osteopatia e quiropraxia Nas mãos do terapeuta As dores musculoesqueléticas constituem um dos principais motivos que levam as pessoas ao médico, nomeadamente as dores crónicas nas costas. A par da medicina convencional, cujos tratamentos passam por medicação (analgésicos, anti-inflamatórios, relaxantes musculares, entre outros), fisioterapia, injeções e, em último recurso, cirurgia, há quem recorra a terapias alternativas como complemento. É o caso da osteopatia, da quiropraxia ou da acupuntura. A lei que regulamenta o exercício profissional de terapêuticas não convencionais entrou finalmente Só existem provas científicas da eficácia das terapias alternativas manipulativas no caso de dores lombares crónicas em vigor em setembro de 2013, 10 anos depois de reclamada pela DECO. Mas falta regulamentar, por exemplo, os requisitos de formação dos terapeutas e o acesso à carteira profissional. Enquanto a lista de profissionais credenciados não for publicada pela Administração Central dos Sistemas de Saúde (ACSS), siga a nossa seleção de cuidados para escolher o terapeuta. Tratar a dor sem medicamentos ■ Dentre os males que as terapias alternativas manipulativas alegam tratar, só há provas de alguma efi- cácia no caso da manipulação da coluna vertebral, mais concretamente de dores lombares crónicas que persistam há mais de seis semanas. Esta técnica traz benefícios, quer seja aplicada por quiropráticos, osteopatas, massagistas ou fisioterapeutas. Diretrizes do National Institute for Health and Care Excellence (NICE) recomendam até nove sessões repartidas ao longo de, pelo menos, três meses, para o doente sentir efeitos positivos. ■ As técnicas manipulativas, bem como a mobilização usada pelos quiropráticos, revelaram algum alívio das dores no pescoço, mas > teste saúde 110 agosto/setembro 2014 As terapias alternativas manipulativas não são indicadas para todos os problemas. Mas revelam alguma eficácia nas dores lombares crónicas. Enquanto aguardamos pela definição de regras para a formação destes profissionais, saiba como escolher 15 osteopatia e quiropraxia osteopatia Os osteopatas usam as mãos como método de diagnóstico e tratamento. Defendem que o bem-estar do indivíduo depende do equilíbrio dos músculos, dos ossos e da circulação, que pode ser recuperado com manipulações. Esta técnica é usada para dores nas costas, no pescoço e nos ombros, nas pernas, nas ancas e na pélvis, lesões desportivas, artrite e problemas decorrentes de má postura. O uso é controverso no tratamento de enxaqueca, sinusite, asma e fibromialgia, por não estar cientificamente provada a eficácia. Efeitos adversos como desconforto, dor localizada, dor de cabeça e dor que irradia, assim como cansaço, ocorrem cerca de quatro horas depois das manipulações em 30 a 60% dos pacientes, mas desaparecem em menos de 24 horas. Se experienciar cansaço extremo após as sessões, evite conduzir. Pessoas com a pele sensível e alergias devem alertar o terapeuta, sob pena de sofrerem uma reação a cremes e loções usados nas manipulações. Podem ocorrer complicações graves, como agravamento da hérnia discal, fratura, compressão dos nervos, hemorragia e trombose, mas são situações raras. Os osteopatas usam as mãos como método de diagnóstico e tratamento A osteopatia não está indicada em caso de hérnia discal, osteoporose, fraturas, doença inflamatória aguda, problemas de coagulação sanguínea (como hemofilia) e cancro. Também não se recomenda a quem tome medicação anticoagulante, como varfarina. quiropraxia Assenta no princípio de que o correto funcionamento da coluna é essencial para o bem-estar. Através de manipulações, coloca as vértebras na posição certa, para resolver compressões de nervos na origem de dores e outros distúrbios. Por vezes, são indicados exercícios e dieta em conjunto. O diagnóstico pode requerer exames complementares, como um raio X. Esta técnica é usada no caso de dores nas costas, no pescoço e nos ombros, deslocamentos discais, ciática, problemas nas pernas, nas ancas, nos joelhos e nos pés, nos ombros, nos cotovelos e nas mãos. teste saúde 110 agosto/setembro 2014 O uso é controverso no tratamento de alergias, asma, dores menstruais, cólicas do recém-nascido, síndroma do túnel cárpico, enxaqueca, hipertensão, depressão, ansiedade, fobias e distúrbios gastrointestinais, já que faltam provas de eficácia. 16 Efeitos adversos como ligeira dor de cabeça, rigidez e inchaço, agravamento passageiro da dor e cansaço são referidos por cerca de metade dos pacientes, quatro horas após as manipulações. Geralmente, estas queixas passam ao fim de um ou dois dias. Os riscos de hemorragia ou trombose, que ocorrem sobretudo após manipulações no pescoço, são raros. Um acidente ao manipular a coluna pode causar paralisia. A quiropraxia não está indicada em caso de osteoporose grave, estenose da artéria vertebral, fraturas, próteses ou parafusos nos ossos, cancro nos ossos ou metástases, artrite, diabetes não controlada ou gota. Também não se recomenda a quem tome medicação anticoagulante, como varfarina. Na quiropraxia, o diagnóstico pode ser feito com exames, como o raio X > Jogo aberto com os profissionais ■ Quando um paciente opta por recorrer a terapias alternativas em complemento com a medicina convencional, é importante informar ambos os profissionais de que segue um tratamento em paralelo. ■ É também essencial revelar eventuais medicamentos que esteja a tomar, sobretudo anticoagulantes, como a varfarina, e referir doenças, como osteoporose, hipertensão ou diabetes. O médico deve ainda ter conhecimento de eventuais antecedentes de cancro ou trombose, porque, em certos casos, as terapias alternativas manipulativas não estão indicadas. ■ O risco de fraturas em pessoas com osteoporose, cancro ou metástases nos ossos faz com que as manipulações da coluna vertebral sejam absolutamente contraindicadas nestas situações. A coluna e as costelas são muito vulneráveis a fraturas. ■ Em resumo, pode recorrer às técnicas de manipulação da coluna face a dores lombares crónicas que perdurem há, pelo menos, seis semanas. Para outras situações, faltam estudos de eficácia sobre a utilização destas terapias. dicas para escolher Perfil do bom terapeuta O exercício da profissão foi legislado, mas falta regulamentar os requisitos para a formação e o acesso à carteira profissional. Antes de experimentar uma terapia alternativa, siga alguns conselhos para escolher o profissional. ´ Está disponível para prestar informações sobre as suas habilitações e tem documentação para consulta. ´ Procura saber se um médico já fez um diagnóstico e, em caso afirmativo, pede informações. Questiona se foram feitos tratamentos. Faz perguntas pormenorizadas sobre as queixas e as condições de vida e de trabalho do doente. ´ Informe o seu médico se segue uma Explica o tipo de tratamento recomen- terapia alternativa como complemento dado ou orienta para a medicina convencional, caso a terapia não seja adequada para o tipo de doença. Sugere ainda que o médico seja informado dos tratamentos alternativos seguidos. ´ Pede a opinião do doente antes de alterar um plano de tratamento previamente estabelecido. Esclarece sobre os custos do tratamento e afixa em lugar visível o horário de funcionamento do consultório. consumidores exigem Lista de terapeutas credenciados ´ A legislação impõe formação académica superior aos terapeutas, carteira profissional emitida pela Administração Central do Sistemas de Saúde (ACSS) e um seguro de responsabilidade civil para cobrir eventuais danos causados aos doentes. Mas, quase um ano depois de a lei ser publicada, falta definir os requisitos de formação exigidos aos profissionais, as regras para o requerimento e a emissão da carteira profissional e as características do seguro. A ACSS deveria também ter criado uma base de dados com os profissionais credenciados, para acesso público em www.acss. min-saude.pt. ´ Ao consumidor, a lei impõe a indicação por escrito de “todos os medicamentos, convencionais ou naturais, que esteja a tomar”. Mas as responsabilidades estão trocadas: deveria caber ao terapeuta o dever de questionar o utente sobre o assunto e, ao consumidor, o de colaborar, fornecendo todos os dados necessários. ´ Atualmente, a fiscalização da atividade está a cargo da Inspeção-Geral de Atividades em Saúde, administrações regionais de saúde, autoridades de saúde pública, ACSS, Infarmed e Entidade Reguladora da Saúde. O envolvimento de tantas entidades pode complicar a ação de controlo e tornar a situação confusa para o doente. As autoridades têm a responsabilidade de resolver todas estas questões, para que os doentes possam ter mais garantias no recurso às terapias alternativas. teste saúde 110 agosto/setembro 2014 apenas em conjunto com outros exercícios. Os estudos indicaram que a manipulação da coluna vertebral ou a mobilização, por si só, não trazem vantagens. Para outros problemas, como osteoartrite da anca ou do joelho, a utilização de terapias alternativas manipulativas mostrou-se inconclusiva. ■ A quiropraxia não surte efeito no tratamento de dores menstruais, cólicas do recém-nascido ou síndroma do canal cárpico. A última manifesta-se através de dores, inchaço e formigueiro nas mãos e pulsos, devido à compressão do nervo que se situa neste local. A osteopatia e a quiropraxia também não deram provas de eficácia no caso da asma. 17