PRONUNCIAMENTO DEPUTADO VALADARES FILHO (Renegociação da Dívida Rural: de quem é a dívida e é necessário avançar) Senhor Presidente, Senhoras e senhores Deputados, O Congresso Nacional deu uma clara demonstração da importância e da força política da agricultura em nosso País. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal realizaram juntos, por meio de suas comissões de agricultura e reforma agrária, audiência pública para debater o endividamento do setor rural brasileiro. Essa força política e econômica do setor agrícola é refletida em números: segundo estudo sobre o Produto Interno Bruto (PIB) das Cadeias Produtivas da Agricultura Familiar, desenvolvido através da parceria entre a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e o Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD) e coordenado por Joaquim Guilhoto, professor titular de Economia da Universidade de São Paulo (FEA/USP), o agronegócio representa 30% da economia brasileira. O Ministério da Fazenda e da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário e da Integração Nacional divulgou um plano de reestruturação do endividamento rural, com o objetivo de facilitar a quitação das operações efetuadas na década de 80 e 90, e renegociá-las, concedendo descontos para a liquidação antecipada, além de reduzir os encargos das operações inadimplentes, facilitando a recuperação da adimplência dos mutuários. Isso porque, o governo levou em conta a situação das dívidas rurais em 31 de agosto de 2007. Somente foram incluídas as operações realizadas até 30 de 505B55FA37 E isso, senhor presidente, porque tal estatística exclui do crédito público os financiamentos para o setor agrícola com recursos dos fundos constitucionais do nordeste e do norte. Portanto, deixa de considerar parcela significativa do crédito público destinado ao setor agrícola na minha região nordeste, onde o endividamento rural e a incapacidade de pagamento é alta. *505B55FA37* Assim é que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulgou no último dia 10 de março que as operações de crédito do sistema financeiro dos setores público e privado para o setor rural, item agricultura, atualmente está com saldo devedor em R$ 61 milhões. junho de 2006, o que inclui as renegociações de contratos feitos nas duas décadas passadas. O plano divulgado pelo governo federal destaca cinco medidas: O primeiro é a redução dos encargos de inadimplemento incidentes sobre o saldo devedor vencido, ou seja, a redução dos juros para aqueles produtores que não quitaram suas dívidas. O segundo é a diluição do saldo devedor vencido, referente aos valores que ainda não foram pagos, nas parcelas vincendas. A terceira é a concessão de prazo adicional para pagamento de algumas dívidas. O quarto é a redução das taxas de juros das operações com encargos mais elevados, e o quinto é a concessão de desconto para liquidação das operações antigas com risco da União. Segundo o plano de renegociação da dívida rural, as medidas podem beneficiar até 837 mil contratos. Estão incluídas neste grupo, as dívidas de Securitização, Pesa, Funcafé-Dação, Recoop, Programa do Cacau, Fundos Constitucionais, Pronaf, Crédito Fundiário, Banco da Terra e Procera. Segundo dados do Ministério da Agricultura, atualmente a dívida rural soma R$87 bilhões, sendo que, destes, R$74 bilhões são de grandes produtores e R$ 13 bilhões provêm da agricultura familiar. Ao tratar da situação da agricultura familiar, o representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Antoninho Rovaris, assinalou a baixa participação dos pequenos agricultores 2 505B55FA37 Não obstante esses dados constarem do documento por escrito lançado pelo governo, o que foi exposto pelos ministros Reinhold Stephanes (Agricultura) e Guido Mantega (Fazenda) é que as medidas irão atingir, no máximo, R$56,3 bilhões, que serão distribuídos em mais de dois milhões de contratos. Os dois ministros ressaltaram que essa cifra corresponde ao valor total dos contratos, o que não significa que esse será o valor renegociado. *505B55FA37* A proposta do governo prevê redução das taxas de juros dos contratos atuais – o que, senhor presidente, envolveria até 198 mil contratos com valor de R$13,6 bilhões. Estão incluídos nestes itens o FAT-Integrar, Moderfrota, Finame Agrícola Especial, Crédito Fundiário, Banco da Terra e custeios prorrogados, contratados com recurso da poupança rural com taxa de juros livres. no total das dívidas do setor. Segundo informou, esse percentual seria de 10%, situação justificada pelo fato de a maioria dos pequenos produtores ou dos assentados utilizar o crédito e pagá-lo. Portanto, acertadamente o governo federal deixa claro para o conjunto da população brasileira qual é o setor da agricultura brasileira que será mais beneficiada com a renegociação da dívida. Ora, senhoras e senhores deputados, aquele estudo que mencionei – realizada pela FIPE, NEAD e FEA/USP – que indica que o agronegócio representa 30% da economia brasileira, também indica que a agricultura familiar responde por cerca de 10% da economia brasileira. Ou seja, a agricultura familiar é um terço do agronegócio nacional. Esses dados mostram que essa atividade tem uma grande expressividade e peso para a economia do país. Aliás, apesar da idéia de agricultura familiar estar ligada à agricultura de subsistência, há um grupo que está desenvolvendo seus trabalhos de forma moderna, inteligente e, mais ainda, com bons resultados. Por outro lado, além da importante questão sobre o endividamento agrícola, o governo federal precisa avançar para outros temas que todo o setor rural brasileiro tem o dever de enfrentar, afinal de contas entra ano e sai ano o tema do setor rural no Brasil parece ficar fechado a questão da rolagem da dívida. 3 505B55FA37 Geralmente esses temas são tratados isoladamente, discute-se a dívida rural, discute-se a preservação do meio ambiente, discute-se a produção de energia renovável (biodiesel, biocombustíveis, mamonas, etanol etc) como se fossem elementos estanques da economia brasileira, inclusive, pertencentes a setores distintos do governo federal, ou seja, a área do Ministério da Agricultura, a área do Ministério do Meio Ambiente e do IBAMA e a área do Ministério das Minas e Energia e Petrobrás. *505B55FA37* Portanto, concomitantemente ao debate sobre as dívidas rurais, enquanto elemento significativo para a economia brasileira, o setor agrícola, este Congresso e o governo federal também “precisamos” avançar para o tema da: (a) preservação do meio ambiente, (b) da produção de energia renovável, (c) do manejo sustentável das reservas naturais e (d) da demanda por alimentos saudáveis. A questão da renegociação da dívida rural perpassa a questão do meio ambiente e dos biocombustíveis, afinal, senhoras e senhores Deputados, porque não exigir a título de contrapartida para o abatimento, descontos ou rolagem da dívida rural, contraprestações de natureza diversa daquela tratada pelo conselho monetário nacional e sua estreita visão financista? Por que a contrapartida para a repactuação da dívida rural – seriíssima para a economia brasileira – não perpassa além das exigências da recuperação do crédito, o cumprimento das exigências da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) travada em 2006 no Brasil durante a Conferência Internacional para o Desenvolvimento Rural, a saber: colaborações entre o setor público e privado para acelerar o desenvolvimento rural; a agroenergia; o combate à fome; o manejo sustentável do agro e as proteções necessárias diante das doenças transfronteiriças? Assim, a repactuação da dívida rural situa-se em um momento de mudanças dos paradigmas econômicos e sociais, o setor rural brasileiro ganha um novo sentido transformador aos olhos da sociedade. O desenvolvimento do campo só poderá ser chamado de desenvolvimento se combinar o velho racionalismo econômico (presente no sentido da repactuação da dívida) com a harmonia social e o equilíbrio ambiental (presente em contrapartidas para além da esfera financeira de recuperação de crédito). Era o que tinha a dizer. Muito obrigado. 505B55FA37 4 *505B55FA37* VALADARES FILHO DEPUTADO FEDERAL PSB/SE