RECIFES DE CORAIS INTRODUÇÃO Os recifes de corais são formações biogênicas geralmente localizadas em águas rasas, sobre a plataforma continental, região esta denominada zona nerítica (Odum, 1988). Os corais hermatípicos, cnidários da classe anthozoa, são os principais organismos formadores da estrutura dos recifes. Estes organismos produzem um exoesqueleto constituído de matéria orgânica e carbonato de cálcio (CaCO3); esse exoesqueleto representa o elemento base dos recifes coralígenos. Pode-se destacar, ainda os corais madreporianos ou pétrios (da ordem dos escleractinianos) que são estruturalmente semelhantes às anêmonas, sendo reconhecidos como corais verdadeiros. Fazem parte deste grupo cerca de 200 gêneros como, por exemplo, o Acropora (corais ramificados), o Porites (formas de esqueleto poroso) e o Fungia de maior importância. Além dos corais verdadeiros, são encontrados também, os corais moles(gorgonianos, em sua maioria) e os falsos corais, ambos incluídos na subclasse Octocorallia. Os corais moles possuem um esqueleto interno flexível formado por espículas calcárias (fundidas ou separadas) ou de material córneo. E os falsos corais, são semelhantes aos verdadeiros no que diz respeito ao aspecto externo (Barnes, 1996). Um grande número de organismos, representantes de outras espécies, são parte integrante das comunidades dos recifes de corais como, por exemplo, algas, crustáceos, equinodermos, foraminíferos, gastrópodes, lamelibrânquios, peixes, poríferos etc. Muitos desse organismos podem contribuir na formação dos recifes como, por exemplo, os foraminíferos com suas tecas e as esponjas com suas espículas (Barnes, 1996). Dentre as variáveis ambientais que assumem extrema importância na formação, crescimento e manutenção dos recifes de corais, pode-se citar: - temperatura: os limites de temperatura para o crescimento normal dos recifes, variam entre 17 o – 18oC e 33o – 34oC. Porém, algumas espécies toleram temperaturas abaixo ou acima desses limites. - luz: este, junto com as variações térmicas, também é um fator limitante ao desenvolvimento dos recifes, pois, associados aos corais estão algas simbióticas fotossintetizantes, as zoochantelas. Essas algas fornecem nutrientes aos cnidários, através do processo de fotossíntese e, recebem em troca resíduos metabólicos, que irão garantir a continuidade dos processos de síntese. A associação entre as zoochantelas e os corais, parece ainda contribuir com o crescimento dos recifes, através da maior rapidez de disposição de carbonato de cálcio. Ou seja, utilizando o CO2 na forma de ácido carbônico no processo fotossintético, as algas deslocam o equilíbrio da reação abaixo para a direita, consequentemente, aumentando a quantidade de CaCO3 livre para a deposição. Ca2+ + 2HCO3- Ca (HCO3)2 CaCO3 + H2CO2 - salinidade: os corais toleram valores de salinidade em torno de 28 a 40%. - turbidez: esses organismos são muito sensíveis a turbidez elevada, pois esta, restringe a penetração de luz, prejudicando o desenvolvimento e manutenção dos corais. - Ação das marés e das ondas: os corais necessitam ficar submersos, não suportando longas exposições ao ar, as quais ocorrem nos períodos de maré baixa. Para enfrentar esses períodos, alguns corais secretam grandes quantidades de muco, prevenindo a problemática da dissecação. O movimento das ondas, supre os recifes de corais de gases e nutrientes e, ao mesmo tempo remove seus resíduos metabólicos. De acordo, ainda, com a ação das ondas os recifes podem ser classificados como expostos ou protegidos. No primeiro caso, os organismos possuem formas ramificadas e corpulentas originando colônias robustas e melhor estruturadas para suportar o intenso hidrodinamismo. No segundo caso, onde a turbulência das águas é bem menor, os organismos apresentam uma estrutura mais frágil, podendo assumir formas foliácias até achatadas. ECOLOGIA Os recifes de corais são encontrados em todos os mares do planeta – leste asiático, Oceano Pacífico e regiões tropicais. Porém, o aspecto dos corais varia de acordo com as características do ambiente, onde, esses organismos são encontrados. Os recifes de corais apresentam alta produtividade graças às associações estabelecidas com diversos organismos, ocorrendo interações como mutualismo e competição interespecífica e predação pelas estrelas do mar. Dentre esses organismos associados, alguns peixes contribuem no processo de reciclagem de nutrientes; algas, caranguejos e certos lamelibrânquios alojam-se nos recifes, porém sem prejudicá-los. Diferente de alguns moluscos, ouriços, esponjas e anêmonas, que instalam-se nos recifes de uma forma mais agressiva (Odum, 1988). A alimentação dos corais é bastante variada: recebem nutrientes produzidos pelas zoochantela no processo fotossintético, absorvendo-os por meio de seus tecidos envolventes. Os corais alimentam-se, ainda, de lavar de crustáceos, ovos de peixes, etc., que capturam através dos cnidoblastos (Barnes, 1996). Há uma enorme variedade de peixes habitando nos recifes de corais, pois, estes ambientes fornecem: riqueza de alimentos, proteção contra predadores, locais para desova e desenvolvimento de alevinos. Devido a presença desses peixes, a atividade pesqueira é intensa nas áreas de recifes. REPRODUÇÃO Os corais reproduzem-se sexuada ou assexuadamente, formando organismos solitários ou coloniais. O processo reprodutivo é influenciado pela sazonalidade (exceto em regiões tropicais por fatores estressantes como alterações na turbidez da água e temperaturas elevadas, e ocorre em períodos curtos ao longo do ano. Os corais passam por uma fase pré-reprodutiva, uma adolescência, chegando à maturidade e, pode-se encontrar, de acordo com a espécie, organismos hermafroditos ou dióicos. Nas espécies sexuadas, o desenvolvimento das gônadas inicia-se com a migração das células germinativas primordiais, da mesogléia para a gastroderme. Então tem início a formação de material nutritivo e a diferenciação gonadal. Já nas espécies hermafroditas, a organização dos ovários e testículos, sugere que esses organismos controlem a diferenciação das células germinativas, apresentando, portanto, os dois tipos celulares (Barnes, 1996). A fecundação pode ocorrer através da fertilização externa ou por meio da maturação de uma larva (plânula) no interior do pólipo. Dentre as Scleractinias, um grande número de espécies apresenta fertilização externa e, uma parcela menor de espécies desenvolve a larva plânula. O surgimento desta última, dá-se 24 horas após a fertilização, quando trata-se de reprodução sexuada. Inicialmente a larva é esferóide e, aos poucos, adquirem forma ovalada e movimentam-se por meio de minúsculos cílios. Já, no caso da reprodução assexuada, é possível ocorrer: a fragmentação de uma colônia estável, a fissão longitudinal de um pólipo solitário ou o desenvolvimento assexuado da plânula. A reprodução sexuada permite maior variabilidade genética, apesar dos organismos sofrerem maior risco de predação. Esse risco é menor para os organismos que apresentam reprodução assexuada (Barnes, 1996). CRESCIMENTO A formação e crescimento de recifes começa com a fixação de larvas planctônicos em substratos duros, como bordas submersas de ilhas e até mesmo ao longo de continentes, dando início à formação de colônias. Após a fixação da larva e sua metamorfose em pólipos, estes últimos secretam um exoesqueleto de carbonato de cálcio, que irá formar a estrutura do recife. O crescimento e expansão da estrutura do recife, forma a chamada franja de coral, que se constitui no primeiro passo para a formação de atóis (Barnes, 1996). Quando a franja de corais fixa-se em uma ilha vulcânica, crescendo horizontal e longitudinalmente, pode ocorrer a formação de uma barreira de corais. Dentre esse tipo de barreira, a mais famosa é a Grande Barreira de Corais da Austrália que, na verdade, constitui-se de vários recifes juntos. A taxa de crescimento dos recifes de coral, depende do equilíbrio entre o crescimento horizontal e a calcificação dos pólipos com a taxa de distribuição da estrutura da pedra calcária, onde se fixaram. O crescimento dos corais varia de espécie para espécie e, está relacionado com a incidência de luz solar (o crescimento é mais rápido durante o dia do que à noite), localização em águas rasas, pouca suspensão de material particulado, presença de substâncias químicas na água, predação e competição por espaço com outros organismos. A idade e o tamanho da colônia podem interferir, promovendo a diminuição da taxa de crescimento. AÇÃO DO HOMEM SOBRE OS RECIFES DE CORAIS O equilíbrio dos recifes de corais está sendo afetado pela depredação que visa fins comerciais e, pelo aumento do número de partículas em suspensão nas águas litorâneas , que resulta da grande quantidade de sedimentos transportados pelos rios. Esse acúmulo de sedimentos nos rios, é provocado pelo desmatamento, usos inadequados da terra, pela poluição causada pelos engenhos de açúcar e por obras governamentais. Por exemplo, a presença de petróleo na água prejudica a reprodução dos corais, pois promove a liberação prematura de larvas que são incapazes de sobreviver em suspensão na água e, também não conseguem se fixar. Nas larvas bem desenvolvidas o petróleo provoca a assincronia (descoordenação) dos movimentos ciliares, aguda contração da faringe, promovendo uma situação de estresse fisiológico que tem como conseqüência o impedimento da fixação. Em relação a depredação, esta apresenta dois objetivos principais: 1o – produção de calcário, que envolve a quebra ou dinamitação dos recifes; 2o – ornamentação de aquários com esqueletos de coral. Em pouco tempo os coletores alteram a paisagem submarina de tal maneira, que tem-se a impressão da passagem de um trator destruindo as formações dos recifes de corais. Bibliografia BARNES, R.D. & RUPPERT, E.E., (1996). Zoologia dos Invertebrados. 6 º edição. Editora Roca Ltda. ODUM, E.P., (1988). Ecologia. Editora Guanabara-Koogan, Rio de Janeiro.