Descrição do 1º caso de raiva em morcego frugívoro relatado no

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Chiroptera Neotropical 16(1) Supl., April 2010
Descrição do 1º caso de raiva em morcego frugívoro relatado no Centro de
Controle de Zoonoses de Natal, estado do Rio Grande Norte, nordeste do Brasil
Francisco Carlos Vilela*, Maria Cristiana da Silva Souto e João Ciro F. Neto
Secretaria Municipal de Saúde/Centro de Controle de Zoonoses, Natal/ RN.
*Corresponding author: E-mail: [email protected]
Palavras-chave: Acidente, Artibeus fimbriatus
poda em árvore conhecida popularmente na
região como algodoeiro-da-praia (Hibiscus
tiliaceus L.), esta desenvolve copa frondosa e
fechada, o que propicia refúgio e abrigo para
morcegos. O acidente ocorreu por volta das 8h
30min, sendo o morcego arremessado ao chão
após a mordedura, onde recebeu em seguida
pancada com uma sandália, logo após foi
molhado com álcool etílico e queimado, o que
causou a morte do animal de forma rápida.
Cerca de 30 minutos depois a vítima foi
atendida no hospital HGT, levando consigo o
animal morto para ser identificado.
O morcego foi enviado ao Laboratório
Estadual Central de Saúde Pública de Natal –
LACEN, para diagnóstico de raiva através das
técnicas de imunofluorescência direta (IFD) e
técnica de inoculação intracerebral em
camundongo (IICC). Após a confirmação de
positividade a amostra foi enviada para o
Instituto Pasteur, em São Paulo, para
identificação da espécie e tipificação genética da
variante viral. Após o resultado positivo do
diagnóstico, ocorreu em primeira ocasião a
realização da investigação epidemiológica in
loco pelo PCR, para procedimento de bloqueio
sanitário e orientação educacional da população
local, conforme preconização do Ministério da
Saúde. E posteriormente outra investigação
realizada pelo PCV para levantamento de dados
referentes à especificação do quiróptero.
Introdução
Os morcegos pertencem a Ordem chiroptera,
com 18 famílias, 202 gêneros e 1120 espécies.
Isso representa aproximadamente 22% das
espécies conhecidas de mamíferos. São
divididos em duas Subordens, Megachiopteros e
Microchiropteros.
Embora
desempenhem
importantes serviços ecossistêmicos como a
regulação populacional de insetos noturnos, a
dispersão de sementes de centenas de espécies
vegetais e a polinização de diversos tipos de
flores.
Em algumas situações os morcegos têm
fomentado problemas associados à saúde
pública nas zonas rurais e atualmente no meio
urbano, isso por adentrarem em residências
humanas em busca de abrigo, ou proteção em
arvores
e
construções
inacabadas
ou
desabitadas, possibilitando o contato com
animais domésticos e pessoas que vivem nesses
ambientes.
Nos últimos anos tem aumentado os
registros de pessoas agredidas por morcegos,
este fato tem implicado na mudança do perfil
epidemiológico da raiva no Brasil, trazendo o
morcego para o segundo lugar na transmissão da
raiva para seres humanos. (Secretaria de Saúde,
2004).
Material e Métodos
Realizou-se levantamento nas fichas de
solicitação de atendimento pela população e nos
relatórios técnicos internos do Programa de
Controle de Vetores (PCV) e da Raiva (PCR),
estes Programas fazem parte do Centro de
Controle de Zoonoses de Natal, que desenvolve
ações de monitoramento, prevenção e controle
de zoonoses.
O agravo por mordedura de quiróptero
ocorreu no distrito sanitário Norte, bairro
Potengí (5° 44’ 56,9” S e 35° 15’ 09,7” W),
localidade Soledade II, Natal/RN, no mês de
Novembro de 2008, sendo o registro inicial feito
no Hospital Estadual de referencia para doenças
infecto-contagiosas Prof. Giselda Trigueiro HGT, refere-se a uma paciente de 53 anos,
mordida na mão direita, enquanto realizava
Resultados e Discussão
No LACEN foram realizados exames da
amostra do morcego para diagnostico da raiva
através das técnicas de imunofluorescência
direta (IFD) e técnica de inoculação
intracerebral em camundongo (IICC). Após a
confirmação de positividade a amostra foi
enviada para o Instituto Pasteur, em São
Paulo/SP, para identificação da espécie e
tipificação genética da variante viral.
Foi identificada a espécie Artibeus
fimbriatus,
da
família
Phyllostomidae,
subfamília Stenodermatinae, porem não foi
possível neste trabalho coletar os dados
referentes a sexo, nem o estagio de
desenvolvimento do espécime. Os morcegos
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pertencentes
à
família
Phyllostomidae
caracterizam-se, em geral, por apresentarem um
apêndice nasal em forma de folha triangular.
Nesse grupo estão incluídas espécies frugívoras
e nectarívoras, além de espécies insetívoras,
carnívoras, folívoras, sanguívoras e onívoras.
Após a identificação da espécie de morcego
no Instituto Pasteur, inicio-se o seqüenciamento
de DNA (tipificação genética), nesta tipificação
foi diagnosticada a variante 3 do Lyssavirus,
segundo a classificação do Comitê Internacional
sobre Taxonomia de Vírus (ICTV). Essa
variante ou genótipo viral é característico dos
vírus encontrado nos morcegos hematófagos da
espécie D. rotundus.
O bairro onde ocorreu o acidente apresenta
características particulares,
fugindo
das
características convencionais encontradas em
outros centros urbanos de grandes cidades
brasileiras, por encontrarmos diversos canteiros
centrais de ruas arborizadas com espécies
nativas frutíferas, servindo como corredores
ecológicos, além de existirem duas zonas de
proteção ambiental que conservam uma boa
parte de sua flora e fauna nativa. O bairro
também é área limítrofe de ecossistemas como
manguezais, dunas, rios, lagoas, mar e
remanescentes de mata atlântica.
Conclusões
Espécimes como apesar de terem várias
importâncias no equilíbrio do ecossistema,
também apresentam papel crucial na propagação
da Raiva pelo ciclo aéreo.
A variante 3 do Lyssavirus apesar que não
ter predileção por quirópteros frugívoros e
insetívoros foi isolada no exemplar supracitado.
Fica a necessidade de elaborar um
monitoramento da população de quirópteros nas
proximidades do foco, para promover um
consolidado mais fiel e implantação de um
Programa de Vigilância e Monitoramento em
Quirópteros, em que objetive prevenir casos
isolados e/ou um surto de raiva em animais
domésticos e silvestres, bem como de casos
humanos.
Agradecimentos
A Diógenes Soares da Silva, João Fagundes
Ciro Neto; Marcia Maria de Lima Ferreira.
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