UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE BRAGANÇA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA AMBIENTAL CURSO DE MESTRADO E DOUTORADO EM RECURSOS BIOLÓGICOS DA ZONA COSTEIRA AMAZÔNICA COMPOSIÇÃO DA QUIROPTEROFAUNA E SUA SOROPREVALÊNCIA DE ANTICORPOS CONTRA O VÍRUS DA RAIVA NO NORDESTE DO PARÁ LANNA JAMILE CORRÊA DA COSTA BRAGANÇA -PA 2011 Lanna Jamile Corrêa da Costa COMPOSIÇÃO DA QUIROPTEROFAUNA E SUA SOROPREVALÊNCIA DE ANTICORPOS CONTRA O VÍRUS DA RAIVA NO NORDESTE DO PARÁ Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Biologia Ambiental (Mestrado e Doutorado em Recursos Biológicos da Zona Costeira Amazônica), da Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Biologia Ambiental. . Prof. Dr. Marcus Emanuel Barroncas Fernandes (Orientador) BRAGANÇA -PA 2011 Lanna Jamile Corrêa da Costa COMPOSIÇÃO DA QUIROPTEROFAUNA E SUA SOROPREVALENCIA DE ANTICORPOS CONTRA O VÍRUS DA RAIVA NO NORDESTE DO PARÁ Banca Examinadora: ______________________________________ - Orientador Prof. Dr. Marcus Emanuel Barroncas Fernandes Universidade Federal do Pará - Campus de Bragança __________________________________________- Titular Dr. Wilson Uieda Universidade Estadual de Paulista - Campus de Botucatu __________________________________________- Titular Dra. Ana Cristina Mendes de Oliveira Universidade Federal do Pará __________________________________________- Titular Dra. Daniele Barbosa de Almeida Medeiros Instituto Evandro Chagas __________________________________________- Suplente Dra. Elizabeth Salbé Travassos da Rosa Instituto Evandro Chagas __________________________________________- Suplente Profa. Dra. Cláudia Nunes-Santos Universidade Federal do Pará – Campus de Bragança BRAGANÇA-PA 2011 i Always look on the bright of life. (Monty Python) ii Dedico a meus pais: Maria José e José Nicolau, os principais responsáveis pela criação deste trabalho. iii AGRADECIMENTOS À Universidade Federal do Pará, ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Ambiental (Mestrado e Doutorado em Recursos Biológicos da Zona Costeira Amazônica), e ao Instituto de Escossistemas Costeiros pela formação e oportunidade de desenvolver esta pesquisa. À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Pará (FAPESPA) pelo auxílio financeiro através do projeto do edital número 003/2008 entitulado: “Diversidade e abundância de morcegos e diagnóstico sócio-ambiental em localidades com registro de raiva, em humanos e herbívoros, no Nordeste do Pará”, e também pela bolsa de mestrado referente ao edital número 021/2008. À Dr. Luzia Martorelle e Ana Paula Cataoka do Laboratório de Zoonoses e Doenças Transmitidas por Vetores no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ/SP), pelos exames sorológicos realizados nos morcegos capturados no presente trabalho. Ao Laboratório de Ecologia de Manguezal pelo suporte e apoio para realização deste trabalho. Ao Prof. Dr. Marcus pela orientação e oportunidade de realizar este trabalho. À Fernanda Atanaena por me ensinar muitas coisas referentes ao desenvolvimento deste trabalho e pela sua amizade. Ao Tacio por sua ajuda fundamental e indispensável, além de sua alegria que tornaram muitos momentos difíceis em momentos de descontração. À Lenilda por estar em praticamente todas coletas, sem ela o trabalho teria se tornado muito mais difícil e muito menos divertido. Ao Edson, que sem frescura alguma, teve coragem de me levar a muitas de minhas coletas em seu carro à qualquer horário e aos lugares quase inacessíveis. iv Aos moradores das vilas visitadas, por me respeitarem e me acolherem com muita dignidade, principalmente àqueles que me cederam lugares em suas casas, pela paciência, pela alimentação e por ainda me ajudarem em parte do trabalho. Ao Rubens e Suzane que em algum momento também me auxiliaram. Aos meus amigos da turma de mestrado 2009 e aos meus amigos e companheiros do Laboratório de Ecologia do Manguezel pela amizade e companheirismo. Aos meus pais, Maria José e José Nicolau, grandes responsáveis pela minha educação e caráter, sempre apoiadores e compreensivos, obrigada pelos conselhos, exemplo, amor e finalmente, por sonharem comigo os meus sonhos... E a todos que, em momentos não menos importantes dos citados acima, ajudaram de forma muito importante, os meus sinceros agradecimentos. v RESUMO Nos anos de 2004 e 2005 foram notificados surtos de Raiva humana transmitida por morcegos hematófagos no Estado do Pará. Este evento despertou o interesse no estudo das diferentes espécies de morcegos da fauna regional, enfocando, principalmente, a soroprevalência de anticorpos contra o Vírus da Raiva (RABV) nessas espécies. As coletas foram realizadas nos municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Viseu, no nordeste do Estado do Pará. Para a captura dos morcegos foram utilizadas dez redes de espera (12 x 3 m), expostas por duas noites em cada localidade durante os períodos seco e chuvoso. Os indivíduos capturados foram identificados em nível de espécie e deles foram obtidas amostras de soro para determinar o nível de produção de anticorpos contra a Raiva. O estudo resultou na coleta de 949 indivíduos pertencentes a quatro guildas, 36 espécies, 23 gêneros e quatro famílias. A família Phyllostomidae apresentou maior percentual de capturas (98%), sendo a espécie Carollia perspicillata a melhor representada no presente trabalho (n=307; 40%). Em relação à densidade, os três municípios diferiram significativamente (ANOSIM, R=0,31; p<0,05), ao contrário a diversidade não apresentou diferença significativa (Kruskal Wallis, H=1,40; gl=2; p>0,05). Contudo, o município de Bragança destacou-se por apresentar o maior número de espécies (n=27) e de indivíduos (n=406), o que pode ser resultado da não ocorrência de surtos em Bragança, sendo assim sua densidade e riqueza de espécies não foi afetada devido à aderência de algumas medidas de vigilância e controle da Raiva adotadas durante esse período. A soroprevalência para os municípios combinados foi elevada (49%) e a diferença entre eles variou significativamente (χ2=10,32; gl= 2; p<0,05), sendo o município de Viseu o que apresentou maior percentual de indivíduos soropositivos (62%). Entre as espécies analisadas, Artibeus planirostris foi a que apresentou maior percentual de indivíduos soropositivos (52%). Os resultados baseados no número de indivíduos soropositivos e soronegativos nos diferentes períodos do ano vi (seco e chuvoso) mostraram diferença bastante significativa (χ2=28,61; gl=1 p<0,001), sendo o período chuvoso o que apresentou percentual mais elevado (67%; n=95). O grande de número de indivíduos apresentando produção de anticorpos indica que o circula muito ativamente na região dos três municípios, sugerindo que tais espécies tiveram contato com esse vírus. Os resultados do presente estudo mostram que a região estudada apresenta circulação do RABV entre morcegos de diferentes espécies, sendo necessário um constante monitoramento através epidemiológicas para a vigilância e controle da raiva. de medidas sanitárias e vii ABSTRACT In 2004 and 2005 outbreaks were reported of human Rabies transmitted by vampire bats in the State of Para. These events led to the study of different bat species of the regional fauna, focusing mainly on the seroprevalence of Rabies Virus (RABV) antibodies in these species. Samples were collected in the municipalities of Bragança, Viseu, and Augusto Corrêa in the northeastern of the State of Para. For the capture of ten bats were used mist nets (12 x 3 m), exposed for two nights in each location during the dry and rainy season. The individuals captured were identified to the species level and their serum samples were obtained to determine the level of antibody production against rabies. The study resulted in the collection of 949 individuals belonging to four guilds, 36 species, 23 genera, and four families. The family Phyllostomidae had a higher percentage of catches (98%), and the species Carollia perspicillata showed higher percentage in the present study (n=307, 40%). In relation to the density, the three municipalities differ significantly (ANOSIM, R=0,31, p<0,05), unlike diversity showed no significant difference (Kruskal Wallis, H=1,40, df=2, p>0,05). However, the municipality of Bragança presented the highest number of species (n=27) and individuals (n=406). These results certainly express the non-occurrence of outbreaks in Bragança and they did not affect the density and richness of species by the rabies surveillance and control. The seroprevalence for the municipalities combined was high (49%) and the difference among them varied significantly (χ2=10,32; df=2; p<0,05), the municipality of Viseu presented the highest percentage of seropositive individuals (62%). Among the species analyzed, Artibeus planirostris showed the highest percentage of seropositive individuals (52%). Results based on the number of seropositive and seronegative individuals in different seasons of the year (dry and rainy) showed high significant difference (χ2=28,61; df=1; p<0,001), and the rainy season presented the highest percentage (67%; n=95).The high levels of antibodies found in viii specimens analyzed may indicate that the RABV circulates very actively in the region of the three municipalities, suggesting that these species were in contact with the RABV. Finally, the results showed that the studied region presents circulation of the viral flow among bats of different species, requiring constant monitoring through sanitary and epidemiological measures for the surveillance and control of the rabies. ix LISTA DE TABELAS Tabela 1: Proporção de capturas realizadas com redes de espera nos municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Viseu.............................. Tabela 2: Índice de Shannon (H’) estimado para a área de trabalho e para os municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Viseu.............................. Tabela 3: 20 21 Morcegos capturados nos municípios de Bragança (B), Augusto Corrêa (AG) e Viseu (V), Nordeste do Pará. Guildas: Frugívora (F), Insetívora (I), Nectarívora (N), Sanguívora (S)................................... 22 Tabela 4: Número de indivíduos positivos e negativos para produção de anticorpos em Bragança, Augusto Corrêa e Viseu, no Estado do Pará...................................................................................................... Tabela 5 28 Soroprevalência relacionada ao sexo e faixa etária dos morcegos registrados nos municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Viseu, no Estado do Pará................................................................................ Tabela 6: 31 Número de indivíduos das quatro espécies mais abundantes com maior número de amostras positivas e negativas para produção de anticorpos nos municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Viseu, no Estado do Pará..................................................................................... 32 x LISTA DE FIGURAS Figura 1: Mapa ilustrando os municípios e suas respectivas localidades-alvo na mesorregião Nordeste do Pará........................................................ Figura 2: 13 Abundância relativa das subfamílias de Phyllostomidae capturadas nos municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Viseu........................ 21 Figura 3: Abundância relativa das guildas de morcegos capturadas nos municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Viseu.............................. Figura 4: 23 Percentual de indivíduos por categoria reprodutiva nos períodos seco e chuvoso. MSDR (machos sem descida testicular), MDT (machos com descida testicular), FNR (fêmeas não reprodutivas)..... Figura 5: 25 Comparação entre os valores absolutos de espécimes de morcegos registrados para os períodos seco e chuvoso nos municípios inventariados, de forma separada e combinada, no Estado do Pará.... Figura 6: 26 Comparação entre os valores absolutos das espécies de morcegos registradas nos períodos seco e chuvoso nos municípios inventariados, de forma separada e combinada no Estado do Pará..... Figura 7: 27 Comparação dos valores percentuais de morcegos soropositivos e soronegativos para a produção de anticorpos capturados em Bragança, Augusto Corrêa e Viseu, entre os três municípios combinados no Estado do Pará............................................................ Figura 8: Comparação entre os valores percentuais de indivíduos soropositivos e soronegativos nos períodos seco e chuvoso nos municípios inventariados de forma separada e combinada no Estado 29 xi do Pará................................................................................................. Figura 9: 30 Comparação dos valores percentuais de espécimes de morcegos soropositivos e soronegativos para a produção de anticorpos da raiva nos municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Viseu, e para os três municípios combinados no Estado do Pará.............................. 33 Figura 10: Comparação dos valores percentuais de indivíduos das quatro espécies mais abundantes de morcegos soropositivos e soronegativos para a produção de anticorpos da raiva nos municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Viseu, no Estado do Pará...................................................................................................... 33 xii LISTA DE ABREVIATURAS ABLV – Australian bat lyssavirus ARAV – Aravan vírus BHK 21 – Baby Hamster Kidney (linhagem de fibrolasto de hamster) CCZ-SP – Centro de Controle de Zoonoses em São Paulo CZB – Coleção de Zoologia de Bragança DE – Densidade por espécie DI – Densidade por indivíduo DUVV – Duvenhage vírus E – Equitabilidade EBLV-1 – European bat lussavirus tipo 1 EBLV-2 – European bat lyssavirus tipo 2 FNR – Fêmeas não reprodutivas gl – Graus de liberdade H’ – Índice de Shannon H.R. – Hora.rede IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis ICTV – Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus INPPAZ – Instituto Panamericano de Proteccion de Alimentos y Zoonosis IRKV – Irkut virus KHUV – Khujand vírus LBV – Lagos bat vírus ln – log neperiano MDT – Machos com descida testicular MOKV – Mokola virus xiii MSDT – Machos sem descida testicular n – Número de indivíduos NE – Número de espécies capturadas NI – Número de indivíduos capturados OPAS – Organização Panamericana de Saúde RABV – Rabies vírus REC – Razão espécie/capturas RFFIT – Rapid Fluorescent Focus Inibition Test (Teste Rápido de Inidição do Foco de Florescência SHIBV – Shimoni bat virus SNC – Sistema Nervoso Central UI/mL – Unidades Internacionais por mililitro VAg 2 – Variante dois do vírus da raiva VAg 3 – Variante três do vírus da raiva VAg 4 – Variante quatro do vírus da raiva VAg 5 – Variante cinco do vírus da raiva VAg 6 – Variante seis do vírus da raiva WHO – World Health Organization WCBV – West Caicasian bat virus χ2 – Teste do Qui-quadrado xiv SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1 1.1. A BIOLOGIA E ECOLOGIA DOS MORCEGOS................................................1 1.2. A RAIVA................................................................................................................3 1.3. A PRODUÇÃO DE ANTICORPOS NEUTRALIZANTES CONTRA O VÍRUS DA RAIVA....................................................................................................................7 1.4. A RAIVA NO ESTADO DO PARÁ......................................................................9 2. OBJETIVOS..............................................................................................................11 2.1. OBJETIVO GERAL.............................................................................................11 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS...............................................................................11 3. METODOLOGIA...................................................................................................... 12 3.1. ÁREA DE ESTUDO ..........................................................................................12 3.2. CAPTURA DE MORCEGOS..............................................................................14 3.3. IDENTIFICAÇÃO DOS ESPÉCIMES................................................................14 3.4. DETERMINAÇÃO DO ESTADO REPRODUTIVO.........................................15 3.5. DENSIDADE, DIVERSIDADE E ESFORÇO DE CAPTURA..........................15 3.6. COLETA DE SANGUE.......................................................................................16 3.7. TÉCNICA DE SORONEUTRALIZAÇÃO EM CULTIVO CELULAR............16 3.8. ANÁLISE DE DADOS........................................................................................18 3.8.1. DENSIDADE E DIVERSIDADE E SIMILARIDADE................................18 3.8.2.RAZÃO SEXUAL, CLASSES DE IDADE E VARIAÇÃO ESTACIONAL........................................................................................................18 3.8.3. SOROLOGIA................................................................................................19 4. RESULTADOS .......................................................................................................... 20 4.1. ESFORÇO DE CAPTURA, ABUNDÂNCIA E DIVERSIDADE......................20 xv 4.2. RAZÃO SEXUAL E PROPORÇÃO ENTRE CLASSES ETÁRIAS.................23 4.3. CATEGORIAS REPRODUTIVAS E SUA VARIAÇÃO ESTACIONAL.........24 4.4. VARIAÇÃO ESTACIONAL ENTRE OS MUNICÍPIOS...................................25 4.5. PREVALÊNCIA SOROLÓGICA........................................................................27 5. DISCUSSÃO ........................................................................................................... ...34 5.1. COMPOSIÇÃO DA QUIROPTEROFAUNA.....................................................34 5.2. PREVALÊNCIA SOROLÓGICA........................................................................37 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................40 1 1. INTRODUÇÃO 1.1. A BIOLOGIA E ECOLOGIA DOS MORCEGOS Os morcegos são os únicos mamíferos com capacidade real de vôo devido à transformação de suas mãos em asas. Pertencem à ordem Chiroptera, palavra derivada do grego cheir (=mão) e pteron (=asa) (REIS et al., 2007). Estão entre os mamíferos de maior distribuição geográfica ao redor do mundo, sendo superados apenas pelos roedores (Mammalia, Rodentia) em se tratando de diversidade ecológica (HILL & SMITH, 1984) e de acordo com Huston et al. (2001), representam um quarto das espécies de mamíferos atualmente conhecidos. As espécies de morcegos registradas encontram-se distribuídas em duas subordens: Megachiroptera, com apenas uma família (Pteropodidae) restrita ao Velho Mundo e Microchiroptera com 16 famílias de distribuição mundial (SIMMONS et al., 2005). No total são conhecidas 17 famílias, 202 gêneros e 1120 espécies distribuídas pelo mundo (SIMMONS, 2005), sendo que nove famílias, 64 gêneros e 167 espécies são registradas para o Brasil (REIS et al., 2007). Contudo, de acordo com Tavares et al. (2008), a diversidade real dos morcegos do Brasil é indeterminada, porque as grandes áreas permanecem sem amostragem e os inventários sistemáticos ainda são incompletos. Apesar de ser o segundo grupo de mamífero em diversidade de espécies no país, perfazendo quase um terço das espécies terrestres (REIS et al., 2007), os morcegos ainda são biológica e ecologicamente pouco conhecidos, mesmo aquelas espécies consideradas comuns (MIRETZKI, 2003). Sabe-se que mundialmente esse grupo de mamíferos ocupa os mais diversos biomas em todos os continentes, com exceção de regiões muito frias como os pólos ou regiões muito elevadas, além de algumas ilhas no oceano Pacífico (FINDLEY, 1988). 2 Sua ampla distribuição geográfica foi bastante favorecida pela sua capacidade de vôo, sendo esta, inevitavelmente, associada à grande diversidade de hábitos alimentares, que os permitiu o uso de uma gama de recursos. Dessa maneira, a Ordem Chiroptera destaca-se pela presença em praticamente todos os grupos tróficos, com exceção dos saprófagos, podendo ingerir desde partes florais, pólen, néctar, frutos, pequenos vertebrados como anfíbios, répteis, peixes, mamíferos e até invertebrados e sangue (PERACCHI et al., 2006). Devido à grande variedade de hábitos alimentares os morcegos influenciam diretamente na formação da estrutura da vegetação e manutenção dos ecossistemas, onde possuem um importante papel ecológico, especificamente em florestas das regiões tropicais e subtropicais (WHITTAKER & JONES, 1994; WALKER, 2001). De fato, a presença maciça dos quirópteros nos diversos ecossistemas ao redor do mundo ressalta a relevância desses animais na manutenção dos ambientes. Morcegos frugívoros, por exemplo, dão suporte à dispersão de sementes e recolonização de espécies nativas em áreas degradadas (LANGONI et al., 2008) e ainda são potenciais indicadores de perturbação ambiental, especialmente os filostomídeos (MEDELLIN et al., 2000). Sabe-se que os insetívoros são responsáveis, em grande parte, pelo controle da população de insetos, abrangendo inclusive os sistemas agrícolas e orgânicos (ZAHAN et al., 2005). Muitas espécies de nectarívoros são responsáveis pela polinização de uma enorme variedade de plantas (VONHF et al., 2004, THIELE & WINTER, 2005). Não menos importantes são as espécies carnívoras, as quais participam no controle populacional de pequenos vertebrados, alimentando-se de peixes, rãs, camundongos, aves, e até de outros morcegos, podendo ainda complementar sua dieta consumindo, eventualmente, insetos e frutos (BORDINONG, 2005). 3 Os morcegos hematófagos, por sua vez, estão restritos a América Latina e compreendem apenas três espécies: Desmodus rotundus (E. Geoffroy, 1810), Diaemus youngi (Jentink, 1893) e Diphylla ecaudata Spix, 1823, explorando basicamente o sangue de vertebrados endotérmicos como aves e mamíferos (REIS et al., 2007). Sabese que nos ecossistemas naturais, os morcegos hematófagos auxiliam no controle das populações de vertebrados herbívoros, evitando que surperpopulações dessas presas destruam a vegetação e, consequentemente, o ecossistema, sendo que esse controle populacional é feito não somente por sangrias dos animais, mas também por transmissão de doenças letais (BREDT et al., 1998). É importante salientar que muitas espécies de morcegos estão associadas à incidência e/ou distribuição geográfica de determinadas epidemiologias causadas por agentes patogênicos, tais como: bactérias, fungos e vírus (GREENHALL et al., 1983; HILL & SMITH, 1984; CALISHER et al., 2006). Algumas dessas patologias, as quais teriam uma importância específica no controle populacional de outros grupos da fauna silvestre, como citado anteriormente, incluíram os humanos como hospedeiros no seu ciclo. Algumas espécies de morcegos, principalmente, os de hábito alimentar sanguívoro, passaram a ser considerados os principais transmissores de doenças humanas graves como, por exemplo, a Raiva, uma zoonose bastante conhecida não só por acometer determinadas espécies de animais silvestres e domésticos, mas também o homem. 1.2. A RAIVA A Raiva é uma das doenças mais antigas conhecidas pelo homem e, ainda nos dias atuais, representa um sério problema de saúde pública além de um empecilho ao desenvolvimento pecuário (INPPAZ, 1996). Trata-se de uma antropozoonose que atinge o sistema nervoso central (SNC) causando um quadro de encefalomielite infecciosa 4 aguda e, na maioria dos casos, fatal, cujo agente etiológico pertence à ordem Mononegavirales, família Rhabdoviridae e gênero Lyssavirus (ICTV, 2005). Este gênero possui sete principais genótipos caracterizados (BOURHY et al., 1993; GOULD et al., 1998), sendo que outros quatro estão em processo de classificação. Entre os sete genótipos estão: Rabies virus ou vírus clássico da raiva (RABV/genótipo 1); Lagos bat vírus (LBV/genótipo 2); Mokola virus (MOKV/genótipo 3); Duvenhage virus (DUVV/genótipo 4); European bat lyssavirus tipo 1 (EBLV1/genótipo 5); European bat lyssavirus tipo 2 (EBLV-2/genótipo 6); e Australian bat lyssavirus (ABLV/genótipo 7). O genótipo 1 (RABV) trata-se do mais importante genótipo, por apresentar distribuição mundial infectando mamíferos terrestres, morcegos hematófagos e não hematófagos das Américas; o genótipo 2 (LBV) é um vírus isolado de morcegos frugívoros da região de Lagos, na Nigéria; o MOKV (genótipo 3) foi isolado de humanos, também na Nigéria, e de felinos no Zimbabwe e na Etiópia; o DUVV (genótipo 4) inclui os vírus isolados de morcegos insetívoros e de humanos na África do Sul (KOTAIT & CARRIERE, 2005). Os genótipos 5 (EBLV-1) e 6 (EBLV-2) ocorrem na Europa, e o 7 (ABLV) é encontrado na Austrália. Até o momento, apenas o genótipo 3 não foi isolado de quirópteros (TORDO et al., 2000; WHO, 2005). Alem desses sete genótipos, a partir de 2003 outros quatro foram isolados de morcegos insetívoros, no centro e sudeste da Ásia, são eles: Aravan virus (ARAV) (ARAI et al., 2003); Khujand virus (KHUV) (KUZMIN et al., 2003); Irkut virus (IRKV) e West Caucasian bat virus (WCBV) (BOTVINKIN et al., 2003). Mais recentemente, foi submetido à apreciação o 12° genótipo, denominado Shimoni bat virus (SHIBV), encontrado em morcegos insetívoros na África Oriental (KUZMIN et al., 2010). 5 Badrane et al. (2001) dividiram os genótipos a partir das diferenças na sequência da glicoproteína e de suas propriedades biológicas, como patogenicidade e imunogenicidade, em dois filogrupos: genótipos 1, 4, 5, 6 e 7, integrantes do filogrupo I, e genótipos 2 e 3, do filogrupo II. O Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus (ICTV) ratificou os genótipos propostos, classificando o ARAV, KHUV e IRKV como integrantes do filogrupo I; o WCBV não apresentou afinidade com nenhum dos dois filogrupos até agora conhecidos (ICTV, 2009), contudo o 12° genótipo proposto (SHIBV), pelas evidências trata-se de um terceiro membro do filogrupo II (KUZMIN et al., 2010). Dentro de um mesmo genótipo, as diferenças genéticas e antigênicas classificam o RABV em variantes que podem ser mantidas em uma ou mais espécies atuando como reservatório regional (SCHNEIDER et al., 1973; RUPPRECHT et al., 2002). Texeira et al. (2005) apontam para o fato de que a existência de muitas variantes parece ser uma iniciativa de adaptação do vírus às diferentes espécies hospedeiras, incluindo morcegos hematófagos e não-hematófagos. No Brasil foram identificadas seis variantes antigênicas compatíveis com perfis preestabelecidos para estudos de amostras isoladas nas Américas: variantes 2 (cão – VAg 2), 3 (Desmodus rotundus – VAg 3), 4 (Tadarida brasiliensis – VAg 4), 5 (D. rotundus da Venezuela – VAg 5), 6 (Lasiurus cinereus – Vag 6) e “Lab” (reagente a todos os anticorpos utilizados) (FAVORETTO et al., 2002). O RABV é mantido em quatro ciclos: i) urbano - incluindo os animais domésticos; ii) silvestre terrestre – envolvendo os vertebrados terrestres; iii) silvestre aéreo – que inclui os morcegos; iv) rural – relacionado aos herbívoros de criação (BRASIL, 2004). De acordo com a OPAS (2007), a Raiva urbana, caracterizada pela presença do vírus em animais domésticos de estimação (cães e gatos), é ocasionada, geralmente, pela VAg 2 encontrada apenas nestas espécies. Contudo a VAg 3 apresenta 6 maior importância epidemiológica, haja vista ser encontrada em todos os mamíferos domésticos e no homem. Apesar desses ciclos tornarem-se importantes problemas econômicos e de saúde pública na América Latina, a Raiva em ambientes urbanos tem sido controlada através da vacinação de animais de estimação, gerando bons resultados na redução do número de casos em humanos e não-humanos em certos países latino-americanos. Por outro lado, a Raiva em animais silvestres ainda é um problema emergente. Mesmo com a vacinação do gado, ainda existem certas desvantagens em função dos bovinos serem fontes fartas de alimento e de fácil acesso para os morcegos vampiros (SCHINEIDER et al., 2009), mantendo a epizootiologia da Raiva nas populações desses morcegos (FORNES et al., 1974), assim, para Souza et al. (2005) a forma mais eficaz de mitigar a Raiva rural ainda é o controle dos morcegos vampiros. Mayen (2003) menciona que o controle das populações de morcegos não diferencia áreas de grandes criações pecuaristas daquelas de subsistência. Como conseqüência, as campanhas de controle resultariam na morte indiscriminada de muitos morcegos de outras espécies, as quais são de extrema relevância para o balanço ecológico das florestas nativas e para a diversidade desse grupo de mamíferos. Contudo, é importante enfatizar que diversas espécies de morcegos apresentam hábito colonial formando grandes grupos em locais como cavernas, edificações ou ambientes similares. Neste caso, a facilidade da transmissão intra e interespecífica do vírus nas colônias deve ser considerada. Por outro lado, deve-se também observar que i) a falta de registros de surtos periódicos de Raiva entre as colônias e ii) a incidência relativamente baixa de ocorrência natural da doença são notórias (BRASS, 1994). Na região Neotropical, a esta doença está intimamente associada à guilda de morcegos hematófagos, sendo D. rotundus a única diretamente envolvida no ciclo da Raiva em herbívoros, e o mais comum morcego vampiro das Américas (UIEDA et al., 7 1998). Devido à expansão da doença, a espécie tem interferido em seu ciclo aéreo, o que faz com que casos de Raiva também em morcegos não-hematófagos venham se tornando mais comuns (LANGONI et al., 2008). Constantine (1988) relata que nos registros de espécies não-hematófagas contaminadas estariam incluídas seis das nove famílias de morcegos que habitam as Américas: Emballonuridae, Noctilionidae, Mormoopidae, Phyllostomidae, Vespertilionidae e Molossidae. O mesmo autor afirma que a família Vespertilionidae já apresentou diagnóstico confirmado também na Europa. Para a África e Ásia, apenas a família Pteropodidae teria destaque na transmissão da Raiva. De acordo com Sodré et al. (2010), no Brasil um número significativo de espécies de morcegos pertencentes às famílias Phyllostomidae, Vespertilionidae e Molossidae já foi diagnosticado como positivo para a Raiva entre os anos de 1996 a 2009, sendo o índice de positividade mais elevado para as espécies pertencentes às duas últimas famílias. Contudo, o contato entre um morcego não-hematófago contaminado com o RABV com um hospedeiro potencial de outra ordem é ocasional. Além do mais, segundo Constantine (1988), quando mordidas são empreendidas pelos morcegos, estas seriam apenas do tipo “defensivas”. 1.3. A PRODUÇÃO DE ANTICORPOS NEUTRALIZANTES CONTRA O VÍRUS DA RAIVA A explicação para a aparente ausência da doença generalizada nas colônias de morcegos pode ser devido ao desenvolvimento de anticorpos neutralizantes no soro após a exposição não letal ao vírus. Porém, não se sabe exatamente se estes morcegos clinicamente normais, os quais apresentam anticorpos, estão: i) incubando o vírus e podem eventualmente sucumbir aos seus efeitos ou ii) recuperando-se de uma infecção passada e são possivelmente imunes (STEECE & ALTENBACH, 1989). 8 Já foram detectados, em quantidades variadas, anticorpos neutralizantes do vírus produzido naturalmente por morcegos hematófagos e diversos indivíduos de espécies não-hematófagas, considerados clinicamente normais (BRASS, 1994). No entanto, segundo Campbell & Charlton (1988), alguns indivíduos podem apresentar infecção subclínica, onde o RABV passa a multiplicar-se no tecido adiposo sem afetar o SNC, tornando esses indivíduos eficientes reservatórios. Esses mesmos autores, afirmam que o RABV pode permanecer por meses ou anos no corpo desses indivíduos infectados e ser eliminado através de secreções respiratórias e saliva, ainda com capacidade de virulência para disseminar a doença entre humanos e outras espécies de mamíferos. A disseminação intra e interespecífica pode causar a forma aguda da doença em alguns indivíduos, enquanto que em outros a infecção abortiva resulta na soroconversão, ou seja, produção de anticorpos no soro do animal com imunidade bem estabelecida (LANGONI et al., 2008). Para Constantine (1988), a Raiva pode manifestar-se predominantemente em morcegos imunodeficientes, indivíduos incapazes de estabelecer uma imunidade efetiva a um antígeno, enquanto que em imunocompetentes, indivíduos com imunidade eficiente contra um antígeno, sua manifestação é rara devido à relação equilibrada estabelecida entre o vírus, normalmente fatal, e seu hospedeiro. Alguns morcegos, expostos ao vírus, nunca apresentam evidências clínicas da doença, ao passo que outros podem sobreviver após uma recuperação (BAER & BALES, 1967; CONSTANTINE, 1967). Eles parecem sobreviver à exposição, desde que apresentem um alto nível de anticorpos neutralizantes em seu soro e não apresentem vírus em seus tecidos (CONSTANTINE, 1967). No entanto, nada se sabe sobre as dosagens ou níveis médios de anticorpos determinantes de indivíduos imunocompetentes entre as populações de morcegos. Testes sorológicos permitem avaliar a situação epidemiológica, sendo a soropositividade em uma colônia o reflexo da sua exposição ao vírus, enquanto que a 9 alta prevalência associada a altos títulos de anticorpos indica os surtos recentes (CUBAS et al., 2007). De acordo com Smith et al. (1973), independente da resposta imunológica ser ou não efetiva, o uso de métodos sorológicos determinantes da presença ou ausência de anticorpos neutralizantes para o RABV pode revelar o contato do vetor com o agente etiológico. No caso dos morcegos, tal estudo pode, no mínimo, indicar dentre os hematófagos e não-hematófagos quais os vetores de maior interesse para o controle em um determinado local durante o monitoramento pela vigilância sanitária. Isto evita, a formação de focos, o consequente aparecimento de surtos e a morte generalizada de espécies ecologicamente importantes. Portanto, a titulação de anticorpos torna-se importante na prevenção, controle e vigilância das áreas de risco para o ciclo da Raiva na zona rural. 1.4. A RAIVA NO ESTADO DO PARÁ No ano de 2005 um grande número de surtos de Raiva foi registrado na Amazônia brasileira. Nesse ano, em particular, a quantidade de casos no Brasil foi bastante representativa diante dos anos anteriores, principalmente na região norte (SCHINEIDER et al., 2009). Dos 64 casos de Raiva humana transmitida por morcegos hematófagos, 62 são relatados em surtos nos Estados do Pará e Maranhão (CASTILHO et al. 2010). Mas, de acordo com a Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (2004), as notificações de óbitos tiveram início no Pará no ano de 2004, com dois focos de raiva humana transmitida por morcegos hematófagos nos municípios de Portel (15 casos) e Viseu (6 casos). No ano seguinte foram diagnosticados mais 41 casos, sendo 17 no Pará (dois no município de Viseu e 15 no município de Augusto Corrêa) e 24 no Maranhão (três no município de Godofredo Viana, dois em Candido Mendes, dois em Carutapera e 17 em 10 Turiaçu) (MINISTÉRIO DA SAÚDE 2004). Assim, na Amazônia brasileira, a partir de 2004, houve uma importante mudança do perfil epidemiológico da raiva no Brasil e na América Latina, particularmente, na região amazônica. Nesse período o morcego hematófago ou vampiro comum (D. rotundus) passa a ser considerado como o principal responsável pelos casos de Raiva humana. Os registros de Raiva em humanos e em herbívoros ruminantes descritos para o Pará referem-se a um dos mais sérios casos de surto de Raiva em humanos no Brasil. Este episódio foi considerado o maior em um período tão curto pelo Ministério da Saúde (2004) e, provavelmente, os casos registrados refletem o relato precedente de Mayen (2003) acerca do desequilíbrio que se estabelece gradativamente na dinâmica natural do agente patogênico com o hospedeiro silvestre, em virtude da destruição dos ambientes naturais. A partir de então, a mesorregião nordeste do Pará tornou-se uma área focal para estudos de quirópteros e Raiva em todos os campos, disciplinas e aspectos relacionados à doença, pois tem sido o principal foco da circulação do RABV transmitido por morcegos hematófagos no Brasil. Durante os últimos anos alguns procedimentos para o controle das populações de morcegos foram adotados. Contudo, devido à falta de conhecimento sobre quais espécies estão mais envolvidas na transmissão da doença, tais procedimentos envolveram outras espécies que podem não estar agindo diretamente na transmissão dessa zoonose. Assim, o presente trabalho, através da técnica de titulação de anticorpos aplicada aos morcegos capturados nas localidades de ocorrência de surto, pretende gerar informações sobre o possível contato desses indivíduos com o RABV, consequentemente, determinando as espécies envolvidas na transmissão dessa doença. Paralelamente, o inventário da quiropterofauna local torna-se relevante tanto para a mesorregião nordeste do Pará, que é uma das mais antropizadas do Estado (IBGE 11 2006), quanto para a região amazônica brasileira como um todo, uma vez que dados sobre a fauna de morcegos dessa parte da Amazônia ainda são escassos, sendo os únicos registros conhecidos, os provenientes da península de Ajuruteua, no município de Bragança (ANDRADE et al., 2008). 12 2. OBJETIVOS 2.1. OBJETIVO GERAL Descrever a composição da fauna de morcegos e relacionar a soroprevalência de anticorpos contra o Vírus da Raiva onde houve surtos de raiva humana na costa nordeste do Estado do Pará em 2004 e 2005. 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Como objetivos específicos pretende-se: • Elaborar a lista das espécies de morcegos capturados nos municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Viseu; • Estimar e comparar a abundância e a diversidade dessa fauna de morcegos entre os municípios inventariados; • Determinar a razão sexual e a proporção entre classes etárias dos indivíduos de maior número de captura; • Diferenciar a influência da variação sazonal (período seco e chuvoso) entre as categorias reprodutivas e entre os municípios; • Verificar a soroprevalência de anticorpos contra o RABV em populações de morcegos; • Comparar a positividade sorológica entre as espécies de morcegos capturados, os municípios e a variação estacional da região. 13 3. METODOLOGIA 3.1. ÁREA DE ESTUDO A área de estudo do presente trabalho abrange municípios notificados na rota de circulação do RABV nos anos de 2004 e 2005. A Figura 1 apresenta esta área, com os municípios-alvo e suas respectivas localidades: - Município de Bragança: Localidades: Mata do Lobão, Benjamin Constant e Treme; - Município de Augusto Corrêa: Localidades: Vila do Araí, Vila Soares e Bacanga; - Município de Viseu: Localidades: Firmiana, Açaiteua e Serra do Piriá. As coletas foram realizadas em fragmentos de matas de terra firme encontradas nessas localidades. Tais matas encontram-se em estado de degradação e fragmentação, e são principalmente constituídas por espécies vegetais pioneiras de sub-bosques. O clima da região é quente e úmido por todo ano. Possui uma estação considerada como chuvosa, que vai de janeiro a agosto, e outra considerada como seca, que vai de setembro a dezembro (MORAIS et al., 2005). Tais estações serão retratadas nesse trabalho como períodos chuvoso e seco. 14 Bragança Augusto Correa Viseu (00°59’S, 46°40’W) (01°04’S, 46°22’W) (01°04’S, 46°30’W) (01°09’S, 46°21’W) (01°10’S, 46°41’W) (01°12’S, 46°17’W) (01°16’S, 46°31’W) (01°18’S, 46°24’W) Malha Rodoviária Augusto Correa Bragança Viseu Local de coleta Figura 1. Mapa ilustrando os municípios e suas respectivas localidades-alvo na mesorregião Nordeste do Estado do Pará. 15 3.2. CAPTURA DE MORCEGOS Para a realização do inventário da quiropterofauna foram realizadas capturas noturnas entre os meses de abril a novembro de 2009, abrangendo as duas estações, levando em conta que a estação considerada como chuvosa, vai de janeiro a agosto, e a considerada como seca, vai de setembro a dezembro (MORAIS et al., 2005). Foram utilizadas 10 redes de espera (12 x 3 m), ao nível do solo, expostas por duas noites em cada localidade, das 18:00 à 1:00 h, sendo vistoriadas em intervalos de meia hora durante as luas minguante e nova, perfazendo um total de 18 noites por estação (seca e chuvosa). As redes foram abertas em áreas de floresta de terra firme, algumas transversalmente e outras de forma paralela em trilhas pré-existentes, corpos d’água e campo aberto, visando amostrar uma maior variedade de microhábitats. 3.3. IDENTIFICAÇÃO DOS ESPÉCIMES Os indivíduos capturados foram mantidos individualmente em sacolas de pano para a obtenção das seguintes medidas morfométricas: comprimentos do antebraço, folha nasal, orelha e trago. Essas medidas foram utilizadas para auxiliar na identificação das espécies capturadas as quais foram baseadas nas chaves de identificação de Handley (1987), Linares (1987), Marques-Aguiar (1994) e Eisenberg & Redford (1999). Espécimes com identificação duvidosa foram fixados em solução de formol (10%), sendo, posteriormente, conservados em etanol (70%) e devidamente etiquetados. Tal procedimento também foi aplicado aos exemplares capturados que não resistiram ao manuseio em campo, os quais também foram destinados à formação de uma coleção de referência do presente estudo. O material-testemunho foi depositado na Coleção de Zoologia do Campus de Bragança (CZB), Bragança-PA. A coleta e o transporte dos morcegos foram autorizados segundo a determinação da Licença de Coleta/Transporte 16 No.16839-1 emitida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). 3.4. DETERMINAÇÃO DO ESTADO REPRODUTIVO São considerados machos ativos sexualmente aqueles exemplares com testículos na bolsa escrotal, também denominados como “machos com descida testicular” (MDT), ou ainda “machos com testículo escrotado”; os inativos são aqueles com os testículos na cavidade abdominal, também chamados “machos sem descida testicular” (MSDT), ou “machos com testículo abdominal”. A gravidez das fêmeas foi determinada pela palpação de seu abdômen, para detectar a presença de feto. Fêmeas lactantes foram reconhecidas por apresentarem as mamas intumescidas e sem pelos e com presença de leite, que pode ser observada comprimindo o mamilo com uma pinça. Algumas fêmeas foram consideradas póslactantes em função da ausência de pelos e leite. As fêmeas sem evidência de características reprodutivas foram consideradas como “fêmeas não reprodutivas” (FNR). 3.5. DENSIDADE, DIVERSIDADE E ESFORÇO DE CAPTURA As dimensões das redes de espera foram importantes para o cálculo do esforço de captura em rede/hora, sendo que uma rede/hora corresponde a cada 12 m de rede aberta por hora. Para a avaliação do esforço de captura da quiropterofauna foi calculada a Densidade por Indivíduos (DI), Densidade por Espécie (DE) e a Razão Espécies/Capturas (REC) (BERNARD & FENTON 2002), calculados pelas seguintes formulas: DI = N° total de indivíduos / hora.rede (Equação 1) DE = N° total de espécies / hora.rede (Equação 2) 17 REC = N° total de espécies / N° total de capturas (Equação 3) Para estimar a diversidade de espécie foi utilizado o índice de Shannon (H’) acompanhado pela Equitabilidade (E) (MAGURRAN, 1988). O H’ é representado pela seguinte fórmula: H’ = - Σ (ni / N) ln (ni / N) (Equação 4) Onde: ni = no total de indivíduos da espécie i; N = no total de indivíduos na amostra; ni/N = pi abundância proporcional de cada espécie na amostra total. Enquanto o valor de Equitabilidade pode ser obtido através do seguinte cálculo: E= H’ / ln S (Equação 5) Onde: S = no total de espécies na amostra; H’ = valor obtido do índice de Shannon. 3.6. COLETA DE SANGUE De cada morcego capturado foram obtidas amostras de sangue com cerca de 3 mL, as quais foram, posteriormente, individualizadas em tubos Eppendorf, contendo anticoagulante (Heparina Sódica). Nos espécimes que compuseram o materialtestemunho, as amostras de sangue foram obtidas por punção cardíaca, enquanto que nos indivíduos liberados este processo foi realizado por punção venosa. Todas as amostras foram conservadas a uma temperatura de 15°C. 18 Em laboratório, as amostras foram centrifugadas a 4.000 rpm por cinco minutos. Após este procedimento, aproximadamente 0,2 mL do plasma sobrenadante foi retirado e colocado em frascos esterilizados e identificados com códigos individualizados e, então, resfriados em temperaturas entre 2 e 8°C. As amostras, devidamente acondicionadas e identificadas, foram enviadas ao Laboratório de Zoonoses e Doenças Transmitidas por Vetores no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ-SP) em São PauloSP, sob responsabilidade da Dra. Luzia de Fátima Alves Martorelle e Ana Paula Cataoka, onde foram realizadas as análises de titulação de anticorpos estimulados devido ao contato do hospedeiro com o RABV. 3.7. TÉCNICA DE SORONEUTRALIZAÇÃO EM CULTIVO CELULAR O nível de anticorpos neutralizantes contra o RABV testado através do Teste Rápido de Inibição de Foco de Fluorescência (RFFIT - Rapid Fluorescent Focus Inibition Test), uma técnica desenvolvida por Smith et al. (1973), que se trata da soroneutralização em cultura celular para determinação de anticorpos neutralizantes contra RABV. Segundo esses autores, para iniciar o procedimento deve-se determinar a linhagem celular a ser usada. A linhagem de fibroblasto de hamster (BHK 21 - Baby Hamster Kidney) e a mais utilizada, mas independente do tipo de célula usada, existem fatores que apresentam profundo efeito na realização dessa técnica, entre eles o pH do meio de cultura, a presença ou ausência de fatores de crescimento, o nível de CO2, entre outros. Na primeira etapa da técnica ocorre a replicação do RABV em linhagem celular BHK 21. Devem ser usadas células que estejam em fase logarítmica de crescimento (24 horas), o vírus liofilizado deve ser de procedência conhecida e com título >105.0, esse título em condições adequadas será elevado e mantido a cada lote produzido. 19 Apenas na segunda etapa ocorre a titulação de RABV em linhagem celular BHK 21, onde deve ser feita a diluição seriada dos soros. Cada laboratório determina qual a menor e qual a maior diluição que irá utilizar no teste, desde que frente aos padrões a técnica tenha reprodutibilidade. No caso do Laboratório de Zoonoses e Doenças Transmitidas por Vetores no CCZ-SP, inicia-se com uma diluição 1:5, tendo um limite de detecção de 0,16 Unidades Internacionais/mililitro (UI/mL). Seguido à diluição, ocorre a leitura e o cálculo dos resultados, onde para cada orifício registra-se o resultado positivo para o campo que apresentar um ou mais focos de fluorescência e negativo para os que não apresentarem nenhum foco. Os títulos são calculados pelo método matemático estimativo de Spearman-Kärber ou por interpolação matemática entre o soro teste e o soro padrão de unidades internacionais conhecidas. No presente trabalho foram considerados soropositivos indivíduos com títulos ≥ 0,16 UI/mL, pois, partindo da diluição 1:5, apresentam evidência da produção de anticorpos contra o RABV. Indivíduos com resultado < 0,16 UI/mL foram considerados soronegativos. 3.8. ANÁLISE DE DADOS 3.8.1. DENSIDADE E DIVERSIDADE E SIMILARIDADE A variação na densidade entre os municípios inventariados foi testada através da análise de similaridade ANOSIM do pacote estatístico Primer v5 (CLARKE & GORLEY, 2001). Esse teste multivariado foi realizado a partir de uma matriz de similaridade, com base na abundância dos táxons de cada amostra, gerada com esses dados transformados pela raiz quadrada, utilizando-se o coeficiente de Bray-Curtis (CLARKE & GORLEY, 2001). 20 Para comparar os valores dos índices de diversidade entre os municípios foi realizada a análise de variância de Kruskal Wallis através do programa BioEstat 5.0 (AYRES et al., 2007). 3.8.2. RAZÃO SEXUAL, CLASSES DE IDADE E VARIAÇÃO ESTACIONAL Para as espécies representadas com maior quantidade de indivíduos capturados foram avaliados os desvios i) da razão sexual 1:1 e ii) da proporção entre classes etárias (adultos e jovens) com uso do teste de Qui-quadrado (χ2) para proporções esperadas iguais. No intuito de avaliar a relação entre a variação estacional e o número de indivíduos capturados de cada categoria reprodutiva foi também realizado um teste de Qui-quadrado (χ2) tanto para fêmeas lactantes, pós-lactantes, grávidas e FNR; os valores para MDT e MSDT foram somados e testados juntos também através do χ2. Para verificar a relação entre a variação estacional e os municípios, baseado no número de indivíduos e espécies, foi utilizado o χ2 de Partição. Para realização dos χ2 utilizados nessas análises foi utilizado o pacote estatístico BioEstat 5.0 (AYRES et al., 2007). 3.8.3. SOROLOGIA Um teste de Qui-quadrado (χ2) de Partição foi realizado para comparar o número de indivíduos soropositivos e soronegativos entre os municípios visitados, tanto para os indivíduos de todas as espécies quanto para as quatro espécies com maior número de amostras sorológicas. O mesmo teste foi utilizado para verificar a diferença entre o número de soropositivos entre cada uma das quatro espécies, bem como para avaliar a diferença entre o número de soronegativos e soropositivos, considerando a razão sexual, a faixa etária e a variação estacional. Todas as análises referentes a esta 21 seção (3.8.3. Sorologia) foram realizadas no pacote estatístico BioEstat 5.0 (AYRES et al., 2007). 22 4. RESULTADOS 4.1. ESFORÇO DE CAPTURA, ABUNDÂNCIA E DIVERSIDADE O presente estudo realizou um esforço amostral de 2.520 hora.rede (H.R.), perfazendo 840 H.R. por município. Este esforço resultou na coleta de 949 indivíduos, com uma taxa de captura de 0,38 ind/hora.rede, destacando-se o município de Bragança com o valor de 0,48 ind/hora.rede, através do cálculo para DI (Tabela 1). Tabela 1. Proporções de capturas realizadas com redes de espera nos municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Viseu - Pará. MUNICÍPIO H.R. NI NE DI DE REC Bragança 840 406 27 0,48 0,03 0,07 Augusto Corrêa 840 218 24 0,26 0,03 0,11 Viseu 840 325 19 0,39 0,02 0,06 GERAL 2.520 949 36 0,38 0,01 0,04 A análise comparativa entre os três municípios mostrou uma diferença significativa no número de morcegos capturados (ANOSIM, R=0,31; p<0,05), isso pode ser notado visualizando os valores de NI da Tabela 1, onde o município de Bragança se destaca com 406 indivíduos. O mesmo município também apresenta maior número de espécies (NE), seguido por Augusto Corrêa e Viseu (Tabela 1). O H’ estimado para a área de estudo foi de 2,1, enquanto que os valores para os municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Viseu foram bastante similares (Tabela 2). A análise comparativa dos valores de diversidade não mostrou diferença significativa entre os municípios estudados (Kruskal Wallis, H=1,40; gl=2; p>0,05). 23 Tabela 2. Índice de Shannon (H’), ), Equitabilidade (E) e o número de espécies (NE) estimados para a área de trabalho e para os municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Viseu, no Estado do Pará. Índices Bragança Augusto Corrêa Viseu Geral NE 27 24 19 36 H’ 1,9 2,1 1,9 2,1 E 0,6 0,7 0,6 0,5 Os 949 indivíduos capturados distribuem-se distribuem se em 36 espécies e quatro famílias (Tabela 3). A família Phyllostomidae, Phyllostomidae, como esperado, apresentou maior percentual de capturas (98%), os outros 2% foram representados pelas famílias Vespertilionidae, Emballorunidae e Thyropteridae, sendo que esta última família contou contou com apenas um representante: Thyroptera tricolor. tricolor Os filostomídeos ostomídeos capturados pertencem a cinco subfamílias (Figura 2), 2 sendo Carolliinae a que se destacou com 44% (n=407) de abundância. Esta subfamília foi representada quase que exclusivamente pela espécie Carollia perspicillata, perspicillata cujo percentual (93%; n=307) dominou ominou essa subfamília, bem como alcançou o maior número de indivíduos registrados de todas as espécies (40%; n=377) (Tabela 3). . Figura 2.. Abundância relativa das subfamílias de Phyllostomidae capturadas nos municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Viseu, Viseu, no Estado do Pará. 24 Tabela 3. Morcegos capturados nos municípios de Bragança (B), Augusto Corrêa (AG) e Viseu (V), Nordeste do Pará. Guildas: Frugívora (F), Insetívora (I), Nectarívora (N), Sanguívora (S). Família Phyllostomidae Subfamília Stenodermatinae Phyllostominae Glossophaginae Carolliinae Vespertilionidae Desmodontinae Vespertilioninae Myotinae Emballorunidae Thyropteridae Total 7 Espécie Dermanura cinerea (Gervais, 1856) Artibeus concolor Peters, 1865 Artibeus gnomus Handley, 1987 Artibeus lituratus (Olfers, 1818) Artibeus obscurus (Schinz, 1821) Artibeus planirostris Spix, 1823 Platyrrhinus brachycephalus ( Rouk & Carter, 1972) Platyrrhinus incarum (Thomas, 1912) Sturnira lilium (E. Geoffroy, 1810) Uroderma bilobatum Peters, 1866 Uroderma magnirostrum Davis, 1968 Vampyriscus bidens (Dobson, 1878) Lophostoma brasiliense Peters, 1866 Lophostoma silvicolum d’Orbigny, 1836 Micronycteris megalotis (Gray, 1842) Mimon crenulatum (E. Geoffroy, 1803) Phyllostomus discolor Wagner, 1843 Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767) Tonatia saurophila Koopman & William, 1951 Trinycteris nicefori (Sanborn, 1949) Glossophaga soricina (Pallas, 1766) Lichonycteris obscura Thomas, 1895 Lionycteris spurreli Thomas, 1913 Lonchophylla thomasi J. A. Allen, 1904 Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758) Rhinophylla fischerae Carter, 1966 Rhinophylla pumilio Peters, 1865 Desmodus rotundus (E. Geoffroy, 1810) Eptesicus brasiliensis (Desmarest, 1819) Myotis nigricans (Schinz, 1821) Peropteryx macrotis (Wagner, 1843) Saccopteryx bilineata (Temminck, 1838) Saccopteryx canescens Thomas, 1901 Saccopteryx gymnura Thomas, 1901 Saccopteryx leptura (Schreber, 1774) Thyroptera tricolor Spix, 1823 36 Guilda F F F F F F F F F F F F I I I I F F I I N N N N F F F S I I I I I I I I 4 B 44 0 3 2 7 54 0 6 2 19 0 2 1 0 0 2 0 1 3 1 6 1 1 7 208 15 5 1 0 8 2 1 2 0 2 0 406 AG 21 1 0 0 2 17 1 7 0 3 1 3 3 1 1 0 2 1 0 1 53 0 0 1 79 6 3 7 0 2 0 0 0 1 1 0 218 V 6 0 10 1 1 116 0 7 3 43 0 3 0 0 0 0 4 2 0 0 22 0 0 4 90 1 0 0 3 7 0 0 0 0 1 1 325 Total 71 1 13 3 10 187 1 20 5 65 1 8 4 1 1 2 6 4 3 2 81 1 1 12 377 22 8 8 3 17 2 1 2 1 4 1 949 25 A subfamília Desmodontinae, constituída pelos indivíduos hematófagos, foi representada por apenas 1% (Figura ( 2), ), com os oito indivíduos capturados pertencentes à espécie D. rotundus,, o principal transmissor tra da Raiva aiva para os mamíferos. Foram registradas quatro guildas (Figura 3), ), sendo frugívora a mais representativa dentre os espécimes capturados (n= 802; 85%), enquanto a guilda Sanguívora obteve abundância relativa de apenas 1%. Apesar da metodologia metodologi utilizada não favorecer a captura de indivíduos da guilda insetívora, esta foi representada por 14 espécies distintas, sendo M. nigricans a espécie mais abundante deste grupo (n=17; 61%),, as demais espécies dessa guilda encontram-se encontram se listadas na Tabela 3. 3 Figura 3.. Abundância relativa das guildas de morcegos capturados nos municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Viseu, no Estado do Pará. CLASSES ETÁRIAS 4.2. RAZÃO SEXUAL E PROPORÇÃO ENTRE CLASSES Dentre as cinco espécies com mais indivíduos capturados apenas duas apresentaram razão sexual desviada para fêmeas: C. perspicillata (2 fêmeas: 1 macho; χ2=4,03; gl=1; p<0,05) e G. soricina (1,5 fêmeas: 1 macho; χ2=4,03; gl=1; p>0,05). D. cinerea e U. bilobatum apresentaram razão sexual de 1:1 ((χ2=1,14; gl=1; p>0,05 e 26 χ2=0,754 gl=1; p>0,05, respectivamente), enquanto A. planirostris apresentou razão sexual desviada para machos (2 machos: 1 fêmea; χ2=4,497; gl=1; p<0,05). Quanto às classes etárias, as duas espécies mais abundantes apresentaram maior proporção de indivíduos adultos: C. perspicillata (4 adultos: 1 jovem; χ2=573,95; gl=1; p<0,001), A. planirostris (5 adultos: 1 jovem; χ2=65,88; gl=1; p<0,001); em G. soricina a proporção de jovens é maior (2 jovens: 1 adulto; χ2=10,38; gl=1; p<0,05), ao passo que para D. cinerea e U. bilobatum não houve desvios (1:1; χ2=1,14; gl=1; p>0,05 e χ2=0,01; p>0,05, respectivamente). 4.3. CATEGORIAS REPRODUTIVAS E SUA VARIAÇÃO ESTACIONAL Das 484 fêmeas de morcegos capturadas, 46 foram classificadas como póslactantes, 49 lactantes e 147 grávidas. A maioria das fêmeas (n=242) não apresentou características reprodutivas evidentes, sendo definidas como não reprodutivas (FNR). Dos 465 machos, 417 não apresentavam descida testicular (MSDT). Este processo reprodutivo somente foi encontrado em 48 machos, porém a descida testicular pode ter outras causas, que incluem o estresse gerado pela captura e manipulação do animal. Analisando o estado reprodutivo dos indivíduos em relação à variação estacional, nota-se que o número de FNR foi bem mais elevado durante o período seco (Figura 4), havendo uma diferença bastante significativa entre esses valores (χ2=15,88; gl=1; p<0,001). Ao contrário, as fêmeas pertencentes às demais categorias reprodutivas foram mais numerosas durante o período chuvoso. A Figura 4 apresenta a diferença entre o número de fêmeas pós-lactantes capturadas durante o período seco e chuvoso (χ2=5,56; gl=1; p<0,05). Os valores para as fêmeas lactantes não apresentaram diferença significativa (χ2=2,46; gl=1; p>0,05), muito embora tenham sido maiores durante o período chuvoso, ao passo que o número de fêmeas grávidas foi superior durante esse 27 período, refletindo do em uma diferença estatística bastante significativa ((χ2=77,88; gl=1; p<0,001). Considerando as categorias reprodutivas masculinas, observa-se observa se que os MDT foram mais numerosos durante o período seco, enquanto aqueles MSDT foram mais frequentes durante o período eríodo chuvoso, resultando em uma diferença significativa no que se refere à variação estacional (χ ( 2=43,48; gl=2; p<0,001). MSDT MDT FNR Seco Grávida Chuvoso Pós-lactante lactante Lactante 0 20 40 60 80 100 120 Percentual de indivíduos Figura 4.. Percentual de indivíduos por categoria reprodutiva nos períodos seco e chuvoso. MSDT (machos sem descida testicular), MDT (machos com descida testicular), FNR (fêmeas não reprodutivas). 4.4. VARIAÇÃO ESTACIONAL ONAL ENTRE OS MUNICÍPIOS MUNICÍ A maioria dos indivíduos das da áreas de trabalho (n=556; 59%) foi capturada durante a o período seco. Para cada município os valores variaram, porém apenas no município de Augusto Corrêa ocorreu o inverso, 57% (n=125) dos indivíduos foram capturados durante o período chuvoso, e a diferença entre entre o número de espécimes foi maior em Viseu, onde 71% (n=230) dos indivíduos foram capturados durante o período 28 seco (Figura 5). ). Essa diferença entre o número de capturas nos municípios foi bastante significativa (χ2= 42,9102; gl=2; p< 0,001). Os valores de riqueza para os municípios combinados foram exatamente os mesmos em ambos os períodos do ano (n=29). Para cada município separadamente, esses valores variaram pouco, não apresentando diferença significativa ((χ2=2,76; gl=2; p>0,05) apesar de apenas em Viseu esse valor ter sido maior durante a estação seca (Figura 6). Municípios Combinados Viseu Chuvoso A. Corrêa Seco Bragança 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 Figura 5.. Comparação entre os valores absolutos de espécimes de morcegos registrados para os períodos seco e chuvoso nos municípios inventariados, de forma separada e combinada, no Estado Estado do Pará. Ao todo foram registradas 36 espécies, algumas delas foram exclusivas de um determinado período, como por exemplo: E. brasiliensis (n=3),, L. spurreli (n=1), L. silvicolum (n=1),, M. megalotis (n=1), P. brachycephalus (n=1),, S. leptura (n=4), T. tricolor (n=1) ocorreram apenas durante o período seco. Por outro lado, A. concolor (n=1), L. obscura (n=1),, P. macrotis (n=2), S. bilineata (n=1),, S. gymnura (n=1), T. saurophila (n=3) e U. magnirostrum (n=1) foram registrados somente no período chuvoso. o. Embora várias espécies tenham sido registradas exclusivamente em um dado período do ano, o número de indivíduos para cada uma dessas espécies foi baixo. 29 Municípios Combinados Viseu Chuvoso A. Corrêa Seco Bragança 0 5 10 15 20 25 30 35 Figura 6.. Comparação entre os valores absolutos das espécies de morcegos registrados nos períodos seco e chuvoso nos municípios inventariados, de forma separada e combinada no Estado do Pará. 4.5. PREVALÊNCIA SOROLÓGICA SOR Foram analisados soros de 28 espécies diferentes, pertencentes a quatro guildas (Tabela 4), totalizado 307 amostras de soro. Deste total, total, 51% (n=156) foram consideradas soronegativas para a produção de anticorpos. Entretanto, as amostras do município de Viseu apresentaram elevado percentual de indivíduos soropositivos (n=72; 62%), enquanto que para Bragança ocorreu o inverso. O município município de Augusto Corrêa apresentou exatamente 50% para cada condição (Figura 7). ). Através do χ2 de Partição, percebesse que a diferença entre esses locais, considerando a quantidade de indivíduos soropositivos é significativa (χ ( 2=10,32; gl= 2; p<0,05), sendo essa diferença ocasionada pela adição das amostras do município de Viseu na análise, já que a partição entre Bragança e Augusto Corrêa não apresentou diferença significativa ((χ2=1,62; gl= 1; p>0,05). 30 Tabela 4. Número de indivíduos positivos e negativos para produção de anticorpos em Bragança, Augusto Corrêa e Viseu, no Estado do Pará. Bragança Augusto Corrêa Viseu Guilda/Espécies Total Positivo Negativo Positivo Negativo Positivo Negativo Carollia perspicillata 16 22 11 14 12 10 85 Artibeus planirostris 4 9 5 6 15 7 46 Uroderma bilobatum 4 6 0 2 11 14 37 Dermanura cinerea 7 14 3 5 6 0 35 Platyrrhinus incarum 2 1 1 - 3 2 9 Artibeus gnomus 2 - - - 3 3 8 Rhinophyla fischerae 4 2 1 - - 1 8 Frugívora Phyllostomus discolor - - - 1 4 1 6 Artibeus obscurus 1 2 - - 1 - 4 Sturnira lilium 1 - - - 1 2 4 Rhinophyla pumilio - 1 2 - - - 3 Vampyriscus bidens - - - - 1 2 3 Phyllostomus hastatus 1 - - - 1 - 2 Artibeus lituratus - 1 - - 1 - 2 Uroderma magnirostrum - - 1 - - - 1 Platyrrhinus brachycephalus - - - 1 - - 1 Myotis nigricans 2 1 - - 6 1 10 Tonatia saurophila - 3 - - - - 3 Lophostoma brasiliense - 1 - 1 - - 2 Lophostoma silvicolum - - 1 1 - - 2 Mimon crenulatum - 2 - - - - 2 Eptesicus brasiliensis - - - - 1 1 2 Micronycteris megalotis - - 1 - - - 1 Trinycteris nicefori - - 1 - - - 1 Glossophaga soricina 1 2 7 3 6 - 19 Lonchophylla thomasi 1 1 - - - 1 3 Lichonycteris obscura 1 - - - - - 1 - 1 3 3 - - 7 47 69 37 37 72 45 307 Insetívora Nectarívora Sanguívora Desmodus rotundus Total 31 positivo Municípios Combinados 49% Viseu A. Corrêa Bragança negativo 51% 62% 38% 50% 50% 41% 59% Percentual de indivíduos Figura 7.. Comparação dos valores percentuais de morcegos soropositivos e soronegativos para a produção de anticorpos capturados em Bragança, Augusto Corrêa e Viseu, e entre os três municípios combinados no Estado do Pará. Os resultados baseados no número de indivíduos soropositivos e soronegativos nos diferentes períodos do ano (seco e chuvoso) mostraram diferença significativa (χ2=28,61; gl=1 p<0,001). Salientando-se Salientando se que o percentual de indivíduos víduos soropositivos durante o período chuvoso é bem maior (n=95; 67%), enquanto que o de soronegativos é mais elevado durante o período seco (n=105; 63%). No município de Viseu essa diferença é bem evidente, onde 96% (n=47) dos indivíduos capturados durante durante o período chuvoso são positivos. A mesma tendência foi registrada para Augusto Corrêa, onde 75% (n=15) dos indivíduos capturados nesse período são soropositivos. Apenas em Bragança os valores de soronegativos soronegativo foram mais elevados em ambos ambo os períodos (Figura 8). Não foi registrada diferença significativa entre o número de soropositivos de jovens e adultos (χ2=0,08; gl=1; p>0.05) e machos e fêmeas ((χ2= 2,15; gl=1; p>0.05) (Tabela 5). 32 postivo negativo Percentual de indivíduos 4% 25% 54% 68% 59% 33% 63% 63% 96% 75% 46% 41% Chuvoso Seco 32% Seco Bragança 67% 37% Chuvoso Seco A.Corrêa 37% Chuvoso Viseu Seco Chuvoso Municípios Combinados Figura 8.. Comparação entre os valores percentuais de indivíduos soropositivos e soronegativos nos períodos seco e chuvoso nos municípios inventariados de forma separada e combinada no Estado do Pará. Apenas para essas espécies, assim como para todos os indivíduos, indivíduos, o número de soropositivos é elevado, e o município de Bragança continua apresentando maior número de soronegativos. Anteriormente, considerando todas as espécies, Augusto Corrêa apresentou o mesmo percentual para soronegativos e soropositivos (50%). (50%) Por outro lado, considerando as quatro espécies separadas, o percentual de indivíduos negativos para a produção de anticorpos aumentou aumentou para 59% (Tabela 6, Figura 9). 9 Devido ao número analisado de amostras de soro ter variado consideravelmente dentre as espécies, foram escolhidas as mais abundantes para efeito de comparação, co totalizando quatro espécies e 203 amostras (Tabela 6). 33 Tabela 5. Soroprevalência relacionada ao sexo e faixa etária dos morcegos registrados nos municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Viseu, no Estado do Pará. Positivo Negativo Total Feminino 76 (55%) 61 (45%) 137 Masculino 80 (47%) 90 (53%) 170 156 151 307 Jovem 69 (51%) 66 (49%) 135 Adulto 87 (51%) 85 (49%) 172 156 151 307 Total Total A análise comparativa, baseada no número de soropositivos das quatro espécies mais abundantes, entre os três municípios foi significativa (χ2= 7,45; gl=2; p<0,05). Essa diferença novamente foi ocasionada pela adição das amostras do município de Viseu na análise, já que a partição entre Bragança e Augusto Corrêa não apresentou diferença significativa (χ2= 0,14; gl=1; p>0,05). Dentre as quatro espécies mais abundantes, três apresentaram maior percentual de indivíduos soronegativos, exceto A. planirostris cujo resultado apontou 52% (n=24) dos indivíduos como soropositivos (Tabela 6, Figura 10). Contudo, todos os valores foram muito aproximados, sendo a diferença entre os soropositivos e os soronegativos não significativa (χ2= 1,14; gl=3; p>0,05). 34 Tabela 6. Número de indivíduos das quatro espécies mais abundantes com maior número de amostras positivas e negativas para produção de anticorpos nos municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Viseu, no Estado do Pará. Situação Município Total Positivo Negativo Bragança 16 (42%) 22 (58%) 38 Augusto Corrêa 11 (44%) 14 (56%) 25 Carollia perspicillata Viseu Total 12 (55%) 10 (45%) 22 39 (46%) 46 (54%) 85 4 (31%) 9 (69%) 13 Artibeus planirostris Bragança Augusto Corrêa 5 (45%) 6 (55%) 11 Viseu 15 (68%) 7 (32%) 22 24 (52%) 22 (48%) 46 Bragança 7 (33%) 14 (67%) 21 Augusto Corrêa 3 (38%) 5 (62%) 8 Viseu 6 (100%) 0 (0%) 6 16 (46%) 19 (54%) 35 Bragança 4 (40%) 6 (60%) 10 Augusto Corrêa 0 (0%) 2 (100%) 2 11 (44%) 14 (56%) 25 15 (41%) 22 (59%) 37 Total Dermanura cinerea Total Uroderma bilobatum Viseu Total Espécies combinadas Bragança 31 (38%) 51 (52%) 82 Augusto Corrêa 19 (41%) 27 (59%) 46 Viseu Total 44 (59%) 31 (41%) 75 94 (46%) 109 (54%) 203 35 Positivo Municípios Combinados 46% Viseu A. Corrêa Bragança Negativo 54% 59% 41% 41% 59% 38% 62% Percentual de indivíduos Figura 9.. Comparação dos valores percentuais de espécimes de morcegos soropositivos e soronegativos para a produção de anticorpos da raiva nos municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Viseu, e para os três municípios combinados no Estado do Pará. Positivo Dermanura cinerea Uroderma bilobatum 46% 41% Artibeus planirostris Carollia perspicillata 52% 46% Negativo 54% 59% 48% 54% Percentual de indivíduos Figura 10.. Comparação dos valores percentuais de indivíduos das quatro espécies mais abundantes de morcegos soropositivos e soronegativos para a produção de anticorpos da raiva nos municípios de Bragança, Bragança, Augusto Corrêa e Viseu, no Estado do Pará. 36 5. DISCUSSÃO Entre os três municípios estudados dois estiveram diretamente envolvidos nos surtos de Raiva Humana ocorridos em 2004 (Augusto Corrêa) e 2004 - 2005 (Augusto Corrêa e Viseu) (MINISTÉRIO DA SAÚDE 2004). Durante este período não foram registrados casos de Raiva Humana para o município de Bragança. No entanto, devido à proximidade com os outros municípios, viu-se a necessidade de avaliar a composição da fauna de morcegos local e sua soroprevalência de anticorpos contra a Raiva, no intuito de comparar a produção de anticorpos em diferentes espécies entre áreas com e sem registros dessa zoonose. 5.1. COMPOSIÇÃO DA QUIROPTEROFAUNA A maior riqueza e abundância de morcegos presente em Bragança dão-se pelas áreas de florestas, as quais foram utilizadas para as capturas, apresentarem maiores quantidades de recursos alimentares e abrigos. Além do que, sabe-se que durante os períodos de surto, alguns procedimentos foram adotados para o controle de populações de morcegos nas áreas afetadas. Procedimentos estes que envolveram espécies hematófagas e não-hematófagas e que deve ter influenciado na composição da quiropterofauna atual de localidades pertencentes aos municípios de Viseu e Augusto Corrêa. Apesar de Bragança apresentar maiores números de espécies e indivíduos, Augusto Corrêa foi o que apresentou maior valor de diversidade, contudo os valores dos três foram muito aproximados, e a diversidade da área geral, ou seja, dos três municípios combinados, foi bastante elevada (H’=2,1). Este valor foi bastante aproximado ao de outro trabalho feito para região (ANDRADE et al., 2008), onde a quiropterofauna de áreas de manguezal e terra firme na península bragantina foi 37 inventariada obtendo um H’= 1,9. Pedro & Taddei (1997) sugerem que embora haja mudanças na composição de espécies em diferentes ecossistemas, para morcegos o H’ em áreas neotropicais geralmente situa-se em torno de 2,0. Da quiropterofauna de morcegos registrada para a região, nota-se uma grande predominância de morcegos filostomídeos, o que já era esperado devido à metodologia utilizada favorecer a captura desses indivíduos (ROCHA et al., 2010). Os morcegos dessa família apresentam uma grande versatilidade quanto à exploração de alimentos, por possuírem diferentes técnicas de forrageio e utilizarem diferentes tipos de abrigo (BREDT et al., 1998); e também por estes serem os mais abundantes em regiões neotropicais (FENTON et al., 1992). Morcegos vespertilionídeos parecem ser hábeis em detectar as redes, enquanto que emballorunídeos e thyropterídeos apresentam características de vôo que dificultam ou não permitem sua captura, por forragearem acima das copas das árvores (PEDRO & TADDEI, 1997), por isso o total de capturas desses indivíduos no presente trabalho foi baixo, totalizando apenas 3%. A grande predominância relatada de C. perspicillata e de Artibeus no presente estudo, já foi registrada em diversos trabalhos (REIS, 1984; PEDRO et al., 1995; REIS et al., 2000; BERNARD, 2002; BIANCONI et al., 2004; CALOURO et al., 2010; LUZ et al., 2011). Segundo Faria (2006), isso parece estar relacionado ao fato de que essas são espécies que se adaptam bem aos ambientes perturbados, pois elas consomem frutos de espécies vegetais pioneiras em sub-bosques, tipo de vegetação frequentemente encontrado nas florestas de terra firme dessa região. Este evento já foi registrado, principalmente, com morcegos do gênero Carollia (BERNARD, 2002), e de forma mais oportunista, como no caso do gênero Artibeus quando ocorre escassez de frutos nas 38 copas das árvores da floresta (BONACCORSO & GUSH, 1987; BERNARD, 2001; KALKO & HANDLEY, 2001). Artibeus planirostris aparece como uma das espécies mais comuns para a região, pois, assim como em outro trabalho realizado na região bragantina (ANDRADE et al., 2008), essa espécie apresenta grande número de registros. No entanto, os resultados dos inventários da quiropterofauna, de uma maneira geral, mostraram que a espécie mais comum do gênero Artibeus é A. lituratus, tanto em áreas urbanas como em áreas de floresta. Isto ocorre devido à maioria dos estudos ter sido realizada nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, onde essa espécie é mais comum (BARROS et al., 2006; REIS et al., 2003; LIMA, 2008; BRITO et al., 2010; CALOURO et al., 2010). Em contrapartida, poucos indivíduos de D. rotundus (n=8) foram capturados, isso é reflexo do fato de que os locais escolhidos pra armar as redes não são comumente explorados por essa espécie, já que esta parece estar estreitamente associada às áreas com presença de herbívoros domésticos, como: bovinos, caprinos e eqüinos (BREDT et al., 1998) e as redes foram armadas em florestas de terra firme não próximas a criações desses animais. Em se tratando da razão sexual sabe-se que muitas espécies de morcegos apresentam sistema de acasalamento poligínico, com a formação de haréns organizados a partir de machos adultos, principalmente, em morcegos filostomídeos, (KUNZ et al., 1983; FLEMING, 1992; FISCHER & FISCHER, 1995; MELLO & FERNANDEZ, 2000; ZORTÉA, 2003; COSTA et al., 2007; MELLO et al., 2009). Isso certamente explica a ocorrência, no presente trabalho, da razão sexual desviada para fêmeas nas espécies C. perspicillata e G. soricina. Por outro lado, em espécies como D. cinerea e U. bilobatum a proporção de machos e fêmeas foi a mesma, e diferente do que se esperava, em A. planirostris houve desvio para machos. Essa última espécie, também de 39 forma peculiar, apresentou maior proporção de indivíduos adultos, mas, no entanto, não houve a formação de haréns, o que segundo Ferreira et al. (2010) é o esperado em grupos com maior número de adultos, fato este registrado para C. perspicillata, que apresentou maior proporção de adultos e razão sexual desviada para fêmeas. A maior proporção de indivíduos adultos em A. planirostris e C. perspicillata pode ser explicada pela baixa quantidade de filhotes por ano (um ou dois por fêmea) comum a muitas espécies de filostomídeos (FLEMING et al., 1972; MELLO & FERNANDEZ, 2000), apesar disso D. cinerea e U. bilobatum apresentaram a mesma proporção para jovens e adultos, enquanto G. soricina apresentou maior número de jovens. O fato dessas três últimas espécies apresentarem elevado número de jovens pode estar relacionado ao fato delas terem sido capturadas, principalmente, durante o período seco, período no qual o número de jovens é comumente mais numeroso. Adicionalmente, os resultados também apontaram para o fato de que as fêmeas lactantes, pós-lactantes e, principalmente, as grávidas são mais numerosas durante o período chuvoso. As espécies de morcegos fitófagas relacionam seu período de reprodução aos picos de floração e frutificação, devido à alta disponibilidade de alimentos (BREDT et al., 1998), o que ocorre durante a estação chuvosa, por isso o número de fêmeas em estado reprodutivo é maior durante esse período, enquanto que fêmeas não reprodutivas são mais numerosas durante o período seco. Nesse período de escassez, foi registrada a presença de um grande número de machos sexualmente ativos, o que sugere um período de acasalamento. O nascimento dos filhotes ocorre com mais freqüência na estação chuvosa, uma vez que o tempo de gestação é prolongado (dois a sete meses, dependendo da espécie) (ALVES et al., 2009; GOMES & UIEDA, 2004; BREDT et al., 1998). Contudo, é importante ressaltar que tais interpretações acerca do período de 40 reprodução dessas espécies são um reflexo do número de indivíduos capturados. A maioria dos indivíduos foi capturada durante o período seco, pois durante o período chuvoso os morcegos passam maior parte do tempo recolhidos em seus abrigos devido à chuva, não saindo para forragear. Este fato é bem ilustrado com os resultados para os municípios de Viseu e Bragança, mas não para o município de Augusto Corrêa. Por outro lado, considerando o número de espécies capturadas no presente trabalho, valores similares foram registrados para as duas estações, ocorrendo uma pequena variação por localidade. 5.2. PREVALÊNCIA SOROLÓGICA O estudo da soroprevalência da quiropterofauna dessa região mostrou que o número de soropositivos e soronegativos para a produção de anticorpos foi muito aproximado, indicando que boa parte dos morcegos dessa região, em algum momento, teve contato com RABV, ou estão infectados com o vírus. Isso é bem evidente nos municípios de Viseu e Augusto Corrêa onde foram registrados altos valores percentuais de soropositividade. Segundo Cubas et al. (2007), essa alta prevalência indica a ocorrência de surtos recentes. Apesar da proximidade com os municípios anteriormente citados para o Estado do Pará, Bragança não apresentou surtos de Raiva nos anos de 2004 e 2005, sendo assim os morcegos deste local tiveram menos contato com o vírus da raiva, o que pode explicar o seu menor percentual de soropositivos. As duas diferentes e marcadas estações do ano na área de trabalho parece influenciar no percentual de indivíduos soropositivos. O maior percentual de soropositivos durante a estação chuvosa parece ser resultado do fato de que durante esse período os morcegos saem menos para forragear, ficando a maior parte do tempo em seus abrigos onde mantêm maior contato com outros indivíduos da colônia. Assim, é de 41 se esperar que ocorra maior probabilidade de transmissão do vírus entre eles, já que esta transmissão ocorre pelo contato direto, como: lambedura e mordedura (ALVES et al., 2009), promovendo, consequentemente, a maior introdução de anticorpos. Essa alta na introdução de anticorpos durante o período chuvoso ocorre em todos o três municípios estudados, e é bem mais evidente em Viseu, onde quase a totalidade dos indivíduos capturados durante este período era soropositiva. Esse elevado valor parece estar relacionado com o fato de que nesse município existem muitas áreas com cavernas, o que de acordo com Bredt et al. (1999), servem de abrigos com grande concentração de colônias, promovendo maior facilitação na transmissão do vírus através do contato direto. Embora a transmissão do RABV pareça ocorrer muito cedo na vida desses indivíduos, devido ao contato direto, ingestão de leite produzido pela mãe infectada ou infecção transplacental (SIMS et al., 1963; CONSTANTINE, 1966, 1967; CONSTANTINE et al., 1968; STEECE & CALISHER, 1989), no presente estudo a diferença na soroprevalência entre adultos e jovens não foi significativa. Diante disso, vemos que a introdução de anticorpos ocorre em ambos os estágios de desenvolvimento. Da mesma forma, os resultados do presente trabalho não diferiram significativamente quanto aos valores de soropositivos e soronegativos para machos e fêmeas. Contudo, é comum indivíduos do sexo masculino apresentarem maior introdução de anticorpos, já que machos dominantes, em interações intraespecíficas, podem morder e ser mordidos por machos subalternos e intrusos e expulsá-los da sua colônia (CORTÊS et al., 1994). Esses machos expulsos poderiam deslocar-se para outras áreas na tentativa de formar ou encontrar uma nova colônia, sendo dessa forma considerados importantes veículos de propagação do RABV quando infectados (CORTÊS et al., 1994). 42 Apesar da diferença entre o número de positivos e negativos não ter sido significativa entre os indivíduos analisados de A. planirostris, esta apresentou mais da metade de indivíduos soropositivos (52%), vale a pena ressaltar que esta espécie encontra-se presente na lista de morcegos brasileiros positivos para a Raiva (SODRÉ et al. 2010). Das quatro espécies analisadas, D. cinerea é a única que não está presente na lista de Sodré et al. (2010), muito embora tenha sido, no presente estudo, registrada produzindo anticorpos. É importante salientar que todos os indivíduos dessa espécie apresentaram soropositividade para o município de Viseu. De maneira geral, a alta produção de anticorpos encontrada em indivíduos de diferentes espécies de morcegos não hematófagos nos três municípios estudados sugere que o RABV circula muito ativamente nessa região. Em suma, na região do nordeste do Pará, representada no presente trabalho pelos municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Viseu, foi registrada a circulação do fluxo viral entre morcegos de diversas espécies não hematófagas, sendo necessário um constante monitoramento por medidas sanitárias e epidemiológicas, no intuito de manter o controle da epizootia da Raiva. 43 6. REFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, A. P. F.; ABREU, M. A. B. L. & LESSA, P. G. Ocorrência da raiva em herbívoros no município de Pedra Bela durante o Período de 1999 a 2008. 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