UNIVERSIDADE JOSÉ DO ROSÁRIO VELLANO ALEX

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UNIVERSIDADE JOSÉ DO ROSÁRIO VELLANO
ALEX NOGUEIRA NANNETTI
PRODUTIVIDADE DE CAFEEIROS EM SISTEMA AGROFLORESTAL
Alfenas - MG
2012
UNIVERSIDADE JOSÉ DO ROSÁRIO VELLANO
ALEX NOGUEIRA NANNETTI
PRODUTIVIDADE DE CAFEEIROS EM SISTEMA AGROFLORESTAL
Dissertação apresentada à Universidade
José do Rosário Vellano, como parte das
exigências
do
curso
de
Mestrado
Profissional em Sistemas de Produção na
Agropecuária, para a obtenção do título de
Mestre.
Orientador: Prof. Dr. José Messias Miranda
Alfenas - MG
2012
Nannetti, Alex Nogueira
Produtividade de cafeeiros em sistemas
agroflorestal/ .—Alex Nogueira Nannetti.—Alfenas,
2012.
88 f.
Orientador : Prof. Dr. José Messias Miranda
Dissertação(Mestrado em Sistemas de Produção na
Agropecuária)- Universidade José do Rosário Vellano
1.Coffea arábica 2.Desenvolvimento
3.Sombreamento 4. Jacarandá Paulista I. Título
CDU :633.73(043)
DEDICATÓRIA
A Ernst Gotsch, , mestre do conhecimento vegetal e produtor sustentável, em
Piraí do Norte (BA)
A João Pereira Lima Neto, amigo e produtor de café natural, no município de
Mococa (SP), filósofo das Florestas.
AGRADECIMENTOS
À minha família, em especial a minha esposa, Dulce, que me apoiou em todos
os desafios da minha jornada.
Aos meus Pais, Leandro e Matilde, (in memorian), que sempre me deram
oportunidades possibilitando a minha caminhada até aqui.
Aos meus irmãos Sandro e Rodolfo pelo apoio e companheirismo.
Aos meus filhos, Caio César e Ana Carolina, que me incentivam a continuar
lutando cada vez mais para um mundo melhor.
A todos os professores, em especial ao Prof. Dr. José Messias Miranda pelos
ensinamentos e pela orientação.
Aos meus familiares, colegas e amigos que direta ou indiretamente me
ajudaram a construir esta dissertação.
RESUMO
NANNETTI,
Alex
Nogueira.
Produtividade
de
cafeeiros
em
sistemas
agroflorestal. Orientador: José Messias Miranda. Alfenas, 2012. Dissertação
(Mestrado Profissional em
Sistemas de Produção na Agropecuária) UNIFENAS,
2012.
O objetivo desse trabalho foi analisar o desenvolvimento e produtividade do
cafeeiro cultivar Icatu - Vermelho, linhagem 2945, sob sistema agroflorestal em
condições diferentes de sombreamento: próximo ao caule das árvores, (sombreado),
sob o meio da copa destas (meia sombra) e fora da copa (pleno sol). A área
experimental está localizada na região de montanha no sul de Minas Gerais, no
município de Machado. Nesta há predominância de árvores de Jacarandá Paulista,
(Machaerium villosum Vog., família Leguminosae - Papilionoideae), as quais
propiciaram as diferentes condições de sombreamento para o cafeeiro. Os dados
foram coletados, das três condições de sombreamento, entre julho e setembro de
2011, em duas plantas de café, com 7 repetições para cada tratamento. Foram
analisados dados de produtividade, diâmetro de caule e altura dos cafeeiros. Estes
foram submetidos à análise estatística pelo Programa SISVAR, pelo teste de ScottKnott a 1%. Pôde-se observar um melhor desenvolvimento das plantas (diâmetro do
caule e altura da planta) e também maior produtividade de grãos para os cafeeiros
localizados à meia sombra.
Palavras-chave: Coffea arabica L. . Desenvolvimento. Sombreamento. Jacarandá
Paulista.
ABSTRACT NANNETTI, Alex Nogueira. Productivity of coffee trees in agroforestry system.
Adviser: José Messias Miranda. Alfenas, 2012. Dissertation (Master’s degree in
Farm Production Systems) UNIFENAS, 2012.
The purpose of this study was to analyze the development and the production
of the coffee tree “Red Icatu,“ lineage 2945, under agroforestry system in different
conditions of shade: next to the stalk of the trees (shadowed), inside of the crown of
the tree (half shadowed), and out of the crown of the tree (in the sun). The
experimental area lies on the mountain region in the south of Minas Gerais, in the
municipality of Machado, where there is a prevalence of Jacarandá Paulista trees
(Macherium villosum Vog., familia Leguminosae – Papilionoideae), which provided
the different shading conditions for the coffee trees. The data were collected from the
three shading conditions between July and September 2011, on two coffee plants,
with seven replications for each treatment. Productivity data were analyzed, as well
as stalk diameter and height of the coffee trees. They were submited to the statistic
analyzis by the SISVAR Program, by the Scott-Knott Test to 1%. There was a better
development of the plants (stalk diameter and height of the plant) as well as a larger
productivity of grains for the coffee trees which lay in half shadow.
Key words : Coffea arabica L. . Development. Shading. Jacarandá Paulista.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 -
Regressão entre a produção em função dos parâmetros de crescimento
(altura e diâmetro do caule) …........................................................... 25
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 -
Resultados de produção e de crescimento do cafeeiro, em razão de
diferentes níveis de sombreamento com árvores de jacarandá (T-1:
sombra; T-2: meia sombra; T-3: pleno sol) ........................................ 24
Tabela 2 -
Resultados de análises de solo (0 a 20 cm) sob cafeeiro em diferentes
níveis de sombreamento com árvores de jacarandá (T-1: sombra; T-2:
meia sombra; T-3: pleno sol) .............................................................. 28
Tabela 3 -
Resultados de análise foliar de cafeeiros em diferentes níveis de
sombreamento com árvores de jacarandá (T-1: sombra; T-2: meia
sombra; T-3: pleno sol) ....................................................................... 29
Tabela 4 -
Parâmetro de qualidade do cafeeiro (% maturação), em razão de
diferentes níveis de sombreamento com árvores de jacarandá (T-1:
sombra; T-2: meia sombra; T-3: pleno sol) ......................................... 30
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO …........................................................................................
10
2 REVISÃO DE LITERATURA …..................................................................
12
2.1 Sistema agroflorestal .........................................................................
12
2.2 Sombreamento ....................................................................................
13
2.3 Espécies arbóreas no sistema agroflorestal .................................... 15
2.4 Matéria orgânica - Qualidade do solo ...............................................
18
2.5 Sombreamento x Produtividade e Qualidade do café ....................
20
3 MATERIAL E MÉTODOS ...........................................................................
22
3.1 Localização e descrição da área de estudo .....................................
22
3.2 Tratamentos ........................................................................................
22
3.3 Avaliações ...........................................................................................
23
3.4 Análise estatística .............................................................................. 23
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................. 24
5. CONCLUSÃO .............................................................................................
31
6. REFERÊNCIAS ..........................................................................................
32
11
1 INTRODUÇÃO
O agronegócio café é uma das atividades mais importantes do mundo nos
aspectos econômico e social. Atualmente o Brasil é o maior produtor mundial de
café, com cerca de 50,61 milhões de sacas previstas para a safra de 2012. A
produção do café arábica representa 74,65 % (37,71 milhões de sacas) da produção
do País, e tem como maior produtor o Estado de Minas Gerais, com 52,0 % (26,20
milhões de sacas) de café beneficiado. O café robusta participa da produção
nacional com 23,71 % de café beneficiado. O Estado do Espírito Santo se destaca
como o maior produtor dessa espécie, com 75,2% (9,2 milhões de sacas) de café
beneficiado (CONAB, 2012).
O café é originário de florestas caducifólias da Etiópia (CEPA, 1971), sendo,
portanto, uma espécie adaptada à sombra, embora, no Brasil, a maioria das lavouras
sejam constituídas por monocultivos de café arábica cultivadas a pleno sol. No
entanto, em vários países da América Latina é comum seu cultivo em associação
com diversas espécies arbóreas, onde essa prática tem se mostrado promissora.
Os maiores benefícios fisiológicos que o cafeeiro recebe das árvores de sombra
estão associados com a redução do estresse da planta pela melhoria do microclima
e do solo (BEER et al. , 1998).
A produção de café sob sistemas agroflorestais (SAFs) constitui uma
alternativa para assegurar a sustentabilidade da produção agrícola no sul de Minas
Gerais. Os SAFs incluem a permanente proteção ao solo, um ambiente mais
favorável para os processos biológicos que afetam a decomposição da matéria
orgânica, podendo ocorrer melhoria estrutural do solo e eficiência na ciclagem de
nutrientes.
É presente no setor cafeeiro a preocupação em adotar práticas de
manejo que garantam a sustentabilidade da sua produção. Dentre as práticas
utilizadas, o manejo do solo se destaca, pois o solo vem sendo apresentado como
um dos recursos naturais de maior relevância, devendo ter a sua qualidade mantida
ou melhorada, para alcançar a sustentabilidade (SANTANA e BAHIA FILHO, 1998).
A importância do manejo agroflorestal é também a possibilidade de sua
utilização em áreas
onde os cafeeiros já estão instalados há vários anos, que
fazem divisa, coincidem ou estão em interseção com: nascentes, matas de topo e
matas ciliares. A implantação de árvores em meio aos cafezais já instalados
proporciona o aumento da biodiversidade, proteção como quebra-ventos, aumento
12
do número de inimigos naturais, preservação das águas, solo e matéria orgânica,
criando-se um microclima favorável à preservação ambiental. A produção do
cafeeiro sob as árvores implantadas mantém áreas produtivas para o cafeicultor,
além de atender as demandas legislativas do País.
Em tempos de aquecimento global e secas severas, o sombreamento é uma
alternativa barata para a melhoria das condições hídricas e térmicas nos plantios do
café. Minimizando o estresse hídrico e as temperaturas extremas, o sombreamento
pode resultar em aumento de produtividade e, para algumas regiões, ser a única
opção de plantio do cafeeiro (LIN, 2007).
O objetivo desse trabalho foi analisar o desenvolvimento e produtividade do
cafeeiro sob sistema agroflorestal em condições diferentes de sombreamento:
próximo ao caule das árvores (sombreado), sob o meio da copa destas (meia
sombra) e fora da copa (pleno sol), na região de montanha no sul de Minas Gerais,
no município de Machado.
13
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 SISTEMA AGROFLORESTAL
Os sistemas agroflorestais são uma prática milenar tanto na Ásia como na
América Latina, mas é uma ciência que se desenvolveu mais intensamente nas
décadas de 1980 e 1990. Sua abrangência é muito grande. Têm sido adotados com
sucesso em diversos ambientes biofísicos e socioecônomicos, desde regiões de
clima úmido, semiárido ou temperado e sistemas de baixo nível tecnológico e uso de
insumos à alta tecnologia, tanto em pequenas como em grandes áreas de produção,
áreas degradadas ou de alto potencial produtivo (NAIR, 1989).
Em 1977 foi criado o Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal (ICRAF),
em Nairobi, Kenya. Por volta de 1983, o agricultor e pesquisador suíço Ernst Gotsch
iniciou seus trabalhos no Brasil. A REBRAF, Instituto Rede Brasileira Agroflorestal
que promove a adoção no Brasil de alternativas agroflorestais, foi criada em 1990.
Os sistemas agroflorestais são uma forma de uso da terra nas quais espécies
lenhosas perenes (arbustos ou árvores) são cultivadas deliberadamente com
espécies agrícolas e/ou com animais, numa combinação espacial e/ou temporal,
obtendo-se benefícios das interações ecológicas e econômicas resultantes, visando
a estabelecer sustentabilidade ambiental, socioeconômica e cultural (LUDGREN e
RAINTREE, 1982).
A cultura do café no Brasil se desenvolveu sem proteção arbórea,
excetuando-se algumas áreas isoladas. Alfaro-Villatoro et al. (2004) relataram que o
crescente interesse pela conservação e desenvolvimento dos sistemas de cafeeiros
sombreados surge, em parte, como uma motivação de compradores e consumidores
preocupados com a degradação ambiental causada pela agricultura intensiva. No
entanto, para os produtores, a produção com a combinação de árvores constitui-se
numa alternativa para diversificar, obter maior retorno econômico direta ou
indiretamente e tornar a atividade mais sustentável. Há um crescente interesse para
a arborização dos cafeeiros, estimulado pelas certificadoras de produtos orgânicos e
de certificadoras específicas para produtos originados de sistemas de produção que
14
preservam espécies arbóreas em extinção ou que servem de habitat para aves
migratórias (FERREIRA, 2005).
A associação de árvores com os cafeeiros resulta em vantagens, como a
redução dos valores extremos de temperatura (PEZZOPANE et al., 2005), proteção
contra ventos, elevação da infiltração de água no solo (NARAIN et al., 1998),
diminuição da erosão (FRANCO, 2000) e favorecimento da qualidade da bebida
(BOULAY et al., 2000). Outro fator a ser considerado no consórcio com árvores é
que a maturação dos frutos do cafeeiro é uniformizada e retardada, o fruto
permanece por maior tempo no estágio cereja, possibilitando a catação manual e
contribuindo para a qualidade do produto (MATIELLO e COELHO, 1999). Devido à
bienalidade da produção e à oscilação do mercado cafeeiro, a possibilidade de
agregação de renda adicional para o agricultor, por meio do consórcio com outra
cultura, torna-se altamente favorável. Tal consorciação permite a geração de renda
extra (VIEIRA et al., 2007), por meio de produtos como madeira, frutos, forragem e
óleos essenciais. Os sistemas agroflorestais proporcionam tal condição, permitindo a
exploração simultânea de um ou mais componentes arbóreos (ASSIS JÚNIOR et al.,
2003).
2. 2 SOMBREAMENTO
De acordo com Fernandes (1986), a arborização com espécies e
espaçamentos adequados pode apresentar resultados satisfatórios, quando
comparado ao cultivo a pleno sol. Os principais efeitos esperados são: produção de
internódios mais longos, redução do número de folhas, porém de maior tamanho,
produção de frutos maiores, mais moles e açucarados, melhoria do aspecto
vegetativo do cafeeiro, aumento do número de ramos primários e secundários,
aumento da capacidade reprodutiva do cafeeiro, obtenção de cafés com bebida mais
suave, redução da bienualidade de produção, menor influência da seca dos
ponteiros e de cercosporiose. A utilização do cafeeiro em sistemas agroflorestais,
além de diversificar a fonte de renda do agricultor, pode apresentar outros
benefícios, entre eles melhoria da qualidade do café, agregando mais valor ao
15
produto. A qualidade transformou-se num fator imprescindível para a manutenção e
conquista de novos mercados.
Embora o sistema agroflorestal apresente inúmeros fatores desejáveis ao
desenvolvimento do cafeeiro,
é observada a baixa produtividade destes em
sistemas sombreados, decorrente de uma série de fatores como o excesso de
sombreamento (MIRANDA et al., 1999). A utilização de espécies arbóreas
inadequadas e o desconhecimento da otimização de manejo das árvores
(ARCHANJO et al., 2007) e da nutrição mineral em sistemas agroflorestais (JESUS,
2008) também contribuem para a baixa produtividade. A redução da luminosidade
causa aumento da área foliar (LARRAMENDI e ABALLES, 1995). Machado (1946),
citado por Wellman (1961), encontrou as menores folhas em cafeeiros cultivados a
pleno sol, as maiores crescendo sob 40% de sombra e folhas de tamanho
intermediário, sob 75% de sombra.
Os cafeeiros sombreados necessitam de menos adubo, principalmente
nitrogenados, para uma mesma quantidade de café produzido. Dados obtidos na
Costa Rica demonstram esse fenômeno, explicado pela maior atividade de nitratoredutase sob menor luminosidade. Por ser o cafeeiro uma planta C3, realiza o
máximo de fotossíntese sob luz difusa. Além disto, o processo produtivo desde a
floração até a maturação é mais lento e, assim, melhor atendido pela produção de
reservas sob condição de sombra (MATIELLO et al., 2002).
São poucos os relatos de cafeeiros sob sombra com produção semelhante à
daqueles a pleno sol altamente tecnificados (MELLO e GUIMARÃES, 2000). A
maioria das experiências relata produções extremamente baixas com relação à
produção de cafezais a pleno sol em condições similares de cultivo (CAMPANHA,
2001). Embora muitos trabalhos tenham comprovado o efeito da restrição de
radiação em características morfológicas (RIGHI, 2005), edáficas (CORREA SILVA,
2006; SALGADO et al., 2006) e climáticas (BLACK & ONG, 2000) de sistemas
agroflorestais, pouco tem sido discutido sobre a radiação fotossinteticamente ativa
incidente na planta e, muitas vezes, não há informações sobre a densidade do
componente arbóreo. Frequentemente são verificados equívocos na interpretação
da porcentagem de cobertura da área pelo estrato arbóreo e pela restrição da
radiação
incidente.
Portanto,
o
esclarecimento
específico
das
interações
relacionadas à introdução do componente arbóreo deve ser realizado para que se
possa integrá-lo à complexidade desses sistemas, estabelecendo formas de manejo
16
cada vez mais refinadas. A compreensão dessa rede de interações poderá resultar
em sustentabilidade ambiental e econômica para os cafeicultores.
2.3 ESPÉCIES ARBÓREAS NO SISTEMA AGROFLORESTAL
A utilização de espécies arbóreas consorciadas à cultura do café vem sendo
realizada há muitos anos com os objetivos de torná-la menos dependente de
fertilizantes, além de propiciar um produto com melhor qualidade da bebida (BEER,
1998). A escolha da espécie a ser utilizada como companheira do café é de
fundamental importância (MONTENEGRO et al., 1997).
Devido ao consórcio entre várias espécies dentro de uma área eleva-se a
diversidade do ecossistema e são aproveitadas as interações benéficas entre as
plantas de diferentes ciclos, portes e funções (CARVALHO et al., 2004), além de
promover melhorias na eficiência de uso da água (BLACK e ONG, 2000) e
diminuição das perdas totais de solo, carbono orgânico e nutrientes (FRANCO,
2002). Umas das principais vantagens desse sistema é o seu potencial para
conservar o solo e manter sua fertilidade e produtividade (NAIR, 1993).
Espécies pertencentes à família das leguminosas, capazes de se associarem
a bactérias fixadoras de nitrogênio (N), vêm sendo muito utilizadas no pré-cultivo ou
em associação com a cultura principal devido ao aporte deste nutriente por meio do
processo de fixação biológica de N, (FBN), (MIYASAKA et al., 1984; RESENDE et
al., 2003). O aporte de N pela FBN resulta em menor dependência dos produtores
por insumos externos e na diminuição dos custos de produção, além de favorecer a
conservação dos recursos naturais da propriedade, tais como solo, água e
biodiversidade (ALTIERI, 1999). A espécie considerada potencial para o uso na
adubação verde e sombreamento de cultivos deve apresentar bom crescimento
vegetativo, biomassa vegetal rica em nutrientes, principalmente em P e N, ter boa
penetração das raízes, boa capacidade de fixação biológica de N2, boa capacidade
de rebrota e copa pouco densa (BEER, 2007).
Para que um adubo verde seja eficaz no fornecimento de nutrientes, deve
haver sincronia entre os nutrientes liberados pelos resíduos da planta de cobertura e
17
a demanda da cultura de interesse comercial. Se houver alta taxa de mineralização
dos nutrientes contidos nas espécies utilizadas como adubo verde, antes do período
de maior demanda da cultura, pode haver perdas por lixiviação. Por outro lado, se a
mineralização ocorrer após esse período, a cultura não será beneficiada (RESENDE
et al., 2001).
As árvores podem elevar a quantidade e a disponibilidade de nutrientes
dentro da zona de atuação do sistema radicular das culturas associadas, por meio
do acréscimo de nitrogênio (N), que é resultante da fixação biológica de N2, da
recuperação de nutrientes abaixo do sistema radicular das culturas agrícolas, da
redução das perdas de nutrientes por processos como lixiviação e erosão e do
aumento da disponibilidade de nutrientes pela maior liberação da matéria orgânica
do solo (RIBASKI et al., 2002).
O nitrogênio é um dos nutrientes mais afetados pela disponibilidade hídrica,
principalmente na fase de frutificação, quando é intensamente transportado das
folhas para os frutos, seja em condição de suprimento adequado ou deficiente (LIMA
FILHO e MALAVOLTA, 2003). Apesar da alta habilidade de aclimatação nos
diferentes níveis de irradiância, as plantas de café parecem manter características
genéticas das espécies adaptadas à sombra em relação à assimilação do nitrato. A
atividade da redutase do nitrato (RN) em folhas de café é geralmente maior em
plantas parcialmente sombreadas (50% de luz) do que naquelas a pleno sol
(ANDRADE NETTO, 2005).
Espécies arbóreas fixam e reciclam elementos químicos nos sistemas,
absorvendo os elementos do solo através de suas raízes e, posteriormente,
liberando-os através da queda de suas folhas, frutos, galhos e troncos (JORDAN,
1985; LIKENS; BORMANN, 1995).
Em sistemas de café sombreado, as árvores exercem uma série de funções
que minimizam as perdas de nutrientes e aumentam sua entrada no sistema:
a)
Minimização da lixiviação e aumento da absorção (FERNANDES, 1986) pela
presença de suas raízes, que ocupam um grande volume de solo, retendo e
absorvendo os nutrientes da solução do solo que poderiam ser perdidos (JORDAM,
1985).
18
b)
Minimização da erosão laminar pela presença de folhas da espécie arbórea
na superfície do solo (FERNANDES, 1986; THEODORO, 2001), que são um
obstáculo físico, reduzindo o escorrimento superficial e estimulando a infiltração. A
menor erosão laminar também pode ser decorrente de uma maior infiltração e
absorção de água no solo, consequência de um solo mais aerado, observado em
cafezais sombreados (FERNANDES, 1986).
c)
Liberação de exudatos pelas raízes da espécie arbórea, observado por
Tornquist et al. (1999), em estudo comparando sistemas agroflorestais. Foram
encontrados valores muito altos de P extraível na profundidade de 0-25 cm nos
sistemas agroflorestais com pastagens na Costa Rica. Estes valores podem estar
relacionados com os exudatos liberados pelas raízes das árvores, em sua maioria
ácidos orgânicos, os quais ajudariam na disponibilização do fósforo (FISHER, 1989).
d)
Deposição das folhas das árvores no solo propiciando o retorno dos
elementos à superfície do solo através da queda das folhas. As folhas que caem
contêm uma grande proporção dos nutrientes extraídos do solo anualmente pelas
árvores. Esta vegetação se decompõe, liberando minerais, como o N, P e K, para as
plantas reutilizarem (JORDAM, 1985; PRITCHETT e FISHER, 1985; THEODORO,
2001). O K, por não participar de combinações orgânicas na planta, como N, P e S,
é liberado mais rapidamente ao solo (KIEHL, 1985).
Os sistemas sombreados de cafeeiro possuem saldos positivos no que se
refere à ciclagem de C e N, além de conservarem mais C em sua biomassa do que
sistemas a pleno sol. A fixação do C se dá pelos processos de fotossíntese e
respiração. Basicamente, o C fixado é a diferença entre o carbono retido pela
fotossíntese e o C perdido pela respiração. Este C está presente no tecido vegetal
da planta, como tronco, galhos, folhas e raízes, e também em seus resíduos, como
exudatos, folhas e galhos que caem ao solo (MONTAGNINI e NAIR, 2004).
19
2.4 MATÉRIA ORGÂNICA – QUALIDADE DO SOLO
A qualidade do solo refere-se às condições ótimas para que o solo funcione
adequadamente. O entendimento da qualidade do solo é fundamental, tendo em
vista a necessidade de adoção de estratégias para um manejo sustentável dos
diversos sistemas de produção. O funcionamento do solo depende da interação de
processos químicos, físicos e biológicos, que mantêm um fluxo constante e uma
natureza heterogênea (TÓTOLA e CHAER, 2002). As funções que o solo pode
exercer na natureza são as de promover meio para o crescimento das plantas,
regular e compartimentalizar o fluxo de água no ambiente, estocar e promover a
ciclagem de elementos na biosfera e atuar como um tampão ambiental (LARSON e
PIERCE, 1994).
Considerando-se que uma das funções do solo é fornecer nutrientes às
plantas, um atributo químico de grande importância é capacidade de troca catiônica
(T). É definida como sendo a soma total dos cátions (H+ + Al+3 + Ca+2 + Mg+2 + K+)
que o solo pode reter na superfície coloidal prontamente disponível à assimilação
pelas plantas (EMBRAPA, 1997). A capacidade de troca de cátions, em geral
medida a pH 7, tem um valor relativamente constante para cada solo, dentro de
condições padronizadas de determinação. A reação de troca de cátions em solução
é fundamental para o solo, sendo um bom indicador da sua atividade coloidal
(PAPA, 2006). Trata-se de característica de solo inalterável em curto prazo por
práticas agrícolas. O principal fator responsável pela CTC do solo é a matéria
orgânica. Sua influência tanto é maior quanto menor a profundidade do solo, uma
vez que a matéria orgânica se concentra principalmente na camada superficial do
solo (EMBRAPA, 1997).
A matéria orgânica do solo é considerada um atributo de qualidade do solo e
está envolvida e relacionada com muitas das propriedades químicas, físicas e
biológicas do solo. Esta pode ser definida como a fração do solo composta de
qualquer material que tem ou que já tenha tido vida, isto é, que seja orgânico. Isso
inclui restos de animais e de vegetais em vários estágios de decomposição, células
e restos de organismos, e substâncias das raízes da planta e da microbiota do solo.
É formada principalmente por carbono (C), oxigênio (O), hidrogênio (H), fósforo (P) e
enxofre (S) (LARSON e PIERCE, 1994).
20
Esta influencia no crescimento das plantas, (STEVENSON, 1994), e o seu
teor decresce inevitavelmente quando o manejo é inadequado. A matéria orgânica é
conhecida como um indicador da qualidade de solo (WARDLE, 1992), em razão de
sua função na regulação de uma série de processos que ocorrem neste (KELTING
et al., 1999), como a mineralização, resultando na liberação de nutrientes essenciais
às plantas (MARIN, 2002).
Este consenso em relação à matéria orgânica como indicador de qualidade
emana do fato de que seu teor é muito sensível em relação às práticas de manejo,
principalmente nas regiões tropicais e subtropicais, onde, nos primeiros anos de
cultivo, mais de 50% da matéria orgânica previamente acumulada é perdida por
diversos processos, entre esses a decomposição microbiana e a erosão. A maioria
dos atributos do solo relacionados às suas funções básicas têm estreita relação com
a matéria orgânica tais como: a estabilidade dos agregados, a estrutura, infiltração e
retenção de água, a resistência à erosão, a atividade biológica, a capacidade de
troca de cátions, a disponibilidade de nutrientes para as plantas, a lixiviação de
nutrientes, a liberação de CO2 e outros gases para a atmosfera (LARSON e
PIERCE, 1994).
Para a Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais (1999), a
adição de matéria orgânica ao solo apresenta efeitos condicionadores e efeitos
sobre os nutrientes. Dentre os principais efeitos condicionadores destacam-se: a
elevação da capacidade de troca catiônica, a maior agregação de partículas do solo
reduzindo a susceptibilidade à erosão, a redução da plasticidade e coesão do solo
favorecendo as operações de preparo, o aumento da capacidade de retenção de
água e uma maior estabilidade da temperatura do solo. Dentre os efeitos sobre os
nutrientes podemos destacar: aumento da disponibilidade de nutrientes por meio de
processos de mineralização, a contribuição para a diminuição da fixação de fósforo
no solo, a liberação dos ácidos orgânicos pela sua decomposição, levando a uma
maior solubilização de minerais do solo e aumentando a disponibilidade de
nutrientes para as plantas. Entretanto o material orgânico do solo pode ser perdido
pelo processo de erosão. Este processo separa e transporta partículas ricas em
matéria orgânica. Esta também é utilizada pelos componentes da microbiota do solo
como fonte de nutrientes e de energia para seu metabolismo. Uma parte dela é
incorporada aos microrganismos, sendo retida juntamente com grande parte do
21
fósforo e enxofre. Porém, a maior parte é liberada na forma de CO2 (dióxido de
carbono) e na forma de gás nitrogênio.
O sistema agroflorestal contribui para o grande acúmulo da matéria orgânica
no solo sob o cafeeiro (MONTAGNINI e NAIR, 2004).
2.5 SOMBREAMENTO x PRODUTIVIDADE E QUALIDADE DO CAFÉ
A discussão sobre café sombreado versus café a pleno sol vem se
desenvolvendo há mais de um século (MUSCHLER, 2001), e, até hoje, as
informações disponíveis ainda são controversas, principalmente no que se refere à
produtividade (JARAMILLO-BOTERO et al., 2006; RIGHI, 2002). A condução de
estudos em propriedades cafeeiras para determinar a relação entre sombra e
produção de café é reconhecida como uma prioridade por especialistas (BEER,
1998; MUSCHLER e BONNEMANN, 1997; SOTO-PINTO et al., 2000). Alguns
estudos indicam que o sombreamento resulta em produtividades menores de café
(CAMPANHA et al., 2004; MATIELLO et al., 2002; MIRANDA; PEREIRA BERGO,
1999; SANTINATO et al., 2002), enquanto outros indicam ganho de produtividade
(BAGGIO et al., 1997; FERNANDES, 1986; FREITAS et al., 2002; HASHIZUME,
MATIELLO, BRANDÃO, 1980; MARQUES, 2000; MATIELLO, FERNANDES, 1989;
RICCI et al., 2002).
O estudo da produtividade do cafeeiro frente ao sombreamento deve
considerar, primeiramente, a distinção entre a cafeicultura equatorial, de baixas
latitudes (América Central, norte da América do Sul e região central da África), e a
cafeicultura próxima aos trópicos, de médias latitudes (centro-sul do Brasil e norte da
África). Nas regiões de latitudes baixas, o clima é mais uniforme durante o ano, com
alta umidade, fotoperíodo constante e menor variação de temperatura, enquanto nas
médias latitudes, temperatura, umidade e fotoperíodo variam muito ao longo do ano,
com final de outono e inverno com dias secos, frios e curtos. Consequentemente, as
floradas são distintas nessas duas regiões, ocorrendo de 3 a 4 floradas de
intensidades decrescentes entre agosto e novembro no centro-sul do Brasil e até 20
22
floradas distribuídas durante o ano nas regiões equatoriais (CAMARGO, 2007;
MOREIRA, 2004). Portanto, devido à escassez de luminosidade, umidade e energia
no período de dias curtos, é esperado que um sombreamento intenso o ano todo
venha a atrapalhar a indução floral na cafeicultura próxima aos trópicos, enquanto
na cafeicultura equatorial, este efeito não deve ocorrer, por existir luz, umidade e
energia suficientes que propiciam as diversas floradas do cafeeiro cultivado nestas
regiões. Assim espera-se que, para as regiões próximas aos trópicos, seja indicado
o uso de espécies arbóreas caducifólias no período de dias curtos, secos e frios,
permitindo a entrada de luminosidade neste período crítico (MOREIRA, 2008).
Promovendo
mais
biodiversidade
e,
portanto,
maior
sustentabilidade
ecológica, o sombreamento pode oferecer vantagens técnicas quando comparado
ao cultivo a pleno sol. Melhor qualidade de grãos, redução da pressão de insetos
praga e doenças, menor erosão e lixiviação, maior ciclagem de nutrientes, teores
mais elevados de matéria orgânica e nutrientes no solo, redução nos gastos com
controle de espécies vegetais invasoras, manutenção de clima mais ameno e mais
úmido, maior disponibilidade de água no solo e possibilidade de renda extra são
algumas destas vantagens em potencial (ALTIERI, 1999; CAMARGO, 2007;
COELHO et al., 2006; FERNADES, 1986; GOBBI, 2000; RODRIGUES, 2001;
SOTO-PINTO et al., 2000). O papel das árvores na conservação dos solos e cursos
de água é bem estabelecido. Além disso, plantações de café sombreado têm sido
citadas como refúgios para biodiversidade porque podem preservar alta diversidade
de organismos, como pássaros, artrópodes, mamíferos e orquídeas (GOBBI, 2000;
PERFECTO et al., 1996).
Os conceitos de qualidade englobam desde as características físicas (origens,
variedades, cor e tamanho) e sensoriais (bebida e aroma) dos grãos
até as
preocupações sociais e ambientais (SAES, SOUZA e OTANO, 2001). Os cafés
orgânicos, naturais e agroflorestais vêm apresentando alta qualidade nos últimos
anos. Resultados dos concursos de qualidade de café Cup of Excellence realizados
pela BCSA (Brazilian Specialty Coffee Association) colocaram o café orgânico
sempre em destaque.
23
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 LOCALIZAÇÃO E DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O estudo foi realizado no bairro Caiana, no município de Machado, Sul de
Minas Gerais, nas proximidades das coordenadas geográficas 21º 39’ 59” S e 45º
55’ 16” W, em 2011. O local apresenta altitude de 1000 m e o clima é o Cwa,
segundo a classificação de Köppen, apresentando temperaturas moderadas, com
verão quente e chuvoso. A temperatura média anual é de 21,2º C, a média mensal
máxima de 27º C, a média mensal mínima de 14,2º C, e o índice pluviométrico médio
anual é de 1.824 mm. O solo é classificado como latossolo vermelho - escuro
(EMBRAPA, 2006), textura franco.
A lavoura de café em estudo foi implantada em 1994, com a cultivar Icatu
Vermelho, (linhagem 2945), no espaçamento de 2,0 m x 1,0 m. Em 1998 foi adotado
o modelo de produção natural orgânico em sistema agroflorestal, consorciado com
árvores nativas, predominantemente Jacarandá Paulista (Machaerium villosum Vog.,
família Leguminosae-Papilionoideae), muito comum na região, estando estas
distribuídas em alta concentração e de forma irregular na área de estudo. Além
destas existem outras espécies nativas, frutíferas e plantas anuais espalhadas
irregularmente entre as linhas dos cafeeiros.
A lavoura sofreu recepa total em 2004 e não recebe aplicação de insumos
agrícolas desde 1998. A partir dessa data, realiza-se apenas o manejo das plantas
invasoras com enxada, foice e roçadora costal mecanizada. A nutrição do cafeeiro é
feita com a serrapilheira acumulada através dos restos de folhas e galhos oriundos
de podas, roçadas, capinas, desbrotas do café, ervas espontâneas e árvores dentro
do sistema agroflorestal.
3.2 TRATAMENTOS
Os dados foram coletados em três locais distintos (três tratamentos): o
primeiro deles do cafeeiro à sombra, sob as árvores de jacarandá, próximos ao caule
24
deste, (Tratamento 1); o segundo a meia sombra, sob o meio da copa dos
jacarandás (Tratamento 2); e o terceiro a pleno sol, fora da copa dos jacarandás
(Tratamento 3).
3.3 AVALIAÇÕES
A coleta dos dados de cada tratamento foi realizada em sete (7) repetições,
cada repetição com duas (2) plantas de café, caracterizando a parcela experimental.
Os dados foram coletados durante a colheita de 2011.
Retiraram-se amostras de solo, de 0 a 20 cm de profundidade, de cada local,
para a realização de análise química, além das amostras foliares para se determinar
a nutrição das plantas.
Foi avaliada a produtividade dos cafeeiros, colhidos no início do mês de julho
de 2011, em volume e peso dos frutos “in natura”.
Mediu-se a altura das plantas, o diâmetro do caule e a produtividade do
cafeeiro em cada local, além de ter sido observada a diferença de maturação dos
frutos nos diversos tratamentos.
3.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA
A análise estatística foi realizada por meio do programa estatístico SISVAR
(FERREIRA, 2000), sendo os dados submetidos à análise de variância. A
comparação das médias foi feita pelo teste de Scott-Knott a 1 %.
25
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em relação à produtividade do cafeeiro foi possível constatar que o
Tratamento 2, à meia sombra, sob o meio da copa dos jacarandás, obteve o melhor
resultado, apresentando maior produtividade em termos de volume (7,57 litros.
planta-1) e peso de grãos de café colhidos (5040 gramas. planta-1), além de mostrar
também um melhor desenvolvimento da planta do cafeeiro, observados a partir da
altura da planta (3,31 m) e diâmetro do caule do cafeeiro (9,0 cm) (Tabela 1).
Segundo Fernandes (1986), sistemas com espécies arbóreas consorciadas podem
apresentar melhores produções em função do sombreamento parcial proporcionado
ao cafeeiro.
Tabela 1. Resultados de produção e de crescimento do cafeeiro, em razão de
diferentes níveis de sombreamento com árvores de jacarandá (T-1: sombra; T-2:
meia sombra; T-3: pleno sol).
Parâmetros
Produtividade
Crescimento
Tratamentos
Café cereja
Café beneficiado
Litros.
Gramas.
Sacas de 60 kg
Altura
Diâmetro do
planta-1
planta-1
(480 L por sc)
(m)
caule (cm)
Sombra
2,43 b
1615 b
12,65
2,90 b
6,78 b
Meia sombra
7,57 a
5040 a
39,49
3,31 a
9,00 a
Pleno sol
0,63 c
430 c
3,28
2,27 c
6,57 b
CV (%)
19,89
26,24
-
9,72
12,76
Média
3,54
2361
18,43
2,82
7,45
Médias seguidas de letras iguais, na coluna, não diferem significativamente pelo teste de
Scott & Knott (p<0,01).
O Tratamento 2 (meia sombra, sob o meio da copa dos jacarandás) se
mostrou superior ao Tratamento 1 (sombra). Este último produziu um volume de 2,43
litros. planta-1 e peso de grãos de 1615 gramas. planta-1, além de mostrar também
26
um pior desenvolvimento da planta do cafeeiro, observados a partir da altura da
planta (2,90 m) e diâmetro do caule do cafeeiro (6,78 cm). Esta diferença se deve
provavelmente a uma melhor relação sombreamento / insolação no Tratamento 2,
pois o Tratamento 1 se apresenta mais sombreado em relação ao primeiro. Embora
o sistema agroflorestal apresente inúmeros fatores desejáveis ao desenvolvimento
do cafeeiro, é observada baixa produtividade destes em sistemas muito sombreados
(MIRANDA et al., 1999).
A boa distribuição do sombreamento proporcionou uma melhor produção ao
Tratamento 2 (volume de 7,57 litros. planta-1 e peso de grãos de café colhidos 5040
gramas. planta-1) e melhor desenvolvimento da planta do cafeeiro (3,31m e diâmetro
do caule 9,0 cm), se destacando também em relação ao Tratamento 3 (a pleno sol),
recebendo muito mais luz que os anteriores (Tratamento 1 e Tratamento 2), e que
apresentou os piores resultados em termos de produção (0,63 litros.planta-1 e 430
gramas. planta-1) e o menor desenvolvimento da planta do cafeeiro (2,27 m de altura
com diâmetro do caule de 6,57 cm).
A Figura 1 mostra o teste de regressão entre os parâmetros de crescimento e
a produção. Apesar de os valores de coeficientes de determinação se mostrarem
baixos (R² = 0,66 e 0,70), estes foram significativos, mostrando que o crescimento
da planta em altura e o diâmetro maior do caule estão interferindo positivamente na
produtividade do cafeeiro.
a)
10
y = -10.406 + (4.931x) R² = 0.66 **
8
Proução (L/planta)
Produção (L/planta)
10
b)
6
4
2
0
-2
1.8 2.0 2.2 2.4 2.6 2.8 3.0 3.2 3.4 3.6
y = -10.246 + (1.850 x) R² = 0.70 **
8
6
4
2
0
-2
4
5
Altura (m)
6
7
8
9
10
11
Diâmetro do caule (cm)
Figura 1. Regressão entre a produção em função dos parâmetros de crescimento
(altura e diâmetro/caule). **= significativo a 0,01%.
27
Machado (1946), citado por Welman (1961), encontrou as menores folhas em
cafeeiros cultivados a pleno sol, as maiores crescendo sob 40% de sombra e folhas
de tamanho intermediário, sob 75% de sombra. Por ser o cafeeiro uma planta C3,
este realiza o máximo de fotossíntese sob luz difusa; além disto, o processo
produtivo desde a floração até a maturação é mais lento e, assim, melhor atendido
pela produção de reservas sob condição de sombra (MATIELLO et al., 2002).
A baixa produção do Tratamento 3 mostra também o efeito da concorrência
de gramíneas e plantas invasoras temporárias que, com uma maior luminosidade,
tem um desenvolvimento mais intenso em relação aos Tratamentos 1 e 2, que estão
mais protegidos (sombreados), com presença também da redução dos valores
extremos de temperatura (PEZZOPANE et al., 2005), proteção contra ventos e
elevação da infiltração de água no solo (NARAIN et al., 1998).
São poucos os relatos de cafeeiros sob sombra com produções semelhantes
às daqueles a pleno sol altamente tecnificados (MELLO e GUIMARÃES, 2000).
Muitos experimentos relatam produções extremamente baixas de cafeeiros
sombreados quando comparados à produção de cafezais a pleno sol em condições
similares de cultivo (CAMPANHA, 2001), porém pode-se constatar que, nas
condições deste trabalho, obteve-se uma melhor produção no Tratamento 2, (meia
sombra) em relação ao Tratamento 3 (pleno sol), que recebeu maior intensidade
luminosa.
O estudo da produtividade do cafeeiro frente ao sombreamento deve
considerar, primeiramente, a distinção entre a cafeicultura equatorial, de baixas
latitudes (América Central, norte da América do Sul e região central da África), e a
cafeicultura próxima aos trópicos, de médias latitudes (centro-sul do Brasil e norte da
África). Nas regiões de latitudes baixas, o clima é mais uniforme durante o ano, com
alta umidade, fotoperíodo constante e menor variação de temperatura, enquanto nas
médias latitudes, temperatura, umidade e fotoperíodo variam muito ao longo do ano,
com final de outono e inverno com dias secos, frios e curtos. Consequentemente, as
floradas são distintas nessas duas regiões, ocorrendo de 3 a 4 floradas de
intensidades decrescentes entre agosto e novembro no centro-sul do Brasil e até 20
floradas distribuídas durante o ano nas regiões equatoriais (CAMARGO, 2007;
MOREIRA, 2004). Portanto, devido à escassez de luminosidade, umidade e energia
no período de dias curtos, é esperado que um sombreamento intenso o ano todo
venha a atrapalhar a indução floral na cafeicultura próxima aos trópicos, enquanto
28
na cafeicultura equatorial, este efeito não deve ocorrer, por existir luz, umidade e
energia suficientes que propiciam as diversas floradas do cafeeiro cultivado nestas
regiões. Assim espera-se que, para as regiões próximas aos trópicos, seja indicado
o uso de espécies arbóreas caducifólias no período de dias curtos, secos e frios,
permitindo a entrada de luminosidade neste período crítico (MOREIRA, 2008).
Neste trabalho o consórcio com Jacarandá Paulista (Machaerium villosum
Vog., família Leguminosae - Papilionoideae) deu uma condição favorável às
relações solo-planta-ambiente, uma vez que este possui a característica de ser
semidecíduo (perde as folhas durante um período do ano), favorecendo a incidência
de luz neste momento ao cafeeiro, gerando uma grande quantidade de matéria
orgânica para o sistema.
Os cafeeiros em estudo têm um manejo natural, ou seja não têm o aporte de
insumos externos, restando-lhes apenas a ciclagem de materiais vegetativos
oriundos do próprio local. Mesmo com a maior luminosidade os cafeeiros estão
debilitados pela falta de nutrientes, estes ainda indisponíveis, presentes na matéria
orgânica, sofrendo ainda com a competição de nitrogênio para que a decomposição
seja realizada.
Segundo as análises de solo (Tabela 2), o nível de matéria orgânica está
abaixo do que se espera de um manejo natural. Isto indica, que desde 1998, data do
início do manejo orgânico no local, até 2011, o tempo decorrido foi insuficiente para
a reposição satisfatória da matéria orgânica em quantidade ideal para uma boa
produtividade. Deve-se lembrar que a maioria dos atributos do solo relacionados às
suas funções básicas têm estreita relação com a matéria orgânica, tais como: a
estabilidade dos agregados, a estrutura, infiltração e retenção de água, a resistência
à erosão, a atividade biológica, a capacidade de troca de cátions, a disponibilidade
de nutrientes para as plantas, a lixiviação de nutrientes, a liberação de CO2 e outros
gases para a atmosfera (LARSON e PIERCE, 1994).
A presença da matéria orgânica e a distribuição de espécies arbóreas dentro
do sistema propicia a diversidade do ecossistema e o aproveitamento das interações
benéficas entre as plantas de diferentes ciclos, portes e funções (CARVALHO et al.,
2004). Há também a promoção de melhorias na eficiência de uso da água (BLACK e
ONG, 2000) e diminuição das perdas totais de solo, carbono orgânico e nutrientes
(FRANCO, 2002). Umas das principais vantagens desse sistema é o seu potencial
para conservar o solo e manter sua fertilidade e produtividade (NAIR, 1993).
29
Outro fator a ser analisado é o efeito das folhas caídas no solo, que são
lançadas pelas árvores de Jacarandá, inibindo o aparecimento de plantas invasoras
(gramíneas), aumentando a retenção de água, em um período de escassez de água
no solo e promovendo a entrada de luz justamente no momento importante para o
cafeeiro (florescimento - agosto a setembro).
Tabela 2. Resultados de análise de solos (0 a 20 cm) sob cafeeiro em diferentes
níveis de sombreamento com árvores de jacarandá (T-1: sombra; T-2: meia sombra;
T-3: pleno sol).
pH
Matéria Orgânica (dag.kg-1)
P rem (mg . L-1)
P (mg . dm-3)
K (mg . dm-3)
K+ (cmolc. dm-3)
Ca++ (cmolc. dm-3)
Mg++ (cmolc. dm-3)
H+Al (cmolc. dm-3)
Al (cmolc. dm-3)
T (cmolc. dm-3)
V (%)
SO4 (mg . dm-3)
B (mg . dm-3)
Cu (mg . dm-3)
Fe (mg . dm-3)
Mn (mg . dm-3)
Zn (mg . dm-3)
Sombra
Tratamentos
Meia sombra
Pleno sol
6,5
2,0
27,4
14
79
0,20
6,2
1,3
1,9
0,0
9,6
80
6,9
0,16
1,9
36
105,7
12,7
7,0
2,1
31,7
76
216
0,55
7,1
1,5
1,3
0,0
10,5
88
6,9
0,14
3,0
25
105,8
21,7
6,6
2,0
29,4
21
143
0,37
6,0
1,1
1,5
0,0
9,0
83
6,3
0,28
2,6
30
105,8
12,2
O melhor resultado do Tratamento 2 certamente se deve, além da sua
posição no sistema (meia sombra), proporcionando uma melhor interação entre
cafeeiro e espécies arbóreas, ao melhor resultado da análise de fertilidade do solo
(Tabela 2). Este mostrou maiores teores de fósforo, potássio, cálcio, magnésio,
cobre e zinco, demonstrando também maior soma de bases, maior capacidade de
troca de cátions e maior saturação de bases. A análise na posição do Tratamento 2
mostrou também menos hidrogênio livre. A maior fertilidade do solo do Tratamento 2
não interferiu nos resultados da análise foliar (Tabela 3), certamente devido à planta
30
do cafeeiro já estar bem nutrida. A maior concentração de nutrientes disponíveis no
solo não influenciou em diferença na sua nutrição.
As funções que o solo pode exercer na natureza são as de promover meio
para o crescimento das plantas, regular e compartimentalizar o fluxo de água no
ambiente, estocar e promover a ciclagem de elementos na biosfera e atuar como um
tampão ambiental (LARSON e PIERCE, 1994). A interação com as espécies nativas
favoreceu o desenvolvimento dos cafeeiros pelo bom acúmulo de matéria orgânica
no solo e também pela entrada de luz no sistema.
Tabela 3. Resultados de análise foliar de cafeeiros em diferentes níveis de
sombreamento com árvores de jacarandá (T-1: sombra; T-2: meia sombra; T-3:
pleno sol).
Tratamentos
N (dag.kg-1)
P (dag.kg-1)
(dag.kg-1)
Ca (dag.kg-1)
Mg (dag.kg-1)
S (dag.kg-1)
B (mg.kg-1)
Cu (mg.kg-1)
Fe (mg.kg-1)
Mn (mg.kg-1)
Zn (mg.kg-1)
Sombra
Meia sombra
Pleno sol
2,7
0,166
2,34
1,66
0,43
0,19
78
10
48
106
8,60
2,9
0,166
2,14
1,66
0,42
0,20
71
11
36
60
8,40
2,8
0,245
2,05
1,41
0,34
0,31
73
29
56
109
8,90
Outro fator a ser considerado no consórcio com árvores é que a maturação
dos frutos do cafeeiro é retardada e uniformizada, o fruto permanece por maior
tempo no estágio cereja, possibilitando a catação manual e contribuindo para a
qualidade do produto (MATIELLO e COELHO, 1999). Nas condições deste trabalho
podemos constatar que o tempo de maturação dos frutos no pé foi bem maior , ou
seja, o fruto permaneceu mais tempo no estágio de cereja e passa, que é o ideal
para ser colhido, visto que o café foi colhido em 01 de julho de 2011. O Tratamento
3, que se encontra a pleno sol, foi o que apresentou o maior número de frutos em
31
coco, (Tabela 4), praticamente a metade dos frutos no pé, enquanto o Tratamento 1,
que está próximo ao tronco, não apresentou nenhum fruto em côco, porém estavam
em condições de ser colhidos havendo apenas 3,57% de frutos verdes.
Tabela 4 . Parâmetro de qualidade do cafeeiro (% maturação), em razão de
diferentes níveis de sombreamento com árvores de jacarandá (T-1: sombra; T-2:
meia sombra; T-3: pleno sol).
Maturação (%)
Tratamentos
Verde
Verdecana
Cereja
Passa
Coco
Sombra
3,57
7,14
73,21
16,07
00
Meia sombra
10,00
15,00
58,30
10,80
5,83
Pleno sol
2,77
3,70
23,14
26,85
49,5
Em relação à qualidade da bebida das amostras de café, foi realizada a
análise do Tratamento 2, onde foi observada uma bebida dura para melhor, bom
equilíbrio entre acidez, corpo e doçura, baixo nível de defeitos atingindo tipo 4/5 (30
defeitos), mas o que chamou mais a atenção foi o tamanho das peneiras, tendo 88%
de peneiras 16 acima, com destaque para peneira 17 com 48%, segundo Carlos
Henrique da Silva, classificador e degustador da Dínamo Armazéns Gerais em
Machado. A qualidade da bebida não foi avaliada estatisticamente.
32
5 CONCLUSÕES
Segundo as condições sob as quais o experimento foi realizado, os cafeeiros
da cultivar Icatu Vermelho, linhagem 2945, que se localizaram sob condições de
meia sombra, sob a copada do Jacarandá Paulista (Machaerium villosum Vog.),
obtiveram melhor desenvolvimento do diâmetro do caule, altura da planta e maior
produtividade em relação aos cafeeiros sombreados e a pleno sol, em função de um
maior favorecimento da incidência de luz em um período de dias curtos, baixa
umidade e baixa energia, protegendo o solo, gerando matéria orgânica e
favorecendo a floração.
33
6 REFERÊNCIAS
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