IMPLEMENTAÇÃO DE UMA REDE SMART GRID - SOLUÇÃO DE COMUNICAÇÃO E ROTEAMENTO Ricardo Rodrigues de Araújo1, Juliana Duarte Ferreira2, Júlio César Mendes3, Pedro Klécius Cardoso4 1,4 IFCE - Fortaleza - CE, 2,3 CEMAR - São Luis - MA [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] Resumo - A necessidade do uso racional de energia elétrica fomentou o desenvolvimento do conceito de Smart Grid, no qual a rede elétrica passa a ser monitorada e controlada em toda sua extensão. Uma rede Smart Grid pressupõe a existência de vários nós distribuídos e dotados de inteligência para a aquisição de dados e com capacidade para realizar comunicação bidirecional com os demais elementos da rede. Este trabalho aborda uma solução de comunicação para Smart Grid implementada na rede elétrica da Companhia Energética do Maranhão. Foram utilizadas as tecnologias RF e PLC para estabelecer comunicação entre os nós. Foi desenvolvido um novo protocolo (SGR - Smart Grid Routing) de roteamento adaptado às peculiaridades dessa rede. Os resultados obtidos na rede implementada mostram a viabilidade da solução proposta. Palavras-Chave – Protocolo de Roteamento, Redes Mesh Sistemas de Medição Eletrônica, Smart Grid. IMPLEMENTING A SMART GRID NETWORK – A ROUTING AND COMMUNICATION SOLUTION Abstract – The need for rational use of electricity fostered the development of the concept of Smart Grid, in which the grid is monitored and controlled throughout its length. A Smart Grid assumes the existence of multiple nodes distributed over the grid for data acquisition and ability to perform bidirectional communication with other network elements. This paper presents a communication solution for Smart Grid deployed in the grid of Companhia Energética do Maranhão. We used RF and PLC technologies to communicate between nodes. We developed a new routing protocol (SGR Smart Grid Routing) adapted to the peculiarities of this network. The results obtained in the network implemented demonstrate the feasibility of the proposed solution. 1 Keywords – Electronic Metering Systems, Mesh Networks, Routing Protocol, Smart Grid. 1 Nota de rodapé na página inicial será utilizada apenas pelo editor para indicar o andamento do processo de revisão. Não suprima esta nota de rodapé quando editar seu artigo. I. INTRODUÇÃO O modelo de distribuição de energia usado na maior parte do mundo precisa evoluir para um paradigma mais eficiente. A necessidade do uso mais racional da energia e dos recursos fomenta o desenvolvimento de novos modelos de distribuição. Por isto, há uma tendência mundial para desenvolver uma rede inteligente de energia que permita não só a produção distribuída de energia, como também a comunicação bidirecional de vários elementos medidores espalhados por toda a rede, permitindo um maior controle sobre a qualidade da energia fornecida, perdas técnicas e comerciais e outros parâmetros importantes [1]. O Smart Grid, como é chamado este conceito de rede elétrica, pode trazer diversas melhorias para toda a cadeia de produção, distribuição e consumo de energia elétrica [2],[3]. Uma rede Smart Grid pressupõe a existência de vários nós distribuídos e dotados de inteligência para a aquisição de dados e com capacidade para realizar comunicação bidirecional com os demais elementos da rede. Portanto, a existência de uma estrutura de comunicação de dados é fundamental para a implantação de uma Smart Grid [4]. Diversas tecnologias podem dar suporte à implantação desta rede de comunicação tais como: GPRS (General Packet Radio Service), PLC (Power Line Communication), rádio enlace, meios confinados, entre outras [5], [6]. A escolha da solução de comunicação a ser adotada depende, dentre outras coisas, da disponibilidade de infraestrutura necessária para cada tecnologia, densidade e distância entre nós, etc. De fato, soluções adotadas em grandes centros urbanos não têm, necessariamente, seus resultados aplicáveis a cidades de menor porte, sobretudo aquelas situadas na zona rural. É neste tipo de cenário que o custo de implantação de um Smart Grid pode ser maior devido à falta de uma infraestrutura adequada. No entanto, também é neste cenário que a redução dos custos operacionais devido ao uso de Smart Grid pode ser mais significativa. Um ambiente rural apresenta algumas particularidades que impactam sobre a escolha das tecnologias de comunicação aplicáveis. De uma maneira geral, a infraestrutura de comunicação de dados através da tecnologia GPRS é deficiente em pequenas cidades. Outra característica do meio rural é a densidade e a distribuição espacial das unidades consumidoras. É comum a existência de pequenas comunidades rurais que distam alguns quilômetros de suas comunidades vizinhas. Ou seja, alguns ambientes rurais são caracterizados por grandes vazios populacionais e algumas ilhas de usuários da rede de energia elétrica agrupados em pequenos povoados. Nesta situação, dificilmente encontra-se alguma infraestrutura de comunicação de dados, o que obriga a implantação de uma solução para dar suporte à instalação de uma rede Smart Grid. Dentre as tecnologias disponíveis, pode-se dividir em dois grupos: transmissão em meio confinado e transmissão por rádio enlace. No caso de transmissão por meio confinado, a tecnologia disponível seria o PLC que usaria a própria rede de distribuição de energia elétrica como suporte de transmissão. Para a comunicação à longa distância, seria preciso usar a tecnologia de PLC de média/alta tensão. No entanto, os custos, principalmente devido ao uso de acopladores para redes de média/alta voltagem, são elevados o que torna a tecnologia onerosa. Com relação à transmissão por rádio enlace, há várias tecnologias disponíveis: enlace de microondas, transmissão por satélite, rádios UHF (Ultra High Frequence), sendo esta última a mais interessante do ponto de vista da relação custo/benefício. No que diz respeito à topologia da rede, uma aplicação Smart Grid é caracterizada pela existência de diversos nós colocados em subestações, transformadores de média tensão, unidades consumidoras, os quais enviam e recebem informações de unidades concentradoras de dados. Assim, uma unidade concentradora de dados se comunica com centenas de nós que se espalham geograficamente de acordo com os ramais de distribuição da rede elétrica. Em ambientes rurais, é comum que a rede assuma um formato tentacular, sendo o(s) nó(s) concentrador(es) colocado(s) no centro da rede. Desta forma, a comunicação fim-a-fim ocorre entre nós que distam quilômetros entre si. Para a realização deste tipo de comunicação através de rádio enlace por meio de um único salto, seria necessário o uso de transceptores de alta potência, o que traria alguns inconvenientes, tais como: custo dos equipamentos e poluição do espectro de rádio freqüência. Uma solução para estes problemas seria a implementação de uma rede Ad hoc sem fio com topologia mesh com capacidade de estabelecer uma comunicação fim-a-fim através de múltiplos saltos. Desta maneira é possível a utilização de rádios de menor potência com menor custo e com devida homologação dos órgãos competentes. Tal solução é largamente empregada em redes de sensores sem fio. Este trabalho aborda uma solução de comunicação para uma rede Smart Grid implantada na rede elétrica da CEMAR (Companhia Energética do Maranhão). A solução foi desenvolvida através de um projeto de P&D financiado com recursos do fundo setorial da ANEEL, tendo como parceiros a CEMAR e o IFCE (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará). No projeto é proposto o uso das tecnologias de rádio UHF e PLC de baixa tensão como forma de estabelecer comunicação entre os nós da rede. Foi desenvolvido um protocolo de roteamento automático com capacidade de múltiplos saltos e reconfigurável em caso de quebra de rotas aplicável a uma rede mesh com comunicação via rádio enlace e PLC. O restante do trabalho está organizado da seguinte forma: na sessão II é apresentada a proposta para solucionar o problema de comunicação em ambientes rurais; a descrição do protocolo de roteamento proposto é feita em III; os resultados são discutidos em IV e na sessão V são apresentadas as conclusões do trabalho. II. SOLUÇÃO PROPOSTA As características de uma rede de comunicação para dar suporte a uma aplicação Smart Grid devem ser tais que: permita a inclusão de novos nós de forma fácil e rápida, possua confiabilidade na transmissão de pacotes, proveja robustez necessária para restabelecimento de comunicação em caso de perda de rota por motivos diversos, seja capaz de estabelecer comunicação fim-a-fim entre nós distantes através de múltiplos saltos, produza baixa latência [6]. Do ponto de vista financeiro, o custo dos equipamentos envolvidos deve ser baixo de forma a viabilizar a implantação da rede em larga escala. Neste trabalho, é proposta uma topologia (hierarquia) de rede formada por um servidor central, o qual armazena e processa as informações coletadas na rede, estabelece uma interface com o usuário (concessionária, usuário consumidor, etc.) e gerencia toda a rede. Este servidor envia suas solicitações aos nós concentradores, os quais gerenciam grupos de nós de coleta de dados, aqui chamados de nós terminais. O nó concentrador ao receber as solicitações do servidor central, as encaminha aos nós terminais envolvidos, recebe as respostas destes e, finalmente, as envia ao servidor central. Esta topologia (hierarquia) é mostrada na Figura 1. Numa Smart Grid, a rede de comunicação segue a topologia da malha de distribuição de energia elétrica. Em ambientes rurais, a cidade é servida por uma subestação da qual saem diversos ramais de alimentação em média tensão. A estes ramais, estão ligados transformadores de baixa tensão, os quais alimentam as unidades consumidoras. Os elementos da rede são dispostos juntos aos elementos da malha de distribuição. Assim, o servidor central é localizado na sede da concessionária, os nós concentradores ficam nas subestações e os nós terminais ficam nos transformadores de baixa e nas unidades consumidoras. A comunicação entre os elementos da rede ocorre de formas diferentes de acordo com os requisitos de banda necessários e as tecnologias disponíveis para cada caso. O maior fluxo de dados ocorre entre servidor central e concentradores. Estes elementos estão instalados em locais onde, normalmente, há acesso a internet através de fibra óptica, ADSL (Asymmetric Digital Subscriber Line), GPRS ou outra tecnologia. Logo, a solução de comunicação mais adequada para a interligação destes elementos é através do protocolo TCP/IP sobre um suporte físico ethernet. A comunicação entre nós concentradores e os nós terminais instalados em transformadores deve ser feita através de enlaces de rádio, uma vez que o uso da tecnologia PLC sobre média tensão é oneroso. Já a comunicação entre os concentradores e os terminais instalados nas unidades consumidoras é realizada com a intermediação de um nó terminal instalado em um transformador. Assim, nós terminais em unidades consumidoras se comunicam com o nó terminal no transformador através da tecnologia PLC de baixa tensão. O nó terminal instalado no transformador, aqui chamado de nó terminal misto, se comunica com o concentrador através de um enlace de rádio, podendo haver saltos em nós terminais intermediários caso a distância não permita um enlace direto. Para o correto funcionamento desta topologia, é preciso utilizar um protocolo de roteamento adaptado para uma rede mesh com múltiplos saltos e que atenda as características da rede de comunicação citadas anteriormente. É possível encontrar soluções comerciais de baixo custo para comunicação via rádio com protocolos implementados que atendam as necessidades apontadas, no entanto estas soluções apresentam um inconveniente que impossibilita sua utilização para comunicação a grandes distâncias: baixa potência de transmissão (< 20dBm). Rádios com maior potência (>30dBm) e protocolo implementado demandam um investimento muito elevado. Soluções comerciais que agreguem baixo custo e alta potência implementam protocolos de roteamento ponto-a-ponto, ponto-multiponto, os quais não se adéquam a uma rede mesh. Diante disto, foi proposta a implementação de um protocolo de roteamento com as características apontadas previamente de forma a viabilizar a utilização desses rádios na rede. O protocolo proposto funciona acima da camada MAC (Media Access Control) e possui todas as funcionalidades dos protocolos existentes adicionado de funcionalidades peculiares a esta aplicação Smart Grid. CEMAR SERVIDOR SMART-GRID BANCO DE DADOS ETHERNET /GPRS SUBESTAÇÃO CONCENTRADOR CONCENTRADOR RÁDIO CONCENTRADOR RÁDIO TERMINAIS RÁDIO RÁDIO RÁDIO DISPLAY RÁDIO PLC PLC DISPLAY DISPLAY REDE PLC REDE PLC Fig. 1. Topologia da rede Smart Grid A. Soluções existentes Os protocolos de roteamento em redes Ad hoc sem fio são classificados em duas categorias: pró-ativos e reativos. Em protocolos pró-ativos, os nós da rede mantêm uma tabela de roteamento de tal forma que no momento do envio de uma mensagem para qualquer outro nó da rede, uma rota válida já existe. Para tanto, aplica-se métodos para atualização das rotas. Isto implica num consumo da banda passante para a difusão e atualização das tabelas de rotas. Já em um protocolo reativo, a rota é estabelecida no momento que antecede o envio de uma mensagem. Desta forma, há um atraso inicial para o envio de dados, por outro lado, diminuise o tráfego de mensagens de controle comparativamente aos protocolos pró-ativos, o que os torna mais adequados para redes com um número grande de nós e com elevada mobilidade [7], [8]. Dentre os principais protocolos, destacam-se: O protocolo DSDV (High Dynamic Destination Sequenced Distance Vector Protocol) é um protocolo pró-ativo baseado no algoritmo de roteamento Bellman-Ford, ou seja, utiliza a abordagem vetor de distância; o protocolo DSR (Dynamic Source Routing) que implementa uma busca por rota que visa diminuir o tráfego de pacotes de solicitação pela rede e o protocolo AODV (Ad hoc On demand Distance Vector Protocol), de natureza reativo, este protocolo agrega características dos protocolos DSDV e DSR [7]-[10]. III. PROTOCOLO SGR O protocolo de roteamento para uma rede Smart Grid proposto neste trabalho (Smart Grid Routing) apresenta algumas características que não são previstas nos protocolos mencionados previamente: os nós da rede não possuem mobilidade; não há necessidade que todos os nós possuam uma rota para os demais nós da rede; somente o nó concentrador precisa manter uma tabela contendo os demais nós; um nó terminal precisa de entradas na tabela de rota para o nó concentrador e para nós terminais para os quais ele atue como um nó intermediário na rota; rotas com menor número de saltos devem ser priorizadas como forma de reduzir a latência; rotas permanecem estáticas, sendo modificadas somente em caso de quebra da mesma. Por não haver mobilidade, os protocolos reativos não são adaptados uma vez que a rota não necessita ser atualizada a cada transmissão, podendo manter-se estática até que haja uma interrupção da mesma por pane em um dos nós que a compõe ou falha na comunicação por outros motivos, desvanecimento profundo, por exemplo. Pelo mesmo motivo, é desnecessária a troca frequente de mensagens usadas nos protocolos pró-ativos entre os nós para manter as tabelas atualizadas e funcionais. Neste trabalho, é proposto um protocolo que reúne algumas características de protocolos pró-ativos e reativos de maneira a formar um conjunto de regras que melhor se adaptem às características da solução de comunicação sugerida para a rede Smart Grid. A. Descrição No protocolo proposto, cada terminal introduzido na rede iniciará um processo de descoberta de rotas que consiste no envio em broadcast aos seus vizinhos de um pacote de requisição de rota chamado de Route Request RREQ, o qual possuirá os campos vistos no Quadro I. QUADRO I Campos do pacote RREQ Número de sequência Id. de requisição de rota Endereço da fonte Endereço do destino Números de saltos Lista de endereços Os campos ‘Número de sequência’ e ‘Endereço da fonte’ identificam unicamente um pedido de requisição de rota, a fim de que não haja repetições (loops) desnecessárias e congestionamento na rede. Desta maneira, os nós intermediários só replicarão na rede pacotes de requisição de rotas que não tenham sido processados anteriormente ou pacotes que já tenham sido processados, porém contendo um número de saltos inferior ao anteriormente processado. O ‘identificador de requisição de rota’ tem a finalidade de diferenciar este pacote dos demais pacotes que circulam na rede. O campo ‘Endereço de destino’ contém o número único de rede do nó que se deseja alcançar. O campo ‘Número de saltos’ indica quantos saltos o pacote realizou até chegar ao nó atual e servirá como critério para escolha de rota no caso de haver mais de um caminho possível entre fonte e destino. O campo ‘Lista de endereços’ registra os endereços dos nós terminais por onde a mensagem passou e, se a rota for escolhida, será o caminho por onde o pacote passará de volta. Quando um nó terminal receber uma requisição de rota, este comparará o endereço do destino com o seu próprio endereço e caso estes não coincidirem, o nó terminal buscará em sua tabela de roteamento se há uma rota para o destino. Se o endereço destino não for o dele e o terminal não conhecer uma rota ao destino, ele adicionará seu endereço no campo ‘Lista de endereços’, incrementará o valor no campo ‘Número de saltos’ e retransmitirá em broadcast o pacote aos seus vizinhos. Este procedimento será repetido até que se alcance o destino final descrito no pacote ou algum nó que conheça a rota para chegar ao destino. Considerando que algum nó receba este pedido e não seja o destino final, porém conheça a rota para se chegar ao nó de destino descrito no pacote, este não mais retransmitirá o pacote de requisição em broadcast aos seus vizinhos. Ao invés disto, ele transmitirá o pacote de requisição em unicast até o nó destino. Contudo, os procedimentos de acrescentar seu endereço ao campo ‘Lista de endereços’ e incrementar o valor do campo ‘Número de saltos’ serão repetidos até que o pacote chegue ao nó destino. De fato, a única diferença que há após o pacote chegar a um nó que conheça a rota até o destino é que o mesmo deixará de ser transmitido em broadcast pela rede e passará a ser transmitido em unicast até o destino. Ao chegar ao destino, o nó, ao verificar que o endereço contido no campo ‘Endereço do destino’ é o seu próprio endereço, não mais retransmitirá o pacote de requisição. O nó destino esperará por um tempo determinado para verificar se outros pacotes relativos à mesma requisição chegam a ele através de outras rotas. Ao fim deste tempo, o nó destino escolherá a melhor rota como sendo a que contem o menor número de saltos. Após escolher a melhor rota, ele enviará um pacote chamado Route Reponse RREP ao nó que gerou a requisição de rota (nó cujo endereço está identificado no campo ‘Endereço da Fonte’). O pacote RREP é mostrado no Quadro II. QUADRO II Campos do pacote RREP Número de sequência Id. de Resposta de Rota Endereço da Fonte Endereço do Destino Números de Saltos Lista de endereços Os campos ‘Identificador de Broadcast’ e ‘Endereço da fonte’ identifica unicamente um pedido de requisição de rota. O ‘Número de sequência’ deve ter o mesmo valor do respectivo campo do pacote RREQ que deu origem ao pedido de rota. O ‘identificador de resposta de rota’ tem a finalidade de diferenciar este pacote dos demais pacotes que circulam na rede como parte do protocolo de descoberta de rotas. O ‘Endereço da fonte’ indica o nó que gerou o pedido de rota. O ‘Endereço de destino’ indica para qual terminal se quer estabelecer uma rota na rede. O ‘Número de saltos’ quantifica os saltos dados por esta mensagem para chegar do terminal solicitante até o nó destino. O campo ‘Lista de endereços’ registra os endereços dos terminais por onde a mensagem passou. Este campo serão os mesmos do pacote de requisição de rota acrescido do endereço do terminal que respondeu à requisição. O pacote RREP ao passar pelos nós da rede servirá para o preenchimento das tabelas de roteamento de cada nó. A tabela de roteamento possui os seguintes campos: Endereço do destino, Endereço do próximo salto e Número de saltos até o destino. Na tabela local de roteamento, o campo ‘Endereço de destino’ representa o endereço do terminal de destino de um pacote qualquer. O campo ‘Próximo salto’ indica qual será o próximo terminal para onde será retransmitido um pacote. O campo ‘Número de saltos’ indica a quantidade de retransmissões necessárias para se alcançar o destino. O pacote RREP será transmitido de forma unicast, partindo do nó destino e indo até o nó fonte, passando, no sentido inverso, pelos nós listados no campo ‘Lista de endereços’. Um nó, ao receber o pacote RREP, verificará se o campo ‘Endereço da Fonte’ é seu próprio endereço. Se sim, o pacote não será retransmitido, o campo ‘Número de seqüência’ será conferido para averiguar se corresponde a uma requisição de rota em aberto. Se não, o pacote será descartado. Se sim, o nó fonte atualizará sua tabela de roteamento colocando o endereço do nó destino, o endereço do próximo nó e o número de saltos necessários para alcançar o destino. Se o endereço da fonte não corresponde ao seu próprio endereço, o nó verificará se sua tabela de roteamento já contém rotas para o nó destino e para o nó fonte. No caso de não possuir rota para o nó destino, ele preencherá o campo ‘Endereço de destino’ de sua tabela com o endereço do nó destino contido no pacote RREP. Em seguida, preencherá o campo ‘Próximo salto’ de sua tabela com o endereço do nó vizinho a ele na direção do destino. Para isto, ele consultará o campo ‘Lista de endereços’, achará sua posição na lista e identificará o endereço de seu vizinho na direção do nó destino. Também será necessário contar o número de saltos até o nó destino e preencher o campo ‘Número de saltos’ com este valor. No caso de não possuir rota para o nó fonte, ele preencherá o campo ‘Endereço de destino’ de sua tabela com o endereço do nó fonte contido no pacote RREP. Em seguida, preencherá o campo ‘Próximo salto’ de sua tabela com o endereço do nó vizinho a ele na direção do destino usando o mesmo procedimento descrito anteriormente. Em seguida preencherá o campo ‘Número de saltos’ de sua tabela de rotas. É interessante que um nó que participa da rota entre um nó terminal e o nó concentrador tenha rotas para todos os nós intermediários entre ele e o nó terminal em questão. Desta forma, ao receber um pacote RREP, cada nó intermediário verificará se dispõe de rota para cada um dos nós listados nos campo ‘Lista de endereços’ que esteja entre ele e o nó terminal que faz parte de um dos extremos da rota (nó fonte ou nó destino dependendo do sentido da requisição de rota). Se não tiver uma rota, preencherá sua tabela de roteamento da maneira que foi descrita no parágrafo anterior, colocando no campo ‘Endereço de destino’ o endereço do nó intermediário correspondente. No caso de uma rota entre um nó fonte e um nó destino ser interrompida, a rota deve ser apagada e uma nova requisição de rota deve ser feita Também é possível que o concentrador, durante o processo de análise dos pacotes RREQ, descubra uma rota melhor para um determinado nó. Nesta situação, a rota antiga deve ser apagada e uma nova rota estabelecida. O procedimento para apagar uma rota já existente se dará através do envio de um pacote Route Delete RDEL. Este pacote tem o formato mostrado no Quadro III: QUADRO III Campos do pacote RDEL Número de seqüência Identificador de atualizador de rota Endereço da fonte procedimento adotado, as tabelas de rotas de todos os participantes de uma rota serão atualizadas, diminuindo o tráfego de pacotes de requisição de rotas. 2- A escolha de uma rota é baseada na quantidade de saltos, tal como ocorre no AODV, de forma a privilegiar rotas menores, mas outros critérios como qualidade de enlaces de rádio podem ser adicionados de maneira a escolher rotas mais confiáveis. IV. RESULTADOS A validação do protocolo e a avaliação de seu desempenho foram feitas através de simulações e de testes em campo, como mostrado na Figura 2. Foram testadas as capacidades de: criar rotas com o menor número de saltos, restabelecer rotas em caso de pane em nós da rede e evitar a ocorrência de loops das mensagens trocadas na rede. Endereço do destino O ‘Número de seqüência’ identifica o pacote para que não haja duplicações na rede. O ‘Identificador de atualizador de rota’ identifica a função do pacote. O ‘Endereço da fonte’ identifica o nó que deseja eliminar uma rota antiga e o ‘Endereço do destino’ representa o endereço final da rota a ser apagada. Um nó, após descobrir que sua rota atual até o destino está interrompida, envia o pacote RDEL para o próximo nó da rota em direção ao nó destino. Um nó, ao receber um pacote RDEL, verifica o endereço do nó destino em sua tabela de roteamento. Apaga a entrada correspondente em sua tabela e retransmite o pacote RDEL para o próximo nó da rota antiga. Este procedimento é repetido até que o pacote chegue ao nó destino. Este, ao receber o pacote RDEL, apagará sua entrada na tabela de roteamento correspondente ao endereço do nó fonte. Ao final deste procedimento toda a rota antiga terá sido apagada das tabelas de roteamento dos nós que participavam da rota em questão. O nó que gerou o pacote RDEL (nó fonte) deverá enviar um pacote RREQ até o nó destino a fim de estabelecer uma nova rota até ele Para identificar uma rota interrompida, o nó concentrador, o único a possuir rotas para todos os demais nós, envia um pacote chamado de Keep Alive para os nós da rede. Cada nó, ao receber este pacote envia ao concentrador uma resposta adicionando seu endereço. Os demais nós participantes da rota também adicionarão seus endereços ao pacote de resposta de forma a informar que a rota dos mesmos também está ativa. O concentrador inicia este processo enviando pacotes Keep Alive para os nós mais distantes (maior número de saltos) como maneira de diminuir o número de pacotes necessário para testar todas as rotas. Caso algum nó deixe de responder ao Keep Alive, a rota é considerada interrompida e uma nova rota deve ser estabelecida. O procedimento de descoberta de rota proposto tem duas diferenças importantes dos protocolos existentes: 1- O pacote RREQ chega até o nó destino mesmo que encontre um nó intermediário que conheça uma rota até o mesmo. Isto é feito para que o concentrador tome conhecimento de novos nós que entram na rede. Outro motivo para isto deve-se ao fato de que com o Fig. 2 Implantação de rede piloto em Rosário, MA. Teste de restabelecimento de rota. A simulação foi feita usando o aplicativo NS-2, no qual foi implementada uma aplicação contendo as regras de roteamento do algoritmo SGR, a fim de avaliar a capacidade de estabelecer todas as rotas usando o menor número de saltos e restabelecer rotas interrompidas [11]. Foram simuladas redes com 15, 50 e 100 nós. Em todas as situações, o algoritmo foi capaz de estabelecer rotas contendo o menor número de saltos possível entre os terminais e o concentrador. Também foi testada a capacidade de restabelecimento de comunicação em caso de quebra de rota. Em todas as simulações realizadas, as rotas foram restabelecidas. Os testes em campo foram feitos em uma rede piloto implantada na cidade de Rosário, Maranhão. Foram instalados um nó concentrador e 54 nós terminais, sendo 46 usando rádio UHF e 8 usando tecnologia PLC. O nó concentrador foi instalado na subestação que alimenta a cidade. Os demais nós foram dispostos como mostra a Figura 2. A comunicação entre o nó concentrador e o servidor, o qual foi instalado na sede da CEMAR, foi realizada através da rede da Concessionária por meio de protocolo TCP/IP. A instalação de cada nó foi seguida do procedimento de descoberta de rota. Foram realizados testes de restabelecimentos de rotas em caso de pane em nós da rede. Para isto, foram desligados nós terminais que participavam de rotas como nós intermediários. Nos testes realizados, as rotas interrompidas foram apagadas e novas rotas foram estabelecidas usando outros nós intermediários. A Figura 2 ilustra um destes testes. Em azul temos uma rota inicial entre o terminal NT23 e o concentrador NC1. O terminal NT25 foi desligado e uma nova rota foi estabelecida passando desta vez pelo terminal NT21. A nova rota é mostrada em vermelho. Diversas funcionalidades foram implementadas na rede piloto instalada. Dentre elas, destacam-se: leitura de contadores do medidor de unidade consumidora, leitura de parâmetros do trafo (tensão e corrente por fase, balanceamento e carregamento do trafo), disponibilidade de energia, qualidade de energia, corte e religamento remotos de unidades consumidoras, implementação de memória de massa em medidores de unidades consumidoras, leitura do histórico de consumo de usuários, geração de alarmes em caso de ocorrências (interrupção de fornecimento, fraude em medidor). Nas Figuras 3 e 4 são mostradas telas da interface com o usuário do aplicativo que é executado no servidor. Pretende-se, em uma próxima etapa, estender a rede para toda uma cidade, o que permitirá uma melhor avaliação do protocolo e da solução de comunicação em condições reais de campo e com um número expressivo de nós na rede. Fig. 4 Tela do aplicativo – leitura de parâmetros do transformador. V. CONCLUSÃO As simulações realizadas no NS-2 e os testes em campo mostram que a topologia proposta para a rede atende, neste momento, aos requisitos da aplicação Smart Grid. Foi possível monitorar os parâmetros da rede elétrica (qualidade, disponibilidade, balanceamento e carregamento de transformadores), identificar e gerar alarmes de ocorrências, dentre outras funções. O protocolo de roteamento desenvolvido mostrou-se capaz de gerar rotas com o menor número de saltos e restabelecer automaticamente rotas interrompidas por falhas em nós intermediários. A solução de comunicação baseada em múltiplos saltos e o protocolo desenvolvido SGR permitiram o uso de dispositivos RF e PLC de baixo custo, tornando viável economicamente a implementação da rede Smart Grid. AGRADECIMENTOS Este trabalho foi financiado com recursos da ANEEL (Programa Anual de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da CEMAR) projeto de P&D Código ANEEL: APLPED0037_PROJETOPED_0012_S02, tendo como parceiros o IFCE e a CEMAR. REFERÊNCIAS Fig. 3 Tela do aplicativo – leitura de níveis de tensão em unidade consumidora. [1] European Technology Platform SmartGrids, "Strategic Deployment Document for Europe’s Electricity Networks of the Future", Final Report, 20 April 2010. Disponível em: http://www.smartgrids.eu/ último acesso em 12/03/2012. [2] ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica. “Nota Técnica nº 0044/2010-SRD/ANEEL”, [ONLINE] http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/audiencia/arquivo/20 10/043/documento/nota_tecnica_0044_2010_srd.pdf. Último acesso realizado em 19/08/2012 [3] L. Peretto, "The role of measurements in the smart grid era", Instrumentation & Measurement Magazine, IEEE, 2010, Volume: 13 , Issue: 3, Page(s): 22 - 25 [4] M. Hashmi, S. Hanninen, K. Maki, “Survey of smart grid concepts, architectures, and technological demonstrations worldwide”, Innovative Smart Grid Technologies (ISGT Latin America), 2011, pp 1 - 7 , 2011 [5] Yongjin Kwon; Tzu-Liang Tseng, "Remote monitoring and control of smart grid power network system", 40th International Conference on Computers and Industrial Engineering (CIE), 2010, Page(s): 1 - 6 [6] V.K. Sood, D. Fischer, J.M. Eklund, T. Brown, "Developing a communication infrastructure for the Smart Grid", Electrical Power & Energy Conference (EPEC), 2009 IEEE, Page(s): 1 - 7 [7] Daniel F. Macedo, Luiz H. A. Correia, Aldri L. dos Santos, Antonio A. F. Loureiro e José M. Nogueira. “A pro-active routing protocol for continuous data dissemination wireless sensor networks”. 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Tem experiência na área de Engenharia Elétrica, com ênfase em Sistemas de Telecomunicações, atuando principalmente nos seguintes temas: equalização, redes de pacotes, antenas adaptativas, antenas inteligentes e redes celulares. Júlio César Mendes, possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Maranhão (1995) , mestrado em Engenharia de Eletricidade pela Universidade Federal do Maranhão (1999) e curso-tecnicoprofissionalizante em Técnico Em Eletrotécnica pelo Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão (1987) . Atualmente é funcionário da Companhia Energética do Maranhão. Atuando principalmente nos seguintes temas: análise de segurança estática, processamento distribuído, análise de contingência em sistemas de potência, fluxo de carga. Juliana Duarte Ferreira, natural de Campina Grande é engenheiro eletricista (1995), pela Universidade Federal de Campina Grande, atualmente é Executiva de Planejamento e Metrologia a CEMAR, atuando na área de Perdas da Companhia. Pedro Klécius F. Cardoso, possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Ceará (2000), mestrado em Conception Et Planification Des Réseaux Mobiles - Institut National Des Télécomunications (2001) e doutorado em Informatique, Telecomunications et Electronique - Universite de Paris VI (Pierre et Marie Curie) (2005). Atualmente é professor titular do Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará. Tem experiência na área de Engenharia Elétrica, com ênfase em Sistemas de Telecomunicações, atuando principalmente nos seguintes temas: sistemas e controles eletrônicos, qos, umts, cops, management e diffserv.