1 MEC - MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PURO - POLO UNIVERSITÁRIO DE RIO DAS OSTRAS RIR – DEPARTAMENTO INTERDISCIPLINAR DE RIO DAS OSTRAS CURSO DE SERVIÇO SOCIAL NÁIRA CRISTINA MIRANDA SILVA AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS SOCIAIS NA PERSPECTIVA DO CONTROLE SOCIAL: um debate sobre seu significado no Centro Integrado de Convivência Neli Aparecida Tâmara Luiz. RIO DAS OSTRAS 2º SEMESTRE/2012. 2 NÁIRA CRISTINA MIRANDA SILVA AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS SOCIAIS NA PERSPECTIVA DO CONTROLE SOCIAL: um debate sobre seu significado no Centro Integrado de Convivência Neli Aparecida Tâmara Luiz. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense – Polo Universitário de Rio das Ostras, como requisito parcial para a obtenção da Graduação de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Prof.ª CRISTINA MARIA BRITES Rio das Ostras 2013. 3 NÁIRA CRISTINA MIRANDA SILVA AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS SOCIAIS NA PERSPECTIVA DE CONTROLE SOCIAL: um debate sobre o seu significado no Centro Integrado de Convivência Neli Aparecida Tâmara Luiz. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense – Polo Universitário de Rio das Ostras, como requisito parcial para a obtenção da Graduação de Bacharel em Serviço Social. Aprovado em 26 de março de 2013. BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________ Professora Cristina Maria Brites – Orientadora Universidade Federal Fluminense/ Polo Universitário de Rio das Ostras ____________________________________________________ Professor Wanderson Fábio de Melo Universidade Federal Fluminense/ Polo Universitário de Rio das Ostras ____________________________________________________ Professor Bruno Ferreira Teixeira Universidade Federal Fluminense/ Polo Universitário de Rio das Ostras Rio das Ostras 2013 4 Dedico o presente trabalho aos meus pais, Maria das Dores e Célio Marcos e minha avó Ana, pelos ensinamentos e pelo amor que sempre recebi. Aos meus irmãos Marcílio e Emiliana, pelo incentivo e pelo exemplo de perseverança. À Deborah Floresta e Laura Fernanda, pelo companheirismo durante nossa trajetória acadêmica. 5 AGRADECIMENTOS À Deus, pois o que seria de mim sem a fé que tenho, à minha família por acreditar e me dar apoio constante e aos meus amigos pelas alegrias e angústias compartilhadas. À professora Cristina Brites pelos ensinamentos, paciência e incentivo nas orientações. À Renata Pontes Martins, supervisora de campo de estágio, por ter me aceitado como estagiária, pelos ensinamentos compartilhados e, principalmente, pelo exemplo profissional. À Cleide Correa, ex diretora do CIC III, por ter me aberto, gentilmente, as portas da instituição. Aos professores, aos auxiliares administrativos, aos auxiliares de serviços gerais e às cozinheiras do CIC pela acolhida. À Hovênia Menezes Duarte, Gilmar Moreira e demais colegas do IMERO, pelo apoio incondicional a uma trabalhadora que também era aluna. Aos professores do Polo Universitário de Rio das Ostras que contribuíram para a minha formação acadêmica. Aos componentes de minha banca examinadora, professores Bruno Teixeira e Wanderson Fábio, ambos que gentilmente se dispuseram a conhecer, avaliar e contribuir com o meu trabalho. 6 SUMÁRIO Introdução............................................................................................................................. 11 1 A Política Nacional De Assistência Social: Contexto Histórico Brasileiro........................ 15 1.1 Fundamentos da Política Social.......................................................................... 15 1.2 Fundamentos da Política Social no Brasil........................................................... 20 1.3 A Política Nacional de Assistência Social........................................................... 29 2 CIC III: Projeto Social de Atendimento a Criança e Adolescente no Município de Rio das Ostras/RJ....................................................................................................................... 2.1 Rio das Ostras/RJ................................................................................................... 33 33 2.1.1 A exploração do Petróleo e o reflexo no município de Rio das Ostras........ 34 2.2 A trajetória da Assistência no município de Rio das Ostras................................... 38 2.2.1 Centro Integrado de Convivência Neli Aparecida Tâmara Luiz – História e Formação.................................................................................................. 3 Avaliação de Políticas Sociais............................................................................................ 40 46 3.1 Avaliação e Centro Integrado de Convivência..................................................... 46 4 Considerações finais........................................................................................................... 60 5 Referências Bibliográficas.................................................................................................. 62 6 ANEXO: roteiro da entrevista............................................................................................ 65 7 LISTA DE SIGLAS BNH Banco Nacional de Habitação; BPC Benefício de Prestação Continuada; CAPS Caixa de Aposentadoria e Pensão; CEME Central de Medicamentos; CIC Centro Integrado de Convivência; CIC II Centro Integrado de Convivência Ernestina Jorge Luiz; CIC III Centro Integrado de Convivência Neli Aparecida Tâmara Luiz; CLT Consolidação das Leis Trabalhistas; CRAS Centro de Referência de Assistência Social; CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social; Dataprev Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social; ECA Estatuto da Criança e do Adolescente; FHC Fernando Henrique Cardoso; FIA Fundação da Infância e do Adolescente; Funabem Fundação Nacional para o Bem-estar do Menor; IAP Instituto de Aposentadoria e Pensões; Iaps Instituto Nacional de Administração da Previdência Social; IDH Índice de Desenvolvimento Humano; Inamps Instituto Nacional de Assistência Médica; INPS Instituto Nacional de Previdência Social IBP Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis; 8 IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; LBA Legião Brasileira de Assistência; LOAS Lei Orgânica da Assistência Social; MDS Ministério do Desenvolvimento Social; OAB Ordem dos Advogados do Brasil; ONG Organização Não Governamental; PT Partido dos Trabalhadores; PETROBRAS Petróleo Brasileiro S.A. PNAS Política Nacional de Assistência Social; SAM Serviço de Assistência ao Menor; SEMBES Secretaria Municipal de Bem Estar Social de Rio das Ostras; SEMED Secretaria Municipal de Educação de Rio das Ostras; SINPAS Sistema Nacional de Assistência e Previdência Social; SUAS Sistema Único de Assistência Social; SUDS Sistema Único Descentralizado de Saúde. 9 RESUMO O presente trabalho tem por objetivo dar uma contribuição para o debate sobre a importância do planejamento, monitoramento e avaliação no âmbito das políticas sociais, tendo como referência os serviços prestados pelo Centro Integrado de Convivência Professora Neli Aparecida Tâmara Luiz, que integra a rede socioassistencial do município de Rio das Ostras. Para contextualizar tal contribuição foi realizado um levantamento bibliográfico para resgatar as determinações históricas que incidem sobre a origem e desenvolvimento das políticas sociais no capitalismo. Resgatamos algumas particularidades do município de Rio das Ostras – RJ, ressaltando os impactos causados na população local com o crescimento desordenado ocasionado pela instalação da indústria do petróleo na região. Contextualizamos a criação dos Centros Integrados de Convivência no município, abordando especificamente a realidade do Centro Integrado Neli Aparecida Tâmara Luiz. Realizamos um estudo teórico sobre a importância do planejamento, monitoramento e avaliação para as políticas sociais, problematizando-a em face das atividades desenvolvidas pelo CIC III e das ponderações sobre o tema feitas por uma assistente social que atua na rede assistencial do município de Rio das Ostras, através de uma entrevista semi-estruturada. Nossos estudos corroboram com o debate teórico acerca da inexistência de uma cultura de avaliação na perspectiva do controle social no âmbito das políticas sociais, indicam sua importância diante do processo de sucateamento da seguridade social brasileira e dos desafios para assegurar a Assistência Social como direito universal de cidadania. Palavras-chave: Política Social. Assistência Social. Planejamento. Monitoramento. Avaliação. 10 ABSTRACT This paper aims to make a contribution to the debate on the importance of planning, monitoring and evaluation in the context of social policies, with reference to the services provided by the Center for Integrated Living Professor Neli Aparecida Tamara Luiz, that integrates the social assistance network of Rio das Ostras. To contextualize this contribution we conducted a literature review to rescue the historical determinations that focus on the origin and development of social policies in capitalism. We rescued some particularities of Rio das Ostras - RJ, highlighting the impacts on the local population with uncontrolled growth caused by the installation of the oil industry in the region. We conducted a theoretical study on the importance of planning, monitoring and evaluation for social policies, discussing it in the face of the activities developed by CIC III and the weights on the subject made by a social worker who works in the health care network of Rio das Ostras, through a semistructured interview. Our studies corroborate the theoretical debate about the lack of an evaluation culture from the perspective of social control in the context of social policies, indicate its importance on the process of scrapping the Brazilian social security and challenges to ensure the Social Assistance as a universal right of citizenship. Keywords: Social Policy. Welfare. Planning. Monitoring. Evaluation. 11 INTRODUÇÃO O presente trabalho procura dar uma contribuição para o debate sobre a importância do planejamento, monitoramento e avaliação no âmbito das políticas sociais, tendo como referência os serviços prestados pelo Centro Integrado de Convivência Professora Neli Aparecida Tâmara Luiz (CIC III), que integra a rede sócio-assistencial do município de Rio das Ostras. O Centro Integrado de Convivência III, professora Neli Aparecida Tâmara Luiz, é um projeto social desenvolvido pela Secretaria Municipal de Bem-Estar Social da Prefeitura Municipal de Rio das Ostras que tem como premissa a prestação de serviços na perspectiva preventivo-assistencial e educativa. Sendo um serviço de proteção social básica, está vinculado ao Centro de Referência da Assistência Social (CRAS). O tema relacionado à avaliação já despertava minha atenção, mesmo antes de iniciar o curso de Serviço Social, no ano de 2007, por trabalhar na área da educação na qual o assunto é muito discutido e considerado um entrave. No entanto, minha aproximação com a avaliação na política social ocorreu de fato quando realizei os Estágios Supervisionados em Serviço Social, II, III e IV, nos CIC I e II, no período de agosto de 2010 a julho de 2012. Quando terminei o terceiro período do curso de Serviço Social inicie a busca por um campo de Estágio. Como sou uma aluna trabalhadora, além da difícil tarefa de conciliar às 50 horas de trabalho com o estudo, teria que conseguir uma vaga aos sábados ou domingos, pois eram os únicos dias que tinha disponível. Como eu, outros alunos do curso de Serviço Social também são trabalhadores e as vagas aos finais de semana são escassas, não atendem ao número de estudantes que necessitam. Assim, não consegui o estágio e fiquei, pelo mesmo motivo, quatro períodos sem estagiar. Somente no início do oitavo período, quando pude reorganizar meus horários no trabalho e ter um dia livre na semana, as terças-feiras, consegui um campo para estagiar. 12 O estágio Supervisionado I iniciou-se no Centro Integrado Ernestina Jorge Pereira (CIC I) onde a assistente social exercia parte de sua carga horária. Contudo, com a carência de profissionais, a Secretaria Municipal de Bem Estar Social (SEMBES) solicitou a transferência de minha supervisora de campo, que passou a desenvolver suas ações no Centro de Referência da Assistência Social do Município de Rio das Ostras (CRAS Central). Dei, então, continuidade ao estágio neste local até o término do semestre. No primeiro semestre de 2011 minha supervisora de campo retornou o atendimento ao Centro Integrado, contudo, cumprindo sua carga horária somente no Centro Integrado de Convivência Neli Aparecida Tâmara Luiz, onde foi dado continuidade ao estágio até julho de 2012. A oportunidade de estagiar no Centro Integrado me colocou em contato com uma política de atendimento às crianças e adolescentes do município, sendo um espaço de acolhimento para as famílias trabalhadoras que necessitam e que não tem com quem deixar suas crianças, visto que as instituições privadas, que poderiam oferecer esse acolhimento, oneram o orçamento dessas famílias. No decorrer do semestre, de agosto a dezembro, e no seguinte, de março a julho de 2011, houve no Centro Integrado uma evasão muito grande. Nós, do Serviço Social, começamos a fazer contato com os responsáveis para sabermos o motivo das constantes desistências. Muitos relatavam que os filhos estavam desmotivados, que iam para lá somente para brincar. Todas as justificativas seguiam nesta mesma direção. Cabe ressaltar que o Centro Integrado de Convivência (CIC) também deveria ser um espaço voltado para o desenvolvimento integral das crianças. Isso significa dizer que as atividades desenvolvidas visam trabalhar o intelecto, o emocional e o social, não só das crianças como também de suas famílias. As justificativas dos responsáveis, que se colocavam, naquele momento, para as constantes evasões, a meu ver, demonstravam a necessidade de se avaliar os objetivos institucionais e a realidade posta. Pois, o fato de se ter um alto índice de evasão, justificadas por desmotivação, era um indicativo de que a prática necessita ser avaliada. Era preciso um confronto entre as atividades que o CIC realizava e seus impactos naquela comunidade atendida a fim de uma aproximação com as necessidades reais daquele grupo, gerando motivação para a permanência no projeto. Com isso surgiu a inquietação sobre as formas de avaliação existentes no projeto. Então descobri que a avaliação formalizada não existia. Havia um modelo de relatório a ser 13 preenchido pelos professores de cada criança em cada oficina oferecida, mas que naquele contexto deixara de ser elaborado. . Neste mesmo período, coincidentemente, iniciou-se, por parte da Secretaria Municipal de Bem Estar Social, o trabalho de revisão do processo de avaliação nos três Centros Integrados de Convivência do município. Para isso foi realizado o primeiro encontro entre os educadores e gestores dos Centros Integrados e da Secretaria Municipal de Bem Estar Social. Este encontro foi para apresentar as bases legais que justificam a implementação dos Centros Integrados no município. Foi apresentada a tipificação e o Centro Integrado como uma ação que está dentro do programa de proteção básica da prefeitura, vinculado à Política Nacional de Assistência. Essa apresentação foi garantida para que todos conhecessem os fundamentos do projeto, sua importância e significado para o atendimento a uma necessidade que é social. Uma segunda reunião foi marcada. O tema apresentado tendia para a sensibilização sobre a importância da avaliação e expunha a necessidade que esta prática fosse instituída nos Centros Integrados. Ao final ficou acordado que cada Centro Integrado construísse um instrumento de avaliação como sugestão, para que numa próxima reunião do grupo fossem debatidos e, a partir desses, chegássemos a um único modelo para todos os Centros Integrados. A discussão em torno da avaliação parou por ai. No Centro Integrado Neli Aparecida Tâmara, a direção construiu um modelo de avaliação que seria enviado aos responsáveis para avaliação da instituição como um todo, chegamos, o Serviço Social, a discutir esse instrumento, sugerir modificações, mas, a ideia não saiu do papel e caiu no esquecimento. Por considerar que a avaliação é um instrumento de suma importância para a mensuração do trabalho desenvolvido e para propor diretrizes de aperfeiçoamento da política de atendimento da instituição, - nos colocamos o desafio de estudar o tema em face da realidade do Centro Integrado de Convivência Neli Aparecida Tâmara Luiz que conhecemos a partir de nossa experiência de estágio. Do ponto de vista teórico-metodológico procuramos assegurar que nosso debate sobre a importância do planejamento, monitoramento e avaliação de um serviço da rede municipal de Assistência estivesse matizado pelas determinações históricas que incidem sobre as Políticas Sociais no Brasil, por uma caracterização da Política Nacional de Assistência Social na atualidade e da Política Municipal, situando nesta última o CIC. Para isso realizamos uma interlocução com autores no campo do serviço social que protagonizam o debate sobre as 14 políticas sociais, identificando as tendências dominantes que caracterizam as políticas sociais brasileiras; os avanços no campo da Assistência Social a partir da Constituição de 88 e a particularidade histórica de estruturação da Política Municipal de Assistência em Rio das Ostras. Assim, no primeiro capítulo deste trabalho procuramos fazer um resgate histórico da origem e desenvolvimento da Política Social. Inicialmente foi retratado o contexto internacional que teve fundamental importância para a constituição das políticas sociais no Brasil, a posterior a própria composição das políticas sociais no Brasil, chegando a atual Política Nacional de Assistência Social. Essa reconstrução histórica visava uma apropriação dos fundamentos da política social, indicando seu significado estratégico para a intervenção do Estado na regulação entre as classes, mediada pelas necessidades de acumulação do capital e de legitimidade social, configurando-se como um campo de lutas no interior da totalidade social. Dando continuidade a nossa análise, no segundo capítulo, realizamos um breve resgate histórico do município de Rio das Ostras, destacando seu processo de formação, a forte influência da indústria petrolífera na região e seus impactos no desenvolvimento da cidade. Nessa contextualização situamos a criação dos Centros Integrados de Convivência no município, em especial o CIC Professora Neli Aparecida Tâmara Luiz. No terceiro e último capítulo, apresentamos nossa apropriação acerca do que é central no debate sobre o planejamento, monitoramento e avaliação a partir de alguns autores que tratam do tema, procurando articular esse debate com o que está previsto em termos de avaliação na legislação e normas que regulam a Política de Assistência Social brasileira e com a realidade do CIC. Incluímos em nossa análise dados obtidos em uma entrevista realizada com uma assistente social que atua na rede assistencial do município. 15 1 A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: CONTEXTO HISTÓRICO BRASILEIRO A análise sobre a política nacional de assistência social supõe o resgate histórico de determinações que incidem sobre a origem e desenvolvimento das políticas sociais, como parte das estratégias formuladas pelo Estado e pelas classes dominantes para responder às expressões da questão social. 1.1 Fundamentos da Política Social O surgimento das políticas sociais, embora não se possa precisar o momento exato, sabe-se que está associado à formação das duas classes fundamentais do modo de produção capitalista: a burguesia e o proletariado, ou seja, a uma forma de organização social determinada pelo modo de produção capitalista. O capitalismo tem sua ascensão com a Revolução Industrial no século XVIII. No entanto, anterior a isso, nos séculos XVI e XVII, com base nos autores pesquisados, podemos identificar protoformas das políticas sociais. Essas se materializavam na forma de legislações específicas associadas ao mundo do trabalho. Isso significa dizer que podiam ter acesso a essas protoformas àqueles que tivessem um ofício. Sobre isso Behring e Boschetti acrescentam que, Essas legislações estabeleciam distinção entre pobres “merecedores” (aqueles que comprovadamente incapazes de trabalhar e alguns adultos capazes considerados pela moral da época como pobres merecedores, em geral nobres empobrecidos) e pobres “não merecedores” (todos aqueles que possuíam capacidade, ainda que mínima, para desenvolver qualquer tipo de atividade laborativa). Aos primeiros, merecedores de “auxílio”, era assegurado algum tipo de assistência, minimalista e restritiva, sustentada em um pretenso dever moral e cristão de ajuda, ou seja, não se sustentavam na perspectiva do direito (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p.49). 16 Essa vinculação entre o acesso a essas protoformas de políticas sociais e a manutenção de uma atividade laborativa dava às primeiras legislações sociais um caráter coercitivo e também punitivo, pois submetia o trabalhador, que não via alternativa, a qualquer trabalho e, principalmente, a qualquer condição de trabalho. Pode-se dizer que essas protoformas tinham um caráter meramente filantrópico - para o atendimento aos desvalidos, e assistencialista- aos trabalhadores, para que, com isso, fosse mantida a ordem social e punissem a vagabundagem. Com a Revolução Industrial um cenário de profundas transformações se configura. Com novas mercadorias sendo produzidas, houve um aumento no consumo e, consequentemente, nas vagas de trabalho. As cidades passam a concentrar trabalhadores vindos do campo para as fábricas. Nas sociedades pré-capitalistas o trabalho se realizava sobretudo na produção de valores de uso, atendendo as necessidades de manutenção da vida dos trabalhadores. Com o desenvolvimento das forças produtivas no modo de produção capitalista, principalmente com a produção industrial, o trabalho desenvolve a forma mercadoria e como tal, passa a ser fonte de produção de mais-valor. Isso significa dizer que o trabalho passa a produzir valor de troca, o que o torna uma categoria de fundamental importância, pois, quanto mais trabalho maior a extração de mais valia e, expansão do capital. Por isso, acontece, como analisam Behring e Boschetti (2008, p. 51), uma “plena subsunção do trabalho ao capital”. Para os operários as condições de trabalho nas fábricas não eram boas; carga horária muito extensa e salários baixos. O que se presencia é o aumento do índice de pauperização da população, que se anuncia através das expressões da questão social. Para Behring e Boschetti, Se as legislações sociais pré-capitalistas era punitivas, restritivas e agiam na intersecção da assistência social e do trabalho forçado, o “abandono” dessas tímidas e repressivas medidas de proteção no auge da Revolução Industrial lança os pobres à servidão da liberdade sem proteção (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p. 51) A dificuldade de manter a própria subsistência associada a super exploração do seu trabalho fez com que o operariado se organizasse e lutasse por melhores condições de vida e trabalho. Behring e Boschetti, concordando com Marx, consideram que “a classe trabalhadora, atordoada pelo barulho da produção, recobrou de algum modo seus sentidos, começou sua resistência” (MARX, 1988 apud BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p. 55). 17 Nesse contexto, meados do século XIX, o liberalismo era a tendência dominante de orientação das ações do Estado e das elites. Esse sistema de ideias e de análises políticoeconômicas, que teve como precursores Adam Smith e David Ricardo, promulgava a auto regulação do mercado. Para os liberais cada um agindo em busca de seu próprio interesse contribuía para o bem estar coletivo. O Estado era visto como um mal necessário que atuaria, minimamente, apenas para dar condições ao livre mercado. Essa visão liberal minimizou os efeitos da luta da classe trabalhadora. Para Behring e Boschetti, Com o predomínio desses princípios ferozmente defendidos pelos liberais e assumidos pelo Estado capitalista, não é fácil compreender que a resposta dada à questão social no final do século XIX foi sobretudo repressiva e apenas incorporou algumas demandas da classe trabalhadora, transformando as reivindicações em leis que estabeleciam melhorias tímidas e parciais nas condições de vida dos trabalhadores, sem atingir, portanto o cerne da questão social ( BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p. 63) Pode-se dizer que nesse período não houve avanços significativos no que tange a implementação de políticas sociais. Ao Estado cabia, somente, dar assistência mínima àqueles que não tinham condições de competir no mercado de trabalho como uma forma de amenizar a pobreza, pois para a perspectiva liberal o investimento em políticas sociais estaria contribuindo para a vagabundagem uma vez que os trabalhadores perderiam o interesse pelos afazeres. Após a segunda Guerra Mundial há uma generalização das políticas sociais com o surgimento do Welfare State. No início do século XX o capitalismo enfrenta um período de recessão econômica, que ficou conhecida em todo o mundo como a “Grande Depressão” ou “A Crise de 1929”. Esse momento ficou marcado pela forte crise financeira que abateu a Bolsa de Valores de Nova York e fez com que muitos capitalistas perdessem tudo o que tinham. A crise ocasionou o fechamento de inúmeras indústrias e, com isso, as taxas de desemprego tornaramse alarmantes em todo o mundo. Essa crise, de proporções mundiais, abala também as ideias liberais que se tornam insustentáveis diante de uma crise em que ficam evidentes “os limites do mercado se deixado a mercê dos seus supostos movimentos naturais”. (BEHRING e BOSCHETTI, 2008, p.68). Para resolver o problema era preciso restabelecer os vínculos de trabalho e retomar o consumo. Assim, Keynes faz algumas proposições, que ficaram conhecidas como a 18 “Revolução Keynesiana”, defendendo, principalmente, a intervenção estatal na economia para que se alavancasse a indústria novamente. Não era uma ruptura com o capitalismo e sim saídas de superação para crise. De acordo com Behring e Boschetti, “ele propugnava a mudança da relação do Estado com o sistema produtivo e rompia parcialmente com os princípios do liberalismo” (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p. 83). O liberalismo tinha como marca a não intervenção do Estado na economia, que era controlada pela “mão invisível”. Já para as medidas Keynesianas colocava-se a necessidade de participação estatal como “produtor e regulador”, associando a liberdade individual aos interesses econômicos, uma vez que nem sempre os interesses individuais estariam em consonância com as necessidades do mercado – como propunha o liberalismo- ocasionando a crise. Sobre a função do Estado nesse período, Behring e Boschetti colocam que, o Estado – como um agente externo em nome do bem comum, o que supõe uma visão de Estado neutro e árbitro – tem legitimidade para intervir por meio de um conjunto de medidas econômicas e sociais, tendo em vista gerar a demanda efetiva, ou seja, disponibilizar meios de pagamento e dar garantias ao investimento, até mesmo contraindo déficit público, para controlar o volume de moeda disponível e as flutuações da economia (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p. 85) Ocorreram mudanças também na forma de produção com a introdução do Fordismo. Esse modelo tinha em vista a produção em massa. Isso era feito a partir do baixo investimento na fabricação do produto deixando-o com baixo custo e, com isso, alavancando o consumo. O sistema funcionava com a linha de montagem. Os produtos eram feitos numa esteira rolante onde cada trabalhador participava executando uma parte da fabricação. Essa forma de organização acelerava a produção e não demandava que a mão de obra fosse qualificada, baixando os custos do produto. Toda essa reorganização na forma de produção interfere nas relações sociais e por isso, pode-se dizer que o Fordismo produziu mudanças não só na economia como também na “produção de um novo homem inserido em uma “nova” sociedade capitalista” (BEHRING e BOSCHETTI, 2008, p. 87). Era interessante que os padrões de vida da população estivessem compatíveis com os da produção. O período keynesiano foi de grande avanço para a implementação de Políticas Sociais, pois fazia parte das premissas de Keynes que o Estado atuasse não só como produtor na economia mas também como reprodutor das relações sociais. As iniciativas vieram ao encontro das reivindicações dos trabalhadores e foram, portanto, eles os primeiros 19 beneficiados com medidas de garantia de proteção social como seguro doença, seguro invalidez, seguro-desemprego, pensões, entre outros. Pode-se acompanhar melhorias concretas nas condições de vida dos trabalhadores. Segundo Behring e Boschetti, o consenso do pós-guerra, aliança entre classes, possibilitou a expansão das políticas sociais no período através de acordos que foram estabelecidos. Essas políticas baseavam-se na cidadania, eram universalizadas e abrangentes, marcando o período como “a “idade de ouro” das políticas sociais” (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p. 92). No final dos anos de 1960 a ideia desse Estado intervencionista começa a ruir. Um novo período de recessão se instaura no capitalismo. A partir disso é colocado em questão o poder de interferência do Estado nas relações sociais, principalmente com o forte investimento em políticas sociais que estavam sendo vistas como desperdício, uma vez que não beneficiava, diretamente, a classe burguesa. A nova crise do capitalismo está associada, de acordo Behring e Boschetti (2008), a superprodução e teve no Estado o amparo para a prática de medidas anticrise. Assim, a crise que se instala torna-se um campo fértil para o avanço do neoliberalismo. Behring e Boschetti (2008) esclarecem que para os neoliberais a crise do capital estava associada ao poder dado aos sindicatos e aos movimentos do operariado que pressionavam os investimentos em políticas sociais. Como saídas para a crise o neoliberalismo retoma a ideia da não intervenção estatal no mercado, retomando as teses de auto-regulação. Para os neoliberais o investimento do Estado na economia o deixaria em “déficit estatal absorvendo a poupança nacional e diminuindo as taxas de investimento, levando a propor a redução do déficit para aumentar o investimento privado” (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p.126). Quanto aos gastos sociais deveriam ser reduzidos, uma vez que o investimento do Estado em políticas sociais aumentaria o poder de consumo e, ao mesmo tempo, reduziria a poupança da população. Diversos países adotaram as medidas neoliberais como saída para a crise. Entre eles, Inglaterra, EUA, Alemanha e Dinamarca. Já na década de 80 o neoliberalismo não tinha conseguido conter a crise para a retomada do crescimento econômico. Segundo Behring e Boschetti (2008) os efeitos negativos do neoliberalismo atingiram o mundo do trabalho, as condições de vida dos trabalhadores com o aumento do desemprego, diminuição de salários e a redução de gastos com as políticas sociais. O que se pode observar é um aumento das contribuições do 20 trabalhador e uma diminuição nas dos empregadores com efetiva redução nos gastos com o social. Essas mudanças de orientação contribuem para concentração da riqueza nas mãos de poucos e agrava as desigualdades sociais. Sobre os efeitos do neoliberalismo para as relações de trabalho, Behring e Boschetti afirmam que, A reestruturação produtiva, as mudanças na organização do trabalho e a hegemonia neoliberal, tem provocado importantes reconfigurações nas políticas sociais. O desemprego de longa duração, a precarização das relações de trabalho, a ampliação de oferta de empregos intermitentes, em tempo parcial, temporários, instáveis e não associados a direitos, limitam o acesso aos direitos derivados de empregos estáveis (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p. 13). Para Behring e Boschetti (2008) dentro destas reconfigurações nas políticas sociais há um forte investimento pelo neoliberalismo nos programas de transferência de renda que segundo a autora tem se tornado uma prática comum entre os países como forma de se fazer política social. Assim, o que se percebe em relação a tendência dominante no âmbito das políticas sociais no contexto do neoliberalismo é que “as reestruturações em curso seguem na direção de sua restrição, seletividade e focalização; em outras palavras, rompem com os compromissos e consensos do pós-guerra, que permitiram a expansão do Welfare State” (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p.134). 1.2 Fundamentos da Política Social no Brasil A política social no Brasil tem sua origem, como em outros países, relacionada ao avanço do sistema capitalista do mundo. No entanto, se deu de forma diferenciada pelas especificidades sociopolíticas e econômicas do país. O Brasil vivenciou durante três séculos, a partir da chegada dos portugueses no início do século XVI, o período de colonização. Esse período da formação sócio-histórica do país é marcado, principalmente, pela relação de trabalho escravo e o retorno financeiro para a metrópole. Durante esse período o país construiu uma sociedade que produzia para sua subsistência e, principalmente, para abastecer as necessidades do mercado internacional que visava um alto retorno financeiro. Para isso, buscou a mão de obra escrava, resistindo à incorporação do trabalho livre. Assim, a colonização no Brasil gera uma sociedade dual onde 21 se tinha, de um lado, a classe dos senhores que detinham os meios para produzir e de outro, os negros escravizados que eram aqueles sem acesso a esses meios. O que pode ser traduzido em concentração de riquezas para um núcleo dominante e degradação para o outro; constituindo uma relação de intensa desumanização. Além disso, como citado, a economia brasileira estava voltada para o mercado mundial. Sobre isso, Behring e Boschetti concordando com Prado Jr, considera que o processo de colonização “serviu à acumulação originária de capital nos países centrais”, (PRADO Jr. 1991, Apud BEHRING e BOSCHETTI, 2008, p.72) o que cria, uma relação de dependência e subordinação ao mercado mundial. Em 1822 se finda o período colonial com a proclamação da independência. Segundo Behring e Boschetti (2008) esse momento supunha uma ruptura com o passado que não aconteceu, pois não se tinha condições materiais e morais para isso. Com a introdução do capitalismo na realidade brasileira acontece, embora de forma lenta, a passagem de uma sociedade em que a produção de riqueza era baseada na atividade agrária para uma produção industrial e também de uma sociedade escravocrata para o trabalho livre. Para Behring e Boschetti “a ruptura com a homogeneidade da aristocracia agrária, ao lado do surgimento de novos agentes econômicos, sob a pressão da divisão do trabalho, na direção da construção de uma nova sociedade nacional foram decisivos para a introdução do capitalismo” (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p. 73). Esse momento foi controlado pela aristocracia agrária que não perdia de vista seus interesses, dificultando a modernização econômica. Sobre isso Behring e Boschetti afirmam que, A transição – claramente não clássica – para o capitalismo no Brasil, então, é marcada por uma visão estreita do dinamismo do mercado interno e destina-se a impedir qualquer crescimento a partir de dentro. Prevaleceram os interesses do setor agroexportador e o ímpeto modernizador não teve forças suficientes para engendrar um rumo diferente, já que promovia mudanças com a aristocracia agrária e não contra ela (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p. 77). Essas características da formação sócio-histórica do país vão marcar de forma significativa a emergência e o desenvolvimento das políticas sociais no Brasil, uma vez que as relações de dependência, exploração, conformismo ficam enraizadas na consciência dos trabalhadores e retardam o processo de ação política do operariado. Sobre isso Behring e Boschetti afirmam que “não houve no Brasil escravista do século XIX uma radicalização das 22 lutas operárias, sua constituição em classe para si, com partidos e organizações fortes” (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p. 78). Além disso, a transição não clássica1 para o capitalismo marca de forma particular a apropriação política do Estado pelas elites dominantes. A partir da década de 30, com as lutas dos trabalhadores, surgem as primeiras iniciativas de legislações sociais, que darão base às políticas sociais, voltadas para o mundo do trabalho. Algumas iniciativas isoladas e voltadas à segmentos específicos dos trabalhadores, antecedem a constituição efetiva das políticas sociais brasileiras, como: caixa de socorro para a burocracia pública, direito à pensão e 15 dias de férias para os funcionários da Imprensa Nacional e do Ministério da Fazenda e para os ferroviários, a primeira legislação para a assistência à infância, direito à pensão para os funcionários da Marinha, criação de caixas de Aposentadoria e Pensão (CAPs) para os marinheiros e ferroviários e dos Institutos de Aposentadoria e Pensão dos funcionários públicos (IAPs) e, por fim, o Código de Menores. Assim, Behring e Boschetti (2008) afirmam que, O fundamental, nesse contexto do final do século XIX e início do século XX, é compreender que nosso liberalismo à brasileira não comportava a questão dos direitos sociais, que foram incorporados sob pressão dos trabalhadores e com fortes dificuldades para sua implementação e garantia efetiva (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p. 81). Até 1930 a economia brasileira tinha como principal produto de exportação o café. Isso mantinha também o poder político das oligarquias cafeeiras. Em 1929 acontece uma grande crise mundial de acumulação do capital que repercute na economia brasileira permitindo, inclusive, a introdução de novos produtos na economia. Com isso, as oligarquias cafeeiras perdem espaço não só na economia como também na política. Sobre isso, afirmam Behring e Boschetti, “assim, chegam ao poder político as outras oligarquias agrárias e também um setor industrialista, quebrando a hegemonia do café, e com uma agenda modernizadora” (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p. 105). Essa disputa de poder entre as elites nacionais, com a chegada de outras oligarquias agrárias e um setor industrialista, ficou conhecida no Brasil como a “Revolução de 30”. A chamada revolução de 302 instaura no país a perspectiva de modernização com um 1 Sem rupturas com as estruturas precedentes de poder, articulando passado e presente. “um presente que se acha impregnado de vários passados” (Ianni, 1993:63 apud Behring e Boschetti, 2008: 72). 2 Para alguns autores o movimento político de 30 não pode ser considerado como uma revolução, uma vez que 23 Estado de compromisso, que tinha como pretensão impulsionar as oligarquias agrárias e a indústria, regulamentar o trabalho e enfrentar a questão social, que até o momento era vista como caso de polícia. Uma figura importante, de liderança do período, foi Getúlio Vargas. Os anos de 1930 a 1945, segundo Behring e Boschetti (2008), podem ser considerados como o período de introdução da política social no Brasil. Entre os avanços na política social e responsabilização estatal estão, como afirmam Behring e Boschetti (2008): cobertura de riscos, regulação dos acidentes de trabalho, aposentadorias e pensões, auxílios doença, maternidade, família e seguro desemprego, criação do Ministério do Trabalho e da carteira de trabalho, expansão dos IAPs, criação da Lei Orgânica da Previdência Social, do Ministério da Educação e Saúde Pública, do Conselho Nacional de Educação e do Conselho Consultivo de Ensino Comercial. Também se inicia a intervenção do Estado na saúde com as campanhas sanitárias. O atendimento médicohospitalar era feito através da saúde privada e filantrópica. Em 1942 foi criada a Legião Brasileira de Assistência (LBA). Essa instituição era coordenada pela primeira dama, que centralizava o atendimento às famílias dos pracinhas envolvidos na Segunda Guerra. Posteriormente, essa instituição vai encarnar a assistência social no Brasil. Já em 1941 tem-se a criação do Serviço de Assistência ao Menor (SAM), substituindo o Código de Menores, em 1943 a promulgação da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) através da Constituição de 1937. Como se pode ver, em sua maioria, as iniciativas de políticas sociais foram marcadas pela associação ao mundo do trabalho. Isso foi intencional à medida que privilegiavam o desenvolvimento da força de trabalho como também, necessitavam dar respostas aos conflitos que surgiam da relação capital x trabalho. Nesse contexto, as principais características das políticas sociais são a fragmentação, a tutela, o favor, o clientelismo, o primeiro-damismo e a privatização. A carteira de trabalho, por exemplo, segundo Behring e Boschetti (2008) tornou-se um documento de cidadania, pois para ter acesso aos direitos, era necessário um vínculo empregatício. O que dá um caráter fragmentado a essas políticas sociais que atendem a uma parcela da população, os trabalhadores formais, ao invés do caráter universal de acesso para todos. O período com Vargas a frente da política brasileira termina em 1945. De acordo com Behring e Boschetti (2008), de 1946 a 1964 um novo período se instaura no país que já estava não houve alterações das relações econômicas na esfera da produção e nem políticas, tendo as elites apenas se acomodado no poder. 24 mais urbanizado, com o movimento operário e popular mais maduro. O período fica marcado por “uma forte disputa de projetos e pela intensificação da luta de classes” (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p.109). Sobre as políticas sociais nesse período Behring e Boschetti afirmam que, “a expansão foi lenta e seletiva, marcada por alguns aperfeiçoamentos institucionais (...) se mantiveram ainda no formato corporativista e fragmentado da era Vargas”. (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p. 110). Em abril de 1964 um golpe civil-militar encerra o governo de João Goulart – o Jango. Ele tinha sido eleito vice-presidente e, após a renúncia de Jânio Quadros, assume a presidência se aproximando dos setores mais progressistas, o que não agradou as elites do país. A partir disso, os militares tomam o poder e instauram o período dos governos militares ditatoriais, perdurando até 1985. No contexto da ditadura civil-militar brasileira há um crescimento na implementação das políticas sociais, configurando um contexto de sua generalização. Como o governo militar era regido pela repressão, principalmente dos direitos civis e políticos, há uma expansão dos direitos sociais, como uma forma de manter o controle das forças produtivas. Assim, foram iniciativas nesse período, segundo Behring e Boschetti (2008): unificação, uniformização e centralização da previdência social no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), ampliação da previdência para os trabalhadores rurais, empregadas domésticas, jogadores de futebol, autônomos e ambulantes e criação da Renda Mensal Vitalícia para os idosos pobres que tivessem contribuído para a previdência. Além disso, foi criado o Sistema Nacional de Assistência e Previdência Social (SINPAS) que era composto pela Fundação Nacional para o Bem-estar do Menor (Funabem), a Central de Medicamentos (CEME) e a Empresa de Processamentos de Dados da Previdência Social (Dataprev), o Instituto Nacional de Assistência Médica (Inamps), o Instituto Nacional de Administração da Previdência Social (Iaps) e o INPS, fazendo com que, segundo Behring e Boschetti (2008) institucionalizasse a previdência, saúde e assistência social. A criação do Banco Nacional de Habitação (BNH) foi outra política do período da ditadura civil-militar. Segundo Behring e Boschetti (2008) essa atendia, de forma hegemônica, aos interesses dos setores dominantes da construção civil. Para os trabalhadores foram criados fundos de indenizações que poderiam ser usados na compra da casa própria. Como característica das políticas sociais constituídas no período, Behring e Boschetti chamam a atenção para, 25 no mesmo passo em que se impulsionavam políticas públicas mesmo restritas quanto ao acesso, como estratégia de busca de legitimidade, a ditadura militar abria espaços para a saúde, a previdência e a educação privadas, configurando um sistema dual de acesso às políticas sociais: para quem pode e para quem não pode pagar. Essa é uma das principais heranças do regime militar para a política social. (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p. 137) O período da ditadura civil-militar brasileira chegou ao fim, após 21 anos com os militares no poder, deslegitimados pela crise financeira - com os altos índices de inflação e endividamento que o país enfrentava - e também pelo surgimento de um novo movimento operário e popular que se tornou um grande incômodo para a elite dominante. De acordo com Behring e Boschetti, “esse movimento operário e popular novo era um ingrediente político decisivo da história recente do país, que ultrapassou o controle das elites” (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p. 141). O novo movimento operário surge para refundar a esquerda brasileira e se torna indispensável para a mobilização social em torno da abertura política no país. Entre 1980 e 1981, prisões de líderes sindicais da região do ABC paulista, entre eles Luís Inácio Lula da Silva presidente do recém-criado Partido dos Trabalhadores (PT), atentados na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e no Centro de Convenções do Riocentro, no Rio de Janeiro, revelam as grandes dificuldades da abertura. Ao mesmo tempo, começa a se formar um movimento em favor da aprovação da emenda constitucional que restabelece a eleição direta para a Presidência da República. A campanha das “Diretas Já” espalha-se em grandes comícios, passeatas e manifestações por todo o país. Mesmo diante de toda pressão popular a emenda constitucional que permitia as eleições diretas para a presidência da república não foi aprovada. No entanto, em 1985, Tancredo Neves, o candidato apoiado pelo povo, vence as eleições indiretas para presidente. Antes mesmo de assumir a Presidência do Brasil, Tancredo Neves vem a falecer e assume em seu lugar o vice José Sarney, originário da ARENA, partido de apoio aos militares e que a pouco se declarava democrata. Contudo, diante de tais condicionantes, o regime militar se vê acuado pela crise e pelas fortes manifestações populares, o que torna inevitável o processo de transição para a retomada de um Estado democrático de direito. Com isso a década de 80 é considerada de grande avanço para a política social no Brasil. Nos primeiros anos de redemocratização, com o governo Sarney, poucas foram as iniciativas de políticas sociais. De acordo com Behring e Boschetti (2008), o governo 26 implantou o Programa do Leite que deveria promover o acesso à alimentação, no entanto, se tornou uma prática clientelista favorecendo somente as associações populares que tiveram instrumentos para beneficiar os que desejavam. Assim, as políticas sociais mantiveram um caráter compensatório, seletivo, fragmentado e setorizado. Segundo Behring e Boschetti, as propostas de reestruturação das políticas sociais, formuladas no âmbito dos grupos de trabalho criados pelo governo Sarney destinados a “repensar” as políticas de previdência, saúde, educação e assistência social, não foram implementadas. (BEHRING, BOSCHETTI , 2008, p. 144). Entretanto, em 1988, expressando o processo de redemocratização, foi promulgada a “Constituição Cidadã3” que buscava superar as arbitrariedades da Constituição de 1967. Em sua construção, a população, representada pela Articulação Nacional de Entidades pela Mobilização4, teve a possibilidade de participação propondo emendas constitucionais, o que lhe garantiu legitimidade popular e que os princípios de universalidade, responsabilidade pública e gestão democrática estivessem presentes na Constituição. Segundo Behring e Boschetti (2008), é desse processo que surge o conceito de seguridade social5 e alguns direitos a ele vinculados, como cobertura previdenciária para os trabalhadores rurais e o Benefício de Prestação Continuada (BPC) para idosos e deficientes físicos. Há inovações também com o novo estatuto dos municípios como entes federativos autônomos, os conselhos paritários de políticas e de direitos e com a instituição de um ciclo orçamentário que contemple um orçamento para a seguridade social. Ainda segundo as autoras, Behring e Boschetti (2008), na Assistência buscou-se a superação do clientelismo, do aleatório e do improviso. Na saúde é realizada, em 1986, a VIII Conferência Nacional de Saúde que dá origem ao Sistema Único e Descentralizado de Saúde (SUDS) e na previdência houve a ampliação da licença maternidade de 120 dias para as trabalhadoras rurais e domésticas; do direito de pensão para maridos e companheiros; a redução de idade para aposentadoria; da indexação dos benefícios previdenciários ao salário mínimo, entre outros. Para a criança e adolescente foi colocada a perspectiva da criança como prioridade absoluta e a inimputabilidade penal até os 18 anos. 3 4 5 Caracterização dada por Ulisses Guimarães devido aos avanços que o texto constitucional trazia ao campo dos direitos sociais. Movimento, com compromissos democráticos, formado por personalidades, movimentos sociais e partidos políticos para participarem dos grupos de trabalho de construção da nova Constituição. Conceito que articula as políticas de previdência, assistência social e saúde para a construção de um sistema público de proteção social. 27 A nova Constituição, mesmo com a manutenção de traços conservadores que, segundo Behring e Boschetti (2008) lhe conferiram uma mistura entre o velho e o novo, representou um avanço em direção à democracia e à garantia de direitos, principalmente os direitos sociais, e instaurou uma perspectiva de melhoria nas políticas de enfrentamento da questão social. Esses princípios constitucionais, genéricos, mas norteadores da estrutura da seguridade social, deveriam provocar mudanças profundas na saúde, previdência e assistência social, no sentido de articulá-las e formar uma rede de proteção ampliada, coerente e consistente. (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p. 158) Contudo a situação econômica era desfavorável, o que levou o país a iniciar a década de 90 apontando a necessidade de uma reforma de Estado. Tal “reforma” 6 era justificada pela crise econômica e social que o país vivia desde o início da década de 80 onde as causas estariam associadas a problemas estatais. O argumento favorável a essa reforma é de que as estatais eram improdutivas, davam prejuízo, estavam endividadas, e sobreviviam somente devido aos subsídios governamentais. Segundo Behring e Boschetti o discurso colocava que, reformando o Estado se abriria o caminho para a modernidade. No entanto, o que se viu foi a “reformatação do Estado brasileiro para a adaptação passiva à lógica do capital” (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p. 151). Essa adaptação se iniciou pelo forte apelo à privatização. E, segundo Behring e Boschetti, houve uma entrega de parcela significativa do patrimônio público ao capital estrangeiro, bem como a não obrigatoriedade das empresas privatizadas de comprarem insumos no Brasil, o que levou ao desmonte de parcela do parque industrial nacional e a uma enorme remessa de dinheiro para o exterior, ao desemprego e ao desequilíbrio da balança comercial. (BEHRING, BOSCHETTI, 2008, p. 153). Para Behring e Boschetti (2008) com a introdução do terceiro setor, que abarcou as ONGs e Instituições Filantrópicas, como executor de políticas sociais, somado a separação entre formuladores e executores destas políticas, há um desmonte do ideário de política social ansiado na Constituição de 88. Constata-se que a política de ajuste fiscal, que na verdade foi uma reforma para o mercado neoliberal, incidiu fortemente sobre as políticas sociais. 6 Behring (2003), reivindica o caráter político da reforma para o campo da social democracia vinculado à luta dos trabalhadores, portanto, no contexto do neoliberalismo no Brasil se operou uma contrarreforma. 28 Sobre isso Behring e Boschetti afirmam que, houve uma forte tendência de desresponsabilização pela política social – em nome da qual se faria a “reforma”-, acompanhada do desprezo pelo padrão constitucional de seguridade social. (...) as formulações de política social foram capturadas por uma lógica de adaptação ao novo contexto. (BEHRING, BOSCHETTI , 2008, p. 155) Dessa forma as políticas sociais assumem a ideologia neoliberal e entram numa lógica de “privatização, focalização/seletividade e descentralização” (BEHRING e BOSCHETTI, 2008, p. 155), minando a perspectiva da universalização e integralização de direitos, propostas pela Constituição de 88 e que seria implementada através do sistema de seguridade social. Para Behring e Boschetti (2008), na previdência os direitos ficaram ainda mais focalizados, restritos e reduzidos. O salário família e o auxílio reclusão ficaram limitados, o tempo para aposentadoria aumentou e os trabalhadores informais permaneceram excluídos do sistema. Na saúde permanece a falta de recursos, péssima qualidade dos serviços e na assistência há o reforço pela filantropia e clientelismo. Tudo isso traduzido numa lógica de transferência de responsabilidade pública para a sociedade civil e de privatização dos serviços públicos. O atual Estado Neoliberal se utiliza das políticas sociais como “moeda de troca”, a fim de compensar os rebatimentos da relação capital-trabalho aos mais pauperizados, pois, segundo Pastorini (1997), tais políticas possuem um caráter redistributivo e compensatório, paliativo e corretivo das mazelas produzidas por esta relação. As políticas sociais são criadas, segundo esta perspectiva, para compensar as desigualdades próprias do mercado, de forma tal que, como se fossem um homeostato, se torna necessário que estas sejam tão desiguais quanto o mercado mas em sentido contrário. Se o mercado privilegia uns e desfavorece a outros, as políticas sociais “redistributivas” devem favorecer aqueles outros, sem privilegiar os demais. Com este mecanismo de compensação estar-se-ia equilibrando as desigualdades, assim como combatendo a pobreza, o que, em nosso entender, não passa de uma romântica esperança, não confirmada pelo desenvolvimento real. (PASTORINI, 1997, p. 84) A afirmação de que as políticas sociais são ações que visam minimizar os rebatimentos da exploração capitalista atual, historicamente corrobora para que o Estado crie subterfúgios para que estas sejam focalizadas e fragmentadas, como aponta Souza (2008, p. 87), “a 29 assistência social, entendida como política pública, direito do cidadão e dever do Estado, se estão garantidos sob o ponto de vista legal, esbarra nos tradicionais mecanismos de caridade, benesse, favor, historicamente construída em nosso país”. 1.3 A Política Nacional de Assistência Social Neste cenário de precarização das políticas sociais e restrição de direitos de cidadania a Política Nacional de Assistência Social - PNAS é regulamentada, em 2004, como política social pública pela Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS e inserida no âmbito da seguridade social com o intuito de garantir o acesso aos serviços, a universalização dos direitos e a responsabilidade do Estado. Para o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), a Política Nacional de Assistência (PNAS) “define o novo modelo de gestão e apresenta as diretrizes para efetivação da assistência social como direito de cidadania e responsabilidade do Estado”. De acordo com Mota (2009) a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) demonstrava “uma acentuada tendência à focalização, seletividade e fragmentação, comprometendo o princípio de universalidade, continuidade e sistematicidade das ações” (MOTA, 2009, p.186). A consolidação de políticas sociais é perpassada pela correlação de forças entre o Estado a sociedade (com seus antagonismos de classe), numa luta histórica de embates com distintos processos de entendimento sobre a quem se deve atribuir as responsabilidades com as políticas sociais. Assim, mais uma vez a Assistência se torna objeto de exigência e negociações entre governo e sociedade, o que deu condições para a proposição de uma nova política de Assistência Social. A nova política de Assistência Social institui o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) que é um sistema composto pelo poder público e sociedade civil7 que, segundo o MDS, “organiza, de forma descentralizada, os serviços socioassistenciais no Brasil”. O SUAS materializa o conteúdo da PNAS. Na PNAS as ações da Assistência Social estão organizadas em dois tipos de proteção: básica e especial. De acordo com o MDS, na proteção social básica estão os programas, projetos, 7 Do ponto de vista dominante costuma-se tratar a sociedade civil de forma abstrata, ignorando as determinações e interesses antagônicos que mobilizam os segmentos e grupos organizados que disputam tanto o poder do Estado quanto os recursos do Fundo Público. 30 serviços e benefícios destinados à prevenção, a riscos pessoais e sociais dos indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade social em que os vínculos sociais e familiares ainda não foram rompidos. A responsabilidade de implementação desses serviços fica a cargo dos municípios, através dos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS). A proteção especial é destinada a indivíduos e famílias que já se encontram em situação de risco. De acordo com a complexidade, a proteção especial é considera alta ou média e o que a define é o nível de complexidade da violação de direitos. A responsabilidade municipal de atendimento a proteção especial é destinada aos Centros de Referência Especial da Assistência Social (CREAS). Assim, pode-se considerar que a PNAS representa um avanço no tratamento dado à política de assistência social no Brasil. No entanto, Mota coloca que, somente com a constituição de 1988 a sociedade brasileira teve, em tese, as suas necessidades de proteção reconhecidas pelo Estado através da instituição de um sistema público de proteção social (integrado pelas políticas de saúde, previdência e assistência social); contudo, mal foram regulamentadas, essas políticas passaram a ser objeto de uma ofensiva perversa e conservadora, materializada em propostas e iniciativas de contrarreformas restritivas de direitos, serviços e benefícios. (MOTA, 2009, p.184) A ofensiva perversa a que se refere Mota (2009) é uma resposta orquestrada por setores da elite dominante às crises de acumulação do capital que emergem na década de 70 do século passado. No Brasil os efeitos dessa crise passam a interferir na forma como o Estado regula a relação entre as classes em finais da década de 80, resultando na adoção do ideário neoliberal que deságua, entre outras ações, na contrarreforma do Estado. O projeto neoliberal emerge com toda a força e, aqui no Brasil, foi iniciado pelo governo Collor e concretizado pelos governos FHC, principalmente pela privatização de empresas estatais e pela restrição de direitos historicamente conquistados. Conforme Granemann, A contrarreforma pode ser entendida como um conjunto de alterações regressivas nos direitos do mundo do trabalho. As contra reformas, em geral, alteram os marcos legais – rebaixados – já alcançados em determinado momento pela luta de classe em um dado país. (GRANEMANN, 2004, p.30) É neste cenário, de contrarreforma do Estado brasileiro, colocado por Granemann que, também, se gesta e se organiza a PNAS. Desse modo, os avanços consagrados na Constituição 31 de 88, passam a ser tensionados pelo projeto neoliberal fazendo com que a implementação da política de Assistência Social no Brasil assuma característica compensatória e focalizada, enfatizando-se a mercantilização de serviços no âmbito da Seguridade Social. Junto com a previdência e a saúde, a assistência forma o tripé da seguridade social. Isso significa dizer que a implementação das políticas sociais estaria garantida através das ações integradas dos três eixos- saúde, previdência e assistência – constituindo um sistema efetivo de garantia de direitos ao cidadão. Contudo, o que se vê é o desmantelamento da seguridade social sob a alegação de um Estado em falência, que imprime ao tratamento da questão social a política do mínimo, com o objetivo único de manutenção da ordem e longe de proporcionar mudanças significativas na qualidade de vida da população que depende dos serviços prestados. De acordo com Mota (2009), a participação ínfima do Estado no tratamento das expressões da questão social está diretamente vinculada ao processo de mercantilização dos serviços sociais, fruto da busca por acumulação e, logo, expansão capitalista. Neste cenário, a assistência social ganha o escopo de ser a política que solucionará os problemas sociais do país. Sobre isso, Mota coloca que, A investida da classe dominante contra a seguridade social brasileira tratou de inflexionar o padrão de enfrentamento à questão social, dotando a política de Assistência social de uma centralidade no trato das contradições sociais. Esta transformação, do nosso ponto de vista, deu-se de maneira que a assistência social deixa de ser uma política de acesso às demais políticas setoriais, assumindo uma centralidade na política social. (MOTA, 2009, p.153) A autora reafirma o papel da Assistência Social dentro dessa lógica capitalista dizendo que, “... a Assistência Social passa a assumir, para uma parcela significativa da população, a tarefa de ser a política de proteção social e não parte da política de proteção social.” (MOTA, 2009, p. 144). E é essa condição, focalização nos segmentos mais pobres da sociedade, que vai dar face à política de Assistência Social, sendo um retrocesso para o sistema de garantia de direitos. Assistimos de um lado, a mercantilização da saúde e da previdência através do crescimento da venda de planos de saúde e de previdência e de outro, o que Mota (2009) denomina, a “assistencialização” da proteção, que tem como principal instrumento os programas de transferências de renda. Neste cenário, Mota conclui que, 32 O argumento central é o de que as políticas que integram a seguridade social brasileira longe de formarem um amplo e articulado mecanismo de proteção, adquiriram a perversa posição de conformarem uma unidade contraditória: enquanto avançam a mercantilização e privatização das políticas de saúde e previdência, restringindo o acesso e os benefícios que lhe são próprios, a assistência social se amplia, na condição de política não contributiva, transformando-se num novo fetiche de enfrentamento à desigualdade social, na medida em que se transforma no principal mecanismo de proteção social no Brasil. (MOTA, 2009, p. 134) Tornando, assim, a Política Nacional de Assistência um mecanismo impossibilitado de interferir no perfil de pobreza e desigualdade que acomete segmentos da sociedade brasileira. 33 2 CIC III: PROJETO SOCIAL DE ATENDIMENTO A CRIANÇA E ADOLESCENTE NO MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS/RJ Neste capítulo é feito um resgate de alguns condicionantes históricos do município de Rio das Ostras para contextualizar a realidade local onde está situado o Centro Integrado de Convivência Neli Aparecida Tâmara Luiz (CIC III). Em seguida resgatar-se á o processo de constituição da trajetória da Assistência Social, chegando aos Centros Integrados no município de Rio das Ostras. E, por fim, o histórico de formação do Centro Integrado Professora Neli Aparecida Tâmara Luiz. O resgate histórico das tendências dominantes da política social no Brasil, anteriormente apresentado, serve de referência para análise das particularidades que se expressam no âmbito da assistência municipal. 2.1 Rio das Ostras/RJ8 Rio das Ostras foi levada à categoria de município em 10 de abril de 1992 quando desmembrou-se da cidade de Casimiro de Abreu. A emancipação político-administrativa aconteceu devido ao acelerado crescimento, tanto populacional quanto econômico, que o então distrito vivenciou; não justificando mais sua categoria de distrito9. Rio das Ostras era rota de tropeiros e comerciantes rumo a Campos e Macaé que paravam para descansar e se alimentar, assim, inicialmente, o crescimento da cidade deu-se ao 8 Para fazer essa breve contextualização da cidade de Rio das Ostras foram feitas pesquisas no site da Prefeitura Municipal de Rio das Ostras, que traz informações históricas acerca da formação da cidade, bem como no Plano Municipal de Assistência Social e no site do IBGE. Disponível em: http://www.riodasostras.rj.gov.br/. Acesso em 23 de abril de 2012 e 29 de janeiro de 2013. E: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=330452> . Acesso em: 08 de abril de 2012. 9 Essa é a justificativa oficial, que não necessariamente corresponde aos reais interesses que mobilizam grupos políticos na disputa do poder local. 34 redor da Igreja. Por ali também se desenvolvia a atividade pesqueira que sustentou a economia da cidade por longos anos. No entanto, o crescimento significativo, econômico e populacional, de Rio das Ostras está diretamente vinculado à instalação, na década de 1970, da Empresa de Petróleo Brasileiro - Petrobras na região. A cidade fica localizada na bacia de Campos que é, atualmente, responsável por 80% da produção de petróleo do país, segundo site do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP). De acordo com o portal de transparência pública do Governo Federal, Rio das Ostras recebeu 72.126.500,22 milhões de royalties acumulados entre janeiro e fevereiro de 2012. De um total de 79.647.441,95 milhões dos repasses do Governo Federal para o município. Ou seja, os repasses recebidos através dos royalties representaram cerca de 92% da arrecadação municipal advinda de repasses do Governo Federal. Além de ser uma região petrolífera, Rio das Ostras tem o turismo como mais uma atividade que movimenta a economia local. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010), atualmente Rio das Ostras conta com uma área de 229 km² de extensão territorial. Neste espaço estão os 105.757 habitantes, destes 94,99% é população urbana e 5,01% de população rural. O crescimento populacional em uma década, de 2000 a 2010, no município, foi de aproximadamente 69.500 mil habitantes. 2.1.1 A exploração do Petróleo e o reflexo no município de Rio das Ostras De acordo com o site da empresa Petrobras10 no ano de 1974 foi descoberta a Bacia petrolífera de Campos. Com uma área que se estende do norte do estado do Rio de Janeiro até o sul do Espírito Santo, tornou-se a maior província petrolífera brasileira pela sua grande capacidade de produção. Em 1976 aconteceu a primeira perfuração e no ano seguinte iniciouse a exploração comercial. Há, nesse período, uma transformação na configuração da realidade local. Plantada a 300 quilômetros do Rio, quase na foz do rio Paraíba, Campos pretende assumir definitivamente a posição de polo econômico na região norte do novo Estado do Rio, escapando à saga da monocultura - desta vez o açúcar. O sonho de atrair indústrias determinou, por exemplo, a inclusão da cadeira de "petroquímica" 10 PETROBRÁS. Disponível em http://www.petrobras.com.br/pt/quem-somos/nossa-historia/. Acesso em 17 de fevereiro de 2013. 35 entre as matérias regulares da Escola Técnica Federal de Campos. A onda de entusiasmo começou de fato há cinco anos, quando os pescadores da praia de Atafona abandonaram silenciosamente os seus melhores refúgios, para dar lugar ao movimento dos jipes e funcionários de macacão amarelo da Petrobrás que, com seus ensaios geológicos animados por explosões, sepultaram a calma modorrenta dos veranistas. (ARQUIVO VEJA, 1974). A exploração do petróleo na região motivou a instalação de empresas, principalmente na cidade de Macaé, que é considerada a capital nacional do petróleo, intensificando o processo de migração de pessoas de diferentes regiões do país. Rio das Ostras sendo uma cidade limítrofe tornou-se estratégica para aqueles que buscam trabalho nessas empresas instituírem suas moradias. Vivencia-se na cidade um crescimento populacional acelerado como é possível acompanhar através do gráfico abaixo. Fonte: http://www.riodasostras.rj.gov.br/dados-do-municipio.html Esse crescimento populacional, somado à precariedade de infraestrutura da cidade, ocasionada pela falta de planejamento da administração pública, acentuou a situação de pobreza no município. São famílias inteiras que deixam suas vidas em outros municípios na tentativa de melhoria de sua qualidade de vida e aqui se instalam da maneira que conseguem, como pode ser comprovado através do Plano Municipal de Assistência 2010-2013 que diz que, O Município apresenta grande fluxo migratório, o que vem agravando o quadro de exclusão social, pois, devido à baixa escolaridade e desqualificação profissional estas pessoas não são absorvidas pelo mercado de trabalho e somam-se aos Munícipes que compartilham da mesma situação social. Esta população, em sua maioria, se fixa em terras públicas, áreas de risco, insalubres e ainda de preservação ambiental, sem nenhuma condição de habitabilidade. (PLANO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA, 2010-2013, 2009, p.47). Rio das Ostras é um município conhecido por suas belezas naturais e turismo barato, quando comparado com outros municípios mais “badalados” da região dos lagos. Durante 36 nossa pesquisa documental localizamos inúmeras fontes (publicações em sites, reportagens, documentos oficiais, etc.) destacando seu desenvolvimento econômico e melhorias na qualidade de vida da população. De acordo com o próprio site da Prefeitura Municipal de Rio das Ostras11, “o município se destaca por seus investimentos em infraestrutura e saneamento básico, é considerado modelo em iniciativas permanentes de programas e projetos de geração de emprego e renda”. No entanto, o discurso oficial pode ser contestado por pesquisas que revelam dados não divulgados pela mídia local/oficial. No artigo “A maldição do petróleo” (DECAT, 2009), divulgado no site do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA12 uma realidade bem distinta é desfraldada quando se considera os altos repasses recebidos através dos royalties, nas cidades que fazem parte das três bacias petrolíferas do país. Segundo ele, “a maioria das cidades pequenas e médias que recebem anualmente milhões de reais por meio de royalties, por exemplo, apresenta baixíssimo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)”. O município de Rio das Ostras ocupa a 34ª posição no critério IDH estadual, com um índice de 0,775, considerado de médio desenvolvimento humano13. Cabe ressaltar que, variando de zero a um, o IDH classifica os municípios segundo três níveis de desenvolvimento humano: municípios com baixo desenvolvimento humano (IDH até 0,5); municípios com médio desenvolvimento humano (IDH entre 0,5 e 0,8) e municípios com alto desenvolvimento humano (IDH acima de 0,8). Quanto mais próximo de um, mais alto é o desenvolvimento humano. No entanto, o Plano Municipal de Assistência Social nos mostra que, A realidade que se estabelece no município de Rio das Ostras não foge do quadro social do conjunto da sociedade brasileira e do panorama mundial. Agrava-se a questão social e a situação da população, em especial dos trabalhadores. O desemprego estrutural é a marca do modelo econômico adotado mundialmente (neoliberalismo) relegando ampla parcela dos cidadãos ao mercado informal e a situações de miséria. (PLANO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA, 2010-2013, 2009, p.47). 11 12 13 Disponível em: http://www.riodasostras.rj.gov.br/. Acesso em 17 de fevereiro de 2013. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=1215:reportagens materias&Itemid=39. Acesso em 17de fevereiro de 2013. Dados divulgados pelo site da prefeitura municipal de Rio das Ostras com fonte no relatório de desenvolvimento humano do IPEA 2000. 37 Assim, o modelo de desenvolvimento do município revela seu caráter profundamente contraditório e desigual, ao mesmo tempo em que o município ocupa uma posição privilegiada no rankeamento do índice de desenvolvimento de melhoria na qualidade de vida da população, também acompanha o aumento do índice de pobreza. Como expressão particular de um modelo de desenvolvimento submetido à lógica de acumulação do capitalismo contemporâneo, as condições de vida e de trabalho da maioria da população de Rio das Ostras revelam a profunda desigualdade que articula crescimento econômico e pobreza. De acordo com o site do IBGE, censo 2010, grande parte da população de Rio das Ostras possui rendimento, ou seja, mantém sua sobrevivência, com cerca de 1 a 2 salários mínimos mensais, como mostra o gráfico abaixo. São cerca de 14.231 pessoas que sobrevivem com até 1 salário mínimo e cerca de 19.691 pessoas com renda de 1 a 2 salário mínimos. Outro dado a se considerar é o número de famílias e sua renda mensal, como demonstra o gráfico abaixo. 38 É possível perceber que é expressivo o número de famílias com filhos, muitas nas quais a mulher é a única responsável pelo lar, tendo rendimento mensal de até 2 salários mínimos. Com isso pode-se concluir que a renda mensal da maioria das famílias residentes no município é baixa. É comum que pessoas em busca de ofertas empregos e altos salários procurem o município, no entanto, por não possuírem qualificação se deparam com uma realidade bem distinta do que aparece nos noticiários e muitas vezes não têm condições de retornar para seus municípios de origem. É fato que se tem, neste cenário, aumento considerável da busca por serviços de proteção social, acompanhando uma tendência dominante da realidade brasileira diante do desemprego estrutural. 2.2 A trajetória da Assistência no município de Rio das Ostras14 Como já situado, a emancipação político administrativa de Rio das Ostras aconteceu no ano de 1992. Nesse período o trabalho da assistência, como é apresentado pelo Plano Municipal de Assistência 2012-2013, acontecia vinculado a Secretaria de Saúde, com a Assessoria de Promoção Social. Já em 1997, com o agravamento das expressões da questão social, Rio das Ostras instaura a Secretaria Municipal de Bem Estar Social, desvinculando da Saúde e tornando-a responsável pela assistência no município. No entanto, a que se considerar que a LOAS, instituída em 1993, em seu artigo 5º prevê a descentralização administrativa da Assistência Social, caracterizando a responsabilização dos municípios com a implementação da política de assistência social. Art. 5º A organização da assistência social tem como base as seguintes diretrizes: I descentralização político-administrativa para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e comando único das ações em cada esfera de governo; (Lei 8742/1993, de 07/12/1993). Inclusive, como se pode comprovar através do artigo 30º, também da LOAS, é condição indispensável que seja instituído no município órgãos específicos de atendimento a Assistência Social para que o mesmo possa ter o repasse de verbas da União e do Estado. 14 Para a construção dessa apresentação sobre a assistência no município de Rio das Ostras foi consultado o Plano Municipal de Assistência Social 2010-2013, onde se fundamenta os dados aqui apresentados. 39 Art. 30. É condição para os repasses, aos Municípios, aos Estados e ao Distrito Federal, dos recursos de que trata esta lei, a efetiva instituição e funcionamento de: I - Conselho de Assistência Social, de composição paritária entre governo e sociedade civil; II - Fundo de Assistência Social, com orientação e controle dos respectivos Conselhos de Assistência Social; III - Plano de Assistência Social. Parágrafo único. É, ainda, condição para transferência de recursos do FNAS aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a comprovação orçamentária dos recursos próprios destinados à Assistência Social, alocados em seus respectivos Fundos de Assistência Social, a partir do exercício de 1999 (Incluído pela Lei nº 9.720, de 30.11.1998). (Lei 8742/1993, de 07/12/1993). No ano de 2012, a Secretaria de Bem Estar Social atuou na proteção básica com três Centros de Referência de Assistência Social - CRAS (Sul, Central e Norte). O trabalho nos CRAS está ancorado nos projetos que são desenvolvidos, como: projeto começar de novo, Projeto Feliz Idade, Benefício Social do Idoso, Centros Integrados de Convivência, Projeto Creche Social, Projeto Canguru, Projeto Vencendo Barreiras, Projeto Crescer Saudável, Projeto Sementes de Cantagalo, Projeto Flores do Campo, Projeto Pérolas do Amanhã, Projeto Brinquedoteca, Projeto Oficina de Artes e Geração de Renda, Banco e Empregos, Projeto Cartão do Bem e Programa Jovem Cidadão. Já na proteção especial, a Secretaria Municipal de Bem Estar conta com um Centro de Referência Especializado de Assistência Social - CREAS, com o Centro de Referência em Atendimento à Mulher - Casa da Mulher e com o Abrigo Municipal para Crianças e Adolescentes. Para o atendimento as comunidades de Rocha Leão e Cantagalo, a secretaria possui duas Unidades de Atendimento localizadas nessas localidades. Também conta com os Conselhos Municipais, Fundo Municipal de Assistência Social, Fundo de Habitação, Fundo Municipal de Saúde, Fundo Municipal da Infância e da Adolescência, Comissão Municipal de Emprego e Renda como instâncias previstas na legislação social para assegurar o controle social e com a parceria com as demais Secretarias Municipais. 2.1.1 Centro Integrado de Convivência Neli Aparecida Tâmara Luiz – História e Formação15 15 Os dados aqui apresentados são frutos das observações feitas em diário de campo, como também dos planos de estágio e relatórios finais elaborados durante os períodos de estágios II, III e IV em Serviço Social e de documentos pertinentes à instituição. Os planos de estágio e os diários de campos foram construídos através 40 No panorama de atuação da Secretaria Municipal de Bem Estar Social, na proteção básica, estão inseridos os Centros Integrados de Convivência – CIC’s. Estes são projetos sociais de atendimento a crianças e adolescentes oferecidos pela Assistência Social para aquelas famílias que se encontram em situação de “vulnerabilidade social”. A categoria vulnerabilidade, presente na Política Nacional de Assistência Social, define, junto com a categoria risco, a população usuária dos serviços da Assistência Social. Para Mota (2006) esta é indicadora dos níveis de exclusão o que, ainda para a autora, representa uma fragilidade na delimitação desses usuários e também dos serviços prestados. Isso porque atribui um caráter focalizado as ações em detrimento da universalização, à uma necessidade que é social e coletiva. Quando se coloca em debate a família em situação de vulnerabilidade como foco de atuação há o risco de, contraditoriamente, desconsiderar a realidade na qual esta se insere, especialmente quanto as determinações de classe. Com isso é preciso considerar criticamente as noções de vulnerabilidade e risco contidas na própria Política Nacional de Assistência em face das expressões da questão social que emergem das condições econômicas a que estão submetidas os sujeitos, caso contrário, se cai na abstração, na individualização de determinações sociais. Isso porque, de acordo com os parâmetros de atuação de assistentes sociais na política de assistência social, todas as situações sociais vividas pelos sujeitos que demandam a política de Assistência Social têm a mesma estrutural e histórica raiz na desigualdade de classe e suas determinações, que se expressam pela ausência e precariedade de um conjunto de direitos como emprego, saúde, educação, moradia, transporte, distribuição de renda, entre outras formas de expressão da questão social.( PARÂMETROS DE ATUAÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, p. 7) O primeiro Centro Integrado de Convivência foi construído no bairro de Nova Cidade na comunidade antigamente conhecida como Coruja. Posteriormente foram construídas mais duas unidades, uma no bairro Liberdade e outra no bairro Recanto, respectivamente. Os Centros Integrados surgiram a partir do Projeto Curumim que era fruto de uma parceria com o Fundo da Criança e do Adolescente - FIA. O Curumim tinha como prioridade o trabalho em prol do aproveitamento escolar. Com o fim da parceria com a FIA, criaram-se os CIC’s. do plano de trabalho do Serviço Social na instituição, de observações empíricas e informações da equipe. Também foi utilizada a Proposta Pedagógica do Projeto Curumim. 41 O projeto social é desenvolvido pela Secretaria Municipal de Bem-Estar Social, da Prefeitura Municipal de Rio das Ostras, e atua na perspectiva preventivo-assistencial e educativa, cuja direção social pretendemos abordar no terceiro capítulo. É um serviço de proteção social básica e está vinculado ao Centro de Referência da Assistência Social - CRAS. A política setorial a qual estão ligados os serviços que o projeto oferece é a Política Nacional da Assistência Social - PNAS, cujas diretrizes fornecem a base teórico-metodológica e técnico-operativa para legitimar a prestação desse serviço à comunidade. Por ser um equipamento da rede de proteção básica voltado à crianças e adolescentes, o desenvolvimento de suas ações também se vincula à perspectiva normatiza e aos princípios e diretrizes do ECA. O artigo quarto do ECA diz que Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, á dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (Lei 8069/90, de 13/07/1990) Ainda no artigo 4º, parágrafo único tem-se que: “a garantia de prioridade compreende: c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;”. O ECA garante que crianças e adolescentes sejam vistos e tratados como sujeitos de direitos e, é assumindo essa perspectiva que a Constituição Federal de 88 e o ECA (8069/90) também dão suporte técnico, não só para reafirmar a existência, como também para direcionar a dinâmica da instituição. A princípio o projeto seguia os mesmos moldes do Curumim16 que, apesar de objetivar o desenvolvimento social e pessoal das crianças e adolescente, estava focalizado na complementação das atividades da escola e tinha como principal metodologia de atuação o reforço escolar. Com a percepção de que as crianças e adolescentes ficavam desmotivadas pelo cansaço com a dupla jornada escolar e desistiam de frequentar o projeto, reformulou-se a proposta. A partir de 2006 o projeto passa a desenvolver suas atividades através de oficinas educativas, incluindo atividades físicas e recreativas, visando uma ação socioeducativa que 16 Programa implementado no município de Rio das Ostras em parceria com a Fundação para Infância e Adolescência – FIA, destinado à crianças e adolescente de famílias carentes do município, que visava apoialos em seu processo de desenvolvimento,com a socialização, apoio escolar, alimentação e fortalecimento dos vínculos familiares. 42 envolva toda a família viabilizando e democratizando informações que contribuam para a melhoria das condições de vida. De acordo com o Plano Municipal de Assistência Social 2010-2013, os Centros Integrados tem por objetivos específicos: “desenvolver trabalhos de integração entre pais e instituição, pais e professores, pais e filhos, pais e comunidade; Informar, refletir e debater questões pertinentes a adolescentes enfocando os aspectos sociais de saúde, de educação, de valores, etc.; despertar e aprimorar competência e habilidades nas crianças e adolescentes, preparandoos para a vida em sociedade; promover atividades sócioeducativas que propiciem a articulação do espírito crítico dos adolescentes e suas ações em sociedade; estimular a criatividade, a mobilização, a organização e o senso crítico das crianças, adolescentes e seus famílias; efetivar os direitos das crianças e dos adolescentes garantidos no Estatuto da Criança e do Adolescente; combater preconceitos evidenciando o valor de ser humano; cultivar o respeito, a tolerância e a paz e discutir com as famílias dos alunos sobre os principais problemas sociais e familiares que enfrentam”. O Centro Integrado de Convivência Professora Neli Aparecida Tâmara Luiz - CIC III, objeto deste estudo, foi criado em outubro de 2003 e está localizado na Rua Jornalista Jaime Barreiros, S/N° no Bairro Recanto. Nesta instituição desenvolve-se um projeto vinculado a dois campos das políticas sociais: assistência e educação, atendendo prioritariamente crianças e adolescentes de seis a treze anos de idade e suas famílias, que se encontram em situação de vulnerabilidade social e/ou emocional, provenientes de fatores socioeconômicos e culturais, ou que suas condições históricas sejam de desigualdade e de violação de direitos. Em seu quadro de funcionários, o CIC III conta com uma equipe multidisciplinar com profissionais da educação, administração, serviço social, psicologia e serviços gerais. Neste quadro identificamos profissionais concursados pela prefeitura e voluntários. Mesmo estando diretamente vinculado a SEMBES, o projeto tem os professores e a direção cedidos pela Secretaria Municipal de Educação - SEMED. O trabalho voluntariado é realizado por pessoas, em sua maioria professores do terceiro turno, da própria comunidade que possui uma formação e querem disseminar esse conhecimento. Geralmente isso acontece através das oficinas de arte, lutas e/ou trabalhos manuais. No que se refere a incorporação do trabalho voluntário, podemos considerar que o mesmo é parte do processo de desresponsabilização estatal com as políticas sociais. Revela as intenções atuais que vem 43 redefinindo a política de Assistência Social num contexto de avanço dos domínios do capital e adequação, desta política, aos seus interesses. Mota (2006) coloca que “esta tendência reforça a proposta de um estado-gerente que depende dos seus parceiros para executar os programas e projetos sociais” (MOTA, 2006, p.166). Na mesma direção, o trabalho voluntário contribui para minimizar a ausência de investimentos públicos para ampliação do quadro funcional de servidores públicos. Os usuários, em sua maioria, são sujeitos que sofreram ou sofrem algum tipo de privação, são famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade socioeconômica, afetiva, cultural e que buscam no projeto uma ocupação aos seus dependentes enquanto tentam melhorar determinada situação de exposição aos riscos e danos pessoais, materiais ou que tentam se inserir no mercado de trabalho. Uma característica muito eminente no município é a migração, onde famílias vindas de diferentes regiões do país buscam melhores condições de emprego e vida na cidade, que possui um mercado empregatício em expansão por conta das empresas ligadas a extração do petróleo , o que faz com que muitos responsáveis não tenham um parente próximo que os auxilie na locomoção de seus dependentes para a escola ou que possam assumir a responsabilidade de ficar com estes enquanto trabalham. Então, o projeto atende, essencialmente, a necessidade que os responsáveis têm de manter seus filhos ocupados quando estes não estiverem na escola ou em outra atividade. O horário de funcionamento do projeto é de 8h às 22h, e está organizado em três turnos (matutino, vespertino e noturno). O terceiro turno foi introduzido ao horário de funcionamento do CIC no ano de 2009, esta é uma ampliação do trabalho realizado que visa o atendimento da comunidade local com atividades diversas que vão desde capoeira, jiu-jítsu, aikidô, escolinha de futebol, vôlei, alongamento, entre outras, possibilitando a aproximação entre o projeto e a comunidade local. No de 2012, as crianças e adolescentes inseridas no projeto participaram das oficinas de linguagem, raciocínio lógico, artes, desenho, teatro, integração social, recreação e música. Os critérios de elegibilidade para inclusão no projeto não são muito restritivos. É necessário que a criança ou adolescente tenha entre 6 e 12 anos, que esteja regularmente matriculada na rede de ensino, que os pais estejam trabalhando, ou que manifestem a vontade de se inserir no mercado de trabalho, e que não tenham com quem deixar os filhos no período laborativo ou como pagar por este serviço, além disso, dá-se sempre prioridade aos irmãos e 44 casos encaminhados pelo Conselho Tutelar e outros equipamentos como CRAS, SEMBES, entre outros. Cabe ressaltar que, diferentemente de outros projetos oferecido na SEMBES, nem sempre as questões econômicas são determinantes para a inclusão e sim a vulnerabilidade social que se encontra a família e/ou a oferta de vagas. Quando o Projeto ainda era nos moldes do Curumim, a questão econômica era um critério de elegibilidade. Só poderiam ter acesso ao projeto aquelas crianças e adolescentes que fossem considerados de famílias de baixa renda. Com a reformulação do projeto, esse critério deixou de existir. Assim, enquanto estiverem disponíveis as vagas, são inseridas crianças e adolescentes, independente da renda familiar. Aqui são considerados a oferta de vaga e o interesse dos usuários em participar. Há casos que são indicados pelo Conselho Tutelar, pelos CRAS em que a família encontra-se em vulnerabilidade, necessitando de apoio da rede socioassistencial, geralmente, como citado, para inserir-se no mercado de trabalho e precisando de um lugar para deixar seus filhos, tendo, estes, prioridade para inserção no projeto. Como atividade proposta pelo estágio supervisionado em Serviço Social, foi feito, através do uso de dados das entrevistas e registros realizados durante o processo de inserção dos usuários no projeto, feitos pelo Serviço Social, o levantamento do perfil da população usuária do projeto CIC III no período de julho de 2010 a julho de 2011 e pode-se observar e dizer que, a população usuária em sua maioria reside no bairro Recanto e em outras localidades próximas, geralmente em casa alugada, estando no município de Rio das Ostras, em média há 6 anos. Quanto a religião a maioria declara-se evangélica, tendo grande número de católicos também. Apresentam, geralmente, baixa escolaridade trabalhando no mercado informal, os homens como pedreiros e as mulheres prestando serviços, tais como, manicure, diarista, doméstica, ou seja, sem estabilidade e garantia de direitos; muitas mulheres declaram-se como “do lar” e estão tentando inserção no mercado de trabalho. Das famílias, poucos recebem algum tipo de benefício do governo, embora alguns só sobrevivam através destes. Quanto as demandas postas, em sua maioria são para inclusão no projeto, porém, sempre são identificadas outras, como esclarecimentos e inclusão em programasprincipalmente o Bolsa Família-, Balcão de empregos, Começar de Novo, encaminhamentos para a Casa da Mulher e ao Centro de Reabilitação para avaliação psicológica. Assim, é possível observar que as famílias atendidas por este projeto social, 45 representam os segmentos empobrecidos da classe trabalhadora, apresentando inúmeras necessidades sociais que são determinadas pela desigualdade, como moradia, emprego, qualificação para o trabalho, complementação de renda, violência doméstica etc. De acordo com Projeto de Intervenção do Serviço Social na instituição, os Centros Integrados de Convivência constituem serviço de proteção social essencial para superação das situações que geram vulnerabilidade social e objetivam promover a socialização, o exercício da cidadania, o apoio a escolarização, o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários bem como contribuir para a organização autônoma e democrática da população seja através dos movimentos sociais ou de outras modalidades de participação cidadã que fortaleçam os princípios constitucionais de descentralização, democratização e participação popular na implementação e gestão das políticas sociais públicas visando a qualidade dos serviços prestados e a efetivação dos direitos de cidadania. Objetivos sobre os quais pretendemos nos debruçar a partir de nosso debate sobre a importância da avaliação. 46 3 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS SOCIAIS Neste capítulo pretendemos realizar um debate teórico sobre o significado do planejamento, monitoramento e avaliação das políticas sociais, problematizando sua pertinência em face das atividades desenvolvidas pelo CIC III, como um programa da proteção básica. Pautaremos esse debate em alguns autores que tratam do tema e nas normas legais e operacionais que regulam a Política Nacional de Assistência Social. Numa perspectiva complementar, o debate teórico será confrontado com os resultados de entrevista realizada com uma assistente social que atua na rede assistencial do município de Rio das Ostras. Desse modo, a partir do resgate histórico sobre as Políticas Sociais, a Política de Assistência Social e a forma de organização dessa última em Rio das Ostras, nesse terceiro capítulo objetivamos dar uma contribuição sobre a importância do planejamento, monitoramento e avaliação no âmbito das políticas sociais e na particularidade de um equipamento que integra a rede de proteção básica do município de Rio das Ostras, indicando desafios para a defesa da Assistência Social como direito universal de cidadania. 3.1 Avaliação e Centro Integrado de Convivência Segundo Boschetti (2009), na década de 1960 surgem, nos Estados Unidos, métodos e técnicas de avaliação para as ações públicas. Estas tinham por objetivo aferi-las e produzir “receitas” para uma atuação eficaz do governo. Já no Brasil, segundo a autora, o surgimento destes modelos e métodos de avaliação foi em torno da década de 1970, tendo maior expansão nas décadas de 80 e 90, se colocando a serviço das contrarreformas do Estado. Com isto, tinham o intuito de justificar a redução e transformações nas ações estatais. A década de 80 no Brasil, período que marca a expansão da produção teórica sobre avaliação, como vimos é marcada por um cenário bem contraditório para a política social. Ao 47 mesmo tempo em que se tem uma ampliação dos direitos sociais a partir da promulgação da Constituição de 88, convive-se com os resquícios de um Estado repressor representado pelos longos anos da ditadura civil-militar e a chegada dos ventos neoliberais que introduzem em nossa realidade as tempestades sobre o campo dos direitos de cidadania através da contrarreforma do Estado, que vem se aprofundando pela ação dos governos federais das três últimas décadas. Assim, nesse contexto, como afirma Boschetti (2009), a perspectiva de avaliação que passa a ser tomada como referência pelos gestores é aquela que acentua o caráter fiscalizador de um Estado que se pretende mínimo para o campo das políticas sociais. No resgate histórico que realizamos em nosso primeiro capítulo, procuramos enfatizar que os fundamentos da política social resultam de um processo contraditório e complexo de embate entre as classes sociais e o Estado, portanto, impregnado pelos interesses e lutas das classes antagônicas em relação. Desse modo, a perspectiva de avaliação que burocratiza e atende a lógica da gestão empresarial, contribui para legitimar interesses estranhos ao campo dos direitos sociais, as medidas de contrarreforma do Estado e investimentos que favorecem a reprodução do capital. Pensar a avaliação como uma prática meramente burocrática, dissociada da criticidade, leva, segundo a autora, a uma profusão de produções teóricas sobre avaliação, mais preocupadas com a medição e desempenho de uma suposta intervenção técnica e neutra do Estado, do que interessadas em revelar suas funções e papel na produção e reprodução das desigualdades sociais. (BOSCHETTI, 2009, p.03) Essa concepção restrita e tradicional da avaliação cria uma preocupação, demasiada, com a eficiência, eficácia dos programas fazendo com que os processos avaliativos sejam, para Mioto e Nogueira, encarados, no mais das vezes, como “procedimentos burocráticos, custosos, ameaçadores, de caráter administrativo e financeiro (prestação de contas).” (MIOTO, NOGUEIRA, 2007, p. 296). Carvalho (2007) chama atenção sobre a imagem que se faz da avaliação no campo social, tradicionalmente associada à auditoria ou ao controle externo e tendencialmente voltada a prestar contas dos resultados às chefias do que à comunidade e aos usuários. No entanto, a autora também coloca que os estudos vêm apontando para a necessidade de se ampliar essa visão endógena sobre a avaliação, isto pautado na ineficácia das avaliações tradicionais em oferecer informações substantivas e, também na participação da sociedade 48 que, atualmente, reivindica maior transparência nas ações públicas. Segundo ela, os governos tem sido pressionados pela comunidade nacional e internacional, pela sociedade civil organizada e usuários dos serviços sociais em particular a apresentar maior efetividade do gasto público e maior eficácia dos serviços/programas ofertados. Sociedade e cidadãos de modo geral estão reivindicando uma relação de transparência e de participação nas decisões em torno de alternativas políticas e programáticas. (CARVALHO, 2007, p.88) E na tentativa de dar respostas mais qualificadas e legitimadas, frente às novas demandas que são colocadas no quadro das transformações societárias típicas do capitalismo, a avaliação torna-se, para os profissionais que atuam nas políticas sociais, um instrumento de construção de novas possibilidades de pensar e agir. Com isso, vem ganhando cada vez mais espaço na literatura e normatizações a discussão e implementação das avaliações no campo social. Tal perspectiva também pode ser considerada em face dos avanços contidos na concepção de cidadania conquistada, ainda que de forma contraditória e restrita, com a Constituição de 1988. A PNAS destina, como parte de sua Gestão, um item para discutir o significado que tem a informação, o monitoramento e a avaliação para essa Política Pública. Logo no primeiro parágrafo cita que A formulação e a implantação de um sistema de monitoramento e avaliação e um sistema de informação em assistência social são providências urgentes e ferramentas essenciais a serem desencadeadas para a consolidação da Política Nacional de Assistência Social e para a implementação do Sistema Único de Assistência Social SUAS. Trata-se, pois, de construção prioritária e fundamental que deve ser coletiva e envolver esforços dos três entes da federação. (PNAS, 2004, p. 49) A Lei 8742/1998, que trata da organização da assistência, através do art.12, também afirma a obrigação de se ter uma política de avaliação para as ações públicas, dizendo que, constituem responsabilidades comuns à União, Estados, Distrito Federal e Municípios: XXVII – implantar sistema de informação, acompanhamento, monitoramento e avaliação para promover o aprimoramento, qualificação e integração contínuos dos serviços da rede socioassistencial, conforme Pacto de Aprimoramento do SUAS e Plano de Assistência Social; (Lei 8742/1998, de 08/12/1998). A presença na Lei de uma perspectiva de monitoramento e avaliação da Política de Assistência Social indica os esforços de assegurar o estatuto de política pública vinculada ao campo dos direitos, revelando uma tentativa de ruptura com os traços conservadores e 49 clientelistas que marcam a trajetória da Assistência Social brasileira, como procuramos indicar no primeiro capítulo. No entanto, tal perspectiva, como outros princípios e diretrizes previstos na legislação, enfrenta constrangimentos para sua realização em face da contrarreforma neoliberal em curso em nosso país desde a década de 90, tendência também problematizada anteriormente. A necessidade de se ter um sistema de avaliação vem sendo apontada desde 1995 com a I Conferência Nacional de Assistência Social. Mas, somente em 2003, com a IV Conferência Nacional de Assistência define-se pela “elaboração e implementação de planos de monitoramento e avaliação”, que teriam por objetivos: “a mensuração da eficiência e da eficácia das ações previstas nos Planos de Assistência Social; a transparência; o acompanhamento; a avaliação do sistema e a realização de estudos, pesquisas e diagnósticos a fim de contribuir para a formulação da política pelas três esferas de governo”. (POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, 2004, p.49). Como se pode ver, o campo da Assistência Social levou de 1995 a 2003, oito anos, para ressaltar em documentos oficiais a necessidade de se implementar um sistema de monitoramento e avaliação desta política. Isso demonstra um descompasso grande de tempo para que o tema fosse considerado e garantido nos debates e análise dos profissionais e segmentos sociais envolvidos com esta política social. A nosso ver, esse lapso temporal contribui para a pouca produção teórica sobre o assunto, sendo as existentes destinadas a discutir, em sua maioria, os métodos e técnicas de avaliação, sem uma reflexão crítica sobre a temática. Isto aconteceu porque, como vimos no primeiro capítulo, as políticas sociais são tensionadas pela luta de classes. Assim, as conferências, como instâncias que possuem a missão de avaliar e propor diretrizes para a formulação de políticas sociais se constituem em um campo de disputa de projetos de sociedade, onde, de um lado se tem os que buscam naquelas uma forma de ampliação da cidadania e, de outro, aqueles que as mantêm como forma de contenção dos conflitos de interesses do capital e do trabalho. Esse contexto de embate que permeia a formulação das políticas sociais torna-se um condicionante para os avanços no sistema de garantia de direitos, uma vez que, o Estado como instância de poder que regula a gestão das políticas sociais, atende de forma hegemônica aos interesses do capital. Contudo, diante do caráter contraditório desse campo de disputas, podemos considerar que a perspectiva de planejar, monitorar e avaliar, inexistentes até a promulgação da PNAS, 50 expressa avanços e conquistas para o campo da assistência social, com vistas a responder uma necessidade que já era posta à assistência, como visto, desde 1995. Contribui para assegurar no âmbito da Assistência Social padrões e procedimentos mais universais que precisam ser sistematicamente avaliados em face de seus princípios e diretrizes, tomando o campo dos direitos sua finalidade última. E, com isso, a Política Nacional de Assistência Social coloca que, através da implementação das políticas de avaliação, monitoramento e informação, pretende-se promover “novos patamares de desenvolvimento da política de assistência social no Brasil, das ações realizadas e da utilização de recursos, favorecendo a participação, o controle social e uma gestão otimizada da política”. (POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, 2004, p.49). A perspectiva de um sistema de monitoramento e avaliação no âmbito da Política de Assistência Social, quando concebida na direção de qualificar os serviços prestados e assegurar o controle social por parte dos trabalhadores organizados, se aproxima da direção social estratégica do projeto hegemônico do Serviço Social brasileiro. A Lei 8.662/1993 que regulamenta a profissão de Serviço Social, considera como parte da competência profissional “elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil;” (Lei 8.662/1993). Tal previsão legal, fruto de um processo de amadurecimento teórico e ético-político da categoria profissional e, também, de embates acerca da regulação legal do exercício e do perfil profissional junto ao Estado, indica como parte da competência profissional uma perspectiva crítica de atuação que inclui a avaliação e a participação da população neste processo. Nessa mesma direção, Mioto e Nogueira, consideram que “sem um processo contínuo de pensar racionalmente as ações corre-se o risco de se submeter a práticas burocratizadas, escoradas em um pretenso valor eficiente, imobilizada em atividades rotineiras e repetitivas” (MIOTO, NOGUEIRA, 2007, p.287). O risco de burocratização, apontado acima pelas autoras, foi identificado em nossa pesquisa na particularidade da realidade institucional do CIC III. Nossa entrevistada, ao ser indagada sobre a importância dos registros profissionais para a avaliação, constata que os dados levantados junto aos usuários no primeiro atendimento social e em outros momentos de acompanhamento, tornam-se registros exclusivos do Serviço Social, portanto, não são tomados como referência para o trabalho em equipe e para avaliação das atividades realizadas. 51 No âmbito da avaliação, o planejamento é uma ação de fundamental importância para o trabalho profissional, pois dá direcionamento à ação a ser realizada. Nele, estão bem definidas a compreensão da realidade, as estratégias, o tempo das ações desenvolvidas. Segundo Mioto e Nogueira, “planejar a ação profissional garante formalizar a articulação intrínseca entre as dimensões do fazer profissional, ou seja, as dimensões ético-política, teórico-metodológica e técnico-operativa.” (MIOTO, NOGUEIRA, 2007, p. 287). A importância do planejamento, monitoramento e avaliação para o projeto éticopolítico profissional pode ser avaliada em termos das exigências institucionais que se colocam para o trabalho profissional, na maioria das vezes tensionadas pelo campo contraditório das políticas sociais em face das necessidades e interesses de classe. O compromisso com os interesses e necessidades da classe trabalhadora, afirmado pelo projeto profissional do serviço social brasileiro, supõe uma atuação crítica, competente e comprometida, submetida ao controle social sobre o caráter público desse trabalho e às exigências éticas e políticas de afirmação dos direitos de cidadania. Nesse sentido, romper com a tendência conservadora das requisições institucionais que se apresentam aos assistentes sociais, na perspectiva de controle e amoldamento dos trabalhadores, implica num esforço permanente de planejamento e avaliação das respostas formuladas às expressões da questão social a partir de uma determinada perspectiva de classe. Nossa pesquisa indica que os CIC’s surgiram no município sem um planejamento prévio que pudesse dimensionar e delimitar suas ações, que apenas ganharam espaço para dar continuidade às atividades que vinham sendo desenvolvidas, após o fim da parceria com a FIA. A entrevista que realizamos reafirmou essa ausência de um projeto que fosse próprio do Centro Integrado, que apresentasse e delimitasse seus objetivos e ações, seguindo o padrão do projeto Curumim. existia ou existe (...) um documento, que tinha algumas informações sobre o Projeto Curumim, que constava os objetivos e diretrizes do trabalho. Vale lembrar que o Projeto quando foi implantado chamava-se Curumim e como era um convênio ou parceria com a FIA funcionava nos moldes do projeto que já era desenvolvido por esta Fundação em diferentes municípios [...]. (A.S.)17 Assim sendo, a instituição funciona, mais precisamente o CIC III que pude acompanhar com maior proximidade durante o período de estágio, sem um Projeto Político 17 A sigla A.S. foi utilizada para identificar a fala de nossa entrevistada. 52 Institucional18. Um PPI é um documento de planejamento que define a identidade da instituição e indica os caminhos para efetivação de suas ações. Ali devem estar sistematizados seus objetivos e ações, bem como as estratégias utilizadas, o tempo e avaliação das atividades desenvolvidas. Até o final do ano de 2012 não existia nenhum documento oficial que justificasse e formalizasse a atuação dos Centros Integrados no município. O que ainda existia eram os documentos referentes ao projeto Curumim. O Serviço Social vinha, através da construção de seu projeto de trabalho na instituição, traçando algumas diretrizes e sistematizando as atividades em seu âmbito de atuação, que acabaram por serem tomadas como os objetivos e parâmetros de ação de toda a instituição. Isto não deixava claro quais eram os objetivos institucionais que justificassem e direcionassem a atuação dos demais profissionais dentro da instituição. Mas, no final do ano de 2012, as assistentes sociais que atuam nos Centros Integrados I e III se reuniram e formalizaram um documento que descreve a proposta de atuação dos mesmos. Essa construção, apesar de muito importante, ficou restrita, mais uma vez, ao Serviço Social, ao invés de ser uma construção coletiva envolvendo toda equipe que atua nesse equipamento social. Outra demonstração da falta de planejamento deste equipamento que integra a rede de proteção social da Política de Assistência Social do município, pode ser constatada pelas atuais instalações e pelo quadro de pessoal. Mesmo funcionando em prédio próprio, construído para este fim, as instalações não contemplam as reais necessidades das atividades previstas neste serviço. Sendo um equipamento social, cujos serviços prestados têm uma perspectiva preventiva, tanto educativa quanto assistencial, envolve o trabalho de várias especialidades profissionais, como o Serviço Social, a Psicologia e a Pedagogia. O trato com as expressões da questão social dão ao Serviço Social um lugar de destaque nesse equipamento, que, no entanto, o projeto arquitetônico contempla uma sala para este profissional, fazendo com que todos os atendimentos sejam realizados na sala dos professores ou da direção. Isso se estende também ao atendimento da psicologia e da pedagogia. A falta de organização do espaço físico institucional se constitui em um entrave para o exercício profissional. Cabe pontuar também que as salas de atividades não foram pensadas e adaptadas para 18 Estamos considerando que uma instituição pública, ou um equipamento social público, requer a construção de um Projeto Político Institucional, inclusive como exigência para o controle social de suas atividades. 53 a realização de oficinas, seguindo, assim, o mesmo padrão das salas de aula convencionais, como numa instituição de ensino, criando limites para o desenvolvimento das atividades previstas. Quanto ao quadro de pessoal, como situamos no segundo capítulo deste trabalho, existe uma parceria entre a SEMBES e a SEMED para a disponibilidade de professores. E essa parceria permaneceu mesmo com a modificação da proposta inicial que visava romper com a concepção de uma extensão das atividades escolares. Desse modo, podemos constatar que ao não dispor de quadro funcional próprio e qualificado para as atividades previstas, esse equipamento fica na dependência de receber, ou não, um professor, que está condicionada a disponibilidade da SEMED que prioriza o atendimento a sua rede de ensino. A ausência de planejamento nesse caso revela que os serviços prestados ficam limitados em face da indisponibilidade de um quadro funcional próprio, visando a execução qualificada das ações previstas. Após a reformulação da proposta inicial, projetava-se que as atividades desenvolvidas no projeto estivessem organizadas em oficinas lúdicas. A nosso ver, tal proposta supõe um perfil diferenciado daquele profissional que está na educação em uma sala de aula convencional, afinal, são objetivos diferenciados que exigem propostas de trabalho e qualificações também diferenciadas. O relato de nossa entrevistada oferece elementos de um processo de reformulação que a nosso ver ocorre de forma contraditória, rompe-se com a ideia inicial de reforço escolar, sem, no entanto, alterar o perfil profissional e a referência teórica que orienta as atividades. Em 2005 realizamos uma reformulação no Projeto, iniciativa esta que partiu da própria equipe dos CICs, por entendermos que o trabalho não estava funcionando bem devido o grande número de evasão e o “boicote” das crianças, que não levavam o material escolar para o Projeto. Entendemos também que o trabalho poderia ser desenvolvido de outra forma, que viesse a contribuir para o desenvolvimento escolar daquelas crianças, mas que não fosse nos moldes do “reforço escolar”. A metodologia de trabalho foi modificada, mas nada foi registrado oficialmente. O que se tinha escrito apenas era a metodologia (pedagógica) do trabalho ou seja, as oficinas são desenvolvidas com base na Teoria das Inteligências Múltiplas e nos (...) pilares da educação: aprendendo a ser, a conviver, a conhecer... ( A.S.) A ausência de uma proposta de avaliação sistemática sobre o trabalho, indica que a reformulação citada, mesmo partindo da constatação de insatisfação - pela evasão e boicote das crianças e adolescentes - é realizada sem um conhecimento efetivo sobre o significado da não adesão dos usuários à proposta. 54 Além do equipamento não dispor de um quadro funcional próprio, como já citado, também não é oferecido nenhum programa de qualificação destes professores que são cedidos para atuar nos CIC’s. Desse modo, o conteúdo, as concepções e metodologias para realização das atividades previstas, estão assentadas na experiência e acúmulo profissional individual dos educadores que participam da proposta. Além disso, tradicionalmente se vincula à direção desse equipamento a figura do educador, já que, “Os Centros Integrados sempre foram dirigidos por pedagogos e profissionais da área da educação.” (A.S.) Assim, podemos considerar que a ausência de planejamento, monitoramento e avaliação, pode contribuir para a reiteração de práticas descontínuas, desvinculadas das concepções, princípios e diretrizes que normatizam o campo dos direitos socioassistenciais. As oficinas oferecidas pelo projeto no ano de 2012, como colocadas no segundo capítulo deste trabalho, foram de “linguagem, raciocínio lógico, artes, desenho, teatro, integração social, recreação e música capoeira, jiu-jítsu, aikidô, futebol, vôlei, alongamento”. Quando questionada sobre as atividades desenvolvidas no CIC e, ao seu ver atingiam aos objetivos da instituição, a assistente social entrevistada coloca que Acredito que sim. Temos cerca de 150 crianças e adolescentes inscritos, e frequentam regularmente o Projeto evitando assim que fiquem nas ruas, se expondo a alguma situação de risco. As oficinas visam contribuir para o desenvolvimento escolar das crianças, mas não sei se de fato isto ocorre. Faltam dados para comprovar se esses objetivos estão sendo alcançados ou não. ( A.S.) No entanto, mais uma vez, o critério de elegibilidade dessas atividades, mostra-se desarticulado das concepções e princípios do campo dos direitos socioassistenciais, pautandose nas habilidades e disponibilidades individuais dos profissionais. Elementos que nos levam a indagar até que ponto tais atividades atendem as necessidades dos usuários do projeto? Até que ponto promovem novos patamares de envolvimento da família e melhoria nas condições de vida desses usuários? Considerando que os usuários do CIC, “em sua maioria, são sujeitos que sofreram ou sofrem algum tipo de privação, são famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade socioeconômica”, e que os serviços prestados nesse equipamento social objetivam contribuir para a melhoria das condições de vida dos usuários, as estratégias, aqui entendidas como as atividades desenvolvidas, devem estar em consonância com este objetivo, caso contrário podem assumir conteúdos meramente recreativos, de ocupação do tempo livre, sem assegurar a perspectiva preventiva e sócio-assistencial que justifica sua existência. Neste contexto, identificamos que temos um equipamento da rede socioassistencial, 55 que funciona há mais de nove anos no município, com uma proposta de trabalho recentemente construída pelo Serviço Social, que não possui seu quadro próprio de funcionários, portanto, muitos sem ou com pouca qualificação profissional para a função que desenvolve e, consequentemente, realizando atividades que não necessariamente atendem as exigências da perspectiva sócio-assistencial e educativa que supostamente dá legitimidade para sua existência no âmbito da política municipal de assistência. Ao tomarmos como referência a importância do planejamento, monitoramento e avaliação no âmbito das políticas sociais, e sua requisição normativa na particularidade da Política Nacional de Assistência Social, podemos inferir que sua ausência não contribui para a qualidade dos serviços prestados tampouco para o controle social na perspectiva da participação democrática de seus usuários. E essa ausência pode ser constatada nos Centros Integrados de Convivência em que ainda não possui uma prática de monitoramento e avaliação. Quando questionada, durante a entrevista, sobre como quantas tentativas de construção de uma metodologia de avaliação do serviço prestado pelo CIC foram realizadas, desde a criação, a assistente social deixa claro que, Apenas uma, no ano de 2011, onde realizamos algumas reuniões com o objetivo de construir essa metodologia, mas nada de concreto foi construído. O CIC II possuía alguns instrumentos de avaliação, mas não sei se de fato os dados eram coletados, sistematizados e analisados. A iniciativa partiu da equipe. Não da equipe que atua diretamente nos Cics, mas da que coordena os Projetos da Secretaria. (A.S.) Se a avaliação não faz parte da prática e nem das discussões da equipe, dificilmente os profissionais que atuam no CIC tem contato com as normativas e debate teórico de sua importância para as políticas sociais, em especial para a instituição e atividades que realizam. Elemento que comparece no relato de nossa entrevistada, O Serviço Social, tem conhecimento. O restante da equipe não, pois são profissionais da área da educação (professores) que embora já tenham realizado capacitações na área da assistência, não tem muito conhecimento sobre a legislação específica dessa área. Acredito que eles não tem a dimensão da importância de um sistema de avaliação, na verdade, acham que é apenas o preenchimento de papéis a mais que só servirão para aumentar o seu volume de trabalho. Falta muita capacitação para esses profissionais.(A.S.) Isto também contradiz a ideia da participação, da construção coletiva, que integra as concepções, princípios e diretrizes da legislação social para garantia da democratização das 56 ações. Além disso, podemos analisar que tal quadro se articula com a tendência mais geral de precarização das políticas sociais, provocadas pela contrarreforma do Estado, abordada em nosso primeiro capítulo, que está longe de proporcionar mudanças significativas nas condições de vida da população que depende dos serviços prestados. Cabe ressaltar que todos os serviços executados pelos Municípios e Estados dentro da Política Nacional de Assistência Social, seja no âmbito da proteção básica ou especial, recebem recursos através de repasse do Governo Federal. Quanto maior a quantidade de programas, maior o montante de recursos destinado ao município. Mesmo considerando que este valor seja mínimo, compete lembrar que nem sempre quantidade significa qualidade, daí a importância do planejamento e avaliação, na perspectiva de dar transparência e controle democrático sobre os gastos públicos no âmbito das políticas sociais e, principalmente, avaliar sua capacidade substantiva de alterar as condições de vida dos usuários. Ou seja, o repasse que o município recebe é um recurso público e a medida em que as políticas sociais são formuladas com base em interesses alheios às necessidades dos usuários e ao campo dos direitos, contribuem para aprofundar as expressões da questão social e limitam a construção de uma consciência dos direitos, favorecendo o uso eleitoral e os processos de dominação. A ausência de planejamento, avaliação e controle social, também impedem a construção de uma base social de legitimidade em defesa dos serviços prestados, pois, uma vez desvinculados das concepções, princípios e diretrizes que normatizam o campo dos direitos, mudanças e descontinuidades ficam a mercê da disponibilidade de caixa ou da vontade política personalizada na figura do governante de plantão. O Centro Integrado de Convivência é um equipamento da assistência social, que, faz parte, ou deveria fazer, de uma rede de serviços de atendimento à criança e ao adolescente do município. Isso chama a atenção para o debate em torno da articulação das políticas públicas municipais. A Assistência Social deve ser entendida como mais uma política de proteção social e não a política de proteção (Mota, 2006). Isso quer dizer que os serviços e benefícios devem estar articulados ao conjunto das políticas sociais tendo por objetivo comum a garantia dos direitos dos cidadãos. O conceito de proteção social não se restringe à implementação de serviços socioassistenciais, uma ideia que precisa ser desmistificada, e que outras políticas sociais como de geração de emprego, educação, saúde, previdência, habitação devem estar articuladas constituindo um conjunto de políticas que dão corpo à proteção social. 57 Para além de se estabelecer parcerias, que são importantes, as políticas sociais, na perspectiva de construção de uma rede de proteção social, supõem ações articuladas. Sem articulação, o trabalho se torna mais difícil e as ações fragmentadas. Através do planejamento, essa necessidade de articulação aparecerá e, com o monitoramento e a avaliação será capaz de mensurar em que grau está se efetivando. Assim, a ausência de planejamento, pode revelar a perspectiva de fragmentação e focalismo que marca a prestação de serviços socioassistencias no CIC e na rede de proteção social do município, reproduzindo a tendência dominante das políticas sociais no capitalismo contemporâneo. No entanto, é preciso ter clareza que as concepções teóricas sobre a avaliação que são incorporadas no âmbito da gestão pública se vinculam a perspectivas muito diversas e muitas vezes na perspectiva do capital. Como assinalado no início deste capítulo, a avaliação pode estar vinculada a uma lógica mercadológica que apenas justifica o repasse de verba, se distanciando daquela concepção crítica que concebe a avaliação da qualidade do serviço prestado a população com o intuito de produzir respostas que atendam suas reais necessidades na perspectiva dos direitos. Dentro desta perspectiva democrática e contínua de avaliação, Boschetti coloca que, A avaliação de uma política social pressupõe inseri-la na totalidade e dinamicidade da realidade. Mais que conhecer e dominar tipos e métodos de avaliação ou diferenciar análise e avaliação, é fundamental reconhecer que as políticas sociais têm um papel imprescindível na consolidação do Estado democrático de direito e que, para exercer essa função, como seu objetivo primeiro, devem ser entendidas e avaliadas como um conjunto de programas, projetos e ações que devem universalizar direitos. (BOSCHETTI, 2009, p.04). Dentro desta perspectiva, o monitoramento e a avaliação são metodologias de trabalho que permitem a efetiva participação da população, atendendo ao princípio do controle social. O controle social segundo a PNAS (2004, p.45), “tem sua concepção advinda da Constituição Federal de 1988, enquanto instrumento de efetivação da participação popular no processo de gestão político -administrativa- financeira e técnico-operativa, com caráter democrático e descentralizado”. Isso significa dizer que fica garantido, pelo menos em termos legais, que a sociedade atuando através dos Conselhos e Conferências, controle a garantia de seus direitos fundamentais. Cabe, então, potencializar essa participação, adotando estratégias para romper com essa lógica que reduz as respostas no campo social a programas pontuais e paliativos. Avaliar numa perspectiva do controle social não é uma tarefa fácil na medida em que a 58 sociedade, por toda determinação histórica de subordinação ao qual fomos acometidos, não está habituada com os espaços de participação popular. Como vimos, a Assistência Social, traz as marcas de longos anos que forjaram sua trajetória como uma política do favor, da benesse, caridade, reproduzindo nos usuários uma relação também de subordinação, dependência o que minimiza o caráter proativo dos mesmos, que não se veem como sujeito de direitos. No entanto, Paiva nos alerta que, É certo que a questão da participação dos sujeitos de direitos tem a desempenhar um papel central na dissolução de traços de ambiguidade ou de coerção, presentes nos denominados programas de combate à exclusão social. Assim, diante da capacidade de desenvolvimento de práticas distintas, a possibilidade de dinamizar a população e as organizações da sociedade para uma efetiva distribuição e gestão dos bens e serviços sociais, no âmbito das políticas públicas, se apresenta como agenda prioritária para o processo de elaboração de medidas socioassistenciais contra a pobreza e a desigualdade sociocultural. (PAIVA, 2006, p.9) Por outro lado, a exaltação da participação pode ter um preço muito caro para as políticas sociais. Pode contribuir para a mistificação da participação popular, tanto pela cooptação e manipulação política quanto pela diluição da responsabilidade pública e estatal no enfrentamento das expressões da questão social. Neste contexto, o processo de planejamento, monitoramento e avaliação ganham significado preciso para o campo de lutas para efetivação dos direitos socioassistenciais e fortalecimento da cidadania. No âmbito da política municipal de assistência, constituem premissas urgentes de serem pensadas para a dinâmica institucional do Centro Integrado, pois é a partir do conhecimento crítico da realidade social, do planejamento e avaliação de ações articuladas às diretrizes e princípios previstos na PNAS que suas atividades podem ganhar qualidade na perspectiva dos direitos. Para Boschetti, “a avaliação de políticas sociais públicas deve ser orientada pela intencionalidade de apontar em que medida as políticas e programas sociais são capazes e estão conseguindo expandir, reduzir a desigualdade social e propiciar a equidade” (BOSCHETTI, 2007, p.05). Nossa entrevistada enfatiza em seu relato a importância da avaliação para o trabalho que é realizado no Centro Integrado, Eu avalio de fundamental importância, pois hoje não temos dados sistematizados que nos possibilitam saber qual o impacto que o nosso trabalho tem na vida dessas crianças, adolescentes e famílias. E a falta dessas informações, dificulta a avaliação 59 do nosso trabalho, a forma como atuamos, fica tudo na base do “eu acho” e não em dados empíricos. Algumas mães, falam de como o Projeto ajudou no desenvolvimento escolar ou social da criança, mas essa informação fica perdida, não é registrada. (A.S.) Com um processo contínuo de avaliação é possível diagnosticar e analisar todos os condicionantes que vem sendo colocados à essa dinâmica institucional e que se constituem em entraves para a efetivação do trabalho e, então, a busca de possíveis soluções. A NOB/SUAS, a LOAS e a PNAS preveem uma gestão da assistência cooperativa entre os três entes federativos, no entanto, descentralizada. Assim, fica a cargo dos gestores avaliar, permanentemente, os resultados e impactos que as ações vem provocando nas condições de vida da população, Art. 99. O monitoramento do SUAS constitui função inerente à gestão e ao controle social, e consiste no acompanhamento contínuo e sistemático do desenvolvimento dos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais em relação ao cumprimento de seus objetivos e metas.( NOB/SUAS, resolução nº 33, de 12/12/2012) Portanto, fica evidenciado pela legislação social e pelo debate teórico sobre a importância que o planejamento, monitoramento e avaliação possuem para a efetivação de uma política que atenda significativamente o princípio da universalidade dos direitos. Na particularidade da dinâmica institucional do CIC, a partir de nossa pesquisa e da experiência acumulada no estágio curricular em Serviço Social, parece-nos fundamental que a concepção desse equipamento, seus princípios, diretrizes e objetivos sejam redimensionados por uma proposta de planejamento e de avaliação que assegure a participação democrática dos usuários, dos profissionais e gestores. 60 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao resgatarmos o contexto sócio-histórico da origem e desenvolvimento das políticas sociais, tema central do primeiro capítulo deste trabalho, foi possível destacar alguns condicionantes históricos para a delimitação das atuais políticas sociais. Esse regaste oferece as bases históricas para compreensão do caráter compensatório que a Política de Assistência Social assume no contexto neoliberal. Nossas análises acerca de alguns aspectos do trabalho realizado no CIC, parece-nos confirmar esse caráter: a ausência de um planejamento, de uma política institucional clara em termos de concepção, diretrizes e objetivos em face do que está previsto para o campo dos direitos socioassistenciais, de avaliação e de participação democrática para o controle social, indicam uma direção ético-política que reitera o que está dado. Ou seja, uma direção social sem qualquer perspectiva de alteração das condições objetivas que marcam as trajetórias de vulnerabilidade e risco das crianças, adolescentes e familiares atendidos nesse equipamento social. Em nosso entendimento, essas ausências, dificultam uma base de legitimidade social assentada no campo dos direitos, o que confere uma fragilidade teórica e política ao trabalho realizado, deixando-o, a nosso ver, vulnerável às interferências personalistas e conjunturais dos gestores. Do ponto de vista do projeto ético-político profissional, nossas análises indicam uma série de desafios que merecem aprofundamentos futuros. Dentre eles, destacamos a relação entre o fortalecimento do campo dos direitos socioassistenciais e a qualidade dos serviços prestados pelo Assistente Social. Do mesmo modo, a perspectiva teórico-crítica do projeto hegemônico do serviço social brasileiro, indica que o trabalho profissional se realiza num campo contraditório marcado pelos antagonismos de classe e, exatamente por isso, o compromisso ético-político com a efetivação de direitos, supõe uma competência profissional 61 que ultrapasse o imediatismo das requisições institucionais. Por seu turno, assegurar tal exigência não é tarefa individual dos agentes profissionais, mas uma construção coletiva que envolve profissionais de outras áreas, participação democrática dos usuários e mudanças institucionais que muitas vezes ultrapassam a própria equipe. Exatamente por isso, o planejamento e a avaliação assumem importância central para qualificar os serviços prestados no âmbito rede socioassistencial do município. Assim, consideramos que a realidade particular do CIC, revela desafios tanto para o projeto profissional do Serviço Social como para o campo da Seguridade Social, ambos construções históricas que na sua processualidade dinâmica supõem a adesão consciente e crítica dos profissionais da área. Como destacamos em nosso trabalho, a Constituição de 1988 continua sendo um marco no avanço do sistema de garantia de direitos no país, introduz uma concepção de Seguridade Social inédita que se consubstancia, entre outros, na Política Nacional de Assistência Social. Vimos, que os direitos constitucionais e a própria concepção de Seguridade Social veem sendo ameaçados no contexto do capitalismo contemporâneo. Com isso, podemos afirmar que o planejamento e a avaliação assumem centralidade estratégica para fortalecer propostas de trabalho efetivamente articuladas com as conquistas inscritas tanto na Constituição quanto na PNAS. As particularidades do município de Rio das Ostras apresentadas em nosso trabalho, parece-nos também indicar elementos importantes para o aprofundamento da democracia e dos direitos de cidadania, referências para o campo assistencial, tendo em vista o crescimento desordenado, em decorrência da instalação da indústria do petróleo na região, e seus rebatimentos sobre as condições de vida da população local. As questões aqui apresentadas sobre a realidade do CIC III não esgotam todos os anseios dos profissionais e necessidades dos usuários. No entanto, entendemos que possa contribuir para suscitar um processo de reflexão sobre o trabalho realizado na instituição, uma vez que, o envolvimento com a dinâmica cotidiana muitas vezes impede uma análise crítica sobre a direção social e o alcance das ações realizadas. Por fim, considerando os limites de realização de um Trabalho de Conclusão de Curso e de nossa interlocução tanto com o debate teórico quanto com o relato generosamente concedido por nossa entrevistada, esperamos que nossas análises e indicações finais possam contribuir com o debate acerca da importância do planejamento e da avaliação na perspectiva de imprimir às políticas sociais consistência e transparência para assegurar o controle social. 62 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política social: fundamentos e história. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2008. ______________________. Brasil em contra-reforma: desestruturação do Estado e perda de direitos. São Paulo: Cortez, 2003. 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Da equipe? 3 – Como você avalia a necessidade de um sistema de planejamento, monitoramento e avaliação das atividades do CIC? 4 – Em sua opinião, a equipe, em especial o Serviço Social, tem conhecimento/domina o que está previsto na LOAS, PNAS e NOB SUAS, sobre a avaliação na assistência social? 5 - “De acordo com Projeto de Intervenção do Serviço Social na instituição, os Centros Integrados de Convivência constituem serviço de proteção social essencial para superação das situações que geram vulnerabilidade social e objetivam promover a socialização, o exercício da cidadania, o apoio a escolarização, o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários bem como contribuir para a organização autônoma e democrática da população seja através dos movimentos sociais ou de outras modalidades de participação cidadã que fortaleçam os princípios constitucionais de descentralização, democratização e participação popular na implementação e gestão das políticas sociais públicas visando a qualidade dos serviços prestados e a efetivação dos direitos de cidadania” a) Em face desses objetivos, qual a necessidade da avaliação? b) Dos registros profissionais (dados sistematizados) quais contribuem para a avaliação do alcance ou não, desses objetivos? c) As atividades atualmente propostas pelo CIC atingem estes objetivos? 6 – Em sua opinião, existe algum sistema de avaliação no âmbito da assistência social 66 municipal? Esse sistema atende a perspectiva dos direitos e do controle social? 7 – Qual seria, na sua opinião, a contribuição do Serviço Social para a implementação de uma política de avaliação sistemática no âmbito da política de assistência municipal? 8 – Considerando a correlação de forças institucionais e a cultura política do município, que estratégias você considera que poderiam contribuir para a participação do usuário na avaliação da rede de serviços sócioassistenciais do município? OBS: Caso haja alguma informação ou análise que não estejam contempladas nas perguntas acima fique à vontade para completar.