Fitoterapia no SUS: Panorama da 2ª Regional de Saúde do Paraná

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Fitoterapia no SUS: Panorama da 2ª Regional de Saúde do Paraná
LEGENDA DO HELVO: modificações realizadas em verde; observações em azul itálico; problemas
assinalados em vermelho.
Autores: PREISLER, L1; LUIZÃO, JER1; PECHARKI, KA1; GRANDE, CD1; NAKATO, RM1;
ALBUQUERQUE, BD1; MORAES, EF1; RIBEIRO, LS1; SLOMP JUNIOR, H. 2.
1. Alunos de graduação em medicina da Universidade Federal do Paraná;
2. Professor do Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Paraná.
Resumo
não vamos revisar agora, pois primeiro precisamos fechar o texto
Os fitoterápicos são regulamentados no Brasil desde os anos 80. O presente
trabalho traz um panorama da utilização desses medicamentos na 2ª Regional de Saúde
do Paraná, e faz uma revisão bibliográfica e de legislação referente a esse tema. O
estudo revela que dos 29 municípios da 2ª Regional, 10 utilizam o fitoterápico guaco, 7
utilizam espinheira-santa, 4 usam ginkgo e 2 utilizam isoflavona de soja. Durante a
revisão bibliográfica, foram encontrados estudos que apontam outras indicações para os
fitoterápicos além das expressas nas suas respectivas bulas. Os autores concluem que
faltam investimentos em pesquisa com plantas nativas, que de modo geral dispõem de
escassa literatura cientifica publicada em comparação com plantas disponíveis em outros
países. Os fitoterápicos disponíveis nos municípios da 2ª Regional de Saúde do Paraná
contam com amplos estudos que comprovam a segurança e eficácia desses
medicamentos e contam com regulação da ANVISA, portanto são adequados e justificam
seu emprego na Atenção Básica à Saúde.
Palavras-chave: Fitoterapia, Saúde Pública, rede básica de saúde, atenção primária em
saúde, assistência farmacêutica, 2ª Regional de Saúde do Paraná
Abstract
Introdução
É muito comum o uso de fitoterápicos em todo o mundo, seja indicado por médicos
especialistas seja por automedicação (consumo de pacientes que sequer chegaram a se
consultar com um profissional). Contudo, muitas vezes a fitoterapia é vista como uma
forma de medicina alternativa, atribuindo-se às plantas medicinais um valor terapêutico
menor comparando-se a outros medicamentos alopáticos que estariam indicados para as
mesmas doenças. Haveria alguma referência para dar sustentação a essas afirmações
aqui? Observem que juntei os parágrafos.
Entretanto, segundo a Organização Mundial de Saúde, 85% da população mundial utiliza
plantas medicinais e/ou seus derivados para tratamentos de saúde; sendo que 80% das
pessoas dos países em desenvolvimento (e os subdesenvolvidos, não?) no mundo
dependem da medicina tradicional e/ou complementar para suas necessidades básicas
de saúde; acrescentando-se que cerca de 85% das práticas em medicina tradicional
envolvem o uso de extratos de plantas (Soler, 2000). Entende-se por “medicina
tradicional”, ou sistemas médicos complexos, o somatório de conhecimentos, habilidades
e práticas baseados em teorias, crenças e experiências inerentes a diferentes culturas,
sejam explicáveis ou não, empregados na melhoria e na manutenção da saúde, bem
como na prevenção, diagnóstico ou tratamento das doenças físicas e mentais (WHO,
2000).
No Brasil, o conjunto das medicinas tradicionais já institucionalizadas (homeopatia,
acupuntura e medicina antroposófica), somadas a outros recursos terapêuticos (como a
fitoterapia), são denominados “práticas integrativas e complementares em saúde” (Brasil,
2006), cuja legitimação e institucionalização tiveram início nos anos 1980, principalmente,
após a descentralização, participação popular e crescimento da autonomia municipal
promovidos pelo SUS, fato observável mediante a presença desse tema nos relatórios
finais de Conferências Nacionais de Saúde (10ª - 1996, 11ª - 2000, 12ª - 2003 e 13ª 2007), acessíveis na página do Conselho Nacional de Saúde (CNS, 2011). Em 1985 foi
celebrado o primeiro ato de institucionalização da Homeopatia na rede pública de saúde,
e desta data até a publicação da Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares no SUS (PNPIC-SUS) em 2006, muitos atos foram registrados. No
entanto, um marco nesse processo foi a produção do diagnóstico nacional da oferta de
práticas complementares no SUS e a criação de grupos de trabalho multiinstitucionais,
para tratar da Homeopatia, Medicina Tradicional Chinesa-Acupuntura, Medicina
Antroposófica e Plantas Medicinais e Fitoterapia. Além disso, há movimentos muito fortes
apoiando as iniciativas em terapias “não convencionais” no Brasil, uma vez que
aproximadamente 100 milhões de pessoas não têm acesso a medicamentos (Marques,
2001; Sacramento, 2001)
Nesse contexto, o presente trabalho teve como objetivos: levantar os fitoterápicos
que já fazem parte do elenco de medicamentos dos 30 municípios da 2ª Regional de
Saúde Metropolitana do Paraná; bem como, por meio de uma sucinta revisão bibliográfica
e de legislação, ressaltar aspectos técnicos e científicos dos fitoterápicos compilados, nos
quesitos eficácia (revisão de literatura a partir das indicações preconizadas pela ANVISA),
segurança (revisão de literatura) e qualidade (registro na ANVISA), a fim de compor uma
avaliação preliminar da fitoterapia praticada no sistema público de saúde da região.
Metodologia
Os dados dos 29 municípios da 2ª Regional de Saúde do Paraná foram obtidos
através do contato telefônico com seus respectivos setores de Assistência Farmacêutica,
argüindo-se se há e quais são os fitoterápicos dísponíveis na rede pública de saúde.
A fim de avaliar a eficácia, segurança e qualidade de cada fitoterápico utilizado
nessa região, os autores realizaram uma revisão bibliográfica e de legislação mediante
buscas nas bases de dados PubMed e Scielo, a partir das indicações dos fitoterápicos
preconizadas pela ANVISA, e suas propriedades farmacológicas. Além disso, foram
analisadas as bulas dos respectivos medicamentos utilizados.
Resultados
Dos 29 municípios pesquisados, 10 utilizam o fitoterápico guaco, 7 utilizam a
espinheira-santa, 4 usam o ginko biloba e 2 fazem uso da isoflavona de soja (Tabela 1).
Tabela 1: Lista de plantas a partir das quais há fitoterápicos hoje utilizados nos municípios
da 2ª Regional de Saúde do Paraná. Fonte: contatos telefônicos realizados pelos autores
durante os meses de abril e maio de 2011.
Nos próximos dias devo conseguir as informações faltantes, pois já as encomendei..
Guaco Espinheira-Santa
Isoflavona de soja
Ginko Biloba
Adrianópolis
não
não
não
não
Agudos do Sul
sim
não
não
não
Almirante Tamandaré
não
sim
não
não
Araucária
sim
não
não
sim
Balsa Nova
não
não
não
não
Bocaiúva do Sul
sim
não
não
não
Sul
não
não
não
sim
Campo do Tenente
não
não
não
não
Campo Largo
sim
sim
não
não
Campina Grande do
Campo Magro
Cerro Azul
Colombo
sim
sim
sim
sim
Contenda
não
não
não
não
Curitiba
sim
sim
não
não
Fazenda Rio Grande
não
não
não
não
Itaperuçu
não
não
não
não
Lapa
não
não
não
não
Mandirituba
não
não
não
não
Piên
sim
sim
não
não
Pinhais
não
não
não
não
Piraquara
sim
sim
não
não
Quatro Barras
sim
não
não
sim
Quitandinha
sim
sim
sim
não
Rio Branco do Sul
não
não
não
não
Rio Negro
não
não
não
não
São José dos Pinhais
não
não
não
não
Tijucas do Sul
não
Não
não
Não
Doutor Ulysses
Tunas do Paraná
Revisão bibliográfica sucinta das plantas levantadas
Ainda não incluí aqui minhas observações quanto a cada planta, além daquelas que fiz na aula, porque
queros lhes pedir revisem o texto de acordo com os 3 critérios: eficácia, segurança e qualidade. Pode ser
um parágrafo para cada um. As anotações de legislação que incluí já ajudam um pouco.
Guaco
O guaco (Mikania glomerata Sprengl.) integra a lista nacional de registro
simplificado de fitoterápicos (ANVISA, 2008) com as indicações “expectorante e
broncodilatador”, e está disponível para ser adquirido pelos municípios no elenco da
farmácia básica do SUS (Brasil, 2009).
No Brasil as espécies de Mikania glomerata Spreng. e M. laevigata Sch. Bip. ex
Baker, Asteraceae, popularmente conhecidas como guaco, são amplamente utilizadas
com evidências pré-clínicas para o tratamento de doenças onde estejam envolvidas suas
ações broncodilatadoras, antialérgicas, antiasmáticas, anti-inflamatórias,
antiulcerogênicas e relaxantes da musculatura lisa (Gaspareto, 2010).
A folha da espécie Mikania glomerata Sprengel (M.glomerata) foi oficializada na 1ª
Farmacopéia Brasileira (Silva, 1929) como droga vegetal a ser utilizada.Em diversos
estudos fitoquímicos das folhas da Mikania glomerata foi isolado como substância
majoritária a cumarina.(Santos, 1996; Vilegas,1997; Soares de Moura, 2002). Segundo
estudos in vivo e in vitro, a M.glomerata possui as seguintes ações: antiinflamatória,
antiespasmódica e broncodilatadora , de maneira dose-dependente (Leite,1993).
A cumarina age na fluidificação dos exsudatos traqueobrônquicos ou estimula sua
secreção de maneira que possam ser mais facilmente expulsos pelo reflexo da tosse. É
de conhecimento que receptores da acetilcolina estão presentes no sistema respiratório e
sua estimulação,pela acetilcolina, produz broncoconstrição e aumento da secreção.
Assim, o bloqueio destes receptores pelo princípio ativo do guaco provoca a diminuição
da secreção brônquica e relaxamento da musculatura lisa respiratória, fazendo do guaco
um auxiliar no tratamento de tosses persistentes, tosses com expectoração e rouquidão.
Por segurança,não deve ser utilizado em crianças abaixo de dois anos, pessoas
com problemas hepáticos, lactantes e gestantes. De acordo com a categoria de risco de
fármacos destinados às mulheres grávidas, este fitoterápico apresenta categoria de risco
C. Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação
médica ou do cirurgião-dentista. Deve-se tomar a precaução de não utilizar
simultaneamente com anticoagulantes, pois pode potencializar seus efeitos e antagonizar
a ação da vitamina K.
Em pacientes com quadros respiratórios crônicos não diagnosticados, deve-se
excluir a suspeita de câncer ou tuberculose, antes de prescrever o medicamento. Outro
detalhe a ser lembrado, o xarope de guaco não deve ser utilizado em pacientes
diabéticos, devido ao alto teor de açúcar presente na solução.
A hipertensão é uma reação adversa ao uso do guaco. Raramente ocorre, em
pessoa hipersensíveis à cumarina, agravamento da dispneia e tosse. Em casos de
superdosagem por longos períodos, pode ocorrer taquicardia, vômitos e diarreia, que
desaparecem quando cessa o uso do medicamento.
Espinheira-santa
A espinheira santa (Maytenus ilicifolia Mart. ex Reiss.) integra a lista nacional de
registro simplificado de fitoterápicos (ANVISA, 2008) com as indicações “dispepsias, como
coadjuvante no tratamento de gastrite e úlcera gastroduodenal”, e está igualmente
disponível para ser adquirido pelos municípios no elenco da farmácia básica do SUS
(Brasil, 2009).
A Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek é conhecida popularmente como “espinheirasanta”, “cancerosa”, “cancorosa-de-sete-espinhos” e “maiteno”, dentre outros nomes
(Lorenzi & Matos, 2002; Brandão, 2006). Pertence à família Celastraceae possuindo 55
gêneros e 850 espécies espalhadas nas regiões trópicas e subtrópicas do mundo. No
contexto brasileiro, onde seu crescimento é nativo a espécie M. ilicifolia é largamente
utilizada na medicina popular (Mossi, 2004).
Segundo o uso popular acredita-se que a M. ilicifolia possa combater várias
doenças, dentre as quais podem-se destacar, gastrites e dispepsias, podendo ser
preparada tanto na forma de emplastros de suas folhas, decocto, por infusão, como na
forma de chás e extratos (Lorenzi & Matos, 2002). Atualmente há estudos que afirmam
que a M. ilicifolia apresenta, também, atividades antineoplasicas e antimicrobiana. (Ming,
1998; Pereira, 1992)
Dentre as substâncias estudadas e classificadas na Maytenus ilicifolia, pode-se
citar vários grupos, dentre eles os terpenos (maitenina, tringenona, isotenginona II,
congorosinas A e B, ácido maitenóico), os triterpenos (friedelanol e friedelina), óleos
essenciais (friedenelol), taninos, principalmente os gálicos (epicatequina,
epigalocatequina e galato de epigalocatequina), glicolipídeos (monogalactosildiacilglicerol,
digalactosildiacilglicerol, trigalactosildiacilglicerol, tetragalactosildiacilglicerol e
sulfoquinovosildiacilglicerol) e, por último, os alcalóides (maiteina, maitanprina e
maitensina) (Alonso, 1998; Carlini & Frochtengarten, 1988; Mendes, 2006).
Foi demonstrado por Pereira et al. (1993) e por Ming et al. (1998), que tanto os
taninos, principalmente a epigalocatequina, quanto os óleos essenciais, em especial o
fridenelol, são responsáveis por parte dos efeitos gastroprotetores. Carlini &
Frochtengarten (1988), por sua vez, em estudos realizados com o abafado da M. ilicifolia
relatam que, quanto maior o tempo do tratamento, maior será a gastroproteção sem,
entretanto, haver alterações no pH.
Souza-Formigoni (1991), em estudos realizados com a infusão de folhas, tanto por
via oral como via intraperitoneal, utilizando como controles positivos a ranitidina e a
cimetidina, demonstraram que a M. ilicifolia tem atividade comparável, superior em alguns
casos, com as atividades dos medicamentos-controle. Se faz ressaltar que se observou
nesse estudo um aumento no volume do suco gástrico e efeitos sobre o pH idênticos ao
da cimetidina (Souza-Formigoni, 1991).
Em relação à atividade antineoplásica, os primeiros estudos foram realizados no
Instituto de Antibióticos da Universidade Federal de Pernambuco. Nesses estudos foram
isolados compostos triterpenoídicos com atividade citotóxica, in vitro, contra células
tumorias (Santana, 1971). Estudos posteriores identificaram que a M. ilicifolia possui,
ainda, atividade antioxidante, com ação quelante para metais pesados, além de agir sobre
diferentes radicais livres (Ho, 1992; Melo, 2001).
O mecanismo de ação ocorre pela ação da maitensina que inibe a polimerização
da tubulina, proteína que forma os microtúbulos nas células. A inibição da formação de
microtúbulos interfere na atividade dos centrômeros, organelas que formam o fuso
acromático durante a divisão celular, impedindo assim a reprodução de células
cancerosas (Alonso, 1998). De acordo com Zeng (1994), outros triperpenos, além da
maintesina, também exibem atividade citotóxica sobre linhagens tumorais in vitro, como a
friedelina e o friedelol. Os taninos epigalocatequina e epigalocatequina-3-galato inibem a
incorporação de timidina marcada em células tumorais gástricas, o que indica uma
interferência na sua capacidade de crescimento.
Além disso estudos pioneiros como o de Lima (1969) já demonstravam que a
maitenina exibe forte atividade antimicrobiana contra várias bactérias Gram positivas. Tais
efeitos foram corroborados com a demonstração que os extratos das folhas e raízes têm
efeito antimicrobiano para vários patógenos, dentre eles Staphylococcus aureus e
Streptococcus sp.
Em relação a atividade antioxidante a espinheira-santa possui cerca de 19% de
substâncias polifenólicas, sob forma de taninos não condensados derivados da catequina
(Carlini & Frochtengarten, 1988). Os derivados da catequina são potentes antioxidantes
(mais potentes que a vitamina C ou E para inibir a oxidação in vitro), além de exibirem
atividade sobre diferentes radicais livres, tais como o radical superóxido ou peróxido (Ho,
1992).
Quanto aos efeitos colaterais do uso da espinheira-santa não foram relatadas
reações adversas sérias ou que coloquem em risco a saúde dos pacientes (Carlini &
Frochtengarten, 1988; Alonso, 1998). Um estudo de tolerância clínica foi feito com sete
voluntários saudáveis que usaram o dobro da dosagem máxima relatada (200 ml a 10%,
ao dia) para o decocto de espinheira-santa, por 14 dias, sem o relato de qualquer efeito
adverso ou sintoma subjetivo (Carlini & Frochtengarten, 1988). Os estudos feitos com
roedores sugerem que M. ilicifolia e M. aquifolium possuem excelente tolerância
terapêutica e toxicidade muito baixa, afastando a possibilidade de efeitos tóxicos ou
cumulativos, como conseqüência dos fármacos dessas espécies, mesmo os com
atividade anticancerígena (Alonso, 1998).
Entretanto o uso da espinheira-santa é contra indicada na gestação uma vez que
em certas partes da América do Sul, a espinheira-santa é usada no controle de
natalidade, como contraceptivo. De acordo com Montanari & Bevilacqua (2002),
administrando-se uma dose de 1000 mg/kg/dia de extrato hidroalcoólico liofilizado, das
folhas via oral a ratas entre o primeiro e o terceiro dias de gravidez (DOP - day of
pregnancy), entre o quarto e o sexto DOP e entre o sétimo e o nono DOP, foi verificada
uma diminuição da pré-implantação embrionária, mas não foram observados efeitos na
implantação nem na organogênese, assim como efeitos teratogênicos. Além disso
existem indícios que o uso de espinheira-santa cause redução do leite materno (Vieira &
Albuquerque, 1998), contra-indicando o seu uso durante a lactação.
Por fim de acordo com Calini & Frochtengarten (1988) posteriormente confirmado
por Alonso (1999), não há relatos de superdosagem de espinheira-santa. Schvartsman
(1992) entretanto, contrapõe que com doses excessivas, as plantas ricas em taninos
podem causar irritação da mucosa gástrica e intestinal, gerando cólicas intestinais e
diarréia.
Isoflavona de Soja
As isoflavonas de soja (Glycine max) não integram integra a lista nacional de registro
simplificado de fitoterápicos (ANVISA, 2008), porém encontram-se disponíveis para serem
adquiridas pelos municípios no elenco da farmácia básica do SUS (Brasil, 2009) com as
indicações “coadjuvanteno no alívio dos sintomas do climatério”.
As isoflavonas são substâncias presentes principalmente na soja e em seus
derivados, denominadas de fitoestrogênios por apresentarem semelhança estrutural com
os hormônios estrogênicos, encontrados em maior concentração nas mulheres. Acreditase que a isoflavona mimetize algumas das ações dos estrogênios naturais, pois, se os
fitoestrogênios atuam nos receptores de estrogênio, melhorariam os sintomas
indesejáveis da síndrome do climatério.
Do mesmo modo que o estrogênio natural, os fitoestrogênios agiriam nos centros
termorreguladores de hipotálamo, atenuando os sintomas vasomotores. Resultados são
semelhantes aos encontrados na literatura, que relacionaram o uso de isoflavona com a
melhora deste sintoma. Em outro trabalho realizado com a isoflavona, constatou-se que
ocorre redução importante dos números dos fogachos das pacientes comparando-se ao
placebo. (Han, 2002)
A diminuição dos níveis séricos de colesterol foi esperada e também foi verificada
em outros estudos, especialmente nos países do Oriente, onde o consumo de soja e seus
derivados é aproximadamente 20 vezes superior ao verificado nos Estados Unidos da
América. (Han, 2002)
Nas doenças cardiovasculares e dislipidemias, a proteína de soja já demonstrou
efeitos benéficos na melhora dos níveis plasmáticos. O efeito hipocolesterolêmico da
proteína de soja é reconhecido há mais de 30 anos (Setchell & Cassidy, 1999).
Segundo estudo de Souza (2006), os resultados observados indicam que houve
redução significativa dos sintomas depressivos, superior à resposta do grupo controle,
sugerindo que as isoflavonas podem ter um efeito sobre esses sintomas da síndrome
climatérica.
Este efeito pequeno poderá beneficiar pacientes que decidem não usar a
terapêutica hormonal ou que apresentam efeitos colaterais com o uso de estrógenos, tais
como sangramento vaginal, náuseas, cefaléia, mastalgia, sinais de retenção hídrica e, no
caso do esquema combinado com progesterona, alterações do humor, e para as quais
outras alternativas medicamentosas não sejam apropriadas. (Souza, 2006)
No que se refere aos sintomas vasomotores, a literatura sugere que a
administração de extrato de isoflavonas da soja reduz tais manifestações em cerca de
45% dos casos. E de acordo com Souza (2006), o efeito do extrato de isoflavonas
mostrou-se superior ao placebo, sobre sintomas vasomotores. Usando a metade da dose
empregada, a isoflavona proporcionou reduções sintomatológicas percentuais variando
entre 10 e 40%. Ainda o estudo demonstrou uma redução significativa nos níveis
plasmáticos de FSH, indicando que houve efeito estrogênico no grupo que recebeu
isoflavonas.
Em outro estudo, de acordo com Nahás (2003) aos dois meses de estudo,
constatou-se uma redução na freqüência de problemas típicos do climatério. No grupo
que recebeu isoflavona ocorreu alívio completo das ondas de calor em 44% das pacientes
contra 12% sob placebo. Esses resultados estão em concordância com outros autores,
que notaram melhora dos sintomas vasomotores com suplementação dietética de soja.
Ainda de acordo com Nahás (2003), os valores médios iniciais de CT e LDL foram
significativamente superiores aos do grupo que recebeu placebo. Após seis meses, as
usuárias que receberam 60 mg isoflavona obtiveram uma redução significativa de 11,8%
nos valores médios de LDL e elevação de 27,3% no HDL, com pequena diminuição no
colesterol total.
Ao final do estudo de Nahás (2003), evidenciou-se elevação significativa dos
valores médios de estradiol plasmático entre as pacientes que receberam isoflavona,
quando comparadas às do grupo placebo. As isoflavonas, compostos não esteróides,
parecem ter efeitos hormonais do tipo estrogênio quando ingeridas em doses elevadas.
Ginkgo Biloba
O Ginkgo biloba L. integra a lista nacional de registro simplificado de fitoterápicos
(ANVISA, 2008) com as indicações “vertigens e zumbidos (tinitus) resultantes de
distúrbios circulatórios; distúrbios circulatórios periféricos (claudicação intermitente);
insuficiência vascular cerebral”, não constando do elenco da farmácia básica do SUS
(Brasil, 2009).
O Ginkgo biloba origina-se da Ásia, mas precisamente das regiões da Coréia,
China e Jápão. Há anos é empregado a utilização do extrato de ginkgo biloba na
farmacopéia chinesa para o tratamento de disfunções cardiopulmonares, bem como a
promoção de longevidade (Forlenza,2003). Apesar de boa quantidade de ensaios
clínicos que comprovam o emprego do ginkgo em diversas situações, ainda é necessário
a padronização do extrato, e principalmente a fiscalização de agências reguladoras.
O principal efeito do extrato de Ginkgo biloba é o aumento do fluxo sanguíneo
através de um mecanismo vasodilatador, além de possuir propriedades antiplaquetárias,
assim sendo possuindo diversas indicações, atuando em distúrbios das funções do
Sistema Nervoso Central, como na insuficiência cérebro-vascular e suas manifestações
funcionais: tonturas, zumbidos (tinidos) resultantes de distúrbios circulatórios; cefaléias,
fadiga, déficit de memória, dificuldade de concentração e atenção; tratamento sintomático
dos distúrbios do desempenho cerebral causados por síndromes demenciais. No sistema
vascular periférico atua na insuficiência vascular periférica e suas manifestações, como
claudicação intermitente, cãibras noturnas e edemas idiopáticos ortostáticos. Alguns
estudos relatam benefícios do uso do extrato do Gb no tratamento do Mal de Alzheimer.
No estudo realizado por Birks, em 2002, não foram encontradas diferenças
estatisticamente significativas da eficácia do Gb no comprometimento cognitivo e na
demência em comparação com um grupo placebo.
O extrato de Ginkgo biloba é constituído de ginkkgoflavonas (24%) e terpenóides
(6%) entre estes últimos os bilobalídeos e os ginkgolídeos A, B, C, M e J (Kleijnen e
Knipschild, 1992). Os extratos secos padronizados de Ginkgo biloba, principalmente o
EGb 761 e o LI 1370, são os utilizados na elaboração de medicamentos e alvos dos
estudos sobre o fitoterápico.Os extratos promove o aumento do fluxo sanguíneo através
da vasodilatação e da diminuição da viscosidade sanguínea, além de efeito na redução
da densidade dos radicais livres de oxigênio sobre os tecidos e da diminuição da
agregação eritrocitária (Forlenza,2003)
Dentre os medicamentos fitoterápicos estudados até agora o ginkgo biloba é o que
apresenta maior literatura, entre ensaios clínicos, meta-análises e revisões sistemáticas
acerca de sua eficácia, indicações de uso e segurança. A tabela a seguir, retirada do
estudo Fitoterapia Baseada em Evidências. Parte 1. Medicamentos Fitoterápicos
Elaborados com Ginkgo, Hipérico, Kava e Valeriana, verifica que houveram várias
revisões sistemáticas e meta-análises avaliando as reais propriedades dos extratos de
ginkgo, isso até o ano de 2005. É necessário ressaltar que houve inúmeros outros
estudos acerca do assunto após a data, porém é interessante notar a quantidade de
evidências conseguidas em relação aos demais fitoterápicos. Sem contar a literatura
oriental onde o ginkgo é comercializado há décadas como fitoterápico importante da
farmacopéia oriental.
Tabela 2: Resultados da pesquisa bibliográfica sobre as evidências de eficácia e segurança do uso de
medicamentos fitoterápicos à base de extratos padronizados de ginkgo (Ginkgo biloba L.).
Fonte: Fitoterapia Baseada em Evidências. Parte 1. Medicamentos Fitoterápicos Elaborados com Ginkgo,
Hipérico, Kava e Valeriana, 2005
Como observado na tabela, foram avaliadas as mais variadas indicações de
atuação do extrato de Ginkgo biloba por revisões sistemáticas e meta-análises de
numerosos ensaios clínicos com resultados diversos. Foram observados efeitos
superiores ao placebo no uso de ginkgo na insuficiência cerebral em idos, na demência
do tipo Alzheimer e multi-infarto e efeito significativo no cuidado da claudicação
intermitente. Em outras indicações como no zumbido e na memória sobre indivíduos
saudáveis não foram encontradas evidências clínicas que reforçariam o uso nesses
casos, mas ainda sendo necessários novos estudos sobre a questão. Apesar dos
resultados positivos há a necessidade de novos estudos e ensaios acerca do assunto
devido principalmente a baixa qualidade metodológica de alguns estudos individuais (
Alexandre,Garcia & Simões,2005)
Devido a seu efeito antiplaquetário deve-se restringir o uso do extrato de Ginko
biloba em pacientes portadores de coagulopatias ou que usem outros medicamentos com
as mesmas propriedades concomitantemente. Também se ressalta a suspensão do uso,
pelo menos três dias antes de algum procedimento cirúrgico (Mills & Bonés,2005)
Quantos a efeitos adversos devido ao uso indiscriminado de Ginkgo biloba foram
observados as seguintes situações de acordo a bula da ANVISA: Distúrbios
gastrintestinais, cefaléias e reações alérgicas cutâneas (hiperemia, edema e prurido)
(Garcia, 1998); Enjôos, palpitações, hemorragias e hipotensão (Blumenthal, 1987);
Hemorragia subaracnóide, hematoma subdural,hemorragia intracerebral, hematoma
subfrênico, hemorragia vítrea e sangramento pós-operatório foram relatados em pacientes
que faziam uso de G. biloba
Discussão depois da revisão dos textos acima, revisamos a partir daqui, pois nossos critérios mudam.
Após levantamento dos dados junto a assistência farmacêutica dos municípios da
2ª Regional de Saúde do Paraná, os autores atentam para o fato de que dos 8
medicamentos fitoterápicos que estão disponíveis no elenco de referência nacional do
componente básico da assistência farmacêutica (P Nº 4.217), sendo eles: espinheirasanta, guaco, alcachofra, aroeira, cáscara-sagrada, garra-do-diabo, isoflavona-de-soja,
unha-de-gato. Desses medicamentos, 3 (guaco, espinheira-santa, isoflavona de soja)
foram encontrados nos municípios citados acima, e 1 medicamento que foi encontrado na
pesquisa (ginkgo biloba) não pertence ao elenco da assistência farmacêutica.
Durante a revisão bibliográfica, foram encontrados estudos que apontam outras
indicações para os fitoterápicos além das expressas nas suas respectivas bulas. A
isoflavona-de-soja apesar de efeitos antidepressivos serem descritos por Souza (2006) na
bula do medicamento consta apenas as indicações no tratamento dos sintomas
vasomotores, tais como: fogachos (ondas de calor) e sudorese, associados ao climatério
e como coadjuvante no controle da hipercolesterolemia.
No caso do guaco a indicação terapêutica que consta na bula, diz respeito sobre
as propriedades expectorante (auxiliar na eliminação das secreções respiratórias) e
broncodilatador (dilatação dos brônquios). Entretanto não há menção sobre os efeitos
antiulcerogenicos de acordo com Gaspareto (2010).
Fato semelhante ocorre com a espinheira-santa, que apesar de ter propriedades
antineoplasicas e antimicrobiana descritas em estudos (Ming, 1998; Pereira, 1992) seu
uso comercial e portanto descrito como indicação do medicamento na bula se limita à
proteção gástrica, sendo usado em casos de dispepsia e como coadjuvante no tratamento
de gastrite e úlcera gastroduodenal. O Ginkgo biloba dentre os fitoterápicos pesquisado
foi o único em que as indicações citadas pela bula padronizada pela ANVISA abrange
todas as propriedades terapêuticas demostradas nos artigos pesquisados. Sendo usados
em insuficiência cérebro-vascular, insuficiência vascular periférica, distúrbios
neurossensoriais.
Após análise da bibliografia disponível sobre o assunto, os autores concluem que
faltam investimentos em pesquisa com plantas nativas, que de modo geral dispõem de
escassa literatura cientifica publicada. Nas bases de dados como o PubMed, não existem
metanálises sobre guaco e espinheira-santa, fato esse que demonstra a falta de pesquisa
em plantas brasileiras, frente a uma vasta literatura de referência sobre o ginkgo biloba e
a isoflavona de soja. Os fitoterápicos disponíveis nos municípios da 2ª Regional de Saúde
do Paraná contam com amplos estudos que comprovam a segurança e eficácia desses
medicamentos, contam com regulação da ANVISA sobre produção, registro e
comercialização fitoterápicos, tais como: informações de bula (Portaria nº 110/97 e RDC
nº140/03) e testes de comprovação de qualidade. Portanto são adequados e justificam
seu emprego na Atenção Básica à Saúde.
Referências Bibliográficas o que acham de colocarmos as referências em ordem alfabética? Ou
pelo menos fechar em Vancouver numerando?
Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Instrução normativa nº 5 de 11 de
dezembro de 2008, publicada no DOU de 12 de dezembro de 2008. Determina a
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