1 OS DESDOBRAMENTOS SOCIAIS E PREVIDENCIÁRIOS DO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO NA REALIDADE MARANHENSE Igor Bergamo Anjos Gomes* Ana Roberta Barros Ferreira** Adriana Beserra Silva*** RESUMO O Presente artigo pretende contribuir com o estudo sobre população brasileira analisando as questões sociais e previdenciárias configuradas pelo processo de envelhecimento populacional que tem proporções ainda não de todo assimiladas. Esta pesquisa contribui para a produção de conhecimentos sobre a realidade local analisando as inflexões sociais e previdenciárias do processo de envelhecimento da população brasileira na realidade específica do Estado do Maranhão. Palavras–chaves: Envelhecimento. População.Questões sociais. Previdência. Maranhão ABSTRACT This present work intends to contribute with the study about population, analyzing the social and social welfare question configured by thr aging population process thet proportion yet assimilated. This research contributes for the know ledges production on the local realthy analyzing the aging process of the brazilian population in fact it specififies of Maranhão State. Keywords: Aging. Population. Social Matters. Social Service. Maranhão. 1 INTRODUÇÃO O Brasil esta vivenciando uma realidade de envelhecimento populacional que concretiza um dos mais importantes processos de transição demográfica do século XXI. O contingente populacional de idosos no Brasil alcançou a marca de 9,1% dos 170 milhões de habitantes segundo o Censo 2000 do IBGE. No Brasil o envelhecimento populacional se processa pela base da pirâmide etária, pois tem ocorrido um aumento progressivo do número de idosos e de seu peso relativo sobre a população, haja visto o número cada vez menor de nascimentos. Esta realidade de constituição progressiva da população idosa configura uma demanda que reclama por políticas sociais especificas para assegurar seu espaço social. * Graduando Em Serviço Social Pela UFMA Graduada Em Geografia Pela UFMA *** Graduada Em Filosofia Pela Ufm ** São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 2 2 CARACTERIZANDO O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL MARANHENSE O Estado do Maranhão tem população total de 5 641 475 milhões de habitantes, e segundo o IBGE (2002), deste total, 7,3% estão inseridos na faixa etária da terceira idade, colocando o estado na 18º posição no ranking nacional de proporção de idosos. A expectativa de vida no Estado, e segundo o mesmo instituto, é de 64,8 anos, cerca de 6,2 anos a menos do que a média nacional. No que tange a constituição por gênero, é possível constatar que a população idosa maranhense segue a tendência do país, se caracterizando pela feminização, segundo levantamentos do IBGE (2002), 54,4% dos indivíduos com mais de 60 anos residentes no Estado são do sexo feminino, e 45,6% são do sexo masculino. O envelhecimento populacional no Estado também se caracteriza pela urbanização, mas numa proporção bem menor do que a média nacional. O Censo de 2000 do IBGE revelou que 59% da população maranhense reside em áreas urbanas. 3 ASPECTOS SOCIAIS DO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO MARANHENSE O Maranhão alcançou desenvolvimento em alguns setores econômicos nos últimos anos, mas permanece figurando como um dos mais pobres estados no país. As tabelas do IDH do Estado são comparáveis segundo Moreira (2002:36) a países africanos historicamente miseráveis. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), da ONU, o Maranhão ocupa a 25º posição nacional no ranking dos Estados com o pior IDH: 0,547, na frente apenas dos Estados do Alagoas e Piauí que estão respectivamente na 26º e 27º posição. O IBGE com base nos levantamentos do Censo de 2000 constatou que 62,37% da população maranhense vive abaixo da linha da pobreza (R$ 80 reais por mês, por pessoa). A análise dos indicadores sociais maranhenses denuncia que o segmento populacional idoso no Maranhão é caracterizado pela pauperização. O IBGE (2002) divulgou que 23% dos idosos maranhenses têm rendimento médio mensal familiar per capita entre 1/4 e 1/2 salário mínimo. (ver tabela 1) São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 3 Tabela 1 - Classes de rendimento médio mensal familiar per capita em salário mínimo dos residentes no maranhão com mais de 60 anos. Total de idosos 419 580 Percentual de maranhenses de 60 anos ou mais por classes de rendimento médio mensal familiar per capita em salário mínimo. (%) Até Mais de Mais de Mais de 1 Mais de 2 Mais Mais 1/4 1/ 4 a 1/2 1/2 a 1 a2 a3 de 3 a de 5 5 6,2 23.0 41.9 15,6 4,0 4,4 2,9 Fonte: IBGE, 2002. Gomes (2004, p.70) afirma que pauperização pontua muito tenazmente o envelhecimento populacional brasileiro (e se expressa de forma voraz na realidade do Estado do Maranhão), esta característica é fruto da irregularidade na distribuição da renda no país. Esta realidade é mais acirrada nas regiões Nordeste e Norte do Brasil. A complexidade da temática da pauperização no Brasil configurou a denominada “Questão Social da População Idosa Brasileira” que concretiza o conjunto de problemáticas sociais, econômicas e políticas que são intrínsecas ao desenvolvimento da sociedade capitalista e que tem uma repercussão ímpar sobre o segmento populacional idoso. Segundo Soares (2002) a renda dos idosos chefes de família no Maranhão é a mais baixa do país, R$ 287,00 reais, enquanto no Distrito Federal é de R$ 1.796,00, revelando as desigualdades sociais do Brasil, e a realidade de pobreza da população idosa no Maranhão. A variável da renda regula a posição do idoso frente às questões sociais pertinentes a sua vida cotidiana, e como na realidade maranhense 71, 9% dos idosos tem renda media mensal igual ou inferior a um salário mínimo, fica evidenciado as problemáticas sociais atreladas a este segmento etário. A precariedade dos serviços médicos disponibilizados no Estado é evidenciada pela proporção de médicos por habitantes No Maranhão existem 5,2 médicos por 10 mil habitantes e 4,1 leitos hospitalares por mil habitantes (realidade auferida em setembro de 2002), denunciando a falta de estrutura para atender as necessidades da população idosa que concretiza uma grande demanda por serviços hospitalares. A infra-estrutura médica no interior do estado se dá a um índice ainda mais elevado de precariedade, apresentando escassez de especialidades médicas, obrigando a população idosa residente nestes municípios a se dirigir para São Luis, Imperatriz ou para outros Estados em caso de necessidade de tratamento médico mais especializado. Inexiste, no Estado políticas públicas na área da saúde voltadas exclusivamente para a população idosa, como existem programas específicos voltados para crianças e adolescentes. Como inexiste programas de saúde específicos para terceira idade, a população idosa maranhense acaba tendo que se utilizar dos demais programas, São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 4 disputando leitos, consultas e medicamentos com outros segmentos etários. Dentre os programas do ministério da saúde que mais atendem indivíduos idosos destacam-se o de controle a hipertensão e ao diabetes, onde mais de 60% dos usuários são idosos. O déficit educacional também gesta uma grande problemática para a população idosa maranhense, o número de idosos sem instrução ou com menos de um ano de estudo é bastante elevado, a tabela a seguir retrata esta realidade. Tabela 2 - Percentual de idosos residentes no Maranhão sem instrução ou com menos de 1 ano de estudo distribuídos por faixa etária Proporção de idosos maranhenses sem instrução ou com menos de 1 ano de estudo distribuídos por faixa etária(%). 60 a 64 anos 58% 65 a 69 anos 70 a 74 anos 69,5 % 61,6% Mais de 75 anos 69, 5% Fonte: IBGE, 2002. Apesar do Estado ter ampliado em 138% a educação de jovens e adultos, poucos sãos os idosos contemplados por este aumento na oferta de educação. O horário das aulas, geralmente no período noturno, é um grande obstáculo para o idoso maranhense que deseja adquirir instrução formal. As limitações locomocionais, cognitivas e visuais advindos com o envelhecimento são outros exemplos de dificuldades que impedem a inserção da população idosa maranhense no sistema educacional. Torna-se relevante sinalizar que nunca foi operacionalizado no Maranhão nenhum programa de alfabetização voltado exclusivamente para o público senil. No que tange a moradia a população idosa maranhense também sofre as inflexões do déficit habitacional do estado que segundo levantamentos do IBGE (2000) está em 587.187. A maioria das casas de repouso e asilos no Estado depende financeiramente da sociedade civil, evidenciando o descaso das autoridades locais em amparar os idosos que estão fora da tutela de seus familiares. Inexiste no Maranhão opções de lazer e cultura organizadas pelo poder público voltadas para atender ao segmento menos aquinhoado da população idosa maranhense, o que existe são atividades filantrópicas operacionalizadas por igrejas associações de bairro, empresas, ou outros segmentos da sociedade civil. No que tange a programas de extensão a UFMA se destaca ao desenvolver a UNITE, Universidade da Terceira Idade que ministra cursos, palestras e capacitações sobre temáticas específicas para a terceira idade. A grande parcela de idosos maranhenses São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 5 desconhece seus direitos assegurados pela constituição e pelo Estatuto do Idoso, a ressalva recai apenas para a gratuidade nos transportes urbanos. Em 2003 o governo do Maranhão organizou passeatas, promulgação do dia do idoso, e ações afirmativas pró-idoso sob a égide das discussões do Estatuto Social do Idoso, mas sem resultados concretos em termos de melhorias e conquistas sociais para o segmento senil. As autoridades maranhenses ainda não despertaram para o fato da constituição progressiva da população idosa local, concretizando uma demanda em expansão que reclama por políticas específicas para assegurar seu espaço social. 4 ASPECTOS PREVIDENCIÁRIOS DO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO MARANHENSE Segundo Moreira (2002, p.39), o INSS (regime privado) recolhe 25 milhões em tributos e paga 100 milhões em benefícios no estado do Maranhão, estes números evidenciam a realidade de déficit mesmo quando a população do Estado ainda apresenta um percentual de envelhecimento relativamente baixo (7,2%). O Estado tem, segundo o IBGE (2002) 324 400 idosos na condição de segurados, distribuídos por faixa etária na seguinte proporção: Tabela 3 - Distribuição percentual por faixa etária dos aposentados e pensionistas com mais de 60 anos residentes no Maranhão. Indivíduos com mais de 60 anos de idade, aposentados e pensionistas, distribuídos por faixa etária.(%) Número total 324.400 60 a 69 anos 47,0 % 70 a 79 anos 36,1% 80 anos ou mais 16,8% Fonte: IBGE, 2002 Já no que concerne à previdência pública do Estado, Luciano Moreira (apud SÁ, 2004, p.3) afirma que nem o título de previdência mais organizada do país e o superávit de R$ 34 milhões livram o Maranhão de um cenário negativo para o setor nos próximos 30 anos. Estudos realizados pelo governo do Estado indicam um “rombo” no sistema previdenciário público maranhense a partir de 2030 em torno de R$ 6 bilhões. A implantação das novas regras advindas da reforma da previdência social brasileira operacionalizada pelo governo federal permitirá a redução de R$ 1,447 bilhões deste déficit. São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 6 “O problema da previdência no Maranhão é o cenário para os próximos 30 anos. Com a reforma esse problema será minimizado, mas a situação continua difícil”. Declarou Luciano Moreira, Gerente de Planejamento e Gestão do Governo do Maranhão. A problemática sinalizada pelo gerente é alicerçada nas projeções para o processo de envelhecimento populacional no Estado para os próximos anos. Entretanto é possível concluir neste trabalho que não é só o envelhecimento populacional que desencadeia esta problemática, mas sim o modelo da estrutura e funcionamento da previdência pública maranhense que não tem fôlego para subsidiar uma realidade, onde é crescente o contingente populacional idoso, bem como seu tempo de expectativa de vida. O governo do Maranhão atentou para esta problemática no sistema previdenciário em 1995 e para amenizar esta questão criou o FEPA (Fundo Estadual de Pensões e Aposentadorias) para atender as demandas dos inativos a partir daquele ano. Os servidores que se aposentaram até 1995 recebem diretamente do tesouro estadual. Os recursos do FEPA são previstos no orçamento anual. Em 2003 o FEPA registrou superávit de 34 milhões. A FEPA abriga atualmente 12.290 aposentados e pensionistas, o que desencadeia uma folha de pagamento mensal na ordem de R$ 11.598 milhões (aproximadamente 150 milhões anuais). Já o tesouro estadual abriga 14.647 inativos que obtiveram a concessão de seus benefícios antes da criação do FEPA, estes geram uma despesa de 18 milhões mensais (cerca de R$ 234 milhões por ano). Assim que forem implantadas as novas regras da previdência que trata da taxação de inativos em 11% do que exceder R$ 1,2 mil mensais, o Estado terá R$ 1 214 milhão a mais na sua receita. Já servidores da ativa que hoje descontem entre 8 e 10% e passarão a ser taxados sobre um percentual de 1 a 3% a mais no salário renderá cerca de 941 mil por mês aos cofres do Estado. Com a taxação de ativos e inativos o governo do Maranhão irá incrementar sua receita em R$ 2.158 milhões por mês o que corresponde a 28 milhões por ano. A previdência é a instância pública que mais sente os reflexos do processo de envelhecimento populacional, e necessita de uma reestruturação para se adequar às novas demandas gestadas por este, porém sobretaxar um segmento populacional especifico esbarra num principio constitucional, moral e social. As transformações societárias que devem ser operacionalizadas pelo poder público devem preceder a adequação do sistema previdenciário ao envelhecimento populacional. São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 7 5 CONCLUSÃO No que concerne à realidade do Estado do Maranhão conclui-se que as inflexões sociais e previdenciárias do processo de envelhecimento da população brasileira são agudizadas, somatizadas e potencializadas pelos baixíssimos indicadores sociais apresentados. A questão previdenciária é sempre sucitada quando se fala em envelhecimento populacional, dando margem á muitas especulações sobre a ameaça de quebra do sistema previdenciário frente a uma realidade de transição demográfica na pirâmide etária. O estudo de sua estrutura de funcionamento e das projeções para o crescimento do processo de envelhecimento populacional deste trabalho permite concluir que, não é o envelhecimento populacional que desencadeia a quebra do sistema previdenciário, mas sim o modelo institucional da previdência social brasileira, que apresenta falhas estruturais, que aliadas à política econômica do país que figura com a sexta pior burocracia do mundo para abrir e manter empresas, a terceira pior legislação trabalhista, que colabora para o aumento do desemprego, subsidiando o crescimento do trabalho informal (que tem dificuldade de acesso a seguridade social), construindo uma realidade onde o número de beneficiários supera o de segurados e este cenário sob uma configuração demográfica de envelhecimento populacional processa a quebra do sistema previdenciário. A reforma da Previdência Social Brasileira operacionalizada pelo governo em 2003, não tinha por norte este esclarecimento, e por isso foi processada a reforma em questão sem que fossem definidas quais as linhas desta reestruturação, nem quais os ideais humanos que ela devia traduzir. O que numa coerente visão político–social em nada mais consiste do que democratizar o acesso ao sistema de seguridade social, configurando assim uma realidade onde a Previdência Social estivesse adequada para subsidiar o processo de transição demográfica em seus complexos desdobramentos setoriais. REFERÊNCIAS IBGE, Censo Demográfico de 2000 – Resultados do Universo. Disponível em: www.ibge.com.br /cesnso2000.htm. Acessado em 07/6/2003 as 14:30 horas. ______. Centro de Documentação e Disseminação de Informações. Brasil em Números/ IBGE. (2002). Rio de Janeiro, 2002. v.1. São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 8 ______.Perfil dos Idosos Responsáveis pelo Domicilio no Brasil 2000/ IBGE, Departamento de População e Indicadores Sociais. Rio de Janeiro, 2001. ______.Síntese de indicadores Sociais 2002/IBGE. Departamento de População e Indicadores Sociais. Rio de Janeiro, 2003. GOMES, Igor Bergamo Anjos.O Processo de Envelhecimento da População Brasileira: aspectos sociais e previdenciários / Igor Bergamo Anjos Gomes. 2002. Monografia (Graduação em Geografia) – Curso de Geografia, Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2004. MOREIRA, Delmo. Maranhão: Conhecer por Dentro. Revista Época ano IV, n. 196, 18 fev. 2002. MOREIRA, Luciano. In: SÁ, Décio. Governo vai implantar o subteto. Jornal O Estado do Maranhão. São Luís, p.3.,18 jan. 2004. Caderno Política. SOARES, Bárbara. Retratos do Brasil. In: Número de idosos no país aumenta 17 % em 10 anos. Disponível em<: htpp://www.oliberal.com.br>acesso em 26/07/2002 ás 17:30 horas. São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005