Nutrição oral e enteral especializada na pediatria Dr. Hélio Fernandes da Rocha e Dra. Bruna de Siqueira Barros 1 Tabela 1: Necessidade de Energia, Proteína e Gordura para crianças e adolescentes saudáveis Faixa Etária EER (kcal/dia) * RDA de Proteínas (g/dia) Total de Gordura (g/dia) 1 - 3 anos Meninos 850 - 1300 13 30 - 40 Meninas 750 - 1250 13 30 - 40 Meninos 1400 - 1700 19 25 - 35 Meninas 1300 - 1600 19 25 - 35 Meninos 1800 - 2300 34 25 - 35 Meninas 1700 - 2000 34 25 - 35 4 - 8 anos 9 - 13 anos 14 - 18 anos Meninos 2500 - 2800 52 25 - 35 Meninas 2000 46 25 - 35 Fonte: Adaptado de Uptodate, 2015. *A distribuição das calorias totais segue as seguintes proporções: carboidratos: 40% a 50%, lipídios: 25% a 40% e proteínas: 8% a 20%. Tabela 2: Necessidade de Vitaminas para crianças saudáveis Faixa Etária Vitaminas Lipossolúveis A (μg) D (μg) E (mg) K (μg) 1 - 3 anos 400 10 6 15 4 - 6 anos 500 10 7 20 7 - 10 anos 700 10 7 30 11 - 14 meninos 1000 10 10 45 11 - 14 meninas 800 10 8 45 15 - 18 meninos 1000 10 10 65 15 - 18 meninas 800 10 8 55 2 Faixa Etária Vitaminas Hidrossolúveis C (mg) Tiamina (mg) Riboflavina (mg) Niacina (mg) B6 (mg) 0,8 9 1,0 1 - 3 anos 40 0,7 4 - 6 anos 45 0,9 1,1 12 1,1 7 - 10 anos 45 1,0 1,2 13 1,4 11 - 14 meninos 50 1,3 1,5 17 1,7 11 - 14 meninas 50 1,1 1,3 15 2,0 15 - 18 meninos 60 1,5 1,8 20 2,0 15 - 18 meninas 60 1,1 1,3 15 1,4 Faixa Etária 1 - 3 anos Na desnutrição grave, há duas formas clínicas bem definidas: marasmo e kwashiorkor, além da possibilidade de uma forma mista (kwashiorkormarasmático). Ainda não são conhecidos os fatores que determinam qual apresentação clínica o paciente com desnutrição grave terá. Contudo, sabe-se que as crianças marasmáticas são mais adaptadas, isto é, têm melhor resposta na fase aguda na vigência de infecção quando comparadas às outras com os tipos de kwashiorkor, o que coloca essas últimas em situação de maior risco. • O marasmo acomete com mais frequência os lactentes jovens. Trata-se de indivíduos com baixa atividade física e metabólica. São pequenos para a idade, emagrecidos, com membros apresentando atrofia muscular e subcutânea. É característico o desaparecimento da bola gordurosa de Bichat (último depósito de gordura a ser consumido localizado na região malar), que favorece aspecto envelhecido (face senil ou simiesca), as costelas são visíveis e as nádegas atróficas. O abdome pode ser globoso, mas a hepatomegalia é rara. Os cabelos são finos e escassos, e esses indivíduos se apresentam sempre irritadiços. • O kwashiorkor (na língua de Ghana significa “doença do primogênito quando nasce o segundo filho”) acomete crianças com mais de 2 anos. Pode cursar com apatia e/ou irritabilidade. Apresenta alterações de pele (lesões hipocrômicas ao lado de hipercrômicas, com descamação) e dos cabelos (textura, coloração e facilidade em se soltar do couro cabeludo). Pode haver hepatomegalia (decorrente de esteatose), ascite, face de lua (edema de face) e/ou anasarca. Vitaminas Hidrossolúveis Folato (μg) B12 (mg) Biotina (μg) Ácido Pantotênico (mg) 50 0,7 20 3 4 - 6 anos 75 1,0 25 3-4 7 - 10 anos 100 1,4 30 4-5 11 - 14 meninos 150 2,0 100 4-7 11 - 14 meninas 200 2,0 100 4-7 15 - 18 meninos 200 2,0 100 4-7 15 - 18 meninas 150 2,0 100 4-7 Fonte: Adaptado de Jornal de Pediatria, 2000. Tabela 3: Necessidade de Ferro, Cálcio e Zinco para crianças e adolescentes Faixa Etária Ferro (mg/dia) Cálcio (mg/dia) Zinco (mg/dia) 1 - 3 anos 7 700 3 4 - 8 anos 10 1000 5 9 - 13 anos 8 1300 8 14 - 18 anos meninos: 11 meninas: 15 1300 meninos: 11 meninas: 9 Fonte: Adaptado de Uptodate, 2015. A DEP cursa com alterações sistêmicas consequentes às adaptações fisiológicas para a menor disponibilidade de nutrientes. As repercussões agudas dessa condição incluem disfunções de órgãos e sistemas que aumentam a mortalidade. Em longo prazo pode haver comprometimento do crescimento, do desenvolvimento neuropsicomotor e aumento do risco futuro para o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis. 3 A causa do edema na forma kwashiorkor é multifatorial, mas se acredita que seja uma forma de controle insuficiente do estresse oxidativo, decorrente da produção deficiente de enzimas antioxidantes e, portanto, do controle dos radicais livres. Como consequência, ocorre aumento da permeabilidade endotelial e o extravasamento de líquido e albumina para o terceiro espaço, dando origem ao edema clínico. Considerando que a prevalência de desnutrição consequente à internação em hospitais pediátricos varie entre 15% a 30% dos pacientes e que seus potenciais efeitos são deletérios, a prevenção e o tratamento da desnutrição intrahospitalar, ou do desnutrido que se interna, depende da cooperação de um grupo multidisciplinar em nutrição clínica, conhecido como equipe multidisciplinar de terapia nutricional (EMTN). As principais atribuições da EMTN são as seguintes: • Criação de um sistema de triagem de pacientes em risco nutricional. • Identificação e prescrição dos pacientes que necessitam de suporte nutricional. • Garantia de manejo nutricional eficaz para os pacientes. 4 • Planejamento da nutrição em casa após a alta. • Educação continuada para os funcionários do hospital em relação à identificação e manejo de problemas nutricionais . • Monitorização, avaliação, registro e revisão periódica das práticas realizadas. O suporte nutricional no paciente desnutrido, quando realizado de maneira inadequada, pode acarretar uma “síndrome de realimentação”, termo utilizado para descrever várias alterações metabólicas nocivas. Se a oferta calórica for excessiva, o aumento resultante nos níveis plasmáticos de insulina pode causar aumento no aporte intracelular dos íons potássio, fósforo e magnésio. A principal complicação dessa síndrome é o desenvolvimento de hipofosfatemia grave, que está associada a anemia hemolítica, fraqueza, rabdomiólise, disfunção dos neutrófilos, insuficiência cardiorrespiratória, arritmias, convulsões, alteração do nível de consciência ou morte súbita. As crianças com perda de peso significativa e crônica estão sob maior risco de “síndrome de realimentação”, por exemplo, aquelas com anorexia nervosa ou com caquexia associada ao câncer, ocorrendo durante a primeira semana de terapia nutricional. A “síndrome de realimentação”, no entanto, é uma complicação potencial do tratamento em qualquer paciente desnutrido. Dessa forma, a alimentação deve ser iniciada em pequenas quantidades de dieta com baixa osmolaridade, baixo teor de lactose e taxas calórica e proteica necessárias para manter os processos fisiológicos basais. O intuito não é promover a recuperação nutricional nessa fase inicial. A via parenteral deve ser evitada e as crianças com hiporexia devem ser alimentadas por sonda nasogástrica, pois, além de evitar o risco de sobrecarga hídrica, os nutrientes por via enteral ajudam a recuperar o trofismo do trato gastrointestinal. Quando a criança está reabilitada clinicamente o edema é mínimo e há retorno do apetite, o que em geral acontece a partir da segunda semana. Nesse momento, deve-se oferecer alimentação com alta taxa calórica e proteica para assegurar o crescimento rápido (catch-up), visando recuperar grande parte do peso perdido ainda quando a criança estiver hospitalizada (Quadro 1). É importante que essa transição seja controlada ao longo de três a cinco dias, a fim de evitar as mesmas complicações metabólicas. Conclui-se que é fundamental uma assistência diferenciada às crianças gravemente desnutridas com estratégias para o suporte nutricional desses pacientes (Quadro 2). Quadro 1: Cálculo da necessidade energética, proteica e de micronutrientes para pacientes em catch-up Macronutrientes: • • Necessidades de energia (kcal/kg dia)= EER para idade de criança saudável (kcal/dia) x peso ideal para altura (kg)/peso atual (kg) Necessidades de proteína (g/dia)= RDA de proteína para idade de criança saudável (g/kg/dia) x peso ideal para altura (kg)/peso atual (kg) Em que EER = Requerimento Estimado de Energia; RDA = Recomendação de Ingestão Diária (ver tabela 1) Micronutrientes (a suplementação deve ocorrer na fase de recuperação nutricional): • • • • • • Dieta adequada com 1,5 vezes a recomendação de micronutrientes Zinco 2 mg/kg/dia (máximo 20 mg/dia) Cobre 0,3 mg/kg/dia (máximo 3 mg/dia) Ácido fólico 5 mg/dia (no primeiro dia) e depois 1 mg/dia Ferro 3 mg/kg/dia Vitamina A, na forma de megadose: < 1 ano 100.000 UI e > 1 ano 200.000 UI por via oral/enteral Fonte: Adaptado de Uptodate, 2015 e Projeto Diretrizes, 2011. Quadro 2: Principais estratégias para evitar a “síndrome de realimentação” 1) Antes de iniciar suporte nutricional: avaliação do estado nutricional, hemodinâmico, hidratação, eletrólitos (sódio, potássio, magnésio, fósforo, cálcio), ureia e creatinina. 2) A alimentação enteral inicial deve ser limitada em termos de volume e energia (cerca de 75% das necessidades em casos graves): • < 7 anos: 60 kcal/kg/dia. • 7-10 anos: 50 kcal/kg/dia. • 11-14 anos: 45 kcal/kg/dia. • 15-18 anos: 40 kcal/kg/dia. 3) Se tolerado, aumentar a oferta calórica a cada 3 a 5 dias. 5 6 TROPHIC INFANT 4) O aumento deve ser realizado com frequentes e pequenos avanços, seguindo uma dieta com densidade energética de 1 kcal/ml para minimizar a carga de fluido. 5) A ingestão de proteína pode começar em 0,6 a 1 g kg/dia, devendo ser aumentada a 1,2 a 1,5 g/kg/dia. Fórmula nutricionalmente completa em pó, com exclusivo mix de proteínas de alto valor biológico, essencial na recuperação nutricional de crianças. 6) Eletrólitos: • Sódio: 1 mmol/kg/dia. • Potássio: 4 mmol/kg/dia. • Magnésio: 0,61 mmol/kg/dia. • Fosfato: até 1 mmol/kg/dia por via intravenosa ou até 100 mmol/kg/dia por via oral para crianças com mais de 5 anos de idade. • Hipocalcemia deve ser corrigida. 7) Avaliar reposição dos seguintes micronutrientes: tiamina, riboflavina, ácido fólico, ácido ascórbico, piridoxina, vitaminas lipossolúveis e oligoelementos minerais. 8) Em pacientes que têm ingestão inadequada por mais de 5 dias, o suporte nutricional deve ser introduzido com 50% de requisitos para os primeiros 2 dias. Aumentar caso a monitorização clínica e bioquímica não revele problemas com a realimentação. 9) Maior cuidado é indicado para pacientes com as seguintes características: • Perda de peso não intencional > 15% dentro dos últimos 3 a 6 meses. • Pouca ou nenhuma ingestão de nutriente por mais de 10 dias. • Baixos níveis de potássio, fosfato ou de magnésio antes de qualquer alimentação. Fonte: ESPGHAN, 2010. INDICADO PARA Crianças com risco nutricional ou desnutridas, hospitalizadas ou em cuidado domiciliar, que necessitam de nutrição enteral prolongada. DISTRIBUIÇÃO CALÓRICA POR EMBALAGEM PT 12% 31 g/L CH 53% 130 g/L LIP 35% 39 g/L FONTE PT 61% Caseinato de Cálcio 28% Proteína Isolada do Soro do Leite 11% Proteína Concentrada do Leite OSMOLARIDADE: 407 mOsm/L H²O OSMOLALIDADE: 485 mOsm/kg H²O SABOR: Baunilha DILUIÇÃO (PREPARO 200 ml) 1,0 kcal/ml = 6 medidas + 170 ml água 1,2 kcal/ml = 7 medidas + 160 ml água 1,5 kcal/ml = 9 medidas + 154 ml água FONTE CH 35% Amido de Milho 35% Sacarose 30% Maltodextrina PREPARO Para homogeneizar, utilizar mixer ou liquidificador. Dissolver em água potável (temperatura ambiente). FIBRA ALIMENTAR Isento RENDIMENTO 9 doses de 200 ml FONTE LIP 27% Óleo de Soja 59% Óleo de Canola 14% Triglicerídeos de Cadeia Média COLHER-MEDIDA: 7,3 g = 33 kcal PERFIL LIPÍDICO Ác. Graxos Saturados: 7% Ác. Graxos Monoinsaturados: 15% Ác. Graxos Poli-insaturados: 13% APRESENTAÇÃO | KCAL POR EMBALAGEM: 380g | 1730 kcal DENSIDADE CALÓRICA 1,0 a 1,5 kcal/ml NÃO CONTÉM FIBRAS, LACTOSE E GLÚTEN. W6:W3: 5,2 : 1 7 8 Informação Nutricional Por 100 g %VD(*) (4-6anos) 9 Por 100 ml %VD(**) (7-10anos) Valor energético 454 kcal=1907 kJ *** ** 100 kcal=420 kJ Carboidratos 57 g *** *** 13 g Proteínas 14 g *** *** 3,1 g Gorduras totais, das quais: 18 g *** *** 3,9 g Gorduras saturadas 3,7 g *** *** 0,81 g Gorduras trans 0 *** *** 0 Gorduras monoinsaturadas 7,6 g *** *** 1,7 g Gorduras poli-insaturadas 6,0 g *** *** 1,3 g Colesterol 0 *** *** 0 Fibra alimentar 0 *** *** 0 Sódio 255 mg *** *** 50 mg Cálcio 448 mg 44% 38% 99 mg Ferro 5,8 mg 97% 64% 1,3 mg Vitamina A 273 mcgRE 56% 50% 60 mcgRE Vitamina D 6,5 mcg 130% 130% 1,4 mcg Vitamina B1 0,90 mg 150% 100% 0,20 mg Vitamina B2 0,90 mg 150% 100% 0,20 mg Niacina 4,0 mg 50% 33% 0,88 mg Ácido pantotênico 2,5 mg 83% 63% 0,55 mg Vitamina B6 0,79 mg 160% 80% 0,17 mg Vitamina B12 1,4 mcg 117% 78% 0,31 mcg Vitamina C 52 mg 173% 149% 11 mg Vitamina E 7,2 mg alfa-TE 144% 103% 1,6 mg alfa-TE Biotina 36 mcg 425% 255% 8 mcg Ácido fólico 100 mcg 85% 56% 22 mcg Vitamina K 22 mcg 110% 88% 4,8 mcg Potássio 571 mg *** *** 126 mg Cloreto 428 mg *** *** 94 mg Fósforo 392 mg 75% 30% 86 mg Magnésio 45 mg 41% 30% 9,9 mg Zinco 4,5 mg 65% 59% 0,99 mg Cobre 467 mcg 115% 115% 103 mcg Iodo 36 mcg 49% 54% 8 mcg Selênio 16 mcg 75% 75% 3,5 mcg Molibdênio 28 mcg 129% 129% 6,2 mcg Cromo 21 mcg 143% 143% 4,6 mcg Manganês 0,45 mg 49% 49% 0,10 mg Colina 120 mg 48% 48% 26 mg [email protected] Tel.: 0800 702 8845 10