História A – 12º Ano 16 de março A AFIRMAÇÃO DE NOVAS POTÊNCIAS O RÁPIDO CRESCIMENTO DO JAPÃO Após a Segunda Guerra Mundial o Japão é um país militarmente vencido, politicamente submetido à ocupação americana, e economicamente, arrasado pela perda do vasto império colonial, destruição da marinha marcante e ruína do setor produtivo. Os fatores de desenvolvimento O “milagre japonês” beneficiou de uma circunstância favorável. A ocupação americana modernizou as estruturas políticas e sociais do país e, mesmo após 1952, altura em que o Japão readquiriu a sua plena soberania, os EUA disponibilizaram importantes ajudas financeiras e técnicas que permitiram uma rápida reconstrução económica1. O objetivo da ajuda dos EUA ao Japão era conter o comunismo. A sociedade japonesa encontrava-se assim alterada: a nobreza tivera sido abolida, o ensino estava democratizado, foi elaborada uma nova legislação sobre o trabalho (com o objetivo de aumentar a produção e onde o despedimento era facilitado, os horários estabelecidos, etc.), estimularam práticas antinatalistas (para não haver excesso de população e adaptar a mão de obra) e foi também elaborada uma nova constituição. O Governo era estável (o Partido Liberal-Democrata manteve-se ininterruptamente no Governo após 1955) possibilitando a atuação concertada entre o Governo e os grandes grupos económicos. O Estado intervinha na regulação do investimento, na concessão de créditos, na proteção de empresas e do mercado nacional. Para além disso, canalizou a maior parte dos investimentos públicos para o setor produtivo, e absteve-se em matéria de legislação social, libertando os empresários nipónicos de encargos com a Previdência. A mentalidade japonesa, muito diferente da do ocidente, foi um importante fator de crescimento: caracterizavam-se por ser dinâmicos e austeros, pondo acima de todos os objetivos a reconstrução da nação, sendo que os lucros foram reinvestidos continuamente e, nos primeiros anos, os trabalhadores chegavam a doar à empresa os seus pequenos aumentos de salário para promover a renovação tecnológica. Esta ligação afetiva entronca na tradição japonesa do trabalho vitalício que transforma o patrão no protetor dos seus funcionários, os quais, por sua vez, dedicam uma incondicional lealdade à empresa. Munido de mão de obra abundante e barata e de um sistema de ensino abrangente mas altamente competitivo, o Japão lançou-se à tarefa de se transformar na primeira sociedade de consumo da Ásia. O milagre japonês Este crescimento japonês deu-se em duas etapas: 1955 a 1961: visou a indústria pesada (ferro, aço, máquinas, química) e bens de consumo duradouros (televisores, frigoríficos, etc.). O comércio externo acompanhou esta expansão: as exportações duplicam, assim como as importações, necessárias ao abastecimento de matériasprimas dos novos setores industriais. Neste período a produção industrial praticamente triplicou; 1966 a 1971: a produção industrial duplicou e criaram-se novos postos de trabalho. Além do desenvolvimento dos setores clássicos, como a siderurgia, este surto de crescimento assenta, sobretudo nos novos setores como a produção de automóveis, televisores a cores, aparelhos de circuito integrado, etc. Este segundo boom fez do Japão a terceira maior potência económica mundial, atrás dos EUA e URSS. Os americanos implementaram também um programa de ajuda económica, semelhante ao Plano Marshall que ficou conhecido como Plano Dodge. 1 1 História A – 12º Ano 16 de março O AFASTAMENTO DA CHINA DO BLOCO SOVIÉTICO O comunismo chinês foi, desde logo, marcado pela personalidade carismática do seu líder, Mao Tsé-Tung, que rapidamente se elevou à condição de grande teórico marxista. Ao contrário do marxismo tradicional, Mao enfatizava o papel dos camponeses, aos quais atribuía a liderança revolucionária. O maoísmo assumiu como objetivo a revolução total protagonizada pelas massas e não pelas estruturas do poder. Para isso, recorreu a grandes campanhas de natureza ideológica destinadas a consciencializar e a mobilizar as populações para as grandes transformações revolucionárias. Paralelamente, o líder chinês advogou sempre a humildade e a autocrítica como uma das virtudes mais estimáveis de qualquer quadro dirigente, que devia “agir de acordo com as necessidades e as aspirações das massas”. Face aos maus resultados económicos, Mao lança, em 1957, uma campanha de “retificação” dos erros cometidos pelo partido, cuja atuação parecia afastar-se das massas. Esta política, que punha em causa o modelo de desenvolvimento soviético que a China tinha adotado foi complementada, no ano seguinte, com o “grande salto em frente” – um programa de remodelação e fomento económico que visava encurtar o caminho para o socialismo e “apanhar”, em 15 anos, a Inglaterra, sem quaisquer ajudas externas. A indústria pesada foi posta de lado e a importância passou para os campos, onde se deviam desenvolver tanto as produções agrícolas como pequenas indústrias locais, baseadas na tecnologia tradicional. A produção passou a ser dirigida por um elemento do partido e a vida camponesa foi reorganizada em comunas populares, onde se estabeleceu um modo de vida comunitário. Uma nova e intensa campanha de massas procurou mobilizar os chineses para esta via original e nacionalista do socialismo, em que um país agrário se erguia através das suas “próprias forças”. Mao criticava Kruchtchev pela sua política de coexistência pacífica e acusa os soviéticos de graves desvios do ideal socialista, sendo que Moscovo o critica, acusando-o de aventureirismo. A partir de então, a China considerava-se o único país “verdadeiramente socialista”. No entanto, este programa apresentou resultados negativos, sendo em 1960 Mao afastado do poder. Com o fim de recuperar o poder e, também, de eliminar os seus opositores, Mao lança mais uma grande campanha de massas – a “Revolução Cultural” – ideologicamente apoiada nas suas próprias “Citações...”, que, reunidas num pequeno “livro vermelho”, publica em 1964, se tornam o resumo do maoísmo. Dirigido por jovens estudantes, que Mao exorta à revolta contra todas as estruturas que não correspondam à “base económica socialista”, o movimento desencadeia uma onda de excessos e de violência que coloca a China à beira da anarquia e da guerra civil, sendo necessário o recurso ao exército para repor a ordem, em 1968. A “Revolução Cultural” levou a milhões de portos, perseguidos e jovens enviados, no fim do movimento, para campos de reeducação. Mao Tsé-Tung recupera assim o poder, através do seu carisma para transformar a China numa grande potência mundial, capaz de afrontar a URSS. Os seus esforços foram coroados quando, em 1971, o país entra para a ONU e substitui a República Formosa (Taiwan) no Conselho de Segurança. As intervenções dos delegados chineses nas Nações Unidas dirigiram-se frequentemente contra o “social-imperialismo” soviético, que consideravam a “principal ameaça à paz mundial”. Este confronto entre as duas potências, que se foi agravando progressivamente, abriu uma importante fissura no bloco socialista que contribuiu para esbater o estreito bipolarismo dos primeiros anos da Guerra Fria. 2 História A – 12º Ano 16 de março A ASCENSÃO DA EUROPA Em 1946, Churchill lança o apelo ao renascentismo europeu, através de uma espécie de “Estados Unidos da Europa”. Apesar dos avanços e recuos, criaram-se várias organizações europeístas, cujo objetivo visava promover encontros, debates e congressos, incrementando-se as iniciativas diplomáticas entre os futuros estados-membros. No entanto, desde o início fizeram-se sentir em todo o processo dificuldades em concertar interesses e em definir o futuro modelo político dessa Europa: os mais ousados desejavam uma Europa federalista2, outros admitiam apenas uma confederação de estados independentes. Da CECA à CEE O primeiro passo consistente para a cooperação Europeia resultou da declaração Schuman (1950), que previa a cooperação entre a França e a Alemanha no domínio da produção de carvão e aço, terminando assim a rivalidade entre os dois países. Desta iniciativa, resultou em 1951, a CECA – Comunidade Europeia do Carvão e do Aço – a que aderiram a Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo3. A CECA estabelecia uma zona conjunta minero-siderúrgica sob a orientação de uma Alta Autoridade supranacional. Ainda que de caráter estritamente económico e limitado aos setores referidos, a CECA possibilitou a criação de uma união económica mais ampla – a CEE – Comunidade Económica Europeia – criada em 1957 pelo Tratado de Roma. O Tratado de Roma, assente pelos mesmos países da CECA é considerado o ponto de partida da atual União Europeia. Neste acordo os países signatários comprometiam-se a implementar progressivamente a livre circulação de mercadorias, de capitais e de trabalhadores, bem como a livre prestação de serviços. Previa-se também o estabelecimento de uma política comum na área da agricultura, dos transportes e da produção energética. Para este último fim foi criada a EURATOM – Comissão Europeia de Energia Atómica. A união aduaneira (livre circulação de mercadorias) prevista no Tratado de Roma veio a concretizar-se em 1968, traduzindo-se num aumento das trocas intercomunitárias. Em 1970, a CEE era já a primeira potência comercial do mundo. Adesão à CEE: 1981 – Grécia 1986 – Portugal e Espanha 1995 – Áustria, Finlândia, Suécia 2004 – Países da Europa de Leste, Polónia, Eslováquia A SEGUNDA VAGA DE DESCOLONIZAÇÕES. A POLÍTICA DE NÃO-ALINHAMENTO Desde 1945 a 1965 os países de África tornaram-se independentes, à exceção das colónias portuguesas que só depois de 65 se tornaram independentes de forma violenta. 2 Tendo como exemplo a federação dos EUA, em que cada estado, possuindo relativa autonomia interna, não tem voz própria em questões internacionais. 3 A Bélgica, Holanda e o Luxemburgo já tinham formado entre si, em 1948, um acordo aduaneiro que instituía a livre circulação de mercadorias – BENELUX. 3 História A – 12º Ano 16 de março Realizaram-se movimentos nacionalistas, que defendem a autodeterminação dos territórios. Frequentemente estes movimentos têm dificuldade em promover a coesão e a participação das populações pois estas encontram-se divididas por uma multiplicidade de etnias que os interesses do colonialismo não respeitaram. Com o fim de criarem um sentimento de identidade nacional e de fazerem reviver o orgulho perdido, os líderes nacionalistas promovem a revalorização das raízes ancestrais do seu povo, a sua cultura comum, difundindo a ideia de que ela é tao válida como a civilização dos europeus colonizadores. Muitos destes líderes foram educados nas metrópoles, onde assimilaram valores de liberdade e de justiça social que pretendem transpor para os seus países. A luta pela independência, assume, assim, a dupla vertente de uma luta politica e de uma luta contra a pobreza e o atraso económico, vistos como consequência direta da exploração colonial. Foi em parte, por esta razão que muitos movimentos de libertação se deixaram reduzir pela mensagem igualitária do socialismo. O processo independentista contou com o apoio da ONU, que, honrando os ideais de igualdade e justiça que presidiram à sua fundação, se colocou do lado dos povos dominados. Em 1960, a Assembleia-Geral aprovou a Resolução 1514, que defendia a autodeterminação dos territórios e condenava o uso de qualquer ação armada das metrópoles, no sentido de a impedir. Um Terceiro Mundo O Terceiro Mundo era constituído por áreas que foram descolonizadas e consideradas as mais pobres e populosas. Geograficamente abrangiam o continente africano e asiático. Estes países eram vítimas do neocolonialismo, ou seja, embora não houvesse domínio político, estavam sob a dependência económica dos países ricos. Estes países, continuaram a explorar, através de grandes companhias, as matérias-primas, mineiras e agrícolas do mundo subdesenvolvido, fornecendo-lhes, como no passado, produtos manufaturados. Tal situação atrasou estas regiões: por um lado, os lucros das companhas não são reinvestidos no local; por outro, enquanto os preços dos produtos industriais aumentam, o valor das matérias-primas decresce. Assim, estes dois fatores resultam na exploração dos recursos dos países economicamente mais deficitários, em benefício das potências industrializadas. A política de não-alinhamento Cientes dos seus interesses comuns, os países saídos da descolonização cedo se esforçaram por estreitar os laços que os unem e por marcar posição na política internacional. Assim, em 1955 realiza-se uma conferência, em Bandung (Indonésia), com um conjunto de países asiáticos (Índia, Indonésia, Birmânia, Ceilão, Paquistão) tendo como objetivo definir as linhas gerais de atuação dos países recém-formados. Apesar das disparidades ideológicas dos países intervenientes, foi possível adotar um conjunto de princípios, que, registados nos dez pontos do Comunicado Final, definem as posições políticas do Terceiro Mundo: condenação do colonialismo, rejeição da política de blocos, apela à resolução pacífica dos diferentes internacionais. Embora não tenha tomado medidas práticas, esta conferência teve um efeito notável no processo descolonizador: foi o ponto de partida para a afirmação dos países descolonizados. A mensagem da conferência foi tomando corpo através de sucessivos encontros internacionais que deram origem ao Movimento dos Não-Alinhados, criado oficialmente na Conferência de Belgrado, em 1961 (Nehru, Nasser e Tito foram os seus grandes promotores, empenhando-se no estabelecimento de uma via política alternativa à bipolarização mundial). 4 História A – 12º Ano 16 de março O não-alinhamento atraiu um número crescente de países da Ásia, da África e da América e tornou-se o símbolo de sonho de independência e de liberdade das nações mais frágeis face Às pressões das superpotências e do mundo desenvolvido em geral. Este movimento propunha-se a defender “uma política ativa, positiva e construtiva” com vista ao estabelecimento da paz mundial. Na prática, a atuação política do movimento revestiu sobretudo a forma de uma luta contra o colonialismo. É este grupo que na década de 60 e 70 transforma a Assembleia-Geral da ONU numa tribuna, onde se debatem e se condenam as atuações dos Franceses na Argélia, dos Portugueses em Angola e Moçambique, ou dos Americanos no Vietname. O TERMO DE PROSPERIDADE ECONÓMICA: ORIGENS E EFEITOS Os “trinta gloriosos” anos de abundância e crescimento económico do mundo capitalista cessaram abruptamente em 1973. A crise afetou essencialmente os setores siderúrgico, a construção naval, automóvel e têxtil. Muitas empresas fecharam, outras reconverteram a sua produção e o desemprego subiu em flecha. A inflação tornou-se galopante e este fenómeno recebeu o nome de estagflação, dado que houve uma estagnação produtiva acompanhada pela alta de preços. Os fatores de crise A interrupção do crescimento económico dos anos 70 deveu-se, sobretudo, à conjugação de dois fatores: crise energética e instabilidade monetária. Nos finais da década de 60, o petróleo era a fonte de energia básica de que dependiam os países industrializados. Em 1973, os países do Médio Oriente, membros da OPEP que até aí tinham mantido baixo o custo do barril de crude, fazem deste recurso natural uma arma política. Como retaliação contra a ajuda dos ocidentais a Israel, decidem quadruplicar o preço do barril e reduzir a produção petrolífera em 25 %, reforçando este número com reduções mensais progressivas de 5 %, até que fosse abandonada a política de auxílio ao Estado Judaico. Aos EUA, à Holanda e à Dinamarca, considerados “inimigos da causa árabe”, foi imposto um boicote total. Em 1979, a situação agravar-se-á com novas subidas do preço devido à crise política do Irão (segundo maior exportador mundial) e à posterior guerra Irão-Iraque. Estes “choques petrolíferos”, que provocaram um aumento do “ouro negro”, levaram ao acentuado aumento dos custos de produção dos artigos industriais e, consequentemente, o encarecimento dos artigos junto do consumidor, gerando uma escalada de inflação. Um outro fator determinante nesta depressão económica, foi a instabilidade monetária: excessiva quantidade de moeda posta em circulação pelos Estados Unidos (devido a gastos sociais, militares, investimentos no estrangeiro, etc.) levando o presidente Nixon a suspender, em agosto de 1971, a convertibilidade do dólar em ouro, o que desregulou o sistema monetário internacional. Segundo alguns analistas foi esta instabilidade monetária a maior responsável pelo enfraquecimento económico dos anos 70. Outras razões são apresentadas para explicar a recessão económica: falência do sistema fordista, desmotivação dos operários e um elevado absentismo, que conjugado com o aumento dos encargos sociais e salariais, diminuiu fortemente os ganhos dos empresários. Uma crise relativa A crise dos anos 70, introduziu um novo ciclo económico, que intercala períodos de crescimento e de estagnação. 5 História A – 12º Ano 16 de março Ainda que a um ritmo mais lento que na década de 30, o crescimento económico manteve-se, alguns setores industriais reconverteram-se, enquanto outros, ligados às novas tecnologias, conheceram um forte impulso. Paralelamente, registou-se um aumento do setor terciário e o comércio internacional nunca decaiu, embora tenha desacelerado o seu crescimento. Também no aspeto social esta crise não atingiu a dimensão trágica da Grande Depressão: as estruturas do Estado-Providência, reforçadas, como sabemos, após o segundo conflito mundial, cumpriram absolutamente o seu papel, amparando o desemprego e evitando situações de miséria extrema e generalizada. 6