1 CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA “PAULA SOUZA” FACULDADE DE TECNOLOGIA DE PIRACICABA – FATEC TECNOLOGIA EM BIOCOMBUSTÍVEIS MÉTODOS DE TRANSFORMAÇÃO GENÉTICA DE CANA-DEAÇÚCAR VISANDO RESISTÊNCIA À BROCA (Diatraea saccharalis) ANA PAULA DE OLIVEIRA ALMEIDA JOÃO PAULO AUGUSTO RAMOS MARIANA REAME SANTOS PIRACICABA JUNHO/2011 2 ANA PAULA DE OLIVEIRA ALMEIDA JOÃO PAULO AUGUSTO RAMOS MARIANA REAME SANTOS MÉTODOS DE TRANSFORMAÇÃO GENÉTICA DE CANA-DE-AÇÚCAR VISANDO RESISTÊNCIA À BROCA (Diatraea saccharalis) Trabalho de Graduação apresentado à Banca Examinadora como requisito parcial à obtenção do título de Tecnólogo em Biocombustíveis. Orientador: Profª. Dra. Márcia Nalesso Costa Harder Co-orientador: Dra. Sabrina Moutinho Chabregas PIRACICABA JUNHO/2011 3 AUTORIZAMOS A DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. Almeida, Ana Paula de Oliveira Ramos, João Paulo Augusto Santos, Mariana Reame MÉTODOS DE TRANSFORMAÇÃO GENÉTICA DE CANA-DE-AÇÚCAR VISANDO RESISTÊNCIA À BROCA (Diatraea saccharalis)/ Ana Paula de Oliveira Almeida, João Paulo Augusto Ramos, Mariana Reame Santos ; Orientadora Profa. Dra. Márcia Nalesso Costa Harder;. Co-orientadora Dra. Sabrina Moutinho Chabregas - - Piracicaba, 2011. 54p. Trabalho de Graduação (Graduação – Tecnologia) – Faculdade de Tecnologia de Piracicaba – Centro de Educação Tecnológica “Paula Souza”. 1. Cana-de-açúcar 2. Transformação genética 3. Harder, N. C. Marcia – orientadora 4. Chabregas, M. Sabrina – co-orientadora | Título: MÉTODOS DE TRANSFORMAÇÃO GENÉTICA DE CANA-DE-AÇÚCAR VISANDO RESISTÊNCIA À BROCA (Diatraea saccharalis) 4 “Dedico, Aos meus pais, Sandra e Paulo pela dedicação, amor incondicional, confiança e pelo exemplo de força de vontade, As minhas irmãs, Lívia e Maria Clara amores que completam a minha vida, A Alexandre, pelo carinho e compreensão nos momentos difíceis”. Ana Paula “Dedico, Aos meus pais, Vergínia e Rogério, base de toda a educação recebida, exemplo de humildade, honestidade e responsabilidade. À minha família, minha esposa Rita e meu filho Eduardo, fonte de inspiração para tudo de bom que desejo realizar. João Paulo “Dedico, Aos meus pais, Nandir e Maria Rosa pelo amor e exemplo de vida A minha irmã, Carolina que faz minha vida mais feliz A Felipe, por estar sempre ao meu lado.” Mariana 5 AGRADECIMENTOS A Deus, pela força e saúde para enfrentar os obstáculos do dia-a-dia. A nossa família, por nos proporcionarem a possibilidade de realizar um sonho e nos apoiarem nos momentos mais difíceis. Aos amigos, por nos apoiarem nos momentos de dificuldade, pela ótima convivência durante este período. A Profa. Dra. Márcia Nalesso Costa Harder, pela orientação e aprendizado durante os 3 anos de faculdade. A Profa. Dra. Daniela Defavari do Nascimento, pelas aulas de Biotecnologia e toda a atenção na correção deste trabalho. A Profa. Dra. Filomena Maria Formaggio, pela paciência durante orientação para que este trabalho pudesse acontecer. Ao Centro de Tecnologia Canavieira - CTC em especial à Equipe de Biotecnologia, por todo o aprendizado neste período de estágio. A Dra. Sabrina Moutinho Chabregas, pela dedicação incondicional como orientadora, um exemplo. A Dra. Maria Cristina Falco, pelas sugestões, conselhos, confiança e intensa orientação durante o estágio. A Dra. Danila Montewka Melotto Passarin, por todo o apoio e enriquecimento do trabalho de graduação com seu vasto conhecimento e sua tese de doutorado. A Dra. Juliana de Maria Félix, pela amizade e grande auxílio no aprendizado. 6 A Dra. Karine Miranda Oliveira, pelo convívio e amizade. A Daniela Truffi Veiga, pela paciência nas explicações, amizade e companheirismo. A Daiane Aline da Silva, pelo carinho e amizade, durante a vida acadêmica e profissional. A Márcia Patrícia Moreno, pelo carinho, amizade e conselhos, desde o primeiro ano da faculdade. A Priscila Alvernaz Miranda, pelos gráficos. Ao Dr. Luiz Carlos de Almeida, pela riqueza das imagens e materiais. Agradecemos a todos aqueles que de maneira direta ou indireta contribuíram para a realização deste trabalho. A todos nossos sinceros agradecimentos. 7 “Para cultivar a sabedoria, é preciso força interior. Sem crescimento interno, é difícil conquistar a autoconfiança e a coragem necessária. Sem elas, nossa vida se complica. O impossível torna-se possível com a força de vontade”. Dalai Lama 8 MÉTODOS DE TRANSFORMAÇÃO GENÉTICA DE CANA-DE-AÇÚCAR VISANDO RESISTÊNCIA À BROCA (Diatraea saccharalis) RESUMO A proposta do presente trabalho é realizar e disponibilizar uma revisão de literatura que venha a contribuir positivamente para o desenvolvimento do setor canavieiro, abordando técnicas e processos envolvidos na obtenção de cana-de-açúcar transgênica. O Brasil é o líder na produção e exportação de derivados de cana-de-açúcar, bem como na utilização desta cultura como fonte de energia renovável. O melhoramento genético da planta aparece como base fundamental para o desenvolvimento de novas variedades para a manutenção e incremento dos agronegócios da agroindústria sucroalcooleira. Técnicas de engenharia genética, como a transformação genética, estão trazendo excelentes resultados no melhoramento genético da cultura permitindo diminuir o custo e o tempo de obtenção de novas variedades. A busca por melhor qualidade de vida faz com que as pessoas procurem novas tecnologias que auxiliem no combate ao que será prejudicial ao desenvolvimento humano. A broca Diatraea saccharalis é a principal causa de danos à cultura da cana-de-açúcar, além de provocar doenças na planta. O desenvolvimento de tecnologias para a cultura permitirá a expressão de outros genes de interesse como resistência a herbicidas, a insetos e a doenças, além de possibilitar um aumento do teor da sacarose e à tolerância ao estresse hídrico. Sendo assim as plantas transgênicas representam uma nova alternativa aos insetos-praga das lavouras. A bactéria entomopatogênica Bacillus thuringiensis (Bt) é a fonte dos genes de resistência nas chamadas plantas-Bt. No presente trabalho de revisão, são abordados os aspectos relacionados à bactéria Bt como fonte de genes de resistência a insetos-pragas, plantas geneticamente modificadas, métodos de transformação, dentre os quais se destacam as transformações via Agrobacterium tumefaciens e Biobalística, comparando-as quanto à respectiva eficiência, vantagens do uso de plantas-Bt, bem como perspectivas dessas ferramentas biotecnológicas. PALAVRAS CHAVE: Cana-de-açúcar; transformação Agrobaterium tumefaciens; Bacillus thuringiensis. genética; biobalística; 9 METHODS FOR GENETIC TRANSFORMATION OF SUGARCANE FOCUSING SUGARCANE BORER RESISTANCE (Diatraea saccharalis) ABSTRACT The purpose of this study is to perform and provide a literature review that will contribute positively to the development of the sugarcane industry, with techniques and processes involved in getting genetically modified sugarcane. Brazil is the leader in the production and export of sugarcane products, as well as the use of the crop as a source of renewable energy. Plant breeding appears as a fundamental basis for developing new varieties for the maintenance and expansion of sugarcane agribusiness. Genetic engineering techniques such as genetic transformation, are bringing excellent results in plant performance improvement allowing to reduce the cost and time to obtain new varieties. The search for better quality of life causes people to seek new technologies that help to combat that will be detrimental to human development. The sugarcane borer Diatraea saccharalis is the main cause of damage to the crop, because it causes diseases in plants. The development of technologies for the crop will allow the expression of other genes of interest such as herbicide tolerance, insect and disease resistance, and providing increased sucrose content. Thus the transgenic plants represent a new alternative to insect pests of crops. The entomopathogenic bacterium Bacillus thuringiensis (Bt) is the source of resistance genes in so-called Bt-plants. In this review, we focus on the aspects related to Bt as a source of genes for resistance to insect pests, genetically modified plants, processing methods, among which are the transformation by Agrobacterium tumefaciens and biolistic, comparing them as to their efficiency advantages of using Bt-plants and prospects of these biotechnological tools. KEY-WORLDS: sugarcane; genetic transformation; biolistic; Agrobaterium tumefaciens; Bacillus thuringiensis. 10 LISTA DE ABREVIATURAS E DEFINIÇÕES µm – Micrometro Bt –Bacillus thuringiensis CANASAT – Mapeamento da cana via imagens de satélite de observação da Terra Copersucar – Cooperativa de Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo. CTC – Centro de Tecnologia Canavieira CTNBio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança DNA – Ácido desoxirribonucléico dATP, dGTP, dTTP, dCTP – Desoxirribonucleotídeos Fosfatados (DNTP’s) ELISA – Enzyme Linked ImmunonoSorbent Assay FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo I.I. – Intensidade de Infestação INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais OGM – Organismo Geneticamente Modificado PCR – Reação em Cadeia da Polimerase (Polymerase Chain Reaction) pH – Potencial Hidrogeniônico t-DNA – DNA de transferência UNICA – União da Indústria de Cana-de-açúcar UV – radiação ultravioleta 11 LISTA DE FIGURAS PÁGINA Figura 1 Formas Biológicas da broca da cana de açúcar (Diatraea saccharalis). Figura 2 Ciclo Biológico 23 da broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis). 23 Figura 3 Controle biológico da broca da cana de açúcar (Diatraea saccharalis). 24 Figura 4 Cristal de cepas de Bacillus thuringiensis. (A) Forma bipiramidal da cepa 344; (B) forma cubóide da cepa 1644. 25 Figura 5 Clonagem do Gene de Interesse. 29 Figura 6 Desenho esquemático do equipamento de biobalística. 32 Figura 7 Equipamento de biobalística utilizado no processo de introdução de genes. 32 Figura 8 Sequência para obtenção de calos embriogênicos in vitro. A: Ponteiros de cana vindos do campo. B: Segmento da parte apical (10cm) que contém o meristema apical caulinar protegido por folhas jovens enroladas (Palmito). C: Esterilização superficial com etanol absoluto, e posteriormente com solução de hipoclorito de sódio 30% sob agitação. D: Cortes transversais de aproximadamente 2mm de espessura. E: Disco foliar em meio MS3AC para indução de calos no escuro. F: Calos embriogênicos em meio MS3AC que são selecionados e transferidos para meio fresco em cada subcultivo. G e H: Regeneração de plântulas em meio MSAC (fotoperíodo 16 horas). Figura 9 Doença causada por A. tumefaciens, galha da coroa 33 36 12 Figura 10 Esquema representativo do método de transformação genética da cana-de-açúcar por A. tumefaciens. A: Cultura de A. tumefaciens linhagem EHA105, com o vetor binário pNW166, para incubação dos calos embriogênicos. B: Seleção de células transformadas em meio seletivo com antibiótico. C: Observação de brotos em lupa. D: Enraizamento de plântulas em meio seletivo. E: Plantas regeneradas sob aclimatação em substrato. 36 Figura 11 Exemplo de reação de PCR mostrando a amplificação do fragmento correspondente ao gene Bt (indicado pela seta) introduzido em plantas de cana de açúcar. 39 Figura 12 Análise ELISA de plantas transgênicas da variedade SP80-1842 expressando a proteína Bt CryIA(b) em folhas e colmos. 41 Figura 13 Análise de Southern blot em plantas de cana de açúcar transgênicas das variedades SP80-1842 e SP80-3280 transformadas com o gene Cry1A(b) 43 Figura 14 Exemplo de Bioensaio realizado com folhas de plantas de canade-açúcar transgênicas expressando o gene Bt CryI(A)b (à direita) e plantas da mesma variedade (SP80-1842) não transformadas (à esquerda) 44 Figura 15 Exemplo de inoculação da broca da cana (Diatraea saccharalis) em plantas adultas de cana-de-açúcar transgênicas expressando o gene Bt CryI(A)b (B) e plantas da mesma variedade (SP80-1842) não transformadas (A). 45 Figura 16 Pedidos de liberação planejada de cana-de-açúcar transgênica em todo o mundo – Finalidade dos OGM 47 Figura 17 Pedidos de Liberação Planejada de cana-de-açúcar transgênica em todo o mundo – Solicitante X Ano 48 Figura 18 Área plantada, em milhões de hectares, com lavouras transgênicas no Brasil 49 13 SUMÁRIO PÁGINA RESUMO ABSTRACT viii x LISTA DE ABREVIATURAS E DEFINIÇÕES xii LISTA DE FIGURAS xiii INTRODUÇÃO 15 2. REVISÃO DE LITERATURA 18 2.1 A cana-de-açúcar atualmente 19 2.2 Novas unidades produtoras 20 2.3 Produção de açúcar e etanol 21 2.4 Broca da cana-de-açúcar 21 2.5 Bacillus thuringiensis 24 2.6 Preservação de inimigos naturais 26 2.7 Vantagens da cana-de-açúcar resistente à Diatraea saccharalis 26 3. OBTENÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR GENETICAMENTE MODIFICADA 27 3.1 Clonagem do gene interesse 28 3.2 Transformação genética 29 3.2.1 Biobalística 30 3.2.2 Agrobacterium tumefaciens 34 3.3 Caracterização Molecular 37 3.3.1 PCR – Reação da Polimerase em Cadeia 37 3.3.2 Eletroforese 38 3.3.3 Elisa – Expressão da Proteína 39 3.3.4 SOUTHERN BLOT-Análise de número de cópias 41 3.4 Bioensaio 43 3.5 Análises de Campo 44 3.6 Análises de Biossegurança 46 4. A PRODUÇÃO DE TRANSGÊNICOS 47 4.1 No Mundo 47 4.2 No Brasil 48 14 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 50 6. REFERÊNCIAS 51 15 INTRODUÇÃO A área ocupada pela cana-de-açúcar no país e destinada ao setor sucroalcooleiro alcança 8,1 milhões de hectares na safra 2010/11, o que representa 9,2% a mais do que na safra anterior. O Estado de São Paulo tem a maior parte, com 4,4 milhões de hectares; seguido por Minas Gerais, 648 mil de hectares; Paraná, 608 mil hectares; Goiás, 601 mil hectares; e Alagoas, 464 mil hectares. O total representa apenas 0,95% do território nacional (CANAL RURAL, 2011). Segundo Carrer et al., (2010) o estabelecimento de uma agricultura sustentável, que preserve o meio ambiente e proporcione segurança alimentar futura, é um fator primordial para o desenvolvimento da humanidade ante as mudanças climáticas e o declínio das reservas energéticas não renováveis. Diante das previsões de crescimento populacional mundial, atingindo nove bilhões de habitantes em 2050, existe o desafio de criar métodos avançados e eficientes para aumentar a produção de alimentos e energia renovável sem, contudo, esgotar os recursos naturais. Em 2050, o mundo provavelmente estará vivendo sob a influência de três grandes crises anunciadas: a diminuição das reservas de petróleo, a escassez de água potável e a falta de alimentos para grande parte da população. Nesse cenário, a biotecnologia de plantas ocupa papel central na busca de soluções para atenuar os problemas, atuais e futuros, causados pelo estilo de vida adotado pelo homem. Os insetos têm sido uma das maiores causas de danos na produção de alimentos sendo estas perdas da ordem de 20 a 30% da produção mundial. Estima-se que cerca de 67.000 espécies de insetos causem danos às plantações sendo as regiões tropicais, normalmente as mais pobres do mundo, as que mais sofrem com a alta incidência de insetos-praga. Os métodos convencionais de proteção das culturas estão baseados no uso de agroquímicos. Entretanto, mesmo com uma movimentação comercial de inseticidas em torno de U$ 8,11 bilhões em 1997 as perdas de produção continuam altas. A busca por métodos alternativos de controle de insetos-praga tem sido realizada com afinco por vários laboratórios ao redor do mundo, devido à necessidade de uma agricultura mais sustentável e desenvolvida com uma maior preocupação com a preservação do meio ambiente (MELOTTO-PASSARIN, 2009). Num primeiro momento, a biotecnologia esteve centrada na questão da saúde humana e animal, em que se utilizou de microorganismos para a fabricação de antibióticos. Relatos de culturas de células in vitro são datados da segunda Guerra Mundial, quando cultura de Penicillum notarum era usada para a produção do antibiótico penicilina cuja 16 ação como antibiótico foi descoberta por Alexander Fleming em 1929. Mas foi na década de 1970 que ocorreu o início das metodologias de uso do DNA recombinante e do sequenciamento do DNA que proporcionaram grandes avanços na ciência de plantas. A biotecnologia se insere como propulsora para o aumento da produtividade, da qualidade da produção e para o desenvolvimento de plantas adaptadas a diversas condições ambientais de espécies com potencial energético. Em adição, a biotecnologia atua no desenvolvimento de outras fontes de bioenergia como a produção de biocombustíveis a partir de algas transformadas geneticamente (CARRER et al., 2010). Para melhorar a eficiência do uso da água na agricultura, a biotecnologia atua em duas frentes: no desenvolvimento de espécies tolerantes a seca, diminuindo a irrigação intensiva e conservando a água no solo, e no melhoramento genético de variedades para a resistência a pragas e doenças, reduzindo a necessidade da utilização de produtos químicos nas lavouras (CARRER et al., 2010). Nesta mesma perspectiva percebe-se o quanto é importante que ocorram mudanças no que está relacionado à cultura, principalmente no que diz respeito ao controle de pragas. Dentre as pragas da cultura, a Diatraea saccharalis popularmente conhecida como broca da cana-de-açúcar, vem assumindo grande importância por ser uma praga de ciclo longo, que pode causar prejuízos diretos e indiretos e até mesmo a morte da planta. Atualmente existem inúmeras pesquisas relacionadas às pragas da cana-de-açúcar. O interesse crescente em utilizar tecnologias com menor impacto ambiental e devido as suas propriedades entomopatogênicas, fez da bactéria Bacillus thuringiensis um agente promissor para controle de populações de insetos que causam danos em lavouras, e tem impulsionado várias pesquisas com o objetivo de selecionar isolados com atividade tóxica para diferentes espécies de insetos (CÍCERO, 2007). A produção de transgênicos está difundida em praticamente todas as regiões agrícolas do planeta, e a adoção da biotecnologia pelos produtores atinge níveis nunca alcançados por outras tecnologias avançadas, em toda história da agricultura. Em 2009, culturas modificadas geneticamente foram plantadas por mais de 14 milhões de agricultores, em 134 milhões de hectares, distribuídos em 25 países. O Brasil ocupa o segundo lugar entre os países com maior área cultivada com transgênicos no mundo, cerca de 21,4 milhões de hectares, atrás apenas dos Estados Unidos com 62,5 milhões de hectares. A razão desse indiscutível sucesso são os benefícios obtidos com a produção de 17 plantas transgênicas resistentes a doenças e insetos, a redução no uso de defensivos e o aumento da produção (JAMES, 2010). Neste contexto, com base nos dados acima apresentados, é ressaltado que a proposta do presente trabalho foi realizar e disponibilizar uma revisão de literatura que venha a contribuir positivamente para o desenvolvimento do setor canavieiro, abordando técnicas e processos envolvidos na obtenção de cana-de-açúcar transgênica. 18 2. REVISÃO DE LITERATURA A cana-de-açúcar pertence ao gênero Saccharum L. Há pelo menos seis espécies do gênero, sendo que a cana-de-açúcar cultivada é um híbrido multiespecífico, recebendo a designação Saccharum spp. As espécies de cana-de-açúcar são provenientes do Sudeste Asiático. A planta é a principal matéria prima para a fabricação do açúcar e álcool (WAACK et al., 1998). A cana-de-açúcar sempre apresentou importância significativa ao longo de toda a História. Na Europa, a raridade e o preço do açúcar faziam dele privilégio de grandes senhores, produto da farmacopéia ou instrumento de práticas de magia. O comércio na Europa do açúcar do Oriente proporcionou a formação de grandes fortunas e poderes nacionais, como por exemplo, Gênova e Veneza, e foi um dos fatores responsáveis pelas grandes navegações (COPERSUCAR, 1989). Quando o Brasil foi descoberto, o açúcar era mercadoria bastante escassa na Europa. Embora em pequena escala, o cultivo da cana já era conhecido pelos portugueses, que o praticavam em suas ilhas de Madeira e Cabo Verde. Com a descoberta, a cana foi trazida para as novas terras, enquanto o mesmo era feito pelos holandeses nas Antilhas. Admite-se que as primeiras mudas de cana de açúcar tenham chegado ao Brasil com a expedição de Martim Afonso de Souza, em 1532, onde, em Pernambuco, alcançou especial êxito como cultura comercial. As condições propiciadas pelo clima quente e solo fértil favoreceram e marcaram o início de uma atividade altamente rentável para Portugal. O açúcar, até então artigo de luxo, transformou-se em uma das mais importantes fontes de energia e em alimento humano. Durante quase dois séculos após o descobrimento, a economia colonial assentou-se praticamente na agroindústria canavieira. Até essa época, o Brasil era o maior produtor e exportador de açúcar do mundo. Daí em diante, apesar das numerosas crises, a cana continuou sendo o principal produto comercial de sua agricultura, condição que só veio a perder em fins do século passado, quando definitivamente se firmou o ciclo do café (SZMRECSANYI, 1978). Segundo Marin (2007), a cultura da cana-de-açúcar se adapta muito bem às regiões de clima tropical, quente e úmido, cuja temperatura predominante está entre 19 e 32º C e onde as chuvas estão bem distribuídas, com precipitação acumulada acima de 1000 milímetros por ano, seu desenvolvimento ocorre em duas fases: - crescimento vegetativo: fase em que a planta é favorecida pelo clima úmido e quente; 19 - maturação: quando temperaturas mais amenas e a baixa disponibilidade de água favorecem o acúmulo de sacarose. Pertence a vasta família das gramíneas a qual inclui mais de 5000 espécies, representada pelo milho, sorgo, arroz e muitas outras. A planta de cana, da família Poaceae, está constituída por quatro partes principais, que são: raízes, colmo, aéreo e fibroso; atinge de 2 a 5 metros de altura, de cor variada, dividido em nós e entrenós mais ou menos largo, dependendo da variedade, composta também por folhas e flores. As principais características dessa família são a forma da inflorescência (espiga), o crescimento do caule em colmos, e as folhas com lâminas de sílica em suas bordas e bainha aberta (WAACK et al., 1998). 2.1 A cana-de-açúcar atualmente De acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar – ÚNICA (2011), em conjunto com o CTC - Centro de Tecnologia Canavieira, demais sindicatos e associações de produtores de etanol e açúcar da região Centro-Sul, a projeção estimada para a safra de 2011/2012 aponta para uma moagem de 568,50 milhões de toneladas, crescimento de 2,11% em relação ao total processado na última safra, que foi de 556,74 milhões de toneladas. Os dados levantados pela UNICA (2011), bem como o mapeamento com imagens de satélite da região Centro-Sul feitas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CANASAT – INPE), indicam uma pequena expansão na área de cana-de-açúcar disponível para colheita. Este incremento de área para moagem deve ocorrer principalmente nas unidades novas e em usinas que iniciaram suas atividades nos últimos anos, com destaque para aquelas localizadas nos Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais. Esse crescimento de área para colheita não deve se traduzir em aumento significativo da quantidade de cana a ser processada, devido à menor produtividade agrícola do canavial (mensurada em toneladas de cana por hectare), especialmente nas unidades tradicionais. Na safra (2010/2011), a quebra agrícola, decorrente do longo período de estiagem observado em toda a região produtora de cana-de-açúcar, foi especialmente severa. Para a safra de 2011/2012, esse fenômeno não deverá ocorrer e a expectativa é de que a produtividade por estágio de corte fique próxima de valores históricos, superiores aos observados na safra anterior (UNICA, 2011). 20 Apesar dessa recuperação da produtividade agrícola por estágio de corte, espera-se que a produtividade média da área total de cana-de-açúcar na safra 2011/2012 diminua relativamente à observada no último ano, devido aos seguintes fatores: • Envelhecimento do canavial – o canavial disponível para colheita nas áreas tradicionais está mais velho em função dos baixos índices de renovação observados nos últimos anos – a idade média do canavial foi de 3,7 anos na safra 2010/2011, contra 4 anos previstos para a nova safra; • Redução no volume de cana bisada – a cana bisada (aquela que permanece no campo por mais de uma safra e, por isso, geralmente apresenta uma produtividade agrícola maior), representou 14% da área colhida nas unidades tradicionais no último ano. Para este ano, tal área deverá ser mínima, respondendo por menos de 3% da área total; • Menor produtividade no início de safra – a produtividade do canavial colhido no início de cada safra é fortemente dependente do clima observado no ano anterior. Portanto, a expectativa é de queda na produtividade da cana neste início de safra em razão das condições climáticas desfavoráveis para o desenvolvimento da planta registradas de abril a agosto de 2010. O desequilíbrio do perfil do canavial está mais acentuado nesta safra: “Uma lavoura estabilizada é composta por 60% de cana nova e mais produtiva e por 40% de cana envelhecida, acima de quatro cortes. Para a safra 2011/2012, esse cenário está invertido e o impacto negativo desse envelhecimento do canavial sobre a produtividade da lavoura é expressivo. O setor precisará investir fortemente na renovação do canavial ao longo deste ano, para garantir o crescimento da oferta a partir da safra 2012/2013” (UNICA, 2011). 2.2 Novas unidades produtoras Na avaliação da UNICA (2011), apenas cinco novas unidades iniciarão suas atividades na safra 2011/2012. É um número significativamente inferior ao observado nos últimos anos, reflexo da desaceleração no crescimento do setor sucroenergético após a crise global de crédito em 2008 e 2009. Foram 25 novas usinas na safra 2007/2008, 30 em 2008/2009, 19 em 2009/2010 e 10 unidades produtoras na última safra. As novas unidades esperadas para 2010/2011 estão localizadas nos Estados do Mato Grosso do Sul (3), Goiás (1) e São Paulo (1). 21 2.3 Produção de açúcar e de etanol Do total de cana-de-açúcar projetado para a safra 2011/2012, a UNICA (2011) estima que 45,34% serão destinados à produção de açúcar, leve acréscimo em relação aos 44,71% observados no último ano. Assim, a exemplo dos anos anteriores, a maior parte da cana colhida nesta safra (54,66%) continuará sendo utilizada para a produção de etanol. A produção de açúcar projetada é de 34,58 milhões de toneladas, crescimento de 3,25% em relação as 33,49 milhões de toneladas produzidas na safra 2010/2011. Para atingir essa produção projetada, as unidades aptas à produção de açúcar deverão operar próximo da capacidade máxima instalada, na medida em que a moagem de cana por essas unidades deverá ser praticamente a mesma do último ano. O incremento de moagem previsto para a nova safra decorre do aumento do volume de cana processada pelas unidades que só produzem etanol. A produção de etanol, por sua vez, deverá atingir 25,51 bilhões de litros, aumento de 0,52% em relação à produção da última safra, que totalizou 25,37 bilhões de litros (UNICA, 2011). Dos 25,51 bilhões de litros de etanol que deverão ser produzidos, 17,21 bilhões serão de etanol hidratado e 8,30 bilhões de etanol anidro. Esse volume de etanol anidro é suficiente para atender à mistura de 25% do produto na gasolina, mesmo considerando uma menor parcela da frota flex utilizando etanol hidratado em função da consequente migração para o consumo de gasolina (UNICA, 2011). 2.4 A Broca da cana-de-açúcar Uma das principais pragas que atacam a cultura da cana-de-açúcar é a broca da cana (Diatraea saccharalis), um inseto que penetra no interior da planta e cava galerias internas, causando grandes prejuízos aos produtores. Seu ciclo no canavial (Figura 1) começa com as mariposas, que colocam pequenos ovos na parte de baixo das folhas. Quando os ovos eclodem saem minúsculas larvas, de cerca de 1 a 2 milímetros, que caminham em direção à região próxima ao colmo (caule) da planta, onde penetram e se alimentam da polpa carnuda e doce. Dentro da cana, as larvas vão mudando de fase (Figura 2), até atingir cerca de 3 a 4 centímetros, quando saem da planta, transformam-se novamente em mariposas e dão início a um novo ciclo de vida do inseto. As galerias feitas por esses insetos mastigadores ocupam praticamente todo o interior da planta, provocando diminuição da massa vegetal e falhas na germinação, entre outros danos (FAPESP, 2006). 22 Os furos abertos pelas brocas também são porta de entrada para fungos que causam a podridão vermelha, doença responsável pela diminuição na produção de sacarose. Quando a matéria-prima se destina à produção de álcool, o problema é ainda mais grave, pois os microorganismos invasores contaminam o caldo e concorrem com as leveduras na fermentação. (FAPESP, 2006). A broca pertence à ordem dos Lepidópteros. Os Lepidópteros são insetos holometabólicos, ovíparos. Dos ovos saem larvas chamadas lagartas, as quais, depois de uma série de transformações, cada uma se evidenciando após uma ecdise, atingem o completo desenvolvimento, realizando-se, então, a primeira metamorfose, da qual resulta a pupa, bem conhecida pela designação especial crisálida. Desta surge, tempos depois, após uma segunda metamorfose, o inseto adulto ou imago, borboleta ou mariposa (LIMA, 1945). Com relação aos prejuízos econômicos, os levantamentos de danos são realizados por ocasião da colheita da cana, coletando-se 20 canas/ha, no mínimo, rachando-se longitudinalmente os colmos e efetuando-se a contagem dos entrenós totais e dos entrenós danificados pela broca. A Intensidade de Infestação (I.I.) é a porcentagem dos entrenós brocados em relação ao total examinado. A Infestação é a porcentagem de canas brocadas em relação ao número de canas examinadas. Experimentos conduzidos em telados e campo indicam que para cada 1% de I.I. ocorrem perdas médias de 0,77% na produção de cana, acrescidas de 0,25% na produção de açúcar e 0,20% na produção de álcool. (ALMEIDA, STINGEL e ARRIGONI, 2005). Para combater a broca da cana as grandes usinas sucroalcooleiras produzem em seus laboratórios pequenas vespas (Cotesia flavipes), liberadas no campo para parasitar as lagartas (Figura 3). Os pequenos produtores não têm como fazer o controle biológico porque não há produção suficiente de vespas em escala comercial, sem contar que elas têm de ser liberadas na plantação nas condições ideais de temperatura e quantidade para surtir efeito. E a partir do momento em que a broca penetra na cana as perdas são inevitáveis, porque nessa fase não dá mais para recorrer ao controle biológico nem ao químico, devido ao alto custo dos inseticidas e à baixa eficiência dos produtos, incapazes de atingir as lagartas no interior da planta (LIMA, 1945). 23 Figura 1. Formas Biológicas da Broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis). Fonte: ALMEIDA et al., 1974 Figura 2. Ciclo Biológico da Broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis). Fonte: ALMEIDA et al., 1974 24 Figura 3. Vespa Cotesia flavipes parasitando larva da Broca-da-Cana (Diatraea saccharalis). Fonte: CORRÊA, 2008 2.5 Bacillus thuringiensis O Bacillus thuringiensis (Bt) é uma bactéria Gram positiva, que pode ser caracterizada pela sua habilidade de formar cristais protéicos durante a fase estacionária e/ou de esporulação. O Bt ocorre naturalmente em diversos habitats incluindo solo, filoplano, resíduos de grãos, poeira, água, matéria vegetal e insetos. O cristal protéico também chamado de delta-endotoxinas, possui propriedades inseticidas específicas. Este cristal protéico é responsável por 20-30% da proteína total da célula e pode ter várias formas, tais como: bipiramidal, esféricos, retangulares, cubóides e irregulares (Figura 4). Os cristais bipiramidais apresentam uma maior freqüência de toxicidade do que os outros tipos e a maioria dos isolados que possuem alguma atividade contra os lepidópteros possuem este tipo de cristal (CARNEIRO et al., 2009). Segundo Pinto et al. (2010), B. thuringiensis apresenta um genoma com 2,4 a 5,7 milhões de pares de bases, e a maioria dos isolados apresentam elementos extra cromossômicos lineares ou circulares. Os genes cry, responsáveis pela síntese de diferentes proteínas inseticidas, estão localizados em plasmídios e muitos isolados de B. thuringiensis possuem diversos genes cry (LERECLUS et al., 1993). Durante seu desenvolvimento, B. 25 thuringiensis passa por duas fases, a fase vegetativa e a estacionária, semelhantes ao desenvolvimento de Bacillus subtilis. O mecanismo de ação das proteínas Cry de Bt envolvem a solubilização do cristal no intestino médio do inseto, a ação de proteases sobre a protoxina, a aderência da toxina Cry aos receptores do intestino médio e a sua inserção dentro da membrana apical criando canais de íons ou poros. A degradação dos cristais protéicos por enzimas proteolíticas libera proteínas tóxicas menores, chamadas de delta-endotoxinas. As atividades das deltaendotoxinas estão restritas ao trato digestivo dos insetos. Após a solubilização, muitas protoxinas devem ser processadas por proteases presentes no intestino médio do inseto para se tornarem toxinas ativas. As proteínas Cry ativadas funcionam junto a receptores e canais iônicos do intestino (CARNEIRO et al., 2009). Figura 4. Cristal de cepas de Bacillus thuringiensis. (A) Forma bipiramidal da cepa 344; (B) forma cubóide da cepa 1644. Fonte: CARNEIRO et al. (2009). Mesmo sendo estudados e utilizados como biopesticidas há mais de meio século e com claras indicações de serem menos impactantes ao meio ambiente do que os agroquímicos e não prejudiciais ao ser humano, os produtos a base de Bacillus thuringiensis (Bt) nunca ocuparam um lugar de destaque no mercado de vendas de inseticidas, principalmente por problemas relacionados à perda de estabilidade, à ausência de translocação nas plantas, ao espectro limitado de ação e à degradação rápida pela ação da luz ultravioleta (BOBROWSKI, 2003). Com a clonagem e a caracterização de um gene de Bt codificador de uma proteína responsável pela atividade tóxica em insetos, novas perspectivas do uso desta bactéria e de 26 suas proteínas inseticidas foram vislumbradas. Entre elas, está a possibilidade de se introduzir os genes de Bt codificadores das toxinas nos genomas dos vegetais, permitindo a expressão contínua das proteínas em todos os tecidos da planta e atingindo, assim, apenas os insetos-praga que se alimentam dos tecidos. A primeira geração de plantas transgênicas resistentes a insetos foi desenvolvida exatamente com o uso de genes codificadores de proteínas inseticidas do entomopatógeno Bt (BOBROWSKI, 2003). 2.6 Preservação de inimigos naturais O efeito das toxinas de Bt sobre inimigos naturais dos insetos-praga como parasitóides ou predadores foi estudado em laboratório e a campo, indicando pouco ou nenhum efeito sobre estes organismos. Os inimigos naturais são extremamente importantes, pois pragas secundárias podem tornar-se um problema, caso a população de insetos benéficos for reduzida pelo uso de inseticidas químicos de amplo espectro. Na China, o uso de algodão-Bt determinou a redução do uso de inseticidas químicos, resultando em um aumento de 24% na população de inimigos naturais dos insetos-praga, quando comparado com campos de plantas de algodão não modificadas geneticamente e submetidas ao controle químico convencional (MELOTTO-PASSARIN, 2009). 2.7 Vantagens da cana-de-açúcar resistente à Diatraea saccharalis Os inseticidas biológicos, utilizados há mais de 50 anos no Brasil, são uma alternativa para o controle mais seletivo de insetos nocivos. Esta prática inclui, principalmente, o emprego de microrganismos. Mais recentemente, plantas transgênicas resistentes a insetos, desenvolvidas pela integração, nos seus genomas, dos genes de resistência provenientes desses microrganismos, como, os genes Bt codificadores da proteína Cry, responsável pela atividade tóxica no intestino dos insetos, constituem-se em mais uma alternativa com grande potencial de proteção contra as perdas causadas por insetos-praga (MELOTTO-PASSARIN, 2009). Como descrito, as culturas transgênicas podem ser munidas de genes que lhes confiram resistência as suas pragas naturais, produzindo toxinas que matam essas pragas. Com isto, é desnecessário o uso de químicos como os pesticidas na agricultura, uma vez que a própria planta se “protege sozinha”, contribuindo assim para reduzir a poluição ambiental. Além disso, devido à diminuição da necessidade de aplicação de inseticidas, é observada grande economia de água e combustíveis fósseis. 27 No caso da cana-de-açúcar resistente à broca, descrita no presente trabalho, como prática de manejo integrado de pragas, é interessante que ainda seja usado conjuntamente o controle biológico pela Cotesia flavipes, a fim de evitar ou retardar o aparecimento de organismos resistentes ao gene utilizado e prolongar a vida útil da tecnologia desenvolvida. A planta modificada com gene Bt apresenta diversas vantagens. Podemos citar os riscos ambientais e eficiência de controle de pragas avaliados durante os 50 anos de utilização no Brasil da bactéria entomopatogênica Bt como bioinseticida, pode-se considerar que as plantas Bt oferecem segurança e controle efetivo de insetos. Em nível mundial, os produtores agrícolas perdem bilhões de dólares com a redução da produtividade ocasionada pelo ataque de insetos e pelo custo em defensivos agrícolas necessários para minimizar os danos. Alguns inseticidas químicos, como os piretróides sintéticos, têm sido amplamente utilizados no controle de insetos-pragas, porém estes têm perdido a eficácia devido ao surgimento de insetos resistentes. Por outro lado, a necessidade de diminuir os custos e minimizar os efeitos ambientais e os riscos à saúde dos produtores têm tornado as plantas-Bt uma alternativa promissora para o controle de insetos (BOBROWSKI, 2003). 3. OBTENÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR GENETICAMENTE MODIFICADA Para descrever como seriam as etapas para obtenção de cana-de-açúcar transgênica, expressando gene Bt para controle da broca da cana, foi realizada pesquisa criteriosa durante 18 meses o que havia sido publicado em revistas, tais como, Revista Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento, em teses, livros, papers, incluindo também o grande auxílio recebido do Centro de Tecnologia Canavieira, onde um dos integrantes do grupo é estagiário desde Março de 2010, o que possibilitou grande troca de informações. Os procedimentos descritos abaixo são comumente realizados em ensaios para produção e validação de plantas transgênicas e se tratam de uma revisão de literatura, os quais são: clonagem do gene de interesse, transformação genética de cana-de-açúcar através das técnicas de biobalística e Agrobacterium tumefaciens e transferência das plantas para estufa, análises para detectar a presença do transgene (PCR), análises para detectar a expressão da proteína transgênica (ELISA), Southern blot, análise do número de cópias do transgene, bioensaio com inoculação da broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis) em folhas das plantas transgênicas, análises de campo e análises de biossegurança. 28 3.1 Clonagem do gene de interesse O genoma de uma bactéria contém aproximadamente 5.000 genes, o de plantas tem em torno de 40.000 a 60.000, enquanto que o genoma dos seres humanos consiste na faixa de 100.000 genes. Independente do organismo e de sua complexidade, os genes são segmentos de um mesmo tipo de molécula: o ácido desoxirribonucléico (DNA). Esta propriedade é que permite que características de um organismo sejam potencialmente funcionais em outro (GANDER et al., 1997). Uma das possibilidades de isolamento dos genes é a construção de uma “biblioteca genômica”. Para tal, o DNA do organismo contendo o gene de interesse é extraído. Em seguida, este DNA é cortado em fragmentos menores utilizando as enzimas de restrição – que são utilizadas como “tesouras” moleculares. Estes fragmentos são, então, ligados a outros fragmentos de DNA (Figura 5). Este material é inserido na bactéria e replicado várias vezes, tal procedimento é denominado clonagem gênica. A partir daí é só selecionar a colônia de bactéria que contém o fragmento de DNA correspondente ao gene de interesse. Desta maneira, uma quantidade impressionante de genes bacterianos de plantas, animais e humanas já foi isolada e está á disposição da comunidade científica (GANDER et al., 1997). Em organismos cujo genoma foi sequenciado, a amplificação por PCR é frequentemente a forma mais simples de obter uma região de DNA específica e de interesse para clonagem. Nesta aplicação da PCR, os dois primers são desenhados para hibridizar com sequências adjacentes à região genômica de interesse e incluir sequências reconhecidas pelas enzimas de restrição. Após amplificação da sequência-alvo, o produto de PCR é purificado com kits específicos, então, podem ser clonados, através de choque térmico, em células de E. coli, por exemplo. 29 Figura 5. Clonagem do Gene de Interesse. Fonte: CTC - Centro de Tecnologia Canavieira, 2010 3.2 Transformação Genética A transformação genética, transgenia, converge com as técnicas de engenharia genética como solução biotecnológica para problemas que afetam a agricultura brasileira e mundial, como pragas, doenças e estresses ambientais. Além disso, pode beneficiar os setores de saúde, indústria e alimentação, contribuindo para agregar valor aos produtos agropecuários, unindo o agronegócio aos setores farmacêutico e industrial. Essa tecnologia é uma potente ferramenta de auxílio ao melhoramento genético tradicional, que transpõe as barreiras do cruzamento entre diferentes espécies e acelera o processo de seleção de plantas (CARRER et al., 2010). A cana-de-açúcar apresenta características que a tornam uma excelente planta para o melhoramento através da transformação genética, como a sua facilidade para regeneração de plantas a partir de calos in vitro e, ao seu modo de multiplicação em escala comercial por propagação vegetativa que possibilitaria a distribuição de transformantes estáveis aos produtores através de mudas (MELOTTO-PASSARIN, 2009). Existem várias técnicas de transformação genética, mas estas devem seguir alguns critérios para que o sucesso dos experimentos seja alcançado (BRAGA, 2001). Pesquisas relacionadas ao melhoramento genético têm levado a aumentos consideráveis na produtividade de diversas espécies cultivadas através de várias abordagens metodológicas para obtenção de maior ganho genético após a seleção (MELOTTO-PASSARIN, 2009). 30 A tecnologia do DNA recombinante possibilitou o isolamento de genes e a inserção estável em um genoma hospedeiro. Está técnica, também chamada de transformação genética, pode ser definida como a introdução controlada de ácidos nucléicos (DNA), contendo as características de interesse, em um genoma receptor, excluindo-se a introdução por fecundação. A inserção estável destas moléculas em um genoma hospedeiro dá origem a um indivíduo igual ao receptor da molécula recombinante, porém acrescido de uma característica nova e particular (MELOTTO-PASSARIN, 2009). Foram abordados neste trabalho os dois métodos de transformação genética de plantas, sendo classificados em duas categorias: transferência indireta e direta de genes. A indireta é aquela que o DNA exógeno é inserido no genoma pela ação de um vetor biológico, como exemplo a transformação via Agrobacterium tumefaciens, enquanto que a direta é baseada em processos físico-bioquímicos, demonstrada através de Biobalística. Para os itens a seguir, tivemos como referência a tese de doutorado de Danila Montewka Melotto-Passarin, atualmente pesquisadora de biotecnologia no CTC, cujo título é “Transformação genética de cana-de-açúcar por biolística e Agrobacterium tumefaciens visando estudar o mecanismo de morte celular programada”, focando na diferença entre os respectivos métodos de transformação. 3.2.1. Biobalística Inicialmente proposto por Sanford, o processo de biobalística tem como objetivo introduzir material genético no genoma nuclear de plantas superiores. A biobalística utiliza microprojéteis em alta velocidade para introduzir ácidos nucléicos e outras moléculas em células e tecidos in vitro. Esse processo também tem sido denominado de método de bombardeamento com microprojéteis, gene gun (arma de genes), aceleração de partículas, entre outros (BRASILEIRO et al., 1998). Foram relatadas as primeiras canas transformadas através da técnica de bombardeamento na Austrália. No Brasil, o CTC foi o pioneiro em transformação genética de cana de açúcar, produzindo em 1994 uma variedade transformada tolerante ao herbicida glufosinato de amônio (BRAGA, 2001). O método consiste na aceleração de micropartículas que atravessam a parede celular e a membrana plasmática, de forma não letal, carreando substâncias adsorvidas, como DNA, RNA ou proteínas, para o interior da célula. São utilizados microprojéteis de ouro ou tungstênio, com diâmetro em torno de 1 μm, nos quais são precipitadas as 31 moléculas de DNA. O tipo de aparelho (Figuras 6 e 7) usado para acelerar as micropartículas envolvidas pelo DNA pode ter propulsão a ar, pólvora, gás hélio ou eletricidade (FERREIRA et al., 2004). Os sistemas que utilizam gás hélio são, atualmente, os mais utilizados. A onda de choque é gerada pela rápida liberação de uma descarga de alta pressão de gás hélio (10001200 psi). A onda de choque gerada impulsiona o macrocarregador, no qual as micropartículas cobertas com DNA (microprojéteis) foram previamente depositadas. Ao atingir a tela de retenção, a membrana é retida e as micropartículas contendo o DNA continuam em direção às células alvo, penetrando na parede celular e membrana plasmática (LACORTE et al., 1999). Diversos parâmetros físicos e biológicos devem ser levados em consideração para se estabelecer um protocolo de transformação utilizando-se esse método (FERREIRA et al., 2004) deve-se ter em mente uma série de processos pré-determinados para a adequação da técnica. Tendo em vista isto, o primeiro passo consiste na escolha do tecido alvo que receberá os transgenes; em seguida, deve-se escolher o gene-repórter o qual indicará que tipo de inserção será obtido. Junto a este, temos um gene marcador seletivo e um meio seletivo, para que sejam colocadas em evidência somente as células transformadas (SACILOTO, 2003). Segundo Saciloto (2003) a escolha do alvo é um dos fatores fundamentais neste processo. Dentre todos os testes em cana, observaram que os calos embriogênicos (Figura 8) foram os melhores, apesar de possuírem uma alta probabilidade de variação somaclonal quando comparados com os tecidos meristemáticos. Além disso, o uso dos calos embriogênicos possui uma certa vantagem pois regeneram plantas com alta facilidade. O uso de calo ainda confere a vantagem de alto manuseio no processo de seleção em meio de cultura, além de se obter alta produção de material para o uso em bombardeamento num pequeno espaço de tempo, resultando também na diminuição do aparecimento de quimerismo, muito comum quando se utilizam alvos mais organizados. As perspectivas de inúmeros trabalhos em transformação genética de cana-deaçúcar foram incrementadas com o Projeto Genoma da Cana, financiado pela FAPESP e CTC. Este projeto identificou milhares de sequências expressas em cana-de-açúcar, que serão utilizadas através de transformação para que possa estudar de maneira mais completa a biologia da planta. Assim novas variedades poderão ser produzidas num espaço de tempo inferior àquele necessário no melhoramento tradicional para seleção dos melhores clones, o 32 que representará milhões de dólares de economia por parte dos programas de melhoramento de cana-de-açúcar (BRAGA, 2001). As principais vantagens do bombardeamento estão relacionadas com a utilização de vetores simples e de fácil manipulação, além da possibilidade da inserção de mais de um gene de interesse nas células de maneira eficiente. Embora seja considerado um método de transformação bastante eficiente para o milho, uma possível desvantagem é a ocorrência de múltiplas cópias do transgene e de complexos padrões de integração suscetíveis ao silenciamento da expressão gênica nas gerações futuras (PÔSSA et al., 2010). Figura 6. Desenho esquemático do equipamento de biobalística. Fonte: ARAGÃO, et al., 1998 Figura 7. Equipamento de biobalística utilizado no processo de introdução de genes. Fonte: ARAGÃO, et al., 1998 33 Figura 8. Sequência para obtenção de calos embriogênicos in vitro. A: Ponteiros de cana vindos do campo. B: Segmento da parte apical (10cm) que contém o meristema apical caulinar protegido por folhas jovens enroladas (Palmito). C: Esterilização superficial com etanol absoluto, e posteriormente com solução comercial de hipoclorito de sódio, sob agitação. D: Cortes transversais de aproximadamente 2mm de espessura. E: Disco foliar em meio MS3AC para indução de calos no escuro. F: Calos embriogênicos em meio MS3AC que são selecionados e transferidos para meio fresco em cada subcultivo. G e H: Regeneração de plântulas em meio MSAC (fotoperíodo 16 horas). Fonte: MelottoPassarin, 2009 34 Segundo Melotto-Passarin (2009) a transformação genética por biobalística se mostrou um método relativamente simples, mas requer uma atenção especial em suspensão de partículas utilizada no disparo, evitando a formação de aglomerado de partículas (grumos) os quais podem levar a morte das células atingidas por eles no bombardeamento. A biobalística é considerada o principal método para transformação de cana. 3.2.2. Agrobacterium tumefaciens Conforme citado anteriormente, a produção de plantas transgênicas é realizada por meio de diferentes métodos que podem ser agrupados em duas categorias: transformação indireta e transformação direta. No método de transformação indireta, a transferência de genes é intermediada por bactérias do gênero Agrobacterium, as quais são capazes de infectar plantas naturalmente (CARRER et al., 2010). A transformação por A. tumefaciens é uma metodologia utilizada rotineiramente para transformar dicotiledôneas e recentemente foi adaptada para plantas monocotiledôneas (PÔSSA et al., 2010). Inicialmente, os pesquisadores associaram o desenvolvimento das galhas da coroa (Figura 9), induzidas pela Agrobacterium, ao câncer animal, o que estimulou numerosas pesquisas visando à elucidação das causas da doença (BRASILEIRO et al., 2000). Agrobacterium tumefaciens é uma bactéria capaz de infectar células vegetais, causando a doença conhecida como galha da coroa (crown gall), caracterizada pelo desenvolvimento de um tumor no local da infecção. A doença está associada à presença, na Agrobacterium, de um plasmídeo, de alto peso molecular, o plasmídeo Ti (Tumor inducing) (BRASILEIRO et al., 1998). Esses estudos concluíram que o surgimento da galha é, na realidade, o resultado de um processo natural de transferência de genes da bactéria para a célula vegetal, que passam a sintetizar substâncias que estimulam a divisão celular no sítio de infecção. Os conhecimentos gerados desde então culminaram com o entendimento bastante aprofundado desse parasitismo, sendo considerado atualmente um sistema modelo para estudos das interações patógeno-hospedeiro em plantas (BRASILEIRO et al., 2000). O agente etiológico causal da galha da coroa é Agrobacterium tumefaciens, uma bactéria tipicamente do solo, do tipo bacilo aeróbico e Gram-negativa. Além de A. tumefaciens, o gênero Agrobacterium possui outras 4 espécies que diferem entre si pela patogenicidade e modo de infecção em diferentes plantas, principalmente em Angiospermas dicotiledôneas. Dessa forma, A. tumefaciens é o agente etiológico da galha 35 da coroa, A. rhizogenes causa a raiz em cabeleira (do inglês hairy root), A. rubi induz galhas especificamente em Rubus spp., A. vitis induz galhas especificamente em videiras e A. radiobacter é saprófita (não-patogênica). As agrobactérias pertencem à família Rhizobiaceae, que agrupa, entre outros, os gêneros Rhizobium, Bradyrhizobium e Phyllobacterium, que são bactérias fixadoras de nitrogênio (BRASILEIRO et al., 2000). O plasmídeo Ti dessa bactéria pode ser modificado artificialmente para não formar o tumor, não provocando doença, e transportar o gene de interesse até o interior da célula da planta receptora. A. tumefaciens constitui um excelente sistema de introdução de genes em células vegetais uma vez que produz transformantes com poucas cópias do transgene e a integração do T-DNA é um processo relativamente preciso. A região do DNA a ser transferida está definida pelas sequências flanqueadoras, extremidades direita e esquerda. Ocasionalmente reordenações são produzidas, mas na maioria das vezes a região é inserida intacta no genoma da planta. Normalmente, os T-DNA integrados mostram mapas genéticos consistentes e segregação adequados. Ademais, os caracteres introduzidos por esta via têm se mostrado estáveis durante muitas gerações de cruzamentos. Esta estabilidade é critica quando se pretende comercializar as plantas transgênicas geradas (PÔSSA et al., 2010) A técnica de transformação (Figura 10) consiste em colocar o tecido da planta em contato com a Agrobacterium contendo o gene de interesse. As bactérias, assim, infectam o tecido vegetal, iniciando o processo de transferência e a transformação do genoma da planta. As Agrobacterium modificadas, que perderam todo ou parte de seu DNA de transferência (t-DNA), passam a ser incapazes de produzir tumores nas plantas hospedeiras. A técnica de transformação indireta é limitada pela baixa suscetibilidade da maioria das monocotiledôneas e gimnospermas, e de algumas dicotiledôneas, à infecção pela Agrobacterium (CARRER et al., 2010). De acordo com Melotto-Passarin (2009) os níveis de estabilidade genética e viabilidade durante o armazenamento da Agrobacterium podem ser mantidos pela redução da atividade metabólica da célula bacteriana, por meio de diferentes métodos: ausência de oxigênio, armazenamento em meio mínimo, redução da temperatura, remoção quase total da água, etc. Em uma coleção de Agrobacterium, algumas linhagens são requisitadas com mais freqüência que outras; assim, métodos de conservação dessas culturas por diferentes períodos devem estar disponíveis para as mais diversas finalidades. 36 Figura 9. Doença causada por A. tumefaciens, galha da coroa. Fonte: Wikipedia, 2010 Figura 10. Esquema representativo do método de transformação genética da cana-deaçúcar por A. tumefaciens. A: Cultura de A. tumefaciens linhagem EHA105, com o vetor binário pNW166, para incubação dos calos embriogênicos. B: Seleção de células transformadas em meio seletivo com antibiótico. C: Observação de brotos em lupa. D: Enraizamento de plântulas em meio seletivo. E: Plantas regeneradas sob aclimatação em substrato. Fonte: Melotto-Passarin, 2009 37 3.3 Caracterização Molecular Esta é a etapa onde algumas técnicas de biologia molecular são aplicadas, para detectar a transgenia nas plantas, tais como, PCR – Reação em Cadeia da Polimerase, eletroforese, ELISA e Southern blot. 3.3.1 PCR – Reação em Cadeia da Polimerase A reação em cadeia da polimerase (Polymerase Chain Reaction- PCR) é a amplificação enzimática de uma seqüência específica de DNA, visando à produção de milhões de cópias desta seqüência em um tubo de ensaio. Descrita por Kary Mullis no final dos anos 80 e tem revolucionado a genética molecular, pois possibilita uma nova estratégia na análise dos genes por meio de um método simples e rápido de amplificação de seqüências, dispensando todas as trabalhosas etapas de clonagem gênica. Através da técnica de PCR verificamos a presença do transgene nas amostras de DNA extraídas de plantas transformadas. Como parâmetros de controle da análise, primeiramente usam-se os reagentes da reação sem a presença de DNA para se certificar de que não ocorreu contaminação durante o preparo das amostras, em seguida utiliza-se uma planta não transformada, como controle negativo. A PCR explora a capacidade de duplicação do DNA. Uma fita simples de DNA é usada como molde para a síntese de novas cadeias complementares sob a ação da enzima DNA-polimerase, capaz de adicionar os nucleotídeos presentes na reação, segundo a fita molde. A DNA-polimerase requer, entretanto, um "ponto de início" ligado à fita molde que servirá de apoio para que os nucleotídeos subseqüentes sejam adicionados. Esse ponto de início da síntese é fornecido por um oligonucleotídeo que se hibridiza (se anela) à fita molde simples, o qual é denominado de primer. Ambas as fitas simples iniciais servem de fita molde para a síntese, desde que se forneça primers específicos a cada uma delas. Dessa forma, a região do DNA genômico a ser sintetizada é definida pelos primers, que se anelam especificamente às suas seqüências complementares na fita molde, delimitando o fragmento de DNA que se deseja amplificar. Na prática o que se faz é adicionar em um tubo de ensaio uma quantidade muito pequena de DNA genômico, mais os quatro nucleotídeos que compõem a cadeia de DNA (dCTP, dATP, dGTP e dTTP), a enzima DNA-polimerase, os oligonucleotídeos que servirão de primers e a solução tampão, que fornecerá as condições de pH e salinidade para que a síntese se processe. O tubo de ensaio é submetido a uma alta temperatura 38 (geralmente 94°C por 5 minutos) para provocar o rompimento das pontes de hidrogênio entre ambas as cadeias de DNA, causando a desnaturação da molécula. A temperatura é rebaixada (30 a 60°C por 30 segundos) quando, então, os primers têm a oportunidade de se anelarem às suas seqüências complementares do DNA genômico. Finalmente, a temperatura é colocada em torno de 72°C (por 2 a 5 minutos), temperatura ideal para que a DNA-polimerase utilizada na reação atue, dirigindo a síntese de novas cadeias. Repetindose esses três tipos de passos (desnaturação, anelamento e síntese), por cerca de 30 ciclos, são produzidas mais de 250 milhões de cópias de uma determinada sequência de DNA em fita dupla, uma vez que o número de cópias cresce de modo exponencial a cada ciclo. Após a primeira desnaturação do DNA genômico, o tempo de aquecimento a 94°C pode ser reduzido para 30 segundos nos ciclos subseqüentes, tendo em vista que a renaturação da molécula será dificultada. Nos próximos ciclos estas sequências aumentarão exponencialmente. 3.3.2. ELETROFORESE Eletroforese é uma técnica laboratorial que permite a separação de moléculas de DNA, RNA ou proteínas, utilizando como suporte uma matriz de gel (agarose ou poliacrilamida) (Figura 11). A técnica envolve a migração das moléculas no gel através da aplicação de uma diferença de potencial. A carga das moléculas de DNA é negativa, desta forma elas serão repelidas do pólo negativo e atraídas para o pólo positivo. De acordo com o tamanho da molécula, a migração se dá em uma velocidade. Moléculas maiores sofrerão maior resistência pelo gel e migrarão mais lentamente que moléculas menores. O tamanho das moléculas pode ser calculado através de comparação a outras moléculas de tamanho já conhecido. Para visualização das moléculas de DNA e RNA, os géis são geralmente imersos em uma solução de Brometo de Etídio. O Brometo de Etídio é um agente intercalante que se liga ao DNA e ao RNA, fluorescendo quando exposto à luz ultravioleta. A seguir, exemplo de resultado de PCR realizado em plantas de cana de açúcar transgênicas expressando gene Bt (cryIA(b)). 39 Fragmento amplificado gene Bt Figura 11. Exemplo de reação de PCR mostrando a amplificação do fragmento correspondente ao gene Bt (indicado pela seta) introduzido em plantas de cana de açúcar. Fonte: BRAGA, 2001. 3.3.3. ELISA – Expressão da Proteína No final dos anos 50, começou a surgir uma nova perspectiva para detecção de proteínas por meio de imunoensaios. Um trabalho pioneiro foi conduzido por YALOW & BERSON (1959) que descreveram a detecção da insulina por radioimunoensaio. Posteriormente, surgiram várias inovações que melhoraram sobremaneira a detecção de proteínas por imunoesnaios. Uma dessas inovações foi a possibilidade de se produzirem anticorpos monoclonais, o que permitiu a produção de quantidades ilimitadas de moléculas idênticas de anticorpo. Desde o início dos anos 70, os imunoensaios passaram a utilizar reagentes não radioativos. Estes ensaios, denominados ELISA (Enzyme Linked ImmunonoSorbent Assay), além de usarem reagentes enzimáticos, apresentam alta sensibilidade, facilidade na preparação dos reagentes, rapidez e reprodutibilidade dos resultados. Tais características, aliadas à variedade dos tipos de ensaio, fizeram com que as técnicas ELISA fossem amplamente adotadas em análises de anticorpos e antígenos solúveis. Os sistemas ELISA facilitaram bastante a detecção de várias proteínas e vírus, sendo amplamente utilizadas no diagnóstico clínico. Posteriormente, as técnicas ELISA 40 passaram a ser utilizadas em todas as áreas de análises biológicas (BRASILEIRO et al., 1998). A técnica permite identificar uma proteína presente em uma população de outras proteínas, utilizando-se preparações cruas ou semi-purificadas. Assim, pela técnica ELISA, é possível a detecção de uma proteína codificada por um gene exógeno em uma planta transgênica. Essa técnica, que tem a vantagem de ser rápida e permitir a análise de um grande número de amostras, possibilita a análise de um grande número de plantas transgênicas simultaneamente (BRASILEIRO et al., 1998). Atualmente existem kits específicos para cada proteína já liberada comercialmente. Estes kits são muito utilizados na inspeção de carregamentos em portos e são desenvolvidos em formatos que permitem a detecção da proteína de forma simples e rápida, por exemplo, na forma de sticks capazes de detectar a presença da proteína. É importante ressaltar que o método de ELISA além de detectar, também quantifica a expressão da proteína no tecido analisado. O exemplo a seguir (Figura 12), mostra resultados obtidos a partir de plantas de cana-de-açúcar transgênica expressando gene Bt produzidas no CTC, observa-se que foram analisados dois tecidos da planta, colmo e folhas, e houve diferentes resultados relacionados à expressão da proteína, isto pode ser justificado pelo tipo de promotor utilizado, na construção do evento transgênico. 41 Tecido PLANTA Ng proteína Bt / mg proteína total 7 folha 879,9 7 colmo 0 41 folha 211,11 41 colmo 193,3 53 folha 1146,5 53 colmo 0 68 folha 1079,4 68 colmo 0 157 folha 707,03 157 colmo 26,17 99 folha 560,14 99 colmo 0 1842 ctrl L, S, R, LS 0 Figura 12. Análise ELISA de plantas transgênicas da variedade SP80-1842 expressando a proteína Bt CryIA(b) em folhas e colmos. Fonte: BRAGA, 2001. 3.3.4. SOUTHERN BLOT - Análise de número de cópias A técnica Southern blot permite detectar fragmentos de DNA específicos em amostras de composição complexa, como DNAs genômicos. O método foi primeiramente descrito por Edwin M. Southern e até hoje é usado sem alterações essenciais em relação a sua primeira descrição (BRASILEIRO et al., 1998) Segundo Brasileiro et al. (1998), entre diversas aplicações, a Southern blot permite analisar sequências de DNAs exógenos integrados no genoma vegetal pela Agrobacterium ou qualquer sistema de transformação genética. O método consiste basicamente nas seguintes etapas: i. O DNA vegetal é extraído das células e digerido com uma ou mais enzimas de restrição; ii. Os produtos obtidos pela digestão do DNA são separados de acordo com o tamanho, por eletroforese em gel de agarose; 42 iii. O DNA ainda no gel é desnaturado e transferido para uma membrana de náilon ou nitrocelulose. É importante ressaltar que as posições relativas dos fragmentos do DNA no gel se mantêm quando o DNA é transferido para a membrana; iv. O DNA é fixado à membrana por luz ultravioleta (UV) ou por alta temperatura (80°C); v. O DNA fixado à membrana é hibridizado contra uma sonda de DNA ou RNA que possui homologia com a sequência de interesse. A posição dos fragmentos com homologia à sonda é visualizada por auto-radiografia ou colorimetria, dependendo do tipo de sonda ou da forma de detecção utilizados. A importância da técnica de Southern blot em experimentos de transformação de plantas reside no fato de ela ser considerada uma prova molecular de integração de genes exógenos no genoma vegetal. A técnica de PCR também pode ser utilizada para tal fim, no entanto, sua confiabilidade é menor, em virtude, principalmente, da sua alta sensibilidade, que pode levar a falsos positivos, por amplificação de quantidades mínimas de DNAs contendo o gene analisado. Outra vantagem do Southern blot em relação ao PCR é que os iniciadores (primers) utilizados no PCR normalmente amplificam regiões internas do transgene. Isso dificulta ainda mais a diferenciação entre o DNA exógeno integrado e potenciais contaminantes, pois ambos resultam na amplificação de fragmentos de tamanhos idênticos. Pelo mesmo motivo, a técnica de PCR, quando utiliza iniciadores que amplificam uma região interna do DNA exógeno, não pode ser utilizada para estimar o número de cópias do transgene que foi introduzido no genoma vegetal. Por seu turno a técnica Southern blot, dependendo das enzimas e da sonda utilizadas na análise, pode fornecer aquele tipo de informação (BRASILEIRO et al., 1998). A seguir (Figura 13) é mostrado um exemplo de uma análise utilizando a técnica de Southern blot para analisar o número de cópias do gene cryIA(b) inseridas em plantas transgênicas de cana de açúcar. 43 Figura 13. Análise de Southern blot em plantas de cana de açúcar transgênicas das variedades SP80-1842 e SP80-3280 transformadas com o gene Cry1A(b). Fonte: BRAGA, 2001. Pode-se observar na figura 13, as plantas transgênicas analisadas apresentam várias cópias do transgene inserido, representado pelo número de bandas no gel, este “arraste” visualizado permite concluir que o gene de interesse está inserido no genoma da planta. 3.4. Bioensaio O bioensaio é um método de resultados diretamente quantificáveis fundamentados na caracterização fenotípica das plantas, pois as expõe ao inseto durante determinado período (Figura 14), permitindo a avaliação comparativa da reação dos insetos alimentados com folhas das plantas transgênicas, transformadas com gene de resistência a insetos (Bt), com insetos alimentados com folhas de plantas convencionais, não transformadas. Bioensaios também são utilizados para determinar a Concentração Letal Média, ou seja, a quantidade de entomopatógeno que deve ser utilizada para controlar a metade da população do inseto (BERLITZ et al., 2009). As brocas serão inoculadas junto às folhas das plantas geneticamente modificadas, após esta etapa será avaliado o índice de mortalidade das lagartas. A partir do índice de mortalidade observado, as plantas transgênicas são selecionadas para prosseguir com as demais análises e testes necessários. 44 Figura 14. Exemplo de Bioensaio realizado no CTC - Centro de Tecnologia Canavieira com folhas de plantas de cana-de-açúcar transgênicas expressando o gene Bt CryI(A)b (à direita) e plantas da mesma variedade (SP80-1842) não transformadas (à esquerda). Fonte: Centro de Tecnologia Canavieira. 3.5 Análises de Campo As plantas positivadas anteriormente são levadas a campo para testes de produtividade e análises de biossegurança. Qualquer experimento em campo que envolva organismo geneticamente modificado no Brasil deve ser aprovado pela CTNBio, Comissão Técnica Nacional de Biossegurança. Esta comissão é responsável no Brasil pela avaliação da proposta de experimento e dos procedimentos que se pretende realizar. Uma vez obtido parecer favorável, pode-se proceder ao plantio do experimento. As análises de campo consistem em demonstrar que a cana geneticamente modificada é idêntica a não transformada, isto é realizado através de análises agronômicas e de produtividade, tais como: Fibra – Matéria seca insolúvel em água contida na cana-de-açúcar, o valor refere-se a análise da matéria prima e portanto, inclui as impurezas ou matérias estranhas que provocam o aumento dos sólidos insolúveis (palhas, ervas - daninhas, etc.) Brix – Teor de sólidos em solução. Por consenso, admite-se o Brix como a porcentagem aparente de sólidos solúveis contida em uma solução açucarada impura. O Brix pode ser 45 obtido por aerômetros utilizando solução de sacarose à 20ºC, sendo denominado “Brix aerométrico”, ou por refratômetro, que são aparelhos eletrônicos que medem o índice de refração de soluções de açúcar sendo denominado “Brix refratométrico”. POL – Representa a porcentagem aparente de sacarose contida numa solução impura de açúcar, sendo determinada por métodos polarimétricos (polarímetros ou sacarímetros). Tonelada de cana por hectare – Medida de peso das parcelas do experimento, a fim de calcular a produtividade da cana de açúcar geneticamente modificada, comparativamente a plantas da mesma variedade não transgênicas. Inoculação da Broca da cana de açúcar – Para analisar o potencial da tecnologia desenvolvida e se a expressão da proteína continua estável na planta adulta. Pode-se observar na figura 15 a exposição, já em campo, o ataque da broca em cana transformada (A) e não-transformada (B), onde os danos são visíveis. A. B. Figura 15. Exemplo de inoculação da broca da cana (Diatraea saccharalis) em plantas adultas de cana-de-açúcar transgênicas expressando o gene Bt CryI(A)b (B) e plantas da mesma variedade (SP80-1842) não transformadas (A), realizado no CTC – Centro de Tecnologia Canavieira. Fonte: Centro de Tecnologia Canavieira. 46 As análises de campo têm o objetivo de verificar se a planta transgênica que se pretende liberar no mercado será capaz de garantir a produtividade desejada pelos produtores e ainda evitar as perdas que podem ocorrer decorrentes do ataque de insetos. 3.6 Análises de Biossegurança Como parte do processo de liberação de uma planta geneticamente modificada, são realizadas análises de composição de amostras coletadas das plantas transformadas, comparando com os resultados de amostras de plantas da mesma variedade, não transgênicas. Estas análises têm o objetivo de provar que, exceto pela característica alterada intencionalmente (neste caso, resistência a inseto), nenhuma outra característica da planta foi modificada. A avaliação de segurança de alimentos derivados de matérias-primas geneticamente modificadas é baseada na análise de risco, metodologia científica que compreende as etapas de: avaliação, gerenciamento e comunicação de risco. Na etapa de avaliação de risco procede-se à caracterização qualitativa e quantitativa dos potenciais efeitos adversos, tendo como balizador o conceito da equivalência substancial, para identificação de eventuais diferenças entre o novo alimento e o seu correspondente convencional (CTNBio, 2007). Para avaliar a segurança de uma matéria-prima alimentar geneticamente modificada ou sua equivalência ao alimento convencional, é recomendável que quatro elementos principais sejam analisados mais detidamente: (1) a variedade parental, ou seja, a planta que deu origem à nova matéria-prima geneticamente modificada; (2) o processo de transformação, incluindo a caracterização da construção utilizada e do evento resultante; (3) o produto do gene inserido e potencial toxicidade e alergenicidade e; (4) a composição da nova variedade resultante da transformação genética. O conjunto de dados dessas análises deve permitir a identificação e caracterização dos potenciais efeitos adversos associados com o consumo da nova matéria-prima, subsidiando as etapas de gerenciamento e comunicação de risco. Os resultados de todas as análises realizadas, bem como a descrição da planta e do processo de obtenção, devem ser compilados e submetidos à CTNBio para nova avaliação. Somente com parecer favorável desta comissão, é possível liberar comercialmente uma planta transgênica no Brasil. A avaliação da CTNBio leva em consideração todos os resultados obtidos durante todas as etapas do desenvolvimento da 47 planta e garante que o produto a ser liberado é seguro para a saúde humana, animal e para o meio-ambiente (CTNBio, 2007). 4. A PRODUÇÃO DE TRANSGÊNICOS 4.1 No mundo Em 2009, 14 milhões de agricultores em 25 países cultivaram comercialmente lavouras geneticamente modificadas, e mais de 90% eram de pequenos produtores rurais de países em desenvolvimento. Do total plantado, as variedades transgênicas resistentes a insetos (Bt) e tolerantes a herbicida (Glifosato) representam mais de 99% da área cultivada. As diferenças significativas para aumentos de produção entre países desenvolvidos e em desenvolvimento decorrem, provavelmente, da falta de um manejo adequado de pragas e plantas daninhas nas lavouras convencionais nos países em desenvolvimento. Dessa maneira, para os agricultores desses países, a adoção da cultura transgênica foi muito mais vantajosa do que para os agricultores de países desenvolvidos. O Brasil não foi considerado nessa pesquisa, e os dados de adoção e produção de culturas transgênicas por pequenos produtores ainda são escassos no país (CARRER et al., 2010). Podemos observar na figura 16 dados atualizados, mostrando através de número de liberações planejadas, para qual finalidade a cana-de-açúcar foi modificada. Figura 16. Pedidos de liberação planejada de cana-de-açúcar transgênica em todo o mundo – Finalidade dos OGM. Fonte: CTC - Centro de Tecnologia Canavieira, 2011 48 Já na figura 17, há uma comparação de pedidos de liberações feitas por empresas e centros de pesquisas, lembrando que muitos pedidos não serão levados adiante, já que o processo de desregulamentação é economicamente inviável. Figura 17. Pedidos de Liberação Planejada de cana-de-açúcar transgênica em todo o mundo – Solicitante X Ano. Fonte: CTC - Centro de Tecnologia Canavieira, 2011 4.2 No Brasil Em 2009, o Brasil se tornou o segundo maior produtor de plantas geneticamente modificadas (GM) do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. O plantio de soja, milho e algodão transgênicos alcançou a marca de 21,4 milhões de hectares semeados, superando em 100 mil hectares a área plantada na Argentina. Desse total, 16,2 milhões de hectares são plantados com soja Roundup Ready (tolerante ao herbicida glifosato), 5 milhões com milho Bt (resistente a pragas) e 145 mil hectares com algodão transgênico, destes 116 mil correspondem ao algodão Bt e 29 mil são tolerantes a herbicida (Figura 18) (JAMES, 2010). 49 Figura 18. Área plantada, em milhões de hectares, com lavouras transgênicas no Brasil. Fonte: JAMES, 2010 Apesar do domínio da soja na produção de transgênicos no Brasil, o crescimento de lavouras geneticamente modificadas em 2009 foi liderado pelo milho. A produção do milho transgênico foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em agosto de 2007, e a partir de então, o plantio vem crescendo vertiginosamente. O aumento na produção de milho transgênico na safra de 2009 foi de 400%, em comparação ao ano de 2008. Na safra 2010/2011, estão disponíveis para o produtor 136 cultivares de milho transgênico, e as perspectivas são de produção superior à safra passada (CARRER et al., 2010). 50 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS As duas técnicas de transformação genética, biobalística e A. tumefaciens, são importantes para a produção de plantas transgênicas de cana-de-açúcar, sendo que ambas possuem capacidade de gerar eventos com baixo número de cópias no genoma. A biobalística é uma técnica rotineira em instituições de pesquisa, como no caso do CTC, e tem apresentado resultados promissores, com diversas vantagens, principalmente por ser de metodologia simples e com capacidade de produzir grande número de eventos transgênicos. Porém, esta metodologia geralmente produz eventos transgênicos com inserção de alto número de cópias do transgene no genoma, se comparado com a transformação genética via A. tumefaciens, sendo assim, estas inserções podem ser aleatórias e causar o silenciamento de genes importantes para a planta, já que não é possível direcionar este processo. Outro problema pode ocorrer quanto à quebra do transgene por choque mecânico no momento do bombardeamento, havendo integração de pedaços incompletos do transgene no genoma, o que geram eventos transgênicos que não expressam o gene de interesse. Já a tecnologia de transformação por Agrobacterium tumefaciens, mostra-se mais complexa e menos eficiente, pois produz baixo número de eventos transgênicos. A técnica apresenta vantagens por ser simples quanto à execução de protocolo, e geralmente há inserção de baixo número de cópias de transgene no genoma. Esta característica é desejável para a seleção dos eventos transgênicos a serem avaliados para liberação comercial. A A. tumefaciens seleciona naturalmente a inserção do transgene em regiões não codificadoras do genoma da planta, pode-se dizer então, que a probabilidade de silenciar algum gene essencial para a planta é menor. Diferentemente da biobalística, não ocorre quebra do transgene, ou seja, se ocorrer a transformação genética, o gene irá expressar corretamente. A transformação via Agrobacterium tumefaciens ocorre na natureza há muitos anos, porém em plantas dicotiledôneas, justificando a dificuldade de aplicá-la à cultura da canade-açúcar, visto que esta pertence a classe das monocotiledôneas. Concluí-se que através da transformação genética é possível obter cana-de-açúcar geneticamente modificada, o que seria de grande importância para o desenvolvimento biotecnológico dos canaviais, evitando perda de produtividade, reduzindo o uso de defensivos agrícolas e tantos outros prejuízos que citamos ao longo desta revisão de literatura. 51 5. REFERÊNCIAS ALMEIDA, L.C., STINGEL, E., ARRIGONI, de E.B. “Monitoramento e Controle de Pragas da Cana-de-açúcar”. 32 p. CTC – Centro de Tecnologia Canavieira. Piracicaba, 2005. BERLITZ, D.L., et.al. “Toxicologia de Bacillus thuringiensis às pragas agrícolas”. Revista Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento 2009/2010. Disponível em: http://www.biotecnologia.com.br/revista/bio38/toxicologia.pdf. 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