ANALISANDO A RELAÇÃO CIDADE

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ANALISANDO A RELAÇÃO CIDADE-CAMPO E AS FORMAS DE
RURALIDADE NO BAIRRO PINHEIRINHO - ALFENAS/MG
Letícia Silvério da Silva
[email protected]
Curso de Geografia Bacharelado – UNIFAL-MG
Bolsista de Iniciação Científica - FAPEMIG
Deywison Tadeu Resende Gonçalves
[email protected]
Curso de Geografia Licenciatura – UNIFAL-MG
Ana Rute do Vale
[email protected]
Docente do Curso de Geografia – UNIFAL-MG
Resumo
Partindo do pressuposto que campo e cidade são espaços integrados, pertencentes à
mesma racionalidade espacial, propomos a análise do bairro Pinheirinho, localizado na
periferia urbana do município de Alfenas/MG, que apresenta uma paisagem onde se
contrasta o rural e o urbano, um influenciando a reprodução do outro. Dessa forma,
esse trabalho tem o intuito de compreender a relação campo-cidade inserida neste
espaço, destacando a presença de elementos da ruralidade presentes nesta área,
bem como verificar a influência da instalação da Unidade Educacional II da UNIFALMG nessa região da cidade na dinâmica e no cotidiano dos moradores locais. Para
sua realização, além de levantamento e revisão bibliográfica e coleta de dados
secundários, aplicamos questionários junto aos moradores do bairro. Como resultado
foi possível constatar que uma das formas de manifestação da ruralidade no bairro é a
agricultura urbana, praticada pelos moradores nos quintais domiciliares, com o
predomínio
do
cultivo
de
hortaliças,
destinada
predominantemente
para
o
autoconsumo e ligada a questões culturais, adquiridas por experiência própria ou
herdadas por tradição rural familiar. Ademais, a chegada, da universidade, gerando
maior fluxo populacional, comercial e especulação imobiliária, é que mais pesa na
dinâmica espacial do local, que poderá ser transformada provocando fatores positivos
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e negativos para a essa população e possivelmente a supressão da ruralidade no
local.
Palavras-chave: relação campo-cidade; ruralidade; agricultura urbana; dinâmica
espacial.
Abstract
On the assumption that field and city are integrated spaces belonging to the same
spatial rationality, we propose analysis of Pinheirinho neighborhood, located on the
outskirts of the urban area of municipality of Alfenas/MG, which features a landscape
which contrasts the rural and the urban, one influencing the reproduction of another.
Thus, this work aims to understand the relationship field-city inserted in this space,
highlighting the presence of elements of rurality present in this area, as well as verify
the influence of the installation of the Educational unit of the UNIFAL-MG in this region
of the city in the dynamics and the daily life of local residents. For its accomplishment,
in addition to the as survey and literature review and secondary data collection, applied
questionnaires along to the residents of the neighborhood. As a result it was found that
one of the forms of manifestation of rurality in the neighborhood is urban agriculture,
practiced by residents in backyards, with the predominance of household growing
vegetables destined predominantly for the consumption and linked to cultural issues,
acquired from experience or inherited by rural family tradition. Furthermore, the arrival
of the University, generating greater population flow, commercial and real estate
speculation, is that more dynamic local space weighs in, which can be turned into
positive and negative factors for this population and possibly deletion of rurality in local.
Keywords: rural-urban; rurality; urban agriculture; spatial dynamics.
Eixo: Geografia Agrária
INTRODUÇÃO
Esse trabalho é parte dos resultados do relatório final da pesquisa “As relações
campo-cidade no município de Alfenas (MG): os modos de vida no espaço periurbano
do bairro Pinheirinho”, financiado pela FAPEMIG, a partir do Edital 01/2012 - Demanda
Universal.
O espaço de relação entre campo e cidade carrega consigo as peculiaridades
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inerentes a uma intensa combinação de valores e costumes urbanos e rurais. Não raro
estes espaços são classificados como antagônicos ou contrários uns aos outros. Com
base na bibliografia consultada, caminhamos na direção de rompimento da visão
urbanocêntrica (cidade engolindo o rural) indicando uma complementaridade entre
cidade/campo ou urbano/rural.
Essa situação é facilmente observada no bairro Pinheirinho, inserido na zona
periférica do município de Alfenas/MG, área de transição campo-cidade com a
produção de uma imagem contrastante: o rural em contato com o urbano, um
influenciando o outro. O município está localizado na mesorregião sul/sudoeste do
estado de Minas Gerais e forma, junto com mais 11 municípios a microrregião de
Alfenas (figura 1)
Figura 1. Mapa de localização da Microrregião de Alfenas.
Fonte: IBGE- Base Cartográfica Digital, ano 2011.
De acordo com o Censo Demográfico (IBGE, 2010), o município de Alfenas
possui uma população total de 73.774 habitantes, sendo 69.176 habitantes urbanos
(93,7%) e 7.598 rurais (6,3%).
O bairro Pinheirinho, foco de nosso estudo, encontra-se localizado na região
Pinheirinho, que além dele é formado pelos bairros Recreio Vale do Sol, Santa Clara,
Boa Esperança, Alvorada, Residencial Novo Horizonte, e São Paulo (PREFEITURA
MUNICIPAL DE ALFENAS, 2006). Como se podemos observar na figura 2, trata-se de
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uma região próxima à área de expansão urbana, portanto, na linha de contato entre
campo/cidade ou o rural/urbano.
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Figura 2. Divisão das regiões do município de Alfenas/MG.
Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE ALFENAS ).
Esse bairro originou-se na década de 1980, com a implantação do conjunto
habitacional Francelino Pereira, que representa o tipo de política habitacional adotada
pelo município que, ao expandir a malha urbana em direção às áreas periféricas, deixa
lotes vagos (em geral, glebas particulares) que serão valorizados na medida em que a
infraestrutura urbana de ligação com a nova área passe por ele. Trata-se meramente
de especulação imobiliária. Portanto, não há nenhuma preocupação com os prejuízos
decorrentes dessa prática para os moradores do referido conjunto habitacional. Nesse
sentido, apesar de já loteada, esta área não despertava tanto interesse devido à
distância e à falta de serviços públicos básicos, o que dificulta ainda mais sua
comercialização, mantendo ainda hoje um grande número de lotes vagos, que em
alguns casos específicos servem de depósito de lixo, entulho, e são bastante propício
à proliferação de insetos e roedores (PREFEITURA MUNICIPAL DE ALFENAS, 2006).
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Convém mencionar que um fato marcante vem alterando totalmente a dinâmica
espacial dessa região da cidade, a partir de 2009, quando iniciou-se a construção da
Unidade Educacional II da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG), no bairro
Santa Clara, vizinho do Pinheirinho, em terreno doado pela prefeitura (figura 3). Com
esse processo em andamento, a relação campo-cidade certamente vem sofrendo
transformação.
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Figura 3: Vista aérea da região Pinheirinho - Alfenas/MG, destacando, ao fundo, parte do
bairro Pinheirinho e, à frente, a portaria de entrada da unidade II da UNIFAL-MG e residências
do Santa Clara.
Fonte: Evânio S. Branquinho; Rogério S. Bernardes (2013).
OBJETIVOS
Durante nosso trabalho seguimos na direção de verificar as relações existentes
entre campo-cidade no bairro Pinheirinho, entendendo os aspectos da organização
socioespacial. Para isso, procuramos diagnosticar as relações econômicas, sóciodemográficas, culturais e ambientais presentes no bairro; verificar a importância da
cafeicultura na organização socioespacial em Alfenas e do bairro; identificar a
realidade do bairro segundo a percepção da população local; e verificar a influência da
instalação do campus da UNIFAL-MG (Santa Clara) no cotidiano da população do
bairro Pinheirinho.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As pesquisas sobre o campo/cidade ou o rural/urbano, por muito tempo
trataram essas paisagens como antagônicas, sendo o urbano concebido como local de
progresso e modernidade e o rural como lugar de atraso e de rusticidade,como afirma
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Lindner (2008). É observada a centralidade em que se coloca a cidade/urbano e a
condição de submissão do campo/rural a esta ideologia de desenvolvimento que
somente torna-se possível através da expansão da cidade sobre o campo, da
instalação dos aspectos, tanto físicos como ideológicos, ditados pela cidade sobre o
espaço formando, desta forma, um plano homogeneizado.
[...] As primeiras interpretações sobre o tema eram dualistas,
colocavam o "urbano" e "rural" como áreas contrapostas, espaços
com características próprias e isoladas. [...] Diferenças empíricas em
aspectos ocupacionais e ambientais, de tamanho das comunidades,
de densidade populacional, de mobilidade, entre outras, foram
elencadas pelos autores para diferenciar o "meio rural do "meio
urbano" [...]. (BIAZZO, 2007, p.10).
Na concepção de Wanderley (2009), não poderia existir apenas o rural e o
urbano, sem algo em que intermediasse a relação, uma vez que existem vários
elementos que dariam continuidade entre esses dois aspectos. Seria o continuum
rural-urbano, em que não ocorre a perda das particularidades de cada espaço, mas
apresenta uma relação próxima e integrada de ambos, uma vez que, tanto as formas
de vida e trabalho rurais quanto as urbanas estariam integradas.
Rua (2005, p. 46) afirma que, predominou até hoje uma visão espacial de
desigualdade, nas palavras do autor, "[...] seguem o modelo dos espaços
centrais/urbanos, numa dicotomia adiantado/atrasado. [...] dá primazia à cidade em
sua luta contra o campo e corroborou uma imagem retrógrada do campo [...]". Dessa
forma, o autor considera que ambos os espaços, tanto o rural quanto o urbano, seja a
cidade e o campo, integram-se à mesma racionalidade espacial, organizada a partir da
cidade na sociedade contemporânea.
Outro fenômeno que ocorre em relação aos espaços urbanos e rurais, é a
questão do avanço do urbano às áreas agrícolas. Ou seja, um espaço nas
proximidades da área urbana, que possui paisagem rural e, no entanto possui lógica
urbana, um espaço denominado periurbano. Existe uma enorme riqueza de termos
para definir esse processo, segundo Vale (2005), os quais são periurbanização
(STEINBERG, 2003; ENTRENA DURÁN, 2003), rururbanização (BERGER, 1980;
ZÁRATE, 1984; E FERNANDÉZ GARCÍA, 2003) e rurbanização (FREYRE, 1982;
COELHO, 1999).
Dessa forma, Steinberg (2003), citado por Vale (2005, p.76) afirma que "a
periurbanização é um crescimento urbano descontínuo, que geralmente está ligado a
cidades antigas e vilas rurais da periferia de uma aglomeração principal (centro
urbano)". Para a autora, as áreas periurbanas seriam então denominadas como uma
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zona de transição entre campo e cidade, que mesclam as atividades rurais e urbanas,
sendo a plurifuncionalidade uma característica marcante.
Na medida em que encontramos os pontos mais afastados do centro urbano,
tendemos a atingir as zonas periféricas. São aquelas áreas situadas nas bordas da
cidade, frequentemente, em contato com áreas não urbanizadas incluídas ou não
dentro do perímetro urbano. Nestes espaços a relação entre elementos urbanos e
rurais podem ter mais expressividade.
No processo de periferização das cidades dos países subdesenvolvidos,
Sposito (2004, p.122 citando SANTOS 1981, p.187) afirma que tal fenômeno está
vinculado ao jogo de especulação imobiliária, com o deslocamento da população mais
pobre para a periferia, “acessibilidade aos diferentes serviços, mais concentrados na
área central, varie em função das rendas de cada grupo social gerando “cidades
justapostas”, mal vinculadas entre si, dentro da própria cidade”.
Segundo a autora, é comum tais ocupações periféricas serem irregulares,
resultado de iniciativas privadas ou públicas, ou por financiamentos públicos
destinados a aquisição de imóveis, situados na periferia de programas habitacionais
estatais. A periferia se configura assim, de forma submissa ao centro, local de moradia
de uma classe inferior, onde os fluxos sejam econômicos, comerciais e até mesmo
sociais, se apresentam de forma mais tênue.
Para Lindner (2009), as características tidas como rural podem ser percebidas
em pequenos vilarejos e cidades, é o chamado de “ruralidade”, que segundo a autora
se manifestam no modo de vida das pessoas, frutos do seu trabalho, cultura e
tradições. Para Candiotto; Corrêa (2008, p.244),
[...] o apego a terra, às atividades agropecuárias, a identidade com a
agricultura e com o modo de vida rural, o vínculo com as plantas e
animais, o jeito de falar, entre outros fatores, corresponderiam a
territorialidades daqueles indivíduos que trabalham e vivem no rural,
e, portanto, a ruralidade, que denominamos "tradicionais".
Esses autores acreditam que as ruralidades seriam compostas por objetos e
ações característicos do rural, fazendo parte da identidade da população,
predominantes aos indivíduos que vivem e trabalham no rural, mas também pode
estar presentes no urbano. "O estilo country, os rodeios, a popularização da música
sertaneja, a busca do lazer e diversão no meio rural (turismo rural, hotéis fazenda,
cafés coloniais etc.) seriam condutores dessa ruralidade aos urbanos" (CANDIOTTO;
CORRÊA, 2008, p. 224).
Assim como ruralidades estão presentes no urbano, como por exemplo, o
escambo entre vizinhos, a criação de animais tais como galinhas e porcos, a forma de
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receber os visitantes tratados como membros da família, a religiosidade e os festivais
etc., temos também, as urbanidades no rural, que seria "a incorporação de valores
urbanos pela população rural, seja por meio da TV (novelas, telejornais etc.), da
internet ou do marketing" (CANDIOTTO, CORRÊA, 2008, p.220).
Essa incorporação do mundo rural por elementos do mundo urbano, não
resulta na transformação do primeiro pelo segundo. O rural ganha, assim, um novo
significado, e se torna distinguível do urbano. Biazzo (2007, p. 17) nos fornece a
concepção de cidade e campo como sendo o recorte espacial, e o urbano e rural como
sendo expressões imateriais.
Campo e cidade são, portanto, materialidades. Concretizam-se como
paisagens contrastantes. Ruralidade e urbanidade são racionalidades
lógicas. Manifestam-se por meio de nossos atos, através de práticas
sociais. Na esfera do sujeito são, contudo incorporados no curso da
vida. Na esfera das instituições ou agentes coletivos, são ora
incorporados, ora herdados. De qualquer modo, são representações
provenientes de diferentes universos simbólicos, reproduzidos por
cada indivíduo em seu convívio social. (BIAZZO, 2007, p.17)
Ainda segundo o referido autor temos a manutenção do "rural dentro do
urbano" pela dimensão cultural e simbólica, expressa na chamada cultura country, as
festas agropecuárias, nos rodeios universitários, nos "bailes de cowboys" entre outros.
Isso significa que o rural continua presente no urbano, seja em tradições, no modo de
preparo dos alimentos, nas relações sociais, nas pequenas hortas e criações de
animais etc., sendo cada vez mais difícil realizar uma delimitação entre o rural e o
urbano, definindo a dinâmica de cada lugar de forma unitária.
Dentre as manifestações da ruralidade a mais frequente na área de estudo é a
prática da Agricultura Urbana (AU), que pode ser assim explicada:
[...] como sendo a produção de alimentos dentro do perímetro urbano
e periurbano, aplicando método intensivo tendo em conta a interrelação homem- cultivo -animal- meio ambiente e as facilidades da
infraestrutura urbanística que propiciam a estabilidade da força de
trabalho e a produção diversificada de cultivos e animais durante todo
o ano, baseadas em práticas sustentáveis que permitem a reciclagem
dos resíduos (GNAU, 2002, citado por AQUINO; ASSIS, 2007, p.140).
Os autores complementam, ainda, que a agricultura urbana não se refere
somente à produção vegetal, mas também as criações animais, tais como aves,
abelhas, peixes, coelhos etc., sendo possível a combinação de diferentes atividades,
incluindo desde a horticultura até ao cultivo de cereais, aproveitando os resíduos
animais na compostagem. Isso mostra que os resultados positivos poderão ser
percebidos na redução da importação de alimentos de outras regiões e na ocupação
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de áreas desabitadas e inaproveitáveis (AQUINO; ASSIS, 2007).
[...] as experiências urbanas com agricultura se dirigem à valorização
de espaços limitados, onde residem populações socialmente
marginalizadas, para uma produção voltada ao autoconsumo,
possibilitando o aumento da disponibilidade de alimentos e a
diversificação da dieta das famílias. Além disso, o exercício da
agricultura urbana vem permitindo que as famílias envolvidas
fortaleçam seus laços de vida comunitária, condição indispensável
para a emergência de estratégias coletivas para fazer frente aos
riscos de insegurança alimentar e nutricional (WEID, 2002, citado por
AQUINO; ASSIS, 2007, p.142).
O que queremos aqui expor, a partir deste raciocínio, é indicar a matriz rural na
gênese do espaço urbano brasileiro e na constituição da população brasileira. Como
dito anteriormente, o recorte espacial do estudo (bairro Pinheirinho) mantém fortes
expressões da ruralidade, seja no sentimento de pertencimento a uma cultura rural,
talvez por tratar-se de sua própria história de vida, seja por originário do campo
(alfenense ou de outros municípios), seja por ser uma cultura passada de geração em
geração, adquirida pelos seus pais ou avós.
METODOLOGIA
Para o desenvolvimento desta pesquisa utilizou-se como procedimentos
metodológicos: a) levantamento e revisão bibliográfica sobre os temas como relação
campo-cidade, urbanidade, cidades médias, ruralidade e relação campo-cidade/ruralurbana e agricultura urbana, numa perspectiva multidisciplinar, aliando conhecimentos
da geografia, sociologia e economia, enfatizando o caráter espacial, objeto do estudo
geográfico; b) coleta de dados primários a partir da amostra populacional de um total
de 83 questionários aplicados no bairro Pinheirinho; c) coleta de dados secundários no
banco de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), IBGE
Cidades, Prefeitura Municipal de Alfenas; d) tabulação e análise dos dados coletados
na aplicação de questionários; e) redação e elaboração do relatório final da pesquisa.
RESULTADOS
Em nosso trabalho, o bairro Pinheirinho se revela através da combinação de
elementos provenientes da cultura rural, que com base na literatura pesquisada
trataremos como “ruralidades”. Entre as manifestações rurais presentes no bairro,
buscou-se analisar a prática da agricultura urbana praticada pelos moradores. Através
da aplicação de questionários em uma amostra de 83 moradores do bairro, foi possível
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verificar que 43,3 % da população local pratica agricultura urbana (gráfico1), sendo
87,3% para autoconsumo e apenas 5,5% para comercialização. Isso significa que a
maioria da população entrevistada (56,6%) não pratica esta atividade, dependendo
diretamente do comércio para adquirir seus alimentos.
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Grafico1: Prática de Agricultura Urbana entre os moradores do bairro Pinheirinho.
Fonte: Análise dos questionários aplicados em campo (2013).
A prática da agricultura urbana se dá, predominantemente através do cultivo de
hortaliças (alfaces, couve, cebolinhas, salsinhas, almeirão, cheiro-verde, espinafre,
chicória), embora também tenha sido constatada a presença de outros cultivos como:
feijão, mandioca, tomate, abacaxi, pepino, quiabo, além de ervas medicinais: boldo,
funcho, erva-cidreira, hortelã e arruda. Esta prática ocorre nos quintais domiciliares
(Figura 4)., sendo que a maioria dos praticantes, mesmo de origem urbana, afirmam
se identificar com a atividade agrícola por meio de uma questão cultural, fato que
revela que tal prática como elemento de origem familiar, passada de geração em
geração.
Figura 4: Quintais de moradores do bairro Pinheirinho.
Fonte: Trabalho de Campo (Julho/ 2013).
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No entanto, observando que a AU não é praticada pela maioria dos
entrevistados, podemos afirmar que tal atividade não está sendo renovada a partir das
novas gerações. Nas respostas dos questionários, constatamos que são os moradores
mais antigos do bairro que desenvolvem tais atividades, em grande parte, são
aposentados ou trabalhadoras do lar.
Nos tratos destes cultivos se utilizam de restos orgânicos (cascas de ovos,
laranjas, alho, etc.) para a fertilização do solo, em detrimento do uso de pesticidas.
Com relação à criação de animais observaram-se principalmente galinhas, porém de
pequena ocorrência.
Do total dos moradores entrevistados, apenas 31,3% são ex-moradores da
área rural, enquanto que 68,7% são moradores de origem urbana. Partindo do
pressuposto que as ruralidades são compreendidas também na esfera social,
percebemos nas entrevistas a existência de sentimento de pertencimento da
população, tanto com a relação à área urbana quanto à rural, devido à relação desses
dois espaços. Todavia, a grande maioria (84,3%) se considera moradores da cidade,
enquanto os demais se consideram do campo (15,7%), evidenciando que a ruralidade
é algo construído socialmente. Percebe-se que os moradores mesmo de origem rural
possuem maior identificação com a área urbana.
Outro elemento de análise utilizado na aplicação do questionário foi à
expressão do trabalho na colheita do café pela população entrevistada. Este cultivo é
fortemente expressivo no município de Alfenas atrelado à uma significativa
contratação de trabalhadores por safra anual. O resultado obtido foi que 44,6%
trabalham ou já trabalharam no cultivo do café e 55,4% não exercem ou exerceram
esta atividade. Isso nos permite concluir, que mesmo não sendo a maioria, a
porcentagem dos que exercem esta atividade, nos revela o vínculo empregatício dos
moradores junto à área rural.
Na realidade, a mecanização da colheita de café tem reduzido à necessidade
de mão de obra e para os moradores, a contratação apenas no período de safra é
menos vantajoso do que exercer uma atividade permanente, com todos os direitos
trabalhistas assegurados, situação que na maioria das vezes não ocorre na
cafeicultura da região.
Além da preocupação em constatar a ruralidade consolidada no espaço do
bairro Pinheirinho, levamos em conta também em nosso trabalho a percepção da
população local acerca da própria realidade do bairro em que vivem. Diante de uma
ideia do “querer estar incluído” os moradores tendem a acreditar, mediante a forma
pejorativa que o termo periferia carrega no senso comum, que o bairro não se
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“enquadraria” à área periférica do município. Segundo o que foi constatado durante as
entrevistas, a periferia é designada como local de extrema pobreza e de permanente
exclusão urbano. O que sabemos é que o bairro hoje se apresenta com melhorias em
termos de infraestrutura básica e serviços sociais, se comparado à época de sua
implementação, na década de 1980.
Distante da área central, sendo a ligação na época era feita por uma
avenida não pavimentada, que atravessava um grande vazio urbano.
Esse empreendimento é o retrato da política habitacional excludente
realizada no município, que penalizou os moradores do conjunto,
para valorizar glebas particulares por onde passou a infraestrutura
urbana de ligação com a nova área (PREFEITURA MUNICIPAL DE
ALFENAS, 2006, p. 59-60).
Os entrevistados que afirmaram que o bairro não se trata de uma periferia
justificaram dizendo que este mantém infraestrutura equivalente aos demais bairros
(asfalto, luz elétrica, água encanada), assim como aspectos negativos como violência,
problemas com tráfico de drogas, entre outros. Nas palavras dos moradores “o bairro
tem os mesmos problemas que o centro”, ou então, “periferia é coisa mais pesada”, o
que não seria o caso do Pinheirinho. Um dos moradores argumentou que “periferia
seria local feio e mais distante do centro”, fato que não ocorre mais no bairro, já que a
presença de um sistema de transporte coletivo contínuo que o liga ao centro diminui a
distância física entre eles.
Em contrapartida, os moradores que afirmaram morar na periferia se
justificaram por conta da falta de serviços bancários, rotas policiais e também que o
bairro é distante dos serviços em geral, pois muitos destes são concentrados no centro
(hospitais, bancos, lojas, etc.).
Outro fato importante diz respeito à paisagem do bairro que apresenta
elementos ditos rurais (plantações de café, pastagens). Porém, com a chegada de
novos moradores, oriundos do processo de valorização imobiliária promovidos pela
instalação da unidade II da UNIFAL-MG e suas demandas, mudanças espaciais,
socioeconômicas e até culturais já podem ser observadas no bairro. Essa situação da
região do Pinheirinho vem de encontro à ideia de Sposito (2004), que afirma que
interesses fundiários e imobiliários são os principais fenômenos de expansão urbana.
A lógica de produção do espaço urbano tem sido orientada pela
implantação de novos loteamentos e pelo contínuo lançamento de
novos produtos imobiliários de forma a atingir novos consumidores
e/ou se estimular novas demandas àqueles que já haviam consumido
esses produtos imobiliários anteriormente. [...] (SPOSITO, 2004,
p.125).
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Segundo Corrêa (2006) a cidade é fragmentada, articulada, reflexo e
condicionante social, local onde diversas classes sociais que vivem e se reproduzem e
diversos agentes promovem alterações na sua estruturação: os proprietários dos
meios de produção; os proprietários fundiários; os promotores imobiliários; o Estado e
os grupos excluídos. Cada um deles exercerá, de algum modo influências na dinâmica
socioespacial da cidade, acarretando mudanças na sua disposição geográfica.
Por conta dessas transformações no bairro muitas expectativas positivas e/ou
negativas tem sido geradas por seus moradores. Para a grande dos moradores
entrevistados maioria (90,4%) já ocorreram mudanças significativas no bairro, sendo o
policiamento, a diminuição da violência e a especulação imobiliária as mais evidentes.
Porém, a maior valorização das moradias no bairro também possui um lado negativo,
visto que esta população do Pinheirinho, assim como a do bairro Santa Clara poderá
ocasionar a expulsão ou mesmo migração dos moradores à outras áreas da cidade.
Os demais (9,6%) afirmaram acreditar que a chegada da universidade não trouxe ou
não acarretará em futuras mudanças positivas no bairro.
Diversos moradores afirmaram se sentirem mais seguros, com a chegada da
universidade, pois melhorou também a concepção dos moradores de outros bairros
para com relação ao Pinheirinho, que era tido por eles como um bairro de pouco
prestígio, local de violência e marginalização. Nas palavras de uma moradora “eles
chamavam aqui de sapolândia, brejeiro [...]. Agora mudou, eles viram que não é tudo
isso”. Segundo esses moradores, agora eles recebem respeito perante aos demais
bairros. Embora uma das entrevistadas tenha nos relatado que ainda costuma mentir
nas entrevistas de emprego quando perguntada sobre o local de residência, justificada
pelo preconceito com relação aos moradores Pinheirinho na hora da contratação. Isso
mostra que as mudanças ainda estão em curso, mas ainda há um longo caminho a
percorrer em termos de discriminação espacial e social em Alfenas.
CONCLUSÃO
Este estudo possibilitou constatar a relação campo-cidade presente no bairro
Pinheirinho. Como afirma a literatura sobre o conceito, temos a existência de uma área
pertencente ao perímetro urbano, porém por estar em contato direto com o espaço
rural ela apresenta elementos culturais, econômicos e sociais ditos da área rural. São
manifestações da ruralidade observadas na própria paisagem do bairro, tais como:
pastoreio, plantações de café, agricultura urbana e o trabalho na zona rural
desenvolvido pelos moradores.
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A prática da agricultura urbana, elemento de maior destaque nesta análise ao
considerar a presença da ruralidade no bairro, é praticada pelos moradores que
afirmam se identificar com a atividade, por questões culturais, adquiridas por
experiência própria ou herdadas por tradição familiar. A maioria dos moradores
entrevistados afirmou ser de origem urbana, porém justifica-se a prática de AU com o
vínculo que esta população tinha ou ainda têm com o ambiente rural, seja em
questões trabalhistas ou familiares. Visto que é de valor significativo à porcentagem de
moradores que já trabalhou ou ainda trabalha na colheita do café, correspondendo a
44,6% dos entrevistados. A agricultura urbana é caracterizada por ser de subsistência,
com o predomínio do cultivo de hortaliças, praticada nos quintais domiciliares.
A perspectiva que mais pesa na dinâmica espacial do local, é a chegada da
universidade, gerando maior fluxo populacional, comercial, e especulativo de imóveis
(casas e terrenos). Fato já relatado pelos moradores, porém que deve ser analisado
em duas perspectivas. A primeira é que com a chegada da unidade educacional II
UNIFAL/MG, temos a valorização do bairro, e a ocorrência de um maior fluxo
populacional, e a uma especulação imobiliária positiva aos atuais moradores, que
afirmaram já poderem vender os imóveis ao dobro do preço da compra. Porém a outra
perspectiva corresponde a possível relocação dos moradores de baixa renda, fato
observado no bairro Santa Clara. Onde se mobilizou todos os moradores, antes
residentes em casas de infraestrutura precárias a outra parte do bairro, com casas
construídas pelo Governo Federal, ocorrendo à perda da identidade socioespacial dos
moradores. As transformações já estão em andamento, observam-se mudanças na
dinâmica do bairro, que acarretará pontos positivos ou negativos à população local, e
possivelmente a supressão da ruralidade presente no local.
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