ISAURA AKEMI OKADA DETERMINAÇÃO SIMULTÂNEA DE NUTRIENTES INORGÂNICOS EM ALIMENTOS: DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA ANALÍTICA E AVALIAÇÃO DE SEUS NÍVEIS EM AMOSTRAS DE ARROZ E FEIJÃO “IN NATURA” Dissertação graduação apresentada em Infecções ao e Programa Saúde de Pública Pósda Coordenação dos Institutos de Pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências. SÃO PAULO 2003 ISAURA AKEMI OKADA DETERMINAÇÃO SIMULTÂNEA DE NUTRIENTES INORGÂNICOS EM ALIMENTOS: DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA ANALÍTICA E AVALIAÇÃO DE SEUS NÍVEIS EM AMOSTRAS DE ARROZ E FEIJÃO “IN NATURA” Dissertação graduação apresentada em ao Infecções e Programa Saúde de Pública Pósda Coordenação dos Institutos de Pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências. Área de concentração: Pesquisas Laboratoriais em Saúde Pública Orientador: Dr. Odair Zenebon SÃO PAULO 2003 Aos meus pais Tadao e Halu, Aos meus irmãos Ricardo, Aparecida, Catarina, Irene e Rosa, Ao meu Sérgio, A todos vocês eu dedico este trabalho. AGRADECIMENTOS Ao Dr. Odair Zenebon, pela orientação. À Alice pelo incentivo, apoio, compreensão e sugestões. À Cristina, Márcia, Fátima, Carmen, Franca e Alan pelo inestimável apoio e incentivo. Aos demais membros da Seção de Equipamentos Especializados, Sonia, Lucy, Mirian e Eliana, pelo apoio À Dra. Myrna, à Dra. Vera e ao Dr. Jorge, pelas contribuições no exame de qualificação. Ao Paulo, pelo incentivo. À Marina, Sandra, Lígia e Maria Helena, pela amizade. Ao Instituto Adolfo Lutz, pela oportunidade de desenvolver este trabalho. SUMÁRIO Lista de figuras Lista de tabelas Resumo Summary 1 – INTRODUÇÃO 1.1 Nutrientes inorgânicos...........................................................................2 1.1.1 Aspectos gerais......................................................................2 1.1.2 Tabelas de composição de alimentos e rotulagem nutricional..........................................................18 1.2 O arroz e o feijão..................................................................................23 1.3 Quantificação de nutrientes inorgânicos em alimentos........................30 1.3.1 Preparação das amostras.....................................................30 1.3.1.1 Generalidades.......................................................30 1.3.1.2 Método de mineralização por via seca..................34 1.3.1.3 Método de mineralização por via úmida................36 1.3.1.4 Via seca versus via úmida.....................................38 1.3.2 Quantificação.........................................................................39 2 – OBJETIVOS.....................................................................................................46 3 – MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Material..................................................................................................48 3.1.1 Reagentes............................................................................. .48 3.1.2 Materiais diversos....................................................................48 3.1.3 Material de referência certificado (MRC).................................49 3.1.4 Equipamentos..........................................................................49 3.2 Tratamento das amostras......................................................................49 3.2.1 Amostragem.............................................................................49 3.2.2 Pré-tratamento.........................................................................49 3.2.3 Metodologia analítica...............................................................50 3.2.3.1 Método por via seca...................................................50 3.2.3.2 Método proposto por via úmida..................................51 3.2.4 Quantificação...........................................................................51 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Teste de homogeneidade das amostras...............................................54 4.2 Validação da metodologia analítica desenvolvida.................................55 4.2.1 Linearidade..............................................................................55 4.2.2 Sensibilidade............................................................................57 4.2.3 Limite de Detecção..................................................................57 4.2.4 Limite de Quantificação...........................................................58 4.2.5 Exatidão...................................................................................59 4.2.5.1 Arroz...........................................................................59 4.2.5.2 Feijão..........................................................................62 4.2.6 Precisão...................................................................................63 4.2.7 Comparação da precisão entre métodos.................................65 4.2.8 Seletividade.............................................................................66 4.3 Estudo de interferentes.........................................................................67 4.3.1 Determinação de sódio............................................................67 4.3.2 Determinação de potássio.......................................................68 4.4 Avaliação dos resultados obtidos de nutrientes inorgânicos para amostras de arroz e de feijão................................................................70 4.4.1 Comparação dos teores obtidos de Ca, Fe e Na em amostras de arroz e de feijão com os valores declarados em rotulagens nutricionais......................................................................71 4.4.2 Comparação dos teores obtidos de nutrientes inorgânicos em amostras de arroz e de feijão com os valores das tabelas de composição de alimentos...........................................................76 4.4.2.1 Arroz..........................................................................77 4.4.2.2 Feijão.........................................................................80 5 – CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS...............................................................84 ANEXOS...............................................................................................................86 Anexo 1: Alguns valores de RDA para nutrientes inorgânicos (USA)...................87 Anexo 2: Valores de IDR para nutrientes inorgânicos (Brasil)..............................88 Anexo 3: Tabela das concentrações obtidas dos elementos analisados por ICP OES na amostra de arroz liofilizado e em grão, pelo método de via seca.............................................................................................89 Anexo 4: Tabela das concentrações obtidas dos elementos analisados por ICP OES na amostra de feijão triturado e em grão, pelo método de via seca..............................................................................................90 Anexo 5: Tabela das concentrações dos elementos analisados por ICP OES para o NIES (material de referência certificado – arroz), pelo método de via seca.............................................................................................91 Anexo 6: Tabela das concentrações dos elementos analisados por ICP OES para o NIES (material de referência certificado – arroz), pelo método de via úmida..........................................................................................91 Anexo 7: Tabela das concentrações dos elementos analisados por ICP OES para amostra de arroz (liofilizado), pelo método de via seca................92 Anexo 8: Tabela das concentrações dos elementos analisados por ICP OES para amostra de arroz (liofilizado), pelo método de via úmida..............92 Anexo 9: Tabela das concentrações dos elementos analisados por ICP OES para amostra de feijão (triturado), pelo método de via úmida................93 Anexo 10: Tabela das concentrações dos elementos analisados por ICP OES para amostra de feijão (triturado), pelo método de via seca................93 Anexo 11.1: Espectro de emissão de cálcio em amostra de arroz, obtido por ICP OES...........................................................................................94 Anexo 11.2: Espectro de emissão de cálcio em amostra de feijão, obtido por ICP OES...........................................................................................95 Anexo 11.3: Espectro de emissão de cromo em amostra de arroz, obtido por ICP OES...........................................................................................96 Anexo 11.4: Espectro de emissão de cromo em amostra de feijão, obtido por ICP OES...........................................................................................97 Anexo 11.5: Espectro de emissão de cobre em amostra de arroz, obtido por ICP OES...........................................................................................98 Anexo 11.6: Espectro de emissão de cobre em amostra de feijão, obtido por ICP OES...........................................................................................99 Anexo 11.7: Espectro de emissão de ferro em amostra de arroz, obtido por ICP OES.........................................................................................100 Anexo 11.8: Espectro de emissão de ferro em amostra de feijão, obtido por ICP OES.........................................................................................101 Anexo 11.9: Espectro de emissão de potássio em amostra de arroz, obtido por ICP OES...................................................................................102 Anexo 11.10: Espectro de emissão de potássio em amostra de feijão, obtido por ICP OES..................................................................................103 Anexo 11.11: Espectro de emissão de magnésio em amostra de arroz, obtido por ICP OES..................................................................................104 Anexo 11.12: Espectro de emissão de magnésio em amostra de feijão, obtido por ICP OES...................................................................................105 Anexo 11.13: Espectro de emissão manganês em amostra de arroz, obtido por ICP OES..................................................................................106 Anexo 11.14: Espectro de emissão de manganês em amostra de feijão, obtido por ICP OES..................................................................................107 Anexo 11.15: Espectro de emissão de sódio em amostra de arroz, obtido por ICP OES..................................................................................108 Anexo 11.16: Espectro de emissão de sódio em amostra de feijão, obtido por ICP OES..................................................................................109 Anexo 11.17: Espectro de emissão de fósforo em amostra de arroz, obtido por ICP OES..................................................................................110 Anexo 11.18: Espectro de emissão de fósforo em amostra de feijão, obtido por ICP OES ...................................................................................111 Anexo 11.19: Espectro de emissão de zinco em amostra de arroz, obtido por ICP OES..................................................................................112 Anexo 11.20: Espectro de emissão de zinco em amostra de feijão, obtido por ICP OES..................................................................................113 Anexo 12: Concentrações de nutrientes inorgânicos obtidos em 40 amostras de feijão comercializadas no Estado de São Paulo..........................114 Anexo 13: Concentrações de nutrientes inorgânicos obtidos em 40 amostras de arroz comercializadas no Estado de São Paulo...........................115 Anexo 14.1: Histograma dos resultados obtidos para cálcio (amostras de arroz e de feijão), com curva normal..............................................116 Anexo 14.2: Histograma dos resultados obtidos para cromo (amostras de arroz e de feijão), com curva normal..............................................117 Anexo 14.3: Histograma dos resultados obtidos para cobre (amostras de arroz e de feijão), com curva normal..............................................118 Anexo 14.4: Histograma dos resultados obtidos para ferro (amostras de arroz e de feijão), com curva normal..............................................119 Anexo 14.5: Histograma dos resultados obtidos para potássio (amostras de arroz e de feijão), com curva normal..............................................120 Anexo 14.6: Histograma dos resultados obtidos para magnésio (amostras de arroz e de feijão), com curva normal..............................................121 Anexo 14.7: Histograma dos resultados obtidos para manganês (amostras de arroz e de feijão), com curva normal..............................................122 Anexo 14.8: Histograma dos resultados obtidos para sódio (amostras de arroz e de feijão), com curva normal..............................................123 Anexo 14.9: Histograma dos resultados obtidos para fósforo (amostras de arroz e de feijão), com curva normal................................................124 Anexo 14.10: Histograma dos resultados obtidos para zinco (amostras de arroz e de feijão), com curva normal..............................................125 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................126 LISTA DE FIGURAS Figura 1.1 – Pirâmide alimentar.............................................................................22 Figura 1.2 – Principais componentes de um instrumento ICP OES......................42 Figura 1.3 – Fonte de plasma para ICP OES........................................................43 Figura 4.1 – Curva-padrão do elemento cálcio obtida por ICP OES .....................56 Figura 4.2 – Distribuição em termos de porcentagem dos teores declarados nos rótulos dos nutrientes cálcio, ferro e sódio nas amostras de arroz analisadas................................................................................73 Figura 4.3 – Distribuição em termos de porcentagem dos teores declarados nos rótulos dos nutrientes cálcio, ferro e sódio nas amostras de feijão analisadas...............................................................................75 Figura 4.4 – Comparação entre teores declarados em tabelas de composição e valores obtidos neste trabalho para amostras de arroz................78 Figura 4.5 – Comparação entre teores declarados em tabelas de composição e valores obtidos neste trabalho para amostras de feijão...............81 LISTA DE TABELAS Tabela 1.1 – Modelo de informação nutricional para fins de rotulagem de mandioca congelada........................................................................20 Tabela 1.2 – Níveis de nutrientes inorgânicos em arroz polido, declarados em tabelas de composição de alimentos..........................................26 Tabela 1.3 – Níveis de nutrientes inorgânicos em feijão, declarados em tabelas de composição de alimentos................................................29 Tabela 3.1 – Parâmetros de operação...................................................................51 Tabela 3.2 – Concentrações das curvas-padrão...................................................52 Tabela 4.1 – Valores de p para amostras de arroz e de feijão.............................54 Tabela 4.2 – Faixas de trabalho das curvas-padrão dos elementos analisados e respectivos valores dos coeficientes de correlação e dos coeficientes angulares......................................................................56 Tabela 4.3 – Valores dos limites de detecção e quantificação para amostras de arroz e de feijão.........................................................................58 Tabela 4.4 – Valores certificados, resultados obtidos experimentalmente pelos dois métodos de preparação (via seca e via úmida), e valores calculados de z-score......................................................................60 Tabela 4.5 – Valores certificados, média dos resultados obtidos por via seca e via úmida, valores de | x - m | e valores de 2s..............................61 Tabela 4.6 – Porcentagens de recuperação obtidas para amostra de feijão com adição de três concentrações diferentes de padrão (método de via seca e via úmida)..............................................................................63 Tabela 4.7 – Valores de Sr e r dos elementos analisados em amostras de arroz e de feijão................................................................................64 Tabela 4.8 – Valores das variâncias e de Fcalculado para as amostras de arroz e de feijão, para comparação dos métodos (via seca e via úmida).........................................................................................66 Tabela 4.9 – Comparação da concentração média de sódio em amostras de arroz (NIES) e de feijão preparadas em cápsulas de platina e de porcelana, por via seca.............................................................67 Tabela 4.10 – Comparação da concentração média de potássio em amostras de arroz (NIES) e de feijão preparadas em cápsulas de platina e de porcelana, por via seca...........................................................69 Tabela 4.11 – Análise estatística descritiva dos teores de nutrientes inorgânicos obtidos em 40 amostras de feijão comercializadas no Estado de São Paulo..................................................................70 Tabela 4.12 – Análise estatística descritiva dos teores de nutrientes inorgânicos obtidos em 40 amostras de arroz comercializadas no Estado de São Paulo.................................................................71 Tabela 4.13 – Valores da IDR para adultos, de 5% da IDR e concentrações médias por porção para amostras de arroz e de feijão......................................................................................76 Resumo Um novo método de digestão por via úmida para mineralização de amostras de arroz e de feijão, baseado na hidrólise com ácido clorídrico, foi desenvolvido e validado, com os nutrientes inorgânicos (Ca, Cr, Cu, Fe, K, Mg, Mn, Na, P e Zn) sendo determinados simultaneamente por espectrometria de emissão atômica com plasma de argônio indutivamente acoplado (ICP OES). Os parâmetros validados (linearidade, precisão, exatidão, limite de detecção, limite de quantificação, sensibilidade e seletividade) apresentaram características satisfatórias de desempenho, demonstrando o método ser eficente, rápido, simples e de baixo custo. A partir desse novo método, foram analisadas 40 amostras de arroz branco cru e 40 amostras de feijão cru, comercializados no Estado de São Paulo. Os resultados obtidos demonstraram que o feijão é uma boa fonte de K, Mg, Fe, Cu, Zn e P. Por outro lado, o arroz apresentou concentrações relativamente baixas dos nutrientes estudados. Adicionalmente, os teores obtidos dos nutrientes inorgânicos das amostras de arroz e de feijão foram comparados com a informação nutricional obrigatória nas rotulagens e com a tabela de composição de alimentos. Com relação a este último aspecto, observou-se a necessidade do uso da tabela de composição com algumas restrições, uma vez que a composição de nutrientes inorgânicos nos alimentos apresentam variações de acordo com o tipo e formas corretivas do solo e da adubação, do clima, etc. Palavras-chave: nutrientes, hidrólise, ácido clorídrico, Oryza sativa, Phaseolus nanus. Summary A new wet digestion method for the mineralization of rice and beans samples based on HCl hydrolisis was developed and validated, and the inorganic nutrients (Ca, Cr, Cu, Fe, K, Mg, Mn, Na, P e Zn) were simultaneously determined using inductively coupled plasma atomic emission spectrometry (ICP OES). The validation parameters (linearity, precision, accuracy, limit of detection, limit of quantificaton, sensitivity, and selectivity) showed satisfactory performance characteristics, while the method displayed a simple, rapid, inexpensive, and efficient procedure. Using this new method 40 samples of crude rice and bean commercialized in São Paulo State were analysed. The results showed that bean is a good source of K, Mg, Fe, Cu, Zn, Ca and P. On the other hand rice demonstratred a low level of these minerals. Additionally the rice and bean inorganic nutrient contents were compared with the obrigatory nutritional information labelling and food composition tables data. In this sense the results revealed that the use of these tables must be carefully carried out since food composition depends on a large number of factors: climate, soil, variety and so on. Keywords: nutrient, hydrolysis, hydrochloric acid, Oryza sativa, Phaseolus nanus. 1 – INTRODUÇÃO 1.1 Nutrientes inorgânicos 1.1.1 Aspectos gerais O organismo humano é composto por uma série de elementos químicos específicos. Apenas quatro destes elementos (oxigênio, carbono, hidrogênio e nitrogênio) constituem cerca de 96% do peso corpóreo, apresentando-se principalmente ou na forma de biomoléculas orgânicas como, por exemplo, proteínas, lipídios e glicídios, ou na forma de água. Todos os outros elementos constituintes que, quando somados, compoem os 4% restantes, são comumente denominados de “elementos minerais” ou apenas “minerais”, em contraposição aos quatro elementos anteriores, característicos de compostos orgânicos (MORRISON e BOYD, 1994; TOWNSEND, 1994). Apesar de sua pequena porcentagem em massa, os minerais não deixam de serem essenciais para uma boa saúde. Por definição, elemento essencial é aquele necessário para a manutenção da vida, o que implica que sua carência resulta ou em um prejuízo consistente das funções fisiológicas ou mesmo na morte do organismo (FENNEMA, 1996; MERTZ, 1981). Este grupo de elementos inorgânicos participa em diversas funções no organismo, que incluem desde a regulação do balanço ácido-base, a manutenção da atividade muscular e da atividade enzimática, até a atuação como elemento estrutural. Uma vez que não podem ser sintetizados pelo organismo, devem, portanto, ser obtidos a partir de fontes exógenas, como por exemplo, a água e os alimentos; assim, a dieta constitui-se em uma das principais vias de ingestão, fato que conduz os minerais a serem denominados também de “nutrientes inorgânicos” (FENNEMA, 1996; MERTZ, 1981; TIRAPEGUI, 2002; TOWNSEND, 1994). Em uma dieta, cada mineral é requerido em quantidades específicas, numa faixa que varia desde microgramas/dia a gramas/dia. Assim, é comum classificar os minerais essenciais (ou nutrientes inorgânicos) em duas categorias: os macrominerais (Ca, P, Mg, Na, K, Cl e S), necessários em uma dieta em quantidades diárias maiores do que 100 miligramas, e os microminerais (também chamados de elementos-traço), que apresentam uma necessidade diária nutricional menor do que 100 mg (Fe, Cu, Zn, Mn, Cr, Co, I, Mo, Se e F). Ressalte-se que a importância dos minerais como ingredientes nos alimentos não se revela somente no seu papel nutricional / fisiológico; eles contribuem também para ativar ou inibir catálises enzimáticas e outras reações no alimento, além de influenciar em sua textura (BELITZ e GROSCH, 1999; FENNEMA, 1996; MERTZ, 1981; TIRAPEGUI, 2002; TOWNSEND, 1994; WARDLAW e KESSEL, 2002). Algum cuidado deve ser tomado no que se refere a “necessidades diárias nutricionais” ou “quantidades específicas requeridas”, tendo-se em vista que o suprimento de minerais depende não somente da ingestão do alimento, mas principalmente de sua biodisponibilidade (BELITZ e GROSCH, 1999; FENNEMA, 1996; TAIT, 1999; VAN CAMPEN e GLAHN, 1999), uma vez que a concentração de um determinado nutriente em um dado alimento não é necessariamente um indicador confiável do valor do alimento como fonte daquele nutriente. Podem ser encontradas várias definições para o termo “biodisponibilidade”, porém a que tem sido adotada mais freqüentemente é a que descreve biodisponibilidade como “a quantidade de um nutriente que está disponível para a absorção em uma forma que é fisiologicamente útil” (VAN CAMPEN e GLAHN, 1999). No caso de um mineral, sua biodisponibilidade é determinada primeiramente pela eficiência em que é absorvido do lúmen intestinal para o sangue. Contudo, em alguns casos os nutrientes absorvidos podem estar em uma forma em que sua utilização pelo organismo não será possível. Por exemplo, o ferro é ligado tão fortemente a alguns quelatos que, mesmo que sejam absorvidos, o ferro não será liberado para as células para a sua incorporação em ferro-proteínas; ao invés disso, o ferroquelato estável (e intacto) será excretado na urina (FENNEMA, 1996). A absorção e/ou retenção de nutrientes inorgânicos são freqüentemente utilizados como indicadores de suas biodisponibilidades (VAN CAMPEN e GLAHN, 1999). O processo de absorção dos minerais e os fatores que afetam as suas biodisponibilidades são extremamente complexos, tendo-se em vista não somente a forma em que os minerais ocorrem nos alimentos, mas também todas as transformações sofridas pelos alimentos desde o evento “ingestão” até a “absorção” que, de forma resumida, podem ser assim descritas (FENNEMA, 1996): · Ainda na boca, enquanto o alimento é mastigado, a enzima amilase (presente na saliva) inicia o processo de digestão do amido. Nesta etapa, as espécies minerais sofrem apenas pequenas transformações. · No estômago, o pH é gradativamente abaixado pelo suco gástrico até um valor próximo a 2. Nesta etapa, as transformações sofridas pelas espécies minerais são muito grandes: estabilidades de complexos são alteradas pelo abaixamento do pH e pela denaturação e hidrólise das proteínas, o que conduz à liberação de minerais para a solução, os quais podem formar novos complexos com outros ligantes. Adicionalmente, metais de transição podem sofrer mudanças de seus números de oxidação enquanto o pH é reduzido. O ferro, por exemplo, tem um comportamento redox que é fortemente dependente do pH: em pH = 7, mesmo na presença de agentes redutores em excesso (como o ácido ascórbico), o íon Fe3+ não será reduzido; no entanto, se o pH é abaixado, o ácido ascórbico rapidamente reduz Fe3+ a Fe2+, com uma conseqüência importante: uma vez que Fe2+ forma complexos menos estáveis do que o íon Fe3+ com a maioria dos ligantes, esta redução promoverá a liberação do ferro de seus complexos no alimento. · O alimento, parcialmente digerido no estômago, alcança o intestino delgado, onde secreções pancreáticas contendo bicarbonato de sódio e enzimas digestivas elevam o pH, dando continuidade à digestão. Simultaneamente, lipases começam a agir sobre as gorduras. À medida que o processo evolui, novos ligantes são formados enquanto os que já existiam são transformados, de modo que suas afinidades pelos íons metálicos são alteradas. Em resumo, um rearranjo das espécies minerais ocorre no lúmen do intestino delgado, resultando em uma mistura complexa de espécies solúveis e insolúveis, com pesos moleculares variando desde valores baixos até altos. As espécies solúveis podem difundir-se até as microvilosidades da superfície da mucosa intestinal onde podem ser absorvidas pelas células ou passar entre elas através de transportadores. Na atualidade, ainda muito pouco se sabe a respeito dos mecanismos que regem esta absorção dos nutrientes inorgânicos nesta etapa (TAIT, 1999). Frente a isto, a biodisponibilidade dos nutrientes inorgânicos é muito variável: algumas formas do ferro apresentam valores menores que 1%, enquanto sódio e potássio podem apresentar biodisponibilidades maiores que 90%. Não obstante, um grande número de estudos permite a identificação de alguns fatores que podem afetar a biodisponilidade dos minerais nos alimentos (FENNEMA, 1996): · Forma química do mineral no alimento: formas altamente insolúveis são pobremente absorvidas, ferro heme é mais eficientemente absorvido do que ferro não heme, e complexos de alta estabilidade podem ter baixa absorção, por exemplo. · Ligantes no alimento: ligantes que formam quelatos solúveis com metais podem aumentar a absorção (EDTA aumenta a absorção de ferro); ligantes com alto peso molecular que são pouco digeridos (fibras e algumas proteínas) podem reduzir a absorção assim como ligantes que formam quelatos insolúveis com minerais (oxalatos inibem a absorção de cálcio, ácido fítico inibe a absorção do ferro, zinco e cálcio). · Atividade redox de componentes dos alimentos: redutores (por exemplo, ácido ascórbico) aumentam a absorção do ferro mas tem pouco efeito sobre outros minerais; oxidantes, consequentemente, inibem a absorção do ferro. · Interações entre os minerais: altas concentrações de um mineral em uma dieta inibem a absorção de outros (por exemplo, cálcio inibe a absorção de ferro, ferro inibe a absorção de zinco, chumbo inibe a absorção de ferro). · Estado fisiológico de quem ingere o alimento (exemplo: em idade avançada, pode haver um declínio na eficiência da absorção). Em geral, o consumo de uma dieta balanceada, com uma contribuição adequada de alimentos tanto de origem animal como vegetal, deveria ser suficiente para suprir as necessidades nutricionais de minerais, sem ser necessário o consumo de suplementos. No entanto, deve-se ter em mente que cada mineral é requerido pelo organismo humano em quantidades específicas, e que estas quantidades são difíceis de serem avaliadas a partir da variedade dos alimentos e da variabilidade de suas respectivas biodisponibilidades de minerais. Em conseqüência, se a ingestão/absorção de um dado mineral for baixa durante um determinado intervalo de tempo, sinais aparecerão: pacientes com deficiência em micronutrientes, por exemplo, geralmente apresentam sintomas como malestar, perda de apetite, anemia, infecções, lesões cutâneas e neuropatia em grau leve. Por outro lado, excessiva ingestão/absorção pode resultar em toxicidade: os sintomas de intoxicação mais comuns com relação a micronutrientes, por exemplo, são febre, tosse, náusea, vômito, diarréia, anemia e neuropatia (TIRAPEGUI, 2002). Felizmente, as faixas adequadas de ingestão para a maioria dos minerais (quantidades mínimas/quantidades máximas) são consideravelmente extensas, de modo que sinais de deficiência ou toxicidade são relativamente raros se uma dieta balanceada é consumida (FENNEMA, 1996). Contudo, este complexo panorama, onde, por exemplo, um determinado conteúdo de um nutriente em um alimento não significa necessariamente que este seja uma boa fonte do nutriente, não impede que medidas de orientação da população quanto à dieta sejam tomadas. Assim, por exemplo, nos Estados Unidos existem as “RDA” (Recommended Dietary Allowances), definidas como os níveis de ingestão de nutrientes essenciais (incluindo os nutrientes inorgânicos) considerados pela “Food and Nutrition Board” como adequados para satisfazer as necessidades nutricionais de pessoas saudáveis (TOWNSEND, 1994). Valores de RDA para alguns minerais podem ser encontrados no ANEXO 1. As RDA’s são estabelecidas estimando-se as necessidades dos nutrientes efetivamente absorvidos (levando-se em conta a incompleta utilização do nutriente ingerido, ou seja, a sua biodisponibilidade), e incorporando um fator de segurança (considerando a variabilidade entre os indivíduos). Assim, os valores de RDA procuram ser maiores do que os efetivamente necessários, o que significa que indivíduos com ingestão de um determinado nutriente abaixo do estabelecido pela respectiva RDA não necessariamente implica em ingestão inadequada. Contudo, quando uma considerável parcela da população tem uma ingestão que é significativamente menor que a estabelecida pela RDA, por um longo período de tempo, aumenta a probabilidade da deficiência ocorrer em alguns indivíduos (FENNEMA, 1996). No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (ANVISA), através da Portaria no 33 de 13 de janeiro de 1998, adota a IDR (Ingestão Diária Recomendada) como parâmetro de ingestão de nutrientes por indivíduos e diferentes grupos populacionais. A Portaria define a IDR como “a quantidade de vitaminas, minerais e proteínas que deve ser consumida diariamente para atender as necessidades nutricionais da maior parte dos indivíduos e grupos de pessoas de uma população sadia”, citando como referências a Resolução Mercosul GMC no 18/94 e as RDA’s dos Estados Unidos. Valores de IDR para alguns minerais podem ser encontrados no ANEXO 2. Seguem-se algumas breves considerações mais específicas sobre alguns nutrientes inorgânicos, objetos de estudo do presente trabalho. Cálcio É o mineral mais abundante no organismo humano (cerca de 1 a 2% em peso). Ocorre basicamente em duas formas, que apresentam funções distintas: como fosfato de cálcio (elemento estrutural de ossos e dentes) e como íon Ca2+ (atuando em processos como a coagulação do sangue e a contração muscular). Portanto, sua deficiência pode causar sérias doenças como, por exemplo, a osteoporose. As principais fontes de cálcio em alimentos são o leite e seus derivados. Alimentos como frutas, vegetais, cereais, carne e ovos apresentam cálcio em quantidades muito menores (BELITZ e GROSCH, 1999; NORDIN, 1997; TIRAPEGUI, 2002; TOWNSEND, 1994). Fósforo É o segundo elemento mais abundante no organismo humano (cerca de 0,6 a 1,2% em peso). Além de sua contribuição na formação dos ossos e dentes, o fósforo é constituinte essencial de toda célula, participando ativamente do metabolismo de carboidratos, gorduras e proteínas, principalmente como formas de armazenamento de energia: adenosina difosfato (ADP) e adenosina trifosfato (ATP). Além disso, participa no tamponamento do pH do sangue e é essencial para a efetiva ação de diversas vitaminas (BELITZ e GROSCH, 1999; TIRAPEGUI, 2002; TOWNSEND, 1994). As melhores fontes de fósforo nos alimentos são as ricas em proteínas: leite, queijo, carne, peixes e aves; cereais, legumes e nozes são, também, ótimas fontes. As formas orgânicas do fósforo presentes nos alimentos são clivadas por fosfatases intestinais; assim, a sua absorção ocorre principalmente na forma de fosfato inorgânico. Polifosfatos, utilizados como aditivos em alimentos, são absorvidos somente após hidrólise (BELITZ e GROSCH, 1999; TIRAPEGUI, 2002; TOWNSEND, 1994). Por ser facilmente encontrado nos alimentos, a sua deficiência é rara. Sintomas desta deficiência incluem a desmineralização dos ossos, fadiga e anorexia (TOWNSEND, 1994). Sódio Ocorre principalmente como constituinte extracelular na forma de íon Na+, um eletrólito cuja função principal é controlar o balanço de água no organismo, mantendo a pressão osmótica do fluido extracelular; adicionalmente, participa na transmissão de impulsos nervosos e ativa algumas enzimas, como a amilase (BELITZ e GROSCH, 1999; TOWNSEND, 1994). A fonte principal de sódio é o sal comum (cloreto de sódio). É também disponível em alimentos de origem animal, mas frutas e vegetais contêm pouco ou nenhum sódio (TOWNSEND, 1994). A baixa ou alta ingestão de sódio pode causar sérios distúrbios no equilíbrio de fluidos do organismo. Embora rara, a deficiência de sódio pode ocorrer após crise de vômitos, diarréia severa, por transpiração excessiva ou por uma dieta pobre em sal. O excesso de sódio é um problema mais comum, podendo causar edema (excesso de fluido). Este excesso de fluido causa um aumento de pressão nas paredes das artérias (hipertensão), o que faz o sódio ser freqüentemente associado à doenças cardiovasculares (BELITZ e GROSCH, 1999; TOWNSEND, 1994). Potássio Ocorrendo na forma de íon K+, é um eletrólito intracelular também envolvido no balanço de água e em osmoses no organismo. Normalmente, existe mais potássio do que sódio no interior das células e mais sódio do que potássio fora das células. Este equilíbrio é perturbado se, por exemplo, a concentração de sódio intracelular aumenta; neste caso, a quantidade de água dentro da célula também aumenta (por osmose), inchando-a e causando edema. Se, por outro lado, o nível de sódio extracelular decresce (o organismo perdeu sódio), água entra na célula para diluir o potássio intracelular, o que conseqüentemente causa uma diminuição na quantidade de água extracelular, podendo conduzir à queda da pressão sangüínea (TOWNSEND, 1994). É encontrado em muitos alimentos, mas as frutas (como melão, banana, laranja e pêssego) e os vegetais (como batata, feijão, cenoura e cogumelo) são ricos em potássio (TOWNSEND, 1994). A deficiência de potássio pode ser causada por diarréia, vômitos acidose diabética, má nutrição ou uso excessivo de laxativos ou diuréticos; alguns sintomas comuns são náusea, anorexia, fadiga, fraqueza muscular e taquicardia. Altas concentrações de potássio no sangue podem ser causadas por desidratação, insuficiência renal ou mesmo ingestão excessiva, podendo resultar em insuficiência cardíaca (TOWNSEND, 1994). Magnésio Atua no organismo como constituinte e ativador de muitas enzimas, particularmente aquelas associadas com a conversão de compostos de fosfatos ricos em energia, e como estabilizador de membranas plasmáticas, membranas intracelulares e ácidos nucleicos; depois do potássio, é o cátion intracelular em maior quantidade (BELITZ e GROSCH, 1999; TIRAPEGUI, 2002). Como o fósforo, é largamente distribuído nos alimentos; ótimas fontes são vegetais verdes, legumes, todos os grãos e algumas frutas (abacate e banana, por exemplo). Contudo, magnésio pode ser perdido durante o processamento industrial dos alimentos ou mesmo na água de cozimento; assim, tendo-se em vista somente este aspecto, é preferível usar frutas e vegetais “in natura” ao invés de cozidos (TOWNSEND, 1994). Como é amplamente distribuído nos alimentos, os efeitos de sua deficiência em pessoas com dietas normais são desconhecidos. Quando a deficiência foi experimentalmente induzida, os sintomas incluiram náusea e desordens mental, emocional e muscular (TOWNSEND, 1994). Por outro lado, excesso de magnésio inibe a calcificação óssea, podendo ainda causar depressão no sistema nervoso central, anestesia e até paralisia, em pacientes com insuficiência renal (TIRAPEGUI, 2002). Ferro O ferro é principalmente utilizado na síntese de hemoglobina (pigmento vermelho do sangue, responsável pelo transporte de oxigênio dos pulmões a todas as células do organismo), participando também da formação da mioglobina (composto presente nos músculos, armazenador de oxigênio). Está, ainda, relacionado a processos enzimáticos: o heme (ferro-protoporfirina IX) é o grupo prostético de enzimas como a catalase, que decompõe H2O2, e as citocromos P 450, que realizam hidroxilações, epoxidações e outras reações (BELITZ e GROSCH, 1999; TAIT, 1999; TIRAPEGUI, 2002; TOWNSEND, 1994; VOET e VOET, 1995; WARDLAW e KESSEL, 2002). Carnes vermelhas (especialmente fígado), gema de ovo, carne de frango e de peru, além de batata, vegetais verde-escuros e frutas secas, estão entre as melhores fontes de ferro (TOWNSEND, 1994). A deficiência nutricional de ferro é a mais amplamente distribuída no mundo, afetando tanto as populações dos países desenvolvidos como aquelas dos países em desenvolvimento (TIRAPEGUI, 2002). Esta deficiência causa uma redução na taxa de síntese de hemoglobina, podendo resultar em anemia, além de alterações na capacidade cognitiva; pode ser a conseqüência de uma dieta pobre em ferro ou de uma absorção intestinal deficiente. Vários fatores dietéticos e também do próprio indivíduo têm sido identificados como importantes na absorção e utilização do ferro pelo organismo: por exemplo, ferro-heme (presente nos alimentos cárneos) é mais eficientemente absorvido do que ferro não-heme. Normalmente, a deficiência é tratada pela administração de sais de ferro, como sulfato ferroso, gluconato ferroso e fumarato ferroso, por exemplo (BELITZ e GROSCH, 1999; TAIT, 1999; TIRAPEGUI, 2002; TOWNSEND, 1994; WARDLAW e KESSEL, 2002). Embora menos comum, ferro em excesso pode causar séria intoxicação, principalmente em crianças, podendo ocorrer morte por colapso respiratório (WARDLAW e KESSEL, 2002). Zinco Uma vez que este elemento está presente em todas as células do organismo humano, ele possui diversas funções biológicas atuando como componente de várias enzimas (aproximadamente 100 enzimas exigem zinco como cofator para suas atividades ótimas). Assim, uma adequada ingestão de zinco é necessária para a reallzação de muitas funções pelo organismo como, por exemplo: síntese de ácidos nucleicos, metabolismo de proteínas, cicatrização, crescimento e desenvolvimento dos órgãos sexuais, entre outras. Aproximadamente 1/3 do zinco absorvido é dirigido para o fígado; o restante é distribuído pelo corpo, principalmente músculos e ossos (BELITZ e GROSCH, 1999; ONIANWA et al. , 2001; TOWNSEND, 1994; WARDLAW e KESSEL, 2002). As melhores fontes de zinco são alimentos ricos em proteínas, especialmente carnes, peixes, ostras, ovos, feijão, cereais e derivados do leite (TOWNSEND, 1994; WARDLAW e KESSEL, 2002). Uma vez que zinco e ferro estão presentes nos mesmos alimentos (ricos em proteínas), indivíduos com deficiência de ferro são também altamente propensos a apresentar deficiência em zinco. Carências severas são raras, mas muitas pessoas apresentam insuficiências brandas, reconhecidas tanto em países industrializados como em desenvolvimento, que são difíceis de diagnosticar, uma vez que os sintomas não são específicos, podendo incluir inadequado crescimento, diarréia, perda de apetite e de peso, queda de cabelo, diminuição do paladar, confusão mental, etc (ONIANWA et al. , 2001; TOWNSEND, 1994; WARDLAW e KESSEL, 2002). Esta variedade de sintomas não surpreende se considerarmos as diversas funções biológicas nas quais o zinco participa. Por outro lado, excesso de ingestão de zinco pode resultar em diarréia, cãimbras, náuseas, vômitos e depressão do sistema imunológico (WARDLAW e KESSEL, 2002). Cobre É encontrado em todos os tecidos, mas em maior concentração no fígado, sangue, nos ossos (incluindo medula óssea), músculos e cérebro, sendo um componente essencial em muitas enzimas; sua atuação fisiológica dentro do organismo inclui, por exemplo, participação em funções do sistema imunológico, contribuição para a resistência dos ossos, atuação no desenvolvimento cerebral e no metabolismo do colesterol e da glicose; adicionalmente, atua no transporte do ferro até a medula óssea, auxiliando na formação da hemoglobina (BELITZ e GROSCH, 1999; ONIANWA et al. , 2001; TIRAPEGUI, 2002; TOWNSEND, 1994; WARDLAW e KESSEL, 2002). O cobre está disponível em muitos tipos de alimentos, mas as melhores fontes são carnes, mariscos, legumes, nozes e cereais integrais. O leite humano também constitui-se em uma boa fonte, ao contrário do leite de vaca que é pobre em cobre (TOWNSEND, 1994). A deficiência de cobre é extremamente rara em adultos, ocorrendo apenas em pessoas com condições de má absorção ou em casos de severa deficiência proteica. No entanto, pode se manifestar em crianças prematuras alimentadas apenas com leite de vaca ou que receberam nutrição parenteral isenta de cobre durante um considerável desmineralização dos intervalo ossos, de distúrbios tempo. Nestes gastrointestinais casos, e anemia, crescimento insatisfatório podem ocorrer (ONIANWA et al. , 2001; TOWNSEND, 1994; WARDLAW e KESSEL, 2002). Normalmente, intoxições por cobre não são muito comuns, uma vez que a ingestão deste mineral é usualmente baixa e, além disso, o próprio organismo pode regular o nível de cobre através de sua excreção pela bile (WARDLAW e KESSEL, 2002). Cromo A importância do cromo nas dietas tem sido reconhecida apenas nos últimos 40 anos. Embora não se tenha acumulado muito conhecimento a respeito deste nutriente, muitos estudos sugerem importante participação no metabolismo de carboidratos e lipídios, intensificando a atuação da insulina e aumentando a conversão de glicose a gordura, por exemplo. O mineral é acumulado nos ossos, baço, fígado e rins (BELITZ e GROSCH, 1999; WARDLAW e KESSEL, 2002). Cromo está amplamente distribuído nos alimentos, mas em pequenas quantidades. Dados específicos de seu conteúdo nos alimentos são escassos; não obstante, carnes processadas, fígado, grãos integrais, gema de ovo, brócolis, nozes e cogumelos são alguns dos alimentos considerados como fontes deste nutriente (TOWNSEND, 1994; WARDLAW e KESSEL, 2002). A deficiência de cromo é caracterizada pela diminuição de tolerância à glicose e por elevados níveis de colesterol e triglicérides no sangue. O mecanismo pelo qual o mineral influencia o metabolismo do colesterol não é conhecido, mas pode envolver enzimas que controlam a síntese deste composto. Esta deficiência ocorre em indivíduos mantidos em nutrição parenteral não suplementada com cromo, assim como em crianças desnutridas (TIRAPEGUI, 2002; WARDLAW e KESSEL, 2002). Intoxicações por cromo provocadas pela ingestão de alimentos não tem sido observadas; contudo, o consumo de grande quantidade de suplementos de cromo pode causar distúrbios estomacais, úlceras, convulsões, danos nos rins e fígado, algumas formas de câncer e até mesmo a morte (WARDLAW e KESSEL, 2002). Manganês É cofator de muitas enzimas, incluindo a piruvato carboxilase (utilizada no metabolismo de carboidratos) e a superóxido dismutase (uma enzima antioxidante), sendo também importante na formação dos ossos e como ativador de enzimas, como a amino peptidase, a lecitinase e a enolase, entre outras (BELITZ e GROSCH, 1999; TIRAPEGUI, 2002; WARDLAW e KESSEL, 2002). A necessidade do organismo humano por este mineral é muito baixa, sendo facilmente suprida por dietas que incluam nozes, aveia e outros grãos integrais, feijão, chá e vegetais em folhas (WARDLAW e KESSEL, 2002). Não têm sido observados sintomas de deficiência deste nutriente em seres humanos. Por outro lado, enquanto intoxicações por ingestão via oral são extremamente raras, intoxicações por inalação de pó em minas de manganês têm sido observadas; os sintomas incluem, neste caso, anormalidades psiquiátricas severas, alta irritabilidade, violência, alucinações e descontrole muscular (TOWNSEND, 1994; WARDLAW e KESSEL, 2002). 1.1.2 Tabelas de composição de alimentos e rotulagem nutricional Para uma dieta nutricional balanceada, é inicialmente necessário conhecer a composição química dos alimentos. Uma “tabela de composição” pode ser estabelecida por análise direta dos alimentos consumidos e/ou por dados compilados da literatura dos conteúdos de nutrientes dos diferentes alimentos. Assim, uma informação precisa da ingestão de um determinado nutriente não depende somente da medida correta da quantidade de alimento consumido, mas também de uma adequada tabela de composição, que deve incluir a exata descrição dos alimentos, método analítico utilizado, unidade de medida apropriada e informações sobre variações na composição do alimento (DWYER, 1994). Este cuidado na preparação de uma tabela de composição deve ser observado tendo-se em vista que os níveis de nutrientes em alimentos variam conforme fatores inerentes (idade, maturidade, espécies, variedades e cultivo), ambientais (clima, tipo de solo, quantidade de chuva e estação do ano) e de processamento (tempo de armazenagem, métodos de preparação e preservação). Além disso, o conteúdo nutriente de alguns alimentos processados é também afetado por reformulações, pelo uso de aditivos e de fortificações (a preparação e o cozimento também possuem considerável influência no conteúdo nutricional do alimento). Por outro lado, os valores reportados pelos laboratórios químicos são afetados pela amostragem, pela preparação da amostra, pelos métodos analíticos empregados e pelo tratamento estatístico dos dados experimentais obtidos (MAKHLOUF et al. , 1995; PALMERO et al. , 1998; SIKA et al. , 1995). Desta forma, embora a análise de alimentos envolva tempo e custos, é desejável estabelecer tabelas de composição em níveis nacionais ou regionais. É preciso salientar que, além das informações nutricionais básicas para uma dieta balanceada, tabelas de composição de alimentos são importantes em estudos epidemiológicos que investigam a relação entre dieta e saúde; em alimentos industrializados, são igualmente importantes seja no controle de qualidade dos alimentos, seja no desenvolvimento de novos produtos ou, ainda, no fornecimento de informações ao consumidor na forma de “rotulagens nutricionais” (MILLER-IHLI, 1996; PALMERO et al. , 1998). Com relação a este último aspecto, o Ministério da Saúde no Brasil, através da Resolução-RDC no 40 de 21 de março de 2001 (BRASIL, 2001b), tornou obrigatória a declaração de nutrientes na rotulagem dos alimentos e bebidas produzidos, comercializados e embalados (na ausência do cliente) prontos para venda ao consumidor visando: a saúde da população ao considerar a necessidade de constante aperfeiçoamento das ações de controle sanitário na área de alimentos; a prevalência de doenças nutricionais na população brasileira; as diretrizes estabelecidas na Política Nacional de Alimentação e Nutrição; a necessidade de estabelecer ações para orientar o consumo de alimentos em vistas a uma alimentação saudável; e a necessidade de padronizar a declaração de nutrientes para a “Rotulagem Nutricional Obrigatória de Alimentos e Bebidas Embalados”. As informações nutricionais devem ser apresentadas em porções usuais de consumo e conter ainda a porcentagem de valores diários para cada nutriente declarado (BRASIL, 1998a). Na tabela 1.1 encontra-se um exemplo de informação nutricional. Observa-se que os nutrientes devem ser apresentados na rotulagem conforme as porções estabelecidas na Resolução RDC no 39, de 21 de março de 2001 (BRASIL, 2001b), que levam em consideração o hábito de consumo da população brasileira e também uma alimentação saudável. Para a descrição da porção no rótulo é usado o Valor de Referência para Porções, que é a quantidade média do alimento que seria usualmente consumida por pessoas sadias, maiores de 5 anos, em bom estado nutricional, em cada ocasião de consumo, para compor uma dieta saudável. Tabela 1.1 – Modelo de informação nutricional para fins de rotulagem de mandioca congelada. INFORMAÇÃO NUTRICIONAL Porção de 100g ( 6 pedaços) Quantidade por porção % VD (*) Valor calórico 150 kcal 6 Carboidratos 36 g 10 Proteínas 1g 2 Gorduras totais 0g 0 Gorduras saturadas 0 0 Colesterol 0 0 Fibra alimentar 1g 3 Cálcio 35 mg 4 Ferro 1,1 mg 8 Sódio 0 0 (*) Valores diários de referência com base numa dieta de 2500 kcal. Fonte: (BRASIL, 2001a). Os valores constantes na informação nutricional são de responsabilidade do fabricante, podendo ser obtidos por meio de valores médios de dados especificamente obtidos de análises físico-químicas de amostras representativas do produto a ser rotulado ou por tabelas de composição de alimentos e bancos de dados de alimentos nacionais. Na ausência destes últimos, podem ser utilizadas as tabelas e bancos de dados internacionais. É permitida uma tolerância de até 20% (para mais ou para menos) nos valores constantes da informação nutricional declarada no rótulo. Para os nutrientes cujo porcentual de variabilidade seja superior a 20% (em função da espécie ou do tipo de manejo agrícola), é permitido à empresa informar o porcentual de variação (BRASIL, 1998a). De maneira a facilitar o acesso das empresas às informações sobre os alimentos, o Ministério da Saúde disponibilizou no endereço eletrônico da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) várias tabelas de composição de alimentos (BRASIL, 2003). Um outro instrumento de modo a orientar a população para uma alimentação mais saudável é o uso da “pirâmide alimentar”, um gráfico constituído de 4 níveis com 8 grandes grupos de alimentos (Figura 1.1). Por exemplo: de acordo com a classificação desta pirâmide, a base (nível 1, grupo 1) caracterizase por conter um alto teor de carboidratos complexos que devem contribuir com 55% das calorias totais de uma dieta saudável. Este grupo é constituído por produtos de panificação, cereais e derivados, grãos, raízes e tubérculos sendo recomendadas de 5 a 9 porções diárias com aproximadamente 150 kcal cada uma. Já no nível 3 (grupo 6), constituído pelas leguminosas, é recomendado uma porção de 55 kcal. Foram estabelecidas as participações calóricas de cada grande categoria de alimentos em uma dieta fixada em 2500 kcal (BRASIL, 2001a). Figura 1.1 – Pirâmide alimentar. 1.2 O arroz e o feijão Tanto o arroz quanto o feijão estão entre os alimentos mais antigos, remontando aos primeiros registros da história da humanidade. Enquanto evidências apontam para a domesticação do arroz ocorrendo no sudeste da Ásia (Índia, Indonésia e China), hipóteses para a domesticação do feijão indicam o México, América Central e o norte da América do Sul como prováveis locais onde os primeiros cultivos foram realizados; centros secundários de domesticação do feijão são ainda citados pelos historiadores em regiões da Europa, Ásia e África. As mais antigas referências ao arroz são encontradas na literatura chinesa, há cerca de 5000 anos; por outro lado foram encontradas referências ao feijão entre os hebraicos, há cerca de 3000 anos (ADSULE et al. , 1998; EMBRAPA, 2002a; SHARP, 1991). O arroz comum (Oryza sativa) é um cereal que pode ser cultivado em condições extremamente diversas, seja em áreas secas, seja em áreas alagadas de até 6 metros de profundidade - as áreas mais produtivas são as alagadas onde a profundidade da água é controlada. O arroz é colhido como um grão revestido por uma casca; este arroz “integral” pode ser dividido em três partes: farelo ou fibra (casca), germe e o grão propriamente dito. A casca é quebrada e removida, assim como o germe, durante o processo de descascamento e polimento do arroz, o que resulta no chamado “arroz branco polido”. Este processo tem como conseqüência a diminuição no conteúdo nutricional do arroz: com o polimento, ocorrem principalmente perdas em nutrientes inorgânicos (Ca, P, Mg, K, Fe, Zn, Cu e Mn) e vitaminas (tiamina, piridoxina, niacina e riboflavina). Uma alternativa ao arroz branco polido é o arroz parboilizado – em resumo, o processo de parboilização consiste em deixar o arroz integral em água quente (700C aproximadamente) durante algumas horas, seguindo-se gelatinização em autoclave e secagem, para posteriormente sofrer o descascamento e o polimento. A parboilização faz com que vitaminas e minerais penetrem no grão (o que conduz a um aumento do conteúdo nutricional do arroz polido), além de melhorar a resistência à deterioração causada por insetos e fungos (ELBER et al. , 2001; OLIVEIRA, 1997; SHARP, 1991). No Brasil, o arroz é cultivado em dois ecossistemas, várzeas e terras altas. Em várzeas, predomina o sistema de cultivo com irrigação controlada, que ocupa cerca de 1 milhão de hectares na região subtropical (Rio Grande do Sul e Santa Catarina). Na região tropical, e especialmente nas regiões norte (vale do Araguaia) e nordeste (perímetro irrigado do São Francisco), são cultivados cerca de 150.000 hectares sob irrigação controlada. No Tocantins, predominam grandes lavouras de alto nível tecnológico, sob o sistema de cultivo mecanizado convencional, enquanto no NE o cultivo é tipicamente de pequenas áreas, usando mão de obra familiar, no sistema de transplantio. O restante da área sob o ecossistema de várzeas, é cultivado sob o sistema de várzea úmida, sem controle de irrigação, por pequenos produtores em pequenas áreas, sendo mais expressivo nos Estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais (EMBRAPA, 2002a). O ecossistema de terras altas desempenhou um papel de grande relevância na produção de arroz sob o sistema de cultivo de sequeiro (falta de água), nas décadas de 60 e 80. Devido à sua rusticidade e adaptação a solos ácidos, foi uma alternativa altamente satisfatória para o desbravamento dos cerrados. Na região nordeste, e de forma pulverizada nas regiões centro-oeste, sudeste e nordeste o arroz sob o ecossistema de terras altas também é cultivado usando baixo nível de tecnologia, por pequenos produtores, que cultivam para o próprio consumo. Para a comercialização, o arroz é classificado em tipo 1 (tamanho e porcentagem de grãos fragmentados de até 10%) e tipo 2 (porcentagem de grãos fragmentados de até 30%). Do ponto de vista nutricional, o arroz branco polido caracteriza-se por uma alta porcentagem de amido (cerca de 80% em peso) e um baixo teor de lipídeos (0,6% em peso). Proteínas são o segundo maior constituinte (7% em peso), ocorrendo grande quantidade de glutelina e pequenas porções de prolamina, enquanto fibras somam aproximadamente 1% (ENDEF, 1985; FRANCO, 1987; McCANCE e WIDDOWSON'S, 1993; OLIVEIRA, 1997; PHILIPPI, 2001; SHARP, 1991; SOUCI et al. , 1994). Com relação aos nutrientes inorgânicos, a tabela 1.2 indica os respectivos teores, declarados em várias tabelas de composição de alimentos. Observando a tabela, constatamos que, à exceção do manganês e do selênio, os valores declarados para os outros nutrientes apresentam-se bastante discordantes, o que evidencia os cuidados que devem ser tomados ao se reportarem tais informações à comunidade, como discutido no item 1.1.2 deste trabalho. Por exemplo: a composição mineral do arroz depende da disponibilidade dos nutrientes no solo; além disso, os níveis para vários elementos podem variar dependendo do tipo de método analítico empregado (LAFITTE, 1998; MARR et al., 1995; NEUE et al. , 1998). Tabela 1.2 – Níveis de nutrientes inorgânicos em arroz polido, declarados em tabelas de composição de alimentos. Nutriente inorgânico (mg / 100g de arroz) Referência / Tabela Ca Cu Fe K Mg Mn Na P Zn Se(*) A 9 nd 1,3 nd nd nd nd 104 nd nd B 28 0,22 4,32 115 25 1,09 5 115 1,10 15,1 C 9 0,58 1,3 62,2 38 nd 16,6 104 0,50 nd D 28 0 1,0 115 25 1 5,0 115 1,0 15 E 51 0,37 0,5 150 32 1,2 4 150 1,8 10 F 6 0,13 0,6 103 64 2 6 120 0,50 nd G 60 0,19 3,56 119,9 30,78 0,85 4,86 136,1 0,96 15,1 (*) mg/100g ; nd = valores não declarados. Referências / Tabelas: A = (ENDEF, 1985); B = (PHILIPPI, 2001); C = (FRANCO, 1987); D = (UNIFESP, 2001); E = (McCANCE e WIDDOWSON'S, 1993); F = (SOUCI et al. , 1994); G = (USDA, 2003). O feijão comum (Phaseolus nanus ou Phaseolus vulgaris) é um legume com uma ampla adaptação edafoclimática, embora o solo e o clima possam influenciar sua produção. Dois tipos gerais são cultivados: o que ocorre em arbustos cerrados e o que cresce como trepadeira; enquanto o primeiro apresenta uma inflorescência generalizada, o segundo apresenta flores ocorrendo uma após outra, durante um longo período de tempo. Esta flores podem ser brancas, amarelas ou rosa-pálido / púrpura. As vagens, longas e achatadas ou arredondadas, possuem 13 centímetros ou mais. As sementes maduras podem apresentar diversas cores: brancas, pretas, marrons, etc (ADSULE et al. , 1998; EMBRAPA, 2002b). A possibilidade de sua produção em diversos ecossistemas tropicais e temperados, em monocultivo e/ou consorciado nos mais variados arranjos de plantas, favorece a diversificação da produção de feijão no Brasil. Considerando a diversidade fisiográfica do país e a adaptação do feijoeiro a diversas condições de clima e solo, é possível explorar a cultura em três épocas diferentes, no mesmo ano. A safra “das águas”, cujo plantio é feito de agosto a novembro, com predominância na região sul; o plantio “da seca” realizado de janeiro a março, abrangendo a maioria dos estados produtores e “de inverno” de abril a julho realizada nas regiões centro-oeste e sudeste (EMBRAPA, 2002b). Para a comercialização, o feijão é classificado em classe (branco, preto e cores) e tipos (1, 2 e 3, dependendo da porcentagem de grãos fragmentados). O feijão é uma boa fonte de proteínas (cerca de 20% em peso), glicídios (60% em peso) e fibras (19% em peso), apresentando baixo teor de lipídios (1% em peso) (ANDERSON et al. , 1999; CHARLEY e WEAVER, 1998; OLIVEIRA, 1997; PHILIPPI, 2001; SGARBIERI et al. , 1979; UNIFESP, 2001). O feijão cozido é considerado uma das melhores fontes vegetais de tiamina, piridoxina, niacina e ácido fólico. A tabela 1.3 indica os teores dos nutrientes inorgânicos, coletados em diversas tabelas de composição de alimentos. Observe-se, neste caso, que o relativamente pequeno número de dados disponíveis nas tabelas consultadas reflete o conhecimento ainda insipiente que se possui a respeito da real contribuição do feijão para a necessidade de minerais na dieta. Apesar disso, o feijão é considerado uma boa fonte de ferro, potássio, zinco, magnésio, cobre e cálcio (ANDERSON et al. , 1999; BARAMPAMA e SIMARD, 1993; MEINERS et al. , 1976; OLIVEIRA, 1997; SATHE et al. , 1984). Devido à sua composição, o feijão proporciona vários benefícios à saúde, sendo indicado na prevenção e tratamento de várias doenças como distúrbios cardíacos, diabetes mellitus, obesidade e câncer. É um alimento que preenche as principais recomendações dietéticas: aumento do consumo de fibras, amido e outros carboidratos complexos, e diminuição no consumo de lipídios e sódio (ANDERSON et al. , 1999; OLIVEIRA, 1997). Contudo, deve-se ter em mente que a composição e a qualidade do feijão são influenciadas pela fertilidade do solo onde foi cultivado, espaçamento entre plantas, irrigação, maturidade e variedade (ADSULE et al. , 1998); adicionalmente, o conteúdo de fitato (hexafosfato inositol, a principal forma de armazenamento de fósforo e magnésio para a síntese de ácidos nucleicos durante a germinação das sementes) pode afetar a biodisponibilidade dos minerais (ANDERSON et al. , 1999). A ingestão simultânea de arroz e feijão é, reconhecidamente, a alimentação básica mais importante consumida pela população brasileira. Esta feliz combinação de alimentos possui um valor nutritivo complementar: enquanto o arroz contribui com os aminoácidos sulfurados metionina e cisteína (que são limitantes no feijão), o feijão contribui com lisina, aminoácido limitante no arroz (OLIVEIRA, 1997; SGARBIERI et al. , 1979); adicionalmente, as limitações do arroz frente aos teores de nutrientes inorgânicos é compensada pela relativamente alta concentração de minerais no feijão (tabelas 1.2 e 1.3). Tabela 1.3 – Níveis de nutrientes inorgânicos em feijão, declarados em tabelas de composição de alimentos. Nutriente inorgânico (mg / 100g de feijão) Referência/ Tabela Ca Cu Fe K Mg Mn Na P Zn Se(*) A 86 nd 7,6 nd nd nd nd 247 nd nd B 83 0,7 6,7 1359 138 1,11 12 406 2,8 7,28 C nd nd 5,31 1263,6 nd nd 162,9 nd nd nd D 143 1 8 1406 140 1 24 407 3 3 E nd nd nd nd nd nd nd nd nd nd F 197 nd 7 1770 nd nd 570 419 nd nd G nd nd nd nd nd nd nd nd nd nd (*) mg/100g ; nd = valores não declarados. Referências / Tabelas: A = (ENDEF, 1985); B = (PHILIPPI, 2001); C = (FRANCO, 1987); D = (UNIFESP, 2001); E = (McCANCE e WIDDOWSON'S, 1993); F = (SOUCI et al. , 1994); G = (USDA, 2003). 1.3 Quantificação de nutrientes inorgânicos em alimentos 1.3.1 Preparação das amostras 1.3.1.1 Generalidades Embora um químico, para elucidar a composição de uma determinada amostra, tenha à sua disposição várias técnicas analíticas (gravimetria, espectrometria, cromatografia, etc.) e instrumentos em constante evolução tecnológica (termobalanças, espectrofotômetros de absorção atômica, espectrofotômetros de emissão atômica, cromatógrafos, etc), antes de qualquer medida, duas etapas são fundamentalmente importantes no processo de análise: a amostragem e a preparação da amostra (HOENIG, 2001; HOENIG et al. , 1998; OLIVEIRA, 2003). No passado, erros nas determinações eram freqüentemente relacionados às limitações dos instrumentos, à falta de conhecimento químico do analista ou a dificuldades em controlar a qualidade dos resultados pela indisponibilidade de materiais certificados. Apesar do progresso observado no campo instrumental, a qualidade dos resultados não seguia a mesma tendência. Gradualmente surgiu a necessidade de procurar respostas corretas fora do campo instrumental, tornando-se óbvio, então, que os erros eram mais adequadamente associados às duas primeiras etapas da análise (HOENIG, 2001). Em contrapartida, a exatidão dos resultados é freqüentemente difícil de garantir devido ao grande número de etapas analíticas que se inicia com a amostragem, seguida de preparação e por final a sua determinação. Podem ocorrer perdas do analito, evidenciadas por baixas recuperações, ou contaminações, mostradas por altas recuperações (HOENIG, 2001). Perdas do analito podem ser provocadas por volatilização, absorção, adsorção, transformação, precipitação ou coprecipitação, resultantes de tratamentos utilizados durante a etapa de preparação da amostra. Contudo há casos onde perdas são apenas aparentes: em outras palavras, mesmo nos casos sem qualquer perda devido à etapa de preparação, possíveis interferentes que ocorrem durante a medição são freqüentemente responsáveis pela supressão do sinal do analito. Isto é atribuído ao efeito de matriz resultante da diferença entre a composição dos padrões de calibração e das amostras. Neste caso, a técnica de medição é responsável por este erro; na prática, é importante distinguir este tipo de erro dos oriundos da preparação de amostra (HOENIG, 2001). Contaminações são devidas a introduções, sistemáticas ou ao acaso, de quantidades não desprezíveis do analito durante as diferentes etapas da análise. Elas resultam de reagentes e materiais utilizados ou do ar, tornando mais difíceis as determinações de baixas concentrações. Considerando o reagente, o valor de contaminação é geralmente reprodutível de uma amostra para outra (erro sistemático). Assim, é necessário avaliar as possíveis contaminações com o branco e considerá-lo no cálculo do resultado. Por outro lado, é também necessário distinguir claramente contaminações devido à amostragem e estocagem da amostra daquelas associadas ao preparo e medição (HOENIG, 2001). A amostragem, que deve garantir a representatividade da amostra, se não for realizada adequadamente e com o uso de ferramentas apropriadas, pode conduzir a erros, sejam eles sistemáticos ou aleatórios. Dependendo das amostras a serem analisadas e das substâncias a serem investigadas, as ferramentas, dispositivos de filtração e recipientes para armazenamento devem ser cuidadosamente escolhidos e limpos, de modo a minimizar possíveis riscos de contaminação (HOENIG, 2001; HOENIG e KERSABIEC, 1996). Em uma análise química usual, o objetivo da preparação da amostra é utilizar todos os meios disponiveis de modo a determinar tão prontamente quanto possível as substâncias a serem investigadas. Estes meios são (HOENIG, 2001; HOENIG e KERSABIEC, 1996; OLIVEIRA, 2003): · Conversão da amostra em uma forma compatível com técnica de medida a ser utilizada. · Destruição e simplificação da matriz (mineralização: via seca, via úmida). · Separação ou pré-concentração do analito. As amostras sólidas são geralmente convertidas em solução por um método apropriado. Em muitos casos, a preparação destas amostras incluem várias etapas: amostragem e homogeneização inicial, trituração, mineralização e solubilização (HOENIG, 2001; HOENIG e KERSABIEC, 1996; OLIVEIRA, 2003). Algumas destas etapas podem representar fonte de contaminação devido ao tipo de vidraria, reagentes utilizados ou diretamente do ar ambiental: por exemplo, a prévia trituração pode contaminar a amostra por abrasão das lâminas. Muitos tipos de amostras sólidas são convertidos em solução aquosa e a dissolução prévia da matriz para a determinação é uma etapa vital da análise (dissolução da matriz é um método de converter os componentes da amostra em uma forma química simples). O tipo de tratamento depende primeiramente da homogeneidade da amostra e da sensibilidade da técnica analítica que será usada para a detecção do analito. Em alguns casos, o analito pode estar incorporado na molécula orgânica e então ser mascarado na determinação analítica; em tais casos, onde espécies iônicas são necessárias para o método de detecção, ou se a matéria orgânica interfere, a decomposição deve ser completa. Neste caso, a mineralização pode ser conduzida ou por via úmida ou por via seca (HOENIG, 2001; HOENIG et al. , 1998; HOENIG e KERSABIEC, 1996; JORHEM, 2000; OLIVEIRA, 2003; SUBRAMANIAN, 1996; SUN et al. , 2000), que serão discutidas nos próximos itens. Assim, torna-se evidente que as etapas de preparação da amostra são de extrema importância para garantir a qualidade do resultado analítico. Alguns princípios devem ser respeitados como: usar material apropriado para evitar contaminação da amostra durante a trituração ou moagem e homogeneização; usar água e reagentes de alta pureza, não utilizar materiais velhos para evitar o fenomeno da adsorção dos elementos traços nas parades gastas; garantir a limpeza de todos materiais que entrará em contato com a amostra (detergente neutro, banho ácido e enxagüe com água deionizada); evitar, quando necessário, etapas intermediárias como filtração; correr branco em paralelo para avaliar possíveis contaminações; checar a recuperação em todo procedimento utilizando material de referência de composição similar ao da amostra; etc (HOENIG, 2001; HOENIG e KERSABIEC, 1996; OLIVEIRA, 2003). Atualmente, uma drástica melhora na detecção das técnicas utilizadas levou o analista compreender que não seria necessário recorrer a trabalhosas, demoradas e questionáveis etapas de separação ou pré-concentração na preparação de amostra. Assim, desde que o analito seja solúvel, a preparação pode ser apenas uma diluição ou um brando aquecimento para a dissolução total ou parcial, sem que seja necessária uma completa decomposição da matéria orgânica, seguida de separação/pré-concentração do analito; esta preparação mais drástica, por exemplo, não é requisito necessário para a espectrometria de emissão atômica com plasma de argônio indutivamente acoplado (ICP OES), desde que as interferências químicas possam ser eliminadas pela alta temperatura (HOENIG, 2001; MADER et al., 1996; OLIVEIRA, 2003; SUBRAMANIAN, 1996). 1.3.1.2 Método de mineralização por via seca Geralmente este método é usado para remover a matéria orgânica da amostra, sendo o mais freqüentemente aplicado. A amostra é pesada e mantida aquecida por várias horas a 400 – 5500C em forno mufla; a cinza é obtida à uma adequada temperatura, garantindo a decomposição quantitativa e a destruição da matéria orgânica. Parte do mineral associado à matriz é transformado em carbonatos ou óxidos, que são então dissolvidos em ácidos apropriados (HOENIG, 2001; HOENIG et al. , 1998; HOENIG e KERSABIEC, 1996; OLIVEIRA, 2003). O método por via seca é simples e várias amostras podem ser tratadas simultaneamente. Comparando com o método de digestão por via úmida, que será discutido no próximo ítem, a grande vantagem é a possibilidade de utilizar grandes quantidades de amostra e dissolver as cinzas em um pequeno volume de ácido. Este procedimento permite a pré-concentração de elementos-traço na solução final, o que é utilizado quando a concentração a ser determinada é muito baixa. Além disso, a cinza está também completamente livre da matéria orgânica, o que é um pré requisito de algumas técnicas analíticas na análise de elementostraço (HOENIG, 2001; HOENIG e KERSABIEC, 1996; JORHEM, 2000; MADER et al. , 1996). O método por via seca é fácil em princípio, mas com algumas ressalvas; por exemplo, problemas de volatilização estão associados com a temperatura da cinza onde o grau de perda do analito dependerá da temperatura aplicada, da forma na qual o analito está presente na amostra e do meio químico existente durante a queima. Em qualquer caso, o método por via seca não é indicado para elementos altamente voláteis (As, Se, Hg); outros elementos voláteis (Cd, Pb, etc) podem tolerar as temperaturas comumente utilizadas (400-5500C) desde que o programa de aquecimento garanta um lento gradiente de temperatura, evitando super aquecimento local ou ignição da amostra com conseqüente perda do analito. Para esses tipos de elementos, oxidantes podem ser algumas vezes utilizados como aceleradores de cinzas (ashing aid) para prevenir a volatilização do analito e também acelerar o processo de cinza. Comumente os aceleradores mais utilizados são o óxido de magnésio e o nitrato de magnésio, ambos de alta pureza (HOENIG, 1995; HOENIG, 2001; HOENIG et al. , 1998; HOENIG e KERSABIEC, 1996; JORHEM, 2000; MADER et al. , 1996; OLIVEIRA, 2003). Assim, o método é bastante adequado para substâncias refratárias devido ao pequeno risco de perda por volatilização, podendo ser aplicado em vários tipos de matriz: tecidos biológicos, plantas, alimentos, sedimentos, etc; no entanto, um problema associado é a exposição das cinzas à contaminação do ar – dependendo do tipo de amostra a digestão pode exigir um tempo relativamente longo: podem ser necessários até vários dias para a sua finalização (HOENIG, 2001; HOENIG e KERSABIEC, 1996; JORHEM, 2000; OLIVEIRA, 2003). 1.3.1.3 Método de mineralização por via úmida Na dissolução da amostra por mineralização via úmida (também denominada “digestão por via úmida”, uma vez que freqüentemente a destruição total da matriz não é totalmente alcançada), normalmente utilizam-se seis reagentes: quatro contribuem principalmente para a destruição da matéria orgânica (ácido nítrico, ácido sulfúrico, ácido perclórico e peróxido de hidrogênio), enquanto dois garantem a dissolução dos compostos inorgânicos (o ácido clorídrico e o ácido fluorídrico). Neste tipo de preparação, pode-se utilizar um único ácido (geralmente ácido nítrico) ou uma mistura de ácido e outros oxidantes (por exemplo, ácido nítrico e peróxido de hidrogênio). Para reforçar a ação destes reagentes quando a amostra for mais resistente, adiciona-se ácido sulfúrico ou perclórico. Esta mineralização pode ser efetuada em sistema aberto ou fechado (HOENIG, 1995; HOENIG, 2001; OLIVEIRA, 2003; SUBRAMANIAN, 1996). Classicamente, no sistema aberto (digestão à pressão atmosférica) utilizam-se frascos (como béqueres, frascos de Erlenmeyer, etc) de vidro ou de politetrafluoroetileno (PTFE), com ou sem condensador de refluxo; o aquecimento é efetuado usando-se uma fonte convencional (bico de Bunsen, chapa aquecedora, bloco digestor, etc). A amostra é pesada no frasco e o reagente é adicionado. A mistura é, então, aquecida, e o aquecimento é mantido o tempo necessário para a decomposição e a dissolução ocorrerem; a solução obtida é transferida quantitativamente para balão volumétrico e o volume é completado; se houver resíduo após este procedimento, torna-se necessário filtrar ou centrifugar (HOENIG, 2001; OLIVEIRA, 2003). Durante os últimos anos, o sistema aberto tem progredido: uma usual mineralização é composta de vários frascos equipados por condensadores de refluxo para reduzir possíveis perda por volatilização de alguns analitos e também para evitar a evaporação do reagente ou da mistura. Paralelamente, sistemas abertos aquecidos por microondas (que atravessam as paredes dos frascos, atingindo as amostras, sem perdas significativas de energia) também surgiram no mercado e estão disponíveis em versões manuais ou totalmente automatizadas. A digestão em sistema aberto permite utilizar quantidades acima de 2g de matéria orgânica (GRANADILLO et al. , 1995; HOENIG, 2001). Sistemas fechados (digestão ácida pressurizada) são geralmente mais eficientes do que os sistema abertos convencionais pois a perda de elementos voláteis é evitada e a decomposição das amostras torna-se mais fácil, devido à combinação da ação da temperatura com a ação da pressão. O fator limitante é a pequena quantidade de matéria orgânica que pode ser tratada: entre 0,1 e 0,2g (HOENIG, 2001; HOENIG e KERSABIEC, 1996). Utilizando microondas, a velocidade e a eficiência da decomposição, mesmo para alguns tipos de amostras consideradas difíceis de solubilizar, passaram a ser melhores. A distinção entre o sistema fechado e o sistema aberto (também chamado “focalizado’) é que o sistema fechado utiliza forno microondas com bombas politetrafluoroetileno (PTFE) e no sistema aberto o microondas é focalizado em frasco aberto de vidro borosilicato, quartzo ou PTFE com refluxo (HOENIG e KERSABIEC, 1996). Deste modo, algumas vantagens da digestão por microondas sobre a técnica convencional são menos tempo na preparação, pequena quantidade de ácido para digestão, controle pressão/temperatura, automação, e flexibilidade na preparação da amostra. Sistema de microondas fechado oferece controle das condições de digestão em relação pressão e temperatura, monitorando um frasco durante o processo de digestão. O sistema de microondas aberto opera a pressão ambiente e oferece flexibilidade nas condições de digestão, com frascos e colunas de refluxo em vidro borosilicato ou quartzo e os reagentes são adicionados automaticamente com programa de volume e velocidade de adição (GAWALKO et al. , 1997). Em geral, a temperatura envolvida na oxidação por via úmida é mais baixa do que por via seca. As perdas por volatilização ou retenção (causada por reação entre o analito e o frasco) são muito menos freqüentes. Por outro lado, a solubilização da amostra é incompleta e existe a possibilidade de coprecipitação do analito com um precipitado formado na mistura de digestão. O melhor exemplo é a coprecipitação de chumbo no precipitado de sulfato de cálcio formado quando uma amostra com alto teor de cálcio é digerida com uma mistura contendo ácido sulfúrico (HOENIG e KERSABIEC, 1996). 1.3.1.4 Via seca versus via úmida A escolha do método de mineralização não é fácil. Esta escolha não é determinada somente pela natureza e concentração do analito, pela natureza (sólida ou líquida) e tipo de matriz, ou pelo tamanho (quantidade) da amostra, mas também pelo tipo de técnica instrumental a ser utilizada; neste aspecto, a preparação da amostra define basicamente o desempenho analítico, isto é, o seu limite de detecção, sua exatidão, precisão, rapidez e custo (SUBRAMANIAN, 1996). Existem várias literaturas que descrevem alternativas e problemas associados com a mineralização ou solubilização de vários tipos de amostras. Isto mostra que não há um consenso geral pois, se houvesse, seria definido um procedimento adequado para cada tipo de amostra. No caso do método por via seca, o produto do processo de oxidação é uma mistura de sais inorgânicos como carbonatos, sulfatos, fosfatos e cloretos, os quais são os principais componentes inorgânicos em matrizes ambientais. A digestão por via úmida geralmente resulta em uma solução apresentando um resíduo inorgânico insolúvel nos ácidos mais freqüentemente usados. O analista deve estar atento a estas duas situações (HOENIG e KERSABIEC, 1996). Seja qual for a preparação escolhida pelo analista, este deve inicialmente avaliar a sua eficiência para, se possível, modificar alguns parâmetros e, então, validar o seu próprio procedimento. Esta validação deve ser realizada de uma maneira a mais completa possível, utilizando materiais de referência certificados. As duas técnicas de decomposição têm suas vantagens e desvantagens. A seleção depende da necessidade e das condições de cada laboratório (HOENIG, 2001; JORHEM, 2000). 1.3.2 Quantificação Os métodos mais adequados para uma determinação rápida dos minerais em alimentos são os métodos espectroscópicos atômicos, tais como espectrometria de absorção atômica em chama (FAAS), espectrometria de absorção atômica eletrotérmica com forno de grafite (ETAAS), espectrometria de emissão atômica com plasma de argônio indutivamente acoplado (ICP OES) e a espectrometria de emissão atômica com plasma de argônio indutivamente acoplado e incorporada à espectrometria de massa (ICP-MS) (BOSS e FREDEEN, 1997; MILLER-IHLI, 1996). A escolha da técnica depende da concentração do elemento a ser analisado e da sensibilidade analítica, uma vez que cada técnica possui o seu limite de detecção. Por exemplo: enquanto FAAS oferece um limite de detecção que varia de mg/L a mg/L, ETAAS é capaz de determinar frações de mg/L; já a técnica ICP OES apresenta um limite de detecção intermediário entre os oferecidos por FAAS e ETAAs, mas se for acoplado a um espectrômetro de massa (ICP MS), o limite de detecção pode ser da ordem de ng/L ou menor (HOENIG, 2001; SUBRAMANIAN, 1996). Das técnicas citadas, FAAS e ICP OES são as mais largamente utilizadas nas determinações de nutrientes inorgânicos em alimentos, após oxidação das amostras por via úmida ou por via seca (MILLER-IHLI, 1996; SUBRAMANIAN, 1996). Ambas possuem limites de detecção similares para muitos elementos; porém, enquanto ICP OES adapta-se bem à determinação de elementos refratários e alguns não metais, FAAS é a melhor técnica para elementos voláteis e metais alcalinos (MILLER-IHLI, 1996). As interferências que aparecem tanto na emissão atômica como na absorção atômica são bem documentadas, podendo-se utilizar bons métodos de correção do ruído de fundo (VOGEL, 2002; WELZ e SPERLING, 1999; WINGE et al. , 1985). A técnica de ICP OES apresenta algumas vantagens com relação à FAAS (VOGEL, 2002): · A faixa linear de trabalho dos equipamentos de ICP OES é usualmente de 0,1 a 1000 mg/ml, enquanto a dos instrumentos de FAAS é de 1 a 10 mg/ml. · Enquanto equipamentos de ICP OES podem realizar análises simultâneas de vários elementos ou análises seqüenciais rápidas, os instrumentos de FAAS são normalmente seqüenciais. · Pode-se, no caso de um instrumento ICP OES de análise simultânea, aumentar a precisão com padrões internos, com um típico desviopadrão relativo de 0,1 a 1,0%; a precisão, no caso dos equipamentos FAAS, é normalmente de 1 a 2%. · Enquanto FAAS é uma técnica restrita à determinação de elementos metálicos, ICP OES pode realizar também a análise de alguns elementos não-metálicos, como fósforo e enxofre, por exemplo (BOSS e FREDEEN, 1997). No presente trabalho utilizou-se ICP OES para a determinação dos nutrientes inorgânicos cálcio, fósforo, magnésio, sódio, potássio, ferro, cobre, zinco, cromo e manganês. Portanto, parece ser aqui adequado fazer algumas breves considerações a respeito dos princípios em que se baseia tal técnica e de algumas particularidades a respeito da instrumentação. Detalhes poderão ser facilmente encontrados em literatura especializada (BEAUCHEMIN et al. , 1994; BOSS e FREDEEN, 1997; CARRÉ et al. , 1995; EVANS et al. , 2001; FASSEL e KNISELEY, 1974; LEVY et al. , 1987; MERMET, 1998; SESI e HIEFTJE, 1996; TODOLÍ e MERMET, 1999; VOGEL, 2002; WINGE et al. , 1985). Uma representação de um equipamento típico de ICP OES é mostrada na figura 1.2. Figura 1.2 – Principais componentes de um instrumento ICP OES. Em ICP OES, a energia de excitação dos átomos é suprida por um plasma de um gás, normalmente argônio, formado com o auxílio de uma bobina de indução conectada a um circuito gerador de radiofreqüência. Um plasma pode ser definido como uma nuvem de gás altamente ionizado, formado por íons, elétrons e partículas neutras (em um plasma, mais de 1% do total de átomos está ionizado). A fonte de plasma (figura 1.3) inclui três tubos concêntricos de sílica/quartzo abertos na parte superior. A corrente de argônio que carrega a amostra na forma de aerossol flui pelo tubo central; a excitação é fornecida por dois ou três passos de um tubo metálico de indução em espiral, por onde passa uma corrente de radiofreqüência (aproximadamente 27 MHz). Um segundo fluxo de argônio (argônio auxiliar) estabiliza o plasma; é esta corrente gasosa que é excitada pela fonte de radiofreqüência. O gás de plasma flui em trajetória helicoidal, que estabiliza e ajuda a isolar termicamente o tubo de quartzo mais externo. O plasma é iniciado por uma centelha provocada por um transformador e depois se auto-sustenta; a amostra passa pelo centro relativamente frio: as fontes de plasma operam em temperaturas entre 7000 e 15000 K. Figura 1.3 – Fonte de plasma para ICP OES. A amostra é introduzida no plasma como um fino aerossol, oriundo de uma solução aquosa ou de solventes orgânicos que atravessa um nebulizador pneumático ou ultrassônico. Os nebulizadores pneumáticos são os mais usados devido à sua maior simplicidade de construção, robustez, boa reprodutibilidade e baixo custo; embora possam funcionar como aspiradores da solução da amostra pelo efeito Venturi, normalmente emprega-se uma bomba peristáltica para a introdução da amostra no nebulizador, o que favorece a manutenção de uma mesma taxa de aspiração para uma mesma matriz. A amostra, após passar pelo nebulizador, atinge a câmara de nebulização, cuja finalidade é fazer com que somente gotículas menores que 10 mm de diâmetro alcancem o plasma; o diâmetro médio é de 2 mm, o que permite uma eficiente vaporização e excitação dos átomos da amostra durante o tempo de residência no plasma (3 a 5 milisegundos). Gotas de maior tamanho são direcionadas para o dreno. Uma vez excitados, as espécies emitem radiações características; a radiação total proveniente do plasma passa por um sistema óptico que isola as emissões de cada uma das espécies, direcionando-as aos dispositivos fotomultiplicadores (detectores) de um espectrômetro; o sinal de cada fotomultiplicador é integrado, sendo proporcional à concentração da respectiva espécie que o originou. 2 – OBJETIVOS Objetivo geral Avaliar a composição de nutrientes inorgânicos (cálcio, fósforo, sódio, potássio, magnésio, ferro, zinco, cobre, cromo e manganês) em amostras de arroz branco cru e de feijão cru comercializadas no Estado de São Paulo, utilizando-se método rápido de preparação de amostra por hidrólise e quantificação por espectrometria de emissão atômica com plasma de argônio indutivamente acoplado. Objetivos específicos · Estabelecer um método analítico rápido, simples, eficiente e de baixo custo para a preparação de amostras de arroz e de feijão, uma vez que o método normalmente utilizado (tratamento por via seca) é relativamente demorado, exigindo aproximadamente dez dias para uma análise completa. · Comparar os teores obtidos de Ca, Fe e Na com valores declarados na informação nutricional constante nas rotulagens. · Comparar os teores obtidos dos nutrientes inorgânicos das amostras de arroz e de feijão comercializadas no Estado de São Paulo, com os valores das tabelas de composição de alimentos disponíveis, uma vez que a composição de nutrientes inorgânicos nos alimentos apresentam variações de acordo com o tipo e formas corretivas do solo e da adubação, do clima, etc. 3 – MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 MATERIAL 3.1.1 Reagentes § Ácido nítrico 65% p.a. – Merck (procedência alemã) § Ácido clorídrico 37% p.a. – Merck (procedência alemã) § Soluções-padrão estoque (Spex): 10.000 mg/L de Ca, Fe, K, Na, Mg, P e Zn 1.000 mg/L de Cr, Cu e Mn § Água destilada e deionizada – Milli-Q com resistividade 18,2 MWcm Obs.: a água destilada e deonizada utilizada nos procedimentos analíticos será doravante denominada apenas como água. 3.1.2 Materiais diversos § Vidrarias de laboratório § Pipetadores automáticos com volumes ajustáveis § Cápsulas de porcelana § Tubos de polietileno de 15 mL § Papéis de filtro – Whatman 40 (isento de cinzas) § Amostras de arroz branco cru e feijão cru Obs.: todas as vidrarias foram previamente descontaminadas com solução de ácido nítrico a 50% por 24 horas e enxagüadas com água. 3.1.3 Material de referência certificado (MRC) § National Institute for Environmental Studies – NIES no10-a Rice Flour – Unpolished (low level Cd) 3.1.4 Equipamentos § Forno mufla § Chapa aquecedora § Estufa § Balança analítica (Scientech) § Espectrômetro de Emissão Atômica com Plasma de Argônio Indutivamente Acoplado – Optima 3000 DV – Perkin Elmer 3.2 TRATAMENTO DAS AMOSTRAS 3.2.1 Amostragem Foram analisadas 40 amostras de arroz cru, branco, tipo 1 e 2, e 40 amostras de feijão cru da classe cores, do tipo 1 e 3, de várias marcas e lotes, adquiridas no comércio de várias cidades do Estado de São Paulo. Todas as amostras foram homogeneizadas na própria embalagem. 3.2.2 Pré tratamento Para obter maior homogeneidade da amostra de arroz foi realizado o processo de liofilização. No caso de amostra de feijão, por apresentar grãos maiores, um processo de trituração foi suficiente para garantir a homogeneidade. Para a liofilização do arroz, uma amostra de aproximadamente 200 g foi deixada em contato com água por 24 horas; após trituração em liqüidificador, foram transferidas para placas de Petri e congeladas em freezer para a posterior liofilização. Após liofilizada, a amostra foi homogeneizada em almofariz. Obtevese um pó branco, fino e homogêneo, que foi armazenado em saco de polietileno (para evitar a umidade) e mantido em geladeira. Para o feijão, triturou-se cerca de 200 g de amostra em multi-processador, o que resultou em um pó marrom claro, fino e homogêneo, que foi armazenado em saco de polietileno (para evitar a umidade) e mantido em geladeira. 3.2.3 Metodologia analítica Para a validação do método proposto (hidrólise com ácido clorídrico), a abertura das amostras foi também realizada utilizando-se o método oficial da AOAC (AOAC, 1995), que se baseia na destruição da matéria orgânica por aquecimento à seco. 3.2.3.1 Método por via seca (AOAC, 1995) Pesou-se aproximadamente 2,0 g das amostras de arroz e de feijão, em cápsula de porcelana e em triplicata; incinerou-se inicialmente em bico de Bunsen e em seguida em forno mufla com uma rampa de aquecimento de 1500C até atingir 4500C, mantendo-se esta temperatura por 4 horas. Após resfriamento, adicionou-se 1 mL de ácido nítrico concentrado (“ashing aid”) e deixou-se até à secura sobre chapa aquecedora. Retornou-se à mufla à 4500C por 2 horas. Repetiu-se, em média, dez vezes este procedimento de adição de ácido nítrico e mufla até a obtenção de cinzas de cor branca ou sem pontos pretos, isto é, até toda a matéria orgânica ser destruída. As cinzas foram dissolvidas em 2,5 mL de ácido clorídrico concentrado e a solução resultante foi transferida quantitativamente para balão volumétrico de 25 mL com auxílio de água, completando-se o volume. Em seguida, a solução foi transferida para tubo de polietileno para posterior determinação dos elementos. 3.2.3.2 Método proposto por via úmida Pesou-se aproximadamente 2,0 g das amostras de arroz e de feijão em frasco Erlenmeyer (125 mL) e adicionou-se 5 mL de HCl 1/1 (v/v); tampou-se o frasco com filme de PVC (cloreto de polivinila) transparente, deixando-se em repouso durante a noite. Aqueceu-se em chapa aquecedora por 3 horas a 750C (temperatura da solução), com ocasional agitação. Filtrou-se a solução, diretamente para balão volumétrico de 25 mL. Completou-se o volume com água, transferindo a solução resultante para tubo de polietileno. 3.2.4 Quantificação As quantificações foram realizadas por espectrometria de emissão atômica com plasma de argônio indutivamente acoplado (ICP OES) cujas condições de operação encontram-se na tabela 3.1. Tabela 3.1 : Parâmetros de operação Potência de RF 1350 W Fluxo de amostra 1,0 mL/min Fluxo de plasma 15 L/min Fluxo do nebulizador 0,85 L/min Gás auxiliar (Ar) 0,5 L/min Vista Radial e axial As soluções-padrão para a obtenção das curvas-padrão foram preparadas a partir da diluição em HCl 1/10 (v/v) de alíquotas de uma solução-padrão intermediária multielementar constituída de 1000 mg/L de Ca, P, Na e K; 250 mg/L de Mg; 100 mg/L de Fe e Zn; 50 mg/L de Cu; 10 mg/L de Cr e 5 mg/L de Mn, em HCl 1/10 (v/v), preparadas a partir das soluções-padrão estoque de cada elemento. As concentrações dos padrões encontram-se na tabela 3.2. Tabela 3.2: Concentrações das soluções-padrão Padrão 1 Padrão 2 Padrão 3 Padrão 4 Padrão 5 Elemento (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L) Ca 2,50 10,00 25,00 50,00 100,00 Cr 0,025 0,10 0,25 0,50 1,00 Cu 0,125 0,50 1,25 2,50 5,00 Fe 0,25 1,00 2,50 5,00 10,00 K 2,50 10,00 25,00 50,00 100,00 Mg 0,625 2,50 6,25 12,50 25,00 Mn 0,0125 0,050 0,125 0,250 0,500 Na 2,50 10,00 25,00 50,00 100,00 P 2,50 10,00 25,00 50,00 100,00 Zn 0,25 1,00 2,50 5,00 10,00 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Teste de homogeneidade das amostras Para avaliar a homogeneidade das amostras de arroz (liofilizado e em grãos) e de feijão (triturado e em grãos) foi utilizada a análise de variância com o auxílio do programa estatístico SPSS 10.0, a partir das concentrações dos nutrientes inorgânicos obtidas após tratamento por via seca (anexos 3 e 4). Pela tabela 4.1 podemos observar que tanto as amostras de arroz como as de feijão são homogêneas para os elementos determinados por ICP OES neste estudo, pois os valores de p são maiores que 0,05 para um nível de confiança de 95%. Tabela 4.1: Valores de p para amostras de arroz e de feijão Elemento Arroz Feijão Ca Valor de p 0,336 Valor de p 0,917 Cr 0,213 0,679 Cu 0,962 0,094 Fe 0,882 0,146 K 0,147 0,962 Mg 0,216 0,370 Mn 0,668 0,146 Na 0,219 0,056 P 0,303 0,257 Zn 0,550 0,100 Assim, há indicação de que as análises dos elementos estudados podem ser realizadas nas amostras “in natura”, sem a necessidade de trituração prévia. 4.2 Validação da metodologia analítica desenvolvida Para garantir a confiabilidade dos resultados gerados na avaliação da composição de minerais de arroz e de feijão, o método analítico desenvolvido (digestão com ácido clorídrico) foi validado seguindo as orientações do documento sobre validação de métodos de ensaios químicos DOQ-CGCRE-008 do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO, 2003). Através da técnica ICP OES, os seguintes parâmetros de validação foram avaliados: linearidade, sensibilidade, limite de detecção, limite de quantificação, exatidão, precisão e seletividade. A análise estatística também foi efetuada com o auxílio do programa estatístico SPSS 10.0. 4.2.1 Linearidade Linearidade é a habilidade das respostas analíticas serem diretamente proporcionais às concentrações do analito em estudo, em uma dada faixa de concentração. A linearidade pode ser observada pelo gráfico da curva-padrão dos resultados dos ensaios em função da concentração do analito ou calculado a partir da equação da regressão linear, determinada pelo método dos mínimos quadrados. O coeficiente de correlação linear (r) é usado para avaliar se a reta é adequada ou não para o ensaio. O valor geralmente aceito é de r>0,99 (INMETRO, 2003). Por exemplo, a figura 4.1 apresenta uma curva-padrão do elemento cálcio, obtida neste estudo. 5 6x10 5 5x10 padrão do elemento cálcio obtida por 5 intensidade Figura 4.1 – Curva- 4x10 5 3x10 5 2x10 5 slope = 5312 r = 0,9999 sd = 1266 1x10 ICP OES. 0 0 20 40 60 80 100 concentração (mg/L) Na tabela 4.2 encontram-se as faixas lineares de trabalho usadas para a construção das curvas-padrão para cada elemento e os respectivos valores dos coeficientes de correlação. Pode-se observar que todos os valores obtidos para r estão muito próximos de 1 o que significa que as curvas-padrão para todos os elementos estudados são lineares para as faixas de concentrações investigadas. Tabela 4.2: Faixas de trabalho das curvas-padrão dos elementos analisados e respectivos valores dos coeficientes de correlação e dos coeficientes angulares. Concentração a Coef. de Coef. angular (mg/L) correlação(r) (slope, L/mg) Cálcio 2,50-100,00 0,9999 5312 Cromo 0,025-1,00 0,9999 35160 Cobre 0,125-5,00 0,9999 131945 Ferro 0,25-10,00 0,9999 47108 Potássio 2,5-100,00 0,9999 1443 Magnésio 0,625-25,00 0,9999 115884 Manganês 0,0125-0,500 0,9999 317104 Sódio 2,50-100,00 0,9999 2695 Fósforo 2,50-100,00 0,9999 129 Zinco 0,25-10,00 0,9999 5761 Elemento (a) Todas as concentrações das soluções-padrão encontram-se na tabela 3.2. 4.2.2 Sensibilidade (S) (INMETRO, 2003) É um parâmetro que demonstra a capacidade do método em diferenciar concentrações próximas, isto é, descreve a variação da resposta em função da concentração do analito. É expressa pela inclinação da curva de regressão linear da calibração (coeficiente angular). A sensibilidade depende da natureza do analito e da técnica analítica usada, sendo expressa pela equação: S = dx/dc onde: S = sensibilidade dx = variação da resposta dc = variação da concentração Os valores obtidos para a sensibilidade dos elementos estudados encontram-se na tabela 4.2. Pelos valores obtidos podemos observar que a técnica de ICP OES apresenta maior sensibilidade para manganês, cobre e magnésio. Observe-se que o fósforo, apesar de apresentar a menor sensibilidade (coeficiente angular de 129), exibe uma boa linearidade (coeficiente de correlação de 0,9999) assim como os demais elementos, podendo ser adequadamente determinado nas análises das amostras. 4.2.3 Limite de detecção (LD) (INMETRO, 2003) O limite de detecção do método é definido como a concentração mínima de um analito que pode ser detectada com 95% de confiança. O limite de detecção foi determinado analisando-se 10 vezes a menor concentração da curva-padrão, e o desvio padrão obtido foi multiplicado por 3. Os valores resultantes encontram-se na tabela 4.3. 4.2.4 Limite de quantificação (LQ) É a menor concentração do analito que pode ser determinada com um nível aceitável de exatidão e precisão. Neste estudo, os limites de quantificação do método foram calculados usando o valor do desvio padrão de 10 medidas da concentração correspondente ao menor ponto da curva-padrão, multiplicado por 10 (EURACHEM, 2003; INMETRO, 2003). Os valores obtidos encontram-se na tabela 4.3. Tabela 4.3: Valores dos limites de detecção e quantificação para amostras de arroz e de feijão. Comprimento Limite de Limite de de onda detecção quantificação Elemento (nm) (mg/kg) (mg/kg) Ca 422 210 690 Cr 267 6 21 Cu 324 8 25 Fe 238 17 56 K 766 220 730 Mg 280 110 365 Mn 257 0,6 2 Na 589 210 700 P 214 360 1200 Zn 213 42 140 Observe-se que, pelos valores obtidos para LD e LQ, a técnica é adequada para a determinação dos elementos Ca, Cr, Cu, Fe, K, Mg, Mn, Na, P e Zn nas amostras de arroz e de feijão, nas concentrações esperadas. 4.2.5 Exatidão Exatidão é o grau de concordância entre o valor médio obtido de um conjunto de resultados de ensaio e o valor de referência aceito como verdadeiro. Para a determinação da exatidão das análises dos minerais estudados nas amostras de arroz e de feijão foram utilizados, respectivamente, material de referência certificado e método de adição de padrão. Para fins de comparação, também foi utilizado o método de preparação de amostra por via seca (recomendado pela AOAC). 4.2.5.1 Arroz Para a avaliação da exatidão do método para a amostra de arroz foram utilizados dois critérios: índice z-score e ISO Guia 33. Foram realizadas 7 análises independentes do material de referência certificado (NIES no10-a Rice Flour); os valores obtidos encontram-se nas tabelas 4.4 e 4.5. a) Índice z-score Z= ( X lab - X v ) s onde: Xlab = média dos valores obtidos experimentalmente Xv = valor certificado do MRC s = unidade de desvio (incerteza do MRC) A avaliação foi feita seguindo a escala de pontuação da ISO Guia 43 (ABNT, 1999): |Z| < 2 : satisfatório 2 < |Z| < 3 : questionável |Z| > 3 : insatisfatório Tabela 4.4: Valores certificados, resultados obtidos experimentalmente pelos dois métodos de preparação (via seca e via úmida), e valores calculados de z-score Xv Xlab Via seca a Via úmida b Elemento (mg/kg) (mg/kg) z-score (mg/kg) z-score Ca 93 ± 3 92,5 ± 1,5 0,17 91,4 ± 1,4 0,53 Cu 3,5 ± 0,3 4,0 ± 0,6 1,67 3,4 ± 0,1 0,33 Fe 12,7 ± 0,7 12,7 ± 0,4 0 11,8 ± 1 1,29 K 2800 ± 80 918 ± 66 23,5 2663 ± 135 1,71 Mg 1340 ± 80 1331 ± 55 0,11 1276 ± 51 0,80 Mn 34,7 ± 1,8 33,8 ± 0,5 0,50 33,3 ± 1,3 0,78 Na 10,2 ± 0,3 956 ± 79 3153 10,5 ± 0,8 1,00 P 3400 ± 70 3361 ± 54 0,56 3290 ± 124 1,57 Zn 25,2 ± 0,8 24,1 ± 0,8 1,38 24,5 ± 0,6 0,88 Cr c § Resultados individuais encontram-se no anexo 5. § Resultados individuais encontram-se no anexo 6. § Não consta valor certificado para o elemento cromo. Podemos observar na tabela 4.4 valores satisfatórios de z para todos os elementos pesquisados exceto para sódio e potássio, fato que será discutido mais adiante no item 4.3. b) ISO Guia 33 Outra forma de avaliar a exatidão é através do preconizado pela ISO Guia 33 (ABNT, 2002a), onde a exatidão do processo de medição é verificada comparando-se a média dos valores obtidos experimentalmente com o valor certificado, sendo empregado o seguinte critério para aceitação: |x - m| < 2s onde s = desvio padrão. x = média dos valores obtidos experimentalmente m = valor certificado do MRC Caso seja obedecido, o método é tão exato quanto requerido. Os valores obtidos encontram-se na tabela 4.5. Observou-se que os métodos utilizados são exatos pois o critério de aceitação |x - m| < 2s foi obedecido em relação aos minerais estudados, exceto para sódio e potássio (discussão no item 4.3). Tabela 4.5: Valores certificados, média dos resultados obtidos por via seca e via úmida, valores de |x - m| e valores de 2s m x via seca via úmida Elemento (mg/kg) (mg/kg) |x - m| 2s (mg/kg) |x - m| 2s Ca 93 ± 3 92,5 ± 1,5 0,5 3 91,4 ± 1,4 1,6 2,8 Cr * Cu 3,5 ± 0,3 4,0 ± 0,6 0,5 1,2 3,4 ± 0,1 0,1 0,2 Fe 12,7 ± 0,7 12,7 ± 0,4 0 0,8 11,8 ± 1 0,9 2,0 K 2800 ± 80 1882 132 2663 ± 135 137 270 918 ± 66 Mg 1340 ± 80 1331 ± 55 9 110 1276 ± 51 64 102 Mn 34,7 ± 1,8 33,8 ± 0,5 0,9 1 33,3 ± 1,3 1,4 2,6 Na 10,2 ± 0,3 956 ± 79 946 158 10,5 ± 0,8 0,3 1,6 P 3400 ± 70 3361 ± 54 39 108 3290 ± 124 110 248 Zn 25,2 ± 0,8 24,1 ± 0,8 1,1 1,6 24,5 ± 0,6 0,7 1,24 (*) Não consta valor certificado para o elemento cromo. Desta forma, verifica-se que tanto pelo índice z-score (tabela 4.4), como pela ISO Guia 33 (tabela 4.5), ambos os métodos (via seca ou via úmida) atendem aos requisitos de exatidão. 4.2.5.2 Feijão No caso do feijão, devido ao fato de não ter sido encontrado no comércio nacional ou internacional material de referência certificado para a determinação da exatidão, foi utilizado o método de adição de padrão tanto para a via seca como para a via úmida, usando-se a amostra de feijão triturado. Foram feitas adições de padrão em 3 concentrações diferentes (baixa, média e alta) de cada um dos elementos estudados (tabela 4.6) e realizadas 7 análises independentes de cada adição; adicionalmente, 7 amostras sem adição de padrão foram também analisadas. Para avaliar a exatidão do método foi calculada a porcentagem de recuperação dos analitos, usando-se a fórmula: %rec = (C - C2 ) x100 C3 1 onde %rec = porcentagem de recuperação C1 = concentração determinada na amostra adicionada C2 = concentração determinada na amostra não adicionada C3 = concentração adicionada As porcentagens de recuperação obtidas encontram-se nas tabelas 4.6. Tabela 4.6: Porcentagens de recuperação obtidas para amostra de feijão com adição de três concentrações diferentes de padrão (método de via seca e via úmida) Adição 1 Adição 2 Adição 3 Conc. %rec %rec Conc. %rec %rec Conc. %rec %rec (mg/L) seca úmida (mg/L) seca úmida (mg/L) seca úmida Ca 4 101 89 40 98 87 80 99 95 Cr 0,04 96 84 0,4 88 84 0,8 88 89 Cu 0,2 102 91 2 97 87 4 89 94 Fe 0,4 100 95 4 100 90 8 95 95 K 4 88 100 40 105 97 80 105 99 Mg 1 88 98 10 109 95 20 103 97 Mn 0,02 80 100 0,2 103 94 0,4 97 95 Na 4 108 107 40 110 85 80 98 93 P 4 86 100 40 109 96 80 103 97 Zn 0,4 98 97 4 96 85 8 97 91 Pela tabela 4.6 observa-se que as porcentagens de recuperação obtidas variaram de 80 a 110%. Assim, os resultados obtidos de recuperação dos analitos estudados tanto por via seca como por via úmida estão dentro da faixa aceitável de 70 a 110% (SANCO, 2000) evidenciando que o método desenvolvido apresenta boa exatidão para amostra de feijão. 4.2.6 Precisão (Repetitividade) A precisão, é uma forma de avaliar a dispersão dos resultados entre ensaios independentes de uma mesma amostra, repetidos sob as mesmas condições, chamadas de condições de repetitividade, comumente denominada de “repê” (VIM-INMETRO, 2000); estas condições são: mesmo procedimento de medição, mesmo analista, mesmo equipamento, mesmo laboratório e repetições em curto espaço de tempo. A repê foi determinada usando amostras de arroz e feijão, para os dois métodos de preparação (via seca e via úmida). Foram realizadas 7 repetições independentes e a partir da estimativa do desvio padrão dos resultados obtidos calculou-se o limite de repetitividade(r). Este parâmetro capacita o analista a decidir se a diferença entre as análises em duplicatas de uma amostra é significativa quando determinadas sob condições de repê. Caso a diferença entre as réplicas seja menor que r, não há diferença significativa entre os resultados. Para um nível de confiança de 95%, o limite de repetitividade (r) foi calculado usando a seguinte fórmula: r = 2,8.Sr onde Sr = estimativa de desvio padrão da repetitividade associada aos resultados considerados. Na tabela 4.7 encontram-se os valores de Sr e os valores de r calculados para cada elemento e matriz (resultados individuais encontram-se nos anexos 7 a 10). Tabela 4.7: Valores de Sr e r dos elementos analisados em amostras de arroz e de feijão Arroz via seca Feijão via úmida via seca via úmida Elemento Sr r Sr r Sr r Sr r Ca 2,2 6,2 2 5,6 50 140 70 196 Cr 0,005 0,014 0,02 0,053 0,02 0,06 0,01 0,03 Cu 0,83 2,32 0,05 0,14 0,25 0,70 0,13 0,36 Fe 0,26 0,73 0,20 0,56 3 8,4 1,2 3,4 K 22 62 28 76 320 896 314 879 Mg 12 34 9 25 22 62 39 109 Mn 0,59 1,65 0,6 1,7 0,2 0,6 0,4 1,1 Na 23 64 3 8,4 109 305 5,4 15,1 P 46 129 45 126 81 227 55 154 Zn 0,56 1,7 0,4 1,1 1,6 4,5 0,9 2,5 Pelos valores de r obtidos observou-se que não ocorreu diferença significativa entre os resultados obtidos de sete análises de uma mesma amostra, isto é, a diferença entre as réplicas foi menor que r, não havendo portanto diferença significativa entre os resultados. 4.2.7 Comparação da precisão entre métodos Para avaliar se os métodos da via seca e via úmida apresentam diferenças significativas entre si, em termos de precisão, foi utilizado o teste F. Este procedimento estatístico baseia-se no cálculo da razão entre as variâncias dos dois métodos estudados: Fcalculado = SA 2 SB 2 onde SA2 = maior valor de variância e SB2 = menor valor de variância Se Fcalculado for menor ou igual ao Ftabelado (Ftabelado = 4,28, para n = 7 e a = 0,05) (ANDERSON, 1987), os dois métodos não apresentam diferenças significativas entre si, em relação à precisão. Os resultados obtidos encontram-se na tabela 4.8. Todos os elementos pesquisados tanto no arroz como no feijão, analisados pelos dois métodos (via seca e via úmida), não apresentaram diferenças estatisticamente significantes, exceto nos casos do cromo e cobre na amostra de arroz, e nos casos do sódio e ferro (arroz e feijão). Nos casos do cobre e do ferro, esta discrepância pode ser atribuída à contaminação das vidrarias e muflas, ou contaminação ambiental. Com relação ao cromo, ressalte-se que os níveis determinados situam-se próximos ao limite de quantificação, o que torna mais críticas as condições de repetibilidade. Em particular, os resultados para o sódio serão discutidos mais detalhadamente no item 4.3.1. Tabela 4.8: Valores das variâncias e de Fcalculado para as amostras de arroz e feijão, para comparação dos métodos (via seca e via úmida) Arroz Feijão Variância Elemento Variância via seca via úmida Fcalculado via seca via úmida Fcalculado Ca 4,84 4 1,21 2500 4900 1,96 Cr 0,00003 0,0004 13,3 0,0004 0,0001 4 Cu 0,69 0,003 230 0,06 0,02 3 Fe 0,70 0,04 17,5 9 1,44 6,25 K 484 784 1,62 102400 98596 1,04 Mg 144 81 1,78 484 1521 3,14 Mn 0,35 0,36 1,03 0,04 0,16 4 Na 529 9 58,8 11881 29,2 407 P 2116 2025 1,04 6561 3025 2,17 Zn 0,31 0,16 1,94 2,56 0,81 3,16 4.2.8 Seletividade Um método analítico é seletivo quando produz respostas para vários analitos, porém é capaz de distingüir a resposta de um determinado analito das respostas dos demais. De acordo com a IUPAC (IUPAC, 1995), seletividade mede quanto o método pode determinar o analito com exatidão e precisão na presença de interferentes. Para comprovar que nenhum outro componente, conhecido ou desconhecido, esteja sendo determinado junto com os analitos estudados, foram traçados os espectros dos picos de emissão dos padrões e das amostras (anexos 11.1 a 11.20). Podemos observar que os picos de emissão dos analitos nas amostras de arroz e de feijão são semelhantes aos dos analitos da solução padrão, indicando que não há interferências espectrais e de matriz na determinação dos elementos estudados. 4.3 Estudo de interferentes 4.3.1 Determinação de sódio Para avaliar a interferência na determinação de sódio no preparo das amostras de arroz e de feijão por via seca, foram realizados testes com cápsula de platina e com cápsula de porcelana. No caso do arroz foi utilizado material de referência certificado (NIES). Os resultados obtidos encontram-se na tabela 4.9. Observa-se que, na cápsula de porcelana, há um aumento de mais de 100 vezes na concentração de sódio tanto na amostra de feijão como na de arroz. A concentração de sódio na amostra de arroz certificado, preparada na cápsula de platina, apresentou uma recuperação média de 94,8%, um resultado satisfatório para esse nível de concentração. Tabela 4.9: Comparação da concentração média de sódio em amostras de arroz (NIES) e de feijão preparadas em cápsulas de platina e de porcelana, por via seca. Concentração de Na cápsula feijão (mg/kg) arroz (mg/kg) Platina 8,2 9,67 Porcelana 976 971 Valor de referência certificado para sódio no arroz (NIES) = 10,2 + 0,3 mg/kg Neste estudo foram utilizadas cápsulas de porcelana de procedência nacional, constituídas basicamente de silicato de alumínio e potássio hidratado, com a possível presença de sódio como contaminante da matéria prima. Teoricamente, a cápsula não deveria liberar sódio tendo em vista que a parede é vitrificada dificultando a sua solubilização. Pelos espectros dos picos de emissão de sódio para amostras de arroz e de feijão (anexos 11.15 e 11.16) podemos observar que não há problemas de interferências espectrais ou de matriz. Em função das várias repetições realizadas com resultados sistematicamente elevados, podemos descartar a possível contaminação dos materiais. Desta forma, podemos inferir que existe a possibilidade de algum constituinte da amostra estar reagindo com a cápsula de porcelana. Por exemplo, o aumento dos teores de sódio nas amostras de arroz e de feijão poderia ser devido a presença de enxofre na amostra, o que, na presença de ácidos, possibilitaria a formação de pirossulfato, reconhecidamente um agente causador de danos à cápsulas de porcelana (VOGEL, 2002). 4.3.2 Determinação de potássio De forma similar ao estudo de interferência na determinação do sódio, foram realizados testes em cápsulas de platina e de porcelana. Os resultados obtidos encontram-se na tabela 4.10. Podemos observar que, na cápsula de porcelana, há uma diminuição na concentração de potássio tanto na amostra de feijão como na amostra de arroz. A concentração de potássio na amostra de arroz certificado preparada na cápsula de platina apresentou uma recuperação média de 86%, que é uma recuperação satisfatória para esse nível de concentração, enquanto que na cápsula de porcelana ocorreu uma redução de 75% na concentração de potássio em relação ao valor certificado. No caso do feijão preparado na cápsula de porcelana foi observado uma redução de 30% do teor de potássio, em relação a cápsula de platina. Tabela 4.10: Comparação da concentração média de potássio em amostras de arroz (NIES) e de feijão preparadas em cápsulas de platina e de porcelana, por via seca. Concentração de K cápsula feijão (mg/kg) arroz (mg/kg) Platina 15.300 2400 Porcelana 10.800 700 Valor de referência certificado para potássio no arroz (NIES) = 2800+80 mg/kg Pelos espectros dos picos de emissão do potássio para amostras de arroz e de feijão (anexos 11.9 e 11.10) podemos observar que não há problemas de interferências espectrais ou de matriz. Em função das várias repetições realizadas com resultados sistematicamente menores, podemos concluir que existe a possibilidade de algum constituinte da amostra estar reagindo com a cápsula de porcelana, tornando os compostos de potássio insolúveis, ou devido ao fenômeno de adsorção do potássio. 4.4 Avaliação dos resultados obtidos de nutrientes inorgânicos para amostras de arroz e de feijão. Utilizando-se o método de preparação de amostras por hidrólise com HCl, foram analisadas quarenta amostras de arroz branco cru e quarenta amostras de feijão cru, todas comercializadas no Estado de São Paulo. Ressalte-se que as amostras não sofreram pré-tratamento, isto é, não foram liofilizadas ou trituradas. Um resumo dos resultados obtidos para o feijão é apresentado na tabela 4.11, enquanto a tabela 4.12 resume os dados obtidos para o arroz (valores para cada amostra podem ser encontrados nos anexos 12 e 13, respectivamente). Como os resultados para todos os elementos analisados apresentaram uma distribuição normal, tanto para o feijão como para o arroz (anexos 14.1 a 14.10), utilizaremos em nossa discussão os valores médios obtidos. Tabela 4.11 – Análise estatística descritiva dos teores de nutrientes inorgânicos obtidos em 40 amostras de feijão comercializadas no Estado de São Paulo. Concentração (mg / 30g) Ca Cr Cu Fe K Mg Mn Na P Zn média 35,0 0,003 0,24 1,81 410 51,6 0,45 0,43 105 0,79 mediana 34,0 0,003 0,24 1,75 411 52,3 0,42 0,42 104 0,78 mínimo 17,8 0,002 0,19 1,35 353 45,5 0,26 0,23 39 0,65 máximo 55,3 0,007 0,32 2,36 467 58,0 0,81 0,74 143 1,08 7,1 0,26 25 3,5 0,13 0,12 16 0,10 desvio padrão 0,001 0,03 Tabela 4.12 – Análise estatística descritiva dos teores de nutrientes inorgânicos obtidos em 40 amostras de arroz comercializadas no Estado de São Paulo. Concentração (mg / 50g) Ca Cr Cu Fe K Mg Mn Na P Zn média 2,15 0,006 0,11 0,16 29,0 13,1 0,53 0,89 46,0 0,62 mediana 2,15 0,004 0,11 0,16 29,9 13,2 0,54 0,83 45,1 0,61 mínimo 1,50 0,002 0,05 0,09 5,3 6,91 0,30 0,43 28,2 0,39 máximo 2,50 0,035 0,29 0,26 42,7 17,8 0,96 1,87 70,2 0,90 desvio padrão 0,22 0,006 0,05 0,04 7,5 2,9 0,13 0,28 7,6 0,09 Podemos observar pelas tabelas 4.11 e 4.12 que, de modo geral, o feijão analisado é uma boa fonte de cálcio, ferro, potássio, magnésio, cobre, zinco e fósforo quando comparado com o arroz, que é deficiente em minerais, fatos previsíveis pelo que foi discutido no item 1.2 deste trabalho. Contudo, algumas considerações mais específicas sobre os teores determinados para cada elemento e suas relações com informações nutricionais constantes em rotulagens e tabelas de composição de alimentos parecem ser aqui adequadas. Destas considerações, os teores determinados para o cromo não serão discutidos uma vez que os resultados obtidos apresentam um alto desvio padrão, conseqüência de seus baixos valores, próximos ao limite de quantificação do método. 4.4.1 Comparação dos teores obtidos de Ca, Fe e Na em amostras de arroz e de feijão com os valores declarados em rotulagens nutricionais. Inicialmente é preciso salientar que, em termos de rotulagem nutricional, de acordo com a Resolução – RDC no 39 de 21 de março de 2001, os Valores de Referência para Porções para o arroz e o feijão são, respectivamente, 50g e 30g (observe-se que as tabelas 4.11 e 4.12, assim como todos os dados relacionados às considerações que se seguem, estão convertidos para estas quantidades). Por outro lado, a Resolução – RDC no 40 de 21 de março de 2001 estabelece como obrigatória, com relação aos nutrientes inorgânicos, a declaração na rotulagem dos teores de cálcio, ferro e sódio. Caso o teor a ser declarado seja inferior do que 8 mg/porção para o cálcio ou 0,14 mg/porção para o ferro, deve ser declarado “quantidade não significativa”; no caso do sódio, se a concentração for menor do que 25 mg/porção, expressa-se como 0 (zero). É permitida uma tolerância de até 20% (para mais ou para menos) nos valores constantes na informação nutricional declarada no rótulo; para os nutrientes cujo porcentual de variabilidade seja superior a 20% em função da espécie e do tipo de manejo agrícola, é permitida à empresa informar o porcentual de variação abaixo da tabela de informação nutricional, além de manter à disposição os estudos que justifiquem o porcentual desta variabilidade. Adicionalmente, além desta declaração obrigatória, deverão também ser declarados: os teores dos nutrientes que forem adicionados, os teores dos suplementos, os teores dos nutrientes em que for feita alguma alegação de propriedade e os teores dos nutrientes que estiverem presentes em quantidades maiores que 5% da IDR por porção. Das 40 amostras de arroz analisadas, 3 não apresentavam qualquer informação nutricional, o mesmo fato sendo observado em 4 das 40 amostras de feijão. Das 37 amostras de arroz com informação nutricional, 3 não apresentavam teor de cálcio declarado. No entanto, tanto as informações nutricionais contidas nas embalagens de arroz como nas de feijão variaram dentro de uma faixa relativamente grande de concentrações. A figura 4.2 apresenta a distribuição em termos de porcentagem dos teores declarados dos nutrientes cálcio, ferro e sódio nas amostras analisadas de arroz. Tendo-se em mente os valores médios obtidos neste estudo para as amostras de arroz (Ca: 2,15 mg/50g; Fe: 0,16 mg/50g; Na: 0,89 mg/50g ), e considerando ainda a tolerância de 20% no teor declarado no rótulo, verificou-se no caso do cálcio (figura 4.2a) que nenhuma amostra está de acordo com a legislação vigente, uma vez que não foi obtido um teor superior a 8 mg/50g – mesmo para aquelas cujo teor declarado foi inferior a 8mg/50g (11% das amostras), a forma correta de informação seria “quantidade não significativa”; por outro lado, 81% das amostras apresentaram teores muito acima do valor obtido. Ca/informação rotulagem/arroz % amostra 40% 20% Fe/informação rotulagem/arroz 49% 27% 3% 5% 5% 3% 8% 0% 0 5 7 10 12 24 nd 75% 80% 60% 40% 20% 3% 3% 8% 8% 0 0,4 0,6 0,7 3% 0% valor declarado (mg/50g) 1,0 valor declarado (mg/50g) (a) (b) Na/informação rotulagem/arroz % amostra % amostra 60% 100% 80% 60% 40% 20% 0% 94% 0 3% 3% 2,5 8,3 valor declarado (mg/50g) (c) Figura 4.2 – Distribuição em termos de porcentagem dos teores declarados nos rótulos dos nutrientes cálcio, ferro e sódio nas amostras de arroz analisadas. 2,0 Dos valores declarados para o ferro (figura 4.2b), 97% das amostras apresentaram valores maiores que o valor médio encontrado, sendo que 75% destas amostras declararam valores aproximadamente 6 vezes maiores que o obtido; observe-se que uma pequena porcentagem (3%) de amostras informou 0 (zero) de concentração de ferro – na realidade, segundo a legislação, deveria ter sido relatada como “quantidade não significativa”. No caso do sódio (figura 4.2c), 94% das amostras forneceu a informação correta e os 6% restantes deveriam ter considerado como zero, uma vez que o nível mínimo para declaração de valores diferentes de zero é 25mg/50g. Devido à possibilidade de variabilidade dos teores de nutrientes inorgânicos em função do solo e do tipo de manejo agrícola, as empresas também deveriam ter informado a porcentagem de variação, o que não ocorreu em nenhuma amostra. Com relação às informações nutricionais contidas nas embalagens das amostras de feijão (figura 4.3), no caso do cálcio o teor médio obtido das amostras analisadas foi de 35,0 mg/30g, com intervalo tolerado de 28,0 a 42,0 mg/30g (resolução RDC no 40). Observou-se pela figura 4.3a que 47% das amostras apresentaram informações dentro do intervalo tolerado, enquanto que 36% declararam valores em torno de 1% menores que o limite inferior da faixa, e os 17% restantes declararam valores acima do limite superior. Em relação ao ferro, o valor médio obtido foi de 1,81 mg/30g, com intervalo de tolerância de 1,45 a 2,17 mg/30g. Pela figura 4.3b observa-se que 60% dos valores declarados na informação nutricional encontram-se dentro do intervalo determinado. Contudo 34% apresentam valores muito próximo do limite superior. Os 6% restantes declararam cerca de 4 vezes acima do valor obtido. Fe/informação rotulagem/feijão 40% 36% 30% 22% % amostra % amostra Ca/informação rotulagem/feijão 25% 20% 8% 10% 6% 3% 30,0 40,0 50,0 80,0 34% 40% 20% 0% 25,8 51% 60% 9% 6% 0% 1,52 130,0 2,00 2,28 7,00 valor declarado (mg/30g) valor declarado (mg/30g) ( (a) (b) % amostra Na/informação rotulagem/feijão 100% 80% 60% 40% 20% 0% 88% 0 3% 3% 6% 2,4 8,0 50,0 valor declarado (mg/30g) (c) Figura 4.3 – Distribuição em termos de porcentagem dos teores declarados nos rótulos dos nutrientes cálcio, ferro e sódio nas amostras de feijão analisadas. No caso do sódio (figura 4.3c), 88% das amostras apresentaram 0 (zero) na informação nutricional estando de acordo com a legislação vigente; 6% das amostras deveriam ter declarado zero e os outros 6% declararam um valor cerca de 116 vezes maior do que o obtido neste estudo. Com relação aos demais nutrientes, tendo-se em mente que devem ser declarados aqueles que estejam presentes em quantidades maiores que 5% da IDR por porção, observou-se que o manganês nas amostras de arroz, e os elementos fósforo, magnésio, cobre e manganês no feijão, deveriam ter sido incluídos nas infomações nutricionais das embalagens (tabela 4.13). Tabela 4.13 – Valores da IDR para adultos, de 5% da IDR e concentrações médias por porção para amostras de arroz e de feijão analisadas. Elemento IDR (mg) 5% IDR (mg) 40 Arroz Conc. média (mg/50g) 46,0 Feijão Conc. média (mg/30g) 105 P 800 Mg 300 15 13,1 51,6 Zn 15 0,75 0,62 0,79 Cu 3 0,15 0,11 0,24 Mn 5 0,25 0,53 0,45 4.4.2 Comparação dos teores obtidos de nutrientes inorgânicos em amostras de arroz e de feijão com os valores das tabelas de composição de alimentos. As concentrações de nutrientes inorgânicos obtidas neste estudo foram também comparadas com os valores publicados em tabelas de composição de alimentos. Para esta comparação, foram utilizadas tabelas e bancos de dados disponíveis na página eletrônica da ANVISA (BRASIL, 2003), identificados neste estudo como USDA, ENDEF e UNIFESP. Também foram usadas outras tabelas, geralmente utilizadas pelos nutricionistas para formulação de dietas, que foram identificadas como McCANCE, FRANCO, PHILIPPI e SOUCI. Das sete tabelas e/ou bancos de dados de composição de alimento utilizados, quatro são nacionais (ENDEF, FRANCO, PHILIPPI e UNIFESP) e três são internacionais (McCANCE, SOUCI e USDA). Os valores publicados foram transformados de mg/100g para mg/porção (50g para o arroz e 30g para o feijão) e plotados nas figuras 4.4 e 4.5. 4.4.2.1 – Arroz De modo geral, podemos observar pela figura 4.4 que os teores obtidos para magnésio, cobre, manganês, fósforo e zinco são comparáveis aos declarados pela maioria das tabelas. No entanto, nenhuma das tabelas apresentam valores para cálcio, ferro e sódio que estejam pelo menos dentro da faixa de tolerância aceitável de 20% dos valores obtidos: os valores apresentados são maiores. É interessante notar que estes três últimos elementos devem ser, pela legislação vigente, obrigatoriamente declarados na rotulagem nutricional, e que esta pode ser baseada em tabelas de composição, como discutido no item 1.1.2 deste estudo. Assim, por exemplo, os valores superestimados observados na rotulagem nutricional para cálcio e ferro poderiam serem atribuídos, pelo menos em parte, a valores oriundos de tabelas como as utilizadas neste estudo. Especificamente, na figura 4.4a observa-se que para o cálcio, entre as quatros tabelas nacionais, ENDEF e FRANCO apresentaram o mesmo valor (4.5 mg/50g), que é o dobro do valor obtido (2,15 mg/50g), enquanto PHILIPPI e UNIFESP apresentaram 14,0 mg/50g (cerca de 6,5 vezes maior que o obtido). Já os dados das tabelas de McCANCE e USDA são cerca de quatorze vezes maiores do que os encontrados neste estudo. Constata-se, assim, uma variação de 3 a 30 mg/50g nos valores tabelados pelos diversos autores, sugerindo que a concentração de cálcio pode sofrer influência de fatores como o solo, pH, uso de corretivo a base de calcáreo, etc. Na figura 4.4b também podemos observar uma variação nos valores tabelados para ferro (0,25 a 2,16 mg/50g), sendo muito menor o valor encontrado (0,16 mg/50g). (b) Fe/tabela de composição/arroz 30,0 25,5 4,5 14,0 4,5 3,0 2,15 0,0 1 2,50 2 2,50 2,43 0,89 nd 0,10 0,07 nd 12,5 0,11 0 0 nd 75,0 80 57,5 60 29,0 nd 0 EN DE FR F AN Mc CO CA PH NCE IL IP PI SO U UN CI IF ES P EN 0,00 75,0 80,0 60,0 52,0 57,5 52,0 60,0 68,1 57,5 46,0 40,0 20,0 0,0 EN DE FR F AN Mc CO CA PH NCE IL IP PI SO U UN CI IF ES P US D OB A TI DO nd conc. (mg/50g) nd 0,53 EN DE FR F AN Mc CO CA PH NCE IL IP PI SO U UN CI IF ES P US D OB A TI DO conc. (mg/50g) 0,50 60,0 (h) P/tabela de composição/arroz 1,00 0,43 57,5 20 1,00 0,50 51,5 31,1 40 1,50 0,55 13,1 0 (g) Mn/tabela de composição/arroz 0,60 15,4 12,5 EN DE FR F AN Mc CO CA PH NCE IL IP PI SO U UN CI IF ES P US D OB A TI DO 0,19 0,11 16,0 10 US D OB A TI DO Mc O CA N PH C IL E IP PI SO U UN CI IF ES P AN C 0,29 0,3 0,1 19,0 20 (f) K/tabela de composição/arroz (e) Cu/tabela de composição/arroz 0,2 32,0 30 DE FR F AN Mc CO CA PH NCE IL IP PI SO U UN CI IF ES P US D OB A TI DO conc. (mg/50g) FR EN DE F 0 0,4 0,16 EN DE FR F AN Mc CO CA PH NCE IL IP PI SO U UN CI IF ES P 6 2,00 0,50 0,30 0,25 40 conc. (mg/50g) 8 3,00 0,65 0 conc. (mg/50g) conc. (mg/50g) 8,30 4 0,65 0,5 (d) Mg/tabela de composição/arroz (c) Na/tabela de composição/arroz 10 1,78 1,5 US D OB A TI DO 14,0 10,0 2,16 2 US D OB A TI DO 20,0 2,5 conc. (mg/50g) 30,0 EN DE FR F AN Mc CO CA PH NCE IL IP PI SO U UN CI IF ES P US D OB A TI DO conc. (mg/50g) (a) Ca/tabela de composição/arroz Figura 4.4 – Comparação entre teores (i) Zn/tabela de composição/arroz amostras de arroz. 0,90 1 0,8 0,4 0,2 0,62 0,55 0,6 0,25 0,50 0,48 0,25 nd 0 EN DE FR F AN Mc CO CA PH NCE IL IP PI SO U UN CI IF ES P US D OB A TI DO e valores obtidos neste trabalho para conc. (mg/50g) declarados em tabelas de composição No caso do sódio (figura 4.4c), todas as tabelas apresentaram valores semelhantes entre si, com exceção de FRANCO cujo valor é cerca de 3 vezes maior que os outros autores. Contudo, todos os valores apresentados estão acima do valor obtido. Para o magnésio (figura 4.4d), cuja faixa de aceitação do resultado obtido é de 10,5 a 15,7 mg/50g, podemos observar que PHILIPPI, UNIFESP e USDA apresentam valores dentro desta faixa. Enquanto SOUCI apresenta um valor aproximadamente 2,5 vezes maior que o obtido, o dado de FRANCO é cerca de 45% maior. Pela figura 4.4e, observamos que o valor obtido para cobre é semelhante aos tabelados em PHILIPPI e USDA; enquanto os dados apresentados por McCANCE e FRANCO são respectivamente 2 e 3 vezes maiores que o determinado neste estudo, SOUCI apresenta um valor cerca de 40% menor. Para o elemento potássio (figura 4.4f), cuja faixa de tolerância é de 23,2 a 34,8 mg/50g, somente FRANCO apresenta um valor comparável – dados de outros autores são aproximadamente 80% maiores. Observa-se pela figura 4.4g que enquanto os valores de McCANCE, PHILIPPI, UNIFESP e USDA estão dentro da faixa aceitável do resultado obtido para manganês (0,42 a 0,64 mg/50g), SOUCI apresenta um valor cerca de 50% maior. No caso do fósforo (figura 4.4h) os valores apresentados por FRANCO e ENDEF se aproximam do valor obtido; porém, as outras tabelas variaram de 57,5 a 75,0 mg/50g (faixa aceitável: 36,8 a 55.2 mg/50g). Finalmente, podemos observar pela figura 4.4i que o valor obtido para o elemento zinco aproxima-se dos apresentados por PHILIPPI e UNIFESP (faixa aceitável: 0,50 a 0,74 mg/50g). 4.4.2.2 – Feijão No caso do feijão (figura 4.5), observou-se de modo geral que os teores dos nutrientes inorgânicos obtidos são comparáveis aos declarados na maioria das tabelas, com exceção do sódio cujo valor obtido é menor; observe-se que das sete tabelas e/ou banco de dados de composição de alimentos, McCANCE e USDA não incluem em sua relação de alimentos o tipo de feijão analisado neste estudo. Especificamente com relação ao cálcio (figura 4.5a), cujo intervalo de tolerância para o valor obtido é de 28,0 a 42,0 mg/30g, pode-se observar que UNIFESP apresenta um valor próximo ao limite superior obtido, enquanto os demais apresentam dados cerca de 27% abaixo ou 69% acima, demonstrando uma elevada variação nos valores tabelados. No caso do ferro (figura 4.5b) os valores publicados por FRANCO, PHILIPPI e SOUCI encontram-se dentro do intervalo de tolerância do valor médio obtido neste estudo (1,45 a 2,17 mg/30g), enquanto ENDEF e UNIFESP estão, respectivamente, 25% e 33% acima. Podemos observar pela figura 4.5c que a variação dos valores de sódio apresentados pelos diferentes autores é grande. Nota-se que o valor obtido neste estudo foi cerca de 8 vezes menor que o valor mínimo tabelado. (a) Ca/tabela de composição/feijão (b) Fe/tabela de composição/feijão 3,00 59,1 60 42,9 35,0 40 25,8 24,9 20 nd nd nd conc. (mg/30g) conc. (mg/30g) 80 2,40 2,28 2,01 2,00 2,10 1,81 1,59 1,00 nd 0 nd EN DE FR F AN Mc CO CA PH NCE IL IP PI SO U UN CI IF ES P US D OB A TI DO US D OB A TI DO EN DE FR F AN Mc CO CA PH NC IL E IP PI SO U UN CI IF ES P 0,00 (d) Mg/tabela de composição/feijão (c) Na/tabela de composição/feijão 100,0 48,9 50,0 nd 7,2 3,6 nd 0,43 nd 20 nd 0,20 0,10 nd nd nd nd nd conc. (mg/30g) 0,24 0,21 nd nd 600 531 379 400 422 408 410 200 nd nd nd 0 US D OB A TI DO EN DE FR F AN Mc CO CA PH NCE IL IP PI SO U UN CI IF ES P US D OB A TI DO 0,00 (h) P/tabela de composição/feijão 0,45 0,50 0,33 0,40 0,30 0,30 0,20 0,10 nd nd nd nd nd 150 122 74 50 nd nd DE FR F AN Mc CO CA PH NCE IL IP PI SO U UN CI IF ES P US D OB A TI DO 1,00 0,90 0,84 0,79 0,80 0,60 0,40 0,20 nd nd nd nd nd FR DE F AN Mc CO CA PH NC IL E IP PI SO U UN CI IF ES P US D OB A TI DO 0,00 EN amostras de feijão. nd 0 (i) Zn/tabela de composiçao/feijão conc. (mg/30g) e valores obtidos neste trabalho para 122 105 100 Figura 4.5 – Comparação entre teores declarados em tabelas de composição 126 EN EN DE F FR AN Mc CO CA PH NCE IL IP PI SO U UN CI IF ES P US D OB A TI DO 0,00 conc. (mg/30g) (g) Mn/tabela de composição/feijão conc. (mg/30g) nd EN DE FR F AN Mc CO CA PH NCE IL IP PI SO U UN CI IF ES P EN D 0,30 0,30 nd 0 (f) K/tabela de composição/feijão (e) Cu/tabela de composição/feijão EN DE FR F AN Mc CO CA PH NC IL E IP PI SO U UN CI IF ES P conc. (mg/30g) 40 0,0 0,40 52 42 41 US D OB A TI DO 150,0 conc. (mg/30g) 171,0 E FR F AN Mc CO CA PH NCE IL IP PI SO U UN CI IF ES P US D OB A TI DO conc. (mg/30g) 60 200,0 No caso de magnésio e zinco (figuras 4.5d e 4.5i, respectivamente) podemos observar que, enquanto os valores tabelados para magnésio por PHILIPPI e UNIFESP são próximos ao limite inferior da faixa de tolerância do valor obtido (41,6 a 62,4 mg/30g), para o zinco os dados estão próximos do limite superior (0,63 a 0,95 mg/30g). Os demais autores não apresentam resultados para estes dois elementos. Com relação ao cobre (figura 4.5e), os valores, apresentados apenas por PHILIPPI e UNIFESP, são comparáveis ao valor obtido. Os dados apresentados para o potássio (figura 4.5f) por FRANCO, PHILIPPI e UNIFESP estão dentro do intervalo de tolerância obtido (328 a 492 mg/30g). SOUCI informa um valor 30% acima do valor obtido. As tabelas de PHILIPPI, SOUCI e UNIFESP apresentam valores muito semelhantes para o fósforo (figura 4.5h) e próximos ao limite superior obtido (84,0 a 126 mg/30g). ENDEF, por sua vez, relata um valor 30% menor que o obtido. Duas tabelas (PHILIPPI e UNIFESP) apresentam dados semelhantes para manganês, porém o resultado obtido foi aproximadamente 30% maior (figura 4.5g). 5 – CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS Baseando-se no que foi previamente exposto e discutido, pode-se concluir que: · Para a análise dos nutrientes inorgânicos, o estudo realizado evidenciou ser desnecessário o pré-tratamento (trituração ou liofilização) das amostras de arroz e de feijão “in natura”, eliminando uma possível fonte de contaminação e erro nos procedimentos analíticos. · A não necessidade de trituração ou liofilização prévia dos alimentos estudados evita o investimento em liofilizadores e trituradores especiais, pois os trituradores normalmente utilizados no laboratório não resistem ao uso contínuo para estes tipos de amostras (devido à dureza). · O método de preparação de amostra proposto (digestão com ácido clorídrico) demonstrou ser eficiente, relativamente rápido (aproximadamente dois dias para uma análise completa), simples e de baixo custo, isto é, não é necessário grandes quantidades de ácido, equipamentos sofisticados para a digestão, etc. · A validação do método proposto apresentou características de desempenho satisfatórias para os elementos analisados. · Com relação à rotulagem nutricional, tornou-se evidente que, ao lado das discrepâncias observadas quanto aos teores declarados e os efetivamente presentes nos produtos, as normas definidas pela legislação vigente não são de total domínio por parte das empresas responsáveis pela embalagem. · As tabelas de composição de alimentos, tanto nacionais como internacionais, devem ser utilizadas com restrição, pois os nutrientes minerais em arroz e feijão são muito dependentes das condições de cultivo (clima, solo, fertilizantes, etc). Além disso, como discutido na introdução do presente trabalho, os valores reportados pelos laboratórios podem ser afetados pela amostragem, preparação da amostra, etc. Deve ser ressaltado que as maiores discrepâncias entre teores de nutrientes inorgânicos deste estudo e aqueles declarados nas tabelas de composição incluem os elementos cuja declaração na rotulagem é obrigatória pela legislação vigente. Desta forma, dando prosseguimento aos trabalhos descritos neste estudo, poder-se-á: · Adaptar o método proposto de digestão em outros tipos de matriz, tais como arroz integral, soja, farinha, fubá, etc. · Contribuir, com os dados obtidos, para a elaboração de uma nova tabela de composição de alimentos junto ao Ministério da Saúde. ANEXOS ANEXO 1 – Alguns valores de RDA para nutrientes inorgânicos (TOWNSEND, 1994). Minerais Categoria Crianças Homens Mulheres Idade Ca P Mg Fe Zn I Se (anos) (mg) (mg) (mg) (mg) (mg) (mg) (mg) 0,0-0,5 400 300 40 6 5 40 10 0,5-1,0 600 500 60 10 5 50 15 1-3 800 800 80 10 10 70 20 4-6 800 800 120 10 10 90 20 7-10 800 800 170 10 10 120 30 11-14 1200 1200 270 12 15 150 40 15-18 1200 1200 400 12 15 150 50 19-24 1200 1200 350 10 15 150 70 25-50 800 800 350 10 15 150 70 >51 800 800 350 10 15 150 70 11-14 1200 1200 280 15 12 150 45 15-18 1200 1200 300 15 12 150 50 19-24 1200 1200 280 15 12 150 55 25-50 800 800 280 15 12 150 55 >51 800 800 280 10 12 150 55 1200 1200 320 30 15 175 65 1200 1200 355 15 19 200 75 7o – 12o mês 1200 1200 340 15 16 200 75 Gestantes Lactantes 1o – 6o mês ANEXO 2 – Valores de IDR para nutrientes inorgânicos (BRASIL, 1998b). Categoria Adultos Lactentes Minerais Crianças Gestantes Lactantes 0-0,5 0,5-1,0 1-3 4-6 7-10 1o – 6o 7o – 12o anos anos anos anos anos mês mês Ca (mg) 800 400 600 800 800 800 1200 1200 1200 P (mg) 800 300 500 800 800 800 1200 1200 1200 Mg (mg) 300 40 60 80 120 170 300 355 340 Fe (mg) 14 6 10 10 10 10 30 15 15 F (mg) 4 0,1-0,5 1,5-4,0 1,5-4,0 1,5-4,0 Zn (mg) 15 5 10 15 19 16 Cu (mg) 3 0,4-0,6 1-2 1,5-3,0 1,5-3,0 1,5-3,0 I (mg) 150 40 50 70 90 120 175 200 200 Se (mg) 70 10 15 20 20 30 65 75 75 Mo (mg) 250 15-30 20-40 25-50 30-75 50-150 75-250 75-250 75-250 Cr (mg) 200 10-40 20-60 20-80 30-120 50-200 50-200 50-200 50-200 Mn (mg) 5 0,3-0,6 0,6-1,0 1,0-1,5 1,5-2,0 2-5 2-5 2-5 0,2-1,0 0,5-1,5 1,0-2,5 1,5-2,5 5 10 10 0,6-0,7 0,7-1,0 1,0-1,5 2-3 ANEXO 3 – Tabela das concentrações obtidas dos elementos analisados por ICP OES na amostra de arroz liofilizado e em grãos, pelo método de via seca. Concentrações (mg/kg) Amostra Ca Cr Cu Fe K Mg Mn Na P Zn 1 46,6 0,11 5,96 7,27 113 357 9,16 226 757 10,3 1 46,9 0,15 5,13 6,93 100 395 9,68 262 804 10,5 1 43,5 0,08 4,30 8,09 65,6 349 8,65 192 708 10,0 1 46,7 0,08 5,50 8,19 92,1 365 8,96 254 752 9,74 1 33,7 0,06 4,69 6,18 47,4 233 5,61 161 471 6,62 1 62,0 0,07 5,36 7,84 175 394 9,97 256 825 14,2 1 45,0 0,08 4,69 7,24 162 332 8,65 218 741 9,46 1 45,9 0,08 3,46 8,60 208 325 8,05 286 658 8,32 1 50,9 0,07 4,21 6,39 73,0 324 8,32 262 699 10,5 2 40,9 0,06 5,17 4,88 129 335 8,33 246 731 10,9 2 36,7 0,06 5,27 6,46 132 333 7,39 198 676 8,87 2 42,5 0,09 3,12 5,09 166 347 8,80 239 745 10,5 2 44,6 0,08 4,45 6,21 209 349 8,73 265 776 9,60 2 43,5 0,09 5,39 5,21 142 379 9,16 248 788 9,60 2 49,2 0,11 5,74 4,92 169 395 10,3 303 858 12,9 2 39,4 0,07 5,10 4,73 102 309 7,14 207 659 8,29 2 41,0 0,09 6,45 5,66 96,7 324 7,84 248 699 9,04 2 42,3 0,09 5,84 4,89 106 364 8,66 258 756 9,14 2 40,3 0,09 4,80 7,42 156 346 8,77 237 752 9,91 média 44,3 0,09 4,98 6,43 129 345 8,54 240 729 9,91 mediana 43,5 0,08 5,13 6,39 129 347 8,66 248 745 9,74 desvio 6,0 0,02 0,83 1,27 46 37 1,06 34 82 1,63 mínimo 33,7 0,06 3,12 4,73 47,4 233 5,61 161 471 6,62 máximo 62,0 0,15 6,45 8,60 209 395 10,3 303 858 14,2 Amostra 1: arroz liofilizado Amostra 2: arroz em grãos ANEXO 4 – Tabela das concentrações dos elementos analisados por ICP OES na amostra de feijão triturado e em grãos pelo método de via seca. Concentração(mg/kg) Amostra Ca Cr Cu Fe K Mg Mn Na P Zn 1 1187 0,170 8,78 59,2 13169 2000 12,8 165 3542 26,5 1 1158 0,168 8,43 55,9 12822 1930 12,3 132 3411 24,5 1 1188 0,160 8,63 60,1 12732 1969 12,9 303 3482 24,6 1 1156 0,146 8,65 60,4 13459 2006 13,1 165 3583 25,6 1 1128 0,148 8,15 56,7 13640 2037 12,4 86,6 3632 26,3 1 1241 0,160 8,66 68,7 13533 2087 13,1 151 3681 26,2 1 1074 0,223 8,51 57,2 12015 1827 12,5 137 3312 25,8 1 1124 0,154 8,54 57,0 12547 1914 12,3 156 3446 25,4 1 1084 0,185 8,86 58,3 12047 1827 12,9 258 3349 25,3 1 1048 0,154 8,67 58,0 12252 1876 12,7 356 3362 25,1 2 944,6 0,102 8,37 53,6 11575 1816 10,6 322 3137 22,4 2 1041 0,123 9,27 70,4 11458 2164 12,6 288 3280 24,0 2 1006 0,099 8,54 60,5 12254 1853 12,1 255 3357 24,5 2 1054 0,127 8,75 61,2 13116 2072 13,7 224 3097 23,8 2 1014 0,113 8,96 55,1 11163 1780 11,1 551 3298 24,3 2 1052 0,109 8,11 59,0 11437 1855 12,3 424 3483 22,3 2 1099 0,130 8,44 54,7 10898 1665 11,9 493 3092 26,8 2 1087 0,154 8,43 59,0 11764 1808 11,9 433 3496 25,4 2 935,5 0,135 7,74 52,4 11171 1706 12,2 252 3176 23,3 2 975,3 0,131 8,25 49,3 10537 1821 11,8 641 2991 22,3 média 1080 0,144 8,54 58,3 12179 1900 12,4 290 3360 24,7 mediana 1079 0,147 8,54 58,2 12149 1865 12,3 256 3359 24,8 desvio 83 0,030 0,33 4,9 928 131 0,7 153 191 1,4 mínimo 935,5 0,099 7,74 49,3 10537 1665 10,6 86,6 2991 22,3 máximo 1241 0,223 9,27 70,4 13640 2164 13,7 641 3681 26,8 Amostra 1: Feijão triturado Amostra 2: Feijão em grãos ANEXO 5 – Tabela das concentrações dos elementos analisados por ICP OES para o NIES (material de referência certificado - arroz) pelo método de via seca. Concentração (mg/kg) Réplica Ca Cu Fe K Mg Mn Na P Zn 1 94,4 4,8 12,5 983 1425 34,0 961 3339 23,9 2 89,4 4,7 12,5 884 1341 33,0 915 3313 23,5 3 92,3 3,5 13,3 985 1329 34,5 884 3465 22,8 4 93,0 4,1 12,5 924 1237 33,5 1030 3340 25,0 5 93,0 3,7 12,9 830 1321 33,7 1093 3316 24,6 6 92,6 3,2 13,0 976 1329 34,1 888 3396 24,0 7 92,8 4,1 12,1 846 1336 34,1 921 3359 24,9 média 92,5 4,0 12,7 918 1331 33,8 956 3361 24,1 mediana 92,8 4,1 12,5 924 1329 34,0 921 3340 24,0 desvio 1,5 0,6 0,4 66 55 0,5 79 54 0,8 ANEXO 6 – Tabela das concentrações dos elementos analisados por ICP OES para o NIES (material de referência certificado - arroz) pelo método de via úmida. Concentração (mg/kg) Réplica Ca Cu Fe K Mg Mn Na P Zn 1 89,9 3,4 10,7 2422 1229 31,8 9,9 3033 23,6 2 89,5 3,2 10,7 2545 1221 32,1 10,6 3298 24,9 3 90,4 3,3 10,9 2699 1218 32,0 11,2 3387 23,8 4 92,5 3,5 12,5 2770 1308 34,2 10,6 3365 25,0 5 92,0 3,4 12,0 2754 1319 34,7 11,5 3259 24,9 6 92,7 3,4 12,7 2791 1330 34,0 10,6 3300 25,0 7 92,8 3,5 12,9 2663 1308 34,4 9,1 3389 24,3 média 91,4 3,4 11,8 2663 1276 33,3 10,5 3290 24,5 mediana 92,0 3,4 12,0 2699 1308 34,0 10,6 3300 24,9 desvio 1,4 0,1 1,0 135 51 1,3 0,8 124 0,6 ANEXO 7 – Tabela das concentrações dos elementos analisados por ICP OES para amostra de arroz (liofilizada) pelo método de via seca. Concentração (mg/kg) Réplica Ca Cr Cu Fe K Mg Mn Na P Zn 1 46,6 0,087 5,13 8,76 129 357 9,16 226 758 10,3 2 45,0 0,094 3,04 8,54 132 349 9,68 262 804 10,5 3 47,0 0,079 4,69 8,57 166 330 8,65 254 708 10,1 4 46,7 0,091 3,46 7,98 142 332 8,96 256 752 9,7 5 50,0 0,085 4,21 8,64 106 325 9,97 218 825 9,5 6 45,9 0,088 5,04 8,52 156 324 8,65 286 741 10,5 7 51,0 0,086 5,02 8,73 169 335 8,32 262 699 9,0 Média 47,5 0,087 4,37 8,53 143 336 9,06 252 755 9,9 Desvio 2,2 0,005 0,83 0,26 22 12 0,59 23 46 0,6 ANEXO 8 – Tabela das concentrações dos elementos analisados por ICP OES para amostra de arroz (liofilizada) pelo método de via úmida. Concentração (mg/kg) Réplica Ca Cr Cu Fe K Mg Mn Na P Zn 1 50,2 0,100 1,92 3,54 676 305 11,5 22,1 1053 11,7 2 47,3 0,090 1,92 3,62 648 287 10,9 26,7 1026 11,3 3 50,7 0,070 1,92 3,65 691 303 11,6 20,2 1094 12,1 4 50,6 0,050 1,87 3,96 700 304 11,6 18,5 1091 11,6 5 53,7 0,070 1,97 3,88 730 313 11,9 17,6 1144 12,2 6 48,5 0,060 1,80 3,41 658 288 10,6 19,5 1027 11,2 7 50,2 0,050 1,89 3,54 690 300 10,4 20,3 1028 11,5 Média 50,2 0,070 1,90 3,66 685 300 11,2 20,7 1066 11,7 Desvio 2,0 0,019 0,05 0,20 27 9 0,6 3,0 45 0,4 ANEXO 9 – Tabela das concentrações dos elementos analisados por ICP OES para amostra de feijão (triturado) pelo método de via úmida. Concentração (mg/kg) Réplica Ca Cr Cu Fe K Mg Mn Na P Zn 1 952 0,18 7,15 49,1 10125 1610 10,3 32,4 2996 21,1 2 1027 0,15 7,33 51,8 10929 1680 11,4 25,3 3037 23,0 3 959 0,17 6,99 49,1 10490 1620 11,1 15,5 3150 21,9 4 965 0,14 6,95 48,7 10309 1571 10,9 18,2 3010 21,1 5 1048 0,15 7,14 50,8 10819 1688 11,4 17,7 3021 23,7 6 811 0,17 7,29 48,4 10863 1650 11,0 19,4 2970 22,4 7 946 0,17 7,17 50,5 11000 1659 11,3 24,4 2990 22,8 Média 958 0,16 7,15 49,8 10648 1640 11,1 21,9 3025 22,3 Desvio 70 0,01 0,13 1,2 314 39 0,4 5,4 55 0,9 ANEXO 10 – Tabela das concentrações dos elementos analisados por ICP OES para amostra de feijão (triturado) pelo método de via seca. Concentração (mg/kg) Réplica Ca Cr Cu Fe K Mg Mn Na P Zn 1 945 0,17 8,37 53,6 11575 1669 11,7 322 2950 22,4 2 1041 0,17 8,54 61,2 11458 1713 11,8 288 3139 24,5 3 1006 0,22 8,11 55,1 11104 1732 11,7 255 3154 22,3 4 936 0,15 8,44 59,0 11057 1678 11,9 224 2978 26,8 5 1014 0,16 8,43 54,7 11163 1693 11,6 551 3124 25,4 6 1087 0,15 7,74 59,0 10898 1726 12,2 424 3157 23,3 7 975 0,19 8,25 52,4 10537 1711 12,2 252 3131 22,3 Média 1001 0,17 8,27 56,4 11113 1703 11,9 331 3090 23,9 Desvio 50 0,02 0,25 3,0 320 22 0,2 109 81 1,6 ANEXO 11.1 – Espectro de emissão de cálcio em amostra de arroz, obtido por ICP OES. Via seca Via úmida ANEXO 11.2 – Espectro de emissão de cálcio em amostra de feijão, obtido por ICP OES. Via seca Via úmida