Milena Nunes Alves de Sousa* Juliana Dias Ferreira Silva** RESUMO Introdução: a Teoria do Autocuidado descreve o “como” e o “porquê” dos indivíduos cuidarem de si próprios, sendo uma função humana reguladora em que os indivíduos desenvolvem comportamentos que serviram para preservar a vida, o desenvolvimento, a saúde e o bem estar próprio. De modo específico, por exemplo, em caso de portadores de tuberculose, é fundamental que o paciente tenha consciência do grau de sua patologia e desenvolva manejos de autocuidado para, assim, evitar possíveis complicações e conviver da melhor forma possível com seu problema até a sua cura. Quando o indivíduo não é capaz de desenvolver ações de autocuidado se faz necessário que os profissionais de saúde os orientem para que venham a desenvolver os mesmos. Objetivo: identificar as práticas de autocuidado dos portadores de TB cajazeirenses. Metodologia: tratou-se de um estudo exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa. Os dados foram coletados com 10 tuberculínicos, 83,3% do total de pacientes, por meio de um roteiro de entrevista e foram analisados de forma descritiva e qualitativamente, por meio do Discurso do Sujeito Coletivo. Resultados: foi evidenciado que a maioria dos entrevistados tinha algum conhecimento sobre a doença, realizavam práticas de autocuidado e o tratamento adequado, contudo, possuíam dificuldades para realizarem as ações para cuidarem de si. Conclusão: espera-se que esta pesquisa traga contribuições para o aprimoramento e desenvolvimento sobre as práticas de autocuidado para os portadores de TB, a fim de contribuir na melhor recuperação, cura e qualidade de vida dos mesmos. Palavras-chave: Tuberculose. Autocuidado. Práticas. 150 relatos de pesquisa PRÁTICAS DE AUTOCUIDADO ENTRE OS PORTADORES DE TUBERCULOSE DE MUNICÍPIO PARAIBANO *Turismóloga, Administradora e Enfermeira. Docente FIP e FSM. Especialista em Gestão e Análise Ambiental e em Saúde da Família. Mestre em Ciências da Saúde. Doutoranda pelo Programa Strictu Sensu em Promoção de Saúde pela UNIFRAN-SP. E-mail: [email protected] **Enfermeira. Faculdade Santa Maria. E-mail: [email protected] C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p.150-161, jul./dez. 2013 Milena Nunes Alves de Sousa, Juliana Dias Ferreira Silva 1 INTRODUÇÃO O autocuidado foi mencionado pela primeira vez, enfermeira em 1958, autocuidado, elemento este essencial ao cuidado à saúde. Acredita-se que quando o indivíduo passou a refletir sobre os motivos pelos adquire um hábito positivo em relação a quais os indivíduos necessitam do auxílio sua doença, ele migra do grau de da enfermagem e como podiam ser desinformação e dependendo do próprio ajudados pela mesma (SILVA et al., desejo de querer mudar ou agir ele pode 2009). tornar-se termo Elizabeth a o Orem O Dorothea quando para está relacionado a atividade apreendida pelos sujeitos e desenvolvida em no processo de transformação, melhorando o processo saúde-doença e sua qualidade de vida. orientadas para determinado fim. É uma ação atuante Ao considerar que as pessoas com situações tuberculose (TB) apresentam uma doença concretas da vida, em que o indivíduo infectocontagiosa, que exige cuidados buscam regular os fatores que afetam seu permanentes para manutenção de sua próprio qualidade desenvolvimento, a praticar de vida, percebe-se a atividades em benefícios sua da vida, necessidade de verificar as habilidades saúde e bem estar (OREM, 2001). desenvolvidas pelos portadores quanto às Brasil (2008) afirma que o autocuidado busca as necessidades do condutas de autocuidado para o manejo da enfermidade. corpo e da mente, a forma de aperfeiçoar Como patologia infectocontagiosa o estilo de vida, evitar hábitos nocivos, causada cultivar uma alimentação sadia, conhecer tuberculosis, a TB classifica-se em aguda e controlar os fatores de risco que levam ou crônica e afeta primordialmente os às pulmões, porém podem disseminar-se doenças e adotar condutas de pelo bacilo Mycobacterium prevenção de patologias. Para que essa para prática é gânglios, pleura, rins, cérebro e ossos. É necessário contínuo desenvolvimento da um problema de saúde prioritário no competência individual e da comunidade Brasil, e nos países em desenvolvimento, torne-se eficaz e segura outras partes do corpo como estima-se que anualmente ocorram 2,8 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 150-161, jul./dez. 2013 151 Práticas de autocuidado entre os portadores de tuberculose de município paraibano milhões de morte decorrentes da enfermidade (DAVID, 2009). Assim, objetivou-se identificar as práticas de autocuidado dos portadores Ela é transmitida de pessoa a de TB cajazeirenses. pessoa principalmente pelo ar. Após o contágio a pessoa infectada poderá 2 METODOLOGIA desenvolver complicações como distúrbio ventilatório obstrutivo e/ou restritivo, respiratórias de repetição, exploratório-descritivo, com abordagem formação de bronquiectasias, hemoptise, qualitativa. O cenário da pesquisa foi o atelectasias, empiemas (BRASIL, 2010). município cidade de Cajazeiras, Estado O tratamento deve ser feito em nível da Paraíba. infecções Optou-se por um estudo ambulatorial com distribuição gratuita dos O universo da pesquisa foi formado medicamentos, podendo ser instituído a por 12 portadores de TB cadastrados e terapêutica supervisionada, objetivando acompanhados nas USF da zona urbana garantir a adesão do paciente, reduzindo de Cajazeiras-PB e a amostra foi não o risco de transmissão na comunidade aleatória, composta por 10 pacientes (DAVID, 2009). (83,3%) que se dispuseram a participar da Ante ao exposto, o interesse em pesquisa, assinando para tanto o Termo desenvolver o estudo partiu da percepção de Consentimento Livre e Esclarecido da de (TCLE). Entre os portadores de TB, 80% autocuidado e do reduzido número de (n=8) eram do sexo masculino, com idade abordagens entre 30 e 69 anos (80%; n=8), casados importância das sobre condutas a dicotomia autocuidado versus TB. Portanto, de (40%; posse das informações e das razões que escolaridade, já que 20% (n=2) eram justificam a escolha do tema, emergiram analfabetos e 30% (n=2) tinham apenas o os seguintes questionamentos enquanto 1º grau incompleto (30%; n=3). problemas de pesquisa: quais as n=4) e com baixo nível de Para coleta de dados, foi utilizado condutas de autocuidado adotadas pelos um portadores de TB cajazeirenses? Como contendo 15 questões. As entrevistas são foram gravadas em um microgravador, desenvolvidas as condutas autocuidado pelos portadores de TB? 152 de com roteiro a de entrevista finalidade de estruturada manter a C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 150-161, jul./dez. 2013 Milena Nunes Alves de Sousa, Juliana Dias Ferreira Silva fidedignidade dos depoimentos. Os discursos gravados foram transcritos na íntegra e analisados de forma descritiva e qualitativamente, utilizando-se a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), discurso-síntese, o qual se utiliza da primeira pessoa do singular para transmitir uma opinião/ideia coletiva ou socialmente compartilhada. Constitui-se de um conjunto de expressões-chave, Quadro 1- Conhecimento sobre a TB IC I DSC I “[...] doença infecciosa, transmissível [...] causada Doença por uma bactéria que se transmissível aloja em alguns órgãos do corpo [...]”. IC II DSC I “[...] é uma doença que tem início com uma tosse Múltiplos Sintomas frequente [...], perda de peso, febre e fraqueza”. IC III DSC I [...]Não sei nada sobre essa Desconhecimento doença [...] não fui informado sobre nada”. Fonte: Dados da Pesquisa cujo conteúdo reflete a Ideia Central (IC) A partir dos discursos, pode-se (LEFÈVRE et al., 2010). Portanto, foram utilizadas duas figuras metodológicas: a IC e o DSC, refletindo o objeto de estudo. Ressalta-se que a coleta de dados se regulamentou de acordo com todos os parâmetros legais e seu início ocorreu após parecer favorável do Comitê de Ética inferir que alguns dos portadores apresentaram conhecimento sobre a TB, em contrapartida outros apontaram desconhecimento total, bem como falta de instrução ou esclarecimentos sobre a mesma. Ante a percepção em relação ao em Pesquisa da Faculdade Santa Maria, saber sobre a doença, pode-se arguir sob CAEE 03961212.5.0000.5180. dois pontos de vista. O primeiro refere-se ao grupo conhecedor do assunto. Sobre 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO este, A primeira questão abordada buscou identificar o conhecimento dos pesquisados sobre a doença. Como produto desta pergunta, três IC foram desenvolvidas. No Quadro 1, nota-se que as IC patologia foram: com doença múltiplos transmissível, sintomas e afirma-se que os participantes corroboram com o posicionamento de Brasil (2010), quando declaram que a TB é uma doença infecto-contagiosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis, fato que conduz a manifestações diversas, tais como febre baixa, tosse, inapetência e emagrecimento. desconhecimento. C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 150-161, jul./dez. 2013 153 Práticas de autocuidado entre os portadores de tuberculose de município paraibano Considerando o segundo posicionamento, afirma-se que a falta de conhecimento do que seja a doença e como ela e transmitida pode comprometer a terapêutica, bem como a adoção de condutas de autocuidado. Ainda, sobre a informação, questiona-se sobre Quadro 2- Forma de realização do tratamento IC I DSC I “[...] o tratamento com quatro comprimidos e agora passou a ser dois comprimidos. Uso de Tomo todo dia em jejum”. [...] medicação uso medicamentos e tomo sempre pela manhã. [...] só uso remédios [...]. Fonte: Dados da Pesquisa a educação em saúde, quanto ao papel do enfermeiro como educador popular. Como este profissional pode estar aquém da transmissão de informação a comunidade e, especialmente, ao portador de TB? Dentre as formas de tratamento, o uso importância para a adesão ao tratamento as questões referentes a doença, a possibilidade de cura pode incentivar o abandono (PAIXÃO; GONTIJO, 2007), é um empecilho na vida diária da maioria dos doentes, já que carregam uma informações errôneas de tabus sobre e a enfermidade, quer seja sobre o seu modo de transmissão, sua evolução foi a única IC emergida, já que todos mencionaram a sua prática. Ressalta-se que nenhum dos participantes referiram o Directly ou tratamento diretamente observado de curta duração. é a informação. O desconhecimento sobre recheada medicação Observed Treatment Short-Curse (DOTS) É sabido que um fator de grande bagagem de ou contágio, dificultando assim a adaptação destes à sociedade (SÁ et al., 2007). Em continuação ao levantamento dos dados coletados nesta pesquisa, arguiu-se sobre a forma de realização do tratamento. A questão limitou-se a uma IC Segundo Brasil (2010), a terapêutica da TB ocorre em duas fases. Na 1ª fase ou fase de ataque, as 4 drogas preconizadas serão administradas em comprimidos compostos por dosagens fixas de Rifampicina – 150mg, Isoniazida – 75mg, Pirazinamida – 400mg e Etambutol – 275mg. Na 2ª fase ou fase de manutenção, as 2 drogas preconizadas serão administradas em comprimidos com dosagens fixas de Rifampicina – 150mg e Isoniazida – 75mg. Atrelada ao uso, o DOTS objetiva reduzir as taxas de abandono e elevar os índices de cura, deste modo, supervisão caracteriza-se como um dos pilares da (Quadro 2). 154 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 150-161, jul./dez. 2013 Milena Nunes Alves de Sousa, Juliana Dias Ferreira Silva estratégia DOTS constituindo-se Considerando as orientações importante ferramenta para a adesão dos citadas, julga-se o dado como importante, doentes de tuberculose (SILVA et al., pois pode ser indicativo de que os 2007). profissionais de saúde estão preocupados É relevante que o paciente tome a medicação de forma correta e nos com a qualidade de vida dos portadores de TB e conseguintemente sobre o horários durante todo o período do autocuidado tratamento, visto que essa medida de enfermidade. autocuidado constitui-se a ferramenta mais os importante para indivíduos acometidos pela TB. ações ao manejo da Para Orem (2001), o autocuidado representa um somatório de ações desenvolvidas pelo ser humano de modo Considerando as necessidades de desenvolver ante de consciente, em seu benefício, objetivando autocuidado, promover e manter a vida, o bem estar e a buscou-se verificar quais as práticas de sua saúde. De modo análogo, Silva autocuidado necessárias ao manejo da (2001) expõe que o autocuidado significa TB segundo a indicação da equipe de a habilidade do indivíduo em executar saúde. Quatro IC foram desenvolvidas ações que atendam suas necessidades. (Quadro 3), em que o DSC contemplou o Destarte, as orientações para o limpeza e ventilação da casa, uso da autocuidado são necessárias tanto para medicação, mudança do estilo de vida e fornecer informações às pessoas com TB separar objetos de uso pessoal. acerca da Quadro 3 - Informações sobre as práticas de autocuidado necessárias ao manejo da TB IC I DSC I Limpeza e “[...] fui informado para evitar ventilação da poeira [...] ficar em ambiente casa arejado [...]”. IC II DSC II Uso da “[...] a enfermeira me falou para medicação tomar a medicação [...]”. IC III DSC III Mudança do “[...] fui informado para não fumar estilo de vida [...] me alimentar bem [...]. IC IV DSC IV Separar “[...] me informaram para separar objetos de meus objetos de uso pessoal uso pessoal [...]”. Fonte: Dados da Pesquisa continuidade a realização do tratamento, doença quanto para dar adequando-as a um novo estilo de vida saudável. O princípio do que cuidar, cuidar-se e ser cuidado são funções indispensáveis para a vida das pessoas e estas, contudo, exigem necessariamente uma compreensão da dimensão humana e sua essência para melhor desenvolver suas necessidades básicas relacionadas C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 150-161, jul./dez. 2013 155 Práticas de autocuidado entre os portadores de tuberculose de município paraibano com o comportamento e estilo de vida cotidiana (MACHADO, 2012). sua cura é necessário que ele se cuide e Os participantes também foram indagados práticas sobre de como realizam autocuidado. Neste as item surgiram três IC: uso da medicação, alimentação balanceada e Realização das mantenha esse autocuidado de forma contínua, práticas de DSC I “[...] Tomo a medicação todos os dias em jejum no Uso de horário certo [...]” uso medicação sempre os remédios receitados pelo médico [...] IC II DSC II “[...] Procuro me alimentar Alimentação bem apesar das condições balanceada serem poucas [...]”. Me alimento direitinho [...]. IC III DSC III “[....] Fico mais em repouso, para não andar no sol Repouso quente [...] evito fazer esforço para me recuperar mais rápido [...]”. Fonte: Dados da Pesquisa objetivando evitar possíveis complicações, bem como recuperar sua saúde e manter seu bem estar. repouso (Quadro 4). Quadro 4 – autocuidado IC I Para que o indivíduo promova a Além da importância do uso da medicação, elemento primordial, alimentação adequada é uma a dos requisitos relevantes para a terapêutica e recuperação do paciente com TB, pois a enfermidade provoca fraqueza demando de nutrientes extras para reposição energética. Uma alimentação saudável é aquela que atende todas as exigências do corpo, é fonte de nutrientes (BRASIL, 2007). Considerando mencionado, Sousa; o repouso Silva; Meirelles (2010) discorrem que as pessoas incluem, As necessidades do autocuidado no tratamento, cuidados que ultrapassam surgem, tanto do estado patológico como o instituído pelo médico tais como: a fé, a dos procedimentos empregados para seu proteção contra a chuva e a umidade, e diagnóstico e tratamento. Para que os expandem indivíduos com alterações de saúde sejam alimentação capazes medicamentos de utilizar um sistema de autocuidado é necessário que eles sejam capazes de aplicar conceitos necessários os cuidados saudável, e o para o uso uma de acompanhamento periódico nos serviços de saúde. Os pesquisados também foram e convenientes para seu próprio cuidado questionados (SILVA et al., 2009). enfrentadas para realização das práticas 156 sobre as dificuldades C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 150-161, jul./dez. 2013 Milena Nunes Alves de Sousa, Juliana Dias Ferreira Silva de autocuidado. Surgiram três IC (Quadro consegue 5). recomendado, sem sentir qualquer efeito Quadro 5 - Dificuldades enfrentadas para realização das práticas de autocuidado IC I DSC I Financeira “[...] a doença deixa a gente muito fraco ai eu não tenho dinheiro para me alimentar bem”. IC I DSC II Efeitos “[...] o remédio é muito forte, dar adversos da tonteira, dor nas articulações e medicação nos nervos [...] dá muita fome”. IC I DSC III Supervisão [...] a enfermeira quer que eu da tomada da tome a medicação todos os dias medicação no posto, mas a minha rotina é de acordar bem cedo e já tomar a medicação e realizar o desjejum, [...] a enfermeira chega por volta de 7:30 para 8:00, por isso eu peço que me dê o remédio para me tomar em casa, por que eu tenho responsabilidade e consciência que quero ficar bom”. Fonte: Dados da Pesquisa colateral relevante (BRASIL, 2010). A tuberculose, muitas vezes, é considerada como uma doença de terapêutica difícil devido às sensações desagradáveis que os medicamentos trazem (SOUSA; SILVA; MEIRELLES, 2010). Os medicamentos podem causar vários efeitos como: náuseas, vômitos dores abdominais, artralgia ou artrite, neuropatia periférica, cefaléia, mudaça de comportamento, suor e urina da cor de laranja, prurido cutâneo, febre, exantemas, vertigem, neuropatia ótica, entre outros. Contudo, a maioria dos pacientes submetidos ao tratamento, completar o tempo No mais, em geral, esse tipo de doença acomete a população menos favorecida, com baixas condições sociais e demográficas, o que torna difícil adotar na totalidade autocuidado, boas já práticas que as de condições financeiras não os ajudam. Quanto a DOTS, esta não deveria ser vista como um empecilho acirrado em decorrência de hábitos de vida, visto que consiste na administração direta do medicamento por uma segunda pessoa, que entrega, observa e registra a ingestão de cada dose da medicação. Também, a mesma apresenta hospitalização, eficiência torna o sem tratamento disponível e de baixo custo (MUNIZ; VILLA; PEDERSOLLI, 1999). Deste existem modo, percebe-se grandes especialmente no que que dificuldades, se refere a mudanças de hábitos dos pacientes com TB, pois são construídos ao longo da vida, demandando investimento contínuo dos serviços de saúde para a mudança deste quadro (LOPES et al., 2008). Para os autores, ao cuidar do indivíduo com tuberculose, C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 150-161, jul./dez. 2013 alguns 157 Práticas de autocuidado entre os portadores de tuberculose de município paraibano o Afinal, ao receber o diagnóstico de conhecimento do processo patológico; o TB, o paciente fica em choque ou tem tratamento e incentivo do indivíduo a dificuldade participação de Apesar disto, a família também é afetada autocuidado, bem com a certificação da e, neste momento, desempenha um papel ausência de complicações para se obter a fundamental (GONÇALVES et al., 1999). objetivos devem ser de traçados: programas apoio inicialmente. representa uma importante fonte de apoio uso adequado de medicamentos. o aceitá-lo Na percepção do doente, a família cura, com mudanças do estilo de vida e o Considerando de social, durante o tratamento. A presença de elemento fundamental para manutenção pessoas que possam compartilhar com o da terapêutica e o desejo de cura, indivíduo, buscou-se identificar as redes de apoio. doença como as dificuldades relacionadas Duas IC surgiram (Quadro 6). com a terapêutica medicamentosa são de Quadro 6 - Redes de apoio IC I DSC I “[...] minha família me dá muita força para realizar o tratamento [...], desde quando descobri Família que estava com tuberculose o apoio da minha família é muito importante para eu realizar o tratamento [...]”. IC II DSC II “[...]alguns amigos dão apoio Amigos emocional [...]”. Fonte: Dados da Pesquisa extrema importância, pois muitas vezes, é expresso o apoio social como fundamental para dar continuidade ao tratamento e não abandono do mesmo. Afinal, O apoio social, da família ou de outras pessoas, vizinhos ou profissionais de saúde pode ajudar na aceitação da doença e da terapêutica pelo paciente (OLIVEIRA; MOREIRA FILHO, 2000). pelo interrompê-lo, familiares faz o enfrentamento paciente mas o com desejo estímulo que da de dos perseverem (VENDRAMINI et al., 2002). 4 CONCLUSÃO A necessidade de autocuidado De acordo com a questão anterior, reconhece-se tanto surge principalmente nos processos patológicos, em casos de TB, necessário se faz instituir cuidados permanentes voltados para si mesmo, pois possibilita manter uma boa qualidade de vida. Destarte, considerando o objetivo inicialmente proposto, notou-se que os tuberculínicos tem adotado condutas positivas de autocuidado, como uso da 158 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 150-161, jul./dez. 2013 Milena Nunes Alves de Sousa, Juliana Dias Ferreira Silva medicação conforme preconizado pela Ante aos resultados, espera-se que Ministério da Saúde, favorecendo a cura. a discussão proposta nesta pesquisa Em contrapartida, existem dificuldades possa contribuir para o processo de para de aprendizado dos pacientes com TB, assim autocuidado, destacando-se o financeiro, como de acadêmicos e profissionais de os efeitos adversos da medicação e a saúde, especialmente, os enfermeiros, os supervisão da tomada da medicação. quais a realização das práticas devem desenvolver trabalhos Ainda, os dados revelaram que a educativos e promover o autocuidado, grande maioria foi informada sobre as fazendo com que os portadores de TB se práticas de autocuidado necessárias para tornem corresponsáveis pelo processo o restabelecimento de sua própria saúde. saúde doença. E o apoio de familiares e de amigos foram os suportes emocionais apontados como relevantes e existentes entre os pesquisados. ABSTRACT Introduction: Theory of Self Care describes the "how " and "why " of individuals care for themselves, being a human regulatory function in which individuals develop behaviors that served to preserve the life, development, health and well being of himself. Specifically, for example, with tuberculosis (TB) patients, it is essential that the patient is aware of the extent of their disease and develop management strategies for self-care, thus avoiding possible complications and live as best as possible with your problem until its healing. When the individual is not able to develop self-care actions it is necessary that health professionals educate them so that they will develop. Objective: To identify self-care practices of TB patients to Cajazeiras, Paraíba. Methodology: it was a descriptive exploratory study with a qualitative approach. Data were collected with 10 tuberculin, 83.3 % of patients, through a combination of interviews and were analyzed descriptively and qualitatively through the Collective Subject Discourse. Results: It was shown that the majority of respondents had some knowledge about the disease, performed self-care practices and proper treatment, however, had difficulties to carry out the actions to take care of themselves. Conclusion: It is expected that this research will bring contributions to the improvement and development of self-care practices for TB C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 150-161, jul./dez. 2013 159 Práticas de autocuidado entre os portadores de tuberculose de município paraibano patients in order to contribute to better recovery, healing and quality of life for ourselves. Keywords: Tuberculosis. Self Care. Practices. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. 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