CARACTERIZAÇÃO DO MORRO TESTEMUNHO “MORRO SÃO JOÃO” NO MUNICÍPIO DE PORTO NACIONAL, ESTADO DO TOCANTINS: UM INSELBERG Paulo Henrique Pereira Pinto¹, Wilson Gomes de Oliveira¹, Joeslan Rocha Lima¹, Wagner Matos da Silva² ¹Universidade Federal do Tocantins, Curso de Geografia. ²Universidade Federal do Tocantins, Curso de Biologia. [email protected] RESUMO Nesta contribuição é feito um dos primeiros registros do inselberg “Morro São João”, localizado aproximadamente a 12 km a leste do município de Porto Nacional, estado do Tocantins, Brasil, feição geomorfológica esta estruturada sobre diferentes níveis de idade devoniana da Formação Pimenteiras (Grupo Canindé). Esta unidade estratigráfica possui um dos mais representativos registros fossilíferos da Bacia do Parnaíba. O “Morro São João” assenta-se nos sedimentos desta formação que afloram na região central do estado do Tocantins. Estas estruturas geomorfológicas são pouco conhecidas, principalmente, na área de ocorrência destes afloramentos. Esta descrição preliminar do inselberg “Morro São João” vem contribuir para o conhecimento da geografia física da região norte do Brasil. O presente estudo foi realizado a partir das seguintes etapas metodológicas: levantamento bibliográfico, interpretação de foto aérea, classificação das características físicas e bióticas que foram realizadas em dois trabalhos de campo em novembro de 2008 e um em fevereiro de 2009. Os resultados preliminares demonstram que a geologia do inselberg é composta basicamente por argilítos intercalados e folhelhos laminados. O “Morro São João” está inserido na unidade geomorfológica denominada depressão do Tocantins e contribui para a hidrologia local, pois o mesmo é nascente do Ribeirão São João um importante curso perene que abastece a cidade de Porto Nacional. A vegetação é composta por espécies arbóreas pertencentes ao bioma Cerrado das quais foram identificadas 31 espécies em bom estado de preservação, estas variam de Campo Cerrado a Cerradão na estrutura do Morro. Nos sedimentos da Formação Pimenteiras da área de estudo foram encontrados os primeiros fósseis conhecidos do município de Porto Nacional sendo constituídos por: 23 braquiópodes, 15 crinóides e 8 icnofósseis indeterminados. Os estudos das características dos recursos naturais do inselberg citado são de grande relevância para compreensão da Geografia local e áreas afins. Palavras-chave: Paisagem, inselberg, Porto Nacional. CHARACTERIZATION OF MORRO WITNESS "MORRO SÃO JOÃO" IN THE CITY OF PORTO NACIONAL, STATE OF TOCANTINS, BRAZIL: A INSELBERG ABSTRACT This contribution is made the first record of inselberg “São João” hill is located approximately 12 km east of the municipality of Porto Nacional, Tocantins state, Brazil, geomorphological feature is structured on different levels of Pimenteira Formation of Devonian age (Group Canindé). This stratigraphic unit is one of the most representative records fossilíferos of Parnaiba Basin. The “São João” hill is based on the formation of sediments that outcrop in the central region of the state of Tocantins. These geomorphological structures are poorly known, especially in the area of occurrence of these outcrops. This preliminary description of inselberg "São João" hill will contribute to knowledge of the physical geography of northern Brazil. This study was conducted from the following methodological steps: literature review, aerial photo interpretation, classification of the physical and biotic carried out in two field work in November 2008 and one in February 2009. Preliminary results show that the geology is composed mainly of inselberg by argillites intercalated and rolled leaves. The "São João” hill is inserted in the geomorphological unit called depression of Tocantins and contributes to the local hydrology, as it is source of the Ribeirão São João course an important perennial that supplies the city of Porto Nacional. The vegetation is composed of tree species within the Cerrado biome of which 31 species were identified in a good state of preservation, they vary from the Campo Cerrado at Cerradão the structure of the hill. Training Pimenteira sediments of the study area were the first known fossils of the municipality of Porto Nacional and consisting of: 23 braquiópodes, 15 crinóides and 8 icnofósseis uncertain. Studies of the characteristics of the natural resources of inselberg mentioned are of great relevance for understanding of local geography and related areas. Keywords: Landscape, inselberg, Porto Nacional. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, os estudos científicos se intensificaram em pesquisas relacionadas às novas questões ambientais, os problemas relacionados ao uso de recursos naturais estão entre os mais urgentes, isto porque, estes formam a base de sustentação de uma variedade de ecossistemas essenciais para a sobrevivência de inúmeras espécies por todo o planeta. O morro São João representa uma destas áreas onde são encontrados elementos e fatores naturais e antrópicos atuando em uma relação de grande complexidade, relação esta que exige atenção diferenciada, afinal os recursos naturais que compõem este inselberg têm sido fundamentais para a manutenção de muitas espécies locais. Os Inselbergs também conhecidos como Morros testemunhos são feições geomorfológicas que se destacam no local onde se situam, pois, apresentam uma grande diferença de elevação em relação a outras áreas do relevo. Outra característica que os determina é uma relevante fauna e flora que possuem, quando se observa a composição do meio ambiente no qual está inserido, seja ele, local ou regional (THOMAS 1979, THOMAS 1978, 1994). Estas feições geomorfológicas sempre fizeram parte do cenário natural do relevo tocantinense e chamam a atenção por apresentarem uma biota extremamente diversa, devido à complexidade do ambiente físico que a comporta. No município de Porto Nacional, região central do estado do Tocantins, a aproximadamente 12 km em direção leste em relação à área urbana (Fig. 01), afloram sedimentos da Formação Pimenteiras (Devoniano) sobre os quais está localizada a feição geomorfológica morro São João, que provavelmente é o primeiro inselberg a ser descrito no estado do Tocantins, a qual apresenta importantes características geológicas, paleontológicas, hidrológicas, pedológicas e fitofisionômicas que são reportadas aqui no presente trabalho. O objetivo do presente trabalho é a partir de uma breve descrição das características físico-naturais do inselberg morro São João, realizar uma analise pontual de cada item caracterizado: Geologia, Relevo, Vegetação, etc., apresentando as ações antrópicas danosas já consolidadas ou em fase de consolidação, para ao final propor algumas medidas de contenção e prevenção de eventos que possivelmente ponham em risco qualquer elemento natural que atue nos processos de permanência e transformação deste complexo ecológico e que confere a este todo o potencial de provisão de recursos. Figura 01. Localização do Morro testemunho São João, 2009. MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi realizado a partir de procedimentos metodológicos divididos em duas etapas: na primeira, em laboratório, fez-se a verificação de imagens de satélite (Google Earth) e consulta em cartas topográficas. A segunda etapa foi realizada em três trabalhos de campo, sendo um no mês de outubro de 2008 e dois em fevereiro de 2009, nos quais se buscou analisar, sobretudo as características físicas e fitofisionômicas do ambiente local, assim como a observação de aspectos relacionados ao solo e às características Geomorfológicas e Hidrológicas e paleontológicas da região. Realizou-se também nesta segunda etapa a identificação e inventariação de espécies da vegetação nativa e de fósseis de invertebrados encontrados em sedimentos da Formação Pimenteiras. RESULTADOS As analises realizadas no inselberg morros São João demonstraram que a sua geologia é formada por afloramentos da Formação Pimenteiras (Devoniano). Estes afloramentos se fixam sobre uma base de rochas cristalinas da Bacia do Parnaíba (BRITO, 1979), os solos são compostos principalmente por argilitos, folhelhos laminados e arenitos. Nas partes norte (Fig. 02) e oeste (Fig. 03) do inselberg, predominam rochas areníticas. Contudo em algumas camadas contém porções de quartzitos interpostos em várias direções de modo descontinuo, estes veios quartzosos afloram com mais intensidade na base sul do morro. O inselberg apresenta uma paleontologia bastante expressiva, pois, nos sedimentos da Formação Pimenteiras que pertence ao Grupo Canindé (Devoniano da Bacia do Parnaíba), foram encontrados diversos exemplares de fósseis de invertebrados dos quais foram coletados: braquiópodes e crinóides. Alguns dos icnofósseis analisados não foram identificados devido à falta de estudos específicos e também em função do mal estado de conservação causado principalmente pela atuação humana na alteração da superfície aflorante. Contudo, se o estado das amostras coletadas não foi de tão boa qualidade, a grande quantidade de fósseis de diversidade ainda indeterminada encontrados por toda área, remete o local a um excelente campo de estudos a cerca das espécies que habitaram a região central do Brasil durante o período Devoniano (Paleozóico). Figura 02. Panorama Norte do morro São João. O morro “São João” está inserido na unidade geomorfológica denominada depressão do Tocantins. Esta depressão acompanha todo o curso do rio Tocantins possuindo um relevo bastante acidentado. Em sua parte mais elevada o inselberg possui 614m de elevação e apresenta grandes escarpas, assim como em suas porções norte e oeste há um relevo mais acidentado devido a grande presença de rochas areníticas bastante friáveis (Fig. 02 e 03). Seu topo é plano e possui abruptos desníveis e encostas íngremes (Fig. 04). O aspecto geomorfológico do morro recebe uma contribuição expressiva de instalações abandonadas ou ativas, que vem influenciando na configuração do relevo e alterando suas características. É o caso do garimpo de ouro abandonado na parte Sul, das torres de telecomunicações e das estradas que permitem acesso à parte alta e que conferem o constante uso da população local para diversas atividades como moto cross e rally. Figura 03. Porção oeste do Morro São João. A parte hidrológica do inselberg em tela é representada por várias nascentes de cursos efêmeros e perenes, dentre estes se destacam o Ribeirão São João, uma importante rede hídrica perene que abastece a cidade de Porto Nacional e o córrego Franscisquinha, os quais têm suas nascentes na base do morro. Foi constado que o morro São João é um importante divisor topográfico, pois, além de duas sub-bacias serem abastecidas por águas provindas de nascentes em sua estrutura, ele também contribui com pelo menos mais três sub-bacias. (Fig. 01) A vegetação é composta por espécies arbóreas pertencentes ao bioma Cerrado das quais foram identificadas preliminarmente 31 espécies em bom estado de preservação, embora isso represente apenas uma pequena parte do universo de sua flora. Alguns exemplares como: cajuí (Anacardium humile) (CARVALHO 2005), canela d’ema (Vellozia sp) e Pau Terra (Quales sp.) foram encontradas no topo do morro testemunho, área que apresenta características de campo Cerrado (RIZZIN 1997 p.409). Outras como: Ipê (Tabebuia heptaphylla), Jacarandá (Dalbergia brasiliensis), Pequi (Caryocar brasiliense) (LIMA 2007) e Sanbaíba (Pteridium aquilinum) representam o Cerradão, estando distribuídas na área de encosta. (Fig. 03 e 04). Este elemento é, de longe, o que mais atrai a atenção de quem observa o morro, pois, em virtude da estação do ano, há a ocorrência de um contraste, pois, entre os meses de Julho a outubro o verde de suas matas revelam a influencia climática no ambiente. Figuras 04. Panorama sentido Noroeste. Na porção sul, o morro São João possui afloramentos de quartzos e quartzitos, fato que ocasionou na década de 1990, a instalação de um garimpo de ouro no local (Fig. 05). A atividade de lavra do garimpo foi interrompida após a intervenção de órgãos ambientais, que ao perceber o grande dano causado aos elementos físicos que compõem a área proibiu a exploração. Dessa forma, após muitos anos a natureza tenta se recuperar, no entanto, os processos de ravinamento e voçorocamento, conseqüências da atividade garimpeira dificultam essa revitalização natural (Fig. 05). Figura 05. Porção sul do morro São João. Área de exploração do garimpo na década de 90. Em relação à definição dos processos sedimentares e feições erosivas encontradas na estrutura do inselberg principalmente nas áreas de atuação antrópica, como é o caso das estradas e do garimpo desativado, a análise teve como suporte os conceitos geomorfológicos de Guerra (1999). Com base nesses pressupostos foram identificadas feições como: sulcos, ravinas, voçorocas, marmitas, dutos de convergência, costelas, escamas, e alcovas de regressão. Estas feições se originaram principalmente através da erosão por quedas d’água, e pelo arraste de sedimentos por fluxos concentrados em túneis e dutos. Os processos erosivos na área do garimpo desativado, sobretudo os ravinamentos e voçorocamentos, têm um considerável aumento de intensidade principalmente no período chuvoso em virtude do surgimento de cursos efêmeros. O escoamento superficial é uma das principais formas de arraste de sedimentos no local, que ganha intensidade devido à ausência da vegetação nativa. O deslocamento de matacões de Quartzo confirma a magnitude do processo (Fig. 06). Figura 06. Voçoroca na parte sul do morro, logo abaixo da área de exploração do antigo garimpo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Levando em consideração a relação entre sociedade e natureza como o foco da geografia, deve se aplicar no estudo da paisagem uma análise geográfica que não seja puramente descritiva, mas que leve em conta principalmente os aspectos relacionados à ação antrópica, suas causas e conseqüências. Desse modo, ao utilizar-se de dados referentes à gênese e estrutura dos elementos naturais, torna-se mais viável a aquisição de uma gama de argumentos que possam oferecer melhor sustentação a uma provável proposta de preservação ambiental. A localização do morro São João em sedimentos da Formação Pimenteiras do Grupo Canindé (Devoniano da Bacia do Parnaíba) proporciona uma grande oferta de exemplares fósseis e icnofósseis de invertebrados, que contribuem para o entendimento das formações paleozóicas no estado do Tocantins. Um aspecto bastante observado na estrutura do morro testemunho foi em relação à presença dos sinais de um garimpo de quartzo e quartzito interessado na extração de ouro, que teve sua atividade interrompida. Esses vestígios se traduzem principalmente nas estruturas construídas no local: dutos de canalização de cursos de água, e estradas de acesso. No entanto, a característica que mais atraiu a atenção foi o grande talude formado pela escavação (Fig. 06). A remoção das rochas e sedimentos que sustentavam a área onde se instalou o garimpo, além de causar um grande dano à vegetação, desencadeou uma série de processos erosivos que modificaram e permanecem a alterar a estrutura do morro. Considerando cada um destes fatores fica claro que, o inselberg analisado se encontra em uma área extremamente frágil, que necessita de atenção especial por possuir uma grande variedade de espécies de fauna e flora nativas da região de cerrado e por se tratar de um berço de nascentes que alimentam algumas sub-bacias da região. Por estar em uma área isolada, separada pela descontinuidade da mata, o morro São João possui um extenso acervo ecológico, que precisa ser estudado para que possam surgir propostas adequadas de preservação destes elementos naturais. Apesar da abundante presença destas feições geomorfológicas no relevo do estado do Tocantins, os estudos específicos relacionados ás mesmas são raros ou até inexistentes. Neste sentido, percebe-se a necessidade de instigar nos pesquisadores das regiões que comportam estas feições um interesse pela análise dos aspectos que estas estruturas apresentam. Dessa forma, poderá se contribuir para a compreensão das características da paisagem regional e conseqüentemente para o desenvolvimento da geografia física da região norte. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRITO, I. M. Bacias Sedimentares e Formações Pós Paleozóicas do Brasil. Rio de Janeiro: Interciência, 1979. CARVALHO, M. P.; SANTANA, D. G.; RANAL, M. A.. Emergência de plântulas de Anacardium humile A. St.-Hil. (Anacardiaceae) avaliada por meio de amostras pequenas. Revista brasileira de Botânica. vol. 28, nº. 3, p. 627-633, 2005. GUERRA, A.J.T. et al. Erosão e conservação dos solos. Conceitos e aplicações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. p. 103 – 105. LIMA, A. et al. Composição química e compostos bioativos presentes na polpa e na amêndoa do pequi (Caryocar brasiliense, Camb.). Revista Brasileira de Fruticultura. vol. 29, nº.3, pp.695-698, 2007. RIZZINI, C. T. Tratado de fitogeografia do Brasil: aspectos ecológicos, socioecológicos e florísticos. 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