estácio de sá ciências da saúde

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ISSN: 1984-2864
ESTÁCIO DE SÁ
CIÊNCIAS DA SAÚDE
REVISTA DA FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ DE GOIÂNIA
SESES – GO
VOL. 02, Nº 05, JANEIRO 2011/JUNHO 2011
FICHA CATALOGRÁFICA DA REVISTA
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CPI)
FACULDADE DE GOIÁS
CATALOGAÇÃO NA FONTE / BIBLIOTECA FAGO
JACQUELINE R.YOSHIDA – BIBLIOTECÁRIA – CRB 1901
LOPES, Edmar Aparecido de Barra e (org.).
Revista de Ciências da Saúde da Faculdade Estácio de Sá de GoiásFESGO. Goiânia, GO, v. 02, nº05, Jan. 2011/Jun. 2011.
ISSN 1984-2864
Nota: Revista da Faculdade Estácio de Sá de Goiás – FESGO.
I. Ciências da Saúde. II- Título: Revista de Ciências da Saúde. III.
Publicações Científicas.
CDD 300
ESTÁCIO DE SÁ
CIÊNCIAS DA SAÚDE
FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ DE GOIÁS – FESGO
VOLUME 2, n. 05, Jan. 2011/Jun. 2011.
PERIODICIDADE: SEMESTRAL
ISSN: 1984-2864
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SUMÁRIO
ARTIGOS
08-14
ATUAÇÕES DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E DE ESTRATÉGIAS SUSTENTÁVEIS
SANDRA OLIVEIRA SANTOS
15-27
DADOS QUÍMICOS, FARMACOLÓGICOS E TOXICOLÓGICOS DO CHAPÉUDE-COURO (ECHINODORUS MACROPHYLLUS (KUNTH) MICHELI): UMA REVISÃO
DA LITERATURA
MICHELLE DE MENEZES ROCHA & REGINA BRAGA DE MOURA
28-44
A APLICABILIDADE DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NAS AULAS PRÁTICAS
DE ESPORTES COLETIVOS NA GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
JACKSON LOPES OLIVEIRA & MARILUCI BRAGA
45-57
A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE DAS DISFUNÇÕES
NEUROMOTORAS, NA RECUPERAÇÃO MOTORA EM BEBÊS PREMATUROS
MARIA DO CÉU PEREIRA GONÇALVES; VERNON FURTADO DA SILVA; ANDREA REBECA
OLIVEIRA DE PAULA.
58-68
INFLUÊNCIAS DO MEIO SOCIOECONOMICO E FAMILIAR COMO FATOR
DE RISCO DO ATRASO NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR: ESTUDO
PILOTO
MARIA DO CÉU PEREIRA GONÇALVES, PAMELA PAIVA GOUVEIA SIMÕES, ELISANGELA
TEIXEIRA VIEIRA
69-79
ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA EM UM PACIENTE COM NEOPLASIA
MALIGNA DE ENCÉFALO: RELATO DE CASO
MARIA DO CÉU PEREIRA GONÇALVES, NATÁLIA SARMENTO ABRAHÃO
80-94
PROPOSTA PEDAGÓGICA DE ACORDO COM O PERFIL DOS ACADÊMICOS
DE ENFERMAGEM DE UMA UNIVERSIDADE PARTICULAR DE GOIÂNIA –
GO
SUE CHRISTINE SIQUEIRA, SILVANA L. V. SANTOS, ÂNGELA CRISTINA BUENO VIEIRA
PESQUISAS
96-113
ESTUDO SOBRE ACESSIBILIDADE DAS ESTRUTURAS ESPORTIVAS:
REFERÊNCIAS PARAS AS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E
LAZER.
MARCELO CORREA
114-125
REVISÃO SISTEMÁTICA DOS EFEITOS DA UTILIZAÇÃO DA PRÓTESE
REVERSA DE GRAMMONT EM ARTROPLASTIAS DE OMBRO
ARTHUR ANTUNES OLIVEIRA DA SILVEIRA
126-137
A INFLUÊNCIA DO EDUCADOR FÍSICO NA ADERÊNCIA DOS ALUNOS A
PRÁTICA DE EXERCÍCIOS EM ACADEMIA
FILIPE FIGUEIREDO DE REZENDE; MARCELLE VALENTIM VIEIRA; BEATRIZ BICALHO;
MARILUCI BRAGA
138-146
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO CLIENTE VÍTIMA DE TRAUMA
RAQUIMEDULAR: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO
EMÍLIA RODRIGUES FERREIRA, ROGÉRIO PEREIRA BERNARDES, FRANCINO MACHADO
DE AZEVEDO FILHO, GLEYDSON MELO
147-162
REABILITAÇÃO
VESTIBULAR
ATRAVÉS
DOS
EXERCÍCIOS
DE
CAWTHORNE E COOKSEY PARA PREVENÇÃO DE QUEDAS EM IDOSOS:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
CLEIDIANE FERREIRA DA SILVA, ADRIANO LUIS FONSECA
163-176
MOCHILAS ESCOLARES E A COLUNA VERTEBRAL DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES: UMA REVISÃO DE LITERATURA
ANDRÉIA NOVAIS PEREIRA CARNEIRO, MICHELE DE LIMA RIBEIRO SANTOS, VIVIANE
DELFIM FIGUEROA, BRENO GONTIJO NASCIMENTO
_________________________
ARTIGOS
8
SANTOS, Sandra Oliveira. Atuações de proteção ambiental e de estratégias sustentáveis. Estácio de Sá
– Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 08-14, Jan.
2011/Jun. 2011.
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ATUAÇÕES DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E DE ESTRATÉGIAS
SUSTENTÁVEIS
Sandra Oliveira Santos∗
Resumo:
Abtract:
As condições ambientais vêm alterando o
modo de vida das pessoas e até mesmo a
expectativa de vida. Portanto, existe uma forma
redundante em tratar-se deste assunto muitas
vezes sem ter a certeza do que seriam tais
condições ambientais, o que de fato o ambiente
pode interferir e ainda até que ponto o modo de
vida dos seres humanos contribui para
modificar este ambiente. As prioridades
humanas podem ser direcionadas ao bem estar
coletivo com uso sustentável do meio
ambiente. Repensar o máximo que se precisa
para viver bem depois de ter alcançado o
mínimo para a qualidade de vida, economizaria
sim, os recursos ambientais.
Environmental conditions are changing the
way of life and even life expectancy. So
there is a redundant way in treating this
subject is often not sure what would such
environmental conditions, the fact that the
environment can interfere with and even to
what extent the lifestyle of humans
contributes to modify this environment.
Human priorities can be directed to the
collective well-being with sustainable use
of the environment. Rethinking the most
you need to live well after having reached
the minimum for the quality of life, but
would save environmental resources.
Palavras-Chave:
Meio
Ambiente.
Proteção
Ambiental.
Sustentabilidade. Equilíbrio Ecológico.
Key-words:
Environment. Environmental Protection.
Sustainability. Ecological Balance.
INTRODUÇÃO
Há muito se fala que as condições ambientais vêm alterando o modo de vida das pessoas
e até mesmo a expectativa de vida. Portanto, existe uma forma redundante em tratar-se deste
assunto muitas vezes sem ter a certeza do que seriam tais condições ambientais, o que de fato o
Mestre em Biologia, concentração ecologia (Universidade Federal de Goiás – UFG). Especialista em Saúde Pública
(Universidade Católica de Goiás – UCG). Especialista em Biologia (Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação
– CEPAE/UFG). Graduada em Medicina Veterinária.
∗
9
SANTOS, Sandra Oliveira. Atuações de proteção ambiental e de estratégias sustentáveis. Estácio de Sá
– Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 08-14, Jan.
2011/Jun. 2011.
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ambiente pode interferir e ainda até que ponto o modo de vida dos seres humanos contribui para
modificar este ambiente.
Aficionados por proteção ambiental muitas vezes embarcam em senso comum na defesa
do verde, da biodiversidade, da recuperação a qualquer custo de áreas modificadas. Há de se
observar, contudo, que a transformação do ambiente nem sempre é danosa quando se impera um
olhar mais abrangente. O extermínio de um ser vivo que está atrapalhando o equilíbrio de um dado
local poderá em pouco prazo trazer consequências piores. Assim, pode-se pensar em controle do
crescimento daquela espécie em detrimento de sua própria extinção.
Outra situação comum de se notar é a necessidade de imputar culpas em alguma espécie
sobre modificações ambientais. Tais mudanças podem ser decorrentes de processos naturais
geológicos, de movimentações de placas tectônicas ou mesmo de maior ou menor incidência de
raios solares em determinada face do globo. Mesmo que as ações antrópicas sejam responsáveis por
inúmeras situações de modificações ambientais, elas por si só, não podem ser as únicas
responsáveis. Há de se observar também que as modificações podem ser positivas, embora às
negativas tenham mais expressividade.
Esta revisão bibliográfica permitirá um olhar sobre obrigações entre nações que prevê
acordos de conservação e preservação ambiental e a relação com a melhoria da qualidade de vida
dos seres humanos.
UM OLHAR SOBRE OS OBJETIVOS DA CÚPULA DO MILÊNIO
Um acordo entre 191 países signatários ocorrido na Cúpula do Milênio da Organização
das Nações Unidas – ONU em 2000, prevê o compromisso destes em erradicar a extrema pobreza e
a fome, atingir o ensino básico universal, promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das
mulheres, reduzir a mortalidade na infância, melhorar a saúde materna, combater o HIV/Aids, a
malária e outras doenças, garantir a sustentabilidade ambiental e por último estabelecer uma
parceria mundial para o desenvolvimento. Todos estes objetivos deverão ser conduzidos até o ano
de 2015 e são pautados em melhorias das condições ambientais entre outras ações.
Sabe-se desde as singelas exposições de conteúdo em salas do ensino fundamental que
ar, água e solo são elementos básicos da natureza e que todos os ciclos biogeoquímicos são
interdependentes. As condições como se apresentam em determinado habitat dependerá da idade
geológica, as transformações sofridas em milhões de anos de existência do planeta, da interação
entre seres vivos e as modificações sofridas pela permanência de todos os fatores indicados.
10 SANTOS, Sandra Oliveira. Atuações de proteção ambiental e de estratégias sustentáveis. Estácio de Sá
– Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 08-14, Jan.
2011/Jun. 2011.
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Autores consagrados em Gestão Ambiental (PHILIPPI JR & PELICIONI, 2005) relatam
que ecologistas se preocuparam demasiadamente em estudar o equilíbrio do ecossistema, do meio
ambiente natural e do estudo das relações entre os seres vivos, sem estabelecer relação entre esses e
o sistema socioeconômico. Isso reflete no descrédito das pessoas quando se trata de assuntos de
preservação e conservação ambiental. É como se não houvesse, por exemplo, uma ligação entre a
diminuição do curso de um rio e a presença de áreas habitacionais nas proximidades de sua
nascente. Afinal, foram necessários cem anos ou mais para que se percebesse o sinergismo que
neste caso a médio e longo prazo, geralmente é negativo.
O meio ambiente modificado de forma rápida e drástica poderá propiciar um conforto
provisório à sobrevivência humana que justamente pela curta expectativa de vida, hoje creditada em
torno de 80 anos, não permite a visibilidade necessária às mudanças negativas. A construção de
condomínios habitacionais em extensas áreas não prevê inicialmente a necessidade de escoamento
de fluxo de pessoas, da maior necessidade de galerias pluviais e de esgoto, ou mesmo o acréscimo
da adutora de fornecimento de água tratada e a distribuição de energia. O mais difícil é prever que
estes condomínios atrairão para esta região comércio, movimentação financeira e especulações.
Assim, mais pessoas se interessarão em residir nestas áreas que sofrerão expansões vertiginosas a
interesses econômicos, novamente, sem direcionamento aos objetivos de um desenvolvimento
sustentável.
Por falar neste, o termo desenvolvimento sustentável tem sido inúmeras vezes repetido
desde em convenções internacionais e até mesmo em reuniões de pequenas magnitudes. Em 1972,
ocorreu a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, e por lá criou-se o
termo "eco-desenvolvimento”. Mas somente em 1980, a Comissão Brundtland - grupo designado
pelo PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente o utiliza no Relatório "Nosso
Futuro Comum" (BARBOSA, 2008).
De acordo com PNUMA, este termo significa “é aquele que atende as necessidades do
presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem suas próprias
necessidades”. A autora Barbosa (2008) reforça que o desenvolvimento sustentável deve ser uma
conseqüência do desenvolvimento social, econômico e da preservação ambiental.
Ao considerar qualquer das definições apresentadas e fazer um paralelo com as
condições de vida hoje impostas pelo modelo econômico capitalista, verifica-se tamanha utopia das
propostas ambientais frente ao crescimento desordenado mesmo das áreas humanizadas planejadas.
Voltando a referir-se aos Objetivos do Milênio, há uma referência neste documento
sobre a questão da pobreza e indigência, sendo esta uma grande referência para ressaltar os
problemas ambientais, ora como causa, ora como consequência. Assim, pessoas que não possuem
11 SANTOS, Sandra Oliveira. Atuações de proteção ambiental e de estratégias sustentáveis. Estácio de Sá
– Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 08-14, Jan.
2011/Jun. 2011.
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habitação digna com rede de água e esgoto, fornecimento de energia, acesso aos meios de transporte
entre outros, estariam em um ciclo vicioso de geração de doenças infectocontagiosas, de uso dos
poucos recursos ambientais disponíveis e produção de vários fatores contaminantes que serão
devolvidos ao meio ambiente.
Pereira (2008) ressalta que as taxas elevadas de mortalidade por causas evitáveis
permitem concluir pela existência de baixos níveis sanitários e sociais da população. Não é difícil
perceber nestes locais a crescente violência que extrapola limites geográficos e de controle social.
Outro ponto discutido nestes objetivos, são as doenças infecciosas emergentes e
reemergentes, dando ênfase à malária. Para Luna (2002) há uma nítida necessidade de verificação
dos perfis de morbidade e mortalidade em nível mundial, com dados mais concretos e
acompanhamento das incidências e prevalências com metodologias uniformizadas. Esse autor revê
vários entraves para uma política acertada de controle destas doenças, entre estes estão o excesso de
burocracia, a lentidão na tomada de decisões, a carência de recursos humanos qualificados e a
precariedade das estruturas descentralizadas.
A transmissão da malária, assim como outras doenças infecciosas, depende em cada
localidade, da interação dos diferentes fatores de risco epidemiológico de origem diversas
(biológicos, ecológicos, sociais, culturais, econômicos e políticos), cujo controle depende de ações
intervencionistas pluralistas. O próprio documento, que cria os objetivos a serem alcançados pela
Cúpula, reforça a necessária participação de instituições fornecedoras de energia, de conhecimento
agrícola e de reforma agrária, os agentes financeiros, as construtoras de edificações de moradias e
de infra-estrutura.
É possível que mesmo em países em desenvolvimento como o Brasil, onde a infraestrutura ainda não conseguiu albergar todos os estratos da população, haja melhor aproveitamento
dos recursos naturais caso haja intenção clara da população no quesito de sustentabilidade.
Alcançar a dimensão de preservação pelo desenvolvimento da Educação Ambiental é um dos
objetivos trabalhados pelo PNUMA. Assim garantir que, até 2015, todas as crianças, de ambos os
sexos, terminem um ciclo completo de ensino, seria o início desta premissa.
O Brasil já estipulou sua participação nesta proposta desde a criação da nova LDB, a Lei
de Diretrizes e Bases para a educação brasileira (Lei nº 9.394, de 20/12/1996), que determina
inicialmente, o ensino fundamental, com duração mínima de oito anos, obrigatório e gratuito na
escola pública e tem por objetivo a formação básica do cidadão. A Educação Ambiental nesta lei é
tratada como tema a ser promovido em todos os níveis de ensino e está situada no inciso 1 do artigo
36. Atualmente está em vigor a Política Nacional de Educação Ambiental (PONEA) regulamentada
pelo Decreto Federal 4281 de 25 de junho de 2002. Esta política é baseada nos princípios:
12 SANTOS, Sandra Oliveira. Atuações de proteção ambiental e de estratégias sustentáveis. Estácio de Sá
– Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 08-14, Jan.
2011/Jun. 2011.
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pluralismo de idéias, culturais e de concepções pedagógicas; vinculação com a ética, educação,
trabalho e práticas sociais; interdependência entre o meio natural, sócio-econômico, cultural, sob o
enfoque da sustentabilidade e por último, avaliação crítica do processo instrucional.
De acordo com Velasco (2002), duras críticas são atribuídas à criação deste instrumento,
dentre elas a falta de autonomia financeira e mesmo conceituação ultrapassada para os proclamas
atuais. Para Mattos (2006) ainda há procedimentos difíceis de serem ultrapassados na
implementação de uma acirrada política de Educação Ambiental, as ações interdisciplinares, tanto
no quesito pedagógico de formação do conhecimento quanto na construção de espaços sustentáveis.
A educação é então vista como uma excelente ferramenta à preservação das condições
ambientais que aliada a políticas públicas demonstra melhoria nas condições de vida da população
brasileira. Um exemplo seria a diminuição do sarampo, da desnutrição, doenças intestinais e
respiratórias em crianças com idade menor de 5 anos. De acordo com dados censitários do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010), houve redução de 50% na mortalidade infantil
(crianças com menos de 1 ano de idade) entre 1990 e 2008, de 47 por mil nascidos vivos para 23,3
por mil.
A promoção da saúde aplicada pelo Programa de Saúde da Família é uma estratégia que
procura minimizar os efeitos de uma economia instável e com grande variação na distribuição da
renda. Observa-se que estratégias de acompanhamento das famílias com vacinações periódicas,
campanhas de controle de doenças infecciosas com melhoria dos hábitos de higiene, introdução de
programas para controle de doenças metabólicas estão sendo bem sucedidas pela diminuição dos
casos. De acordo com boletim Saúde Brasil 2009, entre 1996 e 2007, houve uma diminuição de
17% na taxa de mortalidade por Doenças Crônicas não transmissíveis, o que equivale a uma
redução média de 1,4% ao ano. No mesmo documento, observa-se que houve redução na taxa de
mortalidade na infância: de 53,7 óbitos por mil nascidos vivos em 1990, para 22,8 em 2008.
A diminuição da mortalidade materna que também é um dos objetivos da Cúpula do
Milênio PNUMA apresenta saldos positivos de melhoria de acordo com a análise da situação de
saúde do Brasil (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). Houve redução da mortalidade
materna de 140 óbitos por 100 mil nascidos vivos, em 1990, para 75, em 2007. No Brasil, as
principais causas de morte materna são hipertensão arterial, hemorragia, infecção pós-parto e
complicações relacionadas ao aborto (causas diretas) (BRASIL, IPEA, 2004).
Entre essas metas anteriormente relacionadas, tem-se ainda o objetivo de garantir a
sustentabilidade ambiental. Tal garantia quando alcançada por si só permitirá que todos os outros
sete objetivos sejam atingidos. Quando se fala que a grande maioria do esgoto que é lançado nos
rios não recebe devido tratamento e ainda pessoas que sequer conseguem água tratada, a realidade
13 SANTOS, Sandra Oliveira. Atuações de proteção ambiental e de estratégias sustentáveis. Estácio de Sá
– Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 08-14, Jan.
2011/Jun. 2011.
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preocupa pela grande relação entre estes indicadores ambientais e a qualidade de vida. Crescem
assim, os rumores do não cumprimento do acordo.
A meta do sétimo Objetivo de Desenvolvimento do Milênio é integrar os princípios do
desenvolvimento sustentável às políticas e programas nacionais e revertera a perda de recursos
ambientais (BRASIL, IPEA, 2004). A preocupação em proteger ambientes considerados hotspots
como a Mata Atlântica e o Cerrado, poderá a curto espaço de tempo chegar ao grande bioma da
Floresta Amazônica (PRIMACK & RODRIGUES, 2001). Este termo citado refere-se às áreas que
estão sobre forte pressão ambiental permitida pelas atividades econômicas de agricultura, pecuária,
extrativismo e até de urbanização (BRASIL, MMA, 2011).
É possível criar situações de crescimento econômico aliada à conservação. No relatório
Desenvolvimento econômico sustenta a preservação da Floresta Amazônica, publicado pelo
MINISTÉRIO DO EXTERIOR (BRASIL, 2006), observa-se modelos de excelência em utilização
dos recursos naturais. Em outras localidades novos exemplos podem surgir e daí emergir uma
interação positiva entre ser o humano e viver com o ambiente.
CONCLUSÃO
Eleger teorias de preservação ambiental em meio ao crescimento populacional humano
só trás especulações poéticas que não resolvem às necessidades básicas daqueles que já ganharam o
direito à vida. Ao trocar o termo preservação por conservação ganha-se a dimensão de utilizar o
ambiente de forma racional e comedida (PRIMACK & RODRIGUES, 2001).
As prioridades humanas podem ser direcionadas ao bem estar coletivo com uso
sustentável do meio ambiente. Repensar o máximo que se precisa para viver bem depois de ter
alcançado o mínimo para a qualidade de vida, economizaria sim, os recursos ambientais.
Os objetivos e estratégias discutidos em reuniões intergovernamentais ganham dimensão
acentuada quando se coloca especialmente o desenvolvimento econômico em primeiro lugar. Esta
visão muitas vezes ofusca as condições de conservação ambiental, especialmente se houver
restrições quanto à possibilidade de embargo em alguma vultosa obra.
Atualmente a população não está em condições de ignorar as ações que irão proteger os
recursos naturais, mesmo por que estes estão se tornando escassos e disputados. Para que possa dar
continuidade de crescimento sustentável à espécie humana, é preciso agir com parcimônia e
racionalidade.
14 SANTOS, Sandra Oliveira. Atuações de proteção ambiental e de estratégias sustentáveis. Estácio de Sá
– Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 08-14, Jan.
2011/Jun. 2011.
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REFERÊNCIAS
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Volume 1 - Jan/Jun 2008.
BRASIL. IBGE. Indicadores de Desenvolvimento Sustentável - Brasil 2010. Disponível em
http://www.ibge.gov.br. Acesso: 24 de janeiro 2011.
BRASIL. Instituto de Pesquisa Aplicada. Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – Relatório
nacional de acompanhamento. – Brasília : Ipea, 2004.
BRASIL. MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>.
Acesso em: 28 de dezembro de 2010.
BRASIL. MMA. Conservação Internacional. Hotspots Revisitados. Brasília: CEMEX. Ed.
Agrupación Sierra Madre. Disponível em www.biodiversityhotspots.org. Acesso em 08 de fevereiro
2011.
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da situação de saúde e da agenda nacional e internacional de prioridades em saúde. Brasília:
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da Floresta Amazônica. Brasília: Ministério do Exterior, março 2006.
LUNA, Expedito J. A. A emergência das doenças emergentes. Rev. Bras. Epidemiol. Vol. 5, Nº 3,
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MATTOS, S. A educação ambiental na escola: teoria x prática sob o ponto de vista
interdisciplinar. II Fórum de Educação Ambiental da Alta Paulista. ISSN 1980-0827. Disponível
em www.amigosdanatureza.org.br. Acesso: 24 de janeiro 2011.
PEREIRA, M. C. Epidemiologia teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
PRIMACK, R; RODRIGUES, E. A Biologia da Conservação. Ed Planta. 2001. 328p.
VELASCO, S. L. Algumas Reflexões sobre a PNEA [Política Nacional de educação Ambiental, Lei
no. 9795 de 27/04/1999]. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. Fundação
Universidade do Rio Grande, v. 8, 2002, 12-20.
15 ROCHA, Michelle de Menezes; MOURA, Regina Braga de. Dados químicos, farmacológicos e
toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da
literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go.
Vol. 02, nº 05, 15-27, Jan. 2011/Jun. 2011.
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DADOS QUÍMICOS, FARMACOLÓGICOS e TOXICOLÓGICOS DO
CHAPÉU-DE-COURO (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): UMA
REVISÃO DA LITERATURA
Michelle de Menezes Rocha1 & Regina Braga de Moura2
Resumo:
Abstract:
Este trabalho teve como objetivo apresentar
dados
científicos
sobre
características
químicas, farmacológicas e toxicológica de
Echinodorus
macrophyllus,
conhecida
popularmente como chapéu de couro. Nesta
revisão utilizou-se artigos e livros. E.
macrophyllus possui derivados diterpenóides:
equinolidos A e B, equinofilinas A-F,
chapecoderinas A-C e
uma lactona
diterpênica.
Evidenciou-se a ausência de
efeitos mutagênicos e citotóxicos em células
sanguineas e hepáticas. Há potencial
genotóxico em células renais. E. macrophyllus
carece de estudos relativos à composição
química, farmacologia e toxicidade, para que
possa ser indicada seguramente como uma
alternativa fitoterápica.
This work aimed to present scientific data
about chemical, pharmacological and
toxicological
characteristics
of
Echinodorus macrophyllus, known as
chapéu de couro. In this review we used
articles and books. E. macrophyllus
presents
diterpenoids
derivates:
equinolides A and B, equinophyllins A-F,
and A-C chapecoderins, and a lactone
diterpen. It was indicated the absence of
cytotoxic and mutagenic effects in blood
and liver cells. In kidney cells, there is a
genotoxic potential. E. macrophyllus lacks
studies
about
its
phytochemistry,
pharmacology and toxicology, so that it
can be safely stated as a phytotherapeutic
alternative.
Palavras-chave:
Echinodorus macrophyllus. Alismataceae.
Chapéu-de-couro
Keywords:
Echinodorus macrophyllus. Alismataceae.
Chapéu-de-couro
INTRODUÇÃO
Faz tempo que o homem recorre ao uso de plantas para amenizar seus males do corpo ou do
espírito, por meio dos chás, banhos, ungüentos, tinturas caseiras e até mesmo nas benzeções
(MACIEL; GUARIM NETO, 2006).
1
2
Graduanda em Farmácia, Universidade Estácio de Sá, Campus Akxe, RJ
Professora, Laboratório de Estudos da flora Medicinal Brasileira, Universidade Estácio de Sá, Campus Rebouças, RJ.
16 ROCHA, Michelle de Menezes; MOURA, Regina Braga de. Dados químicos, farmacológicos e
toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da
literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go.
Vol. 02, nº 05, 15-27, Jan. 2011/Jun. 2011.
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Várias etapas foram marcantes na transformação do modo de curar, mas é difícil demarcálas com precisão, pois a medicina durante muito tempo esteve associada a práticas mágicas,
místicas e ritualísticas. Considerando as plantas como seres espirituais ou não, o fato é que estas
adquiriram grande importância na medicina popular, por suas propriedades terapêuticas ou tóxicas
(MARTINS et al., 2003).
No Brasil, as culturas indígena, africana e européia influenciaram bastante a utilização de
plantas (MARTINS et al., 2003).
As plantas nativas brasileiras produzem substâncias químicas que podem atuar de forma
benéfica ou podem ser consideradas tóxicas para os outros seres vivos, dependendo da dosagem e
forma de preparo. Assim, para um uso seguro destas plantas, é importante uma avaliação sob os
aspectos químico, farmacológico e toxicológico (GOMES et al., 2001; RITTER et al., 2002).
Muitas vezes não se conhece os princípios ativos de uma planta, no entanto, a planta pode
ter alguma ação medicinal que justifique seu uso, contanto que não apresente efeitos tóxicos agudos
ou crônicos confirmados por meio de pesquisa ou pelo conhecimento popular, em determinados
casos (MARTINS et al., 2003).
Como exemplo de planta muito utilizada na medicina popular, pode-se citar uma espécies
conhecida popularmente como “chapéu-de-couro” (BEVILAQUA et al., 2001; LORENZI;
MATOS, 2002): Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli (NUNES et al. 2003). Esta espécie
pertence à família Alismataceae (HAYNES; HOLM-NIELSEN, 1994). Suas folhas possuem ação
diurética, anti-reumática, antiofídica, depuradora do sangue (MARTINS et al., 2003) anti-sifilítica,
antiartrítica, laxativa, eliminadora de ácido úrico, e adstringente, sendo utilizadas em gargarejos
contra as inflamações da garganta e também em banhos contra as feridas que não cicatrizam
(CORRÊA, 1984). Seu uso é indicado no tratamento de doenças renais, das vias urinárias, e
problemas do fígado, além de ser utilizada nas erupções cutâneas (CORRÊA, 1984; MARTINS et
al., 2003).
OBJETIVO
Sendo o chapéu-de-couro uma planta muito utilizada na medicina popular (NUNES et al.,
2003), o presente trabalho pretende apresentar uma breve revisão bibliográfica sobre dados
farmacológicos, químicos e sobre o potencial de toxicidade da espécie Echinodorus macrophyllus, a
fim de se obter ividências que confirmem sua eficácia e segurança.
17 ROCHA, Michelle de Menezes; MOURA, Regina Braga de. Dados químicos, farmacológicos e
toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da
literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go.
Vol. 02, nº 05, 15-27, Jan. 2011/Jun. 2011.
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METODOLOGIA
O presente trabalho foi realizado através de uma revisão bibliográfica de dados químicos e
farmacológicos de Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli. A busca de dados foi feita em
artigos de periódicos nacionais e internacionais indexados, utilizando-se as bases de dados
eletrônicas Science Finder, Chemical Abstracts, Biological Abstracs, Web of Science, Science
Direct e Scielo; o acervo das bibliotecas da Fundação Osvaldo Cruz e do Jardim Botânico – RJ,
bem como livros de Botânica e Farmacologia também foram utilizados. As buscas foram feitas
através das palavras-chave: Echinodorus, E. macrophyllus, Alismataceae e chapéu-de-couro. Na
pesquisa não houve delimitação de tempo de publicação das obras. Os nomes científicos e as
abreviaturas dos autores dos táxons estão de acordo com o International Plant Name Index3 e com a
base TROPICOS4, do Missouri Botanical Garden. Os termos botânicos estão de acordo com Judd et
al. (2002) e Pereira; Agarez (1977).
FAMÍLIA ALISMATACEAE Vent.
Família botânica composta por ervas aquáticas ou de solos encharcados, cujas espécies
apresentam laticíferos contendo látex branco (Judd et al., 2002). Folhas simples, inteiras, alternas
espiraladas, com venação paralela ou palmada; geralmente submersas ou paludosas. Inflorescência
determinada, do tipo cimeira, com flores bissexuadas ou unissexuadas em plantas monóicas ou
dióicas e diclamídeas, cálice e corola sempre trímeros, androceu dialistêmone, com anteras rimosas;
gineceu com ovário hipógino e dialicarpelar; presença de nectários florais. Fruto aquênio (JUDD et
al., 2002; SOUZA; LORENZI, 2005).
A família Alismataceae é constituída por 12 gêneros e 80 espécies aproximadamente
(SOUZA; LORENZI, 2005), sendo a maioria das espécies pertencentes aos gêneros Echinodorus e
Sagittaria, presentes nos neotrópicos (HAYNES; HOLM-NIELSEN, 1994).
No Brasil, esta família é representada por 18 espécies do gênero Echinodorus e 6 espécies
do gênero Sagittaria (HAYNES; HOLM-NIELSEN, 1994) que se distribuem nos estados de Minas
Gerais, São Paulo até o Rio Grande do Sul (CORRÊA, 1984).
3
4
Disponível em: http://www.ipni.org
Disponível em: http://www.tropicos.org
18 ROCHA, Michelle de Menezes; MOURA, Regina Braga de. Dados químicos, farmacológicos e
toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da
literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go.
Vol. 02, nº 05, 15-27, Jan. 2011/Jun. 2011.
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Segundo Corrêa (1984), a planta é ornamental, nativa de terrenos pantanosos e águas pouco
profundas, sendo utilizada em aquários e pequenos lagos artificiais.
Em estudo da família como um todo, foi verificado por Boutard et al. (1973) que é comum
entre os representantes de Alismataceae a presença de flavonas na forma de C-glicosídeos. Estudos
mais específicos têm isolado e identificado outros constituintes químicos dentro da família
Alismataceae. Oshima; Iwakawa; Hikino (1983) isolaram alismol e alismoxido, 2 sesquiterpenóides
de rizomas de espécies do gênero Alisma. A estrutura do sagitariol foi elucidada por Sharma et al.
(1984). Em Alisma plantago-aquatica Pei-Wu et al. (1988) isolaram um sitosterol glicosídeo
acilado. Sobre o sitosterol, Raven; Evert; Eichhorn (2001) afirmam que é o esteróide mais
abundantemente encontrado nas plantas e que pode ter função hormonal. Em uma subespécie de
Sagittaria montevidensis, Radke; Tanaka (2004) identificaram diterpenos abietenos. Zhao; Xu; Che
(2008) isolaram do rizoma de Alisma orientale nor-protostano, alisol O e P e o triterpeno 2,3-secoprotostano. Os constituintes químicos relativos a Echinodorus serão tratados no item relativo ao
gênero e à espécie.
Echinodorus RICH. & ENGEL M. EX A. GRAY
O gênero Echinodorus é formado por 26 espécies e restrito ao hemisfério ocidental,
compreendendo o norte dos Estados Unidos até a Argentina. No Brasil é representado por sete
espécies nativas no Estado de São Paulo (PANSARIN; AMARAL, 2005). Este gênero possui 2
espécies que são utilizadas na medicina popular: Echinodorus grandiflorus e E. macrophyllus
(LOPES et al., 2000).
São plantas com flores bissexuadas, glabras, possuem caule do tipo rizoma ou estolho. As
folhas são emersas ou submersas, presença de aerênquima; limbo linear, lanceolado, elíptico,
oblongo ou oval; folhas submersas geralmente sésseis. Inflorescência racemosa ou panícula, raro
umbeliforme, verticilos florais 1-18, com flores numerosas. As flores são bissexuadas; apresentam
sépalas membranáceas a coriáceas, pétalas brancas, estames numerosos. Aquênio subcilíndrico, em
geral com glândulas entre as costelas (PANSARIN; AMARAL, 2005).
No gênero já foram identificados derivados clerodano (COSTA et al., 1999). Duarte et al.
(2002) identificaram esteróides, flavonóides, polifenóis e saponinas. Os autores constataram que os
extratos aquosos obtidos por infusão e decocção, das folhas de Echinodorus grandiflorus
apresentam atividade contra diferentes tipos de bactérias gram-negativas, como: Escherichia coli,
19 ROCHA, Michelle de Menezes; MOURA, Regina Braga de. Dados químicos, farmacológicos e
toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da
literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go.
Vol. 02, nº 05, 15-27, Jan. 2011/Jun. 2011.
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Pseudomonas aeruginosa e Salmonella typhimurium. Também foi observada atividade contra
Staphylococcus aureus, que é uma bactéria gram– positiva (DUARTE et al., 2002).
Schnitzler; Petereit; Nahrstedet (2007) isolaram glicosilflavonas, ácido trans-aconítico e
ácidos hidroxicinamoiltartáricos.
Echinodorus macrophyllus (KUNTH) MICHELI
Sob o aspecto da distribuição geográfica desta espécie, somente a flora do Estado de São
Paulo menciona sua distribuição para o Brasil, restringindo-se as regiões leste e oeste do Estado,
não mencionando outras regiões. Esta espécie está distribuída da América Central até o sul do
Brasil (PANSARIN; AMARAL, 2005).
Constitui-se por plantas perenes, robustas; sempre com folhas emersas, caracterizadas
principalmente por suas folhas grandes oval-lanceoladas, pecíolo cilíndrico, limbo geralmente oval.
Inflorescência em panícula, com 3-15 flores que apresentam pedicelo cilíndrico, ereto ou recurvado
e numerosos carpelos. Fruto do tipo aquênio, ligeiramente alado com glândulas lineares
(PANSARIN; AMARAL, 2005).
COMPOSIÇÃO QUÍMICA
Na busca de artigos relativos à composição química desta espécie, verificou-se a
escassez de estudos sobre este aspecto. Segundo Martins et al. (2003), E. macrophyllus é uma
planta pouco estudada do ponto de vista fitoquímico, e constitui-se principalmente por flavonóides,
triterpenos e taninos.
Shigemori et al. (2002) detectaram a presença de diterpenos equinolidos A e B (fig.
2), derivados do tipo cembrano com uma lactona diterpênica com 8 membros, no extrato metanólico
das folhas de E. macrophyllus. Segundo os autores, ao equinolidos A e B podem ser resultado da
oxidação da olefina presente no carbono 3 do ácido equinóico (fig. 1), seguida de sua esterificação.
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toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da
literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go.
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Figura 1 – Equinolido A (1), equinolido B (2) e ácido equinóico (3).
Fonte: Shigemori et al. (2002).
De acordo com Bruneton (2001), uma grande variedade de lactonas apresenta atividade
antibacteriana, a maioria contra bactérias gram-positivas. Kobayashi et al. (2000a,b) fracionaram o
extrato metanólico das folhas de E. macrophyllus com hexano e 90% de metanol aquoso, os
resíduos de metanol foram fracionados com acetato de etila e água, enquanto que as porções
solúveis em acetato de etila foram submetidas a uma coluna de sílica gel, levando a novos
derivados diterpenóides com esqueleto clerodano contendo nitrogênio e um único anel lactâmico,
como as echinofilinas A-F (fig. 2)
21 ROCHA, Michelle de Menezes; MOURA, Regina Braga de. Dados químicos, farmacológicos e
toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da
literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go.
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Figura 2 – Echinofilina A (4); Echinofilina B (5), derivados diterpenóides do tipo clerodano.
Fonte: Kobayashi et al.(2002a).
Sobre os diterpenos com esqueleto clerodano, Murthy et al. (2005) isolaram estes diterpenos
do extrato hexânico das sementes de Polyalthia longifolia e verificaram que este extrato
apresentava uma expressiva atividade antibacteriana e antifúngica. Novos diterpenos rearranjados
do tipo labdano como as chapecoderinas A-C também já foram isolados das folhas de E.
macrophyllus (KOBAYASHI et al. 2000c). Ainda não foram descritas as atividades biológicas para
os derivados diterpenóides encontrados nos extratos de E. macrophyllus (PINTO et al., 2007).
FARMACOLOGIA
De acordo com Pinto et al. (2007) Echinodorus macrophyllus é uma planta muito utilizada
para tratar doenças reumáticas, que são auto-imunes, e geralmente caracterizam-se por uma resposta
exacerbada dos linfócitos T e B. Os autores avaliaram o efeito do extrato aquoso de E.
macrophyllus sobre as funções celulares e proliferação celular em ratos tratados oralmente com este
extrato durante sete dias. Também foi avaliada a produção de óxido nítrico in vitro. Observaram
uma inibição na produção de anticorpos pelas células B, inibição da hipersensibilidade tardia
mediada pelas células T e redução da infiltração no tecido subcutâneo por leucócitos. Com isso,
demonstraram um efeito imunossupressor pela primeira vez, alertando quanto à importância do uso
22 ROCHA, Michelle de Menezes; MOURA, Regina Braga de. Dados químicos, farmacológicos e
toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da
literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go.
Vol. 02, nº 05, 15-27, Jan. 2011/Jun. 2011.
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adequado, para evitar os efeitos colaterais, especialmente em doenças associadas às
imunodeficiências.
Pinto et al. (2007) estão realizando estudos para detectar os compostos biologicamente
ativos nas folhas do extrato aquoso de E. macrophyllus com a finalidade de descrever mecanismos
para os efeitos relatados.
Considerando que a artrite reumatóide é uma doença auto-imune caracterizada por uma
inflamação no líquido sinovial das articulações e que a resposta humoral e celular podem contribuir
para esta inflamação (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2008), este efeito imunossupressor sugere
que o extrato aquoso de E. macrophyllus possa ser utilizado nesta patologia.
Nas doenças associadas às imunodeficiências em que há deficiência das imunidades humoral
e celular, já existe um número reduzido de linfócitos T no sangue periférico, uma redução da
resposta proliferativa dos linfócitos do sangue aos ativadores policlonais e também deficiência na
hipersensibilidade do tipo tardia (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2008). Devido a estes fatores,
não seria recomendado o uso do extrato de E. macrophyllus em pacientes com imunodeficiência.
Moreti et al. (2006) avaliaram determinados parâmetros da série vermelha (contagem de
eritrócitos, hemoglobina, determinação do hematócrito, volume corpuscular médio, hemoglobina
corpuscular média e concentração de hemoglobina corpuscular média) em cinco ratos machos, que
receberam uma infusão preparada a partir das folhas trituradas do chapéu-de-couro durante sete
dias, constituindo o grupo tratado. Em outro grupo composto por cinco ratos (grupo controle), foi
administrado somente água. Ao término do experimento, os animais foram sacrificados e por meio
de uma punção cardíaca foi colhido o sangue. As contagens das séries vermelha e branca foram
realizadas em aparelho Coulter, modelo T-890. Para a série branca, foi feita uma contagem global e
diferencial de leucócitos (MORETI et al., 2006).
Considerando-se os resultados obtidos, os autores puderam deduzir que a infusão de chapéude-couro gerou uma leve redução de alguns parâmetros da série vermelha, como por exemplo:
hemoglobina, hemácias e hematócrito. Já na série branca, a contagem global de leucócitos e o
percentual de eosinófilos, apresentaram diferenças estatisticamente expressivas. Apenas o aumento
no número de leucócitos foi considerado significativo do ponto de vista clínico (MORETI et al.,
2006).
Não existem muitos estudos farmacológicos sobre a espécie E. macrophyllus, entretanto,
algumas de suas atividades podem ser justificadas pela presença dos mesmos compostos químicos
em outras espécies de plantas que possuem a mesma finalidade de uso. Alguns compostos
encontrados nas folhas de E. macrophyllus, como exemplo, os flavonóides, possuem ação diurética,
23 ROCHA, Michelle de Menezes; MOURA, Regina Braga de. Dados químicos, farmacológicos e
toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da
literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go.
Vol. 02, nº 05, 15-27, Jan. 2011/Jun. 2011.
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antimicrobiana, antiedematosa, antiinflamatória e anti-hepatotóxica. Outros compostos, como as
saponinas, possuem um efeito laxante suave e também uma atividade diurética (MARTINS et al.,
2003).
Os taninos têm a propriedade de precipitar proteínas, formando uma camada protetora sobre
a pele e as mucosas, agindo em diversas infecções, prevenindo a penetração de agentes que podem
ser nocivos em mucosas danificadas, isso pode facilitar a cicatrização, por exemplo, em
queimaduras. Também podem contribuir em casos de hemorragias, promovendo a contração de
vasos capilares (MARTINS et al., 2003).
TOXICOLOGIA
De acordo com Lopes et al. (2000) até a realização do seu trabalho, não havia sido feito
nenhum estudo sobre o potencial toxicológico de espécies medicinais do gênero Echinodorus para
humanos. Os autores desenvolveram um estudo preliminar do potencial toxicológico de E.
macrophyllus em ratos machos, utilizando três concentrações diferentes de extrato liofilizado
(grupo 1, grupo 2 e grupo 3 ) e uma única concentração do extrato aquoso bruto (grupo 4) obtido
das folhas secas da planta, administrado durante seis semanas na água potável, a fim de verificar um
possível efeito genotóxico dos rins, das células do sangue, e do fígado. O grupo controle recebeu
somente água.
Após seis semanas de tratamento, com estes tipos de extrato, os animais foram sacrificados e
seus órgãos (rins e fígado) pesados e analisados para verificar se houve alguma mudança funcional
nestes órgãos. Não foi detectada nenhuma mudança significativa no peso dos rins e do fígado dos
animais tratados com as diferentes concentrações de extrato liofilizado. Com a administração de
extrato aquoso bruto, observou-se uma redução no peso dos rins, mostrando um efeito particular nas
células renais. Sendo assim, o extrato aquoso de E. macrophyllus parece conter substâncias que
atuam de maneira específica nas células renais (LOPES et al., 2000).
Ensaios in vitro com células epiteliais renais e hepáticas dos ratos também foram realizados
para determinar o potencial citotóxico e mutagênico utilizando extrato aquoso bruto. Nas células
renais foi observado um efeito estimulatório, caracterizado pelo aumento no tamanho das células
(hipertrofia), já nas células hepáticas, não se observou nenhum efeito estimulatório. Para verificar se
as folhas de E. macrophyllus poderiam conter substâncias com potencial genotóxico, foi feito o
exame de DNA (ácido desoxirribonucléico) das células dos rins, fígado e sangue dos animais
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toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da
literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go.
Vol. 02, nº 05, 15-27, Jan. 2011/Jun. 2011.
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tratados. Na análise do sangue e das células hepáticas, não foi encontrada nenhuma alteração do
DNA, para o extrato aquoso liofilizado ou bruto de E. macrophyllus. Nas células renais, as doses
mais elevadas do extrato aquoso bruto ou liofilizado de E. macrophyllus, indicaram a presença de
substâncias com potencial genotóxico, sendo que o extrato bruto mostrou um efeito mais acentuado
(LOPES et al., 2000).
Segundo os autores, estudos adicionais devem ser realizados para esclarecer o potencial
genotóxico desta planta no organismo dos mamíferos sendo de extrema importância os testes,
principalmente para os tratamentos de longa duração e nos casos de doses elevadas que podem
provocar um acúmulo da planta no organismo. Entretanto, a quantidade administrada de 23 mg/kg,
que corresponde à dose diária recomendada a humanos, não demonstrou nenhum efeito mutagênico
ou citotóxico, sugerindo que a planta possa ser segura ao organismo humano (LOPES et al.,2000).
CONCLUSÃO
Apesar do “chapéu-de-couro” ser uma planta muito utilizada popularmente, e apresentar
diversas indicações de uso, a realização desta revisão bibliográfica demonstrou que ainda existem
poucos estudos relativos à composição química e atividade farmacológica de E. macrophyllus.
Porém, grande parte das suas atividades pode ser atribuída à presença dos mesmos compostos
químicos previamente identificados em outras plantas que possuem as mesmas indicações de uso.
Sendo assim, torna-se necessário a realização de novos estudos científicos com a finalidade de
identificar quais os compostos presentes nos extratos que são responsáveis pela atividade
farmacológica da planta e também conhecer os mecanismos que levam a estas atividades. Além
disso, é de extrema relevância a realização de testes que avaliem o potencial toxicológico da planta,
para que esta possa ser indicada seguramente como uma alternativa fitoterápica, pois até hoje só foi
descrito um único trabalho sobre a avaliação toxicológica da espécie E. macrophyllus.
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práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde.
Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011.
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A APLICABILIDADE DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NAS AULAS
PRÁTICAS DE ESPORTES COLETIVOS NA GRADUAÇÃO EM
EDUCAÇÃO FÍSICA
Jackson Lopes Oliveira1 & Mariluci Braga2
Resumo:
A graduação em Educação Física passou por
diversas mudanças ao longo dos anos. A
conjuntura política do país interferiu
diretamente nestas mudanças, a sociedade e o
mercado de trabalho também contribuíram,
exigindo profissionais que atendessem a uma
nova demanda. Sendo alvo de muitas
polêmicas, a grade curricular da graduação em
Educação Física tem como disciplina aulas
práticas, que necessitam de atenção especial.
Foi abordado em nosso estudo as aulas
práticas de esporte coletivo - que são repletas
de situações que exploram diversos fatores,
tais como: técnicos, táticos e cognitivos - na
educação a distância, sendo esta última, uma
nova proposta pedagógica na graduação em
Educação Física. Confrontar a educação a
distância na graduação em Educação Física é
tema central deste trabalho. Questionar a
aplicabilidade da educação a distância na
Educação Física é a proposta, tendo como
base as características pertinentes a cada uma.
Palavras-chave:
Graduação em Educação Física. Esporte
coletivo. Educação a distância.
1
2
Abstract:
The degree in physical education has gone
through several changes over the years. The
situation in the country's political interfered
directly in these changes, society and the
labor market also contributed, requiring
professionals who meet a new demand. As
the target of many controversies, the grade
curriculum of graduation in physical
education classes has the discipline practices,
which require special attention. It was
addressed in our study the practice of sports
collective lessons - which are filled with
situations that operate various factors, such
as: technical, tactical and cognitive - in
distance education, the latter being a new
proposal in teaching degree in physical
education.
Confronting
the
distance
education in degree in Physical Education is
central theme of this work. Questioning the
applicability of distance education in
Physical Education is our purpose, based on
the relevant characteristics of each one.
Key-words:
Degree in physical education. Sports
collective. Distance education.
Graduado em Educação Física - Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte/MG.
Professora titular de Educação Física da Faculdade Estacio de Sá/MG.
29 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas
práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde.
Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011.
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INTRODUÇÃO
A formação em nível superior em Educação Física (EF) provocou ao longo dos anos
opiniões divergentes e muitas polêmicas. No contexto histórico brasileiro, foram constantes as
mudanças pedagógicas, relacionadas muitas vezes ao momento político em que o país vivia. E tudo
isso refletiu diretamente nesta área.
Em um primeiro momento, a formação do educador físico era voltada para a atuação
apenas no ensino formal, com o passar dos anos, a sociedade e o próprio mercado de trabalho
passaram a exigir um profissional com características diferentes, surgiu então o curso de
bacharelado em Educação Física, que passou a formar profissionais para atender a esta demanda.
E na graduação em Educação Física, muitas são as suas particularidades e
características. A sua grade curricular, por exemplo – que inclusive foi tema de diversos debates e
polêmicas quanto a sua estruturação – possui aulas práticas, que necessitam de atenção especial.
Sendo também foco deste trabalho, será abordado as aulas práticas nos esportes
coletivos, que têm como critério para classificação: se existe ou não interação com o adversário.
Considerado por crianças e adolescentes como uma das atividades mais recreativas, os
esportes coletivos são repletos de situações que exploram diversos fatores, tais como: técnicos,
táticos e cognitivos.
Ao transportar todas essas propriedades dos esportes coletivos para a graduação em
Educação Física, surgem questões mais complexas acerca desta temática como, por exemplo, a
construção do conhecimento, a dicotomia entre teoria e prática, e o ensino-aprendizagem.
Amparadas por uma crescente demanda por formação profissional, especialização e
qualificação da mão-de-obra, as instituições de ensino passam a ofertar serviços e soluções para
atingir este público, que em grande maioria, estão geograficamente distantes ou não têm muito
tempo disponível. Assim a educação a distância vai ganhando seu espaço no mercado educacional.
Ao longo dos anos, as tecnologias a serviço da educação a distância (EaD) evoluíram, das
correspondências, dos programas de rádio e televisivos, passaram para os computadores com
internet, videoconferência, salas de bate-papo, enfim, um processo em constante mutação, pois a
velocidade do avanço tecnológico proporciona tais mudanças. No Brasil, um dos maiores
incentivadores da educação a distância é o governo, muitos projetos foram desenvolvidos, alguns
com êxito, outros nem tanto, pois a falta de continuidade se fez presente em muitos deles. Mas
diante da crescente evolução da educação a distância, foi preciso regulamentar as bases legais para a
modalidade, o que ocorreu em dezembro de 1996, autorizado pelo Ministério da Educação e Cultura
30 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas
práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde.
Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011.
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(MEC). A partir de então, passamos a ter leis para a educação a distância nos ensinos básico,
superior, pós-graduação, mestrado e doutorado.
Confrontar a educação a distância na graduação em Educação Física é tema central deste
trabalho. Questionar a aplicabilidade da educação a distância na Educação Física é o propósito,
tendo como base as características pertinentes a cada uma.
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
A principal característica e o que vai fazer a educação a distância (EaD) se diferenciar da
educação convencional, é justamente a distância que separa os alunos dos professores.
Caracterizando a EaD como uma aula não presencial, faz-se necessário a utilização de
um meio de comunicação entre as partes envolvidas no processo. Poderíamos começar dizendo dos
cursos à distância por correspondência, em seguida os programas televisivos, e a partir de então,
com o advento da globalização, surge o uso de uma nova tendência, que é o uso de novas
tecnologias a serviço da EaD, tais como: mídias (disquetes, cd-rom), áudio, vídeo, teleconferência,
videoconferência, internet e programas de computadores (softwares).
Segundo Neto (2005), o advento da tecnologia, projetou de forma direta, influências e
mudanças também no campo de educação.
Mansur (2001) afirma que a EaD nasceu e se desenvolveu como resposta a um acúmulo
de necessidades educacionais. No entanto observamos características do EaD inserida em outros
contextos, como por exemplo, cursos técnicos profissionalizantes, treinamento e capacitação em
empresas.
Segundo Preti (1996), a EaD é, uma modalidade não tradicional, típica da era industrial
e tecnológica, cobrindo diferentes formas de ensino-aprendizagem, dispondo de métodos, técnicas e
recursos, postos à disposição da sociedade, tendo como alunos, um grupo bastante heterogêneo.
De acordo com Santos; Rodrigues (1999, p. 23), “a sociedade está tomando rumos em
que o conhecimento e a informação assumem papel fundamental”, fazendo com o que, cada vez
mais, e um número maior de pessoas, precisam aprender e se reciclar em tempo real, onde quer que
estejam e em momentos distintos, momentos que sejam convenientes, em função de uma rotina
diária totalmente atribulada. Há também uma busca constante e contínua para resolução de novos
problemas, levando em consideração que o trabalho e a aprendizagem estão se tornando
multidisciplinares e colaborativos, assim sendo, a EaD ganha destaque por atingir uma maior
audiência, atender um nicho de mercado onde as pessoas/clientes/estudantes não podem assistir
31 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas
práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde.
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aulas presenciais, envolver educadores, profissionais externos que de outra forma não poderiam ser
aproveitados e eliminar a importância da proximidade geográfica.
Rodrigues; Barcia (1998) afirmam também que com a crescente demanda por formação,
conhecimento e atualização, que ocorre ao mesmo tempo em que o custo das tecnologias vão
diminuindo, coloca a EaD como uma alternativa viável e promissora para o atendimento
educacional no cenário atual.
Santos; Rodrigues (1999) advogam que ao idealizar e planejar um curso de EaD, é
primordial analisar criteriosamente as tecnologias e a forma como o serviço será disponibilizado,
tanto para os alunos como para o corpo docente, tendo em vista que, os alunos e os educadores são
o foco do processo de aprendizagem, e a tecnologia somente os servem. O corpo docente de um
curso de EaD, deve ser instruído sobre os conceitos, métodos e tecnologias de EaD, além de saber
operar equipamentos e técnicas para o ambiente de EaD. Os estudantes precisam estar altamente
motivados, familiarizados com computadores, características presentes na maioria dos que se
interessa por este tipo de ensino.
A integração entre a tecnologia digital com os recursos da telecomunicação
proporcionou condições de ampliar o acesso à educação, no entanto, o formato em que acontece a
comunicação entre os alunos e professores e entre os alunos, refletem diretamente no ensino e na
aprendizagem, “que precisam ser compreendidas ao tempo em que se analisam as potencialidades e
limitações das tecnologias e linguagens empregadas para a mediação pedagógica” (ALMEIDA,
2003, p. 3).
Segundo Santos; Rodrigues (1999), todos os programas eficazes de EaD, partem da
premissa básica que é um planejamento meticuloso em paralelo com um profundo entendimento das
exigências e requisitos do curso e das necessidades dos estudantes.
A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL
Apesar de ser uma terminologia aparentemente recente, é de fato é, o conceito de EaD,
já era utilizado há bastante tempo.
Segundo Preti (1996) as transformações vividas no Brasil nos últimos anos, são reflexos
do processo evolutivo e a aceleração no ritmo das mudanças, e como resultado passou a gerar um
modelo de sociedade em que a formação é parte de uma estratégia de desenvolvimento,
produtividade e competitividade. Desta forma, para os órgãos governamentais, as políticas
direcionadas para a qualificação da mão-de-obra e dos recursos humanos ganham o máximo de
32 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas
práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde.
Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011.
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interesse e prioridade, e ainda contam com um processo de formação continuada, atualização
constante e renovação dos saberes.
Segundo informações do Ministério da Educação e Cultura (MEC, 2008), através da sua
Secretaria de Educação a Distância (SEED), no Brasil, as bases legais para a modalidade da EaD,
foram estabelecidas pela lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.º 9.394, de 20 de
dezembro de 1996), que foi regulamentada pelo Decreto n.º 5.622, publicado no Diário Oficial da
União (D.O.U.) de vinte de dezembro de 2005 (que revogou o Decreto n.º 2.494, de 10 de fevereiro
de 1998, e o Decreto n.º 2.561, de 27 de abril de 1998) com normatização definida na Portaria
Ministerial n.º 4.361, de 2004 (que revogou a Portaria Ministerial n.º 301, de sete de abril de 1998).
De acordo com Nunes (1992 apud GEREMIAS, 2000), as experiências no Brasil em
EaD, são muitas, partindo dos órgãos públicos e das iniciativas privadas, envolvendo grande
número de pessoas e um dispêndio financeiro considerável. Porém, os resultados obtidos não foram
suficientes para superar as expectativas, tanto governamental como da sociedade de uma forma em
geral. Segundo o autor, as principais causas apontadas como fracassos são: “a descontinuidade dos
projetos, a falta de memória administrativa pública brasileira e certo receio em adotar
procedimentos rigorosos e científicos de avaliação dos programas e projetos” (NUNES, 1992 apud
GEREMIAS, 2000, p. 39).
Preti (1996) relata que no final do século XVIII, já eram vividas experiências educativas
a distância, a partir da segunda metade do século XIX se desenvolveram com êxito, com objetivos
claros de qualificação de mão-de-obra em função da crescente demanda oriunda da industrialização.
Já no século XX, ocorreu uma rápida expansão, sobretudo no ensino superior. A partir da década de
60 e 70, impulsionada por problemas na educação formal, pelo entusiasmo dos governantes em
relação à educação e concomitantemente a chegada do processo de democratização da sociedade,
aliados aos avanços tecnológicos na área da comunicação, a EaD vem caminhando a passos largos,
encontrando novas formas de educação.
GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
A temática acerca da formação em nível superior em Educação Física (EF) tem
promovido ao longo dos anos opiniões divergentes e polêmicas nos mais diversos aspectos, como
por exemplo, qual a grade curricular ideal, qual é a formação do profissional para o mercado e até
em relação ao próprio nome. Muitos destes questionamentos se devem também em relação à
dicotomia teoria-prática na EF (GHILARDI, 1998).
33 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas
práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde.
Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011.
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Conforme explica Gonçalves et al (2007), ao se estudar o contexto histórico da
Educação Física no Brasil, constata-se as constantes mudanças de concepções pedagógicas, que
estavam relacionadas diretamente com os momentos políticos e econômicos que o país vivia. O que
refletiu, evidenciando-se um dos grandes problemas existentes que é a falta de identidade do
profissional, “e conseqüentemente, o não reconhecimento da sociedade” (GONÇALVES et al;
2007, p. 495).
Segundo Betti (2005), após a 2ª guerra, o esporte entrou de forma vagarosa nas escolas e
posteriormente nas universidades como campo de pesquisa, onde o objetivo era o de intervir, com
embasamento científico, para maximizar o rendimento dos atletas.
De acordo com Manuel; Tani (1999), a EF tem uma tradição relativamente longa como
curso de preparação profissional. No primeiro momento, o objetivo era o de formar professores para
atuar no ensino formal, o que o caracterizava como um curso de licenciatura. Em função das
mudanças mercadológicas nos anos 80, onde uma parcela da população necessitava de outras
qualidades do profissional de EF, que não ficasse restrito apenas as ocupações tradicionais, ou seja,
como professor do ensino formal ou como técnico esportivo, surge o curso de bacharelado em EF, e
em algumas universidades o bacharelado em Esporte. Com a criação desses cursos, tornou-se
possível o atendimento a uma demanda de vários outros serviços e segmentos de mercado que o
típico licenciado não estava preparado para atender, e pelo fato de não estar preparado, abria a
possibilidade de um leigo atuar.
Surgem então, de acordo com o mesmo autor acima citado, algumas indagações:
•
Qual é o nosso objeto de estudo?
•
Como devemos estudá-lo?
•
Como deve se caracterizar a formação do profissional?
Para que se responda a essas questões e muitas outras que problematizam a formação do
profissional em EF, se faz necessário que tanto o licenciado quanto o graduado em EF, tenha a
noção exata de quais são os seus saberes, quais são as suas responsabilidades para com a sociedade
na disseminação do conhecimento teórico e prático, ambos embasados na produção do
conhecimento cientifico.
Corroborando com esse pensamento, Massa (2002) coloca como exemplo outras áreas
que possuem status profissional e social, como por exemplo, a engenharia e a medicina, que não são
tão questionadas e não precisam provar porque estão no ensino superior, pois são profissões
caracterizadas pela fundamentação acadêmica de suas práticas. Assim sendo, na medicina, se nos
relacionarmos com alunos e clientes, é necessário que se tenha conhecimento e embasamento
34 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas
práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde.
Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011.
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acadêmico e cientifico, caso contrário se igualam ao leigo ou ao oportunista e, traçando um
paralelo com a EF, os educadores físicos se igualam a qualquer um que conheça um pouco de regras
de modalidades esportivas, que repita seqüências de ginástica ou que tenha um apito na boca.
Verenguer (1997, p. 172) advoga que “os problemas relacionados a caracterização
profissional e às suas condutas, só poderão ser resolvidos se a atuação do profissional estiver
alicerçada em um suporte teórico proveniente de pesquisa”. E neste contexto, as universidades têm
uma grande parcela de responsabilidade, pois uma de suas principais funções é a formação de
recursos humanos que vão possibilitar o atendimento às necessidades da sociedade (GHILARDI,
1998).
De acordo com Verenguer (2007), ingressar em uma faculdade e em um curso
pretendido é motivo de grande alegria acompanhado de muita expectativa. Especificamente na EF,
a grande maioria dos jovens trazem uma visão pré-concebida sobre a profissão, sobre o profissional
e sobre o que vão aprender, visão esta que pode ser fruto de experiências esportivas ou escolares, o
que só faz aumentar a responsabilidade das universidades, que devem proporcionar um ambiente no
qual se possa refletir, superar, lapidar, criticar e, principalmente ampliar os saberes que os jovens
trazem consigo, com o objetivo de se conquistar um grau mais elevado e sofisticado de
profissionalização. Então todo o processo faz parte de uma grande engrenagem e, todos com suas
respectivas parcelas de participação, as instituições de ensino com suas responsabilidades
mencionadas acima, o corpo docente com a missão de transmitir os seus saberes para a formação do
profissional que o mercado busca e exige, e o próprio graduando, que também precisa se
comprometer para se tornar o profissional que a sociedade espera.
Segundo Verenguer (2007, p. 39), “a discussão sobre a profissionalização do docente
universitário passa a fazer parte da agenda daqueles envolvidos na reflexão sobre a qualidade do
ensino superior”.
Em uma profissão, as pessoas estão comprometidas com uma carreira, sendo a maneira
de executar o trabalho baseada no conhecimento (MANOEL; TANI, 1999). E o corpo docente
segue o mesmo caminho. A sua profissionalização reflete diretamente na qualidade do ensino. Na
mesma proporção que a sociedade exige mais dos profissionais que vão para o mercado, estes por
sua vez, precisão ter os seus conhecimentos ampliados, tornando-se um ciclo. E como subsídio para
ampliar os saberes dos graduandos, o corpo docente encontra à sua disposição uma grande aliada,
que é a tecnologia, e esta por sua vez, proporciona um novo modelo de educação, que vai exigir do
docente uma constante atualização nas novas ferramentas tecnológicas que surgem a todo o
momento no âmbito educacional.
35 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas
práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde.
Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011.
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OBJETO DE ESTUDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Segundo Peres (2001) a Educação Física ainda é uma disciplina que, na maior parte das
vezes é marginalizada, chegando até a ser excluída dos projetos pedagógicos de algumas escolas.
Existem ainda alguns profissionais que corroboram com esta situação ao afirmarem que deve ser
dada maior atenção, ênfase às outras disciplinas como matemática, português e ciências, por
exemplo.
Existe uma corrente que defende que a Educação Física está em busca da sua identidade,
e que o estágio atual em que se encontra é conseqüência das influencias recebidas ao longo dos
anos, e a história retrata as influencias da área médica, militar e desportista.
Simultaneamente com a influência militar, que primava pela hierarquia de controle de
movimentos, a influência médica marcou pelos princípios eugenistas e higienistas, o que significava
hábitos saudáveis, higiênicos e a idéia de se aprimorar a raça humana. Sendo estes os pensamentos
da época, resultavam em uma concepção de Educação Física como uma perspectiva biológica, que
primava pelo físico do ser humano, ou seja, o objetivo era formar o indivíduo perfeito, o homem
forte e saudável, e a mulher também, pois a mesma teria que gerar uma prole também saudável,
contribuindo para o progresso da humanidade. Após a 2ª guerra, começa a emergir o pensamento
desportivo, a relação entre professor-aluno tornava-se diferente, neste momento o professor assumia
o papel de treinador e o aluno de atleta, um período excludente, pois àqueles que não tinham
aptidão física eram marginalizados e consequentemente excluídos.
Segundo Daolio (2004) as concepções de Educação Física como sinônimos de aptidão
física, tecnicistas, eugenistas e higienistas, utilizadas durante décadas, apenas refletem a noção mais
geral do ser humano, uma visão exclusivamente biológica, que somente nos últimos anos começa a
ser ampliada.
A partir de uma revisão do conceito de corpo e considerando a dimensão cultural a ele
inerente, a Educação Física pode ampliar seus horizontes e seus saberes, para vir a ser uma área que
possa estudar o homem além de sua dimensão biológica e a sua cultura corporal de movimento.
Sendo o mesmo, um indivíduo inserido em um determinado contexto e em um determinado
momento histórico, e qualquer intervenção pedagógica deve levar em consideração todos estes
aspectos.
PERFIL DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Segundo Ghilardi (1998) a formação do profissional em Educação Física passou por
algumas reformulações ao longo dos anos, desde a sua origem nas Universidades, em função de
36 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas
práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde.
Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011.
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novas exigências do mercado de trabalho e de uma demanda por parte da sociedade. Dentre estas
reformulações, uma das mais importantes foi a criação do bacharelado em Educação Física,
formando um profissional diferente do licenciado, que tem como segmento de atuação o ensino
formal. O bacharel veio atender um outro nicho de mercado.
Este nicho de mercado era composto por academias, clubes, empresas, condomínios,
personal trainners, onde a atuação do profissional não consiste em somente executar habilidades,
mas em saber como e porque executa-las.
É mister que tanto o licenciado quanto o bacharel justifiquem a prática de qualquer
atividade motora e de qualquer movimento que envolva o corpo humano, em sua interação com o
meio. Os profissionais capazes somente de executar habilidades perdem espaço para os
profissionais que possuírem um conhecimento mais ampliado que faça compreender o homem e
seus movimentos nos mais variados contextos, levando ao seu cliente a dominar o próprio corpo em
movimento, tendo possibilidade e capacidade de solucionar os problemas motores que surgirem no
seu cotidiano.
ESPORTES COLETIVOS
Dentro das diversas classificações que se encontra na literatura, e sendo objetivo deste
trabalho, abordaremos duas categorias dos esportes. Apesar desta distribuição não incluir todas as
modalidades esportivas, envolve uma parcela importante do universo esportivo (GONZALES,
2004).
Segundo o mesmo autor, pode-se dizer que os critérios para essa classificação são:
•
Se existe ou não relação com o companheiro
•
Se existe ou não interação direta com o adversário
De acordo com Greco (2002, p. 62), “os jogos coletivos apresentam uma dualidade
constituída entre cooperação (entre jogadores da mesma equipe) e oposição (dos adversários) em
dois momentos do jogo, o ataque e a defesa”.
Segundo Gonzales (2004), de acordo com esses critérios, é possível classificar as
modalidades em individuais e coletivas, corroborando com Silva; Júnior (2005), quando utilizado o
critério relação com o companheiro ou com e sem a interação com o adversário.
Silva; De Rose Júnior (2005, p. 72) advogam que as modalidades esportivas coletivas
podem ser entendidas “como um confronto entre duas equipes, que se dispõem pelo terreno de jogo
e se movimentam de forma particular, com o objetivo de vencer”. São exemplos: basquete, futebol,
futsal, handebol e o voleibol.
37 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas
práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde.
Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011.
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Segundo Greco (2001) os esportes coletivos são considerados por crianças e
adolescentes, com uma das mais interessantes atividades recreativas. Fato que pode ser justificado
por vários fatores que são inerentes à modalidade, como por exemplo: companheirismo e rivalidade,
estratégias, incertezas e emoções. De acordo com o mesmo autor, “os jogos coletivos são atividades
ricas em situações imprevistas, que requisitam do praticante, respostas variadas, velozes, precisas,
complexas e muitas vezes realizadas sob pressão de tempo” (GRECO, 2001 p. 48).
Corroborando com o autor, Paula et al (2000, p. 13), diz que uma das características dos
esportes coletivos é a complexidade, e esta faz com que os atletas “tenham de ter uma permanente
atitude tático-estratégica para superar a imprevisibilidade estrutural que as situações do jogo
apresentam”.
Segundo Greco (2001), o esporte coletivo apresenta como referência a inter-relação
entre vários componentes: tempo, espaço, companheiros, adversário, bola, placar, objetivos e metas
a alcançar, que representa para o praticante um problema a ser superado.
Então as discussões sobre “o que fazer”, “quando fazer”, são imprescindíveis para a
compreensão do jogo, e que fazem parte do processo de ensino-aprendizagem-treinamento, onde se
ensina e treina os fundamentos, que são pertinentes a técnica (o que fazer) e o que está associado ao
cognitivo, que refere-se a tática (quando fazer). Todas as ações dos praticantes de jogos coletivos
devem ser analisadas do ponto de vista tático, pois permitem ao praticante se ordenar no tempo e no
espaço, na própria ação, considerar a ação do adversário, do colega, e de outros parâmetros que são
inerentes à situação de jogo (GRECO, 2001).
Diante da popularidade dos jogos esportivos coletivos, será que os mesmos são
considerados pelos professores de Educação Física e pelos treinadores como um tema atrativo e
simples de se aplicado nas aulas? (GRECO, 2001).
De acordo com Greco (1997), os resultados das diversas pesquisas sobre ensinoaprendizagem-treinamento permitem a utilização dos conhecimentos adquiridos para a
reformulação dos processos de ensino-aprendizagem-treinamento nos jogos coletivos, seja nas
escolas ou nos clubes, utilizando metodologias que sejam adequadas para cada fase e nível de
rendimento.
E essa reformulação de processos está também associada diretamente aos parâmetros
cognitivos, tais como: percepção, atenção, concentração, etc., que fazem parte do treinamento das
capacidades táticas. A formação do jovem acontece conforme suas necessidades, seus interesses e
sua maturidade. (GRECO, 1997).
Segundo Ribeiro; Volossovitch (2004, p. 15), o jogo desenvolve-se em um ambiente
onde “impera a instabilidade e a incerteza e onde emergem constantes apelos às capacidades
38 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas
práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde.
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decisórias dos atletas”, pois na verdade, encontram-se múltiplas soluções para os problemas que
surgem. Então a partir de uma grande variedade de alternativas que o jogo proporciona, o jogador
precisa decidir, em um curto espaço de tempo, o que fazer, para onde ir, ou seja, encontrar uma
resposta ideal, para a partir daí, saber qual habilidade utilizará, como por exemplo, arremessar ou
passar a bola, driblar ou chutar ao gol e também como agir para acabar com os planos táticos do
adversário (BOMPA, 2005).
Segundo o mesmo autor, tomar decisões no menor tempo possível é difícil para qualquer
jogador, independente do seu nível. Vai haver uma variação nas categorias, em função da
velocidade do jogo, quanto maior a categoria, mais rápido o jogo, e por conseqüência menor será o
tempo para tomar as decisões. Os jogadores devem estar sempre atentos, a “leitura” do jogo permite
tomar a decisão visando a melhor ação.
Segundo Ribas (2005, p. 104), o professor de Educação Física, deverá conhecer e
compreender melhor o que ensina. “Estrutura geral das atividades, tipos de interações,
características essenciais, processos de tomadas de decisões, entre outros conceitos, irão auxiliar o
professor no desenvolvimento do saber da EF.” O referido autor, faz indagações importantes: Será
que temos isso claro em nossa prática pedagógica quando nos deparamos com uma grande
quantidade de práticas da cultura corporal de movimento? Será que temos instrumentos suficientes
para fazermos esta mediação, organização, sistematização, reflexão e síntese das distintas práticas
da cultura corporal de movimento?
O que acontece, segundo o mesmo autor, é que às vezes o profissional de EF, ensina o
esporte, por exemplo, baseando-se no que viu nos livros, ou na sua experiência prática e não leva
em consideração a cultura corporal do movimento que poderia auxiliá-lo na criação das aulas. Os
esportes coletivos não requerem uma lógica específica. Claro que alguns jogadores têm uma maior
capacidade técnica que outros, mas não seria uma maior capacidade de variação dessas técnicas,
uma maior capacidade de avaliar situações problemas e tomar rapidamente as decisões o que os
difere dos demais?
Os esportes coletivos, tendo como características a cooperação e a oposição, ou seja, a
minha ação depende da ação dos companheiros e dos adversários, leva o praticante, a todo o
momento, a tomar decisões, em função dos companheiros e dos adversários (RIBAS, 2005).
Portanto, o praticante de esportes coletivos deverá ler e interpretar as informações vinda de seus
companheiros e adversários e, por outra via, emitir informações aos seus companheiros e
adversários, porém, para os companheiros, informações claras e para os adversários, informações
obscuras.
39 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas
práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde.
Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011.
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Ao entender melhor a dinâmica das atividades, ficará mais fácil a transmissão de
informação pelo professor de EF. Ao mesmo tempo, os próprios alunos e/ou atletas poderão criar as
suas formas de participação (RIBAS, 2005). Ou seja, o processo de ensino-aprendizagem poderá ser
construído com os próprios alunos. De acordo com o mesmo autor, nos esportes coletivos de forma
geral, a lógica interna da modalidade não é um conhecimento único do professor e, na medida do
possível, o aluno terá condições de compreender melhor essa lógica, participando diretamente na
construção do conhecimento e ampliar o seu universo, entendendo e refletindo sobre o que acontece
fora do esporte, mas que é inerente à modalidade, como problemas de violência no esporte, mídia,
política, diferenças salariais entre jogadores, patrocinadores e o mundo de interesses que cercam o
universo esportivo.
A construção do conhecimento não se faz de forma isolada (KUNZ, 1999). A
participação ativa do discente é parte fundamental no seu próprio processo de formação e, através
desta interação com os docentes – que têm os seus saberes alicerçados pelo conhecimento científico
– é possível alcançar uma educação de qualidade (CEZAR; OLIVEIRA, 2007).
GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA VS EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Relata Neto (2005) que de acordo com a abordagem de Piaget, o ser humano constrói
seu conhecimento e significados a partir das experiências e assimilação. “O indivíduo entende
novas experiências relacionando-as com as experiências anteriores” (NETO, 2005, p. 116). Ao se
defrontar com uma nova experiência, atual e esta não possuir relação com as experiências antigas,
ocorre um desequilíbrio.
A proposta pedagógica da graduação em Educação Física é clara no sentido de formar
educadores físicos e não atletas de alto rendimento. A construção dos saberes se idealiza e se
concretiza no “aprender para ensinar”. E como já foi discutido anteriormente, são muitas as
particularidades inerentes ao esporte, especificamente o coletivo. A construção do conhecimento do
graduando e também do próprio docente se dá através da interatividade, da troca de experiências e
da própria vivência no momento da aprendizagem.
Por outro lado, Geremias (2000, p. 13) afirmam que, “a EaD se apresenta na esfera
pedagógica como mais uma opção metodológica que, por ser relevante, merece nossa atenção”. E a
EaD também apresenta as suas particularidades, dentre elas podemos destacar a que talvez seja a
mais evidente, que é a separação física entre o aluno e o professor, e entre os próprios alunos. Estes
por sua vez, têm por característica o autodidatismo, a busca pela construção do seu próprio
conhecimento.
40 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas
práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde.
Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011.
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Ao correlacionarmos essas duas vertentes, a graduação em EF e a EaD, dúvidas surgirão,
pois cada uma delas possuem características bastantes específicas e que se contradizem em relação
à sua aplicabilidade. Como teríamos, por exemplo, o realismo das aulas práticas dos esportes
coletivos, se na EaD o aluno não se faz presente?
Podemos diante de tudo que foi aqui correlatado, entender que a EaD não é capaz de
gerar reações imprevistas e imediatas que para o ensino-aprendizagem dos esportes coletivos é de
suma relevância. No EaD não tem como o professor perceber estas reações para que o mesmo possa
mudar sua metodologia de ensinar. Isso nos faz questionar: seria então a EAD eficaz para o ensino
dos esportes coletivos nos cursos de Graduação em Educação Física?
Santos; Rodrigues (1999) corroboram quando dizem que uma das principais diferenças
da EaD em relação à educação presencial, é que o professor a distância, perde toda a percepção que
ele facilmente tem na aula presencial sobre o estado dos alunos se estão confusos, dispersos,
frustrados, etc. E além disso ele tem condições de gerar situações de imprevisibilidade, presentes no
esporte coletivo, para que os alunos coloquem em prática a tomada de decisão, questão presente a
todo o momento nos esportes coletivos. Já o professor a distância pode nem sequer saber se os
alunos estão presentes, dificultando assim uma avaliação fidedigna do processo ensino
aprendizagem das técnicas e táticas dos esportes coletivos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo Preti (1999) hoje, inegavelmente está comprovada a eficácia da EaD, o que não
quer dizer que não cabe questionamentos e que a mesma deve sempre se aprimorar. Existem
estudos que apontam os aspectos positivos e negativos da EaD, porém, é importante que entenda a
EaD como uma ferramenta a mais no processo pedagógico, capaz de oferecer um serviço de
qualidade, acesso ao ensino superior, além de se constituir como uma forma de democratização do
saber. De acordo com o autor, em alguns países a EaD já é reconhecida por suas qualidades, sendo
considerada como a educação do futuro, de uma sociedade mediatizada pelos processos
informativos.
De acordo com Geremias (2000), o processo pedagógico vem sofrendo alterações, pois
são utilizados os recursos tecnológicos no auxílio à educação. E sempre que a tecnologia avança, o
processo educacional se altera para acompanhar este avanço, o que obriga uma adequação
tecnológica na educação.
41 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas
práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde.
Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011.
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Por outro lado, existe uma crescente demanda social e mercadológica de formação
profissional, qualificação e especialização nos mais diversos segmentos. O que só faz aumentar a
responsabilidade dos governantes e das instituições de ensino em todos os níveis.
Preti (1996) corrobora dizendo que com a crescente demanda por educação, em função
de uma série de fatores, tais como: expansão populacional, luta das classes trabalhadoras por
educação, ao saber social e em paralelo, a evolução dos conhecimentos científicos e tecnológicos,
estão exigindo mudanças no nível funcional e estrutural das escolas e universidades.
Do ponto de vista econômico/financeiro ou mercadológico, a lei da procura e da oferta
se aplica no estudo abordado, ou seja, existe uma crescente demanda por formação, qualificação e
especialização, e existe também, cada vez mais, a oferta por partes das instituições de ensino, que
buscam captar o maior número de alunos, oferecendo um ensino de qualidade. Do ponto de vista
pedagógico e educacional, cabem algumas ressalvas. Aulas caracterizadas como práticas, que é o
caso das aulas de esportes coletivos na graduação em EF, são atendidas na sua plenitude pela EaD?
Se na EaD os alunos não se fazem presentes, onde e como abordar a vivência prática que é parte
fundamental no processo de produção do conhecimento?
A troca de experiência e a interatividade, mesmo que remotamente, acontecem, pois
fazem parte do contexto da EaD, então nestes momentos o ocorre a produção do conhecimento, e
não cabe questionamentos, mas e quanto aos momentos que exigem a aprendizagem da técnica e da
tática no esporte coletivo? Dando uma maior ênfase à questão tática, que sua aprendizagem se
concretiza nas tomadas de decisão.
Fica então, como sugestão, pontos para serem abordados em futuros estudos nas
questões técnicas da EaD, o que ainda a tecnologia pode ofertar à EaD para contemplar estas
questões, por exemplo estudos sobre realidade virtual, se a mesma oferece recursos que possam
realmente aproximar da realidade, se financeiramente é viável uma proposta embasada nesta
tecnologia, tanto para as instituições quanto para os alunos.
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42 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas
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45 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de.
A importância do diagnóstico precoce das disfunções neuromotoras na recuperação motora em bebês
prematuros. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go.
Vol. 02, nº 05, 45-57, Jan. 2011/Jun 2011.
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A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE DAS DISFUNÇÕES
NEUROMOTORAS NA RECUPERAÇÃO MOTORA EM BEBÊS
PREMATUROS
Maria do Céu Pereira Gonçalves1, Vernon Furtado da Silva2, Andrea Rebeca Oliveira de Paula3
Resumo:
O presente estudo investigou os efeitos do
programa ISME na recuperação motora de
bebês prematuros portadores de disfunções
neuromotoras, quando o diagnóstico é
realizado precocemente, e comparar os
resultados com os resultados de 2001.
Participaram do estudo atual 182 pré-termos
nascidos abaixo de 36 semanas, que ao
exame neurocomportamental (com testagem
voltada para o tônus muscular e
movimentação espontânea), apresentaram
sinais de lesão do sistema nervoso central
incluindo:
hipertonia,
resistência
à
movimentação passiva, sinal da roda
denteada e reflexos patológicos, todos com
historia de síndrome hipóxico-isquêmica. Os
pontos primordiais de análise foram: as
idades
de
aquisição
das
etapas
neuroevolutivas do desenvolvimento motor.
O Programa foi implantado na UTIN logo
após identificação dos sinais sugestivos de
Paralisia Cerebral, e foi continuado no
ambulatório intervencional, até que os bebês
adquirissem a marcha ativa. Os dados
obtidos foram tratados através de estatística
descritiva Os dados em termos percentuais
finais foram de 173 pré-termos (95,1%)
apresentando normalidade nas etapas do
desenvolvimento motor no período proposto
na escala de Denver II e, aos 12 meses de
idade corrigida, apresentaram marcha ativa
1
Abstract:
The present study investigated the effects of
the
ISME
program
in
neuromotor
rehabilitation on the motor development of
premature babies who underwent neuromotor
dysfunctions, when the diagnostic is realized
precociously and to compare with the result of
another study realized on the year 2001. Take
part of the present study 182 premature babies
with age under to 36 pregnant weeks and in
the Physical neurological exam, presented
signals of the CNS lesion. The investigation
(including muscle tonus, resistance to passive
movement, spontaneous movements and
pathologic reflexes) showed hypertonic
musculature with resistance to passive
movement of all extremities, persistence of
primitive
reflexes,
manifestation
of
pathological tonic reflexes, lack of righting
and balance reactions, all of them with history
of hypoxic-ischemic syndrome. The primary
points of analysis were: ages of acquisition of
neuroevolutive motor development steps. The
program was deployed in the NICU after
identifying signs suggestive of Cerebral Palsy,
and
was
continued
in
outpatient
intervencional, until the babies got the
actively gait. The data obtained were handled
through descriptive statistics data in
percentage terms were 173 final pre-terms
(95.1%) showing normality in steps of motor
development in the period proposed in Denver
Fisioterapeuta, Mestre em Ciência da Motricidade Humana, Especialista Neurofuncional, Especialista em
Psicomotricidade, Instrutora do Conceito Bobath. Fundação Municipal de Petrópolis, Profª Depto. de Fisioterapia da
Universidade Estácio de Sá.
2
Ph.D, Universidade Castelo Branco.
3
Fisioterapeuta, Especialista Neurofuncional -RJ.
46 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de.
A importância do diagnóstico precoce das disfunções neuromotoras na recuperação motora em bebês
prematuros. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go.
Vol. 02, nº 05, 45-57, Jan. 2011/Jun 2011.
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com padrões de postura estática e dinâmica
dentro da referencia normal, além da
presença normal do mecanismo reflexo
postural (reajuste automático). E 9 prétermos (4,9%) mantiveram persistência dos
sinais patológicos não adquirindo as etapas
neuroevolutivas. Estes percentuais quando
comparados aos resultados encontrados no
trabalho realizado no ano de 2001, onde
participaram 69 pré-termos, sendo que 66
bebês (95,6%) apresentaram normalidade
relativamente às etapas neuroevolutivas do
desenvolvimento motor em bebês prematuros
portadores de disfunções neuromotoras, e
somente 3 pré-termos (4,4%) apresentaram
persistência dos padrões patológicos. Estes
dados nos permitem concluir que o programa
ISME se mostra eficaz na recuperação
motora de prematuros portadores de
disfunções neuromotoras desde que o
diagnóstico seja realizado precocemente.
Palavras-Chave:
Intervenção Sensório-Motora Essencial;
Intervenção
Neonatal;
Disfunções
Neuromotoras; Desenvolvimento Motor;
Diagnóstico Precoce; Prematuridade.
II and scale, to 12 months of corrected age,
submitted gait activates with patterns of static
and dynamic posture within the normal
reference, with normal postural reflex
mechanism (automatic adjustment). And 9
pre-terms (4.9%) continued persistence of
pathological signs not acquiring steps
neuroevolutivas. These percentage when
compared to the results found in the work
carried out in 2001, attended by 69 pre-terms,
with 66 babies (95.6%) showed respect
normality neuroevolutivas steps of motor
development
in
premature
babies
neuromotoras dysfunctions and only 3 preterms (4.4%) showed persistence of
pathological patterns. These data allow us to
conclude that the ISME program proves
effective in recovery premature bearing motor
dysfunctions neuromotoras since the diagnosis
is carried out prematurely.
Key-Words:
Prematurity, Hipoxic-Ischemic Syndrome,
NICU Interventions, Early Intervention
Program, Sensory-Motor Development, Age
apropriate to Intervention, Neuromotor
Development Stages, Early Diagnosis;
ISME.
INTRODUÇÃO
O desenvolvimento motor normal é constituído pela aquisição das etapas
neuroevolutivas, os marcos motores (controle de cabeça, sentar, engatinhar, levantar-se e andar).
Este aprendizado se processa através da formação de esquemas motores e engramas sensoriais1,
possibilitados pela maturação do cérebro intacto; pela interação com o meio; pelo estado
motivacional e pelas habilidades cognitivas2.
Na presença de lesão do Sistema Nervoso Central (S.N.C.), devido ao quantitativo de
áreas associadas à motricidade, no cérebro, quase sempre uma lesão cerebral, tende a interferir
negativamente no desempenho motor do indivíduo3,4,5,6,7,8,9,10,11 e nos bebês prematuros, interfere no
desenvolvimento neuro-psico-motor levando ao aparecimento de disfunções neuromotoras.
A literatura afirma que os bebês que nascem prematuramente são mais susceptíveis as
lesões do SNC devido à imaturidade do sistema nervoso central e a fragilidade da rede vascular
47 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de.
A importância do diagnóstico precoce das disfunções neuromotoras na recuperação motora em bebês
prematuros. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go.
Vol. 02, nº 05, 45-57, Jan. 2011/Jun 2011.
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cerebral. Atualmente observa-se que esta população vem aumentando devido aos grandes avanços
da alta tecnologia das Unidades de Terapia Intensiva – UTIs neonatais, tanto em termos de
aparelhos e medicamentos, quanto em melhor capacitação dos profissionais cada vez mais
especializados, possibilitando, assim a preservação da vida do pré-termo de risco12,13.
Entretanto, esta condição aumenta também assim o numero de bebês de alto risco que
sofreram a síndrome hipóxico-isquêmica. A aproximadamente de 25% a 30% dos prematuros de
alto risco desenvolvem alguma forma de disfunções neuromotoras nos primeiros meses de vida14,15.
Frente a esta situação, e em função da grande importância do diagnóstico precoce, vários
protocolos de avaliação foram criados, dentre eles: Brazelton16; Amiel Tison17, Dubowitz e
Dubowitz7, Gonçalves18. Assim como, várias propostas de intervenção motora foram implantadas,
com o objetivo de minimizar e/ou prevenir a instalação indevida de padrões motores, os protocolos
apresentaram resultados significativos19,20,21,14,22. Porém nenhum destes programas intervencionais
propôs a intervenção sensório-motora na forma de exercícios, requisitando do recém-nato
prematuro respostas corporais ativas.
O programa de Intervenção Sensório-Motora Essencial (ISME)13 propõem que a
intervenção seja iniciada antes que o bebê experimente e automatize os movimentos patológicos,
para que este possibilite a aquisição das etapas neuroevolutivas que constituem o desenvolvimento
motor normal, em prematuros portadores de disfunções neuromotoras decorrentes da Paralisia
Cerebral, obtive resultado altamente significativo quanto a aquisição das etapas neuroevolutivas.
Onde 95,6% dos bebês tratados pelo programa ISME apresentou marcha independente com padrões
de movimentos estáticos e dinâmicos dentro da normalidade e somente 4,4% mantiveram a
persistência dos padrões patológicos. Frente a estes resultados, entende-se, ser de fundamental
importância reavaliar os resultados do obtidos pelo programa ISME em outro período para
determinar a eficácia do programa.
MATERIAIS E MÉTODOS
A população deste estudo foi composta de bebês prematuros que necessitaram de
cuidados especiais, tendo que permanecer na UTI neonatal do Hospital Alcides Carneiro do
Município de Petrópolis. Foi realizada uma amostra ocasional, composta de 348 bebês pré-termos,
nascidos abaixo de 36 semanas, que no período neonatal apresentaram sinais positivos da síndrome
hipóxico-isquêmica, no exame neurocomportamental, foram encontrados sinais de lesão do sistema
nervoso central tais como: hipertonia, resistência à movimentação passiva, sinal da roda denteada,
48 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de.
A importância do diagnóstico precoce das disfunções neuromotoras na recuperação motora em bebês
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Vol. 02, nº 05, 45-57, Jan. 2011/Jun 2011.
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reflexos patológicos, ausência ou alteração dos reflexos primitivos e das reações de endireitamento
normais à idade, desorganização comportamental e irritabilidade. O critério de exclusão utilizado
neste estudo foi não apresentar sinais de lesão do SNC e a não assiduidade ao programa e o não
seguimento da rotina quanto as orientações do programa ISME no período de Julho/2000 a
Junho/2005.
INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
ESCALA DE SINAIS NEUROLÓGICOS DE DUBOWITZ E COLS. (1970)23
Este protocolo é consistido de 10 itens: Observação da postura em supino;
Verificação da extensibilidade do punho (nesta pesquisa foi utilizada a verificação da
extensibilidade da flexão dorsal do punho); Dorsiflexão do pé; Retorno da flexão do braço; Retorno
da flexão da perna; Ângulo poplíteo; Calcanhar-orelha; Sinal do cachecol; Sentado observar a
queda da cabeça; A suspensão ventral foi substituída pela observação da reação labiríntica de
retificação na postura em prono.
TESTE DE TÔNUS POSTURAL DO CONCEITO BOBATH24
Trata-se de um teste de alta validação (validação lógica) editada por Berta Bobath
desde os anos 50 e ainda preconizado em todos os cursos de aperfeiçoamento do Conceito
Neuroevolutivo (com reconhecimento mundial), sendo utilizado nos cinco continentes como
instrumento de avaliação de tônus postural por todos os terapeutas do conceito neuro-evolutivo.
Este teste permite a identificação do tipo de tônus muscular, pela avaliação das adaptações dos
músculos “variando as atitudes”, pelos padrões posturais normais impostos nos músculos. Berta
Bobath (1986) preconizava que o tipo tônus muscular deve ser avaliado através de padrões posturais
e não pelo teste da resistência do músculo ao estiramento. Pode-se encontrar: a) se a atividade
reflexa postural é normal, rápida e imediato ajuste do músculo para as mudanças posturais; b) se a
espasticidade e rigidez estão presentes, resistência às mudanças de postura e atraso no ajuste das
reações; c) se a atetose está presente, intermitente resistência dos músculos para mudanças
49 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de.
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Vol. 02, nº 05, 45-57, Jan. 2011/Jun 2011.
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posturais, alternando com completa ausência de resistência; d) se a flacidez está presente, falta de
resistência e hiperextensibilidade das articulações nas mudanças dos padrões posturais. Entretanto,
este teste pode ser executado e analisado em concomitância com o teste dos sinais neurológicos de
Dubowitz23.
TABELA DAS REAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO
Esta tabela referencial foi elaborada pelos autores: André-Thomas, Dargassies,
Illingworth e Minkowski. Mais de 70 reflexos primitivos já foram detectados no período neonatal25.
Porém foram selecionados, os mais significativos em termos de ontogênese da motricidade. Tais
como: moro; galant; reflexo tônico cervical assimétrico; reação positiva de suporte; marcha
automática; preensão palmar e plantar; reação cervical de retificação; reação corporal de retificação;
reação labiríntica de retificação; landau; reação de extensão protetora dos braços para frente, para os
lados e para trás; reação de colocação dos braços e das pernas; astasia; sucção. Esta tabela tem
validade lógica sendo utilizado, como instrumento de avaliação por todos os profissionais
desenvolvimentistas.
ESCALA EVOLUTIVA DO DESENVOLVIMENTO MOTOR DE DENVER II
Esta escala foi revista por Frankenburg e Dodds26, em 1992, tendo sido utilizado
somente o protocolo do desenvolvimento motor, (assunto pertinente da pesquisa). Esta tabela
preconiza que o bebê deve apresentar as etapas neuroevolutivas do desenvolvimento motor nos
referidos períodos: controle da cabeça entre o 3º/5º mês; sentar sem apoio entre o 6º/9º mês;
engatinhar entre o 8º/11º mês e andar sozinho entre o 12º/14º mês. Esta escala obteve validade por
critério, com índice de 0.9927.
50 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de.
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PROCEDIMENTOS DE DIAGNOSE
Foi aplicado o teste dos sinais neurológicos de Dubowitz23 na UTI neonatal, teste de
tônus postural (Bobath), pesquisa dos reflexos primitivos, analise da tabela do Ballard para indicar a
idade cronológica do pré-termo e as condições de nascimento através do Apgar. Selecionando os
recém-natos prematuros que apresentavam os sinais positivos sugestivos da disfunção neuromotora.
PROCEDIMENTO DE INTERVENÇÃO
O programa ISME foi iniciado na UTIN intermediaria, depois no alojamento (materno
infantil) sendo feito 2 sessões semanais com duração de vinte minutos, respeitando o estado geral
do recém-nato principalmente os estados da consciência28 e monitorando o bebê pela abordagem
síncrono-ativa29.
Após a alta hospitalar, no 1º mês de tratamento ambulatorial foi feito 1 sessão semanal, e
a partir do 2º mês foram feitas duas sessões semanais. As sessões intervencionais até os 6 meses de
idade corrigida tiveram o tempo de duração de 30 minutos, onde, o principal objetivo foi a
normalização do tônus e a entrada das reações automáticas. Após os 6 meses tiveram a duração em
media de 40 minutos, o atendimento foi realizado em conjunto com outros educadores, cada qual
com um bebê, onde as idades variaram de 6 a 12 meses; nesta fase se estabelece o processo
intervencional, objetivando o ganho das etapas do desenvolvimento motor, inerentes a idade
corrigida do bebê. O educador exerceu dois papeis fundamentais: de facilitador do movimento
propriamente dito, e facilitador da interação do bebê com o objeto, com o outro, e com o meio,
sendo por tanto assim, facilitador da motricidade. Estes prematuros após receberem alta fisioterapia
por volta de 13 meses de idade corrigida, foram mantidos em follow-up com re-testagem aos 18
meses, aos 2 anos, aos 3 anos, para controle dos padrões motores. O follow-up será mantido até os 7
anos de idade.
PROCEDIMENTO DO PROGRAMA ISME
Este instrumento de intervenção é um programa de Exercícios Sensório-Motores
Essenciais, que pode ser aplicado a partir da 33ª semana de idade gestacional se o bebê estiver
clinicamente estável. O programa ISME é fundamentado e teorizado a partir dos fundamentos da
51 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de.
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neuroplasticidade humana, no Conceito Bobath, na osteopatia, com abordagem psicomotora, onde a
MOTIVAÇÃO e a INTERAÇÃO têm que estar presentes.
Tem como principais objetivos: a) Facilitar a entrada das reações automáticas, inibindo
simultaneamente os padrões motores patológicos; b) Promover a entrada da aquisição das etapas
neuroevolutivas e a integração dos reflexos primitivos; c) Promover a formação e a experimentação
de programas motores normais (plasticidade neuronal); d) Promover tônus adequado para otimizar a
função respiratória (principalmente na fase neonatal).
TRATAMENTO ESTATÍSTICO
Para responder as questões instituídas na presente pesquisa, os dados utilizados foram
tratados através de estatística descritiva.
RESULTADOS
Os resultados obtidos estão demonstrados na (Fig.1 e 2) e nas figuras com a plotagem
referida ao desfecho dos resultados da pesquisa.
350
348
300
250
200
182
150
142
100
50
21
3
0
Inicia ra m o
protocolo
Cum prira m o
protocolo
Aba ndono de
protocolo
Enca m inha dos a
outra s clinica s
Óbitos
Figura 1 – Apresentação do quantitativo da população estudada quanto ao desfecho dos mesmos em relação a aderência
ou não ao protocolo de tratamento fisioterapêutico.
52 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de.
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No período estudado deram entrada no ambulatório de fisioterapia pediátrica 348 bebês
encaminhados pelo hospital Alcides Carneiro, ainda no primeiro mês após a alta hospitalar. Destes
182 bebês cumpriram com toda a rotina do programa ISME, com assiduidade e seguindo todas as
orientações do programa. Um grupo de 142 bebês abandonaram o tratamento, 21 bebês foram
encaminhados a outras clínicas e 3 bebês foram a óbito durante o período estudado (Fig.1).
4,9%
Instalação do
desenvolvimento
motor normal
Persistência de
padrões motores
patológicos
95,1%
Figura 2 – Resultados obtidos com a implantação do Programa ISME, na recuperação motora de prematuros portadores
de disfunções neuromotoras diagnosticadas precocemente.
Em relação aos resultados relativos ao desfecho do grupo de bebês que cumpriram todas
as normas do programa ISME, estes dados serão apresentados em termos percentuais finais. Dos
182 bebês que cumpriram o protocolo, 173 pré-termos (95.1%) apresentaram normalidade nas
etapas do desenvolvimento motor no período proposto na escala de Denver II e, aos 12 meses de
idade corrigida, adquiriram marcha independente com os padrões motores dentre da normalidade.
Esta normalidade foi demonstrada através da presença de padrões de postura estática e dinâmica
dentro da referência normal, além de presença normal do mecanismo de reflexo postural
(mecanismo de reajuste automático). Do grupo que aderiu totalmente o programa, somente 9 prétermos
(4.9%)
não
revelaram
os padrões motores dentro da normalidade, observando-se
persistência dos padrões motores patológicos e dos reflexos e reações primitivas (Fig. 2).
Para uma melhor visualização da comparação dos resultados obtidos nos dois períodos
do estudo, estes serão apresentados na tabela 1.
53 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de.
A importância do diagnóstico precoce das disfunções neuromotoras na recuperação motora em bebês
prematuros. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go.
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Tabela 1: Distribuição por percentual dos resultados do programa ISME obtidos em períodos distintos.
Períodos do estudo
Junho/1995-junho/2000
Julho/2000-junho/2005
N/%
N/%
Iniciaram protocolo
110 (100%)
348 (100%)
Cumpriram o protocolo
69 (72.72%)
182 (52.3%)
Abandonaram
41 (27.28%)
142 (40.8%)
Encaminhados a outras Clinicas
0
21 (6.04%)
Óbitos
0
3 (0.86%)
66 (95.6%)
173 (95.1%)
3 (4.4%)
9 (4.9%)
Recuperação total dos padrões motores
Persistência dos padrões patológicos
DISCUSSÃO
Em primeira instância, convém observar o quantitativo de entrada e saída do programa
de intervenção usado no estudo (implantado no sistema único de saúde no município de Petrópolis,
desde 1995), o que demonstra uma satisfatória permanência dos prematuros dela participantes,
conforme pode se observar na figura 1.
Diante os resultados encontrados neste estudo, comparando-os com os resultados dos
estudos realizados por Gonçalves & Silva (2001), onde participaram 69 pré-termos, sendo que 66
bebês
(95,6%)
apresentaram
normalidade
relativamente
às
etapas
neuroevolutivas
do
desenvolvimento motor em bebês prematuros portadores de disfunções neuromotoras, e somente 3
pré-termos (4,4%) apresentaram persistência dos padrões patológicos, estes apresentavam alem da
paralisia cerebral distúrbios associados tais como: malformação do tipo de microcefalia; atrofia dos
lóbulos frontais; do corpo caloso; epilepsia de difícil controle; déficit cognitivo e/ou visual; ou a
associação de vários deles. Estes sinais também estavam presentes nos bebês do presente estudo que
não recuperaram os padrões motores e mantiveram os padrões de movimento patológicos.
Em outro estudo realizado por Gonçalves & Silva30, no qual foram excluídos os bebês
que apresentavam problemas associados a disfunção neuromotora, 100% dos bebês que tiveram o
diagnóstico realizado precocemente e iniciaram o tratamento interventivo imediatamente desde a
UTIN, apresentaram recuperação total das disfunções neuromotoras, os quais receberam alta
fisioterápica aos 13 meses de idade corrigida.
Observa-se que os resultados obtidos se mostram altamente significativos, visto que em
todos os trabalhos realizados pela autora os bebês que tiveram o diagnóstico das disfunções
54 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de.
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neuromotoras realizado precocemente e iniciaram o programa ISME ainda dentro da UTIN,
apresentaram recuperação total dos distúrbios motores com percentuais acima de 95% dos casos.
Não tendo sido encontrado na literatura dados tão significativos de ganhos obtidos com este
objetivo.
Pode-se observar que o numero
de bebês do presente estudo aumentou
significativamente quando comparado com o estudo realizado pela autora em 2001, isto se deu ao
fato do aumento do numero de vagas na UTI neonatal do Município de Petrópolis. Importante
ressaltar que mesmo com o aumento significativo de bebês, o percentual de recuperação total dos
padrões motores foi praticamente o mesmo, tendo um declínio 0.4%, caindo de 95.6% para 95.1%.
CONCLUSÃO
Com base nos resultados mostrados neste estudo pode-se concluir que houve grande
significância na obtenção da reabilitação total dos padrões motores nos pré-termos que tiveram o
SNC lesado no período pré-natal ou neonatal. Que conseguiram adquirir as etapas neuroevolutivas
necessárias ao desenvolvimento motor, quando a implantação do programa ISME foi iniciada, já na
UTI neonatal. Desde que os pré-termos não apresentem associada à síndrome hipóxico-isquêmica,
déficit cognitivo, microcefalia frontal, epilepsia fora de controle, outras síndromes, descontinuidade
no tratamento, e o diagnóstico tenha sido realizado precocemente.
Em função de o programa ISME preconizar a intervenção imediata, desde a UTI
neonatal é possível promover a integração dos reflexos primitivos, a inibição total da espasticidade
e dos reflexos patológicos, permitindo assim o aprendizado das etapas do desenvolvimento motor.
Ao contrário do que se preconiza na reabilitação pediátrica, a qual propõe o inicio da intervenção a
partir do 3º ou 4º mês de vida, alegando que o tratamento fisioterapeutico antes deste período possa
ser agressivo ao SNC, fato este não observado nas pesquisas realizadas pela autora.
Entretanto, também se pode concluir que a presença de problemas associados aos
distúrbios neuromotores, que envolvam os estados da motivação, cognição e epilepsia fora de
controle, ser de caráter incisivo para o não sucesso do programa ISME quanto ao ganho da
aquisição das etapas do desenvolvimento motor normal.
Acreditamos que como o programa ISME teve início antes do bebê atingir 40 semanas
de idade gestacional, isto sugere que realmente pode e deve-se intervir desde o nascimento, tão
imediato quanto à identificação dos sinais neurológicos. Isto sugere também, que a plasticidade
neuronal do bebê é muito rica com relação à possibilidade da ampliação das árvores dendríticas, e
55 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de.
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que a eficiência deste trabalho tenha sido possível porque nesta fase de vida, em que preconizamos
o inicio do programa ISME o organismo neuromotor ainda não experimentou o movimento
patológico, não criando assim o esquema motor deste movimento. E que, através da ampliação da
arborização dendríticas, que é estimulada através dos exercícios sensório-motores essenciais, cria-se
então novos esquemas motores promovendo o desenvolvimento das etapas motoras.
Utilizando-se também como base os resultados mostrados nestes estudos, pode-se
concluir que a intervenção imediata pelo programa ISME promove a recuperação total dos padrões
motores associados aos atos de controle de cabeça, sentar, engatinhar e andar dos pré-termos
participantes destes trabalhos, que tiveram o SNC lesado no período pré-natal ou neonatal. Estes
conseguiram adquirir as etapas neuro-evolutivas necessárias ao desenvolvimento motor, desde que
os pré-termos não apresentem associada à síndrome hipóxico-isquêmica, déficit cognitivo,
microcefalia frontal, epilepsia fora de controle e outras síndromes, ou tivessem seus diagnósticos
realizados tardiamente.
Com a implantação do programa ISME desde a UTI neonatal, e o diagnóstico realizado
precocemente foram otimizadas condições junto a integração dos reflexos primitivos, inibição total
da espasticidade e dos reflexos patológicos, permitindo assim o aprendizado de novos programas
motores necessários para a aquisição das etapas do desenvolvimento motor.
De acordo com a literatura utilizada, o modelo de intervenção imediata ainda não tinha
sido experimentado por outros pesquisadores, embora exista uma vasta literatura abordando o tema
de intervenção precoce nas UTI neonatais, nenhuma delas ousou em propor uma terapia, na qual o
recém-nato pré-termo tivesse que responder com respostas ativas aos programas intervencionais. O
programa proposto ISME preocupa-se de forma intensiva para que estes bebês não atingissem
nenhuma forma de estresse.
Quanto ao período de quatorze meses de intervenção mostrou-se suficiente para todos os
bebês que participaram dos estudos, para que atingissem todas as etapas do desenvolvimento motor
no período propício, proposto na grande maioria de tabelas de desenvolvimento motor normal, com
a instalação de todas as reações e reflexos normais à idade corrigida, e por volta do 13º mês de
idade corrigida, apresentando uso funcional dos braços, com execução de todas as mudanças de
postura ativamente (como: passar para sentado, para gatas, engatinhar, passar para de pé, ficar de pé
e andar), assim como a normalização dos padrões de movimento na situação estática e dinâmica,
com a manifestação do mecanismo de reajuste postural automático.
Os resultados encontrados comparados a Escala de Denver II, relativos ao
desenvolvimento motor, sugerem que de fato o cérebro lesado também é capaz de aprender, novos
56 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de.
A importância do diagnóstico precoce das disfunções neuromotoras na recuperação motora em bebês
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Vol. 02, nº 05, 45-57, Jan. 2011/Jun 2011.
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programas motores, uma vez que não tenha automatizado o padrão patológico, confirmando assim,
a capacidade de reorganização neural progressiva e extensiva o suficiente para “normatizar” o
compêndio operacional da funcionalidade neuromotora, através da ampliação da arborização
dendrítica, possibilitada pela plasticidade neuronal.
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57 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de.
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prematuros. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go.
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58 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SIMÕES, Pamela Paiva Gouveia; VIEIRA, Elisangela Teixeira.
Influências do meio socioeconômico e familiar como fator de risco do atraso no desenvolvimento
psicomotor: estudo piloto. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá.
Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011.
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INFLUÊNCIAS DO MEIO SOCIOECONÔMICO E FAMILIAR COMO
FATOR DE RISCO DO ATRASO NO DESENVOLVIMENTO
PSICOMOTOR: ESTUDO PILOTO
Maria do Céu Pereira Gonçalves, Pamela Paiva Gouveia Simões, Elisangela Teixeira Vieira1.
Resumo:
Abstract:
Observa-se grande demanda de crianças com
atraso no desenvolvimento psicomotor sem
justificativa neurológica.
A profissão,
escolaridade
materna,
renda
baixa,
estimulação inadequada são fatores que
podem levar ao atraso psicomotor. Porém,
um só fator não seria causa do atraso. Quanto
mais precoce forem realizados o diagnóstico
e a intervenção, menor será o impacto na
vida dessas crianças. Objetivo: Identificar
possíveis
causas
do
atraso
no
desenvolvimento psicomotor em crianças não
neuropatas. Metodologia: Foram estudadas
12 crianças não neuropatas, sem síndromes,
com idades entre seis meses e três anos,
nascidos acima de 37 semanas gestacionais e
com atraso no desenvolvimento psicomotor.
Todas incluídas no Projeto de Estimulação
Psicomotora da UNESA em Petrópolis-RJ de
janeiro a outubro de 2007. Para a coleta de
dados, foi elaborado um questionário
contendo os dados da criança e dos pais, a
renda familiar e a vida familiar, escolar e
afetiva da criança. Resultados: A maioria dos
pais apresentou nível de escolaridade baixo,
tendo os pais nível de escolaridade menor
(50% cursaram até a 5ª série) do que as mães
(42% cursaram 6ª à 8ª série). A maioria dos
pais encontra-se trabalhando informalmente
(58%) e a maioria das mães não trabalha
(75%), sendo a mãe o indivíduo que exerce
maior influência na vida da criança.
Nenhuma criança freqüenta creche ou
colégio. A maioria das crianças (51%) dorme
There is great demand for kids with delay in
psychomotor
development
without
neurological justification. The profession,
maternal schooling, low-income, inadequate
stimulation are factors that can lead to
psychomotor retardation. However, one
factor would not be cause for the delay.
How much more are conducted early
diagnosis and intervention, the less impact
on the lives of these children. Goal: identify
possible causes of delay in psychomotor
development in children without neurologic
signs. Methodology: 12 children were
studied, without syndromes and neurologic
injuries, aged between six months and three
years, born above 37 weeks of gestation and
with delay in psychomotor development. All
included in the project of Psychomotor
Stimulation of UNESA in Petropolis-RJ
from January to October 2007. For
collecting
data
was
elaborated
a
questionnaire containing the data of the
child and parents, the family income and
family life, child's school and affective.
Results: most parents presented low
schooling level, having educated parents less
(50% received until the 5th series) than
mothers (42% received a 6th to 8th grade).
Most parents find themselves working
informally (58%) and most mothers don't
work (75%), being the mother the individual
who exerts greater influence in the life of the
child. No child attends day care or school.
Most children (51%) sleep 10 to 13 hours
1
Universidade Estácio de Sá, Petrópolis, Rio de Janeiro.
59 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SIMÕES, Pamela Paiva Gouveia; VIEIRA, Elisangela Teixeira.
Influências do meio socioeconômico e familiar como fator de risco do atraso no desenvolvimento
psicomotor: estudo piloto. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá.
Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011.
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de 10 a 13 horas por noite e de 2 a 3 horas de
dia (50%). E, 66% das crianças não têm
atividades de lazer. Conclusão: Este estudo
sugere que as causas de atraso no
desenvolvimento psicomotor na população
estudada foram: a falta de estimulação,
provavelmente pela baixa escolaridade dos
pais e a baixa renda familiar. Portanto, é
necessário que se dê continuidade à pesquisa
aumentando o número de crianças para que
se
possa
implantar
estratégias
na
comunidade, criando condições para se
desenvolverem normalmente.
Palavras-chave:
Atraso psicomotor, causas do
estimulação psicomotora.
atraso,
per night and 2 to 3 hours of the day (50%).
And 66% of children have no leisure
activities. Conclusion: This study suggests
that the causes of delay in psychomotor
development in the population studied were:
the lack of stimulation, probably by low
schooling parents and low-income families.
Therefore, it is necessary to give continuity
to search by increasing the number of
children in order to deploy strategies in the
community, creating conditions to develop
normally.
Keywords:
Psychomotor retardation, causes of delay,
psychomotor stimulation.
INTRODUÇÃO
Com base nas evidências clínicas tem se observado grande demanda aos serviços de
fisioterapia de lactentes que apresentam atraso no desenvolvimento psicomotor sem justificativa
neurológica. Considera-se que os sistemas sensoriais submetem-se constantemente a mudanças
dinâmicas. É a interação desses sistemas dinâmicos que promove o desenvolvimento das
habilidades motoras. Acredita-se, portanto, que nenhum agente sozinho seja a causa do atraso no
desenvolvimento psicomotor1.
O sistema nervoso central (SNC) não é a única estrutura que determina mudanças no
desenvolvimento. Mudanças em outros sistemas do corpo, como as do sistema músculo-esquelético
e cardio-respiratório, também influenciam o desenvolvimento psicomotor. O tamanho do corpo, a
motivação e o contexto ambiental, são importantes agentes de mudanças, sendo o ambiente no qual
vivemos um fator de influência essencial e sistemática no desenvolvimento global2.
Devido à importância e ao impacto que o atraso no desenvolvimento psicomotor acarreta
na criança, é de fundamental importância que se possa, o mais precoce possível, identificar as
crianças de maior risco, a fim de minimizar os efeitos negativos daí decorrentes. Existem evidências
suficientes de que quanto mais precoces forem os diagnósticos de atraso no desenvolvimento e a
intervenção, menor será o impacto desses problemas na vida futura dessas crianças3.
Tendo em vista a realidade apresentada por crianças que aparentemente não apresentam
problemas de origem endógena que justifiquem o atraso no desenvolvimento de determinadas
habilidades, nos deparamos com estudos que evidenciam que crianças de famílias com renda mais
60 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SIMÕES, Pamela Paiva Gouveia; VIEIRA, Elisangela Teixeira.
Influências do meio socioeconômico e familiar como fator de risco do atraso no desenvolvimento
psicomotor: estudo piloto. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá.
Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011.
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baixa estão pré-dispostas a vários riscos, entre os quais o de apresentarem gestações desfavoráveis
e/ou incompletas e a falta de informações relativas ao parto. Tal cadeia de eventos negativos faz
com que essas crianças tenham maior probabilidade de apresentarem atraso em seu potencial de
desenvolvimento4.
Portanto, nem sempre a criança com atraso no desenvolvimento psicomotor tem uma
patologia neurológica, e o quadro clínico pode estar relacionado com uma estimulação inadequada,
seja por superproteção, abandono ou falta de orientação, bem como por doenças crônicas,
hospitalismo ou um lar desestruturado5.
A aquisição das etapas do desenvolvimento motor nos períodos propícios, também
denominados de “janelas de oportunidade”, deixam claro que quanto mais se expuser a criança à
estímulos benéficos, mais ela aproveitará as potencialidades do seu cérebro. Quando o ambiente é
rico em estímulos adequados à idade cronológica, isto facilita a exploração do mesmo, promovendo
a maturação do SNC e assim a integração de todos os sistemas sensoriais6.
A experimentação é essencial para que a maturação neuromotora seja otimizada,
proporcionando, assim a construção da imagem corporal, o desenvolvimento cognitivo e
psicossocial, estas, conduzem as relações da criança com seu próprio corpo. A história familiar e a
atitude dos pais frente aos filhos, à relação com outras pessoas; a percepção sensorial e a capacidade
de utilizar os objetos, a relação ambiental. São fatores que irão influenciar de forma gradual a
aquisição de atividades neuropsicomotoras, para tornar possíveis as relações pessoais e ambientais
da criança7.
O desenvolvimento postural do lactente acontece de forma seqüencial nos seguintes
períodos: a criança sustenta a cabeça com 3/4 meses, permanece sentada com 6/7 meses, engatinha
com 8/10 meses, se mantém na posição ortostática com 9/11 meses e anda com 12/14 meses de
idade8,1,9.
O primeiro ano de vida apresenta ritmo acelerado de mudanças que culminam nas
funções de mobilidade, porém algumas crianças apresentam fatores de risco para o atraso no
desenvolvimento psicomotor como baixo peso ao nascimento, baixo escore no Apgar e fatores
ambientais desfavorecedores. Dentre estes temos a baixa renda familiar, amamentação inferior a
seis meses, grau de estimulação que recebe e ambiente ao qual é exposta, idade, profissão e
escolaridade maternas, estado civil dos pais, peso da criança ao nascimento, idade gestacional,
retardo de crescimento intra-uterino10.
Na ausência de alimentação adequada durante esse período crítico é possível que a
criança não atinja seu verdadeiro potencial genético. Quando uma criança tem fome não saciada,
61 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SIMÕES, Pamela Paiva Gouveia; VIEIRA, Elisangela Teixeira.
Influências do meio socioeconômico e familiar como fator de risco do atraso no desenvolvimento
psicomotor: estudo piloto. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá.
Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011.
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pode perder a motivação para explorar o ambiente e, assim, ter um atraso na aquisição de certas
habilidades,
apresentando,
geralmente,
retardo
no
desenvolvimento
neuropsicomotor,
7
independentemente se ocorreu lesão cerebral .
A implantação de um programa de estimulação precoce simultâneo ao acompanhamento
do desenvolvimento de cada criança é de fundamental importância. E é responsabilidade dos
profissionais da saúde, com auxílio dos pais ou responsáveis, criar condições para que a criança
desenvolva integralmente suas habilidades psicomotoras, estimulando-a com situações, pessoas e
objetos que despertem o desejo de agir ou reagir sobre os estímulos que lhe são oferecidos11.
O presente estudo destinou-se a identificar as possíveis causas do atraso no
desenvolvimento psicomotor em crianças não neuropatas que participaram do Projeto de
Estimulação Psicomotora da UNESA no município de Petrópolis, no período de janeiro a outubro
de 2007.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram admitidos no estudo tranversal, lactentes nascidos acima de 37 semanas de idade
gestacional com atraso no desenvolvimento psicomotor que participaram do Projeto de Estimulação
Psicomotora da UNESA, em Petrópolis – RJ. A amostra foi constituída por 12 crianças de ambos os
sexos com idades entre 6 meses e 3 anos (Média = 1 ano e 5 meses; Mediana = 1 ano e 6 meses;
Moda = 1 ano e 8 meses; DP = 8.3 meses), com atraso no desenvolvimento psicomotor. Foram
excluídos os lactentes com lesão no sistema nervoso central ou com síndromes genéticas, e os
nascidos abaixo de 37 semanas de gestação e os que não aceitaram participar da pesquisa.
INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
Para a coleta de dados, foi elaborado questionário contendo os dados da criança, dados
dos pais, renda familiar e questões sobre a vida familiar, escolar e afetiva da criança. As variáveis
referentes à criança incluíam sexo, data de nascimento, local de nascimento, vacinas e tipo de parto.
As variáveis referentes aos pais incluíam endereço, idade, nível de escolaridade e situação funcional
dos pais. Tipo de moradia como casa própria, quantos cômodos existem na casa, quantas pessoas
residem com a criança e qual o grau de parentesco destas, e quais os familiares que exercem maior
influência sobre o dia-a-dia da criança.
62 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SIMÕES, Pamela Paiva Gouveia; VIEIRA, Elisangela Teixeira.
Influências do meio socioeconômico e familiar como fator de risco do atraso no desenvolvimento
psicomotor: estudo piloto. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá.
Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011.
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As variáveis referentes à vida familiar, escolar e afetiva da criança incluíam: tempo de
amamentação, idade que os pais notaram o problema no desenvolvimento da criança e se esta
recebeu algum tipo de tratamento, as etapas motoras vivenciadas, como a família se relaciona com a
criança, como a criança se relaciona com outras crianças, se o tratamento dado à criança é diferente
em relação aos irmãos, se freqüenta creche ou colégio, se dorme bem e quantas horas dormem por
noite, se dorme de dia e quantas horas, qual o tipo de alimentação, se nas atividades de lazer, se
relaciona com outras crianças ou apenas com adultos.
TRATAMENTO ESTATÍSTICO
Para responder as questões instituídas na presente pesquisa, os dados utilizados foram
tratados através de estatística descritiva.
RESULTADOS
Os resultados obtidos estão demonstrados na (tabela1) e nas figuras com a plotagem
referida a cada variável estudada.
Tabela1 – Resultados em Média, Mediana, Moda e Desvio Padrão.
Média
Mediana
Moda
Variáveis
DP
Nível de escolaridade paterna
5ª série
6ª série
5ª série
3.9 série
Nível de escolaridade materna
7ª série
7ª série
7ª série
3.3 série
Idade do pai
33ª
31ª
28ª
7.9a
Idade da mãe
27ª
26ª
19ª
7.7a
Número de cômodos na casa
4
4
5
0.9
Número de pessoas que vivem na casa
5
4
3
2.9
Tempo de amamentação
8m
5.5m
0,3,8,24m
8.5m
Idade da realização do diagnóstico
8m
5.5m
5m
5.5m
Idade do inicio do tratamento fisioterapêutico
8m
5.5m
5m
5.8m
Quantidade de horas dormidas: noturnas
10h
11h
9,11h
2h36min
Quantidade de horas dormidas: diurnas
1h50min
2h
2h
1h34min
De acordo com os resultados encontrados identificou-se que quanto à situação funcional
paterna das 12 crianças pesquisadas, 7 (58%) dos pais trabalham informalmente (não têm carteira
assinada) e 5 (42%) trabalham formalmente (com carteira assinada). Já quanto à situação funcional
63 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SIMÕES, Pamela Paiva Gouveia; VIEIRA, Elisangela Teixeira.
Influências do meio socioeconômico e familiar como fator de risco do atraso no desenvolvimento
psicomotor: estudo piloto. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá.
Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011.
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materna observou-se que 9 (75%) das mães não trabalham, 2 (17%) trabalham informalmente e 1
(8%) trabalha formalmente.
Quanto à idade paterna 6 (51%) dos pais possuem idade entre 20 e 30 anos, seguido por
4 (33%) com idades entre 31 e 40 anos, 1 (8%) entre 41 e 50 anos e
1 (8%) com mais de 50 anos.
Já quanto à idade materna 5 (42%) com idades entre 21 e 30 anos, seguido por 4 (33%) de 31 a 40
anos e 3 (25%) com idade menor ou igual a 20 anos.
O nível de escolaridade paterna é de 6 (50%) dos pais têm até a 5ª série, 3 (25%)
possuem da 6ª a 8ª série, 2 (17%) que possuem ensino médio incompleto, e 1 (8%) possui ensino
médio completo. Já o nível de escolaridade materna representou 5 (42%) que cursaram da 6ª a 8ª
série, 3 (25%) cursaram até a 5ª série, 3 (25%) cursaram o ensino médio completo, e 1 (8%) cursou
o ensino médio incompleto (Fig.1).
Nível de Escolaridade Paterna
Nível de Escolaridade Materna
até a 5ª série
17%
8%
até a 5ª série
25%
6ª a 8ª série
50%
25%
Ensino médio
imcompleto
25%
Ensino médio
imcompleto
8%
Ensino médio
completo
6ª a 8ª série
42%
Ensino médio
completo
Figura 1: Distribuição dos pais quanto ao nível de escolaridade.
Quanto ao tipo de moradia identificou-se que 8 (67%) das 12 famílias pesquisadas
possuem casa própria, contra 4 (33%) que não possuem casa própria. Já quanto ao número de
cômodos existentes na casa, 5 (42%) apresentam mais de três cômodos, seguido por 4 (33%) com
dois cômodos e 3 (25%) com três cômodos. Nas famílias pesquisadas observou-se que em 6 (50%)
das residências moram três pessoas (incluindo a criança), seguidas por 4 (33%) onde moram de
quatro a sete pessoas e 2 (17%) onde moram de oito a onze pessoas na casa. Sendo que, nestas
crianças, quem exerce maior influência é a mãe em 6 (50%) dos casos, seguida por parente em
primeiro grau (tias e avós) em 4 (33%) e indivíduo sem grau de parentesco (babá e assistente social)
em 2 (17%) dos casos (Fig.2).
64 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SIMÕES, Pamela Paiva Gouveia; VIEIRA, Elisangela Teixeira.
Influências do meio socioeconômico e familiar como fator de risco do atraso no desenvolvimento
psicomotor: estudo piloto. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá.
Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011.
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Casa Própria
Número de Cômodos
Dois cômodos
33%
Sim
33%
42%
Três cômodos
Não
67%
25%
Mais de três
cômodos
Figura 2: Distribuição da condição habitacional e número de cômodos.
De acordo com o tempo de amamentação, 4 (33%) foram amamentadas durante um
período menor do que seis meses, nenhuma das crianças foi amamentada durante um período de
sete a doze meses, 3 (25%) foram amamentadas num período entre treze e vinte e quatro meses, 3
(25%) ainda mamam (duas crianças estão com oito meses e uma com seis meses de amamentação),
e 2 (17%) não foram amamentadas. Já sobre o tipo de alimentação, 10 (84%) das crianças se
alimentam bem, sendo que não têm alimentação específica para a criança, alimentando-se da
mesma comida dos adultos, já 1 (8%) só se alimenta do leite materno, sendo que esta criança tem
oito meses de idade, e 1 (8%) criança não se alimenta bem, pois está na fase de substituição do leite
materno pela alimentação sólida, se negando a comer.
65 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SIMÕES, Pamela Paiva Gouveia; VIEIRA, Elisangela Teixeira.
Influências do meio socioeconômico e familiar como fator de risco do atraso no desenvolvimento
psicomotor: estudo piloto. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá.
Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011.
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Quanto à idade em que foi diagnosticado o atraso, 6 (50%) das crianças foram
diagnosticadas até cinco meses de idade, seguido por 4 (33%) de seis a onze meses e 2 (17%) de
doze a vinte e quatro meses. Já quanto à idade em que foi iniciado o tratamento fisioterapêutico, 6
(51%) iniciaram com idade menor do que cinco meses, seguido por 4 (33%) de seis a onze meses, 1
(8%) de doze a vinte e quatro meses e 1 (8%) maior do que vinte e quatro meses. Já quanto à
relação com outras crianças, 6 (50%) se relacionam normalmente com outras crianças, seguido de 6
(50%) que não interagem com outras crianças.
Quanto ao número de horas que a criança dorme por noite, 6 (51%) dormem de dez a
treze horas, seguido por 4 (33%) que dormem de sete a nove horas, 1 (8%) dormem de quatro a seis
horas e 1 (8%) não soube informar. Já quanto ao número de crianças que dormem de dia, 6 (50%)
dormem de duas a três horas, 2 (17%) dormem até uma hora, 2 (17%) não dormem de dia, 1 (8%)
dorme mais de três horas e 1 (8%) não soube informar. Quanto às atividades de lazer, 8 (66%) das
crianças não possuem atividade alguma, seguida de 2 (17%) apresentam atividades de lazer apenas
com a mãe, e 2 (17%) possuem atividades de lazer com adultos e crianças. Das doze crianças
analisadas, nenhuma delas freqüenta qualquer tipo de creche ou colégio, representando 100%.
DISCUSSÃO
Os países subdesenvolvidos e os países em desenvolvimento concentram a grande
maioria das possíveis causas que levam ao atraso no desenvolvimento psicomotor3,4. A falta de
recursos sociais e educacionais são fatores de risco que podem contribuir para o atraso no
desenvolvimento12.
Os níveis de escolaridade materna e paterna do estudo mostram que a maioria dos pais
tem nível de escolaridade baixo. Nenhum apresentou grau maior do que o ensino médio completo e,
em relação aos pais, o nível de escolaridade foi menor, onde 50% cursaram até a 5ª série, quando
comparado ao das mães (42% cursaram da 6ª a 8ª série). Isso sugere que o nível de escolaridade dos
pais teve influência sobre o desenvolvimento das crianças estudadas.
Quanto à idade dos pais, o estudo não apresentou grau de significância, já que, em geral,
os pais tinham idades entre 20 e 30 anos.
Quanto à situação funcional paterna, a maioria trabalha informalmente (58%), em
relação às mães a grande maioria não trabalha (75%), dedicam se somente ao lar, o que está
correlacionado à condição socioeconômica desfavorecida e que pode levar ao atraso. Além disso, a
mãe teve o percentual significativo quanto a qual indivíduo exerce maior influência na vida da
66 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SIMÕES, Pamela Paiva Gouveia; VIEIRA, Elisangela Teixeira.
Influências do meio socioeconômico e familiar como fator de risco do atraso no desenvolvimento
psicomotor: estudo piloto. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá.
Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011.
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criança (50%), visto que a maioria das mães não trabalha, permanecendo a maior parte do tempo em
casa com o lactente. Confirmando que nenhuma das crianças freqüenta creche ou colégio,
permanecendo assim, maior tempo em casa.
A literatura pesquisada afirma que a estimulação ambiental é um componente crucial
para o desenvolvimento psicomotor13. Nas famílias pesquisadas observou-se que em 50% das
residências moram três pessoas (incluindo a criança), concluindo que estas crianças não têm irmãos,
o que pode estar correlacionado com número de crianças (50%) que não interage com outras
crianças. Podendo estar interligado também ao número de crianças que dormem de duas a três horas
de dia (50%), já que estas crianças têm poucos estímulos.
Observou-se também que a maioria das crianças dorme à noite em torno de 10 a 13
horas (51%) e de dia em torno de 2 a 3 horas, constatando que o número de horas que as crianças
passam dormindo é muito extenso. Além disso, a grande maioria das crianças não tem atividades de
lazer (66%) e apenas 17% das crianças têm atividades de lazer com outras crianças, o que sugere
que a falta de estimulação seja uma das causas do atraso no desenvolvimento psicomotor.
A prevenção e a detecção precoce de alterações no desenvolvimento infantil são práticas
pouco aplicadas no Brasil, segundo Mastroianni14. Porém, a maioria das crianças incluídas na
pesquisa foi diagnosticada com atraso no desenvolvimento psicomotor até cinco meses de idade
(50%) e o início do tratamento fisioterapêutico também ficou por volta dessa idade (51%), o que
indica que essas crianças tiveram diagnóstico e tratamento não tardio, demonstrando que o
Município de Petrópolis fornece uma boa estrutura com relação à saúde infantil.
CONCLUSÃO
Entre os resultados encontrados, os que mais se destacaram foram relativos ao nível de
escolaridade dos pais, a condição socioeconômica e a falta de estimulação dos lactentes incluídas no
estudo. Os pais das crianças apresentaram, em sua maioria, nível de escolaridade baixo. Além disso,
a maior parte dos pais trabalha informalmente e grande parte das mães não trabalha; o que sugere
que essas famílias têm renda familiar baixa.
Observou-se que a maioria das crianças estudadas não tem nenhuma atividade de lazer e
dorme durante um período muito extenso. Dessa forma, não há estímulos suficientes que
possibilitem um desenvolvimento normal.
Portanto, este estudo sugere que as causas de atraso no desenvolvimento psicomotor na
população estudada foram: a falta de estimulação, baixa escolaridade dos pais e a baixa renda
67 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SIMÕES, Pamela Paiva Gouveia; VIEIRA, Elisangela Teixeira.
Influências do meio socioeconômico e familiar como fator de risco do atraso no desenvolvimento
psicomotor: estudo piloto. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá.
Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011.
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familiar. Entretanto, é necessário dar continuidade à pesquisa, aumentando o número de crianças
incluídas, para que se possam ter resultados mais abrangentes e, assim, poder implantar estratégias
na comunidade, como um programa de educação na saúde da criança dando ênfase à estimulação
essencial e de acompanhamento do desenvolvimento de cada criança.
Desta forma podem-se criar estratégias que dêem condições para que estas se
desenvolvam normalmente, reduzindo o número de crianças com atraso no desenvolvimento
psicomotor encaminhadas aos setores de fisioterapia. Desta maneira, aumentar-se-ia o número de
vagas nos serviços públicos especializados, dando lugar a um atendimento otimizado de crianças
portadoras de atraso psicomotor de etiologia neurológica ou genética.
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ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA EM UM PACIENTE COM
NEOPLASIA MALIGNA DE ENCÉFALO: RELATO DE CASO
Maria do Céu Pereira Gonçalves1; Natália Sarmento Abrahão2
Resumo:
O meduloblastoma é um tumor de origem
embrionária de natureza maligna, com
localização na fossa posterior do Sistema
Nervoso Central (SNC), com prevalência no
sexo masculino (2:1), sendo mais comum na
infância. Estudo relato de um caso de uma
criança do sexo feminino, 9 anos com
fisiodiagnóstico de hemiparesia direita e
paralisia facial à esquerda no pós-cirúrgico,
devido há neoplasia maligna do encéfalo do
tipo Meduloblastoma; com localização na
fossa posterior no SNC, no IV ventrículo,
confirmado
após
Tomografia
Computadorizada e Ressonância Magnética.
Objetivo: Descrever a atuação da fisioterapia
na promoção da qualidade de vida e aquisição
da independência para execução das atividades
de vida diária. Metodologia: A paciente do
estudo
foi
tratada
com
intervenção
fisioterapêutica baseada no Método Kabat para
paralisia facial, e no Conceito Bobath para
hemiparesia direita, onde foram realizadas as 3
sessões por semana com a duração de 60
minutos. Resultados: Na primeira avaliação a
criança apresentava deficit de equilíbrio que
impedia a realização de suas AVDs com
independência, não subia e descia escadas sem
a ajuda e não corria. Na terceira avaliação a
criança apresentou autonomia e independência
para realizar as AVDs com leve perda de
equilíbrio, corria, descia e subia escadas
sozinha. Conclusão: A paciente do estudo
mostrou evolução satisfatória com o
tratamento fisioterapêutico. As alterações
Abstract:
The meduloblastoma is a tumor of
embryonic origin of malignant nature, with
posterior fosse location in Central nervous
system (CNS), with prevalence in males (2:
1), but is more common in childhood.
Reporting a case study of a female child, 9
years
of
right
hemiparesis
with
physiotherapy diagnosis and facial paralysis
on the left in post surgical, because there are
malignant
neoplasm
of
encephalon
Meduloblastoma type; with location in IV
ventricle, confirmed after computed
tomography and magnetic resonance.
Objective: To demonstrate the impact of
physiotherapy on quality of life and on daily
life activities (DLA) in a patient with CNS
tumor-related
neurological
sequelae.
methods: ‘The present paper reports a case.
The physiotherapeutic intervention was
based on the Kabat method for the facial
palsy and on the Bobath method for the
right hemiparesis. Sixty-minute sessions
were performed three times per week.
Results: At baseline, the child showed
significant imbalance, which preclude the
independent execution of DLA. Hence, she
was not able to climb or descend stairs or
even to run without support. On the third
evaluation, although a slight imbalance
could be noted, the patient exhibited both
autonomy and independence to perform
DLA with confidence, and was able to run
and to climb and descend stairs by herself.
Conclusion: The patient herein described
1
Fisioterapeuta, doutoranda em Pediatria pela UFRJ, docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Estácio de Sá
localizada em Petrópolis – RJ.
2
Acadêmica do 8º período do curso de Fisioterapia da Universidade Estácio de Sá, localizada em Petrópolis – RJ.
70 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; ABRAHÃO, Natália Sartamento. Abordagem fisioterapêutica em
um paciente com neoplasia maligna de encéfalo: relato de caso. Estácio de Sá – Ciências da Saúde.
Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 69-79, Jan. 2011/Jun 2011.
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motoras apresentadas no inicio do tratamento
foram
quase
totalmente
recuperadas.
Concluiu-se também que a escolha do modelo
de intervenção fisioterapêutica baseado no
conceito Bobath e no método Kabat foi
adequada porque se observou a recuperação
dos padrões motores. Da mesma forma, a
promoção da melhora da qualidade de vida,
porque se tornou independente, pôde retornar
as atividades de lazer, participando ativamente
nas brincadeiras.
Palavras-Chave:
Hemiparesia, Meduloblastoma,
Maligna do Encéfalo.
Neoplasia
showed a satisfactory outcome after
physiotherapy.
The
initial
motor
abnormalities were almost totally recovered.
It is also concluded that the choice of the
Kabat and the Bobath methods as bases for
the physiotherapeutic interventions was an
adequate choice, since it was possible to
observe the recovery of motor patterns. In
addition, by resuming outside play
activities, a significant improve in quality of
life was noted.
Keyword:
Hemiparesis, Medulloblastoma, neoplasm of
malignant brain.
INTRODUÇÃO
O meduloblastoma é um tumor de origem embrionária de natureza maligna, com
localização na fossa posterior do Sistema Nervoso Central (SNC), com prevalência no sexo
masculino (2:1), sendo mais comum na infância1,2,3,4.
O meduloblastoma afeta cerca de 15% das crianças, ocorre em geral no cerebelo5.
Apresenta maior incidência entre cinco e sete anos de idade, com manifestação rara entre adultos
quando ocorre, predomina entre a 3ª e 5ª década de vida6.
O tumor interfere não só no desenvolvimento escolar como também na própria
qualidade de vida da criança, ocasionando déficit de aprendizado, queixa de cansaço, distúrbio do
comportamento7. Apresentando como sinal inicial à pressão intracraniana imposta pelo tumor1,2,3,4.
A agressividade deste tumor é bastante alta. São tumores sólidos, friáveis e infiltram o
parênquima cerebelar, geralmente no vérmis, invadem o espaço aracnóide disseminando-se para a
via liquórica, leva a metástase cerebelar e intra-raquidiana4,8.
O meduloblastoma pode ser ocasionado por comprometimento direto da lesão tumoral
com infiltração ou compressão local e hipertensão intracraniana pelo efeito de massa tumoral ou
hidrocefalia, ocasionando neste caso: cefaléias matinais, convulsões, vômitos e letargias. Os
tumores infratentoriais causam déficit de equilíbrio, alteração da coordenação motora, ataxia,
tremores de extremidades, tontura, nistagmo, visão dupla e torcicolo, geralmente fica irritada e
letárgica, podendo apresentar alterações da personalidade e do comportamento7,9,5.
Os tumores supratentoriais têm como sinais e sintomas: cefaléia seguida por
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um paciente com neoplasia maligna de encéfalo: relato de caso. Estácio de Sá – Ciências da Saúde.
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convulsões, hemiparesia, hiperreflexia, clônus e alterações sensitivas. A invasão para o tronco
encefálico pode levar as alterações ou a paralisia dos nervos cranianos5,7,9.
O meduloblastoma pode causar mutismo, que é uma complicação benigna e raramente
observada após cirurgias na fossa posterior, caracterizado por disfagia e dificuldade para falar. Não
apresenta perda da consciência, causada por lesão supranuclear de nervos cranianos. Este tipo de
mutismo é distinto da paralisia pseudobulbar10.
O tratamento deste tumor inclui secção cirúrgica, se possível, com o objetivo de
remover o máximo do tumor sem danificar os tecidos ao seu redor. São raros os casos de secção
total do tumor. A cirurgia costuma ser seguida de radiação, pois o meduloblastoma é muito
radiossensível. Metástase pode ocorrer por meio das meninges e áreas envolvidas fora do
SNC3,4,5,7
A radiação no crânio para tratamento ontológico do meduloblastoma na infância pode
comprometer a área do hipotálamo – hipofisária, levando ao hipopituitalismo, que consiste na
diminuição ou cessação da secreção da glândula hipofisária anterior, incluindo os hormônios LH,
LSH, somatotropina e corticotropina. Pode resultar da ablação cirúrgica ou de radiação, neoplasias
hopofisárias não secretoras, tumores com metástase. Geralmente o hopopituitalismo ocorrer entre
seis a dezoito meses após o início do tratamento oncológico1.
As alterações endócrinas incluem hipotiroidismo, déficit do hormônio do crescimento
(GH) e da gonadotrofina. Das seqüelas neuroendócrinas o mais freqüente é o déficit de GH,
ocorrendo em 45% dos pacientes sem outras deficiências hormonais hipofisárias1.
Altas doses de radiação na medula espinhal podem ocasionar lesões nos órgãos
adjacentes como: hipotiroidismo, desenvolvimento de neoplasias secundárias e hipoplasia da
mandíbula. Neste caso, o paciente submetido à radiação do crânio deve ser monitorado com
dosagens hormonais de FSH, LH, estradiol, testosterona, TSH, T4 livre, cortisol plasmático,
prolactina e, quando necessário, realizar testes para comprovar o déficit do GH1.
A radioterapia pode apresentar efeitos adversos que podem ser precoces, aparecendo
por volta de seis semanas de tratamento, ocorrendo alopécia transitória ou permanente, dermatite
actínica, otite externa ou média aguda secretora, déficit auditivo, mielossupressão que consiste na
supressão da função de produção de células sanguíneas da medula óssea7.
Em torno de seis a oito meses de tratamento podem ocorrer os sintomas da
desmielinização temporária com letargia e cefaléia. Podem ocorrer efeitos tardios como: danos à
substância branca, radionecrose em 1% dos casos, disfunções endocrinológicas, auditivas e
cognitivas, neoplasias secundárias como: tumores de partes moles, meningiomas, tumores de
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tireóide7.
Dentre os distúrbios neuromusculares apresentados pelo desenvolvimento do tumor,
sinais de déficit de equilíbrio, falta de força muscular, encurtamento muscular, ataxia,
hemeparesia, disfagia e paralisia de nervos cranianos. Estes sinais podem ser tratados pela
fisioterapia7,9.
O objetivo deste estudo é demonstrar a atuação da fisioterapia na promoção da
qualidade de vida e aprimoramento das atividades de vida diária, após secção do tumor
meduloblastoma.
MATERIAIS E MÉTODOS
RELATO DE CASO
O presente estudo foi realizado através do relato de caso de MSV, nascida na data de 13
de Fevereiro de 1999, apresentando o fisiodiagnóstico de hemiparesia direita com paralisia facial
esquerda, com diagnóstico clínico de Neoplasia Maligna do Encéfalo localizado na fossa posterior
ocupando o IV ventrículo, do tipo meduloblastoma, confirmado pelos exames de tomografia
computadorizada e ressonância magnética. Foi encaminhada para o INCA e no dia 06 de Abril de
2005 onde realizou a cirurgia para retirada do tumor.
A paciente começou os atendimentos na Clínica da Fisiopetrópolis no período de 03 de
Maio de 2006 a 14 de Fevereiro de 2008, as sessões de fisioterapia foram realizadas três vezes por
semana com duração de sessenta minutos em cada atendimento.
Iniciou o tratamento em fisioterapia e fonoaudiologia. No primeiro atendimento
fisioterapêutico passou por uma avaliação física, onde apresentou déficit de equilíbrio não
conseguindo realizar suas atividades de vida diária sem auxilio de uma segunda pessoa.
Durante a avaliação a mãe relatou que o avô paterno faleceu com leucemia, o tio
paterno apresentou um tumor no fígado. A mãe nega qualquer patologia pregressa da paciente em
questão e não relatou nenhuma doença associada ao tumor.
MSV é filha única, no momento da avaliação cursava a 1ª série. Ia freqüentemente ao
Rio de Janeiro, onde realizava consultas e tratamento periódico para acompanhamento do póscirúrgico.
O tratamento fisioterapêutico foi interrompido no dia 14 de fevereiro de 2008, devido a
reincindiva do tumor, levando a paciente a ser internada para tratamento oncológico de
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radioterapia.
INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO
No presente estudo, foram utilizados os seguintes instrumentos de avaliação:
a) Anamnese segundo informações colhidas da mãe da paciente, consistindo em 14 itens: nome
da paciente data de nascimento, naturalidade, diagnóstico clínico, diagnóstico fisioterapêutico,
exames complementares, queixa principal, história da doença atual, história da patologia pregressa,
história familiar, história social, se a paciente apresenta doenças associadas ao tumor, cirurgias e
fraturas anteriores e medicamentos em uso.
b) Exame Físico consistiu em 10 itens: marcha, amplitude de movimento, força muscular, tônus
muscular, coordenação motora, sensibilidade, deformidades, avaliação neurofuncional, atividades
de vida diária (AVDs) e fala.
Utilizou-se o protocolo de avaliação da Clinica Escola do curso de Fisioterapia da Universidade
Estácio de Sá – Fisiopetrópolis - em Petrópolis no estado do Rio de Janeiro, após o aceite da mãe
da criança conforme o Termo de Consentimento livre e esclarecido em atendimento à resolução
196/ 96 do CNS.
A avaliação foi precedida da anamnese com observações feitas desde o momento que a
criança adentra na sala de avaliação. Foram realizadas mobilizações passivas para detectar a
presença ou não de bloqueios articulares, encurtamentos e contraturas. Foi utilizada a tabela de
teste de força muscular de Kendall11, para verificar o grau de força muscular no membro superior e
inferior do dimídio esquerdo.
Foram realizados testes de sensibilidade superficial e profunda e avaliação
neurofuncional. Foi analisado o tipo de fala no momento em que a paciente interagia com seu
terapeuta.
INSTRUMENTO DE TRATAMENTO
De acordo com a avaliação foram utilizados os seguintes instrumentos de tratamento.
Método Kabat facial e Conceito Bobath para o comportamento motor global e equilíbrio.
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PROCEDIMENTO DE TRATAMENTO
Método Kabat
Execução dos movimentos em toda a sua extensão; facilitação da musculatura da face;
movimentos bilaterais para recuperação da simetria facial; facilitação por meio do reflexo de
estiramento; correção da resistência. Com objetivos de correção da extensão ativa do movimento;
diminuição dos sintomas de fadiga muscular; apoio do movimento na direção correta12.
Conceito Bobath
Ativação das reações de equilíbrio; transferência de peso corporal nas diversas posturas
e facilitação para as mudanças de posturas. Aumentar o controle postural; simetria do corpo;
alongamento; propriocepção; estimulação da reação de extensão protetora dos braços; controle
sobre a rotação de tronco; trabalho de dissociação de cintura pélvica e escapular. Com objetivo de
modificar os padrões anormais de movimento através da inibição dos padrões anormais de
movimento com a facilitação simultânea dos padrões normais13.
RESULTADOS
Os resultados obtidos estão demonstrados na Tabela 1 que apresentará a síntese das três
avaliações realizadas durante o período de atendimento da criança na clínica.
Período
Tabela 1: Apresenta os resultados das avaliações realizadas durante o tratamento.
1º AVALIAÇÃO
2º AVALIAÇÃO
3º AVALIAÇÃO
03-05-06
Queixa
Principal (QP)
Deficit de equilíbrio nas
AVDs.
Tônus Muscular
Movimentos
Involuntários
Fala
Espasticidade leve.
Tremores em MMSS e
MMII.
Disartria com dificuldade
de compreensão.
20-03-07
13-11-07
Corre, mas ainda perde o equilíbrio
e precisa de auxilio para subir e
descer escadas.
Espasticidade leve.
Tremores em MMSS e MMII.
Corre quando brinca, desce e
sobe escada e anda de patineti.
Espasticidade leve.
Tremores em MMSS e MMII.
Disartria com melhor
compreensão.
Disartria com facilidade de
compreensão.
Sensibilidade
Preservada
Preservada
Preservada
Superficial e
Profunda
Legenda: MMSS: membros superiores, MMII: membros inferiores, AVDs: atividades de vida diária.
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De acordo com os resultados obtidos podemos observar que no decorrer do tratamento
fisioterapêutico a paciente apresentou a aquisição do controle motor para a independência na
realização das atividades da vida diária. Assim como também, melhora na qualidade de vida,
porque voltou a brincar com independência (Tab. 1).
Na Tabela 2 estão descritos os resultados obtidos em relação à coordenação motora,
atividades de vida diária (AVDs), amplitude de movimento (ADM) e análise da marcha.
Tabela 2: Apresenta os resultados das avaliações realizadas durante o tratamento com relação à coordenação motora,
AVD, amplitude de movimento e analise da marcha.
Período
1º AVALIAÇÃO: 03-05-06 2º AVALIAÇÃO: 20-03-07 3º AVALIAÇÃO: 13-11-07
Coordenação
Motora:
Grosseira preservada.
Fina alterada.
Atividades de Vida Realiza as AVDs com
auxilio de uma 2ª pessoa, tem
Diária (AVDs):
dificuldade para deambular
devido o déficit de equilíbrio.
Grosseira preservada.
Fina pequena alteração.
Grosseira preservada.
Fina com mínima alteração
devida os tremores.
Realizada as AVDs com mais Realizada as AVDs sem
segurança. Realiza as
auxilio de uma segunda
atividades mais complexas
pessoa.
com dificuldade.
Encurtamento em MID
Encurtamento em MID
Encurtamento em MID
Amplitude de
(Ísquios Tibiais).
(Ísquios Tibiais).
movimento (ADM) (Ísquios Tibiais).
Encurtamento de MSD
(peitoral maior).
Cabeça protusa, MSD
Cabeça protusa, MSE com
Analise da marcha: Tronco fletido, cabeça
protusa, MSD semifletido,
semifletido, MSE postura
postura normal, MID com
MSE postura normal,
normal, mínima elevação
uma imperceptível flexão de
elevação pélvica de ilíaco
pélvica do ilíaco direito
joelho e marcha independente
direito e rodado para tras;
durante a marcha ativa, MID com base alargada.
marcha com apoio e base
com flexão de joelho e
alargada, MID com flexão de marcha com apoio base
joelho e dorsifexão.
alargada.
Legenda: MSD: membro superior direito. MSE: membro superior esquerdo. MID: membro inferior direito. MIE:
membro inferior esquerdo. AVDs: atividades de vida diária.
ANÁLISE DA FORÇA MUSCULAR (TABELA DE KENDALL)
Os resultados obtidos serão demonstrados na Tabela 3 que apresentará a síntese das três
avaliações relativas ao teste de força muscular de Kendall realizadas durante o período de
atendimento da criança na clinica.
De acordo com os resultados demonstrados na Tabela 3, podemos observar que no
decorrer do tratamento fisioterapêutico a paciente apresentou uma melhora significativa nos
resultados do teste de força muscular.
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Tabela 3: Apresenta os resultados do teste de força muscular.
1º AVALIAÇÃO
03-05-06
2º AVALIAÇÃO
20-03-07
3º AVALIAÇÃO
13-11-07
Esquerdo
Esquerdo
Esquerdo
Movimento de extensão de ombro.
2+
2+
4+
Movimento de flexão de ombro
2+
3
4
Esquerdo
Esquerdo
Esquerdo
Movimento de Extensão de joelho
3
3+
4+
Movimento de Flexão de joelho
3-
3+
4+
3
3+
4+
Membro Superior
Membro Inferior
Flexão de Tronco
PARALISIA FACIAL EM HEMIFACE ESQUERDA
Foi observado que a paciente apresentava um desvio acentuado no músculo orbicular do
olho esquerdo, impedindo de fechar o olho por completo. No decorrer do tratamento a paciente
fechava o olho esquerdo com facilidade, na terceira avaliação o olho esquerdo fechava por
completo.
Foi trabalhado ao longo do tratamento o músculo risório. Na primeira avaliação
apresentava pouca eficiência. No decorrer do tratamento na ultima avaliação, o músculo
apresentava função recuperada dando a possibilidade à paciente de sorrir simetricamente. O
zigomático maior e menor, a paciente apresentava assimetria e no decorrer de todo o tratamento
apresentou a função preservada. Em relação o músculo depressor do ângulo da boca e depressor do
lábio inferior, a paciente apresentava assimetria notável, com o decorrer do tratamento foi possível
chegar à simetria do mesmo. O músculo bucinador apresentava-se ineficiente, vindo há ter sua
função preservada na ultima avaliação realizada. Os músculos occiptofrontal, corrugador e prócero
mantiveram-se com usa atividade preservada desde o inicio do tratamento.
DISCUSSÃO
A paciente do relato de caso, após a cirurgia de secção parcial do tumor apresentou
seqüelas de paralisia facial em hemiface esquerda devido à lesão de nervos cranianos; fala com
disartria e dificuldade de compreensão evoluindo para uma fala com disartria e facilidade de
compreensão; déficit de equilíbrio era um fator importante que levava a marcha com apoio e base
alargada evoluindo para marcha sem apoio, porém ainda apresentava base alargada.
No primeiro momento a paciente queixava de constante perda de equilíbrio, não
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conseguindo deambular sem apoio, subir e descer escada sozinha. Com o decorrer do tratamento
podemos perceber que a mesma já realizava suas atividades de vida diária e atividades de lazer com
autonomia e independência. O tônus muscular e os movimentos involuntários mantiveram-se com
espasticidade leve e movimentos involuntários, apresentando tremores de extremidades.
No curso das avaliações a paciente apresentou um encurtamento em Ísquios tibiais em
MID e apresentou na primeira avaliação um encurtamento de peitoral maior em MSD, não vindo a
apresentar o mesmo encurtamento nas seguintes avaliações.
Segundo o teste de força muscular de Kendall, os resultados obtidos com a evolução do
tratamento fisioterapêutico foram satisfatórios e a paciente apresentou melhora significativa nos
resultados atingindo grau 4+ no braço e na perna hemipareticos.
A mesma apresentou dificuldade unilateral direita dos movimentos da prova index-nariz
em função da hemiparesia direita e tremores em MMSS e MMII existentes no decorrer do
tratamento.
O tratamento foi interrompido por conseqüência de uma reincindiva constatada por
novos exames de ressonância magnética e tomografia computadorizada, de tumor em hemisfério
direito e invasão da medula espinhal causando metástase da mesma.
Os pacientes descritos por Silva et al10 apresentaram mutismo cerebelar transitório; no
primeiro caso a paciente era do sexo feminino, apresentou no primeiro momento dificuldade para
deambular e hidrocefalia. A mesma apresentou seqüelas de paresia bilateral do nervo facial e do
nervo abducente direito, falava embora com disartria evoluiu para normalidade, com ataxia em
membro superior direito, moderada ataxia da marcha.
No segundo caso descrito por Silva et al, sexo femenino apresentando os sinais de perda
de peso, disartria, marcha atáxica. A mesma apresentava seqüelas de paralisia do véu palatino,
marcha atáxica, decomposição bilateral dos movimentos da prova index-nariz; a paciente não
conseguia falar após a cirurgia, apresentou mutismo durante três semanas, voltando a falar com
disartria. Pode ser constatada presença de recidiva do tumor no cerebelo e no tronco cerebral. Estes
sinais se manifestaram neste estudo de caso, assim como também a recidiva.
De acordo com Goldberg1 a radiação no crânio para tratamento oncológico pode causar
seqüelas neuroendócrinas, sendo deficiência do GH com retardo do crescimento linear. O paciente
descrito era do sexo masculino, com idade de dez anos, com sinais e sintomas de cefaléia constante,
vertigens, náuseas, vômitos, déficit da força em dimídio direito, marcha com desvio para direita.
Diferente dos demais pacientes citados anteriormente e da paciente do relato de caso era do sexo
feminino. O paciente foi submetido à radioterapia e aos dez anos de idade foi constatado o déficit de
GH, devido o retardo de crescimento pela sua faixa etária e sexo. A paciente do relato de caso não
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apresentou o déficit de crescimento, tendo sua linha de crescimento linear normal em todo o
tratamento.
Segundo Reis et al,6 dos vinte oito pacientes analisados vinte e dois eram do sexo
masculino e seis do sexo feminino. Com recidiva tumoral em um total de 21% dos pacientes, que
representa seis pacientes, em quatro anos de seguimento clínico. A paciente em questão apresentou
recidiva em torno de quatro anos após a secção do tumor, assim como os 21% dos pacientes
descritos por Reis e colaboradores.
CONCLUSÃO
Com base nos resultados do presente estudo pode-se observar que a fisioterapia teve
papel importante na qualidade de vida da paciente descrita no relato de caso, em função das
possíveis complicações motoras decorrentes da lesão tumoral e/ou cirúrgica. A paciente mostrou
evolução satisfatória com o tratamento fisioterapêutico e as alterações motoras apresentadas no
inicio do tratamento foram recuperadas como mostram os resultados da pesquisa.
Podemos observar que a escolha do modelo de intervenção fisioterapêutica baseado no
Conceito Bobath, que teve como objetivo recuperar grande parte do equilíbrio, com isso melhorar a
deambulação, aperfeiçoar as mudanças de postura e a reação de proteção de equilíbrio,
minimizando encurtamentos musculares; o uso do Método Kabat foi adequado porque foi possível
obter a recuperação dos padrões motores da face, com simetria da mímica facial e o bom
funcionamento de todos os músculos envolvidos na mesma.
Houve a promoção da melhora na qualidade de vida da criança que se tornou
independente, principalmente porque pôde retornar às atividades de lazer, participando ativamente
nas brincadeiras e tendo mais segurança para realizar todas as atividades propostas.
A paciente mostrou melhora em todos os seus padrões motores, minimizando o déficit
de equilíbrio dando condições a paciente de deambular sem apoio ou sem ajuda de uma segunda
pessoa; melhorando o seu grau de força muscular e realizando suas AVDs com mais segurança e
independência. Houve melhora da fala, devido ao acompanhamento com o fonoaudiólogo que
esteve presente no decorrer do tratamento.
79 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; ABRAHÃO, Natália Sartamento. Abordagem fisioterapêutica em
um paciente com neoplasia maligna de encéfalo: relato de caso. Estácio de Sá – Ciências da Saúde.
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80 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta
pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de
Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011.
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PROPOSTA PEDAGÓGICA DE ACORDO COM O PERFIL DOS
ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM DE UMA UNIVERSIDADE
PARTICULAR DE GOIÂNIA – GO
Sue Christine Siqueira1, Silvana L. V. Santos2, Ângela Cristina Bueno Vieira3
Resumo:
Abstract:
Este artigo teve como objetivo estudar as
práticas pedagógicas da atualidade e traçar
o perfil do acadêmico de enfermagem do 1º
período de uma universidade particular de
Goiânia – GO, para propor uma prática que
se adequa a este perfil. Para isso, foi
realizada uma pesquisa descritiva com
abordagem quantitativa com base em dados
/ arquivo. Dentre os resultados pode-se
verificar que os acadêmicos são na maioria
jovem entre 16 e 20 anos(44%), do sexo
feminino (86%), moram com os pais (44%)
e dentre outros fatores, escolheu o curso
por gostar (57%) e por acreditar num
futuro melhor (37%). Diante deste perfil a
prática pedagógica que mais se adequa é a
Problematização,
por
estruturar
o
acadêmico no momento social, inseri-lo no
meio , com atitudes críticas e inovadoras.
This article had as objective studies the
pedagogic practices of the present time
and to trace the academic's of nursing of
the 1st period of an university peculiar of
Goiânia profile - GO, to propose a
practice that is adapted to this profile. For
that, a descriptive research was
accomplished with quantitative approach
with base in data / file. Among the results
it can be verified that the academics are in
most young between 16 and 20 years
(44%), of the feminine sex (86%), they
live with the parents (44%) and among
other factors, he/she chose the course for
liking (57%) and for believing in a better
future (37%). before this profile the
pedagogic practice that more she adapt it
is Problematizacion, for structuring the
academic in the social moment, to insert
him/it in the middle, with critical and
innovative attitudes.
Palavras chaves:
prática pedagógica, perfil, acadêmico,
enfermagem.
1
Key words:
pedagogic practice, profile, academic,
nursing.
Enfermeira especialista docente da Faculdade Estácio de Sá.
Enfermeira Ms. Enfermagem da Universidade Salgado de Oliveira Goiânia-Go.
3
Enfermeira Ms. Coord. do curso de enfermagem da Universidade Salgado de Oliveira Goiânia-Go.
2
81 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta
pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de
Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011.
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INTRODUÇÃO
O ensino sofre modificações de acordo com o momento histórico e não poderia ser
diferente nos cursos de enfermagem. Inicialmente, estes foram criados para atender às necessidades
emergenciais, como na guerra, para atender estrangeiros e doentes mentais. No início do séc. XX,
na década de 20 as escolas passaram a preparar o estudante na teoria e prática. Sendo a Escola de
Enfermeiras D. Ana Néri a primeira a preconizar a Enfermagem Moderna (TEIXEIRA, 2006).
Mediante a importância da formação de enfermeiras para a nossa sociedade, a Lei nº 775
de 06/08/49 tornou obrigatória a existência de cursos de enfermagem em todo centro universitário
e/ou faculdades de medicina.
São inegáveis os avanços ocorridos no curso de enfermagem ao longo dos anos,
perpassando por interesses políticos, Leis de Diretrizes e Bases, Reformas Universitárias, mudanças
na grade e conteúdo programático, carga horária, Conferências Nacionais de Saúde, Constituições
Federais, até as Diretrizes Curriculares Nacionais para curso de graduação em Enfermagem
(DCENF) (BRASIL, 2001).
Fernandes (2006) relata que há muitos desafios para a implantação/implementação das
DCENF, pois implica mudança de paradigmas, fazer rupturas em práticas e crenças internalizadas.
Implica, pois, no grande desafio que é o de formar enfermeiros(as) com competência técnica e
política, como sujeitos sociais dotados de conhecimento, de raciocínio, de percepção e sensibilidade
para as questões da vida da sociedade.
Piotroni (1988) citado por Fernandes (2006) relata que ainda com as transformações
contundentes sabe-se que o modelo de ensino na saúde é inegavelmente positivista, dualista,
reducionista e mecanicista, herdado da história,proveniente da separação entre a igreja e ciência
ocorrida no séc.XVI iniciada com as idéias de Galileu e apoiados incondicionalmente por Isaac
Newton e Descartes.
Partindo dessa premissa, Teixeira e Vale (2006) propõem pensar sobre as condições das
dicotomias, como teoria/prática e ensino/aprendizagem e rever articulações de poder e revelar
alternativas, como ensino/pesquisa e ensino/extensão. Para isso, é importante verificar aspectos
potencializadores do modo de ensinar e aprender tendo como referência a cultura e o local de
inserção do curso e como princípio norteador a construção de conhecimento.
Por meio da vivência acadêmica, percebemos a diversidade sócio-econômica-cultural
entre os alunos do curso de enfermagem suscitando a necessidade e desejo de conhecer as práticas
pedagógicas existentes a fim de verificar a mais adequada ao perfil desses acadêmicos.
82 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta
pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de
Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011.
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Sabe-se que a prática pedagógica preconizada em uma instituição deve atender ao perfil
dos acadêmicos. No entanto, é importante identificá-lo durante seu ingresso à universidade e sugerir
uma prática pedagógica a fim de possibilitar melhor desenvolvimento individual e no
ensino/aprendizagem.
Segundo Sordi (2006) é dever da Instituição de ensino e dos docentes assumirem com
ética os graduandos e formá-los com pretensão crítica, isolando o tecnicismo, mudando a forma de
ensinar e aprender saúde, produzindo transformação.
Com este pressuposto, Waldow (2005) sugere um ensino centrado no desenvolvimento
do pensamento crítico, flexível às necessidades e características dos acadêmicos.
Para esta mesma autora, um dos problemas relacionados ao pensamento crítico, refere-se
à falta de uma definição clara em sua aplicação na enfermagem, observado pelas múltiplas
interpretações veiculadas, causando confusão entre docentes, estudantes, enfermeiros e
pesquisadores. Este pensamento se dá através de alguns aspectos, como atividades produtivas e
positivas, sendo um processo e não resultado.
O perfil do acadêmico de enfermagem poderá auxiliar na elaboração de uma prática
pedagógica que mais se adeque a eles. A participação ativa do educando no processo ensinoaprendizagem é essencial para obtenção de resultados, por isso faz-se necessário conhecer as
práticas pedagógicas.
O objetivo deste artigo é traçar o perfil do acadêmico de enfermagem a fim de propor
uma prática pedagógica que mais se adeque a ele.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo descritivo com abordagem quantitativa. Segundo Polit e Hungler
(1995) citado por Murta (2006) os estudos descritivos são apresentações com ou sem hipóteses, das
características específicas de uma situação com enfoque fundamental na exatidão, num
planejamento de pesquisa em situação de vida real, para aumentar o conhecimento do pesquisador
sobre o que deseja investigar. Por outro lado, o estudo quantitativo enfatiza o raciocínio lógico, as
regras da lógica e os atributos mensuráveis da experiência humana, utilizando procedimentos
estruturados e instrumentos formais para a coleta de informações de forma objetiva, analisando os
dados estatisticamente.
A fim de garantir o cumprimento das questões éticas em pesquisa, o estudo foi
submetido à autorização da coordenação do curso de enfermagem da universidade particular, sendo
83 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta
pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de
Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011.
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que a mesma realiza uma entrevista por meio de questionário no início de cada semestre letivo a fim
de levantar o perfil dos acadêmicos que ali ingressam.
Os sujeitos da pesquisa foram duzentos e trinta (230) acadêmicos de enfermagem que
responderam ao questionário ao ingressarem na universidade particular em questão no ano de 2007.
A tabulação foi realizada entre agosto e outubro de 2007. Para obter as informações
necessárias para traçar o perfil e propor um método de ensino mais adequado, foram escolhidos 9
(nove) itens mais relevantes do questionário, composto por 18 questões, para a pesquisa, como o
sexo, faixa etária, estado civil, componentes da residência, se possui trabalho remunerado, se tem
ou não outro urso profissionalizante, qual o período que está matriculado, o porquê da escolha do
curso e expectativas sobre o mesmo, dados estes que permitiram traçar o perfil do acadêmico de
enfermagem.
Os dados foram apresentados por meio de tabelas, gráficos, figuras e analisados à luz das
teorias pedagógicas com o objetivo de sugerir uma prática educativa que atenda as necessidades
destes acadêmicos.
.
RESULTADOS
O número de alunos matriculados no ano de 2007 foi de 333 alunos no curso de
enfermagem em 2007, dos quais 253 no 1º semestre e 80 no 2º semestre de 2007 e destes 230 (69%)
acadêmicos de enfermagem do 1º período responderam ao questionário.
A maioria dos acadêmicos é do sexo feminino (198/86%), tem entre 16 a 20 anos
(101/44%), mora com os pais (101/44%), solteira (191) (83%), possui trabalho remunerado
(121/52%), tem curso profissionalizante (101/44%), estuda no período noturno (125/54%), escolheu
o curso porque gosta e admira a profissão (137/57%) e deseja um futuro melhor em todos os
aspectos (89/37%).
Quanto à distribuição por sexo há mais mulheres (198/86%) ingressando no curso de
enfermagem que homens (33/14%), conforme Figura1.
Segundo estudos de Wetterich e Melo (2007), perpetua ainda um preconceito à profissão
de enfermagem por ser historicamente uma profissão feminina, porém em estudo realizado pela
USP Ribeirão Preto 2000, revela que houve um movimento no interesse de jovens e a quebra de
preconceitos aumentando o número de homens na enfermagem.
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pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de
Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011.
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14% / 33
86% / 198
Masculino Feminino
Figura 1 - Distribuição de freqüência dos acadêmicos do 1º período do curso de enfermagem de acordo com sexo,
Goiânia, 2007.
A faixa etária de maior concentração de alunos entrevistados está entre 16 e 20 anos
(101/44%), seguida da faixa etária de 21 a 30 anos (100/43%), caracterizando uma maioria de
acadêmicos concentrada na fase adulto jovem (Figura 2).
Wetterich e Melo (2007) relatam em seu artigo que muitos autores consideram a idade
entre 18 e 20 anos como o final da adolescência, fase essa propícia à tomada de decisões tornando-o
capaz de ser responsável por suas atitudes e trabalho.
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pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de
Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011.
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50%
45%
43% / 100
44% / 101
40%
35%
30%
25%
20%
15%
11% / 24
10%
1% / 3
5%
1% / 2
0%
16-20
21-30
31-40
41-50
> 51
Figura 2 – Distribuição da freqüência dos acadêmicos do 1º período de enfermagem por faixa etária, Goiânia, 2007.
A Figura 3 mostra que 101acadêmicos (44%) ainda vivem sob tutela dos pais, 24 moram
sozinhos (10%), 5 em pensão (2%), o que pode significar que um número reduzido de acadêmicos
deixa sua residência para cursar universidade.
Outros
34 / 15%
Pensão
5 / 2%
Amigos
40 / 17%
Sozinho
24 / 10%
Cônjuge
27 / 12%
Pais
101 / 44%
0
20
40
60
80
100
120
Figura 3 – Distribuição da freqüência dos acadêmicos de enfermagem do 1º período de acordo com os componentes da
residência, Goiânia, 2007.
86 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta
pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de
Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011.
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Quanto ao estado civil (Figura 4) 191 (83%) apresentavam-se solteiros ao ingressarem
na universidade. Dos demais, 28 (12%) eram casados. É importante relacionar estes dados à
estruturação do curso, mesmo não sendo integral exige muitos dos alunos e os estágios estão
distribuídos pelos períodos da manhã, tarde e noite, o que dificulta para o indivíduo casado.
5% / 12
12% / 28
Solteiro
Casado
Outros
83% / 191
Figura 4 – Distribuição da freqüência dos acadêmicos de enfermagem do 1º período quanto ao estado civil, Goiânia,
2007.
Na Figura 5 não há uma grande diferença entre acadêmicos de enfermagem que possuem
trabalho remunerado (121/ 52%) dos que não possuem (110/48%), pois nesta universidade
particular de Goiânia-Go o indivíduo pode se matricular em qualquer período, o que diferencia do
perfil do acadêmico de universidade integral.
48% / 110
52% / 121
Sim
Não
Figura 5 – Distribuição da freqüência dos acadêmicos de enfermagem do 1º período que possuem trabalho remunerado,
Goiânia, 2007.
87 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta
pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de
Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011.
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Já em relação a ter ou não um curso profissionalizante 95 (41%) acadêmicos de
enfermagem do 1º período de enfermagem já fez curso profissionalizante de técnico em
enfermagem, como mostra Figura 6. Já por outro lado 101(44%) acadêmicos fizeram outros cursos
profissionalizantes, incluindo curso da área da saúde e outros, como cabeleireira.
120
101 / 44%
100
95 / 41%
80
60
40
23 / 10%
20
11 / 5%
0
Técnico em enfermagem
Magistério
Contabilidade
Outros
Figura 6 – Distribuição da freqüência dos acadêmicos de enfermagem que já tenham feito curso profissionalizante,
Goiânia, 2007.
Em pesquisa realizada em 28 escolas de enfermagem do Estado de São Paulo a maioria
dos acadêmicos que trabalhava era das várias categorias de enfermagem e na visão de Tavares e
colaboradores (1995) eles tentam melhorar as atividades profissionais e querem reconhecimento
profissional, pois essas categorias são pouco valorizadas e mal remuneradas. (WETTERICH e
MELO, 2007).
Um dos fatores importantes para traçar o perfil do acadêmico é verificar o período em
que estuda (Figura 7). Em 2007 a maioria está matriculada no período noturno 125 (54%).
Ao analisar os dados os acadêmicos que estudam no noturno são os mesmos que têm
trabalho remunerado.
88 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta
pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de
Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011.
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46% / 106
54% / 125
0%
Manhã
Tarde
Noite
Figura 7 – Distribuição da freqüência dos acadêmicos de enfermagem do 1º período por turno matriculado, Goiânia,
2007.
É importante ressaltar o motivo que levou à escolha do curso. O motivo mais relevante
para a escolha do curso de enfermagem foi o fato de gostar da profissão (137/57%). Já o menos
levantado foi por ter realizado teste vocacional (2/1%). (Tabela 1)
Tabela 1 – Distribuição da freqüência quanto ao motivo que levou os acadêmicos a escolher o curso de enfermagem
para sua formação profissional. Goiânia, 2007.
Motivo
2007
n
%
Por técnico / auxiliar em enf.
15
6
Por gostar da profissão
137
57
Pelas vagas no mercado
54
22
Aptidão pessoal
24
10
Teste vocacional
2
1
Baixa concorrência
4
2
Outros
4
2
240
100
Total
89 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta
pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de
Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011.
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Em 2007, 89 acadêmicos (37%) têm a expectativa de um futuro melhor em todos os
aspectos ao término do curso, o que pode estar relacionado ao fato da maioria ser da categoria da
enfermagem.
Tabela 2 - Distribuição da freqüência quanto ao que o aluno espera que este curso lhe proporcione. Goiânia, 2007.
O que o aluno espera
2007
n
%
Futuro melhor em todos aspectos
89
37
Bom salário / emprego
23
9
Estabilidade profissional
26
11
Maior conhecimento científico
41
17
Satisfação e crescimento profissional
62
26
Outros
0
0
241
100
Total
DISCUSSÃO
PROCESSOS DE ENSINO/APRENDIZAGEM NA ATUALIDADE
De acordo com Guimarães (2004) a prática pedagógica na enfermagem é norteada por
correntes filosóficas e o docente está constantemente sofrendo influências em sua ação pedagógica
como é demonstrado por vários estudiosos citados em sua obra e descrito a seguir.
Para Demo (1995) é necessário que o docente dispense compromisso em educar
alicerçado em dois pilares de conhecimento, sendo o técnico-científico e o político-pedagógico, o
qual propiciará refletir sobre o processo de ensino-aprendizagem.
Azmon (1975) classifica as correntes filosóficas em cinco grandes filosofias
educacionais – o perenialismo, o essencialismo, o progressismo, o existencialismo e o
behaviorismo, como descrito a seguir.
No perenialismo, o docente que o utiliza repousa sobre o ensino enciclopédico,
perpetuando as grandes idéias em detrimento da capacidade de criação humana, além de formar
enfermeiros reprodutores e não criadores.
Já o essencialismo trata das coisas essenciais ou básicas que as pessoas têm de conhecer
para sobreviver, enfatizando a técnica para desenvolvimento da sociedade. A partir desta filosofia o
90 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta
pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de
Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011.
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docente forma técnicos, consolidando as habilidades adquiridas.
O progressismo leva o homem a resolver problemas, sendo prático e funcional vendo o
outro como objeto.
Azmon (1975) ainda relata que o existencialismo destaca o indivíduo, fazendo-o
compreender a realidade por ele vivida, encaminhando-o rumo ao aprimoramento, como também,
mostra que o educando passa a ver o outro com reflexão.
O behaviorismo utiliza métodos de condicionamento como meio de dirigir o
comportamento humano, levando à criação de educandos ajustáveis, o qual é punido por atos
considerados indesejáveis.
Diante destas propostas a corrente filosófica caminha lado a lado com o contexto sócioeconômico-cultural, o que permite através de um perfil de certa população propor uma prática
pedagógica mais adequada para uma boa formação.
Por outro lado Saviani (1983) citado por Guimarães (2004) classifica estas correntes
como humanista tradicional, a qual corresponde ao essencialismo e ao perenialismo; humanista
moderno, tendência tecnicista, o qual permeia a resolução de problemas e preconiza mão-de-obra
especializada.
Diante desta visão que norteia o ensino na enfermagem, é importante e necessário
construir um modelo de assistência centrado no homem, passando a ver a prática reflexiva.
Partindo deste pressuposto, Faustino e colaboradores (2003) reflete em sua pesquisa
sobre os quatro pilares da educação. O aprender a conhecer leva o indivíduo ao prazer da
descoberta. O aprender a fazer valoriza e capacita o indivíduo a novas situações. Aprender a viver
juntos, compreendendo o outro e, finalmente, aprender a ser, que diz respeito ao desenvolvimento
integral da pessoa.
Outra abordagem discutida por este autor é a de competência, a qual já vem sendo
discutida desde a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que deve ser considerada de forma ampliada no
sentido de contemplar a dimensão ético-política no mundo do trabalho. Enfatiza-se também que as
competências são aquisições, capacidades, práticas e conhecimentos organizados e têm como
premissa a estruturação do conhecimento de acordo com pensamento interdisciplinar, o incentivo a
resolução de problemas, a diversificação dos meios de desenvolvimento, contextualização e, por
fim, favorece o compromisso com a profissão.
Outra concepção pedagógica, segundo Mallmam e Daudt (2003), é a epistemológica,
que é sustentada pelo interacionismo sócio-cultural, construtivista, sistêmica e transcendente. É de
cunho interacionista, pois o sujeito interage com o outro. O aspecto sócio-cultural baseia-se no
91 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta
pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de
Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011.
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sentido de que o homem vive num meio social. É construtivista, pois o sujeito constrói seu
conhecimento por sua autonomia. É considerada sistêmica, pois o conhecimento/aprendizagem é
um todo integrado e transcendental, já que o homem faz parte do universo. Portanto, é um processo
que se constrói a partir da interação dos sujeitos entre si e com o mundo.
Tavares (2003) preconiza a prática de interação e interdisciplinaridade, as quais propõem
desafios a serem superados pelos estudantes que lhes possibilitem ocupar o lugar de sujeitos na
construção do conhecimento, sendo integrado a várias disciplinas, ou seja, interdisciplinar,
trabalhando com a problematização.
A PROPOSTA PEDAGÓGICA: METODOLOGIA DA PROBLEMATIZAÇÃO
Diante do perfil traçado neste estudo dos acadêmicos de enfermagem de uma
universidade particular de Goiânia-Go, pode-se verificar de uma forma geral que são solteiros,
jovens adultos, habitam com os pais, trabalham, estudam à noite, já são profissionais da categoria,
optaram pelo curso porque gostam e querem melhorar de vida.
Atualmente, o ensino não pode ser apenas uma transmissão de conhecimento do que já
foi construído, mas abarcar toda uma concepção que pretende levar o aluno à aquisição do já
sabido, através de novas elaborações, levando – o à criticidade para transformar a realidade social
(GUARIENTE e BERBEL, 2000).
Desta forma, a sugestão para uma proposta pedagógica mais adequada é a Metodologia
da Problematização de Paulo freire (1996), a qual propõe discutir a realidade concreta, interagindo
os saberes curriculares com as experiências sociais dos alunos, ética, política, transferência de
conteúdos aos alunos que depois de aprendidos, estes operam por si mesmos.
Neste sentido, o ensino de Enfermagem deve ser direcionado para a formação de um
profissional consciente de sua responsabilidade histórica, crítico da realidade sócio-educacional,
como da prática da assistência à saúde e compromissado com o seu atuar transformador
contextualizado, vindo ao encontro dos reais interesses da comunidade.
Segundo Berbel (1998), a Metodologia da Problematização é desenvolvida em etapas, a
fim de completar o Arco de Maguerez.
A primeira é a Observação da realidade social, concreta, pelos alunos, a partir de um
tema, permitindo aos mesmos identificar dificuldades que serão transformadas em problemas.
Já para a mesma autora a segunda etapa é a dos Pontos – chaves, onde os alunos farão
reflexões sobre as possíveis causas daquele problema.
92 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta
pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de
Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011.
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A partir deste pressuposto ocorre a terceira etapa, a teorização, ou seja, investigação
propriamente dita. Na quarta etapa há a hipótese de solução, a qual ou quais são construídas após o
estudo, como fruto da compreensão profunda após investigação.
A quinta etapa e última é a da Aplicação à realidade, ou seja, ação-reflexão-ação ou
prática-teoria-prática, tendo como ponto de partida e de chegada o ensino e aprendizagem a partir
da realidade social, dinâmica e complexa.
Problematização, segundo Cyrino e Pereira (2004), é a transformação social, à
conscientização de direitos e deveres dos cidadãos, mediante uma educação emancipatória e
libertadora, a fim desenvolver uma consciência crítica para resolver problemas de interesse coletivo
intervindo na realidade.
Berbel (1998) conceitua a Aprendizagem baseada em problemas como sendo aquela em
que os alunos aprendem a aprender e se preparam para resolver problemas relativos à sua futura
profissão.
Neste sentido é levantado um problema, o qual poderá ser discutido individualmente ou
coletivamente, deverão ser levantadas hipóteses, em seguida objetivos serão traçados para explicálo, pesquisas e estudos serão propostos e uma nova discussão será realizada para aplicação do novo
conhecimento (CYRINO e PEREIRA, 2004).
Como uma grande parte é técnico em enfermagem e tem como opção a Enfermagem por
querer melhorar de vida em todos os aspectos a Problematização favorece uma mudança de
paradigma na comunidade, pois a partir de uma realidade vivenciada, conhecimento científico e
pensamento crítico o profissional tem capacidade de agir e solucionar o problema detectado.
CONCLUSÃO
Após a análise dos dados a fim de traçar o perfil dos acadêmicos de enfermagem do 1º
período de uma universidade particular de Goiânia – GO, pode – se concluir que: os acadêmicos são
jovens, solteiros, técnicos em enfermagem e possuem uma expectativa de melhorar de vida com a
conclusão do curso, além de o terem escolhido devido gostar do curso.
Diante de tantas práticas pedagógicas existentes no mundo da educação, torna-se
evidente que a metodologia da problematização é a que mais se adequa ao perfil traçado nesta
pesquisa, principalmente porque o profissional de enfermagem deve ser conhecedor da comunidade,
observar problemas e solucioná-los.
A metodologia da problematização é um desafio a construção de conhecimentos, devido
93 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta
pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de
Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011.
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à aproximação da realidade em que o tema em estudo é vivido por diferentes sujeitos, além de
desenvolver a interação de professores e alunos no desempenho de atividades de ensino e pesquisa
em saúde, voltando-se para a preparação do estudante/ser humano a tomar consciência de seu
mundo e atuar intencionalmente para melhorá-lo.
REFERÊNCIAS
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94 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta
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Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011.
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PESQUISAS
96 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas
de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de
Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011.
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ESTUDO SOBRE ACESSIBILIDADE DAS ESTRUTURAS ESPORTIVAS:
REFERÊNCIAS PARA AS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA,
ESPORTES E LAZER
Marcelo Correa
Resumo:
Abstract:
Compreendendo que para uma política
voltada ao segmento de deficientes, tornase necessário contemplar todos os
segmentos desta população, envolvidos,
portanto, não só com a modificação das
estruturas físicas das instalações esportivas
da cidade estudada, mas da ação política e
pragmática que promova a acessibilidade,
principalmente se entre objetivos desta
política, encontrarmos o de transformação
da realidade cultural, fomentando a
participação e acesso, tolerância e
enriquecimento cultural.
Realizing that for a policy geared to the
disabled, it is necessary to include all
segments of the population involved,
therefore, not only with the modification of
the physical structures of the city's sports
facilities studied, but the pragmatic and
political action that promotes accessibility,
especially among the objectives of this
policy, we find the transformation of
cultural reality, encouraging participation
and access, tolerance and cultural
enrichment.
Palavras-Chave:
Acessibilidade. Educação Física. Políticas
Públicas. Direitos.
Accessibility.
Policy. Rights.
Key-Words:
PhysicalEducation.
Public
INTRODUÇÃO
Os termos ‘deficiente’, ‘desviante’, ‘diferente’ e ‘anormal’ são empregados, muitas
vezes, para fazer referência a pessoas que, por possuírem características cognitivas ou motoras
diferentes, são impedidas de circular ou viver plenamente.
Estes termos traduzem preconceitos e valores éticos de uma sociedade e se
consubstanciam na relação entre as pessoas ‘normais’ ou ‘anormais’, ‘iguais’ ou ‘diferentes’,
‘pessoas portadoras de deficiência’ ou não e traduzem, também, desconhecimento de quem são
essas pessoas (ALERJ, 2005).
A discussão de direitos dos portadores de necessidades especiais começou com o
Renascimento europeu nos séculos XV e XVI, e permanece até o século atual; quando
gradativamente, vem ocorrendo o aumento dos chamados direitos sociais.
97 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas
de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de
Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011.
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Com a evolução e reformulação do entendimento do bem comum, começou-se a
compreender o bem-estar econômico, o lazer e a educação, os quais passaram a ser considerados
direitos. O direito à educação física e à prática esportiva aconteceu em consonância com o
panorama político já evidenciado para o século XX.
Após a segunda guerra, a educação física desmanchou seus vínculos doutrinários com países
como a Suécia, Alemanha e França, deixando de ser vista como preparação de soldados para
guerra e passando por ventos como a iniciação esportiva, a psicomotricidade na escola, da
aptidão física e a educação física de adultos (TUBINO, 1991).
A educação física para pessoas com deficiência considera que alguns indivíduos
possuem danos físicos ou psíquicos, inatos ou adquiridos, e que por isto não são capazes de garantir
os mesmos níveis de habilidades que outros. Considera ainda que existam pessoas com situações
biológicas passageiras, como as grávidas, que necessitam de atenção especial.
Inúmeros estudos mostram que as diferentes formas de atividades físicas podem atuar
eficientemente como meios específicos da educação física (AZEVEDO, 2004).
Diversos documentos abordam este assunto. Um exemplo é a carta Internacional de
Educação Física e do Esporte (UNESCO, 1978), que no seu art. 3° estabelece que: "A educação
física e os programas de esporte devem adaptar-se às necessidades individuais e sociais";
As resoluções e considerações do XVIII Congresso Panamericano de educação física
(PANAMÁ, 1999), ao perceber que: as pessoas com deficiência não são atendidas adequadamente e
a sociedade em geral não apóia este grupo de pessoas, recomendou o uso de recreação e de
atividades físicas para estas situações;
A 3ª Conferência Internacional de Ministros e Altos Funcionários Encarregados da
educação física e esporte – MINEPSIII, na Declaração de Punta Del Este (1999), no seu art. 6°,
mostra "a importância de promover os programas de esporte e atividades físicas para pessoas de
idade avançada e pessoas com deficiência". E completa apontando que as pessoas, pelas suas
condições humanas, ao longo da vida, terão necessidades especiais, inclusive, quanto à educação
física.
A Federação Internacional de Educação Física (FIEP) conclui:
Art. 17- A educação física, ao ser reconhecida como meio eficaz de equilíbrio e melhoria em
diversas situações, quando oferecida a pessoas com deficiência, deverá ser cuidadosamente
adaptada às características de cada caso.
98 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas
de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de
Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011.
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A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que: em termos de percentuais de 12 a
15% da população de países em desenvolvimento são constituídos de pessoas com algum tipo de
deficiência. No Brasil seriam 24,5 milhões de brasileiros (14,5%), segundo dados do censo
realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano 2000.
Para que o direito seja respeitado, torna-se fundamental que os mecanismos existentes
providenciem mais do que leis, a inclusão das pessoas portadoras de necessidades especiais, deve
contar com o entendimento sobre a necessidade das estruturas adequadas a este segmento, sejam
estas públicas ou privadas.
Quanto às adaptações das estruturas públicas devem ser mencionados as seguintes
modificações.
Edifícios de esporte e lazer: Devido a cadeiras do tipo cambadas, utilizadas por pessoas
com deficiência para a prática de esportes, todas as portas dos edifícios esportivos devem ter a
largura mínima de um metro.
As arquibancadas devem prover locais para as pessoas com deficiência usuárias de
cadeira de rodas e pessoas com dificuldade de locomoção. Tais lugares são associados a uma rota
acessível e integrado aos demais de modo a prever que estas pessoas tragam pelo menos um
acompanhante.
Também os sanitários e vestiários devem ser acessíveis com rampas, barras de apoio,
área de transferência lateral, área de manobra, cabides, espelhos e piso antiderrapante (ALERJ,
2005).
Apesar de significativas contribuições, na produção científica sobre estruturas físicas,
existem problemas, principalmente na educação para pessoas com deficiência, o tema não é tratado
na gestão de espaços públicos e privados na cidade escolhida para este estudo, Petrópolis – Rio de
janeiro, onde foi realizado um levantamento com as principais estruturas esportivas desta cidade.
A pesquisa científica é fator essencial na mudança de atitudes e na busca de formas mais
efetivas para a inserção social de todos, o que contempla também a criança com deficiência, daí a
necessidade de reflexão e avaliação contínua desta produção a fim de contribuir com a sua melhoria
qualitativa.
Existem significativas contribuições na produção científica da educação física (EF)
sobre as pessoas com deficiência (RONALD, 1985).
Vários pesquisadores brasileiros têm
investigado as possibilidades e contradições relacionadas à escolarização de crianças com
deficiência discutindo modelos teórico-práticos de educação, impactos e conseqüências das
políticas educacionais na escolarização dessas crianças como Jannuzzi (1985), Mantoan (1997),
Sanches-Gamboa (1998), Carvalho (2000). Entre as várias áreas acadêmicas que têm produzido
99 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas
de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de
Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011.
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conhecimento sobre o deficiente, a educação física apresenta-se como importante no que diz
respeito à busca de elementos que possibilitem a inclusão da pessoa com deficiência na escola
regular.
Compreendendo que para uma política voltada ao segmento de deficientes, torna-se
necessário contemplar todos os segmentos desta população, envolvidos, portanto, não só com a
modificação das estruturas físicas das instalações esportivas da cidade estudada, mas da ação
política e pragmática que promova a acessibilidade, principalmente se entre objetivos desta política,
encontrarmos o de transformação da realidade cultural, fomentando a participação e acesso,
tolerância e enriquecimento cultural.
O levantamento dos textos e resumos publicados pelo Colégio Brasileiro de Ciências do
Esporte (CBCE) no período de 1978 a 1999 explicita o crescimento no número de publicações.
Silva (1999) reforça que: "apesar de existirem diferenciações no que se refere aos problemas e
objetivos abordados, procedimentos teórico-metodológicos e epistemológicos comuns, norteiam a
maior parte dos textos”.
Contudo, apesar das preocupações e avanços, tendo em vista a complexidade da questão
sócio-educativa da EF para pessoas com deficiência, é importante também compreender as
contradições que estão presentes, revelando, na maioria das vezes, que a oferta de
atendimento educacional para essas pessoas tem tomado rumos não condizentes com as suas
necessidades reais (BATISTELLA, 1990).
O direito à inclusão das pessoas com deficiência passa pelo crivo da igualdade a que
todo cidadão tem direito e deve ser respeitado.
Sem tratamento de habilitação e reabilitação o deficiente não terá condições de
candidatar-se a um emprego. Sem educação especial, não poderá desenvolver suas potencialidades,
dentro de seus limites pessoais. Sem transporte adaptado, não poderá comparecer ao local de
trabalho, à escola e ao seu local de lazer (CAMPEÃO, 2005).
O conjunto desses instrumentos compõe o direito à inclusão social da pessoa com
deficiência. Cada um desses direitos, separadamente ou em conjunto, forma o conteúdo do direito à
inclusão. Vida familiar sadia, educação especial, transporte adaptado, direito à saúde, incluindo
habilitação e reabilitação, e o direito ao lazer são instrumentos indispensáveis à inclusão social do
indivíduo (ARAUJO, 2001).
Um sério problema enfrentado pelas pessoas com deficiência é a dificuldade de
locomoção. As prefeituras municipais continuam autorizando a construção de edifícios públicos
sem rampas de acesso, impedindo a entrada de cadeirantes. Problema semelhante acontece com os
banheiros, que em muitos locais não têm a largura necessária para a entrada da cadeira de rodas.
100 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas
de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de
Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011.
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Vale lembrar que além dos cadeirantes, outras pessoas com deficiência também sofrem
com barreiras. Exemplo são os deficientes visuais, que sofrem com a ausência de semáforos sonoros
e de guia nos edifícios públicos.
Há que se tomar consciência de que a pessoa com deficiência não quer ser objeto de
tratamento diferenciado, não quer ser carregado sobre as catracas do metrô nem, tampouco, até à
zona eleitoral. Quer apenas, se integrar socialmente, passando despercebido em seu cotidiano
(SILVA, 2003).
O valor social do presente trabalho consiste na tentativa de identificar a situação das
instalações físicas das estruturas esportivas, quebrar preconceitos, os quais impossibilitam o direito
universal de ir e vir, o direito à igualdade e ao respeito. Em suma, o que se busca é a convivência
respeitosa com as diferenças.
Mas para que isso aconteça parece fundamental notificar a sociedade o estado de
inconsciência que a envolve, no trato com a pessoa com deficiência, colocando-o em um mundo
onde a discriminação encontra justificativa, deixando o deficiente à margem dessa sociedade.
Deve-se salientar ainda que a acessibilidade ao espaço construído não deva ser vista
como um conjunto de medidas que favoreceriam apenas as pessoas com deficiência, o que poderia
até aumentar a exclusão e segregação destes grupos, mas sim medidas técnico-sociais e culturais
destinadas a permitir que o espaço acolha todos os seus usuários em potencial (Acessibilidade
Universal).
Neste sentido, é importante compreender a acessibilidade como sendo uma real abertura
à possibilidade de convívio entre as diferenças, beneficiando toda a sociedade e proporcionando
uma melhor qualidade de vida para todos os cidadãos.
O exercício do convívio, que permite a troca entre as mais diversas condições sociais,
físicas e culturais entre as pessoas, é fundamental para a diminuição e / ou desaparecimento de
categorizações estereotipadas (ALERJ, 2005).
Objetivou-se neste trabalho mapear todos os ginásios esportivos da cidade de Petrópolis,
com o intuito de averiguar se são acessíveis para pessoas com deficiência, e quais adaptações
possuem.
Esse estudo teve como objetivos específicos, a destacar: Levantar fontes, procurando
identificar fatores que possam contribuir para a elaboração de um projeto de implantação de
acessibilidade nos ginásios esportivos públicos e privados, visando às pessoas com deficiência.
101 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas
de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de
Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011.
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METODOLOGIA
1.
Foram feitas entrevistas abertas contendo dez perguntas para os gestores de ginásios e
quadras no município de Petrópolis, para que expusessem sua situação em relação à acessibilidade e
inclusão.
2.
Um questionário fechado contendo dez perguntas foi feito para dez pessoas com deficiência
residentes em Petrópolis.
Ambos foram voltados para a questão da acessibilidade e da inclusão de pessoas com
deficiência nos ginásios esportivos na cidade de Petrópolis.
Tanto as entrevistas abertas quanto o questionário fechado continham questões
relacionadas às características sócio-demográficas e à dificuldade de acesso a ginásios esportivos da
cidade.
Para avaliação da satisfação com atenção, alguns cuidados foram adotados, como a
utilização de uma questão com duas opções de resposta (sim ou não) para o questionário aplicado
para pessoas com deficiência.
Facilitando a expressão de níveis de satisfação mais baixos, maior variabilidade nas
respostas e maior associação com medidas de intenção de comportamento das pessoas com
deficiência.
Antes da realização de cada entrevista, foi feita uma abordagem individual com os
gestores e indivíduos com deficiência, em momentos diferentes, com a apresentação dos objetivos
da pesquisa e o convite para participar desta, garantindo a privacidade das respostas.
Com o objetivo de obter informações sobre as principais dificuldades e necessidades do
usuário para usufruir dos ginásios esportivos o instrumento aplicado para as pessoas com
deficiência teve por objetivo final dar voz a esse seguimento.
Os participantes deste estudo eram portadores de paralisia cerebral (PC) divididos em
duas categorias e dois graus em relação à deficiência motora:
1-
Andantes: grau moderado e leve.
2-
Pessoas em cadeiras, grau severo.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A entrevista com os gestores dos ginásios esportivos na cidade de Petrópolis teve como
objetivo averiguar a situação real em relação a acessibilidade e inclusão das pessoas com
deficiência nesses espaços públicos esportivos.
102 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas
de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de
Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011.
________________________________________________________________________________
01) Porque não há acesso para pessoa com deficiência?
ESTRUTURA ANTIGA,
ACESSO PARCIAL.
FALTA DE VERBA
05
50%
02
20%
02
20%
01
10%
ACESSO TOTAL
SEM ACESSO
CONSTRUÇÃO ANTIGA
Com o resultado obtido verificou-se que (50%) cinqüenta por cento dos entrevistados
acenaram que a problemática do acesso está ligada a estruturas antigas, enquanto (20%) vinte por
cento alegaram falta de verba, enquanto (20%) vinte por cento alegaram terem acesso, e (10%) dez
por cento alegam não ter acesso.
02) Poderia citar alguma melhoria voltada à saúde, qualidade de vida/lazer voltada para
pessoa com deficiência que freqüentam ou podem vir a freqüentar?
SOCIAL E LAZER
ATIVIDADE
FÍSICA
NENHUMA
MELHORIA
04
40%
02
20%
04
40%
103 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas
de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de
Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011.
________________________________________________________________________________
Com o resultado obtido verificou-se que (40%) quarenta por cento dos entrevistados
afirmaram a melhora se dá pela integração social e lazer, (20%) respondeu que a atividade física é
responsável por essa melhora (40%) responderam não terem melhorias de qualidade de vida para
pessoa com deficiência por não fazerem esse atendimento.
03) Tem conhecimento da obrigatoriedade da lei de acessibilidade?
SIM
07
70%
NÃO
03
30%
Com o resultado obtido verificou-se que (70%) setenta por cento dos entrevistados
tinham conhecimento da lei enquanto (30%) trinta por cento não tinham conhecimento da mesma.
04) Existe alguma pessoa com deficiência que tentou freqüentar esse local?
FREQUENTA COM
DIFICULDADE
NÃO FREQUENTA
09
90%
01
10%
Com o resultado obtido verificou-se que (90%) noventa por cento dos entrevistados
responderam que freqüentaram o local com dificuldades, (10%) dez por cento respondeu que não
tem pessoa com deficiência freqüentando o local.
05) Já foi questionado sobre a possibilidade da atender pessoa com deficiência?
SIM POR FALTA DE
PROJETO
NÃO
03
30%
03
30%
104 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas
de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de
Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011.
________________________________________________________________________________
SIM, MAS FALTA
PROFESSOR
01
10%
03
30%
ESPECIALIZADO.
JÁ TEM ATENDIMENTO
Com o resultado obtido verificou-se que (30%) trinta por cento já foi questionado, mas
por falta de projeto não pode fazer atendimento, (30%) trinta por cento nunca foram questionados
enquanto (10%) dez por cento foi questionado, mas por falta de professor especializado não pode
atender e (30%) já fazem esse atendimento.
06) Já houve algum evento em que os pessoas com deficiência ficaram impossibilitados de
participar ou assistir?
NÃO
07
70%
03
30%
NUNCA TEVE PROCURA
PARA RELIZAÇÃO DE
EVENTOS
Com o resultado obtido verificou-se que (70%) setenta por cento não teve problemas de
aceso para pessoa com deficiência, e (30%) trinta por cento responderam que ate o momento não
tiveram procura para realização de eventos para pessoa com deficiência.
07) Há algum projeto para sensibilização desse problema?
SIM
NÃO
03
30%
05
50%
105 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas
de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de
Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011.
________________________________________________________________________________
HÁ PROJETO, MAS NÃO
02
ESTÁ EM ANDAMENTO.
20%
Com o resultado obtido verificou-se que (30%) trinta por cento dos entrevistados tem
projetos para pessoa com deficiência, enquanto (50%) cinqüenta responderam não terem projetos, e
(20%) vinte por cento responderam que tem projetos, mas não estão em andamento.
08) Conhece algum ginásio ou espaço público adaptado para pessoa com deficiência?
SIM
05
50%
NÃO
05
50%
Com resultado obtido verificou-se que (50%) cinqüenta por cento dos entrevistados
conhecia algum ginásio adaptado, e (50%) cinqüenta por cento responderam não conhecer.
09) Achou interessante obter essa informação sobre acessibilidade e inclusão para pessoa com
deficiência?
INTERESSANTE
MUITO
INTERESSANTE
EXCELENTE
07
70%
02
20%
01
10%
106 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas
de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de
Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011.
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Com o resultado obtido verificou-se que (70%) setenta por cento dos entrevistados
responderam que é interessante obter essa informação, (20%) vinte por cento responderam que é
muito interessante, e (10%) dez por cento respondeu que é excelente ter essa informação.
10) Qual sua opinião sobre a problemática da inclusão e acessibilidade das pessoas com
deficiência?
ASSEGURAR OS DIREITOS DAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA COMO CIDADÃO
ACABAR COM O PRECONCEITO E
DISCRIMINAÇÃO
02
20%
02
20%
03
30%
02
20%
01
10%
PROMOVER PESQUISAS E ESTUDOS PARA ESSE
SEGUIMENTO FOLTA INFORMAÇÃO PARA
ATENDER PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
FAZER PARCERIAS ENTRE OS ORGÃOS
COMPETENTES
FALTA DE INTERESSE PELA PARTE DO
GOVERNO
Com o resultado obtido verificou-se que (20%) vinte por cento dos entrevistados
disseram que tem que assegurar o direito das pessoas com deficiência como cidadão, (20%)
responderam que é preciso acabar com o preconceito e a discriminação, (30%) trinta por cento
responderam que é preciso promover pesquisas e estudos para esse seguimento porque falta
informação para atender pessoas com deficiência, (20%) responderam que falta fazer parcerias entre
os órgãos competentes, (10%) dez por cento respondeu que falta interesse por parte do governo.
Responderam a este instrumento pessoas com deficiência (PC) paralisia cerebral
residentes em Petrópolis, praticantes de atividades físicas.
107 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas
de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de
Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011.
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O objetivo era saber o que mais dificulta a pessoa com deficiência no acesso a ginásios e
a praticas esportivas de lazer nos locais.
11) Já fez atividade física em ginásio?
SIM
08
80%
NÃO
02
20%
Com o resultado obtido verificou-se que (80%) oitenta por cento dos entrevistados
responderam terem feito atividades físicas em ginásios, e (20%) vinte por cento responderam que
nunca fizeram.
12) Teve alguma dificuldade neste local?
SIM
03
NÃO
07
30%
70%
O resultado obtido verificou-se que (30%) trinta por cento dos entrevistados tiveram
algum tipo de dificuldade, enquanto (70%) setenta por cento responderam que não tiveram
nenhuma dificuldade.
13) Já freqüentou instalações com vestiários adaptados?
SIM
03
30%
NÃO
07
70%
108 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas
de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de
Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011.
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Com o resultado obtido verificou-se que (30%) trinta por cento dos entrevistados já
freqüentou instalações com vestiários adaptados, enquanto (70%) setenta por cento responderam
que não freqüentou instalações com vestiários adaptados.
14) Já freqüentou uma arquibancada com acesso?
SIM
02
20%
NÃO
08
80%
Com o resultado obtido verificou-se que (20%) vinte por cento dos entrevistados já
freqüentou arquibancadas com acesso, e (80%) oitenta por cento responderam não terem
freqüentado uma arquibancada com aceso.
15) Já freqüentou quadras adaptadas?
SIM
05
50%
NÃO
05
50%
Com o resultado obtido verificou-se que (50%) cinqüenta por cento dos entrevistados já
freqüentaram quadras adaptadas, enquanto (50%) cinqüenta por cento responderam que nunca
freqüentaram.
16) Você tem conhecimento ao direito universal?
SIM
08
80%
NÃO
02
20%
109 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas
de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de
Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011.
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Com o resultado obtido verificou-se que (80%) oitenta por cento dos entrevistados
responderam que tem conhecimento do direito universal, e (20%) vinte por cento responderam que
não conheciam.
17) Gostaria de ter acesso ao esporte, atividades físicas e lazer?
SIM
09
90%
NÃO
01
10%
Com o resultado obtido verificou-se que (90%) noventa por cento dos entrevistados
responderam que sim gostariam, e (10%) dez por cento respondeu que não gostaria.
18) Sabe da importância da atividade física sistemática?
SIM
09
90%
NÃO
01
10%
Com o resultado obtido verificou-se que (90%) noventa por cento dos entrevistados
responderam que sim, e (10%) dez por cento responderam que não.
19) Já sentiu melhorias com a prática de atividades físicas?
SIM
10
100%
NÃO
-
-
110 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas
de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de
Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011.
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Com o resultado obtido verificou-se que (100%) cem por cento dos entrevistados
responderam sentiram melhorias com a pratica de atividades físicas.
20) Você tem ou teve profissionais de educação física com formação especializada para seu
atendimento?
SIM
07
70%
NÃO
03
30%
Com o resultado obtido verificou-se que (70%) setenta por cento dos entrevistados tem
ou teve um profissional de educação física especializado, e (30%) por cento responderam nunca ter
tido um profissional de educação física especializado para seu atendimento.
O resultado em termos percentuais vem confirmar que é preciso fazer muito ainda para
tornar a acessibilidade e inclusão da pessoa com deficiência na cidade de Petrópolis uma realidade.
Deve-se salientar ainda que a acessibilidade ao espaço construído não deva ser vista
como um conjunto de medidas que favoreceriam apenas às pessoas com deficiência (ALERJ 2005).
CONCLUSÃO
Como reflexão final, importa chamar a atenção para a necessidade de procurar imprimir
racionalidade científica em relação à inclusão que é “o conceito de vida independente” (CRESPO,
2003).
Acessibilidade designa que todos os ambientes, os meios de transporte e os utensílios
sejam projetados para todos e, portanto, não apenas para pessoas com deficiência (SASSAKI,
2003).
Deve-se entender a pessoa com deficiência como cidadão ativo na sociedade, e que
como tal tem seus direitos e deveres, e que tem muito a contribuir, com seu trabalho, exemplo de
luta, perseverança. Para que isso aconteça é necessário que a sociedade entenda a pessoa com
deficiência como cidadão pleno na sua essência e que sejam visíveis os papéis que desempenham
seus componentes centrais: sociedade civil e governo, cuja comunicação é fundamental para
realização desse projeto.
111 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas
de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de
Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011.
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A adaptação de prédios e espaços públicos através de medidas simples como a
construção de rampas com corrimão, transporte, elevadores, piso antiderrapante e portas largas,
oportuniza o acesso a suas dependências como banheiros, quadras, piscinas e campos permite o
direito de ir e vir livremente para todos fazendo jus ao que se afirma freqüentemente: “Ser diferente
é normal ” 1 (CAMPEÃO, 2005).
Através da pesquisa constatou-se que muitas das edificações esportivas em Petrópolis
têm mais de trinta anos, e que na época de sua construção não havia a preocupação e a informação
do direito ao acesso de pessoas com deficiência. Quanto aos ginásios esportivos públicos ou
privados constatou-se que há um
Cenário de dificuldades, já que a maioria não possui acesso, ou quando possui é parcial.
Diante do quadro atual torna-se relevante à estruturação de políticas públicas e privadas
dando incentivos voltados a esse seguimento da sociedade.
Aguarda-se um futuro em que a sociedade será mais paritária, na qual a inclusão e a
acessibilidade serão de fato realidades.
Tendo em mãos esses resultados, percebe-se que é preciso construir acessos sim, mas
primeiramente se faz necessário construir conceitos como rota acessível, inclusão e aceitação e que
se aprenda, a respeitar o direito universal, porque somos todos iguais, somos seres humanos.
A conscientização e a informação são ferramentas importantes para a acessibilidade e
inclusão das pessoas com deficiência, mas é preciso que cada um faça a sua parte não privilegiando
as pessoas com deficiência, porque ao que parece o que é bom para a pessoa com deficiência é
excelente para quem não é.
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1
CAMPEÃO. M. Em comunicação pessoal; 2005.
112 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas
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114 SILVEIRA, Arthur Antunes Oliveira da. Revisão sistemática dos efeitos da utilização da prótese
reversa de Grammont em artroplastidas de ombro. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da
Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 114-125, Jan. 2011/Jun 2011.
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REVISÃO SISTEMÁTICA DOS EFEITOS DA UTILIZAÇÃO DA PRÓTESE
REVERSA DE GRAMMONT EM ARTROPLASTIAS DE OMBRO
Arthur Antunes Oliveira da Silveira1
Resumo:
Abstract:
O presente estudo tem como objetivo,
revisar os principais dados sobre a prótese
reversa de Grammont, sua utilização em
artroplastias de ombro, bem como sobre as
principais indicações de artroplastia,
mostrando os benefícios funcionais e
biomecânicos desta técnica de protetização.
Foi realizada uma extensa revisão, com
artigos oriúndos de sites renomados de
publicação científica, entre eles o PubMed,
Lilacs, e Scielo, onde foi possível concluir
que a prótese reversa de Grammont é um
método inovador de cirurgia, o qual vem
obtendo resultados satisfatórios em casos
de artroplastia de ombro. Os principais
resultados observados são a recuperação da
mobilidade perdida, que leva a um grau
satisfatório de retorno funcional, além do
alívio substancial da dor. Contudo, a
protetização reversa é uma técnica
inovadora
e
relativamente
recente,
necessitando de maiores estudos para a
elucidação de seus benefícios e completo
embasamento científico, bem como sua
aplicação na prática cirúrgica.
The present study has the objective of rewiewing
the main data on Grammont Reverse Prosthesis,
its use in shoulder arthroplasty, as well as the
main indications for arthroplasty, showing the
functional and biomechanical benefits of this
prosthetization technique. An extensive review
was performed, with articles from renowned
scientific publishing sites, including PubMed,
Lilacs and Scielo, where it was possible to
conclude that the Grammont Reverse Prosthesis
is an innovative method of surgery, which has
achieved satisfactory results in shoulder
arthroplasty. The main results observed are the
recovery of lost mobility, which leads to a
satisfactory degree of return to function, besides
the substantial relief of pain. However, the
reverse prosthesis is an innovative and relatively
new technique, requiring further studies to
elucidate its benefits and complete scientific
basis, as well as its application in surgical
practice.
Shoulder
Prosthesis.
Key-words:
Arthoplasty, Grammont,
Reverse
Palavras-chave:
Artroplastia de Ombro, Grammont, Prótese
Reversa.
1
Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção de grau em bacharel em Fisioterapia na Faculdade Estácio de Sá de
Goiás sob a orientação do Prof. Esp. Marcelo Watanabe de Matos.
Trabalho de Conclusão de Curso, para obtenção do grau de Bacharel em Fisioterapia, da Faculdade Estácio de Sá de
Goiás, sob a orientação do Prof. Esp. Marcelo Watanabe de Matos.
115 SILVEIRA, Arthur Antunes Oliveira da. Revisão sistemática dos efeitos da utilização da prótese
reversa de Grammont em artroplastidas de ombro. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da
Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 114-125, Jan. 2011/Jun 2011.
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INTRODUÇÃO
O complexo articular do ombro é composto por três articulações sinoviais, a
esternoclavicular, a acromioclavicular e a glenoumeral, além de uma quarta articulação, a
escapulotorácica, considerada uma articulação fisiológica por não possuir os tecidos típicos de uma
articulação sinovial, como cápsula articular, membrana sinovial, líquido sinovial e cartilagem
hialina (KAPANDJI, 1990). Graças às habilidades motoras deste complexo e à incapacidade gerada
a partir da lesão do mesmo, um número crescente de estudos vem sendo realizados, tanto por
médicos, quanto por outros profissionais da área da saúde, visto que as doenças da região
cervicobraquial, com ênfase para as síndromes dolorosas do ombro, estão entre as causas mais
frequentes de consultas clínicas.
Um dos métodos mais eficazes de tratamento cirúrgico das patologias do ombro é a
artroplastia, que envolve a substituição da articulação glenoumeral por uma prótese metálica,
podendo ser ela total ou parcial (CHECCHIA et al., 2010). Devido à alta taxa de instabilidade pósoperatória e à grande reincidência na colocação de uma prótese (VEADO; FLORA, 1994) surgiu
recentemente uma técnica inovadora, onde os componentes da articulação glenoumeral são
invertidos, tornando a cavidade glenóide convexa e a cabeça do úmero côncava. Essa nova técnica
de protetização recebeu o nome de Prótese Reversa de Grammont.
Sendo assim, este estudo tem como objetivo, avaliar e destacar os principais efeitos da
utilização da prótese reversa em artroplastia de ombro.
METODOLOGIA
A presente pesquisa consiste em uma revisão bibliográfica realizada por meio de
publicações em artigos científicos, revistas, jornais e livros, disponíveis em base de dados, dentre
elas podemos citar: Lilacs, Scielo, Mediline e bibliotecas universitárias. Publicações estas que
abordam anatomia do ombro, tipos de artroplastias e prótese reversa de Grammont, assim como
todos os contextos diretos e indiretos ligados ao tema da pesquisa.
116 SILVEIRA, Arthur Antunes Oliveira da. Revisão sistemática dos efeitos da utilização da prótese
reversa de Grammont em artroplastidas de ombro. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da
Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 114-125, Jan. 2011/Jun 2011.
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DESENVOLVIMENTO
ANATOMIA
O ombro não é uma articulação única, mais sim um conjunto funcional que permite unir
o membro superior ao tórax (KAPANDJI, 2000). É uma estrutura capaz de realizar amplitudes de
movimento superiores a 180 graus, graças aos movimentos coordenados das articulações que o
compõem, e possui a maior liberdade de movimento do corpo humano (VEADO; FLORA, 1994). A
estrutura anatômica do ombro está representada na figura 1:
Figura 1: Anatomia do complexo articular do ombro
Fonte: Southern California Orthopaedic Institute – 2010
A articulação glenoumeral é a mais discutida quando se fala do complexo do ombro. Ela
é do tipo esferóide e é formada pela fossa glenóide da escápula e pela cabeça do úmero. A
profundidade da cavidade glenóide é aumentada por uma camada fibrocartilaginosa chamada de
lábio glenóide, sendo esse lábio de grande importância para estabilidade da cabeça do úmero
durante o movimento da glenoumeral, visto que aumenta esta concavidade e, por consequência,
aumenta o contato ósseo nesta região (KONIN, 2006). A escápula com a cavidade glenóide esta
representada na figura 2:
117 SILVEIRA, Arthur Antunes Oliveira da. Revisão sistemática dos efeitos da utilização da prótese
reversa de Grammont em artroplastidas de ombro. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da
Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 114-125, Jan. 2011/Jun 2011.
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Figura 2: Vista anterior da escápula e cavidade glenóide
Fonte: Biomecânica online – FMUSP - 2010
A cápsula da articulação glenoumeral cobre a articulação desde a fossa glenóide até o
colo anatômico do úmero (DÂNGELO; FATTINI, 2002). Por ser extremamente frouxa, a cápsula
contribui para uma ampla mobilidade articular e uma grande instabilidade desta articulação. É
reforçada anteriormente, posteriormente e inferiormente por estruturas ligamentares e tendíneas
distintas (ANDREWS; HARRELSON; WILK, 2000). Como há mínimo contato entre a cavidade
glenóide e a cabeça umeral, a articulação do ombro depende de estruturas ligamentares, musculares
e tendíneas para ter estabilidade durante sua movimentação (VAN DE GRAAFF; WAFAE, 2003).
A cápsula do ombro está representada na figura 3:
Figura 3: Cápsula articular do ombro
Fonte: Biomecânica online – FMUSP – 2010
118 SILVEIRA, Arthur Antunes Oliveira da. Revisão sistemática dos efeitos da utilização da prótese
reversa de Grammont em artroplastidas de ombro. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da
Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 114-125, Jan. 2011/Jun 2011.
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A combinação dos movimentos articulares coordenados e das estruturas periarticulares
envolvidas, permite que o braço e a mão sejam posicionados no espaço, levando a uma ampla
variedade de funções. O resultado é uma amplitude de movimento que permite orientar o membro
superior nos três planos do espaço e nos seus três respectivos eixos, podendo assim realizar os
movimentos de extensão e flexão no plano sagital, os de abdução e adução no plano frontal, e os de
rotação interna e externa no plano transversal, sendo considerada a articulação de maior mobilidade
entre todas do corpo humano. (KAPANDJI, (1990) e SILVA et al.,2009).
A força dos músculos do manguito rotador é o elemento principal para a estabilidade
dinâmica da articulação glenoumeral. Suas fibras musculares encontram-se em grande proximidade
com a articulação e seus tendões se fundem à cápsula articular. A função primária dos músculos
estabilizadores consiste em manter a cabeça umeral dentro da cavidade glenóide e neutralizar as
grandes forças de cisalhamento geradas pelos motores primários. Além desses músculos, é
necessário destacar também as ações da cabeça longa do bíceps e determinadas porções do deltóide
na estabilização dessa articulação. Ao redor da articulação glenoumeral estão localizadas as bolsas
(bursas) subacromial e subdeltóide. Essas bolsas permitem que os tendões do supra-espinhal e os da
cabeça longa do bíceps braquial possam deslizar suavemente debaixo do acrômio. Além disso, essas
bursas proporcionam nutrientes para os tendões do manguito rotador (ANDREWS; HARRELSON;
WILK, 2000).
PATOLOGIAS
Frontera et. al (2001, p. 215), atenta para o fato de que todas as doenças articulares
possuem fatores intrínsecos como: a rigidez, a dor, a deformidade articular, a contratura dos tecidos
moles, atrofia muscular, a perda do condicionamento físico generalizado e a diminuição da função,
onde a perda da força muscular geralmente se associa aos fatores citados.
De acordo com Hall (2000), o ombro é suscetível tanto aos tipos traumáticos quanto por
uso excessivo (overuse) de lesões, onde se incluem entre 8% a 13% de todas as lesões relacionadas
ao desporto. Em grande parte dos casos, dores no ombro são sintomas de lesões provocadas pela
repetição de movimentos que machucam os tendões e por processos crônico-degenerativos que
ocorrem depois dos 40 ou 50 anos de idade (CECHIA, 2009).
As principais patologias que acometem essa articulação são as síndromes relacionadas
ao ombro doloroso, podendo ser classificadas por seu fator etiológico como: afecção periarticular,
alteração da articulação glenoumeral, alterações estruturais, e outras afecções reumáticas. Neer et
119 SILVEIRA, Arthur Antunes Oliveira da. Revisão sistemática dos efeitos da utilização da prótese
reversa de Grammont em artroplastidas de ombro. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da
Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 114-125, Jan. 2011/Jun 2011.
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al. (1982) ressaltaram que as principais indicações da artroplastia total do ombro são a osteoartrose,
a artrose por instabilidade, a artrite reumatóide, as sequelas de trauma e as revisões de artroplastias
parciais do ombro. Torchia et al (1997), relataram que 83% dos resultados eram satisfatórios quanto
à melhora da dor, na avaliação clínica de 89 pacientes após cinco anos, submetidos à artroplastia de
ombro. Hasan et al. (2002) avaliaram 139 pacientes submetidos a artroplastia de ombro que
evoluíram com maus resultados. Observaram também que as complicações mais comuns nesses
pacientes eram a rigidez (74%) e a soltura (59%) do componente glenoidal, provavelmente devido à
falha no “balanço” das partes moles e ao mau posicionamento do componente glenoidal. Entre as
principais causas de insucesso das artroplastias de ombro estão à soltura da prótese, o suporte ósseo
deficiente e o desgaste assimétrico da cavidade glenoidal, comuns nos casos de osteoartrose
primária, luxações inveteradas e sequelas de instabilidade (CHECCHIA et al., 2010). Também foi
descrito que a causa mais comum de protetização é o processo de envelhecimento natural, onde os
distúrbios de ombro são raros entre 40 anos e aumentam na faixa de 50 e 60 anos, continuando
aumentar a partir dos 70 anos (MENDONÇA JR; ASSUNÇÃO, 2005).
HISTÓRICO DA PROTETIZAÇÃO
A artroplastia do ombro foi introduzida e popularizada por Neer, sendo realizada desde
1951. Mas, segundo Lugli (1978), foi o cirurgião francês Péan que, em 1893, realizou a primeira
substituição da articulação do ombro. No entanto, as primeiras descrições da artroplastia parcial de
ombro, para tratamento da artropastia por lesões do manguito rotador, datam de 1982, quando Neer
as realizou em 16 pacientes, obtendo resultados satisfatórios em 10, com seguimento mínimo de 24
meses. A artropastia do manguito rotador é conhecida desde o século 19, primeiramente por Smith
em 1853 e Adams em 1873, que a descreveram como lesão maciça, ou ruptura do manguito rotador
(SMITH, 1953a e SMITH, 1953b). Richard et al. (1952) foram os primeiros autores a relatar o uso
da substituição artroplástica da epífise umeral proximal em pacientes com fraturas ou luxações,
fraturas cominutivas e fraturas articulares da articulação glenoumeral. A artroplastia do ombro, ao
longo dos anos, tem se tornado um procedimento comumente realizado na prática ortopédica
(KONIN, 2006 e CHECCHIA, 2010). Durante todos esses anos, somente 5% do total das
artroplastias do ombro realizadas no mundo tiveram seus resultados publicados, sendo a maioria em
grandes centros. Dessa forma, 95% dos procedimentos foram realizados sem qualquer
documentação cientifica (MATSEN et al. 2004). A artroplastia convencional está representada na
figura 4:
120 SILVEIRA, Arthur Antunes Oliveira da. Revisão sistemática dos efeitos da utilização da prótese
reversa de Grammont em artroplastidas de ombro. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da
Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 114-125, Jan. 2011/Jun 2011.
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Figura 4: Artroplastia convencional de ombro
Fonte: American Academy of Orthopaedic Surgeons - 2010
VANTAGENS E DESVANTAGENS DA ARTROPLASTIA
A artroplastia do ombro proporciona um tratamento eficaz para uma variedade de
patologias que afetam seu mecanismo funcional, contudo, esta técnica está associada a um conjunto
de complicações que podem conduzir à falência da prótese. A perda do movimento do ombro
normalmente é ocasionada por lesões grandes e maciças, que comprometem tendões que não podem
ser restaurados de forma adequada (FOLGADO et al. 2010).
Desta forma, a prótese invertida foi introduzida em 1985 por Grammont (GRAMMONT;
BAULOT, 1993), sendo que algumas próteses similares haviam sido usadas anteriormente por
Gerard et al. (1973), além de Neer, que também tentou o modelo reverso (NEER; WATSON;
STANTON, 1982). A prótese de Grammont está representada na figura 5:
121 SILVEIRA, Arthur Antunes Oliveira da. Revisão sistemática dos efeitos da utilização da prótese
reversa de Grammont em artroplastidas de ombro. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da
Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 114-125, Jan. 2011/Jun 2011.
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Figura 5: Prótese Reversa de Grammont
Fonte: American Academy of Orthopaedic Surgeons – 2010
Anteriormente, a prótese reversa foi projetada por Reeves, Liverpool, Bayley e Neer,
Averill, Kolbel, Kessel, Fenlin e Gerard na década de 1970 e 1980. No entanto, o denominador
comum para o seu fracasso foi o afrouxamento da glenóide com resultados desastrosos e altas taxas
de complicação, que levaram ao abandono desta técnica (GRAMMONT; BAULOT, 1993).
Segundo Hatzidakis, Norris e Boileau (2005), há três casos específicos em que temos
encontrado resultados satisfatórios na utilização da prótese reversa, sendo que as características
comuns desta indicação ocorrem quando o mecanismo biomecânico para a elevação está perdido,
seja através da perda irreparável do manguito rotador, ou mal posicionamento grave das
tuberosidades, sendo que a primeira indicação é de osteoartrite irreparável primária do ombro com
lesão maciça do manguito rotador, e em pacientes com osteoartrite secundária ou osteonecrose. A
segunda indicação se refere ás sequelas das fraturas graves, onde os pacientes tiveram o ombro
deslocado e, normalmente, fraturas cominutivas com grande perda de massa óssea, na parte
proximal do úmero. A terceira indicação para a artroplastia reversa do ombro é uma revisão da
artroplastia que falhou anteriormente, onde é feita a troca do material protético antigo pelo novo.
Grammont e Baulot (1993) relatam que os maiores benefícios trazidos pela prótese
reversa são o retorno do sono repousante e a facilidade em executar atividades simples da vida
diária, onde o alivio da dor é o benefício mais relatado. A Prótese Reversa de Grammont possui um
procedimento complicado e o indivíduo deve estar suficientemente orientado, para compreender e
aceitar os riscos da cirurgia. Ele deve possuir uma qualidade óssea suficiente para a realização do
processo cirúrgico e fixação da prótese, além de motivação pessoal e cooperação, que são elementos
importantes para um bom prognóstico. As figura 6 e 7 mostram as diferenças entre protetização
convencional e a protetização reversa ao raio-x:
122 SILVEIRA, Arthur Antunes Oliveira da. Revisão sistemática dos efeitos da utilização da prótese
reversa de Grammont em artroplastidas de ombro. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da
Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 114-125, Jan. 2011/Jun 2011.
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Figura 6: Raio-x evidenciando protetização convencional
Fonte: American Academy of Orthopaedic Surgeons – 2010
Figura 7: Raio-x evidenciando a protetização reversa de ombro
Fonte: American Academy of Orthopaedic Surgeons - 2010
DISCUSSÃO
Segundo os Juvenspan, Nourissat e Doursounian (2010), as inversões de próteses totais
do ombro obtiveram os melhores resultados a curto e médio prazo. Elas fornecem excelente alívio
da dor e melhoram significativamente elevação ativa, contudo seu efeito limitado na rotação externa
e na força não tem qualquer impacto sobre a taxa de satisfação do paciente.
Baulot, Chabernaud e Grammont (1995), bem como Buttet et al. (1995), relataram bons
resultados com a Prótese Reversa Delta. Um estudo recente da Rittmeister e Kerschbaumer (2001)
também confirmou os bons resultados em pacientes com artrite reumatóide.
123 SILVEIRA, Arthur Antunes Oliveira da. Revisão sistemática dos efeitos da utilização da prótese
reversa de Grammont em artroplastidas de ombro. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da
Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 114-125, Jan. 2011/Jun 2011.
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Lyman et al. (2005) afirmaram que os melhores resultados das artroplastias de ombro
estão associados ao maior volume cirúrgico, sendo isto confirmado pelo estudo de Hammond et al
(2003).
CONCLUSÃO
Concluímos que a Prótese Reversa de Grammont é um método cirúrgico inovador, o
qual vem obtendo resultados satisfatórios em artroplastias de ombro, levando a uma importante
recuperação funcional da articulação, no que tange principalmente ao ganho de amplitude de
movimento e força muscular com redução do quadro álgico, com menores taxas de complicações
pós-cirúrgicas. Contudo, por ser uma técnica inovadora e relativamente recente, a protetização
reversa necessita de maiores estudos para a elucidação de seus benefícios e completo embasamento
científico, bem como para sua ampla aplicação na prática cirúrgica internacional.
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126 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci.
A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio
de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011.
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A INFLUÊNCIA DO EDUCADOR FÍSICO NA ADERÊNCIA DOS ALUNOS
A PRÁTICA DE EXERCÍCIOS EM ACADEMIA
Filipe Figueiredo de Rezende1; Marcelle Valentim Vieira2; Beatriz Bicalho3; Mariluci Braga4
Resumo:
O objetivo do presente estudo é investigar na
literatura, se o educador físico tem influência
na aderência dos alunos praticantes de
exercícios em academias. A realização deste
estudo está relacionada à necessidade de
contribuir para ampliar a literatura nessa área,
haja visto a existência de poucos estudos no
Brasil sobre este tema. A partir desta revisão
de literatura, foi possível identificar que os
principais fatores que determinam a aderência
dos alunos, são o conhecimento e qualificação
dos professores, a forma como eles se
relacionam com os alunos e suas atitudes
durante as aulas. Conclui-se que o educador
físico tem influência na aderência dos alunos
praticantes de exercício em academias. A partir
disso, sugere-se a realização de outros estudos
para investigar os fatores que influenciam o
comportamento do educador físico neste
ambiente.
Palavras-Chave:
Academia. Aderência. Educador Físico.
1
Abstract:
The objective of this study is to investigate
in the literature, if the physical educator has
influence in adherence of students who
pratice exercises in gym. The achievement
of this study is related to the need of
contribution to enlarge the literature in this
area, since there is just a few studies in
Brazil related to this theme. From this
literature review, it was possible to identify
that the main factors that determinate the
adherence of the students are teacher's
knowledge and qualification, including the
way that they relate with the students and
their attitudes during classes. The
conclusion is that physical educators has
influence in adherence of students who
pratice exercises in gym. Since there, the
suggestion is to realize more studies to
investigate the factors that influence the
behavior of physical educators in this
environment.
Key-Words:
Gym. Adhrence. Physical Educator.
Aluno Educação Física FESBH.
Aluna Educação Física FESBH.
3
Professora Orientadora FESBH – Graduada em E.F pela UFMG – Pós-Graduada em Fisiologia do Exercício pela
Universidade Veiga de Almeida – Coordenadora da Formula Academia.
4
Professora Mestre Co-Orientadora FESBH - Graduada em E.F pela UFMG – Pós-Graduada em Informática Aplicada
à Educação pela PUC/MG - Mestre em Ciência da Comunicação pela UFSC.
2
127 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci.
A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio
de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011.
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INTRODUÇÃO
Percebe-se que atualmente os indivíduos têm um estilo de vida pouco saudável, em
função do estresse e estafa do cotidiano, de uma alimentação inadequada e da irregularidade na
prática de exercícios físicos5. Com esses fatores citados, a qualidade de vida da população fica
abalada, tanto em estado físico quanto psicológico.
Hoje em dia, cada vez mais pessoas são sedentárias, sendo, justamente, estas as que mais
teriam a ganhar com a prática regular de atividade física6, seja como forma de prevenir doenças,
promover saúde ou simplesmente em busca do bem-estar. Os benefícios da prática regular de
atividade física que antes eram apenas constatados pela observação não controlada e não cientifica,
hoje são evidenciados cientificamente por diversas áreas.
O estilo de vida ativo, assim como o exercício físico, resultam em importantes
benefícios fisiológicos, além de possibilitar o aproveitamento do tempo de vida com o mínimo de
estresse por restrições físicas e assédios de doenças que diminuem sua funcionalidade e vitalidade
(PATE, et. al., 1995; SALLIS ; WILMORE, 1995; SHEPARD ; BOUCHARD, 1994; USDHHS,
1996 apud ROJAS, 2003).
Perante a conscientização e constatação da importância da prática de exercícios físicos,
sobretudo orientados, as academias7 surgem como alternativa para grande parte da população, sendo
um local privilegiado para a prática de exercícios físicos, fazendo com que o número de academias
aumente a cada dia, principalmente nos grandes centros urbanos.
Saba (2001, p. 52) cita que “pesquisas mostram que o aumento do número de academias
é impressionante, assim como o número da população que se vale de seus serviços, conforme cresce
a consciência da importância do desenvolvimento do exercício físico”.
Apesar do elevado número de academias e das informações sobre a importância da
prática de atividade física, pode-se observar que um grande número de pessoas, que iniciam
programas nestes locais, desiste por diversos fatores. Estudos americanos destacam que a
desistência é mais acentuada ao final do primeiro e terceiro mês de participação (CANTWEL, 1998;
DISHMAN, 1994 apud ROJAS, 2003).
5
Exercício físico é toda atividade física planejada, estruturada e repetitiva, que tem por objetivo a melhoria e
manutenção de um ou mais componentes da aptidão física (CASPERSEN et al., 1985 apud GUISELINI, 2006, p. 32).
6
Defini-se atividade física como qualquer movimento corporal, produzido pelos músculos esqueléticos, resultando em
gasto energético maior do que os níveis de repouso (CASPERSEN et al., 1985 apud GUISELINI, 2006, p. 23).
7
Local que oportuniza o ambiente e a orientação para a prática de programas de exercício físico (ROJAS, 2003).
128 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci.
A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio
de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011.
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Ao iniciar um programa de exercício físico, a maior dificuldade que se encontra é a
aderência8 a essa atividade. Deste modo, percebe-se que os educadores físicos que atuam em
academias, devem direcionar atenção tanto no incentivo ao ingresso, quanto na manutenção de
indivíduos em programas de exercício físico (MALAVASI ; BOTH, 2005).
Mesmo sendo conhecida e comprovada a importância da prática de exercícios físicos,
tanto para a saúde quanto para a melhoria da qualidade de vida, ainda hoje é verificada uma
rotatividade muito grande nas academias.
Partindo desse pressuposto, o objetivo do presente estudo é investigar na literatura se o
educador físico tem alguma influência na aderência dos alunos praticantes de exercício físico em
academias.
A realização deste estudo esta relacionada à necessidade de contribuir para ampliar a
literatura nessa área, haja vista a existência de poucos estudos no Brasil sobre este tema.
REVISÃO DE LITERATURA
ACADEMIA
A prática de atividades físicas existe desde a pré-história das mais variadas formas.
Nesse período as atividades físicas eram praticadas de forma obrigatória pela própria necessidade
de sobrevivência. O homem pré-histórico precisava lutar, caçar e pescar para sobreviver, nadar para
atravessar rios e caminhar longas distâncias já que era nômade e mudava constantemente sua
morada (TUBINO, 1992).
Com o passar dos tempos e diferindo de acordo com cada civilização as atividades
físicas tiveram diversos enfoques como higiênico, fisiológico, moral, ritual, recreativo, espiritual
entre outros, tendo sido a dança uma das atividades físicas mais significantes para o homem na
antiguidade (OLIVEIRA, 1983 apud MARTINS, 2008).
Tubino (1992) reforça que, com o passar de muitos anos, a atividade física foi tomando
forma de exercício físico, pois outros objetivos foram sendo atribuídos a sua prática. De acordo com
este autor, foi com a civilização grega que as atividades físicas passaram a ser reconhecidas como
historicamente importantes. Como ressalta Oliveira (1983 apud MARTINS, 2008), no período
chamado histórico, na Grécia antiga, surgem os grandes jogos gregos, que eram verdadeiras festas
8
Segundo Saba (2001, pag. 39) entende-se como aderência “a manutenção da prática de exercícios físicos por longos
períodos de tempo, como parte da rotina dos indivíduos.”
129 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci.
A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio
de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011.
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populares e religiosas, as quais envolviam, além de competições atléticas, provas literárias e
artísticas.
As atividades físicas dos indígenas no Brasil eram muito semelhantes àquelas realizadas
na pré-história. Nossos primeiros habitantes eram habilidosos e praticavam diversas atividades
físicas para sua sobrevivência, tais como: arco e flecha, canoagem, natação, luta, caça, pesca entre
outras (OLIVEIRA, 1983 apud MARTINS, 2008).
Em 1837, período após a chegada da família real portuguesa ao Brasil, o Ginásio
Nacional criado como instituição-modelo no Rio de Janeiro, incluiu a ginástica nos seus currículos
e que em 1851, começou a legislação referente à matéria, obrigando a prática da ginástica nas
escolas primárias do Município da Corte (OLIVEIRA, 1983 apud MARTINS, 2008).
De acordo com Capinussú; Costa (1989 apud MARTINS, 2008), as academias existem
em moldes organizacionais desde 1867, quando foi fundada na cidade de Bruxelas, na Bélgica, uma
instituição onde se objetivava o ensino da cultura física através de aparelhos. Após essa data o
surgimento de novas instalações onde se praticavam atividades físicas foi se intensificando em
outros países europeus como França e Inglaterra, e também nos Estados Unidos.
Já no Brasil, conforme Capinussú (2006) coube a um imigrante japonês, exímio
praticante de jiu-jítsu, por volta do ano de 1914, montar em sua própria casa na cidade de Belém do
Pará a primeira academia em moldes comerciais. No que se refere ao surgimento da primeira
academia no Rio de Janeiro, o mesmo autor relata ter sido em 1925 quando um português fundou
um ginásio na zona central do Rio de Janeiro onde oferecia atividades de halterofilismo e ginástica
olímpica.
Importante observar que a ênfase das academias era inicialmente nas lutas marciais e no
halterofilismo, sendo que inclusive Capinussú; Costa (1989, apud MARTINS, 2008) se referem à
década de 50 como “época de ouro das academias dedicadas ao ensino do halterofilismo.”
A concepção das academias foi mudando e a ênfase ao halterofilismo, assim como nas
lutas, perdendo espaço, até que nos anos 70 surgiu a nomenclatura musculação, para quebrar o
preconceito que existia contra o halterofilismo e também atrair as mulheres para essa atividade
(MORAES, 2006).
A década de 70 ficou marcada pelos trabalhos desenvolvidos pelo Dr. Kenneth Cooper.
A obra intitulada “Aeróbica” afirmava que todas as pessoas, inclusive as não treinadas, poderiam
realizar alguma prática corporal, pois isso traria enormes benefícios para a saúde, despertando na
população o gosto pela atividade física especialmente pela corrida, chamada por ele em inglês de
jogging (NOVAES; VIANNA, 2003 apud MARTINS, 2008).
130 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci.
A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio
de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011.
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Com isso os exercícios aeróbios tiveram grande aceitação por parte da população
brasileira, sendo, inclusive, utilizado como meio de treinamento para atletas, particularmente do
futebol profissional. Sob orientação do professor Claudio Coutinho, a seleção brasileira de futebol
Campeã do Mundo no México em 1970, teve como base de sua preparação física os exercícios
aeróbios. O alto nível de habilidade, característica marcante do jogador brasileiro, associado à
ciência do treinamento aeróbio, propiciou uma façanha inédita: o tricampeonato mundial de futebol.
(GUISELINI, 2006).
Ainda de acordo com Guiselini (2006), essa época ficou marcada pela redescoberta da
prática do exercício físico, em particular dos exercícios aeróbios. “Fazer Cooper”, virou sinônimo
de caminhada e corrida nas praias, parques, ruas; virou moda, tornou-se um comportamento novo
entre milhares de sedentários.
Neste mesmo período surge à ginástica aeróbica, as professoras Jack Sorensen e Phylips
Jacobson, apresentam uma combinação de exercícios aeróbios (caminhadas, corrida e saltos) e
músicas, organizadas em pequenas coreografias. A ginástica aeróbica tornou-se um dos maiores
fenômenos socioculturais e esportivos no EUA e depois no Brasil. Já consagrados, os exercícios
aeróbios adentram a década de 80 com um novo local para sua prática: as academias de ginástica
(GUISELINI, 2006).
Assim a ginástica aeróbica se consagra entre os jovens como o principal exercício físico
praticado nas academias, juntamente com a musculação, que até então era restrita as academias de
halterofilismo e frequentadas exclusivamente por homens. A década de 80 fica marcada pela
“década de culto ao corpo”, denominada assim pela grande valorização das formas volumosas e
pelo envolvimento das mulheres nas salas de musculação (GUISELINI, 2006). Esse período ficou
conhecido, como o “boom” das academias (TUBINO, 1989 apud MARTINS, 2008; MORAES,
2006).
Na década de 90, a ginástica aeróbica e a musculação serviram de base para o
surgimento de novas formas de se exercitar. A nova abordagem da prática de exercício físico, com
suporte de novas pesquisas cientificas, contribuiu para o surgimento de novos equipamentos
(GUISELINI, 2006).
A ciência e a tecnologia chegam definitivamente às academias e aos programas de
exercício físico. A década de 90 fica marcada pela grande aceitação do conceito de Fitness9, e
assim, a educação física conquista um novo espaço na sociedade, o exercício físico deixa de ser
9
O American College of Sports Medicine (1995 apud MARTINS, 2008) define ftness como “a obtenção ou manutenção
dos componentes do condicionamento físico, correlacionados com uma boa ou elevada saúde, sendo necessários para
realização de tarefas diárias e no confronto com os desafios esperados e inesperados.”
131 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci.
A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio
de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011.
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visto como uma prática de moda e é definitivamente incorporado como um habito saudável
(GUISELINI, 2006).
O fitness relacionado à saúde envolve componentes que apresentam uma relação
diretamente proporcional ao melhor estado de saúde e, adicionalmente, demonstraram adaptação
positiva à realização regular da atividade física e de exercícios físicos. São eles: resistência
cardiorrespiratória, força e resistência muscular, flexibilidade, composição corporal e coordenação
motora. (BARBANTI 1993 apud GUISELINI, 2006).
Exercício físico regular e alimentação adequada são considerados por médicos,
psicólogos e professores de educação física os principais hábitos a serem incorporados no estilo de
vida das pessoas. O sedentarismo passa a ser visto como uma doença, e varias pesquisas
demonstraram os seus efeitos para a saúde da população mundial: maior incidência de enfarto do
miocárdio, diabetes, hipertensão arterial, entre outras doenças (GUISELINI, 2006).
A década de 90 também ficou marcada pela criação do Conselho Federal de Educação
Física (CONFEF) e respectivos Conselhos Regionais de Educação Física (CREF). A sociedade
reconhece e aceita a estreita relação entre educação física e a saúde, e os profissionais de educação
física passam a fazer parte do seleto grupo de profissionais da saúde (GUISELINI, 2006).
No entanto o conceito de fitness, condicionamento físico relacionado à saúde, no final da
década de 1990, é substituído por um novo conceito: wellness10. Os profissionais relacionados à
saúde, incluídos neste contexto os educadores físicos, entendem que cuidar do ser humano não pode
ser mais de forma tradicional (GUISELINI, 2006).
Surge então na educação física uma nova abordagem na formação dos profissionais para
o novo milênio: o profissional do bem estar (wellness). O profissional deve estar preparado para
compreender a importância do exercício e saber aplicá-lo como meio de mobilização e equilíbrio da
energia física, emocional, social, mental e espiritual de todos aqueles interessados em sentir-se bem
(GUISELINI, 2006).
Desde o seu surgimento, as academias têm absorvido um número cada vez maior de
adeptos, com faixas etárias e motivos de procura diferenciados (MARCELLINO, 2003), exigindo
dos profissionais de Educação Física conhecimentos que vão além dos aspectos físicos e biológicos
do movimento humano.
Segundo dados do Confef (2010 apud SABA, 2010) o número de academias em
funcionamento e registradas no Brasil é de 17.666. A proliferação das academias de ginástica é uma
10
Corbin (apud SABA, 2001, p. 43) define wellness como sendo “a integração de todos os aspectos da saúde e aptidão
(mental, social, emocional, espiritual e física), que expande um potencial para viver e trabalhar efetivamente, dando
uma significante contribuição para a sociedade”.
132 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci.
A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio
de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011.
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realidade em todo mundo e a rotatividade de alunos é um fenômeno que estimula os profissionais e
pesquisadores da área a investigar os motivos atribuídos a aderência nos programas estruturados de
exercícios físicos oferecidos neste espaço (MARCELLINO, 2003).
ADERÊNCIA
Quando uma pessoa inicia um programa de atividade física, seja esta iniciativa causada
por necessidade ou por convicção, a maior dificuldade que se encontra é na aderência desta
atividade em longo prazo. A aderência, ou seja, o comprometimento do praticante de exercícios
físicos com a sua rotina programada de treinamento, não ocorre logo no início da prática, pois há
um processo lento que vai da inatividade à manutenção da prática de exercícios físicos
(NASCIMENTO et al., 2007).
O sucesso de qualquer programa de exercícios físicos esta relacionado à motivação de
seus participantes, a motivação é caracterizada como um processo ativo, intencional e dirigido a
uma meta (SAMULSKI, 2009), considerada uma variável fundamental para a aderência
(WEINBERG ; GOULD, 2001).
A palavra motivação exerce um grande efeito sobre as pessoas, principalmente quando
se refere à prática de atividade física em geral. Muitas vezes a motivação pode ser responsável por
inúmeras razões pelas quais o individuo decidira realizar alguma atividade ou não (MALAVASI ;
BOTH, 2005).
Um dos principais aspectos que auxiliam no desenvolvimento da motivação é a
conscientização dos participantes sobre a relevância da prática regular de exercício físico enquanto
um componente importante para a sua vida (DECI; RYAN, 2000; SOARES, 2004 apud LIZ et al.,
2010).
De acordo com Saba (2001), a atividade física é benéfica tanto no aspecto biológico,
como também no nível psicológico. O autor aponta melhorias na capacidade cardiorrespiratória,
aumento na expectativa media de vida, entre outras, como exemplos de benefícios que a prática do
exercício proporciona às pessoas. No nível psicológico, os aspectos relacionam-se ao
aprimoramento dos níveis de auto-estima, da auto-imagem, diminuição dos níveis de estresse e
tantos outros (SABA, 2001).
O estudo de revisão realizado por Liz et al., (2010), sobre os motivos de aderência e
desistência de brasileiros praticantes de exercícios físicos em academias, levanta dados importantes
acerca desta temática.
133 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci.
A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio
de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011.
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Dentre estes, os motivos “saúde” e “estética” foram os mais citados para a aderência,
seguidos de “resistência, condicionamento e aptidão física”, “bem-estar”, “proximidade da
academia da casa ou do trabalho”, “qualidade de vida”, “prazer pelo exercício” e “socialização”
(LIZ et al., 2010).
Alguns estudos assinalam que a procura por um ideal estético sobrepõe à busca pela
saúde (TAHARA et al., 2003; ARAÚJO et al., 2007; ZANETTI et al., 2007 apud LIZ et al., 2010).
Este fato dificulta uma orientação profissional adequada, pois há divergência entre o objetivo do
professor e do aluno. Assim, de acordo com as considerações de Ryan et. al. (1997 apud LIZ et al.,
2010), a busca pela aparência idealizada não garantiria a aderência de praticantes de exercícios
físicos em academias.
A “socialização” como um dos principais motivos de aderência em academias sustenta a
afirmativa de quando as pessoas se identificam com os membros do grupo em que convivem sentem
mais prazer e atração pela atividade proposta (RYAN; DECI, 2000; WANKEL, 1993 apud LIZ et.
al., 2010). Nesse sentido, organizar o ambiente das academias de maneira a favorecer a socialização
entre os alunos e destes com o professor deve ser uma preocupação dos administradores desses
estabelecimentos (LIZ et. al., 2010).
Os motivos “bem-estar” e o “prazer pelo exercício” estão relacionados aos benefícios
psicológicos proporcionados pela prática regular de exercícios físicos (BATISTA, 2001;
ZANETTE, 2003; PEREIRA ; BERNARDES, 2005; ZANETTI et al., 2007 apud LIZ et al., 2010).
Santos; Knijnik (2006 apud LIZ et al., 2010) afirmam que as pessoas que têm prazer
pela prática, conseguem remanejar e derrubar as barreiras e dificuldades que encontram para
aderirem aos exercícios físicos.
Assim sendo, fazer com que o individuo se sinta bem ao praticar exercícios físicos deve
ser um objetivo dos profissionais envolvidos na orientação de exercícios físicos.
O EDUCADOR FÍSICO
A conscientização da importância da atividade física para uma boa qualidade de vida
tem levado cada vez mais pessoas a se exercitarem. Contudo, uma prática realmente saudável e
inserida como parte da rotina dos indivíduos, depende de orientação adequada, o que cabe ao
profissional formado em Educação Física.
A graduação em Educação Física oferece formação em licenciatura e bacharelado, o
profissional com licenciatura pode atuar como professor de Educação Física na educação formal.
134 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci.
A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio
de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011.
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Já a área de atuação do bacharel é voltada para clubes, academias, hotéis e associações,
onde exerce funções administrativas ou elabora treinos de musculação, ginástica, atividades
aquáticas, treinamentos esportivos entre outros (ROJAS, 2009). Desse mercado de trabalho, as
academias caracterizam uma significativa parcela, sendo uma das principais empregadoras dos
profissionais que optam pelo bacharelado (ANTUNES, 2003).
Um estudo realizado por Martins (2008) levanta importantes considerações a respeito da
atuação do bacharel em educação física nas academias. E através de uma pesquisa, revela a sua
importância na permanência dos alunos a prática de exercícios nas academias.
Pereira (1996 apud MARTINS, 2008) menciona algumas características que segundo ela
o professor de academia deve possuir, entre estas: ser criativo e comunicativo, ser solicito e
prestativo, inspirar confiança a respeito de seus procedimentos, se relacionar bem com os alunos,
chamá-los pelo nome, se preocupar quando faltam, se manter atualizado e informado entre tantas
outras.
Ela menciona ainda que a função do professor pode ir além de ministrar aulas. O papel
do professor é acompanhar o desenvolvimento dos alunos, incentivá-los, elogiá-los, corrigi-los
quando necessário, orientá-los, mostrar-se preocupado e interessado (PEREIRA, 1996 apud
MARTINS, 2008).
Aulas mal ministradas podem impedir a manutenção e a aderência ao exercício físico. Essa
posição é compartilhada por Berger ; Mclnman (1993), que apresentam dados confirmando
que os indivíduos que recebem pouca atenção do corpo técnico tendem a desistir duas vezes
mais, que os indivíduos que recebem elevada atenção. (SABA, 2001 pg. 83)
É importante destacar que, as pessoas não frequentam as academias somente com fins
estéticos. Essa finalidade pode até existir, mas não isoladamente. Atualmente, quando as pessoas
andam cada vez mais apressadas, estressadas e sedentárias, a prática de exercício físico constitui
também um idílio de saúde e paz (SABA, 2001).
Ainda de acordo com o mesmo autor “a busca sequiosa por ideal estético – acredita-se
que na maioria dos casos frustrantes – pode ser responsável pela elevada rotatividade de clientes
[...]” (SABA 2001, p. 50).
Saba (2001) acredita que ao se falar nos objetivos da atividade física na academia se
deva tirar a ênfase dada à beleza, à estética, e passar a enfatizar a qualidade de vida, o bem-estar e o
aumento da expectativa media de vida. E destaca ainda que “o preparo dos profissionais é de
fundamental importância na mudança desse paradigma.” (SABA, 2001, p. 53).
135 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci.
A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio
de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011.
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Pereira (2006 apud MARTINS, 2008) afirma que a culpa pelas pessoas não inserirem em
seu cotidiano a prática de atividade física é dos professores de Educação física, que ainda não
descobriram sua importância como disseminadores de uma vida mais saudável.
Para que isso ocorresse bastaria que os professores comentassem em suas aulas que, por
exemplo, um abdômen grande não significa apenas estar fora dos padrões de beleza impostos pela
sociedade, mas também a grande probabilidade, de acordo com pesquisas, de vir a contrair diabetes
e doenças cardiovasculares (PEREIRA, 2006 apud MARTINS, 2008).
Ainda de acordo com Guiselini (2006), é papel do educador físico, informar
freqüentemente os alunos sobre os benefícios da prática regular do exercício físico que ocorrem ao
longo da vida, principalmente no processo de envelhecimento, no qual ocorre a diminuição do
condicionamento físico, decorrente da idade, que é muito menor entre os indivíduos ativos.
Com relação à motivação, é papel do profissional de educação física, por meio de sua
atuação, orientar seu aluno no sentido de uma prática motivante. É necessário que o aluno seja o
centro da relação “sujeito” x “atividade física”, fomentando seu sentimento de autonomia e
conseqüentemente tornando-o mais motivado. Nesse sentido, os exercícios devem ser orientados em
função das preferências dos alunos, ao invés de adequar este a atividades previamente estabelecidas
(DECI; RYAN, 2000 apud LIZ et al., 2010).
Ainda é destacado por Martins Junior (2000 apud LIZ et. al., 2010), a importância de o
professor conhecer as teorias acerca da motivação, pois essas informações possibilitaram elaborar
estratégias mais eficazes para manter o aluno fisicamente ativo.
Deste modo, percebe-se que os educadores físicos que atuam em academias, devem
direcionar atenção tanto no incentivo ao ingresso, quanto na manutenção de indivíduos em
programas de exercício físico (MALAVASI ; BOTH, 2005).
CONSIDERAÇOES FINAIS
Através desta revisão de literatura, foi possível identificar que, o educador físico tem
grande influência na aderência dos alunos praticantes de exercícios físicos em academias.
Pode-se observar que, as academias ao longo dos anos, apresentaram
constantes
mudanças na sua concepção, passando a adotar novos conceitos, técnicas e abordagens com o
intuito de promover a saúde e qualidade de vida de seus alunos.
Com toda essa evolução no mercado de academias, se faz necessário que o educador
físico acompanhe essas mudanças. E para tal, é fundamental que eles busquem o conhecimento
136 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci.
A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio
de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011.
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técnico/cientifico, se atualizem constantemente e acima de tudo tenham uma visão ampla sobre seu
campo de atuação.
No
transcorrer
deste
estudo,
foi
possível
identificar
que
o
conhecimento
técnico/cientifico, é de extrema importância para o profissional. Pois de posse destes conhecimentos
o profissional é capaz de avaliar, prescrever e direcionar os alunos a uma prática consistente,
regular e motivante.
Aliando conhecimento/técnico à características como, atenção, cordialidade, criatividade
entre outros, esse profissional será responsável por influenciar a aderência destes alunos a prática de
exercícios nas academias.
Cabe salientar que, no transcorrer da elaboração deste estudo, houve o desafio, de
encontrar referências bibliográficas consistentes sobre o tema investigando o papel do educador
físico na aderência de alunos em academias.
A partir disso, sugere-se a realização de outros estudos para investigar os fatores que
influenciam o comportamento do educador físico neste ambiente.
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137 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci.
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de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011.
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WEINBERG, R. S.; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 2 ed. Porto
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138 FERREIRA, Emília Rodrigues; BERNARDES, Rogério Pereira; FILHO, Francino Machado de
Azevedo; MELO, Gleydson. Assistência de enfermagem ao clinte vítima de trauma raquimedular: um
estudo bibliográfico. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia
SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 138-146, Jan. 2011/Jun 2011.
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ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO CLIENTE VÍTIMA DE TRAUMA
RAQUIMEDULAR: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO
Emília Rodrigues Ferreira1 Rogério Pereira Bernardes1
Francino Machado de Azevedo Filho2 Gleydson Melo3
Resumo:
Abstract:
O estudo teve o objetivo de realizar uma busca
por publicações de enfermagem sobre trauma
raquimedular no período de 2000 a 2009 no
Brasil, observando o perfil das vítimas e a
assistência de enfermagem ofertada naquele
momento. Trata-se de uma pesquisa de revisão
bibliográfica, de abordagem exploratória. Foi
possível selecionar 14 artigos publicados sobre
trauma raquimedular em língua portuguesa. Os
pacientes acometidos, em sua maioria, são
adultos jovens, do sexo masculino, solteiros e
residentes em áreas urbanas, que necessitam de
assistência domiciliar em todos os momentos do
processo de cuidar. O estudo demonstrou a
necessidade de um plano de cuidados próprios
para cada paciente dependendo do grau da
lesão, abordando de forma ampla o paciente e a
família.
The study had the objective to lift the
publications of nursing on trauma raquimedular
in the period from 2000 to 2009 in Brazil, lifting
the profile of the victims and presence of
nursing. It the question is an inquiry of
bibliographical revision, approach exploratória.
It was possible to lift 14 articles published on
trauma raquimedular in Portuguese language.
The attacked patients, in his majority, are young
adults, of the masculine sex, unmarried and
resident in urbane areas, which need home
presence at all the moments of the process to
take care. The study demonstrated the necessity
of a plan of own cares for each patient depending
on the degree of the injury, boarding in the
spacious form the patient and the family.
Palavras Chave:
Trauma raquimedular, assistência, enfermagem.
Key-Words:
Spinal trauma, care, nursing.
INTRODUÇÃO
Medula espinhal é a porção alongada do sistema nervoso, é a continuação do encéfalo,
que se aloja no interior da coluna vertebral em seu canal vertebral, ao longo do seu eixo crâniocaudal. (DANGELO; FATTINI, 2007).
A medula espinhal é formada por segmentos e raízes nervosas, e essas raízes emergem
da medula no nível de cada segmento. São sete cervicais, doze torácicos, cinco lombares e cinco
1
Acadêmicos de Enfermagem, 8° Período da Faculdade Estácio de Sá de Goiás.
Orientador e Professor de Enfermagem da Faculdade Estácio de Sá de Goiás.
3
Co-orientador e Professor de Enfermagem da Faculdade Estácio de Sá de Goiás.
2
139 FERREIRA, Emília Rodrigues; BERNARDES, Rogério Pereira; FILHO, Francino Machado de
Azevedo; MELO, Gleydson. Assistência de enfermagem ao clinte vítima de trauma raquimedular: um
estudo bibliográfico. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia
SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 138-146, Jan. 2011/Jun 2011.
_______________________________________________________________________________
sacrais e quatro coccigenas. Os segmentos de C5 a T1 inervam os membros superiores, enquanto os
segmentos de T12 a S4 se destinam aos membros inferiores. (ALBUQUERQUE; FREITAS, 2009).
A lesão medular é definida como toda a agressão da medula espinhal que pode levar a
danos neurológicos, relacionados às funções motora, sensitiva, visceral, sexual e trófica e pode ter
origem traumática por acidente automobilístico, ferimento por arma de fogo, mergulho em águas
rasas e queda de altura ou, ainda, causas não traumáticas como tumores, processos infecciosos,
alterações vasculares, malformações, processos degenerativos ou compressivos. Nesse universo, a
literatura aponta, no país e fora dele, claramente, a expressividade do trauma relacionado ao
aumento da violência urbana. (AZEVEDO; SANTOS, 2006).
Lesão medular envolve uma série de complicações, dentre elas o choque medular, que
representa uma repentina perda da atividade reflexa na medula espinhal (arreflexia) abaixo do nível
do trauma. Nesta condição os músculos enervados pela parte do segmento da medula situada abaixo
do nível da lesão ficam completamente paralisados e flácidos e os reflexos são ausentes. A pressão
arterial cai e as partes do corpo abaixo do nível da lesão ficam paralisadas e sem sensibilidade.
(BRUNI; et.al, 2004).
A lesão instável da coluna vertebral sem lesão neurológica, principalmente em pacientes
politraumatizados, vitima de colisões em alta velocidade, inconscientes ou alcoolizados, possuem
grande potencial de lesão adicional das estruturas nervosas durante o resgate e transporte dos
pacientes, existindo inúmeros exemplos clínicos de pacientes com quadro neurológico normal após
o acidente, e que sofreram lesão das estruturas nervosas durante o resgate e transporte. (DEFINO,
1999).
O nível neurológico da lesão é determinado pelo mais caudal segmento sensitivo e motor
preservado bilateralmente. Porém, o funcionamento motor pode estar comprometido em nível
diferente do sensorial e as perdas podem ser assimétricas.
Nesses casos, até quatros segmentos neurológicos podem ser descritos em um mesmo
paciente: sensorial direito, sensorial esquerdo, motor direito e motor esquerdo.
Uma lesão completa, no plano transverso, é definida como ausência de função motora e
sensitiva nos miótomos e dermátomos inervados pelos segmentos sacrais da medula. Uma lesão
incompleta há preservação da função motora e/ou sensitiva abaixo do nível neurológico, incluindo
os segmentos sacrais. (MENDES; ARAÚJO, 2006).
No Brasil na maioria dos casos, tal lesão tem origem traumática, sendo o ferimento
ocasionado por arma de fogo, acidente automobilístico e quedas, as causas externas mais
freqüentes. As vitimas desses traumatismos são predominantemente adultos jovens, com idade
140 FERREIRA, Emília Rodrigues; BERNARDES, Rogério Pereira; FILHO, Francino Machado de
Azevedo; MELO, Gleydson. Assistência de enfermagem ao clinte vítima de trauma raquimedular: um
estudo bibliográfico. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia
SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 138-146, Jan. 2011/Jun 2011.
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variando de 18 e 35 anos e na proporção de quatro homens para uma mulher. Tais lesões geram
uma incapacidade de alto custo para o governo e acarreta importantes alterações no estilo de vida do
paciente. (GONZALES; et.al, 2001).
O atendimento do paciente no local do acidente é de grande importância para a sua
avaliação inicial, reconhecimento de suas lesões e prevenção de lesões adicionais durante o seu
resgate e transporte para local onde deverá receber o atendimento definitivo. Devem ser sempre
consideradas a presença de uma lesão da coluna vertebral e a manutenção da imobilização do
paciente até que esse tipo de lesão possa ser avaliado com segurança por meio de radiografias e
outros exames complementares, quando necessários.
O lesado medular apresenta uma das mais graves incapacidades que podem acometer um
individuo, pois o torna um paciente com alterações motoras e sensitivas, alem de ter desregulado
suas funções fisiológicas, passando a apresentar alterações respiratórias, vasculares, da atividade
sexual, urinarias e intestinais. (SARTORI; MELO, 2002).
Dado a complexidade do quadro clínico e a necessidade de assistência de enfermagem
especializada e sistematizada, assim como, da equipe interdisciplinar que esteja preparada para a
prática assistencial de cuidar do cliente vítima de trauma raquimedular, assegurando o cuidado
holístico do paciente e continuidade da assistência, espera-se destes profissionais um alto preparo
para prática assistencial. (GONZALES; et. al, 2001).
OBJETIVO
Levantar o perfil das vítimas e o papel da enfermagem na assistência a vítima de trauma
raquimedular.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica, de abordagem exploratória, utilizando
como critério de inclusão, artigos publicados entre 2000 a 2009, em língua portuguesa, que
abordassem o trauma raquimedular no Brasil e que tenha sido realizado por enfermeiros.
A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos. (GILL, 2002).
Foi feita busca e seleção de artigos junto à base de dados da Scielo, Bireme e Lilacs,
utilizando os descritores: Trauma Raquimedular e Enfermagem.
141 FERREIRA, Emília Rodrigues; BERNARDES, Rogério Pereira; FILHO, Francino Machado de
Azevedo; MELO, Gleydson. Assistência de enfermagem ao clinte vítima de trauma raquimedular: um
estudo bibliográfico. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia
SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 138-146, Jan. 2011/Jun 2011.
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Selecionados os estudos que atendiam aos critérios de inclusão, foram realizadas leituras
sistemáticas dos artigos e categorização dos dados encontrados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após o levantamento foram selecionados 14 artigos publicados por enfermeiros em
língua portuguesa, no Brasil.
Foi possível levantar o perfil das vitimas de trauma raquimedular no Brasil e descrever o
papel da enfermagem na assistência ao lesado medular, quanto no atendimento intra-hospitalar,
quanto na reabilitação.
PERFIL DAS VITIMAS DE TRAUMA RAQUIMEDULAR NO BRASIL
As lesões medulares são cada vez mais freqüentes devido principalmente ao aumento da
violência urbana. Dentre as causas, o acidente de trânsito e a agressão por arma de fogo são as mais
comuns. Os pacientes acometidos, em sua maioria, são adultos jovens, do sexo masculino, solteiros
e residentes em áreas urbanas. (VALL; BRAGA; ALMEIDA, 2006).
As vítimas na sua maioria fazem parte da população economicamente ativa e em idade
altamente produtiva, configurando assim, o trauma raquimedular como uma situação que afeta não
só o sistema de saúde brasileiro, mais também o sistema econômico e previdenciário.
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO CLIENTE HOSPITALIZADO COM
DIAGNÓSTICO DE TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR
Nos indivíduos com lesão medular, é muito comum existir a somatória de necessidades
não atendidas. (VENTURINI; DECESARO; MARCON, 2006).
A cada internação, o enfermeiro executa o Processo de Enfermagem que é constituído de
exame físico e entrevista, sendo que a partir daí é realizado o levantamento de dados específicos
relacionados à deficiência física e incapacidades que nortearão as ações da Enfermagem
especializada para a assistência à pessoa com deficiência física. (LEITE; FARO, 2005). Para tanto,
é fundamental adotar um método de trabalho capaz de direcionar e organizar as atividades de
enfermagem de acordo com as necessidades de cada paciente.
O processo de enfermagem possibilita esta organização, pois é uma metodologia
embasada em referências teóricas, de acordo com a filosofia de cada instituição, podendo atender
aos pacientes de forma individualizada e integral nas suas necessidades biopsicossociais. (CAFER;
142 FERREIRA, Emília Rodrigues; BERNARDES, Rogério Pereira; FILHO, Francino Machado de
Azevedo; MELO, Gleydson. Assistência de enfermagem ao clinte vítima de trauma raquimedular: um
estudo bibliográfico. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia
SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 138-146, Jan. 2011/Jun 2011.
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et.al, 2005). Com isso, o uso das teorias de enfermagem promove a identidade profissional, pois
fornece uma base firme na qual a enfermeira se apóia quando suas idéias são questionadas.
(CARVALHO; DAMASCENO, 2003).
Os diagnósticos de enfermagem em indivíduos com lesão raquimedular, hospitalizados,
de acordo com a proposta da North American Nursing Diagnosis Association (NANDA) e, de
maneira subseqüente, apresentar propostas de intervenções de enfermagem, com base na Nursing
Interventions Classification (NIC). A utilização das classificações é de extrema importância, pois
possibilita uma padronização da linguagem para os diagnósticos, intervenções e resultados de
enfermagem, favorecendo a reflexão sobre as habilidades dos enfermeiros em examinar as
tendências de sua prática e avaliar a qualidade de cuidados prestados aos pacientes. Os pacientes
portadores de lesão medular apresentam alguns diagnósticos de enfermagem específicos. (CAFER;
et.al, 2005).
Os diagnósticos de enfermagem com maior freqüência ao cliente com trauma
raquimedular, descritos nos estudos foram: alteração sensorial de percepção sinestésica, impotência,
déficit de conhecimento sobre paraplegia, mobilidade física prejudicada e disfunção sexual.
(CARVALHO; DAMASCENO, 2003).
As intervenções descritas com maior freqüência nos estudos e que devem orientar a
assistência de enfermagem são: oferecer suporte emocional através do diálogo e do
aconselhamento, falar, individualmente, sobre o tipo de lesão que ele apresenta e as repercussões na
sua sexualidade, manter diálogo aberto e franco sobre os sentimentos, deixando aflorar os medos,
favorecendo um diálogo franco, estimular a socialização através de contatos com os amigos,
reservar um tempo para deixá-lo expressar seus sentimentos, estimular o uso de terapias para
promover a saúde, incluindo massagens, toque, aconselhamento, promover ambiente seguro e de
apoio, ensinar a reeducação vesical e intestinal, implementar cuidados relativos a higiene,
alimentação, eliminações, mobilidade física, e integridade cutâneo-mucosa, ajudar a sentar na
cadeira de rodas, ensinar os mecanismos com o corpo e a cadeira, propiciar condições para que o
paciente reconheça que ainda é capaz de um relacionamento sexual, fazer orientação individual
sobre novas técnicas e maneiras de realizar a atividade sexual. (CARVALHO; DAMASCENO,
2003).
Ao trabalhar com pessoas fragilizadas pela paraplegia e pelo sofrimento, é exigido da
enfermagem exercitar a sua própria pessoa, quer compartilhando sentimentos, quer utilizando um
enfoque intelectual direcionado aos problemas, o que requer que ela domine os fatos, os princípios e
conceitos daquilo que ela pensa. (CARVALHO; DAMASCENO, 2003).
143 FERREIRA, Emília Rodrigues; BERNARDES, Rogério Pereira; FILHO, Francino Machado de
Azevedo; MELO, Gleydson. Assistência de enfermagem ao clinte vítima de trauma raquimedular: um
estudo bibliográfico. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia
SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 138-146, Jan. 2011/Jun 2011.
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As intervenções de enfermagem não trazem de volta os movimentos perdidos, mas
permitem a convivência com a incapacidade de maneira digna e com melhor qualidade de vida.
(VALL; BRAGA; ALMEIDA, 2006).
A lesão raquimedular deixa incapacidades permanentes. É com tais conseqüências que
se procura planejar cuidados em longo prazo, coerentes com as expectativas e possibilidades
clínicas e sociais do paciente e família. (LEITE; FARO, 2005).
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO CLIENTE EM REABILITAÇÃO
O processo de reabilitação é longo e envolve componentes atitudinais, psicossócioespirituais, econômicos e políticos sendo muitas vezes um desafio tanto para o paciente como para o
enfermeiro. (FARO, 2006).
O enfermeiro tem características que facilitam o seu papel educador com o paciente: é
ele o elemento da equipe que mais tempo permanece ao lado do paciente e tem a capacidade de
observá-lo e considerá-lo como todo e não apenas como um caso. A reabilitação faz parte dos
cuidados de Enfermagem enquanto um modelo assistencial, bem como uma especialidade.
A assistência de Enfermagem na reabilitação tem como principais objetivos auxiliar o
paciente a se tornar independente o máximo que puder dentro de suas condições, promover e
incentivar o autocuidado através de orientações e treinamento de situações, preparar o deficiente
físico para uma vida social, familiar da melhor maneira possível e com qualidade. (LEITE; FARO,
2005).
O enfermeiro tem papel expressivo junto aos demais profissionais reabilitador da equipe,
compreendendo uma assistência holística e compartilhada onde o binômio paciente-família tem o
seu papel preservado junto à equipe de especialistas, papel este definido em sua expressão clínica e
acadêmica, o significado de somar esforços, compartilhar responsabilidades, conhecimento,
reconhecer os limites e enfatizar potencialidades e habilidades.
O enfermeiro reabilitador tem como compromisso garantir às pessoas com deficiências e
incapacidades, assistência nos vários níveis de complexidade, utilizando métodos e terapêuticas
específicos. Ainda, lhe cabe subsidiar tecnicamente a implantação de serviços especializados de
enfermagem em reabilitação na busca por melhores condições de vida, de integração social e na
independência para as atividades básicas da vida diária das pessoas com deficiências, bem como a
implementação de assistência especializada, pautada no binômio indivíduo família frente às
incapacidades impostas e, para tanto, na qualidade de um educador. (FARO, 2006).
144 FERREIRA, Emília Rodrigues; BERNARDES, Rogério Pereira; FILHO, Francino Machado de
Azevedo; MELO, Gleydson. Assistência de enfermagem ao clinte vítima de trauma raquimedular: um
estudo bibliográfico. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia
SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 138-146, Jan. 2011/Jun 2011.
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A presença da deficiência e incapacidade no contexto familiar altera a dinâmica das
relações e a complexidade de suas interações. As famílias que vivenciam essa situação passam por
transformações no decorrer do tempo e as que mais se sobressaem são as marcadas pela presença de
crises. Diante da necessidade de acolher o indivíduo com LM e apoiar seu processo de recuperação
e reabilitação, cada pessoa da família individualmente e respeitando suas características peculiares,
busca manter a integridade física e emocional do grupo, desenvolvendo, favorecendo ou
fortalecendo as relações familiares.
Por isto, cuidar desses pacientes exige conhecer suas famílias, que constituirão o
principal apoio durante o processo de doença e reabilitação, para possibilitar uma assistência mais
humana e efetiva. (VENTURINI; DECESARO; MARCON, 2007).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se perceber com esse estudo o quanto e importante à atuação dos enfermeiros no
atendimento ao paciente portador de lesão raquimedular, durante toda a internação, pois o lesado
medular e a família chegam ao hospital com muito medo e cheio de dúvidas, muitos por falta de
conhecimento e por se sentirem inseguros, então o enfermeiro realizará uma avaliação para
proporcionar um atendimento sistematizado, planejado e implementado, atuando como orientador
junto ao lesado medular e a família a fim de evitar complicações, controlar as crises de
espasticidade e evitar incapacidades secundárias.
Os estudos demonstraram a necessidade de um plano de cuidados próprios para cada
paciente dependendo do grau da lesão, abordando de forma ampla o paciente e a família.
Em casos de lesão raquimedular, deve-se considerar que a reabilitação tenha início o
mais rápido possível, assim que for fechado o diagnóstico de lesão raquimedular, pois, envolve a
aprendizagem do paciente e da família diante de uma vida completamente diferente. A partir daí, o
maior desafio é a prevenção das complicações ou de incapacidades secundárias que, se contornadas,
melhoram gradativamente o potencial funcional dos pacientes e também promover a reintegração ao
meio social.
Dessa forma, cabe à enfermagem utilizar recursos que possam aprimorar a assistência
prestada a esses pacientes. A implementação dos diagnósticos e intervenções de enfermagem, de
maneira precisa, em que constituem uma alternativa a ser utilizada, possibilitando a melhora da
qualidade do atendimento quanto dos resultados esperados. Portanto, é oportuno lembrar a
necessidade do preparo dos enfermeiros, bem como dos familiares que participam do processo de
145 FERREIRA, Emília Rodrigues; BERNARDES, Rogério Pereira; FILHO, Francino Machado de
Azevedo; MELO, Gleydson. Assistência de enfermagem ao clinte vítima de trauma raquimedular: um
estudo bibliográfico. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia
SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 138-146, Jan. 2011/Jun 2011.
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assistência ao lesado medular, sendo necessária a realização de estudos, orientações e treinamentos
neste âmbito do cuidado junto a eles.
Observa-se que a maioria dos artigos pesquisados relata sobre a preocupação da
qualidade de vida, a forma de enfrentamento diante da lesão raquimedular e da preparação da alta
hospitalar do lesado medular. Notou-se ainda que todas devem ser estudadas juntamente com a
equipe multiprofissional e montado um plano estratégico junto com a família fazendo com que eles
compreendam e entendam as necessidades de vida diária desse paciente, e principalmente que eles
tenham que se adaptar ao novo estilo de vida paciente e o paciente também aprenderá a se adaptar a
nova condição de vida que terá daí em diante, pois o tratamento é lento e demorado, após a alta
hospitalar deve continuar o tratamento de reabilitação e receber o acompanhamento domiciliar do
profissional de enfermagem.
Acredita-se que a concepção de saúde-doença, no âmbito da reabilitação, leva a
compreender o homem a partir de o seu fazer, do seu estilo de vida e cidadania e não a partir de sua
doença ou deficiência.
A prevenção seria a melhor forma de solucionar ou de, pelo menos, minimizar os danos
causados pelos traumas.
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146 FERREIRA, Emília Rodrigues; BERNARDES, Rogério Pereira; FILHO, Francino Machado de
Azevedo; MELO, Gleydson. Assistência de enfermagem ao clinte vítima de trauma raquimedular: um
estudo bibliográfico. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia
SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 138-146, Jan. 2011/Jun 2011.
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147 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios
de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá
– Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162,
Jan. 2011/Jun 2011.
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REABILITAÇÃO VESTIBULAR ATRAVÉS DOS EXERCÍCIOS DE
CAWTHORNE E COOKSEY PARA PREVENÇÃO DE QUEDAS EM
IDOSOS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Cleidiane Ferreira Da Silva1; Adriano Luis Fonseca2
Resumo
Abstract
Atualmente, a população idosa vem crescendo de
maneira significativa, gerando cada vez mais a
necessidade de estudos sobre a complexidade
envolvida no fenômeno do envelhecimento. Neste
processo verificamos uma diminuição na
funcionalidade de todos os sistemas orgânicos. A
força muscular diminui, assim como o número de
fibras musculares, equilíbrio, flexibilidade,
agilidade e coordenação motora, levando a uma
redução da mobilidade corporal.Esta fase
compromete a habilidade do Sistema Nervoso
Central (SNC) em realizar o processamento dos
sinais vestibulares, visuais e proprioceptivos
responsáveis pela manutenção do equilíbrio
corporal.As quedas são as conseqüências mais
perigosas do desequilíbrio e da dificuldade de
locomoção, representando assim, um grande
problema de saúde dos idosos. A reabilitação
vestibular (RV) surgiu a fim de procurar
restabelecer o equilíbrio por meio de estimulação
e aceleração dos mecanismos naturais de
compensação, induzindo o paciente a realizar o
mais perfeitamente possível os movimentos e
para possibilitar uma melhor qualidade de vida.
Currently, the elderly population is growing
significantly, generating more and more the
need for studies about the complexity involved
in the phenomenon of aging. In this process we
found a decrease in the functionality of all
systems. Muscle strength decreases, and the
number of muscle fibers, balance, flexibility,
agility and coordination, leading to a reduction
in mobility corporal. This phase compromises
the ability of the central nervous system (CNS)
to perform the signal processing vestibular
visual and proprioceptive responsible for
maintaining balance corporal. The falls are the
most dangerous consequence of imbalance and
difficulty in walking, thus representing a major
health problem of idosos. The rehabilitation
(VR) has emerged to seek to restore the balance
through stimulation and acceleration of the
natural mechanisms of compensation, inducing
the patient to perform as perfectly as possible
the movement and to facilitate a better quality
of life.
Palavras-chave:
Envelhecimento;
Quedas;
Vestibular.
1
2
Reabilitação
Keywords:
Aging; falls; vestibular rehabilitation.
Graduada em Fisioterapia pela Faculdade Estácio de Sá de Goiás/FESGO.
Prof. Ms., orientador da pesquisa e Gerente Acadêmico da Estácio de Sá de Goiânia-GO.
148 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios
de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá
– Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162,
Jan. 2011/Jun 2011.
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INTRODUÇÃO
A população idosa vem crescendo de maneira significativa, gerando cada vez mais a
necessidade de estudos sobre a complexidade envolvida no fenômeno de envelhecimento (CUNHA,
et al, 2008). Segundo Zanardini, et al (2007) o envelhecimento é um processo natural que se
manifesta por um declínio das funções de diversos órgãos.
Em função de tantas estruturas e sistemas alterados pela passagem do tempo, muitas
queixas se tornam freqüentes na população idosa, dentre as quais se destacam as tonturas e a
vertigem, patologias que acometem o sistema vestibular (CUNHA, et al, 2008).
Este sistema é referencial absoluto na manutenção do equilíbrio. Seu déficit funcional
pelo envelhecimento resulta em alterações no equilíbrio e aumento na possibilidade de quedas
(RIBEIRO e PEREIRA, 2005). Junior (2007) diz que a reabilitação vestibular (RV) procura
restabelecer por meio da estimulação e aceleração dos mecanismos naturais de compensação,
induzindo o paciente a realizar o mais perfeitamente possível os movimentos que estavam
acostumados a fazer antes de surgir a tontura.
Exercícios como os de Cawthorne e Cooksey permitem novos padrões de estimulação
vestibular e esta intervenção seria capaz de promover melhoras nas reações de equilíbrio, e assim
possibilitando uma melhor qualidade de vida aos idosos (SANTOS, et al, 2008).
Estes exercícios caracterizam-se por um programa de reabilitação vestibular e envolvem
movimentos de cabeça, pescoço e olhos; exercícios de controle postural em várias posições
(sentado, em apoio bipodal e unipodal, andando); uso de superfície de suporte macio para
diminuição do “input” proprioceptivo; exercícios com olhos fechados para abolição da visão
(JUNIOR, 2007).
Esses exercícios buscam promover a melhora do equilíbrio global, da qualidade de vida
e a restauração da orientação espacial para o mais próximo do fisiológico, através da estimulação
dos fenômenos de adaptação (SOARES, 2007).
O ENVELHECIMENTO
O envelhecimento pode ser compreendido como um conjunto de alterações estruturais e
funcionais desfavoráveis do organismo que se acumulam de forma progressiva, especificamente em
função do avanço da idade. Essas modificações prejudicam o desempenho de habilidades motoras,
149 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios
de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá
– Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162,
Jan. 2011/Jun 2011.
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dificultando a adaptação do indivíduo ao meio ambiente, desencadeando modificações de ordem
psicológica e social (CUNHA,et al, 2009).
Neste processo verificamos uma diminuição na funcionalidade de todos os sistemas
orgânicos. As sensações ocasionadas pelos estímulos externos e conduzidas pelos proprioceptores
estão diminuídas, além da acuidade visual e o equilíbrio (SOARES,2007).
As características mais marcantes no processo do envelhecimento é o declínio da
capacidade funcional, força, equilíbrio, flexibilidade, agilidade e coordenação motora, constituem
variáveis afetadas diretamente por alterações neurológicas e musculares. O comprometimento no
desempenho neuromuscular, evidenciado por paresia, incoordenação motora, lentidão e fadiga
muscular constitui um aspecto marcante neste processo. O desbalanço entre a formação e a
reabsorção óssea, que torna favorável o surgimento de osteopenia e osteoporose, elevando assim o
risco de incapacidade na população idosa (MEIRELES, et al, 2008).
Uma das alterações mais evidentes é a perda de massa muscular ou sarcopenia. A perda
de massa ocorre principalmente pela diminuição no peso muscular e também em sua área de secção
transversal. Também se deve á perda de unidades motoras e ao fato de que nas placas motoras dos
idosos as pregas são mais numerosas e as fendas sinápticas se tornam mais amplas, reduzindo a
superfície de contato entre o axônio e a membrana plasmática. Conseqüentemente, o idoso terá
menor qualidade em sua contração muscular, menor força, menor coordenação dos movimentos e
provavelmente, maior probabilidade de sofrer acidente (por exemplo, quedas) (REBELATTO e
MORELLI, 2007).
Segundo Papaléo (2005), as fibras musculares que se perdem são substituídas por tecido
conjuntivo, ocorrendo aumento do colágeno intersticial no músculo do idoso.
Esta fase compromete a habilidade do Sistema Nervoso Central (SNC) em realizar o
processamento dos sinais vestibulares, visuais e proprioceptivos responsáveis pela manutenção do
equilíbrio corporal, como diminuir os reflexos adaptativos. O principal sintoma resultante da
disfunção do sistema vestibular na população idosa é a tontura, e pode estar associada a outras
disfunções, como as auditivas e as manifestações neurovegetativas. As quedas são as conseqüências
mais perigosas do desequilíbrio e da dificuldade de locomoção, representando assim, um grande
problema de saúde dos idosos (SANTOS, et al, 2008).
Segundo Perracini (2002) queda é uma mudança de posição inesperada, não-intencional,
que faz o indivíduo permanecer em um nível inferior, por exemplo, sobre o mobiliário ou no chão.
Podem ser classificadas a partir da freqüência com que ocorrem e do tipo de conseqüência advinda
do evento. A queda acidental é aquele evento único que dificilmente voltará a se repetir e é
150 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios
de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá
– Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162,
Jan. 2011/Jun 2011.
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decorrente de uma causa extrínseca ao indivíduo, em geral pela presença de um fator de risco
ambiental danoso, como piso escorregadio, um degrau sem sinalização. A queda recorrente
expressa a presença de fatores etiológicos intrínsecos, como doenças crônicas, polifarmácia,
distúrbios do equilíbrio corporal, e déficits sensoriais (PERRACINI, 2002).
Merritt (2007) relata que os períodos de alto risco de quedas ocorrem durante o mês
subseqüente a uma alta hospitalar em indivíduos fracos ou durante episódios de doença aguda ou
exacerbações de condições crônicas. O uso de inúmeras medicações, especialmente drogas
psicoativas como antidepressivos, aumenta as chances de queda.
Pereira, et al (2001) descreve a ocorrência de quedas por faixas etárias a cada ano: 32%
em pacientes de 65 a 74 anos; 35% em pacientes de 75 a 84 anos; 51% em pacientes acima de 85
anos;
No Brasil, 30% dos idosos caem ao menos uma vez ao ano. A freqüência de quedas é
maior em mulheres do que em homens da mesma faixa etária. Cunha (2009) expõe dois fatores de
risco de quedas que são:
Fatores intrínsecos: indicam-se patologias artríticas, depressão, hipotensão postural,
alterações cognitivas, visuais, do equilíbrio, da marcha, da força muscular, tonturas, vertigem,
síncopes.
Fatores extrínsecos: fraca ou má iluminação da casa (especialmente em período
noturno), superfícies irregulares ou escorregadias, tapetes soltos, objetos no caminho, vestuário e
calçados inadequados. Um dos fatores causais da queda que afetam muitos idosos é a labirintite ou
labirintopatia que é uma afecção determinada por comprometimento do ouvido interno (labirinto).
Labirintite seria a inflamação do labirinto (JUNIOR, 2007).
SISTEMA VESTIBULAR
De acordo com Pedalini, et al (1999) nosso equilíbrio depende de integrações que
permitem ao SNC (áreas vestibulares, tronco cerebral e cerebelo) reconhecer posições e
movimentos da cabeça em relação ao corpo e ao espaço. São quatro os sistemas fundamentais nessa
função: - vestibular: via principal de informação para o SNC dos movimentos da cabeça; - visual:
atua como sensor das relações espaciais; - proprioceptivo: informa a posição das diversas partes do
corpo no espaço em determinado momento através de sensores localizados nos músculos, tendões,
cápsulas articulares e tecido cutâneo; - auditivo: permite a orientação espacial, através da percepção
esterofônica. As manifestações das alterações que comprometem esse sistema podem ser percebidas
151 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios
de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá
– Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162,
Jan. 2011/Jun 2011.
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como: desequilíbrio,desvio de marcha, instabilidade, sensação de flutuação, sensação rotatória,
quedas.
O estímulo vestibular é utilizado para gerar os movimentos oculares compensatórios e as
respostas posturais durante os movimentos da cabeça e ajuda a resolver as informações conflitantes
procedentes das imagens e do movimento real. As informações advindas de receptores sensoriais no
aparelho vestibular interagem com as informações visuais e somatossensoriais para produzir o
alinhamento corporal e o controle da postura adequada. A importância das contribuições
vestibulares para a postura e para o equilíbrio é resolver conflitos quando um ou mais sistemas
enviam informações equivocadas (MEIRELES,et al, 2008).
O sistema vestibular tem um componente periférico (que consiste em visual, vestibular e
somatossensorial) e um central. O controle do equilíbrio e da postura dependem das informações
sensoriais procedentes de vários receptores periféricos, incluindo o aparelho vestibular que alcança
o córtex sensorial e os centros de integração do tronco cerebral e no cerebelo. Essa alça aferente do
mecanismo de equilíbrio. Os sinais então transmitidos através do tracto corticoespinhal e as vias do
tronco cerebral até os músculos periféricos e extra-oculares. Essa alça eferente do mecanismo de
equilíbrio (DE LISA, et al, 2002).
O aparelho vestibular é o órgão sensorial que detecta as sensações de equilíbrio. Ele é
constituído por um sistema de câmaras e tubos ósseos localizados na parte petrosa do osso temporal,
denominados labirinto ósseo, e dentro há um sistema de câmaras e tubos semimembranosos,
denominado labirinto membranoso. O labirinto membranoso é parte funcional do aparelho
vestibular (GUYTON e HALL, 2002).
Figura 1. Localização do labirinto no osso temporal. Fonte:Netter, 1998.
152 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios
de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá
– Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162,
Jan. 2011/Jun 2011.
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Figura 2. Labirinto ósseo e membranoso. A janela mostra os compartimentos dos fluidos perilinfáticos e endolinfáticos.
Fonte: HAIN, T. C; RAMASWASAMY, T. S; HILLMAN, M. A. Anatomia e Fisiologia do Sistema Vestibular Normal.
In: Herdman, S. J. Reabilitação vestibular. São Paulo: Manole, 2002.
Segundo Doretto (2005) o labirinto ósseo costuma ser considerado como o espaço
existente entre a parte óssea e a parte do labirinto membranoso; esse espaço contém um líquido
denominado endolinfa; o revestimento externo é constituído pelo periósteo, o qual, nessa região, é
bastante fino, sendo que a janela oval e a janela redonda (ou janela do vestíbulo e janela da cóclea)
são constituídas apenas pelo mesmo.
O labirinto membranoso,é banhado por líquido interno (endolinfa) e a parte externa
(perilinfa). A endolinfa possui elevada viscosidade, densidade específica. A perilinfa é o oposto,
possui baixa viscosidade, densidade específica (GONÇALVES, 2005).
O labirinto consiste de duas partes: o vestíbulo (utrículo e o sáculo e os canais
semicirculares) (DANGELO e FATTINI, 1997).
As paredes do utrículo e do sáculo contêm pequena região espessada, chamada mácula.
As duas máculas, que ficam perpendiculares entre si, são receptores para o equilíbrio estático,
embora também contribuam para alguns aspectos do equilíbrio dinâmico (TORTORA e
GRABOWSKI, 2000). Para o equilíbrio estático, eles dão informação sobre a posição da cabeça no
espaço e são essenciais para a manutenção da postura e do balanço apropriados. Para o equilíbrio
dinâmico, eles detectam a aceleração e a desaceleração – por exemplo, um automóvel que está
acelerando e desacelerando (TORTORA e GRABOWSKI, 2000).
As máculas sinalizam a posição da cabeça quando a mesma sofre uma modificação
linear (inclinando-se para trás, ou para o lado, ou para o lado direito ou esquerdo) (DORETTO,
2005).
153 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios
de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá
– Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162,
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Os três ductos semicirculares membranosos, junto com o sáculo e o utrículo, atuam no
equilíbrio dinâmico (TORTORA e GRABOWSKI, 2000).
De acordo com Tortora e Grabowski (2000); Quando a cabeça se move os ductos
semicirculares membranosos, presos a ela , bem como as células ciliadas, em seu interior, movemse com ela. Entretanto, a endolinfa não é presa e retarda-se, devido à inércia. Conforme as células
ciliadas em movimento se arrastam por sobre o líquido estacionário, os feixes de cílios se curvam.
A curvatura dos feixes de cílios produz um potencial receptor, o que leva á produção de impulsos
nervosos que se propagam ao longo do ramo vestibular do nervo vestíbulo-coclear (VIII).
A maior parte das fibras no ramo vestibular do nervo vestíbulo-coclear (VIII) entra no
tronco encefálico e termina nos diversos núcleos vestibulares, no bulbo e na ponte. As fibras
restantes entram no cerebelo, pelo pedúnculo cerebelar inferior, através de vias bidirecionais. Fibras
de todos os núcleos vestibulares se estendem até os núcleos dos nervos cranianos, que controlam os
movimentos oculares-oculomotor (III), troclear (IV) e abducente (VI) - e até o núcleo do nervo
acessório (XI), que participa do controle dos movimentos da cabeça e do pescoço. Além disso, as
fibras do núcleo vestibular lateral formam o trato vestíbulo-espinhal, condutor de impulsos para os
músculos esqueléticos, reguladores do tônus muscular, em resposta aos movimentos da cabeça
(TORTORA e GRABOWSKI, 2000).
O nervo vestíbulo-coclear (VIII) é composto por uma parte vestibular e uma coclear. A
parte vestibular é formada por fibras que se originam nos neurônios sensitivos, que conduzem
impulsos nervosos relacionados com o equilíbrio, originados em receptores da porção vestibular do
ouvido interno. A parte coclear do VIII par é constituída de fibras que se originam de neurônios
sensitivos do gânglio espiral e que conduzem impulsos nervosos relacionados com a audição
(MACHADO, 2006).
O cerebelo, continuamente, recebe informação sensorial atualizada, originada no utrículo
e no sáculo. O mesmo monitora essa informação e faz ajustes corretivos nas atividades motoras,
originadas no córtex cerebral. Essencialmente, em resposta a entrada input do utrículo, do sáculo e
dos ductos semicirculares membranosos, o cerebelo emite, continuamente, impulsos nervosos para
as áreas motoras do cérebro. Esse feedback permite a correção dos sinais do córtex motor para os
músculos esqueléticos , para manter o equilíbrio(TORTORA e GRABOWSKI, 2000).
O sistema vestibular sofre um processo de degeneração com o envelhecimento, havendo
importante redução no número das cristas vestibulares; o número de fibras que inervam as células
ciliadas também se encontra acentuadamente reduzido. A degeneração do sistema vestibular ocorre
principalmente no Sistema Nervoso Periférico (SNP). Há também uma perda significativa de
154 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios
de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá
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sensores das células vestibulares, um decréscimo dos neurônios vestibulares primários, uma
diminuição da densidade das células corticais e um decréscimo das células de Purkinje do cerebelo.
Todas essas alterações resultam em déficits na transmissão de informação, perda da plasticidade,
acentuando a síndrome do desequilíbrio no idoso (ZUCCO, 2004).
Reabilitação Vestibular
Este sistema requer movimento para a recuperação das lesões. A reabilitação vestibular
(RV) procura restabelecer o equilíbrio por meio de estimulação e aceleração dos mecanismos
naturais de compensação, induzindo o paciente a realizar o mais perfeitamente possível os
movimentos que estavam acostumados a fazer antes de surgir a tontura. Este termo significa um
trabalho não apenas com o sistema vestibular, mas com inúmeras estruturas que fazem parte do
nosso sistema de equilíbrio. É uma opção de tratamento para pacientes portadores de distúrbios
vestibulares que envolvem estimulações visuais, proprioceptivas e vestibulares (JUNIOR, 2007).
A reabilitação vestibular tem sido evidenciada por agir fisiologicamente sobre o sistema
vestibular, sendo um recurso terapêutico pela sua proposta de atuação baseada em mecanismos
centrais de neuroplasticidade conhecidos de modificação de reflexos adaptativos. (ZANARDINI, et
al, 2007).
Fig. 3 Exercícios de Bandt-Daroff. Fonte: HERDMAN, SJ. Vestibular Rehabilitation. Third Edition. Third Edition. Pa:
FA Davis Co; Contemporary Perspectives in Rehabilitation. Philadelphia, 2007.
Os exercícios de reabilitação vestibular visam melhorar a interação vestibulovisual
durante a movimentação cefálica, ampliar a estabilidade postural estática e dinâmica nas condições
155 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios
de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá
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que produzem informações sensoriais conflitantes e diminuir a sensibilidade individual á
movimentação cefálica (ZANARDINI, et al, 2007).
Os exercícios de Cawthorne - Cooksey foram desenvolvidos na década de 1940. No
Brasil está sendo implantado há duas décadas. Naquela época tornaram-se os pioneiros ao
desenvolver
exercícios
como
método
de
reabilitação
vestibular.
Cawthorne
(médico
otorrinolaringologista), estava tratando pacientes com déficits vestibulares unilaterais e disfunções
pós-concussivas. Junto com o Dr. Cooksey (fisioterapeuta), ele desenvolveu uma série de exercícios
que envolviam as queixas do paciente sobre a vertigem e o comprometimento do equilíbrio. Esses
exercícios incluem movimentos cefálicos, tarefas que exigem a coordenação óculo-cefálica,
movimentos corporais globais e tarefas de equilíbrio (HERDMAN, 2002).
Os objetivos da reabilitação são: promover a estabilização visual durante os movimentos
e melhorar a interação vestíbulo-visual durante a movimentação da cabeça; ampliar a estabilidade
postural estática e dinâmica e diminuir a sensibilidade individual a essa movimentação. Os
exercícios com os olhos, cabeça e corpo, suscitam o conflito sensorial que acelera a compensação e
recalibração do sistema vestibular (ZUCCO, 2009).
Exercícios vestibulares de Cawthorne e Cooksey poderiam programar subsídios para que
novos rearranjos das informações sensoriais periféricas aconteçam, permitindo-se que novos
padrões de estimulação vestibular necessários em novas experiências, passem a ser realizados de
forma automática. Este treino promove melhoras nas reações de equilíbrio com conseqüente
diminuição na possibilidade de quedas (SANTOS, 2008).
Estes exercícios caracterizam-se por um programa de reabilitação vestibular e envolvem
movimentos de cabeça, pescoço e olhos; exercícios de controle postural em várias posições
(sentado, em apoio bipodal e unipodal, andando); uso de superfície de suporte macio para
diminuição do input proprioceptivo; exercícios com olhos fechados para abolição da visão
(JUNIOR, 2007).
Os exercícios devem ser introduzidos lentamente, para que o paciente possa se sentir
menos ansioso e mais flexível quanto à introdução de novos exercícios. Á medida que os sintomas
diminuem, atividades mais difíceis vão sendo introduzidas (ZUCCO, 2009).
Junior (2007) propõe que para haver resposta adequada, é preciso que o processo seja
estável, ou seja, não aconteça em surtos ou crises.
Herdman (2002) apresenta as normas para o desenvolvimento dos exercícios. Os pontos
a seguir devem ser considerados quando se emprega os exercícios de Cawthorne - Cooksey no
tratamento de um paciente com lesão periférica unilateral:
156 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios
de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá
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Jan. 2011/Jun 2011.
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1. Os criadores recomendam que os exercícios sejam executados em várias posições e
diferentes velocidades de movimento;
2. Além disso, é preciso que os pacientes executem os exercícios de olhos abertos e depois
fechados.
De acordo com Cawthorne e Cooksey, a execução dos exercícios com os olhos fechados
reduz a dependência do paciente das informações visuais e possivelmente força uma
compensação mais eficaz, através de mecanismos vestibulares e somatossensoriais.
3. Eles também recomendam que os pacientes sejam treinados para que tenham funções
normais em ambientes barulhentos e lotados de gente. Tais situações podem ser muito
difíceis para os indivíduos com disfunções vestibulares.
4. Para encorajar uma participação ativa, Cawthorne e Cooksey pediam para que os pacientes
se exercitassem juntos, em sessões diárias em grupos. Eles acreditavam que o exercício em
grupo seria mais econômico e divertido para os pacientes, além de facilitar a identificação
de simulações.
EXERCÍ
EXERCÍCIOS DE CAWTORNE E COOKSEY
Figura 1. Movimentação dos olhos
Figura 2. Movimentação de olhos e cabeça
Figura 4
Figura 3
Figura 9
(HERDMAN et al., 2002)
Fig.4 Exercícios de Cawthorne e Cooksey. HERDMAN. et al, 2000
157 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios
de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá
– Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162,
Jan. 2011/Jun 2011.
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Protocolo de Exercícios de Cawthorne e Cooksey
Fig.5 Cawthorne, 1944, Cooksey, 1946. Fonte: ZEIGELBOIM, et al, 200
A diligência e a perseverança são exigidas, porém quanto mais cedo e regularmente o
regime de exercícios for executado, mais rápido e completo será o retorno as atividades normais
(HERDMAN, 2002).
Este protocolo é de fácil aplicação e permite a sua realização em grupo, havendo uma
maior interação (ZEIGELBOIM, et al, 2008).
DADOS DA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
158 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios
de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá
– Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162,
Jan. 2011/Jun 2011.
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Vários autores estudaram a aplicação dos exercícios labirínticos em pacientes portadores
de algum tipo de vestibulopatia, com o intuito de recuperar o equilíbrio corporal e a orientação
espacial, devolvendo ao paciente a capacidade de reinstituir a sua rotina, evitar quedas e
conseqüentemente melhorar a qualidade de vida.
Pedalini (1999) descreveu em se trabalho que foram estudados 116 indivíduos
portadores de labirintopatias de etiologias variadas, tratados clinicamente sem resultado satisfatório
ou portadores de disfunções crônicas. A amostra foi composta por 78 pacientes do sexo feminino e
38 do sexo masculino. Os pacientes foram orientados a realizar os exercícios diariamente em duas
sessões, repetindo 10 vezes cada movimento, durante dois a três meses de terapia. Foram
observados que dos 116 pacientes estudados, 88 (75,7%) tiveram sucesso com o tratamento, sendo
64 (55,1%) com melhora total e 24 pacientes (20,6%) apresentaram melhora parcial.
Knobel, et al (2003) expõe em sua pesquisa que foram estudados 12 pacientes, foi
realizada uma avaliação esclarecedora sobre o sintoma e sobre o tratamento proposto; sugestão de
mudança de hábitos inadequados (postura,dependência, atividade física), quando existentes;
treinamento, composto de movimentos de olhos, cabeça e tronco, marcha, coordenação motora e
relaxamento cervical; sessões de acompanhamento quinzenais ou mensais (dependendo da
disponibilidade e da necessidade do paciente) por aproximadamente 3 meses. O tempo de
tratamento variou de 2 a 3 meses para 50,0% dos pacientes (n=6) e se prolongou por mais de 3
meses para outros 50,0% (n=6). O critério de melhora se baseou no relato do próprio paciente sobre
o grau de melhora geral. 75% (n=9) dos pacientes referiram melhora significativa da tontura após a
RV e 25% (n=3) relataram melhora parcial.
Resende, et al (2003), para este estudo foram encaminhados 16 pacientes do sexo
feminino com idade superior a 60 anos. Todos avaliados por médicos otorrinolaringologistas e
diagnosticados como portadores de Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB) pela história
clínica, não apresentando outras doenças sistêmicas. Todos receberam como medicação o extrato de
Gingko-biloba (40mg de 12/12h) durante 30 dias. A Reabilitação Vestibular em grupo foi benéfica
no tratamento de idosos portadores de VPPB.
Ribeiro e Pereira (2005) realizaram os seguintes critérios em seu trabalho. Foram
selecionados 30 indivíduos aptos a participarem da pesquisa. Todos foram avaliados pela Escala de
Equilíbrio de Berg (EEB) e após nove semanas foram reavaliados. Os componentes do grupo foram
submetidos aos exercícios de Cawthorne e Cooksey, três vezes por semana, durante sessenta
159 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios
de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá
– Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162,
Jan. 2011/Jun 2011.
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minutos. Os exercícios aplicados foram capazes de melhorar o equilíbrio, e conseqüentemente,
diminuir a possibilidade de queda.
Mantello (2006) em seu trabalho, contou com a participação de 40 indivíduos idosos de
ambos os gêneros, com faixa etária de 60 a 84 anos, divididos em dois grupos conforme o
diagnóstico médico, tontura de origem vascular ou metabólica. Os pacientes passaram por
anamnese, aconselhamento, avaliação da qualidade de vida (escala de quantificação da tontura e
Dizziness Handicap Inventory brasileiro). Foi concluído que em idosos portadores de labirintopatias
de origem vascular e metabólica a Reabilitação Vestibular foi um tratamento efetivo.
Morettin, et al (2007), seu estudo foi realizado para quantificar a efetividade da
reabilitação vestibular em 39 pacientes, com idade variando de 16 a 82 anos, de ambos os sexos,
que apresentavam qualquer tipo de alteração do equilíbrio corporal, (vertigem, tontura,
desequilíbrio ao andar, sintomas neurovegetativos [náuseas, vômitos, sudorese fria, palidez],
podendo estar associados sintomas auditivos {perda de audição, zumbido}, e hipótese diagnóstica
de síndrome vestibular periférica e/ou central. Antes do início da RV, todos os pacientes realizaram
as avaliações otorrinolaringológicas, com o objetivo de verificar qualquer alteração que possa
influenciar nos resultados obtidos na avaliação do sistema vestibular, avaliação audiológica e exame
vestibular. Todos os pacientes foram instruídos a realizar os exercícios em casa, no mínimo 3 vezes
ao dia, todos os dias durante o tratamento. Os pacientes eram acompanhados em visitas semanais,
para a indicação de novos exercícios personalizados, de acordo com a necessidade do paciente. Ao
final da pesquisa 30 pacientes concluíram o tratamento e 50% deles já não sentiam tontura.
De acordo com Zanardini, et al (2007), foram avaliados oito idosos, na faixa etária de 63
a 82 anos, sendo três do sexo masculino e cinco do sexo feminino, com queixa de tontura de
etiologia diversa, encaminhados de uma unidade asilar. Os idosos foram submetidos aos seguintes
procedimentos: anamnese, avaliação otorrinolaringológica e vestibular. Realizaram-se os exercícios
durante oito semanas, duas vezes ao dia, na Unidade Asilar sob a orientação e supervisão do
fonoaudiólogo com duração de dois meses. Os exercícios objetivaram promover o retorno da função
dos equilíbrios estático e dinâmico, restaurando também a orientação espacial. Logo após o
tratamento foram observadas melhoras da sintomatologia e do prognóstico clínico.
Santos, et al (2008) sua pesquisa foi desenvolvida com idosas pertencentes a um grupo
de atividade física do Centro de Convivência do Idoso. Realizou-se inicialmente o teste para
avaliação do estado cognitivo Mini-Mental-MEEM, foi aplicado o questionário de identificação,e
posteriormente, foi realizado teste de equilíbrio através da Escala do Equilíbrio de Berg (EEB).
Foram selecionadas 38 idosas, na faixa etária de 60 a 80 anos. O período da realização da
160 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios
de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá
– Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162,
Jan. 2011/Jun 2011.
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intervenção foi de dois meses, totalizando nove semanas, com duas sessões semanais, com o tempo
estimado de cada sessão de 45 minutos. O estudo demonstrou que as idosas obtiveram melhora no
índice da EEB após intervenção utilizando-se o protocolo de exercícios de Cawthorne e Cooksey.
Os resultados sugeriram que este método melhora distúrbios vestibulares e diminui o risco de
quedas.
Tavares, et al (2008) relata que foi feito um levantamento de dados contidos nas fichas
dos 93 pacientes submetidos a reabilitação vestibular. A média etária dos pacientes foi de 52 a 82
anos, sendo 56 do sexo feminino e 37 do sexo masculino. As sessões de RV foram individuais e
constaram de orientações ao paciente sobre: funcionamento da audição e do equilíbrio, a alteração
labiríntica do paciente, sobre a própria RV (mecanismos de compensação labiríntica,
neuroplasticidade e função dos exercícios) e de exercícios baseados no protocolo de Cawthorne e
Cooksey. 51 (83,6%) tiveram benefício com a terapia confirmando a eficácia do tratamento.
CONCLUSÃO
Diante da complexidade do sistema vestibular, no decorrer deste trabalho, procurou-se
explicar de forma clara e sucinta sua importância em relação a manutenção do equilíbrio corporal
dos idosos, associados aos sinais visuais, proprioceptivos, somatossensorial, musculoesquelético e
SNC.
É importante destacar que as alterações fisiológicas podem levar ao desequilíbrio, mas
também há outros fatores envolvidos e que conseqüentemente podem causar quedas, contudo a
população idosa em sua grande maioria está predisposta a essa alteração do equilíbrio.
A reabilitação vestibular (RV) é um processo terapêutico que visa acelerar os
mecanismos de compensação central por meio da plasticidade neuronal, obtidos com a execução de
exercícios repetitivos que visam promover a redução significativa dos sistemas labirínticos.
Os exercícios de Cawthorne e Cooksey são de simples realização, de baixo custo, e
proporcionam aos idosos um aumento da motivação, integração e socialização, quando as práticas
dos exercícios são feitas em grupo. Com isso, melhora a auto-estima, reduz as chances dos idosos
sofrerem de depressão, evita a incidência de quedas, melhorando assim a qualidade de vida.
Conforme os dados expostos, conclui-se que os exercícios de Cawthorne e Cooksey são eficazes no
tratamento das disfunções vestibulares.
REFERÊNCIAS
161 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios
de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá
– Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162,
Jan. 2011/Jun 2011.
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163 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane
Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e
adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio
de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011.
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MOCHILAS ESCOLARES E A COLUNA VERTEBRAL DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Andréia Novais Pereira Carneiro1; Michele de Lima Ribeiro Santos1; Viviane Delfim Figueroa1;
Breno Gontijo Nascimento2
Resumo:
Abstract:
Nos últimos anos a mochila escolar ganhou
destaque como fator de risco para alterações
posturais na coluna vertebral e queixas de dor
nas costas. Assim, o objetivo deste trabalho foi
verificar por meio de uma revisão de literatura
os efeitos da mochila escolar sobre a coluna
vertebral de crianças e adolescentes. Foram
revisados artigos indexados publicados entre os
anos de 2000 e 2010 nas bases de dados
PubMed, BIREME e SciELO. As palavraschave utilizadas na pesquisa foram mochilas,
escolares, coluna, dor nas costas e as similares
em inglês. Vários autores relatam que o tempo
prolongado de transporte das mochilas escolares
e cargas superiores a 15% do peso corporal
levam a um aumento da assimetria lombar e da
inclinação anterior do tronco acompanhada por
redução da lordose lombar, diminuição do
ângulo crânio-vertebral, da atividade dos
músculos paravertebrais, do reposicionamento
da região lombar, fadiga muscular e sugerem
que a quantidade de carga transportada não deva
exceder 10 a 15% do peso corporal. Os fatores
psicossomáticos e o gênero feminino foram
significativamente associados com a queixa de
dor nas costas. A fisioterapia pode utilizar esses
achados para atuar na prevenção dessas
disfunções com exercícios específicos para
aumentar a capacidade de resistência muscular
dos escolares, além de sessões educativas para
alertar os escolares, as famílias e influenciar as
políticas da escola a fim de diminuir os agravos
das alterações e dores na coluna vertebral que
interferem severamente na qualidade de vida.
In recent years the backpack to prominence
as a risk factor for postural changes in the
spine and complaints of back pain. Thus, the
aim was to verify through a literature review
the effects of backpack on the spine in
children and adolescents. We reviewed
indexed articles published between 2000 and
2010 in the PubMed, SciELO and BIREME.
The keywords used in the research were
backpacks, school, spine, back pain and
similar ones in English. Several authors have
reported that prolonged transportation of
backpacks and loads of over 15% of body
weight lead to increased asymmetry of the
lumbar and trunk inclination followed by a
reduction of lumbar lordosis, decreased
cranio-vertebral angle, the activity of the
paraspinal muscles, repositioning of the
lower back, muscle fatigue and They suggest
that the amount of cargo should not exceed
10 to 15% of body weight. Psychosomatic
factors and female gender were significantly
associated with complaints of back pain.
Physical therapy can use these findings to
work in the prevention of these disorders
with specific exercises to increase muscle
endurance capacity of the students, and
educational sessions to alert students,
families and influencing school policies in
order to lessen the hardships and pains of
changes in the spine that severely affect the
quality of life.
1
2
Acadêmicos do curso de Fisioterapia da Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte.
Professor docente da Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte, Doutor em Bioengenharia UFMG.
164 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane
Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e
adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio
de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011.
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Palavras-chave:
Keywords:
Mochilas. Escolares. Coluna Vertebral. Dor nas Backpacks. School. Spine. Back pain.
Costas.
INTRODUÇÃO
A mochila é o meio mais popular entre as crianças e adolescentes para o transporte de
materiais escolares principalmente pela sua praticidade. Esse transporte usualmente com duas alças
e fixação dorsal é uma rotina diária dos estudantes que se repete durante anos consecutivos.
Portanto, há uma preocupação crescente sobre as possíveis consequências do uso da mochila sobre
a coluna vertebral, já que nessa fase o organismo está em constante desenvolvimento músculoesquelético. Essa preocupação se deve à associação entre o transporte da mochila escolar, alterações
posturais e queixa de dor nas costas (CARDON; BALAGUÉ, 2004b; NEGRINI, CARABALONA,
2002; SHEIR-NEISS et al, 2003).
A coluna vertebral das crianças difere da coluna do adulto em dois aspectos importantes:
o esqueleto da criança possui maior quantidade de cartilagem em áreas onde ocorre o crescimento;
o pico de crescimento ocorre na idade escolar durante a puberdade, quando as partes moles tem
certa dificuldade em se alongar na mesma proporção que os ossos o que gera um desequilíbrio
muscular. Esses aspectos sugerem que a coluna vertebral das crianças e adolescentes apresente
menor capacidade de resistir às pressões e, portanto mais suscetível a microtraumas repetitivos que
a coluna vertebral do adulto (BRACKLEY; STEVENSON, 2004; KIM et al, 2008; RAMPRASAD
et al, 2009). Chansirinukor et al (2001), relatam que a aplicação de forças externas como o
transporte de carga na mochila pode influenciar o crescimento, desenvolvimento e alinhamento
corporal. Isso se torna um fator de risco importante para queixa de dor nas costas na fase adulta.
Na tentativa de determinar um limite adequado de carga nas mochilas, diversos estudos
examinaram os efeitos da carga de mochilas por meio de parâmetros biomecânicos e posturais
(CHOW et al, 2007; KIM et al, 2008; NEUSCHWANDER et al, 2009; RAMPRASAD et al, 2009;
van GENT et al, 2003). Brackley e Stevenson (2004), a partir de uma revisão crítica baseada em
resultados biomecânicos e fisiológicos recomendam que o peso transportado na mochila escolar não
deva exceder 10 a 15% do peso corporal das crianças. Ao contrário, Grimmer et al (2002), não
encontraram evidências que limitem a carga das mochilas em 10% do peso corporal e sugere que
sejam feitos estudos com cargas maiores.
165 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane
Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e
adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio
de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011.
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Um número crescente de pesquisas tem demonstrado que a queixa de dor nas costas por
crianças em idade escolar é mais freqüente do que se pensava (BAUER E FREIVALDS, 2009;
CARDON; BALAGUÉ, 2004a; LINDSTROM-HAZEL 2009). Sheir-Neiss et al (2003),
demonstraram que os adolescentes que transportavam mochilas com cargas maiores apresentaram
maior queixa de dor nas costas. Haselgrove et al (2008) e Negrini e Carabalona (2002), demonstram
que o tempo prolongado de transporte das mochilas também está associado com queixa de dor nas
costas em adolescentes. Refutando esses achados van Gent et al (2003), relatam que os fatores
psicossomáticos parecem estar mais relacionados com a queixa de dor nas costas.
Devido à divergência dos resultados apresentados na literatura, este trabalho tem como
objetivo verificar a influência da mochila escolar sobre a coluna vertebral em crianças e
adolescentes.
OBJETIVO GERAL
Verificar por meio de uma revisão de literatura os efeitos da mochila escolar sobre a
coluna vertebral de crianças e adolescentes.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
•
Explicitar as principais alterações na coluna vertebral de crianças e adolescentes decorrentes
do uso da mochila escolar.
•
Correlacionar a queixa de dor nas costas freqüente entre as crianças e adolescentes com a
mochila escolar.
•
Investigar se há um consenso na literatura sobre um limite de carga transportada na mochila
diariamente por crianças e adolescentes.
METODOLOGIA
Foi realizado em estudo exploratório por meio de revisão de literatura em artigos
indexados publicados entre os anos de 2000 e 2010 nas bases de dados PubMed, BIREME e
SciELO. As palavras-chave utilizadas na pesquisa foram mochilas, escolares, coluna, dor nas costas
e as similares em inglês. Foram selecionados os artigos de interesse para o estudo, ou seja, aqueles
166 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane
Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e
adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio
de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011.
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que faziam referência em seus dados a aspectos relacionados ao peso das mochilas escolares,
alterações na coluna vertebral e queixa de dor nas costas em crianças e adolescentes sem
deformidades músculo-esqueléticas e com idade superior a seis anos e inferior a dezoito anos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Fluxograma: processo de seleção dos artigos para a revisão
74 artigos
Incluídos 42 artigos
ALTERAÇÕES
POSTURAIS
*11 avaliaram a
respostas posturais da
coluna no plano sagital
e frontal
*02 avaliaram as
respostas posturais e a
propriocepção da
coluna
*03 utilizaram a
eletromiografia para
avaliar as respostas
DOR NAS COSTAS
*04 avaliaram os
fatores de risco para
lombalgia em escolares
*16 avaliaram a relação
da mochila escolar e
queixa de dor nas
costas
*01 avaliou a
prevalência de sintomas
osteomusculares em
escolares
*03 avaliaram os
fatores de risco para
queixa de dor nas
Excluídos 32 artigos
* 04 avaliaram efeito de sessões
educativas
*07 avaliaram efeito sobre a marcha
*05 avaliaram alterações posturais
não associadas à mochila
*03 avaliaram efeito sobre o ombro
*01 avaliou efeito sobre MMII
*01 avaliou conhecimento dos pais
sobre a carga
*01 não avaliou a mochila como
fator de risco
*02 não avaliaram efeitos sobre a
coluna
*01 avaliou traumas agudos
causados pela mochila
*01 não informa a idade do sujeito
*02 avaliaram capacidade pulmonar
*01 avaliou crianças com alterações
músculo-esqueléticas
*01 não avaliou dores nas costas
*01 avaliou sujeitos com idade >18
anos
*01 avaliou influência da idade e
gênero
167 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane
Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e
adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio
de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011.
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Doze artigos avaliaram os efeitos da mochila escolar de duas alças transportada na
região posterior da coluna vertebral por meio de dois parâmetros: inclinação anterior do tronco
(IAT) e o ângulo crânio-vertebral (ACV) (Figura 1). Bracley et al (2009), definem o IAT como o
ângulo entre o cruzamento de uma linha vertical que passa desde o quadril até a base do pescoço e o
ACV como o ângulo entre o cruzamento de uma linha horizontal entre o processo espinhoso de C7
e o tragus da orelha.
Figura 1: Ângulo Crânio-Vertebral (Fonte: KIM et al, 2008)
A inclinação anterior do tronco mostrou-se aumentada com o crescente aumento de
cargas da mochila escolar (CHOW et al, 2007) (Figura 2). Bauer e Freivalds (2009), relatam que a
IAT foi maior com 15 e 20% de carga com um aumento de 174% entre 10 e 15% do peso corporal e
119% entre 15 e 20% do peso corporal. Esse aumento parece ser necessário para mudar o centro de
gravidade do sistema (peso e mochila). Considerando que é necessário um maior trabalho muscular
para a manutenção do equilíbrio dinâmico, Bracley et al (2009), Hong et al (2003) e Negrini e
Negrini (2007), avaliaram os efeitos da carga durante a caminhada e observaram um maior aumento
da IAT com o aumento da distância percorrida transportando mochila com carga entre 15 e 20% do
peso corporal, acompanhado por uma diminuição da lordose lombar em ambos os estudos. Esse
achado pode estar associado à fadiga muscular.
168 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane
Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e
adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio
de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011.
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Figura 2: Inclinação Anterior do Tronco (Fonte: CHOW et al, 2007)
Um estudo eletromiográfico em escolares de 11 a 14 anos demonstrou redução da
atividade dos paravertebrais com o aumento da carga de 0 a 20% do peso corporal (BAUER E
FREIVALDS, 2009). O mesmo resultado foi observado por Motmans et al (2006), com carga de
15% do peso corporal. No estudo de Negrini e Carabalona (2002), a única variável associada à
lombalgia durante o transporte da mochila foi a fadiga, relatada por 65,7% dos estudantes.
Haselgrove et al (2008), relatam que a redução da resistência muscular e pobre controle de tronco
são conhecidos como fatores de risco para queixa de dor nas costas.
O ACV foi avaliado nos estudos de Brackley et al (2009), Chansirinukor et al (2001),
Kim et al (2008), Korovessis et al (2005) e Ramprasad et al (2009), que observaram uma redução
significativa com 15% de carga indicando a inclinação anterior da cabeça como forma de manter o
centro de gravidade do corpo ligeiramente à frente da articulação lombossacral. Cheung et al
(2010), ao compararem um grupo com queixa de dor e um grupo controle sem queixa encontrou
diminuição significativa do ACV com carga de 10% do peso corporal no grupo com queixa de dor,
enquanto no grupo controle essa alteração foi significativa com 15%. Chansirinukor et al (2001),
observaram que houve maior redução do ACV após caminhada de 5 minutos e sugere que o tempo
também influencia na posição do pescoço. Kim et al (2008), ainda relatam um aumento da atividade
eletromiográfica dos paravetrebrais médio-cervicais na tentativa de manter a extensão do pescoço.
Em um primeiro estudo que utilizou a ressonância magnética para medir a resposta da
coluna lombar a diferentes cargas de mochila Neuschwander et al (2009), observaram que com
cargas crescentes (10, 20 e 30% do peso corporal) houve aumento significativo da assimetria
169 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane
Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e
adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio
de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011.
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lombar representada por um ângulo de Cobb maior que 10° em uso de carga de 20% do peso
corporal em 50% dos indivíduos, além de compressão discal de T12 a S1 com maior valor para os
discos caudais (L5-S1).
Negrini e Negrini (2007), ao comparar efeitos de cargas simétricas e assimétricas
observaram um desvio lateral do tronco contrário à carga assimétrica de 20% do peso corporal, que
reflete a necessidade de manter a linha central do corpo. O transporte assimétrico também foi
significativamente associado à queixa de dor nas costas nos estudos de Korovessis (2005) e Skoffer
(2007).
Apesar dos estudos enfatizarem as alterações sobre a coluna cervical e lombar, a coluna
torácica também merece atenção. Briggs et al, (2009), encontraram maior prevalência de dor na
coluna torácica entre crianças e adolescentes significativamente associada com alterações posturais
devido ao uso da mochila. Assim como Moore et al, (2007), que relatam que a sobrecarga da
mochila escolar está associada à dor na região torácica. Carvalho e Rodacki (2008), encontraram
um aumento da cifose torácica e maior rotação da coluna com carga de 20% do peso corporal e
sugerem que essa postura possa causar estresse em estruturas que não absorvem e transmitem de
maneira eficiente os esforços aplicados sobre a coluna.
Devido a falta de diretrizes sobre o posicionamento do centro de massa da mochila
Carvalho e Rodacki (2008), padronizaram em T8 e observaram um aumento da IAT e segmento
lombar estável, enquanto Chow et al (2007), padronizaram ao nível de T12 e também observou
aumento do IAT porém, com diminuição da curvatura lombar. Ambos utilizaram carga de 10 e 20%
do peso corporal, isso mostra que os efeitos da carga aplicada podem mudar de acordo com o seu
posicionamento na coluna. A aplicação de cargas no nível de T7, T12 e L3 (Figura 3) demonstrou
uma IAT em todos os posicionamentos sendo maior em T7 e sugere que a melhor posição para o
centro de massa da mochila seria ao nível de L3 a fim de minimizar as alterações posturais
(BRACKLEY; STEVENSON, 2004; BRACKLEY et al, 2009; GRIMMER et al, 2002). Chow et al
(2010), ainda sugerem que a alteração ocasional da posição da mochila em anterior e posterior
possa minimizar os efeitos sobre a coluna.
170 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane
Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e
adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio
de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011.
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Figura 3: Posicionamento do centro de massa da mochila em T7, T12 e L3 (Fonte: GRIMMER et al, 2002)
O reposicionamento das articulações depende da integração sensorial de informações
visuais, vestibulares e proprioceptivas. Chow et al (2007), relatam a diminuição da consistência do
reposicionamento na coluna lombar, enquanto na coluna torácica não foi encontrada nenhuma
alteração. Este achado é corroborado por Negrini e Negrini (2007), que após a remoção da carga
observou que apenas a lordose lombar não retornou ao seu valor de pré-carregamento. Esses
achados sugerem que o reposicionamento da coluna esteja mais associado com o próprio aumento
da carga ao invés da simples mudança de informações sensoriais causada pelo transporte da
mochila.
Atualmente a queixa de dor nas costas é comum entre as crianças e adolescentes a nível
mundial. Skoffer (2007), Whittfield e Legg (2005), encontraram alta prevalência de sintomas
músculo-esqueléticos com relatos de lombalgia de 64,8% e 35% respectivamente.
No estudo longitudinal realizado por Jones et al (2003), para determinar a ocorrência de
lombalgia em estudantes entre 11 a 14 anos com um follow-up de 12 meses, foi relatado a
ocorrência de lombalgia em 18% dos escolares sem associação com a carga da mochila escolar.
Esse achado pode ter sido influenciado pela mensuração da carga somente no primeiro dia da
semana da coleta de dados, não sendo registrada no follow-up. Porém, o tempo de transporte das
mochilas foi significativamente associado com o risco de lombalgia. Da mesma forma Haselgrove
et al (2008), relatam que o transporte prolongado da mochila pode aumentar o risco de queixa de
dor nas costas em adolescentes. Lindstrom-Hazel (2009), Sheir-Neiss et al (2003), em seus estudos
encontraram que as crianças que iam caminhando para a escola queixaram-se mais de dorsalgia e
lombalgia de maior intensidade.
Ao analisar a associação entre dor na coluna e percepção de carga da mochila
Haselgrove et al (2008), relatam que a percepção de carga em termos de cansaço foi fortemente
171 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane
Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e
adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio
de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011.
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associada com dor nas costas e pescoço particularmente durante o transporte da mochila com uma
prevalência de 27% de dor nas costas e 34% no pescoço. Assim como no estudo de Szpalski et al
(2002), onde as crianças que responderam sentir a sua mochila pesada demais queixaram-se mais de
dor nas costas. Isso sugere que há a necessidade de considerar os fatores pessoais, incluindo as
reações físicas das crianças a tais cargas e que a queixa de dor nas costas em crianças deve ser vista
a partir de um modelo biopsicossocial, assim como nos adultos (RENEMAN, 2006).
Outros estudos avaliaram os fatores de risco para lombalgia em escolares e concluíram
que há pouca evidência científica de relação causal com a carga de mochilas escolares (CARDON;
BALAGUÉ, 2004b; TREVELYAN; LEGG, 2006; WATSON et al, 2003). Talbott et al (2009),
relatam que 99% dos estudantes avaliados em seu estudo usavam mochila e metade a percebia
muito pesada, mas, apenas 33,5% atribuíram sua dor à mochila. Da mesma forma, GoodGold et al
(2002), relatam que dos 345 estudantes avaliados sem seu estudo 55% eram submetidos a carga
superior a 15% do peso corporal e 1/3 relatou história de dor nas costas. No estudo de Negrini e
Carabalona (2002), a queixa de dor nas costas foi claramente associada à fadiga durante o transporte
(65%), mas não com a sensação de mochila pesada. Esses resultados sugerem que a necessidade de
se considerar outros fatores como a resistência muscular dos escolares.
A maioria das crianças (80%) avaliadas por Wall et al (2003), utilizavam mochila para
fins escolares e aquelas que apresentavam dor nas costas significativamente grave que exigia
avaliação ortopédica não atribuíram sua dor à mochila. Porém, conclui que as mochilas possam
causar leve à moderada dor nas costas que não necessitem de cuidados médicos.
Van Gent et al (2003), avaliaram 745 adolescentes entre 12 e 14 anos e encontraram
43% de queixa de dor no pescoço/ombro e 46% nas costas onde os fatores psicossomáticos tiveram
maior associação com a dor. Crianças com altos níveis de dificuldades psicossociais e sintomas
somáticos como dor abdominal, cefaléia e dor de garganta são mais propensas a desenvolver
lombalgia (JONES et al, 2003). Apesar dos fatores psicossociais estarem significativamente
relacionados com a queixa de dor nas costas em escolares não há evidência de que a modificação
desses fatores possa ter efeito preventivo sobre a lombalgia (CARDON; BALAGUÉ, 2004a;
WATSON et al, 2003). Além disso, o gênero feminino apresenta-se como um fator relevante na
prevalência de queixa de dor nas costas, que pode estar ligado às diferenças na resistência muscular
e dos limiares de dor quando comparado ao gênero masculino (HASELGROVE et al, 2008;
KOROVESSIS et al, 2004; NAVULURI; NAVULURI, 2006; SIAMBANES et al, 2004; SKAGGS
et al, 2006).
172 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane
Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e
adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio
de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011.
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A sobrecarga da mochila escolar mostrou-se associada às alterações posturais na coluna
e dor nas costas em vários estudos. Mackenzie et al (2003), em uma revisão apontam que a carga
superior a 15% do peso corporal está associada com dor nas costas e alterações posturais. Bauer e
Freivalds (2009), Brackley et al (2009), Chansirinukor et al (2001) e Mackie e Legg (2008),
observaram que as respostas posturais foram mais sensíveis ao transporte crescente de carga e
sugerem que o limite de carga transportado nas mochilas pelos escolares não deva exceder 10% a
15% do peso corporal. A disponibilidade de armários nas escolas pode ser uma das formas de
redução da carga transportada nas mochilas, sendo sua ausência relatada como fator de risco para a
queixa de dor nas costas (SKAGGS et al, 2006; LINDSTROM-HAZEL, 2009). Outros fatores
como a forma de carregar a mochila e o tempo de transporte sobre os ombros desempenha
importante papel no relato de fadiga e dor nas costas pelos escolares (COTTALORDA et al, 2004;
HASELGROVE et al, 2008; JONES et al, 2003; LINDSTROM-HAZEL, 2009; SHEIR-NEISS et
al, 2003; SIAMBANES et al, 2004; SKOFFER, 2007).
O uso de mochilas com cargas maiores que 15% do peso corporal por crianças e
adolescentes leva a alterações na coluna vertebral como forma de manter o centro de gravidade
corporal. Essas alterações acentuam com o tempo prolongado de exposição a essas cargas e
colaboram para a queixa de dor e disfunção na coluna vertebral de crianças e adolescentes. Os
resultados dos artigos revisados sobre o limite de carga se baseiam somente no peso da criança e
indica que um aluno mais pesado pode transportar mais carga. Considerando a diferença entre a
capacidade e a demanda outros fatores como a altura e o índice de massa corporal ser considerados
para a definição de carga transportada nas mochilas escolares, uma vez que um escolar obeso está
mais suscetível à lesão por inaptidão física. Apesar dos fatores psicossomáticos exercerem
influência na queixa de dor nas costas por crianças e adolescentes os fatores mecânicos não podem
ser negligenciados.
CONCLUSÃO
Este estudo mostrou que a sobrecarga na mochila escolar, o tempo de transporte e a
forma assimétrica foram significativamente associados com as alterações na coluna vertebral de
crianças e adolescentes. Assim, é indicado que o transporte de mochilas escolares seja de forma
simétrica, sobre os ombros, com o centro de massa da mochila ao nível de L3 e que não exceda
cargas entre 10 a 15% do peso corporal. Os fatores psicossomáticos e o gênero feminino foram
173 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane
Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e
adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio
de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011.
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significativamente associados à queixa de dor nas costas, o que sugere que somente o controle da
carga possa não ser suficiente para a redução da queixa de dor nas costas.
A fisioterapia pode utilizar esses achados para atuar na prevenção dessas disfunções com
exercícios específicos para aumentar a capacidade de resistência muscular dos escolares, além de
sessões educativas para alertar os escolares, as famílias e influenciar as políticas da escola a fim de
diminuir os agravos das alterações e dores na coluna vertebral que interferem severamente na
qualidade de vida.
São necessários estudos futuros que explorem a relação entre a carga de mochilas
escolares e a altura, índice de massa corporal e resistência muscular de crianças e adolescentes.
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1978. Solicita-se observar rigorosamente a sequência e a pontuação.
b) No caso de coletânea: SOBRENOME, Nome. Título não sublinhado. In: SOBRENOME,
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FICHTNER, N. A escola como instituição de maltrato infância. In: KRINSKY, S., org. A
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a sequência e a pontuação.
c) No caso de artigo: SOBRENOME, nome. Título do artigo. Título do Periódico
Sublinhado, local de publicação, número do periódico (número do fascículo): página inicialpágina final. Mês(es) e ano de publicação. Ex.: CLARK, D. A. Factors influencing the
retrieval and control of negative congnotions. Behavior and Therapy, Oxford, 24(2): 151-9.
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d) No caso de tese acadêmica: SOBRENOME, Nome. Título da tese sublinhado. Local,
data, número de páginas, dissertação (Mestrado) ou Tese (Doutorado). Instituição em que foi
defendida. (Faculdade e Universidade). Ex.: HIRANO, Sedi. Pré-capitalismo e capitalismo:
a formação do Brasil Colonial. São Paulo, 1986, 403 p. Tese (Doutorado). Faculdade de
Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Solicita-se observar
rigorosamente a sequência e a pontuação.
GUANICUNS III 2006 24-09-06.pmd 294 24/9/2006, 20:20
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