A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE CAPITALISTA NO BRASIL Até

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A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE CAPITALISTA NO BRASIL
Até agora discutimos as bases do capitalismo mundial. Nesta unidade vamos falar
um pouco das particularidades do capitalismo no Brasil.
A sociedade brasileira constituiu-se a partir do processo de expansão do capitalismo
europeu a partir do século XV. No início, todas as relações comerciais eram voltadas
para a metrópole e aqui se mantinham relações sociais baseadas na escravidão.
Somente no século XIX, com a abolição da escravidão e a chegada de um grande
contingente de imigrantes é que se introduziu o trabalho livre. No ciclo do café,
outras atividades econômicas desenvolveram-se como: transporte ferroviário, o
sistema bancário, pequenas indústrias de alimentos e têxteis, que dinamizaram a
vida nas áreas urbanas
17.1 Industrialização e formação da sociedade de classes
Vários estudos indicam que o processo de industrialização do Brasil esteve ligado ao
desenvolvimento da economia cafeeira no Estado de São Paulo.
Uma das razões da industrialização foi a introdução do trabalho livre com o grande
surto migratório que o país viveu no século XIX, que gerou um mercado consumidor
de produtos industriais.
Segundo (VITA: 1989, 137) a forma como se organizaram os negócios do café
permitiu a formação de uma ‘consciência burguesa’ entre os fazendeiros, pois o
capital acumulado no café era utilizado na diversificação das atividades econômicas.
Desde modo, o capital acumulado com a venda do café era investido em outra
atividade que possibilitasse a obtenção de lucro.
Já no início dos anos 20, grandes empresas norte-americanas instalaram filiais no
Brasil: Ford, Firestone, Armour, IBM etc..1 Com a crise mundial do início dos anos
30, a economia brasileira deixa de ser voltada para a exportação e apóia-se na
interiorização e na industrialização. Porém a partir dos anos 50, a chegada de um
grande número de empresas estrangeiras, a economia industrial brasileira volta- se
novamente para o mercado externo.
17.2 O capitalismo dependente
O grau de dependência que a economia brasileira tem com relação às potências
estrangeiras pode ser compreendido a partir da compreensão do modelo de
desenvolvimento industrial que o país teve, onde se privilegiou a indústria de bens
de consumo em detrimento da indústria de bens de capital.
Outro aspecto que merece ser mencionado a respeito da dependência estrangeira,
diz respeito à ausência de produção de tecnologia no país, que adotou por um
modelo de desenvolvimento industrial marcado tanto pela dependência tecnológica
como pela de capital estrangeiro.2
17.3 GLOBALIZAÇÃO E SUAS CONSEQÜÊNCIAS
O que denominamos contemporaneamente por globalização é um processo da
mundialização do capitalismo que envolve uma grande diversidade de aspectos de
natureza cultural, social, econômica e política.
O capitalismo passa por uma série de transformações no final do século XX, por um
processo de liberalização comercial que levou a uma maior abertura das economias
nacionais resultando em mudanças nos processos de trabalho, hábitos de consumo,
configurações geográficas e geopolíticas, poderes e práticas do Estado.
A globalização do mundo expressa um novo ciclo de expansão do capitalismo como
modo de produção e como processo civilizatório de alcance mundial. No cotidiano, a
globalização se manifesta de maneira mais visível, nas mudanças tecnológicas e
nas alterações dos processos de trabalho de produção.
Neste surto de universalização do capitalismo, o desenvolvimento adquire novo
impulso, com base em novas tecnologias, criação de novos produtos e
mundialização de mercados.
A partir dessas considerações iniciais, vislumbra-se a necessidade do “administrador
global possuir uma formação intelectual capaz de lhe dar uma compreensão
abrangente desta realidade”.1
17.3.1 A globalização comercial e financeira
A globalização é marcada pela transição de um modelo de organização fordista1
para um modelo toyotista, que (HARVEY:1992) denomina passagem para um
regime de acumulação flexível.
Eis algumas característica do regime de acumulação flexível:
1. Flexibilidade dos processos de trabalho, dos produtos e dos padrões de consumo.
2. Ampliação do setor de serviços.
3. Níveis relativamente altos de desemprego estrutural.
4. Rápida destruição e reconstrução de habilidades e ganhos modestos.
5. Retrocesso do poder sindical.
A mundialização dos mercados envolve um amplo processo de redistribuição das
empresas por todo mundo. As empresas passam por processos de reestruturação
para adaptar-se às novas exigências de produtividade, agilidade, capacidade de
inovação e competitividade.
A globalização envolve ampla transformação na esfera do trabalho, modificam-se as
técnicas produtivas, as condições jurídicas, políticas e sociais. A busca de mão-deobra barata faz com que as grandes companhias busquem força de trabalho barata
em todos os cantos do mundo, levando o desemprego à escala global.
As grandes empresas transnacionais operam em todo o planeta. Elas vendem as
mesmas coisas em todos os lugares através da criação de produtos universais.
PONTO DE REFLEXÃO:
A globalização tem conduzido para um processo de concentração
de empresas ou tem possibilitado o empreendorismo?
Para os executivos das grandes companhias há necessidade de distanciamento de
suas culturas particulares e seu comprometimento volta-se para a competição
global. A busca por eficiência e produtividade torna-se uma obsessão social.1
O sistema financeiro global passa por um processo de reorganização. O mercado de
ações, mercados futuros, de acordos de compensação recíproca de taxas de juros e
moedas, ao lado da acelerada mobilidade geográfica de fundos, significa a criação
de um único mercado mundial de dinheiro e crédito. Desde modo, o sistema
financeiro mundial fugiu do controle coletivo, o que levou ao fortalecimento do capital
financeiro.
Por ser um processo ainda não concluso, há dificuldade de captar a natureza das
mudanças que estamos vivenciando. Há análises que enfatizam os elementos
positivos e outros que se voltam para os aspectos negativos.
17.3.2 As novas tecnologias
No final do século passado vivenciamos uma verdadeira revolução tecnológica em
diversas áreas: microeletrônica, microbiologia e engenharia genética.
A utilização das modernas tecnologias tem contribuído para aumento da
produtividade e tem possibilitado mudanças com gigantesca velocidade. Antes de
cair no domínio público, as tecnologias já são superadas.
As novas tecnologias possibilitaram a estruturação de todo processo produtivo. O
trabalho, em conseqüência da revolução tecnocientífica exige níveis cada vez mais
elevados de instrução, maior emprego da inteligência e do esforço mental.
17.3.3 A globalização cultural
As novas tecnologias têm contribuído para que as fronteiras culturais, lingüísticas
percam o sentido e adotou o inglês como língua oficial dos negócios
internacionais.Os meios de comunicação baseados na eletrônica têm contribuído
para agilizar o mundo dos negócios em escala jamais conhecida.
A cultura encontra horizontes de universalização – o que era local e nacional pode
tornar-se mundial.
A cultura global conduz a um processo de homogeneização dos hábitos de
consumo, à medida que os meios de comunicação difundem um número cada vez
mais restrito de modelos de organização do modo de vida. Veja o que afirma ORTIZ:
1994 p.173
“A convergência de comportamento de consumidores é uma tendência dominante
dos últimos trinta anos. Chocava a Europa do pósguerra a grande diversidade de
comportamentos e a abundância de pluralismos locais e regionais. Mas em trinta
anos, em todos os lugares, uma parcela cada vez maior da população distanciouse
da sociedade tradicional, de seus valores, para entrar na modernidade, criadora de
novos valores. Esta evolução aproximou os comportamentos, sobretudo de
consumo.”
Eis algumas características culturais da nossa época:
• Forte presença da moda, do efêmero, do espetáculo e da mercadificação.
• Publicidade assume papel maior nas práticas culturais.
• Publicidade manipula desejos sem relação com os produtos.
Neste novo contexto, a produção e difusão de bens culturais ocupam um lugar
central que no passado pertenceu aos bens industriais. Haja vista, entre as maiores
empresas do mundo contemporâneo, a presença significativa de empresas ligadas à
comunicação e entretenimento.
17.4 TRANSFORMAÇÕES DO TRABALHO
As mudanças na organização dos processos de trabalho, já mencionadas na
unidade anterior, conduziram à flexibilidade dos processos de trabalho (“just in
time”), nos contratos de trabalho (terceirização) além da descentralização do
processo produtivo. As empresas investem em automação, redução de chefias
intermediárias resultando em redução de pessoal. Desse modo, o regime de trabalho
é marcado pela instabilidade no emprego e pelos baixos níveis salariais e
desemprego estrutural, considerado hoje, um dos principais problemas sociais.
Diante deste contexto, as empresas mudam o perfil do trabalhador desejado. O novo
quadro do mercado de trabalho vai requerer um perfil de trabalhador polivalente,
altamente qualificado, com maior grau de responsabilidade e de autonomia. O
trabalhador necessário no mercado deve desenvolver sua criatividade, reciclar-se
permanentemente, possuir flexibilidade intelectual nas situações de constante
mudança, capacidade de análise e comunicação. Deve ter atitudes de participação,
cooperação e multifuncionalidade.
17.4.1 O processo de precarização do trabalho
Entre as ocupações não-organizadas, Reich (2002) destaca a crescente quantidade
de trabalhadores temporários, de meio período, “freelancers”, autônomos, via correio
eletrônico (e-mails), contratados e representantes independentes, além daquelas
ocupações com ganhos flutuantes atrelados aos índices de desempenho, enterrando
de vez a idéia de um futuro previsível assentado no emprego estável.
Antunes (2002) considera que a precarização do trabalho levou a mutações em que
poucos se especializaram e muitos ficaram sem qualificação suficiente para
introduzir-se nesse mercado de trabalho, engrossando a fila dos desempregados,
gerando uma classe de trabalhadores fragmentada e dividida entre trabalhadores
qualificados e desqualificados, do mercado formal e informal, jovens e velhos,
homens e mulheres, estáveis e precários, imigrantes e nacionais etc, sem falar nas
divisões que decorrem da inserção diferenciada dos países e de seus trabalhadores
na nova divisão internacional do trabalho. Este processo conduziu à destruição e/ou
precarização, sem paralelos em toda era moderna.
17.4.2 Desemprego estrutural e informalidade
O que caracteriza o setor informal é o trabalho isolado, muitas vezes inventando seu
próprio trabalho, com grande mobilidade de atividades e horários flexíveis.
O setor informal, segundo a OIT, já atinge cerca de 40% do mercado de trabalho na
América Latina. A taxa de informalidade tem tido um crescimento superior ao setor
formal.
Os processos de terceirização e informalidade expandem-se sob a forma de trabalho
por conta própria em microempresas, seja através do trabalho em domicílio e tem
obscurecido o desemprego.
A economia informal é o destino de um grande contingente de trabalhadores que
não conseguem inserção na pirâmide do mercado de trabalho formal1. Colocando
em evidência a tendência geral de hierarquização do trabalho, a fragilização dos
vínculos e a crescente desigualdade remuneratória, aprofundando a fratura social,
trazendo insegurança, tornando a economia ineficiente, transformando-a num ciclo
vicioso de desorganização social.
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