1 PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS FUNDAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO - FUNDAP JOSIE CRISTINA TRISTÃO NEUROPATIA PERIFÉRICA INDUZIDA POR VINCRISTINA: FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, DIAGNÓSTICO E REABILITAÇÃO Monografia apresentada ao Programa de Aprimoramento Profissional/CRH/SES-SP e FUNDAP, elaborada no Centro Infantil Dr. Domingos Boldrini – Fisioterapia Área: Fisioterapia Motora OncoHematológica Pediátrica CAMPINAS 2009 2 PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS FUNDAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO - FUNDAP JOSIE CRISTINA TRISTÃO NEUROPATIA PERIFÉRICA INDUZIDA POR VINCRISTINA: FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, DIAGNÓSTICO E REABILITAÇÃO Monografia apresentada ao Programa de Aprimoramento Profissional/CRH/SES-SP e FUNDAP, elaborada no Centro Infantil Dr. Domingos Boldrini – Fisioterapia Área: Fisioterapia Motora OncoHematológica Pediátrica Orientadoras Temática: Bianca Pratelezzi Deneno Fernanda C. Barillari Vidal de Souza Orientadora Metodológica: Regina Maria Holanda de Mendonça CAMPINAS 2009 3 Dedico este trabalho aos meus pais João Batista e Elisabete Tristão, que com grande esforço possibilitaram que mais uma etapa em minha vida fosse cumprida e pela confiança e dedicação concedida a mim. Ao meu irmão Ivan D. Tristão que sempre acreditou em minha dedicação. Ao meu namorado, Rafael J. P. Rovêa, que permaneceu ao meu lado durante todo o tempo, me incentivando e animando. 4 AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus, uma vez que nada foge ao seu controle e nem um fio de cabelo cai de nossas cabeças sem que seja de Sua vontade. Às fisioterapeutas Ms. Bianca Pratelezzi Deneno e Fernanda C. B. Vidal de Souza, pela orientação ao longo do desenvolvimento desse trabalho dividindo conhecimento e experiências, além da dedicação constante, incentivo e afeto durante todo o programa de Aprimoramento. À Dra. Regina Maria Holanda de Mendonça, pela orientação e dedicação concedida. À fisioterapeuta Letícia V. Soares por sua amizade e carinho, e por compartilhar seu conhecimento. À fisioterapeuta Ms. Fabiana E. Torresan de Faria pelo companheirismo e colaboração. À Vera Silva S. Fróes Ficoni, Priscila S. Krebs e Roberta J. Santos que me auxiliaram na obtenção das bibliografias, sem vocês nada poderia ser feito. Agradeço a todos os pacientes do Centro Infantil Boldrini, que diferente do que se imagina, apresentam um brilho no olhar e a alegria de viver cada dia. Meu muito obrigada, pelo aprendizado proporcionado. 5 “Mas os que esperam no Senhor renovarão suas forças, subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão” Isaías 40. 31 6 SUMÁRIO LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 6 LISTA DE FIGURAS E QUADRO 8 RESUMO 10 1. Introdução 11 2. Desenvolvimento 15 2.1 Quimioterápicos e ciclo celular 16 2.2 Mecanismo de ação da VCR e neurotoxicidade 20 2.3 Sinais e sintomas da neuropatia periférica induzida por VCR 24 2.4 Diagnóstico da NPIQ 30 2.5 Diagnóstico diferencial 34 2.6 Tratamento fisioterapêutico da neuropatia periférica 35 2.7 Programa fisioterapêutica da NIPQ do Centro Infantil Dr. Domingos Boldrini 46 2.7.1 Avaliação 46 2.7.2 Tratamento fisioterapêutico 59 3. Conclusão 74 4. Referência Bibliográfica 76 6 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Aβ – A Beta Aδ – A delta ADM – Amplitude de movimento AFO – Ankle-foot orthosis AIDS - Síndrome de Imunodeficiência Adquirida AVDs- Atividades de vida diária α-ptocoferal – Alfa-ptocoferal cm – Centímetros °C – Graus Celsius CV6 – Qihai FES – Estimulação elétrica funcional HF – Alta freqüência HIV – Vírus de imunodeficiência humana Hz – Hertz J/cm-2 . min-1 – Joules por centímetros quadrados negativos multiplicados por minutos elevados a um negativo LI11 – Quchi LLA – Leucemia Linfóide Aguda LNH-B – Linfoma não Hodgkin de células B mA – miliampere mg – Miligramas mW – miliwatts 7 nm – nanômetros NIPQ – Neuropatia periférica induzida pela quimioterapia OTG – Órgão tendinoso de Golgi PNF – Facilitação neuromuscular proprioceptiva SNC – Sistema nervoso central ST36 – Zusanli TENS – Estimulação elétrica nervosa transcutânea TMM – Tumor Maligno Mesenquimal TW – Tumor de Wilms V – Volts VAS – Escala análoga visual VCR – Vincristina WHO – World Health Organization VO2 max – Consumo máximo de oxigênio 8 LISTA DE FIGURAS E QUADRO FIGURA 1 – Ciclo celular 17 FIGURA 2 – Prófase 18 FIGURA 3 – Prometáfase 18 FIGURA 4 – Metáfase 19 FIGURA 5 – Alcalóides da Vinca no ciclo celular 20 FIGURA 6 – Microtúbulos 21 FIGURA 7 – Estrutura do neurônio 22 FIGURA 8 – Sinapse 22 FIGURA 9 – Apresentação em meia e luva da NIPQ 25 FIGURA 10 – Pontos CV6 e ST36 45 FIGURA 11 – Ponto LI11 45 FIGURA 12 – Escala Visual Numérica de Dor 48 FIGURA 13 – Reflexo Patelar 51 FIGURA 14 – Fases da Marcha 54 FIGURA 15 – Componentes da marcha nos planos sagital, frontal e transversal 57 FIGURA 16 – Marcha eqüina – fase de balanço terminal 59 FIGURA 17 – Marcha eqüina – fase de apoio inicial 59 FIGURA 18 – Alongamento de isquiotibiais com inibição ativa (sustentar-relaxar) 64 FIGURA 19 – PNF de membro superior 65 FIGURA 20 – PNF de membro inferior 65 FIGURA 21 – Prancha de equilíbrio 67 FIGURA 22 – Disco de equilíbrio 67 9 FIGURA 23 – Balança de equilíbrio 67 FIGURA 24 – Mini-cama elástica 67 FIGURA 25 – AFO 72 FIGURA 26 – Órtese para membros superiores 72 QUADRO 1 – Graduação manual de força muscular 50 10 RESUMO As neoplasias malignas mais freqüentes na infância são leucemias, tumores de sistema nervoso central e linfomas, sendo que cerca de 87% das crianças sobrevivem a elas. Existem três principais abordagens para seu tratamento: cirurgia, irradiação e quimioterapia. A quimioterapia é uma terapia antineoplásica sistêmica que atua sobre as células normais e tumorais, dentre ela, os alcalóides da vinca, em especial a vincristina (VCR), se destacam pelo seu potencial efeito neurotóxico Há evidências de que seu uso cumulativo causa neuropatia periférica induzida pela quimioterapia (NPIQ), sendo caracterizada por alterações neuromusculares nas extremidades superiores e inferiores tais como, perda sensorial, diminuição da força muscular e dos reflexos profundos, parestesia e dor. Essas alterações comprometem a função motora e a realização das atividades de vida diária. Sendo assim, torna-se importante a atuação fisioterapêutica buscando a restauração rápida e efetiva do desempenho motor e sensitivo desses pacientes. Podem ser usados os recursos eletro e cinesioterapêuticos descritos e usados nas afecções motoras e sensoriais, porém pouco descritos nas NPIQ por VCR. O presente estudo tem como objetivos revisar a literatura quanto à neuropatia periférica por VCR e quanto a sua reabilitação, e apresentar o programa fisioterapêutico realizado no Centro Infantil Dr. Domingos Boldrini com pacientes com neuropatia periférica por VCR. Por meio desse levantamento da literatura, verificou-se a existência da descrição clara do diagnóstico, sinais e sintomas da NPIQ, entretanto, em relação à reabilitação, houve apenas um estudo em adultos, ficando clara a necessidade de mais pesquisas voltadas à reabilitação do paciente acometido pela NPIQ. Palavras-chave: neuropatia periférica, quimioterapia, vincristina, reabilitação, fisioterapia 11 1. Introdução 12 As neoplasias malignas mais freqüentes na infância são as leucemias, os tumores de sistema nervoso central e os linfomas, sendo que cerca de 87% das crianças em idade escolar sobrevivem as neoplasias malignas (INCA, 2008; PAHO, 2008). Existem três principais abordagens para o tratamento das neoplasias malignas que são: a excisão cirúrgica, a irradiação e a quimioterapia, sendo a escolha da melhor abordagem dependente do tipo do tumor, de seu estágio e de seu desenvolvimento (Rang et al., 2001). A radioterapia usada no combate tumoral pode ser classificada de acordo com o seu objetivo em: curativa, remissiva, profilática, paliativa e ablativa (INCA, 1999). Utiliza-se radiação ionizante de alta energia podendo ser ondas eletromagnéticas de raio-X e raios-gama, ou partículas subatômicas. De acordo com tipo de energia e sua natureza física, ocorre a penetração em diferentes profundidades do tecido, produzindo dano direto ou indireto ao DNA (Illidge & Hamilton, 1999; Salvajoli & Santos, 2002). O dano ao DNA interfere na divisão da célula, porém esse processo não é seletivo, afetando células tumorais e normais. O sucesso da radioterapia depende da resposta celular que está ligada a radiossensibilidade da mesma, sendo que esta é dependente do ciclo celular, oxigenação, capacidade do reparo do DNA e do tempo de duplicação celular (Salvajoli & Santos, 2002; Rosal et al., 2002). Outra modalidade utilizada, a quimioterapia, é uma terapia antineoplásica sistêmica, já que atua sobre as células normais e tumorais, sendo que nestas últimas, possui maior agressividade devido a sua maior capacidade proliferativa. Consiste na utilização de compostos químicos que atuam nas diversas fases do ciclo celular alterando sua função e proliferação. Geralmente são utilizados vários compostos químicos (poliquimioterapia) para maior efetividade do tratamento. Pode ser classificada de acordo com sua finalidade em curativa, adjuvante, neoadajuvante e paliativa (INCA, 1999; Anelli, 2002). 13 A quimioterapia irá atuar também sobre as células da medula óssea, fâneros e mucosa do tubo digestivo, por isso, é necessário que sua aplicação seja em fase ou periódica, para reparação das mesmas. Esta terapêutica possui vários efeitos tóxicos dependentes do tempo de exposição ao quimioterápico e da concentração plasmática dos mesmos, além do tecido e da droga utilizada (INCA, 1999). Os principais agentes antineoplásicos utilizados atualmente são divididos em categorias como: agentes alquilantes e compostos correlatos, que formam ligações covalentes com o DNA impedindo sua replicação; antimetabólitos, que bloqueiam ou subvertem uma ou mais vias metabólicas envolvidas na síntese do DNA; antibióticos citotóxicos, que impedem a divisão das células nos mamíferos e os derivados vegetais (alcalóides da vinca, taxanos e campotecinas) que afetam especificamente a formação dos microtubulos impedindo a formação do fuso mitótico (Rang et al., 2001). Dentre os agentes antineoplásicos, os alcalóides da vinca, em especial a vincristina, se destacam pelo seu potencial efeito de neurotoxicidade. Os principais alcalóides da vinca são a vincristina, a vimblastina e a vindesina. Esses se ligam à tubulina inibindo sua polimerização em microtúbulos, conseqüentemente impedindo a formação do fuso nas células em mitose resultando em interrupção da metáfase. Também inibem outras atividades celulares que envolvem os microtúbulos, como a fagocitose e quimiotaxia dos leucócitos e o transporte axonal nos neurônios (Rang et al., 2001). Em conseqüência do comprometimento do transporte axonal nos neurônios há evidências de que o uso cumulativo de quimioterápicos como compostos da platina, taxano, talidomide, bortezomibe e alcalóides da vinca com maior destaque à vincristina, causam neuropatia periférica induzida pela quimioterapia (NPIQ) (Visovsky et al., 2007). 14 A vincristina está presente nos protocolos quimioterápicos de neoplasias malignas da infância como tumor de Wilms, Linfoma não-Hodgkin, Tumor Maligno Mesenquimal, Leucemia Linfocítica Aguda, Linfoma de Hodgkin, Rabdomiossarcoma, Neuroblastoma e Sarcoma de Ewing (Oliveira, 2005; Hartman et al., 2006). A NPIQ caracteriza-se, de forma sucinta, por alterações neuromusculares nas extremidades superiores e inferiores tais como, perda sensorial, diminuição da força muscular, parestesia, diminuição dos reflexos profundos e dor (Hausheer, 2008). Essas alterações podem ser mais leves ou mais intensas de acordo com a dose e a intensidade do quimioterápico administrado, sendo descrita a incidência de 3-7% de NPIQ grave no tratamento com um agente quimioterápico e 38% no tratamento com vários agentes (Cavaletti & Zanna, 2002; Ocean & Vahdat, 2004). Essas alterações comprometem a função motora e em conseqüência a realização das atividades de vida diária desses pacientes. Sendo assim, torna-se importante à atuação fisioterapêutica perante essas alterações buscando a restauração mais rápida e efetiva do desempenho motor e sensitivo desses pacientes. Podem ser usados os recursos eletro e cinesioterapêuticos usados nas afecções motoras e sensoriais, porém pouco descritos nas neuropatias periféricas induzidas pela quimioterapia em especial pela vincristina. Dessa forma, o presente estudo teve como objetivos revisar a literatura quanto à neuropatia periférica causada pelo uso da vincristina e quanto a sua reabilitação, além de apresentar o programa fisioterapêutico realizado no Centro Infantil Dr. Domingos Boldrini com pacientes com neuropatia periférica por vincristina. 15 2. Desenvolvimento 16 Foi realizada revisão da literatura disponível nas bases de dados MEDLINE, LILACS, SCIELO e Biblioteca Cochrane até dezembro de 2008, em livros e sites especializados sobre o tema. As palavras-chave utilizadas em língua portuguesa para o levantamento foram neuropatia periférica, quimioterapia, vincristina, reabilitação e fisioterapia. Em língua inglesa foram utilizadas: peripheral neuropathy, chemotherapy, vincristine, rehabilitation e physical therapy. Foram selecionadas 60 referências bibliográficas. 2.1 Quimioterápicos e ciclo celular Os quimioterápicos, conforme relatado anteriormente, atuam sobre as diversas fases do ciclo celular podendo assim, ser classificados de acordo com sua ação sobre o ciclo em agentes fase-específicos, ciclo-específicos e não ciclo-específicos. Os agentes fase-específicos atuam sobre uma fase específica do ciclo celular. Os chamados ciclo-específicos agem sobre todas as fases do ciclo celular não atuando sobre as células fora do ciclo. E por fim, os agentes não ciclo-específicos atuam sobre as células que estejam ou não no ciclo celular (Rang et al., 2001). O ciclo celular (Figura 1) é dividido tradicionalmente em interfase e mitose, sendo a interfase dividida em fase G1, fase S e fase G2. A fase G1 compreende o período que antecede fase S, nessa fase, a célula se prepara para a multiplicação por meio da produção de constituintes celulares que serão essenciais para gerar uma nova célula e se prepara também para a síntese de DNA. A fase S (síntese de DNA) é a fase de replicação do DNA, e a fase G2 é caracterizada pela síntese de componentes para a fase de mitose, a fase M (Perdigão & Tavares; Almeida et al., 2005). 17 Figura 1- Ciclo celular. Fonte: http://formacao.es-loule.edu.pt/biogeo/biogeo11/bio/unid05/imagens/ciclo_celular_mitose.jpg. A fase de mitose compreende quatro fases sucessivas, sendo elas a prófase, metáfase, anáfase e telófase, sendo descrito como período de transição entre a prófase e a metáfase a prometáfase. Na prófase (Figura 2) ocorre o início da condensação dos cromossomos, duplicação dos centríolos e formação do fuso, rompimento da carioteca e desaparecimento do nucléolo. Na prometáfase (Figura 3) a carioteca se desintegra e os cromossomos ficam em aparente desordem. Na metáfase (Figura 4) os cromossomos se encontram num grau máximo de condensação, porém nessa fase alguns agentes, como, os alcalóides da vinca podem inibir o fuso mitótico ligando-se às proteínas microtubulares interrompendo a divisão celular. Na anáfase ocorre o encurtamento das fibras dos fusos e na telófase ocorre a descondensação dos cromossomos, reorganização da carioteca e do nucléolo a divisão do citoplasma chamada de citocinese, sendo assim o ciclo celular é finalizado (Almeida et al., 2005; Robertis & Hib, 2006). 18 Figura 2: Prófase. Fonte: http://www.coladaweb.com/biologia/image002.jpg. Figura 3: Prometáfase. Fonte: http://www.coladaweb.com/biologia/image002.jpg. 19 Figura 4: Metáfase. Fonte: http://www.coladaweb.com/biologia/image002.jpg. Sabendo-se que as células tumorais encontram-se em alta divisão, fica explícita a importância da poliquimioterapia, por meio da associação de quimioterápicos que atuem nas diversas fases do ciclo celular e fora dele, para que seja possível melhor controle do crescimento tumoral. Dessa forma, a vincristina (VCR), um alcalóide da vinca classificada quanto a sua atuação no ciclo celular como um quimioterápico fase-específico que age especificamente na mitose, pontualmente na metáfase, é uma droga importante que em associação com outras drogas atua no controle tumoral. É naturalmente um alcalóide e está presente em pequenas quantidades na planta Catharanthus roseus da família Apocynaceae originária de Madagascar (Svoboda et al., 1962). A VCR é utilizada em vários protocolos quimioterápicos tanto para adultos como na infância, porém é usada com maior freqüência e efetividade no câncer infantil, talvez pela maior sensibilidade dos tumores pediátricos a este quimioterápico e à melhor tolerância a altas doses nessa faixa etária (Johnson et al., 1963). Integra junto a outras drogas, protocolos quimioterápicos para diversas neoplasias como: Tumor de Wilms, Linfoma não-Hodgkin, Tumor Maligno Mesenquimal, Leucemia Linfocítica Aguda, Linfoma de Hodgkin, Rabdomiossarcoma, 20 Neuroblastoma, Sarcoma de Ewing, Retinoblastoma e Tumores de Sistema Nervoso Central (SNC) (Gidding et al., 1999; Oliveira, 2005 ; Hartman et al., 2006). 2.2 Mecanismo de ação da VCR e neurotoxicidade O efeito antitumoral da VCR (Figuras 5 e 6) é exercido por meio de sua ligação específica com a tubulina bloqueando sua capacidade de polimerização em microtúbulos, inibindo, portanto a formação de microtúbulos no fuso mitótico e resultando em interrupção da divisão celular na metáfase. Com a falta do fuso mitótico, os cromossomos podem se aglomerar em grupos ou ainda se dispersar pelo citoplasma, uma vez que os microtúbulos controlam a posição dos cromossomos e sua repartição entre as células filhas, gerando uma incapacidade de segregação adequada dos cromossomos durante a mitose, levando a morte celular (Casey et al., 1973; Oliveira, 2005; Roberts & Hib, 2006). Figura 5 - Alcalóides da Vinca no ciclo celular. Fonte: http://www.ff.up.pt/toxicologia/monografias/ano0506/alcvinca/alcvinca_fic heiro/image053.jpg . 21 Figura 6 – Microtúbulos. Fonte: http://www.ff.up.pt/toxicologia/monografias/ano0506/alcvinca/alcvinca_ficheiro s/image055.jpg. Sabe-se ainda, que os microtúbulos, além de atuarem na formação dos fusos mitóticos, apresentam outras funções celulares, tais como, movimento e quimiotaxia dos leucócitos, fagocitose e transporte axônico (Rang et al., 2001). Tais funções podem ser prejudicadas pelo uso da VCR, resultando num efeito colateral também conhecido de neurotoxicidade à droga. A VCR geralmente é eleita juntamente a outras drogas no tratamento de diversas neoplasias não somente pela sua ação no controle do crescimento tumoral, mas pela sua baixa ação mielossupressora, entretanto, diversos estudos relatam a neurotoxicidade como efeito colateral freqüente. 22 A neurotoxicidade causada pela VCR é descrita como dose-dependente, ou dependente de dose cumulativa. Rosenthal e Kaufman (1974) descrevem que a neurotoxicidade por VCR ocorre devido à agregação de microtúbulos a estrutura do axônio (Figuras 7 e 8) resultando em degeneração e atrofia das fibras nervosas periféricas, afetando as fibras de pequeno e grande calibre, causando geralmente um dano mais expressivo as fibras de pequeno calibre. Figura 7- Estrutura do neurônio. Fonte: http://www.Incc.br/~labinfo/tutorialRN/imagens/esque maNeuronio.gif. Figura 8 – Sinapse. Fonte: http://www.ced.ufsc.br/men5185/trabalhos/05_eletrofisiol ogia/imagem/nervos51jpg. 23 Peltier & Russel (2002) relatam que a neuropatia periférica resulta da redução do transporte axonal de fatores neurotróficos que culmina em degeneração axonal. Tanner et al. (1998), também descrevem que a VCR, em contado com o sistema nervoso periférico, leva a alterações na estrutura da célula microtubular causando rápido edema e lenta condução axônica, o que pode contribuir com neuropatia periférica. Ainda sobre a fisiopatologia da neurotoxicidade, vários autores compartilham da mesma opinião sobre o mecanismo de degeneração do sistema nervoso periférico. Tem sido relatado que, nos nervos afetados, o número de microtúbulos é diminuído levando a comprometimento do transporte axonal, uma vez que os microtúbulos funcionam como trilhos para o transporte das vesículas que provêem os elementos estruturais necessários para a manutenção do axônio. A VCR causa uma ruptura desses trilhos de transporte das vesículas, resultando em degeneração neuronal. Essa degeneração pode ser descrita como Walleriana e do tipo morte-posterior, ou seja, degeneração que se inicia distalmente progredindo para proximal ao corpo celular. A desmielinização é considerada secundária a degeneração axonal, todavia, mais recentemente tem sido descrito dano as células de Schwann e a mielina com dano axonal sugerindo que a desmielinização seja o primeiro evento (Chan et al., 1980; Djaldetti et al., 1996). Mais recentemente, Silva et al. (2006) em estudo com neurônios bipolares de ratos submetidos a exposição à VCR, verificaram que essa possui um efeito danoso ao axônio, especificamente à sua parte distal. Quando a VCR foi aplicada distalmente ao axônio, provocou seu encurtamento, porém não houve comprometimento do crescimento do axônio contralateral. Em contraste, quando a VCR foi aplicada diretamente sobre o corpo celular não houve alteração do crescimento axonal, sendo verificado, portanto, que o efeito tóxico da VCR é limitado ao local de exposição no axônio, não atingindo a parte proximal ou o corpo celular, o que pode levantar a 24 hipótese que a toxicidade não é transmitida até a região proximal do corpo celular como sugerido por Chan et al. (1980). Em estudo realizado por Ja’afer et al. (2006) com ratos que foram submetidos a administração de VCR por um período de cinco semanas consecutivas, foi verificado histologicamente que o nervo ciático dos ratos, no final da primeira semana de administração de VCR, apresentava sinais de degeneração axonal com axônios encurtados, algumas fibras nervosas com perda parcial do axônio e ainda evidências de vacuolização da mielina. No final da quinta semana de administração da VCR foi verificado número aumentado de fibras nervosas degeneradas com encurtamento de axônios, sendo associado às características de desmielinização. A perda da mielina foi visualizada nas fibras nervosas em que houve degeneração axonal severa. As alterações foram encontradas tanto em fibras nervosas de pequeno como de grande diâmetro, entretanto, não foi verificada perda total do axônio. Após quatorze semanas de interrupção da administração da VCR, foi verificado menor número de fibras nervosas com axônios e/ou mielina danificados. Esse fato suporta as evidências clínicas de recuperação motora, sensitiva e funcional dos pacientes após um período do término do tratamento ao qual foram submetidos ao uso da VCR, segundo observado na prática clínica, porém sem comprovação científica por meio de pesquisa. 2.3 Sinais e sintomas da neuropatia periférica induzida por VCR As neuropatias periféricas induzidas pela quimioterapia (NPIQ) levam a comprometimentos que variam de parestesia distal moderada a sintomas severos o suficiente para 25 restringir a marcha do paciente, podendo resultar em restrição ao leito. Geralmente a NPIQ apresenta uma distribuição em meia e luva (Figura 9), com as extremidades do corpo sendo acometidas primeiramente com progressão no sentido proximal ao tronco. Todos os agentes quimioterápicos que causam neuropatia periférica podem levar à perda dos reflexos tendinosos profundos (Armstrong et al., 2005). Figura 9: Apresentação em meia e luva da NPIQ. Fonte: http://uabgtip.uab.es/jcoll/clases/neuropaties/polineuropaties 1_archiveos/slide001_image040.jpg. O quadro clínico da NPIQ inclui sintomas sensoriais, tais como: parestesia, hiperestesia, hipoestesia, disistesia, dor, entorpecimento e paresia, hiporreflexia ou arreflexia, diminuição ou ausência de propriocepção, da sensibilidade vibratória, da sensibilidade tátil e diminuição ou ausência da discriminação entre um estímulo pontiagudo e rombo. Podem ser observados ainda sinais motores como: diminuição da força muscular, distúrbio da marcha e do equilíbrio e dificuldades com a coordenação motora fina, além de sintomas autonômicos, tais 26 como: constipação, retenção urinária, disfunção sexual e alterações da pressão arterial (Visovsky et al., 2007). Os sinais e sintomas de parestesia, dor, ausência de reflexos osteotendinosos associados ao limiar anormal de sensibilidade podem gerar impedimento da função, interferindo, de forma importante, com a qualidade de vida (Ocean & Vahdat, 2004). Dentre os estudos que apresentaram os sinais e sintomas específicos da neuropatia periférica induzida pela VCR, o trabalho de Reinders-Messelink et al. (2000) relatou ausência do reflexo Aquileu em sete de onze crianças com LLA com idade entre 4 e 12 anos após o período de indução com VCR (4 doses de VCR, uma dose por semana), sendo que dez dessas onze crianças apresentaram arreflexia seis meses após a oitava dose de VCR. Foi verificada também parestesia transitória em quatro de onze crianças no período entre a quarta e a oitava dose de VCR, além de perda sensorial transitória em seis de onze crianças no mesmo período. Hartman et al. (2006) realizaram estudo com 128 crianças com idade entre 4 e 12 anos que haviam concluído o tratamento de Leucemia Linfóide Aguda (LLA), Tumor de Wilms (TW), Linfoma não Hodgkin de células B (LNH-B) e Tumor Maligno Mesenquimal (TMM) há um período médio de 3,2 anos, com protocolos que continham VCR. As crianças foram submetidas à avaliação do desempenho motor, sendo verificado prejuízo motor em todos os pacientes sem qualquer relação com a dose-cumulativa de VCR. Diferentemente da hipótese levantada pelos autores, independente do tempo de término da terapia, os pacientes não apresentaram diferença no desempenho motor, sugerindo-se que o dano neuronal provocado pela VCR pode ser irreversível. Ainda nesse estudo, foi verificado que 10% das crianças apresentaram diminuição da sensibilidade tátil, 2%, diminuição da sensibilidade cinético-postural e uma criança apresentou diminuição da sensibilidade vibratória, cabendo ressaltar que 10% das crianças não foram avaliadas quanto a esses aspectos devido à baixa idade. Também foi realizada 27 entrevista com as crianças e seus pais e/ou parentes sendo que 5% de todas as crianças avaliadas relataram parestesia e 23% dor. Os autores não encontraram correlação da parestesia e diminuição da sensibilidade com o baixo desempenho motor das crianças, entretanto encontraram correlação desse com a dor. Ja’afer et al. (2006) realizaram estudo com ratos divididos em três grupos: controle, dose-fixa de VCR e dose com aumento progressivo de VCR durante cinco semanas consecutivas, em que ambos os grupos tratados receberam uma dose total de 1 mg/Kg de VCR. O estudo teve um seguimento de dezenove semanas, sendo a ultima avaliação realizada 14 semanas após a última administração de VCR. Dentre os vários aspectos avaliados, foi verificado que os ratos apresentaram alteração da marcha com posicionamento irregular dos membros posteriores, dificuldade de se suspender na gaiola, além de reações mais lentas, sendo essas alterações mais comuns e precoces no grupo que recebeu a dose-fixa de VCR. As alterações deste grupo foram visualizadas logo na primeira semana após administração de VCR, sendo progressivamente exacerbadas afetando 80% de ambos os grupos no final da 5° semana de administração da VCR. Em estudo realizado por Hartman et al. (2007), com 33 crianças que haviam sido tratadas de LLA, TW, TMM e LNH-B com protocolos contendo VCR e um período médio desde o término do tratamento de 3,6 anos, foi avaliada a caligrafia e o desempenho na escrita dessas crianças e de 33 crianças que nunca haviam recebido nenhuma dose de VCR. Todas as crianças avaliadas estavam matriculadas no quarto ou quinto grau da escola primária. Foi verificado que não houve diferença na velocidade e qualidade da escrita das crianças tratadas com VCR quando comparadas as não tratadas, embora a hipótese levantada pelos autores considerasse que um maior tempo de término de terapia resultaria em maior velocidade de escrita e uma maior dose cumulativa de VCR durante o tratamento levaria a uma velocidade de escrita reduzida. 28 Hartman et al. (2008) analisaram a força de alguns grupos musculares e o desempenho motor de 92 crianças tratadas de LLA, TW, LNH-B e TMM, com idade média de 8,9 anos e tempo médio desde o término do tratamento com VCR e esteróides de 3,3 anos. Os autores verificaram diminuição significativa da força muscular dos dorsiflexores do tornozelo bilateralmente, flexores de punho do membro não dominante e da força de preensão palmar bilateralmente. Foi avaliada também a amplitude de movimento passivo de dorsiflexão do tornozelo, sendo verificado que 32% das crianças avaliadas apresentavam uma dorsiflexão inferior a 5°, o que é considerado prejudicial ao ciclo normal da marcha. Na avaliação do desempenho motor, verificou-se que a diminuição da força muscular dos flexores de punho resultou em prejuízo da função da mão. O mesmo ocorreu com a força de preensão palmar que devido a sua diminuição, provocou prejuízo do desempenho motor especificamente no aspecto habilidade com bola não comprometendo os demais aspectos, como função da mão e equilíbrio. Entretanto, os autores deste estudo relatam que de forma global, somente a diminuição da força muscular dos grupos musculares citados não justifica o prejuízo no desempenho motor das crianças avaliadas. Em relação à dor causada pela NPIQ, foi verificado por Tanner et al. (1998), em estudo com ratos submetidos ao tratamento com VCR diariamente durante duas semanas consecutivas, que na fase de pico da hiperalgesia, a responsividade dos nociceptores é profundamente aumentada para ambos os estímulos, mecânicos e calor ou somente para os estímulos mecânicos. Essa hiperresponsividade pode envolver alterações nos mecanismos celulares gerais, justificando a responsividade às múltiplas modalidades de estímulos, ou pode também ser resultado de alteração específica do mecanismo de responsividade. Outro estudo realizado com pacientes com dor crônica em conseqüência da neuropatia periférica induzida por VCR avaliou através de testes quantitativos a função sensorial 29 dos pacientes, buscando um melhor entendimento do mecanismo causador da neuropatia periférica. O estudo foi composto por dois grupos, grupo controle (n=31) e grupo de pacientes (n=18). O grupo controle formado por 18 homens e 13 mulheres com idade média de 46, 7 anos e o grupo de pacientes composto por 10 homens e 8 mulheres, com idade média de 49,3 anos, que estavam em tratamento de câncer hematológico, Sarcoma de Ewing e câncer de pulmão, recebendo de 2- 4 mg de VCR por ciclo e dose cumulativa entre 2-56 mg com média de 10,4 mg durante uma média de 3,4 ciclos. Nesse estudo foram avaliadas três zonas de sensibilidade descritas como zona de dor (extremidades dos quirodáctilos e pododactilos); zona limítrofe (região de eminência tênar) e zona relatada pelos pacientes como “normal” (região proximal a tornozelo e punho), sendo avaliados limiar da sensibilidade tátil, dolorosa, limiar térmico (calor e frio) e destreza manual. Foi verificado que a dor iniciou em média 462,9 dias após o primeiro ciclo de quimioterapia, tendo uma duração entre 7,5 e 144,5 meses apresentando uma média de 50,5 meses de permanência. O grau de dor no momento da avaliação variou entre 0,6 e 6,6 com os pacientes em uso de medicação analgésica, sendo alcançada uma média diária de dor de 8,2. Os sintomas se distribuíram em meia e luva, com dor nas extremidades dos pododáctilos e quirodáctilos, paresia e parestesia em palma e dorso de mão. Foi relatado paresia em 100% dos pacientes, parestesia em 77,8%, dor pulsante em 44,4%, queimação e agulhada em 38,9% sendo bilateralmente em mãos e pés. Foi descrito ainda um aumento da dor durante as realizações das atividades diárias, principalmente durante a marcha. Além dos relatos quanto a sensibilidade, foi percebido que 11 dos 18 pacientes apresentaram alterações físicas em mãos e pés com presença de hiperemia, descamação e alterações tróficas da pele, essas alterações eram acompanhadas ou seguidas de dor. Foi relatado ainda por 12 pacientes, alteração da sensibilidade cinestésica (posicionamento dos membros no espaço), principalmente de extremidade inferior resultando em dificuldades na marcha. Em relação ao limiar da sensibilidade tátil foi verificado aumento 30 significativo no grupo dos pacientes em relação ao controle nas três zonas avaliadas. Já no teste de destreza manual, foi visualizado prejuízo marcante do grupo de pacientes em relação ao controle associado a queixa para abotoar roupas e escrever. O limiar doloroso foi significativamente maior no grupo de pacientes na região de dor. Em relação ao limiar térmico foi verificado que as extremidades dos pododáctilos e quirodáctilos apresentavam-se significativamente mais frias no grupo de pacientes. Já o limiar de calor foi alterado nas três zonas avaliadas nos pacientes, sendo que esses perceberam o calor a uma temperatura mais elevada que o grupo controle, o limiar ao frio não apresentou alteração significante em ambos os grupos, o limiar doloroso ao frio foi significativamente diferente, sendo relatada dor pelos pacientes nas três zonas avaliadas. Dessa forma, os autores verificaram que todos os pacientes apresentavam déficit na percepção de múltiplas modalidades sensoriais, sendo que pacientes com prejuízo na sensibilidade dolorosa quase invariavelmente apresentavam prejuízo na sensibilidade tátil e pacientes com dano na detecção do calor apresentavam prejuízo na sensibilidade tátil e dolorosa. Foi verificado nesse estudo, forte evidência de que a dor induzida por VCR é associada ao desenvolvimento de polineuropatia periférica envolvendo as fibras Aβ, Aδ e C. Nesse estudo, os pacientes apresentaram alterações sensoriais que envolveram tanto fibras mielinizadas como amielínicas, sugerindo-se ainda que a neuropatia periférica acomete mais precocemente fibras Aβ que os processos graduais que envolvem as fibras Aδ e C (Dougherty et al., 2007). 2.4 Diagnóstico da NPIQ A apresentação da NPIQ é dependente do tipo de droga utilizada, sendo descrito que no caso da VCR, a neuropatia apresenta-se com um componente misto, sendo caracterizada por 31 neuropatia axonal envolvendo nervos motores e sensoriais (Donofrio & Alberts, 1990). Por esse motivo sua avaliação deve ser detalhada, envolvendo vários aspectos para detecção o mais precoce possível e busca do tratamento mais adequado. A avaliação da NPIQ é baseada no exame clínico com aplicação de testes sensoriais, motores e autonômicos. Essa avaliação completa e detalhada deve ser realizada antes, durante e após o tratamento quimioterápico, devendo abranger a história clínica incluindo elementos como duração, localização e intensidade dos sintomas, além da avaliação da marcha, dos reflexos tendinosos profundos, do sistema nervoso autônomo e da sensibilidade tanto das fibras nervosas de pequeno como de grande calibre. Ambas devem ser avaliadas, uma vez que, as fibras de pequeno calibre são amielínicas e responsáveis pela sensibilidade superficial dolorosa e temperatura e as fibras de grande calibre são mielinizadas e responsáveis pela sensibilidade profunda cinético-postural e vibratória e estão relacionadas com o controle motor (Quasthoff & Hartung, 2002; Ocean & Vahdat, 2004; Armstrong et al., 2005). O sistema motor deve ser avaliado comparando-se a força muscular distal e proximal, tanto das extremidades superiores como inferiores. O mesmo procedimento deve ser realizado em relação à avaliação sensorial. No uso da VCR, a dor deve ser analisada de forma detalhada, uma vez que a VCR provoca maior dano as fibras nervosas de pequeno calibre e nos pacientes que utilizam qualquer outro tipo de alcalóide da vinca, deve ser também cuidadosamente analisada a função autonômica (Armstrong et al., 2005). Na avaliação da marcha deve-se observar o paciente deambulando, avaliar a base de sustentação, a altura do passo e os sinais de dor durante a deambulação. Na avaliação motora, a força muscular deve ser avaliada proximal e distalmente de forma simétrica nos membros inferiores, verificando a força muscular dos dorsiflexores de tornozelo versos flexores de quadril e nos membros superiores a força dos interósseos ou a força de preensão da mão versos força do 32 deltóide. Devem ser testados os reflexos Aquileu e Patelar nos membros inferiores e Braquiorradial e Bicipital nos membros superiores. Na avaliação sensorial, deve-se considerar a perda e sua progressão distal e proximal, sendo avaliadas as fibras de grande calibre por meio do estudo da sensibilidade profunda cinético postural e vibratória iniciando dos pododáctilos progredindo para tornozelo e joelho e dos quirodáctilos progredindo para punho e cotovelo. As fibras de pequeno calibre devem ser avaliadas por meio da sensibilidade superficial dolorosa iniciando nos pododáctilos progredindo para as pernas e nos quirodáctilos progredindo para os braços (Armstrong et al., 2005). Para o diagnóstico e acompanhamento da NPIQ é necessário também o estudo eletrofisiológico, por meio da eletromiografia, para análise da condução nervosa e teste quantitativo sensorial. De acordo com Peltier & Russel (2002), o exame eletromiográfico auxilia na detecção da neuropatia periférica antes do início dos sinais e sintomas clínicos, podendo assim, ser útil para a intervenção precoce. Entretanto, Quasthoff & Hartung (2002) e Ocean & Vahdat (2004), consideram o estudo eletromiográfico insensível na detecção precoce da neuropatia periférica. Na neuropatia periférica é importante a avaliação da velocidade de condução nervosa (VCN) por meio da eletromiografia de agulha para distinção entre neuropatia desmielinizante e lesão axonal, uma vez que outras alterações da condução nervosa podem estar sobrepostas a neuropatia periférica (Weiss et al., 2005). Em estudo realizado por Reinders-Messelink et al. (2000), com 17 crianças com média de idade de 5 anos e 10 meses, com diagnóstico de LLA as quais receberam 4 doses semanais de VCR na fase de indução e mais 4 doses na fase de reindução, totalizando uma dose máxima cumulativa de VCR de 18mg, foi realizado estudo eletrofisiológico em alguns momentos do tratamento. As avaliações ocorreram uma semana antes da primeira dose de VCR (semana 0), 33 uma semana após a quarta dose de VCR (semana 5), uma semana antes da quinta dose (semana 16), uma semana após a oitava dose (semana 21) e seis meses após a oitava dose de VCR (semana 46). Foi verificado que no nervo mediano e ulnar houve redução da amplitude do potencial de ação do nervo sensorial após o primeiro bloco de quatro doses de VCR com uma diminuição progressiva verificada após o segundo bloco de mais quatro doses. Já a amplitude do potencial de ação muscular composto do nervo peroneal e dos nervos da extremidade dos membros superiores não apresentou mudança significativa. Entretanto, analisando o limiar de percepção vibratório foi encontrado efeito de neurotoxicidade cumulativa por VCR uma vez que, o limiar vibratório carpal apresentou aumento após o primeiro bloco de quatro doses de VCR, sendo esse aumento mais acentuado após o segundo bloco, porém o limiar de percepção vibratório tarsal apresentou um aumento com recuperação após a retirada da VCR. A natureza desses achados sugere uma neuropatia axonal associada a desmielinizante provocada por VCR. Em estudo realizado por Ja’afer et al. (2006), descrito anteriormente, foi verificado em ratos uma diminuição progressiva, consistente e significante dos valores da amplitude do potencial de ação do nervo sensorial e da amplitude do potencial de ação muscular composto em ambos os grupos de ratos que receberam o tratamento com VCR (dose-fixa e dose de aumento progressivo). Relataram que a queda progressiva da amplitude média do potencial de ação do nervo sensorial e da amplitude do potencial de ação muscular composto sugerem uma alteração de um número significante de fibras motoras e sensoriais pela VCR. Sendo que a diminuição da amplitude do potencial de ação do nervo sensorial é concordante com os achados de ReindersMesselink et al. (2000), descritos acima. Ja’afer et al. (2006) sugeriram que a diminuição do potencial de ação pode ser devido a degeneração de pequena porcentagem de axônios mielinizados de grande calibre que foi correlacionado com os achados microscópicos de mudança axonal progressiva e perda axonal durante o tratamento com VCR. Ainda como achados, Ja’afer 34 et al. (2006) verificaram que após 14 semanas do término do tratamento com VCR houve uma melhora da amplitude média do potencial de ação do nervo sensorial e da amplitude do potencial de ação muscular composto, sendo essa melhora mais expressiva no segmento proximal dos nervos avaliados. 2.5 Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial da NPIQ consiste basicamente em dois grandes grupos, as adquiridas e as hereditárias, apresentando ainda algumas outras subdivisões. Dentro das adquiridas estão as condições metabólicas anormais que são: Diabetes Mellitus, Neuropatia Secundária a Doença Renal, Hipotiroidismo, Cirrose Biliar Primária, Deficiência de Vitaminas (B1, B6, ácido pantotenico, α-ptocoferol ou B12), doses excessivas de piridoxina (B6), Amiloidose primária (familiar), acromegalia; Imune mediadas: Miastenia Grave, Síndrome de Guillain-Barré, Polineiropatia Desmielinizante Inflamatória Crônica, Vasculites (Poliarterites Nodosa, Síndrome de Churg-Strauss), Vasculites Sistêmicas associadas com doenças do tecido conectivo (Artrite Reumatóide, Lupus Eritematoso, Síndrome de Sjogren), Neuropatia Anticorpo Monoclonal (Macroglobulinemia de Waldenstrom, Mieloma), Plexopatia crivical ou lombossacral, Neuropatia Motora Multifocal; Infeciosas: Herpes Zoster, Citomegalovirus, HIV, Sacoide, Doença de Lyme, Mycobacterium leprae, Camphylobacter jejuni, Poliomielite, Hepatite B ou C; relacionada ao câncer: Síndrome miastenica Eaton-Lambert, Linfoma, Neuropatia Sensorial Paraneoplásica, Sindrome de Horner, Neuropatia Motora Paraneoplasica; por drogas ou toxinas: induzida por quimioterapia, outras medicações, álcool, toxinas industriais ou metais pesados, toxinas de animais marinhos; causas mecânicas, físicas e compressivas: Radiculopatia, 35 Mononeuropatia, Radiação Ionizante e por fim etiologia desconhecida: Neuropatia sensoriomotora ou Sensório Criptogênica, Esclerose Lateral Amiotrófica (Hausheer, 2008). Dentro das causas hereditárias estão: Doença de Charcot –Marie-Tooth, Síndrome de Riley-Day, Esclerose Lateral Amiotrófica Familiar, Atrofia Muscular Espinobulbar ligada ao X, Miopatia distal de Gower, Neuropatia Sensorial Motora Hereditária, Neuropatia Hereditária com predisposição para paralisia, Plexopatia Braquial Familiar, Porfiria Aguda; outras neuropatias perioféricas raras: de Fabry, Leucodistrofia Monocromática, Adrenoleucodistrofia, Doença de Refsum (Hausheer, 2008). 2.6 Tratamento fisioterapêutico da neuropatia periférica O tratamento fisioterapêutico da neuropatia periférica é abordado nos estudos das neuropatias por diversas etiologias, sendo as mais comuns a Neuropatia Diabética, Alcoólica, pela AIDS, Senil, entre outras. Nesta revisão bibliográfica abordaremos o tratamento fisioterapêutico das Neuropatias Senil e da Neuropatia Diabética. Em estudo com 42 sujeitos com idade média de 65,9 anos que apresentavam como etiologia da neuropatia periférica: diabetes (n=30), idiopática (n=5), doença do tecido conjuntivo (n=3), toxicidade à medicação (n=2), hipotiroidismo (n=1) e familiar (n=1), foi verificado que o uso de bengala, órtese de tornozelo e apoio vertical lateral (parede, muro) proporciona diminuição da variação da base de sustentação. O que sugere melhora da estabilidade e controle médio-lateral, proporcionando assim uma regularidade na marcha sobre superfície irregular com baixa condição de luminosidade. Os sujeitos foram avaliados percorrendo uma distância de 10 36 metros sobre um carpete industrial, o qual apresentava prismas de madeira dispostos ao acaso para proporcionar uma superfície irregular. Os autores sugerem que a bengala e o apoio vertical lateral apresentem função aferente, melhorando a sensação de localização do tronco no plano frontal e função eferente, promovendo suporte estrutural nas ocasiões de perda de equilíbrio. Já, a órtese de tornozelo proporcionou melhora do suporte medial-lateral e da função sensorial (Richardson et al., 2004). Para o tratamento fisioterapêutico da neuropatia diabética, foram encontrados três estudos, descritos a seguir, que utilizaram como recurso terapêutico a cinesioterapia, sendo que um destes estudos utilizou exercício aeróbico como prevenção e/ou retardo da neuropatia periférica em pacientes diabéticos. O estudo realizado por Richardson et al. (2001), apresentou um programa de exercícios para o tornozelo em pacientes diabéticos com idade entre 50 – 80 anos, com sintomas e confirmação eletrodiagnóstica de neuropatia periférica, que apresentavam habilidade para deambular distâncias domiciliares sem assistência ou com auxílio de dispositivo de marcha e força muscular de eversores, inversores e dorsiflexores de tornozelo no mínimo contra a gravidade. Os pacientes foram divididos em dois grupos: grupo controle (n=7) e grupo de intervenção (n=9). O grupo de intervenção foi submetido à realização diária, durante três semanas consecutivas, do programa de exercícios sob supervisão. Ambos os grupos foram submetidos a avaliação do alcance funcional, do equilíbrio bipodal e unipodal além de uma escala para atividades específicas de segurança e equilíbrio. O programa de exercícios consistia da realização de sete exercícios sobre superfície firme: 37 1- Aquecimento: na posição sentada, em cadeia cinética aberta, movimentar o tornozelo de forma a escrever no ar, com a extremidade inferior, as letras do alfabeto; 2- Na posição sentada elevar o retropé e posteriormente os pododáctilos bilateralmente (dorsiflexão e flexão plantar de tornozelo, respectivamente) o mais rápido possível. Realizando uma série de 10 repetições e a cada cinco sessões aumentar uma série, totalizando ao final do estudo três séries de 10 repetições; 3- Em cadeia cinética fechada, na posição sentada, realizar a inversão e a eversão do tornozelo bipodal deslocando o centro de massa lateralmente. Objetivando a realização desse exercício sem o auxílio dos membros superiores, realizando o mesmo número de séries, repetições e evolução que o exercício anterior. 4- Na posição sentada realizar dorsiflexão e flexão plantar de tornozelo unipodal, Com a maior velocidade possível, realizando cinco repetições de cada movimento aumentando para 10 repetições após cinco sessões e posteriormente para duas séries de 10 repetições após a décima sessão; 5- Em cadeia cinética fechada com o paciente em pé realizar a inversão e eversão de tornozelo unipodal, desafiando o equilíbrio, uma série de 5 repetições cada movimento aumentando para 10 repetições após 5 sessões; 6- Agachamento com apoio em parede bipodal, realizando uma flexão máxima de joelhos de 45°, durante 3 séries de 10 repetições, após 5 sessões a primeira sessão deve ser realizada de forma unipodal. 7- Na posição ortostática, desafiar o equilíbrio unipodal o maior tempo possível, realizando apenas três tentativos com cada membro (Richardson et al., 2001). 38 Como resultado, o estudo mostrou que o programa de exercícios aumentou rapidamente a força muscular do tornozelo, melhorando três aspectos comuns do equilíbrio, o alcance funcional, o equilíbrio bipodal e unipodal em pacientes idosos com neuropatia periférica de leve a moderada, sugerindo também, a possível melhora na segurança durante a realização das atividades diárias, reduzindo o número de quedas (Richardson et al., 2001). Em outro estudo, com 13 mulheres diabéticas portadoras de neuropatia periférica com idade entre 50 – 70 anos, sedentárias, foi realizado treino proprioceptivo. As pacientes foram submetidas a avaliação fisioterapêutica prévia, sendo aplicado o protocolo de intervenção duas vezes por semana, durante 45 minutos, por um período de 12 semanas. A intervenção era formada por três fases: o aquecimento (15 minutos), treinamento proprioceptivo e o desaquecimento com monitoramento da pressão arterial. O treino de equilíbrio teve como base às técnicas de Frenkel adaptadas para indivíduos com Diabetes Mellitus, sendo aplicados exercícios em circuitos com marcha coordenada sobre marcadores dispostos no chão, alternando-se os pés, a direção e a velocidade da marcha. O treino proprioceptivo englobou o treino de equilíbrio, marcha e propriocepção e foi composto por um circuito de 13 estações distintas, com dois minutos de tempo de permanência em cada estação. As estações foram formadas respectivamente por: (1) espuma de 10 cm de espessura, (2) caixa de madeira com grãos de feijão, (3) colchonete com espuma com 2 cm de espessura e densidade menor que a espuma, (4) caixa de madeira com algodão, novamente (5) colchonete com 2 cm de espessura, (6) prancha de equilíbrio para balanceios látero-laterais, (7) movimentação de uma toalha com os pés por meio da flexão dos pododáctilos na posição sentada, novamente (8) espuma de 10 cm de espessura, (9) duas bolas de propriocepção com 8 cm de diâmetro e projeções externas, (10) caixa de madeira com painço, novamente (11) espuma de 2 cm de espessura, (12) duas bolas terapêuticas (bolas suíças de 75 cm de diâmetro) para equilíbrio e movimentação de quadril e por fim, (13) lixa ferro de pedreiro 39 número 34 na qual os pés eram deslizados alternadamente. Após a realização do treino descrito, foram realizados exercícios respiratórios, movimentos ativos lentos e alongamento da musculatura de membros superiores e inferiores e da região lombar. Foram realizadas as seguintes análises: baropodométrica, do centro de massa e da sensibilidade tátil da região plantar em três momentos, antes da intervenção e após 6 e 12 semanas de intervenção, apresentando como resultados, significativa melhora da sensibilidade tátil plantar, sendo que antes da intervenção apenas 15% das pacientes sentiam os pontos avaliados, aumentando para 46% e 85%, após 6 e 12 semanas, respectivamente, do treino proprioceptivo. Houve também melhora significativa dos valores médios de oscilação ântero-posterior do centro de pressão, porém sem alteração em relação à oscilação médio-lateral (Santos et al., 2008). Balducci et al. (2006), realizaram estudo de intervenção prospectivo randomizado com duração de 4 anos, com o objetivo de examinar os efeitos do exercício por longo período de tempo no desenvolvimento da neuropatia periférica em pacientes com diabetes tipo 1 e 2. O estudo contemplou 78 pacientes sendo 39 mulheres e 39 homens, com idade média de 51,3 anos e média de duração da Diabetes de 8, 79 anos sem a presença de sinais ou sintomas de neuropatia periférica, que foram randomizados em dois grupos: grupo de exercício (n=31) e grupo controle (n=47). O grupo de exercício foi submetido a quatro sessões por semana com duração de uma hora de caminhada rápida sobre esteira sob supervisão, mantendo uma freqüência cardíaca de reserva entre 50 a 85%, sendo essa estimada todo mês. Já, o grupo controle composto por pacientes sedentários não realizou atividade física supervisionada durante o estudo. Para a avaliação neurofisiológica foram mensurados o limiar de percepção vibratório, a velocidade de condução nervosa e a amplitude do potencial de ação nervoso dos membros inferiores durante os 4 anos de estudo, assim como a avaliação da capacidade máxima aeróbica (VO2max), a pressão arterial e os hábitos de vida por meio de questionário padronizado. Como resultados, verificaram 40 um aumento significativo da velocidade de condução nervosa peroneal do grupo de exercício e uma redução não significativa no grupo controle, sendo que para o nervo sural não houve um aumento significado no grupo de exercício, entretanto foi verificada uma diminuição significativa da velocidade de condução nervosa sural no grupo controle. A porcentagem de pacientes que desenvolveram neuropatia periférica motora durante os 4 anos de estudo, foi significativamente maior no grupo controle (17%) em relação ao grupo de exercício (0%), o mesmo foi verificado quanto a neuropatia periférica sensorial sendo de 29, 8% no grupo controle e 6,5% no grupo de exercício. Houve também valor significativamente maior do limiar de percepção vibratória no grupo controle em relação ao grupo de exercício. Dessa forma, o estudo mostrou que o treino aeróbico durante um período prolongado modificou a história natural da neuropatia periférica diabética até mesmo prevenindo-a. Demonstrando que esse tipo de exercício, mesmo que de leve intensidade pode influir positivamente e modificar os parâmetros motores e sensórioneuromusculares dos pacientes diabéticos. Os autores acreditam que esses resultados foram conseguidos devido as mudanças cardiovasculares e metabólicas proporcionadas pelos exercícios aeróbicos, que também podem ser atingidas por meio de outros tipos de exercícios. Ainda não existem dados na literatura que indiquem a utilização dos exercícios aplicados por Balducci et al. (2006) em neuropatia diabética para os casos de NPIQ, uma vez que o mecanismo de lesão ao sistema nervoso periférico é distinto entre ambas neuropatias. Dessa forma, torna-se importante a realização de estudos com os pacientes em tratamento quimioterápico para que possa ser confirmado se o mecanismo protetor da neuropatia periférica verificado no estudo de Balducci et al. (2006) também se desenvolve nessa população. Foram levantados na literatura três estudos com o uso de recursos físicos para o controle de alguns sintomas da neuropatia periférica na população de indivíduos com diabetes. O primeiro deles trata-se de um estudo duplo-cego, randomizado, placebo controlado que verificou 41 o uso do laser (Arseneto-Gálio-Alumínio, 890 nm com dose de 1,3 J/cm-2. min-1) na reabilitação sensorial, redução da dor e melhora do balanço de pacientes diabéticos. Esse laser foi utilizado devido a sua ação vasodilatadora aumentado assim a circulação. O estudo avaliou a sensibilidade dos pés por meio de monofilamentos, aplicou instrumento de avaliação da neuropatia e realizou exame físico dos pés de 27 pacientes com Diabetes tipo 2. Os pacientes foram divididos em dois grupos, o primeiro (grupo 1) deles com 18 sujeitos, com idade média de 61 anos que apresentavam menor prejuízo sensorial, sendo hábeis na identificação do estímulo sensorial provocado pelo monofilamento 6.65, já o segundo grupo (grupo 2), era formado por 9 pacientes com idade média de 64 anos , que apresentavam um prejuízo sensorial mais profundo. Todos os pacientes receberam o laser ativo e o placebo numa freqüência de três vezes por semana durante 40 minutos cada sessão por duas semanas, após três dias era iniciada nova aplicação de laser ativo por mais duas semanas com a mesma freqüência e duração totalizando assim 12 sessões. O laser foi aplicado em diversas regiões dos pés de forma padronizada em todos os pacientes. As avaliações foram realizadas antes do início do tratamento, três dias após a sexta sessão e três dias após a décima segunda sessão. Durante as duas primeiras sessões um membro inferior recebeu o laser placebo e o membro contralateral o laser ativo, e nas duas semanas seguintes ambos os membros receberam o laser ativo. Em relação a sensibilidade, os autores verificaram que o laser foi capaz de melhorar a sensibilidade restaurando temporariamente a proteção sensorial dos pacientes que não haviam progredido para uma perda sensorial profunda (grupo 1), porém os pacientes com perda sensorial profunda (grupo 2), não apresentaram melhora significativa da sensibilidade. Em relação a dor, foi verificado pela Escala Análoga Visual (VAS) que o grupo de menor perda sensorial apresentou uma significativa redução da dor (4.2 inicial, para 3.2 após as seis primeiras sessões e 2.3 após 12 sessões). O escore do instrumento de avaliação da neuropatia diminuiu significativamente apenas no grupo de menor perda sensorial, demonstrando menor 42 grau de neuropatia. Em relação ao equilíbrio, os sujeitos foram questionados se eles sentiam como se estivessem caindo, sendo que na avaliação inicial do grupo 1 89% responderam sim, seguido de 39% e 19% após a sexta e décima segunda sessão de laser, respectivamente. Já, no grupo de perda sensorial profunda inicialmente 78% responderam sim, seguido de 33% após a sexta sessão, porém sem nenhuma melhora adicional após a décima segunda sessão (Leonard et al., 2004). Zinman et al. (2005), realizaram estudo randomizado, duplo-mascarado, placebocontrolado, também com pacientes diabéticos com polineuropatia sensoriomotora diabética os quais foram submetidos a aplicação de laserterapia de baixa intensidade, com a hipótese de que essa poderia aliviar a dor causada pela diabetes. O laser utilizado apresentava 905 nm de comprimento de onda e potência média de 0-60 mW, foi utilizado também o laser placebo. Todos os pacientes receberam as primeiras duas semanas de laser placebo, sendo randomizados em dois grupos para receber o laser placebo (grupo controle) ou ativo, durante mais quatro semanas duas vezes por semana, sendo a aplicação realizada em duas regiões de dor em dorso ou planta de pé bilateralmente durante 5 minutos. Participaram do estudo 50 pacientes, sendo 34 homens e 16 mulheres, 88% deles apresentavam diabetes tipo 2. Foi verificado que houve redução da dor avaliada pela VAS em ambos os grupos após as primeiras duas semanas em que todos os pacientes receberam laser placebo, sendo que nas quatro semanas seguintes, o grupo controle não mais apresentou melhora, entretanto o grupo de tratamento apresentou redução adicional da dor. Um paciente do grupo controle e dois pacientes do grupo de tratamento apresentaram redução da dor ≥ 50%. Os pacientes foram acompanhados por mais duas semanas após o término do estudo, sendo verificado aumento da dor em ambos os grupos, sem existir diferença entre grupo controle e de tratamento. 43 Ambos os estudos que abordam a utilização do laser na neuropatia periférica diabética não se mostram consistentes, deixando claro a necessidade de realização de mais estudos nessa área. Cabe ressaltar que, para os pacientes acometidos pela NPIQ a laserterapia de baixa intensidade está contra-indicada devido a seu potencial estímulo à mitose celular, que será discutido mais adiante. Outro estudo analisado, utilizando correntes para alívio dos sintomas da neuropatia periférica diabética, demonstrou resultados positivos com redução dos sintomas. Reinchstein et al. (2005), utilizaram estimulação muscular externa de alta freqüência (HF) e a estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) em 41 pacientes com Diabetes tipo 1 e 2, com idade entre 18-80 anos, sendo excluídos os pacientes em uso de antidepressivos tricíclicos, anticonvulsivantes e α-ácido lipóico. Os pacientes foram randomizados em dois grupos: grupo TENS (n= 21) e grupo HF (n= 20) e ainda subdivididos em pacientes com dor neuropática e sem dor. Esses pacientes receberam 30 minutos de aplicação das respectivas correntes durante três dias consecutivos, sendo avaliados antes do início do estudo, após uma a duas horas do final de cada aplicação e dois dias após a última aplicação. O TENS utilizado apresentava 180 Hz de freqüência, 4 ms de duração de pulso e a intensidade era dada de acordo com cada paciente, sendo utilizados dois eletrodos sobre o nervo tibial posterior. Já a estimulação de alta freqüência (HF), foi aplicada sobre quadríceps, com duração de pulso ≤ 350 mA, ≤ 70 V e freqüência de 4,096 Hz que foi aumentada para 32,768 Hz dentro de 3 segundos. Foi verificado que a HF foi mais efetiva que o TENS tanto nos pacientes com dor como na ausência de dor. Ambos os grupos apresentaram redução do escore que analisou os sintomas da neuropatia periférica. Pacientes relataram recorrência dos sintomas dias após o termino do estudo. Os autores justificam esses resultados por meio da estimulação da microcirculação vascular e melhora da resistência a insulina que estão envolvidos na fisiopatologia da Diabetes, além de sugerirem que a HF atua 44 sobre a dor interrompendo o portão de dor por meio da fibra C, além de trabalhos citados por esses autores que indicam que a HF diminua a concentração de glutamato aminoácidos excitatórios e aspartato no corno dorsal, sendo esse efeito mediado pelo mecanismo GABAenérgico. Devido à escassez de pesquisas em reabilitação da NPIQ, foi encontrada apenas uma série de casos sobre NPIQ a qual utiliza a acupuntura como tratamento. Esse estudo foi realizado com cinco pacientes com idade entre 61 -70 anos que apresentavam grau II e III de neuropatia periférica segundo sistema de graduação da neuropatia periférica da WHO (Grau I: sem sintomas; II: parestesia severa e/ou diminuição dos reflexos tendinosos, perda motora; III: parestesia intolerável e/ou perda motora; IV: paralisia). Todas as pacientes apresentavam câncer ginecológico, sendo tratado com carboplatina e placitaxel (3.500 mg e 1.860 mg de dose total cumulativa respectivamente). Os principais sintomas relatados foram: dor, parestesia em pododáctilos e quirodactilos e paresia, além de desequilíbrio durante a marcha evidente em três pacientes, sendo que a duração dos sintomas variava entre 6 e 38 meses. Todas as pacientes faziam uso de analgésicos narcóticos. As agulhas de acupuntura foram introduzidas nos pontos CV6 (Qihai), ST36 (Zusanli) e LI11 (Quchi) (Figuras 10 e 11) durante a inspiração, permanecendo por um período de 30 a 45 minutos, sendo realizado um primeiro módulo de seis semanas com aplicação uma vez por semana, um intervalo de quatro semanas sem acupuntura e um segundo módulo de mais seis semanas com aplicação uma vez por semana. Sendo que ao final da terapia as cinco pacientes apresentaram melhora da dor, da parestesia e da paresia. A média de dor foi reduzida para três de dez, com redução na dosagem de analgésicos. Todas as três pacientes que apresentaram déficit de marcha tiveram uma significante melhora. Após seis meses de seguimento, o controle dos sintomas persistiu em quatro pacientes. Os autores relatam que ainda não se sabe quais os mecanismos fisiológicos pelo qual a acupuntura promove a melhora 45 dos sintomas da NPIQ. A acupuntura pode exercer seu papel no controle da dor através de uma ação sobre o portão de dor, induzindo o aumento na produção de endorfina. A melhora sensorial não pode ser justificada pelo aumento da endorfina, entretanto segundo os autores desse estudo, estudos sugerem que a acupuntura estimula o fator de crescimento do nervo, podendo acelerar a regeneração nervosa (Wong & Sagar, 2006). Figura 10 - Pontos CV6 e ST36. Figura 11 - Ponto LI11. Fonte: http://www.newkis.com/graphic/xuewei_1jpg Adaptada. Fonte: http://www.newkis.com/graphic/xuewei_1jpg Adaptada. 46 2.7 Programa fisioterapêutico de NPIQ do Centro Infantil Dr. Domingos Boldrini No Centro Infantil Boldrini, os pacientes são atendidos de forma integral, o que lhes garante segurança e o acompanhamento detalhado do momento do diagnóstico à reabilitação e também após o término do tratamento com retornos periódicos para consultas médicas e exames de controle. Para que isso seja possível a equipe multiprofissional é formada por médicos de diversas especialidades, enfermeiros, psicólogos, dentistas, assistentes sociais, pedagogas, nutricionista e fisioterapeutas que acompanham todo o processo de tratamento e de reabilitação. O encaminhamento à fisioterapia é realizado quando o médico detecta qualquer alteração da função motora, da marcha, da sensibilidade e presença de dor. 2.7.1 Avaliação A avaliação é extensa e direcionada às queixas apresentadas em sua primeira parte, a anamnese, sendo iniciada com o registro dos dados cadastrais do paciente como nome, idade, diagnóstico e número de prontuário. Na anamnese colhe-se a história desde o período do início dos sinais e sintomas que levaram ao diagnóstico da NPIQ, até o momento da avaliação fisioterapêutica. Nessa primeira etapa, a criança ou seu responsável é questionada quanto ao período que precedeu o diagnóstico, e a evolução a partir daí, quais os tratamentos realizados até o momento - quimioterápico, radioterápico, cirurgias – além de internações, intercorrências, medicamentos em uso e qual a programação que ainda resta a ser cumprida. Ainda na anamnese, depois de colhidas todas as informações acima, questiona-se o motivo pelo qual o paciente foi 47 encaminhado à fisioterapia. Quando a idade permite tal questionamento, pergunta-se diretamente ao paciente quais seus sintomas, o que o tem incomodado (dor, parestesia, fraqueza, dificuldades para deambular) e principalmente quais as atividades que antes fazia, porém hoje não faz mais, ou quais as atividades que realiza com dificuldade. Aqui vale ressaltar que o paciente encontra-se na idade em que o brincar é normalmente sua atividade preferida, então se deve pesquisar se ele não consegue mais participar de alguma brincadeira devido a sua condição física atual. Ainda como parte da anamnese questiona-se ao cuidador se ele tem protegido demasiadamente o paciente, não permitindo que ele realize as atividades que consegue e principalmente se o paciente tem permanecido a maior parte do tempo no colo do cuidador ou deitado, ou ainda necessita de maior apoio para realização de suas atividades, uma vez que, permitir que o paciente faça o maior número de atividades possível de forma independente ou com auxílio somente quando necessário, compreende parte fundamental do processo de reabilitação. A anamnese completa e detalhada permite direcionar a inspeção e o exame físico do paciente, já que a NPIQ pode se apresentar de forma extremamente singular, com alguns pacientes apresentando sinais clássicos de acometimento motor e sensitivo predominantemente em extremidades, associada à alteração da marcha sendo geralmente uma marcha de passos altos e dor, ou ainda outros pacientes podem apresentar alterações leves acometendo mãos ou pés, com somente um tipo de alteração: motora ou sensitiva. Essa apresentação singular faz com que a avaliação seja específica para cada paciente e o programa de tratamento seja também totalmente baseado nos achados da avaliação. Dessa forma, é possível traçar uma linha de raciocínio lógico que direciona o profissional nas próximas etapas da avaliação. O próximo item é a inspeção, que é dividida em dinâmica e estática. A inspeção dinâmica geralmente é iniciada no momento em que o paciente adentra a sala de fisioterapia 48 observando-se de que maneira esta ocorre: no colo do cuidador, na cadeira de rodas, deambulando com algum dispositivo de apoio, ou andando de forma independente. Caso seja de forma independente, identifica-se se o paciente apresenta alterações. Sua movimentação espontânea durante todo o período da anamnese também é observada. Na inspeção estática, é observada a postura que o paciente adota na posição sentada, em decúbito dorsal e na postura ortostática. Algumas posturas adotadas indicam déficit de força em alguns grupos musculares, ou ainda dor, através de posturas antálgicas e posturas protetoras. Seguindo-se a avaliação, inicia-se o exame físico que compreende os seguintes itens: Dor, Trofismo, Amplitude de Movimento (ADM), Força Muscular, Reflexos Osteotendinosos, Avaliação da Sensibilidade, Coordenação Motora Fina e Marcha. Para a avaliação da intensidade da dor neuropática em algum segmento do corpo, seja ao repouso, ou ao longo da avaliação – durante movimentos solicitados – é usada a Escala Visual Numérica de Dor (Figura 12) que consiste de uma linha enumerada de 0 a 10 sendo 0 a ausência de dor e 10 a dor máxima sentida. Em diversas vezes a intensidade da dor neuropática é tão alta que a avaliação e o tratamento fisioterapêutico não são passíveis de serem realizados, nessa ocasião. Sendo assim, opta-se por aguardar até que haja melhora da dor com o tratamento medicamentoso. Figura 12 - Escala Visual Numérica de Dor. Fonte: http://sobreendo.blogspot.com/2008_08_01_archive.html. 49 O trofismo pode ser observado por meio da cirtometria associada à comparação com o membro contralateral. Entretanto, na NPIQ o comprometimento pode ser simétrico dificultando essa comparação. Associado a isso, o paciente geralmente encontra-se em tratamento quimioterápico que por si só resulta em perda de peso devido à alteração de paladar, inapetência, náuseas e vômitos freqüentes. Também podem haver períodos longos de internação e prostração, resultando em períodos de restrição ao leito acarretando alterações de trofismo. Nos casos de tumores sólidos as próprias cirurgias para exerese do tumor podem levar a restrições e dificuldades na movimentação. Esta restrição também pode ocorrer na retirada de músculos em alguns tumores, o que sabidamente altera o trofismo muscular no membro acometido. A avaliação da ADM não somente mede a função, mas é parte importante da análise biomecânica, e pode ser realizada de acordo com três tipos de função: movimento passivo, movimento ativo e movimento com resistência (Cipriano, 2005). A ADM passiva é avaliada com o terapeuta realizando o movimento sem a ajuda do paciente, até seu limite máximo. Todas as articulações devem ser avaliadas em seus planos anatômicos de movimento, priorizando as extremidades que são comumente mais acometidas pela NPIQ. A ADM ativa é avaliada com o paciente realizando o movimento sozinho e o terapeuta deve estar atento quanto às compensações que podem ser realizadas pelo paciente. A comparação entre a ADM passiva e ativa pode nos direcionar quanto à origem do déficit, por encurtamento muscular, dor ou ainda déficit de força muscular, sendo esses dois últimos mais comuns na NPIQ. A força muscular pode ser avaliada de diversas maneiras, sendo a mais comum e validada por Robert W. Lovett em 1932, a graduação manual numa escala de 0 a 5. Essa graduação correlaciona a efetividade da ação muscular contra a gravidade ou não e contra resistência imposta pelo avaliador. A graduação é dada de acordo com o Quadro 1 abaixo (Legg, 1932, apud Kendall et al., 1995): 50 Quadro 1 - Graduação manual da força muscular Graduação Muscular 5 - Normal 4- Boa 3 - Regular 2- Fraca 1 - Traço 0 - Nula Descrição Movimentação completa contra a gravidade e com resistência total Movimentação completa contra a gravidade e alguma resistência externa Movimentação completa contra a gravidade Movimentação completa eliminada a gravidade Evidência de pouca contratilidade, não havendo mobilidade articular Não há evidência de contratilidade Os grupos musculares a serem testados serão aqueles que apresentarem uma ADM ativa diminuída e/ou os quais foram considerados comprometidos ao longo de toda avaliação. Especialmente nesse item da avaliação o estado geral do paciente pode influenciar o seu desempenho, principalmente nos pacientes neutropênicos, nos quais a contagem de neutrófilos atinge seu ponto mais baixo aproximadamente sete a catorze dias após a quimioterapia. Os pacientes podem ainda apresentar queda na contagem de plaquetas e/ou hemoglobina e dor que também comprometem seu desempenho, sendo preferido que o teste seja repetido em outro dia. Seguindo a avaliação, devem ser testados os reflexos osteotendinosos dos membros superiores e inferiores com o objetivo de avaliar a integridade do suprimento nervoso do segmento a ser testado. Nos membros superiores são testados os reflexos Bicipital, Tricipital e Bráquio-radial e nos membros inferiores os reflexos Patelar (Figura 13) e Aquileu. Esses reflexos são tendinosos profundos, dos neurônios motores inferiores que são transmitidos à medula, às células do corno anterior, e que retornam ao músculo via nervos periféricos (Hoppenfeld, 2003). Esse teste é realizado pelo avaliador com o auxílio de martelo específico. Na NPIQ conforme descrito anteriormente pode ocorrer uma arreflexia ou uma hipoatividade principalmente dos reflexos Bráquio-radial, Patelar e Aquileu. 51 Figura 13 - Reflexo Patelar. Fonte: http://ptwikipedia.org/wiki/Reflexo. A sensibilidade pode ser dividida em superficial e profunda, com a superficial originando-se nos exteroceptores e a profunda nos proprioceptores e interoceptores. Os exteroceptores estão localizados na superfície externa do corpo sendo ativados pelo calor, frio, tato, pressão, luz e som. Já os proprioceptores localizam-se mais profundamente, estando presentes nos músculos, tendões, ligamentos e cápsulas articulares. Os impulsos nervosos proprioceptivos podem ser conscientes ou inconscientes. Os inconscientes não despertam qualquer sensação, sendo utilizados pelo sistema nervoso central para regular a atividade muscular por meio do reflexo miotático ou dos vários centros envolvidos na atividade motora, destacando-se o cerebelo. Os impulsos conscientes atingem o córtex cerebral e permitem ao indivíduo ter a percepção de seu corpo e de seus segmentos, mesmo de olhos fechados, sendo responsáveis pelo sentido de posição e de movimento (cinestesia). Por fim, os interoceptores ou visceroceptores localizam-se nas vísceras e nos vasos e dão origem as sensações viscerais (Machado, 2005). Na avaliação sensorial devem ser coletados o tipo de sensação comprometida, a extensão e seu grau, localização dos limites exatos do dano sensorial e os sentimentos subjetivos do paciente sobre as alterações na sensibilidade. Deve-se considerar a idade do paciente e sua 52 capacidade cognitiva, uma vez que as respostas serão dadas por ele. Durante o teste o paciente deve estar vendado e em uma posição confortável. A avaliação deve ser iniciada pela sensibilidade superficial, considerando os principais nervos sensitivos e seus respectivos dermátomos, respeitando o sentido distal para proximal e os estímulos devem ser aplicados de forma aleatória e imprevisível, com variações nos momentos das aplicações. Cabe lembrar que tecido cicatricial e região de calosidades são menos sensíveis aos estímulos (O´Sullivan & Schmitz, 2003). Na análise da sensibilidade superficial são avaliados dor, temperatura, tato leve e pressão. Na avaliação da dor é utilizado um alfinete de cabeça grande apresentando uma ponta romba e uma ponta aguda, o estímulo deve ser realizado com as duas pontas e o paciente deve responder se sente ou não o estímulo e descrevê-lo. A temperatura é avaliada com o auxílio de dois tubos de ensaio, um contendo água quente (40 a 45°C) e o outro com gelo picado com temperatura entre 5 e 10°C, sendo aplicado o estímulo de forma aleatória com o paciente respondendo se sente quente ou frio. Para o tato leve é utilizado um pincel de pêlos de camelo, algodão ou tecido, sendo a área testada levemente tocada ou percutida, o paciente deve reconhecer quando o estímulo foi aplicado e o local. Para a análise da pressão o terapeuta deve aplicar uma pressão firme com a ponta do dedo na pele do paciente, e este deve responder se o estímulo foi sentido ou não e em qual local (O´Sullivan & Schmitz, 2003). A avaliação da sensibilidade profunda ou propriocepção envolve tanto o sentido de posição articular quanto o sentido de movimento (cinestesia). O sentido de posição articular é a percepção das articulações em repouso e a cinestesia é a percepção do movimento. Para o sentido de posição articular o avaliador movimenta o membro numa amplitude de movimento e o membro deve permanecer numa posição estática, solicita-se então que o paciente descreva a posição do segmento ou o reproduza com o membro contralateral. Ainda dentro da sensibilidade 53 profunda é avaliada a sensibilidade vibratória em que a base de um diapasão é colocado sobre uma protuberância óssea, sendo necessária a aplicação aleatória de estímulos vibratórios e nãovibratórios. Pode ser usado nesse teste um protetor auricular para reduzir as pistas auditivas provenientes do diapasão. Solicita-se assim, que o paciente responda se o estímulo é vibratório ou não (O´Sullivan & Schmitz, 2003). Vale ressaltar que os pontos avaliados serão aqueles relatados como deficientes na anamnese. A avaliação da coordenação motora fina é realizada questionando o paciente sobre sua capacidade de segurar o lápis, escrever ou pintar, pegar objetos pequenos e delicados, como grão de feijão, peças de montar, sendo todos os movimentos ligados ao movimento de pinça. O paciente com NPIQ pura parece apresenta déficit no movimento de pinça devido à alteração da força muscular e da sensibilidade e não por comprometimento do sistema nervoso central. O último item da avaliação é a avaliação da marcha, que pode ser realizada sob dois aspectos: a avaliação cinemática e a cinética. Na avaliação cinemática busca-se descrever os padrões de movimento, sem considerar as forças envolvidas. O contrário ocorre na avaliação cinética em que o objetivo é determinar as forças envolvidas na produção dos movimentos. Para a realização de ambas, diversos equipamentos e métodos podem ser empregados (O´Sullivan & Schmitz, 2003). No setor de fisioterapia do Centro Infantil Boldrini, até o momento é realizada apenas a avaliação cinemática da marcha por meio da análise observatória. Para que isso seja possível o fisioterapeuta deve conhecer o padrão de marcha normal e a partir desse analisar as alterações da marcha. No momento em que tocamos o calcâneo de um dos membros inferiores e com a progressão do andar novamente realizamos o toque do mesmo calcâneo, estamos realizando um ciclo da marcha. Um ciclo de marcha (Figura 14) é composto por duas fases: a fase de apoio e a 54 fase de balanço. A fase de apoio consiste no momento em que o pé está em contato com o solo e ocupa aproximadamente 60% do ciclo da marcha numa velocidade de marcha normal, já a fase de balanço é o período em que o pé está elevado para o avanço do membro correspondendo a aproximadamente 40% do ciclo da marcha em velocidade normal (Smith, 1997). A fase de apoio divide-se em três subfases, que são: contato inicial, resposta à carga e apoio simples que é dividido em apoio médio e o apoio terminal (Perry, 2005). Figura 14 - Fases da marcha. Fonte: Smith et al., 1997 – Adaptada. A fase de balanço também se subdivide. As subfases são: pré-balanço, balanço inicial, balanço médio e balanço terminal (Perry, 2005). Dentro das duas fases da marcha existem alguns aspectos que precisam ser considerados na avaliação. Esses aspectos são descritos na marcha normal, da seguinte forma de acordo com Magee (2005): 55 • Largura da base: compreende a distância entre os dois pés sendo normalmente entre 5-10 cm. Na NPIQ essa distância pode estar aumentada devido a perda da sensibilidade. • Comprimento do passo: é a distância entre dois pontos de contato sucessivos em pés opostos, esse deve ser igual para ambos os membros. O comprimento do passo pode variar de acordo com a idade, sexo e com a altura do indivíduo, além da dor, fadiga e algumas doenças poderem diminuí-lo. Quando o comprimento do passo é normal bilateralmente o ritmo da marcha é regular. • Comprimento da passada: é a distância linear entre o momento do contato inicial de um membro inferior até que esse mesmo membro toque novamente o solo, sendo que, os mesmos fatores que podem diminuir o comprimento do passo podem alterar o comprimento da passada. • Inclinação lateral da pelve: consiste no movimento de lado a lado da pelve durante a marcha, esse movimento tem como objetivo centralizar o peso do corpo sobre o membro inferior de apoio para o equilíbrio. Esse desvio aumenta quando os pés encontram–se mais afastados. • Inclinação vertical da pelve: permite que o centro de gravidade se mova mais de 5 cm para baixo e para cima sendo que, o maior desvio no sentido cranial ocorre na fase de apoio médio e no sentido caudal na fase de contato inicial. Na fase de balanço a pelve fica mais baixa ipsilateral ao membro em balanço o que solicita uma flexão de joelho e uma dorsiflexão do pé para retirar os pododáctilos do solo, isso diminui o comprimento da extremidade na subfase de apoio médio e reduz a elevação do centro de gravidade. 56 • Rotação da pelve: para reduzir o ângulo entre o fêmur e o solo o que resulta num alongamento do fêmur. A rotação diminui a amplitude de movimento em relação ao trajeto percorrido pelo centro de gravidade reduzindo assim sua descida. Simultaneamente a rotação da pelve, o tórax roda, porém, num sentido contralateral ao da pelve o que produz forças de contra-rotação que ajudam a regular a velocidade da marcha. Durante a marcha os deslocamentos verticais e horizontais do centro de gravidade descrevem a figura de um oito no interior da pelve. • Cadência da marcha: deve ser avaliada, sendo que na presença de uma patologia ou deformidade o padrão de sustentação de peso pode ser alterado. Portanto, para a avaliação da marcha, o paciente deve ser observado sem sapatos ou meias nos planos frontal e sagital e todos os aspectos acima devem ser considerados (Figura 15). No plano frontal deve ser observada a inclinação lateral da pelve e do tronco, rotação da pelve no plano horizontal, rotação de tronco e da extremidade superior oposta à pelve, além do balanço recíproco dos membros superiores. Nesse plano deve-se considerar a presença de arqueamento do fêmur ou da tíbia, rotação interna ou externa no quadril, no fêmur ou na tíbia e a posição dos pés ao longo do ciclo da marcha (Magee, 2005). No plano sagital deve-se analisar a rotação do ombro e do tórax durante o ciclo da marcha, além do balanço dos membros superiores, a postura da coluna vertebral, a rotação pélvica e os movimentos articulares dos membros inferiores. O comprimento do passo, passada e cadência devem ser avaliados nesse plano. A presença de hiperextensão do joelho em qualquer fase da marcha deve ser destacada. Por fim, deve-se considerar a coordenação do movimento 57 entre quadril, joelho e tornozelo, comprimento e duração uniforme ou desigual da marcha (Magee, 2005). Figura 15 - Componentes da marcha nos planos sagital, frontal e transversal. Fonte: Smith et al., 1997. Ainda em relação à marcha, para que essa se apresente normal é necessária uma interação sincronizada de diversos grupos musculares, tais como, o grupo pré-tibial, flexores plantares, extensores de joelho, flexores de joelho, flexores de quadril, abdutores de quadril e adutores de quadril. Uma vez que o fisioterapeuta apresente o conhecimento da marcha normal, está apto a realizar a avaliação da marcha e detectar assim as possíveis causas das alterações apresentadas nas marchas patológicas. 58 Os pacientes acometidos pela neuropatia periférica, independente de sua etiologia, apresentam a marcha característica de acordo com o grau de comprometimento periférico. Essa marcha é conhecida como marcha escavante ou do pé caído, a qual apresenta como principal déficit a paralisia ou fraqueza dos músculos dorsiflexores, resultando no pé caído. Como forma de compensação o paciente eleva o joelho de forma mais expressiva que o normal com o intuito de não arrastar os pododáctilos pelo chão. No contato inicial o pé bate contra o chão devido a perda do controle dos músculos dorsiflexores (Magee, 2005). Outra descrição da marcha que também pode ser aplicada é a marcha eqüina ou de passos altos (Figuras 16 e 17). Esse tipo de marcha é causado pela paralisia ou déficit de força dos músculos tibiais e fibulares, resultando em incapacidade de dorsifletir e everter o pé. Os passos são regulares e iguais, mas o pé pende anteriormente em movimento, com os dedos apontando para o solo, existindo assim, uma semelhança superficial com a marcha tabética e na polineuropatia grave, podendo existir uma combinação dos aspectos da marcha e da ataxia sensorial. A queda do pé pode ser unilateral ou bilateral. Estes pacientes não apresentam uma percepção de desequilíbrio e na maioria das vezes, podem apresentar quedas ao tropeçar em bordas de tapetes e no meio fio. Por causa da dor incômoda provocada pela estimulação tátil do pé, o paciente realiza a marcha de forma oscilante, como se andasse em areia quente, buscando limitar o contato dos pés com suas porções mais dolorosas rodando-os (Adams, 1998). 59 Figura 16 - Marcha eqüina – fase de balanço terminal. Figura 17 - Marcha eqüina- fase de apoio inicial. Fonte: http://escuela.med.puc.cl/paginas/Cursos/ter ceiro/IntegradoTercero/ApSemiologia/Fotos /0112.jpg. Fonte: http://escuela.med.puc.cl/paginas/Cursos/ter ceiro/IntegradoTercero/ApSemiologia/Fotos/ 0113.jpg. 2.7.2 Tratamento fisioterapêutico O programa de tratamento fisioterapêutico é estabelecido com base nos achados da avaliação fisioterapêutica. Sendo assim, quando a avaliação é realizada de forma detalhada e precisa, o fisioterapeuta está apto a elaborar o programa de tratamento por meio dos diversos recursos cinesioterapêuticos manuais e mecânicos e dos recursos eletrotermofototerapêuticos. No caso da NPIQ alguns cuidados devem ser tomados, uma vez que os pacientes possuem como doença de base neoplasia maligna que por si só apresenta diversas contra-indicações em termos de recursos fisioterapêuticos, utilizados em outros pacientes sem qualquer restrição, além das peculiaridades do tratamento quimio e radioterápico que também devem ser respeitadas. A seguir serão descritos alguns recursos e técnicas que são utilizadas no Centro Infantil Boldrini nos casos de NPIQ. 60 A cinesioterapia pode ser realizada de diversas maneiras, dentre elas, exercícios passivos, ativo-assistidos, ativo-livres e ativo-resistidos, alongamentos em suas diversas formas, além de técnicas específicas como a facilitação neuromuscular proprioceptiva (PNF), entre outras. Os exercícios devem ser realizados em todas as posturas, seguindo o desenvolvimento neuropsicomotor normal. Os exercícios passivos, ativo-assistidos, ativo-livres e ativo-resistidos e os alongamentos serão descritos segundo Kisner & Colby (2004). O exercício passivo consiste na realização do movimento dentro da ADM livre para cada segmento. Esse movimento deve ser produzido inteiramente por uma força externa, não existindo contração muscular voluntária. Como indicações estão os pacientes com NPIQ com comprometimento muscular e nervoso periférico muito extenso, estando impossibilitados de realizar o movimento de forma voluntária. O objetivo consiste na manutenção da integridade articular e/ou do tecido mole, além da prevenção de encurtamentos musculares e retrações. O exercício ativo-livre é aquele em que o movimento é realizado dentro da ADM livre para um segmento, sendo produzido por uma contração ativa dos músculos responsáveis pela movimentação do respectivo membro. Apresenta como objetivos manter a elasticidade e a contratilidade fisiológica dos músculos envolvidos, promover feedback sensorial dos músculos em contração, aumentar a circulação sanguínea e desenvolver coordenação e habilidades motoras para atividades funcionais, sendo indicado aos pacientes que apresentam força muscular grau 2 para 3. O exercício ativo-assistido consiste na realização da ADM ativa, porém, com auxílio de uma força externa, devido à insuficiência dos músculos responsáveis pela movimentação do segmento em questão, necessitando de um auxílio para que a ADM livre do segmento seja completada. Esse exercício apresenta como objetivo o aumento progressivo da força muscular e a 61 manutenção da ADM livre do segmento, sendo indicado aos pacientes que apresentam força muscular grau 1 e 2. O exercício resistido é uma forma de exercício ativo em que é aplicada uma força externa mediante uma contração dinâmica ou estática. Essa força externa pode ser aplicada manualmente ou mecanicamente. O exercício com resistência manual é aquele em que a resistência é aplicada pelo terapeuta, sendo útil no período inicial do programa de exercício quando o músculo a ser fortalecido está fraco e é capaz de vencer apenas uma resistência fraca ou moderada. É também útil quando a amplitude articular de movimento precisa ser controlada. O exercício com resistência mecânica consiste na aplicação de resistência por meio de equipamentos ou aparelhos mecânicos, possibilitando a mensuração quantitativa da resistência. Esses exercícios têm como objetivos aumentar a força, a resistência muscular a fadiga e a potência muscular. O exercício ativo-resistido, especificamente, é contra-indicado nos casos de dor e inflamação muscular e/ou articular. Os exercícios ativo-resistidos podem ser aplicados para contrações musculares dinâmicas ou estáticas. Podendo ser executados isotonicamente - por meio de contrações musculares concêntricas ou excêntricas -, isocineticamente e isométricamente. Os exercícios isotônicos consistem numa forma dinâmica de exercício em que o movimento é executado contra uma resistência à medida que o músculo se alonga ou encurta na amplitude de movimento existente. Os exercícios isotônicos podem ser realizados de forma concêntrica – quando o músculo encurta ao longo da ADM – ou de forma excêntrica quando o músculo se alonga. Esses exercícios podem ser realizados em cadeia cinética aberta ou em cadeia cinética fechada. Em cadeia cinética aberta o exercício é realizado de forma que o segmento distal mova- 62 se livremente no espaço. O oposto ocorre com o exercício em cadeia cinética fechada em que o corpo se move sobre um segmento distal fixo. Os exercícios em cadeia cinética aberta podem produzir uma contração muscular concêntrica ou excêntrica. Já os exercícios em cadeia cinética fechada podem produzir uma contração muscular concêntrica, excêntrica ou isométrica e resultam em melhora da força, potência e resistência muscular a fadiga, além de melhorar a estabilidade, equilíbrio, coordenação e agilidade nas posturas funcionais de apoio de peso (andar, subir escadas). O exercício resistido isocinético é o exercício dinâmico em que a velocidade de encurtamento ou alongamento do músculo é controlada por um dispositivo limitador que controla a velocidade de movimento de uma parte do corpo, sendo o movimento realizado em uma velocidade constante. Esse tipo de exercício permite o aumento da força, potência e resistência muscular à fadiga. Por fim, no exercício isométrico o músculo se contrai sem uma mudança apreciável no comprimento do músculo ou sem movimento articular visível. Uma grande quantidade de tensão e força são produzidas pelos músculos nessa modalidade de exercício que podem ser realizados por meio de contrações musculares rápidas, exercícios isométricos resistidos e exercícios de estabilização. Um exercício que obrigatoriamente compreende os programas fisioterapêuticos é o alongamento. Este pode ser realizado de diversas maneiras conforme descrição a seguir. O alongamento, como definição, consiste de qualquer manobra terapêutica realizada para aumentar o comprimento de estruturas de tecidos moles patologicamente encurtadas com o objetivo de aumentar a ADM. Dessa forma, o alongamento pode ser feito de forma variada. Uma das formas é o alongamento passivo no qual o paciente deve estar relaxado enquanto uma força externa é aplicada manualmente ou mecanicamente buscando alongar os 63 tecidos encurtados. Pode ser realizado ainda o auto-alongamento no qual o próprio paciente alonga de forma passiva o músculo retraído, o que possibilita a manutenção desse alongamento em seu domicílio. Outra forma é a inibição ativa na qual o paciente participa da manobra de alongamento para inibir o tônus em um músculo retraído, relaxando reflexamente o músculo a ser alongado antes da manobra em si. Esse alongamento é possível somente em músculos com a inervação íntegra e sob controle voluntário, não sendo usado em pacientes com fraqueza muscular intensa, espasticidade ou paralisias devido à disfunção neuromuscular. A inibição ativa pode ser realizada por meio de diversas técnicas como: (1) Sustentar-relaxar; (2) Contrair-relaxar; (3) Sustentar-relaxar com contração do agonista; (4) Contração do agonista. Essas técnicas podem ser utilizadas em associação com a PNF que será discutida mais adiante. 1. Sustentar-relaxar (Figura 18): o paciente realiza uma contração isométrica no final da amplitude do músculo retraído antes que ele seja passivamente alongado. Esse método baseia-se na inibição autogênica na qual a contração do músculo préalongamento pode ativar os órgãos tendinosos de Golgi (OTG) fazendo com que eles inibam a tensão do músculo permitindo o alongamento com maior facilidade. 2. Contrair-relaxar: é uma variação da técnica sustentar-relaxar. Nessa variação o músculo alongado passivamente é solicitado a realizar uma contração concêntrica contra resistência antes de ser novamente alongado. 3. Sustentar-relaxar com contração do agonista: é realizada uma contração isométrica de pré-alongamento do músculo retraído e relaxamento desse seguido da contração concêntrica do músculo oposto ao retraído. Nessa técnica existe a associação da inibição autogênica com a inibição recíproca, uma vez que a 64 medida que o músculo agonista ao músculo retraído se encurta ocorre o alongamento do músculo retraído. 4. Contração do agonista: o termo agonista refere-se ao músculo oposto ao retraído, sendo o músculo retraído considerado o antagonista. Dessa forma é realizada a contração do agonista contra uma resistência o que provoca uma inibição recíproca do músculo retraído. Figura 18 - Alongamento de isquiotibiais com inibição ativa (sustentar-relaxar). Fonte: http://treino.desnivel.pt/gif.pnf.gif. Outra técnica fisioterapêutica que pode ser usada, a PNF (Figuras 19 e 20), é uma técnica de estimulação sensorial que implica na utilização combinada de alongamento rápido, resistência e comandos verbais, que podem levar a resposta motora desejada. A tração e o alongamento são utilizados na PNF para dar início aos padrões flexores, ou movimentos de tracionamento, os padrões extensores, ou movimentos de empurrar são iniciados com o auxílio da aproximação e do alongamento. A tração e a aproximação melhoram a percepção articular o que pode promover o controle motor (O´ Sullivan & Schmitz, 2003). O enfoque da PNF é positivo, reforçando e utilizando o que o paciente pode fazer tanto em nível físico como psicológico, sendo o objetivo principal facilitar o paciente de forma 65 que ele alcance seu nível funcional mais alto, por meio de uma abordagem global (Adler et al., 2007). De forma geral a PNF tem como objetivos aumentar a habilidade do paciente moverse e permanecer estável, guiar os movimentos por meio de contatos manuais e resistência adequada, ajudar na obtenção da coordenação motora e no sincronismo, aumentar a histamina do paciente e evitar a fadiga. Esses objetivos são atingidos por meio de procedimentos básicos como: resistência, irradiação e reforço, contato manual, comando verbal, visão, tração e aproximação, estiramento, sincronização dos movimentos e padrões de facilitação (Adler et al., 2007). A aplicação da PNF pode ser feita por meio de algumas técnicas como iniciação rítmica, combinação de isotonias, reversão de antagonistas (reversão dinâmica de antagonistas, reversão de estabilizações, estabilização rítmica), estiramento repetido (no início da amplitude e através da amplitude), contrair-relaxar e sustentar-relaxar (Adler et al., 2007). Figura 19 - PNF de membro superior. Figura 20 - PNF de membro inferior. Fonte: http://www.gosites.com.br/igf/fotos_ser viços/metodo-Kabat.jpg. Fonte: http://www.athleticadvisor.com/imagens/ LE_stretch/str_ham_PNF.jpg. 66 Para a reabilitação do sistema sensorial algumas técnicas são descritas, como o toque leve que pode ser realizado com a própria mão do terapeuta, a passagem rápida de um cubo de gelo, pincel de cerdas finas ou ainda de algodão. Outra técnica que pode ser utilizada é o escovamento repetido com uma escova, sobre a região dermálgica de um determinado músculo visando à facilitação da resposta motora. Essas técnicas devem ser aplicadas nas regiões que apresentam déficit sensorial. Materiais de diferentes texturas e temperaturas devem ser utilizados respeitando sempre o sentido da estimulação que deve ser de distal para proximal. A pressão utilizada também deve ser variada para que todos os receptores sensoriais sejam estimulados. A coordenação motora fina deve ser estimulada quando se apresentar alterada na avaliação. O ideal é a associação da fisioterapia com a terapia ocupacional. Sendo assim, a reabilitação da coordenação motora fina é realizada estimulando principalmente a movimentação de pinça. A criança/adolescente é estimulada a pintar desenhos com traços leves alternados com traços firmes, rasgar papel com os dedos, escolher feijão, manusear objetos pequenos e delicados que exijam destreza manual. Todos os exercícios descritos por Kisner & Colby (2004) e as técnicas de PNF trabalham não somente força, resistência e potência muscular, como também manutenção do comprimento muscular e dos tecidos moles além de estimular a propriocepção por meio da aplicação da resistência, do alongamento, da tração e do estímulo a movimentação nos mais diversos planos de movimento. A propriocepção também pode ser estimulada na postura em pé entre as barras paralelas, orientando o paciente a inicialmente realizar deslocamento de peso látero-lateral e ântero-posterior com os pés descalços sobre diferentes superfícies (almofadas e espumas de densidades diferentes, tapetes com cerdas macias e mais ásperas e o deambular sobre o chão diretamente). Entretanto, deve ser tomado cuidado especial com os pacientes que se encontram 67 neutropênicos, ao serem trabalhados descalços sobre superfícies que possam oferecer risco de lesão cutânea e possível infecção. Associado ao treino proprioceptivo em pé deve ser realizado também o treino de equilíbrio entre as barras paralelas sobre prancha e/ou disco de equilíbrio, mini-balança e minicama elástica (Figuras 21, 22, 23, 24). Esse treino pode ser progredido com o fechamento dos olhos. Um treino mais ativo e mais lúdico de equilíbrio é o arremesso de bola com as mãos entre o terapeuta e o paciente, sendo progressivo quando realizado com o paciente sobre os equipamentos já citados. Figura 21 - Prancha de equilíbrio. Figura 22 - Disco de equilíbrio. Fonte: http://www.fisioterapiaonline.com.br/ima ges/Prancha%20%2oequilibrio3.jpg. Fonte: http://www.casadofisioterapeuta.com.br. Figura 23 - Balança de equilíbrio. Figura 24 - Mini-cama elástica. Fonte: http://www.fisiomed.com.br. Fonte: http://www.fisiomed.com.br. 68 O treino de marcha deve ser realizado todo final de terapia. Inicialmente, o treino pode ser feito entre as barras paralelas com o paciente em frente a um espelho. O terapeuta pode inicialmente fazer as correções verbalmente e solicitar que o paciente se observe ao deambular. O fisioterapeuta pode também se concentrar em uma fase especifica da marcha, permanecendo um maior tempo na correção verbal, como através do toque, para depois retomar a marcha como um todo. Outro aspecto da marcha que pode ser trabalhado de forma segmentada na postura ortostática estática é a dissociação de cinturas, que pode ser realizada com auxílio de bastão ou ainda de bola. Posteriormente pode ser trabalhado durante a marcha. Para o treino da dorsiflexão e do aumento da flexão de joelho na fase de balanço como um todo, podem ser usados obstáculos e circuitos. Os circuitos podem ser montados exigindo que o paciente deambule em superfícies de diferentes texturas e densidades, suba e desça escadas e rampas e realize movimentos de zigue-zague, realizando assim um treino combinado de propriocepção, equilíbrio e marcha. Na progressão pode-se trabalhar também com a velocidade da marcha, alternando o tempo de realização do circuito. Esse treino prepara o paciente para a vida cotidiana, uma vez que somos constantemente desafiados a ultrapassar obstáculos durante a marcha. Quando necessário deve ser indicado e treinado o uso de dispositivos auxiliares de marcha. Outro meio auxiliar de tratamento fisioterapêutico são os recursos eletrotermofoterapêuticos. Esses recursos utilizam o calor e as ondas eletromagnéticas para obtenção do resultado terapêutico. Na neuropatia periférica o recurso físico que pode ser utilizado é Estimulação Elétrica Neuromuscular (NMES) com os objetivos de aumentar a força e a resistência muscular, melhorar o recrutamento motor, melhorar a função metabólica muscular e a modular a dor. 69 As NMES são correntes elétricas capazes de estimular nervos e músculos. Essas correntes podem ser de baixa freqüência (10 a 1.000 Hz), média ou alta freqüência (1.000 a 10.000 Hz). Dentre as correntes de baixa freqüência estão as correntes Farádica, FES (Estimulação Elétrica Funcional) e o TENS e as correntes de média ou alta freqüência são representadas pela corrente Interferencial e Russa (Low & Reed, 2001). As correntes Farádica, FES, Interferencial (2.000 Hz) e Russa são utilizadas com os seguintes objetivos: aumentar a força e a resistência muscular, melhorar o recrutamento motor e melhorar a função metabólica muscular (Low & Reed, 2001). No Centro Infantil Boldrini é utilizada a corrente Russa como auxiliar no tratamento da NPIQ, principalmente nos grupos musculares dorsiflexores de tornozelo e extensores de punho e dedos associado a movimentação ativa, quando possível. Essa corrente é indicada quando esses grupos musculares apresentam fraqueza importante (geralmente igual ou menor que 3 na graduação manual de força muscular). Porém, deve ser tomado o devido cuidado quando o paciente não apresentar sensibilidade preservada na região onde a corrente será aplicada, uma vez que é utilizada a resposta do paciente para dosar a intensidade da corrente que será ofertada. A corrente Russa é caracterizada por ser despolarizada, apresentar simetria de pulso e ter 2.500 Hz de freqüência (Low & Reed, 2001). Sua aplicação é feita através de eletrodos de silicone carbono interpostos por gel hidrossolúvel, ou ainda por eletrodos auto-adesivos, dispostos no ventre muscular. Já o TENS e a Interferencial (4.000 Hz) são correntes utilizadas para a modulação da dor, sendo o TENS utilizado no Centro Infantil Boldrini. A estimulação ofertada pelo TENS ocorre em nível sensorial, sendo acima ou no limiar sensorial e, abaixo do limiar motor (SnyderMackler, 2001). A modulação da dor pelo TENS ocorre por meio de vários mecanismos, tais como: a inibição pré-sináptica do corno dorsal na medula espinal (teoria da comporta); pela 70 liberação endógena de endorfinas, encefalinas e dinorfinas; pela inibição direta da excitação anormal do nervo e pela restauração do impulso aferente (Kaye, 2005). A duração de pulso possui uma variação entre 10 e 400 microssegundos e a freqüência de 2 a 200 Hertz (Low & Reed, 2001). Existindo, portanto, o TENS de alta freqüência (>50 Hz) e o TENS de baixa freqüência (<10 Hz). O TENS de alta freqüência inibe a dor através da teoria da comporta descrita por Melzack e Wall, em 1965, que consiste no bloqueio da transmissão do estímulo nociceptivo por meio de um estímulo não doloroso (Melzack & Wall apud Starkey, 2001). Já o TENS de baixa freqüência, inibe a dor através de liberação endógena de endorfinas, encefalinas e dinorfinas (Low & Reed, 2001; Kaye, 2005). Assim como descrito no uso da corrente Russa, a aplicação do TENS ocorre por meio de eletrodos de silicone carbono interpostos por gel ou eletrodos auto-adesivos dispostos de forma que a região de dor permaneça entre os eletrodos quando for aplicado o TENS de alta freqüência, ou ainda com um canal de eletrodos dispostos no ponto de dor e um canal na emergência da raiz nervosa referente ao dermátomo responsável pela região dermálgica de dor no uso do TENS de baixa freqüência. Porém cabe ressaltar, que a aplicação do TENS está contraindicada quando o paciente não apresenta a sensibilidade preservada uma vez que a estimulação do TENS é em nível sensorial e através da experiência clínica foi verificado que quando a dor neuropática é muito intensa, os pacientes não suportam o estímulo sensorial provocado pela corrente, sendo prudente aguardar pelo menos o início do efeito analgésico dos medicamentos, para assim inicial a aplicação do TENS. Outros recursos como ultrasom terapêutico, laserterapia de baixa intensidade e a diatermia por ondas curtas são comumente indicados como recursos analgésicos, entretanto, são contra-indicados no tratamento de pacientes com câncer uma vez que esses recursos apresentam 71 potencial estímulo a mitose celular e aumento da taxa metabólica dos tecidos causada pelo calor (Low & Reed, 2001). A reabilitação de todo paciente tem como principal objetivo final à obtenção da independência funcional na realização de suas AVDs. Dessa forma, o programa de tratamento deve ser totalmente voltado a aquisição de habilidades que facilitem sua vida cotidiana. Sendo assim, o fisioterapeuta deve ter a sensibilidade de questionar e treinar a atividade funcional que o paciente apresente dificuldade buscando a melhor aquisição motora e realizando adaptações quando possível e necessário. Nesse sentido a terapia compreende uma parceria na qual a plena reabilitação só ocorre quando o terapeuta e paciente estão dispostos a desenvolver de forma integral suas funções. Dessa forma, a terapia se estende além do período em que o paciente está na clínica de fisioterapia ao lado do fisioterapeuta, mas envolve todo um comprometimento e treino diário, realizando todas as orientações feitas pelo fisioterapeuta em seu domicílio. Os pacientes com neuropatia periférica são orientados a deambular em terrenos de diferentes texturas como areia e grama de preferência sem calçado, atentando-se ao período de neutropenia, em que esse treino não deve ser realizado. Alguns exercícios simples também podem ser realizados em casa após seu treinamento na clínica. O estímulo sensorial também pode ser feito em casa com objetos de diferentes texturas e temperatura, tendo o fisioterapeuta o devido cuidado para que o cuidador e/ou o paciente estejam devidamente orientados. O treino de coordenação motora fina também deve ser realizado em casa através da pintura de desenhos e brinquedos pedagógicos. Os cuidadores devem estar cientes que ao contrário do que se pensa o repouso não é a melhor forma de cuidado. O paciente deve ser estimulado a realizar o maior número de atividades de forma independente para que seu melhor desempenho motor seja adquirido. 72 Quando a NPIQ é muito intensa e o paciente não apresenta sensibilidade periférica presente, esse e/ou seu cuidador devem ser orientados a inspecionar o membro em questão, por exemplo, os pés, diariamente em busca de ferimentos, para que sejam tomadas as devidas providências, os sapatos também devem ser inspecionados quanto ao seu tamanho, ou se existe algo dentro dele (por exemplo, pedra) que possa lesionar o pé do paciente. Devem ser evitadas temperaturas extremas (muito quente, ou muito frio), os pés devem ser constantemente hidratados e protegidos com meias no inverno. Chinelos devem ser evitados pelo risco de lesão e ainda pelo risco de quedas devido a dificuldade de realização da dorsiflexão na fase de balanço. Para os pacientes que apresentam insuficiência importante dos dorsiflexores de tornozelo, deve ser indicada uma órtese para posicionamento, o AFO (Ankle-foot Orthosis) (Figura 25), que apresenta um componente rígido de tornozelo, mantendo a articulação tíbiotársica a 90° de flexão, ou seja, posição neutra de tornozelo, evitando retrações e encurtamentos que favorecem o pé eqüino e auxiliando na marcha, evitando que os dedos se arrastem pelo chão. Quando os músculos da extremidade superior são extremamente acometidos, deve-se orientar também a aquisição de órtese para posicionamento de punho e dedos (Figura 26). Figura 25 – AFO – Ankle-foot Orthosis. Figura 26 - Órtese para membros superiores. Fonte: http://www.twincityop.com/sitebuildercon tent/sitebuilderpictures/AFO_Family.jpg. Fonte: http://ortolexortese.zip.net/images/orteses_es taticas.jpg. 73 De forma geral, no Centro Infantil Boldrini são contra-indicadas terapias com animais e hidroterapia durante os primeiros seis meses após o término do tratamento devido à alteração do sistema imunológico provocado pela quimioterapia, o que faz com que seja necessário um período de seis meses para sua reestruturação. 74 3. Conclusão 75 Foi possível verificar por meio desse levantamento da literatura a existência de diversas pesquisas descrevendo a interação da VCR com o dano ao sistema nervoso periférico, havendo descrição clara do diagnóstico e dos sinais e sintomas da NPIQ. Entretanto, em relação à reabilitação, foi encontrado apenas um estudo relatando alguns casos de NPIQ em adultos que foram reabilitados por meio da acupuntura. Diante da literatura escassa sobre reabilitação em NPIQ e praticamente inexistente na área pediátrica foi detectada a necessidade da realização do presente estudo e principalmente a descrição do programa de fisioterapia realizado no Centro Infantil Boldrini, como incentivador de futuros trabalhos na área. Dessa forma, fica clara a necessidade de realização de mais pesquisas especificamente voltadas à reabilitação do paciente acometido pela NPIQ, realizando um cuidadoso controle da avaliação imediatamente precedente ao início do programa fisioterapêutico e após a realização do mesmo. 76 4. Referências Bibliográficas Adams RD. Neurologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Mcgraw Hill; 1998. Adler AS, Beckers D, Buck M. PNF Facilitação neuromuscular proprioceptiva – Um guia ilustrado. 2 ed. São Paulo: Manole; 2007. 401p. Almeida VL. Protocolo de avaliação clínica. In: Cipriano, JJ. Manual fotográfico de testes ortopédicos e neurológicos. 4 ed Barueri: Manole; 2005. p. 1-14. Anelli A. 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