set 10 n°° 018 CARTA DO GESTOR Em setembro, o órgão responsável pela datação dos ciclos econômicos americanos (NBER) declarou que o período de recessão acabou oficialmente em junho de 2009. Entretanto, no último comunicado do Federal Reserve, fica claro o descontentamento das autoridades monetárias com relação ao ritmo da retomada do crescimento econômico. Os membros do FOMC destacaram também que o atual patamar da inflação não é consistente com o seu mandato de longo prazo, que é promover máximo emprego e estabilidade de preços, e por isso estariam preparados para introduzir medidas de estímulos adicionais, em caso de necessidade, para sustentar a recuperação econômica. A perspectiva que o Federal Reserve retome a política de quantitative easing, política utilizada pelos bancos centrais com o objetivo de aumentar a oferta de moeda quando as taxas de juros estão em níveis próximos de zero, intensificou o movimento de dollar weakness nos mercados globais. Alguns países, pra conter a valorização de suas moedas em relação ao dólar, implementaram medidas protecionistas para evitar a perda de competitividade diante um cenário global ainda combalido pela Grande Depressão. O governo japonês, por exemplo, interviu no mercado de cambio pela primeira vez depois de seis anos para conter a alta do iene, que vinha incomodando os exportadores e pondo em risco a recuperação econômica. No Brasil o Ministro da Fazenda Guido Mantega deixou claro sua preocupação com o efeito da depreciação do dólar. A fragilidade da moeda americana traz preocupações às indústrias brasileiras, como também para o inicio de uma guerra cambial entre os países, visto que as economias internacionais vêem na fraqueza do cambio uma forma de estimular suas economias. Diante deste ambiente, a área econômica reafirmou no mês de setembro sua disposição em conter a valorização do real, e no início do mês de outubro aumentou a alíquota de IOF sobre a entrada de capital externo, destinado para ativos de renda fixa, para assim diminuir a atratividade das operações de carry trade. Em setembro, o real registrou uma valorização de 3.5% em relação ao dólar, impactado pela fraqueza do dólar no cenário externo, mas também pelo aumento do fluxo de capitais atraídos pela capitalização da Petrobrás. No cenário doméstico, o Banco Central deixou claro, através da última ata do COPOM, o fim do ciclo de aperto monetário e introduziu o debate a respeito do nível da taxa de juros neutra brasileira. As atenções ficaram, portanto, voltadas para o relatório de inflação, no qual o Banco Central apresentou suas projeções de inflação e os principais riscos para o seu cenário. Em linhas gerais, o cenário do Banco Central contempla um ritmo mais moderado da expansão econômica e sustentável a longo prazo. Principalmente porque na visão do banco central a economia mundial demorará a retornar ao nível pré crise, contribuindo positivamente para dinâmica da inflação doméstica. Entretanto, destacou que as condições apertadas do mercado de trabalho são seu principal fator de risco. No mês de agosto a taxa de desemprego atingiu 6.7%, taxa mais baixa da série histórica iniciada em 2002. Com relação ao nível da taxa de juros neutra, o diagnóstico da autoridade monetária é que o amadurecimento do regime de metas tem aumentado a potência dos instrumentos de política monetária, permitindo uma trajetória cadente da taxa de juros neutra. Entretanto no relatório de inflação o banco central não se mostrou confortável em divulgar os resultados de suas estimativas. Apesar de concordarmos que a trajetória de juros vem caindo nos últimos anos, acreditamos que o atual patamar de juro real ainda é expansionista. Isto porque a desconstrução fiscal e a expansão do crédito público não permitem grande otimismo com a trajetória de médio prazo para a taxa de juro real brasileira. Os dados correntes de inflação já mostram o fim dos efeitos sazonais, favoráveis, observados no 2T10. O que no primeiro momento fez com que o mercado de juros iniciasse um movimento de abertura de taxa. Entretanto, o tom mais dovish do Banco Central, aliado a uma percepção de piora das economias desenvolvidas, aumentaram a expectativa de uma nova rodada de quantitative easing, revertendo o movimento de abertura de taxa. Dito isto, continuamos com a expectativa de deterioração da inflação para os próximos meses, não só pela reaceleração da inflação de alimentos, mas também pela maior pressão dos salários reais impulsionados pela total ausência de hiato no mercado de trabalho. A fraqueza da economia mundial pode dar falsa impressão que a redução da taxa de juro real seja permanente e por isso não vemos a manutenção da Selic em 10.75% consistente com a convergência da inflação para trajetória de metas. Em setembro, a bolsa norte-americana subiu 8,8%, impulsionada pela decisão do Federal Reserve em manter a taxa de juro próxima a 0%, visando à retomada do consumo doméstico nos EUA. Na esteira deste movimento nos EUA, a bolsa brasileira se recuperou de agosto e registrou altas de 6,6% no Ibovespa e 6,9% no IBX, com destaque para as ações das empresas ligadas à economia doméstica. Vale destacar que, em setembro, o mercado absorveu bem a capitalização da Petrobrás, que envolveu mais de R$ 120 bilhões, se tornando a maior oferta de ações já realizada no mundo. O Boletim Financeiro é desenvolvido pela Icatu Vanguarda Administração de Recursos Ltda* para fins de circulação privada e com propósito meramente informativo. 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