasileira (BARATA, 1998). Salienta-se, devido a esse interesse, a importância do cultivo para garantir a qualidade do material e para evitar a extração descontrolada que possa exaurir os recursos naturais (VENDRUSCOLO, 2004) e ameaçar espécies, como já aconteceu com as espécies Maytenus angustifolia (espinheira-santa) e Tabebuia heptaphylla (ipê-roxo) (IBAMA, 2006). O cultivo e o manejo controlado das plantas pode, também, contribuir como recurso econômico, principalmente na economia familiar de pequenos agricultores. Para algumas espécies nativas já existem estudos ecológicos e agronômicos, tais como Achyrocline satureioides (Lam.) DC. (macela), Baccharis trimera (Less.) DC. (carqueja), Bauhinia forficata Link (pata-de-vaca), Bidens pilosa L. (picão), Maytenus muelleri Schwacke (espinheira-santa), Mikania glomerata Spreng. (guaco) e Plantago major L. (tanchagem), entre outras. (VENDRUSCOLO, 2004). Outra alternativa, para diminuir o impacto no meio-ambiente, que vem sendo devastado em ritmo acelerado, pode ainda indicar a utilização do conhecimento dos princípios ativos das plantas medicinais para sínteses laboratoriais (BARATA, 1998). Sabe-se hoje que, das 250 mil espécies da flora mundial, 75 mil são terapêuticas, cujas propriedades químicas são desconhecidas na grande maioria (IBAMA, 2006), o que também sugere pesquisas nessa área. 12 Não apenas nos países em desenvolvimento, como também nos países industrializados as plantas medicinais vêm ocupando espaço. Na Alemanha, 80% dos médicos prescrevem regularmente preparações fitoterápicas (Barata, 1998) e, entre 1995 e 2000, o número de médicos que recebeu algum treinamento em medicamentos naturais quase duplicou. (WHO, 2002). Sem qualquer controle, o mercado de plantas medicinais gira em torno de US$ 500 bilhões anuais e continua crescendo (IBAMA, 2006). Somente nos EUA, as vendas aumentaram 101% entre maio/96 e maio/98 (WHO, 2002). Países desenvolvidos como o Canadá e o Reino Unido estão envidando esforços para garantir a qualidade e segurança referentes à Medicina Tradicional e Complementar. Existe a expectativa de que países como esses passem a se tornar países com sistema de saúde dito integrativo, ou seja, com as práticas Tradicionais e Complementares incluídas na sua política oficial de medicamentos, com produtos oriundos desse conhecimento registrados e regulados, e com as terapias respectivas disponíveis em hospitais e clínicas públicas e privadas, tratamentos reembolsados e com incentivo às pesquisas em Medicina Tradicional e Complementar (WHO, 2002). Tendo em vista esses registros, evidencia-se a relevância de estudos etnobotânicos interdisciplinares que visem ao levantamento e compreensão da correta utilização de plantas com fins medicinais, a partir de povos de diferentes culturas, a fim de se produzir uma desejável integração entre as práticas medicinais tradicionais e o conhecimento científico, resgatando o conhecimento sobre plantas medicinais das populações tradicionais que está se deteriorando, como conseqüência da aculturação desses povos (BARATA, 1998). Para isso, no entanto, aspectos éticos devem ser considerados, envolvendo questões como a necessidade de proteção dos conhecimentos e tradições das comunidades locais e povos indígenas, e o retorno para a comunidade das pesquisas feitas, incluindo o que existe na literatura sobre as plantas utilizadas por eles (VENDRUSCOLO, 2004). Já existe uma clara compreensão, em termos globais, por parte dos pesquisadores da área, de que os países e comunidades dos quais conhecimentos etnobotânicos são obtidos sejam convenientemente recompensados, uma vez que esse conhecimento gere uma abordagem comercial e que está contribuindo para um patrimônio inestimável para a humanidade. 13 Grande parte dos trabalhos até agora têm sido realizados em comunidades indígenas, havendo carência de estudos etnobotânicos sobre outras culturas (BALDAUF, 2000). Entretanto, a maioria dessas populações rurais detém grande conhecimento de plantas e manejo do meio-ambiente em que vive e, mesmo vivendo em contato com a medicina moderna, ainda mantém vasta farmacopéia vegetal e usa diversos remédios de plantas. Isto ocorre tanto por escolha quanto por necessidade, porque são muito pobres para depender de drogas manufaturadas. Seu conhecimento deriva em muito dos índios, mas também de sua própria experiência no desenvolvimento de novos usos para as plantas e de técnicas eficazes de manejo (PRANCE, 1991). Então, o resgate do conhecimento etnobotânico dessas culturas como subsídio para aprofundamentos e pesquisas posteriores reveste-se de particular importância. 1.1.1 Política e dados da Organização Mundial de Saúde em relação à medicina tradicional: Mais e mais governos de países e áreas incluídas na Região (Região da OMS do Pacífico Ocidental) têm mostrado disposição de promover o uso adequado da medicina tradicional e incluí-la no sistema de saúde oficial. Existem atualmente 14 países e áreas na Região que já oficializaram documentos reconhecendo a medicinal tradicional e suas práticas. Esta situação contrasta com a de poucos anos atrás, quando apenas quatro países (China, Japão, República da Coréia e Vietnam) reconheciam oficialmente o papel da medicina tradicional nos seus sistemas oficiais de saúde (WHO, 2002, p. 31). Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 80% da população mundial depende da medicina tradicional para suas necessidades básicas de saúde e cerca de 85% dos medicamentos tradicionais envolvem o uso de plantas medicinais, seus extratos vegetais e princípios ativos (SILVA et al., [ca.2002]). A partir de 1977, essa Organização intensificou programas de Medicina Tradicional para atenção primária à saúde, bem como foram delineadas ações básicas para a utilização de plantas medicinais, tais como o levantamento das plantas de uso medicinal, exame de dados científicos e estabelecimento de métodos seguros para sua utilização pela população. Mais recentemente, na Assembléia da OMS de 1994, há a solicitação de estudos para a promoção e manutenção dos 14 conhecimentos tradicionais e remédios dos povos indígenas, em particular, sua farmacopéia (KUBO, 1997). A OMS tem enfocado, em sua política de cuidado à saúde, a importância de estudos e regulação na área de plantas medicinais, bem como em demais práticas tradicionais classificadas como práticas tradicionais complementares e alternativas (TM/CAM) (WHO, 2002), como acupuntura, homeopatia, quiropraxia e outras. Essa estratégia dá suporte a países para, entre outras iniciativas, documentar a medicina e os remédios tradicionais, incentivando o uso dessa espécie de medicina. Nos países em desenvolvimento, o uso de TM (terapias tradicionais) geralmente é atribuído à acessibilidade e disponibilidade, não raramente constituindo-se na única fonte de tratamento de saúde disponível, e, especialmente no caso dos países mais pobres, por ser mais barata e muitas vezes paga de acordo com as posses do paciente. Já nos países desenvolvidos, o interesse é principalmente devido à preocupação com os efeitos colaterais danosos das drogas químicas e ao questionamento das abordagens e pressupostos da medicina alopática, uma vez que grande parte da população tem acesso a informações referentes à saúde. (WHO, 2002). Em muitos países desenvolvidos, certas terapias ditas Complementares ou Alternativas são largamente utilizadas (Figura 1). 15 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 70% 42% 49% 49% Austrália França 31% Bélgica EUA Canadá Figura 1 - Percentagem da População que já utilizou terapias complementares ou alternativas (CAM) pelo menos uma vez em alguns países desenvolvidos. Fonte: WHO, 2002, p. 11 1.1.1.1 Objetivos da OMS reportados em seu plano estratégico 2002-2005: a) Integrar TM/CAM aos sistemas de saúde, desenvolvendo e implementando políticas e programas nacionais de TM/CAM. b) Promover a segurança, eficácia e qualidade da TM/CAM através da expansão de base de conhecimentos em TM/CAM, e fornecendo orientação nos parâmetros de regulação e qualidade; c) Ampliar a viabilidade e disponibilidade de TM/CAM, com ênfase no acesso de populações pobres; d) Promover o uso terapêutico confiável da TM/CAM pelos promotores e consumidores. 1.1.1.2 Desafios reportados em relação às plantas medicinais: Dificuldades na avaliação e padronização - plantas medicinais têm particularidades, devido tanto à complexidade da correta identificação botânica, como ao isolamento dos princípios ativos. Os princípios ativos presentes nas plantas são influenciados por fatores como época de coleta, e local de origem, incluindo suas condições ambientais. Ainda, uma única planta pode conter centenas de constituintes e estabelecer qual constituinte é responsável por um determinado efeito pode ter um custo proibitivo. Devido à popularidade universal das plantas 16 medicinais, torna-se urgente encontrar meios efetivos de avaliação dessas plantas com recursos limitados (WHO, 2002). Em laboratório, extratos de plantas mostraram uma variedade de efeitos farmacológicos, incluindo anti-inflamatórios, vasodilatadores, anti-microbianos, anticonvulsivantes, sedativos e antipiréticos. Entretanto, quase não há estudos controlados para a investigação da sua prática e tratamentos (WHO, 2002). Sustentabilidade - problema devido à coleta intensiva ou demanda para exportação. Problema se torna urgente em países em desenvolvimento, onde se localiza a maior parte dos recursos genéticos das plantas e a maior biodiversidade, já que eles têm menor capacidade de proteger esses recursos (WHO, 2002). Propriedade intelectual – O conhecimento de terapias tradicionais parece estar sendo apropriado, adaptado e patenteado por cientistas e pela indústria, com pouca ou nenhuma compensação a seus detentores, e sem seu expresso consentimento (WHO, 2002). Uso racional - Desafios no sentido de qualificação e licenciamento de fornecedores; uso correto dos produtos de qualidade garantida, bom trânsito de informações entre os praticantes de TM/CAM, médicos alopáticos e pacientes e disponibilização de informação científica e orientação para o público (WHO, 2002). Indicadores críticos – Dos 191 países-membros, em 1999, até essa data, apenas 19 possuíam centros de pesquisas oficiais sobre TM/CAM (WHO, 2002). Em 2000, no Encontro Regional para Aspectos Regulatórios de Produtos Herbóreos, organizado pela OMS na América, foram analisados aspectos referentes à política, economia, regulação e registro nacionais de produtos vegetais. Foram também apresentadas diretrizes da OMS para determinar a segurança e eficácia de plantas medicinais. Os participantes aprovaram uma moção de requisitos comuns para o registro de “produtos vegetais”, com o intuito de facilitar a integração de medicina tradicional nos sistemas de saúde nacionais nos países americanos. Foram estabelecidos regulamentos e registro de “medicina vegetal” na Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Honduras, Guatemala, México, Peru e Venezuela. Em 2001, teve lugar, na Guatemala, o segundo encontro sobre medicina indígena (WHO, 2002). Em 1999, em uma conferência da OMS, foi tratado o assunto de como harmonizar a medicina tradicional com a alopática para alcançar o máximo efeito na saúde (WHO, 2002). 17 Na África, a OMS assiste 21 países em sua pesquisa em medicinal tradicional. A pesquisa segue as Diretrizes Gerais da OMS para Metodologias em Pesquisa e Avaliação de Medicina Tradicional (WHO, 2002). Além das próprias publicações que disponibiliza, a OMS também mantém uma base de dados sobre plantas medicinais, que provê informações (referências) sobre etnomedicina, farmacologia, fitoquímica aberta ao público em geral (WHO, 2002). O reconhecimento por parte dos governos da importância da medicina tradicional para a saúde das populações [...] e a criação de um ambiente viável são a base para a otimização do uso da medicina tradicional. É necessário o apoio e comprometimento político sustentável, criado através [...] da utilização de marketing social e métodos participativos, de lideranças, praticantes de medicina tradicional, ONGs, associações profissionais, comunidade, instituições de ensino e demais investidores (WHO, 2002, p. 35). A política é de integrar TM/CAM nos sistemas de saúde nacionais de seus países membros, desenvolvendo e implementando políticas e programas de TM/CAM. Explicitamente: a) Ajudar países a desenvolver políticas e programas de TM/CAM; b) Proteger e preservar o conhecimento indígena de TM referente à saúde, e ajudar países a desenvolver estratégias para proteger seu conhecimento indígena de TM; c) Comprometer-se também a facilitar a troca de informações de TM/CAM entre os países, bem como a desenvolver e implementar políticas e regulações de TM/CAM, promovendo as formas eficazes e seguras da medicina tradicional indígena; d) Expandir a base de dados em TM/CAM, identificando quais terapias TM/CAM têm sua eficácia e segurança comprovadas, e orientar nos padrões de sua regulação e qualidade, especialmente de plantas medicinais; (WHO, 2002, p. 45, 46); e) Incentivar a divulgação ao público da credibilidade de TM/CAM em relação à prevenção, tratamento e controle de doenças freqüentes; f) Apoiar a pesquisa clínica sobre a segurança e eficácia das TM/CAM; g) Formação de uma rede regulatória de sistemas seguros de monitoramento de tratamentos por plantas medicinais; 18 h) Organizar programas e orientações para treinamento e inclusive para atualização do conhecimento de autoridades oficiais a respeito da segurança e eficácia de plantas medicinais; i) Reconhecer e promover o reconhecimento do papel importante dos praticantes de TM/CAM, e encorajar sua integração com os praticantes alopáticos; j) Proteção das plantas medicinais – Promover o uso sustentável e cultivo de plantas medicinais (WHO, 2002, p. 47), protegendo o meio-ambiente; k) Orientação para a boa prática agrícola em relação às plantas medicinais; l) Promover o uso racional e seguro de TM/CAM por praticantes e consumidores; m) Encorajar os países a organizar programas de treinamento sobre conhecimentos básicos de TM/CAM para os praticantes alopáticos e promover práticas regulamentadas de terapias (WHO, 2002, p. 48); n) Continuar desenvolvendo materiais educativos e de divulgação para ampliar a certeza da necessidade do uso racional de TM/CAM, e para orientar o público no seu uso seguro. 1.1.2 A política e o contexto das plantas medicinais no Brasil O Brasil tem a maior biodiversidade do planeta com cerca de 60 mil espécies de plantas superiores conhecidas. A maioria é usada pelo ser humano como fonte de alimento, como matéria-prima para construção, como medicamentos para cura de enfermidades ou no uso de aromatizantes. Desse total, o número de espécies pesquisadas para fins farmacológicos não representam nem 10% do potencial nacional. Mesmo situando-se entre os 10 maiores consumidores de medicamentos do mundo (BARATA, 1998), cerca de 50 milhões de brasileiros não têm acesso a medicamentos, dependendo de programas governamentais de distribuição gratuita, ou optando pelos remédios caseiros, portanto, as plantas medicinais constituem uma alternativa de baixo custo (BARATA, 1998). De fato, no Brasil, o uso de plantas medicinais é prática comum, que vem sendo transmitida de geração em geração. Tem sua origem na cultura de diversos grupos indígenas que habitavam o país, misturada, ainda, com as tradições de uso dos europeus e africanos que chegaram 19 posteriormente e constitui a atual farmacopéia local, despertando grande interesse internacional pelo potencial terapêutico e econômico que representa (SILVA et. al., [ca.2002]). Note-se que o comércio de medicamentos fitoterápicos brasileiros movimenta cerca de US$ 260 milhões de dólares ao ano (IBAMA, 2006). Temos já o reconhecimento de diversas plantas medicinais valiosas que se encontram no Brasil, como a dedaleira (Digitalis purpurea), tradicionalmente utilizada sob forma de chá contra a hidropisia provocada pela insuficiência cardíaca, e que hoje tem o efeito da Digitalina sobre o músculo cardíaco comprovado cientificamente, a casca-d'anta (Drimys brasiliensis) com propriedades estomáquicas, a quina (Cinchona calisaya) utilizada no tratamento da malária, a ipecacuanha (Cephaelis ipecacuanha) utilizada para o tratamento de diarréias, disenteria amebiana, catarros crônicos, hemorragias e asma e a sapucainha (Carpotroche brasiliensis) com efeitos também comprovados cientificamente e cujo óleo extraído da semente é empregado no tratamento da lepra (SILVA et al., [ca.2002]), entre outras. É importante, portanto, otimizar os recursos de ambos os segmentos, aliando o conhecimento popular, que fornece importante indicativo para pesquisas, ao conhecimento científico, adequando e desenvolvendo tecnologias que transformem plantas em fitofármacos (VENDRUSCOLO, 2004). Nesse particular, a etnofarmacologia pode dar especial contribuição. No Brasil, a partir de 1981, a portaria n. 212 (PRONAF, 2006) definiu os estudos em plantas medicinais como uma das prioridades de investigação em saúde. Em 1982, foi elaborado o Programa de Pesquisa em Plantas Medicinais (PPPM) da Central de Medicamentos (CEME), objetivando promover pesquisas sobre as propriedades terapêuticas das plantas utilizadas como medicinais, pela população brasileira, para a utilização nos serviços de assistência à saúde, a baixo custo. (VENDRUSCOLO, 2004). Também tinha como meta orientar a população sobre o verdadeiro potencial e os possíveis efeitos tóxicos dessas plantas, muitas vezes utilizadas de forma pouco criteriosa (BARATA, 1998). No ano de 1985, foi editada Portaria pelo IBAMA controlando a coleta, transporte, comercialização e industrialização de plantas ornamentais, medicinais, aromáticas e tóxicas, oriundas de floresta nativa, evidenciando preocupação com a biopirataria (IBAMA, 2006). 20 Até o ano de 1986, as plantas selecionadas para estudo perfaziam um total de 74 espécies, conforme quadro abaixo: Quadro 1 - Espécies vegetais selecionadas para estudo pela CEME Espécie 1.Achyrocline satureioides 2. Ageratum conyzoides 3. Allium sativum 4. Alpinia speciosa 5. Amaranthus viridis 6. Annona muricata Nome Popular Macela, marcela Mentrasto Alho Colônia Bredo Espécie 38. Lippia alba Nome Popular Falsa-melissa 39. Lippia gracilis Alecrim 40. Lippia sidoides Alecrim 41. Luffa operculata Cabacinha 42. Matricaria chamomila Camomila Espinheira- Graviola 43. Maytenus ilicifolia 7. Annona squamosa Pinha 44. Melissa officinalis 8. Arrabidaea chica Pariri 45. Mentha piperita Hortelã 9. Artemisia vulgaris Artemísia 46. Mentha spicata Hortelã 10. Astronium urundeuva 11. Baccharis trimera Aroeira Carqueja 47. Mikania glomerata 48. Momordica charantia 12. Bauhinia affinis Unha-de-vaca 49. Musa sp. 13. Bauhinia forficata Unha-de-vaca 50. Myrcia uniflora 14. Bixa orellana Urucum 15. Boerhavia hirsuta Pega-pinto 16. Brassica oleracea Couve 17. Bryophyllum callicynum Folha-dafortuna 18. Caesalpinia ferrea Jucá 19. Carapa guianensis Andiroba 51. Nasturtium officinale 52. Passiflora edulis santa Erva cidreira Guaco Melão-de-sãoCaetano Bananeira Pedra-ume-caá Agrião Maracujá 53. Persea americana Abacateiro 54. Petiveria alliacea Tipi 55. Phyllanthus niruri Quebra-pedra 56. Phytolacca dodecandra “Endod” 21 20. Cecropia glaziovi Embaúba 57. Piper calosum Elixir-paregórico Mastruço 58. Plantago major Tanchagem 22. Cissus sicyoides Cipó-pucá 59. Polygonum acre Erva-de-bicho 23. Coleus barbatus Boldo 60. Portulaca pilosa Amor-crescido 24. Costus spicatus Cana-do-brejo 21. Chenopodium ambrosioides L. 25. Croton zehtnery 26. Cucúrbita máxima 27. Cuphea aperta Canela-decunha Abóbora Sete-sangrias 61. Pothomorphe peltata 62. Pothomorphe umbellata 64. Pterodon Sucupira- polygaliflorus branca 65. Schinus 29. Dalbergia subcymosa Verônica 66. Scoparia dulcis 30. Dioclea violacea Mucunha 67. Sedum praealtum 68. Solanum vaca paniculatum 33. Foeniculum vulgare Funcho 34. Hymenaea courbaryl Jatobá 35. Imperata exaltata Sapé 36. Lantana camara Cambará 37. Leonotis nepetaefolia terebinthifolius Língua-de- Marupari Cordão-defrade Caapeba Goiabeira Capim-cidró 32. Eleutherine plicata Norte 63. Psidium guajava 28. Cymbopogon citratus 31. Elephantopus scaber Caapeba-do- 69. Stachytarpheta cayennensis 70. Stryphnodendron barbatiman 71. Symphytum officinale 72. Syzygium jambolanum 73. Tradescantia diuretica 74. Xilopia sericea Aroeira Vassourinha Bálsamo Jurubeba Gervão-roxo Barbatimão Confrei Jambolão Trapoeiraba Embiriba Fonte: Programa de pesquisa em produtos naturais: a experiência da CEME (2004). Como resultado desses estudos, foi proibido o uso interno do confrei (Symphytum officinale), identificado como hepatotóxico. 22 Em 1992, foi publicada lista oficial de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção, pelo IBAMA, um passo importante para a preservação, em particular, de espécies que têm prática de uso medicinal, com vistas a regular sua exploração. Quanto ao comércio internacional, dados de 1991 a 1998 reportam com destaque a exportação de copaíba (Copaifera multijuga), pau-rosa (Aniba rosaeodora), ipecacuanha (Cephaelis ipecacuanha), guaraná (Paulinia sp.), sene (Senna sp.), ginseng brasileiro (Pfaffia paniculata), jaborandi (Pilocarpus spp.), arnica (sem especificar espécie), boldo (Pneumus boldus), cáscara-sagrada (Rhamnus purshiana) e algas (SILVA et al., [ca.2002]). Dentre as plantas importadas, encontram-se várias das que o Brasil exporta, indicando possíveis re-exportações, como arnica, boldo, sene, ginseng, guaraná, ipecacuanha e algas frescas para medicina, além de produtos como “bálsamos, resinas, extratos vegetais e outros” (SILVA et al., [ca.2002]). O PPPM já estava com cerca de 8 plantas medicinais – espinheira-santa, quebra-pedra, guaco, alho, maracujá, sete-sangrias, capim-cidró e embaúba – em estágio avançado, ou seja, fase final do estudo pré-clínico e início dos estudo clínicos, quando a CEME foi desativada em junho de 1997 (SANT'ANA; ASSAD, 2004). Assim, do ponto de vista da consecução dos trabalhos, a pesquisa de anos foi perdida, pois com o término dos financiamentos, tornaram-se inviáveis as tarefas de coleta, cultivo e fornecimento das plantas selecionadas em larga escala pelos núcleos responsáveis. As pesquisas de Maytenus muelleri, Phyllanthus niruri, Mikania glomerata e Cecropia glaziovi foram retomadas por instituições de pesquisa, as três primeiras em parceria com laboratórios privados, porém, o hiato que se sucedeu após a extinção da CEME permitiu o patenteamento, por uma empresa japonesa, de Maytenus muelleri (espinheira-santa) como capaz de combater úlceras estomacais. Até 1996, os produtos fitoterápicos podiam ser vendidos como produtos naturais sem requerer estudos pré-clínicos nem de toxicidade. A partir daí, as Secretarias de Saúde Municipais e Estaduais, encarregadas de promover a vigilância sanitária, exigem esses e outros estudos. Em 2000, é criada a normatização do Produto Fitoterápico Tradicional, e é apresentada uma Lista de Medicamentos Tradicionais com base na literatura científica mundial de caráter acadêmico (SILVA et al., [ca.2002]). 23 Quanto à política nacional de pesquisa, atualmente a participação de pesquisador estrangeiro, e o traslado de espécimes biológicos nativas devem ser autorizados pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) através do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq. Em 2001, com vistas a regular e proteger a flora nacional da grande pressão extrativista sobre as plantas medicinais, foi criado o Núcleo de Plantas Medicinais e Aromáticas (NUPLAM), pelo IBAMA (IBAMA, 2006). Dentre as proposições formalizadas pelo NUPLAM estão, explicitamente, o resgate e proteção do conhecimento tradicional (etnobotânica), através do “reconhecimento da importância de valorizar o saber popular, sua história e sua transmissão aos demais membros das comunidades envolvidas, valorando os bens ambientais e à difusão de práticas e tecnologias ambientais sustentáveis” (IBAMA, 2006). Referenciando-se nos princípios estratégicos da OMS em sua política 20022005, o Ministério da Saúde editou em maio de 2006, a Portaria n. 971, que permite a inclusão da homeopatia, acupuntura, termalismo e fitoterapia, com a designação de Terapias Integrativas e Complementares, no Sistema Único de Saúde (SUS). Esta Portaria é um avanço no sentido de permitir a inclusão de práticas tradicionalmente consagradas no sistema de atendimento da população brasileira. De acordo com essa Portaria: A fitoterapia é uma "terapêutica caracterizada pelo uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal". O uso de plantas medicinais na arte de curar é uma forma de tratamento de origens muito antigas, relacionada aos primórdios da medicina e fundamentada no acúmulo de informações por sucessivas gerações. Ao longo dos séculos, produtos de origem vegetal constituíram as bases para tratamento de diferentes doenças. Desde a Declaração de Alma-Ata, em 1978, a OMS tem expressado a sua posição a respeito da necessidade de valorizar a utilização de plantas medicinais no âmbito sanitário, tendo em conta que 80% da população mundial utiliza essas plantas ou preparações destas no que se refere à atenção primária de saúde. Ao lado disso, destaca-se a participação dos países em desenvolvimento nesse processo, já que possuem 67% das espécies vegetais do mundo. O Brasil possui grande potencial para o desenvolvimento dessa terapêutica, como a maior diversidade vegetal do mundo, ampla sociodiversidade, uso de plantas medicinais vinculado ao conhecimento tradicional e tecnologia para validar cientificamente esse conhecimento. O interesse popular e institucional vem crescendo no sentido de fortalecer a fitoterapia no SUS. A partir da década de 80, diversos documentos foram elaborados, enfatizando a introdução de plantas medicinais e fitoterápicos na atenção básica no sistema público, entre os quais se destacam: - A Resolução Ciplan nº 8/88, que regulamenta a implantação da fitoterapia nos serviços de saúde e cria procedimentos e rotinas relativas a sua prática nas unidades assistenciais médicas; 24 - O Relatório da 10a Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1996, que aponta no item 286.12: "incorporar no SUS, em todo o País, as práticas de saúde como a fitoterapia, acupuntura e homeopatia, contemplando as terapias alternativas e práticas populares" e, no item 351.10: “o Ministério da Saúde deve incentivar a fitoterapia na assistência farmacêutica pública e elaborar normas para sua utilização, amplamente discutidas com os trabalhadores em saúde e especialistas, nas cidades onde existir maior participação popular, com gestores mais empenhados com a questão da cidadania e dos movimentos populares”; - A Portaria nº 3916/98, que aprova a Política Nacional de Medicamentos, a qual estabelece, no âmbito de suas diretrizes para o desenvolvimento científico e tecnológico: "...deverá ser continuado e expandido o apoio às pesquisas que visem ao aproveitamento do potencial terapêutico da flora e fauna nacionais, enfatizando a certificação de suas propriedades medicamentosas’; - O Relatório do Seminário Nacional de Plantas Medicinais, Fitoterápicos e Assistência Farmacêutica, realizado em 2003, que entre as suas recomendações, contempla: ‘integrar no Sistema Único de Saúde o uso de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos"; - O Relatório da 12ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 2003, que aponta a necessidade de se ‘investir na pesquisa e desenvolvimento de tecnologia para produção de medicamentos homeopáticos e da flora brasileira, favorecendo a produção nacional e a implantação de programas para uso de medicamentos fitoterápicos nos serviços de saúde, de acordo com as recomendações da 1ª Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica’. - A Resolução nº 338/04, do Conselho Nacional de Saúde que aprova a Política Nacional de Assistência Farmacêutica, a qual contempla, em seus eixos estratégicos, a ‘definição e pactuação de ações intersetoriais que visem à utilização das plantas medicinais e de medicamentos fitoterápicos no processo de atenção à saúde, com respeito aos conhecimentos tradicionais incorporados, com embasamento científico, com adoção de políticas de geração de emprego e renda, com qualificação e fixação de produtores, envolvimento dos trabalhadores em saúde no processo de incorporação dessa opção terapêutica e baseada no incentivo à produção nacional, com a utilização da biodiversidade existente no País’; - 2005. Decreto Presidencial de 17 de fevereiro de 2005, que cria o Grupo de Trabalho para elaboração da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. - Atualmente, existem programas estaduais e municipais de fitoterapia, desde aqueles com memento terapêutico e regulamentação específica para o serviço, implementados há mais de 10 anos, até aqueles com início recente ou com pretensão de implantação. Em levantamento realizado pelo Ministério da Saúde no ano de 2004, verificou-se, em todos os municípios brasileiros, que a fitoterapia está presente em 116 municípios, contemplando 22 unidades federadas. No âmbito federal, cabe assinalar, ainda, que o Ministério da Saúde realizou, em 2001, o Fórum para formulação de uma proposta de Política Nacional de Plantas Medicinais e Medicamentos Fitoterápicos, do qual participaram diferentes segmentos tendo em conta, em especial, a intersetorialidade envolvida na cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos. Em 2003, o Ministério promoveu o Seminário Nacional de Plantas Medicinais, Fitoterápicos e Assistência Farmacêutica. Ambas as iniciativas aportaram contribuições importantes para a formulação desta Política Nacional, como concretização de uma etapa para elaboração da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (MS, Portaria 971/06). O Brasil possui a maior base universitária e técnica das Américas, com exceção dos EUA. Há uma inegável capacitação científica nas áreas de botânica, química de produtos naturais, farmacologia, farmácia e outras áreas afins. O parque de equipamentos analíticos nas universidades brasileiras é, em alguns casos, 25 equivalente aos das melhores universidades estrangeiras. Apesar dessa razoável base científica, quase sempre são as multinacionais que conseguem desenvolver novos produtos farmacêuticos a partir de plantas medicinais. Muitas patentes que deram origem a medicamentos hoje comercializados por empresas multinacionais tiveram origem nas universidades brasileiras, através de pesquisas financiadas pelo governo brasileiro. Os fatores limitantes são principalmente a vontade política de fazer fitomedicamentos e a cooperação entre grupos multidisciplinares (BARATA, 1998). Atualmente, pode-se dizer que a pesquisa e desenvolvimento de fitoterápicos e fitofármacos em uma base moderna, praticamente inexiste no Brasil. As várias competências nessa área (universidades, empresas, institutos de pesquisa) não se comunicam entre si. Além disso, poucos recursos financeiros são destinados à pesquisa científica de plantas medicinais. Porém, o Brasil tem a seu favor a exuberante biodiversidade, o conhecimento tradicional da utilização de plantas para fins alimentícios e medicinais, o interesse de empresas nacionais e internacionais no desenvolvimento de fitofármacos, a existência de uma base técnico-científica e o sistema de pós-graduação melhor estruturado das Américas do Sul e Central. Apesar disso, esse potencial nacional ainda se encontra muito pouco explorado. Talvez, em decorrência do interesse mundial e, conforme abrem possibilidades a Portaria 971/06 do Ministério da Saúde, a situação se modifique em favor de maior interesse na pesquisa de plantas medicinais no país. 1.2 Breve histórico do município de Nova Santa Rita Em 1872, iniciou-se a colonização dessa localidade, composta em sua maioria por descendentes de lusos e de alemães, tendo sido uma das primeiras a ser colonizada no estado. Com base na agropecuária, o Distrito guarda lembranças históricas, como a data de 27 de janeiro de 1885, quando a Princesa Isabel visitou a Fazenda de José Borges, em Morretes, ou quando no ano de 1895 fundou-se a primeira Igreja Episcopal do Brasil. No início do século XX, a área abrangida pelo Município de Nova Santa Rita fazia parte integrante do Município de São Sebastião do Caí, permanecendo nesta situação até 28 de junho de 1939, quando Canoas emancipou-se do Município de 26 Gravataí e anexou ao seu território a referida área que passou a denominar-se 2º Distrito de Canoas, tendo como sede Berto Círio. Em 1991, através de plebiscito realizado no dia 10 de novembro, o movimento pró-emancipação sai vitorioso e, em 20 de março de 1992, através da Lei Estadual nº 9585/92, sancionada pelo Governador Alceu Collares, foi criado o Município de Nova Santa Rita. 1.3 Caracterização geográfica do município de Nova Santa Rita O município de Nova Santa Rita pertence à Mesorregião Metropolitana de Porto Alegre e à Microrregião Porto Alegre, possuindo como municípios limítrofes Canoas, Capela de Santana, Montenegro, Triunfo, Esteio, Portão, Viamão e Sapucaia do Sul. Localiza-se na latitude 29º52'S e longitude 51º16'O. Possui uma área total de 217,96 km2, sendo 189,66 km2 de área rural, sendo considerada área rural aquela com densidade populacional inferior a 150 habitantes por quilômetro quadrado. A sede do município está localizada junto à desembocadura do Rio do Sinos no Rio Jacuí, distando trinta quilômetros da capital do Estado. Sua altitude média é de 63m, e o clima é subtropical. O local caracteriza-se por fragmentos de mata ciliar, com a presença de várias espécies pioneiras, especialmente arbóreas. 1.4 Caracterização sócio-econômica e cultural da população de Nova Santa Rita e do bairro Morretes O município de Nova Santa Rita possui uma população estimada em 21.856 habitantes (2005), portanto, com uma densidade demográfica aproximada de 100,3 hab/km². Da população, 23,21% vive em 465 propriedades rurais. Cerca de 92,8% da população é alfabetizada, contando com dezesseis escolas de ensino fundamental e uma escola de ensino médio. Quanto aos Serviços de Saúde (dados relativos ao ano de 2002), a localidade possui cinco estabelecimentos, sendo três Postos Municipais de Saúde, um deles localizado no bairro Morretes, e dois estabelecimentos privados. Possui ainda duas agências bancárias. 27 A principal atividade econômica do município é a agricultura, com a produção de melão, melancia, alho, arroz, batata-doce, cana-de-açúcar, cebola, feijão, mandioca, milho e tomate, sendo o maior produtor de melão do estado. Produz, ainda, banana, caqui, figo, laranja, pêra, pêssego e uva. Também possui atividade pecuária e piscicultura. Explora, ainda, a silvicultura, com produção de lenha, carvão vegetal, madeira em toras e a casca da acácia-negra. Existe, também, uma indústria de cimento no município, a Cimpor, que opera com as marcas Cimbagé Cimentos e Cimpor Argamassas, atendendo aos mercados de cimento e argamassas industrializados dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O PIB per capita do município, no ano de 2004, foi de R$ 12.803,00. 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral O presente trabalho busca pesquisar o conhecimento popular de plantas utilizadas como medicinais e místicas no bairro Morretes, município de Nova Santa Rita, RS, e organizar essas informações, comparando-as com demais trabalhos realizados no Estado. 2.2 Objetivos específicos a) Fazer um levantamento do uso medicinal e ritualístico de plantas por moradores do bairro Morretes, Nova Santa Rita, RS; b) Organizar os dados em tabelas comparativas; c) Comparar os dados pesquisados com aqueles encontrados em outros trabalhos realizados no Rio Grande do Sul; d) Doar cópia do trabalho à Associação de Moradores do bairro Morretes, como forma de retribuir à comunidade o conhecimento que foi compartilhado. 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Escolha de informantes Existe a idéia de que os melhores informantes são justamente os idosos e/ou analfabetos que obtiveram seus conhecimentos por tradição oral de seus antepassados ou de sua própria experiência com diversas substâncias medicinais (SILVA et al., [ca.2002]). Porém, este critério não foi decisivo para a escolha dos entrevistados. Nem todos os bons informantes encontrados em Morretes são idosos e tampouco analfabetos, porém, sua fonte de informação originou-se de suas mães e avós (tradição oral). Para este estudo, a escolha dos informantes foi feita por indicação resultante de conversas informais com moradores da comunidade. Foi usada também a técnica “Bola de Neve”, em que a cada indivíduo pesquisado foi solicitado que indicasse outras pessoas do bairro Morretes que tivessem bom conhecimento de plantas medicinais, para novas entrevistas. Repetindo-se esse processo com cada entrevistado, acaba-se por abranger um universo significativo dentro da comunidade, se não todos os indivíduos com o nível de conhecimento pretendido. Pelo levantamento, percebeu-se que existem muitas pessoas no bairro Morretes que detêm conhecimentos sobre plantas e fazem uso delas como medicinais e/ou ritualísticos. Em virtude do pouco tempo disponível para as pesquisas de campo (menos de seis meses), foi necessário, portanto, restringir o número de informantes a um total de cinco, escolhendo aqueles que primeiramente foram mencionados. Aprofundamentos posteriores poderão ser feitos, como continuação do presente trabalho. Os cinco informantes situaram-se na faixa etária de 51 a 73 anos, todas com escolaridade de nível fundamental incompleto e do sexo feminino. Elas foram contatadas em um primeiro momento para verificar sua disponibilidade para colaborar com a pesquisa, e foi preenchido o Termo de Consentimento Livre e 30 Esclarecido (Anexo A). Ficou estabelecido que haveria novos contatos nos finais de semana para que o levantamento pudesse ser mais efetivo, possibilitando que os informantes pudessem lembrar o máximo de plantas que utilizam como medicinais ou ritualísticas. 3.2 Metodologia da coleta de dados A metodologia utilizada na coleta de dados foi a de entrevistas do tipo semiestruturado (Apêndice A), com questões que foram abordadas em conversas informais junto aos informantes indicados pela comunidade, residentes no bairro Morretes, município de Nova Santa Rita/RS. As diversas visitas proporcionaram criar vínculos de confiança, facilitando a transmissão do saber particular de cada indivíduo pesquisado. Durante as entrevistas, foram feitas anotações e coletadas todas as espécies em que havia dúvida sobre a identificação, para posterior herborização. Foram feitas, no total, oito visitas aos informantes. 3.3 Coleta, herborização, identificação e catalogação das plantas estudadas Segundo Baldauf (BALDAUF, 2000), é muito mais produtivo, ao invés de pedir para o informante listar todas as plantas medicinais que conhece, confrontá-lo com situações reais de uso, bem como acompanhá-lo a locais de coleta”, pois informantes que utilizam e conhecem centenas de plantas têm dificuldade de lembrar de imediato mais de oito ou dez nomes. Nessa pesquisa, entretanto, cada informante conseguiu lembrar espontaneamente de bem mais do que dez plantas que utiliza. Em passeio pela região, nos locais onde o informante costuma fazer coletas, foram sendo lembradas mais plantas. Todas as espécies em que havia dúvidas sobre a correta identificação botânica foram coletadas. Aquelas em que não foi possível a identificação nem a coleta, não foram consideradas para o estudo. Após a coleta, os espécimes foram herborizados e identificados taxonomicamente através de observação visual, da literatura pertinente e, quando necessário, confirmação com o Prof. Sérgio Bordignon. As plantas mencionadas durante as entrevistas, após serem identificadas conforme mencionado acima, foram listadas em tabelas com seus respectivos 31 nomes científicos válidos. As espécies foram incluídas em famílias botânicas conforme a APG II (SOUZA; LORENZI, 2005). 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram mencionadas 184 plantas, três delas sendo citadas por todas as informantes: Bauhinia forficata (pata-de-vaca), Eugenia uniflora (pitangueira) e Aloysia gratissima (erva-de-nossa-senhora), evidenciando sua importância na região. As plantas mencionadas pertencem a 48 famílias e 86 gêneros, distribuídos em 99 espécies, das quais somente 6 não foram identificadas, por não estarem em fase reprodutiva ou não serem encontradas no local: Mentha sp., Cordia sp., Abutilon sp., Lavandula sp., Origanum sp. e Cucurbita sp. Para fins de comparação, mesmo esses gêneros foram considerados como táxons distintos. 4.1 Plantas apontadas como medicinais e seu respectivo uso As informantes foram indicadas por números de 1 a 5 (Quadro 2). Nome popular Quadro 2 - Plantas apontadas como medicinais ou de uso ritualístico e seus respectivos usos Forma de Citações/uso Nome Parte Uso preparo e em consórcio/ Família Hábito Origem Ecologia científico utilizada medicinal/religioso administração Observações Sabugueiro (2) Sambucus australis Cham. & Schltdl. Adoxaceae Arbóreo Nativa Cultivada Folhas Cebola-roxa (3) Allium cepa L. Alliaceae Herbáceo Exótica Cultivada Amaranthaceae Herbáceo Nativa Amaranthaceae Subarbustivo Nativa Penicilina (5) Althernanthera brasiliana (L.) O. Kunt Arnica-do-mato (1,2) Chenopodium ambrosioides L. Chá, em decocção Bulbo Pressão alta, para emagrecer, afinar o sangue. Dores, reumatismo. Cultivada Folhas Infecção Chá, decocção Espontânea Folhas Contusões, hematomas Contra pulgas e insetos Chá e infusão (uso externo). Usar a planta no local infestado. Chá, com açúcar queimado Ramos Aroeira (nacagüita) (1) Quaresma (4) Funcho (3,4,5) Comigo-ninguémpode(3) Schinus molle L. Anacardiaceae Arbóreo Nativa Rollinia silvatica (A. St.-Hil.) Mart. Foeniculum vulgare Mill. Annonaceae Arbóreo Apiaceae Dieffenbachia picta Schott. Araceae Cipó-mil-homens (2) Aristolochia triangularis Cham. Cipó-milomo (3) Fumentação, no álcool. Folhas Tosse Nativa. Espontânea Campo Espontânea Folhas Oferendas Herbáceo Exótica Cultivada Folhas Chá (3,4), Chá no leite (5) Herbáceo Exótica Cultivada Folhas Bexiga(3) Cólica menstrual (3) Tirar o frio do corpo (3) Febre (3) Digestão (4) Resfriado (5) Aumentar o leite de lactantes (5) Banho para “abrir os caminhos” Nativa Espontânea Caule Má-circulação, dores reumáticas (uso externo) (2); Azia (uso interno) (2) “Bom para tudo”: bexiga, pedras nos rins, na vesícula, infecções em geral (3) Maceração em álcool (uso externo)(2). Para azia, mastigar lentamente um palitinho feito do cipó (2) Chá (3) Aristolochiaceae Escandente juntamente com caroço do abacate e catinga-demulata. Também usa junto com marcela (4) Juntamente com Guiné e Quebratudo. Sempre usar um pedacinho pequeno, porque “dá alergia” 33 Nome popular Mil-em-rama (1) Marcela (3, 4,5) Baldrana (4) Losna (2,5) Carquejinha (5) Carqueja (1) Nome científico Família Hábito Origem Ecologia Parte Uso utilizada medicinal/religioso Forma de Citações/uso preparo e em consórcio/ administração Observações Chá Achilea millefolium L. Achyrochline satureioides(Lam.) DC. Asteraceae Herbáceo Exótica Cultivada Folhas “Barriga” da mulher, como anti-inflamatório Estômago (3,4) Tosse (4); Gripe (5) Asteraceae Herbáceo Nativa Espontânea Flores Arctium minus (Hill.) Bernh. Artemísia absinthium L. Baccharis articulata (Lam.) Pers Baccharis sp. Asteraceae Herbáceo Exótica Espontânea Folhas Asteraceae Subarbustivo Exótica Cultivada Folhas Asteraceae Subarbustivo Nativa Espontânea Ramos Asteraceae Subarbustivo Nativa Espontânea Folhas Diabetes, intestino. Para emagrecer Chá Asteraceae Herbáceo Espontânea Folhas (2) Infecção, “puxa” o pus(2). Infecção na bexiga, útero (2) Bexiga, diurético (4) Chá, em decocção (2,4) para tomar e colocar no local, juntamente com as folhinhas molhadas (2) Chá (4,5) Estômago (uso interno) e feridas (uso externo). Fígado (2) Estômago (5) Rins, para emagrecer Picão (2) Picão-preto (4) Bidens pilosa L. Maçanilha (4,5) Chamomilla recutita (L) Rauschert Chaptalia nutans (L.) Pol. Asteraceae Herbáceo Exótica Cultivada Flores Cólica de bebês (4,5) Asteraceae Herbáceo Nativa Espontânea Folhas Chrysanthemum myconis L. Galinsoga parviflora Cav. Asteraceae Herbáceo Exótica Espontânea Asteraceae Herbáceo Exótica Espontânea Folhas e flores Flores Cicatrização (2) Dores reumáticas e musculares (2) Úlcera, gastrite, infecção, inflamação (“puxa para fora”) (3) Infecções na boca (lavar – ext.) (3) Contusões (4) Lavar feridas (uso externo) Arnica-do-mato (2 ,4) Arnica (3) Erva-santa (5) Picão-branco (5) Nativa Raiz (2,4) Infecção urinária Chá (3,4) Chá no leite, com gemada, p/tosse (4); Chá com gemada, p/gripe (5) Chá e uso externo: folhas amassadas Chá, em decocção, frio (2), Chá (5) Chá Fumentação em álcool (uso externo) (2,3,4) Chá (3,4) Folhas e flores fervidas (ext.) Chá. Também com funcho ou com gervão (4); Também com folhas de eucalipto e limão (5) Juntamente com caroço de abacate, arruda e guiné(2) Junto com mel, tançagem, marcela ou Picão-branco. 34 Nome popular Nome científico Família Hábito Origem Ecologia Uso Parte utilizada medicinal/religioso Forma de Citações/uso preparo e em consórcio/ administração Observações Expectorante, para tosse; Falta de fôlego Chá, em decocção Tosse, gripe Chá Também com limão Contusões (1), hematomas (1) Intestino, diarréia (2) Lavar feridas (5); Infecções (5) Bronquite, tosse, asma Chá (int.) (1) Maceração (ext.) (1); Chá, em decocção (2,5) Também junto com Malva-cheirosa (5) Fumentação em álcool (ext.)(3,4) Chá com sal, em gargarejo (4) Guaquinho-do-mato (2) Mikania cf. cordifolia Asteraceae (L. f.) Willd. Escandente Nativa Espontânea Folhas Guaco (5) Mikania laevigata Schultz Pluchea sagittalis (Lam.) Cabrera Asteraceae Escandente Nativa Espontânea Flor Folhas Asteraceae Subarbustivo Nativa Espontânea Ramos Chinchíria (3) Tagetes minuta L. Asteraceae Subarbustivo Nativa Espontânea Folhas Catinga-de-mulata (3, 4) Tanacetum vulgare L. Asteraceae Herbáceo Exótica Cultivada Folhas Dores, reumatismo (ext.)(3) Dor de garganta (4) Contusões (ext.)(4) Orô (4) Vernonia condensata Baker Asteraceae Arbustivo Exótica Cultivada Ramos Banhos de descarga Baleeira (2,4) Cordia sp. Boraginaceae Arbustivo Espontânea Folhas Diarréia (2, 4) Colite. (2) Esporinha (2) Tillandsia aeranthos Bromeliaceae (Loisel.) L. B. Sm. Rhipsalis teres Cactaceae (Vell.) Steud. Epifítico Nativa de quase todo o Brasil Nativa Espontânea Folhas Diabetes Epifítico Nativa Espontânea Folhas Rins Mamão-verde (1) Carica papaya L. Caricaceae Arbustivo Exótica Cultivada Fruto Bronquite Cancorosa (5) Maytenus muelleri Schwacke (= M. ilicifolia Mart. ex Reiss.) Celastraceae Arbóreo Nativa Cultivada Folhas Feridas com coceira (ext.) Antibiótico (int.) Arnica-do-campo (1,2,), Arnica (5) Erva-de-pássaro (2) Chá. Juntamente com caroço de abacate e Cebola-roxa (3). Juntamente com arruda (ext.) (4) Também com outras ervas indicadas, em número ímpar Chá, em decocção (2), Chá (4). Chá fraco, tomar por água Chá, em decocção Xarope, cortando na parte menor do fruto, enchendo de mel e assando no forno. Ao “murchar”, coar. Folhas torradas e moídas (ext.). Chá e no chimarrão (int.) 35 Nome popular Nome científico Família Hábito Origem Ecologia Parte Uso utilizada medicinal/religioso Forma de Citações/uso preparo e em consórcio/ administração Observações Cana-do-brejo (2, 3) Dichorisandra thyrsifolia J. C. Mikan Commelinaceae Herbáceo Nativa Cultivada Folhas Pedras nos rins (2,3) Onda-do-mar(3,4) Tradescantia zebrina Hort Commelinaceae Herbáceo Exótica Cultivada Folhas Batata-doce (2) Ipomoea batatas (L.) Lam. Convolvulaceae Escandente Exótica Cultivada Folhas Banho de descarga(3, 4) febre e gripe (3) Bexiga (int.) (4) Infecção nos dentes, na garganta Fortuna (3) Kalanchoe crenata (Andrews) Haworth Cucurbita sp. Crassulaceae Herbáceo Exótica Espontânea Folhas Pedras nos rins Chá Cucurbitaceae Herbáceo Exótica Cultivada Sementes Vermes Cucurbitaceae Escandente Exótica Cultivada Folhas Pressão alta Sementes sem a “casca”, amassadas Chá, em decocção. Ebenaceae Arbóreo Exótica Cultivada Folhas Para dormir Chá, em decocção Erythroxylaceae Arbóreo Nativa Espontânea Folhas Casca Coluna Euphorbiaceae Herbáceo Nativa Espontânea Ramos Rins (3,4) Banhos de descarrego (4) Chá Casca fervida para xarope. Chá (3,4) Banhos (4) Euphorbia tirucalli L. Euphorbiaceae Arbustivo Exótica Cultivada Látex Câncer. Fabaceae Arbóreo Nativa Espontânea Campo? Folhas Geraniaceae Herbáceo Exótica Cultivada Folhas Abóbora (5) Chuchu-branco (5) Caqui (2) Cocão (4) Quebra-pedrarasteiro (3) Erva-de-xangô (4) Avelós (2) Pata-de-vaca (1,2,3,4,5) Sechium edule (Jacq.) Sw. Diospyros kaki L. Erythroxyllum argentinum O.E. Schulz Euphorbia prostrata Aiton Bauhinia forficata Link Malva-cheirosa (4,5) Pelargonium graveolens L’Hér. Chá, em decocção (2) Chá – “toma por água”(3) Chá (3, 4), Banho (4) Cozido com leite, em gargarejo 1 gota em ½ copo de leite, 1 x por dia. Tomar 15 dias e parar 15. Vias urinárias, cistite, anti- Chá (1, 3, 4, 5) inflamatória(1); Chá, em decocção Diurético (2, 4, 5) (2) Infecção na bexiga (3, 4, 5) Banho (ext.) Tintura macerada em álcool de cereais (ext.)(4) Banhos de descarga (4); Banhos (4) Dor de garganta (5) Chá com sal, em gargarejos (5) Teve câncer e tomou. Melhorou a garganta. Junto com pendão de milho (3) 4 ervas “fracas” e uma “forte” 36 Nome popular Nome científico Família Hábito Poejo (1, 2, 3,5) Cunila microcephalla Benth. Lamiaceae Hrebáceo Alfazema (3) Lavandula sp. Lamiaceae Melissa (1) Melissa officinalis L. Hortelã (1) Alevante (4) Hortelã-branca (5) Origem Nativa Ecologia Uso Parte utilizada medicinal/religioso Cultivada Folhas Subarbustivo Exótica Cultivada Ramos Lamiaceae Herbáceo Exótica Cultivada Folhas Mentha sp. Lamiaceae Herbáceo Exótica Cultivada Folhas Manjericão (1, 3, 4, 5) Ocimum basilicum L. Lamiaceae Subarbustivo Exótica Cultivada Folhas Anis (1,4) Ocimum selloi Benth. Lamiaceae Herbáceo Exótica Cultivada Folhas Manjerona (1,4,5) Origanum X appli (Domin) Boros Lamiaceae Subarbustivo Exótica Cultivada Folhas Boldo (3,5) Plectrantus barbatus Lamiaceae Andrews Arbustivo Exótica Cultivada Folhas Estômago e fígado (3); Má digestão (5) Alecrim (1,2, 3, 5) Rosmarinus officinalis L. Lamiaceae Subarbustivo Exótica Cultivada Folhas Sálvia (1) Salvia officinale L. Lamiaceae Herbáceo Cultivada Folhas Calmante (1) Dor de cabeça (2) Cólicas menstruais(3), Banhos de descarrego (3) Coração (5) Anti-inflamatória Exótica Gripe, para crianças, com mel (1, 2); Gripe (5) Tosse (2,5) Para crianças: tira o frio (3) Banhos “para comprar alguma coisa” e defumação. Calmante Digestivo, após as refeições (1) Banho de descarrego (4) Vermes (5) Dor no estômago (5) Dor de cabeça (1, 4) Banhos de descarrego (3, 4, 5) Picadas de inseto (4) Prisão de ventre, ventre “inchado” (1) Estômago (4) Tosse (1,4); Friagem, cólicas (5) Forma de Citações/uso preparo e em consórcio/ administração Observações Chá (1, 3) Chá, em decocção (2) Xarope (2) Também com guaco e suco de limão (5) Infusão Chá Chá (1, 5) Banho (4) (ext.) Chá (1,4), Banho (3, 5) Fumentação em álcool (4) (ext.) Chá (1, 4) Para picada de insetos (uso ext.), juntamente com arruda e guiné.(4) Chá, com mel (1); Xarope com açúcar queimado (4); Chá (5) Folhas espremidas na água fria (3); Três folhas espremidas na água fria (5) Chá (1, 3, 5) Chá, em decocção (2) Banho (3) (ext.) Junto com Trançagem, Picãobranco e mel (5) Chá 37 Nome popular Nome científico Família Hábito Origem Uso Parte Ecologia utilizada medicinal/religioso Forma de Citações/uso preparo e em consórcio/ administração Observações Abacateiro (2,3,4) Persea americana Mill. Lauraceae Arbóreo Exótica Cultivada Folhas (int.)(2,4) Caroço (ext.)(2,3,4) Rins e bexiga (int.)(2) Reumatismo (ext.)(2,3,4) Dores (3) Diurético, para pressão alta (4) Chá, em decocção (uso interno)(2) Chá (4) Fumentação em álcool (ext.)(2,3,4) Babosa (2,3,5) Aloe arborescens Mill. Liliaceae Herbáceo Exótica Cultivada Gel das folhas Cicatrizante (ext.) (2) Para câncer (int.) (2,5) Estômago (3) Úlcera (5) Feridas (ext.) (3) Queda de cabelo (ext.) (3) Gel diluído em água quente, tomar de 2 a 3 xícaras/dia (2) Chá, com a geléia das folhas (3) Aplicar o gel no local (ext) (3) Romãzeira (2,5) Punica granatum L. Lythraceae Arbóreo Exótica Cultivado Casca do fruto Diarréia Malva-alemã (1) Malva (2) Abutilon sp. Malva cf. parviflora Malvaceae Malvaceae Arbustivo Herbáceo Nativa Exótica Espontânea Cultivada Folhas Folhas Anti-inflamatória Garganta, dores de dente; Cinamão (3) Melia azedarach L. Meliaceae Arbóreo Exótica Cultivada Casca Chá, em decocção (2); Chá (5) Chá Chá, em decocção, em bochechos e gargarejo Chá, em decocção Figueira (1,2) Ficus carica L. Moraceae Arbóreo Exótica Cultivada Látex (1) Folhas (2) Bananeira (4,5) Musa paradisiaca Musaceae Herbáceo Exótica Espontânea Tosse (4,5) Bronquite (5) Gabiroba (2) Campomanesia xanthocarpa O. Berg Eucalyptus citriodora Hook. Myrtaceae Arbóreo Nativa Espontânea Broto (4), “Coração” (5) Folhas Diabetes Chá, em decocção, tomar por água Myrtaceae Arbóreo Exótica Cultivada. Folhas Gripe, pulmão Chá Eucalipto-cheiroso (5) Para os rins Dores nas pernas e braços, inchaços Verrugas (ext.) (1) Expectorante (2) Juntamente com arnica-do-mato, arruda e guiné(2) Juntamente com Cebola-roxa e Catinga-de-mulata (3) Diz ter-se curado de câncer incipiente com babosa. juntamente com pitangueira e goiabeira (2) Junto com cipócabeludo. Pingar uma gota sobre a lesão, diariamente (1) Xarope (2) Xarope Também com marcela e limão 38 Nome popular Nome científico Família Hábito Origem Ecologia Parte Uso utilizada medicinal/religioso Forma de Citações/uso preparo e em consórcio/ administração Observações Pitangueira (1,2, 3, 4, 5) Eugenia uniflora L. Myrtaceae Arbóreo Nativa Espontânea Folhas(1, 2, 3, 4) Folhas novas (5) Diarréia (1, 2, 3,4, 5), pneumonia (1,2,3,4) Febre (4) Banhos de descarrego (ext.)(4) Chá (1, 3, 4,5) Chá, em decocção (2) Banhos (4) (ext.) Camboim (1) Myrciaria cuspidata O. Berg Myrtaceae Arbóreo Nativa Casca Ossos Infusão, em álcool Araçá (2,3) Myrtaceae Arbustivo Nativa Folhas Goiabeira (2,3,4,5) Psidium catleianum Sabine Psidium guajava L. Myrtaceae Arbóreo Nativa do Brasil, não é nativa do RS. Espontânea Mata ciliar Campo Espontânea Mata ciliar Cultivada Diarréia (2), Diabetes (3) Diarréia (2,3,4,5) “pontada” no pulmão (3) Chá em decocção (2), Chá (3). Chá, em decocção (2) Chá (3,4,5) Maravilha (1) Mirabilis jalapa L. Nyctaginaceae Herbáceo Exótica Espontânea Folhas Cicatrizante Maracujá (4,5) Passiflora edulis Sims. Phyllanthus tenellus Roxb. Passifloraceae Escandente Nativa Cultivada Phyllantaceae (APG II) Herbáceo Nativa Espontânea Folhas (4) Fruto (5) Ramos Calmante (4); Pressão alta (5) Bexiga(2) Rins (3,4) Cálculos renais (2) Banhos de descarrego (4) Chá e lavar feridas (uso externo): folhas amassadas Chá (4); Sumo (5) Chá, em decocção (2) Chá (3,4) Banho (4) Quebra-pedra-deárvore (2, 3, 4) Erva-de-xangô (4) Folhas(2,3) Folhas novas (4,5) Juntamente com romã e goiabeira (2) Juntamente com goiabeira (3, 4) Juntamente com broto de goiabeira (5) Juntamente com Erva-de-nossasenhora (int.)(4) juntamente com pitangueira e romã (2) Para diarréia, juntamente com pitangueira (3,4) Para diarréia, juntamente com brotos de pitangueira (5) O “de árvore” é melhor; o “rasteiro” não pode tomar muito: dá problemas de visão (2). 39 Nome científico Família Guiné (2,3,4) Petiveria alliacea L. Phytolaccaceae Herbáceo Nativa da Amazônia Pariparoba (2) Piper regnelli (Miq.) C.DC. Piperaceae Arbustiva Tanchagem (1,2,5), Tansagem (3), Trançagem (5) Plantago major L. Tomilho (2) Nome popular Hábito Origem Ecologia Parte Uso utilizada medicinal/religioso Forma de Citações/uso preparo e em consórcio/ administração Observações Folhas “Benzedura”: Corta o “olhogordo”(2) Dor reumática e muscular (ext.)(2) Banho para “abrir os caminhos”(3) e descarrego (4) Dor de cabeça (int.)(4) Picada de insetos (ext.)(4) Fumentação em álcool (ext.)(2,4) Banho (3,4) Chá (4) Folhas Intestino: diarréia, cólicas, sangue Chá, em decocção, 3 x/dia. Plantaginaceae Herbáceo Talvez Cultivada nativa até o oeste do RS. Exótica Espontânea Folhas Anti-inflamatória (1), para a garganta (1,2) Câncer (2) Infecções (2,3) Úlcera, gastrite (3); Infecções na bexiga (5); Infecção urinária nas mulheres (5); Antibiótico (5); Friagem (5) Chá (1,3,5) Chá em decocção (2) Gargarejos para dor de garganta (2) Deixar um pedacinho de folha dissolvendo lentamente na boca (para a garganta) (1) Coix lacryma-jobi L. Poaceae Herbáceo Exótica Cultivada Folhas Chá, em decocção Capim-cidró (4), Capim-cidreira (5) Cymbopogon citratus (DC.) Stapf. Poaceae Herbáceo Exótica Cultivada Folhas Bexiga, pedras nos rins (expele) Pressão alta (4,5); Calmante (5) Cana-de-açúcar (2) Saccharum officinarum L. Zea mays L. Poaceae Herbáceo Exótica Cultivada Folhas Poaceae Herbáceo Exótica Cultivada “Cabelo”, (2) pendão (2,3) Milho (2, 3) Cultivada Pressão bem alta, “acima de 18” Rins(2) Bexiga(2,3) Chá – “toma por água”(4); Chá (5) Chá, em decocção, frio. Chá, em decocção (2) Chá (3) Para dores reumáticas, juntamente com arnica-do-mato, arruda, e caroço de abacate (2); Juntamente com Comigo-ninguémpode e Quebra-tudo (3); Fumentação, juntamente com arruda e manjericão (4) É quente, cuidar (2). Também com Picão-branco e com manjerona e mel, para a friagem (5) Chá, juntamente com Pata-de-vaca (3) 40 Nome popular Salsaparrilha (3) Erva-de-bicho (2) Cipó-cabeludo (1,2,3) Nome científico Muehlenbeckia sagittifolia (Ortega) Meisn. Polygonum cf. punctatum Elliott Microgramma vacciniifolia (Langsd. & Fisch) Copel. Ameixa (2) Eriobotrya japonica Lindl. Prunus domestica L. Ameixa-preta (5) Rubus cf. rosifolius Amoreira (4) Mart. Lança-de-ogum (3) Sansieveria cylindrica Bojer. Espada-de-ogum (3) Sansieveria trifaciata var. Laurentii Sansieveria Espada-de-santatrifaciata var. Catarina (3) Laurentii Sansieveria Espada-de-sãotrifaciata var. jorge (3) Laurentii Laranjeira-azeda (3, Citrus aurantium L. 4) Limoeiro (2,5) Citrus limon (L.) Burm. F. Família Hábito Origem Ecologia Parte Uso utilizada medicinal/religioso Forma de Citações/uso preparo e em consórcio/ administração Observações Polygonaceae Herbáceo Nativa Cultivada Folhas Limpa o sangue Chá e banhos (ext.) Polygonaceae Herbáceo Nativa Folhas Hemorróidas, varizes Chá, em decocção e banhos de assento Polypodiaceae Escandente Nativa Espontânea Locais úmidos Espontânea Sobre tronco de árvores Ramos Chá (1,3) Chá, em decocção (2) Rosaceae Arbóreo Exótica Espontânea Folhas Para a coluna (1) Rins, diurético (2) Estômago, para abrir o apetite, dor de cabeça, infecção e úlcera (3) Rins (pedras), bexiga Rosaceae Rosaceae Arbóreo Arbustivo Exótica Nativa Cultivada Cultivada Fruto Folhas Prisão de ventre Dor de garganta Ruscaceae Herbáceo Exótica Cultivada Folhas Ruscaceae Herbáceo Exótica Cultivada Folhas Banhos de descarga homens Banhos de descarga mulheres Ruscaceae Herbáceo Exótica Cultivada Folhas Banhos de descarga (mais para mulheres) Ruscaceae Herbáceo Exótica Cultivada Folhas Banhos de descarga (mais para homens) Rutaceae Arbóreo Exótica Cultivada Folhas Friagem (3) Nas feridas (uso ext.) (3) Enxaqueca (4) Contrações do parto (4) Tosse (4) Rutaceae Arbóreo Exótica Cultivada Fruto (suco) Para “puxar o tétano”(2) para pressão alta (2,5), “afina” o sangue (2) Tosse, gripe (5) Juntamente com casca de cinamomo Juntamente com malva (2) Tirado de árvore sem espinho (3) Chá, em decocção, expele as pedras Chá, em decocção Chá, com sal, em gargarejo Quebrada em 3 pedaços Escalda-pé (3) Uso ext: chá, com sabão virgem: passar nas feridas (3) Chá (4) Xarope (4) Suco morno.(2) Suco, sem açúcar(2) Suco (5) Chá (5) Xarope tirando a polpa, preenchendo com mel e aquecendo no forno (4). Sumo, também cm guaco (5) Chá, também com eucalipto e macela (5) 41 Nome popular Nome científico Bergamoteira (2,3,4) Citrus reticulata Blanco Família Hábito Origem Uso Parte Ecologia utilizada medicinal/religioso Rutaceae Arbóreo Exótica Cultivada Folhas Cólicas menstruais (2) Gripe e febre (3) Calmante (4) Gripe e febre (3) Dor de cabeça (3,5) Forma de Citações/uso preparo e em consórcio/ administração Observações Chá, em decocção (2) Chá (3,4) Chá (3,5) Laranjeira (3,5) Citrus sinensis (L.) Osbeck Rutaceae Arbóreo Exótica Cultivada Arruda (2) Ruta graveolens L. Rutaceae Subarbustivo Exótica Cultivada Folhas (3,5), Casca seca do fruto (3) Ramos Infusão em álcool (ext.) Arruda-fêmea (3,4) Ruta graveolens L. Rutaceae Subarbustivo Exótica Cultivada Ramos Arruda-macho (3,4) Ruta graveolens L. Rutaceae Subarbustivo Exótica Cultivada Ramos Chá-de-bugre (2,5), Casearia sylvestris Rama-de-peixe Sw. (3,5), Erva-de-bugre (4) Salicaceae Arbóreo Espontânea Folhas Quebra-tudo (3) Solanaceae Espontânea, em banhados Folhas Banho para “abrir os caminhos” Solanaceae Subarbustivo Nativa Aquático (palustre) Arbustivo Nativa Espontânea Folhas Inseticida Solanaceae Arbustivo Nativa Espontânea Folhas Solanaceae Herbáceo Exótica Cultivada Tubérculo Verbenaceae Arbustivo Exótica Cultivada Folhas Estômago (1,4), Chá (1,4) “vitamina”(1) Azia, gastrite, úlcera, “tira a Batata ralada crua acidez” Calmante Chá Fumo-bravo (4) Jurubeba (1, 4) Batata-inglesa (2) Erva-cidreira (1) Solanum amygdalifolium Steud. Solanum mauritianum Scop. Solanum paniculatum L. Solanum tuberosum L. Aloysia citrodora Palau Nativa Banhos de descarga (3,4); Picada de insetos (ext.) (4); Inseticida p/piolhos (ext.) (4) Banhos de descarga (3,4); Picada de insetos (ext.) (4); Inseticida p/piolhos (ext.) (4) “Afina” o sangue (2); Bom para o sangue (4,5) para emagrecer (chá frio)(2) Gripe (chá quente) (2) Frio(3) Infecção (3) Juntamente com guiné, caroço de abacate e arnicado-mato Banhos (3,4) Banho junto com Maceração em álcool guiné e manjericão (ext) (4) (4) Banhos (3,4) Banho junto com Maceração em álcool guiné e manjericão (ext) (4) (4) Chá, em decocção, frio, “por água”;(2) Chá, em decocção quente, tem que fazer resguardo(2) Chá (4,5) O chá quente é perigoso, porque é “muito quente”, bom tomar ao se deitar.(2) Juntamente com Guiné e Comigoninguém-pode Queimar nas brasas. 42 Nome popular Nome científico Família Hábito Erva-de-santa-rita (1) Erva-santa (2), Erva-de-nossasenhora (2,3,4) Cidrozinho-do-mato (5) Gervão (1,4) Aloysia gratissima (Gillies & Hook.) Tronc. Verbenaceae Arbustivo Stachytarpheta cayennensis (Rich.) Vahl. Verbenaceae Caldamão (5) Alpinia zerumbet Zingiberaceae (Pers.) Burtt & Smith Origem Nativa Ecologia Parte Uso utilizada medicinal/religioso Forma de Citações/uso preparo e em consórcio/ administração Observações Espontânea Folhas Estômago (1), Calmante (1,3) Gripe (1,3,5) Tosse (2) Pneumonia (4) Banhos de descarga (4) Chá (1,3,4,5) Chá, em decocção, com açúcar queimado ou mel (2) Banhos (4) Subarbustivo Nativa Espontânea Folhas Tosse (1,4) “vitamina”(1) Herbáceo Cultivada Flores secas Coração Chá, com gemada Também com (1) macela (4) Fervido no leite, com gemada (4) Chá Exótica Para pneumonia, também junto com pitangueira e goiabeira (4) Fonte: Autoria própria, 2007 43 44 De todas as plantas citadas, apenas uma está na lista de espécies da flora ameaçadas de extinção do Rio Grande do Sul (AGIRAZUL, 2007), com a classificação "Vulnerável": Passiflora edulis (maracujá), porém a forma utilizada não é a selvagem, e sim a cultivada. 4.2 Famílias botânicas referenciadas Foram citados 99 táxons pertencentes a 48 famílias botânicas (Tabela 1). As nove famílias significativamente mais mencionadas compreenderam 56,52% do total de indicações. As famílias Asteraceae e Lamiaceae obtiveram os maiores índices (Tabela 2, Figura 2), fato também verificado por Garlet (GARLET apud RITTER, 2002, p.54) em Cruz Alta, em Ipê (RITTER, 2002), em Dom Pedro de Alcântara (MARODIN 2002), no bairro Ponta Grossa, Porto Alegre (VENDRUSCOLO, 2004), em Coronel Bicaco (KUBO, 1997), em Mariana Pimentel (POSSAMAI apud VENDRUSCOLO, 2004, p. 59) e em Campo Bom (SEBOLD apud VENDRUSCOLO, 2004, p.59). Em relação ao total de táxons citados, o percentual obtido no presente trabalho nas duas principais famílias, Asteraceae e Lamiaceae (28,3%), aproxima-se bastante do percentual de 29% obtido por Vendruscolo (2004) em Ponta Grossa/Porto Alegre. Das 48 famílias identificadas, 33 estão representadas por apenas uma espécie, evidenciando uma diversidade interessante, também observada em outros levantamentos no Estado (KUBO, 1997; MARODIN, 2000; RITTER, 2002). Tabela 1 - Percentual de famílias e de espécies citadas. INFORMANTE FAMÍLIA 1 Adoxaceae 2 4 1 Amaranthaceae 1 1 1 % ESPÉCIES 1 0,54 1 1,01 1 0,54 1 1,01 3 1,63 2 2,02 1 0,54 1 1,01 ESPÉCIES CITAÇÕES REFERIDO CITADAS 5 CITADAS 1 Alliaceae Anacardiaceae 3 % DE TOTAL DE 1 45 Annonaceae 1 1 1,01 3 1,63 1 1,01 1 Araceae 1 1 0,54 1 1,01 1 1 2 1,09 1 1,01 5 4 27 14,67 17 17,17 2 1,09 1 1,01 Asteraceae 3 7 1 0,54 Apiaceae Aristolochiaceae 1 1 8 Boraginaceae 1 Bromeliaceae 1 1 0,54 1 1,01 Cactaceae 1 1 0,54 1 1,01 1 0,54 1 1,01 1 0,54 1 1,01 4 2,17 2 2,02 1 0,54 1 1,01 1 0,54 1 1,01 2 1,09 2 2,02 1 0,54 1 1,01 1 1 0,54 1 1,01 3 1,63 2 2,02 Caricaceae 1 1 Celastraceae 1 Commelinaceae 1 Convolvulaceae 1 Crassulaceae 2 1 1 Cucurbitaceae 2 Ebenaceae 1 Erythroxilaceae Euphorbiaceae Fabaceae 1 1 1 1 1 1 1 1 5 2,72 1 1,01 1 1 2 1,09 1 1,01 6 25 13,59 10 10,10 3 1,63 1 1,01 1 3 1,63 1 1,01 1 2 1,09 1 1,01 2 1,09 2 2,02 1 0,54 1 1,01 2 1,09 1 1,01 Geraniaceae Lamiaceae 2 5 4 Lauraceae 1 1 1 Liliaceae 1 1 Lythraceae 1 Malvaceae 8 1 1 Meliaceae Moraceae 1 1 1 Musaceae Myrtaceae 2 Nyctaginaceae 1 4 3 Passifloraceae 1 1 2 1,09 1 1,01 2 3 14 7,61 6 6,06 1 0,54 1 1,01 2 1,09 1 1,01 1 1 Phyllanthaceae 1 1 1 3 1,63 1 1,01 Phytollacaceae 1 1 1 3 1,63 1 1,01 Piperaceae 1 1 0,54 1 1,01 46 Plantaginaceae 1 1 Poaceae 3 1 Polygonaceae 1 1 Polypodiaceae 1 1 Rosaceae 1 4 2,17 1 1,01 1 6 3,26 4 4,04 1 2 1,09 2 2,02 1 3 1,63 1 1,01 3 1,63 3 3,03 4 2,17 2 2,02 1 Ruscaceae 1 1 1 4 Rutaceae 3 5 4 2 14 7,61 5 5,05 Salicaceae 1 1 1 1 4 2,17 1 1,01 5 2,72 4 4,04 1 8 4,35 3 3,03 1 1 0,54 1 1,01 184 100,00 99 100,00 Solanaceae 1 1 1 2 Verbenaceae 3 1 1 2 Zingiberaceae TOTAL 26 43 42 37 36 Fonte: Autoria própria, 2007. Tabela 2 - Percentual de citações por família FAMÍLIAS MAIS CITADAS Asteraceae Lamiaceae Rutaceae Myrtaceae Verbenaceae Poaceae Fabaceae Solanaceae Outras 40 famílias TOTAL Fonte: Autoria própria, 2007. Nº CITAÇÕES % CITADO 27 25 14 14 8 6 5 5 80 184 14,67 13,59 7,61 7,61 4,35 3,26 2,72 2,72 43,48 100,00 47 43,5 Asteraceae Lamiaceae Rutaceae Myrtaceae Verbenaceae Poaceae Fabaceae Solanaceae Outras 40 famílias 14,7 13,6 2,7 2,7 3,3 4,3 7,6 7,6 Figura 2 - Famílias citadas (% de citações) Fonte: Autoria própria, 2007. 4.3 Hábito O hábito das plantas citadas foi classificado como herbáceo, arbustivo, subarbustivo, escandente, epifítico, subarbustivo aquático e arbóreo (Tabela 3, Fig. 3), havendo grande predominância do hábito herbáceo (41,42%; n=41), seguido do arbóreo, o que acompanha dados encontrados por Kubo (1997) em Coronel Bicaco/RS. Tabela 3 - Hábito dos táxons citados HÁBITO TOTAL % HERBÁCEO 41 41,42 ARBÓREO 23 23,23 ARBUSTIVO 13 13,13 SUBARBUSTIVO 12 12,12 ESCANDENTE 7 7,07 EPIFÍTICO 2 2,02 SUBARBUSTIVO AQUÁTICO 1 1,01 99 100,00 TOTAL Fonte: Autoria própria, 2007. 48 2,02 1,01 7,07 HERBÁCEO 41,42 12,12 ARBÓREO ARBUSTIVO SUBARBUSTIVO ESCANDENTE EPIFÍTICO 13,13 SUBARBUSTIVO AQUÁTICO 23,23 Figura 3 - Hábito dos táxons citados Fonte: Autoria própria, 2007. A predominância do hábito herbáceo pode estar relacionada com a maior facilidade de coleta e manuseio, já que todas as informantes cultivam grande parte das plantas em seus próprios quintais. 4.4 Origem e domesticação Muitas das espécies citadas já foram definidas como ruderais, estando bem adaptadas para a sobrevivência no ambiente antropizado, ocorrendo facilmente na região pesquisada. Foi constatado, ainda, que as espécies nativas representam 41,41% dos 99 táxons citados, sendo a maior parte exótica ou não nativa do RS, num índice de 58,59%. Esses índices são semelhantes àqueles encontrados no levantamento feito em Coronel Bicaco/RS (KUBO, 1997). Uma das explicações para a existência de grande número de exóticas entre as espécies utilizadas com fins medicinais num local antropizado é de que a maioria das espécies que colonizam estes locais já teriam sido pré-adaptadas como resultado de séculos de distúrbio antropogênico ou natural nas suas regiões de origem, o que as permitiria maior sucesso na competição com as nativas (MOORE, apud CARNEIRO: IRGANG, 2005, p. 184), tais como Achillea millefolium, 49 Foeniculum vulgare, Melissa officinalis, Plantago major, Rosmarinus officinalis, Ruta graveolens, entre outras. Ocorre que está havendo mundialmente uma expansão da distribuição geográfica de algumas espécies, Já desde a metade do século XX, o mundo biológico vem se tornando mais simples e pobre devido ao crescente cosmopolitismo (ELTON, 1958, apud CARNEIRO; IRGANG, 2005, p. 185). A homogeneização da biota mundial está ligada às atividades humanas, à introdução de espécies exóticas e à modificação do ambiente natural (LODGE apud CARNEIRO; IRGANG, 2005, p. 185). Tabela 4 - Origem dos táxons citados ORIGEM Nº TÁXONS % EXÓTICAS * 58 58,59 NATIVAS 41 41,41 TOTAL 99 100,00 * Ou não nativas da região estudada. Fonte: Autoria própria, 2007. “O cultivo é uma das principais formas de obtenção das plantas utilizadas por comunidades no estado” (REIS et al.,apud VENDRUSCOLO, 2004, p. 38). Essa forma de obtenção é muito importante para a conservação das espécies vegetais, porque a retirada de espécies de seu ambiente natural tem levado, em muitos casos, à redução drástica das populações dessas espécies. No presente estudo, foi confirmada essa tendência, sendo o cultivo o principal meio de obtenção das plantas pelas informantes, destacando-se que todas elas possuem quintal com as plantas que utilizam. A segunda forma de obtenção é a coleta no entorno, seguida da obtenção com vizinhos e parentes. Raramente adquirem as plantas no comércio. 4.5 Partes da planta utilizadas e formas de uso Uma mesma planta, em alguns casos, teve mais de uma indicação, conforme a parte utilizada. Torna-se importante o registro da parte específica utilizada, uma 50 vez que diferentes partes podem apresentar componentes químicos diferenciados. As partes das plantas referidas e seus percentuais do total de indicações estão indicados na Tabela 5: Tabela 5 - Partes da planta utilizadas PARTE UTILIZADA Folhas Nº DE CITAÇÕES % 130 66,67 Folhas jovens (brotos) 3 1,54 Ramos 16 8,21 Caule 13 6,67 Flores, inflorescência 9 4,62 Raiz 2 1,03 Fruto (sumo ou casca) 8 4,10 Sementes, caroço 4 2,05 Casca 3 1,54 Látex 2 1,03 Estigma (cabelo)/pendão 3 1,54 "Coração" (broto apical da inflorescência) 2 1,03 195 100 TOTAL Fonte: Autoria própria, 2007. 51 Folhas jovens (brotos) 2% Ramos 7% Caule 7% Folhas 66% Flores, inflorescência 5% Raiz 1% "Coração" (broto apical da inflorescência) 1% Casca 2% Estigma (cabelo)/pendão 2% Fruto (sumo ou casca) 4% Sementes, caroço 2% Látex 1% Figura 4 - Partes da planta utilizadas (%) Fonte: Autoria própria, 2007 Há um grande predomínio da utilização das folhas, conforme evidenciado na Tabela 5 e Figura 4 (68,21% das indicações; n=133). As folhas são os órgãos onde se processa com maior intensidade a elaboração de compostos orgânicos e onde há a maior troca gasosa entre a planta e o meio ambiente. Também são regiões de maior renovação, não prejudicando tanto a planta, o que já não ocorre com as raízes, cuja extração implica necessariamente na morte do indivíduo. Interessante notar que a única espécie em que houve duas citações de utilização das raízes foi Bidens pilosa, que cresce espontaneamente nas lavouras em todo o país, sendo considerada planta daninha (LORENZI; MATOS, 2002). Quanto à forma de preparo, ocorreu grande diversidade, tanto em uso interno quanto externo. Na grande maioria dos casos, houve a indicação para uso interno como chá, com algumas variações (chá quente, tomado frio, chá no leite, chá no leite com gemada, chá com mel ou açúcar queimado). Em menor escala, houve a indicação da ingestão do sumo da fruta sem açúcar, ou morno, do preparo de xaropes, com ou sem açúcar queimado. Houve, ainda, duas indicações de preparo de xarope extraindo a polpa do fruto, preenchendo com mel e levando ao forno “até murchar” e também duas indicações de maceração de folhas em água fria. As 52 seguintes formas de preparo tiveram somente uma indicação: sementes trituradas, 1 gota de látex diluída em leite, tintura em álcool de cereais para diluir as gotas em água, gel das folhas diluído em água quente, mastigar um pedacinho da folha lentamente, ingerir o tubérculo (batata) ralado e mastigar lentamente um “palitinho” da planta. A influência mística foi evidenciada em uma das indicações, que recomendou o uso de chá de Microgramma vacciniifolia (cipó-cabeludo) sempre “tirado de árvore sem espinho”. Para uso externo, que teve bem menos indicações, as formas de utilização mais citadas foram chá aplicado no local, maceração em álcool para “fumentação”, ou seja, aplicação externa para alívio de dores musculares, reumáticas ou picadas de insetos, “banhos de descarrego”, gargarejos (chá com ou sem sal), chá para lavar feridas e, mais raramente, com uma indicação cada uma, foram citados o uso da planta diretamente em locais infestados por insetos, colocação de folhas maceradas sobre infecções, (para “puxar” a infecção”), aplicação de gota de látex (seiva) sobre verrugas, aplicação de folhas torradas e moídas sobre lesões, escalda-pé, o uso de chá misturado com sabão sobre lesões e a queima de folhas para afastar insetos. Algumas plantas tiveram indicação de cautela no uso, devido a possíveis efeitos indesejáveis que podem causar: para o “banho para abrir os caminhos” com Dieffenbachia picta (comigo-ninguém-pode), deve ser usado um pedacinho pequeno da planta, porque “pode dar alergia”, o chá com Euphorbia prostrata (quebra-pedrarasteiro) deve ser ingerido com cautela, porque “pode dar problemas de visão”, os chás de Plantago major (tanchagem) e, principalmente de Casearia sylvestris (ervade-bugre) devem ser tomados com cautela, de preferência ao deitar, porque “são muito quentes”. 4.6 Usos terapêuticos e místicos As enfermidades para as quais houve indicações aparecem no Quadro 3, de acordo com classificação da OMS, de 1978 (KUBO, 1997). Algumas plantas foram relacionadas em mais de uma classe, devido a suas características, como, por exemplo, Galinsoga parviflora (picão branco), indicada para infecção urinária, classificada na classe I (Doenças parasitárias e infecciosas) e X (Doenças do aparelho geniturinário). O número que se segue ao nome popular indica a 53 quantidade de informantes, no caso de ter sido mais de um, que indicaram a planta para aquela enfermidade, ou se o mesmo informante indicou para duas enfermidades do mesmo grupo. Quadro 3 - Plantas citadas por categoria de doenças Classe de Doenças Plantas utilizadas (citações) I Doenças parasitárias e • Althernantera brasiliana (Penicilina) infecciosas • Aristolochia triangularis (Cipó-milomo) • Bidens pilosa (Picão) • Chaptalia nutans (Arnica-do-mato) • Galinsoga parviflora (Picão-branco) • Pluchea sagittalis (Arnica-do-campo) • Ipomoea batatas (Batata-doce) • Cucúrbita sp. (Abóbora) • Bauhinia forficata (Pata-de-vaca) – 3 • Mentha sp. (Hortelã) • Plantago major (Tanchagem) – 5 • Maytenus muelleri (Cancorosa) • Microgramma vacciinifolia (Cipó-cabeludo) • Citrus limon (Limoeiro) • Casearia sylvestris (Rama-de-peixe) • Euphorbia tirucalli (Avelós) • Aloe arborescens (Babosa) • Plantago major (Tanchagem) III Doenças das glândulas • Sambucus australis (Sabugueiro) endócrinas, da nutrição e • Baccharis articulata (Carquejinha) do • Baccharis sp. (Carqueja) • Tillandsia aeranthos (Esporinha) • Psidium cattleyanum (Araçá) • Microgramma vacciinifolia (Cipó-cabeludo) • Casearia sylvestris (Rama-de-peixe) • Solanum paniculatum (Jurubeba) • Stachytarpheta cayennensis (Gervão) II Neoplasias metabolismo transtornos imunitários e 54 IV Doenças do sangue e • Sambucus australis (Sabugueiro) dos • Piper regnelli (Pariparoba) • Muehlenbeckia sagittifolia (Salsaparrilha) • Citrus limon (Limoeiro) • Casearia sylvestris (Erva-de-bugre) – 2 órgãos hematopoiéticos V Transtornos mentais Sem citações VI Doenças do sistema • Diospyros kaki (Caqui) nervoso e dos órgãos dos • Melissa officinalis (Melissa) sentidos • Rosmarinus officinalis (Alecrim) • Passiflora edulis (Maracujá) • Cymbopogon citratus (Capim-cidreira) • Citrus reticulata (Bergamoteira) • Aloysia citriodora (Erva-cidreira) • Aloysia gratissima (Erva-de-santa-Rita, Erva-denossa-senhora) – 2 VII Doenças do aparelho • Sambucus australis (Sabugueiro) circulatório • Aristolochia triangularis (Cipó-milomo) • Sechium edule (Chuchu-branco) • Rosmarinus officinalis (Alecrim) • Persea americana (Abacateiro) • Passiflora Edulis (Maracujá) • Cymbopogon citratus (Capim-cidró) – 2 • Saccharum officinarum (Cana-de-açúcar) • Polygonum punctatum (Erva-de-bicho) • Alpinia zerumbet (Caldamão) VIII Doenças do aparelho • Schinus molle (Aroeira, nacagüita) respiratório • Foeniculum vulgare (Funcho) – 2 • Achyrochline satureioides (Marcela) – 2 • Mikania cf. cordifolia (Guaquinho-do-mato)- 2 • Mikania laevigata (Guaco) – 2 • Tagetes minuta (Chinchíria) – 3 • Tanacetum vulgare (Catinga-de-mulata) • Carica papaya (Mamão) 55 • Tradescantia zebrina (Onda-do-mar) • Ipomoea batatas (Batata-doce) • Pelargonium graveolens (Malva-cheirosa) • Cunila microcephalla (Poejo) – 5 • Malva cf. parviflora (Malva) • Ficus carica (Figueira) • Musa paradisíaca (Bananeira) – 3 • Eucalyptus citriodora (Eucalipto-cheiroso) – 2 • Psidium guajava (Goiabeira) • Plantago major (Tanchagem) – 2 • Rubus cf. rosifolius (Amoreira) • Citrus aurantium (Laranjeira-azeda) • Citrus limon (Limoeiro) – 2 • Citrus reticulata (Bergamoteira) • Citrus sinensis (Laranjeira) • Casearia sylvestris (Chá-de-bugre) • Aloysia gratissima (Erva-de-santa-Rita, Ervasanta, Erva-de-nossa-senhora, Cidrozinho-domato) – 5 • Stachytarpheta cayennensis (Gervão) – 2 IX Doenças do aparelho • Foeniculum vulgare (Funcho) digestório • Aristolochia triangularis (Cipó-milomo) • Achyrochline satureioides (Marcela) – 2 • Arctium minus (Baldrana) • Artemísia absinthium (Losna) • Baccharis sp. (Carqueja) • Chaptalia nutans (Arnica) • Pluchea sagittlis (Arnica-do-campo) • Cordia sp. (Baleeira) – 3 • Mentha sp. (Hortelã) – 2 • Ocimum selloi (Anis) – 2 • Plectranthus barbatus (Boldo) – 3 • Aloe arborescens (Babosa) – 2 56 • Punica granatum (Romãzeira) • Psidium cattleyanum (Araçá) • Psidium guajava (Goiabeira) – 4 • Piper regnelli (Pariparoba) – 2 • Plantago major (Tanchagem) – 2 • Microgramma vacciniifolia (Cipó-cabeludo) – 2 • Prunus domestica (Ameixa-preta) • Solanum paniculatum (Jurubeba) – 2 • Solanum tuberosum (Batata-inglesa) – 3 • Aloysia gratissima (Erva-de-santa-Rita) X Doenças do aparelho • Foeniculum vulgare (Funcho) geniturinário • Aristolochia triangularis (Cipó-milomo) – 3 • Achillea millefolium (Mil-em-rama) • Baccharis articulata (Carquejinha) • Bidens pilosa (Picão, Picão-preto) – 4 • Galinsoga parviflora (Picão-branco) • Rhipsalis teres (Erva-de-pássaro) • Dichorisandra thyrsifolia (Cana-do-brejo) – 2 • Tradescantia zebrina (Onda-do-mar) • Kalanchoe crenata (Fortuna) • Euphorbia prostrata (Quebra-pedra-rasteiro, Erva-de-Xangô) – 2 • Phyllanthus tenellus (Quebra-pedra-de- árvore, Erva-de-Xangô) – 4 • Bauhinia forficata (Pata-de-vaca) – 8 • Origanum sp. (Manjerona) • Rosmarinus officinalis (Alecrim) • Persea amaericana (Abacateiro) – 3 • Malva cf. parviflora (Malva) • Plantago major (Tanchagem) – 2 • Coix lacryma-jobi (Tomilho) • Zea mays (Milho) – 3 • Microgramma vacciniifolia (Cipó-cabeludo) - 57 2 • Eriobotrya japonica (Ameixa) – 2 • Citrus reticulata (Bergamoteira) da • Foeniculum vulgare (Funcho) e • Citrus aurantium (Laranjeira-azeda) XII Doenças da pele e do • Arctium minus (Baldrana) tecido celular subcutâneo • Chaptalia nutans (Arnica-do-mato) – 2 • Chrysanthemum myconis (Erva-santa) • Pluchea sagittalis (Arnica) • Ocimum basilicum (Manjericão) • Aloe arborescens (Babosa) – 3 • Ficus carica (Figueira) • Mirabilis jalapa (Maravilha) • Petiveria alliacea (Guiné) • Maytenus muelleri (Cancorosa) • Citrus aurantium (Laranjeira-azeda) • Ruta graveolens (Arruda) • Chenopodium ambrosioides (Arnica-do-mato) – XI Complicações gravidez, do parto puerpério XIII Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo XIV Anomalias congênitas 2 • Aristolochia triangularis (Cipó-mil-homens) • Chaptalia nutans (Arnica-do-mato) – 3 • Pluchea sagittalis (Arnica-do-campo) – 2 • Tanacetum vulgare (Catinga-de-mulata) – 3 • Ipomoea batatas (Batata-doce) • Erythroxillum argentinum (Cocão) • Persea americana (Abacateiro) – 4 • Allium cepa (Cebola-roxa) – 2 • Myrciaria cuspidata (Camboim) • Petiveria alliacea (Guiné) – 2 • Microgramma vacciniifolia (Cipó-cabeludo) • Ruta graveolens (Arruda) – 2 Sem citações 58 XV Algumas originadas afecções do Sem citações período perinatal XVI Sintomas, sinais e - e Sem citações afecções mal-definidas XVII Lesões envenenamentos Outros • “Panacéia” (bom para tudo): Aristolochia triangularis (Cipó-milomo). • Febre: Foeniculum vulgare (Funcho), Eugenia uniflora (Pitangueira) • Cólica de bebês: Chamomilla recutita (Maçanilha). • “Tira o frio”, “Friagem”: Cunila microcephalla (Poejo), Plantago major (Tanchagem), Citrus aurantium (Laranjeira-azeda), Casearia sylvestris (Erva-de-bugre). • Anti-inflamatória: Achillea millefolium (Mil-emrama), nutans (Arnica), Bauhinia Chaptalia forficata (Pata-de-vaca), Salvia officinale (Sálvia), Abutilon sp. (Malva-alemã), Plantago major (Tanchagem). • Dor de cabeça, enxaqueca: Petiveria alliacea (Guiné), Citrus aurantium (Laranjeira-azeda), Citrus sinensis (Laranjeira) – 2. • Inseticida para piolhos: Ruta graveolens (Arruda). Fonte: Autoria própria, 2007 Foram citados também outros usos que não se enquadram na categoria “medicinal”, como, por exemplo, a utilização de plantas como inseticida espalhando a planta nos locais infestados (uma citação), ou através da queima, sendo a fumaça um repelente (uma citação). 59 Houve indicações de uso místico, para “oferendas” (uma citação), contra “olho gordo” (uma citação) e, principalmente, “de descarrego” (quinze citações) ou “banhos para abrir os caminhos” (duas citações), “para comprar alguma coisa” (uma citação) e “defumação” (uma citação). Destaca-se o fato de que, com exceção de uma informante, todas as demais citaram pelo menos um uso místico de plantas. Figura 5 - Percentual de citações por categoria de doenças 3,3% 1,1% 2,2% 0,7% 17,0% 3,3% 4,0% 5,4% 6,9% 16,7% 7,6% 8,3% 14,5% 9,1% APARELHO GENITURINÁRIO APARELHO RESPIRATÓRIO APARELHO DIGESTÓRIO SISTEMA OSTEOMUSCULAR E TEC.CONJUNTIVO USOS NÃO MEDICINAIS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS OUTROS SINTOMAS PELE E TECIDO CELULAR SUBCUTÂNEO APARELHO CIRCULATÓRIO GLÂNDULAS ENDÓCRINAS, NUTRIÇÃO, METAB. E TRANSTORNOS IMUNITÁRIOS SISTEMA NERVOSO E ÓRGÃOS DOS SENTIDOS SANGUE E ÓRGÃOS HEMATOPOIÉTICOS NEOPLASIAS GRAVIDEZ, PARTO E PUERPÉRIO Fonte: Autoria própria, 2007 60 Verifica-se que aproximadamente metade das citações compreendem enfermidades geniturinárias, respiratórias e digestivas (Figura 5), com percentuais muito aproximados entre si. Dentro do grupo de enfermidades geniturinárias, o maior número de citações foi para problemas nos rins e na bexiga, no grupo que compreende doenças respiratórias houve um predomínio de indicações para gripe, resfriado e tosse. No aparelho digestório, a maioria das citações foi para problemas no estômago (sem especificação) e intestino. Foram citadas, também, úlcera e gastrite, o que gerou anotações tanto no grupo IX quanto no grupo I, que trata de enfermidades infecciosas. Talvez o predomínio dessas indicações se deva em parte à localização geográfica de Nova Santa Rita, onde a proximidade do rio produz um clima úmido, que favorece enfermidades geniturinárias e respiratórias. Além disso, ao contrário do que ocorre na Europa, em que a principal categoria de medicamentos fitoterápicos comercializados destina-se a enfermidades cardiovasculares, este estudo, acompanhando outros resultados pesquisados no Rio Grande do Sul (KUBO, 1997; MARODIN e Baptista, 2002), evidencia que a maior parte das indicações é para doenças infecciosas, respiratórias e digestórias, problemas com que ainda se debatem países em desenvolvimento como o Brasil. 4.7 Plantas usadas em consórcio As plantas mencionadas são utilizadas sozinhas ou em combinação com outras, e algumas tanto em uso interno como em uso externo, em compressas (Quadro 4). Além da mistura de plantas, outros elementos podem ser adicionados, como leite, gemada, açúcar queimado e mel. Quadro 4 - Plantas utilizadas em consórcio ESPÉCIES Foeniculum vulgare + Achyrochline satureioides Dieffenbachia picta + Petiveria alliacea + Solanum amygdalifolium Stachytarpheta cayennensis + Achyrochline satureioides FORMA DE USO PREPARO Chá Interno Banho Chá, chá no leite com Externo Interno 61 gemada Achyrochline satureioides + folhas de eucalipto e limão Chá Chaptalia nutans + Persea americana + Ruta graveolens + Maceração Petiveria alliacea em álcool Galinsoga parviflora + Achyrochline satureioides + Plantago Interno Externo Chá Interno Galinsoga parviflora + Plantago major + Origanum sp. + mel Chá Interno major + mel Pluchea sagittalis + Pelargonium graveolens Maceração em álcool Externo Tanacetum vulgare + sal Chá Tanacetum vulgare + Persea americana + Allium cepa + Maceração Ruta graveolens em álcool Vernonia condensata + outras ervas, “em número ímpar” Banho Externo Carica papaya + mel Xarope Interno Ipomoea batatas + leite Chá Externo Euphorbia tirucalli + leite Mistura Interno Bauhinia forficata + Zea mays Chá Interno Pelargonium graveolens + sal Chá Externo Pelargonium graveolens + 4 ervas “fracas” e 1 “forte” Banho Externo Cunila microcephalla + Mikania laevigata + suco de limão Chá Interno Cunila microcephalla + mel Chá Interno Ocimum basilicum + Ruta graveolens + Petiveria alliacea Maceração em álcool Interno Externo Externo Origanum sp.+ mel Chá Interno Origanum sp. + açúcar queimado Xarope Interno Origanum sp. + Plantago major + Galinsoga parviflora + mel Chá Interno Chá Interno Punica granatum + Eugenia uniflora + Psidium guajava Malva cf. parviflora + Microgramma vacciniifolia (“tirado de árvore sem espinho”) Melia azedarach + Muehlenbeckia sagittifolia Eugenia uniflora + Aloysia gratissima + Psidium guajava + açúcar queimado ou mel Interno Chá e externo Chá Interno Chá Interno 62 Rubus cf. rosifolius + sal Chá Externo Citrus aurantium + mel Xarope Interno Citrus aurantium + sabão virgem Chá Externo Citrus limon + Mikania laevigata Chá Interno Ruta graveolens + Petiveria alliacea + Ocimum basilicum Banho Externo Fonte: Autoria própria, 2007 É interessante a verificação dessas plantas que estão sendo utilizadas em consórcio para subsidiar futuros estudos que determinem os componentes químicos ou princípios ativos que possam estar atuando em sinergia para o tratamento das enfermidades citadas, ou mesmo se há componentes que são antagônicos e que possam causar efeitos indesejáveis. 4.8 Propriedades estabelecidas de algumas plantas citadas Algumas plantas têm seu uso popularizado através de utilização tradicional que perpassa gerações, como é o caso da maçanilha (Chamomilla recutita), do funcho (Foeniculum vulgare), da marcela (Achyrochline satureioides) dentre outras, sendo consideradas de uso seguro. Contudo, é necessário atentar para o fato de que, mesmo com confirmação científica das propriedades farmacológicas das plantas, elas não podem, como acreditam alguns, ser consideradas como completamente isentas de efeitos colaterais, ou mesmo de efeitos adversos quando em superdosagem. Para o funcho, já foram relatadas dermatites de contato (LEUNG apud RITTER, 2002, p. 54), sendo que o óleo volátil obtido dos frutos pode causar convulsões (BURKHARD et al. apud RITTER, 2002, p. 54). Plantas como a goiaba (Psidium guajava), a pitanga (Eugenia uniflora) e o araçá (Psidium cattleianum), citadas neste e em diversos levantamentos etnobotânicos realizados no Estado, tradicionalmente utilizadas como antidiarréicas (KUBO, 1997; VENDRUSCOLO, 2004; MENTZ, 1997), não foram alvo de investigação profunda, mas têm seu uso justificado devido à presença adstringente de taninos. A arruda (Ruta graveolens), é uma planta com propriedades reconhecidamente tóxicas, não sendo recomendada para uso interno por estimular a 63 motilidade do útero, podendo provocar abortos, além de possuir substâncias fotossensibilizantes capazes de provocar lesões na pele e mucosas quando expostas ao sol (RITTER, 2002). No presente trabalho, esta planta teve indicação de uso somente externo, para dores musculares e reumáticas, picadas de insetos, bem como uso religioso, em "banhos de descarrego". O quebra-pedra-rasteiro (Euphorbia prostrata) foi citado por uma das informantes como "bom para os rins", porém com a advertência de que deve ser usado com cautela, porque pode "dar problema de visão". Para afecções renais, três informantes indicaram preferencialmente o uso do quebra-pedra-de-árvore (Phyllanthus tenellus). De fato, as plantas do gênero Euphorbia, da qual faz parte o avelós (Euphorbia tirucalli) contêm um látex extremamente cáustico, podendo causar lesões na pele (SCHMIDT; EVANS, SANTUCCI et al., apud RITTER, 2002, p. 56) e nos olhos (SCOTT; KARP, apud RITTER, 2002, p. 56). Também houve coincidência com o levantamento realizado por Kubo (1997) de várias outras plantas citadas pelas informantes do presente trabalho para as mesmas finalidades terapêuticas, como o cipó-milomo (Aristolochia triangularis), milem-rama (Achilea millefolium), marcela (Achyrochline satureioides), losna (Arthemisia absinthium), catinga-de-mulata (Tanacetum vulgare), melissa (Melissa officinalis), hortelã (Mentha sp.), boldo (Plectrantus barbatus), alecrim (Rosmarinus officinalis), sálvia (Campomanesia (Salvia officinale), xanthocarpa), babosa (Aloe eucalipto-cheiroso arborescens), (Eucalyptus gabiroba citriodora), pitangueira (Eugenia uniflora), goiabeira (Psidium guajava), cancorosa (Maytenus muelleri), milho (Zea mays), limoeiro (Citrus limon) e laranjeira (Citrus sinensis). Ribeiro e Chaves (KUBO, 1997) relatam provável efeito diurético no infuso de abacateiro (Persea americana), utilização citada por uma das informantes. Ainda, plantas como a carqueja (Baccharis sp.), citada como anti-diabética por uma informante, teve confirmação de seu efeito hipoglicêmico em estudo clínico conduzido em 1967 (LORENZI; MATOS, 2002). Da mesma forma, estudos confirmaram as indicações medicinais do picão-preto (Bidens pilosa), camomila (Chamomilla recutita), tanchagem (Plantago major), tomilho (Coix lacryma-jobi), capim-cidró (Cymbopogon citratus). O maracujá (Passiflora edulis) teve sua utilização como calmante referendada pela comissão alemã de validação de plantas medicinais, com base na tradição popular de vários países do mundo ocidental, porém a eficácia e segurança no uso dessa planta ainda carecem de estudos 64 aprofundados visando sua confirmação como medicamento (LORENZI; MATOS, 2002). Constata-se que algumas indicações de uso feitas pelas informantes não coincidem com as propriedades medicinais relatadas em trabalhos científicos. Isso pode ser devido ao fato de não ter havido pesquisas suficientes que comprovem o efeito indicado, ou, ainda, em virtude de as informações serem transmitidas por tradição oral, podendo ir-se corrompendo ao longo do tempo. Assim, elas sabem que a planta tem efeitos medicinais, porém, se não tem uso freqüente, pode haver esquecimento de sua indicação. Isso ocorreu, por exemplo, com o gervão (Stachytarpheta cayennensis), indicado para tosse e como "vitamina". Sua comprovação de uso medicinal na literatura (LORENZI; MATOS, 2002) está ligada, internamente, às funções gastrintestinais, hepáticas, renais e anti-helmínticas. 5 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS As pessoas da comunidade de Morretes - Nova Santa Rita mostraram-se muito receptivas, gentis e com disposição em colaborar com a pesquisa. Seu conhecimento de plantas com finalidades medicinais evidenciou-se muito amplo, e, em cada contato, cada vez mais plantas eram naturalmente citadas. Isso indica que o presente trabalho está longe de esgotar o conhecimento de cada informante, que, certamente, é bem maior. Coincidindo com outros trabalhos desenvolvidos no estado, as famílias mais citadas foram Asteraceae (14, 7%) e Lamiaceae (13,6 %) . As partes da planta mais utilizadas foram as folhas (68, 2%) e ramos (8,21%). A maioria das espécies utilizadas enquadra-se no hábito herbáceo (41,4%), seguido do arbóreo (23,2%). Existe uma predominância, nas citações, de espécies classificadas como exóticas (58,6%), sugerindo a cautela que deve ser tomada no sentido de preservar a biodiversidade regional, uma vez que muitas espécies exóticas acabam por se estabelecer, devido a adaptações ao ambiente antrópico adquiridas ao longo de muito tempo, em seus locais de origem, e à falta de controle natural que possa regular sua proliferação. Esse fato pode acarretar desequilíbrios na flora regional. Quanto às finalidades medicinais, houve correspondência na grande maioria das indicações citadas pelas informantes com a literatura pesquisada (LORENZI; Matos, 2002), realçando a necessidade de que esforços sejam empreendidos no sentido de resgatar e preservar um conhecimento que tende a se perder com a globalização crescente e o avanço tecnológico, bem como de subsidiar pesquisas dos princípios terapêuticos presentes nas plantas adotadas pela cultura popular. Uma vez que o trabalho a partir das entrevistas foi desenvolvido em menos de um ano, não foi possível o estabelecimento de análises mais aprofundadas, dada a amplitude das questões envolvidas nos vários aspectos: botânico, ecológico, antropológico e social. Sugere-se que estudos dessa natureza sejam desenvolvidos com maior profundidade em nível de pós-graduação. REFERÊNCIAS AGIRAZUL. Espécies da flora ameaçadas de extinção do Rio Grande do Sul. 2007. Disponível em: <www.agirazul.com.br/Especies/flora.htm>. 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Geneva: WHO, 2002. GLOSSÁRIO - Fitofármaco – Substância ativa, insumo farmacêutico ou matéria prima, derivada de plantas, empregada para modificar ou explorar sistemas fisiológicos dos estados patológicos em benefício da pessoa a qual se administra (VENDRUSCOLO, 2004). - Fitoterápico – Produto medicinal acabado e etiquetado, cujos ingredientes ativos são formados por partes aéreas ou subterrâneas de planta ou outro material vegetal1, ou combinação destes, em estado bruto ou sob forma de preparações vegetais (VENDRUSCOLO, 2004) - Medicamento –Substância ou preparado que se utiliza como remédio (FERREIRA, 1986). - Medicina Tradicional/Complementar e Alternativa (TM/CAM) – Segundo a OMS, é um termo utilizado tanto para designar sistemas como a medicina tradicional chinesa, a ayurveda indiana e a medicina “unani” árabe, como as várias formas de medicina indígena. As terapias designadas como TM/CAM podem incluir medicamentos vegetais, partes de animais e/ou minerais, ou não, como é o caso da acupuntura, tai-chi, quigong, yoga e de terapias psíquicas, mentais e espirituais. Nos países em que o sistema de saúde dominante é o da medicina alopática, ou naqueles em que a TM não foi incorporada ao sistema de saúde oficial, a TM é geralmente denominada “Terapia Complementar”, “Alternativa” ou “Medicina NãoConvencional” (WHO, 2002). - Planta medicinal é qualquer vegetal produtor de drogas ou substâncias bioativas, utilizadas direta ou indiretamente como medicamentos. No contexto atual, plantas medicinais referem-se a espécies vegetais que foram incorporadas na cultura dos povos, graças à suas potencialidades terapêuticas (Kubo, 1997). Uma vez que possuem componentes bioativos, podem agir tanto no sentido de promover saúde como 1 atuarem de forma tóxica (RITTER et al., 2002). Material vegetal é entendido como sucos e resinas, óleos fixos ou voláteis e qualquer outro produto de natureza semelhante (OMS, 1991, apud Vendruscolo, 2004). 70 - Remédio – Aquilo que combate o mal, a dor ou uma doença; aquilo que serve para curar ou aliviar dor ou enfermidade (FERREIRA, 1986). 71 ANEXO A TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você está sendo convidado para participar da pesquisa sobre o uso medicinal e místico de plantas por moradores do bairro Morretes, município de Nova Santa Rita, Rio Grande do Sul, que comporá o trabalho de conclusão de curso da aluna do Centro Universitário Unilasalle – Canoas/RS. Você foi selecionado por indicação e sua participação não é obrigatória. A qualquer momento você pode desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com a pesquisadora ou com a instituição. Sua participação nesta pesquisa consistirá em apontar as plantas que utiliza como medicinais ou úteis, finalidade, seu manejo, forma de utilização, freqüência de uso, e demais informações pertinentes Podemos divulgar seu nome, ou você prefere não ser identificado? Caso prefira não ser identificado, comprometemo-nos a proteger sua privacidade, utilizando nome fictício. Não tenho objeção à divulgação do meu nome. Prefiro me manter anônimo. O objetivo desse estudo, no qual sua participação é muito importante, é de auxiliar na identificação das plantas mais utilizadas como medicinais ou úteis, sua ecologia e forma de utilização, no bairro Morretes, Nova Santa Rita, comparando os resultados com outros estudos realizados no Rio Grande do Sul. Os benefícios decorrentes são a possibilidade de acesso, por parte dos moradores de Nova Santa Rita, ao conhecimento sobre plantas utilizadas como medicinais ou úteis no bairro Morretes, e acessar alguns dados referentes a plantas indicadas como medicinais em outras localidades do RS, já que uma cópia do trabalho será doada à comunidade. Você está recebendo uma cópia deste termo onde constam os telefones de contato da pesquisadora, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação a qualquer momento. Agradecemos muito sua participação, sem a qual não seria possível levar adiante este estudo. ______________________________________ Marcia Balreira de Souza Fones: 51-8422-4846 / 3533-3466 / 3230-9647 (tarde) Declaro que entendi os objetivos e benefícios de minha participação na pesquisa e concordo em participar. ______________________________________ Nome: Data de nascimento: Sexo: Endereço: Fones: 72 APÊNDICE A – Roteiro de entrevista 1. Nome: 2. Idade: 3. Tempo que vive em Nova Santa Rita: ( ) de 1 a 5 anos ( ) de 6 a 15 anos ( ) mais de 15 anos ( ) a vida toda 4. De onde veio? ( ) interior do estado ( ) grande Porto Alegre ( ) Porto Alegre ( ) fora do estado 5. Trabalha? ( ) Sim ( ) Não 6. Profissão: 7. Escolaridade: 8. Há quanto tempo utiliza com plantas medicinais? 9. Com quem aprendeu? 10. Como obtém a planta? 11. Costuma armazenar? Onde? De que forma? 12. Plantas de que se lembra, forma de utilização, parte da planta utilizada, finalidade: