Universidade Federal de Pernambuco Pró-Reitoria para Assuntos de Pesquisa e PósGraduação – PROPESQ Centro de Ciências da Saúde Mestrado em Medicina Tropical DANIELLE MEDEIROS MARQUES CLASSIFICAÇÃO OPERACIONAL DA HANSENÍASE BASEADA NO NÚMERO DE LESÕES CUTÂNEAS (OMS) X CLASSIFICAÇÃO CLÍNICOBACILOSCÓPICA - VALIDAÇÃO PARA ALOCAÇÃO DO PACIENTE NA POLIQUIMIOTERAPIA RECIFE 2006 Universidade Federal de Pernambuco Pró-Reitoria para Assuntos de Pesquisa e PósGraduação – PROPESQ Centro de Ciências da Saúde Mestrado em Medicina Tropical DANIELLE MEDEIROS MARQUES CLASSIFICAÇÃO OPERACIONAL DA HANSENÍASE BASEADA NO NÚMERO DE LESÕES CUTÂNEAS (OMS) X CLASSIFICAÇÃO CLÍNICOBACILOSCÓPICA - VALIDAÇÃO PARA ALOCAÇÃO DO PACIENTE NA POLIQUIMIOTERAPIA Dissertação apresentada ao Centro de Ciências da Saúde como requisito para obtenção do grau de Mestre em Medicina Tropical Área de concentração: Dermatologia Orientadora: Profª. Drª. Sylvia Maria de Lemos Hinrichsen RECIFE 2006 II Marques, Danielle Medeiros Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica – validação para alocação do paciente na poliquimioterapia / Danielle Medeiros Marques. – Recife: O Autor, 2006. 86: il., gráf., tab. e quadros. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCS. Medicina Tropical, 2006. Inclui bibliografia, apêndices e anexos. 1. Hanseníase – Classificação operacional – Baciloscopia. 2. Doenças infecciosas - Mal de Hansen – Classificação/Normas – Quimioterapia. I. Título. 616-002.73 616.998 CDU (2.ed.) CDD (22.ed.) III UFPE BC2006-052 IV DEDICATÓRIA Aos meus pais, pelo exemplo de que na vida pode-se construir um futuro e mudar um destino, desde que haja coragem de mudar, trabalho, honestidade e simplicidade. À minha mãe Marly Medeiros, pela força, presença forte e amor incondicional. A todos aqueles que desejaram o meu sucesso e me deram suporte nessa caminhada. V AGRADECIMENTOS Inicialmente, a Deus, pela proteção, luz e dádivas com que a cada dia nos presenteia. Aos meus irmãos e irmãs, cunhadas e cunhados, sobrinhos e sobrinhos, que me acompanharam e me incentivaram ao longo da produção deste manuscrito. Ao meu noivo, Eduardo, pelo amor, companheirismo, força e cumplicidade. Á Profa. Dra. Sylvia Maria de Lemos Hinrichsen, por ter acreditado em nosso projeto e pela sua disponibilidade e atenção dispensadas. Ao meu mestre e amigo, Professor Josemir Belo dos Santos, meus sinceros agradecimentos pelos ensinamentos imensos em dermatologia, de uma forma acadêmica magistral, dentro da ética e senso humanitário imensuráveis. A todos os meus professores e preceptores de dermatologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, com destaque aos Professores Luiz Gonzaga Castro Souza Filho, Élcio Lima, Keyla Ribeiro, Sarita Martins, Margarida Silveira, Valdir Bandeira, Emerson Andrade de Lima, pelas horas dispensadas ao ensino e diálogo, fazendo do magistério uma suave e agradável troca de conhecimentos. Ás Professoras e Mestres Maria de Fátima de Medeiros Brito e Mecciene Mendes Rodrigues, pelo estímulo à pesquisa e pelo despertar, em mim, a paixão pelo tema hanseníase. A todas as residentes e especializandas, que conviveram comigo nessa época importante da vida, Carla Silveira, Luciana Sobreira, Fabiana, Mara, Nara, Mércia, Sylvia Laranjeira, Virgínia, Paula, Danielle, Marina, Renata, Sara, Ana Karla, Carla Cristiane, Ângela, Daniela, Juliana e Lígia, pela amizade que pude encontrar. VI A todos os funcionários do Ambulatório de Dermatologia, pela gentileza e dedicação. Ao Dr Gutemberg, que se dedica como ninguém aos pacientes de hanseníase do Hospital Clementino Fraga, pela ajuda na busca e classificação dos casos desta pesquisa. A todos os funcionários do Complexo Hospitalar Clementino Fraga com quem convivi: Dr Orlando, Lina, Auxiliadora, pela agradável acolhida e atenção. Aos funcionários da pós-graduação em Medicina Tropical, Jupira e Walter, pela pronta disponibilidade e atenção a mim conferidas. Ao Professor Dr Ricardo Ximenes, pela dedicação, empenho e paciência, surgindo como um pilar mestre na pós-graduação em Medicina Tropical. Aos meus amigos mestrandos Aganeide, Paula, Gilson, Erlon e Maria José, pela grata e inesperada amizade. Aos Tenentes-Coronéis Marques e Ramon, pelo incentivo e compreensão. Aos meus amigos do Hospital de Guarnição de João Pessoa, pelos momentos agradáveis e de reflexão divididos. A todos, os meus sinceros agradecimentos. Obrigada. Muito obrigada. VII EPÍGRAFE “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á; porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e quem bate, abrir-se-lhe-á.” (Lucas 11; 9-10) VIII RESUMO A Organização Mundial de Saúde recomenda, em países endêmicos para hanseníase, a classificação operacional baseada no número de lesões para alocação do paciente na poliquimioterapia. Nessa classificação são considerados paucibacilares os pacientes com até cinco lesões cutâneas, e multibacilares, aqueles com mais de cinco. O objetivo desse estudo foi validar a classificação operacional admitindo-se como padrão-ouro a baciloscopia de esfregaços da pele. Por meio de estudo prospectivo, tipo validação de testes diagnósticos, foram analisados 154 casos novos de hanseníase, atendidos no Complexo Hospitalar Clementino Fraga, João Pessoa, Paraíba, Brasil, no período de junho a dezembro de 2005. Consideraram-se as características sócio-demográficas, contato prévio com portadores de hanseníase, tempo de início dos sintomas, número e características clínicas das lesões cutâneas, formas clínicas segundo a classificação de Ridley e Jopling e resultado da baciloscopia. Calcularam-se sensibilidade, especificidade, valores preditivo positivo e negativo da classificação operacional e coeficiente de concordância entre as classificações operacional e baciloscópica. Dos 154 casos, 42 pacientes apresentavam baciloscopia positiva e 112, negativa. Das positivas, 16 (38,1%) apresentavam até cinco lesões cutâneas e, das negativas, 12 (10,7%) apresentavam mais de cinco. A sensibilidade, a especificidade, o valor preditivo positivo e o valor preditivo negativo foram 61,9%, 89,3%, 68,4% e 86,2%, respectivamente. A concordância entre as classificações foi significantemente regular (Kappa=0,528 ± 0.080, p<0,001). Concluiu-se que a classificação operacional apresentou limitações que não invalidam sua operacionalidade. Todavia deve ser, sempre que possível, associada a exames complementares como a baciloscopia, visto a possibilidade de sub-tratamento das formas multibacilares infectantes. Palavras-chave: 1. Hanseníase – Classificação operacional – Baciloscopia. 2. Doenças infecciosas - Mal de Hansen – Classificação/Normas – Quimioterapia. IX ABSTRACT According to the World Health Organization recommendations for treatment of leprosy, at endemic countries, the operational classification based on the number of cutaneous lesions has been recommended to allocate patients in multidrug therapy. This system classifies patients having more than five skin lesions as multibacillary and up five as paucibacillary. To validate the clinical criteria to allocate patients as paucibacillar or multibacillar, admitting skin smears results as gold standard, a prospective, type diagnosis tests validation study was performed. A total of 154 new untreated leprosy patients were studied between June to December 2005, at Complexo Hospitalar Clementino Fraga, Joâo Pessoa, Paraíba, Brazil. There were considered socio-demographic characteristics, previous contact with leprosy patients, date of initial symptoms, number and clinical characteristics of cutaneous lesions, clinical forms according to Ridley and Jopling classification and skin smears results. Sensibility, specificity, positive and negative predictive values and Kappa coefficient were calculated. Among 154 cases, 42 were smear positive, and 112 were smear negative. Within those with smear positive results, 16 (38.1%) had up five cutaneous lesions and, for negative ones, 12 (10.7%) presented more than five. Sensibility, specificity, positive and negative predictive values were 61.9%, 89.3%, 68.4% and 86.2%, respectively. The classifications had a significant regular concordance (Kappa = 0.528 ± 0.080, p < 0.001). Thus the study concluded that operational classification presented limitations that did not invalidate its viability. Although, whenever possible, it must be associated to additional methods, as skin smear examination, because of the possibility to undertreatment of multibacillary infective patients. Key words: 1. Leprosy – Operational Classification – Skin smear. 2. Infectious Diseases - Hansen Disease – Classification/Roles – Chemotherapy. X LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Distribuição das variáveis sócio-demográficas dos 154 portadores de hanseníase – Complexo Hospitalar Clementino Fraga – Paraíba – junho/dezembro 2005 ................................................................................... 49 Tabela 2 – Distribuição da história de contato com portador de hanseníase e tempo de início dos sintomas dos 154 portadores de hanseníase – Complexo Hospitalar Clementino Fraga – Paraíba – junho/dezembro 2005.................. 50 Tabela 3 – Distribuição dos achados ao exame dermatológico dos 154 portadores de hanseníase – Complexo Hospitalar Clementino Fraga – Paraíba – junho/dezembro 2005 ................................................................................... 51 Tabela 4 – Tabela de contingência entre os critérios operacional e baciloscópico para classificação da forma clínica dos 154 pacientes – Complexo Hospitalar Clementino Fraga – junho/dezembro 2005 ................................................... 54 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Distribuição das formas clínicas de 154 pacientes, classificados segundo o critério de Ridley e Jopling (1966) – Complexo Hospitalar Clementino Fraga – junho/dezembro 2005 ................................................... 52 Gráfico 2 – Classificação dos 154 pacientes segundo os critérios baciloscópico, operacional e de Ridley e Jopling (1966) – Complexo Hospitalar Clementino Fraga – junho/dezembro 2005 ...................................................................... 53 Gráfico 3 – Curva ROC da classificação operacional comparada à baciloscópica admitindo quatro lesões como ponto de corte............................................... 55 Gráfico 4 – Curva ROC da classificação operacional comparada à baciloscópica admitindo cinco lesões como ponto de corte ................................................ 56 XI LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Critérios de interpretação do índice Kappa ....................................... 47 Quadro 2 – Parâmetros de validade da classificação operacional de hanseníase comparada à classificação baciloscópica – Complexo Hospitalar Clementino Fraga – Paraíba – junho/dezembro de 2005................................................. 55 Quadro 3 – Sensibilidade e especificidade de vários critérios clínicos para classificar pacientes hansenianos, comparados com o método bacteriológico como padrão ................................................................................................. 68 XII LISTA DE ABREVIATURAS BB ou DD— hanseníase borderline-borderline ou dimorfa-dimorfa BL ou BV – hanseníase borderline-lepromotosa ou borderline-virchowiana BT ou DT – hanseníase borderline-tuberculóide ou dimorfa-tuberculóide DL ou DV – hanseníase dimorfo-lepromatosa ou dimorfa-virchowiana MS – Ministério da Saúde do Brasil OMS – Organização Mundial de Saúde PCR – Reação de cadeia de polimerase PGL-1 – Antígeno glicolipídico fenólico do Mycobacterium leprae PSF – Programa de Saúde da Família ROC – Receiver Operator Characteristic SINAN – Sistema Nacional de Notificação de Agravos a Saúde SPSS – Statistical Program for Social Sciences TT – hanseníase tuberculóide polar VV ou LL – hanseníase Virchowiana ou lepromotosa polar XIII SUMÁRIO RESUMO ........................................................................................................... IX ABSTRACT......................................................................................................... X LISTA DE TABELAS.......................................................................................... XI LISTA DE GRÁFICOS ....................................................................................... XI LISTA DE QUADROS....................................................................................... XII LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................ XIII 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 15 2 OBJETIVOS .................................................................................................. 21 2.1 Geral ...................................................................................................... 21 2.2 Específicos............................................................................................. 21 3 REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................... 23 3.1 Classificações da Hanseníase ............................................................... 23 3.2 Diagnóstico da Hanseníase ................................................................... 25 4 FORMULAÇÃO DA QUESTÃO DA PESQUISA ........................................... 32 4.1 Pergunta condutora................................................................................ 32 4.2 Formulação da hipótese......................................................................... 32 5 PACIENTES E MÉTODOS ........................................................................... 33 5.1 Desenho do estudo ................................................................................ 33 5.2 Limitações metodológicas do estudo ..................................................... 34 5.3 Local do estudo...................................................................................... 36 5.4 População alvo ...................................................................................... 36 5.5 Tipo de amostragem .............................................................................. 37 5.6 Cálculo do tamanho da amostra ............................................................ 37 5.7 Sujeitos da pesquisa .............................................................................. 38 5.7.1 Critérios de inclusão ....................................................................... 38 5.8 Métodos ................................................................................................. 39 5.8.1 Determinação da sensibilidade cutânea ......................................... 39 5.8.2 Baciloscopia.................................................................................... 39 5.8.3 Classificação das formas clínicas segundo critérios clínicos de Ridley e Jopling............................................................................................. 41 5.9 Variáveis – conceito e categorização..................................................... 44 5.9.1 Variáveis sócio-demográficas ......................................................... 44 5.9.2 Classificação dos pacientes em multibacilar e paucibacilar............ 45 5.10 Coleta dos dados ................................................................................... 45 5.11 Processamento e análise dos dados ..................................................... 46 5.12 Considerações éticas............................................................................. 48 6 RESULTADOS.............................................................................................. 49 7 DISCUSSÃO ................................................................................................. 57 8 CONCLUSÕES ............................................................................................. 72 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 73 10 APÊNDICES.............................................................................................. 78 10.1 APÊNDICE 1 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............... 79 XIV 10.2 APÊNDICE 2 - Protocolo da pesquisa ................................................... 80 10.3 APÊNDICE 3 – Achados do exame clínico dermatológico dos 12 pacientes falso-positivos pela classificação operacional, comparada à classificação baciloscópica ............................................................................... 82 10.4 APÊNDICE 4 – Achados do exame clínico dermatológico dos 16 pacientes falso-negativos pela classificação operacional, comparada à classificação baciloscópica ............................................................................... 83 11 ANEXO - Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Paraíba............................................................................................... 85 XV Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 1 INTRODUÇÃO A hanseníase é uma doença infecto-contagiosa de evolução crônica, causada pelo Mycobacterium leprae, bacilo álcool-ácido resistente, com tropismo para as células de Schwann e para o sistema retículo-endotelial, que acomete principalmente pele e tecido nervoso periférico (TALHARI; NEVES, 1997). O Brasil ocupa a segunda colocação mundial no número de casos de hanseníase, após a Índia, sendo que nas Américas, aproximadamente 94% dos casos novos de hanseníase são notificados no Brasil (ARAÚJO, 2003). Dentro do território brasileiro, as taxas de prevalência são variáveis, atingindo, no ano de 2002, taxas altas nas regiões Centro-Oeste (11,7 casos:10.000 habitantes), Norte (8,7 casos:10.000 habitantes), e no Nordeste (6 casos:10.000 habitantes), com maiores índices no Piauí (16,6 casos:10.000 habitantes) e Pernambuco (8,5 casos:10.000 habitantes). Na Paraíba, a prevalência situa-se em torno de 4,84: 10.000 habitantes. No sul do Brasil, atinge 1,43:10.000 habitantes e no Sudeste, 2,41:10.000 habitantes (BRASIL, 2003). A Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs aos países endêmicos a busca de taxas de prevalência menores que 1:10.000 habitantes, taxa esta determinante para a eliminação da hanseníase como problema de saúde pública (RINALDI, 2005). Dos 122 países, nos quais a hanseníase era considerada endêmica, em 1985, 112 alcançaram essa taxa de eliminação no 16 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia final do ano de 2003, porém o Brasil ainda continua integrando o grupo dos dez países que não alcançaram essa meta, mantendo uma prevalência geral de 4,2:10.000 habitantes, em 2004 (WHO, 2004). Estudos recentes sobre a epidemiologia da hanseníase demonstram o declínio da prevalência e a tendência estável ou ligeiramente ascendente na detecção de casos novos da doença. Este aumento nos casos incidentes poderia ser explicado através do aumento das campanhas de detecção e da expansão geográfica de cobertura dos serviços de saúde para o tratamento da hanseníase nos países endêmicos (LOCKWOOD, 2002; MOSCHELLA, 2004; WHO, 2004). A transmissão da hanseníase ocorre principalmente pela via respiratória, considerada a principal porta de entrada e via de eliminação do bacilo. Porém não há certeza de que a transmissão seja exclusivamente respiratória, podendo ocorrer também pelo contato com lesões cutâneas erodidas de pacientes com as formas multibacilares (FOSS,1999; TALHARI; NEVES, 1997; VAN BEERS; DE WIT; KLATSER, 1996). As secreções orgânicas, como leite, esperma, suor e conteúdo vaginal, podem também eliminar bacilos, mas não contribuem para a disseminação da infecção (TALHARI; NEVES, 1997). Após a infecção, o desenvolvimento da doença depende de fatores genéticos e da imunidade celular do hospedeiro. Por motivos ainda não totalmente esclarecidos, 90% da população é resistente ao bacilo (FOSS, 1999). Entre os fatores genéticos, tem se observado que doentes com antígenos HLADQ1 caracterizam-se por susceptibilidade ao M. leprae, progredindo para o pólo 17 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia virchowiano, enquanto os de padrão HLA-DR2 e HLA-DR3 apresentam resistência à doença, evoluindo para o polo tuberculóide (FOSS, 1999). É descrito que pacientes com lesão única, freqüentemente na forma inicial indeterminada da doença, evoluem para cicatrização espontânea em até 80% dos casos (ARAÚJO, 2003; SAMPAIO; RIVITTI, 2001). O diagnóstico da hanseníase pode basear-se em características clínicas cutâneas e neurais e ser corroborado por métodos laboratoriais auxiliares como o exame histopatológico, a baciloscopia e, mais recentemente, a sorologia (pesquisa de anticorpos específicos para o antígeno glicolipídico fenólico do Mycobacterium leprae- anti-PGL1 e a reação de cadeia de polimerase - PCR), com diferentes sensibilidades e especificidades (BUHRER-SEKULA et al., 2000; SAMPAIO; RIVITTI, 2001). Seguindo orientações da OMS para países endêmicos, o Ministério da Saúde do Brasil preconiza critérios clínicos para o diagnóstico da hanseníase (BRASIL, 2001). É considerado caso suspeito de hanseníase, o paciente que apresenta uma ou mais das seguintes características: lesão(ões) de pele com alteração de sensibilidade, acometimento de nervo(s) com espessamento neural e baciloscopia positiva (BRASIL, 2001). Para fins de alocação na terapêutica, o paciente hanseniano deve ser classificado como multibacilar ou paucibacilar, visto a terapêutica divergir (BRASIL, 2002). Pacientes multibacilares são tratados com uma dose mensal supervisionada de rifampicina, clofazimina e dapsona e doses diárias de 18 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia clofazimina e dapsona, por 12 meses a 24 meses, enquanto que os paucibacilares recebem uma dose supervisionada mensal de rifampicina e dapsona e diária de dapsona, por seis meses (BRASIL, 2002). Os métodos utilizados para a alocação do paciente têm mudado ao longo dos anos. Em 1982, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu como paucibacilar aqueles pacientes com as formas clínicas indeterminada, tuberculóide ou borderline-tuberculóide com um índice baciloscópico menor que 2+ em todos os sítios pesquisados, e multibacilares, aqueles com índice baciloscópico igual ou maior que 2+, em qualquer sítio (WHO, 1982). Posteriormente, essa classificação foi mudada para classificar como multibacilar o paciente com o encontro de positividade do índice baciloscópico em qualquer sítio (WHO, 1998). No entanto, visto a baciloscopia por vezes fornecer resultados de qualidade duvidosa ou não se encontrar disponível (WHO, 1998), maior simplificação foi proposta baseada em critérios clínicos como a observação do número de áreas corporais envolvidas por lesões cutâneas e neurais (VAN BRAKEL; DE SOLDENHOFF; MCDOUGALL, 1992) ou uma classificação baseada no número de lesões, considerando-se paucibacilar quando da presença de até cinco lesões e multibacilar, quando um número maior que cinco lesões (WHO, 2000). Esta última classificação é chamada operacional e é preconizada pela OMS para países endêmicos (WHO, 2000). A classificação operacional é a 19 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia preconizada pelo Ministério da Saúde do Brasil, sendo a baciloscopia considerada não necessária ao diagnóstico e tratamento (BRASIL, 2002). A confiabilidade da classificação operacional, baseada apenas em critérios clínicos, vem sendo questionada (CROFT et al., 1998; GALLO et al., 2003), especialmente por ser realizada em nível de saúde coletiva, no qual, dependendo de fatores culturais, o exame físico do paciente pode ser prejudicado (BUHRER-SEKULA et al., 2000). Uma subestimação do número de lesões pode levar a uma classificação errônea do paciente de multibacilar como paucibacilar e, portanto, a um curso inadequado na terapêutica. Uma subclassificação aumenta o risco de recidiva, devido ao curso insuficiente de tratamento, acarretando como conseqüência o aumento do tempo em que o paciente poderá estar infeccioso, portanto transmitindo a doença na comunidade, até que apresente sinais clínicos de recidiva (BUHRER-SEKULA et al., 2000). Além disso, outras características clínicas encontradas poderiam sugerir uma classificação com tendência a multibacilaridade (RIDLEY; JOPLING, 1966), independente do número de lesões. As mudanças, ao longo dos anos, para classificar o paciente hanseniano, ilustram a dificuldade na correta definição de paucibacilar ou multibacilar. Considerando que, no Brasil, a classificação vigente é a operacional, a baciloscopia é facultativa e o diagnóstico é feito por profissionais de diversas 20 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia especialidades, não raro sem a vivência morfológica em hanseníase, faz-se necessário validar esta classificação operacional no Brasil e, mais especificamente no estado da Paraíba, onde a taxa de prevalência da doença ainda se encontra em altos níveis, igualando-se a 4,82:10.000 habitantes em 2002 (BRASIL, 2005). 21 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 2 OBJETIVOS 2.1 Geral Validar o critério clínico do número de lesões, proposto pela OMS, para a alocação do paciente em paucibacilar ou multibacilar, tendo como padrãoouro a baciloscopia. 2.2 Específicos ⇒ Identificar as características sócio-demográficas dos portadores de hanseníase; ⇒ Caracterizar os pacientes quanto à história de contatos com portadores de hanseníase e tempo de início dos sintomas; ⇒ Descrever as características das lesões, identificadas ao exame dermatológico, referentes a delimitação periférica, número, tipo, clareamento central, além da presença de acometimento neural com espessamento; 22 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia ⇒ Classificar os pacientes segundo as formas clínicas da hanseníase empregando a classificação clínica de Ridley e Jopling (1966); ⇒ Determinar sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo do critério clínico do número de lesões (classificação operacional da OMS) na alocação do paciente em paucibacilar ou multibacilar, tendo como padrão-ouro a baciloscopia. 23 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 3 REVISÃO DA LITERATURA 3.1 Classificações da Hanseníase Para a hanseníase, diversas classificações já foram propostas ao longo do tempo, algumas mais complexas, outras mais simples; algumas com fins terapêuticos, outras para fins científicos, nem sempre de fácil operacionalização. As mais difundidas são: a de Ridley e Jopling (1966) e a da WHO (2000). ⇒ Classificação de Ridley e Jopling (1966) Empregada em estudos científicos e descrita em 1966, leva em consideração a imunidade do paciente. É citada até os dias atuais por adotar variáveis diversas para a classificação. Nessa classificação, são observadas: as características das lesões cutâneas, as alterações neuropáticas, a baciloscopia, o teste de Mitsuda (análise imunológica) e a análise anatomopatológica. Divide a hanseníase em formas indeterminada, tuberculóide polar (TT), tuberculóide-borderline (BT), borderline (BB), borderline-lepromatosa (BL ou BV) e lepromatosa (VV ou LL). 24 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia ⇒ Classificação da World Health Organization (WHO, 2000) É adotada desde 1982, tendo sido modificada em 1998. Vem sendo utilizada em programas de controle da doença, inclusive pelo Ministério da Saúde do Brasil, devido a sua maior simplicidade. É denominada classificação operacional, sendo utilizada para a alocação do paciente para fins terapêuticos em países de alta prevalência da doença. Classifica os doentes em paucibacilares quando, não estando em reação hansênica, apresentam até cinco lesões cutâneas. Incluem as formas tuberculóide e indeterminada. Considera multibacilares, aqueles que, não estando em reação hansênica, apresentarem mais de cinco lesões cutâneas. ⇒ Classificação baseada no número de áreas corporais envolvidas por lesões cutâneas ou neurais (VAN BRAKEL; DE SOLDENHOFF; MCDOUGALL, 1992). Tem sido citada em programas de controle de hanseníase no Nepal. Divide o corpo em nove áreas (no Oeste do país) e em sete áreas (no leste do país). Considera multibacilares, para fins terapêuticos, os pacientes com lesões cutâneas ou neurais 25 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia em mais de duas áreas corporais, e paucibacilares, aqueles com uma ou duas áreas afetadas. ⇒ Classificação de Bangladesh (BANGLADESH, 1995; CROFT et al., 1998) Considera multibacilares, os pacientes cujo número total de lesões cutâneas e nervos palpáveis seja dez ou mais ou cuja baciloscopia seja positiva, e paucibacilares, aqueles cujo número total de lesões cutâneas e nervos palpáveis seja menor que dez. 3.2 Diagnóstico da Hanseníase O diagnóstico da hanseníase compreende, inicialmente, o enquadramento do paciente como caso suspeito de hanseníase, respeitados os critérios do Ministério da Saúde do Brasil (BRASIL, 2002), podendo ser submetido então a exames complementares. No entanto, deve também ser classificado para fins de tratamento, obedecendo à classificação operacional, segundo as orientações da OMS para países de alta endemicidade (WHO, 1998). Exames complementares, como o exame histopatológico, o teste de Mitsuda e a baciloscopia, já não são solicitados em regime de rotina e nem são imprescindíveis ao diagnóstico e tratamento (BRASIL, 2002). 26 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia Recentemente, novas técnicas diagnósticas vêm sendo aprimoradas e incluem a pesquisa de anticorpos anti-PGL-1 e a PCR. O PGL-1 (glicolipídio fenólico-1) é antígeno específico da parede celular do bacilo de Hansen (BUHRER-SEKULA et al., 2000). A positividade do anti PGL-1 é feita por titulação, tendo as formas multibacilares títulos maiores. Em um ensaio empregando tira reativa que detecta anticorpos IgM contra o PGL-1 (ML dipstick), identificou-se apresentar grande especificidade e sensibilidade em multibacilares (BUHRER-SEKULA et al., 2000), todavia, para o diagnóstico de formas paucibacilares, não tem sido indicado devido à baixa sensibilidade, variando entre 30% e 60% (SAMPAIO; RIVITTI, 2001). Também não foi capaz de predizer o desenvolvimento da doença entre contactantes de casos de hanseníase (MOSCHELLA, 2004). A reação de cadeia de polimerase (PCR) é descrita como forma auxiliar para o diagnóstico e caracterização das formas neurais puras, nas quais há dificuldade de demonstrar o bacilo de Hansen pela baciloscopia convencional (JARDIM et al., 2005). No Brasil, para fins operacionais em saúde coletiva, adota-se a classificação operacional, a qual aumenta a oportunidade de submeter a tratamento o maior número possível de doentes. Todavia esta classificação bastante simplificada, na verdade, confere apenas uma estimativa clínica da forma de hanseníase, devido ao caráter espectral da doença (SAMPAIO; RIVITTI, 2001). 27 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia Apesar de ser de fácil operacionalidade, esta forma de classificação, baseada exclusivamente no número das lesões, sem levar em consideração outros aspectos, está sujeita a erros, com repercussões, visto que o esquema terapêutico e o tempo do tratamento dependem da classificação do paciente em pauci ou multibacilar. Mesmo em serviços de referência para diagnóstico e tratamento de hanseníase, é comum a prática de negligenciar o uso de métodos diagnósticos complementares por serem considerados dispensáveis para o tratamento, incluindo a baciloscopia, apesar de ser de fácil execução (BRASIL, 2002). A literatura demonstra que os métodos auxiliares em hanseníase são importantes, inclusive em alguns casos contrariando a classificação operacional do paciente (BECX-BLEUMINK, 1991; RANJAN KAR et al., 2004). Em estudo retrospectivo realizado no Rio de Janeiro, envolvendo 837 casos de hanseníase, correlacionou-se a classificação baseada no número de lesões ao emprego da baciloscopia. Dos 652 (77,9%) casos que apresentavam baciloscopia positiva, ou seja, classificados como multibacilares, 68 (10,4%) apresentavam até cinco lesões. Caso fosse utilizada apenas a classificação operacional para sua alocação no esquema terapêutico, esses pacientes seriam tratados para esquema paucibacilar inadequadamente (GALLO et al., 2003). Crippa et al. (2004) realizaram estudo retrospectivo avaliando 628 pacientes em Manaus, no qual avaliaram a sensibilidade da classificação operacional da OMS, tendo como padrão-ouro a baciloscopia, tendo encontrado 28 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia sensibilidade de 73,6% (IC 95% 66,4%-79,8%) e especificidade de 85,6%(IC 95% 81,9%-88,6%). Essa afirmação foi corroborada ao se identificar que cerca de 12% dos verdadeiros multibacilares não são diagnosticados empregando-se na classificação operacional OMS (DASANANJAL; SCHREUDER; PIRAYAVARAPORN, 1997). Em outro estudo, realizado no estado de Pernambuco, em 2003, envolvendo 125 pacientes hansenianos para avaliar sua susceptibilidade à radiação ultravioleta B, observou-se que dos 38 (30,4%) pacientes classificados com a forma VV polar, ou seja, de baixa imunidade com tendência à disseminação da doença, 4 (10,5%) tinham lesão única e 2 (5,3%) tinham entre duas a cinco lesões, o que os classificaria operacionalmente como paucibacilares (RODRIGUES, 2003). Outros estudos também demonstraram que a forma virchowiana pode ter menos de cinco lesões (RAMESH et al., 1991; RANJAN KAR et al; 2004). Em 1991, foram relatados três casos de hanseníase com lesão única, inicialmente classificados como paucibacilares, os quais, após realização do exame histopatológico e baciloscópico, foram relocados para o esquema multibacilar (RAMESH et al., 1991). Em trabalho realizado na Etiópia, comparando a classificação clínica à baciloscópica, cujo ponto de corte na baciloscopia para se considerar o paciente 29 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia como multibacilar foi um índice baciloscópico igual ou maior que dois, identificouse discordância de 1,5% entre os 730 pacientes clinicamente diagnosticados como paucibacilares e de 21,1%, para 795 clinicamente classificados como multibacilares (BECX-BLEUMINK, 1991). Em 2004, foi reportado um caso com lesão única em face que, ao exame histopatológico, era borderline-virchowiano. Por esse motivo, os autores sugeriram a realização da baciloscopia como rotina em todos os pacientes (RANJAN KAR et al , 2004). Por outro lado, de forma isolada, não só o critério clínico, mas também a baciloscopia e a histopatologia, para diagnóstico e alocação na terapêutica do doente hanseniano, podem ser sujeitos a falhas (ANDRADE et al., 1996; MOSCHELLA, 2004). Em um estudo de revisão bibliográfica demonstrou-se que apenas 10% a 50% dos pacientes têm amostras positivas à baciloscopia. (MOSCHELLA, 2004). Pesquisa realizada em Bangladesh demonstrou que a sensibilidade da classificação baseada em critérios clínicos, com avaliação do número de lesões cutâneas e nervos acometidos, obteve valor igual a 92,1%, com uma especificidade de 41,3%, enquanto a classificação baseada na baciloscopia obteve uma sensibilidade de 88,4% e uma especificidade de 98,1%, quando comparada aos resultados da classificação histopatológica (GROENEN et al., 1995). 30 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia O resultado da baciloscopia também depende da adequabilidade da coleta e da leitura da lâmina para diagnóstico. Há estudos que reportam que, se a baciloscopia fosse o único critério para alocação dos pacientes para tratamento, 20% dos casos multibacilares seriam classificados como paucibacilares (ANDRADE et al., 1996), fato este que ressalta ser examinador-dependente, passível de falha. A preocupação na disponibilização de centros com capacidade de realizar a baciloscopia para hanseníase, de forma confiável, com equipamentos e pessoal técnico adequadamente treinado, é referida desde o início da poliquimioterapia (GEORGIEV; MCDOUGALL; 1990; RAMESH; PORICHHA, 1996). Com relação ao exame histopatológico, em estudo retrospectivo realizado no estado da Bahia, foram analisadas biópsias cutâneas de 1.108 pacientes com suspeita clínica de hanseníase. Destes, 546 (49,3%), a despeito da suspeita clínica, tiveram biópsias indistinguíveis de uma dermatite crônica; 484 (43,7%) foram classificados como paucibacilares (sendo 14,5% indeterminados, 5,7% tuberculóide e 23,5% borderline-tuberculóide) e 78 (7%) multibacilares (sendo 0,9% borderline-borderline, 0,8% borderline-virchowiano e 5,3% virchowianos) (BARBOSA JUNIOR et al., 1998). O acurado diagnóstico da hanseníase é de fundamental importância para todos os aspectos da doença (INTERNATIONAL LEPROSY ASSOCIATION TECHNICAL FORUM, 2002). O teste diagnóstico ideal deveria ser simples, capaz de identificar todos os casos (100% de sensibilidade) e deveria ser negativo em 31 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia todas as pessoas não portadoras de hanseníase (100% de especificidade). No entanto, para esse teste diagnóstico ser avaliado quanto a sensibilidade e especificidade, deve ser comparado a um padrão-ouro. Esse padrão-ouro raramente é infalível e, em hanseníase, não existe esse padrão-ouro (VAN BEERS; DE WIT; KLATSER, 1996). Mesmo o exame histopatológico não pode ser considerado como padrão-ouro, pois mesmo em laboratórios experientes, uma significativa proporção de pacientes hansenianos demonstra ser negativa ou duvidosa ao exame histopatológico (INTERNATIONAL LEPROSY ASSOCIATION TECHNICAL FORUM, 2002). No presente estudo, adotou-se a baciloscopia como padrão-ouro por ser de fácil execução e de rotineira solicitação no serviço de referência do estudo, sendo realizada com equipamento e pessoal técnico treinado para esse fim, além do que é citada como padrão-ouro em diversos estudos na qual é feita a avaliação da eficácia da classificação operacional (CRIPPA et al., 2004; CROFT et al., 1998; DASANANJAL; SCHREUDER; PIRAYAVARAPORN, 1997; GALLO et al., 2003). 32 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 4 FORMULAÇÃO DA QUESTÃO DA PESQUISA 4.1 Pergunta condutora Qual a sensibilidade, a especificidade, o valor preditivo positivo e negativo do critério clínico número de lesões (classificação operacional da hanseníase segundo a OMS), tendo como padrão-ouro a baciloscopia? 4.2 Formulação da hipótese A baciloscopia ainda seria primordial para a classificação dos pacientes em paucibacilar ou multibacilar, melhorando a sensibilidade e especificidade da classificação operacional. 33 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 5 PACIENTES E MÉTODOS 5.1 Desenho do estudo O estudo foi prospectivo, do tipo validação ou avaliação de testes diagnósticos, empregado com o objetivo de determinar o grau com que o teste afere corretamente o diagnóstico, quando comparado a um teste padrão; oferece os mesmos resultados ao ser repetido em condições semelhantes e corretamente diagnostica a presença ou ausência da doença. Em outras palavras tem o objetivo de determinar a validade (por meio da sensibilidade e da especificidade), a reprodutibilidade (considerada as variabilidades biológica intra-observador e interobservadores) e a segurança (avaliada pelo valor preditivo positivo e negativo). Esse tipo de estudo apresenta como limitações as características técnicas dos critérios avaliados, primordialmente quando esses critérios são dependentes de outros fatores além do observador, ou seja de coleta da amostra e de tempo de processamento (PEREIRA, 1995). 34 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 5.2 Limitações metodológicas do estudo Os estudos de validação ou avaliação de testes diagnósticos estão sujeitos a erros casuais. No presente estudo, o fato de pacientes selecionados, que buscaram atendimento por livre demanda em serviço de referência para hanseníase, poderia ter limitado a representatividade da amostra estudada e, portanto, comprometido a validade externa. Sendo assim, extrapolar os resultados da população amostral não-aleatorizada, em serviços de referência, para a população hipotética, poderia envolver uma margem de incerteza? Outra causa de erro em estudos de avaliação de testes diagnósticos é a possibilidade de pacientes com a doença apresentarem um resultado normal do teste diagnóstico. Este tipo de erro pode ser avaliado, calculando-se o intervalo de confiança para a sensibilidade e especificidade do teste. Para minimizar o erro aleatório na fase de delineamento, foi calculado o tamanho da amostra estimando o nível de significância de 0,05, poder de prova de 80%, para uma proporção entre paucibacilares e multibacilares de 3:1. Os indivíduos estudados podem ser diferentes do resto da população que representam ou do grupo controle a que são comparados, em algumas características importantes levando a falha de seleção da amostra. O tamanho insuficiente da amostra também poderia contribuir para um viés de 35 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia seleção. No presente estudo como a população estudada foram pacientes portadores de hanseníase; consideraram-se na amostra as diversas formas clínicas da doença (indeterminada, tuberculóide, dimorfa-tuberculóide, dimorfadimorfa, dimorfa-virchowiana e virchowiana) e o local de estudo foi o centro de referência para o diagnóstico e tratamento da hanseníase no estado da Paraíba, poder-se-ia admitir ter sido boa a representatividade da amostra. Para tentar minimizar o viés de classificação, foi considerado caso de hanseníase, aquele que notificado, preenchia os critérios padronizados pelo Ministério da Saúde (presença de um ou mais dos seguintes achados: lesão de pele com alteração de sensibilidade, espessamento de tronco nervoso ou baciloscopia positiva na pele) (BANGLADESH, 1995), sendo ratificado pela baciloscopia, quando positiva. Foram retirados do estudo os pacientes que apresentaram quadros reacionais, que pela própria natureza da ocorrência poderiam sofrer mudanças de classificação e necessitarem uso de corticóides ou antiinflamatórios não hormonais. Para minimizar o viés de informação e de coleta de dados, os dados foram obtidos pela pesquisadora diretamente por meio de entrevistas individuais e exame clínico dos pacientes. Dessa forma, pode-se supor que os limites metodológicos do estudo foram minimizados. 36 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 5.3 Local do estudo O presente estudo foi realizado no ambulatório de dermatologia do Complexo Hospitalar Clementino Fraga, na cidade de João Pessoa, Paraíba, Brasil, que é considerado como centro estadual de referência para diagnóstico e tratamento de hanseníase. 5.4 População alvo Foi definida como população alvo, os indivíduos portadores de hanseníase, nas suas diversas formas clínicas, que foram atendidos seqüencialmente no ambulatório de dermatologia do Complexo Hospitalar de Doenças Infecciosas Clementino Fraga (João Pessoa), serviço este de referência no diagnóstico e tratamento da hanseníase no estado da Paraíba, no período de junho a dezembro de 2005. 37 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 5.5 Tipo de amostragem A amostra foi não-probabilística, não-aleatória, de conveniência por ter sido obtida em centro de referência para diagnóstico e tratamento da hanseníase, doença escolhida como tema do presente trabalho. 5.6 Cálculo do tamanho da amostra O cálculo do tamanho da amostra para este estudo foi realizado admitindo-se nível de significância de 0,05, poder de prova de 80%, proporção entre paucibacilares e multibacilares igual a 3:1, sensibilidade do método operacional igual a 85,4% (NORMAN; JOSEPH; RICHARD, 2004), obtendo-se um total de 152 pacientes, sendo 114 paucibacilares e 38 multibacilares. Foram estudados 154 pacientes, 112 paucibacilares e 42 multibacilares, segundo a baciloscopia, correspondendo a um poder de prova de 99,6% para um percentual de falso-positivos de 4,6%. 38 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 5.7 Sujeitos da pesquisa Foram considerados sujeitos da pesquisa os pacientes que obedeceram aos critérios de inclusão. 5.7.1 Critérios de inclusão Foram incluídos na pesquisa, os indivíduos com primeira notificação para hanseníase, atendidos no serviço de dermatologia do Complexo Hospitalar Clementino Fraga (João Pessoa - PB), com diagnóstico comprovado de hanseníase pela presença de lesão de pele com alteração de sensibilidade ou espessamento de tronco nervoso ou baciloscopia positiva na pele, conforme critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS), adotados no programa brasileiro de controle da hanseníase (BRASIL, 2002), que não apresentavam reação hansênica no momento do diagnóstico e que ainda não tinham iniciado tratamento. Para inclusão na pesquisa, todos os pacientes foram examinados pela pesquisadora. 39 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 5.8 Métodos 5.8.1 Determinação da sensibilidade cutânea A pesquisa da sensibilidade foi realizada conforme manual de controle da hanseníase padronizado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2002). A pesquisa de sensibilidade térmica foi feita empregando-se dois tubos de ensaio - um com água morna (45°C) e outro com água fria - ou com algodão embebido em éter sulfúrico. Foi pesquisado na área suspeita e na área sã para fins de comparação. A sensibilidade dolorosa foi pesquisada alternandose a ponta e a base de uma caneta, e a tátil, com um chumaço de algodão seco atritado sobre a pele. Sempre comparando as reações sobre a pele suspeita e a pele sã. 5.8.2 Baciloscopia Para a realização da baciloscopia, os pacientes foram encaminhados ao laboratório de bacteriologia do Complexo Hospitalar Clementino Fraga (João Pessoa - PB), onde foram submetidos à coleta de transudato, obtido por punção periférica, nos dois lóbulos auriculares, cotovelos e lesões suspeitas, 40 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia sobre lâmina de vidro de 26 mm x 76 mm, após ter sido feita a identificação do paciente por seu número de registro, na parte fosca da lâmina. O material foi fixado pelo calor, em chama direta, procedendo-se, a seguir, à coloração pelo método de Ziehl-Nielsen (REES, 1985). Seguiu-se a observação de no mínimo 50 campos, em microscópio óptico, de campo claro, com aumento de 400 vezes e converteu-se o resultado pela escala logarítmica de Ridley (RIDLEY; JOPLING, 1966). 41 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 5.8.3 Classificação das formas clínicas segundo critérios clínicos de Ridley e Jopling Para a classificação dos pacientes segundo a forma clínica, foi utilizada a classificação de Ridley e Jopling (1966), cujas características são: Hanseníase tuberculóide (TT): a lesão típica é uma placa grande, eritematosa, com borda periférica bem demarcada e com um centro rugoso ou arenoso, com ressecamento, perda de pêlos e às vezes cicatricial. Há anestesia marcante, exceto na face, cuja perda sensorial pode ser ausente ou de difícil detecção. As lesões são poucas e geralmente solitárias. Um acometimento neural periférico com espessamento grosseiro e irregular está habitualmente presente nas vizinhanças da lesão. A lesão inicial pode ser macular, eritematosa ou hipocrômica. Pode, por vezes, a alteração clínica inicial ser um nervo periférico espessado, visível, ou um dano neural clinicamente diagnosticado como anestesia, analgesia, hiperestesia ou fraqueza muscular. Este dano neural geralmente limita-se a um ou dois nervos. Hanseníase borderline-tuberculóide ou dimorfo-tuberculóide (BT ou DT): as lesões maculares ou em placas lembram as de TT, mas são menores e mais numerosas. Sua superfície é menos seca, a delimitação (muro) periférica é parcial e o crescimento de pêlos é menos afetado. O 42 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia espessamento neural tende a ser mais numeroso e as lesões satélites são presentes, em alguns casos, próximas à periferia de grandes lesões. Hanseníase borderline-borderline ou dimorfo-dimorfo (BB ou DD): as lesões são intermediárias em número e tamanho entre as de TT e as virchowianas. Mostram moderada perda de sensibilidade e algumas exibem o típico aspecto de punched-out ou “queijo-suiço”. Essas lesões apresentam-se como placas eritematosas irregulares com delimitação periférica parcial e um centro hipopigmentado, com aparência de escavação. Podem formar bandas eritematosas ovais ou circulares, com delimitação periférica interna e externa bem definidas. Lesões satélites podem estar presentes. Hanseníase borderline-virchowiana, dimorfo-virchowiana, borderlinelepromatosa ou dimorfo-lepromatosa (BV, DV, BL ou DL): as lesões tendem a ser numerosas e podem ser máculas, placas, pápulas e nódulos. Todavia as lesões diferenciam-se das virchowianas porque são menos numerosas, em comparação ao tempo de evolução, e, embora múltiplas, sua distribuição não é verdadeiramente simétrica em todo o corpo. Algumas placas tendem a ser bem grandes e com áreas anestésicas, alguns nódulos são como perfurados e algumas placas podem ter a aparência de “punched-out”. As lesões também são menos brilhantes. Espessamentos neurais estão usualmente presentes, quando do 43 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia aparecimento das lesões. Não há madarose, ceratite, ulceração nasal ou face leonina. Hanseníase virchowiana ou lepromatosa (VV ou LL): as lesões iniciais podem ser máculas ou pápulas, eritematosas, múltiplas, distribuídas bilateralmente e simétricas. As máculas são pequenas, com delimitação periférica precária. Têm uma aparência aplainada e brilhante, não são anestésicas ou anidróticas, e podem adquirir tardiamente coloração hipocrômica em negros. Não há espessamento neural nesta fase, a menos que seja uma forma evolutiva de hanseníase borderline. Com a evolução da doença, aparecem novas lesões, enquanto as lesões antigas tomam aspecto de nódulos ou placas. Edema de pés e pernas é muito freqüente. Pode ocorrer infiltração difusa da face, conferindo aspecto leonino, pode haver perda de cílios e sobrancelhas. Tardiamente, pode evoluir com ulceração nasal, nariz em sela, ceratite e irite, além de perda de dentes e alterações ósseas em mãos e pés. Em homens, podem estar presentes atrofia testicular com infertilidade, impotência e ginecomastia. A fase neurítica pura não é descrita nesta forma. Hanseníase indeterminada: caracteriza-se por mácula pura em ausência de placas ou nódulos. Essa mácula é hipopigmentada, ocorre em pequeno número e se acompanha de perda discreta de sensibilidade. 44 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 5.9 Variáveis – conceito e categorização 5.9.1 Variáveis sócio-demográficas Idade: admitida como o número de anos de vida informado pelo paciente e conferido pela data de nascimento em documento de identidade. Foi categorizada em faixas etárias descritas no Sistema Nacional de Notificação de Agravos à Saúde (BRASIL, 2003): < 1 ano 1 - 4 anos 5 - 9 anos 10 - 14 anos 15 - 19 anos 20 - 34 anos 35 - 49 anos 50 - 64 anos 65 - 79 anos 80 – 99 anos Sexo: correspondente ao gênero informado pelo paciente, foi categorizado em masculino e feminino. Escolaridade: foi considerada como o maior nível de instrução informado pelo paciente e categorizada em: sem letramento, correspondente aos pacientes que informaram não ler e não escrever ou não ter cursado o ensino formal em qualquer época da vida; 1º grau incompleto; 2o grau e 3o grau. 45 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 5.9.2 Classificação dos pacientes em multibacilar e paucibacilar Os pacientes foram categorizados como multibacilar ou paucibacilar por três classificações. Pela classificação operacional, foi considerado multibacilar o paciente que apresentou mais de cinco lesões cutâneas e paucibacilar, aquele com no máximo cinco lesões. À baciloscopia, o encontro de qualquer número de bacilos, levou o paciente a ser enquadrado como multibacilar, seguindo os critérios adotados pela OMS, sendo considerado paucibacilar quando da ausência de bacilos, obedecidos os critérios de exame (CROFT et al., 1998). Segundo os critérios clínicos de Ridley e Jopling (1966), os pacientes com diagnóstico das formas indeterminadas e tuberculóide foram considerados puramente paucibacilares e os portadores das demais formas foram classificados como multibacilares. 5.10 Coleta dos dados Os pacientes assistidos no local de estudo, por demanda espontânea ou por encaminhamento, no período de junho a dezembro de 2005, foram submetidos a anamnese e exame clínico dermatológico. Aqueles, para os quais foi firmado diagnóstico de hanseníase, foram classificados nas formas 46 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia clínicas, segundo os critérios clínicos de Ridley e Jopling (1966) e encaminhados para a realização de baciloscopia, no laboratório de bacteriologia do Complexo Hospitalar Clementino Fraga. Para os pacientes que obedeciam aos critérios de inclusão, a pesquisadora fez o convite de participação da mesma, explicando seus objetivos, os direitos do paciente ao sigilo de identificação e à desistência de participação sem qualquer prejuízo de seu tratamento. Para os pacientes que concordaram em participar, por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (Apêndice 1), foram coletados também os dados sobre o número de lesões cutâneas no momento do diagnóstico, sendo então os pacientes classificados operacionalmente em paucibacilares e multibacilares. Todas as informações do exame clínico e da baciloscopia foram registrados em protocolo de pesquisa elaborado especificamente para a presente pesquisa (Apêndice 2). 5.11 Processamento e análise dos dados Os dados foram organizados em banco de dados pelo uso do programa EPI-INFO versão 6.04d. Para análise estatística, empregou-se o programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 13.0. 47 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia Na descrição das características amostrais, empregaram-se: distribuição de freqüências absolutas e relativas, assim como os parâmetros estatísticos descritivos de média e desvio-padrão. Para a análise comparativa entre a classificação operacional e a baciloscópica, foi calculado o índice Kappa (κ) de concordância ajustada, para expressar a confiabilidade de um teste, por meio da proporção de concordâncias além da esperada pela chance, classificando-se a concordância conforme o Quadro 1. Quadro 1 – Critérios de interpretação do índice Kappa VALOR DO ÍNDICE Kappa < 0,00 0,00 – 0,20 0,21 – 0,40 0,41 – 0,60 0,61 – 0,80 0,81 – 0,99 1,00 CONCORDÂNCIA Ruim Fraca Sofrível Regular Boa Ótima Perfeita FONTE: PEREIRA, 1995 Procedeu-se também à determinação dos parâmetros estatísticos de validação da classificação operacional comparada à baciloscopia, por meio do cálculo de sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo, com respectivos intervalos de confiança ao nível de significância de 0,05. 48 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia Para descrever a acurácia global da classificação operacional para a alocação do paciente em paucibacilar ou multibacilar, foi utilizada a curva Receiver Operator Characteristic (ROC), que permite verificar o balanço entre sensibilidade e especificidade, auxiliando assim na decisão de qual seria o melhor ponto de corte para o critério número de lesões. 5.12 Considerações éticas Em obediência aos requisitos da Resolução CNS 196/96 e da Declaração de Helsinki de 2002, o projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba, tendo sido aprovado na 60ª Reunião Ordinária, protocolo n° 121/05 (Anexo 1). 49 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 6 RESULTADOS Foram estudados 154 pacientes portadores de hanseníase, diagnosticados no Complexo Hospitalar Clementino Fraga – Paraíba, no período de junho a dezembro de 2005, cujas características sócio-demográficas estão expressas na Tabela 1. Tabela 1 – Distribuição das variáveis sócio-demográficas dos 154 portadores de hanseníase – Complexo Hospitalar Clementino Fraga – Paraíba – junho/dezembro 2005 VARIÁVEIS SÓCIO-DEMOGRÁFICAS Sexo feminino masculino n % 69 85 44,8 55,2 Faixa etária (anos) 05 - 09 10 - 14 15 - 19 20 - 34 35 - 49 50 - 64 65 - 79 80 - 99 3 10 11 48 35 26 19 2 1,9 6,5 7,1 31,2 22,7 16,9 12,3 1,3 Escolaridade Sem letramento 1º grau incompleto 2º grau 3º grau 25 92 30 7 16,2 59,7 19,5 4,5 50 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia Identificou-se predomínio do sexo masculino sobre o feminino (55,2% para 44,8%, respectivamente) e de pacientes na faixa etária de 20 a 64 anos (n=109 casos, 70,8%). A média de idade igualou-se a 39,6 ± 1,56 anos, com variação entre seis anos e 96 anos. Na faixa etária entre 15 e 44 anos, houve 83 casos (53,9%). A maioria dos pacientes não havia completado o ensino fundamental (n=92 casos, 59,7%) (Tabela 1). Questionados quanto à doença atual, a maioria (n=112 casos, 72,7%) dos pacientes negou contágio com portador de hanseníase e apenas um paciente não soube precisar essa informação (Tabela 2). Quanto ao tempo de início de sintomas, identificou-se que a maioria dos pacientes (n=95, 61,7%) buscou atendimento médico decorridos no máximo 12 meses (Tabela 2). Tabela 2 – Distribuição da história de contato com portador de hanseníase e tempo de início dos sintomas dos 154 portadores de hanseníase – Complexo Hospitalar Clementino Fraga – Paraíba – junho/dezembro 2005 HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL Contato com portadores de hanseníase não sim não sabe informar n % 112 41 1 72,7 26,6 0,6 Tempo de inicio dos sintomas < 06 meses 06 a 12 meses 01 a 05 anos 05 anos ou mais não sabe informar 34 61 50 7 2 22,1 39,6 32,5 4,5 1,3 51 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia Ao exame dermatológico, mais freqüentemente as lesões se apresentavam com delimitação periférica parcial (n=60, 39%) ou ausente (n=58, 37,7%); sem lesões satélites (n=141, 91,5%), do tipo mácula hipocrômica (n=58, 37,7%) ou eritematosa (n=47, 30,5%), sem clareamento central (n=113, 73,4%) (Tabela 3). Tabela 3 – Distribuição dos achados ao exame dermatológico dos 154 portadores de hanseníase – Complexo Hospitalar Clementino Fraga – Paraíba – junho/dezembro 2005 ACHADOS DO EXAME DERMATOLÓGICO Delimitação periférica das lesões ausente parcial completa n % 58 60 38 37,7 39,0 24,7 Presença de lesões satélite ausente presente 141 13 91,5 8,4 Tipo de lesão mácula hipocrômica mácula eritematosa placa forma neural pura nódulo fóvea forma difusa 58 47 28 9 7 4 1 37,7 30,5 18,2 5,8 4,5 2,6 ,6 Clareamento central da lesão ausente presente 113 41 73,4 26,6 Acometimento neural periférico com espessamento ausente até 01 tronco neural 2 a 3 troncos neurais múltiplos troncos neurais 96 25 30 3 62,3 16,2 19,5 1,9 52 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia O acometimento neural periférico com espessamento esteve ausente em 96 pacientes (62,3%) e, quando presente, com maior freqüência comprometeu dois a três troncos neurais (n=30, 19,5%) (Tabela 3). A classificação dos pacientes pelo critério de Ridley e Jopling (1966) permitiu diagnosticar maior número de casos nas formas indeterminadas (n= 47, 30,5%) e DT (n= 34, 22,1%) (Gráfico 1). 47 50 número de casos 45 34 40 35 30 30 20 25 18 20 15 5 10 5 formas clínicas 0 Ind ete rmi nad a Tub erc ul Dim óid e (T T) orfo -tub Dim erc ul orfo -dim ó id e (D T) Dim orfo -vir c orfo (DD ) Vir cho w ia na how (VV ian ) a (D V) Gráfico 1 – Distribuição das formas clínicas de 154 pacientes, classificados segundo o critério de RIDLEY; JOPLING (1966) – Complexo Hospitalar Clementino Fraga – junho/dezembro 2005 Considerando a classificação dos pacientes quanto à forma da hanseníase, foram classificados como paucibacilares pelos critérios baciloscópico 53 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia e de Ridley e Jopling (1966) 112 (72,7%) pacientes, e 116 (75,3%) casos, quando se considerou o critério operacional (Gráfico 2). 120 112 116 112 número de casos 100 80 60 41 38 40 42 20 0 baciloscopia operacional Ridley-Jopling critérios de classificação paucibacilar multibacilar Gráfico 2 – Classificação dos 154 pacientes segundo os critérios baciloscópico, operacional e de RIDLEY; JOPLING (1966) – Complexo Hospitalar Clementino Fraga – junho/dezembro 2005 Comparando a classificação da forma clínica pelos critérios baciloscópico e operacional, identificou-se concordância em 126 (81,8%) casos, sendo 100 (64,9%) paucibacilares e 26 (16,9%) multibacilares. Dentre os 28 (18,2%) discordantes, em 16 (10,4%) casos, o critério operacional subestimou a classificação, tendo superestimado em 12 (7,8%) (Tabela 4). Considerando os 112 pacientes paucibacilares pelo critério baciloscópico, 100 (89,3%) tiveram a mesma classificação pelo critério 54 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia operacional. Dentre os 42 pacientes multibacilares classificados pelo critério baciloscópico, 26 (61,9%) tiveram classificação concordante pelo critério operacional. Nos casos em que houve discordância dos critérios, 12 (10,7%) paucibacilares foram falsos positivos pelo critério operacional (Apêndice 3) e 16 (38,1%) foram falsos negativos (Apêndice 4), dentre os 42 multibacilares pelo critério baciloscópico. Tabela 4 – Tabela de contingência entre os critérios operacional e baciloscópico para classificação da forma clínica dos 154 pacientes – Complexo Hospitalar Clementino Fraga – junho/dezembro 2005 Critério operacional multibacilar paucibacilar TOTAL Critério baciloscópico multibacilar paucibacilar 26 12 16 100 42 112 TOTAL 38 116 154 No Quadro 2, estão expressos os resultados de sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo da classificação operacional em relação à classificação baciloscópica, assim como os respectivos intervalos de confiança, ao nível de significância de 0,05. Identificou-se baixa sensibilidade e alta especificidade classificação operacional comparada à classificação baciloscópica (Quadro 2). da 55 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia Quadro 2 – Parâmetros de validade da classificação operacional de hanseníase comparada à classificação baciloscópica – Complexo Hospitalar Clementino Fraga – Paraíba – junho/dezembro de 2005 PARÂMETRO Sensibilidade Especificidade Valor preditivo positivo Valor preditivo negativo VALOR 61,9 89,3 68,4 86,2 IC 95% 45,6 – 76,0 81,7 – 94,1 51,2 – 82,0 78,3 – 91,7 O índice Kappa igualou-se a 0,528 ± 0,080 (p< 0,001), denotando concordância significantemente regular entre as classificações. A curva ROC (Gráficos 3 e 4) permitiu identificar que o ponto de corte para o número de lesões em quatro seria mais acurado que aquele adotado, igual a cinco lesões, aumentando a área sob a curva de 0,493 para 0,568. ROC Curve 1,0 ,8 Sensitivity ,5 ,3 0,0 0,0 ,3 ,5 ,8 1,0 1 - Specificity Diagonal segments are produced by ties. Gráfico 3 – Curva ROC da classificação operacional comparada à baciloscópica admitindo quatro lesões como ponto de corte 56 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia ROC Curve 1,0 ,8 Sensitivity ,5 ,3 0,0 0,0 ,3 ,5 ,8 1,0 1 - Specificity Diagonal segments are produced by ties. Gráfico 4 – Curva ROC da classificação operacional comparada à baciloscópica admitindo cinco lesões como ponto de corte 57 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 7 DISCUSSÃO A hanseníase tem apresentado redução da taxa de prevalência na maioria dos países do mundo, mas mantém níveis elevados de incidência em alguns países em desenvolvimento, nos quais se constitui grave problema de saúde pública, dentre os quais o Brasil e especialmente a região Nordeste (BRASIL, 2003). A dependência da baciloscopia ou da biópsia de pele para o diagnóstico da hanseníase tem sido considerada como fator dificultador, que retarda, sobretudo, a instituição do tratamento, aumentando a disseminação da doença. A OMS, na tentativa de facilitar o diagnóstico, ainda que presuntivo, e alocar o paciente na poliquimioterapia, recomendou o emprego do critério clínico operacional, o qual passou a ser comparado aos padrões baciloscópico e histopatológico (WHO, 2000). No presente trabalho, constatou-se que o critério clínico operacional apresentou baixa sensibilidade e alta especificidade, quando comparado à baciloscopia, todavia é necessário considerar as características amostrais para estabelecer comparações com outras pesquisas nacionais e internacionais. Na presente amostra, observou-se uma predominância discreta do gênero masculino sobre o feminino, numa proporção de 1,2:1 casos, semelhante 58 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia a Aquino et al. (2003), igual a 1,6:1, relatada no Maranhão, entre agosto de 1998 e novembro de 2000, envolvendo 207 novos casos, tendo sido este o único trabalho, com desenho semelhante ao da presente pesquisa, que fez referencia a proporção de gênero, na literatura consultada. Os resultados da presente pesquisa diferiram da proporção obtida a partir dos dados do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, para o estado da Paraíba, nos quais, a partir de 2001, passou a haver predomínio da hanseníase no gênero feminino (BRASIL, 2005). Uma explicação possível para tal diferença seria o aumento da atenção à saúde da mulher no Programa de Saúde da Família (PSF), permitindo maior rastreamento da doença entre mulheres e invertendo a proporção. No Complexo Hospitalar Clementino Fraga, os pacientes estudados derivaram de busca espontânea e não estiveram restritos a encaminhamento pelo PSF. Quanto à faixa etária acometida, a prevalência em adultos jovens entre 15 e 44 anos foi menor que a referida por Aquino et al igual a 63,3%, porém semelhante aos dados do Ministério da Saúde, para o período de 2002 a 2005, para a faixa etária de 20 a 64 anos (BRASIL, 2005). Quanto ao grau de instrução, prevaleceram os casos de hanseníase em pessoas com nível inferior de escolaridade, o que foi similar ao estudo de Aquino et al. (2003), que obtiveram um percentual de 56% pacientes com escolaridade de 1º grau. 59 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia Quando foi questionado o contato prévio com pacientes sabidamente portadores de hanseníase, a maioria dos pacientes respondeu negativamente, o que pode corroborar hipóteses quanto à possibilidade de carreadores nasais assintomáticos do bacilo de Hansen, em países de alta endemicidade, disseminarem a doença (VAN BEERS; DE WIT; KLATSER, 1996). Por outro lado, a partir da detecção de genoma de M. leprae, na Noruega, em material de solo, decorridos vários anos após a morte de todos os hansenianos, aventou-se a hipótese de que o crescimento da bactéria na natureza pode ser uma fonte adicional de contaminação para humanos e animais (MATSUO, 2005). O curto espaço de tempo entre o aparecimento dos sintomas e sinais dermatológicos da hanseníase e a busca por atendimento médico, inferior a um ano, pela maioria dos pacientes pareceu refletir o impacto observado na cidade de João Pessoa das campanhas de combate à hanseníase, fenômeno que tem sido referido na literatura (BBC WORLD SERVICE TRUST, 2003). Um número grande de casos, classificados pelo critério clínico de Ridley e Jopling (1966) na forma indeterminada, é compatível com os achados de Aquino et al. (2003), porém o percentual na forma virchowiana diferiu, pois no estudo desses autores correspondeu a 22,7% do total, bem maior que o encontrado no presente estudo. Considerando as categorizações dos pacientes pelas três classificações adotadas no presente estudo, identificou-se compatibilidade dos resultados deste estudo com os de prevalência na Índia, país responsável por 60 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia cerca de 80% da carga global de hanseníase e que apontam para uma proporção de 70% de casos novos serem paucibacilares (MURTHY, 2004). Avaliando-se o cruzamento entre a classificação operacional e a baciloscópica, a operacional concordou em 61,9% dos casos multibacilares, o que clinicamente acarretaria falta de tratamento adequado para 38,1% dos multibacilares. Visto ser a hanseníase uma doença de amplo espectro, a lesão inicia-se geralmente como uma forma indeterminada, que pode evoluir, dependendo da imunidade do hospedeiro, para o pólo benigno (tuberculóide) ou o maligno (virchowiano) (FOSS, 1999). Clinicamente, uma forma inicial da doença pode se apresentar com poucas lesões, mas já com outras características sugestivas de maior possibilidade de evolução para o pólo maligno. Por esse motivo, buscou-se analisar detalhadamente os 16 casos falso-negativos com classificação operacional discordante da baciloscópica (Apêndice 4), em virtude do subtratamento a que poderiam ter sido submetidos caso o critério operacional tivesse sido adotado isoladamente. Um paciente, classificado como paucibacilar operacional devido à ausência de lesões, apresentava infiltração difusa do tegumento, com edema de pés e hiperemia conjuntival, caracterizando a forma virchowiana, portanto multibacilar pela classificação de Ridley e Jopling (1966). A forma virchowiana, no trabalho de Croft et al. (1998), foi responsável por quatro casos dentre 18 falsonegativos (Apêndice 4). 61 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia Dois casos, sem lesões cutâneas visíveis a olho nu, apresentavam alterações tróficas e mão em garra, sugerindo tratar-se da forma neural pura. Essas formas neurais puras são de diagnóstico difícil e, muitas vezes, requerem biópsias neurais (KUMAR et al., 2004); pesquisa de DNA do M. leprae amplificado pela reação de cadeia de polimerase (PCR), método mais recentemente empregado nesses casos (BEZERRA DA CUNHA et al., 2005) ou sorologia para pesquisa do antígeno específico do agente infeccioso (anti PGL-1) (JARDIM et al., 2005), métodos esses que não estão disponíveis no serviço de referência do estudo. No entanto, nesses dois casos, às alterações tróficas e de extremidade, associou-se acometimento neural com espessamento em mais de dois sítios, reforçando a hipótese diagnóstica de ser multibacilar (Apêndice 4). Há referência na literatura de que a forma neural pura é geralmente negativa ao exame baciloscópico de pele (JARDIM et al., 2005), fato aparentemente conflitante com os resultados da baciloscopia da presente pesquisa. Pode-se aventar a hipótese da existência de lesões cutâneas em sítios outros de difícil acesso, como mucosas nasais ou outras áreas pouco visíveis, não caracterizando formas realmente neurais puras. Houve outros quatro pacientes, com uma lesão visível. Um apresentava-se clinicamente com infiltração da base da lesão e delimitação periférica parcial da lesão; um outro tinha mácula eritematosa de limites imprecisos e mais de três troncos neurais acometidos e dois pacientes apresentavam-se com mácula hipocrômica. Um desses pacientes tinha também 62 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia múltiplos troncos palpáveis e lesão com mais de 10 cm, e o outro, apresentava clareamento central da lesão (Apêndice 4). Essas características foram suficientes para enquadrá-los na classificação clínica borderline ou dimorfa, na qual o encontro de bacilos é mais provável (RIDLEY; JOPLING, 1966). Ranjan Kar et al. publicaram, em 2004, um caso com lesão única em face, que, ao exame clínico, apresentava infiltração de base, bordas imprecisas e teste de sensibilidade preservado, e, aos exames baciloscópico e anatomopatológico, índices baciloscópicos fortemente positivos. Depreende-se assim que a presença de múltiplos bacilos pode estar restrita a uma única lesão, do que derivou a recomendação desses autores para a realização da baciloscopia em todos os pacientes para diferenciar as formas paucibacilares e multibacilares, independente do número de lesões. No grupo dos falso-negativos, pelo critério operacional do presente estudo, um paciente apresentava-se com duas lesões, sendo uma com cerca de 30 cm de diâmetro e outra semelhante à fóvea, achado que sugeriu forma clínica dimorfa (Apêndice 4). Cinco pacientes apresentavam três lesões visíveis, com delimitação periférica parcial, ou seja, bordas periféricas mal delimitadas, achado sugestivo de tendência à evolução para a forma dimorfa, que, segundo a orientação da OMS, deve ser tratada como multibacilar (WHO, 2000). 63 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia Com quatro lesões, havia um paciente com nódulos visíveis, caracterizando-o no polo dimorfo-virchowiano, de baixa imunidade e com positividade esperada ao exame baciloscópico (RIDLEY; JOPLING, 1966) (Apêndice 4). Dois pacientes, com cinco lesões, poderiam ser caracterizados clinicamente como multibacilares, pela presença de nódulos, que confere uma classificação clínica borderline-virchowiana, ou de máculas eritematosas de delimitação periférica parcial, portanto bordeline (Apêndice 4). Frente ao exposto, não seria fortemente plausível que clinicamente alguns desses pacientes fossem alocados como potencialmente multibacilares, caso tivessem sido avaliados segundo os critérios clínicos de Ridley e Jopling (1966), ao invés do critério exclusivo do número de lesões? No presente estudo, com relação aos falso-positivos (Apêndice 3), dos 112 pacientes paucibacilares, 12 seriam expostos à maior duração do tratamento e à adição de mais um agente farmacológico desnecessariamente, sujeitos aos efeitos adversos das drogas. Revendo detalhadamente esses 12 casos falso-positivos (Apêndice 3), observou-se que um paciente apresentava mais de dez lesões cutâneas ao exame físico, inclusive já com fóvea. Em seis pacientes observavam-se máculas eritematosas e mais de cinco lesões, porém, dentre eles, três apresentavam características que os enquadrariam em formas dimorfo-tuberculóides, segundo 64 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia os critérios clínicos. Essas formas, segundo Ridley e Jopling (1966), podem ter baciloscopia positiva ou negativa. Três pacientes apresentavam-se com características gerais de migração para a forma dimorfa, mas com predomínio de máculas hipocrômicas e dois pacientes apresentavam-se com predomínio de placas (Apêndice 3). Esses casos falso-positivos poderiam ser explicados por meio de duas linhas de raciocínio. A primeira linha envolve a consideração da sensibilidade e da especificidade da baciloscopia. Na literatura consultada, embora a especificidade da baciloscopia seja aproximadamente de 100%, a sensibilidade varia conforme o estudo (ANDRADE et al., 1996; GROENEN et al., 1995; MOSCHELLA, 2004; VAN BRAKEL; SOLDENHOFF; MCDOUGALL, 1992). Estudo de Andrade et al. (1996) demonstrou que, se a classificação fosse apenas baciloscópica, 20% de casos multibacilares seriam classificados como paucibacilares. Groenen et al. (1995) obtiveram, em Bangladesh, resultados baciloscópicos com uma sensibilidade de 88,8%, resultado que atribuíram às “perdas” por casos borderline-tuberculares em que o bacilo foi identificado apenas nas biópsias das lesões, sendo que, dos 10 casos falso-positivos, seis tinham índice baciloscópico de 1+, próximo aos nervos dermais; três tinham um índice baciloscópico de 2+ nos nervos e 1 tinha um índice baciloscópico de 3+, todos identificados pela biópsia. 65 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia Da mesma forma, van Brakel, Soldenhoff e McDougall (1992) descreveram quatro casos clínicos de pacientes com baciloscopias cutâneas negativas e positividade dos índices baciloscópicos nos exames anatomopatológicos. Como, no presente estudo, o padrão-ouro foi a baciloscopia e não foi realizado o exame histopatológico das lesões, não se pode afirmar, com certeza, se estes pacientes realmente pertenciam ao grupo de verdadeiramente negativos à baciloscopia cutânea, que só seriam positivos na pesquisa baciloscópica feita em sítios neurais ao exame histopatológico. Outra linha de raciocínio seria a confiabilidade de alguns destes exames baciloscópicos. Esse é um exame operador-dependente e que, como não houve um segundo examinador ou uma contra-prova em outro serviço, poder-seiam questionar os resultados. Embora padronizada, alguns sítios podem ser mais sensíveis ao exame baciloscópico que outros (GROENEN et al., 1995). Essa linha de raciocínio poderia sugerir uma falha do presente estudo, pela não adoção do exame histopatológico das lesões, que seria adotado como padrão ouro. Todavia em consonância com o objetivo desta pesquisa, buscou-se validar a classificação operacional mantidas, o máximo possível, as condições diagnósticas que o centro de referência, local do estudo oferece. Essa conduta foi adotada também em virtude das condições de operacionalização da pesquisa, já que o centro de referência, local do estudo, não disponibiliza exame histopatológico de lesões em sua rotina diagnóstica. 66 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia Avaliando-se pela curva ROC, o ponto de corte neste estudo para melhorar a sensibilidade da classificação operacional, seria de quatro lesões. Norman, Joseph e Richard (2004), em estudo semelhante, porém retrospectivo, envolvendo 5.439 pacientes, determinaram um ponto de corte em seis lesões, que também é proposto pela OMS como adequado (WHO, 2000). Uma explicação possível para um ponto de corte menor, identificado no presente estudo, poderia ser a presença do espectro clínico variado no qual um número menor de lesões já representava forma multibacilar, todavia este não foi objetivo do presente trabalho. A baixa sensibilidade identificada no presente estudo do critério operacional comparado a baciloscopia, foi preocupante e concordou com a preocupação internacional quanto a classificação mais adequada para a alocação dos pacientes com hanseníase, no esquema de poliquimioterapia (CROFT et al., 1998; RANJAN KAR et al., 2004). Nos últimos anos, tem havido um alerta para a possibilidade da classificação baseada apenas em número de lesões estar sendo insuficiente para estabelecer um critério correto de classificação paucibacilar-multibacilar, considerando-a como especialmente perigosa quanto à alocação errônea dos multibacilares como paucibacilares (CROFT et al., 1998; RANJAN KAR et al., 2004). A partir da análise detalhada dos diagnósticos falso-positivos e falsonegativos da presente pesquisa, detectou-se que a consideração adicional do 67 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia tamanho das lesões de hanseníase e do acometimento de nervos periféricos pareceu permitir uma classificação mais adequada, constatação esta referida por outros autores (KUMARASINGHE; KUMARASINGHE, 2004). Kumarasinghe e Kumarasinghe (2004) aventaram a possibilidade de considerar grandes lesões, maiores que 10 cm de diâmetro, como multibacilares, mesmo quando o total de lesões fosse menor que cinco. Estes autores se basearam no fato de o acometimento neural e a hipopigmentação patológica na hanseníase serem dependentes da resposta imune contra o bacilo e sugeriram que, quanto maior à lesão, maior seria o número de bacilos que causariam a doença. Croft et al. (1998) compararam duas classificações clínicas, a de Bangladesh e a operacional, em um estudo com 2.636 casos, obtidos a partir da base de dados do Banglasdesh Acute Nerve Damage Study. Associando a baciloscopia a uma das duas classificações clínicas, esses autores obtiveram sensibilidade de 92% e 89% respectivamente, o que representou um ganho diagnóstico tão importante que os autores afirmaram ser a classificação da hanseníase sem o uso da baciloscopia, menos que o ideal. Uma interessante revisão sobre o diagnóstico e classificação da hanseníase foi feita durante o International Leprosy Association Technical Forum (2002), analisando relevantes trabalhos publicados sobre as comparações entre as classificações clínicas e a baciloscópica, ressalta a falha do uso da 68 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia classificação operacional como único critério diagnóstico, expressa por Croft et al. (1998): A classificação operacional da OMS dos casos multibacilares é de simples aplicação e tem um razoável balanço entre a sensibilidade e a especificidade, porém é necessário reconhecer que por esta classificação uma pequena, mas significante proporção de casos multibacilares pela baciloscopia é tratada como paucibacilares. O estudo de Dasananjal, Schreuder e Pirayavaraporn (1997) demonstrou que o risco de recidiva pode ser grande no pequeno grupo multibacilar erroneamente classificado e tratado como paucibacilar. Os resultados de alguns desses estudos estão ilustrados no Quadro 3. Quadro 3 – Sensibilidade e especificidade de vários critérios clínicos para classificar pacientes hansenianos, comparados com o método bacteriológico como padrão AUTORES Critérios para classificação de multibacilar Índice clinicos baciloscópico Sensibilidade (%) Especificidade (%) Becx-Bleumink (1991) Número de lesões e nervos >1 92 42 Groenen (1995) ≥10 lesões ou 4-9 lesões e ≥2 nervos >0 (em biópsia) 92 41 >2 áreas corporais >0 (em biópsia) 93 39 Croft (1998) >5 lesões >0 89 88 Dasananjal (1997) >5 lesões >1 88 88 Buhrer-Sekula (2000) >5 lesões >0 85 81 van Brakel (1992) 69 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia A hanseníase ainda é uma doença altamente prevalente em nosso País e, por ocupar o segundo lugar mundial em número de casos (ARAÚJO, 2003), pode ser aceitável a utilização da classificação operacional baseada no número de lesões nos serviços básicos de saúde no intuito de buscar tratar o maior número de pacientes de hanseníase e descentralizar o diagnóstico e tratamento. Ainda assim é necessário admitir que essa classificação puramente numérica é falível, tal como se demonstrou no presente estudo por uma sensibilidade de 61,9% e uma especificidade de 89,3%. Obtiveram-se poucos pacientes multibacilares e, por isso, outros estudos, de preferência prospectivos, com baciloscopia e histopatologia devem ser padronizados para ratificar essa variação na sensibilidade e especificidade da classificação operacional, assim como outras alternativas diagnósticas, como o PCR ou a pesquisa de anti PGL-1, podem ser agregadas. A OMS tinha uma meta de eliminar a hanseníase como problema de saúde pública até o ano de 2005. As campanhas de esclarecimento à população obtiveram algum êxito, visto que 11 milhões de casos de hanseníase foram tratados ao redor do mundo (WHO, 2004). Todavia, novos casos de hanseníase continuam sendo diagnosticados nos países endêmicos, como no Brasil, cuja eliminação não foi alcançada (WHO, 2004). 70 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia Uma questão vital, levantada por Lockwood e Suneetha (2005), ainda não tem resposta: “por quê a poliquimioterapia não interrompeu a transmissão da doença?” Alguns autores como Lockwood e Suneetha (2005) e Awofeso (2005) já propõem que esta “eliminação” talvez seja utópica. Muitas dúvidas ainda existem sobre a epidemiologia e a patogenia dessa doença. Awofeso (2005) chega a afirmar o seguinte: [...] a hanseníase poderia ser mais apropriadamente classificada como uma doença crônica estável ao invés de uma doença aguda responsiva às campanhas de eliminação e que parece claro que, a menos que as lacunas ainda existentes a respeito da microbiologia e transmissão sejam preenchidas, a eliminação da hanseníase é improvável de progredir para a erradicação da mesma. A OMS vem adotando uma postura simplista frente à hanseníase, com receitas pré-fabricadas de diagnóstico e tratamento. A perspectiva de eliminação da hanseníase inibiu as pesquisas, com algumas exceções, como a pesquisa do genoma do M. leprae. Importantes fundações como a de Bill e Melinda Gates Foundation decidiram não mais financiar pesquisas em hanseníase, pois tiveram a percepção de não ser mais um problema importante (LOCKWOOD; SUNEETHA, 2005). A postura da OMS frente ao excesso de simplificação na assistência ao paciente com hanseníase vem gerando várias indagações. A retirada de um exame simples, como a baciloscopia, da rotina diagnóstica no Brasil com o argumento de que a rede de assistência seria incapaz 71 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia de realizar este exame é questionada, pois esta mesma rede realiza contagem de CD4 e CD8 e avaliação da carga viral de HIV como orientadores da terapêutica retroviral (TALHARI, PENNA, 2005). Por isso pergunta-se: não estaria na hora de rever a real situação epidemiológica da hanseníase e identificar onde ela ainda é prevalente? Não priorizá-la, como no passado, é acertado quando ainda existem países de alta prevalência e incidência para essa doença? Não seria adequado pesquisar um esquema terapêutico padrão único, como existe para o M. tuberculosis que dispensaria a classificação em paucibacilar ou multibacilar, permitindo tratamento adequado dos hansenianos? Por ser a hanseníase bastante complexa, seu diagnóstico, embora deva ser descentralizado, parece exigir suporte técnico e profissional mais adequado no sentido de se aprimorar e tratar mais adequadamente os hansenianos. Estudar e pesquisar mais sobre essa doença, poderá ser um caminho para melhorar o diagnóstico e oferecer aos doentes a melhor forma de tratamento, pois só se prioriza o que se conhece e só se conhece o que se pesquisa. 72 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 8 CONCLUSÕES Quanto às características sócio-demográficas, o gênero masculino prevaleceu sobre o gênero feminino, numa proporção de 1,2 para 1, quanto à faixa etária prevaleceram os casos entre 20 e 64 anos, com 1º grau incompleto. Cerca de dois terços dos pacientes negavam contato prévio com portadores hansenianos e a maioria relatava até um ano de início dos sintomas. As características clínicas mais prevalentes foram delimitação parcial das lesões, ausência de lesões satélites, mácula (hipocrômica e eritematosa), ausência de clareamento central e ausência de acometimento com espessamento neural periférico. Segundo os critérios clínicos de Ridley e Jopling (1966), as formas indeterminada e dimorfa-tuberculóide foram as mais prevalentes, com 30,5% e 22,1%, respectivamente, seguidas das formas tuberculóide, dimorfo-virchowiana e virchowiana. A sensibilidade e a especificidade da classificação operacional foram de 61,9% (IC 95%=45,6%-76,0%) e 89,3% (IC 95%= 81,7%-94,1%), respectivamente, com um valor preditivo positivo de 68,4% e valor preditivo negativo de 86,2%, tendo quatro lesões como melhor ponto de corte para a correta alocação do paciente como paucibacilar ou multibacilar. 73 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1 ANDRADE, V. L. G. et al. Paucibacilar ou multibacilar? Uma contribuição para os serviços de Saúde. Hansen Int, v. 21, n. 2, p. 6-13, 1996. AQUINO, D. M. C.; CALDAS, A. J. M.; SILVA, A. A. M.; COSTA, J. M. L. Perfil dos pacientes com hanseníase em área hiperendêmica da Amazônia do Maranhão, Brasil. Rev Soc Bras Med Trop, v. 36, p. 57-64, 2003. ARAÚJO, M. G. Hanseníase no Brasil. 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Leprosy elimination project status report 2003. WHO. Geneva, 2004. 10 APÊNDICES 79 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 10.1 APÊNDICE 1 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Título da pesquisa: Classificação Operacional da Hanseníase Baseada no Número de Lesões Cutâneas (OMS) x Classificação Baciloscópica . Validação para Alocação do paciente na poliquimioterapia. Pesquisadora responsável: Danielle Medeiros Marques Endereço: Rua Alice de Almeida, 40. Cabo Branco. João Pessoa/PB. Cep: 58045320 Fone: (83) 226-6714 - Email: [email protected] Declaro que fui informado (a) que esta pesquisa destina-se a investigar melhor algumas dúvidas sobre a melhor classificação da hanseníase, doença da qual estou sendo diagnosticado (a) e que serei tratado (a), para fins de iniciar o tipo de tratamento. Esta pesquisa será realizada no Hospital Clementino Fraga- João Pessoa/PB, através da aplicação de entrevista sobre alguns fatos da minha vida (como idade, sexo, grau de escolaridade) e exame clínico, ou seja, serei submetido (a) a exame da minha pele completa, com a finalidade de verificar quantas manchas ou alterações da minha pele estão presentes no momento do meu diagnóstico. Fui informado (a) que minha identidade será preservada e que não haverá nenhuma forma de meu nome ou alguma particularidade minha ser exposta para outros. Fui informado (a) também que será realizado um exame chamado baciloscopia em minhas orelhas, cotovelos e em alguma mancha da minha pele, exame este que consiste em fazer leve picada nestes locais, a fim de verificar se existe nestes locais a bactéria que causa a hanseníase. Este exame será realizado sem custo algum para mim e é realizado rotineiramente em todos os pacientes com hanseníase acompanhados neste hospital Clementino Fraga. Sendo assim, concordo em participar como voluntário não remunerado dessa pesquisa, estando ciente dos riscos e benefícios destes procedimentos para minha pessoa, conforme exposto pela equipe de estudo. Sei que tenho a liberdade de retirar meu consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo sem que isso traga prejuízo para mim. Visto que nada tenho contra a pesquisa, concordo em assinar o presente termo de consentimento. João Pessoa, _____,_____, _____ . Impressão digital ______________________________________ Nome do Voluntário Assinatura Testemunhas: __________________________________________ __________________________________________ ______________________________________ Pesquisador responsável 10.2 APÊNDICE 2 - Protocolo da pesquisa 81 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia FPS GRC JGA MCBS MPS RLS SAC SJS TFS 6 7 8 9 10 11 12 FABS 3 5 DAN 2 4 AKMR 1 INICIAIS completa ausente completa completa completa parcial parcial completa ausente parcial parcial parcial Delimitação periférica das lesões ausente ausente ausente presente ausente ausente ausente ausente ausente ausente presente ausente Presença de lesões satélites presente ausente ausente mácula eritematosa mácula eritematosa mácula hipocrômica presente ausente ausente ausente mácula hipocrômica mácula hipocrômica mácula eritematosa mácula eritematosa ausente presente ausente presente ausente Clareamento central da lesão placa fóvea placa mácula eritematosa mácula eritematosa Tipo de lesão ausente ausente 2 a 3 troncos neurais 7 10 10 10 6 até 01 tronco neural ausente 8 6 7 10 11 6 6 Número de lesões ausente ausente ausente ausente ausente 2 a 3 troncos neurais 2 a 3 troncos neurais Espessamento neural periférico 4 3 5 15 12 5 5 5 4 3 9 7 Tamanho da maior lesão classificação operacional, comparada à classificação baciloscópica multibacilar multibacilar multibacilar multibacilar multibacilar multibacilar multibacilar multibacilar multibacilar multibacilar multibacilar multibacilar Classificação operacional paucibacilar paucibacilar paucibacilar paucibacilar paucibacilar paucibacilar paucibacilar paucibacilar paucibacilar paucibacilar paucibacilar paucibacilar Classificação baciloscópica DT DV DD DD DD DD DT DD DD DD DD DD Classificação de RidleyJopling 10.3 APÊNDICE 3 – Achados do exame clínico dermatológico dos 12 pacientes falso-positivos pela Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 82 APS ASC BMR CASS DBS EFS ERS FSS 1 2 3 4 5 6 7 8 INICIAIS parcial ausente não se aplica parcial parcial parcial parcial parcial Delimitação periférica das lesões presente ausente presente ausente mácula hipocrômica mácula eritematosa mácula hipocrômica mácula eritematosa forma neural pura ausente não se aplica ausente ausente ausente ausente ausente ausente ausente nódulo mácula eritematosa não se aplica ausente mácula hipocrômica ausente Clareamento central da lesão Tipo de lesão Presença de lesões satélites 1 4 até 01 tronco neural 2 a 3 troncos neurais 0 3 3 1 3 3 Número de lesões 2 a 3 troncos neurais ausente ausente ausente ausente 2 a 3 troncos neurais Espessamento neural periférico 10 3 0 7 10 3 5 5 Tamanho da maior lesão classificação operacional, comparada à classificação baciloscópica paucibacilar paucibacilar paucibacilar paucibacilar paucibacilar paucibacilar paucibacilar paucibacilar Classificação operacional multibacilar multibacilar multibacilar multibacilar multibacilar multibacilar multibacilar multibacilar Classificação baciloscópica DT DV DT DT INDETERMINADA TT INDETERMINADA DT Classificação de Ridley-Jopling 10.4 APÊNDICE 4 – Achados do exame clínico dermatológico dos 16 pacientes falso-negativos pela Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 83 JBS JCS JJH JMG JVSG SBS SSS TPS 9 10 11 12 13 14 15 16 INICIAIS parcial completa parcial não se aplica não se aplica completa completa ausente Delimitação periférica das lesões ausente presente presente mácula eritematosa mácula hipocrômica mácula eritematosa ausente ausente ausente não se aplica forma neural pura não se aplica não se aplica forma difusa não se aplica presente ausente mácula hipocrômica fóvea ausente Clareamento central da lesão nódulo Tipo de lesão ausente ausente ausente Presença de lesões satélites 2 a 3 troncos neurais ausente ausente 2 a 3 troncos neurais 3 1 5 0 0 2 até 01 tronco neural ausente 1 5 até 01 tronco neural 2 a 3 troncos neurais Número de lesões Espessamento neural periférico 10 4 10 0 0 30 10 2 Tamanho da maior lesão paucibacilar paucibacilar paucibacilar paucibacilar paucibacilar paucibacilar paucibacilar paucibacilar Classificação operacional multibacilar multibacilar multibacilar multibacilar multibacilar multibacilar multibacilar multibacilar Classificação baciloscópica DT INDETERMINADA DD DT VV DD INDETERMINADA MVDV Classificação de Ridley-Jopling Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia 84 11 ANEXO - APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA 86 Marques, D. M. Classificação operacional da hanseníase baseada no número de lesões cutâneas (OMS) x classificação clínico-baciloscópica. Validação para alocação do paciente na poliquimioterapia