O pensamento de Max Weber

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O pensamento de Max Weber
Prof. João Borba, set. De 2009 (refeita em maio de 2010)
1. Weber procura sempre mostrar que o conhecimento humano é limitado.
Weber, além de sociólogo, era historiador e economista, formado em Direito, e bom
conhecedor de filosofia. Escreveu sobre muitos e variados assuntos. Sua obra foi influenciada
principalmente pelos pensamentos de Nietzsche e Marx, dirigindo críticas principalmente ao segundo
dos dois, mas aproveitando os estudos de ambos. Seus livros considerados mais importantes são três:
Economia e sociedade, obra extensa, de dois grandes volumes, na qual se destacam seus estudos
sobre as diferentes formas de dominação e organização política; Ciência e política: duas vocações,
pequeno volume no qual examina as relações entre a atividade política e a investigação científica,
diferenciando-as e colocando a segunda a serviço da primeira, isto é, a ciência como atividade nãopolítica que serve fonte de fornecimento de informações necessárias ou úteis para a ação política; e
(como mais famoso dos três) A ética protestante e o espírito do capitalismo, onde examina o
processo histórico de nascimento do Capitalismo como forma de organização dominante a partir do
fim da Idade Média, e mostra a importância dos valores morais protestantes como base de um modo
de comportamento social que favoreceu fortemente o desenvolvimento desse tipo de organização.
É muito difícil compreender com clareza o conjunto todo do pensamento de Max Weber. É
difícil porque ele mesmo diz que não é possível formar uma teoria tão completa, e tão perfeita, que
possa dar conta de explicar de uma vez só tudo o que observamos nas sociedades humanas. Também
não acha possível encontrar uma única noção central que possa servir sozinha para entendermos, a
partir dela, tudo o que encontramos em uma sociedade. Nem uma razão que explique sozinha todas
as situações diferentes que encontramos em uma mesma sociedade.
Isso quer dizer que não se consegue encontrar, nos textos de Weber, alguma idéia ou algumas
poucas idéias principais que sirvam para entendermos como funciona o conjunto todo do pensamento
dele. O que encontramos é uma porção de estudos separados, cada um sobre um assunto diferente na
área de Sociologia, e Weber estuda cada um desses assuntos de maneira diferente.
Mas de qualquer modo, podemos pelo menos apontar alguns traços comuns que aparecem na
maioria dos estudos desenvolvidos por ele, o que pode servir como uma espécie de introdução.
Um desses traços comuns é justamente este: Weber diz que devemos evitar acreditar demais
em nossas teorias, diz que devemos sempre deixar as teorias em aberto para serem novamente
investigadas e corrigidas ou completadas com novas descobertas, e que o melhor é, além disso,
sempre deixarmos bem claro quais são os limites das nossas teorias, o que é que nós ainda não
conseguimos explicar com elas.
Segundo Weber, o máximo que conseguimos é encontrar algumas das várias razões que
podem ajudar a explicar o que encontramos em uma sociedade estudada, nunca todas. Ou então
podemo encontrar uma razão bastante importante, mas nunca a única. Isso principalmente porque,
segundo ele, nunca estamos realmente descobrindo toda a verdade como ela é, e sim apenas
construindo uma teoria sobre uma parte da verdade, e essa teoria explica apenas como
provavelmente essa parte da verdade deve ser. Não há como termos certeza de estarmos
completamente certos. Weber vai ainda mais longe nisso: diz que se acreditarmos demais nas nossas
teorias a respeito das coisas, podemos acabar não percebendo alguns erros sérios, ou deixando de
examinar outras teorias que talvez explicassem aquela questão tão bem quanto a nossa, ou até
melhor.
Para evitar esse tipo de coisa, o que ele propõe é que os sociólogos, ao invés de tentarem
encontrar uma teoria inteira que responda tudo sobre o modo como as sociedades se organizam,
procurem apenas estudar uma questão sociológica específica, tentando encontrar alguma razão
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importante que possa ajudar a explicar como as coisas são em uma sociedade, mas que não exclua
outras razões possíveis.
O próprio Weber é autor de vários estudos desse tipo. O mais famoso é o livro A ética
protestante e o espírito do capitalismo, no qual procura demonstrar que uma das principais razões
que explicam como o Capitalismo se tornou dominante depois da Idade média, foi a ética da Igreja
Protestante, que valorizava muito o trabalho e o sucesso no trabalho, condenando a ideia de se buscar
prazer ou benefícios pessoais no trabalho ou nos resultados do trabalho. O trabalho seria, neste caso,
um caminho de ascensão espiritual e uma maneira de glorificar Deus. Segundo Weber, esses valores
a respeito do trabalho acabaram impulsionando as sociedades a se organizarem de maneira mais
racional ou em instituições organizadas mais racionalmente, nas quais as ações são orientadas por
regras a serem cumpridas, e realizadas com sentimento de dever a cumprir, e não por impulsos
irracionais ou sentimentais, em busca de prazer, satisfação ou outras coisas de interesse apenas
privado.
Foi por essa via, então, que foram se organizando as empresas privadas no Capitalismo:
embora em última análise sirvam ao interesse privado, foram se organizando como se devessem
funcionar de maneira mais racional e burocrática. Só mais tarde é que esse modo racional de
organizar o trabalho se mostrou adequado e útil para os interesses privados das empresas, que se
ligam ao lucro crescente. Evidentemente, isso serve para explicar também as instituições
organizacionais de interesse público, que se estruturam em torno de leis e normas de funcionamento
e com base em cargos e funções. É curioso notar, aliás, como Weber – que não deixa de sofrer uma
certa influência de Karl Marx – coloca de certo modo a organização voltada para o interesse público
(para o que é mais racional e que segue as mesmas regras comuns a todos) como modelo de bom
funcionamento para a própria organização privada (que curiosamente, para seu bom funcionamento,
deve sempre tentar evitar ser arrastada por outros interesses privados além daquele único e mais
geral que a dirige, que é o objetivo de lucro). Weber, como Marx, considera de um modo geral
superior aquela organização da sociedade e de suas instituições que é mais racionalmente planejada.
Mas esta racionalização atingida a partir valores protestantes em relação ao trabalho seria,
para Weber, apenas uma das várias razões que explicam o Capitalismo. Seria uma boa razão,
importante porque explicaria muitas coisas a esse respeito, mas apenas uma entre várias outras
razões. E além disso, o próprio Weber diz, firmemente, que sempre seria possível explicar o
Capitalismo de alguma outra maneira, diferente desta. Em outras palavras, diz que isso que ele
mesmo julga ter descoberto não deve ser considerado como verdade absoluta e definitiva.
Esse posicionamento se mostra ainda mais radical quando Weber declara o que o sociólogo
deve procurar quando examina uma sociedade: ele não deve tentar encontrar os traços comuns entre
sociedades diferentes, não deve procurar de modo algum aquilo que sempre parece estar presente em
toda e qualquer sociedade – como se fosse uma verdade absoluta e válida para todas as sociedades.
Pelo contrário: deve procurar o que existe de diferente naquela sociedade que está estudando, aquelas
características peculiares que são só dela, o que quer dizer que nosso conhecimento sobre uma
sociedade vale só para essa sociedade, e o que vamos encontrar em outra sociedade será diferente. O
conhecimento, segundo Weber, é sempre limitado.
Apesar disso, Weber reconhece que sempre que fazemos uma teoria, necessariamente usamos
algumas noções ou conceitos gerais, que servem para explicar os casos particulares que estamos
examinando. Seria muito difícil escapar disso, talvez até impossível, a menos que ficássemos apenas
observando o que ocorre em uma sociedade e descrevendo essas ocorrências, sem fazermos nenhuma
comparação com o que ocorre em outras sociedades. Acontece que se ficarmos só observando e
descrevendo as coisas não vamos conseguir encontrar as causas por detrás delas, aquilo que pode ter
levado essas ocorrências a acontecerem, porque essas causas nem sempre aparecem à primeira vista.
As teorias servem justamente para tentarmos explicar quais podem ser essas causas.
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Como seria possível, então, fazer uma teoria para explicar as causas que podem ter levado as
coisas a ocorrerem do modo como ocorrem especificamente em uma sociedade particular que
estamos examinando? Se não basta apenas observar e descrever, e é preciso ir atrás das causas
daquilo que estamos observando, será que teremos que construir uma nova teoria inteirinha só para
examinarmos cada sociedade que quisermos estudar? Será que vamos ter que trabalhar com razões e
causas que só explicam essa sociedade em particular que estamos examinando no momento, e mais
nenhuma outra?
Não. Weber encontra uma solução criativa para esse problema: encontra uma maneira de
usar as próprias noções e conceitos gerais como ferramentas para entendermos cada sociedade
particular, e cada fenômeno particular dentro de cada sociedade, com as suas condições
específicas, sem as confundirmos umas com as outras.
A maioria dos outros sociólogos procura sempre conceitos gerais que sirvam para explicar
todas as sociedades (como por exemplo o conceito de luta de classes de Karl Marx, que seria válido
para toda e qualquer sociedade). Quando encontram os conceitos gerais que estavam procurando,
esses sociólogos tendem a acreditar nesses conceitos como se eles exprimissem alguma espécie de
verdade absoluta por detrás de todas as organizações e ocorrências sociais. Max Weber, pelo
contrário, prefere considerar esses conceitos apenas como tipos ideais, como conceitos criados
artificialmente por nós apenas para nos ajudarem a entendermos aquilo que estamos estudando no
momento.
Pelo método de Weber, muitas vezes podemos utilizar os mesmos tipos ideais no estudo de
sociedades diferentes ou de fenômenos diferentes em uma mesma sociedade. Mas nem sempre: às
vezes é preciso criar novos tipos para entendermos melhor aquilo que estamos estudando no
momento. Além disso, quando entendemos melhor de que maneira Weber utiliza esses tipos ideais
(ou conceitos gerais) como parte do seu método de estudo, percebemos que realmente eles acabam
servindo como ferramentas para entendermos melhor as particularidades de cada sociedade ou
fenômeno social estudado, e não como verdades nas quais devamos acreditar.
2. O método dos tipos ideais de Weber, e como ele serve para estudar as particularidades
de cada sociedade ou fenômeno social.
Como podemos ver, é para garantir que os sociólogos sempre se lembrem de que o
conhecimento que podem conseguir é limitado, que Weber cria o seu famoso método dos tipos
ideais.
O primeiro passo do método é criar os tais tipos ideais, sempre lembrando que são criações
nossas, e não a própria realidade. Como podemos criá-los? Começando por onde muitos sociólogos
começam quando procuram conceitos gerais para explicarem as coisas em todas as sociedades: pela
observação e comparação das sociedades e dos fenômenos sociais, tanto em uma mesma sociedade
quanto em diferentes sociedades.
Para estudar as origens das sociedades capitalistas atuais, por exemplo, Weber vai buscar no
estudo de história o que ocorreu de diferente na época em que o capitalismo começa a se tornar
dominante (isto é, no fim da Idade Média). Ele observa a presença marcante de uma nova igreja
nessa época, a dos protestantes, seguidores de Martinho Lutero. Examinando e comparando o
pensamento dos protestantes em diferentes variações dessa Igreja, em diferentes épocas e em
diferentes lugares, chega a um tipo ideal do protestante, a partir daquilo que parece estar sempre
presente na mentalidade protestante em todas essas variações. O tipo ideal do protestante é aquele
que mostra como provavelmente seria um protestante “em estado puro”, sem contaminação ou
mistura com outras mentalidades.
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Esse tipo ideal não existe de fato na realidade, e Weber sabe perfeitamente disso: o que
encontramos realmente são pessoas de carne e osso que têm as suas próprias vidas e o seu próprio
modo de pensar, e esse nodo de pensar de cada uma delas é influenciado por diversos fatores que
fizeram parte de sua formação. Essas pessoas se aproximam do tipo ideal do protestante apenas por
causa de uma dessas influências, que é a do protestantismo. Então podemos dizer que cada pessoa se
aproxima ou se distancia mais do tipo ideal do protestante, e se tivermos algum outro tipo ideal para
compararmos com essa mesma pessoa (por exemplo o tipo ideal do católico ou o do ateu),
poderemos medir o quanto essa pessoa se aproxima mais de um desses tipos ou do outro, e entender
melhor a combinação de elementos que forma a mentalidade particular e específica dessa pessoa.
Depois, examinando as características do tipo ideal do protestante e comparando-as com as
características do tipo ideal que descreve o que seria uma sociedade puramente capitalista, Weber
conclui que os valores morais típicos de um protestante acabam combinando muito bem com o
comportamento típico de quem vive bem ajustado em uma sociedade capitalista. Observa que esses
valores protestantes na verdade até estimulam, e muito, o tipo de comportamento que melhor se
ajusta ao capitalismo.
Finalmente, observando o quanto a mentalidade protestante se difundiu com o fim da Idade
Média, e como foi se tornando forte e influente naquela época, até mesmo antes de muitas das
principais transformações que foram acontecendo no campo econômico, Weber chega à conclusão de
que a ética de tipo protestante pode ter sido uma das causas mais importantes do Capitalismo (ao
contrário da tese de Karl Marx, que não dá tanto valor a esse fator e coloca os fatores econômicos no
centro de tudo).
Mas não é a toa que Weber vai procurar essa razão justamente em um certo tipo de
mentalidade moral. Os valores que uma pessoa segue sempre podem ser um fator muito importante
na determinação do modo como essa pessoa se comporta. E segundo Weber, o que a Sociologia deve
estudar é justamente o modo as pessoas orientam suas ações e relações na vida social. Por isso é
que, para entender o Capitalismo, ele procura examinar o comportamento social capitalista típico,
isto é, o modo como as pessoas tendem a agir e se relacionar em uma sociedade capitalista. E vai
procurar o que leva as pessoas a agirem e se relacionarem desse modo.
Existem então alguns tipos ideais de ação (criados por Weber) que os sociólogos pode
encontrar em diferentes sociedades, e que podem ajudá-lo a examiná-las. A esta altura já
conhecemos suficientemente o pensamento de Weber para sabermos que esses tipos ideais de ação
não são necessariamente os únicos possíveis nem são necessariamente os melhores cm os quais um
sociólogo pode trabalhar. São apenas uma ferramenta útil que Weber oferece aos seus colegas de
profissão.
3. O que a sociologia deve estudar. As noções de ação social e relação social, e os tipos
ideais de ação sugeridos por Weber.
Um dos pontos importantes da sociologia de Weber é a maneira como ele define o objeto de
estudo dessa ciência. Afinal de contas, o que é exatamente que a sociologia deve estudar? Os
sociólogos costumam dizer que estudam as sociedades e os fenômenos sociais. Mas o que significa
estudar “as sociedades e os fenômenos sociais”? Essa expressão é tão ampla, abrange tantas coisas
diferentes em uma sociedade, que acaba sendo uma definição muito vaga e imprecisa: o fato de um
ciclista, descendo por uma ladeira, acabar trombando com outro, por exemplo, acontece em uma
sociedade e envolve algo que ocorre com dois membros dessa sociedade. Essa trombada faz parte
dos “fenômenos sociais” que um sociólogo deve estudar?
Segundo Max Weber, não. A Sociologia não deve estudar qualquer ação ou ocorrência que
acontece dentro de um sociedade ou com os seus membros. Ela deve estudar apenas as ações e
relações sociais. O fato de um membro de uma sociedade estar andando de bicicleta, segundo
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Weber, não é necessariamente o que se pode chamar de uma ação social desse ciclista, nem
tampouco a trombada com outro ciclista pode ser considerada como uma relação social entre eles.
Segundo a teoria de Weber, a ação de uma pessoa só pode ser considerada uma ação social
quando ela está orientada de acordo com alguma espécie de previsão das possíveis reações ou
respostas de uma outra pessoa ou de outras pessoas. Weber está interessado, portanto, no sentido, ou
significado das ações, e só considera como ações sociais aquelas cujo sentido ou significado depende
em alguma medida do modo como o agente imagina que as pessoas vão reagir ou responder a essa
sua ação, ou do modo como ele constata que outras pessoas estão se comportando, de modo que a
sua própria ação é uma resposta ou reação consciente a esse comportamento delas. E é claro que se
deve lembrar que a própria noção de “ato social” não deixa de ser também, no fundo, um tipo ideal
formulado por Weber para medir o quanto devemos ou não devemos considerar algum fenômeno ou
ocorrência como objeto de estudo legítimo e válido para a Sociologia... para ele, as ocorrências ou
fenômenos que mais se aproximam disso que Weber chama de “ações sociais” são as que mais
merecem a atenção dos sociólogos, e ações muito distantes disso não deveriam ser consideradas
sociologicamente importantes para os estudiosos.
A ação de andar de bicicleta, neste caso, poderia ser considerada uma ação social se por
exemplo o ciclista só anda de bicicleta e nunca de carro, como uma forma de protesto contra a
poluição causada pelo uso excessivo de carros em sua sociedade, ou então se ele, por exemplo, anda
de bicicleta como uma estratégia para evitar as dificuldades do trânsito causadas por esse uso
excessivo. Nos dois casos, o sentido da ação de andar de bicicleta estaria ligado ao modo como
outras pessoas se comportam, seja porque o ciclista espera que as pessoas (assim como ele) tomem
alguma atitude em relação à poluição, seja porque ele adota uma estratégia de ação específica (a de
se locomover de bicicleta, e não de carro) em função do comportamento das pessoas, que se
aglomeram com seus carros nas ruas, parando o trânsito. Nos dois casos, o ato de andar de bicicleta
praticado por uma pessoa pode ser considerado claramente um ato social e faz parte dos
comportamentos sociais que um sociólogo pode estudar.
Por outro lado, se o ciclista usa sua bicicleta apenas porque gosta, não importando o que as
pessoas pensam ou fazem ao seu redor, o seu ato de andar de bicicleta não é de modo algum um ato
social, e não serve como matéria de estudo para um sociólogo.
Como se pode imaginar, esses conceitos (de ato social ou não-social) são bastante fluidos e às
vezes podem se mostrar bastante ambíguos. Com base apenas nisso, pode ser difícil para um
sociólogo decidir se vale a pena ou não estudar certos comportamentos difíceis de definir nesses
termos.
Por exemplo, se o ciclista anda de bicicleta apenas porque, devido ao trânsito, é a maneira
mais rápida de chegar ao seu destino, mas nem lhe passa pela cabeça que há pessoas no trânsito e que
o trânsito parado só existe por causa do comportamento delas, se para ele os engarrafamentos de
trânsito não passam de uma barreira a ser evitada (assim como um barranco que não pode ser descido
de carro, ou uma parede), será que não podemos entender seu ato de andar de bicicleta como um ato
não-social? Afinal, para ele a única coisa que está interessando neste caso são as condições físicas do
caminho, que facilitam ou dificultam a locomoção de carro. É por causa dessas condições que ele
decide andar de bicicleta, e não em função do comportamento das pessoas que dirigem carros. Para
ele, neste caso, parece importar apenas o fato de haver carros acumulados ali, nas ruas do caminho,
sem espaço para a passagem do seu próprio carro.
E se o ciclista anda de bicicleta porque foi educado nesse sentido, porque é por exemplo um
hábito de sua família, e o seu próprio gosto pessoal por andar de bicicleta no fundo não passa de uma
resposta a essa formação (uma resposta do tipo sim, também participo desse gosto da família por
andar de bicicleta), então será que não se de uma ação social? Afinal, o que dá sentido ao seu ato de
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andar de bicicleta, o que orienta essa sua ação neste caso, é o modo como s comportam os seus
familiares, não é?
Essas possíveis ambiguidades geram para o sociólogo a necessidade de medir com um pouco
mais de precisão o quanto uma ação que está examinando é ou não é de caráter social, e realmente
digna de exame sociológico. Como Weber estabelece essa medida um pouco mais precisa? Como
consegue determinar o quanto um ato pode ser considerado como ato social ou não pode?
Weber consegue essa medida usando sua teoria dos tipos ideais. Ele estabelece quatro tipos
diferentes de ação social, separando-os de acordo com aquilo que orienta essas ações em cada um
dos quatro casos. Isto é, de acordo com o sentido ou significado da ação, podemos dizer que ela se
aproxima mais de um desses quatro tipos “puros” ou ideais que ele imagina ou de outro, sendo
possíveis, nos atos reais que encontramos na sociedade, as mais variadas combinações entre esses
tipos ideais.
Cada um desses tipos ideais, por sua vez, está mais próximo ou mais distante do tipo ideal de
uma “ação social”. As ações que se aproximam mais de um desses quatro tipos ideais de ação
(aquele tipo que está mais próximo do tipo geral de um “ato social”) também são as que se
aproximam mais de serem “atos sociais”. As que se aproximam mais do tipo mais distante, também
estão mais distantes de serem um “ato social”. Os quatro tipos ideais de ação (por ordem do que mais
se aproxima de ser um “ato social” para o que menos se aproxima disso) são os seguintes:
• ação racional orientada por objetivos - ação orientada por algum objetivo a ser
realizado, em que para conseguir realizar esse objetivo, o agente “calcula”
racionalmente como podem reagir as pessoas direta ou indiretamente envolvidas,
ajustando o seu modo de agir de acordo com isso, para obter o resultado desejado;
• ação racional orientada por valores – ação orientada pela crença consciente do
agente em certos valores, que podem ser morais, religiosos, estéticos ou de qualquer
outro tipo; neste caso, o agente procura agir de acordo com seus valores
independentemente dos resultados de sua ação serem vantajosos ou não, mas suas
ações continuam levando em consideração o modo como agem os outros, de modo
que o agente pode, por exemplo, saber que sua ação produzirá reações desfavoráveis a
ele, mas mesmo assim realizar essa ação da maneira como acha que deve ser
realizada; segundo Weber, há mais chances de que esse tipo de ação deixe de ser
social, dependendo do modo como é realizada, do que ocorre com o tipo de ação
acima;
• ação orientada por sentimentos ou emoções – as chances de este tipo de ação deixar
de ser “social” são maiores ainda, pois o agente pode estar sendo movido por
sentimentos que o levam a considerar o comportamento do outro, ou por sentimentos
intensos que o fazem esquecer essa consideração, impulsionando-o a atos impensados;
• ação orientada por tradições – está na fronteira das ações que podem ser
consideradas sociais, e muitas vezes desliza para o lado de fora dessa fronteira, isto é,
muitas vezes deixa de ser uma ação social, porque tende a ser uma ação realizada por
pura imitação, e geralmente sem que o agente nem mesmo se dê conta de que está
imitando o comportamento de outros; é o tipo mais comum de ação, e a encontramos
cotidianamente em qualquer sociedade.
Uma relação social, para Weber, é uma relação que se estabelece quando os agentes
envolvidos agem socialmente um em relação ao outro, isto é, quando cada um deles age de acordo
com o que percebe ou imagina do modo como o outro se comporta.
4. Outro ponto importante examinado por Weber: os tipos ideais de dominação.
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Segundo Weber, há três tipos ideais de dominação que um agente social pode exercer sobre
outros. Ou em outras palavras, é possível imaginar três diferentes conceitos gerais que mostram
formas possíveis de dominação, e que podem ajudar os sociólogos a entender como ocorrem as
diferentes relações de poder entre os membros de uma sociedade.
Os três tipos ideais de dominação, formulados por Weber são:
• dominação racional ou “burocrática”
• dominação tradicional ou “patriarcal”
• dominação carismática
A dominação, para Weber, depende daquilo pelo que as pessoas se deixam dominar, do tipo
de poder a que aceitam obedecer. Cada um desses tipos de dominação, então, tem o seu tipo de líder
(quem domina) e de organização por ele liderada (formada por aqueles que estão sob seu domínio).
Na dominação racional, o que ocorre na verdade é uma obediência a regras, normas ou leis
impessoais, que são aceitas como racionais por exemplo em vista de certos fins ou objetivos gerais,
ou em vista da manutenção e desenvolvimento de certas estruturas organizacionais. A obediência às
normas tende a assumir o perfil de uma obrigação contratual, e o trabalho, em tais sociedades, tende
a ser assalariado. O líder é obedecido por (e na medida em que) representar essas regras, normas ou
leis, como responsável pelo seu cumprimento. O fato de representar bem esse papel, assumindo
corretamente e de maneira eficaz a responsabilidade pelo cumprimento das normas, é o que dá
legitimidade (validez) ao poder do líder. O quadro administrativo tende a ser formado por pessoas
que demonstram o que se considera como os requisitos de competência necessários para o
cumprimento eficaz de seus papéis nesse quadro. Weber aprofunda bastante o exame de sociedades
ou organizações em que predomina esse tipo ideal de dominação. Segundo ele, as estruturas
organizacionais que derivam da dominação de tipo ideal costumam ser burocráticas, focadas em
escritórios, em que as tarefas são realizadas por funcionários que tendem a exercer suas funções na
organização separando-as de sua vida pessoal e privada e de suas emoções íntimas, como se fossem
duas faces separadas de si mesmo, uma pessoal, íntima e privada, a outra funcional. Acompanha
também essa separação a ideia de que há uma esfera pública geral que não se confunde a esfera dos
bens e interesses privados, de modo que os bens públicos não são vistos como propriedades de quem
quer que seja. Mas mesmo em organizações privadas, essa separação também é feita: os funcionários
e até mesmo os proprietários da organização procuram evitar que suas atividades ligadas a ela se
confundam com sua vida íntima, pessoal, particular e familiar, que representa um espaço “mais
realmente privado” do que este da empresa (ou qualquer que seja o tipo de organização), no qual lida
com outras pessoas considerando-as apenas como “profissionais”, e não como pessoas cada uma com
seus próprios problemas e interesses particulares.
O ponto mais forte desse tipo de organização está, justamente, nessa racionalidade, que a
torna mais eficaz: as ações da sociedade ou organização institucional que funciona assim (e também
as principais ações de seus membros, dentro dela) acabam seguindo, por exemplo, um certo padrão
regular e, sendo sempre mais ou menos parecidas e previsíveis, podem ser melhor avaliadas e
corrigidas ou aperfeiçoadas, coisa difícil quando as pessoas envolvem muitos sentimentos e questões
íntimas naquilo que fazem, deixando as ações irregulares e imprevisíveis, às vezes eficazes, às vezes
não. Quando as ações são regulares e apresentam sempre mais ou menos o mesmo nível de eficácia,
é possível pensar com clareza em meios para melhorá-las e torná-las mais eficazes. Além disso, essa
regularidade das ações de uma sociedade ou instituição que se organiza assim, considerada como um
todo, e também a regularidade das ações das pessoas que fazem parte dela, acabam permitindo
previsões melhores a respeito dos resultados dessas ações, o que permite melhor planejamento.
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O grande ponto fraco desse tipo de dominação, por outro lado, está no fato de que as pessoas
tendem a agir mais desapaixonadamente, sem sentimento, com maior frieza, e isso faz diminuir
drasticamente o grau de interesse e participação espontânea das pessoas nas atividades necessárias. A
falta de interesse e participação espontânea acaba servindo de contrapeso, às vezes grave, à tal
eficácia de que essa forma de dominação tende pode se aproximar pela regularidade das ações,
porque as pessoas tendem a agir apenas mecanicamente, sem empenho e dedicação, sem vontade.
Isso ajudaria a explicar, de um ponto de vista weberiano, a maior eficácia que em muitos
países e em diferentes campos de trabalho, as empresas capitalistas acabam conseguindo atingir, em
relação a instituições organizacionais de interesse público. É que embora a racionalidade e as leis e
regras comuns a todos (públicas) ajudem a tornar as ações mais eficazes mesmo nas empresas
privadas, por outro lado quando todo um setor de atividades está concentrado apenas sob o controle
do Estado, a burocracia (que segundo Weber tende a ser sempre regrada e racional, coisa que
poderíamos questionar) espalha para todos os funcionários envolvidos, nas diversas instituições
estatais desse setor, a mesma falta de interesse pessoal, de empenho e dedicação ao trabalho, porque
sentem maior atração pela sua vida privada, que está desligada dessas atividades.
Em sentido oposto, quando o mesmo setor de atividades, ao invés de estar estatizado, está
dividido por inúmeras empresas privadas, o interesse privado de cada uma delas (em lucro) tende a
forçar um maior empenho de seus trabalhadores, ou no melhor dos casos, a estimula esse empenho
de diversas maneiras, vinculando a qualidade e a eficácia das atividades ao empenho “apaixonado”
ou à dedicação do trabalhador, procurando faze com que ele “vista a camisa” da empresa – como se
costuma dizer no Brasil. Assim, vemos nas organizações privadas uma certa contradição ente a
dominação racional e o estímulo a sentimentos irracionais.
Mesmo com esse grave ponto fraco, que é a tendência para o desestímulo emocional das
pessoas envolvidas, que chega ao ponto de precisa ser corrigido por pressões ou estímulos extras,
como ocorre no setor privado, Weber parece mais favorável a esse tipo de dominação – racional ou
“burocrática” – do que aos outros dois.
Na dominação tradicional, são obedecidos costumes, hábitos coletivos, e principalmente
antigas tradições às quais se dá grande importância, frequentemente consideradas como algo
sagrado. Essas tradições passam a ter o peso de leis. A obediência se apoia na fidelidade às tradições
ou na fé com relação à santidade das mesmas, e a responsabilidade pela preservação dessa fidelidade
ou dessa fé é atribuída à educação. O líder é obedecido na medida em que sua imagem e suas ações
condizem com essas tradições, e sobretudo na medida em que seja ele próprio, além disso, o
responsável pelo cultivo e conservação dessas tradições. Não é visto como aquele que está na
posição de “superior” em uma estrutura hierárquica, mas como um “senhor” ou “soberano” que
lidera pessoalmente (e não em função de uma posição hierárquica em uma estrutura da qual apenas
faz parte como todos os outros). Aqueles que lhe devem obediência já não são considerados
“funcionários”, cujo papel seria desempenhar alguma função em uma estrutura organizacional: na
dominação tradicional, são considerados como “servidores”, que devem juntos servir ao senhor ou
soberano no interesse da conservação das tradições.
Neste tipo de dominação, as relações no quadro administrativo e o posicionamento
hierárquico de seus membros não são determinados pelo dever objetivo que se atribui ao cargo, mas
pela fidelidade pessoal que apresentam ao líder e às tradições por ele representadas. Os traços da
personalidade do líder tendem a se confundir com as próprias características da tradição dominante,
ou a corresponder intimamente com elas. A obediência (e com ela o poder) se dividem entre e as
tradições diretamente consideradas a pessoa do líder que as representa. As resistências ao líder
tendem a aparecer apenas na medida em que ele pareça desviar-se das tradições e deixar de
representá-las, mas nunca se dirigem contra as próprias tradições.
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O ponto forte desse tipo de dominação é que as pessoas participam bem mais ativamente das
atividades de interesse público, sem precisarem ser forçadas ou estimuladas de algum modo a isso,
embora não seja sempre uma participação apaixonada e superentusiasmada. As pessoas participam
seguindo hábitos, mas que estão claramente ligados a sentimentos, crenças etc., e não a simples
gestos mecânicos que elas se acostumam a fazer em função de certas regras.
O ponto fraco está no fato de que organizações desse tipo têm enorme dificuldade para
realizar grandes mudanças, e quando se torna necessário para o líder tomar alguma decisão ou
medida urgente que escape às tradições, ele terá sempre muita resistência a enfrentar. Tudo o que
foge às tradições e costumes, em uma organização assim, tende a ser rejeitado pelas pessoas em
geral, que não apenas deixam de dar seu apoio ao que precisa se feito de diferente, como podem
boicotar as mudanças ou atitudes diferentes que se fazem necessárias, protestando e agindo contra
essas mudanças ou atitudes diferentes propostas pelo líder.
Na dominação carismática, o líder é considerado como uma pessoa dotada de qualidades
extraordinárias, fora do normal, que pode ser interpretada muitas vezes como alguma espécie de
poder mágico ou sobrenatural, ou sobre-humano de algum modo, ou então como se o líder
representasse alguma força desse tipo. O líder carismático frequentemente tende a ser visto como
uma espécie de herói. Seu domínio depende da confiança que depositam nele e por suas qualidades
superiores. Mas a liderança pode ser atribuída a uma pessoa genuinamente carismática, que
realmente parece ter qualidades superiores, ou não. O que importa é que o líder, mesmo que não seja
genuinamente carismático, seja “reconhecido” como carismático pelos seus dominados, isto é, aceito
como se fosse por aqueles a quem é cobrado que o reconheçam como líder carismático.
Psicologicamente, esse reconhecimento é “uma entrega plenamente pessoal e cheia de fé, surgida do
entusiasmo ou da indigência e da esperança” (WEBER, Economia y sociedad. Mexico: fondo de
Cultura Económica, 1969, vol I, p. 194).
Entre os principais pontos fracos desse tipo de dominação está o seguinte: o poder
carismático pode se dissipar na medida em que o líder pareça abandonado pelos poderes aos quais
antes parecia representar (por exemplo forças sobrenaturais, que em certas sociedades são atribuídas
ao líder e lhe dão esse “carisma”), ou na medida em que ele pareça ter perdido suas qualidades
mágicas ou heroicas. Isso significa que tende a ser uma liderança bastante vulnerável aos fracassos.
O carisma tende a dissipar-se principalmente quando sua liderança não traz bem estar ou ao menos
esperança aos liderados. Por outro lado, um líder de extremo carisma pode cegar os seus liderados
para esses problemas, e inclusive arrastá-los em uma direção que vai contra os próprios interesses
deles – o que é outro problema desse tipo de dominação, pois carisma não é sinônimo de eficácia ou
de estar com a razão quando se determina quais as ações a serem realizadas e como: o líder não é
infalível, e inclusive não é invulnerável a corrupção só por ser carismático. Seu carisma pode,
infelizmente, cegar as pessoas para isso. Perde-se o senso crítico em relação a um líder muito
carismático, e por isso se torna difícil controlá-lo.
Além disso, no tipo ideal da “dominação carismática”, o quadro administrativo é formado por
pessoas de confiança do líder ou por aquelas que demonstram maior inspiração ou fidelidade a ele, e
não há qualquer garantia de estabilidade desse quadro administrativo para além de mera vontade do
líder de manter nele as mesmas pessoas. Essas pessoas (do quadro administrativo) exercem suas
atividades com o sentido missão a ser cumprida, ou de participação no cumprimento de uma missão
importante atribuída e elas pessoalmente pelo líder. Essa fidelidade à missão pode ser também um
fator de seleção da pessoa pelo líder para o desempenho de algum papel no quadro administrativo.
Não há normas nem o sentido de “competência”, e as tarefas não são cumpridas em troca por salário
ou soldo. Os que devem obediência ao líder são considerados seus “seguidores” ou “discípulos”,
tendem, principalmente no caso dos membros do quadro administrativo, a viver com ele em uma
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comunidade formada por laços de amor ou camaradagem (e pela admiração comum a esse líder), e
costumam ser sustentados por pessoas ricas, que são simpatizantes de sua “causa” ou “missão”, ou
que estão também sob o fascínio ou domínio do carisma do líder.
Também não há propriamente hierarquia, e o líder pode a qualquer momento exercer seu
comando diretamente sobre qualquer um, não importando o quanto a pessoa esteja próxima ou
distante do quadro administrativo e, nesse quadro, do centro do poder. Só há normas quando são
ditadas pelo líder na forma de “mandamentos” criados ou revelados por ele, e que estariam de algum
modo ligados ao sentido da missão que o líder representa ou que ele atribui aos seus seguidores. E
esses mandamentos podem ser desfeitos pelo próprio líder a qualquer momento.
As dominações racional e tradicional são cotidianas e regidas por normas ou por costumes e
tradições, já a carismática subverte esse sentido de cotidiano -- e por isso mesmo tende a aparecer
tipicamente em períodos revolucionários, embora não necessariamente, e tende a surgir acima de
tudo como ruptura das formas de dominação tradicionais. Ela também tende a desprezar e rejeitar os
cuidados de cada dia com a economia e o cálculo de custos e benefícios, que são típicos
principalmente das organizações de dominação racional – outro ponto fraco. O sustento dessas
formas de organização carismáticas por simpatizantes ricos pode tomar a forma de doações,
fundações de apoio, subornos e propinas etc., mas além disso, as organizações movidas por esse tipo
de dominação podem encontrar seu sustento também na mendicância, na apropriação de bens alheios
ou na extorsão violenta ou formal e pacífica.
Os únicos pontos positivos desse tipo de dominação estariam, então, no seu potencial
revolucionário – isto é, na sua capacidade de impulsionar grandes mudanças – e na sua agilidade
quando se trata de lidar com situações novas e imprevistas. Mas é, segundo Weber, um péssimo
modelo de organização para se manter as coisas em bom funcionamento quando se trata das
atividades normais e cotidianas. Segundo Weber, este é, de um modo geral, o pior dos três tipos de
dominação.
Vale lembrar, uma última vez, que todos os três tipos de dominação descritos por Weber são
apenas tipos ideais, e que a realidade apresenta as mais variadas formas de organização e dominação,
combinando das mais variadas maneiras esses três tipos. A realidade é mais complexa do que
qualquer “tipo ideal”, de modo que esses tipos são propostos por Weber apenas para nos ajudar a
entender a realidade comparando-a com eles. Assim, podemos examinar até que ponto uma
sociedade ou instituição organizada tem traços característicos de cada um desses “tipos ideais”, e
quais traços de cada tipo ela tem.
BIBLIOGRAFIA
CASTRO, Ana Maria & FERNANDES DIAS, Edmundo (Orgs.). Introdução ao pensamento
sociológico: Emile Durkheim, Max Weber, Karl Marx e Talcott Parsons. São Paulo:
Centauro, 2008. (Coletânea organizada de textos dos próprios pensadores).
COHN, Gabriel (Org.) Sociologia: para ler os clássicos. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Científicos, 1977. (Coletânia de textos de grandes estudiosos sobre Durkheim, Weber e
Marx).
GERTZ, René E (Org.). Max Weber & Karl Marx. São Paulo: Hucitec, 1997. (Coletânea de
textos de diversos estudiosos).
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