1 SUMÁRIO DA DISCIPLINA Plano da Disciplina .............................................................................................................................................. 54 U NIDADE I UNIDADE Texto 1: As raízes do modelo capitalista ........................................................................................................... 56 Texto 2: O processo de modernização da economia brasileira ....................................................................... 59 Texto 3: De Vargas a Kubitschek: início e consolidação da industrialização ............................................... 62 Texto 4 : Os Governos Militares: aspectos políticos e econômicos ............................................................... 65 Texto 5: O papel do Estado no desenvolvimento econômico da década de 80 ........................................... 68 U NIDADE II Texto 6: As marcas da economia brasileira: a concentração de renda ........................................................... 75 Texto 7: As marcas da economia brasileira: a exclusão social ........................................................................ 77 Texto 8: Movimento social e estrutura agrária brasileira: o Movimento dos Sem-Terra ............................. 79 Texto 9: O Brasil e o contexto internacional: as políticas neoliberais no Brasil ........................................... 85 Glossário ................................................................................................................................................................. 95 Referências Bibliográficas .................................................................................................................................... 96 3 4 CONTEXTOS BRASILEIROS PLANO DA DISCIPLINA Carga Horária Total: 30h/atividades Créditos: 02 Relevância da Disciplina Pretende-se estudar a modernização do Brasil e as conseqüentes transformações políticas e sociais ocorridas no país, a compreensão da dinâmica de classes que estrutura a sociedade brasileira, o problema da desigualdade social e dos processos de exclusão social, as diversas reflexões acerca da pobreza no Brasil, a diversidade social e cultural e as relações entre a sociedade como um todo e as culturas características de determinados segmentos da população. Objetivos da Disciplina Caracterizar a sociedade brasileira, possibilitar a interpretação do Brasil como Nação da periferia do capitalismo mundial e contribuir para a formação de profissionais conscientes de seu papel social e político. UNIDADE I: Caracterização do Modelo Capitalista Brasileiro Tempo estimado de auto-estudo nesta unidade: 9h/atividades Objetivos: Caracterizar a Revolução Industrial como o momento de instalação do modelo capitalista de produção; Perceber as contradições da modernização surgida a partir da Revolução Industrial; Identificar o Brasil como um país de industrialização recente; Reconhecer as marcas da economia dependente no modelo de desenvolvimento brasileiro. Quadro-resumo da unidade Assuntos Local Texto 1: As raízes do modelo capitalista Texto 2: O processo de modernização da economia brasileira Página: 54 Texto 3: De Vargas a Kubitschek: início e consolidação da industrialização. Página: 60 Texto 4: Os Governos Militares: aspectos econômicos e políticos Página: 63 Texto 5: O papel do Estado no desenvolvimento econômico da década de 80 Página: 66 Página: 57 5 Atividades complementares Filmes indicados: Tempos Modernos Um operário de uma linha de montagem, que testou uma "máquina revolucionária" para evitar a hora do almoço, é levado à loucura pela "monotonia frenética" do seu trabalho. Tempos Modernos é uma crítica contundente ao movimento "frenético" imposto pelo processo da industrialização. Com Charles Chaplin e Paulette Goddard Pra frente, Brasil Em meio à euforia do milagre econômico e da vitória da seleção na Copa de 70, um pacato cidadão da classe média é confundido com um ativista político, sendo então preso e torturado por agentes federais. Dirigido por Roberto Farias (Assalto ao Trem Pagador) e com Antônio Fagundes, Reginaldo Faria e Flávio Miggliaccio no elenco. UNIDADE II: As Conseqüências Socioeconômicas do Modelo de Desenvolvimento Brasileiro Tempo estimado de auto-estudo nesta unidade: 6h/atividades Objetivos: Relacionar a globalização e o neoliberalismo com o desenvolvimento brasileiro dos anos 90; Perceber as contradições entre as funções de controle, no plano social, e de modernizador, no plano econômico, dos governos pós-90; Identificar as políticas neoliberais com o Estado mínimo. Quadro-resumo da unidade Assuntos Local Atividades complementares Leituras complementares Texto 6: As marcas da economia brasileira: a concentração de renda Página: 73 RUA, João e outros. Para ensinar geografia. Rio de Janeiro: ACCESS, 1993. Texto 7: As marcas da economia brasileira: a exclusão social Página: 75 OLIVA, Jaime e GIANSANTI, Roberto. Espaço e Modernidade: temas da Geografia Mundial. São Paulo: Atual, 1995. Texto 8: Movimento social e estrutura agrária brasileira: o Movimento dos Sem-Terra Página: 77 Texto 9: O Brasil e o contexto internacional: as políticas neoliberais no Brasil VESENTINI, José William. Brasil: sociedade e espaço. São Paulo: Ática, 2003, pp. 18-19. Página: 83 SOUZA, Maria do Carmo Campello de. A Nova República brasileira: sob a espade Dâmocles. In: STEPAN, Alfred (org.) Democratizando o Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 564-567 Sites indicados: www.unioeste.br/cursos/revistaeconomia/favero.PDF www.tierramerica.net/2003/0707/particulo.shtml 6 UNIDADE I É importante que se compreenda a forma como se instala o modelo capitalista de produção e qual a posição do Brasil, país eminentemente agrário até a segunda década o século XX, no mundo industrializado. Esse e outros temas serão abordados neste texto. TEXTO 1: As raízes do modelo capitalista A indústria se instaura na Europa e, logo em seguida, na América do Norte, na segunda metade do século XVIII. Foi gestada num longo processo a partir do século XVI, quando emergem uma série de condições econômicas e sociais que possibilitariam, mais tarde, a atividade fabril. A consolidação do modelo de fábrica, que se dá de meados do século XVIII a igual período do século XIX, representou a instalação do modelo capitalista de produção e reorganizou o espaço mundial, ocasionando profundas mudanças nas relações entre as diversas partes que o compunham. No presente texto vamos tratar das condições que geraram o modelo capitalista de produção e suas características no Brasil. Foi com o capitalismo industrial que se deu o processo de transformação das sociedades tradicionais em sociedades modernas. Nos séculos XVIII e XIX, quando a indústria aparece como nova forma de produzir – graças às condições que permitiram a acumulação do capital, necessária à sua implantação –, presencia-se não só o avanço tecnológico, mas, também, uma profunda transformação na sociedade européia: nas ciências, nos valores, na estrutura social, na ideologia até então vigente. Segundo OLIVA e GIANSANTI (1995), há 300 anos nenhuma grande sociedade tradicional produzia mais de 200 dólares per capita ao ano. Dentre essas sociedades, incluíam-se as sociedades feudais da Europa, as sociedades do Oriente Médio, de influência islâmica, e as sociedades coloniais e escravistas, como o Brasil. A construção das sociedades modernas se deu com o desenvolvimento do sistema industrial e a implantação da economia capitalista. O Brasil, que até 1930 foi fundamentalmente um país de economia agrária, embora já apresentasse um esboço de desenvolvimento no setor industrial desde 1914, chega ao século XXI como país industrializado, mas que se localiza na periferia do capitalismo mundial. Vivemos num continente que, embora tenha se industrializado como parte integrante do sistema mundial, hoje se apresenta fora das prioridades da ordem econômica neoliberal. Palavras–Chave Revolução Industrial Capitalismo Modo de Produção Capitalista Países Centrais e Países Periféricos Divisão Internacional do Trabalho Revolução Industrial e Capitalismo A sociedade feudal se transmuda em uma sociedade urbana. As fontes do poder político tradicional são alteradas pela acumulação do capital, sem precedentes; presencia-se a introdução de novas regras de crescimento e aumento da produção. Surge o Estado Moderno, que supõe novas formas de representação política da classe emergente: a burguesia. A atividade industrial produz uma nova espacialidade: a cidade é o lugar da indústria. Ela passa a subordinar o campo e integra as regiões agrícolas ao mercado. O processo de industrialização determina um novo regime de propriedade, produto das modificações radicais que se verificaram nas relações sociais, econômicas, políticas. Evidentemente que a atividade industrial dos séculos XVIII e XIX não foi exatamente a mesma que chegou ao século XX e, menos ainda, a que tem marcado o século XXI. Em primeiro lugar, cabe ressaltar que, no século XX, começa-se a perceber que a modernização que acompanhou a industrialização não foi homogênea, diferenciando os países em termos de capacidade de produção, desenvolvimento tecnológico, importância e poder econômico. Esse processo, chamado de Divisão Internacional do Trabalho, evidenciou profundas desigualdades entre os países que primeiro se industrializaram e os de industrialização mais recente. Os primeiros, mais adiantados, são considerados países centrais e os últimos, mais atrasados, constituem o conjunto dos países periféricos. Em segundo lugar, vale observar que a modernização, como modelo de desenvolvimento tecnológico e industrial, demonstra que o projeto social das sociedades modernas mantido no mundo contemporâneo é um projeto incompleto, e se deu às custas de conflitos terríveis, crises sociais e destruição da cultura de vários povos. Para Jacques DERRIDA, "jamais tantos homens e mulheres foram exterminados, tão submetidos ou passaram tanta fome (...) dentro de uma ordem mundial alicerçada sob o signo do desemprego, da exclusão, da deportação dos exilados, dos apátridas, dos imigrantes, da guerra econômica entre os países, da dívida externa, das guerras interétnicas." A América Latina e o Brasil: os problemas da modernização Os povos ibéricos – portugueses e espanhóis – chegam à América Latina no século XVI, criando aqui um grande império colonial que se estende até o século XIX. Dessa época em diante, as antigas colônias se tornam independentes, ou como monarquia, no caso do Brasil, ou como repúblicas, no caso dos outros países do continente. década de 80, um processo de desaceleração de seu desenvolvimento, afetado que foi profun-damente por dois fatores: a) pelo endividamento externo, que tiveram que realizar para financiar sua industrialização; b) pelo fato dos países mais avançados estarem criando tecnologias que estão possibilitando que cada vez mais as matérias-primas e produtos agrícolas, que os faziam dependentes dos países da América Latina, sejam substituídos por outros, gerados pelo avanço e pelo refinamento tecnológico. Além disso, de um modo geral, a modernização sulamericana esteve marcada pela estrutura arcaica, escravocrata, monopolista e agro-exportadora, emblemas do pacto colonial. As relações socioeconômicas e políticas que se impuseram no continente recuperam uma das marcas mais visíveis do desenvolvimento dos países latino-americanos, entre eles o Brasil: a formação de um imenso contingente populacional marginalizado da produção e do consumo de mercadorias, mesmo as produzidas nos próprios países. O traumatizado mundo do pós-guerra ainda se preocupava com a Guerra Fria entre os Estados Unidos e a Rússia, enquanto no Ocidente o sucesso da reconstrução econômica ultrapassava todas as expectativas, entrando em uma longa fase de expansão. Quando, com o fim da guerra da Coréia, o antagonismo russo-americano pareceu se atenuar e a “questão colonial” dava mostras de estar em via de solução mais ou menos pacífica, a opinião oficial começou a sonhar que havia sido encontrada, por fim, a chave dos problemas humanos. Essa chave era o crescimento econômico. No entanto, a modernização capitalista, já iniciada na Europa e na América do Norte, só se apresenta como realidade, concretamente, entre os latinoamericanos a partir da segunda metade do século XX, especialmente depois do fim da II Guerra Mundial. Mesmo nessa época, no entanto, o seu grande espaço econômico esteve circunscrito à exportação de matérias-primas e produtos agrícolas. O de exportação de produtos industrializados começou a ser ocupado recentemente, e de forma residual, só após sofrer uma industrialização multinacional. O fato é que, por meio da reificação do “desenvolvimento”, o mito do progresso – com a ampliação ilimitada do controle material levando à felicidade geral – se prescreve, e a expansão, o crescimento são encarados não como virtualidades intrínsecas a todas as sociedades humanas, mas propriedades específicas e dotadas de um valor positivo das sociedades ocidentais. Em conseqüência, estas passaram a ser consideradas como sociedades desenvolvidas – capazes de produzir um crescimento auto-sustentado. A partir de então, o problema passou a consistir em conduzir as demais sociedades a um ponto de partida para se lançar a este mesmo desenvolvimento. Em que pese terem tido um relativo avanço nos anos 60 e 70, quando se vivia um quadro internacional mais favorável e sob regimes militares autoritários, as nações latino-americanas passam a vivenciar, na Assim, o Ocidente passou a se conceber e a se propor como modelo para o mundo inteiro, com os outros países e sociedades sendo considerados menos maduros ou menos desenvolvidos, definindo-se como 7 8 seu principal problema a existência de “obstáculos ao desenvolvimento”. Durante algum tempo, considerouse que esses obstáculos eram puramente “econômicos” e de caráter negativo: a ausência de crescimento se devia à ausência de crescimento, uma vez que basta a um país iniciar o crescimento para que continue a crescer cada vez mais rapidamente, num processo autocatalítico. Como conseqüência, passou-se a importar máquinas e a buscar injeções de capital estrangeiro visando à criação de pólos de desenvolvimento que garantissem as condições essenciais para conduzir os países menos desenvolvidos à etapa de sua decolagem desenvolvimentista. Entretanto, veio rápida a constatação de que, sendo os homens que fazem funcionar as máquinas, estes deveriam possuir as qualificações apropriadas, o que levou à elaboração da formação técnica e à aquisição de qualificações profissionais. Porém, logo se começou a perceber que o fator humano era algo que importava mais substancialmente do que se pensava – como a falta de uma classe de empresários nestas sociedades, por exemplo. Desta maneira, intuiu-se que para que tais sociedades pudessem desenvolver-se, seria necessário um processo de transformação global, com a modificação das estruturas sociais, das atitudes, da mentalidade, das significações, dos valores, da educação e a organização psíquica dos seres humanos. Assim, o crescimento econômico não era algo que pudesse ser “acrescentado” a esses países, como os economistas tinham pensado; e menos ainda poderia ser simplesmente superposto às suas outras características. Ao contrário da mera afirmação de que encontrara um truque que levasse a produzir mercadorias em maior quantidade, mais rapidamente e com menor custo, o Ocidente se empenharia em demonstrar haver descoberto o modo de vida apropriado a todas as sociedades humanas. (Cornelius Castoriadis, Reflexões sobre o “desenvolvimento” e a “racionalidade” in As encruzilhadas do labirinto/2, Os domínios do homem, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.) Dúvidas? Entre em contato com seu monitor. TEXTO 2: O processo de modernização da economia brasileira Considerado hoje pertencente ao conjunto que o Banco Mundial chama de países emergentes, o Brasil, até a metade do século XX, praticamente estava restrito a uma indústria alimentícia e têxtil. O Brasil, como os demais países da América Latina, iniciou sua industrialização por um processo conhecido como substituição de importações e que consistia em produzir, em território nacional, parte do que era destinado ao mercado de consumo local. Vamos entender melhor o processo de industrialização do Brasil? O processo de substituição de importações se caracterizava por: produzir apenas para o mercado interno; depender do Estado para a criação da infraestrutura necessária para a circulação de mercadorias; ter um parque industrial constituído predominantemente de filiais de empresas internacionais; e remeter para o exterior, aos paísessede das empresas, os lucros da produção. droguetes, baetas ou de qualquer outra espécie de tecido de lã (...) excetuando-se tão somente aqueles ditos teares ou manufaturas em que se tecem, ou manufaturam, fazendas grossas de algodão, que servem para o uso e vestuário de negros, para enfardar, para empacotar, e para outros ministérios semelhantes; todas as mais sejam extintas e abolidas por qualquer parte em que se acharem em meus domínios do Brasil. Quais as conseqüências do modelo adotado? Isso é o que será discutido neste texto. O caminho da modernização brasileira Para consolidar seu parque industrial, mesmo com as peculiaridades que o caracterizam como um país emergente, o Brasil percorreu um longo caminho e é fundamental que se conheça o modo como se deu o seu processo de industrialização para que se possa compreender a realidade brasileira dos nossos dias. Pode-se considerar que o Brasil foi, durante o período colonial e mesmo como nação independente, um país predominantemente agrícola. Pelo pacto colonial, era proibida a instalação de qualquer estabelecimento industrial. D. Maria I, Rainha de Portugal, já no final do século XVIII, decretava: Eu, a Rainha ... hei por bem ordenar que todas as fábricas, manufaturas ou teares de galões, de tecidos, de ouro e prata, de veludos brilhantes, cetins, tafetás ou qualquer outra espécie de seda; de delbutes, chitas, bombazinas, fustões ou de qualquer outra fazenda de linho, branca ou de cores; de panos, O Brasil e as demais colônias portuguesas tinham uma estrutura econômica que se achava inteiramente subordinada à Inglaterra, esta sim uma nação em franco processo de industrialização e à qual não interessava o desenvolvimento econômico de Portugal e de seus domínios ultramarinos. Somente a partir de 1808, quando a Família Real se transfere para o Brasil, iniciase um incipiente processo de manufatura. A partir da instalação da Corte Portuguesa na Colônia, observa-se, num certo nível, a substituição das práticas mercantilistas em que se baseava o chamado pacto colonial. A Carta Régia de 28 de janeiro de 1808 abre os portos brasileiros ao comércio com as nações amigas, possibilitando a articulação com outros centros industriais hegemônicos, o que rompe com o antigo monopólio comercial da Inglaterra. Além disso, a Coroa Portuguesa estabelece o pagamento de 24% 'ad valorem' sobre os produtos importados. Em 1809, os Estados Unidos iniciam intercâmbio comercial com o Brasil e, em 1814, é a vez da França e de outras nações européias. Isso significou, de certa forma, o início da independência econômica do Brasil em relação à Metrópole Portuguesa e à Inglaterra. Palavras–Chave Pacto colonial Protecionismo Monopólio Setor agrário Setor industrial Em abril de 1808, o decreto real que impedia a instalação de fábricas no Brasil deixou de vigorar e foi permitida a reabertura das manufaturas fechadas em 1785, ao mesmo tempo em que eram isentos de taxas os equipamentos importados para instalações fabris. 9 10 Apesar da concessão de créditos pelo Banco do Brasil, da isenção de taxação sobre produtos considerados matérias-primas para a produção de gêneros no Brasil e da existência de uma camada social interessada em participar do novo processo produtivo - e que dispunha de certo capital gerado com o fim do tráfico negreiro -, da primeira metade do século XIX até a extinção do trabalho escravo, em 1888, o parque industrial brasileiro contava com pouco mais de meia centena de estabelecimentos produtores de tecidos. A modernização se mostrava ainda pela existência de uma dezena de bancos e de companhias de seguro, algumas companhias de transporte a vapor, de transporte urbano e de transporte ferroviário. A figura mais representativa do empreendedorismo brasileiro da época foi Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá. Entretanto, essas iniciativas, que poderiam ter dado outro rumo ao desenvolvimento no Brasil, não surtiram grandes efeitos. O próprio Mauá acabou falindo. A hegemonia econômica e política dos produtores de café e de outros produtos agrícolas acabou por prevalecer e determinar um abrandamento da política protecionista com relação aos produtos brasileiros, facilitando a entrada de produtos estrangeiros que vieram a prejudicar o nosso principiante parque manufatureiro. Esse panorama começa a se modificar com a ampliação do mercado de consumo interno, que caracteriza, no Brasil, a transição para o capitalismo. O fim do tráfico negreiro, o início do processo de abolição da escravidão com o alforriamento, o aparecimento do trabalho assalariado possibilitado pelo movimento de imigração e novos investimentos de capitais estrangeiros no setor de bens de consumo permitem o crescimento da produção industrial do Império, que chega a 1889 com mais de seis centenas de fábricas, em contraste com as pouco mais de cinqüenta que existiam na primeira metade do século XIX. A abolição da escravidão uniu vários setores da sociedade no esforço pela derrubada do Império. Conjunturalmente, houve uma associação de interesses representados, de um lado, pelos produtores rurais e, de outro, pela burguesia industrial que começava a se formar. Essa aliança, entretanto, se transforma em oposição quando, após a Proclamação da República, se manifesta a luta pelo controle do poder político entre os grupos favoráveis a uma economia que se industrializasse e os ruralistas, que pretendiam manter sua hegemonia. Do final do século XIX até os anos 30 do século XX, as exportações de café, principalmente para os Estados Unidos, representavam a metade da pauta brasileira de produtos exportados. Todos os obstáculos, porém, criados para dificultar a consolidação e ampliação de um parque industrial no Brasil Republicano não impediram que a produção industrial continuasse a crescer, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde havia mão-de-obra disponível mais preparada para o trabalho nas fábricas, maior potencial energético e um mercado consumidor constituído pelas elites e pela massa trabalhadora assalariada. Apesar desse boom, segundo ALMEIDA E RIGOLIN (2004, p.394), "até a década de 1930, a industrialização brasileira foi marcada por indústrias tradicionais (alimentícias e têxteis) e pela importação de produtos industrializados". A crise mundial de 1930 afetou a economia brasileira, que até então se baseava principalmente na produção e na exportação de café. Com essa crise, uma parcela razoável do capital cafeeiro foi reinvestida em atividades urbanas fabris, como a produção de alimentos e tecidos, modificando e dinamizando nossa economia. Ao explorar a costa africana em busca de caminho para as Índias, os portugueses capturaram um grupo de negros em 1441. Nos anos seguintes, o tráfico negreiro tornou-se atividade sistemática e lucrativa, destinada a suprir de escravos os serviços domésticos e a indústria açucareira dos Açores e da Madeira. No início, os traficantes caçavam: entravam nas aldeias e prendiam os habitantes. Com a valorização do escravo, passaram a intermediar: em vez da caçada, a compra. Os próprios chefes das tribos africanas vendiam as pessoas em troca de tecidos, jóias, armas, tabaco, algodão, cachaça. Nem todos os chefes se corrompiam. Nesse caso, os mercadores provocavam guerras entre as tribos. Findos os combates, procuravam o chefe da tribo vencedora e compravam os prisioneiros. A expansão da atividade açucareira no Brasil favoreceu o comércio triangular, entre Europa e África. Barcos portugueses para a África, obtinham os escravos; atravessavam o Atlântico, vendiam os escravos no Brasil; voltavam a Portugal com os porões cheios de açúcar, tabaco e outros produtos. Calculase que tenham trazido 3 milhões de africanos para o Brasil; e que outros tantos tenham morrido nas viagens dos navios negreiros. Se contarmos os que foram levados para outros pontos das Américas e Europa, mais os que morreram, calcula-se que mais de 50 milhões de africanos foram arrancados de suas terras. (Arruda,J.J.deA.;Pilleti,N.TodaaHistória.SãoPaulo:Ática,1994.) Em 1945, o Brasil herdou um executivo federal que era incomensuravelmente mais forte que o que os revolucionários haviam tomado em 1930. O processo pelo qual o governo federal era constantemente fortalecido, às expensas dos governos estaduais e municipais, começou em novembro de 1930 e foi acelerado depois de 1937. Havia um aspecto político e outro administrativo nesse processo, se bem que os dois estivessem intimamente relacionados. O governo federal aumentava seus poderes na esfera administrativa por dois modos diferentes. Primeiro, muitas funções, previamente exercidas por governos estaduais e municipais, foram transferidas para a área de competência federal. Antes de 1930, muitas das mais importantes funções de governo tinham sido exercidas pelos Estados, que gozavam de ampla autonomia. Estados como São Paulo, por exemplo, estavam habituados a negociar diretamente empréstimos estrangeiros, a serem utilizados para melhoramentos tais como ferrovias e portos, ou para financiamento do programa de proteção ao café. Nas áreas fundamentais de educação e trabalho, a responsabilidade, durante a República Velha, era da competência quase exclusiva dos Estados. Imediatamente depois da revolução de 30, a situação começou a mudar. Há muitos anos, críticos da velha ordem vinham argumentando que as enormes necessidades sociais do Brasil exigiam um esforço nacional, de parte de um governo federal forte. Mesmo antes que a Constituição de 1934 codificasse esse novo papel, o governo de Vargas, em sua fase provisória, obteve, por decreto de 11 de novembro de 1930, poderes mais amplos do que jamais havia gozado qualquer governo anterior. (...) Isto leva ao segundo método pelo qual cresceu a predominância administrativa federal: a atividade em novas áreas. A era de Vargas viu, no Brasil, um repúdio da teoria do “gendarme”, segundo a qual o Estado deveria ser um policial, não um participante. A crescente intervenção federal, notadamente na economia, requeria novos órgãos federais, os quais, em retorno, enfraqueciam ainda mais o poder relativo dos Estados e municípios. A propriedade federal de indústrias, tais como ferrovias e empresas de navegação, e empresas de economia mista, técnica preferida para estimular o investimento em indústrias básicas, depois de 1938 — correspondia à direção dessa política do Rio de Janeiro. Nesse sistema, as influências regionais só se poderiam efetivar através dos canais do governo central. (Thomas Skidmore. Brasil: de Getúlio a Castelo. 10ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.) 11 12 TEXT O 3: De V argas a Kubitschek: início e TEXTO Vargas consolidação da industrialização Um pouco mais de história... Neste texto abordaremos o processo de industrialização brasileiro e suas conseqüências desde a era Vargas até Juscelino Kubitschek. O Brasil chega ao século XX como um país fundamentalmente agrícola, atividade que se inicia entre nós com o plantio da cana-de-açúcar e a atividade manufatureira dele decorrente. Durante dois séculos a produção açucareira brasileira foi a mais importante do mundo, só perdendo esta posição a partir do final dos anos 1600, com o desenvolvimento de outros centros produtores, como as Antilhas, e a concorrência gerada pela mineração do ouro. O descobrimento do ouro em Minas Gerais, em 1695, e a exploração de diamantes, iniciada por volta de 1729, exigiram a importação da mão-de-obra escrava que passou a rarear na zona da agromanufatura do açúcar e provocou o êxodo dos plantadores de cana, atividade que começava a entrar em crise. O ciclo do ouro transformou a sociedade brasileira, produzindo uma nova organização do espaço, com a formação de centros urbanos nas zonas de extrativismo mineral, e acabou desenvolvendo padrões próprios de incorporação de uma faixa muito mais ampla da população, se comparados com os da região açucareira. Determinou o desenvolvimento do comércio, do artesanato e de setores de prestação de serviços. O texto a seguir abordará a transição entre a sociedade agrária e a sociedade industrial. Palavras–Chave Modelo agro-exportador Industrialização recente ou tardia Estado Intervencionista Capitalismo monopolista A era Vargas No século XVIII, o açúcar apresenta uma recuperação graças, do ponto de vista externo, à abolição da escravidão nas colônias francesas da América e, do ponto de vista interno, ao declínio da produção de ouro e à transferência de capitais dessa atividade para os centros de produção açucareira, num movimento contrário ao que tinha acontecido no século anterior. Isso veio beneficiar também a produção de algodão, estimulada pela implantação das manufaturas de tecidos em Portugal e na Inglaterra. Como se pode observar, a economia brasileira apresentava um caráter primário ou agroexportador e monocultor, com produtos agrícolas substituindo, ciclicamente, aqueles que iam se esgotando na concorrência com outros mercados produtores internacionais. O século XIX marca o início da produção do café, que se estende até 1930, dominando as exportações brasileiras para os Estados Unidos, a Inglaterra, a França, a Alemanha e para outros países europeus em processo de industrialização. A agricultura do café, organizada nas plantations, cria uma classe rural muito poderosa do ponto de vista político e econômico, os chamados barões do café, que vão influenciar a vida da nação brasileira por mais de um século. Nos primeiros vinte anos do século passado, a região amazônica conhece uma fase de relativo desenvolvimento econômico por conta do extrativismo da borracha, que, no entanto, declina rapidamente. Pode-se dizer, sem sombra de dúvida, que o café foi o mais importante produto brasileiro de exportação até 1930, época em que a industrialização brasileira era marcada por algumas fábricas de tecidos e de alimentos. Em 1929, a crise da Bolsa de Valores de New York afetou profundamente a economia brasileira, dependente da produção do café e da exportação de cerca de 70% do produto para os Estados Unidos. Aliás, uma das características mais importantes da crise foi a sua amplitude mundial. Os setores da economia brasileira mais atingidos foram os fazendeiros e exportadores, que passaram a exigir do governo medidas que superassem a crise que se instalara. A impossibilidade de soluções para o problema, aliada a outros fatores de ordem política, levaram à deposição do Presidente Washington Luis, no bojo do movimento que ficou conhecido como a Revolução de 30, apoiado pelas Forças Armadas e liderado pelo grupo de Getúlio Vargas. Vargas resolve a crise obtendo crédito para compra do excedente da produção, troca pequena parte do produto por trigo americano e, para evitar a queda do preço no mercado, queima o resto do café que, tradicionalmente, seria estocado. Há um sensível deslocamento dos capitais investidos até então na cafeicultura, que passaram a ser aplicados na indústria, atividade que até então ocupava um lugar de muito pouca importância no cenário econômico do País. O processo de industrialização é auxiliado pela desvalorização da moeda brasileira. A conseqüente elevação dos preços dos produtos estrangeiros que importávamos vai servir de estímulo para a fabricação de similares no Brasil. Na era Vargas, o Estado cumpre com eficiência seu papel de principal agente da modernização capitalista, através das transformações que comandou e coordenou no sentido da implantação de um parque industrial brasileiro. Foi esse Estado intervencionista o responsável pelo segundo surto industrial no País. momento importante no processo de industrialização do Brasil. Geração de energia, transportes, construção de estradas e criação de indústrias de base foram as suas grandes metas, que se consubstanciaram no seu plano de realizar "Cinqüenta anos em cinco", o que pretendeu fazer com apoio de investimentos internacionais. O governo JK marca o início da internacionalização da indústria no Brasil, época em que as montadoras de automóveis, indústrias de aparelhos eletroeletrônicos e outras começaram a invadir o parque industrial brasileiro, passando a controlar o mercado interno. Compraram as empresas nacionais, que não conseguiam competir com os preços e a tecnologia dos estrangeiros, e instalaram-se aqui definitivamente, inaugurando a era das multinacionais. Segundo Almeida e Rigolin (2004), Getúlio Vargas foi o responsável pela infra-estrutura necessária para a instalação de indústrias no país no período de seu primeiro governo (1930-1945). Entre suas realizações estão a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), organizada em 1941 e posta em funcionamento em 1946, em Volta Redonda, Rio de Janeiro, e a mineradora Companhia Vale do Rio Doce, instalada em 1942, em Minas Gerais. Também fundou, em 1943, a Fábrica Nacional de Motores (FNM) e a Companhia Hidrelétrica do São Francisco, em 1945. Durante seu segundo mandato (1950-1954), foi criado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) em 1952 e, no ano seguinte, foi instituída a Petrobrás (Petróleo Brasileiro S/A). (p. 394). Para Vesentini (2004), (...) todos os elementos indispensáveis para o processo de industrialização do Brasil o imigrante, o trabalho assalariado, o mercado consumidor, o café e os capitais disponíveis estavam concentrados no Centro-Sul do país, principalmente em São Paulo. (p. 185) E foi aí, realmente, na cidade de São Paulo e em sua vizinhança que a indústria brasileira começou a se concentrar, segundo um padrão mais ou menos comum em todo o mundo: em um primeiro momento a atividade se concentra numa região e, em seguida, num movimento contrário, se dispersa. A concentração industrial no eixo São Paulo-Rio de Janeiro-Belo Horizonte foi responsável pela grande urbanização dessa área, que contou, entre outras coisas, com significativa migração campo-cidade. A era JK O governo de Juscelino Kubitschek, cujo mandato presidencial se estende de 1956 a 1960, foi outro Em 1959, em São Bernardo do Campo, o Presidente Kubitschek inaugura as instalações do Vokswagen do Brasil, ponto de partida da industrialização pesada. A expansão deste setor se caracteriza por forte dependência do Estado e dos recursos estrangeiros, interessados em fabricar bens de produção (máquinas e equipamentos indústrias) e bens de consumo duráveis (automóveis, geladeiras, televisão). Ao fim da era JK, a economia brasileira estava entranhada pelo capital internacional, dominada por grandes empresas estrangeiras, introduzindo o País na era do capitalismo monopolista. Graças ao seu desenvolvimento peculiar, que se deu a partir dos investimentos internacionais, a nossa industrialização se torna dependente. E, por se realizar num momento em que os países mais avançados já haviam atingido a fase monopolista, diz-se que ela é tardia ou recente, com todas as implicações que isso possa acarretar. (...) a industrialização do Brasil, entre 1930 e 1945, foi produto de dois fatores: substituição “espontânea” das importações, resultante do colapso da capacidade de importação, com a manutenção da procura interna através do programa de auxílio ao café, e o deslocamento dos investimentos particulares, do setor de exportação, para a produção industrial destinada ao mercado interno; e a intervenção estatal, direta e indireta. O crescimento da responsabilidade estatal no setor econômico não resultou de exigência popular, nem de pressão trazida à tona pelo setor empresarial; foi, antes, a reação da elite política. O único grupo importante que amparou maciçamente a industrialização foi constituído pelos militares superiores, que desejavam urgentemente uma indústria siderúrgica. A medida justificava-se por uma lógica composta de argumentos baseados em considerações de economia, segurança nacional e nacionalismo emocional. A questão da industrialização per se não foi amplamente debatida 13 14 nesse período, nem mesmo dentro dos círculos de negócios. Em fins da década de 30, contudo, os argumentos históricos do setor de exportação a respeito do papel “natural” do Brasil, como exportador de produtos primários, começaram a cair pelo próprio peso. A prolongada depressão mundial havia mostrado, aos países subdesenvolvidos, quanto os havia tornado vulneráveis à divisão internacional do trabalho. Se o Brasil deveria emergir do seu estágio de economia agrícola de exportação para o de nação industrializada, um considerável número de costumes teria que ser abandonado. Foi esse processo que o regime autoritário do Estado Novo ajudou a tornar possível. A nova política de industrialização, que Vargas endossou explicitamente só depois do início da guerra, não foi vitória de um dinâmico setor urbano; foi uma política imposta do alto, durante uma ditadura. A teoria de uma tal política estava no ar; as doutrinas corporativistas e fascistas na Europa, o New Deal na América do Norte, o socialismo estatal na União Soviética. Na altura de 1945, a direção da política do governo era irreversível. Vargas, em parte reagindo à pressão dos militares superiores, havia comprometido todos os governos subseqüentes com a responsabilidade de dirigir a economia nacional em larga escala. Mesmo o caráter de uma tal tutela pareceria, mais tarde, difícil de mudar. A Depressão demonstrou que o Brasil não poderia escolher senão a industrialização, se quisesse se transformar em uma nação moderna e numa potência mundial. A pressão inicial a favor da industrialização, sob os auspícios do Estado, partiu dos militares, cujo apoio tinha sido a condição sine qua non do golpe de Vargas, em 1937. As idéias e a racionalização desta política vieram de conselheiros-empresários, como Roberto Simonsen e Euvaldo Lodi. Contudo, foi o hábil político Vargas que se tornou o mais conhecido padrinho da industrialização. Na área da política econômica, assim como na esfera das instituições políticas, deveria ficar provado ser mais fácil derrubar o ditador do que repudiar o seu legado. A essência do estilo de Kubitschek era a improvisação. O entusiasmo, a sua principal arma, refletia uma confiança contagiante no futuro do Brasil como grande potência. Sua estratégia básica era pressionar pela rápida industrialização, tentando convencer a cada grupo do poder que teriam alguma coisa a ganhar ou, então, nada a perder. Isto requeria um delicado equilibrismo político. (...) O Governo Kubitschek debatia-se nos limites de uma política de improvisação, não só no campo econômico como no estilo político e ainda na vida institucional. Como parte de sua política de evitar conflitos, Kubitschek raramente tentara abolir ou alterar radicalmente as instituições administrativas existentes. Preferiu uma atitude mais prática, como a de criar um novo órgão para solucionar um novo problema. A SUDENE, a nova entidade em matéria de desenvolvimento no Nordeste, foi um flagrante exemplo dessa prática. Kubitschek passou por cima do ineficiente Departamento contra as Secas, DNOCS, dominado por uma mentalidade corrupta e obsoleta, criando uma nova entidade, concedendo à mesma uma liderança e recursos de que a antiga instituição jamais gozara. Essa tática tornou-se ainda mais fácil de ser executada em Brasília, onde foi concedido a uma nova instituição (NOVACAP) um generoso financiamento e grande autonomia. Se esta prática ajudou a executar as obras com maior rapidez, também tornou mais difícil a manutenção do controle central sobre o dilatado aparato governamental. Esta proliferação de agencias ad hoc significava que as futuras alterações políticas, num nível nacional mais elevado, tornar-se-iam cada vez mais difíceis de serem cumpridas, visto que só lentamente, e quando muito, atingiriam o nível operacional de administração. As instituições políticas existentes do sistema representativo constituíam outra área onde a improvisação havia começado a atingir seus limites. A sociedade brasileira dividira-se em setores mais conscientes, com interesses conflitantes. No entanto, estes interesses estavam representados de modo muito imperfeito no novo sistema partidário. Vários dos congressistas, por exemplo, ainda se comportavam em termos da vida política pré-1930. Encaravam seu papel como sendo o de dividir os ganhos e favores entre seus partidários. Esta atitude representava o estilo de “clientela”, tão típico da tradicional política do interior, persistindo nos hábitos de vários políticos eleitos mesmo nos Estados mais desenvolvidos. Outros exemplos da irracionalidade do sistema poderiam ser encontrados em outras áreas importantes, tais como a educação, onde se verificava um enorme déficit de escolas de nível secundário. A defasagem entre uma sociedade em rápida evolução e o correspondente sistema político tornou-se mais séria devido à necessidade urgente de prosseguir o rápido crescimento econômico. Qualquer desaceleração colocaria em risco as vantagens cuja expectativa se generalizava desde o segundo Governo Vargas. Por um tour de force de improvisação, anualmente, Kubitschek havia esgotado o potencial fundamental do sistema que herdara de Vargas. (Thomas Skidmore. Brasil: de Getúlio a Castelo. 10ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.) TEXTO 4: Os governos militares: aspectos políticos e econômicos O Plano de Metas do governo JK previa um conjunto de trinta e uma metas em seis setores básicos da vida brasileira: energia, transporte, alimentação, indústria básica, educação e reorganização do setor administrativo do País, com a construção de uma nova cidade que viria a ser a capital federal. Neste texto abordaremos o Plano de Metas e suas conseqüências. No fim do governo, as metas propostas haviam sido praticamente atingidas, inclusive a da transferência da capital federal para a cidade de Brasília, ocorrida em 21 de abril de 1961. No entanto, os gastos para atingir os objetivos previstos no Plano ultrapassaram os recursos de que o País dispunha, iniciando um processo inflacionário que marcou, nos trinta e cinco anos posteriores, a economia brasileira e significou maior dependência em relação aos centros capitalistas mundiais. Além disso, provocou o empobrecimento da pequena burguesia e a pauperização dos trabalhadores da indústria e do campo. Os governos que se seguiram – Jânio Quadros e João Goulart – procuraram diminuir a pressão inflacionária: o primeiro, buscando abrir novos mercados em países do bloco socialista e o segundo, tentando implementar o que chamou de reformas de base. Ao lado da crise econômica, o Brasil vivia um período de instabilidade político-institucional, com a renúncia de um presidente, a instituição do regime parlamentarista para assegurar a posse do vicepresidente, a volta ao presidencialismo e graves embates entre setores conservadores e setores da esquerda progressista. Não era um momento fácil da vida brasileira, mas buscavam-se soluções institucionais para resolvê-lo. Em 1964, a crise atinge seu clímax. Em 31 de março deste ano, as Forças Armadas, com o apoio de parte da sociedade civil, depõem o Presidente João Goulart, iniciando 21 anos de ditadura militar no Brasil. A Constituição de 1946 foi revogada pelo Ato Institucional nº 1 que deu ao Congresso Nacional o poder para eleger o novo Presidente da República, o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. Foi o primeiro dos mandatários que governaram o País por força do Golpe Militar de 1964. Palavras–Chave Estado autoritário Repressão política Inflação Milagre econômico O Brasil pagou um alto preço, tanto do ponto de vista social, quanto político e econômico, por essas duas décadas de ditadura. Neste texto, estudaremos os aspectos políticos e econômicos dessa fase da história brasileira. Os aspectos políticos do Golpe Militar de 64 O Golpe Militar, que as forças conservadoras insistiam em chamar de Revolução de 64, mudou a sociedade brasileira. Os políticos, os intelectuais, os estudantes, enfim, todos os que tinham compromisso com as idéias de reforma, num quadro que mantivesse as instituições democráticas, foram impedidos de continuar participando da vida pública, tiveram seus direitos políticos cassados e deixaram o País, banidos ou fugindo das forças da repressão. Alguns se mantiveram no território nacional, vivendo na clandestinidade. Foram os anos de chumbo vividos pela sociedade brasileira. Em 1967, promulgou-se uma nova Constituição, que instituía a eleição indireta do Presidente da República. Na verdade esta Constituição teve efeito pouco eficaz, tendo sido revogada logo em seguida. O governo tinha, e era isso que lhe interessava, um imenso poder: o direito de baixar atos institucionais. O Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, bem mais drástico que os anteriores, baixado pelo Presidente Marechal Costa e Silva, foi um instrumento que, mais do que todos, representou as idéias dos setores mais conservadores das Forças Armadas, a chamada linha dura. Foi um momento em que a ideologia de um Estado Autoritário se intensificou com o fechamento do Congresso e a repressão mais absoluta à contestação que provinha do movimento estudantil, do movimento sindical, das associações de profissionais liberais – artistas, jornalistas e advogados, principalmente – e de setores progressistas da Igreja. 15 16 A resistência se armou como pôde, formando os aparelhos, que articulavam assaltos a bancos, seqüestros políticos - como os dos embaixadores americano e suíço e a guerrilha urbana e no campo. Foram os anos rebeldes, face contestadora dos anos de chumbo. proposta de uma abertura lenta e gradual e foi esse o modelo que prevaleceu. O movimento pela Diretas já! foi derrotado no Congresso, adiando a escolha direta do próximo Presidente, pois se temia que eventuais eleições diretas para o cargo pusessem em risco o processo de redemocratização da Nação. As forças de repressão perseguiram, prenderam e mataram os que consideravam subversivos à ordem instalada, participassem ou não de ações consideradas contrárias à segurança nacional. Pensar diferente já era subverter a ordem. Em 1985, os militares se retiram, mas, de certa forma, continuam no comando, dessa vez através de antigos aliados que dariam continuidade à sua obra. A chapa Tancredo Neves-José Sarney é eleita indiretamente pelo Congresso Nacional para os cargos de Presidente e Vice-presidente da República, respectivamente. O Presidente Tancredo Neves não chega a tomar posse por conta de grave enfermidade que veio a lhe causar a morte. Assume em seu lugar o Vice-presidente José Sarney, o primeiro Presidente civil em 21 anos. O Marechal Costa e Silva adoeceu e foi substituído por uma Junta Militar formada pelo Ministro da Guerra, General Lyra Tavares; pelo Ministro da Marinha, Almirante Augusto Rademaker; e pelo Ministro da Aeronáutica, Brigadeiro Márcio de Souza Melo. O Vice-Presidente Pedro Aleixo foi afastado, impedido de assumir o governo, como seria de direito. O General Garrastazu Médici, em 1970, sucedeu a Junta Militar, iniciando o terceiro mandato presidencial do período militar. Durante o seu governo, intensificaram-se as campanhas pela conquista do apoio popular, através de slogans que construíssem uma mentalidade cívica, entre os quais ficou famoso o que dizia “Brasil, ame-o ou deixe-o!” e o que anunciava “Este é um País que vai prá frente!”. A conquista da Copa do Mundo de Futebol, em 1970, foi intensamente explorada como sinal de um País que se desenvolvia e era vencedor. As leis que reformaram a educação criam, no ensino fundamental, disciplinas como Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política do Brasil e, no ensino superior, os Estudos de Problemas Brasileiros, com o objetivo de formar nas novas gerações um sentimento de ufanismo pelo País em que estavam vivendo. O General Ernesto Geisel é o sucessor do Presidente Médici e toma posse em 15 de março de 1974. O cenário mundial, que havia possibilitado, do ponto de vista econômico, uma relativa tranqüilidade ao governo, a ponto do período entre 1967 e 1970 ser considerado como o do milagre econômico brasileiro, começa a mudar. No governo Geisel, os donos do poder começam a pressentir que é hora de caminhar para a abertura política. E é com essa intenção que o quinto e último Presidente Militar, o General João Batista Figueiredo, toma posse em 15 de março de 1979, anunciando que prendia e arrebentava quem se opusesse à abertura política. Foi o início da volta aos quartéis. O mandato do Presidente Figueiredo foi marcado, desde o início, pelas lutas no sentido da redemocratização da sociedade. Clamava-se pela anistia, com o apoio do movimento da Anistia Internacional. Foram fundadas várias organizações que se encarregam de denunciar o arbítrio, como a Tortura nunca mais! O governo responde com a Os aspectos econômicos do golpe militar de 64 O governo que se instala em 1964 institui o PAEG Plano de Ação Econômica do Governo onde se previa, basicamente, a redução dos gastos públicos, o aumento da carga tributária e o arrocho salarial. Aliado a isso, até 1970, o País recebe vultosos empréstimos internacionais e apresenta uma produção industrial bastante significativa. Os anos entre 1967 e 1973 ficaram conhecidos como os anos do milagre econômico brasileiro, época em que se observou uma retomada do desenvolvimento. O PIB brasileiro é o 8º do mundo e o melhor entre as nações periféricas. A ideologia econômica recomendava fazer crescer o bolo para só depois distribuí-lo. Em 1973, começa a se delinear uma crise no cenário internacional. Os países árabes, exportadores de petróleo, passam a utilizar o preço do produto como arma econômica. Todos pagam um alto preço, principalmente os países não desenvolvidos, dependentes do capital externo. A dívida externa brasileira se avoluma e agrava as desigualdades sociais de um modelo que tentava combinar desen-volvimento com arrocho salarial, contenção da inflação e uma brutal concentração de renda, fenômenos que vão caracterizar os anos 70 e a primeira metade dos 80. A riqueza produzida, em vez de ser aplicada em políticas públicas, foi desviada para o pagamento dos credores internacionais, entre eles o FMI e o Banco Mundial. Mesmo com o fim da ditadura militar, em 1985, os problemas nas áreas política e social continuaram a amargar a vida dos brasileiros, com o País afundando num processo hiperinflacionário e recessivo, apesar dos planos de estabilização do governo Sarney. Dúvidas? Entre em contato com seu monitor. A economia de todos os países subdesenvolvidos entra num processo de estagnação, marca dos anos 80 do século XX, que por isso ficou conhecida como a década perdida, não só para o Brasil, como para todos os países da América Latina. Carta à Nação É indispensável fixar o conceito do movimento civil e militar que acaba de abrir ao Brasil uma nova perspectiva sobre o seu futuro. O que houve e continuará a haver neste momento não só no espírito e no comportamento das classes armadas, como na opinião pública nacional, é uma autêntica revolução. A revolução se distingue de outros movimentos armados pelo fato de que nela se traduz, não o interesse e a vontade de um grupo, mas o interesse e a vontade da Nação. A revolução vitoriosa se investe no exercício do Poder Constituinte. Este se manifesta pela eleição popular ou pela revolução. Esta é a forma mais expressiva e mais radical do Poder Constituinte. Assim, a revolução vitoriosa, como o Poder Constituinte, se legitima por si mesma. Ela destitui o governo anterior e tem a capacidade de constituir o novo governo. Nela se contém a força normativa inerente ao Poder Constituinte. Ela edita normas jurídicas, sem que nisto seja limitada pela normatividade anterior à sua vitória. Os chefes da revolução vitoriosa graças à ação das Forças Armadas e, ao apoio inequívoco da Nação, representam o povo e em seu nome exercem o Poder Constituinte, de que o povo é o único titular. O ato institucional que é hoje editado pelos Comandantes em Chefe do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, em nome da revolução que se tornou vitoriosa com o apoio da Nação na sua quase totalidade, se destina a assegurar ao novo governo a ser instituído os meios indispensáveis à obra de reconstrução econômica, financeira, política e moral do Brasil, de maneira a poder enfrentar, de modo direto e imediato, os graves e urgentes problemas de que depende a restauração da ordem interna e do prestígio internacional da nossa Pátria. A revolução vitoriosa necessita se institucionalizar e se apressa pela sua institucionalização a limitar os plenos poderes de que efetivamente dispõe. O presente Ato Institucional só poderia ser editado pela revolução vitoriosa, representada pelos Comandos em Chefe das três Armas que respondem, no momento, pela realização dos objetivos revolucionários, cuja frustração estão decididas a impedir. Os processos constitucionais não funcionaram para destituir o governo que deliberadamente se dispunha a bolchevizar o País. Destituído pela revolução, só a esta cabe ditar as normas e os processos de constituição do novo governo e atribuir-lhe os poderes ou os instrumentos jurídicos que lhe assegurem o exercício do Poder no exclusivo interesse do País. Para demonstrar que não pretendemos radicalizar o processo revolucionário, decidimos manter a Constituição de 1946, limitando-nos a modificá-la, apenas, na parte relativa aos poderes do Presidente da República, a fim de que este possa cumprir a missão de restaurar no Brasil a ordem econômica e financeira e tomar as urgentes medidas destinadas a drenar o bolsão comunista, cuja purulência já se havia infiltrado não só na cúpula do governo como nas suas dependências administrativas. Para reduzir ainda mais os plenos poderes de que se acha investida a revolução vitoriosa, resolvemos, igualmente, manter o Congresso Nacional com as reservas relativas aos seus poderes, constantes do presente Ato Institucional. Fica, assim, bem claro que a revolução não procura legitimar-se através do Congresso. Este é que recebe deste Ato Institucional, resultando do exercício do Poder Constituinte, inerente a todas as revoluções, a sua legitimação. (Preâmbulo do Ato Institucional nº 1, de 9 de abril de 1964.) 17 18 TEXTO 5: O papel do Estado no desenvolvimento econômico da década de 80 O Brasil chega à década de 80 com uma imensa dívida social, gerada por uma astronômica dívida externa. A partir daí, o país veio vivendo uma forte retração da produção industrial e pequeno crescimento da economia em geral. Neste texto vamos abordar as graves conseqüências desse endividamento. Nosso país, como outros países da periferia do capitalismo, passa por uma crise sem precedente. Está submetido a uma dívida externa que drena suas possibilidades de investimentos em políticas sociais como educação, saúde, transporte, moradia, saneamento básico. Os índices de pobreza são assustadores e tendem a se agravar. As propostas do FMI e do Banco Mundial para o combate à crise econômica, e que pertencem ao conjunto de políticas conhecidas como receituário neoliberal, não têm conseguido superar os graves problemas sociais com que nos defrontamos. Segundo Oliva e Giansanti (1995, p. 227) Os fatos mais significativos para demonstrar o atual estágio das condições de vida dos países subdesenvolvidos são a fome e a miséria generalizadas. Conforme a antropóloga Maria Cecília Minayo, "a fome é talvez a expressão mais dolorosa e cruel da violência social". Igualmente graves são os problemas de acesso à educação, saúde e saneamento básico. Segundo o Fundo de População das Nações Unidas, dos quase 6 bilhões de habitantes do planeta, 1,1 bilhão de pessoas no mundo estão abaixo da linha de miséria e 3 bilhões são pobres. A maior parte desses contingentes está no mundo subdesenvolvido. "(...) os melhores solos e os maiores investimentos na agricultura estão voltados para o cultivo de exportação ou para a produção de matérias-primas industriais, em vez da produção de alimentos para o consumo interno." (Vesentini, 2003, p. 125). Além disso, segundo o autor, há uma subutilização do espaço territorial brasileiro: cerca de 71% das terras não são aproveitadas economicamente. Outra importante questão que se coloca para nós é a impossibilidade real de ingresso numa nova fase de industrialização, caracterizada pela revolução técnicocientífica, que requer tecnologia mais complexa e mãode-obra mais qualificada. Nosso objetivo neste texto é tentar entender como se produziu um país em um mundo no qual, segundo dados do BIRD, os 10% mais ricos da população controlam 47,6% da riqueza e os 60% mais pobres têm acesso somente a 21% da renda gerada internamente e como, neste contexto, pode superar o subdesenvolvimento. A herança econômica: dos governos militares ao final dos anos 80 Durante os 21 anos de governos militares assistiuse, no Brasil, à apropriação do setor público pelo setor privado, isto é, os cuidados do Estado com a coisa pública foram consideravelmente inferiores àqueles dispensados aos interesses dos capitais privados e de seus detentores. Chegamos à década de 80 com insuficiência de recursos destinados a suprir as carências da população, uma vez que o objetivo era o crescimento do PIB e o aumento do superávit da balança comercial. Segundo Sene e Moreira (1998, p. 207): Um dos aspectos mais perversos da fome que se observa no Brasil é o fato de o País ser um grande produtor de grãos, mas para a exportação. Para a população resta a fome. Palavras–Chave Crise econômica Planos econômicos Hiperinflação Continuísmo A herança dessa política, que privilegiou os interesses externos e de uma elite econômica nacional, materializou-se na preferência pelo sistema de transporte rodoviário, no déficit público, na inflação, na fome, no salário mínimo inferior a 100 dólares mensais, nas submoradias, na falência dos sistemas de educação e de saúde, no sistema tributário que expulsa investimentos produtivos e concentra ainda mais a renda nacional, nas menores oportunidades de ascensão social etc. Mesmo tendo havido uma melhoria nos índices de natalidade e mortalidade infantil e um aumento da expectativa de vida entre os brasileiros na primeira metade da década, a população brasileira não passou a viver melhor. Rodrigues (2003) se refere a uma pesquisa realizada, em 1980, sobre o consumo nas regiões urbanas de diversos estados brasileiros que indicava que apenas os 8% mais ricos da população dessas áreas consumiam 62% dos bens disponíveis no mercado. Isso, segundo a autora, "é um dos indícios da grande concentração de renda existente no País, o que possibilita a alguns uma qualidade de vida elevada e a muitos, condições mínimas de sobreviver." (p. 51) Em 1983, as coisas estavam tão difíceis que o governo brasileiro aceitou assinar uma carta de intenções com o FMI, comprometendo-se com algumas metas fixadas pela agência internacional. Entre elas estava o controle das negociações salariais, o que agravou ainda mais a tensão entre os trabalhadores e o Estado. A inflação atingiu 211% e o único setor a crescer foi a agricultura, por conta dos produtos de exportação: soja, café, cacau. Não tardou que várias greves explodissem e que a impopularidade do governo Figueiredo aumentasse. Diretores do FMI diziam que, se o Brasil não acertasse um programa com o Fundo, desapareceria pelo ralo. O desemprego atingia 28% da população economicamente ativa. Em 1984, a inflação subiu para 223,8%. O Ministro da Fazenda, Delfim Neto, era duramente criticado. A corrupção que grassava entre as elites empresariais, apoiadas pelo governo, se transformava em escândalos. Os setores que se opunham ao governo consideravam que não haveria saída para os problemas enquanto não se alcançasse a imediata redemocratização do País. Era condição fundamental para uma efetiva luta contra a hiperinflação, as desigualdades sociais, a recessão econômica e a corrupção. O ônus social representado pela dívida externa não cessou, no entanto, com o fim da ditadura. A Nova República nascia, em 1985, cercada de problemas. Tendo tomado posse em abril de 1985, o Presidente Sarney, um fiel e antigo aliado dos militares, anuncia à Nação, em agosto desse mesmo ano, o Plano Cruzado, com o objetivo de estabilizar a economia do País. Num primeiro momento, sob um clima de confiança, conseguiu-se uma inflação negativa. A demanda de bens cresceu rapidamente. A estabilidade financeira permitia aos brasileiros começarem a planejar sua vida, embora não se voasse em céu de brigadeiro. Os resultados possibilitaram que o governo, apesar de problemas na condução do Plano, apresentasse um desempenho positivo nas eleições de outubro de 86. Nessas eleições foram eleitos, além dos Governadores dos estados, os Deputados Federais e Senadores que comporiam a Assembléia Nacional Constituinte, encarregada de elaborar a nova Constituição do País, que seria promulgada em outubro de 1988. Passadas as eleições, contudo, a pressão dos produtores e intermediários, que viram seus lucros diminuírem, passa a ser muito forte e a população tem que conviver com o desabastecimento que só permite que se compre produtos necessários, inclusive gêneros alimentícios, com ágio. Por conta da pressão, o Ministério da Fazenda permite um aumento geral de preços da ordem de 60% e, em seguida, libera-os completamente. O fim do Plano Cruzado significou a volta da inflação. O Ministro Bresser Pereira, que sucedeu Dílson Funaro no Ministério da Fazenda, anuncia, em abril de 1987, um novo plano. As tentativas de desvalorizar a moeda e conter os gastos públicos foram inócuas, no sentido de não representar qualquer alteração no cenário econômico. Como diria o próprio Ministro, ele não era mágico. A essas medidas, pensadas e impostas pelas equipes econômicas, os brasileiros chamavam de pacote. Pois o novo Ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, anuncia outro pacote, com medidas drásticas, entre elas o não pagamento de uma unidade que restabelecia, minimamente, o poder de compra dos salários dos funcionários públicos a URP. Ao chegar a 1988, a inflação acumulada ultrapassou a casa dos 930%. No fim do governo Sarney, o controle dos salários e a hiperinflação atingiram "(...) a mesa o trabalhador. Em janeiro de 1989, a cesta básica, conjunto de poucos alimentos necessários à manutenção de uma família de quatro pessoas, consumia 56% do salário mínimo." (Rodrigues, 2003, p. 50) Do ponto de vista econômico, o governo Sarney foi bastante conturbado. Herdeiro dos problemas gerados pelo modelo de desenvolvimento econômico estabelecido durante o regime militar e agravado pelas sucessivas crises internacionais, o governo elaborou 19 20 vários planos para combater a inflação e estabilizar a economia. No dia 28 de fevereiro foi decretado o Plano Cruzado, que estabelecia uma série de medidas: · O cruzeiro foi substituído pelo cruzado, com corte de três zeros. · Todos os preços foram congelados. · Os salários, também congelados, seriam corrigidos anualmente, ou cada vez que a inflação atingisse 20% (gatilho salarial). · Foi extinta a correção monetária. · Foi criado o seguro-desemprego. Elaborado pela equipe do então ministro da Fazendo Dílson Funaro, o plano contou inicialmente com o apoio da população, entusiasmada com as perspectivas de estabilização econômica. O povo foi incentivado a colaborar, fiscalizando estabelecimentos comerciais que praticassem preços acima da tabela determinada pelo governo. A inflação foi reduzida, o desemprego diminuiu, o poder aquisitivo da população cresceu. Mas em poucos meses, o Plano Cruzado já apresentava problemas: muitos produtos desapareceram do mercado e começou a cobrança de ágio, ou seja, o consumidor era obrigado a pagar um Dúvidas? Entre em contato com seu monitor. tanto a mais sobre o preço estipulado pelo congelamento. Em novembro de 86, após as eleições, foi anunciado o Plano Cruzado II, que congelou preços muito acima da realidade do mercado. Com o passar do tempo, a inflação voltou a crescer e, em maio de 1987, já ultrapassavam a casa dos 20% ao mês. O fracasso do plano provocou a queda do ministro Dílson Funaro. Em junho de 87, o governo decretou um plano econômico, agora sob a orientação do ministro Luís Carlos Bresser Pereira. O Plano Bresser, como ficou conhecido, visava regularizar as contas públicas, isto é, as despesas do governo. Foi decretado um novo congelamento de preços e salários, por três meses. No final de 87, a nova estratégia econômica já apresentava sinais de esgotamento, por não conseguir manter a política de preços e de salários controlados. Maílson da Nóbrega, o quarto e último ministro da Fazenda do governo Sarney, tentou ainda outro “pacote de medidas para sanear a economia: o Plano Verão, anunciado em janeiro de 1989, que decretou um novo congelamento, criou o cruzado novo e se comprometeu a conter os gastos públicos. Como os demais planos, esse também não obteve os resultados pretendidos. O governo Sarney terminou em ambiente de recessão econômica, especulação financeira e ameaça de hiperinflação. (http://www.brasilescola.com/historiab/governosarney.htm) TESTE SEUS CONHECIMENTOS 1 - "Vergonha que a cupidez do Homem, por preocupações de tráfico, substituísse o lenho da cruz, tinto com real sangue de Cristo, pelo de outra madeira a ele semelhante somente na cor... " Essa colocação, atribuída a um superior da Companhia de Jesus, se refere à mudança do nome da Terra de Santa Cruz, o novo descobrimento português, para Brasil, gerada pela: A - importância econômica do pau-brasil, primeira fonte de riqueza da Colônia explorada por Portugal. B - implicação ideológica de se nomear a nova terra descoberta com o nome de um produto nacional. C - possibilidade de convivência com os indígenas que habitavam a Colônia, uma vez que se tratava de um nome conhecido para eles. D - contestação da política colonial, que possibilitava que a Inglaterra decidisse o que explorar no Novo Mundo. E - intolerância religiosa, que considerava impróprio nomear a terra descoberta com um símbolo do cristianismo. 2 - "Subitamente, com a volta de D. João VI a Portugal, as Cortes de Lisboa ameaçaram restaurar o sistema monopolista exclusivista do comércio colonial. Os brasileiros, por seu lado, achavam impossível abandonar os lucros obtidos desde que a Carta Régia de 1808 dera o primeiro passo para a libertação da Colônia de sua sujeição econômica à Metrópole."(MANCHESTER, A. Preeminência Inglesa no Brasil, Brasiliense, 1973). extração de riquezas como monopólio da Metrópole. E - ao escambo, realizado entre portugueses e indígenas, que permitiu a exploração do pau-brasil e de outras riquezas. 3 - Durante o século XIX, a economia brasileira continua essencialmente agroexportadora. Nesse século, o surgimento da cultura do café, organizada nas plantations: A - transformou o Sudeste no centro econômico mais importante do país, deslocando do Nordeste açucareiro o poder político do Império. B - criou as condições econômicas para tornar o Nordeste, a região mais rica do país, no centro da colonização iniciada no século XVI. C - marcou o início da dominação brasileira no continente latino-americano, produzindo uma nova forma de extrativismo. D - exigiu uma nova forma de trabalho que levou a escravidão de negros africanos a ser substituída pela de indígenas. E - tornou-se a responsável pelas relações de partilhamento econômico entre os escravos e os "barões do café". 4 - Pode-se dizer que o café foi o mais importante produto brasileiro de exportação desde o Império até 1930, quando a crise da Bolsa de New York afeta profundamente a economia brasileira e colabora para que a indústria: A - passe a ser, no início do séc. XX, a principal atividade econômica do país, favorecida pela imigração italiana e portuguesa. O texto acima, quando se refere à política exclusivista que sujeitava a Colônia à Metrópole, quer se referir à relação econômica, típica do sistema colonial, isto é: B - comece a receber capitais até então investidos na produção cafeeira, impulso fundamental para a sua instalação do país. A - ao exclusivismo econômico, pelo qual a produção e o comércio na Colônia independiam da Metrópole. C - passe a ocupar um lugar de muita importância no panorama econômico da época, projetando o Brasil no cenário mundial. B - à ação independente da Colônia na condução da política externa, num momento de expansão das suas fronteiras. C - à organização da produção, baseada na pequena propriedade familiar e na policultura. D - ao pacto colonial, que estabelecia a produção e a D - seja considerada responsável pela desvalorização do café no mercado internacional, provocando uma queda na venda do produto. E - se constitua na atividade econômica responsável pela maior parte de produtos exportados pelo Brasil. 21 22 5 - O processo de industrialização brasileiro teve, inicialmente, uma característica de substituição de importações já que consistia, principalmente, em: A - consolidar o parque industrial brasileiro com a fabricação de produtos inovadores que dependiam de tecnologia nacional. B - produzir internamente parte dos produtos que eram destinados ao mercado brasileiro. C - trocar produtos agrícolas brasileiros por mercadorias industrializadas no exterior, com lucro para o Brasil. D - evitar a queda do preço dos produtos brasileiros no mercado internacional, obedecendo ao princípio do protecionismo alfandegário. E - desenvolver os setores da economia brasileira mais afetados pela crise do café.embora esse produto ainda fosse importante. 6 - Segundo Vesentini, " todos os elementos indispensáveis para o processo de industrialização do Brasil: o imigrante, o trabalhador assalariado, o mercado consumidor (...) e os capitais disponíveis" estavam concentrados numa região específica do território brasileiro. Essa região era o: A - Nordeste, de tradição açucareira. 8 - O Governo JK (1956/1960), embora empenhado no desenvolvimento do país, inicia um processo de 'internacionalização' da economia, inaugurando no Brasil, ao contrário do que havia acontecido no Governo Vargas, a era das multinacionais. Isso significou que: A - os recursos estrangeiros foram aplicados na geração de energia, na construção de estradas, na instalação de indústrias de base, liberando os recursos nacionais para atendimento a políticas públicas. B - a indústria nacional foi marcada pelo ingresso de capitais estrangeiros, que auxiliaram o processo de reconstrução do parque industrial brasileiro, tornandoo mais competitivo. C - os capitais internacionais estavam interessados na fabricação de bens, fossem eles de produção (equipamentos industrias) ou de consumo duráveis (geladeiras, automóveis etc), deixando a infraestrutura para a ação governamental. D - ao fim desse governo, a economia brasileira alcançou padrões internacionais e competitivos que colocaram o Brasil entre as nações mais industrializadas do mundo. B - Norte, zona de extração da borracha. C - Centro-Oeste, com seu rico cerrado. D - Sudeste, onde decaía a produção cafeeeira. E - Sul, devido ao seu grande rebanho e produtos dele derivados. 7 - Pode-se dizer que o primeiro governo Vargas (1930/1945) foi responsável pela organização de uma infra-estrutura que possibilitou a instalação da indústria no Brasil. Entre suas realizações pode-se apontar: A - as Estradas de Ferro Central do Brasil e Leopoldina. B - o Banco do Brasil e a Imprensa Régia. E - a economia brasileira, mesmo dependente de capitais internacionais, iniciou seu processo de emancipação, colocando o Brasil, hoje, entre os países centrais do capitalismo. 9 - O movimento militar de 64 se dizia uma "revolução de caráter democrático" e trazia a idéia de que, neste momento, o autoritarismo era necessário para avançar no sentido da democracia, ameaçada pelas tensões sociais pelas quais o país passava. No entanto, os anos que se passaram sob tal regime, explicitaram que a defesa das liberdades democráticas era apenas uma farsa, assim como não era verdadeira a intenção de avançar na área das políticas públicas que viessem a atender aos anseios da população brasileira. C - a ELETROBRÁS e a EMBRATEL. D - o Banco Mundial e as Forças Armadas. E - a Cia. Siderúrgica Nacional e a Cia Vale do Rio Doce. Resultaram desse período: 1 - uma acentuada concentração de renda nas mãos das elites econômicas. 2 - um falso "milagre econômico", afetado com as crises internacionais do petróleo. 3 - um aumento astronômico da dívida externa brasileira. B - a contenção dos gastos públicos, o que veio a significar alteração no quadro econômico do país. 4 - a integração do Brasil ao capitalismo internacional. C - uma inflação acumulada que chegava a mais de 900% e que não oferecia a menor possibilidade de investimentos. 5 - a reorganização do movimento popular, que acabou provocando a abertura política. A - apenas as afirmações 2 e 3 são verdadeiras. B - as afirmações 2, 3 e 4 são verdadeiras. C - todas as afirmações são verdadeiras. D - a afirmação 4 é a única verdadeira. D - a contenção dos salários, decidida num processo democrático de negociação com os trabalhadores, acarretando o controle da hiperinflação. E - a redução dos lucros dos produtores e intermediários, com intenção clara de colaborar com o governo no sucesso dos medidas implantadas. E - são verdadeiras as afirmações 1, 2, 3 e 5. 10 - O fim dos governos militares não significou um rompimento com os interesse de apenas uma parcela da população. O Governo Sarney, que se iniciara em 1985, valeu-se de uma série de medidas, que ficaram conhecidas popularmente como "pacotes", e que constituíram diferentes planos econômicos cujos principais resultados foram: A - a estabilidade financeira do país, com investimentos significativos nos setores tecnológicos mais modernos. Gabarito: 1 - A; 2 - D; 3 - A; 4 - B; 5 - B; 6 - D ; 7 - E; 8 - C; 9 - E; 10 - C 23 24 UNIDADE I: Auto-Avaliação 1 - A vinda da família real portuguesa para o Brasil determinou mudanças significativas na relação BrasilInglaterra, do ponto de vista comercial. Aponte algumas delas, dizendo em que foram importantes para a implantação das primeiras fábricas em nosso país. 2 - Com o fim da escravidão e a proclamação da República no Brasil, desenha-se um quadro de mudanças que, no entanto, não estava livre das disputas entre os dois grupos economicamente dominantes. Que grupos eram esses e por que defendiam interesses tão diferentes? 3 - Faça um resumo das principais atividades econômicas do Brasil até 1930, referindo-se às características do modelo agroexportador da nossa economia. 4 - Explique por que, no início do processo, a industrialização brasileira se concentrou em São Paulo. 5 - Quais as principais diferenças entre o processo de industrialização da era Vargas e o que se verificou na era JK? 6 - Entendendo revolução como sendo uma transformação radical, capaz de alterar estruturas políticas, econômicas e sociais, estabeleça os limites da aplicação dessa categoria ao movimento político militar de 1964. 7 - "Apesar de a Petrobrás ter descoberto muito petróleo no país, ele ainda era insuficiente no final do século XX. O território brasileiro é imenso e há inúmeras áreas que, em tese, podem ter petróleo. Como gastava bilhões de dólares todos os anos importando petróleo, em 1976 o governo federal promoveu uma flexibilização (e não quebra) no monopólio de petróleo por meio de "contratos de risco", ou seja, contratos referentes à prospecção e exploração do petróleo em certas áreas por empresas privadas, nacionais e estrangeiras (...)" (Vesentini. Brasil: sociedade e espaço, 2003, pp. 90-91) Relacione o que está relatado no texto com a questão mundial provocada pelos choques do petróleo, na década de 70. 8 - Aponte os principais problemas econômicos que se constituíram durante a década de 80, no Brasil, estabelecendo uma relação entre o fim da ditadura militar eo governo do Presidente José Sarney. 9 - Sabemos que a passagem do regime autoritário, que vigorou no Brasil por 21 anos, para a Nova República, acabou sendo uma transição conciliadora. O que isso significa? Dúvidas? Entre em contato com seu monitor. UNIDADE II 25 Neste texto abordaremos como se deu a abertura do mercado brasileiro para a chamada "economia global" e a distribuição interna da renda nacional. TEXTO 6: As concentração marcas da economia brasileira: a de renda A Constituição Federal de 1988 assegurou, simbolicamente, a volta ao Estado de direito, com a eleição do primeiro Presidente escolhido diretamente pelo voto popular, em 1989, após cinco Presidentes da República militares e um civil, eleitos indiretamente. A posse do Presidente Fernando Collor, em 1990, parecia resgatar os direitos dos cidadãos brasileiros e sua consciência política. As promessas de Collor, entretanto, logo se mostraram impossíveis de serem cumpridas e a luta contra a corrupção, bandeira principal de sua campanha, voltou-se contra ele próprio. Seu breve governo viu-se envolvido num tal escândalo que acabou ocasionando seu pedido de renúncia, para evitar o impeachment. O Congresso Nacional, porém, prosseguiu seu julgamento e condenou-o, em dezembro de 1992, com a perda dos direitos políticos por 8 anos, por violação da lei, no exercício de sua função de Chefe do Executivo. O Vice-presidente Itamar Franco assumiu o cargo e concluiu o mandato em 1994. No entanto, a gravidade da inflação e o quadro econômico e social do Brasil não conseguiram se tornar menos tenebrosos, nos conturbados anos do governo Collor e nos que se seguiram sob a coordenação do Presidente Itamar Franco. econômica, por conta disso, foi marcada por grande abertura do mercado brasileiro ao capital e a produtos estrangeiros o que, na sua ótica, traria para o Brasil investimentos e tecnologia de ponta para possibilitar um avanço nas condições do parque industrial brasileiro. Entretanto, o que se verificou é que houve uma importação indiscriminada de produtos, a desnacionalização de amplos setores da economia – fragilizando as empresas estatais, nas quais se iniciou um processo de sucateamento –, a perda de fatias do mercado interno, a redução da oferta de emprego. É verdade que a nova política econômica rompia definitivamente com o modelo da era Vargas de desenvolvimento, baseado na substituição de importações, na proteção ao mercado interno e no estímulo à indústria nacional, caracterizada pela forte intervenção do Estado. Mas cabe a pergunta: o Brasil melhorou com esse novo modelo de desenvolvimento? Parece que, até agora, as antigas questões sociais não foram resolvidas e se instalaram outras, de resolução tão difícil quanto as anteriores. Uma delas, que se perpetua, é a concentração de renda. Neste texto, vamos estudar os primórdios da política econômica neoliberal, que começava a se implantar no Brasil. Os estudos sobre distribuição de renda demonstram que o Brasil continua a ser um país de grandes desigualdades sociais, como se pode observar no quadro abaixo. A política econômica concentradora de renda Distribuição da renda no Brasil Quando Collor inicia seu governo, sua intenção é que a economia brasileira possa preparar-se para uma inserção competitiva no mercado mundial. Sua política Palavras–Chave Categorias 60% mais pobres 23.4% 1960 2000 18% 30% intermediários 37% 34,4% 10% mais ricos 39,6% 47,6% Modernização Recessão econômica Concentração de renda IDH Fontes: IBGE. Recenseamento geral de 1960 / Banco Mundial. World Development Report, 2001. 26 Apesar de estarmos, em 1998, entre os 10 países mais ricos do mundo, ocupávamos o 74º lugar no IDH entre 174 nações, sendo que, no quesito concentração de renda, nosso País só perdia para Serra Leoa, nação extremamente pobre. Segundo Vesentini (2003), ao contrário do que ocorreu com economias que cresceram nas últimas décadas, como Coréia do Sul, Cingapura e outras, que "experimentaram uma melhor distribuição social da renda, com aumento nos rendimentos das populações mais pobres e diminuição relativa da renda dos 10% mais ricos"(p. 20), no Brasil ocorreu o inverso. Os 10% mais ricos estão aumentando a percentagem da renda nacional que detêm. Esta parece ser a razão da economia brasileira ter crescido tão pouco nas décadas de 80 e 90, abaixo das médias verificadas no resto do mundo: a extrema concentração da riqueza exclui parcelas consideráveis da população no acesso às mercadorias mais simples. O fim da era Collor O governo Collor não foi bem sucedido politicamente por vários motivos. Confiante na esmagadora votação de 35 milhões de eleitores que o levaram ao poder; o presidente não se preocupou de início em obter o apoio político dos grandes partidos dentro do Congresso Nacional. A administração federal teve, com ele, um estilo oligárquico e uma feição populista. Ironicamente, provocou uma modernização política que foi a causa principal de sua própria desintegração. Collor, assim como Jânio Quadros e João Goulart, apostou em um apoio popular que substituiria o apoio que ele não teve nos grandes partidos e no Congresso Nacional. Escudado nos milhões de votos que recebeu, seu poder se desmoronou quando a opinião pública, motivada pelo escândalo da CPI de Paulo César Farias, voltou-se contra o governo e ele teve de confrontarse com as fontes reais do poder no Brasil. Não foram os desacertos políticos e socioeconômicos, que aconteceram durante os 930 dias da era Collor, os responsáveis principais do colapso do governo. Pedro Collor, irmão do presidente, acusou a existência de um tráfico de influências dentro do governo, intermediado pelo empresário Paulo César Farias, tesoureiro da campanha presidencial de Collor e seu amigo pessoal. A repercussão das acusações pela imprensa resultaram em uma indignação popular sem precedentes. Esta se acentuou na medida em que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), organizada para a averiguação dos fatos, acabou por descobrir ligações entre o presidente e os envolvidos diretamente nas negociatas que implicaram no desvio de milhões de dólares dos cofres públicos. (http://www.brasilescola.com/historiab/fimcollor.htm) TEXTO 7: As marcas da economia brasileira: a exclusão social Todos sabem que a dívida externa é responsável por uma das marcas mais perversas da sociedade brasileira: a exclusão social, que se agudiza numa economia de mercado. Neste texto abordaremos o modelo econômico e a exclusão social. O governo Collor iniciou um padrão de desenvolvimento baseado numa menor intervenção do Estado na economia, na revisão de leis trabalhistas, na concorrência entre capitais nacionais e estrangeiros e na tentativa de incorporação de novos níveis de competitividade industrial. No entanto, o que se observa é que nem toda a sociedade brasileira tem se beneficiado da modernização da economia. Há consideráveis contingentes da população que ficam impedidos de acesso aos bens mais essenciais, por conta de uma organização econômica que se pauta pelo mercado. Mas o que vem a ser economia de mercado? Fundamentalmente um processo de trocas no qual a informação relativa aos preços leva em consideração a oferta e a demanda. Mas a oferta e a demanda, que regem o mercado financeiro, são processos isentos de preocupação com as responsabilidades sociais do Estado. Segundo o megainvestidor George Soros, os "mercados financeiros são amorais. Neles nunca contam valores morais". Desta forma, o mercado mundial passou a ser o teatro privilegiado da guerra tecnológica, industrial e comercial entre os grandes grupos mundiais e empresas multinacionais, onde a solidariedade e o estado do bem-estar social passaram a ser considerados um custo elevado para as empresas, afetando a sua competitividade no mercado. O que se tem dito da economia atual é que ela tem nos levado a perder o sentido de "bem comum". Os críticos desse modelo têm alertado para o fato de que os efeitos da modernização dão, ao mudo atual, uma configuração bastante heterogênea, que, na ótica Palavras–Chave Economia de mercado Modernização Excludente Desemprego Exclusão social de Félix Guatari, "não cria motivações às atividades de trabalho dos indivíduos e gera um pólo de miséria absoluta e um outro pólo de riqueza inacessível". Nesse texto vamos tratar, exatamente, da relação entre modernização e exclusão social. A modernização como geradora de pobreza Com a modernização no final do século XX, as exigências sociais aumentaram, especialmente no Brasil e em outros países subdesenvolvidos, que passaram de uma sociedade rural, agrícola e de auto-suficiência/ mercado local para uma sociedade urbana, terciária e guiada pelo mercado mundial. Essa modernização da economia, como não podia deixar de ser, exigiu inovações tecnológicas na indústria e no setor de serviços, que promoveram uma absorção insuficiente da mão-de-obra disponível. O resultado foi o desemprego e o crescimento das atividades ditas informais. Isso é o que podemos chamar de modernização excludente: destruição das atividades tradicionais e a não inclusão dos destituídos no setor moderno. Não é por outra razão que, num país como o Brasil, cifras elevadas da população não participam do mercado. ( O l i v a e G i a n s a n t i , 1 9 9 5 , p . 73) Temos hoje, no Brasil, uma grande massa de trabalhadores subempregados ou desempregados, de duas espécies distintas. Uma se origina num processo de modernização dependente, que é caracterizado pela instabilidade econômica, isto é, pelas crises econômicas, que implicam demissão em massa é o desemprego conjuntural ; outra, no fato da urbanização não ter sido acompanhada da geração de empregos na indústria e no setor de serviços ou ser resultante da falta de investimentos educacionais que formassem uma mão-de-obra qualificada para acompanhar os avanços tecnológicos, tanto para o setor secundário como para o setor terciário o desemprego estrutural. 27 28 É fácil entender, portanto, dentro deste quadro, como foi gerada a exclusão de que são vítimas parcelas consideráveis da população brasileira. Como não acumularam riquezas, dependem do trabalho, do emprego, uma vez que a sociedade urbana é, em essência, uma sociedade mercantilista, que não tem lugar para a auto-suficiência. Quem não tem bens e não se integra ao mundo do trabalho passa a ser excluído socialmente. As críticas a esse modelo de modernização se originam do fato dele acarretar a submissão dos interesses sociais aos do desenvolvimento econômico, provocando desigualdades profundas entre os países e, dentro dos países dependentes, exclusão de numerosos grupos sociais, que não têm acesso aos bens produzidos, à educação, à saúde, à moradia, ao emprego. Sérgio Paulo Rouanet, citado por Oliva e Giansanti (1995, p. 15), assumindo a postura crítica diante dessa modernidade excludente, pensa que: O único progresso humanamente relevante é o que contribui de fato para o bem-estar de todos, e os automatismos de crescimento econômico não bastam para assegurá-lo. O progresso, neste sentido, não é mais uma doação espontânea da técnica, mas uma construção intencional, pela qual homens decidem o que deve ser produzido, como e para quem, evitando ao máximo os custos sociais e ecológicos de uma industrialização selvagem. Esse progresso não pode depender de decisões empresariais isoladas nem de diretrizes burocráticas de um Estado centralizado, e sim dos impulsos emanados da própria sociedade. TEXTO 8: Movimento social e estrutura agrária brasileira: o Movimento dos SemTerra Sem-T O chamado mundo subdesenvolvido ou, como querem alguns, em desenvolvimento, apesar do enorme crescimento econômico de alguns países graças à industrialização e à urbanização que apresentam, vive às voltas com graves problemas sociais. Um dos mais graves é o da luta pela posse das terras pelos pequenos produtores rurais. Este e outros temas serão abordados no presente texto. O fim das formas tradicionais de produzir, inviabilizadas pela modernização, criou significativos contingentes sociais que já nascem sob o signo da exclusão, totalmente impedidos de ter acesso aos benefícios que possam estar disponíveis no mundo moderno. Dentre essas graves questões, pode-se citar a fome, a falta de uma educação de qualidade, o não acesso à saúde, a violência e a criminalidade, o tráfico de drogas. Se não se pode sempre afirmar que as grandes formações urbanas são constituídas de problemas – uma vez que, ao lado de acumulá-los, acumulam também empregos, recursos financeiros e é, sem dúvida, um imenso mercado concentrado – pode-se dizer, no que se refere às causas da metropolização nos países periféricos, que o que se presencia é fruto de um capitalismo dependente, com todas as mazelas que isso significa. No caso específico do Brasil, não há muitas diferenças. As ocupações geradas pela indústria provocaram um intenso fluxo migratório campo-cidade, de tal forma que hoje mais da metade da população brasileira vive nas cidades, nas mais variadas condições, em alguns casos em situação de enorme precariedade. Uma das grandes questões sociais brasileiras é a fome, que constitui também uma questão política, gerada pela injusta distribuição da terra, situação que dá origem a um importante movimento social: O MST – o Movimento dos Trabalhadores Sem – Terra. Neste texto, pretendemos discutir a formação desse movimento social e iluminar a discussão sobre ele, de forma que se possa considerá-lo, pelo menos, com justiça. A origem do MST: estrutura fundiária, relações de trabalho no campo, fome O Brasil descrito por Caminha como a terra em que “se plantando tudo dá” não é verdadeiro e nem todos os que vivem neste País têm acesso à mesma quantidade de terras e da mesma forma. A urbanização provocada pela industrialização veio alterar profundamente a distribuição da população no espaço territorial brasileiro, a ponto de haver, hoje, três vezes mais pessoas morando nas cidades que nas áreas rurais. Este é um dado que tem que fazer parte da reflexão da sociedade brasileira, quando se considera que produzir alimentos é uma questão a ser resolvida no Brasil. Se, teoricamente, o Brasil tem possibilidades, do ponto de vista territorial e do número de habitantes, de ser um grande produtor de frutas, verduras, legumes, derivados de leite, carne etc., de modo que todos possam viver com abundância, por que a fome é uma evidência no nosso País? Por que a maioria da população é subalimentada, em que pese os dados estatísticos que escamoteiam a realidade? Como explicar a situação de profunda desigualdade, com referência à distribuição de alimentos que se verifica na sociedade brasileira? De antemão, pode-se dizer que o fato de se ter mais pessoas nas cidades que nas zonas agrícolas ou de possuir uma enorme população não é o que provoca a fome no Brasil. É, antes de tudo, o fato da produção de alimentos ser insuficiente e mal distribuída. Palavras–Chave Lutas sociais Relações de trabalho no campo Estrutura fundiária MST Vários fatores contribuem para esse quadro, entre os quais: 1) fatores naturais ligados ao potencial do solo; 2) possibilidades de exploração das áreas agricultáveis; 3) a estrutura fundiária; 4) a capacidade de consumo das diferentes camadas da população. 29 30 Os fatores naturais e sua influência na produção de alimentos outros. Isso evidencia sua impossibilidade de, sozinho, satisfazer integralmente à demanda nacional de alimentos. Apesar de os brasileiros viverem a ideologia do Brasil como "celeiro do mundo", da terra boa de onde tudo se pode tirar, "a maioria dos solos brasileiros são pobres e ácidos e apresentam os problemas comuns ao ambiente tropical, como a lixiviação, [...] a erosão e a laterização". (Moreira, 1995). Deve-se considerar, ainda, as diferenças observadas no relevo, que vão influenciar e limitar a prática agrícola porque determinam, por exemplo, o regime dos rios, fator primordial na agricultura. Para superar tais problemas é necessário que os solos sejam corrigidos e adubados, a fim de incrementar a produtividade. Isso exige o desenvolvimento de técnicas agrícolas, escolha do produto a ser plantado, irrigação, uso de fertilizantes e defensivos agrícolas, medidas que deverão ser utilizadas de acordo com cada situação específica. Essa é uma questão séria no Brasil, país que apresenta um panorama onde relevo, vegetação, médias de temperaturas e quantidade de chuvas determinam um mosaico de diferentes paisagens. E, como se sabe, o que é bom para determinado lugar não o é, necessariamente, para outro. Aliás, as tentativas de padronização têm sido mais desastrosas do que benéficas, no caso da agricultura. O fato de o Brasil possuir grande parte de suas terras localizada na zona tropical faz com que a maioria de suas lavouras seja igualmente tropical, o que o torna um exportador desses produtos e importador de Outras questões naturais vão influenciar a potencialidade agrícola do território brasileiro. No entanto, isoladas não explicam a relação entre a produção de alimentos e a prática de agricultura no Brasil. Possibilidades de exploração das áreas agricultáveis do Brasil para a produção de alimentos A maior parte da produção agrícola brasileira é destinada ao mercado externo, pois ela deve, em primeiro lugar, gerar divisas, através da exportação de seus produtos. Em segundo lugar, ela é dirigida diretamente às indústrias, fornecendo-lhes matériasprimas ou combustíveis. Em terceiro e último lugar é que se exige que ela seja fonte de alimento para os grandes contingentes da população brasileira. É claro que este último objetivo é o que é atingido mais precariamente. Pode-se afirmar, sem sombra de dúvida, que a produção agrícola para consumo próprio é claramente minoritária no território brasileiro. Acontece, no Brasil, o mesmo fenômeno que marca a produção agrícola nos países do Terceiro Mundo: o seu principal destino é a comercialização. Outra questão, ligada às possibilidades de exploração das terras destinadas à agricultura, é o fato de que a fertilidade da terra está estreitamente dependente do produto que se deseja obter. E o produto, por seu lado, depende de demandas do mercado consumidor. O objetivo é que a produção agrícola seja capaz de cobrir os seus custos e oferecer bons lucros. Neste sentido, fertilidade se liga à idéia de lucro. Segundo Pereira (1994), a construção das ferrovias foram um fator de "fertilização" das terras do interior paulista, "elevando a rentabilidade da produção cafeeira nas regiões bem distantes da planície costeira". É ainda esse autor que coloca que "o conceito de fertilidade não pode limitar-se apenas à questão da composição química e da atividade biológica do solo." É necessário que "elementos ligados à dinâmica social da estruturação da atividade agrícola" sejam introduzidos, estabelecendo a relação entre sociedade e elementos da natureza. A estrutura fundiária A apropriação privada dos meios de produção e a possibilidade de transformar em mercadoria tudo o que é necessário à sobrevivência do homem, acabaram por conferir um preço à terra. Apesar de se saber que ainda existem no Brasil grandes áreas não apropriadas para a agropecuária, a concentração de terras é algo estarrecedor em nosso país. Este é, aliás, um dos maiores problemas brasileiros. Um pequeno número de proprietários concentra a maior parte das terras e os melhores solos, ao mesmo tempo em que um imenso número de pequenos proprietários possui áreas ínfimas. BRASIL - DISTRIBUIÇÃO DOS IMÓVEIS RURAIS SEGUNDO A DIMENSÃO Dimensão dos imóveis em hectares* Número de propriedades (proporção sobre o total) Proporção de imóveis (sobre a área total das propriedades rurais) 1970 1980 1985 1970 1980 1985 4924019 5167578 5834799 294862142 369587872 376286577 ha imóveis imóveis imóveis ha ha (ou 3762865 km2) Menos que 10 ha 51,4% 50,6% 52,8% 3,1% 2,5% 2,6% De 10 a 100 ha 39,3% 39,0% 37,4% 20,4% 17,5% 18,5% De 100 a 1000 ha 8,5% 9,5% 9,0% 36,9% 35,4% 35,0% Mais que 1000 ha 0,8% 0,9% 0,8% 39,6% 44,6% 43,9% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% . TOTAL *1 km2 = 100 ha Fonte: IBGE, Censo agropecuário de 1985. 31 32 Na tentativa de se iniciar um processo de reforma agrária, em 1964 foi criado um conjunto de leis que pretendia, inicialmente, proceder a um censo agropecuário. Foi o Estatuto da Terra. minifúndios, acaba por comprometer a alimentação da população. O Estatuto da Terra definiu os imóveis rurais tendo como referência a propriedade de uma família, capaz de oferecer a quatro pessoas adultas um bom nível de rendimento e de qualidade de vida. Surge assim o conceito de módulo rural, algo bastante subjetivo e que, ainda, varia de região para região. Em 1993 o Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (IPEA), do Ministério do Planejamento, divulgou os dados que ficaram conhecidos como o Mapa da Fome do Brasil e que revelam, em nosso país, a existência de 32 milhões de pessoas que passam fome todos os dias. Entre elas, há 4 milhões de famílias (aproximadamente 16 milhões de pessoas) que vivem no meio rural. Em 1967, foi realizado o primeiro Cadastramento Rural do Brasil, classificando as propriedades rurais em minifúndios, empresas rurais, latifúndios por exploração e latifúndios por dimensão. As dimensões desses tipos de imóveis dependem das características ecológicas e econômicas de onde se localizam. Hoje, o Cadastro apresenta a seguinte situação: IMÓVEIS RURAIS Minifúndios Empresas rurais Latifúndios por exploração Latifúndios por dimensão PORCENTAGEM SOBRE O TOTAL Número 71,8 4,8 23,4 0,005 Área 11,4 9,5 73,9 5,2 Como se pode perceber, cerca de 23,4% das propriedades rurais brasileiras são latifúndios por exploração, isto é, são propriedades mantidas inexploradas ou deficientemente exploradas para fins especulativos, não podendo ser consideradas empresas agrárias, e constituem 73,9% do total das terras agricultáveis do País. A concentração da terra é uma realidade brasileira que precisa ser mudada. Há necessidades de grandes reformas, de modo a garantir minimamente a superação do desemprego no campo, o fim da expulsão dos pequenos proprietários e o fim dos conflitos que têm deixado um saldo cada vez maior de mortos e feridos. A característica altamente concentradora da estrutura fundiária brasileira, com o crescimento das grandes propriedades e a redução considerável dos Segundo Stédile (1997), Há famélicos em todos os Estados do Brasil e, além desses, há também um contingente significativo de pessoas que se alimentam mal, muito aquém das necessidades proteico-calóricas básicas, perfazendo um total de 65 milhões de pessoas famintas e malalimentadas. (p. 65) Vesentini (2003) se refere a um estudo recente que "calculou que entre 60 e 71% dos gêneros alimentícios destinados ao abastecimento do país procedem da produção de pequenos lavradores, que trabalham em base familiar". O que não é de estranhar, quando se sabe que os latifúndios estão, cada vez mais, interessados na agricultura de produtos para o mercado externo e a indústria. A capacidade de consumo das diferentes camadas da população A questão alimentar está diretamente ligada à capacidade de consumo das pessoas e o alimento, no Brasil, é um bem muito caro. Nem poderia ser diferente, dadas as condições em que é produzido. Como um círculo vicioso, o baixo poder de compra de grandes parcelas da população reduz drasticamente o consumo de alimentos, o que passa a desestimular a produção agrícola para essa parcela do mercado. E por que o povo brasileiro é tão pobre? Uma das causas é, exatamente, o fato de que expressiva parcela da população abandonou o campo, pois lhe foi retirado o elemento essencial para a sua sobrevivência: a terra. Ao migrar para a cidade, esse contingente vai engrossar as fileiras dos que permanecem à margem do progresso material, sem condições de ingressar no mercado de consumo de bens, entre eles alimentação e serviços. invadir propriedades improdutivas, considera que está exercendo seu direito, os proprietários rurais alegam que, do ponto de vista da lei, essas terras não podem ser assim classificadas. Sabe-se que, por trás da atração da cidade grande, os fatores de expulsão do trabalhador rural do seu lugar de origem – entre eles o favorecimento da agricultura de exportação, com prejuízo dos pequenos produtores –, desencadearam o intenso fluxo migratório do Nordeste para os grandes centros urbanos do Centro-Sul, nos anos 50 e 60 (Valim, 1996). Emissários do presidente Lula participaram de reunião reservada na manhã de terça-feira com dirigentes do MST. Eles deram um duro recado aos sem-terra. A invasão das terras da Veracel (BA), uma propriedade produtiva, tinha sido um erro que poderia levá-los ao isolamento político e à perda de apoio social. Foi dito ao MST que o governo Lula não vai mais tolerar ocupação de terras produtivas, obstrução de estradas e a invasão de prédios públicos. E que o diálogo somente seria mantido se o MST desistisse desses métodos. De outra parte, a pobreza, além de estar nas cidades, está também no campo. O MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra Um dos movimentos sociais mais vigorosos do Brasil é o MST. Suas reivindicações têm origem na estrutura fundiária e nas relações de trabalho no campo. As relações de trabalho, observadas nas áreas agrícolas, são as mais injustas possíveis. Menos de 10% da mão-de-obra rural é representada por assalariados permanentes. Praticamente os 90% restantes da mão-de-obra são formados por assalariados temporários. Assistiu-se, nos últimos 30 anos, a uma sensível redução do trabalho que tradicionalmente se desenvolvia nas propriedades rurais brasileiras. Desapareceram, de forma geral, os colonos e parceiros, os empregados residentes, que deram lugar ao trabalhador temporário, que às vezes trabalha um único dia, sem qualquer vínculo empregatício são os bóias-frias. Tudo isso tem contribuído de forma decisiva para um aumento da tensão no campo. Na década de 1970, no Rio Grande do Sul, surgem os primeiros movimentos de trabalhadores rurais, que acabaram se espalhando por outros estados e vieram a constituir, em 1984, o MST. A luta do MST é para que a interpretação do que é função social da terra seja a mesma para o Estado e para os trabalhadores rurais. Enquanto o MST, ao Os conflitos têm sido constantes, com mortes de trabalhadores rurais, em verdadeiras chacinas promovidas pelos proprietários de terra e os grileiros, tão invasores quanto os sem-terra. O presidente do PT, José Genoino, também foi para cima do MST. Teme que essas invasões atrapalhem os candidatos do PT nas eleições municipais. O governo está preocupado ainda com a situação de Pernambuco, onde ocorreram 60% das ocupações. O problema lá é que há outros grupos realizando invasões, entre os quais a Fetape (Federação dos Trabalhadores na Agricultura). Para tratar disto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe, ainda este mês, a direção da Contag (Confederação dos Trabalhadores na Agricultura). O roteiro é sempre o mesmo. Diante de uma provocação do MST, o governo diz que não permitirá desrespeito à lei. Mas nada se segue a essa frase. É oca, frase feita por algum estrategista de comunicação, não é sincera. O MST aumenta ou diminui os ataques à propriedade privada respeitando apenas o calendário dos líderes, mas não porque o governo demonstre qualquer firmeza. O que a Constituição estabelece é que não haverá reforma agrária em terras produtivas. O que a medida provisória ainda em vigor acrescenta é que não será desapropriada a terra que for invadida. Com isso, o que a legislação está determinando é que a reforma agrária será feita respeitando a propriedade privada, mas exigindo que quem a possui respeite o princípio, também constitucional, da função social. A MP está estabelecendo que quem manda no ritmo, na forma e no local da ação governamental é apenas o governo. Com esses dois parâmetros, a reforma agrária será feita de forma pacífica e preservando o princípio da autoridade governamental. Fora dela, é um risco à ordem pública. Nos últimos dias, o MST está escalando 33 34 a provocação invadindo terra produtiva e destruindo investimento de empresas produtivas e empregadoras. A Veracel teve suas terras invadidas, 21 hectares de plantação derrubados, teve de esperar o movimento aceitar cumprir a ordem judicial e ainda fornecer os ônibus para tirar os manifestantes. Além disso, não está a salvo de novas invasões, até porque o novo lema do movimento é: “o que é produtivo para eles pode não ser para nós”, como disse Jaime Amorim, o coordenador do movimento em Pernambuco. Valmir Assunção, que liderou a ocupação, avisou que a Veracel continua vulnerável a novas invasões, sempre que o movimento achar que o governo não está cumprindo o que prometeu. O ministro Miguel Rossetto trata tudo isso com candura. Segundo ele, o governo entende que invasão de terra produtiva “é um erro”, porque “a Constituição é clara no sentido de evitar desapropriação de terras produtivas”. Se a Constituição é clara, desrespeitá-la não é apenas um erro, é inconstitucional e ilegal. O ministro Miguel Rossetto fala como se fosse um militante que discorda da orientação do líder. O ministro tem de falar como autoridade pública que cumpre o dever de zelar pelo cumprimento da lei. Num desafio aberto à autoridade do presidente, o coordenador do movimento na Bahia disse que será feita, sim, “no grito” a reforma agrária. E, pelo visto, tem toda razão porque o governo anunciou que vai desapropriar 24 fazendas para assentar os que invadiram a Veracel e acalmar o MST. Se gritar, o governo cede. Com atos e palavras assim, o governo está se deixando conduzir pelo movimento, sendo leniente com o desrespeito à lei, premiando quem afronta sua própria autoridade. Neste contexto, o ambiente de investimento fica comprometido. Se o MST decidiu que não vale o que está escrito na Constituição ou que eles mesmos podem fazer a jurisprudência definindo o que é ou não é produtivo, nenhum investimento está protegido, principalmente aqueles que não são feitos para produzir alimentos, como a Veracel, mas que são fundamentais na garantia da balança comercial, no equilíbrio das contas externas e na saúde da economia. O governo erra no trato desta questão, como tem errado em outras tantas questões em que nega ao país seu papel de árbitro, condutor e líder do processo histórico. O país quer enfrentar as velhas questões que foram deixadas intocadas, como a nossa intolerável desigualdade social, mas quer fazer isso preservando o que foi duramente conquistado: a democracia. (EDITORIAL. O Globo, 2004) TEXTO 9: O Brasil e o contexto internacional: as políticas neoliberais no Brasil Este texto trata da atual fase do capitalismo, chamada de capitalismo financeiro, caracterizada pela globalização da economia, estendendo-se por todo o planeta. É marcada pela internacionalização do capital produtivo e especulativo, o triunfo da tecnologia, a competitividade, a instantaneidade da comunicação. Em tese essa política econômica tenderia a diminuir desigualdades e minimizar conflitos. Será? Ao consolidar-se como processo econômico, trouxe junto a idéia de que não haveria mais conflitos no mundo, por conta da vitória do capitalismo sobre o socialismo real, depois do fim da União Soviética, em 1991. Essas eram as ideologias que grassavam no departamento de Estado norte-americano. Foi como ideólogo deste organismo que Francis Fukayama escreveu, em 1989, um artigo que veio a se transformar no livro O fim da história e o último homem, no qual decreta o 'fim da história', isto é, a noção de que o mundo não precisaria caminhar mais para nenhum outro modelo econômico, já que o capitalismo daria conta de superar as questões que se colocavam, nesse momento e nos vindouros. interno e externo, sentimentos xenófobos e racistas, agressão ao meio ambiente, desemprego crescente, alargamento da desigualdade e do abismo entre ricos e pobres. No entanto, o que se verifica é que a globalização tem uma outra face, representada pela exclusão de enormes contingentes da população mundial do mercado consumidor, internacional, que tem mundializado, também, problemas sociais: o aumento da pobreza seja de nações, regiões ou indivíduos, as crises econômicas, a violação de direitos humanos, a degradação do meio ambiente, o tráfico de drogas, a violência urbana e no campo, o terrorismo. A constituição do mundo globalizado: da velha ordem bipolar à nova ordem multipolar Segundo o Professor Milton Santos, os não-incluídos participam de forma incompleta da produção da história que, apesar do entendimento de alguns, não está acabada. Por seu turno, os países ricos apresentam uma série de problemas: déficit comercial elevado, endividamento Palavras–Chave Globalização Ordem bipolar Ordem multipolar Mercado comum Neoliberalismo Neo-Estruturalismo O capitalismo, ao contrário do que os que comandam a economia no mundo globalizado apregoam, não é sinônimo de democracia, até porque nasceu sob o signo da desigualdade. A forma como se constituiu o mundo globalizado e quais as suas conseqüências num país de economia dependente como o Brasil é o que veremos ao longo deste texto. A Conferência de Bretton Woods, em 1944, inicia o processo de construção da hegemonia dos Estados Unidos, no cenário mundial, ainda no pós-guerra. Foi nesta conferência que se criaram o Fundo Monetário Internacional e o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento, mais conhecido como Banco Mundial. Ao primeiro caberia zelar pela estabilidade das taxas de câmbio, tendo o dólar como padrão de referência. À segunda instituição, que no princípio estaria encarregada de financiar a reconstrução dos países devastados pela guerra, coube, posteriormente, o financiamento, em longo prazo, de projetos que viabilizassem o desenvolvimento de outros países. Em 1947, na Conferência de Havana, cria-se o GATT (General Agreement on Tarifs and Trade), hoje Organização Mundial de Comércio, que representava, teoricamente, um acordo de tarifas a serem praticadas no comércio internacional, combatendo medidas protecionistas dos países. 35 36 Além de se posicionarem como nação hegemônica, do ponto de vista econômico, no mundo capitalista, os Estados Unidos se colocaram como guardiões da democracia, contra o mundo socialista, formado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, sob a liderança da Rússia. Era a ordem bipolar, que opôs, durante quatro décadas, o ocidente capitalista e o leste socialista, cujas relações conflituosas, lideradas de um lado pelos EUA e de outro pela URSS, passaram à história com o nome de guerra fria. Foi uma guerra não declarada que se caracterizou pela corrida armamentista, pelo avanço tecnológico e pela agenda aeroespacial. os Estados Unidos, o Japão e a União Européia. Ao Sul, os países de economia dependente. A relação entre o Norte rico e o Sul empobrecido tem, no entanto, um fator que articula os dois blocos e que é a marca da nova ordem mundial: uma tecnologia da informação e da comunicação que pode estar disponível, hoje, em qualquer lugar do planeta. A internacionalização do capital, produtivo e especulativo, é o sinal desses novos tempos, que tem como objetivo expandir o mercado e, em decorrência, o lucro. É uma invasão, só que não de tropas militares, mas de tecnologia e serviços, pelos quais só alguns podem pagar. A guerra fria estabeleceu um equilíbrio baseado no medo de uma guerra nuclear que levaria o mundo todo à destruição. A ordem bipolar, entretanto, embora tivesse garantido a não eclosão de um terceiro conflito mundial, não deixou de ser responsável por centenas de conflitos regionais, que produziram, segundo Oliva e Giansanti (1995), "mais de 4 milhões de mortos diretamente". Além de mercadorias, serviços, informações e pessoas, a globalização da economia permite a invasão do chamado capital especulativo, o smart money ou hot money, que se movimenta com extrema rapidez, ávido por lucratividade e que se retira de um mercado assim que ele se torna pouco interessante para a especulação. À relação capitalismo x socialismo deveram-se, por exemplo, as crises internas que marcaram as repúblicas da América Latina, levando à queda de governos constitucionais e proporcionando as condições de implantação das ditaduras que marcaram, desde os anos 60, os países do Cone Sul. A guerra é travada nas bolsas de valores, de mercadorias e de futuros, em todos os mercados do mundo, e em todos os setores imagináveis. As estratégias e táticas são traçadas nos "QGs" das grandes corporações transnacionais, nas sedes dos grandes bancos, nas corretoras de valores, etc. e influenciam países e até o mundo. (p. 65) A velha ordem mundial bipolar começa a dar sinais de que estava por ruir com a emblemática queda do muro de Berlim, em 1989. O fato nada mais significava do que as mudanças que vinham ocorrendo no mundo socialista, geradas pela crise que levava os países do bloco a uma verdadeira situação de estagnação econômica. Mikhail Gorbatchev, dirigente soviético, inicia, em 1985, uma política de abertura para o ocidente, a chamada glasnost, através de um conjunto de medidas que visavam salvar a economia dos países do leste europeu, a perestroika. Em 1991, chega ao fim a agonia do bloco socialista e inicia-se uma outra organização do mundo, isto é, uma nova ordem mundial, que para alguns tem trazido em contrapartida a idéia de 'desordem' mundial, dadas as problemáticas relações que tem gerado. A globalização da economia A nova ordem mundial apresenta, nos dias atuais, uma nova divisão: regiões ao Norte, ricas e desenvolvidas, e regiões ao Sul, pobres e subdesenvolvidas, com exceção da Austrália. Ao Norte, encontram-se os líderes da economia mundial: Segundo Sene e Moreira (1998), Como esses capitais vão embora muito rapidamente, sem que se possa evitar, podem gerar crises econômicas seriíssimas, como a que o México enfrentou em 1994. Os blocos econômicos A globalização da economia tem desencadeado a formação de blocos econômicos supranacionais, com o objetivo de fazer frente a políticas cada vez mais competitivas, diminuindo ao máximo as tarifas dos produtos gerados no interior dos países-membros, o preço de matérias-primas, de mão-de-obra, de serviços. O NAFTA, a União Européia, o MERCOSUL são exemplos de mercados comuns que nasceram com essa finalidade. O NAFTA, o Acordo Norte-Americano de Livre Comércio (North American Free Trade Agreement), assinado em 1992 pelos Estados Unidos, o Canadá e o México, é um gigantesco mercado, com mais de 370 milhões de pessoas e um PNB superior a 7 bilhões de dólares e do qual o México é o primo pobre, em condições muito mais de se vergar às exigências dos norte-americanos ricos do que impor condições que alavanquem o desenvolvimento do país. A União Européia, criada em 1991 pelo Tratado de Maastricht, e que teve origem na instituição formada em 1957 pelo Tratado de Roma, hoje reúne 25 países. É uma experiência que tem se mostrado bastante exitosa, apesar de não ter acabado com a pobreza nos paísesmembros. Conseguiu estabelecer em 2002 uma moeda única, o euro, forte concorrente do dólar como padrão monetário internacional. O MERCOSUL – Mercado Comum do Sul – constituído pelo Tratado de Assunção, em 1991, reúne quatro países-membros: O Brasil, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai. Encontra-se ainda em fase de união aduaneira, sendo, no entanto, seu objetivo uma integração mais profunda, atingindo realmente a etapa de um mercado comum. A ASEAN, Associação das Nações do Sudeste Asiático (Association os South East Nations), criada em 1992, e a APEC, Cooperação Econômica ÁsiaPacífico ( Asia Pacific Economic Cooperation), que existe desde 1989, também são associações que pretendem implantar zonas de livre comércio, mas que lutam com grandes disparidades entre seus membros, o que tem dificultado a integração. O Brasil e o contexto internacional A lógica da economia globalizada é, portanto, o lucro, sem muita, e às vezes, com nenhuma, responsabilidade social. Neste sentido, não combina com o mundo globalizado Estados que interfiram na vida social e econômica, de forma mais ou menos ampla, mesmo que essa intervenção não tenha compromisso com a instituição de uma proposta socialista. O grande inimigo, aliás, da economia globalizada foi o Estado de Bem Estar Social (Welfare State), que se implantou nos Estados Unidos nos tumultuados anos que se seguiram à crise de 29 e que tinha como objetivo a atuação do Estado para evitar qualquer possibilidade de que o que estava planejado para tirar o país da crise não se realizasse. Embora as políticas públicas visando o pleno emprego, a transformação do Estado em um grande empreendedor em obras públicas e projetos de grande vulto, a modernização do processo produtivo, via programas educacionais de qualificação da mão-deobra e investimento em pesquisas tecnológicas, a manutenção de parâmetros básicos para o funcionamento da economia, como preços de produtos estratégicos e níveis salariais, caracterizassem o Estado de Bem-Estar Social, essa política nunca foi unanimidade. Sempre teve os seus críticos, que viam, de um lado, nesse Estado interventor, uma ação que, em última análise, pretendia a manutenção do capitalismo essa era a crítica da esquerda e, por outro lado, um estorvo que impedia que a economia fosse regulada pelo livre mercado essa era a crítica dos conservadores. Com o início da globalização, nos anos 1980, forças políticas contrárias ao Estado regulador, e que pretendiam promover o mercado ao posto de principal agente de regulação da vida econômica, chegaram ao poder, notadamente, Margareth Tatcher, na Inglaterra, e Ronald Reagan, nos Estados Unidos. O programa que impuseram foi chamado de neoliberalismo, por pretender uma volta ao momento de atuação do Estado liberal, que se caracterizou pela subordinação da produção ao mercado e pela concorrência, que aumentaria os lucros e selecionaria os bens e serviços através da livre escolha dos consumidores. Nos governos de Fernando Henrique Cardoso, eleito pela primeira vez em 1994 e reeleito em 1998, o Brasil que, no governo Collor ensaiava seus primeiros passos no receituário neoliberal com o início do programa de privatização de empresas estatais, mergulha de vez no ajuste neoliberal, exigência do FMI para a continuidade dos empréstimos, dos quais o Brasil passou a depender. Oliva e Giansanti (1995), dizem que as políticas de orientação neoliberais são de curtos e médios prazos. As de curto prazo sustentam que se deve minorar o déficit fiscal, reduzindo os gastos públicos, e aplicar uma política rigorosa de restrição de emissão de moeda e altas taxas de juros. A tudo isso corresponde uma paralisia momentânea da economia, isto é, a recessão. Para médio prazo propõem: transformar as exportações no motor do crescimento econômico; liberar o comércio exterior, abrindo a economia totalmente (fim das políticas protecionistas, diminuição dos impostos de importação e das tarifas alfandegárias); deixar que o mercado seja o principal elemento da economia e diminuir a intervenção estatal; concentrar os investimentos no setor privado e diminuir os investimentos no setor estatal; acabar com subsídios de preços, para que sejam "reais" e 37 38 estabelecidos no mercado; e, por fim, privatização das empresas estatais. (p. 179) As políticas neoliberais, em que pese estarem sendo implementadas, praticamente, no mundo inteiro, têm sido muito criticadas devido às questões sociais que não têm conseguido reduzir. Domenico de Masi, sociólogo italiano, declarava à Revista Veja, já em 1993, que o mundo precisava descobrir um novo tipo de bem-estar. Para ele: A conseqüência mais imediata e visível dessa trajetória, que servirá de teste para a administração de nosso futuro, é o desemprego crescente. John Maynard Keynes já ensinava no século passado que o índice tolerável de desemprego numa economia saudável é de 2%. Hoje os EUA têm 8% de desempregados e os países industrializados da Comunidade Européia superam os 10%. Tudo leva a crer que o processo tecnológico eliminará cada vez mais o trabalho humano, que todo o esforço físico e parte do esforço intelectual poderão ser delegados a máquinas e que ao homem só restará o monopólio das atividades criativas. O desemprego, a falta de acesso à educação e à saúde, as condições subumanas de vida, as guerras, tudo isso está aí, não só no Brasil, a desafiar as políticas neoliberais. Para um grupo de economistas, chamados de neoestruturalistas, a receita neoliberal tem aprofundado a distância entre os países pobres e os países ricos. Avaliam eles que a superação da miséria só será possível sob a coordenação do Estado. Defendem o fortalecimento do mercado, mas planejado em conjunto com o Estado, pois consideram que há possibilidade de convivência entre essas duas entidades. Consideram que as políticas públicas educação, saúde, moradia etc e a moralização do Estado são questões urgentes e que não podem ficar ao sabor do mercado. Entendem que a inflação não é apenas um fenômeno econômico e que o seu controle não pode impedir o desenvolvimento dos países. Avaliam, por fim, que o desenvolvimento só é possível com o fortalecimento da base produtiva do país e o investimento em tecnologia própria, com a criação de uma política estatal de investimento em pesquisa científica. Há ainda outros grupos que têm procurado oferecer uma outra possibilidade de pensar a organização econômica dos países ricos e pobres, que têm se reunido no Fórum Social Mundial, sediado em 2001, 2002 e 2003, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em 2004, em Mumbai, na Índia e em 2005, novamente, em Porto Alegre, sob o lema "um outro mundo é possível". O Fórum Social reúne-se na mesma época em que o G7, o grupo dos países mais ricos do mundo se reúne em Davos, na Suíça, no Fórum Econômico Mundial. Parece que o Estado mínimo, proposto pelos neoliberais não tem, realmente sanado as desigualdades sociais, uma vez que tem transferido direitos sociais da esfera política para a esfera do mercado, negando-lhes sua condição de direitos e transformando-os em mercadorias a serem consumidas individualmente, segundo a capacidade econômica dos consumidores. Consideramos a globalização um processo sóciohistórico caracterizado por três dimensões totalizantes e contraditórias – primeiro, a globalização como ideologia (a sua dimensão contingente e midiática); segundo, a globalização como mundialização do capital (o seu nexo essencial e que confere sentido sóciohistórico ao processo em geral) e, terceiro, a globalização como processo civilizatório humanogenérico (a dimensão pressuposta e que dá ao processo de globalização uma natureza profundamente contraditória). Consideramos que a única abordagem válida do fenômeno da globalização busca apreendê-la numa perspectiva crítica (e radical), no sentido de irmos às verdadeiras raízes do novo fenômeno sócio-histórico (e ideológico) intrínseco à nova etapa de desenvolvimento do capitalismo mundial. A globalização é um fenômeno sócio-histórico intrinsecamente contraditório e complexo que caracteriza, em nossa perspectiva, uma nova etapa de desenvolvimento do capitalismo moderno. É resultado de múltiplas determinações sóciohistóricas (e ideológicas). Portanto, as três dimensões da globalização que não podem ser separadas e que compõem uma totalidade concreta sócio-histórica, completa e integral são elas: 1. A globalização como ideologia 2. A globalização como mundialização do capital 3. A globalização como processo civilizatório humano-genérico Portanto, a globalização tende a constituir novas determinações sócio-históricas no (1) plano da ideologia e da política, (2) no plano da economia e da sociedade e (3) no plano do processo civilizatório humano-genérico, vinculado ao desenvolvimento das forças produtivas humanas. As dimensões da globalização são contraditórias entre si, tendo em vista que a ideologia (e a política) da globalização tende a “ocultar” (e legitimar) a lógica desigual e excludente da mundialização do capital e a mundialização do capital tende a impulsionar, em si, o processo civilizatório humano-genérico, isto é, o desenvolvimento das forças produtivas humanas, que são limitadas (ou obstaculizadas) - pelo próprio conteúdo da mundialização (ser a mundialização do capital). Qualquer leitura (ou análise) do fenômeno da globalização que não procure apreender seu sentido dialético – e portanto, contraditório - tende a ser unilateral, tornando-se incapaz de vê-la tanto como algo progressivo, quanto regressivo; tanto como um processo civilizatório, quanto como um avanço da barbárie, e tanto como a constituição de um “globo”, na mesma medida em que tente a contribuir para a sedimentação de particularismo locais e regionais. (ALVES, Giovanni. Dimensões da Globalização - O Capital e Suas Contradições. Rio de Janeiro: Praxis, 2001.) 39 40 TESTE SEUS CONHECIMENTOS 1 - A queda do muro de Berlim significou, emblematicamente, o fim na velha ordem bipolar e a instauração de uma nova relação político-econômica no mundo. Essa nova ordem se caracteriza: A - pela distribuição de recursos que vêm permitindo um desenvolvimento planejado em todo o planeta. B - pelas ações do Banco Mundial e do FMI, com o objetivo de melhor apoiar economicamente os países mais pobres do mundo. C - pela globalização da economia, que é comandada pelos países centrais do capitalismo mundial. D - pela superação das questões sociais, como a fome e o desemprego, geradas pelo capitalismo monopolista. E - pela internacionalização do capital especulativo que tem auxiliado as economias mais pobres a se desenvolverem. 2 - A velha ordem bipolar, que vigorou no mundo do pós-guerra, e colocava em confronto o ocidente capitalista e o leste socialista, passou à história com o nome de: A - corrida armamentista (Harry Truman, Presidente dos EEUU, em 1947). Os princípios contidos nesse pronunciamento têm servido para que os Estados Unidos, em que pese uma nova organização político-econômica do mundo: A - ajudem, militar e economicamente, os países africanos a se instituírem como nações soberanas. B - contribuam para a proliferação de governos democráticos em todo o continente asiático. C - continuem a desenvolver uma política intervencionista visando garantir sua hegemonia no mundo. D - reconheçam os direitos políticos e a liberdade de expressão de seus próprios cidadãos. E - desencadeiem uma política de pacificação e ajuda econômica e humanitária ao Oriente Médio. 4 - O Estado do Bem Estar Social se implantou nos Estados Unidos, nos anos 30, para garantir que o que havia sido planejado para tirar o país da crise, gerada pelo crack da Bolsa, se concretizasse. O programa de internacionalização da economia, que se impôs ao mundo, a partir dos anos 1980, critica o Estado de Bem Estar Social e foi chamado de neoliberal porque, à maneira do liberalismo do século XIX: B - guerra do dólar C - desordem mundial D - guerra nuclear E - guerra fria 3 - "Acredito que a política dos Estados Unidos deve ser a de apoiar os povos livres que estão resistindo à subjugação tentada por minorias armadas ou por pressões vindas de fora. Acredito que precisamos ajudar os povos livres a elaborar os seus destinos à sua maneira.[...] Se fraquejarmos em nossa liderança, poderemos pôr em perigo a paz do mundo e poremos seguramente em perigo o bem-estar da nossa nação." A - enfatiza a importância do Estado como regulador das política sociais. B - aponta as políticas protecionistas como motor do crescimento econômico. C - concentra os investimentos no setor público e diminui os do setor privado. D - recomenda a estatização de empresas importantes para o desenvolvimento do país. E - argumenta que o mercado deve ser o principal elemento regulador da economia. 5 - O Estado neoliberal, apesar do que alardeia, não tem conseguido sanar as desigualdades sociais que se mostram no desemprego, na falta de acesso à educação e à saúde, nas condições subhumanas de vida de parcela significativa da população mundial, nas guerras, na violência urbana e no campo, no tráfico de drogas e de armas, na fome. Um dos fatores que tem contribuído para esse estado de coisas reside no fato de se entender: 7 - Uma das questões com que se defronta a economia brasileira, no século XXI, é a geração de empregos em níveis menores do que os exigidos ou em setores para os quais é necessária uma qualificação tecnológica não encontrada, em geral, entre a população economicamente ativa (PEA). Essa realidade tem levado, segundo os analistas do mercado de trabalho: A - ao desemprego estrututural. A - direitos sociais como obrigação do Estado para com os indivíduos. B - a demissões em massa. B - desigualdades sociais como algo gerado socialmente e não naturalmente. D - ao desemprego sazonal. C - políticas públicas como investimentos sociais e não como gastos desnecessários. D - direitos sociais como mercadorias a serem reguladas pelas leis do mercado. E - a miséria como produção da sociedade e não dos indivíduos. 6 - O documento The quality of growth (A qualidade do crescimento econômico), produzido por economistas do Banco Mundial, em setembro de 2000, afirma que "o Brasil adotou um modelo de crescimento com distorções, no qual se priorizou o capital físico em detrimento do social e do natural. Houve grandes subsídios aos investimentos, mas poucos recursos para a educação e a saúde, e quase nenhum combate efetivo à pobreza absoluta (...)." C - ao desemprego conjuntural. E - ao subemprego no setor de serviços. 8 - Teoricamente, o Brasil tem possibilidades, do ponto de vista territorial, de ser um grande produtor de alimentos, em que pese ser a fome uma evidência no País. Vários fatores têm contribuído para essa realidade, EXCETO: A - o fato de haver mais pessoas nas cidades que nas zonas agrícolas ou de ser grande a população do País. B - as características de boa parte dos solos brasileiros, ácidos e pobres, e com problemas típicos do ambiente tropical. C - o objetivo da produção agrícola, muito mais preocupada em atender aos interesses do mercado externo. Essa realidade, constatada pelo Banco Mundial, apesar de fomentada pelas políticas neoliberais que defende, se mostra: D - a característica da estrutura fundiária brasileira, altamente concentradora de terras nas mão de grandes latifundiários. A - na ênfase no aprimoramento do capital social, com significativa melhora na educação básica. E - o baixo poder de compra da população brasileira para consumir um bem muito caro como os alimentos. B - na diminuição evidente das desigualdade sociais, reduzida enormemente nos últimos anos do século XX. C - nos obstáculos à entrada do capital estrangeiro, principalmente o especulativo. D - na péssima distribuição social da renda, que aponta que os 10% mais ricos da população concentram quase 50% da riqueza. E - na redução dos impostos em geral, e em especial na exportação de produtos nacionais. 9 - Empossado em janeiro de 1995 como Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso retoma o programa de privatizações, iniciado no Governo Collor, promovendo a venda de grandes empresas estatais, como a Cia. Siderúrgica Nacional e a Cia. Vale do Rio Doce, e do sistema brasileiro de telefonia. Essa medida está entre as recomen-dadas pelos organismos econômicos internacionais em busca do: A - Estado do Bem Estar Social. 41 B - Estado interventor. 42 C - Estado mínimo. D - Estado protecionista. E - Estado regulador. podem ser decididas pelo mercado, sendo responsabilidade do Estado. C - a concepção da inflação apenas como fenômeno econômico que deve ser controlada a qualquer preço. 10 - Os economistas estruturalistas criticam as políticas neoliberais, argumentando que há outras formas de planejar a economia nacional, diminuindo as distâncias entre pobres e ricos e distribuindo melhor a renda do País. Entre suas propostas estariam as listadas abaixo, EXCETO: D - a consideração de que o desenvolvimento só é possível com a ampliação da base produtiva e consumidora do país. A - o entendimento de que há possibilidade de convivência entre Estado e mercado. Gabarito B- - a defesa da idéia de que políticas públicas não E - a criação de uma política estatal de investimento em educação e em pesquisa científica própria. 1 - C; 2 - E; 3 - C; 4 - E; 5 - D; 6 - D; 7 -A; 8 - A; 9 - C; 10 - C UNIDADE II: Auto-Avaliação 1 -Observando a tabela de distribuição de renda no Brasil, percebe-se o quanto ela é concentrada. Aponte algumas razões desse fenômeno no nosso País. 2 -Na qualidade de um futuro profissional de educação, saúde, tecnologia ou mercado, como você se posiciona com relação às contradições da modernização excludente? 3 -Clóvis Rossi, do jornal Folha de São Paulo, ao fazer a cobertura jornalística da Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Social, realizada em 1995, na Dinamarca, escrevia: Documento de 12 ONGs da Coréia do Sul, um "tigre" já consolidado, lamenta que "tudo o mais tenha sido abandonado em benefício do progresso econômico" e que "se maximizou o fenômeno dos ricos ficarem mais ricos e os pobres, mais pobres." Este último, aliás, é um fenômeno universal, de acordo com números exibidos ao longo dos debates da Cúpula. De 1960 para 1990, os países 20% mais ricos do mundo viram suas fatias da renda subirem de 70% para 82,7%. Já as nações mais pobres do planeta sofreram uma queda de 2,3% para 1,3%. Procure na imprensa diária (jornais) e/ou na imprensa semanal ou mensal (revistas) reportagens que evidenciem a desigualdade social e analise-as com base do texto a seguir: "Dois bilhões de pessoas sobrevivem sem água potável. Nunca na história houve um tão grande número de deslocados e refugiados. O fenômeno dos sem-teto, curiosidade na primeira metade do século XX, hoje é um fato banal, presente em todas as grandes cidades do mundo. O desemprego é algo tornado comum. Ao mesmo tempo, ficou mais difícil do que antes atribuir educação de qualidade e, mesmo, acabar com o analfabetismo." (Milton Santos, Por uma outra globalização, p. 59) 4 -Lendo o Texto nº 9, explicite o que você entendeu sobre: a) a estrutura fundiária que se observa no Brasil. b) as relações de trabalho encontradas no campo, em nosso País. c) as possibilidade de redução as desigualdades da sociedade brasileira, no campo. 5 -O MST, movimento social surgido em resposta à concentração da propriedade de terras, tem colocado para a sociedade uma série de questões. Pesquise e diga qual a sua posição, com relação às reivindicações do Movimento. 43 44 6 -Qual sua posição diante da seguinte colocação do Presidente Kennedy: "Aqueles que fazem a reforma pacífica impossível tornam a mudança violenta inevitável". (...) 7 -" O Muro de Berlim não desabou num só dia, nem sequer numa só estação. A crise na Alemanha Oriental começou quatro anos antes dos dramáticos acontecimentos de 1989, a muitos quilômetros de distância com a perestroika e a democratização na União Soviética. (...) Nunca lamentei minha decisão. Resistir à vontade de um povo para salvar o regime condenado de Erich Honecker teria sido inútil. (...) Assim que a força da glasnost e da democracia foram liberadas, funcionaram de modo imprevisível. (...)" Mikhail Gorbachev. O Estado de São Paulo, 7 nov. 2002. Estabeleça a relação entre a queda do Muro de Berlim e a nova ordem mundial. 8 - (...) Há na circulação financeira internacional muitos trilhões de dólares que giram a uma velocidade espantosa nos computadores dos organismos financeiros privados internacionais. (...) Para quem não sabe o que isso significa em escala mundial e não tem mais que uma pálida visão do funcionamento dessa fantástica invenção tecnológica, devo acrescentar que ela desmente a maior descoberta em relação à dimensão temporal da física moderna, da economia clássica, da história e da condição humana, a saber, que o tempo é irreversível. Para o mercado de overnight, o tempo é reversível: depende do fuso horário onde se encontra o especulador e da rede de operadores na qual está inserido." Adaptado de Maria da Conceição Tavares, Novos Estudos Cebrap, nº 30. Discuta o papel da especulação financeira, uma das características da economia globalizada, e as conseqüências que pode trazer às economias dos países emergentes. 9 -" A partir de 1985, teve início um processo de democratização do sistema político e conseqüente alteração das prioridades estabelecidas pelo Estado nos rumos da política econômica. Assumiu-se uma prática de privatização de empresas estatais, combate aos monopólios da União, brusca diminuição nos impostos de importação de bens de consumo e de produção, com estabelecimento de cotas de importação e tarifas diferenciadas por setores." Retirado de Eustáuio de Sene e João Carlos Moreira, Brasil: espaço geográfico e globalização, 1998. Relacione o relatado no texto com as políticas neoliberais comandadas pelos organismos financeiros internacionais, como o FMI e o Banco Mundial. A Professora Carmen Maria Rangel é Mestre em Educação. O Professor Marcio Luiz Bastos Bonfim é Mestre em Educação (UERJ). Glossário Apátridas 45 Pessoa que não tem nacionalidade, por haver perdido a nacionalidade de origem, em conseqüência de naturalização, casamento ou outro fator. Arenista Que era partidário ou simpatizante da Arena. Circunscrito Limitado totalmente por uma linha, restrito, limitado. Égide Escudo, defesa, proteção, abrigo, amparo. Eminentemente Que excede os outros, excelente, sublime. Empreendedorismo Que empreende, ativo, arrojado. Gestada Nascida. produzida. Hegemônicos Relativo à hegemonia. Preponderância de uma cidade, um povo ou um grupo social sobre outras cidades, outros povos ou outros grupos sociais. Ilícito Não lícito, proibido pela lei, injurídico, ilegítimo. Incipiente Que está no começo, principalmente. Inócuo Que não faz dano, inocente, inofensivo. Lixiviação Lixívia solução de carbonato de sódio ou potássio usado para lavagem de tecido, remoção de tinta e com outras aplicações. Maquiavelicamente Que tem, ou em que há pérfida, dolo, má fé, astuto, ardiloso. Monopolista Condição que assegura monopólio, exploração, posse, direito ou privilégio, exclusiva. Oligarquias Camadas privilegiadas, pertencentes a uma mesma classe social ou partido político, Governo de poucas pessoas pertencentes ao mesmo partido, classe ou família. Parlamentarismo Forma de governo em que o poder é exercido pelo Parlamento, coordenado por um Primeiro Ministro. Pauperização Processo que provoca miséria, penúria, pobreza. Peculiaridades Qualidade ou circunstancia peculiar, características, particularidades. Per capita Para cada indivíduo. Periferia Superfície ou linha que delimita externamente um corpo, contorno. Periféricos Relativo à periferia. Primórdios Aquilo que se organiza ou ordena primeiro, fonte, princípio, origem. Protecionismo Sistema daqueles que pretendem conceder à industria nacional o monopólio do mercado interno. Recenseamento arrolamento de pessoas ou de animais, recensão. Subversivos Que ou aquele eu pretende destruir ou transformar a ordem política, social e econômica estabelecida, revolucionário. Superávit A diferença a mais entre receita e despesa. 46 Referências Bibliográficas ALENCAR, Francisco, CARPI, Lúcia e RIBEIRO, Marcus Venício. História da sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1980. ARRUDA, José Jobson de A. História moderna e contemporânea. São Paulo: Ática, 1981 ALMEIDA, Lúcia Marina Alves de e RIGOLIN, Tércio Barbosa. Fronteiras da globalização. São Paulo: Ática 2004. MOREIRA, Igor. O Espaço Geográfico. Geografia geral e do Brasil. São Paulo: Ática, 1995. OLIVA, Jaime e GIANSANTI, Roberto. Espaço e modernidade: temas da Geografia mundial. São Paulo: Atual, 1995. PEREIRA, Diamantino et alli. Geografia ciência do espaço. O espaço brasileiro. São Paulo: Atual,1994. SENE, Eustáquio de e MOREIRA, João Carlos. Geografia geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização. São Paulo : Scipione, 1998. STÉDILE, João Pedro. A questão agrária no Brasil. São Paulo: Atual, 1997. TEIXEIRA, Francisco M. P. Brasil: história e sociedade. São Paulo: Ática, 2000. VESENTINI, J. William. Brasil: sociedade e espaço. São Paulo: Ática 2003. _________________. Geografia. Série Brasil. São Paulo: Ática, 2004. VALIM, Ana. Migrações: da perda da terra à exclusão social. São Paulo: Atual, 1996.