Jéssica Kiill Lemes Rossi REVISÃO SISTEMÁTICA: HIPERPLASIA FIBROADENOMATOSA MAMÁRIA FELINA Araçatuba 2014 ii Campus de Araçatuba REVISÃO SISTEMÁTICA: HIPERPLASIA FIBROADENOMATOSA MAMÁRIA FELINA Trabalho Científico como parte do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, campus de Araçatuba, para obtenção do grau de Medico Veterinário. Aluna: Jéssica Kiill Lemes Rossi. Supervisor: Prof.ª Ass. Dr.ª Adelina Maria da Silva. Araçatuba 2014 iii ENCAMINHAMENTO Encaminhamos o presente Trabalho Científico, como parte do Trabalho de Conclusão de Curso, para que o Conselho de Estágios Curriculares tome as providências cabíveis. ____________________________________________ Estagiário ___________________________________________ Supervisor ARAÇATUBA Novembro de 2014 iv SUMÁRIO 1. RESUMO ....................................................................................................... 1 2. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 2 3. MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................. 4 4. RESULTADOS .............................................................................................. 5 5. DISCUSSÃO ................................................................................................. 7 6. CONCLUSÃO ............................................................................................. 17 7. REFERÊNCIAS ........................................................................................... 18 Araçatuba 2014 1 REVISÃO SISTEMÁTICA: HIPERPLASIA FIBROADENOMATOSA MAMÁRIA FELINA ROSSI, J.K.L.; SILVA, A.M 1. RESUMO A hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina é uma enfermidade não neoplásica que ocorre, principalmente em gatas jovens, devido ao estímulo excessivo de progesterona endógena ou exógena. Embora não seja relatada com frequência, sua incidência tem aumentado, especialmente no Brasil, em consequência do uso de anticoncepcionais de longa duração como, por exemplo, acetato de medroxiprogesterona. O objetivo desta revisão sistemática é avaliar as características clínicas e comparar os diferentes tratamentos preconizados para esta patologia. O uso de antiprogestágenos, como o aglepristone, mostrou-se muito eficiente no tratamento da hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina por ser uma alternativa pouco invasiva e com resposta clínica mais rápida que os demais métodos. Palavras-chave: hiperplasia mamária, hiperplasia fibroepitelial, aglepristone, gatos. 2 2. INTRODUÇÃO A hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina (HFMF), também conhecida como hiperplasia mamária, hiperplasia fibroepitelial, adenomatose mamária ou fibroadenoma juvenil é uma patologia de maior prevalência em fêmeas jovens com idade inferior ou igual a 12 meses de idade que receberam progesterona exógena, ou seja, anticoncepcional (GÖRLINGER et al., 2002; LORETTI et al., 2005; JURKA E MAX, 2009; SILVA et al., 2012). Essa alteração também pode ser diagnosticada em gatas jovens após o primeiro ou segundo estro ou que estejam gestantes (GÖRLINGER et al., 2002; RAHAL et al., 2003; JURKA E MAX, 2009; SILVA et al., 2012). Em raros casos a HFMF é vista em gatos machos, castrados ou não, que receberam progesterona como tratamento para incontinência urinária (WEHREND et al., 2001), modificações comportamentais e afecções dermatológicas (HAYDEN et al., 1989) e em fêmeas adultas ou senis (WEHREND et al., 2001; GÖRLINGER et al., 2002; SOUZA et al., 2002; RAHAL et al., 2003 e JURKA E MAX, 2009). A HFMF é caracterizada por uma rápida proliferação do estroma mamário e epitélio do ducto de uma ou mais glândulas (GÖRLINGER et al., 2002). Alguns autores como Little (2011) e Silva et al. (2012) afirmam que se trata de uma alteração benigna após o estímulo exagerado de substâncias progestacionais endógenas e exógenas. Little (2011) cita também a síndrome do ovário remanescente como outra possível causa inicial para o desenvolvimento da HFMF e relata que receptores de progesterona têm sido encontrados comumente nos animais afetados por tal patologia, enquanto que receptores de estrógeno têm sido encontrados em apenas metade dos casos. O diagnóstico da hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina é feito, basicamente, através do histórico e dos sinais clínicos, porém alguns exames complementares como, por exemplo, biópsia e histopatológico do tecido afetado podem auxiliar a confirmar a HFMF e excluir demais diagnósticos diferenciais, tais como mastite, adenocarcinoma e displasia mamária cística (WEHREND et al., 2001; SOUZA et al., 2002; LITTLE., 2011). A presença de receptores de progesterona no tecido fibroadenomatoso permite a terapia endócrina alvo com bloqueadores de receptores de progesterona (GÖRLINGER et al., 2002) como, por exemplo, o aglepristone. Outros tratamentos podem ser empregados isoladamente ou em associação tais como, a 3 ováriosalpingohisterectomia (OSH), a ovariectomia e a mastectomia. De maneira geral, a OSH é realizada tanto como método terapêutico quanto como método preventivo. Essa revisão sistemática tem como objetivo avaliar, de acordo com a literatura, os dados disponíveis sobre este distúrbio hormonal por meio das características e sinais clínicos dos animais afetados como também as terapias aplicadas e seus resultados. 4 3. MATERIAL E MÉTODOS A presente revisão sistemática foi realizada através da análise e comparação de artigos científicos sobre a hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina e seus diferentes tipos de tratamento. O levantamento bibliográfico ocorreu no período de dezembro de 2013 a abril de 2014 nas bases de dados informatizadas LILACS, Scielo, Portal de Periódicos da CAPES e PubMed, sendo que a estratégia para a seleção dos artigos foi o uso dos seguintes descritores: (Mammary fibroadenomatous hyperplasia OR fibroepithelial hyperplasia) AND (cats OR feline) no idioma inglês e (hiperplasia fibroadenomatosa mamária OR hiperplasia fibroepitelial) AND (gatos OR felinos), em português. A inclusão ou não dos artigos foi definida por meio de análise de títulos, ano de publicação e resumos que abordassem o tema principal. Dos artigos pesquisados foram selecionados 11, todos em inglês ou português, datando de 1989 a 2012, sendo que nos capítulos resultado e discussão foram utilizados apenas 10. Tipo de estudo Retrospectivo Retrospectivo Retrospectivo Retrospectivo Ano Autor País 1989 Hayden EUA 2001 Wehrend Alemanha 2002 Görlinger et al. Holanda 2002 Souza et al. Brasil 5 fêmeas intactas 22 19 fêmeas intactas 2 machos intactos 1 macho castrado 9 3 fêmeas intactas 4 fêmeas castradas 2 machos castrados 7 6 fêmeas 1 macho No de gatos tratados 10 a 132 Média 67 3,5 a 19 11 a 156 Média 42 24 a 156 Média 97 Idade (meses) Progesterona exógena (2) Não informado (3) Progesterona exógena (10 fêmeas e 2 machos), Estro recente (7) Gestação (2) Sem histórico (2 fêmeas e 1 macho) Progesterona exógena (1) Progesterona exógena [acetato de medroxiprogesterona] (9) Fonte e denominação do hormônio Anamnese Exame físico específico Citologia vaginal (2) Histopatológico Anamnese Exame físico específico Ultrassonografia Histopatológico Imunohistoquímica (1) Anamnese Exame físico específico, Citologia (3) Anamnese Exame físico específico Histopatológico Meios diagnósticos - Ovariectomia 6) Bromocriptina (3) Aines # (1) Furosemida (2) - Não disponível Tratamento prévio Mastectomia (2) Mastectomia + OSH § (1) Aglepristone Aglepristone Mastectomia (9) Tratamento principal - Atenolol (11) Mastectomia (1) Não disponível Tratamentos adicionais Tabela 1 – Artigos que relataram casos de hiperplasia fibroadenomatosa mamária em gatos. Irritação de pele após administração de aglepristone (2) Alopecia e prurido no pescoço (1) Aborto e endometrite (2) - nenhum Não disponível Efeitos colaterais, complicações 3 21 7 Não disponível No de gatos curados número de animais afetados pela HFMF, tratamentos realizados, recidivas e demais dados foram inseridos na tabela 1. - 0 1 Não disponível Nº de recidivas Óbito (1) Eutanásia (1) Óbito (1) 0 Não disponível Óbitos ou Eutanásia Dentre os artigos estudados, 10 foram selecionados para compor a discussão. Informações como autor, ano de publicação, 4. RESULTADOS 5 Retrospectivo Retrospectivo Retros pectivo Retros pectivo 2003 Rahal et al. Brasil 2004 e 2005 * Loretti et al. Brasil e Espanha 2008 e 2012 * Silva et. al. Brasil 2009 Jurka e Max Polônia 14 fêmeas intactas 8 fêmeas intactas 8 fêmeas intactas 3 fêmeas intactas No de gatos tratados 4 a 36 Média 13 6 a 12 Média 8 6 a 16 Média 10 6 a 48 Média 21 Idade (meses) Progesterona exógena [acetatod de medroxiprogesterona] (5) Endógena (2) Desconhecido (1) Progesterona exógena [acetatod de medroxiprogesterona] (7) Endógena (7) Progesterona exógena [acetato de medroxiprogesterona] (8) Progesterona exógena (1) Endógena (1) Gestação (1) Fonte e denominação do hormônio Anamnese Exame físico Hemograma Bioquímico Concentrações de estradiol e progesterona Anamnese Exame físico específico Concentrações de estradiol e progesterona (2) Ultrassonografia (1) Histopatológico Imunohistoquímica (5) Anamnese Exame físico específico Hemograma Bioqúimico Anamnese Exame físico específico Histopatológico Meios diagnósticos - - - - Tratamento prévio # Aines = anti-inflamatório não esteroides § OSH = ovariosalpingohisterectomia * Autores publicaram segundo trabalho incluindo casos da primeira publicação Tipo de estudo Ano Autor País Aglepristone (14) Aglepristone Mastectomia (1) Mastectomia + ovariectomia (1) Mastectomia + celiotomia exploratória (1) Mastectomia (1) Mastectomia + Ovariectomia (1) Mastectomia + OSH (1) 0SH (1) Ovariectomia (4) Tratamento principal OSH (8) Ácido tolfenamico (6) Osh (1) Aines (4) - - Tratamentos adicionais - - - - Efeitos colaterais, complicações Tabela 1 – Continuação. Artigos que relataram casos de hiperplasia fibroadenomatosa mamária em gatos. 14 8 4 3 No de gatos curados 3 1 1 0 Nº de recidivas 0 0 Óbito (2) Eutanásia (2) 0 Óbitos ou Eutanásia 6 7 5. DISCUSSÃO Foram encontrados 10 artigos sobre a hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina. Todos são estudos retrospectivos e datam de 1989 a 2012, tendo origem em países como EUA, Alemanha, Holanda, Espanha, Polônia e Brasil. A hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina acometeu, em sua maioria, gatas jovens com idade inferior ou igual a 12 meses de idade e teve como causa principal o uso de progesterona exógena, ou seja, o uso de anticoncepcionais (GÖRLINGER et al., 2002; LORETTI et al., 2005; JURKA E MAX, 2009; SILVA et al., 2012). Um segundo grupo era formado por gatas jovens após o primeiro ou segundo estro ou que estavam gestantes (GÖRLINGER et al., 2002; RAHAL et al., 2003; JURKA e MAX, 2009; SILVA et al., 2012). Uma pequena parcela foi composta por gatos machos, castrados ou não, que receberam progesterona como tratamento para incontinência urinária (WEHREND et al., 2001), modificações comportamentais e demais afecções dermatológicas (HAYDEN et al., 1989). Essa patologia também foi observada em animais senis nos trabalhos de Souza et al. (2002) e Wehrend et al. (2001). Demais autores como Wehrend et al. (2001), Görlinger et al. (2002), Souza et al. (2002), Rahal et al. (2003) e Jurka e Max (2009) também a descreveram em animais adultos. Hayden et al. (1989) descreveram os casos de nove animais que receberam progesterona exógena (acetato de medroxiprogesterona) e os subdividiram em dois tipos morfológicos distintos, representados por padrão de crescimento sólido e padrão de crescimento intraductal. Os autores notaram que sete, dos nove gatos com hiperplasia fibroadenomatosa mamária, tinham apenas uma glândula mamária aumentada, com as lesões mais comumente confinadas aos dois pares inguinais e que o intervalo de tempo entre a aplicação do fármaco e o diagnóstico foi variável, embora a dosagem diária de medroxiprogesterona prescrita para cada gato tenha sido a normalmente recomendada (2,5-5 mg/Kg). Wehrend et al. (2001) avaliaram sete animais (seis fêmeas e um macho) das raças Pelo Curto Europeu, Persa e Chartreux com uma faixa etária entre 11 e 156 meses, resultando em idade média de 42 meses. Desses animais, apenas o macho recebeu progesterona exógena. 8 Görlinger et al. (2002) selecionaram 22 animais atendidos pelo Departamento de Ciências Clínicas de Animais de Companhia da Universidade de Utrecht entre os anos de 1999 e 2001. Todos já haviam passado por algum tipo de tratamento, dentre eles a suspensão do progestágeno, ovariectomia (a qual não garantiu a regressão do tamanho das glândulas mamárias afetadas), antibióticos, antiinflamatórios não esteroidais e bromocriptina. Entre 1970 e 2001, Souza et al. (2002) examinaram 638 amostras provenientes de necropsias e biópsias de gatos no Setor de Patologia Veterinária do departamento de Patologia da Universidade Federal de Santa Maria. Desse total, cinco (0,16%) apresentaram hiperplasia fibroadenomatosa felina. Todos os animais eram fêmeas e sem raça definida. O período de evolução variou de três semanas a seis meses, sendo que apenas o de uma gata não foi informado. Os casos de três gatas sem raça definida foram relatados por Rahal et al. em 2003. No primeiro caso, o animal tinha oito meses de idade, não era castrado e não apresentava histórico de uso de anticoncepcional. No segundo, o proprietário afirmou que a gata foi submetida a excisão da mama afetada há 45 dias conjuntamente com a ovariectomia. Referiu também histórico de estro e uso de anticoncepcional há 90 dias. No último caso, a gata estava em final de prenhez e nunca havia sido administrado anticoncepcional. Loretti et al. (2005) avaliaram oito gatas portadoras de hiperplasia fibroadenomatosa mamária com idade entre seis e 16 meses, que compareceram a três hospitais veterinários de universidades brasileiras cujo histórico indicava a aplicação única de acetato de medroxiprogesterona (MPA) para prevenção do estro. Duas dessas fêmeas eram primíparas e ainda gestantes quando o fármaco foi administrado, uma havia parido recentemente, em outras duas a aplicação foi no período de estro e nos demais animais o MPA foi utilizado durante o anestro. O desenvolvimento da hiperplasia fibroadenomatosa mamária variou de dois dias a três meses após o uso do MPA, enquanto que a taxa de crescimento das lesões nas mamas atingidas variou de dois dias a um mês. Silva et al. (2012) atenderam oito gatas jovens, com idades inferiores a 12 meses, portadoras de aumento exacerbado das glândulas mamárias e cujo tempo de evolução variou de 15 dias a dois meses. Em cinco casos, a alteração foi precedida por uso de contraceptivo, e em um deles, informações relativas ao histórico clínico eram desconhecidas, uma vez que a paciente foi resgatada da rua. 9 Jurka e Max (2009) realizaram um trabalho envolvendo 14 fêmeas não castradas com idade entre quatro a 36 meses, sendo que em sete casos o desenvolvimento da hiperplasia foi espontâneo e nos demais houve relato do uso de progesterona exógena (MPA e proligestone) com aparecimento dos sinais clínicos de três a quatro semanas após o uso. Quanto aos sinais clínicos, em todos os trabalhos foi observado o aumento de tamanho de um ou mais pares de glândulas mamárias, podendo este crescimento ser rápido ou lento e progressivo, como mostra a figura 1. Figura 1. Apresentação clínica da hiperplasia fibroepitelial mamária felina. A e B: fêmea, SRD, 12 meses de idade (caso 2); C e D: fêmea, SRD, 06 meses de idade (caso 8). Em ambas as situações verificam-se aumento de volume exacerbado das glândulas mamárias. Salvador- BA, 2010. Fonte: Silva et al., 2012. Autores como Görlinger et al. (2002), Rahal et al. (2003), Loretti et al. (2005) e Souza et al. (2005) observaram lesões na pele caracterizadas por úlceras, pontos necróticos e eritematosos (figura 2), porém essas alterações podem estar presentes 10 ou não, podendo indicar o grau de severidade desta patologia. Loretti et al. (2005) também descreveram áreas de alopecia e exsudação sanguinolenta e purulenta em algumas mamas. À palpação, em geral, as massas eram firmes, delimitadas, dolorosas e quentes devido ao processo inflamatório, porém Rahal et al. (2003) cita que uma das gatas examinadas não apresentava sensibilidade dolorosa e Loretti et al. (2005) descreve a presença de uma massa flutuante e macia em uma das pacientes. Outros achados no exame físico foram a dificuldade de deambulação a ponto de o animal não conseguir se manter em estação (SOUZA et al., 2005), condição corporal classificada como magreza (GÖRLINGER et al., 2002; SILVA et al., 2008), letargia e taquicardia (GÖRLINGER et al., 2002). Figura 2. Hiperplasia fibroepitelial mamária felina. Caso 6. Esta fêmea, na consulta, tinha como queixa clínica um crescimento marcante de toda a cadeia mamária após receber uma dose única de acetato de medroxiprogesterona. Crescimento contínuo, expansivo das glândulas mamárias afetadas com ulceração da pele atingindo as glândulas mamárias inguinais e axilar foi observada mesmo após a castração. A área afetada foi raspada. Fonte: Loretti et al., 2005. A taquicardia avaliada no exame físico por Görlinger et al. (2002) permanece especulativa. A teoria descrita pelo autor diz que o estresse e a dor, bem como o crescimento rápido do tecido e o aumento da exigência vascular do mesmo, podem 11 ocasionar essa alteração física, ou seja, a taquicardia é uma resposta compensatória do organismo. Görlinger et al. (2002) também afirmaram que mecanismos adaptativos compensatórios, tais como hipertrofia cardíaca, podem levar mais tempo para se desenvolver. Sendo assim, o uso de um beta-bloqueador, como o atenolol, foi incluído no protocolo terapêutico de gatos com frequência cardíaca superior a 200bpm. Os exames complementares utilizados pelos autores incluíram a ultrassonografia, hemograma, exame bioquímico, histopatológico, concentração de estradiol e progesterona e imunohistoquímica. O achado ultrassonográfico descrito por Wehrend et al. (2011) mostrou tecido mamário com característica homogênea e estruturas nodulares. Neste caso, é importante que se faça o diagnóstico diferencial para neoplasia e mastite. Apenas Jurka e Max (2009) e Silva et al. (2012) realizaram hemograma nos animais estudados. Os resultados obtidos por Silva et al. (2012) indicaram leucocitose por neutrofilia e desvio à esquerda em três das oito gatas. O autor justifica tal fato pela facilidade que estes animais têm em desenvolver mastite secundária à hiperplasia fibroadenomatosa mamária. Jurka e Max (2009) usaram esse método de exame complementar para acompanhar os animais durante o uso do aglepristone, sendo assim, o hemograma realizado nos dias 1, 7 e 14 e demonstrou melhora durante o tratamento com diminuição dos leucócitos até atingirem o valor de referência. Os exames bioquímicos (aspartato aminotransferase, alanina aminotransferase, fosfatase alcalina, uréia e creatinina) referidos por Jurka e Max (2009) não mostraram alterações em nenhum dos pacientes nos diferentes dias após o início do tratamento. Quanto ao exame histopatológico, Hayden et al. (1989), que dividiram seus pacientes em dois grupos com base na histopatologia, observaram que em ambos houve proliferação de fibroblastos no estroma e células epiteliais no ducto mamário. No tipo intraductal, a neoformação tecidual ocorreu dentro de grandes ductos dilatados, enquanto que no tipo sólido, ramificações de ductos se desenvolveram dentro de camadas de células estromais. Demais autores como Wehrend et al. (2001), Souza et al. (2002), Rahal et al. (2003) e Loretti et al. (2005) também constataram a proliferação de tecido conjuntivo e fibras colágenas, principalmente ao redor dos ductos intralobulares, além de proliferação de células mioepiteliais e 12 presença de células epiteliais cuboides enfileiradas. Outro achado por Wehrend et al. (2001) foi o marcante edema periglandular que, na biópsia feita sete dias após o início do tratamento com antiprogestágeno, mostrou-se bastante reduzido. Loretti et al. (2005) incluíram em sua descrição extensas áreas de necrose e hemorragia localizadas subjacente à pele ulcerada e inflamada. A dosagem sérica das concentrações de progesterona e estradiol foi realizada por Jurka e Max (2009) nos dias um, 7 e 14 de tratamento com aglepristone. Os autores relataram que em todos os animais, exceto em um gato, a média da concentração de progesterona estava acima do valor basal, e nos dias 7 e 14 houve um pequeno decréscimo quando comparado ao dia um. A dosagem de estradiol mostrou-se crescente no decorrer do tratamento. Já Loretti et al. (2005), realizaram a dosagem hormonal sérica em dois períodos. O primeiro grupo de amostras para os ensaios foi coletado 19 e 30 dias após o reconhecimento do crescimento da glândula mamária pelos proprietários e o segundo grupo mediu apenas os níveis de progesterona 19 dias após a castração e seus achados foram semelhantes aos de Jurka e Max (2009). Na imunohistoquímica, Wehrend et al. (2001) avaliaram a expressão de receptores para progesterona tanto antes quanto depois do tratamento com o antiprogestágeno aglepristone. As células que expressaram receptores nucleares de progesterona estavam quase que exclusivamente localizadas na camada celular intermediária entre a camada de células basais e a camada de células apicais colunares. Os autores concluíram que a diferença entre as duas amostras não foi estatisticamente significante (teste t de Student) e que talvez seja esse o fator que possa causar a recidiva em alguns casos. Já Loretti et al. (2005) notaram a presença de células epiteliais com núcleos grandes, redondos ou ovais corados intensamente (figura 3). A quantidade de produtos com imunorreatividade para receptores de progesterona foi variável entre os pacientes. O número de núcleos corados positivamente variou de 5 a 20% em três casos para mais de 60% em dois casos. O hormônio de crescimento (GH) e o fator de crescimento semelhante à insulina tipo-1 (IGF-I) foram encontrados no citoplasma de células do epitélio ductal. 13 Figura 3. Hiperplasia fibroepitelial mamária felina. Caso 5. Os receptores de progesterona estão presentes nos núcleos das células epiteliais do ducto. Células fusiformes (células mioepiteliais e fibroblastos) no estroma circundante não estão reativas (ABC método imuno-histoquímico, ampliação 100 X). Fonte: Loretti et al., 2005 A presença de GH apresentou imunocoloração citoplasmática acastanhada e homogênea. Os autores relatam que não foram detectados receptores de estrogênio e que os fibroblastos e células mioepiteliais foram consistentemente inertes para os métodos de imunohistoquímica utilizados em todos os casos. Em relação ao tratamento principal, Hayden et al. (1989), Souza et al. (2002), Rahal et al. (2003) e Loretti et al. (2005) optaram por realizar a mastectomia associada ou não a outros tratamentos, tais como, ováriosalpingohisterectomia (OSH) e ovariectomia. Hayden et al. (1989) não associaram a técnica de mastectomia com nenhuma outra e não disponibilizaram seus achados em relação ao número de gatos curados, número de recidivas e de óbitos ou eutanásia. Souza et al. (2002) utilizaram a mastectomia, como tratamento único, em duas gatas. Os autores concluíram que esse parece não ser um procedimento indicado isoladamente, pois a hiperplasia fibroadenomatosa em três dos cinco casos parece ter sido induzida de maneira endógena, uma vez que não havia histórico de uso de progestágenos. Rahal et al. (2003) realizaram mastectomia em três animais, sendo que em apenas um animal houve a associação com OSH. Os autores relataram 14 sucesso na terapia instituída e negaram casos de recidiva após o tratamento. Loretti et al. (2005) utilizaram as três técnicas e constataram que o uso apenas da OSH ou ovariectomia em cinco pacientes não trouxe resultados satisfatórios, pois o tempo de regressão foi de dois a seis meses, além de serem relatados três óbitos. Nas outras três gatas, os autores optaram pelo uso da mastectomia isoladamente em um caso, sendo que nos outros dois casos houve associação de mastectomia com OSH ou ovariectomia. Observou-se regressão lenta das glândulas mamárias afetadas, sendo que na gata submetida à ovariectomia houve recidiva após dois meses e optou-se pela eutanásia do animal. De modo geral, os autores observaram uma demora na resposta ao tratamento com a OSH ou ovariectomia, podendo esta ser de dois meses ou mais, principalmente em casos onde houve uso de anticoncepcional, pois a retirada do ovário não vai diminuir os níveis da progesterona de depósito que permanece no organismo por quatro a seis meses. Outros dois autores realizaram a OSH como tratamento adicional ao uso de antiprogestágenos. Jurka e Max (2008) associaram a técnica em oito dos 14 animais tratados com aglepristone e obtiveram sucesso na terapia instituída. A regressão das lesões levou em média de três a quatro semanas e apenas três casos de recidiva foram relatados em animais cujo tratamento foi feito apenas com o antiprogestágeno, devido ao uso de progesterona de longa duração. No trabalho de Silva et al. (2012), a OSH foi utilizada em sete dos oito animais afetados pela hiperplasia fibroadenomatosa, sendo que em um deles esse método foi instituído após recidiva. De modo geral, nesses casos em que o tratamento principal foi realizado com antiprogestágenos, a OSH assume uma função preventiva, ou seja, impede casos de recidiva uma vez que a fonte de hormônio endógena é retirada. Por fim, o método terapêutico que mais demonstrou resultados satisfatórios foi o uso do antiprogestágeno (figura 4). Esse método terapêutico foi estudado por Wehrend et al. (2001), Görlinger et al. (2002), Jurka e Max (2009) e Silva et al. (2012). Wehrend et al. (2001) trataram sete animais com injeções subcutâneas de aglepristone na dose de 10 mg/Kg por quatro a cinco dias consecutivos. Com cinco dias após a primeira administração, foi observada uma redução significativa das glândulas afetadas seguida da alteração de consistência do tecido, ou seja, de firme passou a ser macio. A taxa de recidiva foi baixa, apenas em um gato macho que recebeu progesterona de depósito como tratamento para incontinência urinária. 15 Figura 4. Pacientes com diagnóstico presuntivo de hiperplasia fibroepitelial mamária e tratadas com aglepristone. A e B: fêmea, SRD, 12 meses de idade (caso 2); C e D: fêmea, SRD, 06 meses de idade (caso 8). Notar o aspecto normal das cadeias mamárias após três semanas da última administração do fármaco. Salvador-BA, 2010. Fonte: Silva et al., 2012 O tratamento preconizado por Görlinger et al. (2002) consistiu em aplicações subcutâneas de aglepristone por dois dias consecutivos por semana na dose de 10mg/Kg durante uma a quatro semanas. Em seguida, este protocolo foi mudado para uma aplicação subcutânea por semana na dose de 20mg/Kg até a remissão dos sinais. O autor relata efeitos colaterais em alguns animais após a administração do antiprogestágeno tais como, irritação da pele no local de aplicação em dois gatos, alopecia e prurido no pescoço em um animal, aborto em duas fêmeas após dois e cinco dias, respectivamente, da primeira injeção consequentemente, o desenvolvimento de endometrite. com aglepristone e, 16 Jurka e Max (2009) realizaram o tratamento com aglepristone em um período de três a quatro semanas com esquema terapêutico de administração subcutânea no primeiro e segundo dia consecutivos na dose de 10mg/Kg e depois uma vez na semana até remissão dos sinais. Em casos em que houve recidiva, o autor recomenda o tratamento por um período de cinco semanas. Silva et al. (2012) administraram aglepristone em todas as pacientes, na dose de 10mg/Kg, via subcutânea, a cada 24 horas, durante quatro dias consecutivos com uma média da remissão dos sintomas de três semanas. Das oito gatas tratadas com o antiprogestágeno, apenas uma apresentou quadro de recidiva após o fim do protocolo, provavelmente devido à progesterona endógena, uma vez que houve resposta inicial ao aglepristone, porém a remissão completa só foi vista após OSH. Os autores também chamam a atenção para o uso de anticoncepcionais de longa duração, pois estes podem causar um segundo estímulo nos receptores de progesterona, desencadeando assim recidiva dos sinais clínicos. De modo geral, a hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina está intimamente ligada ao uso de progesterona de longa duração e no Brasil essa prática é muito utilizada para evitar o estro nesses animais. Além disso, a eliminação desse fármaco do organismo do animal leva meses para ocorrer, prejudicando a resposta à terapia instituída. A vantagem do tratamento com aglepristone em relação aos procedimentos cirúrgicos é que o tempo de resposta, ou seja, a remissão dos sintomas é mais rápida, podendo durar de três a quatro semanas enquanto que nos demais tratamentos esse resultado leva de dois a seis meses. 17 6. CONCLUSÃO A hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina tem caráter benigno e caracteriza-se por um rápido aumento de volume das glândulas mamárias, devido à acelerada proliferação do epitélio ductal e estroma mamário. Tem maior prevalência em gatas jovens após exagerado estímulo progestacional endógeno ou exógeno, porém gatas adultas ou senis e felinos machos já foram diagnosticados. Dentre os tratamentos, o uso do aglépristone é o que apresenta melhores resultados quanto ao tempo de regressão do aumento de volume mamário, embora este possa causar reação inflamatória intensa no local de aplicação. Quando associado à OSH preventiva, as chances de recidiva tornam-se praticamente nulas, lembrando que uma das possíveis causas de tal patologia é a síndrome do ovário remanescente. Terapia de suporte deve ser instituída em consequência à dor e ao intenso processo inflamatório que esses animais apresentam, levando até mesmo a alterações nos parâmetros vitais. Sendo assim, o uso de anti-inflamatório não esteroidal, atenolol e compressas mornas podem auxiliar a diminuir o processo inflamatório e normalizar a frequência cardíaca. A hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina costuma ter um bom prognóstico, principalmente se diagnosticada precocemente. 18 7. REFERÊNCIAS GÖRLINGER, S.; KOOISTRA, H. S.; VAN DEN BROEK, A.; OKKENS, A. C. Treatment of fibroadenomatous hyperplasia in cats with aglépristone. Journal of Veterinary Internal Medicine, v.16, p.710-713, 2002. HAYDEN, D.W.; BARNES, D.W.; JOHNSON, K.H. 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