Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized 36460 Prioridades em Saúde Comissão de consultoria aos editores J. R. Aluoch Jacques Baudouy Fred Binka Mayra Buvinic David Challoner Guy de Thé Timothy Evans Richard Horton Sharon Hrynkow Gerald Keusch Kiyoshi Kurokawa Peter Lachmann Mary Ann Lansang Christopher Lovelace Anthony Mbewu Rajiv Misra Perla Santos Ocampo G. B. A. Okelo Sevket Ruacan Pramilla Senanayake Jaime Sepúlveda Chitr Sitthi-amorn Sally Stansfield Misael Uribe Zhengguo Wang Witold Zatonski Escritores colaboradores William D. Savedoff e Anne-Marie Smith, Social Insight Prioridades em Saúde Editores Dean T. Jamison Joel G. Breman Anthony R. Measham George Alleyne Mariam Claeson David B. Evans Prabhat Jha Anne Mills Philip Musgrove BANCO MUNDIAL Washington, D.C. ©2006 The International Bank for Reconstruction and Development / The World Bank 1818 H Street NW Washington, DC 20433 Telephone: 202-473 -1000 Internet: www.worldbank.org E-mail: [email protected] Todos os direitos reservados 1 2 3 4 09 08 07 06 Este volume foi financiado em parte por uma doação da Bill & Melinda Gates Foundation e foi produzido pelo pessoal do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento / Banco Mundial, Organização Mundial de Saúde e pelo Fogarty International Center (FIC) dos Institutos Nacionais de Saúde. As apurações, interpretações e conclusões expressas neste volume não refletem necessariamente a opinião dos Diretores Executivos do Banco Mundial nem dos governos dos países que representam, da Organização Mundial de Saúde, ou do Fogarty International Center dos Institutos Nacionais de Saúde. O Banco Mundial, a Organização Mundial de Saúde e o Fogarty International Center dos Institutos Nacionais de Saúde não garantem a exatidão dos dados apresentados neste trabalho. As fronteiras, cores, denominações e outras informações apresentadas em qualquer mapa deste trabalho não indicam nenhum julgamento do Banco Mundial, da Organização Mundial de Saúde, ou do Fogarty International Center dos Institutos Nacionais de Saúde sobre a situação legal de qualquer território, nem o endosso ou aceitação de tais fronteiras. Direitos e permissões O material desta publicação é protegido por direitos autorais. Sua reprodução e/ou transmissão, total ou parcial, sem permissão pode constituir violação das leis em vigor. O Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento/Banco Mundial estimula a divulgação de seu trabalho e geralmente concede pronta permissão para sua reprodução parcial. 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Realizações, desafios e prioridades Realizações históricas na saúde em âmbito mundial Responsabilidade por ganhos em saúde Saúde e crescimento econômico Eqüidade Uma agenda para a ação Colocando o DCP2 em prática Este volume 1 2 5 7 8 13 16 20 2. Êxito no tratamento das prioridades Êxitos apesar de sistemas de saúde precários Êxitos que fortaleceram sistemas de saúde precários Intervenções custo-efetivas destinadas à criação de serviços de saúde Intervenções custo-efetivas que desenvolveram os sistemas de saúde existentes Intervenções custo-efetivas que ultrapassam os limites dos sistemas de saúde Conclusão 23 27 28 31 33 3. Por que utilizar análise de custo-eficácia? Por que usar análise de custo-eficácia? O que é análise de custo-eficácia? Qual é o grau de confiabilidade da análise de custo-eficácia? Quais são as tarefas adequadas para a análise do custo-eficácia? Como os formuladores de políticas podem usar a análise de custo-eficácia? Resumo para o uso apropriado da análise de custo-eficácia 39 39 42 48 50 34 37 52 56 v 4. Estratégias custo-eficientes para a carga de doenças excessiva dos países em desenvolvimento Doenças transmissíveis e infecciosas HIV/AIDS 59 5. Estratégias custo-eficientes para doenças não-transmissíveis, fatores de risco e comportamentos Doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão arterial, colesterol e obesidade Câncer Distúrbios congênitos e do desenvolvimento Lesões não-intencionais Consumo de tabaco Consumo excessivo de álcool Saúde mental Conclusão 97 98 104 106 110 114 120 124 126 6. Fornecimento de intervenções Níveis de atendimento Insumos e Serviços inter-relacionados Integração de serviços em todo o ciclo de vida 129 130 139 152 7. Informação, vigilância e pesquisa Informações, vigilância e pesquisa Gerenciamento de serviços de saúde Recursos Humanos Financiamento 157 157 166 171 175 8. O caminho à frente: um plano de ação Referências Sobre os Editores Comissão de consultoria aos editores Escritores colaboradores 181 185 189 197 198 60 61 Sumário, prioridades no controle de doenças nos países em desenvolvimento, 2ª edição vi | Sumário 199 Sumário: Carga global de doenças e fatores de risco 207 Crédito de fotos 209 Prefácio Prioridades em Saúde é um volume que acompanha a 2ª edição (DCP2) de Disease Control Priorities in Developing Countries (Prioridades no controle de doenças nos países em desenvolvimento), que sucedeu Disease Control Priorities for Developing Countries (DCP1) publicado em 1993, porém com um mandato muito mais ampliado. O DCP1 demonstrou ser um documento altamente influente na formação global de políticas de saúde. A publicação inovadora do Banco Mundial Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial (WDR 93), ao incorporar seus principais conceitos e mensagens, tornou-se uma referência padrão para os formuladores de políticas de saúde do mundo inteiro e mantém esse status até hoje. Na Índia, o impacto foi dramático e eu tive o privilégio de gerenciar e supervisionar a transição para uma implementação bastante aprimorada das intervenções em saúde pública, tanto em termos de cobertura quanto de eficácia. Uma série de circunstâncias facilitou essa transição: uma crise sem precedentes nos balancos fiscais e de pagamentos externos, o que levou a Índia a pedir ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial um empréstimo para ajuste estrutural que resultou em uma severa redução fiscal; mudança nas políticas de empréstimo no Banco Mundial para enfatizar os setores sociais para recursos da AID; escassez de projetos nos portfólios dos setores da saúde e da educação para utilizar a distribuição altamente concessional da AID em um período de séria crise de divisas; e, finalmente, uma equipe extraordinariamente solidária e compreensiva na administração do Banco Mundial na Índia. Conhecemos os principais conceitos bem antes da publicação de DCP1, em um seminário no All India Institute of Medical Sciences em Nova Deli no início de 1992, onde Dean Jamison e seus colegas apresentaram as principais descobertas do DCP1 e WDR93, incluindo os conceitos de anos de vida ajustados à deficiência (AVAD), carga de doenças, transição epidemiológica e análise de custo-eficácia como ferramenta de definição de prioridades. Esses conceitos forneceram um novo modo de determinar prioridades objetivamente com base em evidências e análise econômica; embora tenha havido um certo ceticismo inicial e natural em relação às metodologias e estimativas, a resposta geral foi altamente favorável. Ao mesmo tempo, o Banco Mundial estava procurando critérios objetivos para identificar projetos no setor de saúde. Uma estratégia conjunta foi desenvolvida entre o Banco e o Ministério de Saúde para usar as técnicas do DCP1, que resultou em reforma e ampliação de todos os principais projetos de controle de doenças em tempo recorde –especialmente aqueles contra lepra, cegueira, tuberculose e malária – além de novas iniciativas para lidar com a ameaça emergente do HIV/AIDS. Simultaneamente, foram realizados projetos para o fortalecimento do sistema em vários estados para aumentar a capacidade. Como resultado, os desembolsos de desenvolvimento para o Departamento de Saúde (diferente da Assistência Familiar) aumentaram mais de cinco vezes e o componente externo mais de 25 vezes em pouco mais de uma década, entre 1990-91 e 2001-2002 (Relatório sobre a Saúde na Índia, 2003), o que não apenas aumentou os recursos financeiros além das expectativas, mas também mudou completamente a maneivii ra de formular e implementar os projetos. Essa é uma história de sucesso da qual se podem orgulhar o Governo da Índia e o Banco Mundial – a contribuição do DCP1 na canalização de recursos adicionais para intervenções custo-efetivas para lidar com as condições responsáveis pela principal cota de carga de doenças. Abrangendo um novo campo O DCP2 é uma iniciativa muito mais abrangente e na realidade muito ambiciosa. Vai muito além da atualização do conteúdo técnico, estimativas da carga de doenças e da relação custo-eficácia realizadas no DCP1. Abrange um campo totalmente novo ao examinar áreas importantes, mas também muito complexas, tais como o fornecimento, a gestão e o financiamento de serviços de saúde e pesquisa sobre saúde. Reconhece claramente que a definição da prioridade objetiva é somente o primeiro passo: as intervenções identificadas precisam ser fornecidas de modo eficiente para que a população alvo possa beneficiar-se totalmente dos exercícios de custo-eficácia; as intervenções individuais na saúde raramente são eficazes em isolamento; e geralmente o que é necessário não é que apenas o sistema de saúde inteiro funcione bem, mas também que os setores relacionados como nutrição, água potável, saneamento, educação etc. contribuam para melhores resultados. Aumentar as capacidades de todo o sistema e criar vínculos estreitos com outros participantes é a chave para o sucesso. Apresentando os principais peritos O DCP2 reuniu uma equipe impressionante com os principais peritos mundiais em disciplinas relacionadas à saúde para contribuir a esse exercício e, portanto, é um tesouro incalculável das últimas informações técnicas e experiência internacional, juntamente com análises de alta qualidade sobre praticamente todos os assuntos relacionados à saúde. Deve ser assim um documento legitimamente influente e uma referência padrão para profissionais de saúde e formuladores de políticas. Promovendo tomadas de decisão eficazes Além disso, o DCP2 tem potencial para contribuir significativamente para a saúde global ao promover tomadas de decisões bem informadas e baseadas em evidências em todos os níveis. Chega em hora especialmente oportuna para meu próprio país, a Índia, onde pela primeira vez desde a Independência o governo compromete-se a atribuir alta prioridade à saúde e aumentar a despesa pública em saúde do nível atual de menos de 1% até 2% ou 3% do PIB. Portanto, o DCP2 pode ter um impacto muito maior do que seu antecessor, não apenas na alocação racional de recursos adicionais, mas também por revitalizar e atualizar o sistema de prestação de saúde pública , que se tem desempenhado de forma muito precária em muitas partes do país. Explicando a medição de mortalidade e morbidade O Projeto de Prioridades no Controle de Doenças também resultou em um livro separado, Global Burden of Disease and Risk Factors (Carga global de doenças e fatores de risco), que resuviii | Prefácio me os conceitos e estimativas da carga de doenças e a atribuição dessa carga a vários fatores de risco importantes. Essa é uma explicação definitiva de como a mortalidade e a morbidade são avaliadas, incluindo um dano à saúde como o parto de feto morto, que não foi previamente incluído nessas estimativas, e como essas perdas são combinadas em todas as avaliações globais das condições de saúde. O livro também oferece estimativas de como a mortalidade mudou no decorrer do tempo. Destacando questões críticas O DCP2 destaca algumas questões críticas, amplamente reconhecidas, mas quase sempre abordadas de forma inadequada nas publicações internacionais sobre a área da saúde. Primeiramente, reconhece a eqüidade como um importante objetivo da política de saúde. A preocupação com eqüidade não se deve meramente a uma questão moral ou do bem-estar humano, mas também ao reconhecimento do importante papel da saúde no alívio da pobreza. Além disso, afirma claramente o seguinte: “a menos que considerações sobre eqüidade se tornem parte da tomada de decisões e dos resultados de monitoramento, as intervenções podem aumentar em vez de reduzir as lacunas de eqüidade”. O livro atribui corretamente boa parte do progresso em saúde global ao progresso técnico no sentido mais amplo e as evidentes disparidades atuais nas condições de saúde entre os países e dentro dos países à aplicação desigual desse conhecimento técnico. Portanto, o maior desafio enfrentado pela comunidade internacional é “assegurar que os benefícios do progresso técnico sejam compartilhados de forma rápida e eficaz em escala global...” Não se poderia esperar uma apresentação mais convincente sobre a questão da eqüidade. Combinando visões equilibradas com abordagens práticas A segunda qualidade evidente nesse trabalho é uma total isenção de tendências ideológicas, além de uma abordagem altamente pragmática. Isso resulta em imparcialidade e completa ausência de discursos de caráter prescritivo. Ele reconhece claramente que as diversidades socioeconômicas, culturais e governamentais tornam impossível sugerir uma solução generalizada para as complexas questões globais de saúde. Por essa razão, tenta reunir todo o conhecimento relevante e análises de experiências internacionais para capacitar os formuladores de políticas a tomarem decisões bem informadas apropriadas a cada situação específica. Outra característica deste documento: ao contrário de outros relatórios, apresenta uma visão muito equilibrada entre a importância relativa da mobilização de recursos e sua utilização eficaz e eficiente. Da mesma forma, encontramos uma revigorante imparcialidade para lidar com as responsabilidades da comunidade de doadores e dos próprios países em desenvolvimento. A mensagem é clara: enquanto os ricos devem intensificar a assistência, os países de baixa renda devem colocar a casa em ordem, a fim de fazer melhor uso do dinheiro. Embora o próprio interesse deva ser necessariamente a principal motivação do apoio dos doadores, uma melhoria notável na qualidade da utilização da ajuda assistencial contribuiria inegavelmente para a melhoria do clima assistencial. Prefácio | ix Oferecendo uma ampla gama de informações O DCP2 é um documento bem-pesquisado, volumoso, com 73 capítulos, cuja leitura pode não ser fácil para leigos. É possível que até mesmo acadêmicos e profissionais da saúde não se interessem por todos os assuntos abordados e prefiram ler seletivamente. O público-leitor deste documento é bastante amplo: desde acadêmicos e profissionais de saúde até formuladores de política e gerentes de programa. Na verdade, para obter o benefício máximo, a rede teria de ser mais ampla para incluir a mídia, os partidos políticos, legisladores e o público leigo informado. Com que freqüência lamentamos a falta de vontade política, responsável pela negligência e falha de muitas iniciativas de saúde nos países em desenvolvimento? Do mesmo modo, a ausência de resposta dos países doadores para causas reconhecidamente merecedoras é quase sempre atribuída à apatia e indiferença da população geral dos países ricos aos problemas dos pobres. Apresentando o conteúdo do DCP2 de forma resumida Obviamente, nas sociedades democráticas, tanto nos países industrializados como nos países em desenvolvimento, a opinião pública tem um papel importante e precisa ser sistematicamente mobilizada. As principais mensagens, no entanto, precisam atingir a mídia e os leitores leigos em larga escala para gerar uma conscientização geral e um debate informado sobre os principais problemas mundiais de saúde. Precisávamos de um volume complementar que destilasse a essência do DCP2 em um documento sucinto, lúcido e de fácil leitura. Prioridades em Saúde atende a essa necessidade de forma admirável. Se o trabalho do DCP1 se tornou conhecido principalmente por meio do WDR93, o volume complementar é o instrumento para uma maior divulgação do DCP2. Em apenas 200 páginas, ele apresenta com clareza, em prosa legível, livre do jargão técnico e do peso das estatísticas, a essência de todo o documento. Abre também uma janela para o principal documento para os interessados em determinados aspectos a fim de incentivá-los a ler os capítulos relevantes. Pode ser lido e apreciado por formuladores de políticas ocupados até mesmo durante um longo vôo. Espero sinceramente que Prioridades em Saúde seja lido em países desenvolvidos e países em desenvolvimento e que suas mensagens sejam ativamente debatidas para obter todas as vantagens dessa magnífica iniciativa. Considero Prioridades em Saúde uma leitura obrigatória para todos os interessados na área da saúde e nos setores correlatos. Rajiv Misra Ex-Secretário da Saúde, Índia x | Prefácio Agradecimentos No início de 2001, convencidos de que os avanços na saúde global necessitavam de uma 2ª edição do Disease Control Priorities in Developing Countries (DCP2), Dean T. Jamison e Prabhat Jha conseguiram a colaboração de Anthony R. Measham nesse empreendimento e nasceu o Projeto de Prioridades no Controle de Doenças (DCPP). Logo depois, seis outro editores passaram a fazer parte do DCPP: George Alleyne, Joel G. Breman, Mariam Claeson, David Evans, Anne Mills e Philip Musgrove. O DCP1 sediou-se no Banco Mundial. Christopher Lovelace era o Diretor da Unidade de Saúde, Nutrição e População no Banco em 2001 quando se tornou o primeiro dos três principais parceiros a participar do DCPP. A Organização Mundial de Saúde (OMS) entrou em seguida, liderada por Gro Harlem Bruntland, então Diretor-Geral, e Christopher Murray, Chefe do Departamento de Evidências e Informações sobre Políticas. Gerald Keusch, então Diretor do Fogarty International Center (FIC) nos National Institutes of Health (NIH), generosamente ofereceu-se para patrocinar o DCPP. O projeto foi lançado no início de 2002 com o importante apoio da Fundação Bill & Melinda Gates. J.W. Lee da OMS, Jacques Baudouy do Banco Mundial, e Sharon Hrynkow da FIC/NIH, todos eles deram continuidade ao forte apoio do DCPP iniciado por seus antecessores. O DCPP é uma empresa conjunta do Fogarty International Center (FIC) dos National Institutes of Health (NIH), Organização Mundial da Saúde (OMS), Banco Mundial e Population Reference Bureau. O Fogarty International Center (FIC) é o componente internacional do NIH. Trata de desafios globais de saúde por meio de programas de treinamento e pesquisa inovadores e colaborativos e apóia e investe na missão do NIH por meio de parcerias internacionais. A OMS é o órgão especializado da ONU responsável pela saúde dos povos. Seu objetivo, conforme definido em sua Constituição, é promover o nível mais alto possível de saúde para todos os povos. A Constituição da OMS define saúde como uma condição de completo bemestar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença ou enfermidade. O Grupo do Banco Mundial é uma das maiores fontes mundiais de assistência para o desenvolvimento. O Banco, que concede US$18-22 bilhões por ano em empréstimos para seus países clientes, forneceu US$1,27 bilhão para saúde, nutrição e população, em 2004. O Banco Mundial trabalha hoje em mais de 100 economias em desenvolvimento, nas quais realiza um misto de trabalho analítico, diálogo político e empréstimos para melhorar os padrões de vida – incluindo saúde e educação – e reduzir a pobreza. O Population Reference Bureau (PRB) mantém pessoas de todo o mundo informadas sobre saúde, população e ambiente e as capacita a usar essa informação para melhorar o bem-estar das gerações atuais e futuras. Durante 75 anos, o PRB analisou dados complexos e resultados de pesquisa para fornecer informações objetivas e oportunas em um formato facilmente compreendido por advogados, jornalistas e formuladores de decisões; realizou workshops no mundo intei| xi ro para oferecer aos públicos-chave as ferramentas necessárias para garantir que os formuladores de políticas dos países em desenvolvimento fundamentem suas decisões políticas em evidências seguras, em vez de se basearem em informações aleatórias e obsoletas. A idéia de publicar um volume complementar para formuladores de políticas e para outras pessoas influentes surgiu no primeiro encontro da Comissão Consultiva aos Editores (ACE) do DCPP, realizado em Cuernavaca, México, em junho de 2003. Foi imediatamente endossado pela Comissão Executiva do ACE, constituído por Jaime Sepulveda, Chefe, Guy de Thé e David Challenor. Prioridades em Saúde foi escrito por William Savedoff e Amy Smith, com base no conteúdo de Disease Control Priorities in Developing Countries, 2ª edição. Os editores, autores e o pessoal do DCPP têm uma profunda dívida de gratidão com Bill e Amy pela maneira formidável como captaram, em poucas páginas, a essência das 1.400 páginas do segundo volume. Philip Musgrove, Sonbol Shahid-Salles e Anthony Measham revisaram e editaram o volume complementar, e são responsáveis por quaisquer falhas na captação dessa essência. Carlos Rossel, Mary Fisk, Randi Park, Nancy Lammers, Alice Faintich, Andres Meneses e seus colegas da Editora do Banco Mundial fizeram um notável trabalho de produção dos livros do DCPP, inclusive o atual. Sem o profissionalismo, perfeccionismo, dedicação, suporte e assessoramento dessas pessoas não teria sido possível publicar esse livro juntamente com a segunda edição. Esta tradução ao português foi possível graças à Unidade de Serviços de Tradução e Interpretação do Banco Mundial, Washington, D.C. Por fim, os editores do DCPP gostariam de prestar homenagem aos mais de 350 autores de capítulos da segunda edição pela extraordinária contribuição ao Prioridades em Saúde. Esperamos que esse volume complementar some esforços à segunda edição em sua meta de reduzir substancialmente o índice de mortes, doenças e deficiências no mundo inteiro, especialmente entre a população pobre dos países em desenvolvimento. xii | Agradecimentos Abreviaturas e Acrônimos AID ART BCG DCV DCP2 AVAD DOTS PIB Hib AIEPI ITN MDM TRO ONG SARS DST TB OMS Associação Internacional para o Desenvolvimento Terapia antiretroviral Bacilo de Calmette e Guérin Doença cardiovascular Disease Control Priorities in Developing Countries, (Prioridades no controle de doenças em países em desenvolvimento) 2ª edição Ano de vida ajustado à deficiência Estratégia disseminada internacionalmente que combateu com eficácia a disseminação da tuberculose Produto interno bruto Haemophilus influenzae tipo B Atenção Integrada às Enfermidades Prevalentes da Infância Rede tratada com inseticida Metas de Desenvolvimento do Milênio Terapia de reidratação oral Organização não-governamental Síndrome respiratória aguda grave Doença sexualmente transmissível Tuberculose Organização Mundial de Saúde Todas as quantias em dólares referem-se a dólares dos Estados Unidos, salvo especificação em contrário. xiii Capítulo 1 Realizações, desafios e prioridades É o momento de fazer um exame minucioso da saúde humana no mundo inteiro. Muitas pessoas estão vivendo mais e com mais saúde do que antes, mas muitas outras ainda carecem de acesso aos cuidados de saúde mais básicos e o hiato entre os que recebem e os que não recebem cuidados de saúde na verdade ampliou-se em alguns serviços básicos. Quanto às doenças infecciosas, embora a comunidade médica esteja controlando com êxito algumas delas – e tenha até erradicado uma – novas doenças estão surgindo, algumas das quais provocadas por vírus misteriosos que cruzam espécies ou sofrem mutações rápidas. Outros componentes importantes da carga global de doenças são derivados do comportamento humano e das escolhas prejudiciais que as pessoas fazem, tanto individual quanto coletivamente. O livro Disease Control Priorities in Developing Countries (Prioridades no controle de doenças nos países em desenvolvimento), 2ª edição (DCP2) (Jamison e outros, 2006) tem por objetivo fazer um exame minucioso, tanto da saúde quanto dos cuidados de saúde. Qual foi o progresso da comunidade médica na identificação e redução da carga global de doenças? Quais foram os avanços dos países no desenvolvimento e fornecimento de cuidados de saúde eficientes, eficazes e eqüitativos? Como os países devem definir e alcançar as prioridades em saúde? Em 1993, a primeira edição de Disease Control Priorities in Developing Countries (Jamison e outros, 1993) apresentou o grau de conhecimento sobre a distribuição da carga de doenças nos países em desenvolvimento, informações atualizadas sobre várias dessas doenças e dados sobre a relação custo-efetividade das intervenções disponíveis para abordá-las. O livro ajudou a informar e a estimular as políticas do setor de saúde em países de todo o mundo, demonstrando os benefícios de redirecionar esforços para doenças com grande prevalência e de fazê-lo com intervenções custo-efetivas. Forneceu uma base conceitual para a discussão 1 sobre a alocação de recursos no setor de saúde, ao mesmo tempo em que demonstrou os vínculos entre prevenção e tratamento, entre cuidados de saúde pública e serviços de saúde individual e entre o setor de saúde e outros setores. As informações e a análise fornecidas na publicação de 1993 ajudaram muitos países em desenvolvimento a definir pacotes básicos de cuidados de saúde; orientaram suas decisões gerenciais sobre treinamento, suprimentos e equipamentos; e ajudaram na elaboração de programas de seguro social. O livro também contribuiu para diversas outras publicações durante a década de 1990, inclusive o World Development Report 1993: Investing in Health (Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 1993: Investindo em Saúde) (Banco Mundial 1993). Agora, 13 anos mais tarde, o DCP2 avalia as realizações subseqüentes, os desafios que permaneceram e os que estão surgindo, bem como as novas oportunidades de melhoria da saúde do mundo em desenvolvimento. Essa nova publicação é mais abrangente do que sua antecessora em vários aspectos, a saber: • Aborda um número maior de doenças e condições, incluindo a gama completa de doenças infecciosas, questões reprodutivas, de saúde infantil, doenças não transmissíveis e lesões, bem como fatores de risco e conseqüências de doenças. • Proporciona uma análise da relação custo-efetividade mais completa e permite maior comparação entre as condições e regiões do que foi possível na edição anterior. • Dispensa considerável atenção à implementação, examinando a prestação, gestão e financiamento da saúde. • Aborda questões abrangentes, tais como diferenças de gênero em condições de saúde e ética na alocação de recursos. “Até o século XIX, as mortes de recém-nascidos e crianças eram comuns em todo o mundo.” Portanto, esta nova publicação é uma avaliação ampla e atualizada do conhecimento médico, econômico e gerencial que pode agora ser utilizado para aliviar a carga global de doenças e melhorar a saúde humana. REALIZAÇÕES HISTÓRICAS NA SAÚDE EM ÂMBITO MUNDIAL Qualquer exame minucioso deve incluir o relato de um caso.1 Uma revisão dos avanços sem precedentes da saúde humana no último século oferece perspectivas importantes sobre a situação atual. 1 Para conhecer as perspectivas históricas sobre saúde e cuidados de saúde, consulte o DCP2, capítulos 1 e 33. 2 Prioridades em Saúde| Figura 1.1 Limites e Convergência da Expectativa Média Nacional de Vida ao Nascer para Mulheres média de expectativa de vida em anos 90 90 85 85 Japão 80 80 75 75 Países nórdicos 75% 70 70 50% 65 25% 65 60 60 Nova Zelândia 55 55 Intervalo entre o 50 50 Noruega primeiro 45 45 e o último estimativas para Inglaterra 40 40 quartil da populaÁão 35 35 mundial 30 30 Serra Leoa limite inferior de viabilidade 25 25 20 20 1550 1600 1650 1700 1750 1800 1850 1900 1950 2000 2050 Fonte: Oeppen 1999. Até o século XIX, as mortes de recém-nascidos e crianças eram comuns em todo o mundo. A má nutrição deixava a maioria das pessoas atrofiadas se considerados os padrões atuais. Doenças infecciosas tais como varíola, sarampo e tuberculose dizimavam comunidades inteiras e deixavam muitas pessoas com cicatrizes e aleijadas. A expectativa de vida era baixa em todo o mundo. Mesmo entre as mulheres na Inglaterra que, de 1600 a 1840 tinham a média de vida mais elevada do mundo, a expectativa de vida flutuava entre 35 e 45 anos, a metade da atual (Figura 1.1). Esse quadro geral vem mudando rápida e drasticamente desde meados do século XIX. A comunidade médica conseguiu controlar muitas doenças infecciosas e até erradicou a varíola; a melhor nutrição e condições gerais de saúde reduziram as taxas de mortalidade para todos, especialmente crianças; e os períodos de vida aumentaram extraordinariamente. Depois de 1840, a tendência de aumento da longevidade continuou a uma taxa de crescimento surpreendentemente uniforme de 2,5 anos por década, durante os 160 anos subseqüentes. Em 1900, a média mais elevada de expectativa de vida já havia superado os 60 anos; até 2000, ela ultrapassou os 80 anos. Contudo, embora os ganhos em saúde e expectativa de vida não tenham sido uniformes em todo o mundo nem tenham ocorrido ao mesmo tempo ou na mesma proporção, eles foram largamente distribuídos: Realizações, desafios e prioridades | 3 Tabela 1.1 Níveis e alterações na Expectativa de Vida, 1960-2002 , por Região do Banco Mundial Expectativa de vida (anos) Taxa de alteração por década (anos) Região 1960 1990 2002 1960–90 Baixa e media renda 45,2 63 65 6,3 Leste Asiático e Pacífico (China) 1990–2002 1,7 39 67 70 9,3 2,5 (36) (69) (71) (11) (1,7) Europa e Ásia Central n/a 69 69 n/a 0,0 América Latina e Caribe 56 68 71 4,0 2,5 Oriente Médio e Norte da África 47 64 69 5,7 4,2 Sul da Ásia 44 58 63 4,7 4,2 (44) (59) (64) (5) (4,6) 40 50 46 3,3 –3,3 (Índia) África Subsaariana Alta renda 69 76 78 2,3 1,7 â : âmbito mundial 57 70 72 4,3 1,7 Fonte: Banco Mundial 2004 Nota: Os registros representam a média de expectativas de vida para homens e mulheres. • Em 1977, a varíola já estava erradicada em todo o mundo. • A pólio perdura apenas em poucos países. • Difteria, coqueluche, sarampo e tétano são raros ou inexistentes em muitas partes do mundo. • A mortalidade infantil, embora ainda seja elevada em muitos lugares, caiu em quase todas as partes do mundo. • A média de expectativa de vida aumentou – embora com reveses – em todo o mundo. De 1960 a 2002, a expectativa média de vida subiu de 36 para 71 anos na China, de 56 para 71 anos na América Latina e no Caribe, de 47 para 69 anos no Oriente Médio e Norte da África e de 44 para 63 anos no Sul da Ásia. Mesmo na África Subsaariana, a expectativa média de vida aumentou de 40 para 50 anos em 1990, caindo novamente para 46 anos em 2002, devido, em grande parte, à disseminação da epidemia de HIV/AIDS (Tabela 1.1). Embora a expectativa de vida nos países de renda elevada ultrapasse a das regiões em desenvolvimento, a convergência é perceptível. Em 1910, por exemplo, um homem nascido nos Estados Unidos poderia esperar viver 49 anos, mas se tivesse nascido no Chile, sua expectativa de vida teria sido de apenas 29 anos. Em contraste, no final da década de 1990, a expectativa de vida nos EUA já havia alcançado 73 anos e a do Chile 72. 4 Prioridades em Saúde| RESPONSABILIDADE POR GANHOS EM SAÚDE Inúmeros fatores são responsáveis pelas conquistas notáveis e generalizadas em saúde humana no século XX, inclusive pela mudança demográfica, aumento da produtividade, urbanização, aumento da oferta de alimentos, ciência médica, saneamento e mudanças institucionais. Algumas análises históricas focalizam um único fator crítico quando buscam aquele que serve de base para os outros, enquanto outras abordagens enfatizam a interrelação entre vários fatores. Esforços para entender as extraordinárias mudanças em saúde humana no século XX envolveram a exploração de teorias da história e da natureza das causas e como elas contribuíram para o estudo da epidemiologia. Há muitas explicações possíveis, mas para nossa finalidade – obter lições dessa trajetória histórica sem precedentes – duas mensagens claras sobressaem: • O crescimento da renda, por si só, não pode responder pelas impressionantes melhorias em saúde no século passado, nem pode ser considerado a única estratégia para o progresso da saúde no futuro. • O progresso técnico, no sentido amplo, funciona. Ele tem sido, e pode ser, a base para ganhos substanciais em saúde, mesmo se o crescimento da renda for pequeno ou estagnado. “O progresso técnico tem sido a base para ga- Embora o desenvolvimento econômico e o crescimento da renda estejam certamente entre os fatores que ajudam a explicar os notáveis avanços da saúde no século XX, a redução da mortalidade na Europa teve tímida correlação com períodos de crescimento econômico no século XIX e início do século XX. Experiências mais recentes em muitos lugares como Cuba, Sri Lanka e o Estado de Kerala na Índia demonstram que extraordinárias melhorias na saúde podem ocorrer sem que as rendas sejam elevadas ou estejam em rápido crescimento. O ritmo das melhorias em saúde em tantos países diferentes, com diferentes níveis de desenvolvimento econômico e com taxas distintas de crescimento da renda demonstra que outros fatores podem desempenhar e realmente desempenham um papel importante. Um número cada vez maior de estudos atribui os incríveis avanços em saúde no século passado não tanto ao aumento da riqueza quanto ao progresso técnico. Neste contexto, progresso técnico significa qualquer avanço no conhecimento que proporcione melhorias de ordem prática. Inclui o desenvolvimento e aplicação de tratamentos sofisticados, tais como transplantes de órgãos e angioplastia e também tratamentos simples, como a reidratação oral, por meio da qual uma criança com diarréia recebe líqui- nhos substanciais em saúde, mesmo se o crescimento da renda for pequeno ou estagnado.” Realizações, desafios e prioridades | 5 “A criação de sistemas de previdência social e serviços nacionais de saúde é um outro aspecto desse tipo de progresso técnico” 6 Prioridades em Saúde| dos contendo alguns ingredientes simples para beber, evitando a morte por desidratação. Inclui progresso em cuidados preventivos, tais como vacinas novas, mais eficazes e de mais fácil administração, além de simples modificações de comportamento, por exemplo, como manter os recém-nascidos aquecidos e garantir que seu cordão umbilical esteja limpo e livre de infecção. Inclui também métodos inovadores de prestação de tratamento padrão – tais como o tratamento de curta duração supervisionado (DOTS), uma estratégia divulgada internacionalmente que tem combatido com eficácia a disseminação da tuberculose (TB) em muitos países. O progresso técnico inclui também inovações institucionais e gerenciais. Essas inovações podem significar a organização e administração de funções de saúde pública pela primeira vez em um país ou desempenhálas de maneiras novas e mais eficazes. Podem abranger também a identificação e treinamento de novos quadros de profissionais de saúde, o desenvolvimento de novos meios para acompanhar uma doença e depois direcionar campanhas de vacinação, ou medidas para melhorar o acesso e a qualidade do tratamento. Na esfera da economia e política pública, o progresso técnico inclui melhorias na alocação de recursos em decorrência de estudos sobre a eficácia das intervenções e estratégias, bem como a avaliação de sua relação custo-efetividade. Engloba o desenvolvimento de novos métodos de financiamento de sistemas de saúde, tais como mobilizar recursos públicos ou juntar recursos financeiros, além de novas estratégias para o pagamento de fornecedores e compra de serviços de saúde. A criação de sistemas de previdência social e serviços nacionais de saúde é um outro aspecto desse tipo de progresso técnico que ajuda a proteger milhões de famílias contra os elevados custos das doenças e lesões graves. O DCP2 apresenta de que maneiras a ação coletiva, por meio de financiamento público, proporcionou ganhos de saúde substanciais para a sociedade. O progresso técnico ocorrido fora do setor saúde também contribuiu para a melhoria da saúde. Particularmente, o aumento da produtividade agrícola melhorou a nutrição de uma grande parte da crescente população mundial. Além disso, melhorias na infra-estrutura, tais como habitação, saneamento, água potável e estradas seguras, prestaram contribuições significativas para a saúde. Investimentos em educação, que ajudam a aumentar o nível de alfabetização e, portanto, facilitam a difusão de mensagens sobre vida saudável, também tiveram impacto importante. Quando países adotaram mudanças técnicas como essas, a saúde das pessoas melhorou, mesmo na ausência de riqueza social ou crescimento econômico. De 1950 a 1980, países de renda baixa e média, tais como o Chile, Costa Rica, Cuba e Sri Lanka, adotaram métodos básicos para a me- lhoria da saúde pública, tais como saneamento, imunização de rotina e melhor assistência ao nascimento, com notável redução da mortalidade materna, de recém-nascidos e de crianças. Países com perfis econômicos semelhantes que não adotaram tais medidas ficaram para trás. Uma análise econométrica entre países demonstra que os que fizeram rápido progresso técnico reduziram a mortalidade de bebês em 5% ao ano em comparação com países que tiveram pouco ou nenhum progresso técnico.2 Mesmo países pobres com instituições públicas deficientes, bem como países mergulhados em conflitos violentos, fizeram importantes avanços em saúde por meio de campanhas de vacinação que erradicaram a varíola em todo o mundo, eliminaram a pólio na maior parte do mundo ou controlaram outras doenças infecciosas endêmicas. Com a adoção do progresso técnico em suas inúmeras formas, o avanço em saúde é possível. Os ganhos em saúde do século passado não foram apenas inéditos, mas a sua relação direta com as tendências de crescimento econômico e com a capacidade institucional local é surpreendente. Na realidade, “o aumento da renda não é necessário nem suficiente para os avanços sustentados em saúde. As ferramentas atuais para a melhoria da saúde são tão poderosas e seu custo é tão baixo que as condições de saúde podem ser razoavelmente boas, mesmo em países onde as rendas são baixas.” (DCP2, Capítulo 1, pág. 8) “...os países que fizeram rápido progresso técnico reduziram a mortalidade de bebês em 5% ao ano em comparação com países que tiveram pouco ou ne- SAÚDE E CRESCIMENTO ECONÔMICO nhum progresso técnico.” Os pesquisadores freqüentemente não levam em consideração a importância dos extraordinários ganhos em saúde do século XX para o bem-estar humano por serem difíceis de quantificar e também porque outra medida de bem-estar – o aumento da renda nacional – é o indicador-padrão do progresso de um país. Vários estudos têm procurado corrigir esse problema calculando o valor, em termos monetários, do aumento da longevidade. Quando o valor desses anos de vida adicionais é somado à renda nacional, o resultado – conhecido como renda total – aproxima-se melhor da medida do bem-estar humano. Cálculos desse tipo feitos para os Estados Unidos demonstraram que a taxa em que o aumento da longevidade elevou o bem-estar dos americanos foi igual ou superior ao aumento de 600% da renda real durante a primeira metade do século XX. A atenção dispensada ao valor do aumento da longevidade também atenua 2 Especialmente com relação ao diferente ritmo de progresso técnico demonstrou também que o efeito da saúde sobre a renda é significativamente mais forte do que o efeito da renda sobre a saúde. Para saber mais sobre os benefícios econômicos da saúde, ver DCP2, Capítulo 1 Realizações, desafios e prioridades | 7 “...a taxa em que o aumento da longevidade elevou o bem-estar dos americanos foi igual ou superior ao aumento de 600% da renda real durante a primeira metade do século XX.” as avaliações da desigualdade global porque, desde a década de 1950, a expectativa de vida dos países mais pobres se vem aproximando da expectativa de vida desfrutada pelos países de renda mais elevada. Os pesquisadores também subestimam a importância dos avanços em saúde para o bem-estar humano: uma saúde melhor por si só contribui para o crescimento econômico. Na verdade, embora o crescimento econômico não seja essencial para a saúde, a saúde pode ser crucial para o crescimento econômico. Inúmeros estudos têm demonstrado que, quanto mais saudáveis, mais produtivas são as pessoas. Esses estudos incluem experimentos focados, tais como demonstrações de que os trabalhadores agrícolas são mais produtivos após serem tratados de anemia. Incluem também uma ampla pesquisa histórica. A qual indica, por exemplo, que a metade do crescimento britânico durante a Revolução Industrial pode ser atribuída à melhor nutrição e, portanto, a trabalhadores mais saudáveis e mais produtivos. Estudos entre países demonstraram que as reduções na mortalidade de adultos foram responsáveis por 10 a 15% do crescimento econômico de 1960 a 1990 e que um ano a mais de expectativa de vida contribui para um incremento sustentado de 4% na renda nacional. EQUIDADE “...a metade do crescimento britânico durante a Revolução Industrial pode ser atribuída à melhor nutrição” 8 Prioridades em Saúde| A perspectiva histórica ampla sobre saúde humana é animadora de várias formas. As tendências principais são positivas, com ganhos sem precedentes, amplos avanços e condições de saúde convergentes. Entretanto, essas tendências positivas escondem o progresso desigual que tem deixado muitas pessoas para trás e em desvantagem. Nenhum processo de definição de prioridades e elaboração de estratégias para a melhoria da saúde pode ignorar as grandes desigualdades generalizadas. Como observa o DCP2 (Capítulo 1, pag. 5), “em um número demasiadamente elevado de países as condições de saúde permanecem inaceitáveis e desnecessariamente precárias. Esse fator é fonte de tristeza e sofrimento e constitui um freio notável no crescimento econômico e na redução da pobreza.” Graças às atuais ferramentas e recursos, as condições de saúde podem ser razoáveis em todos os lugares, mas para inúmeras pessoas condições de saúde “razoáveis” não são a regra. As crianças nascidas em países de baixa renda têm muito menos possibilidade de levar uma vida longa e com boa saúde do que as nascidas nos países de renda mais elevada. As mulheres geralmente vivem mais que os homens, mas sua vida tende a ser marcada por uma saúde mais frágil (DCP2, Capítulo 10). Nas sociedades que negam às mulheres direitos de herança, expressão política, direitos legais ou educação, essas mulheres são acometidas por mais doenças e lesões e têm menos acesso a tratamento e serviços. Outros grupos socialmente marginalizados, sejam eles grandes grupos como populações indígenas, moradores das áreas rurais e trabalhadores migrantes ou grupos menores, tais como profissionais do sexo e crianças de rua, sofrem de cargas de doenças excessivas semelhantes. A eqüidade é um importante subtexto em todo o DCP2.3 Cada capítulo dedicado a uma doença específica ressalta a distribuição da carga da doença e identifica onde essa carga está concentrada, se em determinadas regiões ou populações. Os debates sobre as intervenções avaliam sua eficácia com relação aos diferentes agrupamentos por idade, gênero, cultura e nível social e as análises dos mecanismos de prestação de serviços abordam as barreiras ao acesso a cuidados de saúde apropriados e oportunos quando essas barreiras variam entre os grupos populacionais. Como observam os autores do capítulo sobre gestão integrada de enfermidades predominantes na infância (IMCI): “O desafio de aumentar a eqüidade não é exclusividade da IMCI ou da sobrevivência infantil; ele afeta praticamente todas as intervenções e estratégias de prestação de serviços. Salvo se as considerações sobre eqüidade passarem a fazer parte da formulação de políticas e dos resultados do monitoramento, as intervenções podem ampliar, em vez de reduzir, os hiatos de desigualdade.” (DCP2, Capítulo 63, pág. 1189, grifo acrescentado). As desigualdades em saúde, muitas das quais são perfeitamente visíveis, podem ser documentadas quando os pesquisadores separam as análises por divisões relevantes da sociedade, como por exemplo, idade, gênero, renda, etnia ou região. Os padrões de desigualdade resultantes podem ser observados em três níveis diferentes: grandes disparidades de condições de saúde, diferença no acesso e utilização dos serviços de saúde e exposição desproporcional aos riscos à saúde. Padrões de desigualdade de condições de saúde O quadro animador pintado pelo aumento das médias globais esconde as substanciais disparidades de saúde entre diferentes regiões do mundo e diferentes categorias de renda, gêneros e grupos etários. Uma criança nascida na Etiópia hoje, por exemplo, tem 20% de chance de morrer antes dos cinco anos de idade, em comparação com menos de 1% de possibilidade para uma criança nascida na América do Norte ou na Europa Ocidental. No período de 1990 a 2002, a taxa de mortalidade de crianças com menos de cinco anos permaneceu inalterada ou aumentou em 27 países. O risco de uma mulher morrer de parto é de menos de 20 em cada 100.000 nascimen- “As mulheres geralmente vivem mais que os homens, mas sua vida tende a ser marcada por uma saúde mais frágil” “No período de 1990 a 2002, a taxa de mortalidade de crianças com menos de cinco anos permaneceu inalterada ou aumentou.” 3 A questão de equidade é abordada em praticamente todos os capítulos do DCP2. A discussão mais explícita encontra-se no Capítulo 3. Veja também os Capítulos 9, 10, 59 e 63. Realizações, desafios e prioridades | 9 “A excessiva carga de doenças entre as mulheres não é exclusivamente resultado de doenças relacionadas com as condições maternas.” “Os níveis de cobertura de intervenções eficazes para melhorar a sobrevivência infantil são notavelmente baixos na maioria dos países em desenvolvimento.” 10 Prioridades em Saúde| tos em países de renda alta, contudo essa média ultrapassa 900 para cada 100.000 nascimentos nos países com renda mais baixa do mundo. O progresso na redução da mortalidade materna tornou-se mais lento e até reverteu em alguns países; portanto, o hiato está se ampliando. A excessiva carga de doenças entre as mulheres não é exclusivamente resultado de doenças relacionadas com as condições maternas, mas inclui uma maior incidência de doenças que resultam da desigualdade de papéis desempenhados pelos gêneros; por exemplo: na África Subsaariana, as adolescentes do sexo feminino têm de 5 a 16 vezes mais possibilidade de serem infectadas pelo HIV do que os adolescentes do sexo masculino. Na China, Índia e outras partes do Sul da Ásia, a negligência sofrida por crianças do sexo feminino, abortos seletivos, violência e outras causas de mortalidade excessiva arruínam a vida da mulher, levando às estimativas assustadoras de milhões de mulheres que, portanto, não fazem parte das contagens de população. Em muitas das antigas repúblicas soviéticas, a expectativa de vida entre os homens sofreu redução na década de 1990 devido a um aumento no alcoolismo e à deterioração da infra-estrutura de saúde básica. Aquela que é de longe a pior calamidade dos últimos anos atingiu a África Subsaariana, onde o HIV/AIDS está reduzindo a expectativa média de vida e aumentando a mortalidade causada por infecções oportunistas, TB, malária e desnutrição. Grandes disparidades em saúde também podem ser encontradas dentro de um mesmo país. A China Ocidental, por exemplo, está aquém das regiões costeiras mais ricas da China em perfil de saúde e as populações indígenas dos países da América Latina têm vida mais curta e menos saudável do que outros segmentos da população. Com efeito, os pesquisadores regularmente concluem que na maioria dos países as pessoas de baixa renda vivem menos e com menos saúde do que os ricos. Padrões de desigualdade em provisão de serviços de saúde A desigualdade também é evidente nas diferenças em serviços de saúde, a saber: • Os níveis de cobertura de intervenções eficazes para melhorar a sobrevivência infantil são notavelmente baixos na maioria dos países em desenvolvimento. Uma análise dos 42 países responsáveis por 90% das mortes infantis do mundo demonstrou que somente duas das nove intervenções-chave atingiram mais da metade de todas as crianças. • Em 1999, parteiras qualificadas assistiram a menos de metade das mulheres que deram à luz na África Subsaariana. • Um terço da população do mundo não tem acesso efetivo a medicamentos modernos essenciais ou a vacinas. Cerca de 65% das pessoas na Índia e 47% na África Subsaariana simplesmente não conseguem obter remédios essenciais quando necessitam deles. “65% das pessoas na Índia Várias barreiras diferentes excluem as pessoas de receber o cuidado de saúde apropriado. Conforme está ressaltado no capítulo do DCP2 relativo a diferenças de gênero (Capítulo 10), essas barreiras podem ser divididas em barreiras relacionadas a serviços, a clientes ou a instituições e tendem a afetar as mulheres de forma desproporcional da seguinte maneira: não conseguem obter remé- e 47% na África Subsaariana simplesmente dios essenciais” • Fatores de serviços incluem os altos custos de cuidados e transporte, distâncias dos serviços e o tempo necessário para chegar até eles, cuidados de má qualidade ou inadequados, atitudes negativas do pessoal e diferenças culturais e lingüísticas. • Fatores de clientes incluem restrições sociais e culturais à mobilidade das mulheres e a inferioridade de suas rendas e riqueza; as cargas de tempo maiores para as mulheres devido aos papéis familiares que lhes são socialmente atribuídos; e as informações limitadas que recebem sobre suas necessidades e direitos de saúde e sobre a disponibilidade de serviços. • Fatores institucionais incluem o controle masculino sobre a formulação de decisões, os orçamentos e recursos da saúde; percepções locais de doença; normas locais de tratamento; e estigma e discriminação em ambientes de saúde. Embora os detalhes variem, outros capítulos do DCP2 apresentam uma grande variedade de barreiras que limitam o acesso ao tratamento de recém-nascidos, profissionais do sexo e várias outras populações desfavorecidas. Padrões de desigualdade em exposição aos riscos à saúde As diferenças das condições de saúde também são o resultado de diferentes exposições aos riscos à saúde. Muitas dessas diferenças estão associadas com a pobreza e são apresentadas em diversos capítulos do DCP2, inclusive os que tratam da água e saneamento (Capítulo 41), tratamento neonatal (Capítulo 27), desnutrição (Capítulo 28) e poluição do ar em ambientes internos provocada por fogões (Capítulo 42). Muitos riscos estão associados a ocupações de risco e fisicamente desgastantes (Capítulo 60). Outros ainda estão associados a condições climáticas e geográficas particularmente importantes para a malária (Capítulo 21), cegueira do rio “Muitos riscos estão associados a condições climáticas e geográficas particularmente importantes para a malária, cegueira do rio, infestações por vermes... e doenças tropicais.” Realizações, desafios e prioridades | 11 (Capítulo 50), infestações por vermes (Capítulo 24) e uma grande variedade de doenças tropicais (Capítulos 22 e 23). Equidade e progresso técnico “desigualdades em saúde surgiram, em grande parte, da adoção e implementação desigual de intervenções em saúde associadas com o progresso técnico.” Como surgem essas desigualdades de condições de saúde, de serviços de saúde e de exposição ao risco? Muitos fatores desempenham um papel que varia desde acidentes climáticos ou geográficos até repressão política e descaso. Apesar do amplo debate sobre alguns aspectos da natureza e origens das desigualdades em saúde, a maioria dos peritos tende a concordar que essas desigualdades surgiram, em grande parte, da adoção e implementação desigual de intervenções em saúde associadas com o progresso técnico; ou seja, elas surgiram, basicamente, porque intervenções custoefetivas foram empregadas em alguns lugares e não em outros, ou para grupos privilegiados e não para outros grupos. Nos locais onde os frutos do progresso técnico não foram disponibilizados, as pessoas foram deixadas para trás e alguns hiatos se tornaram ainda maiores. Por exemplo: entre os 12 milhões de mortes infantis analisadas em 1998, quase 4 milhões foram causados por doenças para as quais existem vacinas eficazes disponíveis. Intervenções custo-efetivas e relativamente baratas para muitas doenças que podem ser prevenidas com vacinas, diarréia, pneumonia, TB e malária resultaram em uma redução da carga dessas doenças para apenas 0,3% do total onde essas intervenções foram empregadas. Onde essas intervenções não foram implantadas, essas doenças evitáveis respondem por 11,7% da carga da doença (Tabela 1.2, Figura 1.2). Tabela 1.2 Gastos com saúde por nível de renda do país, pública e privada, 2001 Grupo de países Despesas com saúde per capita (2001 em US$) Despesas Despesas públicas com saúde, com saúde % total do PIB percentual do total Baixa renda 23 4,4 26,3 Renda média 118 6,0 51,1 Alta renda (países da União Monetária Européia) â : âmbito mundial 2.841 10,8 62,1 1.856 9,3 73,5 500 9,8 59,2 Fonte: Banco Mundial 2004, Tabela 2.14 12 Prioridades em Saúde| Figura 1.2 Principais causas de morte de pessoas de todas as idades, Banco Mundial, por região Percentual do total de mortes 70 60 50 40 30 20 10 doenças cardiovasculares neoplasmas malignos lesões Á aa fric ria a na bs su E sia uro Ce pa nt e ra l La tin A m a e é ri Ca ca rib Or ie e No nt rte e M de éd Á io e fri ca Su ld a Á sia Á e Le st e d Pa a Á cí sia fic o 0 infecções respiratórias doenças crônicas do pulmão HIV/AIDS Fonte: DCP2 2006, capítulo 33, figura 33.1. UMA AGENDA PARA A AÇÃO A melhoria geral das condições de saúde no mundo ainda está deteriorada por um excessivo número de casos de negligência ou não-aplicação de ações de políticas públicas para salvar vidas. O que pode ser feito para corrigir as desigualdades e, ao mesmo tempo, sustentar e aumentar os ganhos históricos em saúde? O DCP2 aborda esse desafio com as evidências mais recentes e análise da relação custo-efetividade. Identifica as intervenções e mudanças políticas específicas com o maior potencial de progresso em saúde. Essas medidas incluem a aplicação de conhecimento sobre intervenções custo-efetivas em saúde em um maior número de ambientes, melhorando as políticas e as plataformas que apóiam a prestação de cuidados de saúde de qualidade e reduzem as barreiras ao acesso, gerando conhecimento em áreas prioritárias e mobilizando recursos financeiros e recursos humanos adicionais. Realizações, desafios e prioridades | 13 “Uma grande carga de Aplicação do conhecimento para selecionar bem as intervenções doenças nos países de O DCP2 apresenta os conhecimentos de que dispomos sobre as intervenções em matéria de saúde que funcionam para uma ampla gama de doenças, lesões e deficiências em vários contextos diferentes. Uma grande parcela da carga de doenças nos países de baixa e média rendas é atribuída a doenças para as quais já são conhecidas e já estão disponíveis tratamentos custo-efetivos. É importante selecionar o tratamento correto para uma determinada doença e um determinado contexto. O DCP2 demonstra de que forma os formuladores de decisão podem usar informações sobre a relação custo-efetividade juntamente com informações sobre a prevalência de doenças e enfermidades evitáveis para determinar quais intervenções devem ser ampliadas e quais devem ser questionadas. Se os países intensificarem as intervenções e ampliarem os serviços de saúde custo-efetivos, o impacto sobre a carga de doenças pode ser grande. baixa e média rendas é atribuída a doenças para as quais já são conhecidas e já estão disponíveis.” Melhoria dos sistemas de saúde A melhoria dos sistemas de saúde e a redução de barreiras aos cuidados de saúde representarão uma melhor implementação de intervenções em saúde. O DCP2 dispensa grande atenção ao fortalecimento dos sistemas de saúde porque as intervenções – independentemente do cuidado com que sejam escolhidas – são quase impossíveis de serem feitas sem esses sistemas. Como ressalta o DCP2 (Capítulo 3, p.85): “Os dados sobre custoefetividade refletem em grande parte o que pode ser obtido com um sistema de saúde que funcione razoavelmente bem. Nesse sentido, pode-se considerar que eles representam um custo-efetividade potencial e precisam ser complementados com provas e orientação sobre como os sistemas de saúde podem ser reforçados para proporcionar intervenções com eficácia, eficiência e eqüidade” (grifo acrescentado). Os sistemas podem ser reforçados, a cobertura pode ser ampliada e a distribuição igualitária pode ser alcançada de várias formas, tais como o aumento da infra-estrutura dos serviços, a redução dos custos, a melhoria da qualidade e o estabelecimento da transparência na alocação de recursos. O aumento da contribuição de populações carentes também é imperativo, pois, como argumenta o DCP2 (Capítulo 3, p.89): “O fortalecimento das estruturas de responsabilização dos sistemas frente às comunidades e a introdução de mecanismos para garantir que os usuários tenham voz ativa nos sistemas de saúde locais e possam influenciar as prioridades, provavelmente são importantes para estimular um bom desempenho.” 14 Prioridades em Saúde| Definição das prioridades para a pesquisa Os benefícios das pesquisas em saúde são extremamente elevados, como demonstram os potenciais ganhos em saúde que podem ser obtidos empregando-se o conhecimento disponível atualmente. A alocação de recursos em pesquisa hoje permitirá maiores ganhos em saúde amanhã, mas esses recursos precisam ser bem direcionados. Uma área prioritária para a pesquisa é encontrar tratamentos custo-efetivos para doenças negligenciadas que respondem por uma elevada carga, especialmente entre as populações mal atendidas. Outra área essencial de pesquisa são todos os aspectos da prestação de cuidados de saúde, ou seja, o planejamento da maneira mais eficaz e melhor de obter tratamentos para pessoas que até o momento estiveram excluídas de seus benefícios. Os atuais desequilíbrios de atenção a doenças e prestação de serviços incluem as seguintes áreas: • Desenvolvimento de medicamentos. Das 1.233 novas drogas comercializadas entre 1975 e 1999, somente 13 foram aprovadas especificamente para doenças tropicais. • Financiamento de pesquisas. Embora 85% da carga global de deficiência e mortalidade prematura ocorram no mundo em desenvolvimento, menos de 4% do financiamento global para pesquisa é dedicado aos distúrbios transmissíveis, maternos, neonatais e nutricionais, que constituem a principal carga de doenças nos países em desenvolvimento. • Subutilização dos serviços de saúde pelas mulheres. Esse aspecto foi bem documentado em linhas gerais e para doenças específicas. Por exemplo: embora as mulheres na Índia relatem mais doenças do que homens, os registros dos hospitais demonstram que os homens recebem mais tratamento. Da mesma forma, na Tailândia os homens têm seis vezes mais probabilidade de buscar tratamento clínico para a malária, uma doença que afeta homens e mulheres na mesma proporção (DCP2, Capítulo 10). O DCP2 identifica áreas prioritárias para pesquisa em epidemiologia, intervenções e prestação de serviços de saúde. Mobilização de recursos adicionais A preocupação do DCP2 com a relação custo-efetividade é motivada pelo objetivo de alcançar o maior valor para cada dólar gasto, mas isso não significa que não sejam necessários mais dólares. Um esforço amplo de melhoria da saúde em todo o mundo envolverá custos substanciais. “Uma área prioritária para a pesquisa é encontrar intervenções custo-eficazes para doenças negligenciadas que respondem por uma elevada carga” “Na maioria dos países de baixa renda, os recursos totais disponíveis para intervenções em saúde são nitidamente insuficientes” Realizações, desafios e prioridades | 15 Na maioria dos países de baixa renda, os recursos totais disponíveis para intervenções em saúde são nitidamente insuficientes com relação ao tamanho da carga de doenças e da necessidade de intervenções em saúde. Os países precisam financiar o mais possível suas próprias intervenções em saúde, mas para os países de baixa renda, a ajuda externa é, e continuará a ser, uma importante fonte de financiamento. Embora a ajuda para o desenvolvimento tenha aumentado na última década, inclusive com a participação de novas fundações privadas e a formação de novas iniciativas globais, as promessas têm sido maiores do que a ação e ainda são necessários mais compromissos. Nos países de renda média, os recursos financeiros podem ser menos restritivos em termos absolutos, mas as intervenções em saúde ainda precisam competir com outros usos dos recursos. Se os recursos existentes forem mal gastos ou ineficazes, torna-se mais difícil interceder para obter mais recursos para a saúde quando as decisões sobre a alocação de recursos públicos estiverem sendo formuladas. O DCP2 pode auxiliar nesse processo ajudando o setor de saúde a tornar-se mais eficaz e eficiente. COLOCANDO O DCP2 EM PRÁ TICA A pesquisa, percepção e análise tratadas no DCP2 estabelecem as tendências das principais causas de doença e lesões durante a última década e têm grande importância para os debates das políticas sobre como responder à carga de doença em todo o mundo e reduzi-la. Os atores da política de saúde e formuladores de decisão do sistema de saúde, quer no âmbito de ministérios de saúde nacionais, grandes programas regionais ou programas menores, encontrarão no DCP2 informações atualizadas sobre a carga de doença, sobre intervenções custo-efetivas e sobre a inter-relação entre prevenção e tratamento. Juntamente com o próprio conhecimento de cargas, recursos e capacidades institucionais locais, eles poderão definir melhor as prioridades e selecionar as intervenções mais adequadas para implementar em seu contexto. Outros mais preocupados com a gestão e administração dos sistemas de saúde encontrarão as melhores práticas da atualidade em prestação de serviços de saúde, recomendações para inovação, formas de melhorar a qualidade e estratégias para superar as limitações do sistema. Aqueles cuja principal preocupação é o financiamento dos cuidados de saúde, quer estejam no âmbito de ministérios da fazenda ou envolvidos com assistência internacional, obterão uma valorização do papel da saúde no crescimento econômico e encontrarão provas do grande efeito possível para a saúde quando os recursos forem bem aplicados. Os pesquisadores conhecerão as prioridades-chave para seus campos, 16 Prioridades em Saúde| Box 1.1 Sumário do DCP2 (ver apêndice para obter a lista completa dos autores) Parte 1: Resumo e temas transetoriais A. Resumo 1. 2. 3. 4. Investimento em Saúde Custo-efetividade das intervenções: Visão geral das mensagens gerais Fortalecimento dos sistemas de saúde Prioridades da pesquisa global e desenvolvimento de intervenções B. Temas transetoriais 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. Ciência e tecnologia para controle de doenças: Passado, presente e futuro Prioridades no desenvolvimento de produtos Abordagens econômicas para a valorização da pesquisa global em saúde Melhoria da saúde das populações: Lições adquiridas com experiências em todo o mundo Metas de Desenvolvimento do Milênio para a Saúde: O que será necessário para acelerar o progresso? Diferenças de gênero em saúde Políticas fiscais para a promoção da saúde e prevenção de doenças Financiamento de sistemas de saúde no Século XXI Tendências recentes e inovações na assistência ao desenvolvimento para a saúde Questões éticas na alocação de recursos, pesquisa e desenvolvimento de novos produtos Análise econômica e definição de prioridades Parte 2: Seleção de intervenções A. Doenças infecciosas, saúde reprodutiva e desnutrição 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. Tuberculose Infecções sexualmente transmissíveis Prevenção e tratamento do HIV/AIDS Doenças diarrêicas Doenças que podem ser prevenidas com vacinas Vencendo a malária Doenças tropicais 1: Doença de Chagas, lepra, filariose e oncocercose Doenças tropicais 2: Tripanosomíase africana, dengue e leishmaniose Infestações por vermes Infecções respiratórias em crianças Condições maternas e perinatais Sobrevivência de recém-nascidos Baixa estatura, baixo peso e deficiências de micronutrientes B. Doenças não-transmissíveis e lesões 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. Intervenções em serviços de saúde para câncer nos países em desenvolvimento Diabete: a pandemia e as possíveis soluções Distúrbios mentais Distúrbios neurológicos Doenças cardiovascular Doenças hereditárias da hemoglobina Doenças respiratórias em adultos (continua na próxima página) Realizações, desafios e prioridades | 17 Box 1.1 (continuação) 36. Doenças do rim e do aparelho urinário 37. Doenças da pele 38. Doenças e distúrbios orais e craniofaciais 39. Lesões não intencionais 40. Violência interpessoal C. Fatores de risco 41. Fornecimento de água, saneamento e promoção da higiene 42. Poluição do ar em ambientes internos 43. Poluição do ar e da água: Carga e estratégias de controle 44. Prevenção de doença crônica por meio de dieta e alterações no estilo de vida 45. A crescente carga de risco pela hipertensão arterial, colesterol e obesidade 46. Tabagismo 47. Álcool 48. Abuso ilícito do ópio e derivados D. Conseqüências das doenças e lesões 49. Deficiências de aprendizado e desenvolvimento 50. Perda da visão e da audição 51. Custo-efetividade de intervenções para condições muscoloesqueléticas 52. Controle da dor para pessoas com câncer e AIDS Parte 3: Fortalecimento dos sistemas de saúde A. Fortalecimento dos serviços de saúde pública 53. Vigilância e resposta 54. Informações para a melhoria da formulação de decisões em saúde 55. Resistência a medicamentos 56. Programas de saúde e nutrição comunitária 57. Contracepção 58. Programas de saúde escolar e nutrição 59. Saúde do adolescente 60. Saúde ocupacional 61. Atenuação e alívio de catástrofes 62. Controle e erradicação 63. Gestão integrada da criança doente B. Fortalecimento dos serviços de saúde privada 64. Cuidados básicos em geral 65. O hospital municipal ou distrital 66. Hospitais de referência 67. Cirurgias 68. Serviços médicos de emergência 69. Medicina complementar e alternativa C. Fortalecimento da capacidade e reforma da gestão 70. Melhoria da qualidade de cuidados nos países em desenvolvimento 71. Trabalhadores: criação e motivação da força de trabalho 72. Garantia de suprimento de medicamentos e vacinas apropriadas 73. Gestão estratégica dos serviços clínicos 18 Prioridades em Saúde| enquanto os educadores em saúde pública encontrarão uma ferramenta de ensino de grande utilidade. A riqueza de informações e a análise abordada no DCP2 está estruturada em três partes (Box 1.1). A Parte 1 oferece perspectiva, contexto e visão geral. Expõe as principais mensagens do livro e implicações políticas. O Capítulo 1, “Investimento em Saúde” oferece as perspectivas históricas, apresenta argumentos a favor do investimento em saúde e destaca algumas das novas conclusões do DCP2, tais como a surpreendentemente alta carga de doenças cardiovasculares nos países em desenvolvimento e a importância dos cuidados durante os primeiros 28 dias de vida para a redução da mortalidade infantil. O Capítulo 2, “Custo-efetividade das intervenções” analisa o conjunto de intervenções custo-efetivas para todas as doenças discutidas no DCP2 e depois identifica as “melhores compras” entre elas. Juntamente com informações sobre prevalência local de doenças e capacidade do sistema de saúde, os leitores poderão usar essa análise para decidir quais são as intervenções mais apropriadas para os próprios contextos. Embora a seleção de intervenções seja fundamental, nenhuma intervenção alcançará seu objetivo sem bons mecanismos de fornecimento. O Capítulo 3, “Fortalecimento dos Sistemas de Saúde”, portanto, analisa as evidências sobre os sistemas de saúde, identificando aspectos de melhores práticas e definindo áreas-chave para ampliação da pesquisa e melhoria da prestação e gestão dos cuidados de saúde. O Capítulo 4, “Prioridades para a pesquisa global e desenvolvimento de intervenções”, examina alguns dos atuais hiatos em conhecimento e prioridades urgentes para mais estudo e progresso. Esses quatro primeiros capítulos resumidos são seguidos de 11 capítulos que tratam de temas transetoriais, inclusive as Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDMs), saúde das mulheres, êxitos recentes em saúde pública, ética na alocação de recursos e metodologia sobre custo-efetividade, bem como uma série de questões financeiras e econômicas. Esses capítulos oferecem mais contexto demográfico e econômico e uma discussão geral que informam todos os capítulos subseqüentes sobre doenças específicas, tratamentos e modos de fornecimento, A Segunda Parte do DCP2 volta-se para doenças específicas, fatores de risco e seqüelas e a escolha de tratamentos Está subdividida em quatro categorias, sendo a primeira das quais “Doenças infecciosas, saúde reprodutiva e subnutrição”. Seus 13 capítulos contêm discussões sobre HIV/AIDS (SIDA), TB, malária, diarréia, doenças tropicais e condições maternas e neonatais. A segunda categoria é “Doenças não-transmissíveis e lesões”, com 12 capítulos sobre cânceres, diabete, distúrbios psiquiátricos, doenças cardiovasculares, hemoglobinopatias, lesões intencionais e não-inten- “Embora a seleção de intervenções seja fundamental, nenhuma intervenção alcançará seu objetivo sem bons mecanismos de fornecimento.” Realizações, desafios e prioridades | 19 cionais. A terceira categoria, “Fatores de risco”, oferece oito capítulos sobre tópicos como: poluição do ar e da água, saneamento, obesidade e consumo de tabaco e de álcool. A categoria final, “Conseqüências das doenças e lesões”, oferece quatro capítulos que tratam de distúrbios do desenvolvimento e sensoriais, deficiências e reabilitação, bem como controle da dor. Finalmente, a Parte 3 do DCP2 é dedicada aos sistemas de saúde. “Fortalecimento dos serviços de saúde” é sua primeira categoria, com 11 capítulos que abordam tópicos tais como planejamento familiar, programas de saúde escolar, saúde do adolescente e saúde ocupacional. A segunda categoria, “Fortalecimento dos serviços de saúde individual”, apresenta seis capítulos sobre cuidados primários em geral, hospitais distritais e de referência, cirurgia, cuidados de emergência e medicina alternativa. A categoria final chama-se “Fortalecimento da capacidade e reforma da gestão”, com quatro capítulos dedicados à qualidade dos cuidados, recursos humanos, medicamentos essenciais e gestão de serviços clínicos. Além de seu volume principal, o Projeto de Prioridades no Controle de Doenças deu origem a diversas publicações afins. Entre elas figura o Global Burden of Disease and Risk Factors (Carga global de doenças e fatores de risco) (Lopez e outros, 2006), que atualiza o estudo sobre carga global de doenças de 1990. Ao longo dos anos que se passaram desde aquele primeiro estudo, os métodos para medir a carga de doenças foram aprimorados, novos conjuntos de dados foram disponibilizados e meios para analisar os conjuntos de dados existentes foram modificados e reforçados. O Global Burden of Disease and Risk Factors apresenta esses novos métodos, conjuntos de dados e análises; compila dados epidemiológicos de mortes e deficiências de 2001, por idade, gênero, causa e região; e inclui informações sobre exposição a fatores de risco. O Projeto de Prioridades no Controle de Doenças deu origem também a uma análise dos êxitos em saúde pública que foi publicada com o título: Milions Saved: Proven Successes in Global Health (Milhões salvos: êxitos comprovados em saúde global) (Levine e outros, 2004); a uma edição especial do American Journal of Tropical Medicine and Hygiene intitulada The Intolerable Burden of Malaria What's New What's Needed (A carga intolerável da malária O que é novo o que é necessário) (Breman, Alilio e Mills, 2004); à série de documentos e série de reedições do Projeto de Prioridades no Controle de Doenças (para obter a lista completa, visite o website do Projeto de Prioridades no Controle de Doenças: http://www.fic.nih.gov/dcpp e consulte este volume). ESTE VOLUME Prioridades em Saúde é um volume que acompanha o DCP2. Foi escrito para facilitar o acesso ao conteúdo substancial do DCP2, para sintetizar 20 Prioridades em Saúde| alguns dos principais temas e conclusões do DCP2 e para ajudar os leitores a identificar os capítulos que terão mais importância e relevância para eles. Por intermédio deste volume complementar, os formuladores de políticas, profissionais de saúde, acadêmicos e o público interessado podem conhecer as principais mensagens do DCP2, entender seus principais métodos de análise, avaliar a abrangência das doenças e questões abordadas e ser avisados sobre os capítulos de interesse imediato. O volume de acompanhamento permitirá acesso a um grande volume de informações e de análise constantes do DCP2 e facilitará a discussão sobre o controle de doenças entre colegas de trabalho, com eleitores e com a comunidade em geral. O capítulo seguinte demonstra que o sucesso não é apenas possível, mas tem sido alcançado em todo o mundo em desenvolvimento. Descreve uma série de êxitos em saúde pública que foram documentados como parte do Projeto de Prioridades no Controle de Doenças. O Capítulo 2 demonstra que, apesar da elevada carga de doenças nos países em desenvolvimento, o êxito é possível e tem sido alcançado, mesmo contra todos os prognósticos, e também que não existe uma única receita para o sucesso. O Capítulo 3 descreve a metodologia de custo-efetividade empregada no DCP2 e explica seus usos, sua interpretação e limitações. Os Capítulos 4 e 5 fornecem uma atualização sobre certas doenças, destacando algumas descobertas importantes e estratégias sólidas que resultaram da análise abrangente do DCP2 sobre a carga global de doenças e a gama de tratamentos de saúde atualmente disponíveis. O Capítulo 4 analisa doenças como diarréia, precariedade da saúde materna, HIV/AIDS (SIDA) e malária, responsáveis por grande parte da diferença entre as condições de saúde das pessoas que vivem no mundo em desenvolvimento e daquelas que vivem no mundo industrializado. Em contrapartida, o Capítulo 5 trata de doenças para as quais a carga é equilibrada e os desafios para a melhoria da saúde podem ser semelhantes, como nos casos de doença cardiovascular, diabete, tabagismo e distúrbios neurológicos. Os Capítulos 6 e 7 tratam de questões relacionadas com a implementação de tratamentos e prestação de cuidados. O Capítulo 6 aborda especificamente as conclusões do DCP2 com relação aos diferentes níveis de serviços de saúde e como estes se relacionam entre si; funções específicas dos serviços de saúde, tais como cirurgias e fornecimento de medicamentos, importantes em todo o sistema de cuidados de saúde; e maneiras pelas quais os serviços de saúde podem ser integrados para atender às necessidades específicas de determinados subgrupos, tais como crianças em idade escolar e adolescentes. O Capítulo 7 examina mais profundamente as quatro dimensões do sistema de cuidados de saúde que são fundamen- “apesar da elevada carga de doenças nos países em desenvolvimento, o êxito é possível e tem sido alcançado, mesmo contra todos os prognósticos” “os desafios para a melhoria da saúde podem ser semelhantes, como nos casos de doença cardiovascular, diabetes, tabagismo, e distúrbios neurológicos.” Realizações, desafios e prioridades | 21 tais para torná-lo eficaz: a geração e uso das informações; gerenciamento de serviços para garantir a boa qualidade; treinamento e distribuição de pessoal de cuidados de saúde qualificado; e mobilização e alocação de recursos financeiros. O Capítulo 8 insta a comunidade global a adotar as estratégias e prioridades identificadas no DCP2 para que o progresso da saúde para todos possa continuar. 22 Prioridades em Saúde| Capítulo 2 Êxito no tratamento das prioridades Numa visão mais abrangente, as prioridades em saúde são claras: identificar as intervenções custo-efetivas para as doenças que impõem as maiores cargas – em todo o mundo ou em certas regiões, ou em populações que apresentam grave necessidade ou desigualdade – e determinar de que modo efetuar essas intervenções de forma eficaz, eficiente e igualitária. A ciência e a medicina têm demonstrado que há muitas intervenções que podem ser eficazes. A associação desse conhecimento com as análises econômicas de custo-efetividade identifica as intervenções capazes de alcançar os maiores ganhos em saúde com um determinado nível de recursos. Para transformar esses ganhos em saúde em realidade é necessária a implementação de determinadas intervenções – um desafio que os países com sistemas de saúde eficazes têm mais capacidade para administrar. Já os países que não dispõem de sistemas eficazes precisam melhorar seus próprios sistemas ou criá-los onde eles não existirem. Portanto, embora seja relativamente fácil definir as prioridades em saúde, é muito mais difícil tratá-las, mas não impossível. Na realidade, os investigadores têm documentado cuidadosamente diversos êxitos recentes em saúde pública na busca de ensinamentos que possibilitem outros sucessos. O What Works? Working Group (Grupo de trabalho “O que funciona?”) reunido pela Center for Global Development’s Global Health Policy Research Network (Rede de pesquisa em política de saúde global do Centro de Desenvolvimento Global), colheu indicações dos autores do DCP2 sobre intervenções em saúde pública que obtiveram êxito (Levine e outros, 2004). O grupo de trabalho examinou as indicações e identificou 17 casos que atendiam a 5 critérios explícitos: • Foram implementados em escala significativa: nacional, regional ou local. 23 • Tratavam de um problema de grande importância para a saúde pública medido por anos de vida ajustados à deficiência (AVAD). • Tinham pelo menos cinco anos de duração • Ficou provado que eles eram custo-efetivos, com custo inferior a cerca de US$100 por AVAD evitado. • Documentavam provas de um efeito claro e mensurável sobre os resultados em saúde, não apenas taxas de cobertura ou indicadores de processos. As histórias que estavam por trás desses 17 casos foram então pesquisadas e publicadas em Millions Saved: Proven Successes in Global Health (Milhões salvos: êxitos comprovados em saúde global) (Levine e outros, 2004). O Capítulo 8 do DCP2 apresenta um resumo desses casos e oferece percepções adicionais sobre esses êxitos em saúde pública, inclusive alguns dos fatores que ajudaram a tornar o êxito possível (Box 2.1). Os 17 casos que resultaram do processo de seleção não são os únicos sucessos em saúde pública, nem são necessariamente representativos de êxitos em saúde pública nas últimas décadas1, mas a coleção é um verdadeiro tesouro para os interessados em saúde pública. Todos os casos foram cuidadosamente analisados com relação aos ensinamentos sobre liderança, financiamento, colaboração, estratégias, função do setor público, restrições e muito mais. Uma mensagem importante para a formulação de políticas que emerge desse conjunto de casos é que o êxito pode surgir de várias formas. Os países obtiveram êxitos nos mais desanimadores contextos institucionais e ambientes de políticas; contra doenças dos mais variados tipos, tanto infecciosas quanto não-transmissíveis; e com diversos métodos de intervenção diferentes, inclusive baseados no fornecimento de produtos (como vacinas, por exemplo), prestação de serviços (tais como cuidados prénatais ou cirurgias simples), promovendo a mudança de comportamento (como o uso de preservativos, filtragem da água, ou prática de boa higiene), ou por meio da redução dos riscos ambientais (por exemplo, pulverizando larvicidas ou construindo latrinas). Alguns elementos-chave aparecem com freqüência, como liderança política, inovação tecnológica, consenso de especialistas com relação à abordagem, uso eficaz da informação e recursos financeiros públicos suficientes. Além disso, alguns tipos de desafios podem ser mais fáceis de vencer do que outros, mas nenhum 1 Na verdade, os autores do DCP2 indicaram outras 26 intervenções como exemplos claros de êxito em saúde pública, mas elas tiveram que ser descartadas devido à falta de evidências formais com relação a seus efeitos sobre a saúde. Assim, a ausência de outros casos em Levine e outros (2004) pode estar mais relacionada às deficiências inerentes às atuais práticas de avaliação do que à ausência de realizações em saúde pública. 24 | Prioridades em Saúde| Box 2.1 Programas bem-sucedidos em todo o mundo Além dos seis casos selecionados para serem apresentados no texto, outros êxitos em saúde pública apresentados no DCP2 (Capítulo 8) incluem o seguinte: • Melhoria da saúde entre crianças e adultos. Em 1997, o governo mexicano lançou um projeto de novo programa de bem-estar social para ajudar a tirar as famílias de baixa renda da pobreza por meio de pagamentos em dinheiro em troca por sua participação em programas nutricionais e de complementação, uso de serviços de cuidados de saúde preventiva e básica e freqüência escolar das crianças. Ao término de cinco anos, as crianças das famílias que participaram do programa tinham 12% menos de probabilidade de contrair doenças do que aquelas das famílias que não participaram e suas condições nutricionais haviam melhorado. A saúde dos adultos também havia melhorado. • Controle da doença de Chagas. Em 1991, sete países – Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai, Uruguai e, mais tarde, o Peru – somaram forças como parte da Iniciativa da Organização Panamericana de Saúde para os países do Cone Sul com o objetivo de combater a doença de Chagas por intermédio de uma associação de atividades de vigilância, pulverização de casa em casa e outros métodos de controle de vetores. Em 2000, a incidência da doença havia caído em 94% e em 2001, sua transmissão havia sido interrompida no Chile, Uruguai e em grandes áreas do Brasil e do Paraguai. • Tratamento anti-diarreico. No Egito, o governo lançou um programa nacional no início da década de 1980 para promover o uso de sais de reidratação oral pelas mães, fabricados localmente por meio de uma estratégia em quatro partes que incluiu: adaptar o projeto e a marca do produto para acomodar preferências e costumes locais; fortalecer canais de produção e distribuição, públicos e privados; treinar profissionais de saúde; e engajar-se em marketing social e em campanhas de comunicação de massa. Entre 1982 e 1987, a mortalidade de recém-nascidos e crianças caiu em 36% e 43%, respectivamente. A mortalidade atribuída à diarréia caiu em 82% entre recém-nascidos e 62% entre crianças. • Controle do verme da guiné. Vinte países na Ásia e África subsaariana iniciaram uma campanha global para erradicar o verme da guiné em meados da década de 1980. Liderada pelo Carter Center, Fundo das Nações Unidas para a Infância, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA e a Organização Mundial de Saúde, a campanha promoveu maior segurança da água por meio da construção de poços profundos, controle ambiental e o uso de filtros de pano para a água potável, programas de educação em saúde e gestão, contenção e vigilância de casos. Antes de 1998, foram prevenidos entre 9 e 13 milhões de casos de verme da guiné e a prevalência global caiu em 99%. • Planejamento familiar. Desde a década de 1970, Bangladesh promove o planejamento familiar por meio de um programa de extensão porta-a-porta conduzido por mulheres jovens casadas que fornecem informações sobre limitação do tamanho da família ou maiores intervalos entre as gravidezes e produtos pertinentes. O programa é acompanhado por uma ampla campanha na mídia. O uso de contraceptivos entre mulheres casadas em Bangladesh é hoje de aproximadamente 50%, em comparação com apenas 8% em meados da década de 1970 e o número médio de crianças por família é de 3,3, abaixo dos 7,0 durante o mesmo período. • Prevenção de HIV/AIDS. A Tailândia lançou o Programa 100% de Uso de Preservativos em 1991 para enfrentar a crescente incidência de HIV/AIDS. O programa forneceu caixas de preservativos para bordéis gratuitamente, exigiu o uso de preservativos entre “Entre 1982 e 1987, a mortalidade de recémnascidos e crianças caiu em 36% e 43%, respectivamente. A mortalidade atribuída à diarréia caiu 82% entre os recémnascidos e 62% entre as crianças.” “Em 1998, entre 9 milhões e 13 milhões de casos de verme da guiné já haviam sido evitados e a prevalência global havia caído em 99,%.” (continua na próxima página) Êxito no tratamento das prioridades | 25 “Os casos de sarampo Box 2.1 (continuação) relatados anualmente caíram de 60.000 em 1996 para 117 em 2000.” • • • • “Entre 1990 e 1998, a Polônia obteve uma redução de 30% no câncer de pulmão em homens com idade entre 20 e 44 anos, queda de quase 7% em DCV e uma redução no número de bebês nascidos abaixo do peso.” 26 | Prioridades em Saúde| • os profissionais do sexo e ameaçou os bordéis com penalidades e fechamento pelo nãocumprimento. O uso de preservativos em bordéis aumentou de 14% em 1989 para mais de 90% antes de 1992. O número de novas infecções sexualmente transmissíveis caiu de 200.000 em 1989 para 15.000 em 2001 e a taxa de novas infecções por HIV passou a ser cinco vezes menor entre 1991 e 1993-1995. Eliminação do sarampo. Em 1996, os sete países do sul da África fizeram um acordo sobre uma estratégia de imunização coordenada, apoiada pela melhoria da vigilância e da capacidade laboratorial, para eliminar o sarampo incluindo-o na rotina de imunização de todos os bebês de nove meses de idade e organizando campanhas nacionais de recuperação e de continuidade para crianças entre nove meses e 14 anos. O número de casos de sarampo relatados anualmente na região caiu de 60.000 em 1998 para 117 em 2000. O número de mortes atribuídas ao sarampo caiu de 166 para nenhuma durante o mesmo período. Fluoretação do sal. Na Jamaica, um acordo formal entre o Ministério da Saúde e o único produtor de sal do país lançou a fluoretação do sal em 1987 para prevenir cáries. Em 1995, a prevalência de cáries em crianças entre as idades de 6 e 12 anos já havia caído mais que 80%. Iodação do sal. Em 1993, a China lançou o Programa Nacional de Eliminação de Distúrbios por Deficiência de Iodo. O governo exigiu que os produtores acrescentassem iodo ao sal e aumentou sua capacidade de monitoramento e de fazer cumprir essa exigência para garantir o cumprimento. As taxas totais de bócio em crianças entre 8 e 10 anos caíram de 20,4% em 1995 para 8,8% em 1999. Controle do tabagismo. A Polônia aprovou uma legislação revolucionária em 1995, impondo rótulos agressivos de avisos nos pacotes de cigarros, banindo o fumo dos locais de trabalho fechados e proibindo a venda de tabaco a menores. A África do Sul aprovou uma legislação semelhante em 1999 para fortalecer o imposto anteriormente aplicado de 50% sobre o valor do preço do cigarro no varejo. Entre 1990 e 1998, a Polônia desfrutou de uma queda de 30% no câncer de pulmão entre homens com idade de 20 a 44 anos, uma queda de quase 7% em DCV e um declínio do número de bebês com baixo peso ao nascer. Na década de 1990, a África do Sul testemunhou uma redução de 30% no consumo de cigarro, especialmente entre os jovens e os pobres. Controle da tuberculose. Em 1991, a China lançou um programa de 10 anos em 13 das suas 31 províncias no continente para aplicar a estratégia do DOTS para o controle da tuberculose. O Peru, anteriormente um dos 23 países com alta carga que juntos respondem por 80% dos novos casos de tuberculose (TB) a cada ano, lançou um esforço semelhante no mesmo ano. Dois anos após o início do programa, a China havia alcançado uma taxa de cura de 95% para os casos novos e taxa de cura de 90% para aqueles pacientes cujo tratamento não havia produzido êxito anteriormente Entre 1999 e 2000, o número de pessoas nessas províncias com TB caiu em mais de 37%. No Peru, o programa DOTS alcançou uma taxa de detecção de casos de 70% e uma taxa percentual de cura de 85%. Consequentemente, a incidência da doença caiu 6% ao ano. Fonte: Adaptado do DCP-2 Capítulo 8. ingrediente por si só é suficiente, nem existe uma única combinação que assegure o êxito. Não obstante, essas histórias transmitem a mensagem de que o êxito é possível, está demonstrado e é diversificado. A grande diversidade de abordagens adotadas para a melhoria da saúde apresentadas no DCP2, reforçam esse ponto. O DCP2 não oferece uma única receita para a melhoria da saúde, mas avalia as várias estratégias de intervenção e implementação que funcionaram em diferentes lugares. Este capítulo apresenta apenas algumas dessas histórias de sucesso em saúde pública, escolhidas para ilustrar as mensagens importantes do DCP2 sobre a relação entre escolher intervenções custo-efetivas e fornecêlas com eficácia. Especificamente, esses casos: • obtiveram êxito apesar da precariedade, ou mesmo ausência, de sistemas de saúde (erradicação da varíola) • foram conduzidos de tal modo que fortaleceram sistemas de saúde frágeis (controle da oncocercose [cegueira do rio] e pólio) • foram direcionados especificamente para a criação de um sistema de saúde (melhoria da saúde materna) • ampliaram sistemas de saúde existentes (vacinação contra o Haemophilus influenzae tipo B [Hib]) • Ultrapassaram os limites dos sistemas de saúde (controle do tracoma). “Países obtiveram importantes êxitos em saúde pública, mesmo em condições de extrema pobreza, infra-estrutura de cuidados de saúde frágil ou inexistente e agitação política ou guerra.” ÊXITOS APESAR DE SISTEMAS DE SAÚDE PRECÁRIOS Os países implementaram intervenções custo-efetivas e obtiveram importantes êxitos em saúde pública, mesmo em condições de extrema pobreza, infra-estrutura de cuidados de saúde frágil ou inexistente e agitação política ou guerra. Consideremos a erradicação da varíola em todo o mundo. Em 1980, a Assembléia Mundial da Saúde declarou que a varíola, que é conhecida pelo menos desde 1160 a. C., foi a primeira doença na história a ser erradicada. Essa erradicação foi obtida por meio de uma campanha mundial que alcançou até as áreas rurais mais distantes dos países mais pobres do mundo, países devastados pela guerra e países cujos sistemas de saúde eram precários. Certas características peculiares da varíola moldaram a estratégia e influenciaram o êxito da erradicação. A doença era transmitida diretamente de uma pessoa a outra, sem outros hospedeiros ou vetores, e era relativamente fácil de identificar. Após contrair a varíola, um indivíduo levava de 10 a 14 dias para tornar-se contagiante, mas antes disso, já ficava acamado, reduzindo assim o contato com outras pessoas. Aqueles que “a varíola, que é conhecida pelo menos desde 1160 a. C., foi a primeira doença na história a ser erradicada.” Êxito no tratamento das prioridades | 27 sobreviviam à doença, ou eram adequadamente vacinados, ficavam imunizados pelo resto de suas vidas. Portanto, as próprias características da doença tornaram possível sua erradicação. Os avanços tecnológicos que foram essenciais para combater a doença incluíram não apenas a vacina contra a varíola propriamente dita, mas também a agulha bifurcada, que reduziu os custos e facilitou a vacinação das pessoas. A liderança sustentada e os recursos financeiros também foram cruciais para a campanha de erradicação, mas não foram disponibilizados imediatamente. Inicialmente proposta em 1958, a campanha para erradicar a varíola só teve início realmente em 1967, devido a alterações imprevistas na liderança e no quadro de pessoal da Organização Mundial de Saúde (OMS) e decisões dos Estados Unidos de comprometer recursos substanciais para a campanha. Outro ponto decisivo foi a mudança da estratégia de vacinação generalizada de populações inteiras para uma estratégia de vigilância e bloqueio. Essa chamada estratégia “de anel” envolveu vigilância epidemiológica muito apurada, bloqueio seletivo e vacinação de pacientes e comunidades em resposta a surtos específicos. Essa estratégia foi crucial para a eliminação dos últimos reservatórios de varíola que restaram em cinco países – Bangladesh, Etiópia, Índia, Nepal e Paquistão – mesmo quando um ou mais desses países estavam em crise, em guerra ou agitação civil, ou estavam enfrentando grandes fluxos de refugiados ou extrema pobreza. A campanha contra a varíola desenvolveu uma estratégia de intervenção independente da existência ou não de sistemas de saúde e infraestrutura em alguns dos países e alcançou seu objetivo. Uma doença que, no início da campanha, havia sido responsável por milhões de casos e entre 1,5 e 2 milhões de mortes por ano, e que deixou muitos sobreviventes com profundas cicatrizes ou cegos, três décadas mais tarde havia deixado de existir. ÊXITOS QUE FORTALECERAM SISTEMAS DE SAÚDE PRECÁRIOS Os países alcançaram outras intervenções bem-sucedidas em saúde pública em contextos de sistemas de saúde precários e implementaram-nas de tal forma que também fortaleceram seus próprios sistemas de saúde. O controle da oncocercose na África subsaariana e a eliminação da pólio na América Latina e Caribe são dois exemplos desse processo. Aproximadamente 18 milhões de pessoas vivem em áreas onde a oncocercose é endêmica, 99% delas na África subsaariana (DCP2, Capítulo 22). A doença é causada por um verme microscópico que infecta os humanos 28 | Prioridades em Saúde| por meio da picada da mosca negra que se reproduz nos rios caudalosos. A vítima acaba por ficar infestada de vermes, o que ocasiona uma série de sintomas debilitantes, inclusive a cegueira. Em áreas endêmicas, mais de um terço da população adulta pode ficar cega e a infecção frequentemente atinge 90% da população. Por causa do medo da doença, as pessoas abandonaram extensas áreas de terras férteis nas margens dos rios. Esforços de controle, que foram lançados em 1974, incluíram pulverização aérea semanal dos locais de reprodução para matar a mosca negra, que dissemina a doença, e a distribuição de um novo medicamento ivermectin, que destrói os vermes nos seres humanos. O impacto foi imenso. As principais características do esforço incluíram a colaboração de muitas organizações e órgãos governamentais, parcerias público-privadas com o fabricante do ivermectin e financiamento de longo prazo. Os êxitos iniciais deram origem a compromissos subseqüentes e maiores, de tal modo que de 1974 a 2002, os esforços de controle impediram a transmissão em 11 países da África Ocidental, evitaram 600.000 casos de cegueira, permitiram que 18 milhões de crianças nascessem livres do risco da cegueira do rio e restituíram cerca de 25 milhões de hectares de terras aráveis e seguras para reassentamento e cultivo. Os esforços de controle alcançaram esse êxito apesar da extrema pobreza desses países, a dispersão das populações em aldeias distantes, os inadequados sistemas de saúde dos países, escassez de profissionais de saúde e o imperativo de manter as atividades (inclusive a pulverização aérea semanal ininterrupta do larvicida) a despeito dos conflitos civis e regionais e golpes de estado. Os programas de seguimento enfatizaram a sustentabilidade de longo prazo, porque para destruir todos os vermes é necessário tratamento anual com o medicamento durante 15 a 20 anos e, para esse fim, lançaram um sistema de tratamento conduzido pela comunidade. Por meio dessa estrutura, milhares de comunidades organizam e administram o tratamento de ivermectin localmente. Em algumas áreas os coordenadores do programa de distribuição do ivermectin são os únicos profissionais de saúde que vão a todas as aldeias. Na verdade, algumas pessoas sugerem que embora a estrutura de tratamento conduzido pela comunidade tenha sido originariamente criado para controle da oncocercose, ela poderia ser a espinha dorsal dos sistemas de saúde e ser utilizada para a distribuição de vitamina A, azitromicina (para tratar o tracoma), albendazol (para o tratamento da filariose linfática) e mesmo vacinas e medicamentos contra HIV/AIDS. Assim, “o impacto do bem-sucedido sistema ComDT [tratamento conduzido pela comunidade] transcende o tratamento e prevenção da cegueira do rio. O sistema oferece uma valiosa porta de entrada para outras intervenções em saúde conduzidas pela comunidade em comunidades De 1974 a 2002, os esforços de controle... evitaram 600.000 casos de cegueira, permitiram que 18 milhões de crianças nascessem livres do risco da cegueira do rio e restituíram cerca de 25 milhões de hectares... seguras para reassentamento e cultivo. “ Recentemente, em 1988, 125 países eram endêmicos para a pólio. Até o final de 2003, apenas seis países relataram casos de pólio” Êxito no tratamento das prioridades | 29 “A campanha da pólio deixou uma herança duradoura para os sistemas de saúde da América Latina e Caribe.” 30 | Prioridades em Saúde| negligenciadas, com pouco ou nenhum acesso aos serviços de saúde tradicionais, e um veículo para o fortalecimento do sistema de saúde como um todo nos países em desenvolvimento.” (Levine e outros, 2004, p.62). A eliminação da pólio na América Latina e Caribe oferece alguns exemplos semelhantes. Recentemente, em 1988, 125 países eram endêmicos para a pólio (DCP2 Capítulos 20 e 62). No final de 2003, graças à intensa e bem direcionada campanha de vacinação e vigilância, apenas seis países relataram casos de pólio e nenhum deles estava situado na América Latina e Caribe. A eliminação da pólio enfrenta desafios específicos devido à natureza da doença. O vírus causador é extremamente contagioso e, embora seja geralmente transmitido por contato fecal-oral, pode sobreviver por dois meses fora do corpo, residindo em reservatórios de água, água potável, alimentos e vestuário. A transmissão pode não ser detectada porque 90% ou mais dos portadores não desenvolvem sintomas. Quando se desenvolvem, os sintomas nem sempre podem ser reconhecidos como pólio. Com efeito, um caso evidente e confirmado de paralisia por pólio significa que existem na comunidade outros 2.000 a 3.000 portadores comunicantes cujo único sinal de infecção pode ser uma febre (Levine e outros, 2004, p. 40). A eliminação de tal doença é desafiadora, mesmo onde os sistemas de saúde são sólidos. Com a inclusão da vacina oral anti-pólio no Programa Ampliado de Imunização de 1977, o êxito dos primeiros esforços na América Latina foram impressionantes. Em 1981, a incidência de pólio na região havia caído à metade e o número de países que relataram casos de pólio tinha diminuído de 19 para 11. Em 1984, a cobertura com a vacina havia alcançado 80%. Essa melhoria incentivou a Organização Pan-americana de Saúde a montar uma campanha geral para eliminar a pólio da região. Lançada em 1985, a campanha tinha uma característica notável – a coordenação entre organizações públicas e privadas internacionais, nacionais e regionais. Essa coalizão sem precedentes buscava uma estratégia para fortalecer a vigilância de modo que os profissionais de saúde pudessem identificar, rapidamente responder e bloquear quaisquer surtos. Reforçava também a cobertura da imunização da pólio de modo que, mesmo países com infra-estruturas de saúde menos sólidas e programas de imunização de rotina frágeis, puderam obter resultados impressionantes. Essa intervenção foi feita utilizando-se métodos como dias nacionais de vacinação, que ocorriam duas vezes por ano, em que as crianças com menos de cinco anos eram inoculadas, independentemente de terem sido vacinadas anteriormente ou não. A campanha da pólio deixou uma herança duradoura para os sistemas de saúde da América Latina e Caribe ao enfrentar a doença de tal forma que a campanha tornou-se “o ponto de partida para o fortalecimento de todo o Programa Ampliado de Imunização: para a melhoria da infraestrutura de saúde em toda a região e para a criação de um sistema de vigilância, tão necessário para o monitoramento do impacto das intervenções sobre a redução da pólio e outras doenças” (Levine e outros, 2004, p. 41). Além de melhorar a infra-estrutura e aumentar a capacidade de controle da doença, a campanha da pólio também formulou a capacidade de planejamento nacional de saúde, de modo que os países estão agora adaptando o processo de desenvolvimento de planos de ação anuais da campanha da pólio para outras iniciativas, inclusive a melhoria e ampliação dos serviços de saúde materno-infantil. INTERVENÇÕES CUSTO-EFETIVAS DESTINADAS À CRIAÇÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE As vacinas impedirão algumas doenças e os larvicidas eliminarão alguns vetores, mas essas abordagens não têm nenhuma ligação com os cuidados pré-natais e partos. Para a obtenção de bons resultados nessas questões, é crucial um sistema de saúde que funcione, com acesso igualitário. A experiência do Sri Lanka demonstra de que modo isso pode ser alcançado. A gravidez e o parto são eventos naturais e geralmente exigem pouca ou nenhuma intervenção médica para a mãe ou para o bebê (DCP2, Capítulo 26). Contudo, se uma mulher tiver saúde precária por causa de, digamos, má nutrição, malária, imuno-deficiência, TB, ou doença cardíaca, ela pode enfrentar sérios riscos durante a gravidez e o parto. A redução da mortalidade materna e de recém-nascidos requer medidas preventivas, tais como nutrição adequada e investigação de possíveis riscos. Requer também um ambiente higiênico para o parto e puerpério, cuidado eficaz em caso de emergências, tais como obstruções durante o parto ou hemorragias. Os abortos feitos sem segurança são outro importante fator de risco para a saúde das mulheres. Nos locais onde os sistemas de saúde são precários e, conseqüentemente, as populações não contam com o cuidado apropriado, uma proporção muito maior de gestações pode resultar em complicações, doenças, deficiências permanentes, ou morte da mãe ou do bebê. Millions Saved ressalta que “as intervenções destinadas a detectar problemas de saúde relacionados com a gravidez antes que eles se tornem uma ameaça para a saúde; e a administrar importantes complicações, quando ocorrem, são bem conhecidas e exigem relativamente pouco na “...se uma mulher tiver saúde precária por causa de, digamos, má nutrição, malária, imuno-deficiência, TB, ou doença cardíaca, ela pode enfrentar sérios riscos durante a gravidez e o parto.” Êxito no tratamento das prioridades | 31 “Na década de 1950, as estimativas indicavam que a taxa de mortalidade maternal do Sri Lanka era 500 a 600 para cada 100.000 nascidos vivos. Em 2003 essa taxa já havia despencado para 60.” “O êxito do Sri Lanka está relacionado especificamente à saúde materna, mas ele não teria sido alcançado sem a construção de um sistema de saúde geral robusto e eqüitativo.” 32 | Prioridades em Saúde| utilização de tecnologia avançada, O que é necessário, contudo, é um sistema de saúde organizado e acessível – física, financeira e culturalmente – para que as mulheres dêem à luz em ambiente de higiene; aquelas que corram um risco particularmente alto de apresentar complicações sejam identificadas precocemente, e que a ajuda esteja disponível para responder às emergências quando elas ocorrerem (Levine e outros, 2004, p. 48). Não obstante sua pobreza, é isso que o Sri Lanka tem oferecido. Na década de 1950, as estimativas indicavam que a taxa de mortalidade maternal do Sri Lanka era 500 a 600 para cada 100.000 nascidos vivos. Em 2003 essa taxa já havia despencado para 60 e profissionais de saúde qualificados estavam assistindo 97% dos nascimentos. Esse foi o resultado de esforços contínuos e dedicados por parte do governo para ampliar os serviços de saúde, inclusive cuidados essenciais de saúde materna, com equidade. O Sri Lanka vem buscando alcançar seu objetivo de criar um sistema acessível para todos de várias formas diferentes: colocou intencionalmente recursos nas áreas rurais, tornou os cuidados universalmente gratuitos, forneceu redes de transporte e fortaleceu os sistemas de referência. No desenvolvimento de recursos humanos, tem dedicado atenção especial ao trabalho de parteiras. Outros atributos básicos do sistema do Sri Lanka foram: o bom uso das informações para o monitoramento e planejamento, a melhoria da qualidade dos cuidados e a priorização das populações desassistidas. A estratégia passo a passo do país para fornecer acesso amplo a serviços clínicos específicos, estimular o uso desses serviços e melhorar sistematicamente a qualidade foi facilitada por seu excelente sistema de registro civil e reforçada por um bom sistema educacional, notório por sua equidade de gênero (89% das mulheres do Sri Lanka são alfabetizadas, em comparação com a média do Sul da Ásia de 43%). Ademais, sua dedicação ao fornecimento de serviços sociais para todos tem sido sustentada e é anterior a sua independência, em 1948. O Sri Lanka sempre foi, e continua a ser, um país pobre. Alcançou seu desempenho exemplar em saúde materna não apenas sem importantes inovações tecnológicas, mas também sem gastos elevados. Na verdade, realizou tudo isso com um orçamento espartano. Em números absolutos, os gastos nacionais em saúde materna na década de 1990 foram quase iguais aos da década de 1950, mas o crescimento da receita entre esses dois períodos significou que a sua participação no produto interno bruto (PIB) caiu de 0,28 para 0,16%. Além disso, o financiamento foi em sua maior parte interno, vindo de receitas do governo. Millions Saved sugere que “outros podem inspirar-se no desempenho do país: No final da década de 1950, quando foram feitos os primeiros esforços para tratar do problema de mortes maternas, o PNB [produto nacional bruto] do Sri Lanka era equivalente, em dólares atuais, ao atual produto interno bruto de Bangladesh, Uganda, ou Mali e muito inferior ao do Paquistão, Egito ou Filipinas. Em termos relativos, o Sri Lanka gasta muito menos em saúde – e obtém resultados muito melhores – do que qualquer um desses países” (Levine e outros 2004, p. 54). O êxito do Sri Lanka está relacionado especificamente à saúde materna, mas ele não teria sido alcançado sem a construção de um sistema de saúde geral robusto e eqüitativo. INTERVENÇÕES CUSTO-EFETIVAS QUE DESENVOLVERAM OS SISTEMAS DE SAÚDE EXISTENTES Mesmo nos países que possuem sistemas de saúde fortes e que funcionam, surgem necessidades específicas de novas iniciativas, talvez por causa de uma nova doença, uma grande desigualdade, um problema persistente, ou uma necessidade de melhoria em geral. As soluções podem vir do próprio sistema de saúde, especialmente se esse sistema estiver aberto a idéias, realiza pesquisa e busca formas de melhorar seu desempenho e a saúde da população. A vacinação contra o Haemophilus influenzae tipo B (Hib) no Chile tem uma história como essas (DCP2, Capítulo 20). As doenças causadas por Haemophilus B, incluem a meningite por Hib, que é particularmente letal, matando de 20 a 40% das crianças que contraem a doença e um número menor de adultos, deixando metade dos sobreviventes com deficiências permanentes, tais como surdez ou retardo mental. Em todo o mundo, as doenças causadas por Hib são a principal causa da meningite por bactéria em crianças com menos de cinco anos e a segunda causa mais comum de mortes por pneumonia bacteriana nesse grupo etário. Estima-se que 450.000 crianças morram de doenças causadas por Hib a cada ano. Uma vacina conjugada contra Hib altamente eficaz e de preço relativamente alto está disponível no mercado desde o final da década de 1980. O Chile é um país de renda média com infra-estrutura de saúde moderna e serviços de imunização eficientes, onde 95% dos bebês recebem vacinas de rotina. No final da década de 1980, pesquisadores do Ministério da Saúde assumiram a responsabilidade de fazer as primeiras estimativas sobre a incidência de Hib na área de Santiago. Até aquele momento, não havia informações disponíveis sobre a extensão da doença no Chile. Os pesquisadores analisaram os registros clínicos e de laboratório; estabeleceram a correspondência entre os dados e os registros do censo; e avaliaram a qualidade dos dados, inclusive a probabilidade de eles subestimarem a Êxito no tratamento das prioridades | 33 “..a combinação das vacinas contra difteriacoqueluche-tétano e contra Hib e sua distribuição no sistema estabelecido no Chile era viável” “A incidência de menin- verdadeira extensão da doença. Concluíram que o Hib era um problema muito difundido, com elevada taxa de mortalidade no Chile. Embora houvesse vacinas Hib disponíveis, seu preço era elevado e, apesar de sua comprovada eficácia (seu efeito biológico protetor), havia menos evidência de sua efetividade (impacto sobre uma grande população de bebês que recebia a vacina em condições normais de um serviço de imunização de rotina). Portanto, o Ministério da Saúde planejou e conduziu um estudo de cobertura vacinal, testando uma combinação da vacina contra Hib com a usual vacina contra difteria-coqueluche-tétano, administrada em 36 centros de saúde na área de Santiago, e comparou o resultado com o de 35 centros que não ofereciam a vacina contra Hib. Os resultados desse programa piloto foram extraordinários. O estudo demonstrou não só que a vacina contra Hib era eficaz, mas também que a combinação das vacinas contra difteria-coqueluche-tétano e contra Hib e sua distribuição no sistema estabelecido no Chile era viável para os centros de saúde. Em conseqüência disso, em julho de 1996, o Ministério da Saúde introduziu a vacina no programa de imunização de rotina para bebês de todo o país. A incidência de meningite causada por Hib no Chile caiu em 91% e a da pneumonia e outras doenças causadas por Hib caiu em 80%. Embora o custo da vacina fosse inicialmente elevado, o governo chileno financiou-a inteiramente com recursos públicos de impostos em geral. Desde então o preço caiu de cerca de US$15 por dose em 1996 para cerca de US$3 em 2003. Em 1998, os pesquisadores concluíram que a nação economiza US$78 com cada caso de Hib que é evitado, fornecendo mais provas a favor dos gastos públicos, que continuam. Entre as razões do êxito do Chile estão a força da pesquisa existente e a capacidade de agir sobre os resultados. O fato de já existir um sistema de prestação de serviços, com um programa de vacinação de rotina que atendia 95% dos bebês, também foi fundamental. Em outras palavras, o programa de vacinação contra Hib no Chile foi uma intervenção que obteve êxito porque aproveitou integralmente os benefícios de seu sistema de saúde que já era bom. gite causada por Hib no Chile caiu em 91% e a da pneumonia e outras doenças causadas por Hib caiu em 80%.” 34 | Prioridades em Saúde| INTERVENÇÕES CUSTO-EFETIVAS QUE ULTRAPASSAM OS LIMITES DOS SISTEMAS DE SAÚDE Os exemplos anteriores demonstram que as intervenções em saúde podem ser bem sucedidas em situações de extrema pobreza e até mesmo durante conflitos violentos. Além disso, um exame da história dos ganhos inigualados em saúde humana no Século XX revela que as melhorias em saúde não dependem do desenvolvimento econômico. Como foi ressaltado no Capítulo 1, o progresso técnico – representado pelo conhecimento científico, análise de custo-efetividade e perícia gerencial – pode definir e oferecer intervenções custo-efetivas em quase todos os ambientes. Contudo, como demonstra a batalha contra o tracoma no Marrocos, as possíveis sinergias entre as intervenções em saúde e as melhorias nas condições sociais em geral são significativas (DCP2, Capítulos 50 e 67). O tracoma é uma doença da pobreza. É uma infecção por bactéria contagiosa e infecções repetidas acarretam cicatrizes na córnea e finalmente a cegueira, geralmente entre 40 e 50 anos. A doença é disseminada pelo contato direto com as secreções dos olhos e do nariz das pessoas infectadas, pelo contato com toalhas e vestimentas contaminadas, bem como por moscas. A transmissão da doença é rápida e intensa em situações de superlotação, higiene precária e pobreza. Com o desenvolvimento econômico e a melhora da higiene, o tracoma desapareceu da Europa e América do Norte, mas continua a afligir o mundo em desenvolvimento, particularmente os milhões de pessoas que vivem em regiões quentes e secas, onde o acesso à água tratada, saneamento e cuidados de saúde são limitados. As crianças são suas principais vítimas. Em áreas endêmicas, a taxa de prevalência em crianças entre os dois e os cinco anos chega a 90%. A doença também afeta de forma desproporcional as mulheres que, devido a seu estreito contato com as crianças são infectadas duas a três vezes mais do que os homens. A carga mais pesada de cegueira causada por tracoma afeta as populações da África subsaariana. O tracoma está ligado à pobreza tanto como sintoma e como causa, porque a cegueira decorrente do tracoma atinge as pessoas em sua faixa etária mais produtiva. Inicialmente, o Marrocos lidou com o tracoma como se fosse principalmente um problema médico. Nas décadas de 1970 e 1980, as crianças em idade escolar das províncias mais afetadas eram tratadas com pomada de tetraciclina para os olhos duas vezes por ano, mas esse procedimento não contribuía em nada para melhorar o padrão de vida entre as pessoas de baixa renda das áreas rurais. Assim, embora tenha praticamente desaparecido das áreas urbanas em desenvolvimento, o tracoma disseminouse das áreas rurais mais pobres. No início da década de 1990, uma pesquisa nacional concluiu que mais de 5% da população do Marrocos apresentava sinais de tracoma e que praticamente todos os casos estavam concentrados nas cinco províncias rurais pobres. Em 1991, o Marrocos criou o Programa Nacional de Controle da Cegueira. Essa abrangente parceria incluiu as cinco divisões governamentais responsáveis pela saúde, educação, emprego, equipamentos e água; “....o tracoma desapareceu da Europa e América do Norte, mas continua a afligir o mundo em desenvolvimento” “No início da década de 1990... mais de 5% da população do Marrocos apresentava sinais de tracoma.” Êxito no tratamento das prioridades | 35 organizações internacionais; órgãos bilaterais e multilaterais; e organizações não governamentais locais (ONGs). Entre 1997 e 1999, o governo incorporou a chamada estratégia SAFE (cirurgia, antibióticos, lavagem do rosto, mudança ambiental), uma estratégia comunitária, ao Programa Nacional de Controle da Cegueira. Essa estratégia funcionava da seguinte maneira: “…a melhoria das condições de vida e a higiene da comunidade são essenciais para reduzir a disseminação do tracoma.” “... O Marrocos conseguiu uma queda de 75% na prevalência do tracoma desde 1999 e sua completa eliminação de algumas províncias.” 36 | Prioridades em Saúde| • Cirurgia: um procedimento simples, rápido e barato para salvar a visão dos pacientes, com uma taxa de êxito de 80%. No Marrocos, unidades cirúrgicas móveis, equipadas com médicos e enfermeiros especializados realizavam a cirurgia. • Antibióticos: uma dose de azitromicina para tratar de infecções ativas e reduzir o conjunto de infecções da comunidade. O governo desenvolveu várias estratégias para a distribuição e baseou a doação de medicamentos no reconhecimento de que o tracoma é uma doença comunitária e que se forem tratados somente casos isolados, a infecção pode voltar a ocorrer. • Lavagem do rosto: a lavagem regular do rosto pode quebrar o ciclo de reinfecção e evitar a disseminação da bactéria. Informação, educação e campanhas de comunicação comprovaram sua eficácia na mudança de comportamento das pessoas. • Mudança ambiental: a melhoria das condições de vida e a higiene da comunidade são essenciais para reduzir a disseminação do tracoma. O governo supervisionou a construção de latrinas em 32 aldeias e o fornecimento de água potável em 74. Cerca de 350 associações locais das aldeias também assumiram a responsabilidade de construir latrinas, furar poços artesianos e armazenar esterco animal de forma segura, de modo que ele pudesse ser usado como fertilizante sem disseminar as moscas. O acesso à água potável cresceu de 13% do total de comunidades rurais em 1992 para 60% em 2002. Com o reconhecimento de que a redução da pobreza e a melhoria do nível de alfabetização entre mulheres são fundamentais para a luta contra o tracoma, o governo executou intervenções para aumentar o nível de alfabetização das mulheres e implementou programas econômicos para aumentar sua renda. A adoção do SAFE foi conseqüência do reconhecimento do Marrocos de que, como observou o chefe do Programa de Controle da Cegueira, “o tracoma no âmbito dessas regiões não é estritamente um problema médico, é essencialmente o reflexo de um problema socioeconômico... Os verdadeiros inimigos são as comunidades rurais desfavorecidas, analfabetismo, famílias numerosas, falta d’água, acumulo de dejetos de animais e a proliferação de moscas domésticas. Em suma, o inimigo a combater não é a clamídia, mas a pobreza” (reproduzido de Levine e outros, 2004, p. 86). Com um programa de saúde que intencionalmente vá além do sistema de saúde para incluir e estimular aspectos mais amplos de desenvolvimento econômico, o Marrocos conseguiu uma queda de 75% na prevalência do tracoma desde 1999 e sua completa eliminação de algumas províncias – o mais rápido progresso contra o tracoma jamais registrado em um único país. “. . . quando as intervenções em saúde pública antecipam-se às epidemias e evitam doenças, elas são êxitos invisíveis” CONCLUSÃO A breve discussão deste capítulo apenas abordou superficialmente determinados aspectos de algumas das intervenções bem sucedidas em saúde pública apresentadas no DCP2. É possível aprender muito mais com essas histórias, mas talvez o mais importante seja dissipar o ceticismo em face do que algumas vezes parece ser um desafio avassalador. Ironicamente, quando as intervenções em saúde pública antecipam-se às epidemias e evitam doenças, elas são êxitos invisíveis: apenas os fracassos são notícia. Ao documentar de que modo milhões de pessoas foram salvas por meio de uma ação integrada, o DCP2 e o Millions Saved oferecem uma oportunidade para reconhecermos, comemorarmos e aprendermos com os sucessos; valorizar sua diversidade e assumir um grau de otimismo informado que pode ser outro ingrediente essencial para o sucesso. Êxito no tratamento das prioridades | 37 Capítulo 3 Análise de custo-eficácia A saúde humana apresentou uma extraordinária melhoria no último século, embora ainda persistam graves desigualdades. Para se obter um progresso mais amplo em saúde, vencer novos desafios e corrigir desigualdades, os recursos devem ser aplicados com eficácia. Para tanto, é necessário conhecimento sobre quais intervenções realmente funcionam, informações sobre quanto elas custam e experiência em sua implementação e execução (DCP2, Capítulos 14 e 15). POR QUE UTILIZAR ANÁLISE DE CUSTO-EFICÁCIA? A edição de 1993 do Disease Control Priorities in Developing Countries (Jamison e outros, 1993) foi uma das primeiras iniciativas para orientar as escolhas sobre políticas de saúde pública nos países em desenvolvimento por meio da combinação sistemática de informações sobre intervenções eficazes com informações sobre seus custos. Foi motivada, em parte, por uma idéia de que os países em desenvolvimento estavam negligenciando inúmeras oportunidades de melhoria da saúde e que uma melhor alocação dos parcos recursos poderia alcançar melhores resultados em saúde. A publicação apresentou a análise de custo-eficácia como uma importante ferramenta para a identificação dessas oportunidades negligenciadas e para o redirecionamento de recursos para usos melhores. A análise de custo-eficácia ajuda a identificar as oportunidades negligenciadas dando destaque a intervenções de custo relativamente baixo, mas que têm potencial para reduzir substancialmente a carga de doenças. Por exemplo: todos os anos, mais de um milhão de crianças pequenas morre de desidratação em conseqüência de diarréia. A terapia de reidratação oral (TRO) não reduz a incidência de diarréia, mas diminui extraordinariamente sua gravidade e a taxa de mortalidade associada a ela. A comprovação científica de que a TRO pode salvar vidas foi um passo importante para identificá-la como uma oportunidade negligenciada para a melhoria da saúde. A demonstração de que cada ano de vida salvo pode39 “…nos Estados Unidos... o número de anos de vida economizados poderia ser duplicado se os recursos fossem redirecionados para intervenções mais custo-efetivas” “intervenções que são dispendiosos em relação ao ganho em saúde que proporcionam incluem cirurgia para acidente vascular cerebral recorrente e intervenções baseadas na comunidade para esquizofrenia e transtorno bipolar.” 40 | Prioridades em Saúde ria custar apenas de US$2 a US$4 ajudou a destacar que a TRO era algo que a política pública deveria promover e muitos países responderam com sua adoção, salvando milhares de vidas (DCP2, Capítulos 8 e 19). A análise de custo-eficácia ajuda a identificar formas de redirecionar recursos para alcançar ganhos maiores. Demonstra não apenas a utilidade de deslocar recursos de intervenções ineficazes para intervenções eficazes, mas também a utilidade de deslocar recursos de intervenções menos custo-efetivas para outras mais custo-efetivas. Por exemplo: um estudo realizado pelo Centro Nacional de Análise de Políticas da Universidade de Harvard enfocou 185 tratamentos para salvar vidas que ocorrem nos Estados Unidos todos os anos, ao custo de US$21,4 bilhões, e salvam 592.000 anos de vida. O estudo investigou diferentes formas de alocação desses recursos e concluiu que o número de anos de vida economizados poderia ser duplicado se os recursos fossem redirecionados para intervenções mais custo-efetivas (DCP2, Capítulo 2, Box 3). O DCP2 conta uma história semelhante. Identifica dezenas de intervenções para uma ampla gama de doenças e fatores de risco que são dispendiosos em relação ao ganho em saúde que proporcionam. Entre elas estão tratamentos baseados em hospitais, tais como cirurgia para acidente vascular cerebral recorrente e intervenções baseadas na comunidade para esquizofrenia e transtorno bipolar. Outras intervenções que não são particularmente custo-efetivas incluem o tratamento de infecções de TB latente com isoniazida e normas destinadas a reduzir o uso excessivo de álcool. Se um país retirasse recursos financeiros e esforços desses tipos de intervenção e, em seu lugar, aplicasse-nos em tratamentos relativamente mais custo-efetivos, um número consideravelmente maior de pessoas poderia viver mais e com mais saúde. Se a realocação de recursos financeiros de tratamentos menos custo-efetivos não for viável, ou apropriada, talvez os futuros aumentos de despesas possam ser direcionados para atividades que proporcionarão mais ganhos em saúde. Estudos de custo-eficácia vêm se multiplicando desde 1993 e as técnicas estão se tornando cada vez mais amplamente disseminadas. O DCP2 beneficiou-se da expansão dessa literatura e dedicou-se a comparações consistentes entre doenças e tratamentos. Por exemplo: sempre que foi possível, as análises de custo-eficácia do DCP2 utilizaram as mesmas unidades de preço, indicadores de saúde e definições dos custos incluídos (Box 3.1). Este capítulo apresenta os conceitos e métodos básicos da análise de custo-eficácia, leva em conta algumas de suas limitações e explica de que modo essa análise pode ser e tem sido posta em prática. O capítulo analisa também alguns dos outros fatores contextuais que devem complementar a análise de custo-eficácia no processo de tomada de decisões se os formuladores de políticas utilizarem da melhor forma possível as conclusões apresentadas no DCP2. Box 3.1 Uma Base Coerente para o Cálculo de Custo-Eficácia do DCP2 Unidades para Coeficientes de Custo-Eficácia Os editores do DCP2 solicitaram aos autores de cada capítulo para adotar um método comum de análise de custo-eficácia e usar parâmetros uniformes. Os autores receberam instruções para calcular o custo-eficácia em termos de dólares dos Estados Unidos por AVAD, onde os AVADs eram calculados usando-se os pesos para deficiências fornecidos pela OMS e uma taxa de desconto de 3%. Sem diferenciação por idade Diferentemente de alguns estudos, os editores do DCP2 decidiram não empregar diferentes pesos por idade. Assim, o efeito de salvar a vida de um recém nascido, por exemplo, conta mais do que o de salvar a vida de uma pessoa mais velha, por causa da diferença de expectativa de número de anos de vida, mas não como conseqüência de valorizar mais ou valorizar menos um ano de vida salvo em uma determinada idade do que um ano de vida salvo em outra idade. Base para o cálculo de anos de vida Os cálculos de anos de vida esperados tomaram por base as expectativas médias regionais para cada idade. Esse procedimento tem o efeito de reduzir o custo-eficácia de intervenções em regiões com menor expectativa de vida, mas, dentro de uma região, ele permite uma comparação mais realista entre as intervenções que afetam crianças e aquelas que afetam adultos. Unidades monetárias As principais alternativas para medir custos são: a conversão de todas as moedas para uma moeda amplamente aceita, como dólares dos Estados Unidos usando as taxas de câmbio de mercado; ou convertê-las em dólares internacionais usando um fator de conversão baseado na paridade de poder de compra. A principal vantagem da utilização de dólares internacionais é que eles se ajustam pela diferença real no poder de compra entre uma moeda e outra. Entretanto, o DCP2 decidiu usar dólares calculados por taxas de câmbio do mercado por eles estarem mais de acordo com outras estimativas de custos com as quais os formuladores de políticas estão familiarizados e porque os índices de poder de compra disponíveis baseiam-se na agregação de um espectro completo de preços que pode, portanto, induzir ao erro se for utilizado para analisar um determinado setor com sua própria composição de bens comercializáveis e não comercializáveis. Os dólares internacionais são de mais difícil compreensão e não correspondem à viabilidade financeira refletida nos orçamentos. Custos O DCP2 conta os custos de produção de uma intervenção, mas não, os custos de seu consumo pelos pacientes e suas famílias. Os custos indiretos geralmente não são monetários, especialmente os custos do tempo das pessoas, e são difíceis de estimar com coerência. Quando esses custos são elevados, eles fazem com que as intervenções aparentem não ser custo-efetivas, mas o problema pode estar na localização das unidades de saúde, no quadro dos profissionais e da forma de operar e não nas intervenções que elas oferecem. Fonte: Adaptado do Capítulo 15 do DCP2 Análise de custo-eficácia | 41 “o uso de profissionais de O QUE É ANÁLISE DE CUSTO-EFICÁCIA? saúde não-médicos volun- A análise de custo-eficácia é um método para avaliar os ganhos em saúde com relação aos custos das diferentes intervenções em saúde. Não é o único critério para decidir como alocar recursos, mas é um critério importante, porque estabelece a relação direta entre as implicações financeiras e científicas das diferentes intervenções. O cálculo básico consiste em dividir o custo de uma intervenção em unidades monetárias pelo ganho esperado em saúde medido em unidades naturais, tais como número de vidas salvas. Por exemplo: o uso de profissionais de saúde nãomédicos voluntários e pessoal leigo treinado como primeiros socorristas a acidentes custa aproximadamente de US$128 por vida salva no Sul da Ásia e US$238 no Oriente Médio e Norte da África, enquanto o uso de uma ambulância da comunidade custa cerca de US$1.100 e US$3.500 por vida salva nas mesmas regiões, respectivamente. Quando se mede o custoeficácia em termos de vidas salvas, todas as vidas são tratadas de forma igual, independentemente de ser a pessoa um recém-nascido que viveria mais 80 anos ou uma pessoa de meia idade, que só pode esperar viver por mais 40 anos. Alguns estudos calculam o custo-eficácia utilizando anos de vida perdidos como a unidade natural para medir o efeito das intervenções (Box 3.2). Essa medida trata todos os anos adicionais de vida ganhos com uma intervenção, como iguais. Soma os números de anos de vida que seriam salvos com uma intervenção. Assim, um tratamento que salvou a vida de um bebê (evitando a desidratação por diarréia, por exemplo) contaria mais do que um tratamento intervenção destinada a salvar a vida de uma pessoa mais velha (por exemplo, evitando a recorrência de um acidente vascular cerebral). Como o futuro é incerto, é prática comum (mas não, universal) descontar ganhos em saúde e custos em anos distantes. O DCP2 usa uma taxa de desconto de 3% ao ano, que tem o efeito de fazer com que uma expectativa de vida de 80 anos ao nascer valer cerca de 30 anos descontados. Com o desconto, salvar a vida de um recém-nascido ainda representa mais anos ganhos do que salvar a vida de uma pessoa de meia idade, mas a diferença diminui consideravelmente. Os tratamentos que incorrem em custos hoje e só proporcionam ganhos anos mais tarde aparentam ser menos custo-efetivas com o desconto do que quando são percebidos imediatamente, mas aqueles tratamentos cujos custos e benefícios para a saúde seguem o mesmo padrão de tempo são afetadas de forma igual e seu custo-eficácia relativo permanece inalterado. Não obstante, a prevenção da morte ou o prolongamento da vida não é o único objetivo das intervenções em saúde. Os investigadores propuseram outras medidas para estabelecer a diferença entre um ano de tários e pessoal leigo treinado como primeiros socorristas a acidentes custa aproximadamente de US$128 por vida salva no Sul da Ásia e US$238 no Oriente Médio e Norte da África, enquanto o uso de uma ambulância da comunidade custa cerca de US$1.100 e US$3.500 por vida salva.” 42 | Prioridades em Saúde Box 3.2 Alguns termos técnicos usados pelo DCP2 Coeficiente de custo-eficácia: o custo de uma intervenção dividido pela mudança nas condições de saúde que ela proporciona. A escolha de unidades monetárias para medir os custos e as unidades de saúde para medir o impacto podem variar. Sempre que possível, o DCP2 utiliza dólares dos Estados Unidos por AVAD. Custo-eficácia médio: o custo total do tratamento de um determinado problema de saúde por meio da utilização de uma intervenção específica dividido pelo ganho total em saúde. Custo-eficácia incremental: uma unidade para medir a quantidade de saúde perdida por causa de uma determinada doença ou lesão. É calculada como o valor presente dos anos futuros de vida livre de deficiência que são perdidos em conseqüência das mortes prematuras ou dos casos de deficiência ocorridos em um determinado ano. AVAD: uma unidade para medir a quantidade de saúde perdida por causa de uma determinada doença ou lesão. É calculada como o valor presente dos anos futuros de vida livre de deficiência que são perdidos em conseqüência das mortes prematuras ou dos casos de deficiência ocorridos em um determinado ano. Taxa de desconto: taxa usada para converter custos e benefícios futuros em valores presentes equivalentes. Por exemplo: com uma taxa de desconto de 3%, um custo de US$1 no próximo ano equivaleria hoje a US$0,97 e um custo de US$1 daqui a 10 anos equivaleria a US$0,74 hoje. Intervenção: uma atividade que utiliza recursos humanos, físicos e financeiros numa tentativa deliberada de melhorar a saúde por meio da redução do risco, da duração, ou da gravidade de um problema de saúde (Jamison 2002, Tabela 2). Ano de vida ajustado à qualidade: unidade que mede o ganho em saúde de uma intervenção calculado como o número de anos de vida salvos e ajustados para a qualidade. Anos de vida perdidos: uma medida do impacto de um evento adverso de saúde, geralmente calculado subtraindo-se a idade em que a morte ocorre da expectativa de vida naquela idade. vida em perfeitas condições de saúde e um ano de vida com algum prejuízo para a saúde. Uma das medidas mais comumente utilizadas que tratam dessa questão é o ano de vida ajustado à deficiência (AVAD). Um AVAD mede, não apenas os anos adicionais de vida ganhos com uma intervenção, mas também a melhoria da saúde de que as pessoas conseqüentemente desfrutam. Atribui o valor 1 para um único ano vivido em perfeitas condições de saúde. Qualquer prejuízo à saúde ou deficiência recebe um peso de deficiência que descreve a magnitude do prejuízo, com um peso maior se o prejuízo for grave e um peso menor se a deficiência for leve. O valor de um ano vivido com uma deficiência recebe então um valor de 1 menos o peso da deficiência, que mede o grau de saúde restante. Os pesquisadores atribuíram pesos para a deficiência de várias condições crônicas, dor, deficiência e perda das funções orgânicas utilizando diversos métodos, inclusive pesquisas internacionais que pedem que os indivíAnálise de custo-eficácia | 43 “Uma análise de custoefetividade que medisse, por exemplo, o ganho em saúde pelo número de mortes evitadas encontraria pouco valor na prevenção da oncocercose, mas a medição do ganho em saúde em AVADs atribui um elevado valor à preservação da visão das pessoas” 44 | Prioridades em Saúde duos comparem a qualidade de vida em diferentes condições de saúde. O DCP2 baseou-se nos pesos das deficiências calculados pelos estudos sobre carga de doenças da OMS utilizando algumas vezes esses pesos para calcular a deficiência de condições que a OMS ainda não havia considerado explicitamente. Os AVADs são úteis para os formuladores de políticas porque são uma medida mais ampla da saúde da população do que a simples contagem de mortes e porque permitem comparações entre uma ampla gama de intervenções em saúde. Algumas intervenções em saúde destinam-se diretamente à diminuição da mortalidade, mas muitas estão voltadas para a redução da gravidade das doenças e melhoria da qualidade de vida. Com os AVADs, essas diferentes intervenções podem ser comparadas a um padrão comum. Uma análise de custo-eficácia que medisse, por exemplo, o ganho em saúde pelo número de mortes evitadas encontraria pouco valor na prevenção da oncocercose, mas a medição do ganho em saúde em AVAD atribui um elevado valor à preservação da visão das pessoas, já que o peso da deficiência da cegueira é grande. Uma das vantagens de usar proporções de custo-eficácia é que elas evitam alguns dilemas éticos e dificuldades analíticas que surgem quando se empreendem análises de custo-benefício. O emprego dessa técnica analítica como alternativa à análise de custo-eficácia requer que se atribua um valor monetário a cada ano de vida. Desprezando-se essa etapa, a análise de custo-eficácia chama atenção exclusivamente para os benefícios em saúde que não são monetizados. Quando uma intervenção proporcionar economia em saúde, os custos devem ser subtraídos dos custos da intervenção quando forem comparados com os resultados em saúde. Muitas intervenções em saúde produzem benefícios que ultrapassam a melhoria imediata das condições de saúde. Por exemplo: pais mais saudáveis poderão cuidar melhor de seus filhos, trabalhadores mais saudáveis serão mais produtivos no local de trabalho e famílias mais saudáveis podem evitar cair na pobreza. Algumas intervenções em saúde podem proporcionar ciclos virtuosos. Por exemplo: a prevenção da morte de um dos pais pode significar que a família tenha mais renda para nutrir as crianças em crescimento. Outras intervenções em saúde oferecem importantes benefícios subsidiários que são avaliados separadamente. O custo-eficácia de serviços de saneamento e tratamento da água na redução de doenças gastrintestinais é baixo, mas a água encanada e os serviços de saneamento são valorizados por si mesmos como um conforto e avanço ambiental. O grau de importância que as pessoas atribuem a benefícios não relacionados à saúde é bastante alto, como demonstra sua disposição de pagar por esses serviços, mas o custo-eficácia não medirá os benefícios adicionais que não estão relacionados à saúde. Portanto, a comparação de intervenções segundo critérios de custo-eficácia deve ser feita com um entendimento claro de que essa comparação é feita entre intervenções apenas em termos de sua eficiência na melhoria da saúde. Se benefícios não relacionados à saúde vierem a ser introduzidos no debate, eles deverão ser considerados para todas as intervenções que estiverem sendo discutidas e não apenas para algumas. A análise de custo-eficácia também requer unidades comparáveis para medir os custos. Nos estudos nacionais, as unidades de custo em moeda local terão significado claro. Na ausência de preços unitários das contribuições para as intervenções para comparações entre países, os autores do DCP2 receberam os custos para cada região do Banco Mundial em uma moeda amplamente utilizada, geralmente dólares dos Estados Unidos. A principal questão envolve saber se se deve utilizar taxas de câmbio de mercado para converter os custos em moeda local e compará-los com o valor de contribuições importadas e importáveis expressas em dólares, ou usar um fator de conversão diferente, baseado em estudos do poder de compra relativo da moeda local. Como as taxas de câmbio de mercado são mais fáceis de compreender e correspondem melhor às verdadeiras restrições financeiras, o DCP2 utilizou essas taxas para essas conversões. As estimativas de custo são afetadas pelos preços e os preços podem variar consideravelmente entre países e mesmo no interior desses países. Os autores do DCP2 não puderam coletar os preços unitários dos insumos para os tratamentos em todos os países, portanto, em vez disso, foram-lhes fornecidos preços unitários médios em cada uma das seis regiões em desenvolvimento: Leste da Ásia e Pacífico, Europa e Ásia Central, América Latina e Caribe, Oriente Médio e Norte da África, Sul da Ásia e África subsaariana (contudo, algumas análises publicadas anteriormente utilizaram os grupos regionais da OMS). Nas análises mais completas, os autores multiplicaram esses preços unitários regionais pelas quantidades estimadas de insumos necessárias para cada tratamento e depois dividiram esse produto pelo efeito estimado na saúde para encontrar as taxas de custo-eficácia. Nos casos em que os autores não puderam encontrar informações desagregadas sobre os insumos, mas tomaram conhecimento de relatos de algumas medidas de custo-eficácia, eles fizeram extrapolações. Em alguns casos, havia coeficientes por insumo disponíveis para uma região e os autores os extrapolaram para outras regiões (ver, por exemplo, DCP2, Capítulo 30). Para realizar uma análise de custo-eficácia, os pesquisadores também precisam especificar a intervenção na saúde com certo nível de detalhes. Uma intervenção em saúde é uma atividade deliberada que tem por objetivo melhorar a saúde de uma pessoa reduzindo o risco, a duração, ou a gravidade de um problema de saúde. Essas intervenções podem ser Análise de custo-eficácia | 45 definidas de acordo com os eventos de saúde adversos, tais como ser envolvido em um acidente, contrair uma infecção ou sofrer de um tumor maligno. A prevenção primária procura evitar um evento de saúde adverso, enquanto a prevenção secundária tem por objetivo impedir que o evento adverso se repita ou que, uma vez ocorrido, provoque uma com- Box 3.3 Categorias de intervenções com exemplos A figura ilustra de que modo as intervenções estão relacionadas com o evento de saúde. As definições dessas categorias são apresentadas abaixo. Antes Prevenção primária da ocorrência de um fator de risco de um fator de risco existente que evolui para um evento adverso de saúde Evento Depois Prevenção secundária de outro evento do mesmo tipo (exemplo: um segundo acidente vascular cerebral) de um evento relaciona do tipo diferente (exemplo: infarto após acidente vascular cerebral) Gestão do caso Cura Cuidado imediato Cuidado crônico ReabilitaÁão Cuidados paliativos Todas as intervenções baseadas na população têm por objetivo a prevenção primária (conforme definição abaixo), são direcionadas para populações inteiras ou grandes subgrupos, e estão divididas em três categorias: • Promoção de mudança de comportamento individual (dieta, exercício, tabagismo, atividade sexual) • Controle de perigos ambientais (poluição do ar e da água, vetores de doenças) • Intervenções médicas (imunização, quimioprofilaxia em massa, rastreamento em larga escala e encaminhamento) As intervenções individuais são voltadas para cada pessoa e podem ter os seguintes objetivos: • Prevenção primária – reduzir o nível de um ou mais fatores de risco, reduzir a probabilidade da primeira ocorrência da doença (medicamentos para hipertensão para prevenir o acidente vascular cerebral ou o infarto) ou para reduzir a probabilidade de doença quando o fator de risco já estiver presente (profilaxia da anemia falciforme). • Prevenção secundária após a ocorrência da doença – para evitar outro evento do mesmo tipo (medicação para reduzir a probabilidade de um segundo evento coronariano) ou para reduzir o risco de um evento diferente, porém relacionado (medicação para reduzir a probabilidade de um primeiro infarto após um acidente vascular cerebral) • Cura – remover a causa de uma condição e restituir a função à situação anterior (cirurgia de apendicite). 46 | Prioridades em Saúde • Gestão imediata –atividade de curto prazo para reduzir a gravidade de eventos agudos, ou o nível de fatores de risco estabelecidos para minimizar seus impactos de longo prazo (medicação trombolítica após um infarto do miocárdio, angioplastia para reduzir a estenose de artérias coronarianas). • Gestão crônica –atividade contínua para reduzir a gravidade de condições crônicas ou prevenir o agravamento (medicação para depressão unipolar, insulina para o diabetes). A gestão crônica pode incluir algumas prevenções secundárias. • Reabilitação –recuperação total ou parcial de função física, psicológica ou social que tenha sido prejudicada por uma doença ou condição anterior (terapia após lesão musculoesquelética, orientação para problemas psicológicos). • Cuidados paliativos – reduzir a dor e o sofrimento causados por uma condição para a qual não exista atualmente cura nem reabilitação (analgésicos para a dor de cabeça, opiáceos para câncer terminal). Fonte: DCP2, Capítulo 15, box 15.1. plicação. Em conseqüência de um evento adverso de saúde, os tratamentos também podem ser classificadas em várias categorias de gestão de casos, tais como curas, cuidado imediato, cuidado crônico, reabilitação e cuidados paliativos (Box 3.3). A completa caracterização de um tratamento também requer a definição do nível de cuidado em que esse tratamento é prestado; os suprimentos e processos específicos envolvidos; e os tipos de profissionais de saúde e os serviços afins que são necessários, tais como exames laboratoriais. Quanto mais detalhada e precisa for a análise, mais facilmente os investigadores podem avaliar se ela é semelhante ou se diverge da forma como aquele tratamento é caracterizada em outros contextos. Por exemplo: as intervenções em saúde podem ser realizadas por uma unidade menos especializada ou envolver um número maior de visitas em um país do que em outro. A abrangência dos custos envolvidos também afetará a análise de custo-eficácia. Os pesquisadores podem escolher uma definição limitada de custos e focalizar exclusivamente os custos variáveis diretos da prestação de um serviço; ou seja, podem incluir apenas os custos de materiais e pessoal adicionais que são necessários e excluir os custos relacionados ao uso da infra-estrutura existente ou da capacidade instalada. Em outros casos, os pesquisadores podem usar definições de custos mais amplas, incluindo nos custos do serviço uma parcela dos custos fixos das unidades de saúde e da administração. Os autores do DCP2 foram solicitados a seguir esta última abordagem. Em alguns estudos, os pesquisadores incluem outros custos, tais como o valor do tempo que os pacientes e seus familiares gastam para obter um serviço, ou o custo do transporte para chegar às unidades de saúde. Quando mais custos são incluídos, o custo unitário do ganho em saúde Análise de custo-eficácia | 47 “Existe também um problema ético quando o tempo das pessoas de baixa renda é avaliado apenas com base em seus baixos salários ou rendas.” será maior e a intervenção aparentará ter uma menor relação custo-eficácia. Se as intervenções que estão sendo comparadas tiverem características semelhantes, tais como todas as intervenções serem oferecidas em unidades de saúde semelhantes, então a inclusão desses outros custos não alterará a classificação das intervenções mas, comparações entre intervenções diferentes podem produzir resultados diferentes se os coeficientes forem além disso parecidos. Para fins de coerência, os capítulos do DCP2 utilizam apenas custos diretos, porque os cálculos desses outros custos são difíceis de obter e raramente são uniformes entre os estudos. Existe também um problema ético quando o tempo das pessoas de baixa renda é avaliado apenas com base em seus baixos salários ou rendas. QUAL É O GRAU DE CONFIABILIDADE DA ANÁLISE DE CUSTO-EFICÁCIA? Embora o cálculo básico de custo-eficácia pareça ser simples, as escolhas de unidades de medida, definições das intervenções, abrangência dos custos e preços a serem incluídos, não apenas alterarão os resultados numéricos, como também afetarão a interpretação do coeficiente de custo-eficácia. Em muitos casos, as diferenças são tão expressivas que o refinamento das análises subjacentes é desnecessário. Por exemplo: nenhum grau de refinamento tornará a revascularização miocárdica (> US$25.000 por AVAD evitado) mais custo-efetiva do que o uso de novos medicamentos antimaláricos mesmo que a resistência às drogas mais antigas tenha aumentado (US$8 a US$20 por AVAD evitado) nem do que a taxação de produtos do tabaco (US$3 a US$50 por AVAD evitado) (Tabela 3.1). Por essa razão, os leitores do DCP2 são incentivados a prestar atenção às diferentes ordens demagnitude, fazendo distinção entre tratamentos que são extrema ou moderadamente custo-efetivos e aqueles que não são custo-efetivos. Quando os coeficientes de custo-eficácia encontram-se numa faixa de semelhança, as decisões sobre políticas tornam-se mais difíceis. Nessas situações, pode-se recomendar a realização de um exame mais minucioso dos coeficientes de custo-eficácia para aumentar a confiança em que as medidas são realmente próximas entre si. Isso implicaria verificar se as unidades de medida, a definição das intervenções e a abrangência dos custos que foram incluídos eram semelhantes. Deve-se observar também, que a qualidade das evidências disponíveis para avaliar o custo-eficácia varia, especialmente por causa da ampla gama de intervenções que estão sendo examinadas. O DCP2 ressalta que a melhor evidência vem de estudos com controles aleatórios ou revisões sistemáticas e que a segunda melhor evidência disponível vem de estudos 48 | Prioridades em Saúde Tabela 3.1 A Quantidade de saúde que se pode comprar com US$1 milhão Serviço ou intervenção Redução da mortalidade de crianças com idade inferior a cinco anos 1. Melhoria do cuidado de crianças com menos de 28 dias de idade (inclusive ressuscitação de recém-nascidos) 2.1 Ampliação da cobertura de imunização infantil com vacinas de rotina 2.2 Acréscimo de vacinas contra outras doenças ao programa-padrão de imunização infantil (especialmente contra o Haemophilus influenzae e hepatite B) 3. Alteração para o uso de medicamentos associados (ACTs) contra a malária onde há resistência da malária aos atuais medicamentos de baixo custo e que antes eram altamente eficazes (África subsaariana) Prevenção e tratamento do HIV/AIDS 4. Prevenção da transmissão de mãe para filho (ARV – nevirapina – profilaxia da mãe, substitutos do leite materno) 5. Tratamento de doenças sexualmente transmissíveis (DST) para interromper a transmissão de HIV 6.1 Tratamento anti-retroviral (ARV) que alcança alta adesão para um grande percentual de pacientes 6.2 Tratamento anti-retroviral (ARV) que alcança alta adesão para um pequeno percentual de pacientes Prevenção e tratamento de doenças não-transmissíveis 7. Taxação de produtos do tabaco 8.1 Tratamento do infarto agudo do miocárdio (IAM) ou ataques do coração com um conjunto de medicamentos de baixo custo 8.2 Tratamento de IAM com medicamentos de baixo custo mais a estreptoquinase (os custos e AVADs para esse tratamento são adicionais aos que existiriam apenas com medicamentos de baixo custo) 9. Tratamento por toda a vida de sobreviventes de ataques cardíacos e acidente vascular cerebral com uma dose diária de "polypill" que associa 4-5 medicamentos preventivos genéricos. 10.1 Revascularização miocárdica (CABG), ou cirurgia de ponte safena, em casos de alto risco identificáveis, tais como doença da artéria (coronária esquerda principal (adicional ao item 9) 10.2 Cirurgia de ponte safena para doença da artéria coronária de menor gravidade (adicional ao item 9) custos por AVAD AVADs evitados por US$1 milhão 10–400 2.500–100.000 2–20 50.000–500.000 40–250 4.000–24.000 8–20 50.000–125.000 50–200 5.000–20.000 10–100 10.000–100.000 350–500 2.000–3.000 Devido ao número muito limitado de ganhos por paciente individual e à possibilidade de alterações adversas no comportamento da população, existe a possibilidade de que mais anos de vida sejam perdidos do que salvos 3–50 20.000–330.000 10–25 40.000–100.000 600–750 1.300–1.600 700–1.000 1.000–1.400 >25.000 <40 Muito elevado Muito pequeno (Continua na página seguinte.) Análise de custo-eficácia | 49 Tabela 3.1 (Continuação) custos por AVAD AVADs evitados por US$1 milhão 11. Diagnóstico e tratamento do câncer cérvico-uterino 15–50 20.000–60.000 12. Operação de um setor de cirurgias básicas no nível de hospital distrital enfocando o trauma, a gravidez de alto risco e outras condições comuns tratadas cirurgicamente 70–250 4.000–15.000 Serviço ou intervenção Outros Fontes: DCP2, Capítulo 1, tabela 1.30. Nota: Os AVAD evitados por US$1 milhão gasto em uma intervenção variam imensamente de um país para outro, dependendo de vários fatores. Esta tabela tem por objetivo fornecer uma idéia superficial de quanta saúde é possível comprar com as diferentes intervenções e também demonstrar que existe grande variação na quantidade de saúde que diferentes intervenções (ou que a mesma intervenção aplicada de diferentes maneiras) pode ser fornecida pela mesma quantidade de dinheiro. ACT –terapia combinada do artemisinin IAM – infarto agudo do miocárdio ARV – anti-retroviral CABG - revascularização miocárdica DST – doenças sexualmente transmissíveis “Análise de custo-efetividade... fornece informações sobre os custos não aleatórios que, mesmo assim, conseguiram utilizar métodos estatísticos rigorosos. A evidência mais frágil vem de estudos de caso limitados ou pesquisas de opinião de peritos. Entretanto, a falta de evidência não significa que uma intervenção não seja custo-efetiva. Significa apenas que os pesquisadores não sabem o grau de custo-eficácia da intervenção. Também não quer dizer que os leitores devam ignorar os números do custo-eficácia. Em vez disso, devem ser cautelosos, não devem confiar plenamente em amostragens e devem prestar atenção às ordens de magnitude e qualidade da evidência. de melhoria da saúde por meio de uma determinada intervenção.” 50 | Prioridades em Saúde QUAIS SÃO AS TAREFAS ADEQUADAS PARA A ANÁLISE DO CUSTO-EFICÁCIA? A análise do custo-eficácia não tem como ajudar muitas tarefas importantes de formulação de políticas. Basicamente, fornece informações sobre os custos de melhoria da saúde por meio de uma determinada intervenção. Como em qualquer decisão de investimento, o preço é importante, mas não é o único fator a ser considerado. Por exemplo: o custo de construção de uma escola – como o custo de construção de uma clínica – variará de acordo com seu tamanho, localização e materiais utilizados. Essas escolhas afetarão o custo do ensino por estudante, o que pode influenciar o número de crianças que possam freqüentar a escola e talvez a qualidade do seu aprendizado. Contudo, sem informações sobre preço, os formuladores de decisões não podem perceber as compensações envolvidas no tratamento de outras questões. Assim, a questão passa a ser de que modo os formuladores de políticas, administradores de programas de saúde, pesquisadores e outros podem utilizar da melhor forma a análise de custo-eficácia. Três tipos de comparação tornam-se extremamente mais fáceis com a análise de custo-eficácia: • comparações entre diferentes tratamentos para uma mesma doença • comparações entre diferentes tratamentos destinadas a alcançar segmentos específicos de uma população • comparações entre diferentes tratamentos para diferentes doenças. O uso do coeficiente de custo-eficácia é mais direto quando são comparados tratamentos voltados para a mesma doença ou fator de risco e diferem somente na forma de prestação de serviço. Nesse caso, tratamentos de menor custo geralmente resultam em maiores ganhos em saúde. Por exemplo: o tratamento da avitaminose A por meio da distribuição de cápsulas tem um impacto sobre a saúde semelhante àquele obtido com o açúcar fortificado; entretanto, a distribuição de cápsulas custa cerca de US$6 a US$12 por AVAD evitado, enquanto a fortificação do açúcar custa cerca de US$33 a US$35 por AVAD evitado. Um outro ângulo de visão é observar que, pelo mesmo custo, a distribuição de cápsulas pode alcançar um número de pessoas três a cinco vezes maior do que o açúcar fortificado. (DCP2, Capítulo 28). Essa é uma indicação clara de que é possível obter mais ganho em saúde empregando recursos na distribuição de cápsulas. Porém, mesmo neste exemplo simples, os formuladores de decisão podem precisar levar em conta outros fatores, especialmente, que tratamentos diferentes podem alcançar pessoas diferentes. A análise de custoeficácia trata igualmente todos os ganhos em saúde, enquanto que em política pública, as questões de distribuição também são importantes. A distribuição de cápsulas, por exemplo, só poderia contemplar pessoas que freqüentam centros de saúde, enquanto a fortificação do açúcar somente alcançaria pessoas que compram açúcar. Dependendo das características e comportamentos da população com avitaminose A, a fortificação deveria, na prática, ser mais eficaz e mais igualitária. Mesmo assim, a fortificação seria mais dispendiosa por AVAD, portanto, os formuladores de decisão teriam que decidir se o custo adicional de alcançar o resultado mais igualitário é economicamente viável quando comparado com outros usos dos mesmos recursos financeiros. A análise de custo-eficácia também é útil na comparação entre tratamentos direcionados para diferentes doenças ou fatores de risco. Recursos escassos produzirão mais melhorias em saúde quando forem aplicados em tratamentos de maior custo-eficácia. Se a análise de custoeficácia utilizar número de mortes evitadas como medida de ganho em saúde, a alocação de recursos em tratamentos mais custo-efetivos evitará “...o tratamento da avitaminose A por meio da distribuição de cápsulas tem um impacto sobre a saúde semelhante àquele obtido com o açúcar fortificante; entretanto, a distribuição de cápsulas custa cerca de US$6 a US$12 por AVAD evitado, enquanto a fortificação com açúcar custa cerca de US$33 a US$35 por AVAD evitado.” ….despender US$1 milhão . . . para incluir uma segunda oportunidade de imunização contra o sarampo evitaria entre 800 e 66.000 óbitos, . . .” Análise de custo-eficácia | 51 o maior número de óbitos. Por exemplo: despender US$1 milhão na expansão do programa tradicional de vacinação de crianças para incluir uma segunda oportunidade de imunização contra o sarampo evitaria entre 800 e 66.000 óbitos, dependendo, em grande parte, da prevalência do sarampo. Em contrapartida, despender o mesmo montante para ampliar o programa de modo a incluir a vacina contra Hib evitaria entre 10 e 800 óbitos e a inclusão da vacina contra a febre amarela evitaria entre 300 e 900 óbitos. Se em vez disso a análise usar AVADs como a medida do ganho em saúde, então a alocação de recursos nos tratamentos mais custo-efetivos elevará ao máximo os anos de vida saudável. Por exemplo: US$1 milhão gasto em nevirapina e substitutos do leite materno para evitar que mães infectadas pelo HIV transmitissem HIV para seus filhos produziria um ganho de 5.000 a 20.000 AVADs enquanto que o mesmo montante gasto para expandir a cobertura de imunização com vacinas-padrão para crianças produziria um ganho entre 50.000 e 500.000 AVADs. Desse modo, o custo-eficácia não deve ser o único critério para a formulação de decisões de políticas públicas relacionadas à saúde e deve ser complementada com informações sobre as conseqüências da distribuição. Para os formuladores de políticas públicas, esses dois tipos de informação definem os balanços inerentes à alocação de recursos financeiros em diferentes intervenções. COMO OS FORMULADORES DE POLÍTICAS PODEM USAR A ANÁLISE DE CUSTO-EFICÁCIA? Para fornecer boa orientação às políticas, o custo-eficácia deve ser complementado com informações essenciais sobre o contexto mais amplo, Figura 3.1 Eficácia das intervenções alto Oportunidades negligenciadas Intervenções custoefetivaseficientes amplamente empregadas baixo custo-eficácia Intervenções para as quais a expansão é ineficiente intervenções para redução baixo alto cobertura atual Fonte: DCP2, Capítulo 2, p. 34. 52 | Prioridades em Saúde especialmente a carga prevalente de doenças, a cobertura existente de intervenções em saúde e a capacidade total do sistema de saúde. Um fator essencial do contexto do uso de informações sobre o custoeficácia de qualquer intervenção é a carga provocada por uma doença. Alguns tratamentos podem ser altamente custo-efetivos mas afetar somente um pequeno número de pessoas ou fornecer uma pequena melhoria em saúde (Figura 3.1). Exemplo: o tratamento da leishmaniose é relativamente custo-efetivo, mas só se aplica a um número relativamente pequeno de casos. Por outro lado, antimaláricos e mosquiteiros tratados com inseticidas são medidas custo-efetivas que, em certos países evitariam uma grande carga de doença. Se fosse possível, os países financiariam todas as medidas de melhoria da saúde, entretanto, como todos os países enfrentam orçamentos restritos ou capacidade limitada de prestação de serviços, a carga evitável de doença é uma informação essencial de que os formuladores de políticas necessitam ao escolherem entre intervenções que, em outras condições, teriam custo-eficácia semelhante. As intervenções em saúde que são preventivas geralmente serão mais custo-efetivas em lugares onde a carga da doença ou fator de risco focalizado for alto e, conseqüentemente, onde a intervenção evitará um número maior de casos. Contudo, a prevalência atual nem sempre é um bom indicador do custo-eficácia de uma intervenção, especialmente em locais onde programas de saúde pública eficazes são responsáveis pela baixa taxa de prevalência. Por exemplo: a prevalência de difteria, tétano, coqueluche e sarampo é geralmente baixa em países com programas de vacinação eficazes, embora o custo-eficácia do programa de vacinação, que é necessário para evitar uma recrudescência dessas doenças, ainda seja muito elevado. A prevalência também tem um grande efeito sobre o custo-eficácia do rastreamento de doenças e, indiretamente, sobre o custo-eficácia de um pacote para tratar de uma determinada doença. Por exemplo: o rastreamento e tratamento do Helicobacter pylori, um fator bacteriano de risco do câncer gástrico, não é custo-efetivo nos Estados Unidos, mas o é na Colômbia, onde a prevalência de câncer gástrico é mais elevada e muitos dos custos do tratamento são mais baixos (DCP2 , Capítulo 29). O custo-eficácia do rastreamento de cânceres e muitas outras doenças depende dos custos de identificação de casos, do número de pessoas que não dão continuidade ao tratamento e dos custos diretos do tratamento. Obviamente, se não houver tratamento disponível, o rastreamento não tem sentido. O exame de anemia em pessoas com AIDS é custo-efetivo entre as pessoas tratadas com zidovudina, não apenas porque o rastreamento seja relativamente barato (menos de US$0,02 por hemograma), mas também porque a anemia ocorre em 10% desses pacientes. Quando os custos são mais elevados, ou a probabilidade de detectar condições é pequena, o rastreamento pode não ser custo-efetivo. “. . . a carga evitável de doença é uma informação essencial de que os formuladores de políticas necessitam ao escolherem entre intervenções que, em outras condições, teriam custo-efetividade semelhante.” “ . . . o rastreamento universal de sangue para HIV é dispendioso, embora também seja custo-efetivo, mesmo em países com baixa prevalência de HIV/AIDS . . .” Análise de custo-eficácia | 53 O custo-eficácia depende também das probabilidades de transmissão da doença. Por exemplo: o rastreamento universal de sangue para HIV é dispendioso, embora também seja custo-efetivo, mesmo em países com baixa prevalência de HIV/AIDS, uma vez que a transfusão de sangue contaminado tem probabilidade muito elevada de transmitir infecção – quase 100%. Uma perspectiva temporal adequada também é imperativa para a avaliação do peso da carga de uma doença e do valor de um tratamento por vários motivos. Um deles é que os ganhos com o tratamento podem surgir somente no longo prazo, portanto, o tratamento parece ser eficaz numa perspectiva de longo prazo, mas não no curto prazo. A taxa de desconto tem grande importância para essa comparação, pois ela faz com que o futuro distante seja menos importante. Outra razão é que a intervenção pode precisar ser repetida durante vários anos para garantir os potenciais ganhos em saúde. Este é o caso da TRO, que pode precisar ser administrada diversas vezes durante vários anos para evitar mortes por doenças diarréicas entre crianças pequenas, e o caso da profilaxia da penicilina para evitar mortes por infecção em crianças com anemia falciforme (DCP2 , Capítulos 19 e 34). Finalmente, uma intervenção pode ter custos iniciais significativos que precisem ser amortizados durante um determinado período. O DCP2 utiliza 10 anos como padrão para esses casos. A cobertura das intervenções existentes é outro fator crucial de contexto na utilização da análise de custo-eficácia. Quando os formuladores de políticas decidem como alocar os recursos, eles podem comparar intervenções que sejam relativamente mais ou menos custo-efetivas à luz da atual prestação de serviços. Algumas intervenções, por exemplo, podem ser extremamente custo-efetivas mas ter pouca cobertura. Constituem oportunidades negligenciadas que os formuladores de políticas devem examinar com mais atenção. Salvo outros fatores contraditórios, são provavelmente intervenções que teriam um grande efeito sobre a saúde por um custo relativamente baixo. O DCP2 relata, principalmente, os coeficientes de custo-eficácia como se eles fossem independentes do nível e da escala de intervenções, embora o custo-eficácia incremental da maioria das intervenções também irá variar com o nível de cobertura do serviço. O custo de atingir o primeiro 1% de uma população pode ser bastante alto quando os custos fixos da compra de equipamentos, treinamento de pessoal e estabelecimento de sistemas de gestão são levados em conta e podem produzir relativamente poucos ganhos em saúde. À medida que a cobertura aumenta, entretanto, o custo médio pode diminuir e as melhorias em saúde podem aumentar, resultando em um aumento substancial do custo-eficácia de alcançar um grupo adicional, como por exemplo, aumentando a cobertura de 50 para 51%. Uma vez que a cobertura é alta, alcançar os segmentos da população restantes e freqüentemente marginalizados pode ser muito dis54 | Prioridades em Saúde pendioso sem o grande ganho em saúde correspondente e, conseqüentemente, o custo-eficácia piorará. Consideremos a experiência da erradicação da varíola. Em um determinado momento da campanha, grandes áreas do mundo estavam livres da varíola e sua erradicação passou a depender da identificação dos últimos redutos do vírus e de uma resposta intensa e rápida colocando em quarentena as pessoas infectadas e vacinando todas as outras pessoas daquelas áreas. Atualmente, a campanha da pólio enfrenta um desafio semelhante: chegar até algumas crianças em áreas rurais da Índia e Sudão e vaciná-las é muito mais dispendioso do que tratar um número muito maior em áreas urbanas, mas a eliminação da doença justifica esses altos custos. Um processo semelhante ocorre com o fornecimento de cuidados básicos de saúde, pois o fornecimento é geralmente menos dispendioso por pessoa em áreas densamente povoadas do que naquelas com população esparsa. Além da prevalência da doença e da cobertura existente, os formuladores de políticas precisam levar em conta outros fatores locais. O DCP2 oferece estimativas baseadas em médias regionais de preços unitários1, mas os preços locais e a disponibilidade de insumos podem ser substancialmente diferentes das médias regionais. Portanto, o primeiro ponto a ser considerado é se os preços de um determinado país estão próximos ou são muito diferentes da média regional. Um segundo ponto a considerar é se os preços dos principais insumos sofreram alterações desde a análise original. Uma das alterações mais significativas desde a edição anterior do Disease Control Priorities in Developing Countries (Jamison e outros 1993) foi a queda dos preços de medicamentos anti-retrovirais. Conseqüentemente, o tratamento anti-retroviral é substancialmente mais custo-efetivo hoje do que há uma década. Outras reduções nos custos dos exames diagnósticos e formas alternativas de dispensação dos medicamentos podem aumentar ainda mais o custo-eficácia do tratamento antiretroviral no futuro próximo. Finalmente, o custo-eficácia da maioria das intervenções em saúde depende também da qualidade do funcionamento do sistema de saúde (DCP2, Capítulo 3). A maior parte dos autores dos capítulos do DCP2 baseia o cálculo dos coeficientes de custo-eficácia na premissa de que exista um sistema de saúde em funcionamento para prestar a intervenção; contudo, a validade dessa premissa varia imensamente de um país para outro. Se um país possui um sistema de saúde particularmente frágil, as intervenções que dependem muito de profissionais médicos, de tratamentos complexos, ou de sistemas de informação sofisticados, não serão 1 Quando só havia dados relativos a preços disponíveis para alguns países de uma região, os autores do DCP2 tentavam selecionar um preço que tivesse maior probabilidade de ser representativo daquela região, mesmo que não representasse o cálculo da média. Análise de custo-eficácia | 55 tão custo-efetivas na prática quanto seriam em países com sistemas de saúde mais sólidos. A experiência do lançamento da AIDPI (DCP2, Capítulo 63) demonstra até que ponto o funcionamento dos sistemas de saúde pode influenciar o custo-eficácia das intervenções em saúde. Experiências em vários municípios do Brasil e da Tanzânia demonstram que o pacote de intervenções da AIDPI não apenas melhora os resultados de saúde das crianças, como também pode ser realmente econômico (poupando custos) por meio da redução de cuidados inadequados e do uso excessivo de medicamentos. Entretanto, na maioria dos países de renda baixa e média o pacote da AIDPI encontrou dificuldades de implementação e não cumpriu sua promessa de custo-eficácia por causa da elevada rotatividade e desgaste do pessoal treinado, provimentos inadequados e insuficiência de recursos financeiros. RESUMO PARA O USO APROPRIADO DA ANÁLISE DE CUSTO-EFICÁCIA Aplicação eficaz de recursos significa gastar dinheiro com coisas que influenciam a saúde e para tanto é necessário conhecimento científico sobre fatores de risco, doenças, bioquímica, comportamento social etc. mas, esse conhecimento científico por si só, não é capaz de determinar quais intervenções terão maior impacto. Para determinar a melhor alocação de recursos públicos, os formuladores de políticas precisam de informações sobre custos relativos para definir que combinação de intervenções pode produzir as maiores melhorias em saúde. A análise de custo-eficácia é a ferramenta para ponderar os diferentes custos e resultados em saúde quando os formuladores de políticas precisam tomar decisões sobre a alocação de recursos. Para tanto, essa análise fornece aos formuladores de políticas o “preço” do alcance de melhorias em saúde por meio de diferentes tipos de intervenção, ajudando-os assim a tomar decisões que aproveitem da melhor forma seus recursos financeiros. Em última análise, conhecer quais são as intervenções que funcionam e a que custo tem que ser adaptado ao conhecimento sobre as instituições e a implementação. Somente por meio da combinação dos conhecimentos científico e prático os formuladores de políticas podem identificar as intervenções que terão o maior impacto na prática. Portanto, as análises de custo-eficácia apresentadas no DCP2 e neste livro fornecem uma importante contribuição para debates mais amplos sobre decisões de políticas públicas relativas à saúde. O DCP2 reúne as melhores evidências disponíveis sobre o custo-eficácia de diferentes intervenções. Para usar esses números adequadamente, os leitores devem: 56 | Prioridades em Saúde • levar em consideração os coeficientes de custo-eficácia relatados para suas regiões como uma primeira aproximação e classificar as intervenções em grandes categorias • avaliar se os coeficientes calculados poderiam ser substancialmente diferentes em seus países porque os preços, a demografia, a epidemiologia, ou a cobertura dos serviços diferem significativamente da média regional • considerar se as intervenções custo-efetivas tratariam importantes fontes de carga de doença em seus países • determinar se as intervenções custo-efetivas seriam viáveis em face das instituições existentes e das experiências com a implementação em seus países • avaliar as intervenções custo-efetivas em termos da forma como distribuiriam as melhorias em saúde e se essa distribuição seria igualitária em seus países. Ao final dessa análise de evidências internacionais, os países poderão alcançar melhores níveis de saúde para suas populações porque podem avaliar claramente os custos e conseqüências dos diferentes cursos de ação. Análise de custo-eficácia | 57 Capítulo 4 Estratégias de maior custo-eficácia para a carga excessiva de doenças em países em desenvolvimento Muitas das doenças e das condições de saúde que respondem por uma grande parte da carga de doenças nos países de baixa renda e de renda média são bem menos comuns em países de renda alta. Essas cargas estão associadas principalmente a doenças infecciosas, saúde reprodutiva e doenças infantis. Apenas oito doenças e condições são responsáveis por 29% de todas as mortes em países de baixa renda e de renda média: tuberculose, HIV/AIDS, doenças da diarréia, doenças infantis evitáveis por vacinação, malária, infecções respiratórias, condições maternas e mortes neonatais. Cerca de 17,6 milhões de pessoas nos países de baixa renda e de renda média morrem a cada ano de doenças transmissíveis e de condições neonatais e maternas. A ocorrência e as taxas de mortalidade dessas doenças e condições são bem menores do que em todos os países de renda alta. Isso ocorre, em parte, devido à existência de mais riqueza, de melhores condições de vida em geral e de fatores ambientais e climáticos diferentes, mas também devido ao uso de intervenções de saúde custoefetivas. Muitas das doenças responsáveis pelas maiores diferenças nas condições de saúde entre países de baixa renda e de renda média e países de renda alta são também doenças para as quais as estratégias custo-efetivas são conhecidas, disponibilizadas e viáveis. Se os países de baixa renda e de renda média atingissem as mesmas taxas de mortalidade dessas doenças que os países de renda alta, o número de mortes cairia de 17,6 milhões para 3,0 milhões por ano. A diferença, cerca de 14 milhões de mortes, representa uma medição da carga excessiva das más condições da saúde nos países de baixa renda e de renda média. A aplicação de medidas conhecidas e custo-efetivas a essas doenças poderia reduzir consideravelmente muitas mortes desnecessárias. Várias medidas custo-efetivas de tratamento de doenças transmissíveis e de doenças maternas e neonatais já eram conhecidas quando a primeira edição de Disease Control Priorities in Developing Countries (Prioridades 59 no controle de doenças em países em desenvolvimento) (Jamison e outros, 1993) foi publicada. A terapia de reidratação oral tinha demonstrado ser custo-efetiva na redução de fatalidades associadas à diarréia infantil. O acompanhamento pré-natal e o atendimento especializado durante o parto, a imunização contra o tétano e os cuidados de higiene do cordão umbilical de um recém-nascido, a imunização contra doenças infantis e a estratégia de tratamento de curta duração supervisionado (DOTS) para controle da tuberculose também já eram conhecidos; todas são medidas custo-efetivas para o tratamento dessa carga excessiva de doenças. O DCP2 apresenta informações que confirmam muitas dessas conclusões prévias, mas também apresenta uma preocupação com as novas evidências, por exemplo, a emergência de cepas de malária, tuberculose e HIV resistentes a medicamentos, além da grande concentração de mortes infantis que ocorrem nos primeiros 28 dias de vida. Este capítulo pode abordar somente uma seleção das doenças tratadas em DCP2 que constitui a carga excessiva de doenças em países de baixa renda e de renda média. (Para obter uma lista completa das doenças transmissíveis e das condições maternas e neonatais abordadas em DCP2, consulte o capítulo 1, box 1.1 e o apêndice.) Além disso, as descrições a seguir podem destacar apenas algumas das conclusões para cada uma das doenças incluídas. Para obter uma descrição mais detalhada e completa, consulte os capítulos DCP2 associados, conforme mencionado neste capítulo. DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS E INFECCIOSAS “As doenças infecciosas respondem por menos de 2% das mortes em países de renda alta, mas ... por 21% das mortes em países de baixa renda e de renda média.” 60 Prioridades em Saúde| As doenças infecciosas respondem por menos de 2% das mortes em países de renda alta, mas são responsáveis por 21% das mortes em países de baixa renda e de renda média. As doenças infecciosas revelam uma diferença evidente nas condições de saúde entre os países ricos e pobres precisamente porque as intervenções custo-efetivas estão disponíveis para evitar e tratar muitas delas. As doenças infecciosas representam uma série de desafios. Algumas são transmitidas diretamente de uma pessoa para outra, outras por contato com insetos ou outros animais. O sistema imunológico do corpo humano resiste bem a algumas doenças, enquanto a outras, inclusive as doenças auto-imunes, atacam e enfraquecem o próprio sistema imunológico. Algumas apresentam sintomas óbvios e visíveis em pouco tempo, enquanto outras ficam ocultas por anos antes de se tornarem ativas. As doenças infecciosas também variam em termos de virulência, infecciosidade e duração, e os agentes infecciosos de algumas desenvolvem resistência a medicamentos mais rapidamente que outros. Três doenças transmissíveis, HIV/AIDS tuberculose e malária, respondem por cerca de 10% das mortes nos países de baixa renda e de renda média. Uma análise apenas dessas três doenças sugere a imensa variedade de doenças infecciosas e demonstra por que as estratégias de tratamento correspondentes devem ser tão diferentes. O HIV/AIDS é transmitido principalmente por meio de contato sexual, a tuberculose via inalação de gotículas infecciosas no ar e a malária exclusivamente por picadas de mosquito. O HIV/AIDS ataca o sistema imunológico do corpo, a tuberculose ataca principalmente os pulmões e a malária debilita a corrente sanguínea, além de poder atacar o cérebro, o fígado e outros órgãos. O HIV/AIDS não tratado é quase que invariavelmente letal, sendo que a tuberculose e a malária também podem ser fatais. Outros 10% das mortes nos países de baixa renda e de renda média são atribuídos a outras doenças causadas por agentes infecciosos ou transmissíveis. Para muitas dessas doenças, como a coqueluche, o tétano e a difteria, existem vacinas disponíveis e a cobertura universal é viável. Contudo, milhões de crianças permanecem sem vacina e, conseqüentemente, correm o risco de contrair doenças ou ainda de morrer. As infecções também causam doenças da diarréia que levam a mortes desnecessárias quando as crianças não recebem o devido tratamento e morrem de desidratação. “. . . HIV/AIDS, tuberculose e malária, respondem por cerca de 10% das mortes nos países de baixa renda e de renda média.” HIV/AIDS O HIV se espalhou pelo mundo em pouco tempo, mas encontra-se desproporcionalmente concentrado em países de baixa renda1. Em 2004, ocorreram cerca de 2,9 milhões de mortes atribuídas a AIDS nos países de baixa renda e de renda média, comparadas a cerca de 22.000 mortes nos países de renda alta. A África Subsaariana é a região mais afetada pela epidemia. Com apenas 10% da população mundial, essa região representa 66% de todos os casos de HIV e mais de 75% das mortes relacionadas com a AIDS. Os países da Ásia e do Pacífico não possuem taxas de incidência tão altas quanto às da África Subsaariana, mas as populações são numerosas e a incidência está aumentando. Em 2004, ocorreram cerca de 505.000 mortes relacionadas a AIDS nessa região, representando cerca de 17% de todas as mortes decorrentes de AIDS. Quando a doença foi identificada pela primeira vez no início da década de 1980, a maioria das pessoas com HIV/AIDS eram homens. A proporção de mulheres afetadas pela epidemia vem aumentando constantemente: até 2004, as mulheres e meninas respondiam por cerca de 50% de todas as pessoas que vivem com HIV/AIDS, e na África Subsaariana, as mulheres e meninas representam 57% de todas as pessoas infectadas. O HIV é transmitido principalmente por meio de relação sexual, que representa aproximadamente 80% de todas as infecções. O HIV é também transmitido via exposição a sangue infectado e passa de mãe para filho 1 “Em 2004, ocorreram cerca de 2,9 milhões de mortes atribuídas a AIDS nos países de baixa renda e de renda média, comparadas a cerca de 22.000 mortes nos países de renda alta.” Esta seção é baseada em DCP2, capítulos 17 e 18. Estratégias de maior custo-eficácia para a carga excessiva de doenças em países em desenvolvimento | 61 . . . os tratamentos existentes poderão evitar a ocorrência de 63% de todas as infecções projetadas entre 2002 e 2010.” 62 Prioridades em Saúde| durante o parto ou a amamentação. As iniciativas de reversão da epidemia baseiam-se em estratégias preventivas. Em termos de transmissão sexual e exposição a sangue infectado, essas medidas incluem: educar as pessoas sobre a infecção e sobre como é transmitida, incentivar o uso de preservativos e a redução de contato sexual com parceiros concomitantes, examinar o sangue a ser usado em transfusões, estabelecer a necessidade de descarte das seringas aplicadas em usuários de drogas, e incentivar o acesso universal a seringas descartáveis nos ambientes de cuidados de saúde. Os medicamentos anti-retrovirais podem ser usados para impedir a Transmissão de Mãe para Filho (MTCT) durante o parto; a transmissão perinatal também pode ser reduzida, limitando-se a duração da amamentação e evitando-se a alimentação mista. As estratégias de controle da epidemia também devem incluir regimes de tratamento que utilizam a terapia anti-retroviral (ART), que pode aumentar o tempo de vida e melhorar a qualidade de vida das pessoas aidéticas. Apesar dessas iniciativas, as tentativas globais não têm sido suficientes para controlar a disseminação da pandemia ou prolongar as vidas da maioria das pessoas infectadas. O nível desejado de sucesso ainda não foi atingido por diversas razões. A maioria das pessoas que poderiam se beneficiar das estratégias de controle disponíveis (incluindo tratamento) não têm acesso a elas. A modelagem da epidemia tem determinado que os tratamentos existentes poderão evitar a ocorrência de 63% de todas as infecções projetadas entre 2002 e 2010. Contudo, até agora, menos de uma dentre cinco pessoas com alto risco de infecção teve acesso aos mais básicos serviços de prevenção, como preservativos, educação sobre a AIDS, prevenção de MTCT, orientação e testes voluntários, além de programas de redução de danos. Além disso, os cuidados com as pessoas infectadas com HIV têm sido historicamente limitados nos ambientes dos países em desenvolvimento, e a cobertura da terapia anti-retroviral não tem sido disponibilizada para a maioria das pessoas que vivem em países com recursos escassos (grandes exceções: Argentina, Brasil e México). Em resumo, os programas nacionais carecem dos meios para realização de uma abordagem abrangente com relação ao HIV/AIDS. Outra grande barreira para o desenvolvimento de estratégias adequadas de controle é a falta de dados sobre a melhor forma de implementar pacotes de intervenções existentes em nível adequado para maximizar o efeito de intervenções e proteger os direitos humanos das pessoas afetadas pela epidemia. Durante a última década, os governos e as ONGs têm acumulado experiências limitadas mas valiosas com estratégias de prevenção e de tratamento em uma grande variedade de ambientes, possibilitando a identificação e o empenho dos princípios gerais de sucesso. Todavia, a epidemia continua a se disseminar, mas de modo bem menos acelerado em países, como Brasil, México, Senegal, Tailândia e Uganda, onde as políticas nacionais têm tratado a epidemia de AIDS com seriedade e implementado programas nacionais de controle da doença (consulte box 4.1 e box 4.2). Esses programas bem-sucedidos tiveram diversos aspectos em comum, incluindo liderança política de alto nível, participação ativa da sociedade civil e de líderes religiosos, programas baseados em populações destinados a alterar normas sociais, incentivo no uso de preservativos, fiscalização e controle de infecções sexualmente transmissíveis (STIs), programas de combate ao estigma e discriminação, e intervenções direcionadas às populações “ponte”. Talvez o maior desafio para um controle global efetivo do HIV/AIDS, contudo, seja a falta de evidências confiáveis no sentido de orientar a seleção de intervenções de cuidados e de prevenção em populações ou áreas específicas. Do mesmo modo que os formuladores globais de política reconhecem cada vez mais a necessidade de uma avaliação rigorosa de programas de desenvolvimento para garantir o sucesso e eliminar fracassos, a necessidade de avaliações científicas confiáveis de programas de controle da AIDS é também um ponto crucial pelas mesmas razões. A falta de dados sobre a eficácia e o custo de intervenções como meio de orientação para a tomada de decisões políticas fundamentadas significa que a alocação atual de recursos para a prevenção de HIV/AIDS é raramente baseada em evidências. “. . . a epidemia continua a se disseminar, mas de modo bem menos acelerado em países onde as políticas nacionais têm tratado a epidemia de AIDS com seriedade. . .” foram desenvolvidas no sentido de selecionar estratégias apropriadas Box 4.1 Epidemia de HIV/AIDS em Uganda Como muitos países na África Subsaariana, Uganda sofreu um rápido aumento da incidência de HIV e uma generalização da epidemia no final da década de 1980 e no início dos anos 90. Até 1991, a incidência global de HIV era de 21% (Low-Beer e Stoneburner, 2003); contudo, a trajetória da epidemia em Uganda foi bem diferente da epidemia dos países vizinhos. Até 2001, a incidência global de HIV caiu até 5%, com reduções drásticas na incidência entre as principais populações, como soldados, mulheres grávidas e mulheres jovens (USAID, 2002). Os principais componentes do programa de prevenção de HIV de Uganda incluem: • grande apoio político, principalmente, do Presidente Yoweri Museveni • intervenções de empoderamento de mulheres e meninas • grande ênfase na juventude • iniciativas atuantes no combate ao estigma e discriminação • ênfase na comunicação aberta sobre HIV/AIDS • participação da liderança religiosa e de organizações baseadas na fé/credos • criação das primeiras intervenções de orientação e testes voluntários confidenciais da África • ênfase no controle e na prevenção de infecções sexualmente transmissíveis. Fonte: DCP2, capítulo 18, box 18.5. Estratégias de maior custo-eficácia para a carga excessiva de doenças em países em desenvolvimento | 63 Box 4.2 Programa de uso obrigatório de preservativos na Tailândia A incidência de HIV na Tailândia, incentivada principalmente pelas altas taxas de exploração sexual e pelos baixos níveis de uso de preservativos, começou a aumentar rapidamente no final da década de 1980. No início de 1989, o governo tailandês começou uma campanha nacional de educação e de distribuição de camisinhas, focalizando os profissionais do sexo e seus clientes, para garantir 100% de uso da camisinha em todos os encontros sexuais. Alguns elementos contribuíram bastante para o sucesso do programa como, por exemplo: • • • • • • • • ordens do governo obrigando o uso de camisinhas em estabelecimentos de exploração sexual campanha de publicidade para incentivo em massa do uso de preservativos educação em estabelecimentos de exploração sexual distribuição de camisinhas pelo governo teste e tratamento de infecções sexualmente transmissíveis fiscalização e acompanhamento de infecções nos pontos de origem grande comprometimento político e financeiro envolvimento ativo de governos locais e municipais. Apesar desse sucesso sem precedentes, as evidências indicam que o cumprimento do Programa de uso obrigatório de preservativos não está tão acirrado hoje em dia quanto no início da implementação do programa. Um estudo recente em Bangcoc concluiu que 89% dos profissionais do sexo usavam camisinhas, ou seja, houve uma redução dos 96% em 2000 (UNDP, 2004). Fonte: DCP2, capítulo 18, box 18.4. “. . . onde a incidência de infecção por HIV é pequena, providências imediatas e eficazes devem ser tomadas o mais rápido possível. 64 Prioridades em Saúde| de prevenção e de tratamento, com base no perfil epidemiológico de cada país (a caracterização da epidemia individual, com base na incidência de infecção em determinadas populações, como profissionais do sexo, homens que têm relações sexuais com outros homens, ou usuários de droga intravenosa, e na população em geral) e no contexto político, cultural e econômico de cada lugar. Essas categorias são listadas na Tabela 4.1, “Perfis da epidemia” (com a categoria da epidemia generalizada também subdividida em categorias inferiores e superiores). Essas categorias podem ser usadas para o desenvolvimento de diretrizes de prevenção. Nos países onde a incidência de infecção por HIV é pequena, providências imediatas e eficazes devem ser tomadas o mais rápido possível. A coleta de dados é muito importante para avaliar o avanço da epidemia e direcionar a política pública. O mapeamento das principais populações para o aprendizado sobre os comportamentos associados à infecção e o acompanhamento da taxa de infecção podem fornecer informações valiosas na tomada de providências apropriadas e oportunas. O conhecimento básico sobre como o HIV é transmitido e como obter e usar preservativos deve ser transmitido por meio de campanhas dos meios de comunicação de massa e de programas nas escolas. Essas atividades de informação, educação e comunicação (IEC) devem responder às atitudes predominantes referentes Tabela 4.1 Perfis da epidemia Maior incidência em uma determinada população profissionais do sexo, usuários de droga, MSMs) Incidência na população em geral Nível baixo ⬍ 5% ⬍ 1% Oriente Médio e Norte da África Concentrado ⬎ 5% ⬍ 1% Leste Asiático e Pacífico, Europa e Ásia Central, América Latina e Caribe, Sul da Ásia Generalizado baixo ⱖ 5% 1–10% África Subsaariana Generalizado alto ⱖ 5% ⱖ 10% África Subsaariana Regiões da OMS Fonte: UNAIDS 1997. à atividade sexual, uma vez que irão definir como as pessoas entendem os materiais educacionais. As políticas públicas também devem garantir que as camisinhas sejam disponibilizadas de imediato por meio dos canais existentes, como farmácias, clínicas e lojas de alimentos. Além disso, as instalações de saúde devem examinar todos os produtos do sangue a serem usados em transfusões e utilizar agulhas esterilizadas em todas as injeções, uma vez que a taxa de transmissão do vírus através desses meios é alta. Além disso, uma vez que a infecção se dissemina com rapidez entre os usuários de droga intravenosa, são necessários programas de prevenção para esta população em especial, mesmo onde a infecção for relativamente desconhecida. Nos países com uma epidemia concentrada, medidas adicionais são necessárias. Os programas cuja finalidade é evitar a transmissão entre populações com alto risco de contração ou transmissão de infecção são de grande importância, inclusive o programa VCT (orientação e teste voluntários) para determinados indivíduos e programas com pessoas do mesmo grupo que educam indivíduos pertencentes a grupos de risco, incentivam comportamentos seguros e distribuem camisinhas. O exame e o tratamento das infecções sexualmente transmissíveis devem ser incentivados e as mulheres grávidas que se encaixem em um perfil de alto risco devem ter a oportunidade de participar de uma série de exames e de um tratamento de HIV, em proveito próprio, e para reduzir a probabilidade de transmissão de mãe para filho. Em um nível generalizado baixo da epidemia, como na Tanzânia, a ênfase em tratamentos direcionados deve ser mantida ou mesmo fortalecida, mas tratamentos para populações mais abrangentes também devem ser implementados de forma agressiva. Essas prioridades de prevenção devem incluir a fiscalização de infecções sexualmente transmissíveis, comportamentos de risco e infecções por HIV em toda a população, com espeEstratégias de maior custo-eficácia para a carga excessiva de doenças em países em desenvolvimento | 65 “. . . uma epidemia generalizada de nível alto. . . é uma emergência nacional que requer a mais enérgica providência pública possível.” “As vidas das pessoas infectadas com o vírus do HIV/AIDS também podem ser bastante melhoradas e prolongadas por meio de apoio psicológico, tratamento de infecções oportunistas, terapia antiretroviral e cuidados paliativos. . .” cial ênfase nos jovens; extensão das atividades IEC dos meios de comunicação de massa além de educação básica; testes confidenciais e voluntários de rotina de HIV, além de exames e tratamento de doenças sexualmente transmissíveis promovidos para outras populações; marketing social e subsidiado de camisinhas e distribuição intensificada para garantir acesso universal; oferta de exames de HIV a todas as mulheres grávidas, e a ampliação de abordagens afins e atividades IEC direcionadas para inclusão de todas as populações com taxas mais elevadas de infecções sexualmente transmissíveis e comportamento de risco. Em uma epidemia generalizada de nível alto, como em Botsuana e Zimbábue, a epidemia é uma emergência nacional que requer a mais enérgica providência pública possível. Os testes de rotina de HIV, junto com o tratamento e os exames de infecções sexualmente transmissíveis devem ser incentivados de forma universal. Devem ser desenvolvidas estratégias inovadoras de massa que atinjam grandes contingentes de pessoas com informações, exames e camisinhas, por exemplo, em locais de trabalho, canais de trânsito, comícios de partidos políticos, escolas e universidades e bases militares, e via associações de jovens, uniões de trabalhadores e movimentos de fazendeiros. É muito importante a distribuição gratuita de camisinhas em todos os canais possíveis. O programa de orientação e testes voluntários deve ser promovido para todos os casais que estejam iniciando uma vida sexual. A pobreza, a educação e o status social das mulheres, fatores importantes em todas as epidemias, devem ser as principais preocupações. A prioridade principal deve ser a alteração das normas de gênero e a redução das restrições legais, sociais e econômicas com relação às meninas e mulheres em geral. Além dessas estratégias preventivas, são necessárias estratégias apropriadas em termos de cuidados e tratamento. Os pesquisadores têm desenvolvido novas terapias para o tratamento do HIV/AIDS, algumas mais fáceis de administrar e menos tóxicas do que seus predecessores. O tratamento está também se tornando uma realidade para muitas pessoas que vivem em países com poucos recursos, uma vez que os preços dos medicamentos anti-retrovirais têm diminuído consideravelmente por causa de negociações internacionais e de pressão política nas empresas de medicamentos, da fabricação de medicamentos genéricos, e das mudanças na política de comércio internacional para permitir o licenciamento compulsório de produtos farmacêuticos em casos de emergência e para facilitar a importação de genéricos. É preciso ressaltar que à medida que a terapia anti-retroviral se torna cada vez mais disponível, ocorre um aumento da resistência do HIV a um grande número de regimes de medicamentos anti-retrovirais, sendo freqüentemente necessária a mudança dos 2 3 66 Prioridades em Saúde| Consulte DCP2, capítulo 52. Consulte DCP2, capítulo 37. pacientes da primeira linha para a segunda linha de medicamentos, que são mais caros e que produzem efeitos colaterais mais complicados. As vidas das pessoas infectadas com o vírus do HIV/AIDS também podem ser bastante melhoradas e prolongadas por meio de apoio psicológico, tratamento de infecções oportunistas, terapia anti-retroviral e cuidados paliativos, que incluem não apenas o controle do fim da vida e das dores, mas também os problemas psicológicos, sociais e espirituais dos pacientes e familiares. Os cuidados no estágio terminal podem ser fornecidos em inúmeros ambientes, desde hospitais e hospícios até nas casas dos próprios pacientes. Muitas medidas de baixo custo no tratamento das condições3 de dor,2 diarréia, náusea e pele nos indivíduos infectados encontram-se disponibilizadas e podem melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A suplementação de micronutrientes, que custa apenas US$ 15 por ano, pode aumentar o peso do corpo, reduzir a carga virótica do HIV, melhorar as contagens de CD4 e reduzir infecções oportunistas nas pessoas infectadas. Apesar da grande variedade de intervenções para o tratamento dos sintomas nas pessoas que vivem com o HIV/AIDS e o seu baixo custo, a necessidade de cuidados paliativos para essas pessoas está longe de ser atendida. As campanhas de educação de massa podem reduzir o estigma da infecção de HIV e permitir que as pessoas infectadas permaneçam envolvidas em suas comunidades. Um apoio psicossocial direto também pode fazer uma grande diferença. Estudos na África do Sul e na Tailândia têm demonstrado que o acesso a serviços de saúde mental e à orientação correspondente contribui bastante para a qualidade de vida dos pacientes e, em alguns casos, esteve até mesmo associado à redução da mortalidade. O diagnóstico, o tratamento e a gestão das infecções oportunistas que ameaçam a vida continuam sendo um dos aspectos mais importantes referentes aos cuidados com pacientes com HIV. Quando o HIV começa a enfraquecer o sistema imunológico dos pacientes, o que tende a ocorrer dentro de cinco a sete anos após a infecção, bactérias, fungos, vírus e até mesmo cânceres que poderiam ser mantidos sob controle tornam-se ativos e prejudiciais. Algumas infecções como pneumonia, tuberculose4, além da candidíase oral e esofageana são relativamente fáceis de diagnosticar e possuem um tratamento custo-efetivo, enquanto outras, como a doença citomegalovirótica e o complexo avio micobacteriano, são difíceis de diagnosticar e possuem um tratamento bastante caro. Nesse último caso, a terapia anti-retroviral, que reduz a carga virótica de HIV, melhorando portanto o sistema imunológico, pode ser mais custo-efetiva do que o tratamento da própria infecção. Algumas infecções oportunistas caracterizam-se por umo custo-eficácia em termos de prevenção, e uma 4 Consulte DCP2, capítulo 16. Estratégias de maior custo-eficácia para a carga excessiva de doenças em países em desenvolvimento | 67 “É preciso haver muito mais pesquisa no custoeficácia de tratamentos de combate ao HIV/AIDS . . .” 68 Prioridades em Saúde| simples profilaxia, com o cotrimoxazol que evita a pneumonia Pneumocystis jiroveci, influencia a sobrevivência de forma positiva. Entretanto, a profilaxia das infecções oportunistas não é utilizada do modo apropriado nos países de baixa renda e de renda média e, infelizmente, o benefício possui curta duração, uma vez que não impede a erosão implacável do sistema imunológico nos indivíduos infectados. O único modo de se deter o avanço da doença nessas pessoas é a interrupção da réplica virótica por meio de uma terapia anti-retroviral. Houve um aumento nas perspectivas de tratamento das pessoas infectadas com HIV com medicamentos anti-retrovirais nos países de baixa renda e de renda média, mas a terapia anti-retroviral continua a ser um desafio dispendioso e complexo. O custo da terapia anti-retroviral em alguns países em desenvolvimento caiu de US$ 15.000 por ano por paciente para menos de US$ 150 por ano. Esse preço mais baixo está ao alcance de muitos países de renda média, mas ainda é uma carga substancial para os países de baixa renda, onde as despesas anuais com saúde pública são geralmente menores que US$ 20 por pessoa a cada ano. A OMS e o Programa Conjunto das Nações Unidas para HIV/AIDS calculam que somente cerca de 7% de um total de quase 6 milhões de pessoas que necessitam de tratamento consigam recebê-lo e que o número de pessoas que necessitam de terapia anti-retroviral aumente cerca de 8.000 por dia. O DCP2 (capítulo 18) descreve os diversos regimes disponíveis para o tratamento de primeira linha de HIV/AIDS quando não ocorre resistência aos medicamentos e para as terapias de segunda e terceira linha quando há resistência. Os medicamentos preferidos de primeira linha nos países em desenvolvimento são definidos pela eficácia diferencial de diversas combinações, além de preocupações com preços e patentes. Quase todas as terapias anti-retrovirais altamente ativas possuem alguns efeitos colaterais, desde o mais simples a ser tratado (por exemplo, anemia, com suplementação de ferro) até o mais complexo (lipodistrofia e doença cardiovascular). Para obter o máximo de benefício da terapia anti-retroviral, a adesão deve ser quase perfeita (além de 90%); nos casos de adesão subótima, a resistência pode se desenvolver em menos de duas semanas. Experiências com a terapia anti-retroviral no Haiti e em Uganda mostraram que programas que implementam tratamento com observação direta podem atingir altas taxas de adesão aos medicamentos em países de baixa renda, sendo às vezes mais altas do que em países de renda alta. Todavia, a alta taxa de adesão não pode ser considerada como garantida, uma vez que estudos na Índia, no México e no Senegal têm mostrado baixas taxas de adesão, demonstrando a necessidade de mais pesquisa em intervenções eficazes para aumentar a adesão. O confronto da epidemia de HIV requer apreciação das inúmeras interconexões entre tecnologia, economia, política e comportamento. Quando as celebridades e os líderes políticos endossam campanhas públicas para aumentar a conscientização e normalizar a discussão pública do HIV, as abordagens técnicas e comportamentais ganham um maior nível de aceitação. Quando os desenvolvimentos técnicos tornam o exame mais preciso, mais barato e mais fácil, a orientação e os testes voluntários podem ser melhor direcionados e se tornarem mais eficazes. Quando a concorrência genérica reduz o custo dos medicamentos, quando a ajuda internacional torna-se disponível para a compra desses medicamentos, e quando os programas sociais incentivam a adesão aos regimes de medicamentos, a terapia anti-retroviral torna-se mais custo-efetiva e financeiramente possível. É preciso haver muito mais pesquisa no custo-eficácia de tratamentos de combate ao HIV/AIDS, e os números em DCP2, capítulo 18, devem ser interpretados com o reconhecimento de que os tratamentos e os respectivos custos estão mudando rapidamente. O DCP2, capítulo 2, relata que o diagnóstico e o tratamento das infecções sexualmente transmissíveis custam cerca de US$ 57 por AVAD evitado, enquanto os programas de segurança em termos de sangue e agulhas custam cerca de US$ 84 por AVAD evitado. O tratamento das infecções oportunistas custa cerca de US$ 150 por AVAD evitado, enquanto que a prevenção e o tratamento da co-infecção com tuberculose custam cerca de US$ 120 por AVAD evitado. É difícil calcular o custo-eficácia da terapia anti-retroviral, uma vez que isso depende do preço dos medicamentos, da incidência de cepas resistentes a medicamentos, dos custos de diagnóstico, e da eficácia do sistema de saúde no fornecimento de medicamentos de forma apropriada. Enquanto a terapia anti-retroviral tem menos probabilidade de ser tão custo-efetiva quanto essas outras intervenções, o tratamento é um importante componente de toda uma estratégia global em nível nacional de combate e de controle do HIV que não pode ser ignorado. O fato de poder ser estendido de forma eficiente aos países de baixa renda é um teste importante para os próprios países afetados e para a comunidade internacional. Os maiores desafios da pesquisa no cuidado e no tratamento para os países em desenvolvimento não giram em torno do desenvolvimento de novos medicamentos, mas sim em torno da adaptação das estratégias de cuidados e de tratamento para os ambientes com baixa renda, baixa tecnologia, baixa capacidade de recursos humanos de forma a maximizar a adesão; minimizar a toxicidade, monitoramento e custo; e maximizar o prolongamento da alta qualidade de vida com a terapia anti-retroviral, ou seja, tudo isso sem prejudicar as infra-estruturas existentes de cuidados de saúde já fragilizadas. A sinergia entre prevenção e tratamento deve ser considerada no esforço de alocação dos recursos limitados. Embora a prevenção do HIV/AIDS seja normalmente mais custo-efetiva do que o tratamento cor- “Embora a prevenção do HIV/AIDS seja normalmente mais custo-efetiva do que o tratamento correspondente, as decisões para alocação de fundos públicos são complicadas pelas interações entre prevenção e tratamento.” Estratégias de maior custo-eficácia para a carga excessiva de doenças em países em desenvolvimento | 69 respondente, as decisões para alocação de fundos públicos são complicadas pelas interações entre prevenção e tratamento. A disponibilização do tratamento pode remover alguns dos estigmas e dos medos associados a AIDS e facilitar o contato com as pessoas infectadas, além de ajudar na orientação de modo a evitar futuras transmissões. O tratamento também pode reduzir a infecciosidade. Contudo, existem preocupações quanto ao fato de a disponibilidade do tratamento poder reduzir inibições e levar a um comportamento mais arriscado (conforme documentado nos Estados Unidos, Canadá e Europa). Uma baixa adesão ao tratamento também pode incentivar a resistência aos medicamentos, enquanto o aumento da longevidade como resultado do tratamento pode expor mais parceiros. O efeito real da interação de prevenção e tratamento é provavelmente diferente entre um país e outro, de modo que um estudo e um monitoramento mais abrangentes das inter-relações são essenciais. O controle do HIV/AIDS requer estratégias e políticas que tratem da prevenção e do tratamento com recursos limitados. Já existem muitas informações sobre a doença, o tratamento e estratégias específicas, a interação entre prevenção e tratamento, e as interconexões contextuais mais amplas. O DCP2 apresenta a experiência acumulada e as avaliações realizadas até o momento que permitem aos formuladores de políticas selecionar estratégias apropriadas. Tuberculose A tuberculose continua sendo a segunda maior causa de morte por agente infeccioso no mundo, apesar da disponibilização de medicamentos para cura da doença há 50 anos.5 A tuberculose tem prioridade alta na agenda internacional de saúde pública devido a essa enorme carga, devido ao aumento nos casos de tuberculose associada à infecção do HIV e à resistência aos medicamentos, e devido à estratégia de controle da tuberculose internacionalmente recomendada conhecida como DOTS (tratamento de curta duração supervisionado) ser reconhecida como uma das mais custo-efetivas de todas as intervenções de saúde. O ressurgimento da tuberculose em países de renda alta na década de 1980 surpreendeu as autoridades de saúde pública, mas as respostas públicas eficazes detiveram sua disseminação e reduziram a incidência na Europa Ocidental e Central, na América Latina e no Caribe, e também no Oriente Médio e na África do Norte. A tuberculose continuou a se espalhar e a matar, porém, em todos os lugares onde houve deterioração das condições sociais, as medidas de saúde pública não surtiram efeito e o HIV/AIDS continua predominante. Portanto, a incidência da tuberculose aumentou no Leste Europeu, principalmente nas antigas Repúblicas 5 70 Prioridades em Saúde| Esta seção é baseada em DCP2, capítulo 16. Soviéticas, desde os distúrbios políticos no final da década de 1980, e na África Subsaariana desde a metade da década de 80. Até 2003, foram calculados 8,8 milhões novos casos de tuberculose em todo o mundo anualmente. A mais alta taxa de incidência de população, 345 em 100.000 por ano, encontra-se na África Subsaariana, mas os países mais populosos da Ásia, como Bangladesh, China, Índia, Indonésia e Paquistão, respondem por metade dos casos de tuberculose do mundo. Os epidemiologistas estimam que o aumento dessas tendências pode ser invertido se 70% dos casos forem detectados e 85% desses curados. É preciso alcançar essa meta se a MDM sancionada internacionalmente para redução pela metade das taxas de incidência e de morte até 2015 precisar ser atingida.6 As intervenções de controle da tuberculose incluem a prevenção da infecção por meio de vacinação, o tratamento de infecções latentes e o tratamento de doenças ativas. Cerca de 80% dos recém-nascidos em todo o mundo recebem atualmente uma vacina com cepa viva atenuada, Bacilo de Calmette e Guérin (BCG). Ao mesmo tempo que protege as crianças contra a meningite e a tuberculose miliar, a vacina possui pouca eficácia contra a tuberculose pulmonar nos adultos. A vacinação ainda é custoefetiva em locais com altas taxas de incidência, mas é normalmente suspensa em países com baixa incidência, já que o risco de infecção é baixo e a resposta do sistema imunológico à vacina torna os testes de pele com tuberculina menos eficazes em termos de fiscalização da doença. A identificação e o tratamento dos casos ativos é atualmente a principal e a mais eficaz medida de controle da tuberculose. A parte principal desta abordagem é a estratégia DOTS (tratamento de curta duração supervisionado). A estratégia DOTS significa um diagnóstico com uma amostra positiva de escarro, tratamento a curto prazo com gestão eficaz de caso, suprimentos regulares de medicamentos e monitoramento sistemático para avaliar os resultados de cada paciente. A gestão eficaz de caso inclui uma supervisão freqüente por um agente de saúde ou voluntário da comunidade para garantir que o paciente esteja tomando o medicamento. O custo adicional do monitoramento de pacientes e a garantia da adesão desses pacientes ao regime de medicamentos, mesmo após a parada dos sintomas, já demonstrou o custo-efiácia por causa do impacto nas taxas de cura e, conseqüentemente, na redução da epidemia e na limitação do desenvolvimento da resistência aos medicamentos. Em todas as regiões, exceto na Europa e na Ásia Central, a estratégia DOTS custa entre US$ 5 e US$ 50 por AVAD evitado. Sob determinadas circunstâncias, essa estratégia pode economizar dinheiro e evitar novos 6 Em 2000, o G8 (Grupo de oito nações) reuniu-se em Okinawa, Japão, e informalmente definiu metas para a redução das mortes e dos casos de tuberculose até 2010. As MDMs das Nações Unidas definiram metas para redução pela metade dos casos e das mortes até 2015 referentes aos níveis de 1990, e a OMS está monitorando o progresso dessas metas. Estratégias de maior custo-eficácia para a carga excessiva de doenças em países em desenvolvimento | 71 casos e mortes. O tratamento de pessoas com cepas resistentes a muitos medicamentos ou também infectadas com HIV/AIDS é menos custo-efetivo, uma vez que os custos do tratamento são maiores e a eficácia e os benefícios esperados são menores. Todavia, o custo do tratamento de pacientes com tuberculose resistente a muitos medicamentos é relativamente pequeno quando comparado aos prováveis ganhos em termos de vida saudável, normalmente menos de US$ 400 por AVAD evitado. O tratamento de pessoas com infecções latentes, ou seja, pessoas infectadas com tuberculose mas não sintomáticas, é o menos custo-efetivo, ou seja US$ 5.500 a US$ 26.000 por AVAD evitado, quando a tuberculose é endêmica (relativamente estável) e a incidência do HIV é baixa. Porém, durante uma epidemia de tuberculose entre pessoas infectadas com HIV, o fornecimento de um tratamento de infecção latente entre aqueles que ainda não desenvolveram a doença ativa pode custar menos de US$ 100 por AVAD evitado nos países de baixa renda. A vacinação BCG também é custo-efetiva entre US$ 40 a US$ 170 por AVAD evitado. A pesquisa pode fornecer uma melhor variedade de intervenções no futuro, melhorando a abordagem DOTS; estreitando a ligação entre fornecedores privados, que em muitos ambientes são os primeiros a ver os pacientes de tuberculose, e no setor público; melhorando o entendimento de fatores de risco; aprimorando diagnósticos; ou procurando casos de forma ativa. O desenvolvimento de uma vacina de baixo custo e mais eficaz que a vacina BCG na proteção de adultos contra a tuberculose pulmonar revolucionaria o controle da tuberculose, desviando a ênfase do tratamento para a prevenção. Nesse momento, a abordagem DOTS ou outros regimes de tratamento desempenharão o papel principal. O sucesso no controle da tuberculose está bastante ligado à capacidade dos sistemas locais de saúde em manter um sistema eficaz na identificação de casos, no início do tratamento e na garantia de adesão. O custo é suportável em nível global. Em 2005, os países com altas taxas da doença que respondem por cerca de 80% dos casos globais gastaram somente US$ 1,2 bilhão, dos quais cerca de US$ 200 milhões foram provenientes de doadores internacionais. A assistência financeira contínua internacional é essencial para a garantia de que o controle da tuberculose possa ser mantido nos países mais pobres do mundo, onde o desafio do controle da tuberculose está alinhado com o desafio da criação e da implementação de programas públicos de saúde eficazes. Malária A malária é diretamente responsável por cerca de 2% de todas as mortes no mundo a cada ano (estima-se 1,2 milhão de mortes) e quase 3% de AVADs7 globais. Na África Subsaariana, a malária responde por uma 72 Prioridades em Saúde| Figura 4.1 Ecologia e carga de malária: Manifestações clínicas Doença de febre aguda Doença aguda Hipoglicemia/ anemia/ dificuldades respiratórias/ malária cerebral Seqüelas de longo prazo Morte Mosquito infectado Ser humano infectado Efeitos crônicos Anêmicos/ neurológicos/ cognitivos/de desenvolvimento Crescimento e desenvolvimento debilitados Peso baixo ao nascer Feto Aborto, parto de natimorto Desnutrição Mortalidade fetal e de recémnascidos Gravidez DoenÁa aguda Seqüelas de longo prazo Maternal Anemia Fonte: DCP2, capítulo 21, p. 00. Brener, Alilio e Mills 2004. grande parcela da carga da doença, causando cerca de 9% de todas as mortes e de 10% de todas as AVADs. A parcela nas outras regiões é bem menor, cerca de 1%, mas ainda assim responde por um número significativo de mortes e deficiências. Mais de 3 bilhões de pessoas moram em áreas onde a malária está presente. Muitos países fora da África têm controlado a doença com sucesso por meio de uma combinação de medidas preventivas e estratégias de tratamento. Para os países mais castigados pela malária, a implementação de tais programas tem sido dificultada pela emergência e pela dissemi7 Esta seção é baseada em DCP2, capítulo 21. Estratégias de maior custo-eficácia para a carga excessiva de doenças em países em desenvolvimento | 73 nação de cepas do parasito e dos vetores resistentes aos medicamentos e impedida pela fragilidade da infra-estrutura da saúde pública. Quatro espécies de parasitos da malária infectam os seres humanos. Plasmodium vivax e P. falciparum são os mais comuns, sendo o último o mais perigoso. Praticamente todas as mortes são causadas pelo P. falciparum, que predomina no Haiti, Papua Nova Guiné e Africa Subsaariana. O P. vivax é mais comum na América Central e no Sul da Ásia. O parasito é transportado pelos mosquitos, cuja capacidade de reprodução e de disseminação do parasito é bastante influenciada pelo clima. As infestações ocorrem quando as pessoas são mordidas pelos mosquitos que transportam o parasito. A taxa de incidência, portanto, depende do número de mordidas por pessoa que transmite o parasito, ou da taxa de inoculação entomológica. Isso varia de menos de 1 mordida por pessoa por ano na América Latina e Sudeste Asiático para mais de 300 em partes da África tropical (Figura 4.1). Corretamente tratada, a malária sem complicações possui uma taxa de mortalidade de apenas 0,1%. Quando a doença não é tratada e afeta órgãos vitais, a mortalidade aumenta assustadoramente. Pode ocorrer coma e, nesse caso, a probabilidade de morte é de cerca de 20% em adultos e 15% em crianças. A malária cerebral pode provocar convulsões, problemas neurológicos e morte. As infecções da malária também podem provocar anemia branda, moderada ou aguda. Além disso, a malária possui um grande impacto nas outras condições de saúde. As mulheres que contraem malária durante a gravidez têm mais chances de desenvolver anemia e dar à luz crianças abaixo do peso, correndo mais riscos de doenças, deficiências ou até mesmo de morrer. Cerca de 3,7% das mortes maternas, ou 5.300 mortes por ano, são resultantes das condições relacionadas a malária. As estimativas mostram que entre 190.000 e 934.000 crianças morrem a cada ano quando a malária contribui para o desenvolvimento da anemia. Quando uma pessoa fica doente de malária, isso significa uma variedade de outras conseqüências. Um estudo na África calculou que 13 a 15% do absenteísmo das escolas ocorria devido ao fato de as crianças estarem com malária (Holding e KitsaoWekulo, 2004). Estudos na Gâmbia e no Quênia mostraram que as crianças protegidas por mosquiteiros tratados com inseticidas cresciam mais rápido do que as crianças sem proteção. O uso de medicamentos e os controles de vetores são as principais estratégias e as intervenções contra a malária buscam a eliminação dos mosquitos, a prevenção contra mordidas, o bloqueio do desenvolvimento da doença ou o tratamento da doença. Os métodos ambientais de matança dos mosquitos que espalham a malária incluem a eliminação dos locais de criação e a aplicação de inseticidas. Outras iniciativas em matar mosquitos ou evitar mordidas incluem a aplicação de inseticidas via spray 74 Prioridades em Saúde| em lugares fechados ou o uso de mosquiteiros tratados com inseticidas. Muitos medicamentos funcionam de forma profilática e são levados pelos viajantes para os locais infestados com malária e também pelas mulheres grávidas. Está cada vez mais difícil encontrar medicamentos para o tratamento da doença por causa da apariência das cepas de malária resistentes aos medicamentos em todo o mundo. A eficácia e a viabilidade de alguns tratamentos dependem bastante do fato de a transmissão da malária ser instável (baixa, errática ou focal) ou estável (freqüente, intensa e durante todo o ano). Nos lugares em que a transmissão da malária é instável, a imunidade protetora não é adquirida. Já nos lugares onde a transmissão da malária é estável, os sobreviventes desenvolvem uma certa imunidade, e na fase adulta, as infecções da malária são geralmente assintomáticas. Nas áreas com transmissão instável, os programas focados que eliminam os locais de criação por meio do uso sensato de inseticidas ou de mudanças nas práticas de construção podem ser viáveis e eficazes, enquanto nas áreas com transmissão estável, a identificação e o controle de todos os locais de criação em potencial são geralmente inviáveis. Nas áreas com transmissão instável, a profilaxia para mulheres grávidas ou a terapia preventiva intermitente será mais eficaz somente durante a epidemia temporária localizada. Nas áreas com transmissão estável, contudo, o uso mais genérico da terapia preventiva intermitente pode ser extremamente eficaz. Muitos lugares têm usado redes tratadas com inseticida (ITNs) com sucesso na redução da transmissão. As ITNs têm sido associadas a reduções na mortalidade infantil em 18% e a reduções nos episódios de malária até 50% em diferentes partes da África. O impacto das ITNs refere-se não apenas à efetividade técnica das redes e à duração e eficácia do inseticida usado, mas à aceitação social e cultural do uso e da acessibilidade financeira desses recursos. A China, a Tanzânia e o Vietnã promoveram com sucesso o uso de ITNs e atingiram um controle substancial da malária em muitos lugares. As estratégias de incentivo ao uso de redes tratadas com inseticidas incluem marketing social no Quênia e em Malauí; desenvolvimento assistido do setor comercial em Mali, Senegal e Tanzânia; distribuição gratuita generalizada em Togo; e cupões para ITNs altamente subsidiadas distribuídos às mulheres grávidas na Tanzânia. Os programas de tratamento têm dependido tradicionalmente de medicamentos de custo relativamente baixo, principalmente cloroquina. O sucesso depende da detecção e do tratamento oportunos, ou seja, na hora certa. Na África do Sul, onde 83% da população vive a menos de 10 quilômetros de distância de uma clínica médica, os profissionais de saúde desempenham um papel muito importante. Em países como Burkina Faso, Etiópia e Uganda, onde as clínicas médicas são bem menos Estratégias de maior custo-eficácia para a carga excessiva de doenças em países em desenvolvimento | 75 acessíveis, a redução da mortalidade e da morbidade por meio de tratamento tem exigido o treinamento das mães e dos agentes comunitários de saúde na utilização de tratamentos baseados em diagnósticos presumíveis. Em muitas áreas, cepas do parasito resistentes à cloroquina e à sulfadoxinepiremetamina são agora comuns. Felizmente, os pesquisadores desenvolveram uma nova variedade de medicamentos, inclusive a terapia ACT (artemisinin combination therapy – Terapia de Combinação de Armesinin), que custa mais do que os tradicionais medicamentos de primeira linha, mas resulta custo-efetiva em áreas onde as cepas resistentes aos medicamentos são altamente dominantes. A educação em saúde junto com orientações específicas são também bastante importantes para o controle da malária. Elas melhoram a oportunidade de tratamento, ajudando as pessoas a identificar a doença e a procurar os cuidados apropriados. Também promovem o uso melhor e mais regular das ITNs e incentivam um novo tratamento das redes com inseticida quando necessário. Além disso, ainda melhoram a adesão aos tratamentos, reduzindo assim a transmissão do parasito e o desenvolvimento da resistência aos medicamentos. A maioria das intervenções disponíveis da malária são bastante custoefetivas. Quase todas custam menos de US$ 150 por AVAD evitado e muitas podem ser implementadas a um custo de menos de US$ 10 por AVAD. O DCP2 calcula que as ITNs custam entre US$ 11 e US$ 17 por AVAD evitado, dependendo do tipo de inseticida e da freqüência dos novos tratamentos necessários; a aplicação residual de spray em locais fechados custa entre US$ 5 e US$ 18 por AVAD evitado; e o tratamento preventivo intermitente de mulheres grávidas custa entre US$ 13 e US$ 35 por AVAD evitado. Entre os tratamentos com medicamentos, a cloroquina continua sendo o tratamento mais custo-efetivo, uma vez que a resistência à cloroquina é menor de cerca de 35%. Quando a incidência da resistência aumenta além deste nível, a terapia ACT começa a se tornar mais custo-efetiva. A sulfadoxinepiremetamina pode ser mais custo-efetiva do que a cloroquina e a terapia ACT, mas a resistência da primeira parece emergir bem mais rápido, enquanto a terapia ACT é mais custo-efetiva do que a sulfadoxinepiremetamina quando a resistência a esta ultrapassa aproximadamente 12%. Enquanto as intervenções de malária são custo-efetivas, a viabilidade delas depende da disponibilidade dos recursos financeiros e da infraestrutura de saúde, além das condições epidemiológicas locais. O custo total de um programa na promoção do uso de redes tratadas com inseticida para crianças é de cerca de US$ 2,80 por cabeça por ano, e um programa para aplicação residual de spray em locais fechados pode custar cerca de US$ 4 por cabeça por ano. Apesar desses custos poderem parecer 76 Prioridades em Saúde| baixos por muitos padrões, eles são proibitivos nos países onde a malária é endêmica, uma vez que todos os orçamentos públicos para todas as despesas com saúde nesses países giram entre US$ 2 e US$ 10 por cabeça por ano. A ruptura das limitações financeiras para esses programas custoefetivos requer assistência externa substancial. A pesquisa para obtenção de uma vacina contra a malária está em andamento há muito tempo e deve ser ainda mais incentivada, mas o desenvolvimento de tal vacina ainda necessita de muitos mais anos. Enquanto isso, a pesquisa também é necessária para melhorar os cuidados com os pacientes, incluindo cuidado mais barato do paciente em domicílio e avaliação dos sistemas alternativos de prestação de serviços; prevenção, como tratamento intermitente e aumento do uso de redes tratadas com inseticida; tecnologias, como inseticidas e moléculas determinantes antiparasitárias que utilizam o genoma; e avaliações de campo de métodos transgênicos de interrupção da transmissão da malária. Essa pesquisa sobre novas formas de intervenção, junto com a implementação de estratégias conhecidas e custo-efetivas de prevenção e tratamento, permitirá o controle bem-sucedido dessa doença. Uma vez que a maior incidência de malária concentra-se em países onde as altas taxas de transmissão são combinadas com recursos limitados e sistemas de saúde deficientes, o controle da malária certamente também requer uma maior assistência internacional. Doenças que podem ser evitadas com vacinação As doenças para as quais vacinas de custo relativamente baixo e altamente eficazes encontram-se disponíveis respondem por uma parte importante da carga de doenças nos países em desenvolvimento.8 O DCP2 (capítulo 20) aborda a tuberculose, difteria, tétano, coqueluche, pólio, sarampo, rubéola, Hib, hepatite B, febre amarela, doença meningocócica e encefalite japonesa. Também existem vacinas disponíveis ou que estão sendo desenvolvidas para duas causas das doenças de diarréia: rotavírus e cólera (DCP2, capítulo 19). As doenças que podem ser evitadas com vacinação são bastante variadas. Algumas dessas doenças são causadas por bactérias, enquanto outras são causadas por vírus; algumas são encontradas principalmente em seres humanos, enquanto outras também desenvolvem-se facilmente em outras espécies; algumas têm altas taxas de fatalidade, enquanto outras são debilitadoras; algumas concentram-se em determinadas regiões, enquanto outras se espalham de forma generalizada; e algumas são transmitidas via contato respiratório, enquanto outras são transmitidas através de mordidas de insetos ou pelo contato com sangue ou substância fecal 8 Esta seção está baseada em DCP2, capítulos 16, 19, 20, 25 e 27. Estratégias de maior custo-eficácia para a carga excessiva de doenças em países em desenvolvimento | 77 infectados. Apesar dessa variabilidade, as doenças que podem ser evitadas com vacinação geralmente possuem duas características importantes: as pessoas podem ser infectadas sem mostrar sinais dos sintomas (com exceção do tétano) e a imunidade induzida pela vacina dura normalmente por toda a vida (exceto a coqueluche). Os países que imunizam uma grande parte de suas populações contra essas doenças têm eliminado a maior parte da mortalidade e da morbidade associadas a elas. As regiões com baixa cobertura de vacinação continuam a ter milhares de mortes que seriam relativamente fáceis de serem evitadas. Em 2001, sete doenças que podem ser evitadas com vacinação, ou seja, sarampo, hepatite B, Hib, coqueluche, tétano, febre amarela e difteria, causaram mais de 2,3 milhões de mortes, principalmente, na África e na Ásia. Cerca de 80% de todas as mortes de febre amarela ocorrem na África, assim como 59% de sarampo, 58% de coqueluche e 41% de tétano. O Leste Asiático e o Pacífico enfrentam a maior carga de mortes de hepatite B e condições associadas e respondem por 62% de todas as mortes dessa doença. O Sul da Ásia também possui uma alta taxa de mortalidade dessas doenças, principalmente, tétano e sarampo. Nas últimas décadas, muitas iniciativas globais têm procurado expandir a cobertura das vacinas. Desde 1974, o Programa Ampliado de Imunizações (PAI, ou EPI em inglês) da OMS tem fornecido orientações e apoio na expansão da cobertura, padronizando as agendas de imunização, promovendo tecnologias seguras de injeção, melhorando o armazenamento e a disponibilidade das vacinas, e protegendo a potência das vacinas por meio de gestão do isolamento térmico ou cadeia de frio. A estratégia Alcance de Todas as Localidades desse programa tem por finalidade fazer com que 80% das crianças de cada país receba as três doses da vacina difteria-coqueluche-tétano. Em 2000, entidades internacionais, doadores bilaterais, fundações privadas, ONGs e empresas farmacêuticas colaboraram no lançamento da Aliança Global para Vacinas e Imunização (GAVI). Desde então, a GAVI tem levantado mais de US$ 1,3 bilhão para fortalecer os sistemas de imunização; introduzir novas vacinas ou vacinas subutilizadas, como as vacinas contra Hib, hepatite B e febre amarela; e apoiar as práticas de injeção segura. Além disso, as principais iniciativas de pesquisa destinam-se ao desenvolvimento de novas vacinas e métodos de prestação de cuidados de saúde. Uma vez disponibilizada uma vacina, o aspecto mais importante da definição dos programas de imunização é a organização da logística das pessoas a serem vacinadas. Nos países mais desenvolvidos, as crianças são levadas até as unidades de saúde para receber injeções ou tomar vacinas via oral. Um número considerável de vacinas também são ministradas de forma extensiva; isto é, estratégias móveis em que os profissionais de saúde viajam até as casas e aldeias. As campanhas de imunização que enfa78 Prioridades em Saúde| tizam antígenos específicos são outro tipo de abordagem. As campanhas de imunização mais famosas enfatizaram a varíola, que foi declarada como totalmente erradicada em 1980, e a pólio, que é atualmente encontrada somente em alguns poucos países (DCP2, capítulo 8). A vacinação é normalmente bastante custo-efetiva. Na maioria dos casos, as vacinas têm custo relativamente baixo e uma única dose proporciona imunidade para toda a vida. Sempre que um tratamento for disponibilizado para uma infecção disseminada e potencialmente fatal, ele provavelmente será custo-efetivo. A mistura das estratégias de fornecimento do material, o preço dos itens principais (a própria vacina, mais mão-de-obra, transporte e armazenamento refrigerado), junto com a escala global do programa afetam os custos. Os custos recorrentes representam cerca de 80% dos custos associados ao fornecimento das vacinas por meio das unidades fixas de saúde e 92% dos custos das campanhas de imunização. O custo por criança totalmente imunizada para as seis vacinas originais do programa EPI, ou seja, tuberculose, difteria, coqueluche, tétano, pólio e sarampo, é de aproximadamente US$ 20. Os pesquisadores calculam que o custo adicional de substituição de uma vacina contra pólio via oral por uma vacina injetável e a adição de novos antígenos para a hepatite B, febre amarela, Hib, sarampo, rubéola, encefalite japonesa e doença meningocócica aos programas existentes fique entre US$ 1 e US$ 16 por pessoa. O custo-eficácia é influenciada não só pelas diferenças em preços e estratégias, mas também pelos níveis existentes de cobertura de imunização. O custo por morte evitada decorrente da vacinação bem-sucedida em crianças contra as seis doenças originais do programa EPI é de US$ 205 por morte evitada no Sul da Ásia e na África Subsaariana, e de US$ 3.540 por morte evitada na Europa e Ásia Central, com as taxas relativamente altas de cobertura na última região sendo responsáveis em grande parte pela diferença. Todavia, mesmo a um custo de US$3.540 por morte evitada, a vacinação ainda é altamente custo-efetiva na Europa e na Ásia Central, se comparando favoravelmente a muitos outros usos do dinheiro público. O progresso futuro no controle de doenças que podem ser evitadas com vacinação depende do tratamento das restrições financeiras e logísticas nos países de baixa renda. Mesmo que os programas de imunização tenham custo relativamente baixo, os recursos financeiros de muitos países de baixa renda são tão limitados que até os programas baratos respondem por porções substanciais de financiamentos disponíveis. Em média, os programas de imunização respondem por 6% dos gastos do governo com saúde nos países em desenvolvimento. Contudo, entre os países com mais baixa renda do mundo, procedimentos como a expansão da cobertura dos antígenos tradicionais, a introdução de novas vacinas e a melho- “. . . mesmo quando as crianças nos países em desenvolvimento têm uma média de 3,2 episódios de diarréia a cada ano, o número de mortes parece ter caido de forma significativa, considerando-se uma previsão calculada entre 4 e 6 milhões de mortes em 1979 para uma média de 2,6 milhões por ano na década de 1990. . .” Estratégias de maior custo-eficácia para a carga excessiva de doenças em países em desenvolvimento | 79 ria da qualidade e da segurança da vacina podem consumir até 20% do orçamento do governo destinado à área de saúde na ausência de uma assistência estrangeira substancial. O volume de despesas pode ser reduzido por meio de pesquisa e desenvolvimento de vacinas que necessitem de menos doses e que sejam mais baratas em termos de produção, mais fáceis de transportar e armazenar, e mais seguras de administrar. O desenvolvimento de novas estratégias de aplicação de vacinas também pode fazer uma considerável diferença na universalização da cobertura de imunização nos países de baixa renda. Doenças da diarréia “Cerca de 800.000 vidas por ano podem ser salvas com a preparação e o armazenamento dos alimentos de forma mais higiênica e com a promoção da educação, fornecendo uma boa nutrição e garantindo ganho de peso adequado.” A doença da diarréia é uma das cinco principais causas de morte de crianças abaixo dos cinco anos de idade nos países em desenvolvimento que pode ser evitada.9 É mais perigosa para os mais jovens, com cerca de 90% da ocorrência das mortes decorrentes de diarréia em crianças pequenas. Contudo, mesmo quando as crianças nos países em desenvolvimento têm uma média de 3,2 episódios de diarréia a cada ano, o número de mortes parece ter caido de forma significativa, considerando-se uma previsão calculada entre 4 e 6 milhões de mortes em 1979 para uma média de 2,6 milhões por ano na década de 1990, e sendo o motivo principal dessa melhoria atribuído às intervenções eficazes de saúde pública (consulte, por exemplo, a discussão sobre a utlização da terapia de reidratação oral na República Árabe do Egito em DCP2, capítulo 8). Dezenas de vírus, bactérias, protozoários e helmintos causam doenças da diarréia. Alguns desses agentes dependem quase exclusivamente de hospedeiros humanos, enquanto outros também infectam animais. São normalmente adquiridos por meio de transmissão fecal-oral, geralmente pela ingestão de água contaminada ou alimentos não lavados. A infecção por esses agentes causa graves ataques de diarréia, compromete o sistema imunológico do corpo, enfraquece a capacidade do corpo de retirar nutrientes dos alimentos e pode levar a uma séria e rápida desidratação. Uma forte diarréia aguda aquosa, causada principalmente por rotavírus, Escherichia coli enterotoxigênico, e vibrio cholerae, causa uma rápida desidratação e pode levar à morte. A diarréia persistente está associada a desnutrição, e apesar de responder por uma porção relativamente pequena de casos de diarréia, tem três vezes mais probabilidade de ser fatal do que a diarréia aquosa. A diarréia sanguinolenta é freqüentemente associada a danos intestinais e deterioração nutricional, um pouco de desidratação e febres. As estratégias para redução da carga da doença da diarréia não mudaram substancialmente desde a primeira edição de Disease Control 9 80 Prioridades em Saúde| Esta seção é baseada em DCP2, capítulos 19 e 41. Priorities in Developing Countries (Jamison e outros, 1993) com exceção de alguns avanços em tecnologias de vacinas. Práticas de uma melhor alimentação com mais higiene, imunização, melhores condições da água e saneamento, e melhor gestão dos casos são as principais intervenções disponíveis para se evitar e tratar doenças da diarréia. Uma alimentação melhor e com mais higiene começa com programas que promovem amamentação exclusiva durante os primeiros seis meses de vida de uma criança. Isso reduz a probabilidade de uma criança ingerir comida ou água contaminada durante a infância e fortalece o sistema imunológico da criança através da ingestão de elementos benéficos no leite materno. Esses programas incluem políticas hospitalares que incentivam a amamentação, orientação e educação por amigos e profissionais de saúde, campanhas de educação da comunidade e dos meios de comunicação de massa, e grupos de apoio das mães.10 Práticas de uma melhor alimentação quando uma criança já estiver com seis meses também podem ser incentivadas e serem eficazes. Cerca de 800.000 vidas por ano podem ser salvas com a preparação e o armazenamento dos alimentos de forma mais higiênica e com a promoção da educação, fornecendo uma boa nutrição e garantindo ganho de peso adequado. Os pesquisadores também mostraram que a vitamina A e a suplementação de zinco possuem efeitos benéficos sobre a diarréia: os dois itens estão associados à redução da freqüência da diarréia grave e a suplementação de zinco também reduz a incidência de diarréia. A imunização contra rotavírus pode evitar até 440.000 mortes por ano dessa infecção comum. O desenvolvimento de uma vacina segura e eficaz contra o cólera também tem sido difícil, e a doença pode normalmente ser controlada por meio de programas eficazes de saúde pública. Somente o Vietnã normalmente utiliza a vacina contra o cólera. Outros países decidiram que a terapia de reidratação oral (ORT) é tão barata e tão eficaz na prevenção de mortes decorrentes do cólera que os custos e os riscos de imunização não valem a pena. O sarampo compromete o sistema imunológico e pode portanto levar a uma diarréia aguda. Ao reduzir a ocorrência do sarampo, as vacinas podem reduzir de 6 a 26% das mortes por diarréia entre crianças abaixo de cinco anos de idade. Outra forma de reduzir a doença da diarréia é fornecendo água limpa e saneamento, já que as estimativas indicam que a água contaminada causa 90% dos casos de diarréia entre as crianças. Todavia, DCP2 (capítulo 41, p. 778), ressalta que “a higiene doméstica, principalmente com ali- as mulheres e as crianças... gastam em média mais de uma hora por dia na área rural do Leste Africano e mais de duas horas por dia em diversos países da Ásia para obter e transportar água.” 10 A única qualificação importante desta abordagem é a preocupação com a transmissão do HIV de mãe para filho. A melhor prática nesses casos seria a substituição da alimentação segura para a criança de uma mãe HIV-positiva. Contudo, quando o status de HIV de uma mãe é desconhecido em países com alta incidência de HIV, uma decisão deve ser tomada para equilibrar os riscos de transmissão de HIV contra os prováveis benefícios da amamentação exclusiva (DCP2, capítulo 19). Estratégias de maior custo-eficácia para a carga excessiva de doenças em países em desenvolvimento | 81 “. . . onde água e saneamento básicos não se encontram disponíveis, a higiene é deficiente e a terapia de reidratação oral não é amplamente usada, e as intervenções na saúde pública direcionadas à prevenção das doenças da diarréia são extremamente custo-efetivas.” “. . . o progresso contra as doenças da diarréia pode ser obtido apesar da pobreza.” 82 Prioridades em Saúde| mentos e com as mãos, é o principal determinante das taxas endêmicas das doenças da diarréia e não a qualidade da água potável.” Em vez da qualidade, a quantidade, a continuidade e a conveniência dos serviços de água são os fatores que reduzem a incidência da diarréia, incentivando um comportamento com mais higiene com relação aos cuidados pessoais e preparação dos alimentos. Os investimentos em infra-estrutura de água e saneamento podem custar caro quando comparados a outras medidas preventivas e tratamento de casos. Contudo, o serviço de água possui muitos benefícios para a saúde, além da redução da doença da diarréia. Quando o serviço de água é associado a uma melhor higiene pessoal, não ocorre a transmissão das infecções da pele e dos olhos como o tracoma de uma pessoa para outra; há uma redução da incidência de doenças decorrentes da água como a esquistossomose e o verme da Guiné; e a redução da exposição aos vetores de insetos da água responsáveis pela dengue, malária e tripanossomíase. O mais importante benefício que as pessoas popularmente associam aos serviços de água e saneamento é a maior conveniência e não os efeitos na saúde. A economia de tempo e de mão-de-obra pode ser substancial, considerando-se que as mulheres e as crianças gastam em média mais de uma hora por dia na área rural do Leste Africano e mais de duas horas por dia em diversos países da Ásia para obter e transportar água. As pesquisas também mostram que as pessoas nos países em desenvolvimento atribuem valor à melhoria do saneamento menos por razões de saúde do que por razões de conforto, prestígio e segurança. Nos debates de políticas públicas, os benefícios para a saúde em termos de água e saneamento podem ser melhor visualizados como um benefício adicional conferido pelos investimentos em água e saneamento justificados por outras razões. A política de saúde pública ainda precisa desempenhar o seu papel na regulamentação da qualidade da água, mas as autoridades públicas sanitárias podem ser justificadas com a expansão da sua autoridade normativa ao considerar a quantidade e a continuidade dos serviços de água oferecidos como uma importante influência sobre os comportamentos de higiene que reduzem a incidência da doença. Quando ocorrer uma falha na prevenção da diarréia, técnicas simples e de baixo custo estão disponíveis para o controle da maioria dos casos. A ORT, que consiste na administração oral de fluidos contendo sais e açúcares simples, é de baixo custo e pode ser administrada pelos membros da família com pouco treinamento, e é altamente eficaz na redução da gravidade de muitas doenças da diarréia e na não-ocorrência de mortes. Após sua introdução na década de 1980, muitos países expandiram rapidamente o uso da ORT para atingir 33% das crianças com diarréia nas Filipinas, 35% no Brasil, 50% no Egito e 81% no México. A suplementação de zinco para as crianças com doença da diarréia também ajuda a reduzir a gravidade da doença. Nos casos de diarréia sanguinolenta, o tratamento com medicamentos antimicrobianos é indicado, mas como ocorre com muitas outras doenças, a resistência aos antimicrobianos de primeira linha está se alastrando e tornando esses medicamentos menos eficazes. Nos lugares onde a água e o saneamento básicos não se encontram disponíveis, a higiene é deficiente e a terapia de reidratação oral não é amplamente usada, e as intervenções na saúde pública direcionadas à prevenção das doenças da diarréia são extremamente custo-efetivas. A promoção da amamentação exclusiva, da imunização do sarampo, da terapia de reidratação oral e da higiene custa menos de US$ 5 por AVAD evitado; a promoção de um melhor saneamento através de uma política pública custa cerca de US$ 11 por AVAD evitado; o investimento e a manutenção de bombas manuais de água custam cerca de US$ 94 por AVAD evitado; conexões de casa para água potável custam cerca de US$ 223 por AVAD evitado; e a construção e a promoção dos recursos de saneamento básico custam mais de US$ 270 por AVAD evitado (DCP2, capítulo 41). Os fatores que incentivam a transmissão e o desenvolvimento das doenças da diarréia são dominantes entre as pessoas que vivem na pobreza. As pessoas empobrecidas têm mais probabilidade de ficarem subnutridas, de carecerem de água potável e meios sanitários de descarte do lixo humano, de coabitarem com animais que abrigam e transmitem patógenos humanos, de carecerem de acesso aos meios adequados de armazenamento de alimentos como refrigeração. Todavia, o progresso contra as doenças da diarréia pode ser obtido apesar da pobreza. Programas eficazes podem incentivar esses comportamentos saudáveis como amamentação exclusiva e higiene pessoal; melhorar as condições ambientais através da provisão de água potável e saneamento; e treinar os dispensadores de cuidados para reconhecer sintomas, principalmente, das formas mais perigosas de diarréia, e aplicar tratamentos relativamente simples. “. . . mais de 99% de mortes maternas ocorrem no mundo em desenvolvimento. Esse diferencial representa a maior disparidade existente nas estatísticas de saúde pública entre os países de baixa renda e os de renda alta.” SAÚDE MATERNA E NEONATAL Junto com as doenças infecciosas, as condições maternas e neonatais respondem por uma parte considerável da lacuna existente na área de saúde entre os países ricos e pobres; por exemplo, mais de 99% das mortes maternas ocorrem no mundo em desenvolvimento. Esse diferencial representa a maior disparidade existente nas estatísticas de saúde pública entre os países de baixa renda e os de renda alta. No geral, o risco médio de vida das mortes maternas é de l em 4.000 nos países de renda alta, de 1 em 61 nos países de renda média, e de 1 em 17 nos países de baixa renda. “.. . . as mortes neonatais respondem por 40% de todas as mortes infantis abaixo de cinco anos, . . . “ Estratégias de maior custo-eficácia para a carga excessiva de doenças em países em desenvolvimento | 83 “. . . 210 milhões de gestações ocorrem a cada ano, sendo que 60 milhões acabam em aborto ou com a morte da mãe ou do bebê.” “. . . os programas de planejamento familiar podem evitar entre 20 e 40% de todas as mortes infantis. . .” 84 Prioridades em Saúde| As taxas de mortalidade durante o período neonatal (desde o nascimento até 28 dias de idade) também revelam grandes diferenças entre os países ricos e pobres. Somente 1% de todas as mortes neonatais ocorrem nos países de renda alta, onde a taxa média de mortalidade neonatal gira em torno de 4 em cada 1.000 nascimentos vivos. Nos países de baixa renda, a média gira em torno de 33 em cada 1.000 nascimentos vivos. A maioria das mortes neonatais ocorre no Sul da Ásia por causa do tamanho da população; contudo, 20 dos países com as maiores taxas de mortalidade neonatal encontram-se na África Subsaariana. As taxas mais elevadas são encontradas nos países onde as guerras civis e a instabilidade política exacerbaram a pobreza como a Etiópia, a Libéria e Serra Leoa. Nesses países, as taxas de mortalidade neonatal ultrapassam 50 em cada 1.000 nascimentos vivos. Os acordos internacionais têm reconhecido a importância da redução da mortalidade materna e infantil nos países de baixa renda e de renda média. Na verdade, duas das oito MDMs tratam dessas questões: a quarta meta requer a redução da mortalidade entre crianças abaixo de cinco anos em dois-terços, enquanto a quinta meta requer a redução da taxa da mortalidade materna em três-quartos, as duas até 2015. O DCP2 enfatiza que as mortes neonatais respondem por 40% de todas as mortes infantis abaixo de cinco anos, que a primeira semana de vida é quando ocorrem 75% dessas mortes neonatais, e que 50% das mortes maternas ocorrem na primeira semana após o parto. As taxas de mortalidade materna e infantil em um determinado país podem revelar mais sobre o estado do sistema de saúde correspondente do que quaisquer outros números. A obtenção de baixas taxas de mortalidade maternas e infantis requer um sistema de prestação de serviços de saúde integrado e em bom-funcionamento que alcance comunidades com educação e orientação, ajude as pessoas a evitar uma gravidez indesejada, promova uma boa nutrição, examine a existência de riscos, ajude na obtenção de nascimentos saudáveis e responda às emergências obstétricas de forma eficaz. O setor de saúde sozinho, contudo, dificilmente conseguirá atingir ou sustentar avanços em saúde materna em muitos países sem mudanças sociais concomitantes para aumentar a educação das meninas; reduzir viés de gênero em termos de emprego e renda; e confrontar desequilíbrios na negociação de força dentro do lar que afetam o acesso das mulheres à nutrição, ao volume de trabalho doméstico e à segurança física. Contudo, o enfoque principal do DCP2 são as intervenções no setor de saúde, ao mostrar que muitas intervenções são custo-efetivas para evitar uma gravidez indesejada, para tornar a gravidez e o parto mais seguros, e para melhorar a saúde neonatal encontram-se disponíveis. Planejamento familiar “A cada ano, os abortos No mundo inteiro, calcula-se que 210 milhões de gestações ocorrem a cada ano, sendo que 60 milhões acabam em aborto ou com a morte da mãe ou do bebê.11 Vinte e cinco por cento de todas as gestações, cerca de 52,5 milhões, terminam com um aborto. Mais de 500.000 mortes maternas e 4 milhões de mortes neonatais ocorrem anualmente, mas a mortalidade é somente um dos resultados negativos possíveis. Todo ano, mais de 54 milhões de mulheres também sofrem de doenças ou de complicações durante a gravidez e o parto. Na verdade, as condições associadas à maternidade representam entre 12 e 30% da carga das doenças entre mulheres com 15 a 44 anos de idade nos países em desenvolvimento. As condições de saúde reprodutiva são a principal fonte da diferença na carga da doença entre homens e mulheres, com as mulheres geralmente vivendo bem mais, mas com condições menos saudáveis. Apesar de a gravidez e o parto serem partes naturais de uma vida saudável, eles acarretam riscos. As mulheres com pressão alta, doença do coração, malária, anemia, tuberculose, hepatite, infecções sexualmente transmissíveis ou HIV/AIDS enfrentam riscos substanciais durante a gravidez. O fornecimento dos serviços adequados de exames, orientação e contracepção é de grande importância para essas mulheres. Uma gravidez indesejada também provoca conseqüências negativas. Os dados são diversificados e as variações regionais são imensas, mas as estimativas indicam que os programas de planejamento familiar podem evitar entre 20 e 40% de todas as mortes infantis, prevenindo nascimentos entre adolescentes e mulheres com mais idade e permitindo intervalos de três a cinco anos entre as gestações. O planejamento familiar pode reduzir gestações indesejadas e ajudar os casais a atingirem o tamanho desejado da família. O acesso a métodos contraceptivos eficazes é o ponto principal. A demanda não-atendida de contracepção é definida como o número de mulheres que desejam evitar engravidar, mas que não estejam usando a contracepção. Essa demanda é mais alta na África Subsaariana, onde cerca de 19,4% das mulheres gostariam de evitar engravidar, mas não utilizam métodos de contracepção. Os maiores obstáculos em atender a necessidade de contracepção incluem a falta de conhecimento, preocupações com a saúde e desaprovação social. Com algumas variações em cada país e no contexto correspondente, esses fatores são mais importantes do que os suprimentos, a disponibilidade ou os custos dos contraceptivos. Nos países onde existe um maior atendimento da demanda de contracepção, como Brasil, Colômbia e Vietnã, existem taxas menores de fertilidade e uma menor mortalidade materna. Ao contrário, na África Subsaariana, a porcentagem 11 praticados sem condições de segurança causam cerca de 80.000 mortes, respondendo por cerca de 13% da carga das doenças entre mulheres em idade reprodutiva.” Esta seção é baseada em DCP2, capítulo 57. Estratégias de maior custo-eficácia para a carga excessiva de doenças em países em desenvolvimento | 85 “O custo dos programas de planejamento familiar varia entre US$ 5.000 e US$ 35.000 por morte materna evitada, entre US$ 1.300 e US$ 5.000 por morte infantil evitada, e . . entre US$ 30 e US$60 por AVAD evitado.” 86 Prioridades em Saúde| de mulheres com necessidades não-atendidas às vezes ultrapassa a porcentagem de mulheres que estão usando métodos contraceptivos. Quando as mulheres passam por gestações indesejadas, muitas optam pelo aborto, mesmo quando ilegal ou não aceito pela sociedade. Em 1995, foi feita uma estimativa de 35,5 milhões de abortos realizados nos países em desenvolvimento. A maioria dos abortos legais ocorrem na China e em outros lugares da Ásia, mas devido ao tamanho da população e às altas taxas de fertilidade, há também uma grande quantidade de abortos ilegais na Ásia. Nos países onde o aborto é ilegal, existem muitos mais riscos de complicações. A cada ano, os abortos praticados sem condições de segurança causam cerca de 80.000 mortes, respondendo por cerca de 13% da carga das doenças entre mulheres em idade reprodutiva. A taxa de mortalidade para abortos nessas condições varia de 100 a 600 em cada 100.000 procedimentos, quando comparada à taxa de mortalidade para abortos em condições de segurança de apenas 0,6 morte em cada 100.000 procedimentos. Muitas das mulheres que sobrevivem a um aborto sem condições de segurança sofrem de deficiências. A contracepção para as mulheres que desejam evitar uma gravidez pode ser permanente, a longo prazo ou temporária. Os métodos permanentes abrangem a esterilização de homens ou mulheres. Esse é o método mais popular e eficaz de contracepção: as 187 milhões de mulheres esterilizadas em todo o mundo representam 34% de todas as práticas contraceptivas. A esterilização masculina através da vasectomia é um procedimento mais simples e mais seguro do que a esterilização feminina, mas é menos comum. Contudo, o cálculo estimado de 40 a 50 milhões de homens esterilizadas em todo o mundo representa 8% dos métodos contraceptivos. Os dispositivos intrauterinos são o segundo método mais comum de contracepção, usado por 150 milhões de mulheres em todo o mundo. Esses dispositivos são métodos de contracepção a longo prazo, uma vez que são inseridos no útero e previnem a gravidez até serem removidos. Os métodos temporários incluem pílulas, implantes de pele e produtos injetáveis que alteram o ciclo hormonal de uma mulher para ela não engravidar. Embora esses métodos sejam seguros e eficazes, também podem causar um sangramento anormal, um problema para as mulheres em sociedades que proíbem ou restringem as mulheres de praticar determinadas atividades durante a menstruação. A OMS estima que 10 a 30% das mulheres abandonam esses métodos contraceptivos por essa razão. Outros métodos temporários incluem barreiras como os preservativos que são as mais comuns. Diferente das outras formas de contracepção, os preservativos são muito importantes na proteção contra infecções sexualmente transmissíveis. Os preservativos masculinos respondem por cerca de 4% do uso contraceptivo entre casais em idade reprodutiva. As estraté- Box 4.3 A história de sucesso de Bangladesh Na metade da década de 1970, uma mulher de classe média de Bangladesh tinha mais de seis filhos, o que, junto com uma alimentação deficiente e a falta de acesso aos serviços de saúde de qualidade, punham em perigo a saúde dessa mulher e de suas crianças. Além do impacto em termos de saúde dessa situação, a fertilidade alta e o crescimento rápido da população representavam importantes restrições ao desenvolvimento econômico e ao progresso social do país. O programa de planejamento familiar de Bangladesh, iniciado para atender metas demográficas, tinha quatro elementos. O primeiro elemento foi a utilização das mulheres jovens e casadas que eram contratadas como agentes voluntárias e treinadas para visitar as casas de outras mulheres, oferecendo serviços e informações sobre contracepção. O número dessas agentes, conhecidas como assistentes do bem-estar da família, eventualmente chegou a cerca de 25.000 no setor público e a 12.000 nas ONGs. O programa também recrutou 4.500 agentes do sexo masculino. Cada assistente tinha de visitar de três a cinco aldeias, ou 850 mulheres das áreas rurais, visitando cada local de moradia uma vez a cada dois meses (Hossain e Phillips, 1996). O alcance do programa foi surpreendente: os assistentes contactavam virtualmente todas as mulheres de Bangladesh pelo menos uma vez e atingiam mais de um-terço a cada seis meses. Esses assistentes eram considerados visitantes ilustres das aldeias e constituíam a principal ligação entre o programa do governo e as mulheres das áreas rurais. O segundo elemento do programa foi o fornecimento de uma variedade de métodos possíveis para o atendimento da diversidade de necessidades de reprodução. Esse procedimento denominado abordagem de cafeteria (cafeteria approach) oferecia métodos temporários, além de serviços de esterilização para pessoas com dois filhos vivos, desde que o filho mais novo tivesse pelo menos dois anos de idade (Rob e Cernada, 1992). Um sistema de distribuição bem-administrado forneceu os produtos básicos de planejamento familiar aos agentes voluntários para poderem efetuar o trabalho de forma adequada. O terceiro elemento do programa foram as clínicas de planejamento familiar estabelecidas em áreas rurais para as quais os agentes podiam enviar os clientes que desejassem usar os métodos permanentes ou a longo prazo como a esterilização. Eventualmente, cerca de 4.000 unidades básicas de saúde do governo e 200 clínicas de ONGs foram criadas. Um quarto elemento foram as atividades de informação, educação e comunicação orientadas a mudar as normas de tamanho familiar e oferecer informação sobre opções de contracepção. Ficou demonstrado que o bom uso dos meios de comunicação de massa é bastante eficaz. Como resultado do programa, virtualmente todas as mulheres de Bangladesh estão cientes dos métodos modernos de planejamento familiar. O uso de contraceptivos por mulheres casadas aumentou de 8% na metade da década de 1970 para cerca de 50% em 2000, e a fertilidade diminuiu de mais de 6.0 crianças por mulher em 1975 para cerca de 3.3 em 2000. Apesar de as melhorias sociais e econômicas terem desempenhado um papel importante no aumento da demanda de contracepção, os pesquisadores mostraram que o fornecimento de serviços e informações teve um efeito independente nas atitudes e no comportamento. Estima-se que o programa custe entre US$ 100 milhões e US$ 150 milhões por ano, com cerca de um-meio a dois-terços do financiamento sendo proveniente de doadores externos. E o custo-eficácia foi calculada em cerca de US$ 13 a US$ 18 por nascimento evitado, uma medida padrão em termos de programas de planejamento familiar. Apesar dessas realizações, o programa de planejamento familiar de Bangladesh está longe de ser perfeito. Desde 1995, quase não houve diminuição da fertilidade. Muitos observadores notaram oportunidades de aumentar a eficácia do programa, de responder de forma mais eficaz às necessidades das mulheres e de melhor vincular o planejamento familiar com (Continuação na próxima página.) Estratégias de maior custo-eficácia para a carga excessiva de doenças em países em desenvolvimento | 87 Box 4.3 (continuação) a saúde. Todavia, Bangladesh fez algo que muitos poucos países com o mesmo nível de desenvolvimento social e econômico conseguiram realizar: complementou as iniciativas de mudança de atitudes com relação ao tamanho da família com o fornecimento de serviços de planejamento familiar para obter uma redução importante e sustentada em termos de fertilidade. Embora a motivação original do programa fosse atingir as metas demográficas, o governo conseguiu criar um programa que respondesse às necessidades dos casais, em vez de utilizar medidas coercitivas. Fonte: Autores. “a média regional de atendimento especializado na hora do parto na África Subsaariana aumentou apenas 0,2% por ano na década passada “ 88 Prioridades em Saúde| gias de atendimento da demanda de serviços contraceptivos incluem educação e extensão, subsídios, distribuição gratuita e medidas para facilitar ou incentivar a esterilização (box 4.3). O marketing social refere-se a uma variedade de estratégias que adotam técnicas tradicionais de marketing comercial para a promoção de comportamentos, produtos e serviços socialmente benéficos. Normalmente, esses programas promovem produtos como preservativos nos meios de comunicação de massa. Eles também modificam a embalagem dos produtos e os comercializam de forma eficaz dentro de uma determinada cultura e contexto. Às vezes, os governos fazem parceria com produtores comerciais para divulgarem marcas existentes. Os programas de marketing social têm expandido o uso e a venda de métodos de contracepção em muitos países. O custo dos programas de planejamento familiar varia entre US$ 5.000 e US$ 35.000 por morte materna evitada, entre US$ 1.300 e US$ 5.000 por morte infantil evitada, e após incluir outros impactos na área da saúde junto com mortes evitadas, entre US$ 30 e US$ 60 por AVAD evitado. As intervenções parecem ser mais custo-efetivas no Sul da Ásia e na África Subsaariana do que no Leste Asiático e no Pacífico. O custo-eficácia dentro das regiões também varia em duas ordens de magnitude por causa das diferenças nas taxas de fertilidade, riscos de mortalidade e taxas existentes de incidência contraceptiva. No geral, a evidência é forte o suficiente para mostrar que o planejamento familiar é custo-efetivo, mas não o suficiente para mostrar quais programas são os mais custo-efetivos. O custo da contracepção não é geralmente uma barreira importante para a aceitação. Ao contrário, os costumes sociais e as preocupações com a saúde são obstáculos bem maiores. A proximidade dos serviços e a disponibilidade de suprimentos também são relevantes. Para serem eficazes, os programas precisam reconhecer obstruções locais no planejamento familiar e definir uma resposta adequada. Figura 4.2 Níveis de cobertura pré-natal, 1990 e 2000 Percentual de nascimentos vivos que recebem cuidados pré-natais 100 1990 88 2000 77 80 68 59 60 71 57 52 45 40 20 0 Á sia (exceto China) América Latina Oriente Médio e Á frica do Norte e Caribe Á frica Subsaariana Fonte: Adaptado de WHO 2003. Condições maternas O planejamento familiar reduz a carga das doenças associadas à gravidez, evitando gestações indesejadas.12 Para as mulheres grávidas, diversas condições maternas (que ocorrem no período desde a concepção até 42 dias após o parto) podem levar à morte ou a deficiências, mesmo quando a gravidez e o parto não são inerentemente patológicos. Os cuidados proporcionados durante uma gestação e um parto normais e saudáveis, junto com a garantia de um estado de prontidão em lidar com possíveis problemas de saúde são os objetivos dos programas de uma maternidade segura. Dentre os 210 milhões de gestações em todo o mundo a cada ano, cerca de 500.000 terminam em morte materna e a cada ano cerca de 54 milhões de mulheres sofrem de doenças ou de complicações referentes à gravidez e parto. Treze países, Afeganistão, Angola, Bangladesh, China, República Democrática do Congo, Etiópia, Índia, Indonésia, Quênia, Nigéria, Paquistão, Tanzânia e Uganda, respondem por 70% de todas as mortes maternas por causa dos diversos efeitos do tamanho da população, baixas rendas e cuidados deficientes com a saúde. Além disso, o Sul da Ásia e a África Subsaariana respondem por 74% da carga global das condições maternas. As complicações vividas pelas mães também levam a muitos 12 Esta seção é baseada em DCP2, capítulo 26 Estratégias de maior custo-eficácia para a carga excessiva de doenças em países em desenvolvimento | 89 “. . . quatro visitas prénatais a um prestador de serviços de saúde podem ser custo-efetivas. O treinamento desses prestadores deve incluir como reconhecer sinais de perigo e como providenciar uma transferência rápida para uma unidade básica apropriada no caso de uma emergência. . .” “Cerca de 1 milhão de recém-nascidos morrem durante o primeiro dia de vida, outros 2 milhões durante a semana seguinte, e mais 1 milhão antes de completar um mês de vida.” 90 Prioridades em Saúde| partos de natimortos e mortes neonatais a cada ano, e diversos estudos têm mostrado que as perspectivas de sobrevivência de um bebê cuja mãe morre são pequenas. Apenas cinco condições respondem por três-quartos de mortes maternas: hemorragia, sepsia, problemas de hipertensão, trabalho de parto obstruído e aborto clandestino. Muitas dessas condições podem ser eficazmente mitigadas por meio de exames pré-natais e atendimento especializado, e as diferenças no acesso a esses cuidados explicam uma grande parte das disparidades regionais. Por exemplo, menos de 30% das mulheres nos países mais pobres têm acesso a atendimento especializado em trabalho de parto, quando comparado a mais de 98% das mulheres nos países mais ricos do mundo. Ainda assim, o progresso lento nessa frente é bastante frustrante: a média regional de atendimento especializado na hora do parto na África Subsaariana aumentou apenas 0,2% por ano na década passada (Figura 4.2). Considerando-se a natureza da gravidez e do parto, nenhuma intervenção ou abordagem por si só pode tratar por completo a carga das doenças associadas. A única análise relevante é a comparação dos pacotes alternativos que se diferenciam por conteúdo e meio de distribuição. Por exemplo, uma estratégia abrangente de maternidade segura pode incluir as seguintes intervenções: • educação e serviços de saúde reprodutiva para adolescentes • educação da comunidade sobre maternidade segura e cuidados com o recém-nascido • atendimento e orientação na fase pré-natal, incluindo suplementos nutricionais, exame da pressão sanguínea, exame de infecções sexualmente transmissíveis, tratamento de sífilis, sugestões sobre amamentação, imunização contra tétano e tratamento de infecções do trato urinário • assistência especializada nos cuidados na hora do parto • cuidado no caso de emergências e complicações obstétricas • cuidados pós-parto. Além de evitar gestações indesejadas, a prevenção de problemas na maternidade envolve a garantia de uma boa saúde em geral, principalmente, de uma nutrição adequada. As complicações devem ser evitadas ou tratadas quando ocorrerem. As intervenções podem ser pessoais ou para toda a população; podem ocorrer durante a gravidez, o trabalho de parto e o parto, ou pós-parto; e podem variar por nível de cuidados, tanto em casa, em uma unidade do sistema básico de saúde ou em um hospital. As intervenções baseadas na população tratam de dois fatores de risco principais: falta de contracepção e subnutrição materna. A subnutrição Box 4.4 Estudo de caso de implementação: Indonésia Um grande esforço do governo da Indonésia de aumentar o número de nascimentos com a participação de profissionais de saúde especializados começou em 1993 com a introdução do treinamento de três anos de enfermagem, seguido de um ano de treinamento de trabalho de parto. Desde 1996, esse procedimento foi complementado com um outro pacote de intervenções de treinamento, incluindo um curso de treinamento prático; um sistema de supervisão com revisão de iguais e educação contínua; um sistema de auditoria materna e perinatal; e uma estratégia de informações, educação e comunicação direcionada à comunidade. Os dados foram coletados em três distritos de South Kalimantan em 1996, antes e depois do pacote adicional de treinamento, que permitiu a medição do valor agregado correspondente. Antes do treinamento adicional, 90% dos nascimentos ocorriam em casa e somente 37% tinham a participação de um profissional especializado. Até 1998-1999, 510 parteiras foram enviadas aos distritos e o atendimento especializado na hora do parto, aumentou em 59%. O pacote de treinamento permitiu às parteiras ganharem confiança e habilidades no gerenciamento de complicações obstétricas, mas apesar disso, a proporção de mulheres admitidas em um hospital para uma cesariana diminuiu de 1,7% para 1,4%. A proporção de admissões em hospitais com uma complicação que requer um tratamento para salvar a vida também diminuiu de 1,1% para 0,7% (Ronsmans e outros, 2001). É importante ressaltar que a maioria das parteiras que participaram dos programas de treinamento eram competentes em cinco habilidades principais, diferente das parteiras que não participaram do treinamento. Walker e outros (2002) efetuaram uma análise econômica do programa de treinamento, fazendo uma distinção entre os programas realizados para parteiras das unidades de saúde e os programas realizados para parteiras de aldeias, que incluiu um estágio de residência médica nos hospitais municipais. Eles avaliaram o custo-eficácia adicional desses programas do ponto de vista do prestador de serviços de saúde. Walker e outros calcularam que o primeiro esquema podia ser expandido para aumentar o número de parteiras competentes das unidades básicas e das aldeias em South Kalimantan em 1% com custos adicionais de US$ 765 e US$ 1.176, respectivamente. O custo da reprodução em outras regiões ficaria entre 50 e 60% a mais. “A MDM de redução da mortalidade entre crianças com menos de cinco anos em dois-terços até 2015 não pode ser atingida sem o tratamento da mortalidade nos primeiros 28 dias de vida.” Fonte: Autores. manifesta-se de duas formas: quando a mãe está abaixo do peso e/ou com problemas de crescimento e quando encontra-se com deficiência de micronutrientes, principalmente, ferro e vitamina A. Uma vez que a subnutrição é geralmente crônica, dura um longo tempo, e é intergeracional, não está claro quando e como as intervenções serão mais eficazes. As iniciativas podem concentrar-se nas mulheres quando jovens, durante a gravidez ou durante a idade reprodutiva. As intervenções pessoais abrangem um grande número de serviços que compartilham uma importante característica: elas precisam ser integradas de forma contínua. Essa continuidade segue ao longo do tempo, ou seja, desde a concepção até o período pós-parto; ao longo do espaço, incluindo o lar, serviços básicos de saúde, e o hospital de referência para cuidados sofisticados quando necessário; e entre os dispensadores de cuidados, potencialmente incluin- “Até 40% das mortes neonatais podem ser evitadas com soluções caseiras e comunitárias.” Estratégias de maior custo-eficácia para a carga excessiva de doenças em países em desenvolvimento | 91 Figura 4.3 Tendências do tempo na mortalidade infantil Taxa de mortalidade neonatal em cada 1.000 nascimentos vivos 100 Período pós-neonatal Final do período neonatal Início do período neonatal 80 44 60 35 29 40 16 12 8 24 25 20 28 5 2 9 0 1980 1995 2000 Países de baixa renda e de renda média 6 1980 1995 1 1 4 1 1 2000 Países de renda alta Fonte: Cálculos dos autores baseados em UNICEF, WHO varios anos; DCP2, capitulo 27, figura 27.2. do os agentes voluntários, agentes de saúde pública, parteiras, auxiliares de enfermagem, médicos e cirurgiões. Estudos têm mostrado que quatro visitas pré-natais a um prestador de serviços de saúde podem ser custo-efetivas. O treinamento desses prestadores deve incluir como reconhecer sinais de perigo e como providenciar uma transferência rápida para uma unidade apropriada no caso de uma emergência, além de enfatizar o uso de atendimento especializado durante o parto. Outros elementos essenciais de cuidados pré-natais incluem a prevenção e o tratamento da malária e anemia, exames e tratamento da sífilis, e a imunização contra o tétano. A suplementação nutricional também é normalmente incluída, mas a eficácia e o custo-eficácia não são definidas de forma conclusiva. As mulheres e os recém-nascidos correm os maiores riscos de deficiência e morte durante e imediatamente após o parto. Nesse período, o Box 4.5 Estratégias bem-sucedidas de sobrevivência neonatal No Sul da Ásia e na África Subsaariana, a redução nas mortes neonatais tardias foi influenciada pelo corte pela metade das mortes neonatais por tétano que ocorreram durante a década de 1990 como resultado do aumento da proteção contra o toxóide do tétano e de práticas de assepsia e higiene na hora do parto. Até 2000, dois-terços dos países de baixa renda e de renda média eliminaram o tétano neonatal e outros 22 países estavam se aproximando dessa meta. Fonte: Adaptado do DCP2, capítulo 27. 92 Prioridades em Saúde| Box 4.6 Institucionalização de um programa de ressuscitação neonatal em uma província chinesa O estudo de um hospital da China relata a vigilância da linha de base de 1.722 recém-nascidos, seguida de uma avaliação prospectiva por dois anos de 4.751 recém-nascidos, ao mesmo tempo em que instituía diretrizes de ressuscitação padronizada. A ressuscitação tradicional anterior incluía a infusão de estimulantes centrais, mais vitamina C e 50% de glicose; um esfregaço de álcool no bebê; e o pressionamento do filtro. Os profissionais de saúde reconheceram que a asfixia era a principal causa de morte neonatal e a segunda principal causa de morte de recém-nascido em nível nacional. Também reconheceram que as metas de sobrevivência dos bebês não poderiam ser atendidas se o problema da asfixia não fosse tratado. Eles desenvolveram e implementaram um programa de ressuscitação neonatal baseado em evidências e treinaram a equipe na utilização das novas diretrizes. A taxa de mortalidade neonatal ceda caiu de forma significativa, ou seja, de 66% para 3,4 em cada 1.000. Fonte: Adaptado do DCP2, capítulo 27. Box 4.7 A redução de mortes de recém-nascidos é possível nos países de baixa renda O Sri Lanka atingiu uma taxa de mortalidade neonatal de 11 em cada 1.000 nascimentos vivos no ano de 2000 apesar de um Produto Nacional Bruto (PNB) baixo por cabeça de US$ 800 e de menos de US$ 1,50 por cabeça por ano de gastos com saúde materna e neonatal. Em 1959, as mortalidades materna e neonatal eram altas, com uma taxa de mortalidade neonatal de 50 em cada 1.000 nascimentos vivos, sendo o PNB por cabeça de US$ 290. Essas mortalidades foram reduzidas pela metade até 1980 por causa do aumento dos cuidados de profissionais na hora do parto e porque os serviços de cuidados pré-natais, na hora do parto e pós-natais, e dos recém-nascidos eram prestados junto às comunidades e sem encargos para os usuários. O período entre 1980 e 2000 obteve mais 50% de redução na taxa de mortalidade neonatal sem o uso de cuidados intensivos, exceto uma unidade na capital. A Malásia também seguiu uma política de rápida ampliação da cobertura de cuidados especializados no nascimento. Ela treinou inúmeras parteiras e incentivou a colaboração das ajudantes de parto tradicional a promoverem uma transição gradual para os cuidados especializados por diversas décadas. A taxa de mortalidade neonatal é agora de 6 em cada 1.000 nascimentos vivos, e 95% das mulheres dão a luz com a ajuda de uma pessoa especializada. “. . . diversos pacotes de serviços que prestam cuidados dos recém-nasci- Fonte: Adaptado do DCP2, capítulo 27. dos nos primeiros 28 dias atendimento especializado com a possibilidade de encaminhamento para um nível de cuidado mais sofisticado pode ser crucial. A definição exata de atendimento especializado é por si só um assunto de debate, mas as MDMs propõem a proporção de partos controlados por um profissional de saúde (médico, enfermeiro ou parteira treinada) como um indicador aproximado. A taxa de atendimento especializado no nascimento varia substancialmente nas regiões em desenvolvimento e nos grupos sócioeconômicos de cada país, variando de 48% na África Subsaariana a 59% no Sul da Ásia e 82% na América Latina e Caribe. de vida. ... são universalmente aplicáveis e viáveis, mesmo sem profissionais de saúde especializados.” Estratégias de maior custo-eficácia para a carga excessiva de doenças em países em desenvolvimento | 93 “. . . a melhor forma de melhorar os cuidados do recém-nascido é preencher a lacuna com o que deve ser uma série continua de cuidados que incluem serviços prénatais, atendimento especializado na hora do parto e suporte de acompanhamento durante o primeiro mês de vida.” . . . serviços básicos de saúde materna e infantil que reduziriam a mortalidade neonatal de 6% a 41%. . . , custaria entre US$ 2 e US$ 10 por cabeça.” 94 Prioridades em Saúde| O DCP2 avalia diversos pacotes diferentes de cuidados propostos que melhorariam a cobertura e/ou a qualidade dos cuidados maternos de rotina. Os três pacotes mais custo-efetivos, todos incluindo suplementação nutricional, variam em termos de custo de US$ 77 a US$ 104 por AVAD evitado na África Subsaariana para US$ 150 por AVAD evitado no Sul da Ásia. Os custos diretos são maiores na África Subsaariana, mas são compensados por uma maior eficácia devido à maior incidência de problemas maternos (box 4.4). Condições neonatais O risco de morte é maior durante os primeiros 28 dias de vida (mortalidade neonatal).13 Cerca de 1 milhão de recém-nascidos morrem durante o primeiro dia de vida, outros 2 milhões durante a semana seguinte, e mais 1 milhão antes de completar um mês de vida. Esses números mostram uma melhoria pouco significativa. Em 1980, a taxa de mortalidade infantil (mortes desde o nascimento até um ano de idade, incluindo o período pós-neonatal) nos países de baixa renda e de renda média foi de aproximadamente 88 em cada 1.000 nascimentos vivos (Figura 4.3). Desses, 28 mortes ocorriam logo no início do período neonatal, na primeira semana de vida. Até 2000, a taxa de mortalidade infantil caiu até 62 em cada 1.000 nascimentos vivos; contudo, quase todo o progresso ocorreu no final do período neonatal ou no período pós-neonatal. A taxa de mortalidade no início do período neonatal quase não diminuiu, caindo somente para 25 em cada 1.000 nascimentos vivos em 2000. A MDM de redução da mortalidade entre crianças com menos de cinco anos em dois-terços até 2015 não pode ser atingida sem o tratamento da mortalidade nos primeiros 28 dias de vida. Os tratamentos apropriados não são altamente complexos. Até 40% das mortes neonatais podem ser evitadas com soluções caseiras e comunitárias. Às vezes, basta apenas manter um recém-nascido aquecido, sendo amamentado regularmente, e protegido contra infecções por meio de uma higiene adequada e/ou um tratamento oportuno com antibióticos (box 4.5). Em muitos casos, os cuidados apropriados estão disponíveis, mas também ocorrem problemas em termos de qualidade ou de continuidade desses cuidados. A diferença entre a obtenção de cuidados e a obtenção de cuidados adequados pode significar a diferença entre a vida e a morte (boxes 4.6 e 4.7). Atrasos no acesso aos cuidados adequados também são fatores importantes que contribuem para as mortes maternas e neonatais. Esses atrasos ocorrem por inúmeras razões diferentes, por exemplo, falha em reconhecer a necessidade de atendimento clínico, normas culturais que impedem o uso de serviços médicos, acesso físico ou 13 Esta seção é baseada em DCP2, capítulo 27. financeiro limitado às unidades de saúde, e atrasos no recebimento de cuidados em uma unidade. As estratégias de melhoria da sobrevivência neonatal que enfatizam somente o suprimento de cuidados de saúde nas unidades somente obterão êxito quando integradas às iniciativas de melhoria das práticas familiares e de incentivo das pessoas a fazerem uso dos serviços de saúde. Em muitos casos, esse procedimento requer atenção especial no tratamento das barreiras culturais existentes em termos de cuidados, como o treinamento de auxiliares de parto do sexo feminino quando existem preconceitos culturais contra auxiliares do sexo masculino, ou permitindo às novas mamães e seus bebês sairem de casa nas primeiras semanas de vida no caso de uma emergência, além das barreiras financeiras, incluindo taxas de serviços e custos de transporte. O DCP2 examina diversos pacotes de serviços que tratam dos cuidados dos recém-nascidos nos primeiros 28 dias de vida. Algumas dessas intervenções são universalmente aplicáveis e viáveis, mesmo sem profissionais de saúde especializados. Outras exigem atenção especializada, são mais complexas ou dependem de suprimentos médicos essenciais. Os pacotes de intervenções que possuem um grande impacto e que são viáveis na maioria dos contextos podem ser divididos em cinco grupos: cuidados da família com os recém-nascidos, cuidados essenciais dos recém-nascidos, ressuscitação dos recém-nascidos, cuidados com bebês abaixo do peso e cuidados emergenciais. Os dois primeiros enfatizam a manutenção do calor, da amamentação e da utilização da higiene (incluindo cuidados apropriados do cordão umbilical e de lavagem das mãos). Os três últimos requerem um pouco de treinamento, embora a ressuscitação possa ser realizada com um equipamento simples que custa menos de US$ 5. A criação de um programa separado para cuidados do recém-nascido não faz sentido. Ao contrário, a melhor forma de melhorar os cuidados com o recém-nascido é preencher a lacuna com o que deve ser uma série contínua de cuidados que incluem serviços pré-natais, atendimento especializado na hora do parto e suporte de acompanhamento durante o primeiro mês de vida. A inclusão das intervenções de cuidados com os recém-nascidos aos serviços existentes (DCP2, capítulo 63) ou a introdução dessas intervenções junto aos serviços básicos onde existem deficiências seria mais custo-efetiva do que a introdução de intervenções neonatais de forma isolada. As intervenções para melhoria da saúde neonatal e das taxas de mortalidade são geralmente simples, mas exigem uma rede de funcionamento de serviços de saúde capaz de fornecer continuidade durante os períodos pré-natais, de parto e pós-parto. A extensão desses serviços às áreas rurais e urbanas marginalizadas é o maior desafio. Como primeiro passo, abor- “As despesas na Índia teriam de ser duplicadas e na África triplicadas para o fornecimento do pacote de cuidados básicos de saúde materna e infantil, junto com as intervenções especiais referentes à sobrevivência neonatal.” Estratégias de maior custo-eficácia para a carga excessiva de doenças em países em desenvolvimento | 95 dagens simples podem ser implementadas até mesmo nos ambientes mais pobres para melhorar as práticas familiares, principalmente, com relação à limpeza, ao calor e à amamentação. Nos locais em que os serviços básicos de saúde encontram-se disponíveis, é possível a introdução de treinamento e de equipamentos para tratamentos bem-testados como ressuscitação neonatal e gerenciamento de caso de infecções, mas o tratamento completo do problema de sobrevivência neonatal requer o preenchimento das lacunas na continuidade dos cuidados e no fortalecimento da rede de serviços e da extensão dos cuidados de saúde. Isso significa a garantia de que as parteiras profissionais possam participar de partos e fornecer o acompanhamento necessário, que as famílias aprendam quando procurar cuidados de saúde, e que esses cuidados sejam prontamente acessíveis. O DCP2 conclui que as despesas mais modestas podem ter um efeito importante na sobrevivência neonatal. Por exemplo, na África Subsaariana, o fornecimento de serviços básicos de saúde materna e infantil que reduziriam a mortalidade neonatal de 6% a 41%, dependendo da cobertura preexistente de serviços primários e da taxa da linha de base de mortalidade neonatal, custaria entre US$ 2 e US$ 10 por cabeça. Um custo adicional entre US$ 0,21 e US$ 0,95 nas despesas por cabeça poderia reduzir as mortes neonatais em até 71%. As estimativas posicionam os custos específicos de adição do treinamento de ressuscitação neonatal, equipamentos, cursos de atualização, e supervisão em menos de US$ 0,02 por cabeça para uma redução antecipada na mortalidade neonatal de cerca de 5% na África e no Sul da Ásia. Apesar de alguns países de poucos recursos terem demonstrado êxito, o processo de criação de um sistema funcional, principalmente de cuidados clínicos, requer tempo. Mesmo que parecendo pequenos com relação às despesas nos países de rendas média e alta, os custos são bem maiores com relação às despesas atuais com cuidados de saúde nos países de baixa renda. As despesas na Índia teriam de ser duplicadas e na África triplicadas para o fornecimento do pacote de cuidados básicos de saúde materna e infantil, junto com as intervenções especiais referentes à sobrevivência neonatal. O financiamento internacional é portanto necessário para a redução da carga da doença associada às condições neonatais nos países de baixa renda. 96 Prioridades em Saúde| Capítulo 5 Estratégias custo-efetivas para doenças não transmissíveis, fatores de risco e comportamentos Por algum tempo, especialistas em saúde pública interessados em países de renda média e baixa dedicaram uma atenção considerável às doenças transmissíveis e à saúde materno-infantil. Recentemente, entretanto, sua atenção se voltou mais para as doenças não transmissíveis, como doenças cardiovasculares, diabetes e diversos tipos de câncer e lesões intencionais e não-intencionais. Essa mudança deve-se ao reconhecimento de que a carga das doenças não transmissíveis nos países de renda média e baixa não só está crescendo rapidamente, mas já está extremamente alta. Na verdade, até 2001, as doenças cardiovasculares se tornaram a principal causa de morte em todo o mundo, tanto nos países em desenvolvimento como nos desenvolvidos. As doenças não transmissíveis agora são as principais fontes de morbidade e mortalidade em todo o mundo. O perfil de algumas doenças não transmissíveis nos países de renda média e baixa é semelhante ao dos países de alta renda. Em todas as regiões do mundo, por exemplo, pelo menos 80% da carga de doenças cardiovasculares é proveniente de cardiopatia isquêmica, insuficiência cardíaca congestiva e acidente vascular cerebral. Essas condições compartilham vários fatores de risco, como obesidade, hipertensão arterial, sedentarismo e consumo de sal e, conseqüentemente, estão sujeitas às mesmas intervenções. Outras doenças não transmissíveis possuem perfis diferentes em países em desenvolvimento e desenvolvidos. O câncer, por exemplo, mostra uma variação geográfica considerável. Os tipos de câncer que predominam nos países de alta renda, como o de pulmão, o cólon-retal, o de mama e o de próstata, podem ser ligados a fatores como o início mais precoce da epidemia de tabagismo, exposição mais cedo a carcinógenos, dieta e estilo de vida. Por outro lado, os tipos de câncer que predominam em países de renda média e baixa, como o cervical, de fígado e de estômago, estão associados com infecções crônicas como Papilomavírus Humano, hepatite B e Helicobacter pylorii. O câncer causa uma grande e crescente carga de doenças em todo o mundo, mas sua epidemiologia e, conse- 97 “É preciso evitar que a redução da perda de vida devido a doenças transmissíveis seja substituída por uma perda de vida equivalente devi- qüentemente, as intervenções relevantes diferem bastante entre os países de renda média e baixa e os países de alta renda. A carga de doenças não transmissíveis está crescendo, mas muitos países de renda média e baixa ainda não experimentaram todas as exigências que essas condições imporão aos seus sistemas de saúde. Ironicamente, parte dessa carga resultará de sucessos na prevenção ou no tratamento de doenças transmissíveis e na redução da mortalidade infantil: com a melhoria da saúde pública, as pessoas que teriam morrido na infância agora sobreviverão e se tornarão suscetíveis às doenças não transmissíveis. Uma parte da carga das lesões e doenças não transmissíveis pode ser evitada. Por exemplo, com a adoção de políticas que promovam uma alimentação saudável e desencorajem o fumo, os países de renda média e baixa podem se livrar de perfis de risco que os países mais ricos adquiriram durante o seu desenvolvimento. A implementação de medidas de segurança no trânsito também poderia evitar aos países de renda média e baixa uma carga substancial de lesões de acidentes de trânsito, que aumentam com o crescimento do tráfego motorizado. É preciso evitar que a redução da perda de vida devido a doenças transmissíveis seja substituída por uma perda de vida equivalente devido a doenças não transmissíveis. do a doenças não transmissíveis.” DOENÇAS CARDIOVASCULARES, DIABETES, HIPERTENSÃO ARTERIAL, COLESTEROL E OBESIDADE As cargas de doenças cardiovasculares, diabetes e condições relacionadas de hipertensão arterial, colesterol elevado e obesidade estão crescendo em todo o mundo.1 Anteriormente consideradas como doenças de países industrializados ou da população rica nos países em desenvolvimento, elas agora são reconhecidas como problemas globais. Em 2001, as doenças cardiovasculares se tornaram a principal causa de morte do mundo e agora são responsáveis por 28% de todas as mortes, com 80% da carga em países de renda média e baixa. A maior parte dessa carga ocorre na Ásia e na Europa Oriental devido às grandes populações dessas regiões e à alta incidência de doenças das artérias coronárias na Europa Oriental e Ásia Central. O diabetes também está em crescimento em todo o mundo, atingindo uma predominância de 5,1% em 2003. A prevalência do diabetes é maior nos países de alta renda, com 7,8%, e nas regiões em desenvolvimento varia entre um mínimo de 2,4% na África Subsaariana até um máximo de 7,6% na Europa Oriental e Ásia Central. Apesar da maior predominância do diabetes em países de alta renda, a 1 98 | Prioridades em Saúde| Esta seção se baseia no DCP2, capítulos 30, 33, 44 e 45. 98 | Prioridades em saúde maior parte da carga de doenças por diabetes, mais de 70%, encontra-se nas regiões em desenvolvimento devido às suas grandes populações.2 Outra maneira de examinar a carga de doenças cardiovasculares, diabetes e condições relacionadas é classificá-las por fator de risco. O Relatório Mundial da Saúde de 2002 (OMS 2002) estimou que globalmente 7,1 milhões de mortes poderiam ser atribuídas à hipertensão arterial, 4,4 milhões a colesterol alto e 2,6 milhões de mortes à obesidade. A obesidade é um problema crescente em quase todos os países, mesmo os mais pobres. Está crescendo tão rapidamente que nos países de renda média a carga de doenças associadas a um índice de massa corporal superior a 25 agora é igual ou maior que a carga de doenças resultante da subnutrição. Essas doenças não são conseqüências inevitáveis da vida moderna. É possível conseguir taxas baixas com pequenas mudanças no estilo de vida que são totalmente compatíveis com a vida no século XXI. Entretanto, as mudanças necessárias em relação ao fumo, à atividade física e à dieta podem não ser fáceis e exigem apoio e incentivo por meio de investimentos na educação, mudanças nas políticas alimentícias e às vezes até mudanças na infra-estrutura urbana. Embora as mudanças comportamentais necessárias sejam as mesmas em qualquer lugar, os modos de alcançá-las certamente vai variar entre países e regiões, com diferentes abordagens de acordo com os aspectos culturais, sociais e econômicos. “Apesar da maior predominância do diabetes em países de alta renda, a maior parte da carga de doenças por diabetes, mais de 70%, encontra-se nas regiões em desenvolvimento devido às suas grandes populações.” Intervenções no estilo de vida Os fatores de risco das doenças cardiovasculares e do diabetes — obesidade, inatividade física e dietas pouco saudáveis — exigem intervenções para mudar os estilos de vida pouco saudáveis. Essas mudanças ocorrem com maior facilidade com a implementação de algumas intervenções coordenadas para estimular as pessoas a manterem um peso saudável, participarem de atividades físicas diárias e consumirem uma dieta saudável. Uma dieta saudável substitui a gordura saturada e trans por gordura não saturada; aumenta o consumo de frutas, vegetais e cereais integrais e limita o consumo de sódio e o excesso de calorias de qualquer fonte, principalmente de bebidas que contenham açúcar. A educação é a chave para a implementação dessas mudanças. Ela parece ser mais eficaz quando fornecida por meio de vários métodos e 2 Os dados do diabetes incluem o tipo 1 (uma doença auto-imune resultante da destruição das células do pâncreas e que leva a uma deficiência total de insulina) e o tipo 2 (que se caracteriza por uma resistência à insulina, na qual os tecidos não usam a insulina de modo apropriado, e a secreção inadequada de insulina pelo pâncreas), além do diabetes gestacional. O diabetes do tipo 2, que tem alguns dos fatores de risco das doenças cardiovasculares, atualmente é responsável por cerca de 85 a 95% de todos os casos de diabetes. “. . . nos países de renda média, a carga de doenças associadas com ... um índice de massa corporal superior a 25 agora é igual ou maior que a carga de doenças . . de subnutrição.” Estratégias custo-efetivas para doenças não transmissíveis, fatores de risco e comportamentos | 99 “Como o uso do automóvel é duas vezes mais caro na Europa do que nos Estados Unidos, os europeus andam a pé ou de bicicleta mais e usam seus carros cerca de 50% a menos que os americanos.” “. . . a Holanda reduziu o conteúdo de gordura trans dos produtos alimentícios de cerca de 6% do conteúdo energético para aproximadamente 1% em uma única década.” 100 | Prioridades em Saúde| locais, como escolas, locais de trabalho, meios de comunicação e centros de saúde. As mensagens educacionais também são mais eficazes quando são reforçadas pela ação. As escolas, por exemplo, deveriam fornecer não somente currículos sobre boa nutrição, mas também refeições saudáveis; os locais de trabalho, além de informar os trabalhadores sobre o papel da atividade física, deveriam facilitar o uso de transportes não motorizados. Um projeto urbano e uma política de transporte são outros elementos de intervenções no estilo de vida. As pessoas podem ser encorajadas a aumentarem sua atividade física com o uso de transportes públicos e não motorizados, especialmente andar a pé e de bicicleta. Embora normalmente não sejam consideradas um instrumento de melhoria da saúde, as políticas nacionais de transporte podem influenciar fortemente o uso e a dependência do automóvel. Baixos impostos para a gasolina, estacionamento gratuito e projetos de ruas largas estimulam o uso de automóveis (como nos Estados Unidos), enquanto ruas estreitas, estacionamento restrito e altos custos de gasolina desencorajam o seu uso (como na Europa Ocidental). Como o uso do automóvel é duas vezes mais caro na Europa do que nos Estados Unidos, os europeus andam a pé ou de bicicleta mais e usam seus carros cerca de 50% a menos que os americanos. As mesmas tendências nas políticas públicas ocorrem nos países de renda média e baixa. Cingapura sempre desencorajou o uso de automóveis privados e incentivou o uso de transportes públicos, andar a pé ou de bicicleta. Por outro lado, a China incentivou explicitamente as famílias a comprarem automóveis diminuindo os impostos, simplificando os procedimentos de registro e permitindo o financiamento estrangeiro. A política alimentícia é outra área importante de incentivo à mudança do estilo de vida. Os instrumentos de política incluem o modo como o alimento é processado, pelo enriquecimento dos alimentos com micronutrientes, e a limitação de propaganda de alimentos não saudáveis. Uma das formas mais eficazes de melhorar a dieta é regulamentar ou fornecer incentivos aos produtores de alimentos para substituir os ingredientes ou produtos não saudáveis por outros saudáveis. As mudanças nos tipos de gordura, por exemplo, podem ser quase imperceptíveis para os consumidores e relativamente baratas. Muitos produtores europeus reduziram em muito o conteúdo de ácidos graxos trans com a alteração dos métodos de produção. Desse modo, a Holanda reduziu o conteúdo de gordura trans dos produtos alimentícios de cerca de 6% do conteúdo energético para aproximadamente 1% em uma única década. Nas Ilhas Maurício, as políticas governamentais substituíram o óleo de palma normalmente usado para cozinha por óleo de soja, o que reduziu o consumo de ácidos graxos e diminuiu os níveis de colesterol sérico. Outras mudanças facilmente conduzidas no processamento de alimentos incluem a redução de sal e o enriquecimento dos alimentos com micronutrientes como vitamina A, vitamina B 12, iodo, ferro e ácido fólico. A experiência propiciou algumas lições sobre como ter sucesso na implementação de intervenções no estilo de vida nas populações: • As intervenções devem ser a longo prazo e com cronogramas de vários anos. • A responsabilidade dessas intervenções deve ficar a cargo de órgãos confiáveis. • A colaboração entre o setor de saúde, outros órgãos governamentais, escolas, locais de trabalho e o setor voluntário é muito importante. • A cooperação com o setor de alimentação é essencial para garantir a disponibilidade de opções de alimentos mais saudáveis com preços razoáveis e com rotulagem que apresente as informações importantes de modo claro, confiável e padronizado. Diversas evidências indicam que a maior parte das doenças das artérias coronárias, acidentes vasculares cerebrais e diabetes, bem como alguns tipos de câncer, pode ser evitada ou postergada com mudanças realistas na dieta e no estilo de vida. Uma linha de evidência se baseia na redução das doenças das artérias coronárias em países que implementaram programas preventivos. Um exemplo extraordinário é o da Finlândia, que tinha uma das taxas mais altas de doenças cardiovasculares do mundo e onde um programa abrangente com ênfase na modificação da dieta e do estilo de Box 5.1 Resposta da comunidade às DCVs na Finlândia In 1972, a Finlândia tinha a taxa de mortalidade mais alta do mundo em relação às doenças cardiovasculares (DCV). Os planejadores examinaram as políticas e os fatores ambientais que contribuíam para as DCVs e procuraram as mudanças apropriadas, como uma maior disponibilidade de laticínios com baixo conteúdo de gordura, legislação antitabagista e melhores refeições escolares. Eles usaram os meios de comunicação, as escolas, os locais de trabalho e oradores das áreas de esportes, educação e agricultura para educar os residentes. Depois de cinco anos, havia melhorias significativas documentadas em relação ao fumo, colesterol e pressão arterial. Em 1992, as taxas de mortalidade por DCVs para homens com idades entre 35 e 64 anos tinham caído em 57%. O programa teve tanto sucesso que foi expandido para incluir outras doenças relacionadas ao estilo de vida e foi usado como um modelo para planejadores de saúde pública em todo o país e em outros lugares. Vinte anos depois, as grandes reduções nos níveis dos fatores de risco de DCVs, na morbidade e na mortalidade foram atribuídas ao projeto. Os dados recentes mostram uma diminuição de 75% na mortalidade por DCVs (Puska e outros, 1998). Fonte: DCP2, capítulo 44, p. 837.. Estratégias custo-efetivas para doenças não transmissíveis, fatores de risco e comportamentos | 101 “A legislação que determina a redução do conteúdo de sal nos alimentos manufaturados, seguida de uma campanha educativa, pode reduzir a pressão arterial e custaria US$ 6 por pessoa por ano.” vida reduziu a taxa de mortalidade em cerca de 75% entre 1972 e 1992 (box 5.1). O DCP2 estima o custo-eficácia de várias dessas intervenções. A substituição da gordura saturada nos produtos manufaturados, acompanhada por uma campanha nos meios de comunicação, pode reduzir os eventos de doença das artérias coronárias em 4%. O custo total dessas mudanças variam de US$ 1,80 a US$ 4,50 por pessoa por ano, dependendo da região. A relação custo-eficácia incremental varia de US$ 1.865 por AVAD evitado no Sul da Ásia até to US$ 4.012 por AVAD evitado no Oriente Médio e no Norte da África. A substituição dos 2% de energia resultantes da gordura trans por gordura poliinsaturada poderia reduzir as doenças cardiovasculares de 7% a 40% e também reduziria o diabetes tipo 2. O resultado varia de acordo com a região. O consumo de gorduras trans já é baixo na China, portanto a sua substituição por gorduras poliinsaturadas não evitará tanto as doenças como no Sul da Ásia, onde as gorduras usadas normalmente na cozinha têm um conteúdo de gordura trans extremamente alto. Como a gordura parcialmente hidrogenada pode ser eliminada ou significativamente reduzida por uma ação do setor voluntário como na Holanda ou por regulamentação como na Dinamarca, essa intervenção não exige a educação do consumidor, e os custos ficariam abaixo de US$ 0,50 por pessoa por ano. A relação custo-eficácia dessa intervenção varia de US$ 25 a US$ 73 por AVAD evitado, dependendo da região. A intervenção gera economia de custos em todas as regiões. A legislação que determina a redução do conteúdo de sal nos alimentos manufaturados, seguida de uma campanha educativa, pode reduzir a pressão arterial e custaria US$ 6 por pessoa por ano. Essa intervenção custaria US$ 1.325 por AVAD evitado no Sul da Ásia e US$ 3.056 por AVAD evitado no Oriente Médio e no Norte da África. Intervenções médicas Quando as mudanças no estilo de vida não são suficientes para evitar as doenças cardiovasculares ou o diabetes, estão disponíveis diversos tratamentos médicos. Muitos deles são sofisticados e caros, como o enxerto de novas artérias em torno do coração ou a abertura de um bloqueio com angioplastia, mas também existem tratamentos relativamente baratos para doenças cardiovasculares crônicas. Para as pessoas que sofreram ataques cardíacos, medicamentos como betabloqueadores e aspirina podem reduzir a chance de uma recorrência. O principal tratamento para evitar a morte do diabetes tipo 1 são injeções de insulina para manter os níveis apropriados de glicose sanguínea. Para o diabetes tipo 2, o tratamento exige mudanças na dieta e atividade física, que também são 102 | Prioridades em Saúde| necessários para o tipo 1 da doença, e agentes orais de redução da glicose, sendo a insulina necessária somente em casos graves. A pressão sanguínea e os lipídios também podem ser controlados com produtos farmacêuticos. Outras intervenções eficazes para o diabetes são a detecção e a identificação precoces, seguidas de um tratamento de retinopatia, microalbuminuria e pé diabético. Os níveis de glicose das pessoas com diabetes do tipo 1 e 2 são atualmente menos controlados nos países de renda média e baixa. Uma pesquisa de 1997 feita pela Federação Internacional do Diabetes (International Diabetes Federation) demonstrou que nenhum país da África tinha acesso universal à insulina para os que dela necessitavam. Na República Democrática do Congo, as pessoas com diabetes do tipo 1 tinham acesso à insulina menos de 25% das vezes, implicando em uma alta taxa de mortalidade. Mesmo nos países de renda média, como El Salvador e Peru, os diabéticos que precisam de controle glicêmico tinham acesso à insulina apenas de 26% a 49% das vezes. A maior parte das evidências em relação ao custo-eficácia dos tratamentos médicos para doenças cardiovasculares e diabetes é proveniente dos países de alta renda. Os tratamentos médicos para doenças cardiovasculares que provavelmente são custo-efetivas em países de renda média são: • agentes anticoagulantes como a aspirina e a heparina para evitar o tromboembolismo venoso • injeções de penicilina benzatina como prevenção secundária, normalmente por cinco anos, para os que apresentaram febre reumática • inibidores da enzima conversora de angiotensina para insuficiência cardíaca congestiva • anticoagulantes para estenose mitral e fibrilação atrial • diversas drogas, como betabloqueadores e estatinas genéricas, para tratamento a longo prazo após enfarte do miocárdio. A disponibilidade de desfibriladores em veículos de emergência tem um alto índice de custo-eficácia em países de alta renda, mas provavelmente não será custo-efetiva na maioria dos países de baixa renda. No entanto, a sua disponibilidade em hospitais pode ser custo-efetiva. Pesquisadores médicos estão colocando grandes esperanças no desenvolvimento da chamada polipílula para prevenir doenças cardiovasculares. A hipotética polipílula combinaria diversos medicamentos, incluindo a aspirina comum, um betabloqueador, um diurético tiazídico, um inibidor da enzima conversora de angiotensinas e uma estatina. Quando utilizada por uma população com 35% de risco de doenças cardiovasculares, a relação custo-eficácia incremental dessa polipílula varia de US$ 721 por AVAD evitado no Oriente Médio e no Norte da África até US$ “Mesmos nos países de renda média . . . os diabéticos que precisam de controle glicêmico tinham acesso à insulina apenas de 26% a 49% das vezes.” "Pesquisadores médicos estão colocando grandes esperanças no desenvolvimento da chamada polipílula para prevenir doenças cardiovasculares. . ." Estratégias custo-efetivas para doenças não transmissíveis, fatores de risco e comportamentos | 103 “ . . . para o diabetes: . . o controle glicêmico, o controle da pressão sanguínea e o cuidado com os pés são todos custoefetivos e viáveis.” “Em 2020, a menos que a prevenção contra o câncer 1.065 por AVAD evitado no Leste Asiático e no Pacífico. O custo-eficácia é compreensivelmente mais baixo nas populações em que a predominância de doenças cardiovasculares é mais baixa. O custo-eficácia das intervenções médicas para o diabetes varia muito. Algumas poupam custos, outras podem custar mais de US$ 73.000 por ano de vida ajustado à qualidade ganho. A estimativa do custo-eficácia dessas intervenções feita pelo DCP2 incorpora explicitamente as diferenças na implementação, incluindo a facilidade de atingir a população focalizada e a complexidade técnica das intervenções, a intensidade do capital e a aceitabilidade cultural. Usando esse quadro, o controle glicêmico, o controle da pressão sanguínea e o cuidado com os pés são todos custo-efetivos e viáveis. O controle glicêmico custa menos do que o tratamento das complicações resultantes da sua ausência. A garantia de acesso adequado à insulina é uma abordagem importante e custo-efetiva para as pessoas com diabetes tipo 1, para as quais a insulina é essencial. O controle da pressão sanguínea para os que apresentam hipertensão também é custo-efetivo e economiza custos. Como muitos dos medicamentos que controlam a pressão sanguínea são drogas genéricas, o custo é bastante baixo nos países de renda média e baixa. Além disso, muitas pessoas com diabetes nesses países também têm um controle precário da pressão arterial. Essa combinação torna os medicamentos altamente custo-efetivos. Com isso, o custo-eficácia das intervenções médicas variam consideravelmente nos diversos contextos, dependendo da disponibilidade de pessoal qualificado, dos peços das drogas e da predominância dos riscos. Por outro lado, as intervenções no estilo de vida geralmente poupam custos porque evitam as condições que podem ter um tratamento caro. e as intervenções exploradoras reduzam efetiva- CÂNCER mente . . a incidência . . . O câncer é outra doença não transmissível há muito considerada uma ameaça à saúde principalmente em países de alta renda, mas que agora representa uma carga consideravelmente alta da doença em todo o mundo.3 Em 2001, o câncer causou mais de 7 milhões de mortes, das quais 5 milhões ocorreram em países de renda média e baixa. Nesse ano, o câncer resultou na perda de mais de 100 milhões de AVAD, com quase 75 milhões perdidas em países de renda média e baixa. Em 2020, a menos que as intervenções de exploração e prevenção do câncer realmente reduzam a incidência da doença, o número de novos casos de câncer aumentarão de uma estimativa de 10 milhões de casos em 2000 para uma estimativa de 15 milhões por ano, e 9 milhões deles ocorrerão em países em desenvolvimento. o número de novos casos de câncer aumentarão de . . .10 milhões de casos em 2000 para uma estimativa de 15 milhões.” 3 104 | Prioridades em Saúde| Esta seção se baseia no DCP2, capítulo 29. Embora o câncer seja um problema em todas as partes, ele não se manifesta da mesma maneira em todo o mundo. Uma grande parte dos casos de câncer nos países em desenvolvimento, até 25%, são associados com infecções crônicas. O câncer de fígado normalmente está associado com infecção por hepatite B, o câncer cervical com infecções por certos tipos de papilomavírus humano (HPV), e o câncer no estômago com infecção por Helicobacter pylorii. A incidência desses tipos de câncer também está relacionada com a ausência de uma infra-estrutura de saúde pública bemdesenvolvida para o controle de agentes infecciosos causadores de câncer. Em 2000, sete tipos de câncer foram responsáveis por cerca de 60% de todos os casos de câncer recém-diagnosticados e de mortes por câncer nos países em desenvolvimento: cervical, fígado, estômago, esôfago, pulmão, cólon-retal e mama. Os quatro primeiros exibem taxas elevadas de incidência e mortalidade em países em desenvolvimento. Os três últimos têm uma incidência mais baixa, porém em crescimento, devido às transições demográficas e industriais. As regiões em desenvolvimento também exibem uma variação considerável nas cargas de câncer. As mortes por câncer do fígado são relativamente altas no Leste da Ásia e na África por causa da alta predominância de infecções crônicas por hepatite B e da armazenagem e preservação inadequadas dos alimentos. As mortes por câncer cólon-retal e de mama são relativamente altas na Europa Oriental porque as pessoas nessas regiões adotaram dietas menos saudáveis e com alto nível de gorduras e estilos de vida sedentários. As mortes por câncer bucal são especialmente altas no Sul da Ásia, onde é comum mascar folhas de bétel. Esses diferentes tipos de câncer exigem diferentes estratégias de intervenção. As intervenções se encaixam em diversas categorias. A prevenção primária elimina a exposição aos agentes causadores de câncer; a prevenção secundária engloba a detecção e o tratamento de lesões pré-cancerosas; o tratamento inclui cirurgia, quimioterapia e radioterapia; e os cuidados paliativos são indicados para o conforto físico e psicológico desde o diagnóstico até a morte. A prevenção primária dos tipos de câncer mais freqüentes nos países em desenvolvimento incluem a imunização e o tratamento dos agentes infecciosos, a implementação de intervenções alimentares, a introdução de programas de controle do fumo, a redução do consumo excessivo de álcool e o uso de quimioprofilaxia. Os estudos do custo-eficácia dessas intervenções são relativamente raros e se concentram nos países de alta renda. Por exemplo, estudos feitos no Reino Unido e nos Estados Unidos verificaram que os custos do exame e do tratamento das pessoas com infecção por helicobacter para reduzir o risco de câncer no estômago ficam entre US$ 25.000 e US$ 50.000 por ano de vida salvo, mas outro estudo verificou que essa intervenção seria muito mais custo-efetiva na Estratégias custo-efetivas para doenças não transmissíveis, fatores de risco e comportamentos | 105 “O custo-eficácia do tratamento do câncer cervical, de mama, bucal e cólon-retal varia de US$ 1.300 até US$ 6.200 por ano de vida salvo. Para cânceres... do fígado, pulmão, estômago e esófago, o custo-eficácia é ainda pior.” Colômbia, onde os custos dos cuidados de saúde são mais baixos e a predominância de câncer do estômago é maior. A prevenção secundária consiste em programas de avaliação para detectar e tratar os precursores do câncer, o que pode prevenir ou reduzir a incidência de tipos de câncer muito invasivos, como o cervical ou o cólon-retal. Uma avaliação eficaz também pode detectar cânceres invasivos, como o de mama ou de pulmão, em um estágio anterior ao que normalmente é possível e, desse modo, aumentar a probabilidade de sucesso dos tratamentos. O custo-eficácia da prevenção secundária depende de muitos fatores, como os custos de testes de diagnóstico, a predominância da doença e a disponibilidade de tratamentos eficazes. O tratamento do câncer inclui a remoção cirúrgica de tumores, quimioterapia e radioterapia. O custo-eficácia do tratamento do câncer cervical, de mama, bucal e cólon-retal varia de US$ 1.300 até US$ 6.200 por ano de vida salvo. Para os tipos de câncer que são mais difíceis de tratar, como o de fígado, pulmão, estômago e esôfago, o custo-eficácia é ainda pior, variando de US$ 53.000 até US$ 163.000 por ano de vida salvo. A disponibilidade de métodos custo-efetivas de prevenção e tratamento do câncer em países de renda média e baixa varia significativamente, dependendo do tipo de câncer, com um efeito substancial conseqüente sobre a equidade dos resultados. No caso de cânceres para os quais não existe detecção e tratamento adequados, ou seja, de esôfago, fígado, pulmão e pâncreas, as taxas de sobrevivência são semelhantes em países ricos e pobres. Para cânceres com métodos comprovados de tratamento, como o câncer do intestino grosso, de mama, dos ovários e cervical, existe uma lacuna substancial entre as melhores taxas de sobrevivência nos países de alta renda e as piores taxas de sobrevivência nos países de renda média e baixa. Um terceiro grupo de câncer exige tratamentos complexos e multimodais, como o câncer de testículos, a leucemia e o linfoma. Os desafios para o fornecimento de cuidados adequados para esses tipos de câncer são especialmente grandes em ambientes sem equipe médica especializada e uma boa infra-estrutura de saúde. DISTÚRBIOS CONGÊNITOS E DO DESENVOLVIMENTO Outro componente da carga de doenças não transmissíveis é proveniente de distúrbios congênitos e do desenvolvimento4. À medida que os países de renda média e baixa progridem no controle das principais doenças da infância, os distúrbios congênitos e do desenvolvimento tendem a se revelar. Na África, 2% das crianças têm anemia falciforme, uma das condições hereditárias, ou hemoglobinopatias, que afeta o funcionamento normal 4 106 | Prioridades em Saúde| Esta seção se baseia no DCP2, capítulo 34. Figura 5.1 Distribuição Global da hemoglobinopatia Hb E Hb S Fonte: DCP2, capítulo 34, p. 655. Nota: variantes estruturais da hemoglobina Hb E (inócua a menos que interaja com talassemina α ou β) e Hb S (ocasionando anemia falciforme no status homozigótico) Hb ⫽ hemoglobina da hemoglobina nos glóbulos vermelhos do sangue (figura 5.1). Essa condição geralmente é ausente entre adolescentes e adultos devido às altas taxas de mortalidade nas crianças. À medida que os países controlam a malária e melhoram o diagnóstico e o tratamento de infecções com antibióticos, um número maior de crianças com essa condição sobreviverá até a idade adulta. A predominância de deficiências de aprendizado e desenvolvimento (limitações funcionais resultantes dos danos ao sistema nervoso) se encontra pelo menos 10% a 20% em países de alta renda. Recém-nascidos “Na África, 2% das crianças têm anemia falciforme . . .” Estratégias custo-efetivas para doenças não transmissíveis, fatores de risco e comportamentos | 107 “. . . Cerca de 7% da da população do mundo carrega genes que podem causar distúrbios de hemoglobina e, a cada ano, entre 300.000 e 500.000 bebês nascem com formas graves dessas doenças. O retardo mental moderado causado pela ingestão de chumbo é responsável por 1% da carga global da doença . . .” 108 | Prioridades em Saúde| e crianças com essas deficiências têm menos condições de sobreviver e obter a atenção do sistema de saúde até que os países sejam mais capazes de controlar as doenças infecciosas comuns e que a cobertura do seu sistema de saúde se torne mais completa. Os distúrbios congênitos e de desenvolvimento são provenientes de diversas condições. Muitos desses distúrbios são estritamente genéticos: a anemia falciforme ocorre em uma em cada quatro crianças cujos pais apresentem o gene recessivo dessa condição e a síndrome de Down é causada pela presença de um terceiro cromossoma. Outros distúrbios ocorrem quando o desenvolvimento do feto é prejudicado, como nos casos de síndrome alcoólica fetal, deficiência de iodo e rubéola congênita. Uma terceira classe de distúrbios ocorre devido a exposição ambiental adversa como, por exemplo, danos neurológicos causados por malária cerebral, meningite bacteriana ou envenenamento por chumbo. Esses distúrbios são responsáveis por uma parcela significativa da carga mundial de doenças. Cerca de 7% da população do mundo carrega genes que podem causar distúrbios de hemoglobina e, a cada ano, entre 300.000 e 500.000 bebês nascem com formas graves dessas doenças. O retardo mental moderado causado pela ingestão de chumbo é responsável por 1% da carga global da doença, cerca de 9,8 milhões de AVAD, e a ingestão de chumbo é apenas uma das causas de retardo mental. As conseqüências desses distúrbios variam amplamente e dependem tanto da gravidade da condição como do contexto. Quando o sistema de saúde pode garantir o diagnóstico apropriado e a profilaxia com penicilina, muitas crianças podem ter uma vida normal mesmo apresentando anemia falciforme. Os distúrbios de hiperatividade e dislexia são problemáticos em ambientes escolares que não possuem recursos para tratar deles. A estigmatização pode impedir que as pessoas participem de atividades sociais mesmo quando as limitações funcionais não constituem uma restrição. Nos lugares em que a política de saúde pública promove a construção de rampas para cadeiras de rodas ou o uso de código Braille, as limitações funcionais são menos restritivas. Algumas intervenções na área da saúde abordam os distúrbios congênitos e de desenvolvimento por meio da prevenção. É o caso de medidas como a oferta de avaliações genéticas e aconselhamento para casais quando são detectados distúrbios congênitos graves, a vacinação contra Hib e meningite meningocócica para evitar danos neurológicos, a implementação de intervenções comportamentais para interromper o uso de álcool durante a gravidez para evitar a síndrome alcoólica fetal, a eliminação da exposição ambiental a toxinas como o chumbo, que causam retardo mental, e a correção de deficiências nutricionais entre mulheres grávidas. Outras intervenções disponíveis para evitar que os distúrbios gerem deficiências são: • O exame de distúrbios metabólicos identifica as pessoas que irão desenvolver problemas neurológicos após a ingestão de determinados alimentos. As crianças com risco de tais distúrbios e seus pais podem ser aconselhados para que possam restringir a dieta das crianças identificadas de modo adequado. • O exame de anemia falciforme pode ser acompanhado de profilaxia com penicilina para reduzir o risco de morte e morbidade em conseqüência das infecções. • O exame e o tratamento de hipotiroidismo congênito pode evitar os danos de desenvolvimento que resultam em deficiências cognitivas graves. • O tratamento imediato da malária cerebral pode evitar os danos neurológicos no longo prazo. Quando os distúrbios não podem ser evitados, em alguns casos existem tratamentos disponíveis para reduzir o impacto na saúde do indivíduo. Pessoas com problemas causados por talassemias graves, distúrbios genéticos que englobam a produção defeituosa de hemoglobina no sangue, podem precisar de transfusões de sangue com hemácias lavadas selecionadas especificamente para evitar doenças transmitidas pelo sangue; os indivíduos com anemia falciforme podem ser hospitalizados e tratados com analgésicos quando sofrem de dores severas nos ossos; e o reforço nutricional, a cirurgia, a reabilitação ou a educação especial podem reduzir a gravidade das deficiências. Finalmente, caso os distúrbios não possam ser evitados ou tratados, deve ser possível atenuar o impacto da deficiência na qualidade de vida da pessoa. Muitas intervenções são direcionadas para as condições de saúde associadas; por exemplo, as pessoas nascidas com síndrome de Down geralmente precisam de tratamento ou terapia para deficiências de visão ou audição, problemas cardíacos congênitos e baixa capacidade mental. Outras intervenções enfocam as restrições ambientais na participação do indivíduo na vida social e familiar, seja com a melhoria da mobilidade física através de investimentos adequados em infra-estrutura pública, como o acesso para cadeira de rodas em transportes, edifícios e banheiros públicos; com a construção de redes de apoio social; ou com a abordagem do estigma social e a educação do público para uma maior inclusão das pessoas com deficiências. O DCP2 concluiu que muitas intervenções para o tratamento de distúrbios congênitos e de desenvolvimento são custo-efetivas. O capítulo 34 destaca a profilaxia com penicilina para recém-nascidos com anemia falciforme, que custa entre US$ 7.000 e US$ 12.000 por morte evitada e de US$ 250 a US$ 600 por AVAD evitado. Também observa que o exame de anemia falciforme entre pessoas de descendência africana custa cerca de “ . . . muitas intervençõe para o tratamento de distúrbios congênitos e de desenvolvimentos são custo-efetivas.” Estratégias custo-efetivas para doenças não transmissíveis, fatores de risco e comportamentos | 109 “Uma melhor nutrição das mulheres grávidas. . . não somente seria benéfica para a saúde das próprias mulheres e para reduzir o risco de mortalidade materna, como também reduziria as chances de seus filhos nascerem com um distúrbio congênito.” US$ 6.700 por morte evitada, mas que o exame universal em outras populações com baixa predominância da doença não é custo-eficiente. O capítulo 49 conclui que o suplemento de ácido fólico nos cereais para prevenir defeitos congênitos é custo-efetivo, custando uma média de US$ 36 por AVAD evitado na América Latina e no Caribe, US$ 40 por AVAD evitado na África Subsaariana, US$ 58 por AVAD evitado no Sul da Ásia e US$ 160 por AVAD evitado no Leste da Ásia e no Pacífico. O exame prénatal e a interrupção seletiva da gravidez para prevenir a síndrome de Down, a espinha bífida e outros distúrbios congênitos muitas vezes fatais podem ter um alto índice de custo-eficácia, mas levantam questões éticas, sociais e culturais que precisam ser tratadas de modo a respeitar a gravidade de tais decisões e a assegurar a proteção dos direitos humanos. No tratamento dos distúrbios congênitos e de desenvolvimento, as evidências no DCP2 demonstram as fortes relações entre as doenças. Os programas de imunização tinham em vista que a prevenção da rubéola reduziria a probabilidade de deformidades congênitas nos recém-nascidos e que um melhor controle da malária reduziria a ocorrência de distúrbios neurológicos resultantes da malária cerebral. Uma melhor nutrição das mulheres grávidas, com ênfase especial em micronutrientes como vitamina A, ácido fólico e iodo, não somente seria benéfica para a saúde das próprias mulheres e para reduzir o risco de mortalidade materna, como também reduziria as chances de seus filhos nascerem com um distúrbio congênito. LESÕES NÃO-INTENCIONAIS “...as lesões não-intencionais foram responsáveis por 3,5 milhões de mortes em 2001, das quais mais de 90% ocorreram em países de renda média e baixa. . .” As lesões não-intencionais, especialmente os acidentes de trânsito, são outro componente da carga de doenças não transmissíveis.5 Em todo o mundo, as lesões não-intencionais foram responsáveis por 3,5 milhões de mortes em 2001, das quais mais de 90% ocorreram em países de renda média e baixa e foram responsáveis por cerca de 7% de todas as mortes nesses países. Entre elas, os acidentes de trânsito foram responsáveis por cerca de 34% das mortes resultantes de lesões não-intencionais. Embora os homens sejam responsáveis por 66% de todas as mortes por lesões nãointencionais, eles respondem por 73% dos acidentes de trânsito. Os acidentes de trânsito crescem quando o volume de viagens e o uso de veículos motorizados, especialmente veículos de duas rodas, aumentam. Eles também ocorrem com mais freqüência com velocidades mais altas e em lugares onde as estradas não suportam o aumento de volume e de velocidade do tráfego. Também ocorrem acidentes quando os pedestres precisam compartilhar as rodovias com os veículos motorizados e nãomotorizados. 5 110 | Prioridades em Saúde| Esta seção se baseia no DCP2, capítulo 39. Os acidentes de trânsito tendem a aumentar à medida que os países se industrializam e crescem economicamente. Mais tarde, com o aumento da riqueza e o fortalecimento das instituições públicas, os países investem em medidas de segurança, mas a espera por crescimento da renda para a implementação de medidas preventivas resulta na perda desnecessária de milhões de vidas. A consciência desse padrão histórico de crescimento de acidentes de trânsito ajuda os países de renda média e baixa a reconhecer a necessidade de incorporar projetos mais seguros na construção de estradas e rodovias, bem como a promover hábitos de dirigir mais seguros. Existem muitas intervenções eficazes disponíveis para reduzir o risco de lesões por acidente de trânsito. O primeiro conjunto de intervenções aborda a exposição ao risco. Exemplos disso incluem a substituição de modos perigosos de transporte por outros mais seguros e a diminuição de cenários de alto risco, como o aumento da idade legal mínima para dirigir motocicletas. O segundo conjunto de intervenções engloba a construção de estradas mais seguras. Essas intervenções podem incluir a colocação de lombadas para reduzir a velocidade do tráfego, a separação das faixas para veículos do caminho usado para pedestres e bicicletas, a construção de barreiras centrais, o fornecimento de faixas de ultrapassagem e a melhoria da iluminação das ruas. O terceiro conjunto de intervenções enfoca o incentivo para que as pessoas adotem atitudes mais seguras. Essas medidas incluem a criação e o cumprimento de leis relativas a limites de velocidade, níveis de álcool no sangue, horários para motoristas comerciais, fornecimento e uso de cintos de segurança e a utilização de capacetes para bicicletas e motocicletas, além da educação dos pedestres. O DCP2 avalia o custo-eficácia de diversas intervenções direcionadas para a redução de acidentes de trânsito, incluindo multas mais altas para a violação das regras de segurança no trânsito, juntamente com rigor na execução das leis, redutores de velocidade e obrigatoriedade de uso de capacetes para bicicletas e motocicletas. A prova da eficácia de leis de segurança no trânsito mais severas pode ser vista no Brasil, onde um pacote com três intervenções que incluíam alterações legislativas para aumentar as multas, a difusão de mensagens na mídia para informar o público sobre as mudanças e um maior cumprimento das leis obteve uma redução de 25% nas fatalidades no trânsito entre 1997 e 1998. Embora a educação sobre segurança no trânsito por si só possa ter um certo impacto, estudos na Malásia e na Tailândia demonstraram que a educação tem um impacto muito maior quando faz parte de um pacote que inclua uma legislação severa e maior rigor na execução, pois as intervenções reforçam umas às outras. “ O Brasil . . . obteve uma redução de 25% nas fatalidades no trânsito entre 1997 e 1998 : . .” “. . . a educação tem um impacto muito maior quando faz parte de um pacote que inclua uma legislação severa e maior rigor na execução, pois as interações reforçam umas às outras.” Estratégias custo-efetivas para doenças não transmissíveis, fatores de risco e comportamentos | 111 “A colocação de redutores de velocidade em 10% de cruzamentos mais letais em uma cidade de 1 milhão de habitantes custaria somente US$ 2 por AVAD evitado na América Latina e no Caribe, até US$ 9 por AVAD evitado no Leste da Ásia e no Pacífico.” 112 | Prioridades em Saúde| Redutores de velocidade instalados em cruzamentos perigosos ou próximo a faixas de travessia de pedestres constituem uma maneira simples de reduzir a velocidade e o risco de acidentes. É preciso haver uma vigilância e uma coleta de dados prévia, pois, para ser eficaz, o redutor de velocidade deve ser instalado nos pontos mais perigosos. Gana introduziu redutores de velocidade em lugares perigosos e reduziu as fatalidades no trânsito nesses locais em mais de 50%. Os capacetes para ciclistas são extremamente eficazes na prevenção de lesões na cabeça; no caso de motocicletas, os capacetes têm uma eficácia ligeiramente menor. Na China, os acidentes relacionados a bicicletas matam 22 pessoas por milhão de habitantes a cada ano, enquanto os acidentes de motocicleta matam 16 pessoas por milhão de habitantes. Estudos de casos indicam que os capacetes para ciclistas podem reduzir as lesões em 85%. Na modelagem do custo-eficácia dessas intervenções, o DCP2 concluiu que todas elas custam menos de US$ 1.000 por AVAD evitado. Para legislação e execução de segurança no tráfego, o custo-eficácia variou de US$ 14 por AVAD evitado no Sul da Ásia a US$ 584 por AVAD evitado na Europa Oriental e na Ásia Central. A colocação de redutores de velocidade em 10% de cruzamentos mais letais em uma cidade de 1 milhão de habitantes custaria somente US$ 2 por AVAD evitado na América Latina e no Caribe, até US$ 9 por AVAD evitado no Leste da Ásia e no Pacífico. O aumento do uso do capacete para ciclista na China custaria US$ 107 por AVAD evitado, enquanto o aumento do capacete para motos custaria US$ 467 por AVAD evitado (tabela 5.1). Portanto, as intervenções para reduzir o risco de acidentes de trânsito são razoavelmente simples e custo-efetivas. Contudo, os investimentos nessas intervenções são baixos. Em 1998, Uganda gastou apenas US$ 0,09 per capita e o Paquistão US$ 0,07 per capita em segurança no trânsito, ou menos de 1% dos gastos públicos em saúde em cada um dos países. Análises de iniciativas de segurança no trânsito encontraram um subinvestimento similar em segurança no trânsito em Benin, Costa do Marfim, Quênia, Tanzânia e Zimbábue. A implementação de medidas de segurança no trânsito não exige novos conhecimentos: os fatores de risco são bem conhecidos. Entretanto, a implementação muitas vezes falha devido a conflitos entre os ministérios do governo, serviços públicos ineficientes e corrupção. Embora os custos não sejam insignificantes, as intervenções são custo-efetivas. Tabela 5.1 Principais conclusões: Intervenções custo-efetivas na prevenção de lesões não-intencionais nos países de renda média e baixa Lesão Intervenções promissoras Acidentes de trânsito Redução do tráfego de veículos motorizados: impostos eficientes para combustíveis, mudanças na política de uso da terra; avaliação do impacto de segurança dos planos de transportes e uso da terra, provisão de rotas mais curtas e mais seguras, medidas de redução de viagens Maior utilização de formas mais seguras de transportes Intervenções que demonstraram ser eficazes em países de renda média e baixa (referências) Aumento do limite mínimo de idade para motociclistas de 16 para 18 anos. Norghani e outros, 1998) Redução da exposição a cenários de alto risco: restrição do acesso a diferentes partes da rede de estradas, com prioridade para veículos com maior ocupação ou para usuários de estradas vulneráveis, restrição da velocidade e do desempenho do motor dos veículos de duas rodas, aumento da idade legal para operar uma motocicleta, uso de sistemas de licenciamento diferenciado de motoristas Estradas mais seguras Conscientização de segurança no planejamento das redes rodoviárias, recursos de segurança no projeto de rodovias e ações corretivas em locais de alto risco de acidentes : fazer provisões para tráfego lento e usuários de rodovias vulneráveis; fornecimento de faixas de ultrapassagem, barreiras centrais e iluminação das ruas Medidas para acalmar o tráfego, como redutores de velocidade Câmeras para medir a velocidade Veículos mais seguros Redutores de velocidade para diminuir os ferimentos de pedestres (Afukaar, Antwi e Ofusu-Amah, 2003) Motocicletas trafegando com faróis acesos durante o dia (Radin Umar, Mackay e Hills, 1996; Yuan, 2000) Melhorar a visibilidade dos veículos, incluindo a requisição de faróis automáticos para uso diurno Incorporação de projetos de proteção contra acidentes nos veículos, incluindo a instalação de cintos de segurança Licenciamento e inspeção obrigatória dos veículos Pessoas mais seguras Envenenamentos Aumento das multas e suspensão das licenças de condutores (Poli de Figueiredo e outros, 2001) Estratégias de legislação e aumento do cumprimento de, por exemplo, limites de velocidade, limites relativos ao consumo de álcool, horários de circulação para motoristas comerciais, uso do cinto de segurança, uso de capacete para bicicletas e motos Legislação e cumprimento do uso de capacetes para motociclistas (Ichikawa, Chadbunchachai e Marui, 2003; Supramaniam, Belle e Sung, 1984) Melhor armazenamento, incluindo posicionamento e natureza dos recipientes Distribuição gratuita de recipientes que não podem ser abertos por crianças (Krug e outros, 1994) Uso de recipientes com tampas de segurança para crianças Rótulos de aviso Treinamento de primeiros socorros Lesões relativas a quedas Centros de controle de venenos Pessoas mais velhas Fortalecimento dos músculos e reeducação postural (prescrição individual) Exercício de tai chi em grupo (Continua na página seguinte.) Estratégias custo-efetivas para doenças não transmissíveis, fatores de risco e comportamentos | 113 Tabela 5.1 (Continuação) Lesão Intervenções que demonstraram ser eficazes em países de renda média e baixa (referências) Intervenções promissoras Avaliação de riscos residenciais e modificações em casos de alto risco Exame multidisciplinar e multifatorial de fatores de risco Lesões relativas a incêndios Introdução de programas para instalação de alarmes de fumaça Separação das áreas de cozinha das áreas de estar Colocação de superfícies para cozinha em lugares altos Redução do armazenamento de substâncias inflamáveis em residências Maior supervisão das crianças Introdução, monitoramento e cumprimento de padrões e códigos para roupas resistentes ao fogo Lesões relativas a escaldaduras Separação das áreas de cozinha das áreas de lazer Melhoria do desenho dos recipientes de cozinha Lesões relativas a incêndios e escaldaduras Afogamentos Limitar a exposição a fluxos de água perto de moradias, como, por exemplo, por meio de cercas Proporcionar programas de aulas de natação Proporcionar educação sobre riscos de afogamento Aumentar a supervisão e fornecer salva-vidas nos centros de recreação Equipar barcos com dispositivos de flutuação e assegurar o seu uso Elaborar leis e forçar o cumprimento de regras sobre o número de pessoas permitido nos barcos Ter serviços de guarda costeira treinada e de prontidão Fonte: DCP2, capítulo 39, p. 39.3. “Em todo o mundo, o fumo é responsável por 1 em cada 5 mortes entre os homens e 1 em cada 20 mortes entre as mulheres com mais de 30 anos.” CONSUMO DE TABACO Enquanto algumas doenças—HIV/AIDS, TB, câncer—parecem procurar as pessoas, alguns comportamentos parecem procurar doenças.6 Os comportamentos ligados ao vício colocam as pessoas na última categoria. Em todo o mundo, o fumo é responsável por 1 em cada 5 mortes entre os homens e 1 em cada 20 mortes entre as mulheres com mais de 30 anos. Em 2000, 4,8 milhões de mortes prematuras foram atribuídas a doenças causadas pelo fumo, como doenças cardiovasculares, câncer do pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica. Nos países de renda média e baixa, o fumo também está associado com doenças respiratórias como asma e 6 114 | Prioridades em Saúde| Esta seção se baseia no DCP2, capítulos 44 e 46. tuberculose. Entre os homens na China, o fumo foi responsável por uma estimativa de 12% de mortes por TB. Na Índia, a TB apresentou uma probabilidade quatro vezes maior em fumantes do que em não-fumantes, sugerindo que o fumo é um fator contributivo em cerca de metade de todas as mortes por TB entre os homens. O risco final de morte por fumo é alto: cerca de metade a dois terços dos fumantes de longo prazo morrerão de doenças causadas pelo tabagismo. Os fumantes também impõem riscos à saúde de outras pessoas, sendo o fumo passivo um fator de risco significativo para crianças no desenvolvimento de asma, inflamações na garganta e doenças respiratórias. Atualmente, cerca de 1,1 bilhões de pessoas fumam e quatro quintos desses fumantes residem em países de renda média e baixa. A predominância do fumo é maior na Europa Oriental e na Ásia Central, onde 35% de todos os adultos fumam. Entretanto, o Leste da Ásia e o Pacífico atualmente respondem pela maioria das mortes relacionadas ao fumo, cerca de 40%. Os homens fumam mais do que as mulheres, embora a diferença seja menor nos países de alta renda. As tendências globais do fumo são preocupantes. Se a proporção de jovens que começam a fumar continuar no padrão atual — cerca de metade dos homens e 1 em cada 10 mulheres — a cada ano haverá cerca de 30 milhões de novos fumantes de longo prazo. Como resultado, em 2030 o número de mortes prematuras relacionadas com o tabaco aumentará para 10 milhões por ano (figura 5.2). “. . . metade a dois terços dos fumantes de longo prazo morrerão de doenças causadas pelo tabagismo.” Figura 5.2 Crescimento projetado de mortes relacionadas ao tabaco se os fumantes não conseguem parar de fumar Mortalidade por câncer no pulmão (porcentagem Continuou a fumar 15 10 Parou aos 50 anos 5 Parou aos 30 anos Nunca fumou 0 45 55 65 75 Age (years) Fonte: DCP2, capítulo 48, página 5. Estratégias custo-efetivas para doenças não transmissíveis, fatores de risco e comportamentos | 115 Figura 5.3 Mortes atribuídas ao fumo a. Reino Unido b. França Taxa de mortalidade/100.000 homens, por idadea Taxa de mortalidade/100.000 homens, por idadea 18 18 16 16 Homens 14 14 12 12 10 10 8 8 6 6 4 Homens 4 Mulheres 2 Mulheres 2 0 1950 1960 1970 1980 1990 2000 0 1950 1960 1970 1980 1990 2000 Fonte: DCP2, capítulo 46, p. 4. a. Média de taxas anuais em grupos de cinco anos. “No Reino Unido. . . , a incidência de câncer do pulmão entre os homens com idade de 35 a 44 anos caiu de 18 casos em 100.000 pessoas em 1950 para 4 casos em 100.000 em 2000.” 116 | Prioridades em Saúde| Porém essas mortes podem ser evitadas, como foi demonstrado por experiências em países em que deixar de fumar tornou-se comum. As iniciativas sérias de controle do fumo começaram a aparecer no Reino Unido e nos Estados Unidos na década de 1960. O impacto constante dessas iniciativas desencorajou os jovens em relação ao fumo e ajudou milhões de fumantes a deixar de fumar. Como um resultado direto, as taxas de câncer do pulmão no Reino Unido e nos Estados Unidos caíram rapidamente. No Reino Unido, onde o principal aumento do hábito de fumar começou antes da II Guerra Mundial, a incidência de câncer do pulmão entre os homens com idade de 35 a 44 anos caiu de 18 casos em 100.000 pessoas em 1950 para 4 casos em 100.000 em 2000 (figura 5.3a). Por outro lado, o fumo tornou-se comum na França muito depois, as iniciativas para desencorajar o fumo não tiveram impacto até a década de 1990 e a incidência de câncer do pulmão entre os homens franceses continuou a subir (figura 5.3b). A substância do tabaco que causa dependência é a nicotina, um psicotrópico. A inalação é a forma mais eficaz de fazer com que a nicotina chegue aos receptores no cérebro. A nicotina cria sensações positivas quando é administrada e causa sensações desagradáveis quando é retira- da. Nesse aspecto, ela é equivalente a qualquer outra droga altamente causadora de dependência como a heroína e a cocaína. As influências comportamentais aumentam a natureza bioquímica causadora de dependência do fumo. Ao contrário das drogas ilícitas que acarretam riscos de prisão e desaprovação social, os costumes sociais e interesses comerciais lícitos favoreceram o uso do tabaco. As empresas produtoras de fumo e os governos incentivaram o fumo por meio de propagandas e outras formas de promoção. O marketing de massa também apresenta aos fumantes muitas oportunidades e dicas freqüentes para adquirir os produtos e fumar, dificultando muito o abandono do fumo. A prevenção é a melhor maneira de tratar as doenças causadas pelo fumo. Qualquer coisa que reduza o fumo, seja diminuindo o número de pessoas que começam a fumar, aumentando o número das que param, reduzindo o número das que têm recaídas ou diminuindo o fumo entre os que continuam a fumar, vai, em última análise, reduzir a carga das doenças relacionadas com o fumo, como doenças cardiovasculares, câncer e tuberculose. A natureza causadora de dependência do fumo tem implicações para desencorajar o seu uso. Ensinar aos consumidores que o fumo causa dependência e problemas de saúde não é suficiente, pois as pessoas normalmente subestimam os futuros riscos à saúde e porque os jovens têm uma maior propensão a adotar comportamentos de risco. Depois que as pessoas estão dependentes, é difícil parar. As intervenções que se mostraram eficazes na redução do fumo são o aumento dos impostos sobre o fumo, a disseminação de informações sobre os riscos do fumo à saúde, a restrição do fumo em lugares públicos e no local de trabalho, proibição de propaganda e aumento do acesso às terapias para parar de fumar. Quase todos os governos tributam o fumo para gerar receita, mas à medida que a conscientização dos perigos do fumo cresceu, os governos estão cada vez mais usando as políticas fiscais do fumo para aumentar o custo do hábito e desincentivar o fumo. Em alguns casos, os países até já destinaram os impostos do tabaco para financiar programas de saúde dedicados à redução da exposição ao fumo. Os impostos sobre o fumo têm um efeito maior na redução do consumo entre os grupos de renda mais baixa, jovens e pessoas com menores níveis de instrução. Os impostos também são mais eficazes no longo prazo do que no curto prazo, pois os consumidores dependentes mudam seus hábitos lentamente. Os preços mais altos do fumo parecem ser mais eficazes para evitar que os fumantes jovens passem da fase de experimentação e se tornem fumantes habituais. Estudos estimaram que o efeito do aumento dos preços dos cigarros pode ser duas vezes maior nos países de renda média e baixa do que nos países de alta renda, indicando que “ . . .cada vez mais os governos utilizam uma política de taxa sobre o fumo para aumentar o custo do vício e desencorajar o uso do fumo.” Estratégias custo-efetivas para doenças não transmissíveis, fatores de risco e comportamentos | 117 “. . . o abandano do vício aumenta as possibilidades de sobrevivência apesar do tempo em que o indivíduo fumou.” 118 | Prioridades em Saúde| aumentos significativos nos impostos dos cigarros no primeiro grupo seriam mais eficazes na redução do hábito de fumar. Os impostos são responsáveis por mais de dois terços do preço no varejo na maioria dos países de alta renda, mas por menos da metade nos países de renda média e baixa. Além de aumentar o preço dos cigarros, muitos países efetivamente desincentivaram o fumo com a sua restrição em áreas públicas. A justificativa para essas medidas é proteger os não-fumantes dos danos causados pela inalação da fumaça, mas essas medidas também criam um obstáculo para os fumantes, forçando-os a mudarem seus hábitos e procurar áreas especiais para fumantes. Isso pode ajudar a criar empecilhos para o fumo e também a estigmatizar a prática, conduzindo a mudanças nas normas sociais. Para terem impacto, essas regulamentações precisam ser cumpridas, principalmente ao serem introduzidas. As intervenções que afetam as atitudes das pessoas e o conhecimento sobre os perigos do fumo também podem ajudar bastante. Os cigarros estão entre os produtos mais fortemente anunciados e promovidos do mundo. Campanhas informativas e educacionais podem refrear o impacto desse marketing com a publicação de relatórios sobre os perigos do fumo, a colocação de rótulos de aviso nas embalagens e a difusão de mensagens antifumo na mídia. Restrições abrangentes à propaganda e à promoção dos cigarros podem reduzir o fumo e tornar as campanhas de conscientização pública mais eficazes. Embora os perigos do fumo tenham se tornado amplamente conhecidos na maioria dos países de alta renda, a conscientização dos riscos de mortalidade e de doenças causados pelo fumo ainda não está amplamente difundida nos países de renda média e baixa. As principais mensagens que precisam ser transmitidas são que a dependência pode vir a matar metade ou dois terços dos fumantes; que, em média, os fumantes perderão de 20 a 25 anos de vida e vão morrer entre 35 e 69 anos de idade; e que parar de fumar aumenta as chances de sobrevivência, independentemente de quanto tempo a pessoa tenha fumado. O recente desenvolvimento de drogas que anulam os efeitos da nicotina aumentam as chances de sucesso para os fumantes que gostariam de parar de fumar. Ironicamente, os produtos derivados do tabaco que contêm nicotina geralmente são mais baratos e mais fáceis de comprar do que as terapias de substituição da nicotina. Políticas que corrijam esse desequilíbrio com a diminuição dos custos das terapias de substituição da nicotina e o aumento da sua disponibilidade podem ajudar os fumantes a parar de fumar. Essas terapias são mais eficazes quando aliadas à orientação e ao apoio de colegas. É especialmente importante promover a idéia de parar de fumar, pois a maior parte das mortes relacionadas ao fumo de agora até 2050 será entre os fumantes atuais. Por outro lado, as políticas destinadas a prevenir que os jovens comecem a fumar terão o principal impacto depois de 2050. As intervenções que enfocam a redução do fornecimento de cigarros não parecem particularmente eficazes. Alguns desses programas, como a proibição da venda de produtos derivados do tabaco para jovens, são difíceis e dispendiosa para executar. As restrições à importação de produtos derivados do tabaco podem aumentar os preços internos, mas também violam os acordos comerciais internacionais. Programas que incentivam os agricultores a parar de plantar tabaco não são eficazes porque outros agricultores podem expandir sua produção para preencher a lacuna. Portanto, os países de renda média e baixa devem ser bem orientados a concentrar seus esforços na redução da demanda. Felizmente, a maior parte das intervenções voltadas para a demanda são custo-efetivas e até mesmo economizam custos. A tributação dos produtos derivados do tabaco para aumentar o custo dos cigarros é a maneira de maior custo-eficácia para reduzir o fumo. Um aumento de 70% no preço dos cigarros pode evitar de 10% a 26% das mortes relacionadas ao fumo em todo o mundo. O efeito seria especialmente forte em países de renda média e baixa, entre os jovens e para homens. O uso de um cenário de caso básico de um aumento de 33% nos preços gera uma relação custoeficácia de US$ 3 a US$ 42 por AVAD evitado em países de renda média e baixa, e de US$ 85 a US$ 1.773 por AVAD evitado em países de alta renda. Intervenções bem-sucedidas na Polônia e na África do Sul foram muito além desse aumento modesto de preços, quase dobrando os preços dos cigarros em pouco tempo (DCP2, capítulo 8; Levine e outros 2004). Embora os aumentos de preços sejam a abordagem de maior custo-eficácia para controlar o fumo, essa medida de saúde pública é nitidamente subutilizada. Na verdade, quando ajustado para o poder de compra, o preço dos produtos derivados do tabaco caiu na maioria dos países em desenvolvimento entre 1990 e 2000. O aumento do acesso às terapias de substituição de nicotina para ajudar os fumantes que querem parar de fumar é mais cara, custando entre US$ 75 e US$ 1.250 por AVAD evitado, mas ainda é relativamente custoeficiente, principalmente quando o custo direto das terapias é baixo. Outras intervenções não relacionadas ao preço poderiam ser implementadas a um custo entre US$ 233 e US$ 2.916 por AVAD evitado. O custoeficácia das medidas não relacionadas ao preço é extremamente sensível ao contexto. Nos países em que o público absorve facilmente as mensagens da saúde pública, os custos podem ser baixos. As mortes relacionadas ao fumo são a causa de morte com crescimento mais rápido nos países de renda média e baixa, igual ao da epidemia de “Um aumento de 70% no preço dos cigarros pode evitar de 10% a 26% das mortes relacionadas ao fumo em todo o mundo.” “. . . quando ajustado para o poder de compra, o preço dos produtos derivados do tabaco caiu na maioria dos países em desenvolvimento entre 1990 e 2000.” “As mortes relacionadas ao fumo são a causa de morte com crescimento mais rápido nos países de renda média e baixa, igual ao da epidemia de HIV/AIDS.” Estratégias custo-efetivas para doenças não transmissíveis, fatores de risco e comportamentos | 119 “As doenças relacionadas ao álcool são responsáveis por cerca de 4% dos AVAD globais a cada ano . . . desde um percentual baixo de 0,5% no Oriente Médio e no Norte da África . . . até . . . 10,7% na Europa Oriental e na Ásia Central.” HIV/AIDS. A disponibilidade de medidas de controle custo-efetivas elimina qualquer desculpa para a falta de ação. Os obstáculos à prevenção de um rápido aumento das mortes relacionados ao fumo, que exige respostas fortes e hábeis àqueles que comercializam produtos derivados do tabaco e intercedem contra a reforma, encontram-se claramente no âmbito político. CONSUMO EXCESSIVO DE ÁLCOOL O consumo de álcool de alto risco7 é um problema sério de saúde pública.8 Ele prejudica diretamente a saúde daqueles que bebem em excesso e contribui para comportamentos de risco que causam lesões e deficiências neles mesmos e em outros. O consumo de álcool está vinculado à saúde de longo prazo e às conseqüências sociais por meio de três mecanismos intermediários: intoxicação, dependência e efeitos biológicos diretos (figura 5.4). As doenças relacionadas ao álcool são responsáveis por cerca de 4% dos AVAD globais a cada ano e variam de um percentual baixo de 0,5% no Figura 5.4 Modelo de consumo de álcool, resultados intermediários e conseqüências no longo prazo padrões de ingestão de bebidas alcoólicas Efeitos bioquímicos tóxicos e benéficos Chronic disease Volume médio intoxicaÁão Dependência Accidents and injuries (acute disease) Acute social and psychological problems Chronic social and psychological problems Fonte: DCP2, capítulo 47 figura 47.1. 7 O consumo de álcool de alto risco é definido de forma diferente para homens e mulheres. Para os homens é definido como o consumo de uma média de mais de 40 gramas por dia de álcool puro e para as mulheres o número é de mais de 20 gramas por dia. Essa diferença específica do sexo reflete as diferenças biológicas na metabolização do álcool. 8 Esta seção se baseia no DCP2, capítulo 47. 120 | Prioridades em Saúde| Oriente Médio e no Norte da África, onde o consumo de álcool é baixo, até entre 1,5% e 2,0% no Sul da Ásia e na África Subsaariana, 4,3% no Leste da Ásia e no Pacífico, 8,8% na América Latina e no Caribe, e 10,7% na Europa Oriental e na Ásia Central. Cerca de 75% da carga dessa doença se manifestam em doenças crônicas como dependência do álcool, doença vascular, cirrose hepática e câncer, com lesões intencionais e não intencionais (principalmente acidentes de trânsito) responsáveis pelos 25% restantes. O consumo de bebidas de alto risco é particularmente problemático na Europa e na Ásia Central, onde até 1 em cada 5 homens, e 1 em cada 10 mulheres com idades entre 15 e 29 envolvem-se em consumo de álcool de alto risco. Embora o consumo de álcool de alto risco na Europa e na Ásia Central seja apenas uma pouco maior do que em países de alta renda, ele é responsável pelo dobro da carga de doenças porque a maior parte desse consumo está na parte perigosa e de maior volume do intervalo de alto risco. As intervenções podem ser projetadas para prevenir o consumo de bebidas de alto risco ou para atenuar seus efeitos. Algumas dessas intervenções operam no nível da população, como medidas legislativas e impostos, maior rigor no cumprimento das leis e campanhas nos meios de comunicação de massas. Outras medidas são dirigidas especificamente para os consumidores de alto risco para incentivar modificações de comportamento. Assim como no caso do fumo, as políticas públicas podem ter um efeito substancial no consumo excessivo de álcool. A tributação do álcool aumenta o preço e conseqüentemente reduz o consumo. As estimativas indicam que um aumento de 10% no preço do álcool reduz o consumo de cerveja em cerca de 3%, de vinho em 10% e das bebidas destiladas em até 15%. A restrição de vendas a um número limitado de pontos de venda licenciados ou a restrição do horário para venda de bebidas alcoólicas pode dificultar a obtenção de álcool. Leis severas contra dirigir alcoolizado também desencorajam o consumo excessivo, previnem acidentes de trânsito e podem reduzir as fatalidades no trânsito em 7%. Quando a execução do teste do bafômetro ao acaso está incluída, as fatalidades e as lesões não-fatais em acidentes podem cair em até 15%. Para tornar esses tipos de medidas públicas eficazes, é necessário fazer cumprir as leis e os regulamentos, seja por meio de policiamento adicional para reduzir o contrabando e a evasão de impostos ou montando um teste de bafômetros aleatório nos motoristas para desencorajar a direção em estado alcoolizado (box 5.2). Quando essas medidas são eficazes, suspensões ou restrições na propaganda de produtos alcoólicos removem as dicas que incentivam o con- As estimativas indicam que um aumento de 10% no preço do álcool reduz o consumo de cerveja em cerca de 3%, de vinho em 10% e das bebidas destiladas em até 15%. Leis severas contra dirigir alcoolizado . . . podem reduzir as fatalidades no trânsito em 7%." Estratégias custo-efetivas para doenças não transmissíveis, fatores de risco e comportamentos | 121 Box 5.2 Redução da taxa tributária e a carga de doenças resultantes em Maurício Maurício, uma ilha-nação no Oceano Indico, tem uma população de cerca de 1 milhão. O turismo é o terceiro setor em termos de receita em moeda forte. Em junho de 1994, o governo abaixou drasticamente os impostos alfandegários sobre bebidas alcoólicas importadas para 80% das taxas que variavam de 200% para vinho até 600% para whisky e outras bebidas (Abdool, 1998). O governo fez a mudança sob pressão da indústria hoteleira, que reclamava que os turistas não estavam comprando bebidas alcoólicas suficientes devido aos altos preços (Lee, 2001 ). Outros motivos dados para a mudança foram para reduzir as importações extra-oficiais do exterior e para disponibilizar bebidas alcoólicas melhores e mais refinadas para a população local. Apesar de poucas evidências para apoiar o ponto de vista, havia reclamações na discussão pública de que bebidas alcoólicas de melhor qualidade trariam menos problemas à saúde. Os efeitos da mudança foram sentidos principalmente pelos habitantes e não pelos turistas, conforme descrito a seguir: • As prisões por dirigir com níveis de álcool no sangue acima do limite feitas principalmente em conexão com acidentes de trânsito, aumentaram em 23% entre 1993 e1997. • As internações de casos de alcoolismo no hospital psiquiátrico da ilha cresceram muito em 1994. A taxa de 1995 foi mais do que o dobro da taxa de 1993, e a taxa subiu novamente um pouco em 1996 e 1997. Os médicos especialistas em Maurício concordam que os pacientes com problemas de alcoolismo respondem por uma parcela crescente de internações em alas de medicina geral e agora representam entre 40% e 50% da ocupação dos leitos (Abdool ,1998). • As taxas de mortalidade ajustadas por idade em 100.000 habitantes por doença crônica do fígado e cirrose aumentaram de 32,8 para homens e 4,0 para mulheres em 1993 para 42,7 para homens e 5,3 para mulheres em 1996 (WHO 1999, 2000). Embora as estatísticas disponíveis sejam limitadas, a redução das taxas de importação de bebidas alcoólicas teve claramente um efeito negativo substancial na saúde dos habitantes da ilha. Portanto, a requisição de medidas de controle de bebidas alcoólicas feita pelo governo em 1997—especificamente, novos alvarás para instalações licenciadas, aumento dos impostos de consumo sobre bebidas alcoólicas e limitações do horário de abertura dos bares — não foi uma surpresa. Os impostos das bebidas alcoólicas foram ligeiramente aumentados no orçamento de 1999/2000 (Departamento de Estado Norte-Americano, 1999). Contudo, uma análise da equipe do Banco Mundial que não levou em consideração os efeitos na saúde solicitou nova redução das taxas máximas das tarifas, identificando Maurício como tendo um preconceito anticomercial com base na estrutura dos impostos de cigarros e bebidas alcoólicas (Hinkle e Herrou-Aragon, 2001 ). Fonte:Adaptado do DCP2, capítulo 47, p. 900. sumo de álcool; entretanto, os fabricantes muitas vezes substituem outros métodos de marketing, como o patrocínio de eventos esportivos. Conseqüentemente, a restrição da propaganda pode só reduzir o consumo de alto risco de bebidas alcoólicas em 1% a 3%. 122 | Prioridades em Saúde| Muitos países participam de campanhas dos meios de comunicação de massa e de educação com base em escolas sobre os riscos da bebida. Os estudos mostram que esses esforços realmente aumentam o conhecimento e as atitudes em relação ao álcool e aos seus riscos à saúde, mas não mostraram reduções constantes na taxa de consumo de álcool ou reduções nos danos relacionados ao álcool. Pequenas intervenções para reduzir o consumo de alto risco de bebidas alcoólicas no nível pessoal por meio de sessões educacionais e orientação psicossocial em ambientes de cuidados básicos de saúde reduzem o uso de bebidas alcoólicas entre consumidores de alto-risco em 13% a 34%, mas a adesão fraca e a baixa cobertura podem compensar substancialmente esses ganhos. Nas três regiões em que o consumo de álcool de alto risco é encontrado em mais de 5% da população — Europa e Ásia Central, América Latina e Caribe e África Subsaariana — as intervenções mais eficazes são a tributação e breves intervenções, que evitam mais de 500 AVAD por 1 milhão da população total. As estratégias de controle restantes, teste aleatório do bafômetro, redução do horário de venda nos fins de semana e uma ampla suspensão da propaganda, produziram efeitos na faixa de 200 a 400 AVAD evitados por população de 1 milhão ao ano. Nas outras duas regiões com taxas mais baixas de consumo de bebidas alcoólicas de alto risco, especialmente entre a população feminina, a carga que é evitável por meio de tributação é bastante reduzida: de 10 a 100 AVAD evitados por população de 1 milhão ao ano. No Sul da Ásia, a intervenção mais efetiva parece ser o cumprimento de leis para dirigir alcoolizado, devido à combinação de uma maior predominância de lesões relacionadas a acidentes de trânsito e níveis mais baixos de consumo de bebidas alcoólicas de alto risco. O custo-eficácia das intervenções também varia bastante entre as regiões. Considerando que a tributação, as limitações das vendas no varejo e a suspensão de propaganda sejam as intervenções mais custo-efetivas nas três regiões com maior predominância de consumo de alto risco de bebidas alcoólicas, essas mesmas intervenções estão entre as de menor custo-eficácia nas outras duas regiões em desenvolvimento. Na Europa e na Ásia Central, na América Latina e no Caribe, e na África Subsaariana, o aumento de impostos em 25% custa entre US$ 100 e US$ 200 por AVAD evitado, a redução do acesso a pontos de venda no varejo custa entre US$ 152 e US$ 340 por AVAD evitado, e a suspensão da propaganda custa entre US$ 134 e US$ 380 por AVAD evitado. O teste aleatório do bafômetro em motoristas é muito mais dispendioso, variando de US$ 973 por AVAD evitado na África Subsaariana até US$ 1.856 por AVAD evitado na Europa e na Ásia Central. Por outro lado, no Sul da Ásia, a classificação do custo-eficácia dessas intervenções é invertido: a imposição de um aumento de 25% nos impostos sobre bebidas alcoólicas “. . . onde o consumo de alto risco de bebidas alcoólicas ocorre em menos de 5% da população . . . as intervenções mais efetivas são a tributação e pequenas intervenções. . .” “O consumo de alto risco de álcool, juntamente com o fumo, . . . demonstra que . . . as medidas de políticas públicas podem ter um custo-eficácia substancialmente maior do que o tratamento médico individualizado.” Estratégias custo-efetivas para doenças não transmissíveis, fatores de risco e comportamentos | 123 “Cerca de 13% de todos os AVAD são devidos a distúrbios neurológicos e psiquiátricos.” custa US$ 3.654 por AVAD evitado, enquanto o teste aleatório do bafômetro nos motoristas custa US$ 531 por AVAD evitado. Em geral, os países com maior predominância de consumo de alto risco de álcool devem começar pela tributação porque nesses contextos é o que parece ter o maior efeito com os menores recursos. Em lugares onde o consumo de alto risco de bebidas alcoólicas constitui uma carga menor para a saúde pública, outras estratégias de intervenções que restrinjam o fornecimento ou a promoção de bebidas alcoólicas parecem ser promissoras e relativamente custo-efetivas. O consumo de alto risco de álcool, juntamente com o fumo, é responsável por uma parte relativamente grande e crescente da carga de doenças em países de renda média e baixa. Ambos demostram que para alguns fatores e condições de risco as medidas de políticas públicas podem ter um custo-eficácia substancialmente maior do que o tratamento médico individualizado. Mostram também que boas políticas de saúde também podem ser boas políticas fiscais. O valor dessas intervenções multissetoriais é um tema comum nos capítulos do DCP2 que tratam de dependências e se repete na análise de intervenções para redução de doenças cardiovasculares, diabetes e lesões por acidentes de trânsito. DOENÇA MENTAL “A depressão é o distúrbio psiquiátrico mais comum, . . . classificada em quarto lugar entre todas as causas de AVAD, . . . a principal condição nãofatal em todo o mundo.” 124 | Prioridades em Saúde| Ao olhar além dos números relativos à mortalidade para considerar a carga de deficiências nos países em desenvolvimento, a primeira edição de Disease Control Priorities in Developing Countries (Jamison e outros, 1993) revelou que a doença mental é responsável por uma parte substancial da carga de doenças nesses países.9 Depressão, esquizofrenia, distúrbio bipolar, distúrbios de ansiedade, demências e epilepsia são condições que não aparecem como causas significativas de mortalidade, mas reduzem seriamente a qualidade de vida das pessoas e de seus familiares. A carga de doenças estimada no DCP2 confirma que a doença mental contribui bastante para a carga global de doenças. O DCP2 também mostra o que é conhecido sobre intervenções custo-efetivas, enfatizando ao mesmo tempo a necessidade de outras pesquisas para desenvolver formas melhores de tratamento da carga da doença mental. Cerca de 13% de todos os AVAD são devidos a distúrbios neurológicos e psiquiátricos. O mal de Alzheimer e outras demências são responsáveis por 17,1 milhões de AVAD e são duas vezes mais comuns entre mulheres do que entre homens, enquanto a epilepsia é responsável por outros 6,2 milhões de AVAD e o mal de Parkinson por 2,3 milhões de AVAD. A depressão é o distúrbio psiquiátrico mais comum, respondendo por 9 Esta seção se baseia no DCP2, capítulos 31 e 32. 51,9 milhões de AVAD ou 3,4% da carga global de doenças. Está classificada em quarto lugar entre todas as causas de AVAD, sendo a principal condição não-fatal em todo o mundo. E também é mais comum entre mulheres do que entre homens. A esquizofrenia, o distúrbio bipolar e o distúrbio do pânico são responsáveis por outros 11,6 milhões de AVAD, 9,7 milhões de AVAD e 4,5 milhões de AVAD, respectivamente. As condições de saúde mental são comuns nos países em desenvolvimento, mas são menos freqüentemente reconhecidas, diagnosticadas e tratadas do que nos países desenvolvidos. As intervenções disponíveis para a prevenção e o tratamento de problemas mentais nos países em desenvolvimento são relativamente limitadas. Muitas condições neurológicas, como o mal de Alzheimer e a doença de Parkinson, não têm cura e faltam também medidas preventivas. A principal exceção é o derrame cerebral, cujas medidas preventivas já foram analisadas. Para outros problemas mentais, foram feitos diversos avanços tanto em tratamentos farmacológicos como em terapias psicossociais, mas muitas intervenções ainda são dirigidas para atenuar os sintomas ou a reduzir a carga das famílias que cuidam de membros com problemas mentais. Existem alguns tratamentos farmacológicos disponíveis para o mal de Alzheimer e outras demências, mas a maior parte das intervenções para essa doença visa a redução do estresse e da depressão entre os dispensadores de cuidados aos pacientes. Por exemplo, o treinamento dos dispensadores de cuidados sobre a dieta apropriada ou o estabelecimento de rotinas para o funcionamento dos intestinos e da bexiga pode tornar o cuidado de pessoas com Alzheimer menos estressante. Para a doença de Parkinson, os tratamentos são voltados para o alívio sintomático por meio de produtos farmacêuticos, terapia física e medicamentos tradicionais. Para esquizofrenia, depressão e distúrbios bipolar e do pânico, existem vários tratamentos farmacológicos disponíveis, incluindo os antigos estabilizadores de humor como, por exemplo, o lítio; os antipsicóticos como, por exemplo, o haloperidol; e os antidepressivos como os medicamentos tricíclicos, que também são usados para tratamento da ansiedade. Os tratamentos psicossociais, que consistem principalmente em abordagens cognitivas comportamentais, também demonstraram ser eficazes. Embora seja necessário gerar um maior número de intervenções para o tratamento de problemas da saúde mental, a qualidade de vida de um grande número de pessoas nos países de renda média e baixa poderia ser substancialmente melhorada com a aplicação das intervenções que já demonstraram ser custo-efetivas. Para as pessoas de sofrem de epilepsia, a administração de fenobarbital ajuda a evitar crises a um custo de US$ 89 por AVAD evitado. Para a doença de Parkinson, existem duas intervenções razoavelmente custo-efetivas: l-dopa e carbidopa a US$ 1.500 por AVAD “Para esquizofrenia, depressão e distúrbios bipolar e do pânico, existem vários tratamentos farmacológicos disponíveis . . .” “O tratamento do acidente vascular cerebral agudo devido a oclusão vascular usando a aspirina custa apenas US$ 150 por AVAD evitado.” Estratégias custo-efetivas para doenças não transmissíveis, fatores de risco e comportamentos | 125 “Para distúrbios psiquiátricos, a combinação de medicamentos com tratamentos psicossociais geralmente é a intervenção de maior custo-eficácia.” “O tratamento de lesões e doenças não transmissíveis não é algo que os países de renda média e baixa possam deixar para o futuro.” 126 | Prioridades em Saúde| evitado e tratamentos ayurvédicos a US$ 750 por AVAD evitado. O tratamento do acidente vascular cerebral agudo devido a oclusão vascular usando a aspirina custa apenas US$ 150 por AVAD evitado. As intervenções para prevenir a recorrência do derrame são custo-efetivas em parte porque são facilmente dirigidas para uma população conhecida por enfrentar riscos mais altos e custam US$ 70 por AVAD evitado para tratamento com aspirina, US$ 932 por AVAD evitado para dipiridamol e aspirina, e US$ 1.458 por AVAD evitado para endarterectomia da carótida. As variações nos custos de mão-de-obra, transporte e prestação de serviços entre as regiões geram diferenças significativas no custo-eficácia desses tratamentos. Por exemplo, a aspirina é a intervenção com maior custo-eficácia para o AVC agudo no Sul da Ásia e na África Subsaariana, enquanto o tratamento com aspirina e dipiridamol é mais custo-eficiente nas outras regiões em desenvolvimento. Para distúrbios psiquiátricos, a combinação de medicamentos com tratamentos psicossociais geralmente é a intervenção de maior custoeficácia. Por exemplo o tratamento da esquizofrenia com os antigos medicamentos antipsicóticos como o haloperidol, junto com a psicoeducação da família é a intervenção com maior custo-eficácia disponível, variando entre US$ 5.000 e US$ 8.000 por AVAD evitado no Oriente Médio e no Norte da África, no Sul da Ásia e na África Subsaariana, e entre US$ 10.000 e US$ 17.000 por AVAD evitado nas outras regiões. O tratamento da depressão com os novos antidepressivos como a Fluoxetina e psicoterapia em grupo custa entre US$ 2.000 e US$ 3.000 por AVAD evitado em todas as regiões. O tratamento dos distúrbios do pânico com os novos medicamentos antidepressivos como a Fluoxetina custa entre US$ 1.000 e US$ 1.500 por AVAD evitado (tabela 5.2). Para abordar a carga de doenças mentais nos países em desenvolvimento, é necessário fechar a lacuna existente entre o que pode ser feito pelas pessoas com distúrbios neurológicos e psiquiátricos e o que está atualmente sendo feito. O DCP2 identifica as medidas custo-efetivas disponíveis, mas o fechamento dessa lacuna depende principalmente de melhorias gerais nos sistemas de saúde. O tratamento custo-efetivo envolve em grande parte o atendimento ambulatorial, mas depende principalmente da habilidade dos profissionais de saúde do nível básico em reconhecer os sintomas e direcionar os pacientes para o atendimento apropriado. Também é necessária uma melhor administração dos suprimentos de medicamentos para garantir a disponibilidade e a potência das drogas, bem como a orientação dos pacientes e de suas famílias para incentivar a adesão. É preciso haver pesquisas para ampliar a gama de intervenções disponíveis, reduzir o custo das intervenções atuais, desco- Tabela 5.2 Custos e Efeitos de um Pacote Específico de Cuidados da Saúde Mental Região do Banco Mundial África Subsaariana América Latina e Caribe Oriente Médio e Norte África Europa e Ásia Central Sul da Ásia Leste da Ásia e Pacífico Efeito total (AVAD evitados por ano por população de 1 milhão) Esquizofrenia: antipsicóticos antigos mais tratamento psicossocial 254 373 364 353 300 392 Distúrbio bipolar: estabilizadores de mais tratamento psicossocial 312 365 322 413 346 422 Depressão: cuidados proativos com antidepressivos (SSRI; genérico) 1,174 1,953 1,806 1,789 1,937 1,747 245 307 287 307 284 330 1,985 2,998 2,779 2,862 2,867 2,891 Distúrbio do pânico: novo antidepressivo (SSRI; genérico) Efeito total das intervenções Custo total (US$ milhões por ano por população de 1 milhão) Esquizofrenia: antipsicóticos antigos mais tratamento psicossocial 0.47 1.81 1.61 1.32 0.52 0.75 Distúrbio bipolar: estabilizadores de mais tratamento psicossocial 0.48 1.80 1.23 1.39 0.62 0.95 Depressão: cuidados proativos com antidepressivos (SSRI; genérico) 1.80 4.80 3.99 3.56 2.81 2.59 Distúrbio do pânico: novo antidepressivo (SSRI; genérico) 0.15 0.27 0.21 0.23 0.16 0.20 Custo total das intervenções 2.9 8.7 7.0 6.5 4.1 4.5 gasto de US$1 milhão mais tratamento psicossocial 544 206 226 267 574 522 Distúrbio bipolar: estabilizadores de mais tratamento psicossocial 647 203 262 298 560 446 Depressão: cuidados proativos com antidepressivos (SSRI; genérico) 652 407 452 502 690 675 1,588 1,155 1,339 1,350 1,765 1,649 Custo-eficácia (AVAD evitados por Distúrbio do pânico: novo antidepressivo (SSRI; genérico) Fonte: DCP2, capítulo 31, p. 622.. Nota: SSRI ~ inibidor seletivo de reabsorção de serotonina. brir tratamentos mais custo-efetivas e, se possível, encontrar maneiras de prevenir ou curar essas condições debilitantes. Estratégias custo-efetivas para doenças não transmissíveis, fatores de risco e comportamentos | 127 CONCLUSÃO O tratamento de lesões e doenças não transmissíveis não é algo que os países de renda média e baixa possam deixar para o futuro. Essas condições já são responsáveis por uma parcela substancial da carga de doenças na maioria dos países e provavelmente ainda vão aumentar à medida que esses países façam progressos no controle das doenças infecciosas e na redução das altas taxas de mortalidade e morbidade associadas com o parto e a infância. A prevenção, geralmente por meio de políticas públicas multissetoriais, é primordial, quer envolva iniciativas educacionais para promover estilos de vida mais saudáveis, regulamentações de produtos alimentícios que desencorajem o uso de gorduras e óleos não-saudáveis pelos produtores de alimentos, políticas que incentivem o uso de bicicletas e dos capacetes, políticas fiscais para tributação do fumo e de produtos alcoólicos ou atividades culturais para redução do estigma social ligado às deficiências de desenvolvimento. Para a carga restante, existem muitas intervenções custo-efetivas disponíveis que deveriam ser promovidas. Caso não existam tratamentos disponíveis, ou se não forem custo-efetivos, é necessário haver pesquisas. A prevenção, os cuidados e o tratamento, e a pesquisa são todos atividades que são facilitadas pela presença de um sistema de saúde forte e que funcione. Se os países puderem melhorar seus sistemas de saúde para aumentar a cobertura de intervenções que reduzam as doenças infecciosas e as condições maternas e neonatais, a construção de recursos adicionais voltados para as demandas que as doenças não transmissíveis vão impor será possível. Os dois capítulos a seguir abordam a gama de políticas disponíveis para a construção e o fortalecimento de sistemas de saúde de modo que eles possam enfrentar esses desafios. 128 | Prioridades em Saúde| Capítulo 6 Fornecimento de intervenções Não importa o quanto sejam pesquisadas e elaboradas, as intervenções são inúteis sem mecanismos de fornecimento. Os mecanismos de fornecimento são fundamentais para a eficácia e o custo de qualquer intervenção. Elas variam consideravelmente de um país para outro dependendo de amplos fatores como a economia, a política e a cultura de um país, mas também dependem de um sistema de saúde que funcione apropriadamente. Embora às vezes seja possível realizar intervenções isoladas na saúde pública, de modo geral, as intervenções na área da saúde formam uma rede de serviços que funciona melhor quando elas são coordenadas. Uma triagem não oferece benefícios se não houver um tratamento posterior, referências são inúteis se não houver acesso à assistência de saúde básica, e os centros de tratamento serão sobrecarregados se o atendimento preventivo essencial for negligenciado. Em um mundo estático, quaisquer decisões sobre a estrutura do sistema de saúde envolveria uma análise dos prós e contras entre especialização e integração, entre atendimento em um nível versus atendimento em outro nível. Contudo, o mundo é dinâmico e a chave para o progresso é pensar no desenvolvimento do sistema de saúde como um processo gradual, começando pelo uso de instituições, recursos e pessoal atualmente disponível para estabelecer uma plataforma de prestação de serviços de saúde que com o tempo complete, expanda e amplie a rede de serviços e intervenções oferecidas. Este capítulo aborda o desafio da implementação e o fornecimento de intervenções na área da saúde. Descreve e avalia abordagens para a prestação de serviços de saúde em diferentes níveis e, em seguida, destaca alguns elementos do sistema de saúde que precisam funcionar em todos esses níveis. Também discute formas de integrar serviço de saúde para pessoas em diferentes partes do ciclo de vida. 129 “Os programas comunitários podem reduzir os custos e as barreiras que impedem o acesso das pessoas aos serviços.” NÍVEIS DE ATENDIMENTO As intervenções na saúde precisam alcançar pessoas em suas casas, escolas e locais de trabalho ou encorajando-as a visitar as unidades de saúde. Os programas comunitários podem reduzir os custos e as barreiras que impedem o acesso das pessoas aos serviços, enquanto o cuidado básico geral pode atuar como uma interface entre os programas de saúde comunitários e o atendimento clínico individual, seja ambulatorial ou internamento. É importante que existam hospitais municipais e de referência para fornecer um atendimento mais especializado ou mais caro visando reforçar os serviços de cuidados básicos e comunitários com intervenções que são necessárias quando esses níveis não podem dispor de equipamento ou pessoal especializado. Nível comunitário. Muitos países tentaram criar vínculos entre os recursos para serviços de saúde comunitários e as famílias para uma série de programas de saúde.1 Esses programas não substituem um sistema de saúde, mas fornecem um canal que proporciona informações e recursos às famílias. Eles também mobilizam recursos adicionais, como o tempo de voluntários, o conhecimento local e a confiança da comunidade. Os programas comunitários podem incluir uma série de intervenções, mas geralmente focam serviços relacionados à maternidade segura, nutrição e prevenção e tratamentos simples. Normalmente incluem os seguintes serviços: “Os programas comunitários . . . geralmente focam . . . a maternidade segura, nutrição e prevenção e tratamentos simples.” 130 | Prioridades em Saúde| • • • • • • • • • • cuidado pré-natal saúde reprodutiva e nutrição maternal amamentação alimentação complementar monitoramento e promoção do crescimento suplementação de micronutrientes alimentação complementar com suprimentos externos ou locais terapia de reidratação oral (TRO) imunização desparatização Essas intervenções reduzem coletivamente fatores de risco como a desnutrição que respondem por até 40% da carga de doenças dos países de renda baixa e média. 1 Esta seção é baseada no DCP2, capítulo 56 Os programas comunitários são organizados de várias formas, especialmente com respeito ao status e ao número de trabalhadores comunitários. Em uma extremidade do espectro estão os programas comunitários que dependem muito dos recursos locais e do tempo de voluntários. Por exemplo, a Tailândia recrutou e treinou 60.000 voluntários que eram responsáveis pela mobilização e supervisão de 600.000 comunicadores de saúde da vila, que, por sua vez, visitaram uma média de 20 crianças cada um (box 6.1). Na outra extremidade do espectro, alguns países recrutam trabalhadores de comunidades direcionadas, mas depois contratam e supervisionam esses trabalhadores como parte da força de trabalho da saúde pública. Na Costa Rica, por exemplo, os trabalhadores da saúde eram funcionários em tempo integral, recrutados e gerenciados pelo programa de saúde rural do governo. A Costa Rica contratou dois trabalhadores da saúde em tempo integral para cada 350 crianças. O DCP2 avalia a evidência e conclui que a relação efetiva de trabalhadores da saúde para crianças fica na faixa de 1 para 500 para trabalhadores da comunidade remunerados em tempo integral, e 1 para 10 ou 20 para voluntários locais em tempo parcial. Além de desenvolver estratégias de pessoal, os programas comunitários devem decidir se incluem suplementação alimentar voltada à desnutrição. A suplementação alimentar pode ajudar um programa de saúde comunitário a atingir suas metas quando integrada com outros serviços ou pode se tornar o principal foco do programa para a exclusão de outros serviços de saúde. Em algumas comunidades, a suplementação alimentar é parte de um programa mais amplo que também direciona suplementos de micronutrientes, educação pré-escolar, monitoramento do crescimento e, às vezes, melhorias nos suprimentos alimentares locais. Na outra extremidade, o componente de distribuição alimentar tem dominado os programas comunitários, como ocorreu com o Programa de Serviços Integrados para o Desenvolvimento Infantil na Índia (Integrated Child Development Services Program). Os programas comunitários também precisam encontrar um equilíbrio entre as atividades de promoção de saúde e o atendimento curativo. Quando as instalações básicas forem distantes ou precariamente supridas, os trabalhadores comunitários podem ser pressionados a fornecer atendimento curativo direto, desviando-os de outras atividades de promoção da saúde. Quando isso acontece, os sistemas comunitários podem ser cooptados e “medicalizados” com o acréscimo de módulos de diagnósticos e de tratamento. Embora esses acréscimos possam conseguir dar às pessoas acesso aos serviços que de outro modo não seriam fornecidos, eles também desviam os programas comunitários do objetivo inicial da promoção geral da saúde. Os agentes comunitários de saúde não apenas . . . a relação efetiva de trabalhadores da saúde para crianças fica na faixa de 1 para 500 para trabalhadores da comunidade remunerados em tempo integral, e 1 para 10 ou 20 para voluntários locais em tempo parcial.” “Os agentes comunitários de saúde não apenas promovem comportamentos saudáveis e ações preventivas, mas podem mobilizar uma demanda de serviços apropriados em outros níveis.” Fornecimento de intervenções: | 131 Box 6.1 Programas de saúde comunitária em três países O efeito potencial dos programas comunitários pode ser observado na predominância de crianças de 2 anos que estão abaixo do peso normal na Indonésia, Filipinas e Tailândia. Dos três países, a Tailândia tem sido o mais bem-sucedido na implementação de um programa de saúde comunitária. O Ministro da Saúde da Tailândia gastou aproximadamente US$11 por beneficiário por ano mobilizando uma rede de supervisores voluntários e agentes comunitários voluntários que incluía cerca de 1% da população. Embora a proporção de crianças abaixo do peso ideal seja influenciada por uma variedade de fatores sociais e individuais, a rápida redução na parcela de crianças abaixo do peso ideal na Tailândia que coincidiu com a introdução desse programa comunitário mostra que ele contribuiu para esse resultado. Em contrapartida, o National Village Program (programa aldeia nacional) da Indonésia gastou um pouco menos (cerca de US$2 a US$11 por criança por ano) e dependia enormemente de suplementos alimentares. Teve certo impacto, mas foi mais lento e menos consistente. Finalmente, as Filipinas iniciaram um programa nacional que não foi completamente implementado, gastando somente US$0.40 por criança por ano em áreas direcionadas. A predominância de crianças abaixo do peso ideal teve pouca redução durante esse período. Unidade ambulatoria Verificar sinais de risco • Convulsões • Letargia ou inconsciência • Inabilidade para beber ou Avaliar principais sintoma • Tosse ou dificuldade para re • Diarréia • Febre • Problemas auditivos Avaliar condições de nutr e imunidade e problema potenciais de alimentaç Verificar se há outros Classificar condições e iden ações de tratamentos de ac promovem comportamentos saudáveis e ações preventivas, mas podem mobilizar uma demanda de serviços apropriados em outros níveis. Finalmente, os programas comunitários devem buscar manter um equilíbrio entre cobertura extensiva e supervisão adequada. Um programa que supervisiona milhares de voluntários necessita de centenas de supervisores. A DCP2 acredita que a relação de supervisão em programas 132 | Prioridades em Saúde| efetivos é de aproximadamente 1 supervisor para cada 20 agentes comunitários de saúde. Se essa responsabilidade de supervisão for empregada nas principais unidades de tratamento, isso pode vir a se tornar uma carga excessiva. Se isso for bem gerenciado, contudo, pode ser a diferença entre programas eficazes e ineficazes. Programas de saúde efetivos baseiam-se em práticas comunitárias estabelecidas. Por essa razão, na Tailândia, os serviços de saúde são combinados com organizações religiosas no âmbito das aldeias. Na Indonésia, as organizações sociais tiveram um importante papel. Em Bangladesh, as ONGs que foram bem-sucedidas em outras áreas, como segurança alimentar e educação, tornaram-se ativas em saúde. Em Costa Rica, Honduras e Jamaica, os serviços nacionais de saúde já tiveram uma presença local suficiente para iniciar programas de saúde comunitários. A organização no âmbito local pode realizar um bom negócio, mas somente com a orientação e os recursos adequados de outros âmbitos centrais. Treinamento, supervisão e suprimentos devem ser sustentados para que tenham um efeito duradouro. Geralmente, isso significa vincular agentes comunitários de saúde às unidades básicas de tratamento. Assim, o sucesso das atividades de saúde comunitária depende fundamentalmente do contexto, incluindo o nível de desenvolvimento da infraestrutura, dos serviços e dos recursos socioeconômicos. Por exemplo, na Indonésia, o ponto fraco do sistema básico de saúde incentivou os programas comunitários a mudar no sentido de fornecer serviços clínicos individuais. Na Costa Rica, em contrapartida, os programas de saúde comunitários podiam focar a prevenção e a promoção da saúde como um complemento para um sistema básico de saúde mais sólido. Atendimento Básico Geral O termo atendimento básico denota vários aspectos diferentes, embora relacionados, dos sistemas de saúde.2 Em alguns contextos, está relacionado a determinadas atividades, como imunização e cuidado pré-natal. Em outros, denota um nível de atendimento com relativamente poucas exigências técnicas e de mão-de-obra qualificada. Em alguns países, é uma estratégia de estruturação e gerenciamento do serviço de saúde. Em outros, é uma perspectiva ou uma filosofia. O conceito amplo de atendimento básico inclui uma série de iniciativas que estão associadas à Declaração de Alma-Ata sobre Cuidados Básicos de Saúde aprovada pela OMS em 1978. Mais recentemente, a Comissão da OMS sobre Macroeconomia e Saúde descreveu a necessidade de desenvolver serviços que sejam prestados próximos ao cliente. Apesar das variações no uso 2 “Programas de saúde efetivos baseiam-se em práticas comunitárias estabelecidas.” . . o atendimento básico . . .deve atuar como uma interface entre famílias e programas comunitários em uma extremidade, e hospitais e políticas nacionais de saúde na outra.” Esta seção é baseada no DCP2, capítulo 64. Fornecimento de intervenções: | 133 específico do termo atendimento básico, a noção geral é uma só: o reconhecimento de que determinados serviços de saúde devem atuar como uma interface entre famílias e programas comunitários em uma extremidade, e hospitais e políticas nacionais de saúde na outra. Desde 1978, a Declaração de Alma-Ata, a OMS, o Banco Mundial e países específicos aprimoraram e criaram pacotes alternativos de serviços sob o conceito abrangente de atendimento básico geral. O DCP2 observa uma convergência substancial no conteúdo do atendimento básico geral Tabela 6.1 Pacote de intervenções custo-efetivas (US$ ) Custo por AVAD Intervenções Saúde pública Programa ampliado de imunização mais (ou seja, incluindo vacina contra hepatite B e suplementação de vitamina A) Programa de saúde escolar Programa de controle do tabagismo e do consumo abusivo de álcool Programa de prevenção da AIDS Outras intervenções em saúde pública (inclui informação, comunicação, e educação sobre fatores de risco selecionados e comportamentos saudáveis, mais controle de vetor e vigilância de doenças) Total Países de baixa renda Países de renda média 15–22 32–38 25–32 44–70 4–6a — 48–54 57–70 16–23a — 18 Serviços clínicos Quimioterapia contra tuberculose 4–6 Gestão integrada da criança doente 38–63 Planejamento familiar 25–38 Tratamento da doença sexualmente transmissível 1–4 Pré-natal e atendimento médico 38–63 Atendimento limitado (inclui tratamento 253–380 de infecção) Trauma menor; para condição mais complicada; inclui diagnóstico, aconselhamento e alívio da dor, além de tratamento conforme recursos) b Total — 6–9 63–127 127–190 13–19 76–139 507–760 168 Fonte: DCP2, capítulo 64, tabela 64.2. a. Não reflete o custo-eficácia porque a análise examinou a probabilidade de transmissão da doença somente no primeiro ano. 134 | Prioridades em Saúde| no decorrer do tempo: cuidado relacionado à maternidade (por exemplo, cuidado pré-natal, atendimento qualificado durante o parto e planejamento familiar), intervenções para tratar doenças infantis (como doenças evitáveis por vacinação, infecções respiratórias agudas, diarréia e desnutrição), e prevenção e tratamento das principais doenças infecciosas. A lista é conhecida de vários estudos de pacotes custo-efetivos e prioridades para a carga global de doenças (tabela 6.1). Contudo, as unidades locais de saúde equipadas exclusivamente para executar esses tipos de funções podem não atender à demanda local de outros tipos de tratamento curativo ou deixar de lado, de um modo geral, importantes ameaças à saúde local. Conseqüentemente, os peritos em saúde pública destacam a importância de se ter uma equipe local de gerenciamento para planejar os serviços de atendimento e suporte local para uma população definida, de 10.000 a 50.000 pessoas. Com uma equipe de gerenciamento local responsável por uma população específica, essa equipe pode estabelecer prioridades e monitorar os progressos, assim como garantir um bom ajuste entre prioridades nacionais e demandas locais para promoção e tratamento da saúde. Na prática, é difícil realizar esse tipo de atividade local planejada nos países de renda média e baixa por diversos motivos: “. . . o atendimento básico geral pode atender potencialmente até 90% da demanda de assistência de saúde nos países em desenvolvimento.” • As unidades de atendimento básico geralmente não dispõem de recursos necessários para funcionar. • Não há pessoal para ocupar determinados cargos ou há um índice alto de ausência ao trabalho. • Os suprimentos costumam estar em falta ou vencidos. • As unidades de saúde costumam ser mal conservadas. • As pessoas costumam buscar atendimento básico em farmácias, curandeiros e médicos particulares e não apenas na rede pública. Essa fragmentação dificulta o gerenciamento de uma vigilância e planejamento adequados. Com o uso efetivo de recursos humanos, financeiros e institucionais adequados, o atendimento básico geral pode atender potencialmente até 90% da demanda de assistência de saúde nos países em desenvolvimento. O efeito direto do atendimento básico geral está bem documentado. Por exemplo, as reduções locais de 5 a 32% na mortalidade entre crianças na Libéria, Nigéria e República Democrática do Congo são atribuídas ao fornecimento de atendimento básico geral nesses locais. Um sistema de atendimento básico geral também se integra ao sucesso de um sistema de saúde global, porque atua como uma ponte entre o atendimento local e o atendimento em outros âmbitos, como o de hospitais municipais e de referência. Fornecimento de intervenções: | 135 Hospitais municipais “Com muita freqüência, os hospitais municipais . . . não são acessíveis aos pobres ou aqueles dispersados em áreas rurais.” Na maioria dos países, os hospitais municipais ou distritais são responsáveis pela maior parcela de serviços de internação.3 Eles são geralmente designados para servir de 100.000 até cerca de 1 milhão de pessoas com serviços mais sofisticados, tecnicamente mais exigentes e especializados do que aqueles disponíveis em uma unidade de atendimento básico, mas não tão especializados quanto aqueles fornecidos por hospitais de referência. A série de serviços que os hospitais municipais oferecem inclui diagnóstico, tratamento, atendimento, aconselhamento e reabilitação. As exigências técnicas desses serviços requerem profissionais com treinamento e experiência abrangendo os campos de medicina familiar e assistência de saúde básica, obstetrícia, doença mental, saúde ocular, serviços de reabilitação, cirurgia, pediatria e geriatria. Eles requerem um investimento substancial de capital em unidades, equipamento e gerenciamento. Os hospitais municipais também podem fornecer informações sobre saúde, treinamento e suporte administrativo e logístico para programas de assistência de saúde básica e comunitária. Quando uma área do setor de serviços de um hospital municipal coincide com uma unidade administrativa governamental, ela pode ser responsável por outras funções de saúde pública em todo o município ou distrito. O ponto forte de um hospital municipal é que ele concentra habilidades e recursos em um só local para condições que são incomuns ou difíceis de tratar. É também um repositório de conhecimento e ferramentas de diagnóstico para avaliar se um caso deve ser referido para uma unidade ainda mais especializada. Um hospital municipal só pode colocar em prática esses pontos fortes se estiver apropriadamente integrado a outros níveis de assistência que também estejam funcionando bem. Se as unidades de atendimento básico não estiverem atendendo às necessidades locais, por exemplo, as pessoas irão desconsiderá-las e passarão a lotar os hospitais a procura de serviços que poderiam ter sido prestados de forma mais eficaz em outros lugares. As unidades de atendimento básico também devem selecionar pacientes para identificar aqueles que realmente necessitam de cuidado hospitalar. Oportunidade e transporte adequados são essenciais, uma vez que nenhuma seleção ou referência fará diferença para um paciente que mora em uma aldeia distante. Ao mesmo tempo, a concentração de recursos de hospitais municipais dão origem ao seu ponto fraco potencial. Com muita freqüência, os hospitais municipais beneficiam aqueles que moram nas proximidades e não são acessíveis aos pobres ou aqueles dispersados em áreas rurais. Os hos3 136 | Prioridades em Saúde| Esta seção é baseada no DCP2, capítulo 65. pitais municipais podem atender populações de forma mais igualitária quando a concentração de recursos é acessível a todos, ou seja, quando as barreiras criadas pela pobreza, qualidade de serviço baixa, transporte caro ou geografia remota são eliminadas. Os custos do atendimento em hospitais municipais são suscetíveis aos salários pagos ao pessoal, às taxas de utilização, e à inclusão de funções adicionais da saúde. Os salários do pessoal em geral correspondem a maior parte dos custos recorrentes dos hospitais, mesmo quando os salários são baixos. Quando as taxas de utilização são altas, o custo fixo médio por paciente-dia será menor. Em alguns lugares, as taxas de utilização do hospital são inferiores a 50% e a capacidade não utilizada representa uma perda econômica substancial para o sistema de saúde. Em outros casos, os hospitais são excessivamente usados, e embora isso reduza os custos médios, leva a uma desvalorização mais rápida das unidades. Funções adicionais também dão origem a custos hospitalares. Essas funções incluem o treinamento de novos profissionais da saúde e o fornecimento de educação contínua para eles; supervisão, suporte ou gestão de serviços primários; e planejamento e implementação de campanhas de saúde pública em todo o município. Os estudos de custo indicam a faixa potencial de custos hospitalares nos países de renda média e baixa. Um hospital da Tanzânia gastou aproximadamente US$4 por paciente-dia, mas o estudo argumentou que estava subfinanciado e que seria necessário um pouco mais de US$12 por paciente-dia para fornecer atendimento de acordo com os próprios padrões do fornecedor. Os pesquisadores estimaram que o atendimento de paciente internado no Quênia custa cerca de US$9 por paciente-dia e em Bangladesh custou cerca de US$16 por paciente-dia. Os custos dos hospitais sul-africanos em cinco municípios variaram de US$40 a US$97 por paciente-dia. O DCP2 inclui um exercício para estimar o custo-eficácia do atendimento hospitalar municipal. Apesar da reconhecida imprecisão do exercício, ele dá um sentido da possível ordem de magnitude. Usando os dados de um estudo sobre um hospital municipal de uma comunidade rural do Quênia, cujo acesso ao atendimento médico é razoavelmente bom, verificou-se que o hospital atendeu 2.223 crianças, gastou cerca de US$10 por paciente, e salvou cerca de 215 vidas a um custo médio por vida salva de US$104, significando um custo por AVAD evitado de somente cerca de US$4 a US$5. As estratégias para melhorar o atendimento hospitalar variam. Em muitos países, os hospitais municipais foram transferidos para governos locais como parte de uma descentralização dos serviços públicos. Em outros países, os hospitais têm mais controle da tomada de decisões, ou “. . . um hospital municipal de uma comunidade rural do Quênia . . . atendeu 2.223 crianças, gastou cerca de US$10 por paciente, e salvou cerca de 215 vidas a um custo médio por vida salva de US$104 . . .” . . . nas antigas repúblicas soviéticas e na China, os hospitais públicos se tornaram tão dependentes de taxas pagas pelos pacientes que passaram a funcionar efetivamente como instituições privadas.” Fornecimento de intervenções: | 137 “Para realizar todos os benefícios dos vínculos entre os níveis de atendimento, os hospitais de referência precisam fornecer muitas formas de suporte...” mesmo autonomia financeira. Em partes da Ásia Central e Leste Asiático, especialmente nas antigas repúblicas soviéticas e na China, os hospitais públicos se tornaram tão dependentes de taxas pagas pelos pacientes que passaram a funcionar efetivamente como instituições privadas. A maioria dos hospitais públicos recebe orçamentos de acordo com a quantidade de funcionários e o tamanho da unidade, mas as reformas realizadas em alguns locais instituíram o reembolso baseado no número e na complexidade dos serviços prestados, com resultados mistos. Em outros lugares, os esforços foram concentrados na melhoria da qualidade do atendimento hospitalar. Uma meta é reduzir as doenças adquiridas no hospital, um problema grave nos países de poucos recursos da África Subsaariana, onde transfusões de sangue e reutilização de agulhas pode transmitir HIV, hepatite e outras infecções. Aumentar a segurança do sangue custaria menos de US$8 por AVAD evitado. Os hospitais municipais estão sujeitos a várias pressões que afetam o bom desempenho de seu papel. Algumas dessas pressões forçam os hospitais municipais a intervir como se fossem centros básicos, enquanto outras forçam os hospitais a funcionar como centros administrativos da saúde pública. A mistura apropriada resultará no equilíbrio dos investimentos em hospitais municipais com investimentos em outros níveis de atendimento. Hospitais de referência O próximo nível de atendimento é o hospital de referência, que fornece atendimento clínico complexo a pacientes encaminhados de níveis comunitários, básicos ou municipais.4 Os hospitais de referência ligam explicitamente os diferentes níveis de atendimento médico em ambas as direções. As unidades comunitárias, básicas ou municipais encaminham os pacientes para serem atendidos em um hospital especializado. O hospital de referência, por sua vez, fornece suporte e informações para ajudar os outros níveis e encaminha pacientes para esses outros níveis quando apropriado. Para realizar todos os benefícios dos vínculos entre os níveis de atendimento, os hospitais de referência precisam fornecer muitas formas de suporte, incluindo aconselhamento sobre quais pacientes encaminhar, atendimento pós-alta adequado, e gerenciamento de longo-prazo de condições crônicas. Também é necessário haver um treinamento coordenado no uso de protocolos compartilhados, visto que o suporte tecnológico é dado por técnicos e cientistas qualificados. Os hospitais de referência também podem fornecer um importante suporte gerencial e administrativo para outras unidades, funcionando 4 138 | Prioridades em Saúde| Esta seção é baseada no DCP2, capítulo 66. como portas de entrada para suprimentos farmacêuticos e medicinais, serviços de análise laboratorial, abastecimento geral, coleta de dados dos sistemas de informações de saúde, e vigilância epidemiológica. Às vezes, eles assumem o papel de gerenciar o transporte de suprimentos médicos e de pessoal, ou até mesmo o gerenciamento financeiro, da folha de pagamento e de recursos humanos das unidades de nível inferior. Outras funções importante dos hospitais de referência são a pesquisa e o treinamento. Nos países industriais, os hospitais de referência costumam desenvolver novas tecnologias, mas nos países em desenvolvimento o mais provável é que estejam envolvidos em pesquisa para testar e introduzir tecnologias que foram desenvolvidas em outros lugares, ou seja, para avaliar se essas tecnologias são eficazes e adaptáveis em um novo contexto. Os hospitais de referência se tornam o veículo de divulgação dessas tecnologias ao treinar novos profissionais e fornecer educação profissional contínua para o pessoal já existente em diferentes unidades. As pesquisas sensíveis às cargas locais de doenças e às restrições tecnológicas locais preenchem uma importante lacuna, uma vez os países industriais e as empresas farmacêuticas geralmente não realizam pesquisas quando não está previsto um bom retorno de seus investimentos. As atividades envolvendo pesquisas também ajudam a atrair e manter os especialistas necessários para tratar de casos complexos e a treinar novos especialistas. Como nos hospitais municipais, os hospitais de referência nos países de renda baixa e média freqüentemente acabam por oferecer um conjunto completo de serviços, dos mais especializados ao tratamento ambulatorial básico. A demanda das pessoas por resultados no atendimento básico ocorre porque as unidades de nível inferior são mal equipadas ou não dispõem de pessoal qualificado. Os custos e benefícios dos hospitais de referência correspondem ao conjunto de serviços fornecidos, aos salários do pessoal e às taxas de utilização. De modo geral, eles tendem a ser mais caros do que os hospitais municipais porque tratam de casos mais complexos, têm mais insumos caros, e também estão envolvidos com treinamento e pesquisa. Os estudos indicam que os hospitais de referência podem ser de duas a cinco vezes mais caros por leito-dia do que os hospitais municipais. Os hospitais de referência tendem a ser localizados em grandes áreas urbanas, exacerbando o acesso desigual ao atendimento especializado para cidadãos geralmente mais pobres da área rural. Como os hospitais de referência são, por definição, especializados, não é viável corrigir essas desigualdades construindo outras unidades. Em vez disso, o acesso igualitário aos serviços dos hospitais de referência requer a melhoria de outros níveis de atendimento e a redução dos custos com transporte e de outras barreiras financeiras aos pobres. Fornecimento de intervenções: | 139 “. . . 12% da carga mundial de doenças estão associados às condições de saúde que poderiam se beneficiar com a cirurgia.” As funções e os investimentos atribuídos aos hospitais de referência precisam ser mais equilibrados e coordenados com as funções e os investimentos atribuídos aos hospitais municipais, unidades básicas de saúde e agentes comunitários de saúde. Assim como os hospitais de referência não podem funcionar eficazmente se não puderem contar com outras unidades de saúde, as unidades básicas, hospitalares, comunitárias e municipais não podem funcionar com eficácia se essas unidades não estiverem aptas a encaminhar os casos complexos para os hospitais especializados. O atendimento de nível básico obviamente requer reforços, mas é provável que isso se deva antes ao financiamento inadequado de todo o sistema de saúde pública do que a uma excessiva atribuição aos hospitais de referência. INSUMOS E SERVIÇOS INTER-RELACIONADOS Mesmo que os diferentes níveis de sistema de saúde estejam associados a diferentes tipos de serviços, todos os níveis precisam estar aptos a prestar serviços comuns. O DCP2 analisa sobre vários serviços inter-relacionados e os problemas relativos, três dos quais são discutidos aqui. Cirurgia “. . . cirurgias realizadas em uma clínica comunitária hipotética que atende a uma população de 20 mil pessoas. . . . custariam cerca de US$150 a US$350 por AVAD evitado.” 140 | Prioridades em Saúde| A cirurgia tem sido freqüentemente associada à intervenções de tecnologia intensiva que podem ser extremamente caras.5 Além disso, a cirurgia não é específica de uma determinada doença ou fator de risco, nem é exclusiva de um determinado nível de atendimento médico. Conseqüentemente, seu potencial de saúde pública costuma ser negligenciado pelos formuladores de política de saúde. O DCP2 dá atenção renovada à cirurgia como um serviço de cuidado de saúde custo-efetivo para várias condições comuns. O DCP2 estima que cerca de 12% da carga mundial de doenças estão associados às condições de saúde que poderiam se beneficiar com a cirurgia. Essas condições causam perdas de 21 AVAD por cada 1.000 pessoas nas Américas e 38 AVAD por cada 1.000 pessoas na África. As lesões respondem por cerca de 38% dessas condições cirúrgicas, seguidas pelas anomalias malignas e congênitas. Condições cirurgicamente tratáveis caem em quatro categorias gerais: • cuidado cirúrgico para evitar morte ou disfunção entre sobreviventes de lesões 5 Esta seção é baseada no DCP2, capítulo 67. Box 6.2 Tratamento de catarata na Índia O tratamento de catarata é um dos casos mais bem documentados de intervenções cirúrgicas fornecidas para a população. A Índia tem usado campos móveis para fornecer cirurgia de catarata mais barata e mais efetiva em áreas rurais. O número de cirurgias mais do que dobrou, de 1,2 milhões em 1991–92 para 2,7 milhões em 1996–97. O custo foi de cerca de US$97 por paciente em campos, comparados aos US$176 em hospitais universitários e US$54 em hospitais não-governamentais. Por menos de US$25 por AVAD, a cirurgia de catarata na Índia é altamente custo-efetiva. Source: Adaptado do DCP2, capítulo 67. • complicações obstetrícias • tratamento de condições abdominais emergentes e com ameaça à saúde • cuidado eletivo de condições simples, incluindo hérnias, pés tortos e cataratas. O DCP2 define cirurgia como serviços envolvendo suturas, incisões, excisões, manipulação e outros procedimentos invasivos que requerem anestesia local, regional ou geral. A definição foca explicitamente os procedimentos e não as pessoas que realizam a cirurgia ou a unidade na qual ela é realizada. Desse modo, é possível reconhecer que vários tipos diferentes de profissionais da saúde podem realizar cirurgias se forem corretamente treinados e que essas cirurgias podem ser feitas em diversos locais se forem apropriadamente equipados. Para condições como cataratas ou tracoma, a cirurgia pode ser conduzida via campanhas nas quais um quadro de funcionários é treinado para selecionar, identificar e executar simples procedimentos usando unidades móveis (box 6.2). A cirurgia simples também pode ser fornecida no nível básico para lesões, complicações obstetrícias ou anomalias congênitas. Os hospitais municipais e os hospitais de referência podem ser configurados para realizar procedimentos cirúrgicos mais complexos. O DCP2 avalia o custo-eficácia de cirurgias realizadas em uma clínica comunitária hipotética que atende a uma população de 20 mil pessoas. Essa unidade de saúde trataria de aproximadamente 4.000 casos cirúrgicos ao ano e teria em sua equipe uma enfermeira, uma parteira qualificada e um assistente hospitalar. Os procedimentos incluiriam o tratamento de cortes e contusões simples, remoção de materiais estranhos do corpo, drenagem de abscessos, tratamento de queimaduras simples, auxílio de partos normais, e tratamento de traumas simples. Esses serviços custariam cerca de US$150 a US$350 por AVAD evitado. Cirurgias mais complicadas, incluindo cirurgia abdominal e torácica, lesões na cabeça, complicações obstetrícias e tratamento de queimadura, seriam tratados por hospitais municipais a “…a cirurgia pode ser um elemento importante e custo-eficiente de um sistema de saúde funcional e de uma política de saúde pública.” Fornecimento de intervenções: | 141 “. . . a carga de doenças que é relevante para os serviços médicos de emergência . . . é responsábel por 36% dos AVADs.” um custo estimado de US$40 por AVAD evitado na Ásia do Sul e na África Subsaariana, de US$70 por AVAD evitado no Leste Asiático e aproximadamente US$100 por AVAD evitado nas demais regiões. O custo por AVAD evitado de serviços cirúrgicos nos hospitais municipais é inferior ao custo nas unidades básicas de saúde devido às economias de escala. Os custos fixos das cirurgias praticadas em hospitais municipais são mais altos, mas o hospital pode ser configurado para lidar com um número desproporcionalmente maior de cirurgias. Para que essas economias possam ser postas em prática será necessário estabelecer taxas de utilização apropriadas. A cirurgia pode ser claramente um componente significante de qualquer estratégia de saúde pública. A cirurgia pode evitar a morte e a deficiência crônica em pacientes com lesões, se for realizada a tempo e de forma correta; pode reduzir o risco de mortalidade e deficiência em partos complicados, hemorragia pré-parto e pós-parto, e outras complicações obstetrícias; pode resolver uma ampla gama de condições de emergência; e pode ter um impacto substancial na qualidade de vida por meio de cirurgia eletiva para condições como cataratas, infecções no ouvido, pés tortos, hérnias e hidrocefalia. Se a unidade correta estiver apropriadamente equipada e munida de pessoal qualificado, a cirurgia pode ser um elemento importante e custo-efetivo de um sistema de saúde funcional e de uma política de saúde pública. Serviços médicos de emergência “. . . o atendimento de emergência requer que sejam feitos investimentos em unidades que possam tratar pacientes após eles terem sido estabilizados.” 142 | Prioridades em Saúde| Como a cirurgia, os serviços médicos de emergência representam um conjunto de intervenções que não são exclusivos de qualquer condição médica específica ou nível de atendimento médico.6 A característica definitiva é que os resultados dependem extremamente do tempo. Os serviços médicos de emergência destinam-se a condições médicas súbitas que requerem intervenção imediata para evitar morte ou deficiência. Embora os serviços de emergência geralmente correspondam a ambulâncias, pronto-socorros, tecnologia avançada e altos custos, na prática, os serviços médicos de emergência não são focados exclusivamente em transporte rápido e procedimentos invasivos. Em vez disso, um bom atendimento de emergência quase sempre pode ser realizado por meio de planejamento aprimorado, treinamento apropriado dos primeiros socorristas, comunicação efetiva, e métodos inovadores de transporte. As emergências resultam normalmente de lesões súbitas, complicações obstétricas, e infecções, assim como da negligência de condições brandas 6 Esta seção é baseada no DCP2, capítulo 68. e crônicas. Assim, a carga de doenças que é relevante para os serviços médicos de emergência se sobrepõem consideravelmente às condições que já foram discutidas nos capítulos anteriores, como as condições maternas e as lesões de acidentes de carro. No total, essas condições respondem por 36% da carga de doenças quando medidas em AVAD. Cerca de um terço desses AVAD se deve a lesões; um outro terço está relacionado à doenças crônicas como diabetes, DCV e asma; e o último terço está associado a doenças contagiosas e condições maternas. Os serviços médicos de emergência compreendem um atendimento contínuo desde o primeiro contacto com os pacientes até que suas condições estejam estabilizadas. Isso inclui fazer uma avaliação rápida para determinar quais intervenções são mais apropriadas, providenciar transporte imediato para a unidade mais apropriada ao tratamento do problema, e fornecer rápido atendimento de emergência. Após a chegada do paciente a uma unidade, os serviços de atendimento de emergência continuam até que a condição do paciente tenha se estabilizado. O caráter dos serviços médicos de emergência varia consideravelmente entre países e regiões. Em muitos países rurais de baixa renda, curandeiros tradicionais como os quiropatas podem fornecer primeiros socorros, e o transporte pode ser feito por canoa ou carroça puxada por animais. Em cidades de renda alta, em contrapartida, geralmente o serviço é caracterizado pela chegada de paramédicos em uma ambulância. O importante é não tentar equiparar tecnologias ideiais, mas melhorar a organização e o planejamento do atendimento de emergência, que pode ser feito a um custo razoável e melhoraria a utilização de recursos, o atendimento recebido e os resultados. O DCP2 destaca uma série de problemas que impedem que países de renda média e baixa forneçam atendimento de emergência adequado junto com alguns métodos inovadores para lidar com esses obstáculos. Primeiro, o atendimento de emergência requer que sejam feitos investimentos em unidades que possam tratar pacientes após eles terem sido estabilizados. Providenciar transporte rápido para uma unidade hospitalar mal equipada ou sobrecarregada é praticamente inútil. Por esse motivo, tal como em muitas outras áreas, a existência de um sistema de saúde eficaz é importante. Em segundo lugar, métodos de comunicação rápidos podem fazer uma enorme diferença quando se trata de sobrevivência. Em lugares onde não há telefones tradicionais, podem ser usados fones de rádio simples ou celulares. A comunicação é importante para a coordenação entre o local do atendimento inicial e a unidade onde o paciente receberá tratamento, e é útil também para dar suporte aos primeiros socorristas permitindo-os “. . . em Kuala Lumpur . . . as equipes de atendimento de emergência não encontravam o paciente em 20% das chamadas de emergência.” “. . . o uso de socorristas leigos treinados em conjunto com voluntários treinados . . . pode ser altamente custo-efetivo, custando entre US$73 e US$706 por morte evitada ou entre US$3 e US$27 por vida salva.” Fornecimento de intervenções: | 143 Box 6.3 Melhoria do atendimento ao trauma na ausência de um sistema formal de ambulância Histórico: Foi avaliada a eficácia de um programa que aproveita o sistema existente, embora informal, de transporte pré-hospital em Gana. Em Gana, a maioria das pessoas feridas é transportada para o hospital por meio de algum tipo de veículo comercial, como táxi ou ônibus. Métodos: Um total de 335 motoristas comerciais foi treinado em um curso básico de primeiros-socorros com duração de 6 horas. A eficácia desse curso foi avaliada ao se comparar o processo de trauma pré-hospital fornecido antes e depois do curso, conforme relataram os próprios motoristas. Resultados: Foram realizadas entrevistas de acompanhamento com 71 motoristas, 10,6 meses, em média, após o curso. Sessenta e um por cento afirmaram ter prestado primeiros socorros desde que começaram a fazer o curso. Houve uma melhoria considerável na provisão dos componentes de primeiros socorros em comparação ao que foi relatado antes do curso (consulte a tabela 1). Tabela 1 Prestação de atendimento médico de emergência antes e depois do curso de primeiros socorros Tipo de atendimento Controle da cena do acidente Controle das vias aéreas Controle da hemorragia Aplicação de tala Triagem Prestado antes course (%) Prestado depois de curso (%) 7 2 4 1 7 35 35 42 16 21 Fonte: Mock e outros, 2002. O curso foi realizado com quantias moderadas de trabalho voluntário e doações em espécie, como transporte para o curso. O custo real do curso somou US$3 por participante. Conclusões: Mesmo na ausência de serviços médicos formais de emergência, as melhorias no processo do atendimento pré-hospital ao trauma são possíveis quando se aproveita o transporte pré-hospital existente, ainda que informal. Fonte: DCP2, capítulo 68, box 68.1. consultar outras equipes médicas e receber aconselhamento qualificado no local da emergência. Em terceiro lugar, um planejamento apropriado pode reduzir os tempos de resposta e melhorar o atendimento. Às vezes, isso é tão simples quanto assegurar que existam mapas precisos e que as casas sejam numeradas e as ruas tenham placas. Um estudo realizado em Kuala Lumpur 144 | Prioridades em Saúde| comprovou que as equipes de atendimento de emergência não encontravam o paciente em 20% das chamadas de emergência. Em quarto lugar, o transporte precisa ser rapidamente acessível. Os veículos com macas são ideais, mas há outros meios funcionais. Em Malawi, uma bicicleta-ambulância, que originalmente ajudou a melhorar o atendimento de emergência obstetrícia, passou a ser usada regularmente no transporte de pacientes com todos os tipos de emergência, incluindo lesões. Os estudos concluíram que o principal fator na questão da sobrevivência está menos relacionado à velocidade do transporte do que com a eficácia do atendimento salva-vida fornecido pela equipe socorrista. Os sistemas de atendimento de emergência requerem pessoal qualificado e motivado com suprimentos, remédios, equipamento e pessoal de apoio apropriados para coordenação e gerenciamento. Onde há recursos disponíveis, esses sistemas podem depender de pessoal em tempo integral com transporte motorizado. Onde os recursos são limitados, grande parte ainda pode ser feita com métodos simples e sustentáveis. Por exemplo, recrutar e treinar cidadãos motivados que costumam enfrentar situações de emergência, como motoristas de transporte público, pode agilizar enormemente o atendimento às emergências (box 6.3). O DCP2 revisa as informações sobre o uso de socorristas leigos treinados em conjunto com voluntários treinados. Esse tipo de programa necessitaria de 7.500 primeiro socorristas leigos e 150 paramédicos voluntários para atender a uma população de 1 milhão de pessoas. Os primeiro socorristas leigos poderiam ser treinados em 12 horas ao passo que os paramédicos voluntários se submeteriam a um treinamento de 25 dias. Nesse caso, seriam necessários cursos de atualização a cada três anos para manter o nível técnico e a motivação em alta. Esse tipo de programa pode ser altamente custo-efetivo, custando entre US$73 e US$706 por morte evitada ou entre US$3 e US$27 por vida salva. Quando uma ambulância é adicionada, os custos são substancialmente mais altos. O nível de custo-eficácia entretanto ainda é razoável. Nas áreas urbanas, os custos crescentes são compensados por um aumento da utilização. O DCP2 estima que nas áreas urbanas, depender de ambulâncias custaria cerca de US$60 por ano de vida salvo no Sul da Ásia, até cerca de US$111 por ano de vida salvo na América Latina e no Caribe, e US$176 por ano de vida salvo no Oriente Médio e no Norte da África. Nas áreas rurais, os serviços de ambulância custariam cerca de duas a três vezes mais por ano de vida salvo devido às taxas de utilização mais baixas. Os países não devem negligenciar os serviços médicos de emergência. No mínimo, planejamento e comunicações aperfeiçoados e treinamento adicional de voluntários pode fazer muita diferença quando se trata de sobrevivência em situações de emergência. Os serviços médicos de “Nos últimos 50 anos, o número de medicamentos eficazes para a prevenção e o tratamento de doenças cresceu enormemente.” “Cerca de 30% da população mundial não dispõem de acesso regular a medicamentos regulares...” Fornecimento de intervenções: | 145 emergência são outro elemento que requer coordenação no sistema de serviço de saúde, ligando cenas de trauma e outros locais de emergência para intervenções apropriadas em vários níveis de atendimento. Para que sejam custo-efetivas, as estratégias devem ser apropriadas às condições locais, quer isso envolva o treinamento de motoristas de ônibus como primeiro socorristas, o emprego de bicicletas-táxi ou o fornecimento de equipamento aos paramédicos profissionais. Medicamentos Nos últimos 50 anos, o número de medicamentos eficazes para a prevenção e o tratamento de doenças cresceu enormemente.7 Alguns evitaram que milhões de pessoas contraíssem difteria, tétano, pólio e sarampo. Outros trataram infecções bacterianas e virais, como pneumonia, TB e HIV/AIDS. Uma grande variedade de medicamentos encontra-se hoje disponível para lidar com doenças crônicas como o diabetes, a DCV (doença cardiovascular) e a depressão. Outros são essenciais para tratamento paliativo. O suprimento de medicamentos é importante para intervenções eficazes na saúde. As políticas criadas para garantir que medicamentos apropriados estejam disponíveis para aqueles que precisam terão que resolver uma série de problemas: “A lista de medicamentos essenciais . . . foca a atenção nas alternativas menos caras para o tratamento de categorias de doenças prioritárias.” • problemas financeiros incluem financiamento para a realização de pesquisa básica e desenvolvimento comercial, definição e proteção dos direitos de propriedade intelectual, e garantia de acessibilidade financeira • problemas logísticos relacionadas a compras, armazenamento e distribuição • problemas clínicos referentes à garantia de práticas corretas de prescrição e adesão aos regimes de medicamentos prescritos • problemas de incentivos afetam o envolvimento de empresas farmacêuticas, prestadores privados de serviços de saúde, farmácias e serviços de saúde publicamente financiados ou gerenciados em pesquisa, desenvolvimento e marketing de medicamentos. A disponibilidade de medicamentos é altamente desigual e exacerba a distribuição desigual dos serviços de saúde no mundo inteiro. Cerca de 30% da população mundial não dispõem de acesso regular a medicamentos regulares, variando de 26% da população do Sudeste Asiático (excluindo Índia), 29% daqueles que vivem na Região do Leste Mediterrâneo da OMS, e 47% dos Africanos, até 65% dos Indianos. Enquanto isso, os 15% que vivem em países de renda alta consomem aproximadamente 90% de todos os medicamentos (medido por valor monetário). 7 146 | Prioridades em Saúde| Esta seção baseia-se no DCP2, capítulos 4, 6, 55 e 72. As indústrias farmacêuticas privadas e os governos dos países de renda alta focalizaram o desenvolvimento de medicamentos que solucionem a carga de doenças em seus próprios países. Dos 1.325 novos medicamentos que se tornaram disponíveis entre 1975 e 1997, somente 11 foram aprovados especificamente para doenças tropicais. Na década passada, algumas iniciativas internacionais buscaram corrigir essa distribuição desigual de benefícios de medicamentos. Algumas visam aumentar o acesso a medicamentos essenciais que já estejam disponíveis, como é o caso da GAVI e Fundo Global para Combate a AIDS, Tuberculose e Malária. A meta de outras é promover pesquisa e desenvolvimento de novas vacinas, tratamentos ou regimes de medicamentos mais fáceis de administrar. Entre essas, a iniciativa dos Medicamentos para Doenças Negligenciadas dos Médicos sem Fronteiras, uma pesquisa pública para o desenvolvimento de vacinas para malária, e novas terapias para TB resistentes a drogas. Os principais objetivos das políticas de medicamentos são aumentar o acesso aos medicamentos eficazes, melhorar e garantir sua qualidade, e promover as práticas de prescrição racional por parte dos fornecedores e o uso racional por parte dos pacientes. A OMS ajudou inúmeros países de renda média e baixa a adotar as políticas nacionais de medicamentos que incluem a seleção de uma lista de medicamentos essenciais, garantia de acessibilidade financeira, controle da qualidade, incentivo aos suprimentos regulares, e promoção do uso racional. A lista de medicamentos essenciais é um elemento importante da política de medicamentos porque foca a atenção nas alternativas menos caras para o tratamento de categorias de doenças prioritárias. Dessa forma, isso simplifica o processo de abastecimento, compra, treinamento e uso. As diretrizes da OMS incluem uma lista de 320 medicamentos em 559 formulações. A maioria dos países que usaram essas diretrizes listam menos de 300 medicamentos, variando de 180 medicamentos na Libéria a 389 no estado de Karnataka, Índia. Como a lista de medicamentos, a lista de vacinas recomendadas também aumentou com o tempo à medida que novas vacinas se tornaram disponíveis. A maioria dos países ainda adere às vacinas originais que foram promovidas com o PAI (contra Tuberculose, difteria, tétano, coqueluche, pólio e sarampo), mas desde que essas foram promovidas pela primeira vez, a OMS recomendou o acréscimo de novas vacinas, como as da hepatite B, Hib e para febre amarela em países onde essa doença é endêmica. Os processos de abastecimento devem prestar atenção não somente à obtenção do melhor preço, mas também para garantir a qualidade dos medicamentos e a confiabilidade do suprimento. Por esse motivo, os países têm mudado de métodos de licitação aberta, que usam o preço como Fornecimento de intervenções: | 147 “. . . cerca de metade das falhas nas terapias com medicamentos ocorra porque os pacientes não cumprem o regime prescrito.” “Erros cometidos pela equipe médica ou farmacêuticos respondem pela outra metade das falhas . . .” “O uso abusivo de remédios para doenças infecciosas e a adesão inadequada . . .aceleram a emergência de cepas resistentes às drogas.” 148 | Prioridades em Saúde| principal critério de seleção e consideram secundárias a qualidade e a confiabilidade, para métodos de licitação restrita, que exige que os licitantes apresentem informações sobre a confiabilidade, estabilidade financeira, qualidade de produção e desempenho anterior de suas empresas. Somente fabricantes com pré-qualificação podem passar para o próximo estágio no qual as licitações são buscadas e a licitação mais baixa é selecionada. De modo geral, os preços dos medicamentos têm caído. Isso se deve, em parte, ao ciclo natural de desenvolvimento de medicamentos. Um novo medicamento é geralmente protegido por uma patente, que restringe o suprimento e mantém os preços altos até que a proteção da patente expire ou o licenciamento compulsório seja editado e os fabricantes genéricos possam entrar e competir. Alguns preços caíram dramaticamente em conseqüência das negociações coletivas, advocacia internacional e pressão pública, principalmente os de medicamentos para Tuberculose e HIV/AIDS, alguns do quais caíram mais de 90% nos últimos anos. A compra de medicamentos genéricos em lote é de longe a forma mais fácil de um país obter o máximo com um orçamento limitado. Quando disponível nas formas e qualidades apropriadas, os genéricos são substancialmente mais baratos do que os medicamentos de marca. Um estudo realizado na Malásia descobriu que 13 medicamentos de marca custaram 4 a 45 vezes mais caros do que os equivalentes genéricos que foram incluídos nessa lista de medicamentos essenciais do país. Para facilitar uma melhor negociação e determinação de preços, as informações sobre os preços encontram-se hoje disponíveis internacionalmente via websites. Uma variedade de programas internacionais ajudou a melhorar a acessibilidade financeira de medicamentos essenciais de países de renda média e baixa: o Fundo das Nações Unidas para a Infância tem um programa de suprimento de vacinas que atende 40% da demanda global, a Organização PanAmericana de Saúde gerencia um fundo rotativo para a América Latina e a região do Caribe, e o Programa de Compras de Grupo do Conselho de Cooperação do Golfo ajuda seis estados do Golfo Pérsico oferecendo licitações e logística. A compra é apenas um elemento do custo do suprimento de medicamentos, e o componente local dos preços dos medicamentos pode representar uma margem de lucro relativamente grande. No Sri Lanka, os custos locais acrescentam 64% ao preço de medicamentos importados. No Quênia, o componente local é mais do que 100% do preço de importação. As pesquisas sugerem que esses níveis de margem de lucro entre o comércio de importação e o varejista são comuns. A política pública voltada para a redução deste acréscimo de preço inclui a mudança de políticas fiscais, como a concessão de isenções das taxas de importação ou taxa de Box 6.4 Melhoria do uso de antimicrobióticos por meio da Gestão de Casos da AIDPI Os medicamentos antimicrobióticos, incluindo os antibióticos e antimalariais, são uma intervenção essencial voltada para a sobrevivência infantil. O fornecimento rápido e correto de medicamentos para crianças com menos de cinco anos pode salvar vidas. Garantir que esses medicamentos não sejam receitados desnecessariamente e que aqueles que os recebem completem o período pode reduzir o desenvolvimento da resistência antimicrobiótica. A análise de dados reunidos por meio de pesquisas baseadas em observação em unidades de saúde de primeiro nível selecionadas aleatoriamente no Brasil, Tanzânia e Uganda mostra que as crianças que recebem cuidados de profissionais da saúde treinados na AIDPI são significativamente mais propensas do que aqueles que recebem cuidados de profissionais da saúde ainda não treinados na AIDPI a receber receitas corretas para medicamentos antimicrobióticos, a receber a primeira dose do medicamento antes de deixar a unidade de saúde, a ter familiares cuidadores corretamente orientados sobre como administrar o medicamento e familiares cuidadores capazes de descrever corretamente como administrar o medicamento em casa quando deixam a unidade de saúde. O treinamento da AIDPI é uma intervenção eficaz destinada à melhoria do uso racional de medicamentos antimicrobióticos para crianças doentes que visitam unidades de saúde de primeiro nível em países de renda média e baixa. Fonte: DCP2, capítulo 63, box 63.2. valor agregado, implementação de políticas que reduzam os custos com transporte; e a introdução de regulamentos de marketing. Após os medicamentos terem sido selecionados e comprados, eles devem ser adequadamente armazenados e distribuídos. Quando os medicamentos são distribuídos para os fornecedores públicos, o governo deve gerenciar a logística da demanda prevista, mudando os medicamentos efetivamente para onde eles são necessários, certificando-se de que eles sejam armazenados em embalagem apropriada em local com umidade e temperatura adequadas, e garantindo o descarte dos medicamentos vencidos. Para esse fim, os países empregaram vários métodos, incluindo a distribuição de kits de medicamentos pré-definidos em um cronograma até sistemas mais flexíveis e complexos por meio dos quais as unidades de saúde fazem pedidos. As vacinas apresentam seus próprios desafios, especialmente a gestão de uma “cadeia fria” para garantir que as vacinas sejam mantidas em temperaturas apropriadas até que sejam usadas. Quando os medicamentos são distribuídos por meio de farmácias particulares, o papel do governo focaliza o monitoramento dos canais de distribuição para garantir que as informações das embalagens sejam precisas, que o armazenamento correto esteja sendo usado para manter a qualidade e que os medicamentos vencidos sejam descartados. Fornecimento de intervenções: | 149 “A integração da atenção às doenças na infância envolve. . .melhoria do desempenho dos profissionais da saúde,... dos sistemas de saúde... e das práticas familiares e comunitárias.” “. . . na Tanzânia, . . . municípios que implementaram a AIDPI gastaram o mesmo ou menos por criança que os municípios com programas de assistência de saúde tradicional, mas realizaram um melhor atendimento e conseguiram 13% de redução na taxa de mortalidade” 150 | Prioridades em Saúde| As próximas etapas são a prescrição e o uso adequados. Para ser eficaz, o medicamento correto precisa ser prescrito para a condição do paciente com adesão apropriada à dosagem e duração corretas do tratamento. O DCP2 estima que cerca de metade das falhas nas terapias com medicamentos ocorra porque os pacientes não cumprem o regime prescrito. Garantir a adesão do paciente ao tratamento é um elemento da qualidade dos serviços de saúde. É mais fácil atingir essa meta onde o sistema de saúde é sensível e responde às atitudes locais, à educação e cultura; onde profissionais da saúde comunicam-se de maneira clara e respeitosa com os pacientes; e onde o apoio e a informação comunitária estão disponíveis. Erros cometidos pela equipe médica ou farmacêuticos respondem pela outra metade das falhas em terapias com medicamentos. Ironicamente, a prescrição excessiva de medicamentos é tão comum em países de renda média e baixa, que não pode dar-se o luxo de desperdiçar medicamentos, quanto nos países de renda alta. Os estudos dos programas da AIDPI em vários países concluíram que o aprimoramento do treinamento dos profissionais da saúde gerou resultados de saúde semelhantes ou melhores do que a média e esses custos foram quase sempre inferiores porque o treinamento resultou na utilização mais racional dos medicamentos, além de ter reduzido prescrições desnecessárias (box 6.4). Os médicos que também dispensam medicamentos regularmente parecem prescrever mais medicamentos do que os médicos que não dispensam, confirmando a recomendação geral que afirma que prescrever e dispensar devem ser, sempre que possível, atividades separadas. O uso abusivo de remédios para doenças infecciosas e a adesão inadequada podem ser devastador para a eficácia do cuidado médico, porque aceleram a emergência de cepas resistentes às drogas. Medicamentos mais baratos para malária já estão se tornando ineficazes, exigindo recurso para uma terapia combinada de artemisinina (ACT) mais caro. Surgiram cepas resistentes às drogas da Tuberculose exigindo um recurso mais freqüente para terapias multidrogas e regimes com drogas de segunda linha. A maioria das infecções cada vez mais resistentes ocorre em países de renda média e baixa, mas não em países de renda alta, o que reduz a demanda efetiva de pesquisa sobre novos tratamentos em substituição aos antigos. Para retardar a emergência de cepas de doenças resistentes às drogas são necessárias ações que, concomitantemente, melhorem a qualidade da assistência de saúde. Prescrições e adesões apropriados melhoram os índices de cura e inibem futuras disseminações da infecção. Isso pode ser obtido por meio de uma série de programas educacionais para dispensários e prestadores públicos e privados. Também requer a garantia de um suprimento confiável de drogas, reduzindo as barreiras financeiras para Figura 6.1 Descrição esquemática da Gestão de Casos da AIDPI Unidade ambulatorial Verificar sinais de risco • Convulsões • Letargia ou inconsciência • Inabilidade para beber ou sugar Avaliar principais sintomas • Tosse ou dificuldade para respirar • Diarréia • Febre • Problemas auditivos Avaliar condições de nutrição e imunidade e problemas potenciais de alimentação Verificar se há outros Classificar condições e identificar ações de tratamentos de acordo com os gráficos de tratamento codificados por cores Amarelo Tratamento em unida de ambulatorial Rosa Referência urgente Unidade ambulatorial • Administrar medicamentos orais • Aconselhar e ensinar o familiar cuidador • Acompanhamento Unidade ambulatorial • Tratar infecção local • Administrar medicamentos orais • Aconselhar e ensinar o familiar cuidador • Acompanhamento Verde Gerenciamento domiciliar Domiciliar O familiar cuidador recebe orientações sobre como • Administrar medicamentos orais • Tratar infecções locais em casa • Continuar com a alimentação • Determinar quando retornar imediatamente • Acompanhamento Rosa Referência urgente Unidade de referência • Fornecer triagem e tratamento de emergência • Diagnóstico • Tratamento • Monitorar e fazer o acompanhamento Fonte: OMS, UNICEF 2001. DCP2, capítulo 63, figura 63.1. Fornecimento de intervenções: | 151 pessoas em domicílios de baixa renda, e melhorando a comunicação com pacientes para apoiar uma melhor adesão. Eliminar a adição rotineira de suplementos antimicrobióticos para ração animal, como recomendado pela OMS, é outro componente importante dessa estratégia. INTEGRAÇÃO DE SERVIÇOS EM TODO O CICLO DE VIDA Além de analisar a assistência de saúde por nível e função, o DCP2 apresenta informações sobre atividades visando integrar a assistência por estágios no ciclo de vida. Recém-nascidos, crianças, adolescentes e mulheres em idade reprodutiva, todos apresentam uma série de riscos e condições que podem ser tratados mais efetivamente com o acesso a uma série apropriada de medidas preventivas e tratamentos. O capítulo 4 tratou de condições maternais e neonatais. O presente capítulo destaca alguns capítulos do DCP2 que trata da atenção integrada para grupos etários específicos. Atenção integrada às doenças prevalentes da infância “Enquanto a prática médica tradicional enfatiza o tratamento após o diagnóstico,... a prestação de serviços em massa, como a desparatização e a suplementação de micronutrientes, é geralmente preferível por razões técnicas, econômicas e igualitária. . .” Após o período neonatal, as mortes entre crianças até a idade de cinco anos estão concentradas entre aqueles que sofreram de diarréia, pneumonia, malária e outras doenças infecciosas e de desnutrição8. Como a comorbidade é altamente prevalente e tratamentos eficazes estão disponíveis, foram feitos esforços para integrar atenção às crianças. A principal iniciativa foi o programa da AIDPI, lançado pela OMS e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância na metade dos anos 90 e implementado em vários países desde essa época. A integração da atenção às doenças na infância envolve três componentes: melhoria do desempenho dos profissionais da saúde, melhoria dos sistemas de saúde e melhoria das práticas familiares e comunitárias. O primeiro componente inclui o treinamento no uso de um guia de tratamento que instrui o pessoal a procurar sinais de perigo, fazer avaliações mais minuciosas, e depois implementar as intervenções apropriadas na gestão de casos. O treinamento também instrui os profissionais da saúde a integrar cuidado preventivo e curativo ao verificar, por exemplo, se as crianças trazidas para a unidade com doença respiratória estão em dia com as vacinas e se estão adequadamente alimentadas. Em segundo lugar, a atenção integrada da criança requer melhorias no sistema de saúde para garantir que os medicamentos estejam disponíveis, a supervisão e o treinamento sejam eficazes, os serviços de referência estejam funcionando e os sistemas de informação de saúde sejam adequados. Em terceiro lugar, 8 152 | Prioridades em Saúde| Esta seção é baseada no DCP2, capítulo 58. a melhoria das práticas familiares e comunitárias requer o suporte de boas práticas de amamentação, melhor nutrição, atenção à higiene, uso de mosquiteiros, administração de fluidos durante a doença, e esforços oportunos na busca pela assistência de saúde (figura 6.1) Avaliações do programa AIDPI demonstram, acima de tudo, as dificuldades de implementação de uma estratégia integrada de treinamento, do fortalecimento de um sistema de saúde e do envolvimento da comunidade nos países com recursos limitados e instituições públicas deficientes. A maioria dos países que adotaram formalmente a AIDPI não a implementaram integralmente. Desses três componentes, a implementação mais bem-sucedida foi o treinamento dos profissionais da saúde. Uma das melhores implementações foi realizada na Tanzânia, onde os municípios que implementaram a AIDPI gastaram o mesmo ou menos por criança que os municípios com programas de assistência de saúde tradicional, mas realizaram um melhor atendimento e conseguiram 13% de redução na taxa de mortalidade (consulte box 6.4). Contudo, a promessa de atendimento integrado ainda não foi cumprida na maioria dos lugares porque foram aplicados recursos insuficientes na implementação da estratégia; os sistemas de saúde foram incapazes de fornecer o pessoal e o suporte gerencial necessários; e nenhum país obteve total êxito ao vincular a AIDPI às mudanças no comportamento das famílias com relação aos cuidados das doenças em casa, a busca por atendimento quando apropriado, e a melhoria das práticas nutricionais. Programas de nutrição e saúde escolar As crianças em idade escolar são outro subgrupo bem-definido cujas condições de saúde reúnem várias doenças e fatores de risco administráveis.9 A freqüência escolar cria uma oportunidade simples para atrair as crianças por meio de uma infra-estrutura pré-existente. Além disso, a maioria dos países de renda baixa têm mais professores do que enfermeiras. Deste modo, o custo incremental por criança de intervenções na saúde em escolas é excepcionalmente baixo, totalizando menos de US$1 ao ano para o pacote mais simples. Cuidar de crianças em idade escolar pode ser uma forma custo-efetiva de fornecer intervenções na saúde. As intervenções na saúde escolar também complementam a missão educacional, uma vez que saúde e nutrição boas são pré-requisitos para uma aprendizagem eficaz. Por exemplo, programas de desparatização foram implementados com sucesso em várias escolas e posteriormente melhoraram a freqüência escolar e o resultados educacionais. 9 “Os fatores de risco que geralmente surgem na adolescência incluem o fumo, o uso excessivo de álcool, maus hábitos alimentares, sujeição ao abuso sexual e sexo sem proteção.” “Intervenções para adolescentes são geralmente difíceis porque . . . envolvem a mudança de comportamentos de risco que muitas vezes são incentivados tanto pelos costumes tradicionais quanto pelos modernos” Esta seção é baseada no DCP2, capítulo 59. Fornecimento de intervenções: | 153 Concomitantemente, a educação é um componente importante de muitos programas de saúde preventiva, como ensinar as crianças a importância da higiene adequada, segurança na estrada, uso de mosquiteiros, e nutrição junto com mensagens sobre sexualidade e riscos associados à saúde. Um elemento importante dessa abordagem é o foco na minimização da necessidade de diagnóstico clínico. Enquanto a prática médica tradicional enfatiza o tratamento após o diagnóstico, a nova abordagem sugere que a prestação de serviços em massa, como a desparatização e a suplementação de micronutrientes, é geralmente preferível por razões técnicas, econômicas e igualitárias a abordagens que requerem de identificação de pacientes por diagnósticos. Adolescentes e adultos jovens As taxas de mortalidade entre adolescentes tendem a ser baixas em comparação a de outros grupos etários.10 Boa parte da carga de doenças está associada à depressão, acidentes de carro e quedas. Contudo, a adolescência é um período crítico para a adoção ou prevenção de comportamentos que aumentem o risco de doenças nos anos posteriores. Os fatores de risco que geralmente surgem na adolescência incluem o fumo, o uso excessivo de álcool, maus hábitos alimentares, sujeição ao abuso sexual e sexo sem proteção. Na África Subsaariana, a epidemia de HIV/AIDS torna a intervenção nesse grupo etário especialmente importante. Nessa região, 63% dos AVAD para mulheres jovens com idades de 15 a 29 anos estão relacionados a doenças sexuais e reprodutivas. Padrões de casamento prematuros com homens mais velhos e sexo sem proteção aumentam enormemente as chances de uma garota contrair HIV/AIDS e outras infecções sexualmente transmitidas. Intervenções para adolescentes são geralmente difíceis porque a maioria dos riscos nessa idade não devem ser tratados simplesmente com atendimento preventivo ou curativo. Envolvem a mudança de comportamentos de risco que muitas vezes são incentivados tanto pelos costumes tradicionais quanto pelos modernos. Geralmente, as intervenções precisam fornecer aos jovens as informações e as habilidades para tomar boas decisões; fornecê-los uma série de serviços de saúde que os ajudem a ter influência nessas decisões, como contraceptivos; e construir um ambiente social, jurídico e normativo que apóie comportamentos saudáveis e proteja os jovens dos perigos, como a proibição de propagandas de cigarro. Relativamente poucos programas focalizados em adolescentes e adultos jovens foram implementados em larga escala. Os programas mais 10 154 | Prioridades em Saúde| Esta seção é baseada no DCP2, capítulo 59. divulgados focalizam a saúde sexual e reprodutiva, incluindo a prevenção de HIV/AIDS. Desses, os programas orientados para as escolas são os mais comuns. Programas de nutrição, saúde mental e prevenção ao cigarro destinados aos adolescentes são mais comuns em países de renda alta. Os serviços são geralmente divididos entre vários programas. Por exemplo, a gravidez em adolescentes pode ser tratada como parte de um programa de planejamento familiar da ONG, enquanto o ministério dos transportes promove segurança nas estradas e uma intervenção na saúde materna promove a boa nutrição. Até agora, pouco tem sido documentado com relação aos custos ou eficácia das iniciativas nacionais na saúde destinadas a adolescentes e adultos jovens. Em Bangladesh, o Programa Newlyweds incentivou a baixa fecundidade entre jovens recém-casados. A Nova Zelândia estabeleceu um programa de prevenção ao suicídio entre adolescentes. A Mongólia introduziu a educação sexual após a terceira série em resposta ao aumento das taxas de DST atribuídas à iniciação sexual precoce, à violência sexual e às mensagens aproveitadoras da mídia. A iniciativa Love Life da África do Sul promoveu a saúde sexual e os estilos de vida saudáveis entre adolescentes de 12 a 17 anos. As avaliações do programa da África do Sul identificaram um aumento da conscientização com relação aos riscos à saúde, iniciação sexual adiada, comportamento mais positivo com relação ao uso de preservativo, e uma melhora na comunicação com os pais a respeito de sexo. A implementação desses programas requer a coordenação de uma série de complexas intervenções. Além disso, as respostas aos comportamentos de risco que são direcionados podem entrar em conflito com as metas do governo e as visões de líderes religiosos, pais ou professores. Alguns dos princípios chave no desenvolvimento de uma abordagem integrada a esse grupo etário são: envolvê-los no processo de criação do programa, encarregá-los como educadores voluntários, tornar os serviços de saúde atraentes e convidativos, e confrontar as desigualdades de gêneros. Em suma, as intervenções são mais custo-efetivas se forem implementadas por um sistema de saúde funcional e nenhuma intervenção é útil se não puder ser cumprida. Esta seção discutiu sobre alguns dos problemas que surgem durante a organização de serviços de assistência de saúde por nível, função, ou em torno das necessidades de determinados grupos etários. Em geral, o DCP2 mostra que esses aspectos do sistema de assistência de saúde funcionam melhor quando estão ligados e podem fornecer assistência contínua com pessoal apropriado e em locais apropriados. Isso, por sua vez, requer sistemas para a geração e troca de informações, gerenciamento de qualidade e de pessoal, e mobilização e alocação de financiamentos. Fornecimento de intervenções: | 155 Capítulo 7 Pilares do Sistema de Saúde Um sistema de saúde é mais do que um mescla de unidades e consultas médicas. É uma estrutura na qual pessoas, instituições e organizações interagem para mobilizar e alocar recursos para prevenir e tratar doenças e lesões. Essa estrutura deve apoiar-se em determinados pilares fundamentais. Esses pilares são elementos essenciais ao funcionamento do sistema de cuidados de saúde. Eles incluem tudo desde um serviço administrativo bem gerenciado até um sistema de comunicação extensivo. Essa seção destaca quatro desses pilares: informação, gerência, recursos humanos e financiamento. INFORMAÇÃO, VIGILÂNCIA E PESQUISA A importância de se reunir, processar e usar dados na campanha de melhoria à saúde nunca será suficientemente ressaltada.1 Conforme observado no capítulo 1, boa parte do progresso no aumento e na melhoria da qualidade da vida humana deve-se ao progresso tecnológico, incluindo avanços no conhecimento das doenças e das respostas apropriadas e custo-efetivas. Na medida em que a geração e a aplicação de informações e conhecimentos possam ser facilitadas e se tornar mais sistemáticas, deve ser possível acelerar o desenvolvimento da saúde humana e eliminar as desigualdades nas condições de saúde. Informação e Vigilância Os formuladores de decisões do setor de saúde — sejam profissionais da saúde em pequenas clínicas, diretores de grandes hospitais, diretores de segurança em medicamento, funcionários públicos locais ou ministros da 1 Esta seção é baseada no DCP2, capítulos 4, 6, 5 e 53 e 54. 157 “. .. menos da metade de todos os nascimentos e apenas um terço de todas as mortes são registradas nos sistemas de registro nacionais.” “As estatísticas dos serviços de saúde são fundamentais para gerenciar serviços de saúde pública, identificando tendências de saúde e alocando recursos de modo eficiente.” 158 | Prioridades em Saúde| saúde—fazem várias perguntas que devem servir como ponto de partida para qualquer discussão. Por exemplo, o recente aumento de casos de gripe é o começo de uma nova epidemia? Estamos atingindo 90% das crianças abaixo de cinco anos com as vacinas recomendadas? Quais as principais causas prováveis de morte nos próximos 20 anos? Quais os comportamentos sociais que mais contribuem para a disseminação das DSTs? Para onde vão as despesas com saúde do setor público? Quais são os tratamentos eficazes contra uma determinada doença? Existem outros métodos custo-efetivos disponíveis? As informações para responder a essas perguntas geralmente são obtidas das seis principais fontes a seguir: • O registro de eventos vitais fornece dados sobre nascimentos e mortes, assim como casamentos, divórcios e migrações. Os dados sobre nascimentos, mortes e migração são especialmente importantes para a análise política da saúde, pois sem esses dados torna-se impossível realizar o acompanhamento da população e o cálculo de indicadores básicos como taxas de incidência de doenças. Contudo, esses dados básicos são mal registrados na maior parte do mundo: menos da metade de todos os nascimento e apenas um terço de todas as mortes são registradas nos sistemas de registro nacionais. • As estatísticas dos serviços de saúde abrangem informações sobre consultas feitas por pacientes, serviços fornecidos e diagnósticos. As unidades de saúde reúnem diariamente boa parte dessas informações para uso local, mas raramente são reunidas em formatos padronizados ou registradas em um banco de dados nacional de saúde. As estatísticas dos serviços de saúde são fundamentais para gerenciar serviços de saúde pública, identificando tendências de saúde e alocando recursos de modo eficiente. • A vigilância da saúde pública abrange uma enorme variedade de iniciativas para rastrear e responder às tendências de doenças. Uma abordagem comum é identificar uma lista de doenças notificáveis que os prestadores de serviços de saúde são obrigados a reportar às autoridades nacionais, geralmente doenças infecciosas que podem ser raras, mas que requerem uma resposta imediata. Em outro tipo de vigilância conhecida como vigilância sentinela, amostras de prestadores ou unidades de serviços de saúde reportam todos os casos de determinadas condições. Esse tipo de acordo é bom para os grandes programas de saúde pública, mas não é eficaz para detectar ameaças à saúde raras ou novas. A vigilância pode ser baseada no relato de prestadores de serviços de saúde sobre casos com sintomas especiais ou testes laboratoriais com determinado diagnóstico. De modo geral, a vigilância funciona melhor quando um amplo conjunto de fontes estão integradas em um sistema que inclui detecção, monitoramento, análise e resposta. • Os dados do Censo que são exatos e reunidos regularmente fornecem a base para calcular índices importantes e desenvolver amostras confiáveis. • As pesquisas por amostra de domicílios são um modo eficaz de obter informações sobre demografia populacional, características sociais e a sua dinâmica com freqüência regular entre censos. Elas também podem ser expandidas para reunir informações importantes sobre comportamentos ou determinadas condições de saúde. • O rastreamento de recursos envolve a avaliação e a gestão de recursos humanos, unidades de saúde, produtos básicos e finanças. Ele tem por base uma variedade de métodos de relatório e iniciativas de coleta de dados. A coleta de informações sobre profissionais de serviços de saúde geralmente requer mais do que o rastreamento do emprego no setor de saúde pública para incluir atividades realizadas por profissionais de saúde com práticas particulares. De modo semelhante, os fluxos financeiros no sistema de saúde não podem ser totalmente entendidos sem associar as informações orçamentárias públicas aos dados sobre despesas privadas na saúde, incluindo as consultas e medicamentos pagos pelo próprio paciente, prêmios de seguro de saúde, despesas com pesquisa e desenvolvimento farmacêutico. Os devidos e oportunos intervalos entre os informes são importantes para todos os sistemas de coleta de dados. A vigilância de surtos de epidemias infecciosas precisa ser rápida e constante para oferecer advertência imediata. Em contrapartida, a vigilância de mudanças nos fatores de risco comportamentais necessita de intervalos mais longos. Com o desenvolvimento de sistemas de informações de saúde, tornouse tentador buscar informações altamente detalhadas sobre o status da saúde e os serviços de saúde em todos os sítios possíveis, mas isso não significa necessariamente que esses dados sejam confiáveis e acessíveis para análise. Uma amostra de sítios pré-selecionados que sejam confiáveis em relação à exatidão e integralidade das informações reunidas pode geralmente fornecer dados melhores do que as tentativas casuais de obter um relatório universal. Se um método de amostragem apropriado foi usado para selecionar esses sítios, as informações fornecidas permitirão extrapolações exatas à população como um todo. Muitos países começaram a melhorar seus sistemas de registros vitais focalizando uma amostra de municípios pré-selecionados para fornecer dados de boa qualidade para análise nacional e tomada de decisões, ao mesmo tempo que trabalham para expandir e melhorar o registro de eventos vitais em outros municípios de modo que o sistema venha a ser universal. “A vigilância de surtos de epidemias infecciosas precisa ser rápida e constante ...a vigilância de mudanças nos fatores de risco comportamentais necessita de intervalos mais longos.” Pilares do Sistema de Saúde | 159 “A retenção bem-sucedida da SARS, para a qual ainda não existe cura ou vacina, é atribuída ao trabalho organizado de profissionais da saúde dedicados e competentes com acesso a bons meios de comunicação.” 160 | Prioridades em Saúde| A padronização também aumentará o valor das iniciativas de coleta de dados. Estabelecer padrões comuns para a coleta de dados facilita o registro, a comunicação e a análise das informações. Também permite um treinamento mais eficiente e o desenvolvimento de hardware e software. Por exemplo, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos desenvolveram padrões para informes automáticos de resultados de diagnósticos laboratoriais de doenças notificáveis e difundiram um software relacionado que é usado em muitos países. O principal nesse tipo de iniciativa é desenvolver padrões em um processo aberto, envolvendo outros países e órgãos internacionais tanto para melhorar os padrões quanto para incentivar a adoção generalizada. A tecnologia está reformando e expandindo métodos para coleta, armazenamento e processamento de informações. Por exemplo, técnicas mais baratas, mais rápidas e mais simples para a obtenção e análise de amostras de tecido permitem diagnosticar doenças e coletar informações epidemiológicas em uma maior gama de lugares e circunstâncias do que era possível anteriormente, e as novas tecnologias de comunicação permitem a transmissão rápida dos dados recentemente coletados, se o hardware necessário e o pessoal qualificado estiverem disponíveis para usá-los apropriadamente. De fato, o DCP2 argumenta que as principais barreiras para a melhoria de sistemas de informações nos países de renda média e baixa estão menos relacionadas às tecnologias e mais aos investimentos necessários para treinamento e coordenação de pessoas. A perícia necessária para operar e usar um sistema eficaz de informações de saúde ultrapassa o conhecimento de pesquisa, amostragem, hardware e software para incluir as habilidades necessárias para gerenciamento, pesquisa médica e epidemiologia de campo e o conhecimento de campos como economia e sociologia. As iniciativas internacionais podem ter uma função valiosa no desenvolvimento dessa perícia. Por exemplo, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e a OMS coordenam um programa para treinar epidemiologias de campo em mais de 30 países. No controle de doenças, os exemplos de casos específicos ressaltam a importância de ter pessoas qualificadas apoiadas pela boa comunicação. O grave surto de síndrome respiratória aguda grave (SARS) irrompeu na China em novembro de 2002 e disseminou-se no Canadá, Hong Kong (China), Vietnã, Cingapura e outros países no intervalo de cinco meses. O sucesso no controle dessa primeira nova doença pandêmica do século 21 dependeu de uma combinação de colaboração aberta entre cientistas e políticos de muitos países e a comunicação rápida e exata de dados de vigilância nos países e entre os países. A pandemia global terminou em julho de 2003 depois que mais de 8.000 pacientes em 26 países e 5 continentes foram afetados e 774 mortes foram confirmadas. O bloqueio bemsucedido da SARS, para a qual ainda não existe cura ou vacina, é atribuído ao trabalho organizado de profissionais da saúde dedicados e competentes com acesso a boa comunicação (consulte o DCP2, capítulo 53, para obter mais detalhes). Para ser efetivas, as informações de saúde precisam ser integradas de uma maneira que facilite a análise e que estejam ligadas a respostas e ações. Por exemplo, o Escritório Regional da OMS na África está trabalhando com vários países para ligar dados epidemiológicos e laboratoriais para tomada de decisões em uma estratégia integrada de vigilância de doenças que respondeu com êxito à ameaça à saúde do Ebola em Uganda (Box 7.1). A vigilância nas Filipinas detecta surtos regularmente incluindo o cólera e a tifóide (Box 7.2). Mais recentemente, a ameaça de gripe aviária do tipo A H5N1 no Sudoeste Asiático está sendo cuidadosamente examinada por vários países e pela OMS e estão em preparação planos para que ela reprima uma nova pandemia caso se inicie uma disseminação entre humanos. Finalmente, os sistemas de informações de saúde não podem ser estabelecidos e operados sem financiamentos. Um sistema de informações bom e abrangente pode custar cerca de US$3 por pessoa em determinados países, mas mesmo essa necessidade limitada de recursos financeiros “Um sistema de informações bom e abrangente pode custar tão pouco como US$3 por pessoa. . . “ Box 7.1 Controle do Ebola em Uganda Em outubro de 2000, um surto de febre hemorrágica do tipo Ebola foi identificado no município de Gulu no norte de Uganda. O rápido informe, o pronto reconhecimento do problema e uma subseqüente resposta resultaram em uma bem-sucedida contenção da epidemia. A vigilância da saúde pública foi difícil porque Gulu era uma área politicamente instável e porque as pessoas reagiam à infecção buscando curandeiros ou fugindo, o que propagava a epidemia. Os hospitais também careciam desesperadamente de suprimentos para o controle da infecção de tantos pacientes simultaneamente infectados. O governo de Uganda mobilizou o exército para ajudar a localizar os casos e pediu a ajuda da OMS, dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, e de outras equipes internacionais. Os profissionais de saúde de Uganda correram grande risco ao cuidar dos doentes. Com 425 casos identificados, foi o maior surto de Ebola já registrado. Somente 53% dos pacientes morreram, uma proporção bem inferior aos 88% relatados em epidemias anteriores. A contenção bem-sucedida da epidemia comprova o investimento do Ministério da Saúde no desenvolvimento de profissionais de saúde competentes e motivados pelo Public Health School Without Walls (Escola de Saúde Pública sem Muros), uma parceria ativa com a Universidade de Makerere, a Fundação Rockefeller, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e a OMS, junto com a implementação bemsucedida de uma estratégia integrada para a vigilância de doenças. Fonte: Adaptado do DCP2, capítulo 53. Pilares do Sistema de Saúde | 161 Box 7.2 Sistema nacional de vigilância epidêmica das Filipinas Nos finais dos anos 80, o Departamento de Saúde das Filipinas (PDOH), com base em seu sistema integrado de informações administrativas, detectou menos de um surto ao ano em uma população de mais de 60 milhões de habitantes. Em 1989, o PDOH criou o Sistema Nacional de Vigilância Epidêmica, um sistema de vigilância sentinela hospitalar que engloba o fluxo de dados e os requisitos de pessoal necessários para que o sistema de vigilância funcione de modo eficaz. Após o estudo piloto ter demonstrado resultados promissores, o PDOH criou cargos e uma estrutura de supervisão para médicos, enfermeiras e auxiliares de escritório sentinelas nas unidades regionais de epidemiologia e vigilância (RESUs) integradas ao sistema de saúde pública. Somente em 1995, o sistema detectou e investigou formalmente cerca de 80 surtos, incluindo 25 surtos bacteriologicamente confirmados de tifo e 5 de cólera. Quando as Filipinas desenvolveram a vigilância de HIV serológica e risco comportamental, os membros da equipe do RESU conduziram estudos nas suas comunidades. Ao integrar as funções de vigilância com base nas habilidades da força de trabalho, o PDOH foi capaz de evitar os problemas de duplicações, ineficiências e sustentabilidade de múltiplos sistemas verticais (White e McDonnell 2000). Fonte: DCP2, capítulo 53, p. 1004. Tabela 7.1 Custo dos subsistemas do sistema de informações essenciais de saúde Custo total (US$ milhões) Subsistema do sistema informações de saúde Países de renda baixa Estatística de serviços de saúde Vigilância da saúde pública (incluído na estatística do serviço de saúde) Censo Custo per capita (US$) Países renda alta Países renda baixa Países renda alta 4,8 25,9 0,16 1,66 0 0 0 0 7,5 30,0 0,25 1,0 Pesquisas nacionais em domicílio 0,6 1,0 0,02 0,03 Vigilância de eventos vitais 1,5 6,0 0,05 0,20 1,5 3,0 0,05 0,10 15,9 65,9 0,53 2,99 Rastreamento de recursos Total Fonte: DCP2, capítulo 54, p. 1024. Nota: A tabela baseia-se em uma população de 30 milhões de habitantes. Os custos da pesquisa em domicílio são baseados na experiência das pesquisas demográficas e de saúde durante o período de 2001-2003 (Macro International, comunicações pessoais). Os custos variam por tamanho de amostragem e por extensão do instrumento de pesquisa, a Macro International estima um custo médio de US$100 por cada participante da pesquisa. Admite-se uma amostragem de 6.000 para o cenário de renda baixa e um tamanho de amostragem de 10.000 para o ambiente de renda alta. As estimativas de custo para o monitoramento de eventos vitais são baseadas em locais sob vigilância demográfica. Em ambiente de renda alta, os custos anuais são supostamente quatro vezes maiores. Os custos do rastreamento de recursos são baseados na experiência de contas nacionais de saúde (Abt Associates, comunicações pessoais) e o sistema Egípcio de Rastreamento Orçamentário. Custos semelhantes são estimados para recursos humanos e produtos básicos. 162 | Prioridades em Saúde| Box 7.3 Programa de Intervenções Essenciais na Saúde da Tanzânia (TEHIP) O TEHIP é uma parceria entre o Ministério da Saúde da Tanzânia e o Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento Internacional do Canadá. O projeto foi criado para determinar a viabilidade de uma abordagem baseada em evidências para planejamento de saúde em nível municipal. De acordo com a premissa do World Development Report 1993: Investing in Health (Relatório de Desenvolvimento Mundial do Banco Mundial: Investindo em Saúde), o TEHIP capacitou planejadores de saúde municipais em dois dos 117 municípios da Tanzânia a coletar e usar dados sobre carga de doenças e custo-eficácia para obter o maior rendimento dos investimentos nacionais em saúde. As intervenções incluíram coleta de dados de porta em porta e treinamento ou suporte técnico para gerentes na análise e uso dos dados para tomada de decisões. Os municípios do TEHIP alocaram serviços para doenças que apresentaram cargas elevadas, resultando na triplicação das taxas de utilização clínica e no aumento da eficácia do tratamento. Com um aumento per capita nas despesas de somente US$0,80, os gerentes municipais de saúde obtiveram uma redução de 47% nas taxas de mortalidade infantil. Fonte: DCP2, capítulo 54. pode ser proibitiva em países de baixa renda onde o orçamento total da saúde pública é de uma ordem de magnitude semelhante (tabela 7.1). Felizmente, muitos programas internacionais têm reconhecido esse problema e estão financiando atividades de informações de saúde com componentes de empréstimos e subsídios. As informações sobre saúde também são valiosas para a melhoria da eficiência dos serviços de saúde. Por exemplo: um estudo na área rural de Mali concluiu que o custo de programas de imunização infantil em áreas cobertas por sistemas comunitários de informação era de apenas US$1,47 por criança, comparados aos US$2,79 por criança em áreas que não tinham esse tipo de sistema. Da mesma forma, na Província sul-africana de Eastern Cape, a melhoria no acompanhamento e gestão de produtos farmacêuticos reduziu em 39% o número de situações em que as instalações ficavam sem medicamentos essenciais, melhorando o tratamento de milhares de pacientes por meio do aprimoramento do acesso aos medicamentos necessários. O Programa de Intervenções Essenciais em Saúde da Tanzânia (TEHIP) oferece evidências sobre o custo-efetividade dos sistemas de informações de saúde. Esse programa forneceu treinamento para profissionais e gerentes de saúde sobre o uso de informações para determinar as prioridades e melhorar a gestão das intervenções existentes (Box 7.3). O TEHIP custou aproximadamente US$0,80 por pessoa nos distritos onde foi implementado. Se analisarmos apenas a conseqüente redução da mortalidade entre crianças com menos de cinco anos, o programa custou “. . . na Mali rural ... . . o custo de programas de imunização infantil em áreas cobertas por sistemas de informações comunitários era de apenas US$1,47 por criança, comparados aos US$2,79 por criança, em áreas que não tinham esse tipo de sistema.” Pilares do Sistema de Saúde | 163 US$68,50 por AVAD evitado. Como a saúde dos adultos também melhorou e a morbidade caiu, uma contabilidade mais completa teria demonstrado que a iniciativa de sistemas de informações de saúde é ainda mais custo-efetivas. Pesquisa e Desenvolvimento “Desde 1970, foram relatadas 32 novas doenças infecciosas. . .” 164 | Prioridades em Saúde| Os sistemas de informações de saúde devem ser úteis para os formuladores de decisão se for para influenciar opções clínicas, gerenciamento do sistema de saúde e política pública. Contudo, eles também precisam fornecer informações e gerar perguntas para a pesquisa fundamental que gera nova compreensão da doença; técnicas melhores para a prevenção, diagnóstico e tratamento; e melhores métodos de prestação e organização de serviços de saúde. A pesquisa de saúde é um empreendimento global. Os países estão reconhecendo cada vez mais que suas próprias iniciativas de pesquisa de saúde aumentam quando há maior interação com pesquisadores de outros países, estudos com locais variados, e trabalho em equipe e treinamento conjunto. Existem cinco capítulos no DCP2 dedicados ao fato de que a ciência, desenvolvimento de novos produtos e capacidade analítica são essenciais para o progresso econômico e social. O DCP2 argumenta que pensar a pesquisa como uma função nacional ou local não faz muito sentido, e que, em vez disso, deve ser concebido um sistema de pesquisas globais com uma agenda global. O DCP2 identifica áreas para pesquisa futura que requerem uma ampla gama de ferramentas, desde a epidemiologia de campo à genomia e da ciência comportamental à bioquímica. As agendas de pesquisa discutidas ao longo do DCP2 e resumidas no capítulo 5 incluem prioridades que já fazem parte da agenda de saúde global e tópicos promissores que devem ser acrescentados a ela. As doenças infecciosas predominam entre as prioridades que já constam da agenda de saúde global. Muitas das metas de pesquisa referem-se ao HIV/AIDS, à malária e à tuberculose. Isso envolve uma pesquisa sobre a epidemiologia e os fatores de risco associados a essas doenças, com o desenvolvimento de novos e melhores diagnósticos, vacinas e tratamentos. Também acarreta uma pesquisa sobre mudança comportamental e programas de aconselhamento e qual a melhor forma de estender as intervenções eficazes em contextos de renda baixa e institucionalmente fracos. A ausência de uma partida marcada de prioridades de pesquisa prévias para essas condições atesta a complexidade dessas doenças e sua importância nos países mais pobres. Também é necessário realizar uma pesquisa minuciosa da ciência básica de doenças infecciosas existentes e como elas evoluem para nos preparar para responder às doenças infecciosas emergentes. Desde 1970, foram relatadas 32 novas doenças infecciosas, incluindo hepatite C, a doença dos Legionários, Ebola, vírus Nipah, SARS, e cepas especiais de gripe aviária e o cólera. Também surgiram preocupações com relação ao possível uso de doenças infecciosas para terrorismo e guerra. Além das doenças infecciosas, outra parte significativa da agenda de pesquisa global focaliza condições maternais e neonatais, uma área que inclui necessariamente uma atenção significativa à ampliação dos serviços básicos de saúde. A pesquisa sobre o financiamento, a provisão, o gerenciamento e a prestação de serviços de saúde é fundamental para a ampliação das intervenções custo-efetivas. Sem progresso nessa área, atingir as metas internacionais de saúde, como as Metas de Desenvolvimento do Milênio relativas à redução da mortalidade maternal e infantil, será impossível. No que se referem às prioridades dos países em desenvolvimento que ainda não constam proeminentemente da agenda de pesquisa de saúde global, o DCP2 enfatiza condições como CVD, desordens neuropsiquiátricas, obesidade, diabetes e cânceres, que já causam uma enorme e crescente parcela da carga de doenças em regiões em desenvolvimento. O DCP2 identifica as prioridades de pesquisa para essas condições que ressaltam a aquisição de uma melhor compreensão das causas de doenças não transmissíveis, especialmente o efeito de dieta, estilo de vida, obesidade e consumo de tabaco e álcool; a transmissão de conhecimento sobre intervenções efetivas de um contexto onde elas obtiveram êxito para outros lugares; e o desenvolvimento de novas abordagens para gerenciar condições crônicas como o diabetes e a depressão de modo a melhorar a qualidade de vida dos pacientes, além de prevenir e aliviar uma nova deterioração da saúde. Com o aumento do conhecimento básico sobre tratamentos de doenças e saúde, aumentam também as oportunidades para estudar como adaptar programas e políticas de sucesso para novos contextos. Por exemplo, muitos dos tratamentos de sucesso contra doenças não-transmissíveis que foram desenvolvidos em países de renda alta parecem ser viáveis nos países de renda média e baixa, no entanto, as diferenças culturais, de recursos e instituições dificultam a transmissão desse conhecimento. A pesquisa pode ligar essa lacuna e trazer os benefícios desses tratamentos para novos lugares. Finalmente, os próprios sistemas de cuidados de saúde são um objeto importante de pesquisa. A identificação de programas institucionais que sejam mais eficientes na canalização de recursos para intervenções de “A pesquisa sobre o financiamento, a provisão, o gerenciamento e a prestação de serviços de saúde é fundamental para a ampliação das intervenções custoefetivas.” “. . . muitas das intervenções de sucesso contra doenças nãotransmissíveis que foram desenvolvidas em países de renda alta parecem ser viáveis nos países de renda média e baixa, no entanto, as diferenças culturais, de recursos e instituições dificultam a transmissão desse conhecimento.” Pilares do Sistema de Saúde | 165 Box 7.4 Uma mudança de paradigma da colaboração de pesquisa global As respostas globais recentes para o SARS e a gripe aviária representam uma importante mudança de paradigma na colaboração para pesquisas globais, uma vez que se fez necessária uma vigilância nacional em níveis epidemiológicos e laboratoriais; compartilhamento sem precedentes de informações em todos os níveis do sistema de saúde; e colaboração de clínicos, epidemiologistas, cientistas de laboratório, e aqueles responsáveis pela vigilância veterinária para o desenvolvimento rápido de estratégias de intervenções efetivas. Esses casos demonstraram que informações confiáveis e exatas são essenciais para fornecer advertência imediata e para desenhar uma política de saúde eficaz. Elas também ressaltam a alta prioridade que deve ser dada à criação de sistemas de vigilância de saúde nacional e redes laboratoriais competentes que são parte de um sistema global de vigilância epidemiológica. “. . . a qualidade dos cuidados de saúde não é um luxo com o qual somente os países de renda alta possam arcar, mas outro pilar do sistema de cuidados de saúde que tem um profundo impacto no custo-eficácia e eqüidade das intervenções.” 166 | Prioridades em Saúde| saúde eficazes pode reduzir o desperdício e melhorar a saúde. A pesquisa pode indicar melhores formas de treinar e motivar profissionais da saúde e criar políticas para manter um pessoal altamente qualificado. Também pode avaliar formas diferentes de mobilizar e alocar recursos financeiros públicos para a saúde e intensificar a compreensão de como os incentivos encorajam ou desencorajam a inovação médica. A ampla revisão dos problemas de saúde globais realizada pelo DCP2 indica uma crescente convergência dos mesmos problemas de saúde entre países ricos e pobres. Algumas dessas convergências devem-se à maior interdependência do mundo atual, onde a velocidade de trajeto e comércio significa que o surto de uma epidemia infecciosa em um lugar representa uma preocupação para todos, mas também são devidas à carga compartilhada de lesões e doenças não-transmissíveis. Os benefícios de pesquisa nessas condições não podem ser confinados por fronteiras artificiais, e a descobertas feitas nos países pobres são tão valiosas quanto as descobertas nos países ricos. A adoção dessa perspectiva global sobre pesquisa de saúde requer a promoção e o suporte da capacidade científica em todos os países, fazendo uso inovador da tecnologia e de instituições para compartilhar e desenvolver um novo conhecimento, estabelecendo prioridades globais para conduzir investimentos em pesquisa e desenvolvimento, e apoiando a liberdade da investigação científica (Box 7.4). GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS DE SAÚDE Embora os países focalizem geralmente o aumento da quantidade de serviços de saúde —por exemplo, o número de imunizações ou consultas ou as taxas de cobertura—isso pode ser inútil, um desperdício ou mesmo prejudicial se não for apropriado para uma determinada condição ou consistente com o melhor conhecimento médico2. Assim, prestar atenção à qualidade do serviço de saúde não é um luxo com o qual somente os países de renda alta possam arcar, mas outro pilar do sistema de cuidados de saúde que tem um profundo impacto no custo-eficácia e eqüidade das intervenções. De fato, a qualidade do serviço é um elemento chave do progresso técnico intangível que explica muitos dos avanços em saúde dos últimos 50 anos. Embora muitos recursos apóiem melhorias na qualidade, essas melhorias são possíveis mesmo com poucos recursos. Serviço de qualidade deficiente é endêmico em muitos sistemas de saúde, seja em países de renda baixa, média ou alta. Em um estudo sobre atendimento pediátrico em Papua Nova Guiné, somente 24% dos profissionais da saúde foram capazes de indicar o tratamento correto para malária, e os encontros clínicos observados por investigadores atenderam a critérios mínimos de exame em somente 1% dos casos. No Paquistão, somente 56% dos prestadores de serviços demonstraram estar aptos a diagnosticar diarréia viral e somente 35% aderiram aos padrões de tratamento. Na Indonésia, um estudo atribuiu 60% das mortes infantis às práticas precárias dos serviços de saúde, comparados ao 37% atribuídos às restrições econômicas. Nos Estados Unidos, o Instituto de Medicina documentou graves falhas no atendimento médico que correspondem a mais de 40.000 mortes ao ano, incluindo vários erros de diagnóstico, casos de mau atendimento, e erros nocivos na prestação de cuidados de saúde. O problema da má qualidade do atendimento médico não é culpa exclusiva dos profissionais de saúde, tampouco deve ser atribuído exclusivamente aos recursos limitados. Na verdade, os problemas de qualidade são sistemáticos e são conseqüências de lacunas no conhecimento e na comunicação, treinamento, supervisão e incentivos inadequados. Esses problemas persistem quando as organizações que fornecem o atendimento de saúde são incapazes de monitorar a qualidade do atendimento e de tomar medidas corretivas. Às vezes, essas falhas estão relacionadas a incentivos que encorajam o atendimento inadequado, como é o caso de determinados prestadores de serviços de saúde que têm como importante fonte de renda a administração de medicamentos. Outras vezes, a má qualidade pode não estar relacionada a incentivos, mas ser meramente o reflexo de práticas que não se baseiam em provas atuais. Para corrigir esse problema é necessário avaliar os resultados de saúde e relacioná-los à prática clínica de modo que os problemas possam ser identificados e as estratégias para correção possam ser implementadas. Nos países de renda média e baixa esta é, de certa forma, uma descoberta otimista. De modo “No Paquistão, somente 56% dos prestadores de serviços demonstraram estar aptos a diagnosticar diarréia viral e somente 35% aderiram aos padrões de tratamento.” . . .problemas de qualidade são sistêmicos . . . conseqüências de lacunas no conhecimento e na comunicação, treinamento, supervisão e incentivos inadequados.” . . . a qualidade pode ser melhorada mais rapidamente do que outro fatores que promovem uma boa saúde como renda, educação, nova tecnologia ou infra-estrutura.” 2 Esta seção é baseada no DCP2, capítulos 70 e 73. Pilares do Sistema de Saúde | 167 “Embora a avaliação dos processos freqüentemente seja mais difícil e dispendiosa do que a avaliação dos aspectos estruturais, os processos de modo geral estão mais intimamente relacionados aos resultados de saúde.” “A remuneração baseada em desempenho é uma forma de induzir os prestadores a fornecer um atendimento de melhor qualidade. Incentivos relativamente pequenos ... . parecem ter efeitos significantes no comportamento de prestadores de serviços no Camboja, Haiti e Nicarágua, assim como nos Estados Unidos” 168 | Prioridades em Saúde| geral, a qualidade pode ser melhorada mais rapidamente do que outro fatores que promovem uma boa saúde como renda, educação, nova tecnologia ou infra-estrutura. Para avaliar a qualidade dos serviços de saúde, costuma-se coletar dados sobre os aspectos estruturais dos serviços de saúde, os processos de prestação e dos resultados na saúde. Os aspectos estruturais que devem melhorar a qualidade incluem a quantidade e os tipos de infra-estrutura, equipamento, suprimentos e pessoal da área da saúde. Esses indicadores estruturais podem ser relativamente fáceis de coletar, mas já provaram ser prognósticos ineficazes da qualidade e dos resultados na saúde. Embora sejam necessários bons aspectos estruturais, eles não são suficientes para um atendimento de boa qualidade. Os processos, em contrapartida, são os meios pelos quais o pessoal aplica o conhecimento moderno para o diagnóstico, a prevenção e o tratamento de doenças e deficiências. A qualidade dos processos envolvidos nos cuidados de saúde podem ser avaliados observando-se os profissionais da área para verificar se eles respondem de acordo com os protocolos cientificamente validados durante o diagnóstico e o tratamento de pacientes. O processo de interação entre dispensadores de cuidados e pacientes também pode influenciar a decisão dos pacientes seguirem o aconselhamento e os medicamentos prescritos e, assim, influenciar os resultados de saúde. Embora a avaliação dos processos freqüentemente seja mais difícil e dispendiosa do que a avaliação dos aspectos estruturais, os processos de modo geral estão mais intimamente relacionados aos resultados de saúde. A definição do conceito de qualidade do Instituto de Medicina dos Estados Unidos engloba os seis elementos a seguir: • • • • • segurança do paciente eficácia (atendimento apropriado cientificamente comprovado) centralização no paciente (respeito e receptividade) conveniência (barreiras e atrasos mínimos no acesso ao atendimento) eficiência (desperdício mínimo de equipamento, suprimentos, idéias e energia) • eqüidade (atendimento amplamente prestado a todos os gêneros, grupos étnicos, locais e classes socioeconômicas). Uma série de intervenções pode afetar essas seis dimensões de atendimento de boa qualidade. Essas intervenções incluem iniciativas diretas para identificar um atendimento apropriado e verificar se os prestadores individuais ou grupos de prestadores estão seguindo os padrões de práticas baseados em evidências. Intervenções diretas incluíram treinamento com feedback de colegas que observaram consultas e processos em um ambiente de cuidados de saúde. As políticas com o objetivo de melhorar a qualidade de serviço de saúde também incluíram intervenções indiretas para mudar o comportamento dos prestadores alterando as condições estruturais ou incentivos financeiros no sistema de cuidados de saúde ou em sua organização. A remuneração baseada em desempenho é uma forma de induzir os prestadores a fornecer um atendimento de melhor qualidade. Incentivos relativamente pequenos (3 a 10% da remuneração total do prestador) parecem ter efeitos significativos no comportamento de prestadores de serviços do Camboja, Haiti e Nicarágua, assim como nos Estados Unidos. México e Uganda usaram com sucesso o reconhecimento profissional com base em desempenho sem remuneração para promover processos melhores. Outras medidas indiretas incluem a definição de padrões legais para o atendimento. Acreditação, recertificação periódica de conhecimento e competência, e regulamentos administrativos podem estabelecer padrões mínimos ao controlar o acesso à prática profissional e estabelecer condições para a renovação da licença. Contudo, apesar de impedir que pessoas não-qualificadas exerçam a prática, essas medidas não tiveram, de modo geral, um impacto significativo na melhoria da qualidade do atendimento entre aqueles autorizados a clinicar. O litígio por má prática pode induzir a um atendimento de melhor qualidade, mas incertezas e incentivos perversos no processo judicial resultam em um mecanismo obtuso e dispendioso para a política pública. A supervisão profissional, a revisão de iguais e as inspeções são as melhores maneiras de obter informações sobre a qualidade de atendimento, mas são mais eficazes no fornecimento de informações sobre processos do que na melhoria do comportamento e da prática de fornecedores. O treinamento no uso de diretrizes e protocolos baseados em evidências demonstra ser uma promessa nos países de renda alta. Por exemplo, na Holanda, a implementação de diretrizes para a gestão de pacientes melhorou os resultados de saúde de pessoas com asma e doença pulmonar obstrutiva crônica. A educação direcionada e o treinamento profissional é a forma mais direta de afetar a prática da medicina. Foram depositadas grandes esperanças na continuação da formação médica, mas parece que isso teve pouco impacto nos resultados de saúde, a menos que fosse vinculada à estratégias que incentivassem mudanças na prática com base no conhecimento recebido. Um dos maiores desafios da política pública é melhorar a qualidade de atendimento fornecido pelos profissionais do setor privado. Essa é uma questão crítica em muitos países nos quais os profissionais do setor priva- “ . . . a continuação da formação médica . . parece que teve pouco impacto nos resultados de saúde, a menos que fosse vinculada à estratégias que incentivassem mudanças na prática com base no conhecimento recebido.” “ . . . o custo-eficácia para o aumento da adesão aos bons protocolos de tratamento da pneumonia fica entre US$132 e US$800 por vida salva. Para melhorias no tratamento correto da diarréia com terapia de reidratação oral, o custo-eficácia varia entre US$14 a US$500 por vida salva.” Pilares do Sistema de Saúde | 169 Box 7.5 Melhoria na qualidade reduz mortalidade maternal e infantil no Peru Ao reconhecer os fracassos de tentativas de treinamento anteriores para melhorar a qualidade dos serviços de saúde, o Ministério de Saúde, com o apoio da Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos e com a participação de instituições locais, desenvolveu um programa inovador no Peru. O programa foi implementado por equipes multidisciplinares em aproximadamente 2.500 unidades de saúde, incluindo 88 hospitais. O programa concentrou-se em (a) padronização do atendimento, (b) garantia da disponibilidade de suprimentos, (c) fazer melhor uso dos sistemas de informação, (d) promover ampla participação do pessoal na implementação de planos de ação locais, e (e) avaliar a satisfação dos pacientes e solucionar queixas. A principal atividade de treinamento mostrou como usar uma técnica participatória para solucionar problemas. No final do programa de três anos (1996-99), a demanda de serviços de saúde havia aumentado consideravelmente, a motivação e a satisfação dos pacientes e dos profissionais de saúde havia melhorado e a receita coletada nas unidades havia subido. As áreas com o programa de melhoria de qualidade experimentou uma redução de 25% nas taxas de mortalidade maternal entre 1997 e 1999, mas não houve mudança em outras áreas e a desigualdade na distribuição regional de mortalidade maternal não havia diminuído. Fonte: Adaptado do DCP2, capítulo 65. “. . . os investimentos em pessoas que fornecem serviços de saúde são fundamentais para alcançar o progresso contrata doença e o ferimento.” 170 | Prioridades em Saúde| do respondem pela maior parte do sistema de cuidados básicos de saúde. Por exemplo, na Índia, os profissionais de saúde do setor privado são os primeiros a receber a maioria dos pacientes com sintomas de tuberculose, e a menos que o setor público encontre formas de melhorar a identificação, seleção e referência de casos entre os profissionais do setor privado, o controle da tuberculose permanecerá distante. Os setores de saúde têm usado mudanças organizacionais para melhorar a qualidade da prestação de serviço de saúde, incluindo a adoção dessas técnicas modernas de gerenciamento como gestão de qualidade total, modelos de melhoria cooperativa, e ciclos de PDSA plan-do-studyact (planejar-fazer-estudar-agir) de outros setores. Quando eficazes, essas políticas resultam em maiores taxas de coberturas, melhores padrões de prescrição, e maior adesão às diretrizes clínicas (Box 7.5). Medidas que melhoram a qualidade do atendimento têm custos: os custos diretos dos recursos humanos e físicos e os custos da implementação de mudanças organizacionais. O DCP2 avalia o custo-eficácia para melhorar a qualidade de atendimento no tratamento da pneumonia e da diarréia. Ele conclui que o custo-eficácia para a melhoria da qualidade depende substancialmente da distância entre a prática atual e a prática ideal e da prevalência da doença. Quando as práticas atuais são deficientes e a prevalência é alta, o custo-eficácia para o aumento da adesão aos bons protocolos de tratamento da pneumonia fica entre US$132 e US$800 por vida salva. Para melhorias no tratamento correto da diarréia com ORT, o custo-eficácia varia entre US$14 a US$500 por vida salva. Nos outros casos, as intervenções reduzem o custo (poupam recursos), por exemplo, com a redução do excesso de prescrições ou com a restrição de tratamentos desnecessários (consulte, por exemplo, Box 6.4). RECURSOS HUMANOS O progresso técnico é quase sempre associado a novo e sofisticado equipamento, como os aparelhos de MRI (imagem de ressonância) e os scanners CT, ou a novos medicamentos, como vacinas e anti-coagulantes, mas o progresso técnico também é atribuído às habilidades aprimoradas para prevenir, diagnosticar e tratar doenças e lesões.3 Desse modo, investir em pessoas que prestam serviços de saúde é fundamental para o obter o avanço contra doenças e lesões. Países de renda média e baixa enfrentam determinados desafios em suas iniciativas de mobilizar e manter uma força de trabalho qualificada no setor de saúde em todas as áreas, desde recrutamento e treinamento até as políticas de pagamento, retenção, gratificações, motivação e implantação. A menos que os países possam aumentar substancialmente o número de profissionais de saúde, assim como suas habilidades, será difícil atingir as Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDMs) de saúde e nutrição. A redução da mortalidade maternal e neonatal, em especial, requer melhorias substanciais na assistência ao nascimento; o aumento da cobertura de programas de imunização requer mais pessoal; e a prevenção e tratamento da tuberculose, HIV/AIDS, e malária também demanda quadros qualificados. Parte do problema enfrentada pelos países de renda média e baixa é o suprimento insuficiente de profissionais de saúde. Por exemplo, enquanto nos países de renda alta há uma média de 283 médicos por 100.000 habitantes e a média global é de 146 médicos por 100.000 habitantes, o Peru tem 10, Papua Nova Guiné tem 7, e o Nepal tem 4, e 10 países na África Subsaariana têm menos de 3 médicos por cada 100.000 habitantes. Enfermeiras também são escassas. Enquanto nos países de renda alta há uma média de 750 enfermeiras por 100.000 habitantes e a média global é de 334, Papua Nova Guiné tem 67, Peru tem 6 e o Nepal tem 5, e 11 países na África Subsaariana têm menos de 20 enfermeiras por cada 100.000 habitantes. Os relativamente poucos profissionais de saúde dos países de renda média e baixa não são distribuídos uniformemente entre a população. De 3 Esta seção é baseada no DCP2, capítulos 3, 71, e 53 e 73. Pilares do Sistema de Saúde | 171 “. . . enfermeiras podem realizar muitas funções nos ambientes de atendimento básico de forma tão segura e eficaz quanto os médicos.” 172 | Prioridades em Saúde| modo geral, é difícil alocar médicos, e até enfermeiras, em áreas rurais remotas e os profissionais de saúde tendem a se concentrar nas principais áreas urbanas. Os sistemas de saúde pública lutam para manter pessoal qualificado diante da pressão do setor privado e para contratar profissionais por meio de agências internacionais e programas assistenciais. Muitos profissionais da saúde emigram para países de renda alta com remuneração e condições de trabalho melhores. Os profissionais da saúde que permanecem em seus países usam uma série de estratégias para enfrentar trabalhos mal remunerados e condições de trabalho desfavoráveis. Em muitos países, o absenteísmo é um grave problema, que ocorre de modo geral porque os profissionais de saúde buscam outras atividades remuneradas dentro ou fora do setor de saúde. A maioria dos médicos costumam ter dois empregos: eles recebem um salário do setor público, mas também ganham honorários pelo trabalho realizado no setor privado. Aqueles que têm apenas o emprego público por vezes fazem cobranças informais e ilegais para complementar a renda baixa. Além disso, a baixa produtividade é derivada da falta de qualificação, má supervisão, pouca educação contínua, instalações deterioradas e falta de suprimentos médicos básicos. Os países enfrentam esses problemas de recursos humanos de várias maneiras, incluindo uma forma inovadora de preencher vagas, mudanças nos incentivos financeiros e não-financeiros, e reformas organizacionais. O DCP2 examina a grande variedade dessas reformas e avalia as próprias intervenções e também seu grau de implementação e adaptabilidade ao contexto. Os países que buscam solucionar a falta de profissionais de saúde qualificados oferecendo treinamento para mais médicos e enfermeiras, algumas vezes, acham que o problema persiste devido às altas taxas de atrição. Para desestimular os profissionais de saúde a partir para o setor privado ou emigrar para países com melhor remuneração, alguns países alteraram a mescla de habilidades nos programas de treinamento para reduzir a portabilidade de títulos profissionalizantes. O treinamento pode ser adequado para determinadas necessidades de cuidados de saúde nacionais sem necessariamente ser reconhecido internacionalmente como um programa médico aceito. Dessa forma, os países podem reduzir o risco de perder pessoal treinado para a emigração. Muitas inovações na gestão de recursos humanos em países de renda baixa envolvem a criação de novas profissões de saúde, ou seja, categorias de profissionais de saúde que realizam uma variedade de funções que tradicionalmente foram reservadas para médicos ou enfermeiras. As associações de profissionais geralmente resistem a esse processo para proteger seus padrões e posições, no entanto, estudos realizados em países em desenvolvimento demonstraram que em alguns casos as enfermeiras podem realizar muitas funções nos ambientes de atendimento básico de forma tão segura e eficaz quanto os médicos. Como resposta direta à migração interna e externa, o Zimbábue introduziu um novo quadro conhecido como enfermeiras para atendimento básico com menos qualificações do que enfermeiras comuns. Malawi criou a profissão de dirigentes clínicos, que não recebem uma formação médica completa, mas ainda assim obtêm treinamento extensivo que os capacita a realizar uma série de procedimentos médicos, incluindo cirurgia e anestesia. Cirurgias cesarianas de emergência conduzidas por dirigentes clínicos são um pouco mais arriscadas do que as realizadas pelos médicos, mas os riscos são substancialmente menores do que não oferecer tratamento algum. É obviamente preferível adotar médicos qualificados onde eles possam ser contratados e mantidos e onde possam realizar procedimentos, mas onde não existe nenhum serviço médico, treinar e empregar profissionais de saúde menos qualificados pode fazer uma substancial diferença. A criação de novos tipos de profissionais de saúde é um tema comum no DCP2. Capítulo 68 discute como serviços de emergência podem ser estendidos para mais pessoas, solucionando uma carga substancial de “A China teve algum sucesso com a melhoria do tratamento de pacientes com tuberculose ao pagar médicos de aldeias por cada caso identificado e tratado . .” Box 7.6 Pagamentos de incentivo na China Na China, os médicos de aldeia têm um papel essencial no diagnóstico, tratamento e vigilância do paciente. Nos anos 80, a maioria trabalhava em clínicas particulares porque os planos de seguro das comunas haviam falido e os governos locais não estavam pagando os salários. A dependência de cobrança aos pacientes para medicamentos e serviços dificultou o fornecimento gratuito de tratamento de tuberculose, mesmo se recebessem medicamentos gratuitos. Foi criado um plano de incentivo pelo qual os médicos de aldeia recebiam US$1 por cada paciente inscrito no programa de tratamento, um adicional de US$2 por cada exame de esfregaço realizado no dispensário municipal para tuberculose em 2 meses após a inscrição, e mais US$4 por cada paciente que completasse o tratamento. Um sistema de relatórios monitorou o desempenho, e a qualidade do tratamento e informações relatadas foram verificadas por meio de visitas imprevistas e exames. O programa foi muito bem-sucedido, obtendo em 2 anos uma taxa de cura de 95% para novos casos. Os pagamentos de incentivo também foram largamente usados na China, em hospitais e mesmo em programas de saúde pública, e as pesquisas sugerem seus efeitos nocivos quando a capacidade para mudar o comportamento dos prestadores não é controlada. Na província de Shandong, mudanças nos sistemas de bônus para médicos hospitalares, de um sistema vinculado à quantidade de serviços prestados para um vinculado à receita gerada, revelara, que a mudança para bônus com base em receitas eram associados a um aumento significativo na receita hospitalar, mas um estudo separado concluiu que cerca de 20% da receita hospitalar era gerada pelo fornecimento de cuidados desnecessários. Fonte: DCP2, capítulo 3, box 3.4. Pilares do Sistema de Saúde | 173 “Para tratar da gestão de recursos humanos é necessário compreender como ela opera em um mercado competitivo.” 174 | Prioridades em Saúde| trauma, ao recrutar, treinar e apoiar motoristas de ônibus e táxi. O capítulo 56 discute o papel que os profissionais de saúde comunitários podem exercer no monitoramento do crescimento de crianças e fornecimento de educação nutricional e na seleção e referência de muitas condições comuns. O capítulo 26 discute a necessidade de parteiras qualificadas sem diploma de medicina. Em alguns lugares, dispensar atenção para as habilidades e métodos técnicos que são mais necessários do que o título de profissional de saúde pode significar a diferença entre prestar ou não um serviço. Os países também fizeram mudanças nos incentivos financeiros e nãofinanceiros. Salários mais altos costumam ser onerosos, uma vez que o gasto com folha de pagamento é responsável por 50 a 80% dos custos recorrentes, mas quando os incentivos financeiros visam metas específicas, eles podem ser eficazes. Por exemplo, a Tailândia melhorou a prestação de serviços nas áreas rurais quando passou a pagar bônus para médicos dispostos a trabalhar em locais mais remotos e oferecendo incentivos não-financeiros, incluindo relações contratuais diferentes, habitação, revisão de iguais e reconhecimento profissional. Outras iniciativas incluíram o aumento de salários com base no desempenho. Algumas delas envolvem reformas na administração pública nas quais revisões periódicas do desempenho dão início a aumentos salariais ou bônus. Em outros casos, pagamentos diretos estão ligados aos números de serviços fornecidos ou à realização de metas de desempenho. A China teve algum sucesso com a melhoria do tratamento de pacientes com tuberculose ao pagar médicos de aldeias por cada caso identificado e tratado (Box 7.6). Em outros casos, o pagamento vinculado ao desempenho pode na verdade ser prejudicial. Por exemplo, os incentivos geram receita adicional em hospitais na província de Shandong obtidos, em parte, pelo fornecimento de cuidados desnecessários. Incentivos não-financeiros podem ser tão eficazes quanto incentivos financeiros na alteração do comportamento do pessoal. Esses incentivos incluem proporcionar aos profissionais produtivos acesso a treinamento especial e oportunidades de promoção, reconhecer publicamente um bom desempenho, conceder bônus para com o objetivo de melhorar as condições locais de trabalho, delegar responsabilidades, e fornecer educação e habitação para dependentes. Muitos países usaram reformas organizacionais para alterar toda a estrutura na qual recrutam e empregam recursos humanos. Descentralizar funções de saúde para governos locais é uma importante tendência mundial. É quase sempre introduzida como uma reforma política geral na qual o setor de saúde, como outros setores de serviço público, precisa encontrar uma acomodação. A descentralização pode exacerbar problemas de remu- neração e retenção de profissionais de saúde, a menos que uma atribuição adequada de receitas acompanhe a atribuição de responsabilidades para governos locais. Os países também iniciaram amplas reformas administrativas para melhorar os salários, a supervisão e a retenção de profissionais do setor público. Infelizmente, pesquisas têm mostrado que poucas reformas de serviço administrativo dessa natureza resultaram em melhorias decisivas. Iniciativas em Uganda e Zâmbia para separar profissionais de saúde do serviço administrativo geral encontraram resistência política substancial e não foram implementadas. Finalmente, muitos governos estão contratando serviços de saúde de ONGs ou de prestadoras privadas. Algumas dessas iniciativas tiveram bastante sucesso, resultando em melhor cobertura e qualidade de serviços. A África do Sul teve uma experiência bem-sucedida ao contratar a gestão de vários hospitais para uma empresa privada, e o Camboja usou com sucesso contratos de desempenho com ONGs para prestar serviços de saúde básicos. Em outros casos, contudo, os mesmos pontos fracos da administração pública na supervisão dos profissionais de saúde pública foram simplesmente transferidos para os pontos francos na supervisão de contratos, deixando para as ONGs ou prestadoras privadas a função de absorver recursos sem cumprir suas responsabilidades. Os modelos tradicionais de planejamento de recursos humanos tendiam a ser mecânicas, supondo que pessoas treinadas como médicos e enfermeiras poderiam ser facilmente empregadas em qualquer lugar onde fossem necessárias. Esses modelos ignoraram uma grande variedade de oportunidades disponíveis para profissionais de saúde em seus próprios países assim como no exterior. Para tratar da gestão de recursos humanos é necessário compreender como ela opera em um mercado competitivo. Os profissionais de saúde continuam a ser motivados por sua vocação, mas também são influenciados por iniciativas financeiras e não-financeiras, condições de trabalho, e acesso a oportunidades de desenvolvimento profissional. Os acordos inavodores com pessoal prometem atender algumas das necessidades de profissionais de saúde treinados. Experimentos em gestão de pessoal e reforma organizacional pode resultar em formas mais eficazes de recrutar, conservar e empregar profissionais de saúde no futuro. “ . . . mobilizar fundos para financiar intervenções na saúde pública é difícil porque alguns cuidados de saúde são caros e porque não é fácil aumentar receitas em países de renda média e baixa.” “. . . considerando que o seguro de saúde financia uma parcela substancial das despesas com saúde privada em países de renda alta, essas despesas são predominantemente gastos FINANCIAMENTO do bolso do paciente em O financiamento é mais um importante desafio enfrentado por países de renda média e baixa .4 Trata-se de um duplo desafio: mobilizar fundos países de renda baixa” 4 Esta seção é baseada no DCP2, capítulos 11, 12 e 13. Pilares do Sistema de Saúde | 175 “As receitas fiscais respondem por 14,5% do PIB nos países de renda baixa, comparados aos 26,5% dos países de renda alta.” “. . . o financiamento público é um recurso essencial para o sucesso de boa parte, se não de toda, saúde pública do mundo inteiro.” 176 | Prioridades em Saúde| suficientes para operar o sistema de saúde e aplicar bem esses fundos. Contudo, mobilizar fundos para financiar intervenções na saúde pública é difícil porque alguns cuidados de saúde são caros e porque não é fácil aumentar receitas em países de renda média e baixa. Financiar despesas de saúde é caro. Em 2001, o mundo gastou cerca de US$3 trilhões em saúde, mas essa quantia não foi distribuída igualmente. Somente 12% do total foi gasto com a população dos países de renda média e baixa, apesar de responderem por 84% da população mundial e por 92% da carga de doenças. Os países de renda baixa gastaram aproximadamente US$25 per capita em 2001, enquanto os países de renda média gastaram uma média de US$176 per capita e os países de renda alta uma média de US$1.527 per capita, mas esses valores são apenas médias. Os países mais pobres do mundo, como Etiópia e Nepal, gastaram a menor quantia em saúde, cerca de US$2 ou US$3 per capita, na melhor das hipóteses, enquanto o Canadá, Japão, Estados Unidos e Europa Ocidental gastam entre US$2.000 e US$5.000 per capita. O gasto em saúde está fortemente correlacionado à renda nacional. Os países mais ricos não somente gastam mais em saúde, mas também investem uma proporção maior da renda nacional em saúde. Portanto, em média, os países da África Subsaariana gastam cerca de 4,5% da renda nacional em saúde comparados aos gastos médios de 7,7% investidos pelos países de renda alta. Além disso, os países mais ricos financiam uma parcela maior da despesa em saúde por meio de mecanismos públicos. As receitas fiscais e os prêmios de seguro de saúde respondem por 70% das despesas com saúde nos países de renda alta, mas são responsáveis por uma média de 50% das despesas com saúde dos países de renda baixa. Além disso, considerando que o seguro de saúde financia uma parcela substancial das despesas com saúde privada em países de renda alta, essas despesas são predominantemente gastos do bolso do paciente em países de renda baixa. É difícil levantar receitas para aumentar o gasto público em saúde nos países de renda média e baixa. As receitas fiscais respondem por 14,5% do PIB nos países de renda baixa, comparados aos 26,5% dos países de renda alta. Os impostos sobre folha de pagamento do setor de saúde e os benefícios de aposentadoria, ou seja, as contribuições para previdência social são ainda mais restritas nos países de renda baixa porque a parcela de empregos formais tende a ser pequena. As contribuições para previdência social representam menos de 1% do PIB nos países de renda baixa, mas somam 7,2% nos países de renda alta. Os impostos sobre a venda de determinados produtos básicos, como álcool e tabaco, podem ser vistos tanto como intervenções na saúde quanto como fontes de receitas. O DCP2 mostra que subir o preço do álcool e do tabaco é uma medida altamente custo-efetiva para desistimular o consumo excessivo e, conseqüentemente, reduzir a carga de doenças associada a esse tipo de comportamento. Além disso, os impostos sobre álcool e tabaco podem gerar receitas para o governo. Alguns países destinam esses impostos para campanhas de saúde com o objetivo de encorajar as pessoas a pararem de fumar ou a consumir ácool com moderação. O financiamento público tem um papel importante em serviços de saúde, especialmente nos países de renda alta, e mesmo nos Estados Unidos, onde o seguro de saúde pública para os idosos (Medicare), para os mais pobre (Medicaid), e para os militares (Veterans Administration) responde por mais da metade de todas as despesas com saúde. Há uma forte razão para o financiamento público da saúde. Os economistas comprovaram que o mercado de serviços de saúde não funciona bem se deixado por conta própria. Por exemplo, os consumidores não podem pesquisar os melhores e mais baratos serviços de saúde como o fazem quando procurar outros tipos de serviços. Além disso, é pouco provável que os mercados privados aloquem recursos suficientes para medidas preventivas que tenham um grande efeito no status de saúde coletiva de uma população, como vacinação de crianças ou controle de riscos ambientais. O financiamento público também proporciona à sociedade uma ferramenta política que pode ser usada para criar incentivos para melhorar a qualidade dos serviços de saúde, conter custos, corrigir desigualdades ou ampliar o acesso. Notavelmente, o financiamento público é um recurso essencial para o sucesso de boa parte, se não de toda, saúde pública do mundo inteiro (consulte o capítulo 2 neste volume e o capítulo 8 do DCP2). O envolvimento público em cuidados de saúde não é uma panacéia, mas é a principal forma escolhida por muitos países para lidar com cuidados de saúde, e o DCP2 argumenta que o recurso público deve financiar pelo menos alguns serviços de saúde em todos os países. Nos países de renda média e baixa, onde a despesa pública é baixa, o acesso à saúde geralmente depende da condição financeira das famílias. Isso ocorre quando se busca tratamento não apenas em prestadoras de serviços privados, mas também, em muitos casos, em prestadoras de serviços públicos. Os serviços de saúde pública costumam cobrar taxas para recuperar uma parte de seus custos, mas mesmo nos sistemas onde os serviços públicos são ostensivamente gratuitos, os pacientes e suas famílias podem ser coagidos a pagar informalmente para obter acesso a serviços ou podem ser solicitados a fornecer a própria alimentação, roupa de cama e até mesmo medicamentos. O DCP2 não pode concluir o debate sobre a cobrança de serviços de saúde nos países de renda média e baixa. Alguns capítulos argumentam “. . . onde os serviços públicos são ostensivamente gratuitos, os pacientes e suas famílias podem ser coagidos a pagar informalmente para obter acesso a serviços, ou podem ser solicitados a fornecer a própria alimentação, roupa de cama e até mesmo medicamentos.” “... o fornecimento de uma cesta de serviços de saúde que fizesse uma diferença substancial para a saúde da população, custa entre US$12 e US$50 per capita ao ano.” Pilares do Sistema de Saúde | 177 “Nos países de baixa renda, a assistência para o desenvolvimento do setor saúde foi responsável por uma média de 20% de todas as despesas com saúde comparadas aos cerca de 3% dos países de renda média.” 178 | Prioridades em Saúde| que as conseqüências negativas de se desencorajar as pessoas a obter tratamento compensam os benefícios de aumentar as receitas por meio de impostos. Alguns capítulos até mesmo justificam os preços negativos, ou seja, pagar as pessoas para incentivá-las a obter tratamento ou cuidado preventivo e indicam vários casos de sucesso. Por exemplo, no Tajikistão, os pacientes pobres com tuberculose recebem suplementos alimentares se seguirem o tratamento completo, resultando em uma maior adesão. Em outro programa de sucesso no México, o governo paga um subsídio para as famílias pobres desde que levem os filhos para vacinação e exames regulares nas clínicas, e garantam a freqüência das crianças à escola. Contudo, esses pagamentos também têm um impacto na produtividade dos serviços de saúde nesses lugares onde eles funcionam para garantir a disponibilidade de medicamentos ou para reduzir o absenteísmo, e nesses casos pode ajudar a sustentar serviços usados pelos pobres. Além de tudo, o DCP2 assume uma postura pragmática, encorajando os países a eliminar as barreiras financeiras ao atendimento médico onde for possível e a garantir que quando forem cobradas taxas, elas melhorem comprovadamente a produtividade e a qualidade dos cuidados de saúde disponível para a população de baixa renda. As receitas do DCP2 para o financiamento do setor de saúde variam consideravelmente entre países de renda média e baixa. Nos países de renda baixa, os níveis absolutos de renda e receitas fiscais restringem severamente as possibilidades de um financiamento adequado e cuidados de saúde universal. Na década passada, vários estudos estimaram os custos do fornecimento de saúde básica. Esses exercícios estimaram que o fornecimento de uma cesta de serviços de saúde que fizesse uma diferença substancial para a saúde da população custa entre US$12 e US$50 per capita ao ano. Embora essas somas estejam ao alcance da maior parte dos países de renda média, elas não são viáveis nos países de renda baixa sem uma boa dose de assistência externa. Portanto, o problema enfrentado pelos países de renda baixa é multifacetado. Por um lado, eles precisam aumentar as receitas domésticas, uma abordagem que pode no máximo gerar um adicional de 1 ou 2% do PIB. Por outro lado, os países de renda baixa precisam usar os recursos que têm de fontes nacionais e estrangeiras da forma mais eficiente possível. É essa última estratégia—derivando o maior ganho em saúde da novas e atuais despesas com saúde— que motivou o Projeto “Prioridades do Controle de Doenças”. Nos países de renda média, os problemas de financiamento são diferentes e os recursos econômicos e institucionais para solucioná-los são mais sólidos. Os países de renda média podem financiar boa parte das despesas do setor de saúde com fontes nacionais, mas eles enfrentam uma série de opções para moldar a estrutura do financiamento em saúde, com importantes implicações na eqüidade e produtividade. As opções de diferentes mecanismos de financiamento também têm importantes implicações para aqueles que arcam com os custos da saúde: a população toda pode dividir os custos, fornecendo assim um seguro eficaz para aqueles que tiverem a falta de sorte de adoecer, ou isso pode recair severamene sobre aqueles que estão doentes. Alguns países estão escolhendo financiar serviços de saúde com receitas fiscais gerais, enquanto outros estão dependendo dos impostos sobre folha de pagamento e de esquemas de seguro social. Os países de renda média usam, em geral, as duas abordagens para diferentes grupos da população. As iniciativas para promover a cobertura do seguro de saúde por meio de esquemas voluntários também estão em andamento. Há fortes argumentos em favor da fusão do risco financeiro associado ao pagamento pelo serviço de saúde entre o maior número de habitantes possível, pagando efetivamente pelo serviço de saúde da população de baixa renda e de doentes com impostos e prêmios pagos por aquelas pessoas mais saudáveis e mais ricas. O capítulo 12 do DCP2 avalia essas diferentes abordagens. A assistência externa para o desenvolvimento tem uma função muito mais importante na política de saúde dos países de renda baixa do que nos países de renda média. Nos países de renda baixa, a assistência para o desenvolvimento do setor de saúde foi responsável por uma média de 20% de todas as despesas gastas em saúde, comparados aos cerca de 3% dos países de renda média. Em 13 países da África Subsaariana, o financiamento externo representou mais de 30% de toda as despesas gastas em saúde. Em termos gerais, a assistência para o desenvolvimento declinou nos anos 90 e representou somente 0,25% da renda nacional bruta dos países mais ricos do mundo, apesar de seus compromissos públicos de contribuír com 0,70% da renda total para a assistência internacional para o desenvolvimento. Apesar da tendência mundial, a assistência para o desenvolvimento do setor de saúde aumentou durante a última década, embora ainda seja muito baixa para atingir as metas internacionais de saúde. A ajuda internacional para saúde cresceu de US$6,7 bilhões em 1997-99 para US$9,3 bilhões em 2002. Isso inclui fundos de organismos bilaterais de desenvolvimento e bancos multilaterais de desenvolvimento, mas também cada vez mais de fundações privadas, como a Fundação Bill & Melinda Gates, e de novas iniciativas globais, como o Fundo Global de Combate à AIDS, Tuberculose e Malária e a GAVI. Contudo, é necessário destinar anualmente de US$60 bilhões a US$70 bilhões à assistência para o desenvolvimento da saúde a fim de atender as metas de saúde das MDM, significatiPilares do Sistema de Saúde | 179 vamente mais do que os níveis atuais. Como ocorre com os recursos nacionais, boa parte do debate sobre assistência internacional para o desenvolvimento diz respeito a como torná-la eficaz. O DCP2 analisa uma série de iniciativas com o objetivo de tornar a assistência para o desenvolvimento mais eficaz ao redirecioná-la para medidas custo-eficientes, mas também pela redução dos custos de transação, melhoria da coordenação e aumento da adesão dos países. Algumas das inovações mais promissoras envolvem programas baseados em desempenho que desembolsam fundos mediante resultados, como o de atingir metas de cobertura de imunização. Outras iniciativas envolveram governos de países anfitriões com organismos internacionais e acionistas internos no desenvolvimento e realização de planos setoriais coordenados vinculados à redução de pobreza e metas de melhores condições de saúde. Os novos fundos criados pelas iniciativas globais deram especial atenção a determinadas doenças e desafios dos países de renda baixa. A ação global também está sendo assumida para incentivar a pesquisa e o desenvolvimento de vacinas e medicamentos não apenas por meio de financiamento direto, mas também pelo estabelecimento de compromissos de compra antecipada. As decisões sobre como financiar os cuidados de saúde exercem forte influência na forma como o sistema de saúde funcionará em qualquer país, mas os países de renda média e baixa podem aproveitar mais os fundos com a alocação de recursos para intervenções custo-eficientes e com a mobilização de fundos adicionais para apoiar melhorias no setor de saúde. Para que os países de renda baixa superem os desafios atuais da saúde será necessário que os países mais ricos cumpram seus compromissos de aumentar a assistência internacional para o desenvolvimento da saúde, exatamente como se exige dos países de renda baixa que enfrentem o desafio de absorver esses fundos de modo a empregá-los para melhorar efetivamente a saúde de suas populações. 180 | Prioridades em Saúde| Capítulo 8 O caminho à frente: um plano de ação É necessário um grande progresso na área de saúde, e esse grande progresso é possível. O DCP2 relata grandes sucessos que foram obtidos em saúde humana no decorrer do século passado. As intervenções na saúde pública reduziram a mortalidade infantil, preveniram epidemias e trataram doenças crônicas. Com estudos que examinam as tendências históricas até aqueles que analisam casos específicos, o DCP2 deixa claro que essas conquistas são principalmente uma conseqüência do progresso técnico, compreendido de modo amplo para incluir não somente as intervenções médicas inovadoras, mas também as iniciativas em saúde pública, as melhorias na organização e no financiamento da prestação de serviços, além de mudanças benéficas em outros setores. Esperar pelo crescimento econômico para melhorar a saúde seria um erro, tendo em vista tudo o que pode ser obtido com o desenvolvimento e a aplicação do conhecimento. A valorização dos sucessos passados, contudo, não deve impedir o reconhecimento da extensão e da gravidade dos desafios que ainda estão por vir. Muitos desses desafios envolvem doenças infecciosas que estão concentradas de modo desproporcional entre os pobres. O HIV/AIDS é proeminente devido à ruptura social que causou em países com maior prevalência e à necessidade urgente de diversos tipos de ações para prevenção e tratamento da doença. A carga de doença da malária continua alta, apesar das décadas de trabalho para reduzi-la, e a emergência dos parasitas resistentes às drogas torna o controle de doenças infecciosas como a malária e a tuberculose uma meta sempre em movimento. Alguns desafios chamam a atenção diretamente para a fragilidade dos sistemas de saúde. O DCP2 indica que a lacuna entre os países de alta e baixa renda em relação ao risco de morte durante o parto é de 500 para 1 — o maior contraste entre todos os indicadores de saúde — e a redução 181 “Os países de renda média e baixa também podem prever o . . . aumento da mortalidade por acidentes de trânsito ou contaminantes ambientais, e precisam adotar ações custoefetivas hoje para evitar mortes desnecessárias amanhã.” da mortalidade materna exige a disponibilidade de uma série de serviços conexos para abordar os fatores de risco e as complicações. O desafio de reduzir a mortalidade infantil, principalmente durante o período neonatal, também depende muito da ação pública para garantir que uma gama de serviços básicos de saúde de qualidade estejam disponíveis para todos. Os países desenvolvidos e em desenvolvimento compartilham grande parte da carga de doenças não transmissíveis, como a alta carga de doenças cardiovasculares e diabetes. A resposta para os desafios exige esforços de colaboração para conhecer as melhores formas de prevenir e tratar essas doenças. Os países de renda média e baixa também podem prever as tendências que os países de alta renda já experimentaram, como o aumento da mortalidade por acidente de trânsito ou contaminantes ambientais, e precisam adotar ações custo-efetivas hoje para evitar mortes desnecessárias amanhã. Finalmente, a aplicação desigual de conhecimentos e recursos resulta em hiatos de saúde injustificáveis entre ricos e pobres, seja dentro ou entre países. Garantir que os benefícios do progresso técnico e científico sejam compartilhados com rapidez e eficácia em uma escala global talvez seja o maior desafio de todos. Embora a seleção e o desenho das intervenções não seja algo que possa ser caracterizado em um único plano universal, algumas características comuns surgem do DCP2: • “. . . são necessários mais recursos para • intervenções em saúde • em países de baixa • renda a fim de reduzir • as desigualdades notórias.” 182 | Prioridades em Saúde| • Garantir que as intervenções custo-efetivas para tratamento das principais cargas de doenças sejam fornecidas e estejam disponíveis para todos é a única forma de preencher a lacuna de saúde entre os que têm e os que não têm. Ter o financiamento público adequado é um ingrediente crítico para intervenções de saúde pública bem-sucedidas. A redução das grandes lacunas existentes na área de saúde exige assistência técnica e financeira internacional maior e mais efetiva. A melhoria da saúde geralmente exige colaboração com outros setores, como transporte, educação, agricultura, execução das leis e financeiro. O fortalecimento dos sistemas de saúde multiplica o efeito dos gastos, aumentando o custo-eficácia das intervenções na saúde e permitindo uma maior integração dos serviços. É necessário ampliar o conhecimento em ciências básicas, ciências aplicadas e gerencial para o descobrimento e desenvolvimento de produtos que alimentarão o progresso no futuro. Portanto, a pesquisa e a análise do DCP2 gera duas mensagens principais. Em primeiro lugar, são necessários mais recursos para intervenções de saúde mais eficazes nos países de baixa renda afim de reduzir as desigualdades notórias. Com mais recursos, as intervenções com alto custo-eficácia que melhoram a saúde, como vacinas básicas, medicamentos para desparatização e terapia de reidratação oral (ORT), podem ser levadas aos lugares que ainda são carentes delas. Com mais recursos, a cobertura dos serviços básicos de saúde pode ser ampliada e se tornar mais eqüitativa. Também podem ser canalizados mais recursos para a pesquisa, com prioridade para doenças para as quais ainda não existem intervenções custo-efetivas disponíveis e obstáculos para a prestação efetiva de serviços de saúde onde as instituições existentes estão falhando. A segunda mensagem é que poderia ser feito muito mais para melhorar a saúde com os recursos existentes se houvesse uma maior aplicação do conhecimento de intervenções custo-efetivas. O DCP2 mostra que os recursos atuais podem gerar ganhos substanciais na saúde quando o conhecimento de intervenções custo-efetivas é posto em prática. Os recursos são desperdiçados quando são selecionadas as intervenções incorretas ou quando o atendimento de má qualidade é aceito como norma. Com a documentação da escala da carga de doenças, do custo-eficácia das diversas intervenções e das soluções práticas disponíveis para garantir a implementação, o DCP2 fornece planos para uma melhor atuação, mesmo em circunstâncias adversas. A aplicação das informações, análises e estratégias mostradas no DCP2 exige uma avaliação cuidadosa da situação local, incluindo padrões de doença, capacidade institucional e recursos. Com a combinação das percepções do DCP2 com o conhecimento da situação local, os atores de vários níveis — desde parlamentares e ministros da saúde até administradores de hospitais, agentes de saúde e cidadãos envolvidos — poderão definir prioridades, selecionar as intervenções adequadas, identificar melhores meios de fornecimento, melhorar a gestão e mobilizar os recursos de modo mais eficaz. Desse modo, os benefícios do progresso técnico na melhoria da saúde podem ser ampliados e compartilhados por todos. “muito mais para melhorar a saúde com os recursos existentes se houvesse uma maior aplicação do conhecimento de intervenções custoefetivas.” O caminho à frente: um plano de ação | 183 Referências Abdool, R. 1998. “Alcohol Policy and Problems in Mauritius.” Paper prepared for the World Health Organization Alcohol Policy in Developing Societies Project, World Health Organization, Geneva. Afukaar, F. K. 2003. “Speed Control in LMICs: Issues, Challenges, and Opportunities in Reducing Road Traffic Injuries.” Injury Control and Safety Promotion 10 (1–2): 77–81. Breman, J. G., M. S. Alilo, and A. Mills. 2004. “Conquering the Intolerable Burden of Malaria: What’s New, What’s Needed: A Summary.” American Journal of Tropical Medicine and Hygiene 71 (2 suppl.): 1–15. Hinkle, L. E., and A. 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Antes de entrar para a UCSF, Dr. Jamison fez parte do corpo docente da Universidade da Califórnia, Los Angeles, também trabalhou vários anos no Banco Mundial, onde foi economista sênior do Departamento de Pesquisas, chefe da Divisão de Política de Educação e Chefe da Divisão de População, Saúde e Nutrição. Em 1992-93 ele retornou temporariamente ao Banco Mundial para exercer o cargo de Diretor do Escritório do Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial e de principal autor do Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 1993: Investimento em Saúde. Tem trabalhos publicados nas áreas de teoria econômica, saúde pública e educação. Dr. Jamison estudou em Stanford (Bacharéu em Filosofia; Mestre em Ciências da Engenharia) e em Harvard (PhD em Economia, sob a orientação de K.J. Arrow). Em 1994, foi eleito membro do Instituto de Medicina da Academia Nacional de Ciências dos EUA. Joel G. Breman, M.D., D.T.P.H., é Consultor Científico Sênior dos Institutos Nacionais de Saúde do Fogarty International Center (FIC) e Co-Editor Gestor do Projeto de Prioridades no Controle de Doenças [Same question as for Dean—it’s all over this book that Joel is one of the editors]. Estudou na Universidade da Califórnia, Los Angeles (USCLA), na Keck School of Medicine, da University of Southern California e na London School of Hygiene and Tropical Medicine. O Dr. Breman foi residente de medicina no County Medical Center da 189 UCLA de doenças infecciosas no Boston City Hospital da Harvard Medical School; e de epidemiologia nos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Trabalhou na erradicação da varíola na Guiné (1967-69); em Burkina-Fasso, na Organização para Coordenação e Cooperação no Controle de Importantes Doenças Endêmicas (1972-76); e na Organização Mundial de Saúde, em Genebra (1977-80), onde foi responsável pela pesquisa e certificação da erradicação do orthopoxvirus. Em 1976, na República Democrática do Congo (antigo Zaire), o Dr. Breman investigou o primeiro surto da febre hemorrágica Ebola. Após a confirmação da erradicação da varíola em 1980, retornou ao CDC, onde começou a trabalhar com epidemiologia e controle da malária. Em 1995, entrou para o FIC onde é Diretor do Programa Internacional de Treinamento e Pesquisa em Doenças Infecciosas Emergentes e Consultor Científico Sênior. É membro de vários grupos de consultoria, exercendo, inclusive, os cargos de Presidente do Grupo de Consultoria Técnica sobre a Manifestação Humana do Vírus da Varíola do Macaco e membro da Comissão Internacional da OMS para a Certificação da Erradicação da Dracunculiasis (verme da guiné). O Dr. Breman tem mais de 100 trabalhos publicados sobre doenças infecciosas e fortalecimento da capacidade de pesquisa nos países em desenvolvimento. Foi editor convidado de dois suplementos do American Journal of Tropical Medicine and Hygiene: The Intolerable Burden of Malaria: A New Look at the Numbers (A intolerável carga da malária: uma nova avaliação dos números) (2001) e The Intolerable Burden of Malaria: What ’s New, What ’s Needed (A intolerável carga da malária: o que há de novo e o que é necessário) (2004). Dr. Anthony Measham é Co-Editor-Chefe do Projeto de Prioridades no Controle de Doenças do Fogarty International Center dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA[Same question as for Dean and Joel]; ViceDiretor do Projeto de Comunicação das Prioridades em Saúde do Population Reference Bureau, Washington, D.C.; e membro do grupo de trabalho da Global Alliance on Vaccines and Immunization (GAVI) como representante do Banco Mundial. Natural do Reino Unido, o Dr. Measham foi médico de família em Dartmouth, Nova Escócia, Canadá, antes de dedicar sua carreira até hoje à saúde mundial. Morou 15 anos em países em desenvolvimento como representante do Population Council (na Colômbia), da Ford Foundation (em Bangladesh) e do Banco Mundial (Índia). No início de sua carreira internacional em saúde, foi Vice-Diretor do Center for Population and 190 | Sobre os Editores Family Health na Universidade de Columbia, Nova Iorque, de 1975 a 1977. Trabalhou depois por 17 anos na equipe do Banco Mundial como Consultor em Saúde, de 1984-1988 e como Chefe de Política e Pesquisa da Divisão de Nutrição e População do Banco Mundial de 1988-1993. O Dr. Measham passou a maior parte de sua carreira prestando assistência técnica, desenvolvendo pesquisa e análise e ajudando a desenvolver projetos em mais de 20 países em desenvolvimento, principalmente nas áreas de saúde materno-infantil e planejamento familiar e nutrição. Foi um dos editores da 1a edição do Disease Control Priorities in Developing Countries (1993) e é autor de cerca de 60 monografias, capítulos de livros e artigos de jornal. Dr. Measham graduou-se em Medicina pela Dalhousie University, em Halifax, Nova Escócia, Canadá. Obteve os títulos de Mestre e Doutor em Saúde Pública pela University of North Carolina, em Chapel Hill e é diplomata do American Board of Preventive Medicine and Public Health. Seus títulos incluem a eleição para o Alpha Omega Alpha Honor Medical Society; indicação para Professor Especial de Saúde Internacional da Faculdade de Medicina da University of Nottingham, Nottingham, Reino Unido; e escolha como Ex-Aluno de Medicina do Ano da Dalhousie University no período 2000-01. Sir George Alleyne, M.D., F.R.C.P., F.A.C.P. membro do Royal College of Physicians] F.A.C.P. (Hon) [membro honorário do American College of Physicians], DSc (Hon) [Doutor em Ciências honoris causa], é Diretor Emérito da Organização Pan-americana de Saúde (PAHO) onde foi Diretor de 1995 a 2003. Dr. Alleyne nasceu em Barbados e formou-se em Medicina pela University of the West Indies (UWI) em 1957. Fez curso de pós-graduação em medicina interna no Reino Unido e realizou outros trabalhos de pós-graduação naquele país e nos Estados Unidos. Ingressou na medicina acadêmica na UWI em 1962 e sua carreira incluiu pesquisa no Tropical Metabolism Research Unit para seu Doutorado em Medicina. Em 1972 foi nomeado Professor de Medicina da UWI e quatro anos mais tarde tornou-se Chefe do Departamento de Medicina. É Professor Emérito da UWI. Ingressou na Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em 1981; em 1983 foi indicado Diretor da Área de Programas de Saúde; em 1990 foi Diretor Assistente. As publicações científicas do Dr. Alleyne estão relacionadas a sua pesquisa em fisiologia renal e bioquímica e a vários aspectos da medicina clínica. Durante seu período como Diretor ele vem trabalhando e publicando trabalhos sobre questões como equidade em saúde, saúde e desenSobre os Editores | 191 volvimento e a base da cooperação internacional em saúde. Tem tratado também de diversos aspectos da saúde no Caribe e dos problemas enfrentados. É membro do Instituto de Medicina e Chanceler da University of the West Indies. O Dr Alleyne já recebeu inúmeros prêmios em reconhecimento por seu trabalho, inclusive condecorações e honras nacionais de muitos países das Américas. Em 1990, recebeu o título de Cavaleiro de Sua Majestade a Rainha Elizabeth II por seus serviços prestados à Medicina. Em 2001, foi condecorado com a Ordem da Comunidade do Caribe, o maior tributo que se pode conferir a uma pessoa nascida no Caribe. Mariam Claeson, M.D., M.P.H., é Cordenadora do Programa de AIDS para a Região do Sul da Ásia do Banco Mundial desde janeiro de 2005. Foi Especialista-Chefe em Saúde Pública da Divisão de Saúde, Nutrição e População (SNP) da Rede de Desenvolvimento Humano do Banco Mundial (1998-2004), gerenciando o programa de trabalho das Metas de Desenvolvimento do Milênio em SNP para apoiar a agilização do progresso nos países, inclusive a secretaria conjunta Banco Mundial/OMS para o Fórum de Alto Nível sobre as MDMs relacionadas à Saúde. Foi coautora do apelo à ação do grupo de estudo de Bellagio sobre sobrevivência infantil em 2003: Knowledge into Action for Child Survival (Conhecimento em ação para a sobrevivência infantil) e do relatório do Banco Mundial sobre as Metas de Desenvolvimento do Milênio na Saúde: Fazendo Frente aos Desafios (2005). Foi membro do What Works? Working Group (Grupo de trabalho “O que funciona?”) patrocinado pelo Center for Global Development que deu origem ao relatório Millions Saved: Proven Successes in Global Health (Milhões salvos: êxitos comprovados em saúde global) (2005). A Dra. Cleason é co-autora do capítulo sobre saúde do livro de referência da Estratégia de Redução da Pobreza, promovendo uma abordagem de ciclo de vida para a saúde materno-infantil e nutrição. Como coordenadora do grupo temático sobre Saúde Pública (1998-2002) liderou o desenvolvimento da nota sobre estratégia: Saúde Pública e Operações do Banco Mundial e promoveu abordagens multissetoriais de saúde infantil no Banco Mundial e em operações apoiadas pelo Banco Mundial em países, trabalho analítico e operações de concessão de empréstimos. Antes de entrar para o Banco Mundial, Mariam Claeson trabalhou na OMS de 1987 a 1995. Nos últimos anos foi gerente de programa do Programa Mundial da OMS para o Controle de Doenças Diarréicas 192 | Sobre os Editores (CDD). Possui vários anos de experiência de campo, trabalhando na prática clínica em municípios das áreas rurais de países em desenvolvimento (na Tanzânia, Bangladesh e Butão); na gerência do programa nacional de imunização e controle de doenças diarréicas (Etiópia 198486); e em projetos de desenvolvimento do setor de saúde em países de renda média e baixa. David B. Evans é especializado em economia. Entre 1980 e 1990 foi acadêmico, primeiro em departamentos de economia e depois numa faculdade de medicina, período em que prestou consultoria para o Banco Mundial, OMS e para o governo. De 1990-98 patrocinou e realizou pesquisa nos aspectos sociais e econômicos das doenças tropicais e seu controle no Programa Especial de Pesquisa e Treinamento em Doenças Tropicais do UNICEF/PNUD/Banco Mundial/OMS. Posteriormente foi Diretor do Global Programme on Evidence for Health Policy e depois do Departamento de Financiamento de Sistemas de Saúde da OMS, onde é atualmente responsável por uma série de atividades relacionadas ao desenvolvimento de estratégias e políticas de financiamento adequado para a saúde. Entre elas figura o projeto WHO-CHOICE que avaliou e relatou os custos e a eficácia de mais de 700 intervenções em saúde, os custos de ampliação das intervenções, gastos e contas da saúde, a extensão da catástrofe financeira e do empobrecimento devido aos pagamentos diretos de saúde e avaliação do impacto dos diferentes tipos ou maneiras de levantar recursos para a saúde, de reuni-los e utilizá-los para prestar ou comprar serviços e intervenções. Tem muitas publicações nessas áreas. Prabhat Jha é Chefe do Departamento de Pesquisa de Saúde e Desenvolvimento da Universidade de Toronto, Canadá. É Diretor Fundador do Centre for Global Health Research do St. Michael’s Hospital, Professor Associado do Departamento de Ciências de Saúde Pública da Universidade de Toronto e Pesquisador Sênior do McLaughlin Centre for Molecular Medicine. O Dr Jha é também Professeur extraordinaire da Université de Lausanne, Suíça. O Dr. Jha é principal autor de Curbing the Epidemic: Governments and the Economics of Tobacco Control (Contenção da Epidemia: Governos e a Economia do controle do tabaco) e Co-Editor of Tobacco Control in Developing Countries (Controle do tabaco nos países em desenvolvimento). Ambos estão entre os livros mais influentes sobre o controle do tabaco. Dr. Jha é o principal investigador de um estudo prospectivo de 1 mi- Sobre os Editores | 193 lhão de óbitos na Índia, pesquisando a mortalidade causada pelo fumo, uso de álcool, padrões de fertilidade, poluição do ar em ambientes internos e outros fatores de risco entre 2,3 milhões de lares e 15 milhões de pessoas. Esse é o maior estudo prospectivo de saúde do mundo (www.cghr.org/project.htm). Realiza também estudos sobre a transmissão do HIV em vários países, focando especificamente a documentação dos fatores de risco para a disseminação do HIV e intervenções para prevenir o crescimento da epidemia do HIV. Seus estudos receberam mais de US$5 milhões em subsídios após revisão de iguais. Dr.Jha tem várias publicações sobre tabaco, HIV/AIDS e saúde dos pobres de todo o mundo. Seus prêmios incluem uma medalha de ouro da Fundação de Promoção da Saúde da Polônia (2000), os 40 Principais Canadenses com menos de 40 anos (2004) e o Ontario Premier’s Research Excellence Award (2004). Dr. Jha foi Pesquisador Sênior da Universidade de Toronto e da McMaster University do Canadá. Graduou-se em Medicina pela University of Manitoba, Canadá e é D. Phil em Epidemiologia e Saúde Pública da Universidade de Oxford, Inglaterra, onde estudou como Rhodes Scholar no Magdalen College. Anne Mills é Professora de Economia da Saúde e Política na London School of Hygiene and Tropical Medicine. Tem mais de 20 anos de experiência em pesquisa relacionada à economia da saúde em países em desenvolvimento e tem muitos trabalhos publicados nos campos de economia da saúde e planejamento da saúde, inclusive livros sobre o papel do governo na saúde em países em desenvolvimento, planejamento da saúde no Reino Unido, descentralização, pesquisa em economia da saúde em países em desenvolvimento e da parceria público-privada. Seus mais recentes interesses na área de pesquisa têm sido na organização e financiamento de sistemas de saúde, inclusive avaliação das relações contratuais entre os setores público e privado e na aplicação de técnicas de avaliação econômica para a melhoria da eficiência dos programas de controle de doenças. Vem-se envolvendo amplamente no apoio às atividades de pesquisa em economia da saúde do Programa de Pesquisa em Doenças Tropicais da OMS. Fundou e é Chefe do Programa de Economia e Financiamento da Saúde que se tornou um dos principais grupos do mundo no desenvolvimento e aplicação de teorias e técnicas da economia da saúde para ampliar o conhecimento sobre a melhor forma de aumentar a equidade e a efi- 194 | Sobre os Editores ciência dos sistemas de saúde dos países em desenvolvimento. Atua como consultora em inúmeros organismos multilaterais e bilaterais, notadamente no Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido e na Organização Mundial de Saúde. Orientou a criação da Alliance for Health Policy and Systems Research e preside sua Diretoria. Recentemente se tornou membro da Comissão de Macroeconomia e Saúde e co-presidente de seu grupo de trabalho: “Melhoria dos resultados de saúde para os pobres”. Philip Musgrove é Vice-Editor da Health Affairs (Assuntos de Saúde), que é publicada pelo Projeto HOPE em Bethesda, Maryland. Trabalhou no Banco Mundial (1990-2002), inclusive dois anos cedido à Organização Mundial de Saúde (1999-2001), aposentando-se como Principal Economista. Foi anteriormente Consultor em Economia da Saúde, da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) (1982-1990) e Pesquisador Associado do Brookings Institution e do Resources for the Future (1964-81). O Dr. Musgrove é Professor Adjunto da School of Advanced International Studies, Johns Hopkins University, e lecionou na George Washington University, na American University e na University of Florida. Tem diplomas do Haverford College (bacharel, 1962, summa cum laude), Princeton University (M.P.A., 1964) e Massachusetts Institute of Technology (Ph.D., 1974). O Dr. Musgrove trabalhou em projetos de reforma da saúde na Argentina, Brasil, Chile e Colômbia, bem como tratando de diversas questões de economia da saúde, financiamento, equidade e nutrição. Já publicou mais de 50 artigos em revistas de economia e saúde e capítulos em mais de 20 livros. Sobre os Editores | 195 Comissão de consultoria aos editores Aluoch, J. R. Professor, Hospital de Mulheres de Nairobi, Quênia. Baudouy, Jacques Diretor de Saúde, Nutrição e População do Banco Mundial,Washington, D.C., Estados Unidos Binka, Fred Executive Director, Rede INDEPTH, Accra, Gana Buvinic, Mayra Diretora de Gênero e Desenvolvimento Banco Mundial,Washington, D.C., Estados Unidos Challoner, David, Co-chair Secretário de Relações Exteriores, Instituto de Medicina Academias Nacionais dos EUA, Gainesville, Flórida, Estados Unidos Horton, Richard Editor do The Lancet, Londres, Reino Unido Hrynkow, Sharon Diretor Interino do Fogarty International Center dos Institutos Nacionais de Saúde Bethesda,Maryland, EUA. Keusch, Gerald Reitor de Saúde Mundial Boston University School of Public Health, Boston, Massachusetts, Estados Unidos Kurokawa, Kiyoshi Presidente do Conselho de Ciência do Japão (SCJ),Kanawaga, Japão Lachmann, Peter Ex-Presidente da UK Academy of Medical Sciences, Cambridge, Reino Unido de Thé, Guy, Co-chair Diretor de Pesquisa e Professor Emérito do Institut Pasteur, Paris, França Lansang, Mary Ann Diretor Executivo do INCLEN Trust International, Inc, Manila, Filipinas Evans, Timothy Diretor Geral Assistente, Evidências e Informações para a Política Organização Mundial de Saúde, Genebra, Suíça Lovelace, Christopher Diretor do Escritório Nacional da República do Quirguistão e Desenvolvimento Humano da Ásia Central, Banco Mundial, 197 Mbewu, Anthony Diretor Executivo do Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul, Tygerberg, África do Sul Misra, Rajiv Ex-Secretário de Saúde do Governo da Índia, Haryana, Índia Ocampo, Perla Santos Presidente da Academia Nacional de Ciência e Tecnologia, San Juan, Filipinas Okelo, G. B. A. Secretário Geral e Diretor Executivo Interino, Academia de Ciências da África, Nairobi, Quênia Ruacan, Sevket Diretor Geral, MESA Hospital, Ankara, Turquia Senanayake, Pramilla Presidente da Foundation Council do Global Forum for Health Research, Colombo, Sri Lanka Sitthi-amorn, Chitr Diretor do Instituto de Pesquisa em Saúde/Decano do The College of Public Health da Chulalongkorn University Bangkok, Tailândia. Stansfield, Sally Subdiretor de Estratégias de Saúde Mundial, Bill & Melinda Gates Foundation, Seattle,Washington, Estados Unidos Uribe, Misael Presidente da Academia Nacional de Medicina do México, Cidade do México, México. Wang, Zhengguo Professor da Academia Chinesa de Engenharia, Daping, China Zatonski, Witold Professor da Health Promotion Foundation, Varsóvia, Polônia. Sepúlveda, Jaime Diretor dos Instituto Nacional de Saúde Pública do México, Cuernavaca, México Escritores colaboradores William D. Savedoff e Anne-Marie Smith, Social Insight 198 | Comissão de consultoria aos editores Sumário, Prioridades no Controle de Doenças nos Países em Desenvolvimento, 2ª edição 1. Investimento em Saúde Dean. Dean T. Jamison 2. Custo-eficácia das intervenções: Visão geral das principais mensagens. Ramanan Laxminarayan, Jeffrey Chow, e Sonbol A. Shahid-Salles 3. Fortalecimento dos sistemas de saúde. Anne Mills, Fawzia Rasheed, e Stephen Tollman 4. Prioridades da pesquisa global e desenvolvimento de intervenções. Barry R. Bloom, Catherine M. Michaud, John R. La Montagne e Lone Simonsen 5. Ciência e tecnologia para controle de doenças: Passado, presente e futuro. David Weatherall, Brian Greenwood, Heng Leng Chee e Prawase Wasi 6. Prioridades no desenvolvimento de produtos Adel Mahmoud, Adel Mahmoud, Patricia M. Danzon, John H. Barton e Roy D. Mugerwa 7. Abordagens econômicas para a valorização da pesquisa global em saúde, David Meltzer 8. Melhoria da saúde das populações: Lições da experiência Carol. Ann Medlin, Mushtaque Chowdhury, Dean T. Jamison e Anthony R. Measham 9. Metas de Desenvolvimento do Milênio para a Saúde: O que será necessário para acelerar o progresso? Adam Wagstaff, Mariam Claeson, Robert M. Hecht, Pablo Gottret e Qiu Fang. 199 10. Diferenças de gênero em saúde Mayra Buvinic, André Médici, Elisa Fernández e Ana Cristina Torres 11. Políticas fiscais para a promoção da saúde e prevenção de doenças Rachel Nugent e Felicia Knaul 12. Financiamento de sistemas de saúde no Século XXI. George Schieber, Cristian Baeza, Daniel Kress e Margaret Maier 13. Tendências recentes e inovações na assistência ao desenvolvimento para a saúde. Robert Hecht e Raj Shah 14. Questões éticas na alocação de recursos, pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Dan W. Brock e Daniel Wikler 15. Análise de custo-eficácia e definição de prioridades. Philip Musgrove e Julia Fox-Rushby 16. Tuberculose. Christopher Dye e Katherine Floyd 17. Infecções sexualmente transmissíveis. Sevgi O. Aral e Mead Over, com Lisa Manhart e King K. Holmes 18. Prevenção e tratamento do HIV/AIDS. Stefano Bertozzi, Nancy S. Padian, Jeny Wegbreit, Lisa M. DeMaria, Becca Feldman, Helene Gayle, Julian Gold, Robert Grant e Michael T. Isbell 19. Doenças diarréicas. Gerald T. Keusch, Olivier Fontaine, Alok Bhargava, Cynthia Boschi-Pinto, Zulfiqar A. Bhutta, Eduardo Gotuzzo, Juan Rivera, Jeffrey Chow, Sonbol A. Shahid-Salles, e Ramanan Laxminarayan 20. Doenças que podem ser prevenidas com vacinas. Logan Brenzel, Lara J. Wolfson, Julia Fox-Rushby, Mark Miller e Neal A. Halsey 21. Vencendo a malária. Joel G. Breman, Anne Mills, Robert W. Snow, Jo-Ann Mulligan, Christian Lengeler, Kamini Mendis, Brian Sharp, Chantal Morel, Paola Marchesini, Nicholas J. White, Richard W. Steketee e Ogobara K. Doumbo 22. Doenças tropicais sob meta de eliminação: Doença de Chagas, lepra, filariose e oncocercose. J. H. F. Remme, P. Feenstra, P. R. Lever, André C. Médici, C. M. Morel, M. Noma, K. D. Ramaiah, F. Richards, A. Seketeli, G. Schmunis, W. H. van Brakel e A. Vassall 200 | Sumário, Prioridades no Controle de Doenças nos Países em Desenvolvimento, 2ª edição 23. Doenças tropicais que não dispõem de medidas adequadas de controle: Dengue, leishmaniose e tripanosomíase africana. P. Cattand, P. Desjeux, M. G. Guzmán, J. Jannin, A. Kroeger, A. Médici, P. Musgrove, M. B. Nathan, A. Shaw e C. J. Schofield 24. Infestações por vermes: Infestações por vermes transmitidas pelo solo e esquistossomose. Peter J. Hotez, Donald A. P. Bundy, Kathleen Beegle, Simon Brooker, Lesley Drake, Nilanthi de Silva, Antonio Montresor, Dirk Engels, Matthew Jukes, Lester Chitsulo, Jeffrey Chow, Ramanan Laxminarayan, Catherine Michaud, Jeff Bethony, Rodrigo Correa-Oliveira, Xiao Shuhua, Alan Fenwick e Lorenzo Savioli 25. Infecções respiratórias agudas em crianças. Eric A. F. Simoes, Thomas Cherian, Jeffrey Chow, Sonbol A. Shahid-Salles, Ramanan Laxminarayan e T. Jacob John 26. Condições maternas e perinatais. Wendy J. Graham, John Cairns, Sohinee Bhattacharya, Colin H. W. Bullough, Zahidul Quayyum e Khama Rogo 27. Sobrevivência de recém-nascidos. Joy E. Lawn, Jelka Zupan, Geneviève Begkoyian e Rudolf Knippenberg 28. Baixa estatura, baixo peso e deficiências de micronutrientes. Laura E. Caulfield, Stephanie A. Richard, Juan A. Rivera, Philip Musgrove e Robert E. Black 29. Intervenções em serviços de saúde para controle do câncer nos países em desenvolvimento. Martin L. Brown, Sue J. Goldie, Gerrit Draisma, Joe Harford e Joseph Lipscomb 30. Diabetes: a pandemia e as possíveis soluções. K. M. Venkat Narayan, Ping Zhang, Alka M. Kanaya, Desmond E. Williams, Michael M. Engelgau, Giuseppina Imperatore e Ambady Ramachandran 31. Distúrbios mentais. Steven Hyman, Dan Chisholm, Ronald Kessler, Vikram Patel, Harvey Whiteford 32. Distúrbios neurológicos. Vijay Chandra, Rajesh Pandav, Ramanan Laxminarayan, Caroline Tanner, Bala Manyam, Sadanand Rajkumar, Donald Silberberg, Carol Brayne, Jeffrey Chow, Susan, Sumário, Prioridades no Controle de Doenças nos Países em Desenvolvimento, 2ª edição | 201 Susan Horton, and Vivek Chaturvedi Herman, Fleur Hourihan, Scott Kasner, Luis Morillo, Adesola Ogunniyi, William Theodore e ZhenXin Zhang 33. Doença cardiovascular. Thomas Gaziano, K. Srinath Reddy, Fred Paccaud 34. Distúrbios hereditários da hemoglobina. David Weatherall, Olu Akinyanju, Suthat Fucharoen, Nancy Olivieri e Philip Musgrove 35. Doenças respiratórias em adultos. Frank E. Speizer, Susan Horton, Jane Batt e Arthur S. Slutsky 36. Doenças do rim e do aparelho urinário. John Dirks, Giuseppe Remuzzi, Susan Horton, Arrigo Schieppati e S. Adibul Hasan Rizvi 37. Doenças da pele. Roderick Hay, Sandra E. Bendeck, Suephy Chen, Roberto Estrada, Anne Haddix, Tonya McLeod e Antone Mahé 38. Doenças e distúrbios orais e craniofaciais. Douglas Bratthall, Poul Erik Petersen, Jayanthi Ramanathan Stjernswärd e L. Jackson Brown 39. Lesões não-intencionais. Robyn Norton, Adnan A. Hyder, David Bishai e Margie Peden 40. Violência interpessoal. Mark L. Rosenberg, Alexander Butchart, James Mercy, Vasant Narasimhan, Hugh Waters e Maureen S. Marshall 41. Fornecimento de água, saneamento e promoção da higiene. Sandy Cairncross e Vivian Valdmanis 42. Poluição do ar em ambientes internos. Nigel Bruce, Eva Rehfuess, Sumi Mehta, Guy Hutton e Kirk Smith 43. Poluição do ar e da água: carga e estratégias de controle. Tord Kjellström, Madhumita Lodh, Tony McMichael, Geetha Ranmuthugala, Rupendra Shrestha e Sally Kingsland 44. Prevenção de doença crônica por meio de dieta e alterações no estilo de vida. Walter C. Willett, Jeffrey P. Koplan, Rachel Nugent, Courtenay Dusenbury, Pekka Puska e Thomas A. Gaziano 45. A crescente carga de risco pela hipertensão arterial, colesterol e obesidade. Anthony Rodgers, Carlene M. M. Lawes, Thomas Gaziano e Theo Vos 202 | Sumário, Prioridades no Controle de Doenças nos Países em Desenvolvimento, 2ª edição 46. Tabagismo. Prabhat Jha, Frank J. Chaloupka, James Moore, Vendhan Gajalakshmi, Prakash C. Gupta, Richard Peck, Samira Asma e Witold Zatonski 47. Álcool. Jürgen Rehm, Dan Chisholm, Robin Room e Alan D. Lopez 48. Abuso ilícito do ópio e derivados. Wayne Hall, Chris Doran, Louisa Degenhardt e Donald Shepard 49. Deficiências do aprendizado e do desenvolvimento. Maureen S. Durkin, Helen Schneider, Vikram S. Pathania, Karin B. Nelson, Geoffrey Clive Solarsh, Nicole Bellows, Richard M. Scheffler e Karen J. Hofman 50. Perda da visão e da audição. Joseph Cook, Kevin D. Frick, Rob Baltussen, Serge Resnikoff, Andrew Smith, Jeffrey Mecaskey e Peter Kilima 51. Custo-eficácia de intervenções para condições muscoloesqueléticas. Luke B. Connelly, Anthony Woolf e Peter Brooks 52. Controle da dor para pessoas com câncer e AIDS. Kathleen M. Foley, Judith L. Wagner, David E. Joranson e Hellen Gelband 53. Vigilância da população: Uma ferramenta para o direcionamento e monitoramento de intervenções. Peter Nsubuga, Mark E. White, Stephen B. Thacker, Mark Anderson, Steve B. Blount, Claire Broome, Tom Chiller, Victoria Espitia, Rubina Imtiaz, Dan Sosin, Donna F. Stroup, Robert V. Tauxe, Maya Vijayaraghavan e Murray Trostle 54. Informações para a melhoria da formulação de decisões na saúde. Sally K. Stansfield, Julia Walsh, Ndola Prata e Timothy Evans 55. Resistência a medicamentos. Ramanan Laxminarayan, Zulfiqar Bhutta, Adrian Duse, Philip Jenkins, Thomas O’Brien, Iruka N. Okeke, Ariel Pablo-Mendez e Keith P. Klugman 56. Programas de saúde comunitária e nutrição. J.B. Mason, D. Sanders, P. Musgrove, Soekirman e R. Galloway 57. Contracepção. Ruth Levine, Ana Langer, Nancy Birdsall, Gaverick Matheny, Merrick Wright e Angela Bayer Sumário, Prioridades no Controle de Doenças nos Países em Desenvolvimento, 2ª edição | 203 58. Programas de saúde e nutrição escolar. Donald Bundy, Sheldon Shaeffer, Matthew Jukes, Kathleen Beegle, Amaya Gillespie, Lesley Drake, Seung-hee Frances Lee, Anna-Maria Hoffman, Jack Jones, Arlene Mitchell, Cream Wright, Delia Barcelona, Balla Camara, Chuck Golmar, Lorenzo Savioli e Malick Sembene 59. Programas de saúde do adolescente. Elizabeth Lule, James E. Rosen, Susheela Singh, James C. Knowles e Jere R. Behrman 60. Saúde ocupacional. Linda Rosenstock, Mark Cullen e Marilyn Fingerhut 61. Atenuação e alívio de catástrofes naturais. Claude de Ville de Goyet, Ricardo Zapata Marti e Claudio Osorio 62. Controle e erradicação. Mark Miller, Scott Barrett e D. A. Henderson 63. Gestão integrada da criança doente. Cesar G. Victora, Taghreed Adam, Jennifer Bryce e David B. Evans 64. Cuidados básicos em geral. Stephen Tollman, Jane Doherty e Jo-Ann Mulligan 65. O hospital municipal. Mike English, Claudio F. Lanata, Isaac Ngugi e Peter C. Smith 66. Hospitais de referência. Martin Hensher, Max Price, e Sarah Adomakoh 67. Cirurgias. Haile T. Debas, Richard Gosselin, Colin McCord e Amardeep Thind 68. Serviços médicos de emergência. Olive C. Kobusingye, Adnan A. Hyder, David Bishai, Manjul Joshipura, Eduardo Romero Hicks, e Charles Mock 69. Medicina complementar e alternativa. Haile T. Debas, Ramanan Laxminarayan e Stephen E. Straus, MD 70. Melhoria da qualidade de cuidados nos países em desenvolvimento. John W. Peabody, Mario M. Taguiwalo, David A. Robalino e Julio Frenk 204 | Sumário, Prioridades no Controle de Doenças nos Países em Desenvolvimento, 2ª edição 71. Profissionais de saúde: criação e motivação da força de trabalho. Charles Hongoro e Charles Normand 72. Garantia de suprimento de medicamentos e vacinas apropriadas. Susan Foster, Richard Laing, Bjorn Melgaard e Michel Zaffran 73. Gestão estratégica dos serviços clínicos. Alexander S. Preker, Martin McKee, Andrew Mitchell e Suwit Wilbulpolprasert Sumário, Prioridades no Controle de Doenças nos Países em Desenvolvimento, 2ª edição | 205 Sumário: Carga global de doenças e fatores de risco 1. Medição da carga global de doenças e fatores de risco, 1990-2001 Alan D. Lopez, Colin D. Mathers, Majid Ezzati, Dean Jamison e Christopher J. L. Murray 2. Características demográficas e epidemiológicas das principais regiões, 1990–2001. Alan D. Lopez, Stephen Begg e Ed Bos 3. A carga de doenças e mortalidade por condição: dados, métodos e resultados para 2001. Colin D. Mathers, Alan D. Lopez e Christopher J. L. Murray 4. Quantificação comparativa da mortalidade e carga de doenças atribuíveis a importantes fatores de risco selecionados Majid Ezzati, Stephen Vander Hoorn, Alan D. Lopez, Goodarz Danaei, Anthony Rodgers, Colin Mathers e Christopher J. L. Murray 5. Análises de sensibilidade e incerteza das estimativas da carga de doenças e fatores de risco Colin D. Mathers, Joshua A. Salomon, Majid Ezzati, Stephen Begg, Stephen Vander Hoorn e Alan D. Lopez 6. Incorporação de óbitos próximos à data do nascimento às estimativas da carga global de doenças Dean T. Jamison, Sonbol A. Shahid-Salles, Julian Jamison, Joy E. Lawn e Jelka Zupan 207 Crédito de Fotos Desenho da capa: Naylor Design Foto da capa: Dominic Sansoni/ Banco Mundial Capítulo 1, página 1: Dominic Sansoni/ Banco Mundial Capítulo 2, página 23: Curt Carnemark/ Banco Mundial Capítulo 3, página 39: Dominic Sansoni/ Banco Mundial Capítulo 4, página 59: Tran Thi Hoa/ Banco Mundial Capítulo 5, página 97: Ray Witlin/ Banco Mundial Capítulo 6, página 129: Alan Gignoux/ Banco Mundial Capítulo 7, página 157: Anatoliy Rakhimbayev/ Banco Mundial Capítulo 8, página 181: Curt Carnemark/ Banco Mundial Referências | 209