000841220

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Jéssica Kiill Lemes Rossi
REVISÃO SISTEMÁTICA: HIPERPLASIA
FIBROADENOMATOSA MAMÁRIA FELINA
Araçatuba
2014
ii
Campus de Araçatuba
REVISÃO SISTEMÁTICA: HIPERPLASIA
FIBROADENOMATOSA MAMÁRIA FELINA
Trabalho Científico como parte do Trabalho de
Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de
Medicina Veterinária da Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, campus de
Araçatuba, para obtenção do grau de Medico
Veterinário.
Aluna: Jéssica Kiill Lemes Rossi.
Supervisor: Prof.ª Ass. Dr.ª Adelina Maria
da Silva.
Araçatuba
2014
iii
ENCAMINHAMENTO
Encaminhamos o presente Trabalho Científico, como parte do Trabalho de Conclusão
de Curso, para que o Conselho de Estágios Curriculares tome as providências cabíveis.
____________________________________________
Estagiário
___________________________________________
Supervisor
ARAÇATUBA
Novembro de 2014
iv
SUMÁRIO
1. RESUMO ....................................................................................................... 1
2. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 2
3. MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................. 4
4. RESULTADOS .............................................................................................. 5
5. DISCUSSÃO ................................................................................................. 7
6. CONCLUSÃO ............................................................................................. 17
7. REFERÊNCIAS ........................................................................................... 18
Araçatuba
2014
1
REVISÃO SISTEMÁTICA: HIPERPLASIA FIBROADENOMATOSA MAMÁRIA
FELINA
ROSSI, J.K.L.; SILVA, A.M
1. RESUMO
A hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina é uma enfermidade não
neoplásica que ocorre, principalmente em gatas jovens, devido ao estímulo
excessivo de progesterona endógena ou exógena. Embora não seja relatada com
frequência,
sua
incidência
tem
aumentado,
especialmente
no
Brasil,
em
consequência do uso de anticoncepcionais de longa duração como, por exemplo,
acetato de medroxiprogesterona. O objetivo desta revisão sistemática é avaliar as
características clínicas e comparar os diferentes tratamentos preconizados para esta
patologia. O uso de antiprogestágenos, como o aglepristone, mostrou-se muito
eficiente no tratamento da hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina por ser uma
alternativa pouco invasiva e com resposta clínica mais rápida que os demais
métodos.
Palavras-chave: hiperplasia mamária, hiperplasia fibroepitelial, aglepristone,
gatos.
2
2. INTRODUÇÃO
A hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina (HFMF), também conhecida
como hiperplasia mamária, hiperplasia fibroepitelial, adenomatose mamária ou
fibroadenoma juvenil é uma patologia de maior prevalência em fêmeas jovens com
idade inferior ou igual a 12 meses de idade que receberam progesterona exógena,
ou seja, anticoncepcional (GÖRLINGER et al., 2002; LORETTI et al., 2005; JURKA
E MAX, 2009; SILVA et al., 2012). Essa alteração também pode ser diagnosticada
em gatas jovens após o primeiro ou segundo estro ou que estejam gestantes
(GÖRLINGER et al., 2002; RAHAL et al., 2003; JURKA E MAX, 2009; SILVA et al.,
2012). Em raros casos a HFMF é vista em gatos machos, castrados ou não, que
receberam progesterona como tratamento para incontinência urinária (WEHREND et
al., 2001), modificações comportamentais e afecções dermatológicas (HAYDEN et
al., 1989) e em fêmeas adultas ou senis (WEHREND et al., 2001; GÖRLINGER et
al., 2002; SOUZA et al., 2002; RAHAL et al., 2003 e JURKA E MAX, 2009).
A HFMF é caracterizada por uma rápida proliferação do estroma mamário e
epitélio do ducto de uma ou mais glândulas (GÖRLINGER et al., 2002). Alguns
autores como Little (2011) e Silva et al. (2012) afirmam que se trata de uma
alteração benigna após o estímulo exagerado de substâncias progestacionais
endógenas e exógenas. Little (2011) cita também a síndrome do ovário
remanescente como outra possível causa inicial para o desenvolvimento da HFMF e
relata que receptores de progesterona têm sido encontrados comumente nos
animais afetados por tal patologia, enquanto que receptores de estrógeno têm sido
encontrados em apenas metade dos casos.
O diagnóstico da hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina é feito,
basicamente, através do histórico e dos sinais clínicos, porém alguns exames
complementares como, por exemplo, biópsia e histopatológico do tecido afetado
podem auxiliar a confirmar a HFMF e excluir demais diagnósticos diferenciais, tais
como mastite, adenocarcinoma e displasia mamária cística (WEHREND et al., 2001;
SOUZA et al., 2002; LITTLE., 2011).
A presença de receptores de progesterona no tecido fibroadenomatoso
permite a terapia endócrina alvo com bloqueadores de receptores de progesterona
(GÖRLINGER et al., 2002) como, por exemplo, o aglepristone. Outros tratamentos
podem
ser
empregados
isoladamente
ou
em
associação
tais
como,
a
3
ováriosalpingohisterectomia (OSH), a ovariectomia e a mastectomia. De maneira
geral, a OSH é realizada tanto como método terapêutico quanto como método
preventivo.
Essa revisão sistemática tem como objetivo avaliar, de acordo com a literatura,
os dados disponíveis sobre este distúrbio hormonal por meio das características e
sinais clínicos dos animais afetados como também as terapias aplicadas e seus
resultados.
4
3. MATERIAL E MÉTODOS
A presente revisão sistemática foi realizada através da análise e comparação
de artigos científicos sobre a hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina e seus
diferentes tipos de tratamento. O levantamento bibliográfico ocorreu no período de
dezembro de 2013 a abril de 2014 nas bases de dados informatizadas LILACS,
Scielo, Portal de Periódicos da CAPES e PubMed, sendo que a estratégia para a
seleção
dos
artigos
foi
o
uso
dos
seguintes
descritores:
(Mammary
fibroadenomatous hyperplasia OR fibroepithelial hyperplasia) AND (cats OR feline)
no idioma inglês e (hiperplasia fibroadenomatosa mamária OR hiperplasia
fibroepitelial) AND (gatos OR felinos), em português. A inclusão ou não dos artigos
foi definida por meio de análise de títulos, ano de publicação e resumos que
abordassem o tema principal. Dos artigos pesquisados foram selecionados 11, todos
em inglês ou português, datando de 1989 a 2012, sendo que nos capítulos resultado
e discussão foram utilizados apenas 10.
Tipo
de
estudo
Retrospectivo
Retrospectivo
Retrospectivo
Retrospectivo
Ano
Autor
País
1989
Hayden
EUA
2001
Wehrend
Alemanha
2002
Görlinger
et al.
Holanda
2002
Souza et
al.
Brasil
5 fêmeas
intactas
22
19 fêmeas
intactas
2 machos
intactos
1 macho
castrado
9
3 fêmeas
intactas
4 fêmeas
castradas
2 machos
castrados
7
6 fêmeas
1 macho
No de gatos
tratados
10 a 132
Média 67
3,5 a 19
11 a 156
Média 42
24 a 156
Média 97
Idade
(meses)
Progesterona
exógena (2)
Não informado (3)
Progesterona
exógena (10
fêmeas e 2
machos),
Estro recente (7)
Gestação (2)
Sem histórico (2
fêmeas e 1
macho)
Progesterona
exógena (1)
Progesterona
exógena [acetato
de medroxiprogesterona] (9)
Fonte e
denominação do
hormônio
Anamnese
Exame físico específico
Citologia vaginal (2)
Histopatológico
Anamnese
Exame físico específico
Ultrassonografia
Histopatológico
Imunohistoquímica (1)
Anamnese
Exame físico específico,
Citologia (3)
Anamnese
Exame físico específico
Histopatológico
Meios diagnósticos
-
Ovariectomia 6)
Bromocriptina
(3)
Aines # (1)
Furosemida (2)
-
Não disponível
Tratamento
prévio
Mastectomia (2)
Mastectomia +
OSH § (1)
Aglepristone
Aglepristone
Mastectomia (9)
Tratamento
principal
-
Atenolol (11)
Mastectomia
(1)
Não disponível
Tratamentos
adicionais
Tabela 1 – Artigos que relataram casos de hiperplasia fibroadenomatosa mamária em gatos.
Irritação de pele
após
administração
de aglepristone
(2)
Alopecia e
prurido no
pescoço (1)
Aborto e
endometrite (2)
-
nenhum
Não disponível
Efeitos
colaterais,
complicações
3
21
7
Não
disponível
No de
gatos
curados
número de animais afetados pela HFMF, tratamentos realizados, recidivas e demais dados foram inseridos na tabela 1.
-
0
1
Não disponível
Nº de
recidivas
Óbito (1)
Eutanásia
(1)
Óbito (1)
0
Não
disponível
Óbitos ou
Eutanásia
Dentre os artigos estudados, 10 foram selecionados para compor a discussão. Informações como autor, ano de publicação,
4. RESULTADOS
5
Retrospectivo
Retrospectivo
Retros
pectivo
Retros
pectivo
2003
Rahal et al.
Brasil
2004 e
2005 *
Loretti et
al.
Brasil e
Espanha
2008 e
2012 *
Silva et. al.
Brasil
2009
Jurka e
Max
Polônia
14 fêmeas
intactas
8 fêmeas
intactas
8 fêmeas
intactas
3 fêmeas
intactas
No de gatos
tratados
4 a 36
Média 13
6 a 12
Média 8
6 a 16
Média 10
6 a 48
Média 21
Idade
(meses)
Progesterona
exógena
[acetatod de
medroxiprogesterona] (5)
Endógena (2)
Desconhecido (1)
Progesterona
exógena
[acetatod de
medroxiprogesterona] (7)
Endógena (7)
Progesterona
exógena [acetato
de medroxiprogesterona] (8)
Progesterona
exógena (1)
Endógena (1)
Gestação (1)
Fonte e
denominação do
hormônio
Anamnese
Exame físico
Hemograma
Bioquímico
Concentrações de
estradiol e progesterona
Anamnese
Exame físico específico
Concentrações de
estradiol e progesterona
(2)
Ultrassonografia (1)
Histopatológico
Imunohistoquímica (5)
Anamnese
Exame físico específico
Hemograma
Bioqúimico
Anamnese
Exame físico específico
Histopatológico
Meios diagnósticos
-
-
-
-
Tratamento
prévio
# Aines = anti-inflamatório não esteroides
§ OSH = ovariosalpingohisterectomia
* Autores publicaram segundo trabalho incluindo casos da primeira publicação
Tipo
de
estudo
Ano
Autor
País
Aglepristone
(14)
Aglepristone
Mastectomia (1)
Mastectomia +
ovariectomia (1)
Mastectomia +
celiotomia
exploratória (1)
Mastectomia (1)
Mastectomia +
Ovariectomia (1)
Mastectomia +
OSH (1)
0SH (1)
Ovariectomia (4)
Tratamento
principal
OSH (8)
Ácido
tolfenamico (6)
Osh (1)
Aines (4)
-
-
Tratamentos
adicionais
-
-
-
-
Efeitos
colaterais,
complicações
Tabela 1 – Continuação. Artigos que relataram casos de hiperplasia fibroadenomatosa mamária em gatos.
14
8
4
3
No de
gatos
curados
3
1
1
0
Nº de
recidivas
0
0
Óbito (2)
Eutanásia
(2)
0
Óbitos ou
Eutanásia
6
7
5. DISCUSSÃO
Foram encontrados 10 artigos sobre a hiperplasia fibroadenomatosa mamária
felina. Todos são estudos retrospectivos e datam de 1989 a 2012, tendo origem em
países como EUA, Alemanha, Holanda, Espanha, Polônia e Brasil.
A hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina acometeu, em sua maioria,
gatas jovens com idade inferior ou igual a 12 meses de idade e teve como causa
principal o uso de progesterona exógena, ou seja, o uso de anticoncepcionais
(GÖRLINGER et al., 2002; LORETTI et al., 2005; JURKA E MAX, 2009; SILVA et al.,
2012). Um segundo grupo era formado por gatas jovens após o primeiro ou segundo
estro ou que estavam gestantes (GÖRLINGER et al., 2002; RAHAL et al., 2003;
JURKA e MAX, 2009; SILVA et al., 2012). Uma pequena parcela foi composta por
gatos machos, castrados ou não, que receberam progesterona como tratamento
para incontinência urinária (WEHREND et al., 2001), modificações comportamentais
e demais afecções dermatológicas (HAYDEN et al., 1989). Essa patologia também
foi observada em animais senis nos trabalhos de Souza et al. (2002) e Wehrend et
al. (2001). Demais autores como Wehrend et al. (2001), Görlinger et al. (2002),
Souza et al. (2002), Rahal et al. (2003) e Jurka e Max (2009) também a descreveram
em animais adultos.
Hayden et al. (1989) descreveram os casos de nove animais que receberam
progesterona exógena (acetato de medroxiprogesterona) e os subdividiram em dois
tipos morfológicos distintos, representados por padrão de crescimento sólido e
padrão de crescimento intraductal. Os autores notaram que sete, dos nove gatos
com hiperplasia fibroadenomatosa mamária, tinham apenas uma glândula mamária
aumentada, com as lesões mais comumente confinadas aos dois pares inguinais e
que o intervalo de tempo entre a aplicação do fármaco e o diagnóstico foi variável,
embora a dosagem diária de medroxiprogesterona prescrita para cada gato tenha
sido a normalmente recomendada (2,5-5 mg/Kg).
Wehrend et al. (2001) avaliaram sete animais (seis fêmeas e um macho) das
raças Pelo Curto Europeu, Persa e Chartreux com uma faixa etária entre 11 e 156
meses, resultando em idade média de 42 meses. Desses animais, apenas o macho
recebeu progesterona exógena.
8
Görlinger et al. (2002) selecionaram 22 animais atendidos pelo Departamento
de Ciências Clínicas de Animais de Companhia da Universidade de Utrecht entre os
anos de 1999 e 2001. Todos já haviam passado por algum tipo de tratamento,
dentre eles a suspensão do progestágeno, ovariectomia (a qual não garantiu a
regressão do tamanho das glândulas mamárias afetadas), antibióticos, antiinflamatórios não esteroidais e bromocriptina.
Entre 1970 e 2001, Souza et al. (2002) examinaram 638 amostras provenientes
de necropsias e biópsias de gatos no Setor de Patologia Veterinária do
departamento de Patologia da Universidade Federal de Santa Maria. Desse total,
cinco (0,16%) apresentaram hiperplasia fibroadenomatosa felina. Todos os animais
eram fêmeas e sem raça definida. O período de evolução variou de três semanas a
seis meses, sendo que apenas o de uma gata não foi informado.
Os casos de três gatas sem raça definida foram relatados por Rahal et al. em
2003. No primeiro caso, o animal tinha oito meses de idade, não era castrado e não
apresentava histórico de uso de anticoncepcional. No segundo, o proprietário
afirmou que a gata foi submetida a excisão da mama afetada há 45 dias
conjuntamente com a ovariectomia. Referiu também histórico de estro e uso de
anticoncepcional há 90 dias. No último caso, a gata estava em final de prenhez e
nunca havia sido administrado anticoncepcional.
Loretti et al. (2005) avaliaram oito gatas portadoras de hiperplasia
fibroadenomatosa mamária com idade entre seis e 16 meses, que compareceram a
três hospitais veterinários de universidades brasileiras cujo histórico indicava a
aplicação única de acetato de medroxiprogesterona (MPA) para prevenção do estro.
Duas dessas fêmeas eram primíparas e ainda gestantes quando o fármaco foi
administrado, uma havia parido recentemente, em outras duas a aplicação foi no
período de estro e nos demais animais o MPA foi utilizado durante o anestro. O
desenvolvimento da hiperplasia fibroadenomatosa mamária variou de dois dias a
três meses após o uso do MPA, enquanto que a taxa de crescimento das lesões nas
mamas atingidas variou de dois dias a um mês.
Silva et al. (2012) atenderam oito gatas jovens, com idades inferiores a 12
meses, portadoras de aumento exacerbado das glândulas mamárias e cujo tempo
de evolução variou de 15 dias a dois meses. Em cinco casos, a alteração foi
precedida por uso de contraceptivo, e em um deles, informações relativas ao
histórico clínico eram desconhecidas, uma vez que a paciente foi resgatada da rua.
9
Jurka e Max (2009) realizaram um trabalho envolvendo 14 fêmeas não
castradas com idade entre quatro a 36 meses, sendo que em sete casos o
desenvolvimento da hiperplasia foi espontâneo e nos demais houve relato do uso de
progesterona exógena (MPA e proligestone) com aparecimento dos sinais clínicos
de três a quatro semanas após o uso.
Quanto aos sinais clínicos, em todos os trabalhos foi observado o aumento de
tamanho de um ou mais pares de glândulas mamárias, podendo este crescimento
ser rápido ou lento e progressivo, como mostra a figura 1.
Figura 1. Apresentação clínica da hiperplasia fibroepitelial mamária felina. A e B: fêmea, SRD, 12
meses de idade (caso 2); C e D: fêmea, SRD, 06 meses de idade (caso 8). Em ambas as
situações verificam-se aumento de volume exacerbado das glândulas mamárias. Salvador- BA,
2010. Fonte: Silva et al., 2012.
Autores como Görlinger et al. (2002), Rahal et al. (2003), Loretti et al. (2005) e
Souza et al. (2005) observaram lesões na pele caracterizadas por úlceras, pontos
necróticos e eritematosos (figura 2), porém essas alterações podem estar presentes
10
ou não, podendo indicar o grau de severidade desta patologia. Loretti et al. (2005)
também descreveram áreas de alopecia e exsudação sanguinolenta e purulenta em
algumas mamas. À palpação, em geral, as massas eram firmes, delimitadas,
dolorosas e quentes devido ao processo inflamatório, porém Rahal et al. (2003) cita
que uma das gatas examinadas não apresentava sensibilidade dolorosa e Loretti et
al. (2005) descreve a presença de uma massa flutuante e macia em uma das
pacientes. Outros achados no exame físico foram a dificuldade de deambulação a
ponto de o animal não conseguir se manter em estação (SOUZA et al., 2005),
condição corporal classificada como magreza (GÖRLINGER et al., 2002; SILVA et
al., 2008), letargia e taquicardia (GÖRLINGER et al., 2002).
Figura 2. Hiperplasia fibroepitelial mamária felina. Caso 6. Esta fêmea, na consulta, tinha como
queixa clínica um crescimento marcante de toda a cadeia mamária após receber uma dose única
de acetato de medroxiprogesterona. Crescimento contínuo, expansivo das glândulas mamárias
afetadas com ulceração da pele atingindo as glândulas mamárias inguinais e axilar foi observada
mesmo após a castração. A área afetada foi raspada. Fonte: Loretti et al., 2005.
A taquicardia avaliada no exame físico por Görlinger et al. (2002) permanece
especulativa. A teoria descrita pelo autor diz que o estresse e a dor, bem como o
crescimento rápido do tecido e o aumento da exigência vascular do mesmo, podem
11
ocasionar essa alteração física, ou seja, a taquicardia é uma resposta
compensatória do organismo. Görlinger et al. (2002) também afirmaram que
mecanismos adaptativos compensatórios, tais como hipertrofia cardíaca, podem
levar mais tempo para se desenvolver. Sendo assim, o uso de um beta-bloqueador,
como o atenolol, foi incluído no protocolo terapêutico de gatos com frequência
cardíaca superior a 200bpm.
Os
exames
complementares
utilizados
pelos
autores
incluíram
a
ultrassonografia, hemograma, exame bioquímico, histopatológico, concentração de
estradiol e progesterona e imunohistoquímica.
O achado ultrassonográfico descrito por Wehrend et al. (2011) mostrou tecido
mamário com característica homogênea e estruturas nodulares. Neste caso, é
importante que se faça o diagnóstico diferencial para neoplasia e mastite.
Apenas Jurka e Max (2009) e Silva et al. (2012) realizaram hemograma nos
animais estudados. Os resultados obtidos por Silva et al. (2012) indicaram
leucocitose por neutrofilia e desvio à esquerda em três das oito gatas. O autor
justifica tal fato pela facilidade que estes animais têm em desenvolver mastite
secundária à hiperplasia fibroadenomatosa mamária. Jurka e Max (2009) usaram
esse método de exame complementar para acompanhar os animais durante o uso
do aglepristone, sendo assim, o hemograma realizado nos dias 1, 7 e 14 e
demonstrou melhora durante o tratamento com diminuição dos leucócitos até
atingirem o valor de referência.
Os
exames
bioquímicos
(aspartato
aminotransferase,
alanina
aminotransferase, fosfatase alcalina, uréia e creatinina) referidos por Jurka e Max
(2009) não mostraram alterações em nenhum dos pacientes nos diferentes dias
após o início do tratamento.
Quanto ao exame histopatológico, Hayden et al. (1989), que dividiram seus
pacientes em dois grupos com base na histopatologia, observaram que em ambos
houve proliferação de fibroblastos no estroma e células epiteliais no ducto mamário.
No tipo intraductal, a neoformação tecidual ocorreu dentro de grandes ductos
dilatados, enquanto que no tipo sólido, ramificações de ductos se desenvolveram
dentro de camadas de células estromais. Demais autores como Wehrend et al.
(2001), Souza et al. (2002), Rahal et al. (2003) e Loretti et al. (2005) também
constataram a proliferação de tecido conjuntivo e fibras colágenas, principalmente
ao redor dos ductos intralobulares, além de proliferação de células mioepiteliais e
12
presença de células epiteliais cuboides enfileiradas. Outro achado por Wehrend et
al. (2001) foi o marcante edema periglandular que, na biópsia feita sete dias após o
início do tratamento com antiprogestágeno, mostrou-se bastante reduzido. Loretti et
al. (2005) incluíram em sua descrição extensas áreas de necrose e hemorragia
localizadas subjacente à pele ulcerada e inflamada.
A dosagem sérica das concentrações de progesterona e estradiol foi realizada
por Jurka e Max (2009) nos dias um, 7 e 14 de tratamento com aglepristone. Os
autores relataram que em todos os animais, exceto em um gato, a média da
concentração de progesterona estava acima do valor basal, e nos dias 7 e 14 houve
um pequeno decréscimo quando comparado ao dia um. A dosagem de estradiol
mostrou-se crescente no decorrer do tratamento. Já Loretti et al. (2005), realizaram a
dosagem hormonal sérica em dois períodos. O primeiro grupo de amostras para os
ensaios foi coletado 19 e 30 dias após o reconhecimento do crescimento da glândula
mamária pelos proprietários e o segundo grupo mediu apenas os níveis de
progesterona 19 dias após a castração e seus achados foram semelhantes aos de
Jurka e Max (2009).
Na imunohistoquímica, Wehrend et al. (2001) avaliaram a expressão de
receptores para progesterona tanto antes quanto depois do tratamento com o
antiprogestágeno aglepristone. As células que expressaram receptores nucleares de
progesterona estavam quase que exclusivamente localizadas na camada celular
intermediária entre a camada de células basais e a camada de células apicais
colunares. Os autores concluíram que a diferença entre as duas amostras não foi
estatisticamente significante (teste t de Student) e que talvez seja esse o fator que
possa causar a recidiva em alguns casos. Já Loretti et al. (2005) notaram a presença
de células epiteliais com núcleos grandes, redondos ou ovais corados intensamente
(figura 3). A quantidade de produtos com imunorreatividade para receptores de
progesterona foi variável entre os pacientes. O número de núcleos corados
positivamente variou de 5 a 20% em três casos para mais de 60% em dois casos. O
hormônio de crescimento (GH) e o fator de crescimento semelhante à insulina tipo-1
(IGF-I) foram encontrados no citoplasma de células do epitélio ductal.
13
Figura 3. Hiperplasia fibroepitelial mamária felina. Caso 5. Os receptores de progesterona estão
presentes nos núcleos das células epiteliais do ducto. Células fusiformes (células mioepiteliais e
fibroblastos) no estroma circundante não estão reativas (ABC método imuno-histoquímico,
ampliação 100 X). Fonte: Loretti et al., 2005
A presença de GH apresentou imunocoloração citoplasmática acastanhada e
homogênea. Os autores relatam que não foram detectados receptores de estrogênio
e que os fibroblastos e células mioepiteliais foram consistentemente inertes para os
métodos de imunohistoquímica utilizados em todos os casos.
Em relação ao tratamento principal, Hayden et al. (1989), Souza et al. (2002),
Rahal et al. (2003) e Loretti et al. (2005) optaram por realizar a mastectomia
associada ou não a outros tratamentos, tais como, ováriosalpingohisterectomia
(OSH) e ovariectomia. Hayden et al. (1989) não associaram a técnica de
mastectomia com nenhuma outra e não disponibilizaram seus achados em relação
ao número de gatos curados, número de recidivas e de óbitos ou eutanásia. Souza
et al. (2002) utilizaram a mastectomia, como tratamento único, em duas gatas. Os
autores concluíram que esse parece não ser um procedimento indicado
isoladamente, pois a hiperplasia fibroadenomatosa em três dos cinco casos parece
ter sido induzida de maneira endógena, uma vez que não havia histórico de uso de
progestágenos. Rahal et al. (2003) realizaram mastectomia em três animais, sendo
que em apenas um animal houve a associação com OSH. Os autores relataram
14
sucesso na terapia instituída e negaram casos de recidiva após o tratamento. Loretti
et al. (2005) utilizaram as três técnicas e constataram que o uso apenas da OSH ou
ovariectomia em cinco pacientes não trouxe resultados satisfatórios, pois o tempo de
regressão foi de dois a seis meses, além de serem relatados três óbitos. Nas outras
três gatas, os autores optaram pelo uso da mastectomia isoladamente em um caso,
sendo que nos outros dois casos houve associação de mastectomia com OSH ou
ovariectomia. Observou-se regressão lenta das glândulas mamárias afetadas, sendo
que na gata submetida à ovariectomia houve recidiva após dois meses e optou-se
pela eutanásia do animal. De modo geral, os autores observaram uma demora na
resposta ao tratamento com a OSH ou ovariectomia, podendo esta ser de dois
meses ou mais, principalmente em casos onde houve uso de anticoncepcional, pois
a retirada do ovário não vai diminuir os níveis da progesterona de depósito que
permanece no organismo por quatro a seis meses.
Outros dois autores realizaram a OSH como tratamento adicional ao uso de
antiprogestágenos. Jurka e Max (2008) associaram a técnica em oito dos 14 animais
tratados com aglepristone e obtiveram sucesso na terapia instituída. A regressão
das lesões levou em média de três a quatro semanas e apenas três casos de
recidiva foram relatados em animais cujo tratamento foi feito apenas com o
antiprogestágeno, devido ao uso de progesterona de longa duração. No trabalho de
Silva et al. (2012), a OSH foi utilizada em sete dos oito animais afetados pela
hiperplasia fibroadenomatosa, sendo que em um deles esse método foi instituído
após recidiva. De modo geral, nesses casos em que o tratamento principal foi
realizado com antiprogestágenos, a OSH assume uma função preventiva, ou seja,
impede casos de recidiva uma vez que a fonte de hormônio endógena é retirada.
Por fim, o método terapêutico que mais demonstrou resultados satisfatórios foi
o uso do antiprogestágeno (figura 4). Esse método terapêutico foi estudado por
Wehrend et al. (2001), Görlinger et al. (2002), Jurka e Max (2009) e Silva et al.
(2012).
Wehrend et al. (2001) trataram sete animais com injeções subcutâneas de
aglepristone na dose de 10 mg/Kg por quatro a cinco dias consecutivos. Com cinco
dias após a primeira administração, foi observada uma redução significativa das
glândulas afetadas seguida da alteração de consistência do tecido, ou seja, de firme
passou a ser macio. A taxa de recidiva foi baixa, apenas em um gato macho que
recebeu progesterona de depósito como tratamento para incontinência urinária.
15
Figura 4. Pacientes com diagnóstico presuntivo de hiperplasia fibroepitelial mamária e tratadas
com aglepristone. A e B: fêmea, SRD, 12 meses de idade (caso 2); C e D: fêmea, SRD, 06 meses
de idade (caso 8). Notar o aspecto normal das cadeias mamárias após três semanas da última
administração do fármaco. Salvador-BA, 2010. Fonte: Silva et al., 2012
O tratamento preconizado por Görlinger et al. (2002) consistiu em aplicações
subcutâneas de aglepristone por dois dias consecutivos por semana na dose de
10mg/Kg durante uma a quatro semanas. Em seguida, este protocolo foi mudado
para uma aplicação subcutânea por semana na dose de 20mg/Kg até a remissão
dos sinais. O autor relata efeitos colaterais em alguns animais após a administração
do antiprogestágeno tais como, irritação da pele no local de aplicação em dois gatos,
alopecia e prurido no pescoço em um animal, aborto em duas fêmeas após dois e
cinco
dias,
respectivamente,
da
primeira
injeção
consequentemente, o desenvolvimento de endometrite.
com
aglepristone
e,
16
Jurka e Max (2009) realizaram o tratamento com aglepristone em um período
de três a quatro semanas com esquema terapêutico de administração subcutânea
no primeiro e segundo dia consecutivos na dose de 10mg/Kg e depois uma vez na
semana até remissão dos sinais. Em casos em que houve recidiva, o autor
recomenda o tratamento por um período de cinco semanas.
Silva et al. (2012) administraram aglepristone em todas as pacientes, na dose
de 10mg/Kg, via subcutânea, a cada 24 horas, durante quatro dias consecutivos
com uma média da remissão dos sintomas de três semanas. Das oito gatas tratadas
com o antiprogestágeno, apenas uma apresentou quadro de recidiva após o fim do
protocolo, provavelmente devido à progesterona endógena, uma vez que houve
resposta inicial ao aglepristone, porém a remissão completa só foi vista após OSH.
Os autores também chamam a atenção para o uso de anticoncepcionais de longa
duração, pois estes podem causar um segundo estímulo nos receptores de
progesterona, desencadeando assim recidiva dos sinais clínicos.
De modo geral, a hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina está
intimamente ligada ao uso de progesterona de longa duração e no Brasil essa
prática é muito utilizada para evitar o estro nesses animais. Além disso, a eliminação
desse fármaco do organismo do animal leva meses para ocorrer, prejudicando a
resposta à terapia instituída. A vantagem do tratamento com aglepristone em relação
aos procedimentos cirúrgicos é que o tempo de resposta, ou seja, a remissão dos
sintomas é mais rápida, podendo durar de três a quatro semanas enquanto que nos
demais tratamentos esse resultado leva de dois a seis meses.
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6. CONCLUSÃO
A hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina tem caráter benigno e
caracteriza-se por um rápido aumento de volume das glândulas mamárias, devido à
acelerada proliferação do epitélio ductal e estroma mamário. Tem maior prevalência
em gatas jovens após exagerado estímulo progestacional endógeno ou exógeno,
porém gatas adultas ou senis e felinos machos já foram diagnosticados.
Dentre os tratamentos, o uso do aglépristone é o que apresenta melhores
resultados quanto ao tempo de regressão do aumento de volume mamário, embora
este possa causar reação inflamatória intensa no local de aplicação. Quando
associado à OSH preventiva, as chances de recidiva tornam-se praticamente nulas,
lembrando que uma das possíveis causas de tal patologia é a síndrome do ovário
remanescente.
Terapia de suporte deve ser instituída em consequência à dor e ao intenso
processo inflamatório que esses animais apresentam, levando até mesmo a
alterações nos parâmetros vitais. Sendo assim, o uso de anti-inflamatório não
esteroidal, atenolol e compressas mornas podem auxiliar a diminuir o processo
inflamatório e normalizar a frequência cardíaca.
A hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina costuma ter um bom
prognóstico, principalmente se diagnosticada precocemente.
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7. REFERÊNCIAS
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