UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 1 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA PERSPECTIVAS DA AGRICULTURA FAMILIAR: a questão sucessória e o envelhecimento dos produtores familiares no Município de Indiana/SP Regiane Aparecida Menegati1 Rosangela Aparecida de Medeiros Hespanhol2 Resumo O trabalho tem como objetivo realizar alguns apontamentos sobre um dos principais problemas enfrentados pela agricultura familiar: o envelhecimento dos produtores e os impasses da sucessão hereditária. Para atingir esse objetivo, selecionou-se como área de pesquisa, o Município de Indiana, tendo sido realizadas as seguintes atividades: levantamento bibliográfico referente ao desenvolvimento da agricultura brasileira e, em especial, a agricultura familiar; coleta e sistematização de dados de fonte secundária junto às publicações da FIBGE; coleta de dados e informações de fonte primária, através da elaboração e aplicação de roteiros de entrevistas com técnicos e responsáveis pela Casa da Agricultura, Prefeitura Municipal, Associação de Produtores e Conselho de Desenvolvimento Rural; e, aplicação de questionário junto aos produtores familiares do Município de Indiana. De acordo com os resultados, pode-se notar o envelhecimento da maioria dos produtores rurais e a falta de perspectivas para a continuidade do trabalho na agropecuária, constatações que comprometem a questão sucessória na agricultura familiar no Município de Indiana. Palavras-Chave: Agricultura familiar – envelhecimento dos agricultores – sucessão hereditária – aposentadoria rural. 1 - Introdução 1 Mestranda em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da FCT/UNESP, campus de Presidente Prudente/SP. Bolsista FAPESP – Fundo de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo. Membro do GEDRA (Grupo de pesquisa Dinâmica Regional e Agropecuária). 2 Professora Doutora dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Geografia da FCT/UNESP, campus de Presidente Prudente/SP. Coordenadora do GEDRA (Grupo de pesquisa Dinâmica Regional e Agropecuária). UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 2 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA O presente trabalho tem como objetivo realizar alguns apontamentos sobre um dos principais problemas encontrados pela agricultura familiar, que baseia-se na questão do envelhecimento dos agricultores e nos impasses no momento de sua sucessão. Esse trabalho é parte integrante da pesquisa de Mestrado que vem sendo desenvolvida, sendo intitulada “Produção Familiar e Pluriatividade no Município de Indiana”. Essa pesquisa tem como tema norteador analisar a dinâmica da produção familiar no Município de Indiana, por meio da organização social, econômica e cultural das unidades produtivas familiares, no período que se estende entre a década de 1970 até o início do século XXI (2005). Os procedimentos metodológicos utilizados basearam-se em: a) levantamento bibliográfico referente ao desenvolvimento da agricultura brasileira e, em especial, a agricultura familiar, em especial; b) coleta e sistematização de dados de fonte secundária junto as publicações da FIBGE; c) coleta de dados e informações de fonte primária, através da elaboração e aplicação de roteiros de entrevistas com técnicos e responsáveis da Casa da Agricultura, Prefeitura Municipal, Associação de Produtores e Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural; e, d) aplicação de questionário junto aos produtores familiares do Município de Indiana. 2 - A Produção familiar no Município de Indiana No Brasil a agricultura familiar constitui-se a partir da década de 1990 em um dos eixos norteadores do debate sobre a questão agrária. Segundo Schneider (2003, p.31) a expressão agricultura familiar constituiu-se: em marco decisivo para unificação do discurso em defesa dos interesses dos agricultores familiares. Formou-se, portanto, uma nova categoria política que passou a congregar o conjunto dos pequenos proprietários rurais, os assentados, os arrendatários e os agricultores integrados às agroindústrias, entre outros. Lamarche (1993) destaca outra característica da produção familiar, a sua heterogeneidade. O referido autor ao analisar a inserção das explorações familiares em diferentes realidades sócioeconômicas e políticas ressaltou que “(...) a exploração familiar não é portanto um elemento da diversidade, mas contém nela mesma toda esta diversidade” (LAMARCHE, 1993, p.18). Considerando essa heterogeneidade, Wanderley (1996, p.01) destaca que Agricultura familiar deve ser entendida como aquela em que a família, ao mesmo tempo em que é proprietária dos meios de produção, assume o trabalho no estabelecimento produtivo. É importante insistir que este caráter familiar não é mero detalhe superficial e descritivo: o fato de uma estrutura produtiva associar família produção - trabalho tem conseqüências fundamentais para a forma como ela age UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 3 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA econômica e socialmente. O Município de Indiana faz parte da Microrregião de Presidente Prudente, estando localizada no sudoeste do Estado de São Paulo. O município tem a atividade agropecuária como a base de sua economia, sendo que a participação percentual do setor agropecuário na receita global do Município em 2005 foi de aproximadamente 25% do total. Segundo dados da Casa da Agricultura, em 2005 a produção agropecuária do Município de Indiana gerou 700 empregos diretos. O valor bruto da produção agropecuária do município é de R$3.934.166, 00. A base agrícola do Município está estruturada no cultivo das lavouras de café, feijão, milho, melancia e hortifrutigranjeiros. No setor pecuário predomina o gado de corte e de leite. A maior parte da produção agropecuária tem como destino as cerealistas, frigoríficos, feiras e mercados da região. No Município de Indiana existem 283 unidades produtivas, sendo que destas, 256 tem área de até 100 ha. Esses dados mostram que o Município é caracterizado por pequenas e médias propriedades. Das 256unidades produtivas no estrato de área de até 100 ha, 232 tem área de até 50 ha. Desse modo, o universo dessa pesquisa é constituído pelas unidades produtivas familiares, considerando que: são aquelas em que a organização do trabalho na propriedade é realizada pela família; o trabalho assalariado é complementar (até um trabalhador); e tenham dimensão territorial que varia entre 1 e 100 hectares. O questionário foi aplicado nos meses de Novembro e Dezembro de 2006. Para chegarmos ao total de questionários que seriam aplicados considerou-se as 256 unidades produtivas (total de unidades produtivas com área de até 100 ha no espaço rural do Município de Indiana), chegando ao total de 153 questionários aplicados, que representa 54,1% do total de unidades produtivas do Município. Com o intuito de assegurar a representatividade da variável adotada como tamanho da amostra foi calculado proporcionalmente ao tamanho (número de unidades) e trabalhou-se com a margem de erro de 5%. 3 - A constatação do envelhecimento dos produtores familiares e a aposentadoria rural como forma de reprodução social. De acordo com os resultados obtidos na pesquisa de campo, destacaremos aqui, os dados e UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 4 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA informações referentes à idade dos produtores, a forma de acesso a terra, a aposentadoria rural, o número de filhos por casal, a perspectivas dos agricultores quanto ao futuro profissional dos filhos e as famílias que têm membros exercendo atividades fora da unidade produtiva familiar. Na tabela 1 pode-se verificar os dados referentes à idade dos produtores familiares. Observa-se que apenas 9,8 % dos produtores abordados pela pesquisa têm idade inferior a 30 anos. Os produtores com idade entre 31 e 40 anos contabilizam 15% e os produtores entre 41 e 50 anos representam 13,1 % do total de produtores. A questão preocupante e, com base na qual podemos afirmar que no Município de Indiana está ocorredo o envelhecimentos dos agricultores familiares, baseia-se no dado que indica que para 62,1 % dos produtores tem idade superior a 50 anos. Sendo que, deste total, 18,9% tem idade entre 51 e 60 anos; 30,1%, ou seja, um número significativo de produtores abordados na pesquisa, tem entre 61 e 70 anos; e, 13,1 % dos agricultores familiares tem idade superior a 70 anos. A questão do envelhecimento dos produtores rurais coloca em cena um importante elemento para entendermos como se configura a reprodução social destes agricultores, a aposentadoria rural. Tabela 1: Idade dos produtores familiares do Município de Indiana Idade % Até 30 anos 31 e 40 anos 41 e 50 anos 51 e 60 anos 61 e 70 anos Acima de 71 anos Total 9,8 15,0 13,1 18,9 30,1 13,1 100 Nº de produtores 15 23 20 29 46 20 153 Fonte: Pesquisa de Campo, 2006. Na pesquisa de campo verificou-se que 80 produtores (52,3%) contam, na formação de seus rendimentos familiares, com a aposentadoria rural, que baseia-se em um benefício concedido para os que comprovem o exercício profissional na atividade agropecuária. A idade para a concessão do benefício pela previdência social é de 60 anos para os homens e 55 anos para as mulheres agricultoras. Ao analisarmos os 80 produtores que contam com a aposentadoria rural, nota-se que destes, 30, ou seja, 19,6% do total de produtores familiares abordados por essa pesquisa, recebem duas UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 5 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA aposentadorias na família. Esses dados demonstram que a aposentadoria rural aparece como um importante rendimento para a agricultura familiar no Município, colaborando de maneira representativa, para a formação da renda total das famílias rurais. Nesse sentido, o envelhecimento, que de certa forma, dificulta o trabalho na agricultura, pois baseia-se majoritariamente no desenvolvimento de atividades que implicam num trabalho pesado, que poderia acarretar dificuldades financeiras pelas famílias, é minimizado pela obtenção da aposentadoria rural. Nesses casos, a produção agropecuária realizada pela família dos agricultores que contam com a aposentadoria tem como estratégia a prioridade para o cultivo de alimentos para o auto consumo familiar, combinado com um cultivo mais direcionado à comercialização. A tabela 2 refere-se à forma de acesso à propriedade familiar e traz dados bastante interessantes sobre a relevância da herança familiar como forma para o acesso a propriedade da terra. Os dados indicam que ocorreu para esses produtores abordados a sucessão hereditária, já que 70,5 % dos produtores afirmaram que essa foi uma das formas principais de acesso a terra. Os produtores que afirmaram ser a herança familiar a única forma de acesso a terra representam 56,9%; os produtores familiares que conseguiram o acesso a terra combinando a herança e a compra somam 6,5 %; e os produtores que combinaram a herança e o arrendamento chegam a 7,2% do total de produtores abordados. O acesso a terra unicamente pela compra foi a forma predominante para 22,9 % dos produtores; o acesso a terra pela doação é de 3,9% e pela posse, de 2,6% do total de produtores familiares. Ressalta-se que todos os produtores familiares abordados por essa pesquisa tem o acesso a propriedade privada das terras em que produzem, sendo que há também produtores que realizam a prática do arrendamento para obter uma área cultivada maior do que possuem, com o objetivo de aumentar a produção. O acesso à terra por meio da propriedade privada é encarada pelos agricultores familiares como a única forma para obter sucesso na atividade agropecuária. Tabela 2: Forma de Acesso a Propriedade Familiar Forma de acesso Herança familiar Herança e compra % Nº de produtores 56,9 87 6,5 10 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 6 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA Herança e arrendamento Compra Doação Posse Total 7,2 22,9 3,9 2,6 100 11 35 6 4 153 Fonte: Pesquisa de Campo, 2006 Desse modo, conclui-se que a sucessão hereditária constituiu-se para a maioria dos produtores familiares uma importante forma de acesso a terra, representando a continuidade da atividade profissional de seus pais, ou seja, reforçando a reprodução da agricultura familiar. 4- Destino da produção familiar: perspectivas das novas gerações. As perspectivas para a continuidade da agricultura familiar não são nada otimistas ao verificarmos na pesquisa de campo realizada no Município de Indiana informações sobre os filhos dos produtores rurais. A questão do envelhecimento dos agricultores familiares e os problemas encontrados para sucessão podem representar o destino da agricultura familiar, ou seja, a continuidade da produção pela família rural. O número de filhos por casal de produtores é destacado na tabela 3. Nesta, percebe-se que a diminuição do número de filhos por casal também é verificada no meio rural do Município de Indiana. A diminuição no número de filhos por casal aparece para os produtores familiares como a única forma de ter condições de oferecer-lhes melhores condições de vida que, segundo eles, se traduzem no acesso ao estudo e à assistência médica de melhor qualidade. Tabela 3: Número de filhos por casal de produtores familiares no Município de Indiana Nº de filhos Nenhum 1e3 4e5 6 ou mais Total % Nº de produtores 6,5 10 56,9 87 26,8 41 9,8 15 100 153 Fonte: Pesquisa de Campo, 2006. UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 7 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA Os produtores que não tem filhos somam 6,5 % do total; a maioria dos agricultores familiares, ou seja, 56,9%, tem entre 1 e 3 filhos; os produtores que tem entre 4 e 5 filhos representam 26,8 %; e, apenas 9,8% dos produtores abordados tem 6 filhos ou mais. Antigamente, um maior número de filhos representaria mais braços (mão de obra) na família para trabalhar na agricultura. Atualmente, as aspirações são outras: de um lado, a utilização de máquinas e equipamentos, tais como tratores e semeadeiras substituem a necessidade de muitos trabalhadores para a atividade agropecuária e, de outro, os produtores familiares aspiram outros projetos de vida profissional para seus filhos, pois tem como “espelho” para esses sonhos e aspirações a realidade vivenciada por eles, que foi marcada por problemas para produzir e dificuldade para se reproduzir socialmente na agricultura. Cabe destacar que a pesquisa de campo teve como alvo para a aplicação do questionário, o chefe da família, por isso, a compreensão do processo de sucessão é analisado por meio das perspectivas dos pais em relação à continuidade da atividade profissional pelos filhos. Lamarche (1992) afirma que os projetos que os agricultores acalentam para seus filhos traduzem provavelmente a avaliação que fazem da situação global da sociedade na qual vivem. Basta que um número significativo de produtores se oriente para o exterior da propriedade e que comece a preparar seus filhos para outras profissões e para a emigração, para que aumente as dificuldades no momentos da sucessão das atividades na agropecuária. As perspectivas dos agricultores familiares em relação ao futuro profissional de seus filhos são destacadas na tabela 4. Quando questionados sobre se gostariam que seus filhos também exercessem atividades ligadas à agropecuária, constata-se que apenas 32,1% dos produtores responderam afirmativamente que gostariam, enquanto que 67,9 % dos produtores abordados responderam que não gostariam que seus filhos continuassem na agropecuária. Tabela 4: Produtores familiares que gostariam que seus filhos exercessem atividades ligadas à agropecuária no Município de Indiana Produtores que gostariam que seus filhos continuem na atividade agropecuária Não Sim Total Fonte: Pesquisa de Campo, 2006. % Nº de produtores 67,9 104 32,1 49 100 153 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 8 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA Um dado que merece ser destacado é que 35 dos produtores abordados, ou seja, 22,9% não têm filhos morando ou trabalhando no momento da realização da pesquisa na unidade produtiva familiar, ou seja, não apresentam sucessores. Em pesquisa realizada por Abramovay et al (2001) verificou-se o problema da falta de sucessores pelas famílias dedicadas à agricultura na região oeste de Santa Catarina, apontando que 12% dos estabelecimentos eram habitados por casais com mais de 41 anos de idade e sem a presença de jovens. Os filhos foram embora, optaram por viver e trabalhar na cidade e em outras regiões. Para a sociedade é um problema que essas terras não venham a reentrar no circuito de reprodução da mesma agricultura familiar e que, por meio do mercado, acabem sendo incorporadas pela grande propriedade e/ou dedicada à pecuária extensiva, que reduz o número de empregos e o efeito economicamente multiplicador do trabalho (Abramovay et al, 2001, p.08). Para Lamarche (1992), as estratégias de encaminhamento dos filhos são, sem dúvida, o resultado da ação conjunta de diversos fatores como: o tamanho das famílias e sua capacidade financeira, às quais são confrontadas as possibilidades de promoção social e profissional daqueles filhos que devem sair. As oportunidades fornecidas pelo mercado fundiário local podem ser aproveitadas por algumas famílias para disseminar e instalar vários filhos na terra, enquanto os antigos ocupantes perderam qualquer esperança de assegurar a continuidade do patrimônio. Mas existem também outras situações nas quais um futuro incerto no meio rural pode ser preferido às incertezas ainda mais ameaçadoras do êxodo (LAMARCHE, 1992). Dessa forma, o envelhecimento dos produtores rurais e a sucessão hereditária apresenta-se como questão problemática no Município de Indiana, pois a falta de políticas de incentivo à agricultura familiar, somado ao tamanho das unidades produtivas3, não comportam sua divisão entre os herdeiros após a morte do chefe da família para continuidade da produção agropecuária. A questão sucessória na agricultura familiar no Município de Indiana se agrava ao analisarmos os dados da tabela 5. Observa-se que 66,6 % das propriedades abordadas na pesquisa de campo apresentam algum membro da família que exerce atividade fora da propriedade e apenas em 3,4% delas todos os membros realizam atividades em torno da agropecuária. 3 O Município de Indiana é caracterizado por pequenas e médias propriedades. Do total de 283 propriedades rurais: 256 propriedades rurais tem área entre 1 e 100 há, e destas, 232 tem área de até 50 hectares. UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 9 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA Tabela 5: Familiares que exercem atividades fora da unidade produtiva familiar Familiares que exercem atividades fora da % Nº de unidade produtiva familiar produtores Sim 66,6 102 Não 33,4 51 Total 100 153 Fonte: Pesquisa de Campo, 2006 Se verificarmos as unidades produtivas em que existem dois (2) membros da família trabalhando fora, chega-se ao número de 50,9 % do total de unidades produtivas abordadas. Nesse sentido, em situação de famílias menos numerosas, já que em 56,9 % das unidades produtivas o casal de produtores tem de 1 a 3 filhos, o exercício de atividades não agrícolas (que majoritariamente são exercidas pelos filhos) fora da propriedade pode representar o caminho para a falta de sucessores na agricultura familiar, ou seja, para a falta de interesses dos filhos em continuar trabalhando na agropecuária. 5 – Considerações Finais A constatação do envelhecimento dos produtores no Município de Indiana coloca em debate a importância da aposentadoria rural como forma de reprodução social dessas famílias. A questão sucessória se coloca como geradora de uma série de impasses e questionários sobre o futuro dos filhos desses produtores, ou seja, em relação ao futuro da própria produção familiar. Abramovay et al (2001, p.67) destacam os impasses e conflitos que permeiam a questão sucessória na agricultura familiar. O problema sucessório, na maioria dos casos pode conduzir a conflitos que vão desde as formas de remuneração dos irmãos não contemplados com a propriedade paterna até a questão do viés de gênero que tende a acompanhar esses processos. O afastamento destas questões acaba atrasando a definição dos arranjos familiares necessários, que envolvem tanto o herdeiro e a continuidade da unidade de produção paterna, quanto o destino dos demais irmãos não sucessores. No Município de Indiana chama a atenção à falta de perspectivas dos agricultores em relação ao futuro na agricultura por parte de seus filhos. Essa opinião dos pais corresponde também à opinião dos filhos, principalmente dos mais descapitalizados, que cada vez enxergam como maiores dificuldades a continuidade na atividade agropecuária. Dessa forma, faz-se necessário estímulos e políticas para o espaço rural, pois o envelhecimento dos produtores é algo problemático quando somado as suas perspectivas em UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 10 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA relação aos filhos. Os produtores sonham com uma vida melhor para os filhos, e só conseguem enxergar essa situação longe do campo. Ao mesmo tempo, existe grande preocupação sobre o nível educacional dos filhos e as possibilidades de inserção no mercado de trabalho urbano. A situação de se relacionar a cidade com uma melhor qualidade de vida do que o campo precisa ser revertida, pois as cidades se mostram sem condições de receber mais migrantes. A continuidade da vida no campo como moradia e trabalho para esses jovens, se repensadas com o acréscimo: de crédito rural acessível; boas estradas; garantia de obtenção de preço justo na venda da produção; e acesso à moradia, a assistência médico-hospitalar, ao ensino de qualidade, com certeza trarão mais possibilidades de um futuro promissor do que nas cidades. 6 – Referências Bibliográficas ABRAMOVAY, R. et alii. Os impasses sociais da sucessão hereditária na agricultura familiar. Florianópolis: Epagri: Nead/Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2001. HESPANHOL, R. A. de M. Produção Familiar: Perspectivas de análise e inserção na Microrregião Geográfica de Presidente Prudente – SP. Rio Claro, 2000. 254p. Tese (Doutorado em Geografia) –Instituto de Geociências e Ciências Exatas/UNESP, campus de Rio Claro. LAMARCHE, H. (coord.). Agricultura familiar: comparação internacional. Uma realidade multiforme. Trad. Ângela M. N. Tijiwa. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1993. SCHNEIDER, S. A pluriatividade na agricultura familiar. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003. Wanderley, M de N. B. Raízes históricas do campesinato brasileiro. XX Encontro Nacional da ANPOCS. GT 17. Processos Sociais agrários. Caxambu, MG. Outubro, 1996.