ISSN: 1984-2864 ESTÁCIO DE SÁ CIÊNCIAS DA SAÚDE REVISTA DA FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ DE GOIÂNIA SESES – GO VOL. 02, Nº 05, JANEIRO 2011/JUNHO 2011 FICHA CATALOGRÁFICA DA REVISTA DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CPI) FACULDADE DE GOIÁS CATALOGAÇÃO NA FONTE / BIBLIOTECA FAGO JACQUELINE R.YOSHIDA – BIBLIOTECÁRIA – CRB 1901 LOPES, Edmar Aparecido de Barra e (org.). Revista de Ciências da Saúde da Faculdade Estácio de Sá de GoiásFESGO. Goiânia, GO, v. 02, nº05, Jan. 2011/Jun. 2011. ISSN 1984-2864 Nota: Revista da Faculdade Estácio de Sá de Goiás – FESGO. I. Ciências da Saúde. II- Título: Revista de Ciências da Saúde. III. Publicações Científicas. CDD 300 ESTÁCIO DE SÁ CIÊNCIAS DA SAÚDE FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ DE GOIÁS – FESGO VOLUME 2, n. 05, Jan. 2011/Jun. 2011. PERIODICIDADE: SEMESTRAL ISSN: 1984-2864 Cursos de da Faculdade Estácio de Sá de Goiás: Administração Enfermagem Farmácia Educação Física Fisioterapia Recursos Humanos Redes de Computadores Marise Ramos de Souza Marizane Almeida de Oliveira Sandro Marlos Moreira Editor Científico: Edmar Aparecido de Barra e Lopes Projeto Editorial, Projeto Gráfico, Preparação, Revisão Geral: Edmar Aparecido de Barra e Lopes Conselho Editorial Executivo: Adriano Luis Fonseca Ana Claudia Camargo Campos Claudio Maranhão Pereira Edson Sidião de Souza Júnior Patrícia de Sá Barros Guilherme Nobre Lima do Nascimento Conselho Editorial Consultivo: Adriano Luís Fonseca Andréia Magalhães de Oliveira Denise Gonçalves Pereira Elder Sales da Silva Jaqueline Gleice Aparecida de Freitas Karolina Kellen Matias Marc Alexandre Duarte Gigonzac Marco Túlio Antonio Garcia-Zapata Equipe Técnica: Editoração Eletrônica , Coordenação Gráfica, Capa e Revisão de Texto em Inglês: Edclio Consultoria: Editorial Pesquisa e Comunicação Ltda Revisão Técnica: Josiane dos Santos Lima Endereço para correspondência/Address for correspondence: Rua, 67-A, número 216 Setor Norte Ferroviário Goiânia-GO, CEP: 74.063-331 - Coordenação do Núcleo de Pesquisa Informações: Tel.: (62) 3212-0088 Email: [email protected] [email protected] FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ DE GOIÁS-FESGO Diretora Geral Sirle Maria dos Santos Vieira Coordenação de Fisioterapia Kliver Antônio Marin Gerente Acadêmico Adriano Fonseca Coordenação de Educação Física Maria Aparecida Teles Rocha Qualidade & Regulatório Sue Christine Siqueira Psicologia Elisa Mara Silveira Fernandes Leão COORDENADORES/AS DE CURSOS E NÚCLEOS Coordenação de Redes de Computadores Marcelo Almeida Gonzaga Coordenação de Enfermagem Edicássia Rodrigues de Morais Cardoso Rejane Danielle Borges Naves Spirandelli Coordenação de Coordenadora do EAD Mara Silvia dos Santos Coordenação de Administração e Recursos Humanos Ana Cláudia Pereira de Siqueira Guedes Coordenação de Farmácia Edson Sidião de Souza Júnior Coordenador de Pós-Graduação Marcelo Marcos Medeiros Luz Coordenador de Pesquisa e Extensão Edmar Aparecido de Barra e Lopes FESGO Estácio www.go.estacio.br/ Fones: (62) 3601-4900 – Brt (62) 8599-6894 – VoIP: *370 4902 SUMÁRIO ARTIGOS 08-14 ATUAÇÕES DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E DE ESTRATÉGIAS SUSTENTÁVEIS SANDRA OLIVEIRA SANTOS 15-27 DADOS QUÍMICOS, FARMACOLÓGICOS E TOXICOLÓGICOS DO CHAPÉUDE-COURO (ECHINODORUS MACROPHYLLUS (KUNTH) MICHELI): UMA REVISÃO DA LITERATURA MICHELLE DE MENEZES ROCHA & REGINA BRAGA DE MOURA 28-44 A APLICABILIDADE DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NAS AULAS PRÁTICAS DE ESPORTES COLETIVOS NA GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA JACKSON LOPES OLIVEIRA & MARILUCI BRAGA 45-57 A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE DAS DISFUNÇÕES NEUROMOTORAS, NA RECUPERAÇÃO MOTORA EM BEBÊS PREMATUROS MARIA DO CÉU PEREIRA GONÇALVES; VERNON FURTADO DA SILVA; ANDREA REBECA OLIVEIRA DE PAULA. 58-68 INFLUÊNCIAS DO MEIO SOCIOECONOMICO E FAMILIAR COMO FATOR DE RISCO DO ATRASO NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR: ESTUDO PILOTO MARIA DO CÉU PEREIRA GONÇALVES, PAMELA PAIVA GOUVEIA SIMÕES, ELISANGELA TEIXEIRA VIEIRA 69-79 ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA EM UM PACIENTE COM NEOPLASIA MALIGNA DE ENCÉFALO: RELATO DE CASO MARIA DO CÉU PEREIRA GONÇALVES, NATÁLIA SARMENTO ABRAHÃO 80-94 PROPOSTA PEDAGÓGICA DE ACORDO COM O PERFIL DOS ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM DE UMA UNIVERSIDADE PARTICULAR DE GOIÂNIA – GO SUE CHRISTINE SIQUEIRA, SILVANA L. V. SANTOS, ÂNGELA CRISTINA BUENO VIEIRA PESQUISAS 96-113 ESTUDO SOBRE ACESSIBILIDADE DAS ESTRUTURAS ESPORTIVAS: REFERÊNCIAS PARAS AS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER. MARCELO CORREA 114-125 REVISÃO SISTEMÁTICA DOS EFEITOS DA UTILIZAÇÃO DA PRÓTESE REVERSA DE GRAMMONT EM ARTROPLASTIAS DE OMBRO ARTHUR ANTUNES OLIVEIRA DA SILVEIRA 126-137 A INFLUÊNCIA DO EDUCADOR FÍSICO NA ADERÊNCIA DOS ALUNOS A PRÁTICA DE EXERCÍCIOS EM ACADEMIA FILIPE FIGUEIREDO DE REZENDE; MARCELLE VALENTIM VIEIRA; BEATRIZ BICALHO; MARILUCI BRAGA 138-146 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO CLIENTE VÍTIMA DE TRAUMA RAQUIMEDULAR: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO EMÍLIA RODRIGUES FERREIRA, ROGÉRIO PEREIRA BERNARDES, FRANCINO MACHADO DE AZEVEDO FILHO, GLEYDSON MELO 147-162 REABILITAÇÃO VESTIBULAR ATRAVÉS DOS EXERCÍCIOS DE CAWTHORNE E COOKSEY PARA PREVENÇÃO DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA CLEIDIANE FERREIRA DA SILVA, ADRIANO LUIS FONSECA 163-176 MOCHILAS ESCOLARES E A COLUNA VERTEBRAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UMA REVISÃO DE LITERATURA ANDRÉIA NOVAIS PEREIRA CARNEIRO, MICHELE DE LIMA RIBEIRO SANTOS, VIVIANE DELFIM FIGUEROA, BRENO GONTIJO NASCIMENTO _________________________ ARTIGOS 8 SANTOS, Sandra Oliveira. Atuações de proteção ambiental e de estratégias sustentáveis. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 08-14, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ ATUAÇÕES DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E DE ESTRATÉGIAS SUSTENTÁVEIS Sandra Oliveira Santos∗ Resumo: Abtract: As condições ambientais vêm alterando o modo de vida das pessoas e até mesmo a expectativa de vida. Portanto, existe uma forma redundante em tratar-se deste assunto muitas vezes sem ter a certeza do que seriam tais condições ambientais, o que de fato o ambiente pode interferir e ainda até que ponto o modo de vida dos seres humanos contribui para modificar este ambiente. As prioridades humanas podem ser direcionadas ao bem estar coletivo com uso sustentável do meio ambiente. Repensar o máximo que se precisa para viver bem depois de ter alcançado o mínimo para a qualidade de vida, economizaria sim, os recursos ambientais. Environmental conditions are changing the way of life and even life expectancy. So there is a redundant way in treating this subject is often not sure what would such environmental conditions, the fact that the environment can interfere with and even to what extent the lifestyle of humans contributes to modify this environment. Human priorities can be directed to the collective well-being with sustainable use of the environment. Rethinking the most you need to live well after having reached the minimum for the quality of life, but would save environmental resources. Palavras-Chave: Meio Ambiente. Proteção Ambiental. Sustentabilidade. Equilíbrio Ecológico. Key-words: Environment. Environmental Protection. Sustainability. Ecological Balance. INTRODUÇÃO Há muito se fala que as condições ambientais vêm alterando o modo de vida das pessoas e até mesmo a expectativa de vida. Portanto, existe uma forma redundante em tratar-se deste assunto muitas vezes sem ter a certeza do que seriam tais condições ambientais, o que de fato o Mestre em Biologia, concentração ecologia (Universidade Federal de Goiás – UFG). Especialista em Saúde Pública (Universidade Católica de Goiás – UCG). Especialista em Biologia (Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação – CEPAE/UFG). Graduada em Medicina Veterinária. ∗ 9 SANTOS, Sandra Oliveira. Atuações de proteção ambiental e de estratégias sustentáveis. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 08-14, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ ambiente pode interferir e ainda até que ponto o modo de vida dos seres humanos contribui para modificar este ambiente. Aficionados por proteção ambiental muitas vezes embarcam em senso comum na defesa do verde, da biodiversidade, da recuperação a qualquer custo de áreas modificadas. Há de se observar, contudo, que a transformação do ambiente nem sempre é danosa quando se impera um olhar mais abrangente. O extermínio de um ser vivo que está atrapalhando o equilíbrio de um dado local poderá em pouco prazo trazer consequências piores. Assim, pode-se pensar em controle do crescimento daquela espécie em detrimento de sua própria extinção. Outra situação comum de se notar é a necessidade de imputar culpas em alguma espécie sobre modificações ambientais. Tais mudanças podem ser decorrentes de processos naturais geológicos, de movimentações de placas tectônicas ou mesmo de maior ou menor incidência de raios solares em determinada face do globo. Mesmo que as ações antrópicas sejam responsáveis por inúmeras situações de modificações ambientais, elas por si só, não podem ser as únicas responsáveis. Há de se observar também que as modificações podem ser positivas, embora às negativas tenham mais expressividade. Esta revisão bibliográfica permitirá um olhar sobre obrigações entre nações que prevê acordos de conservação e preservação ambiental e a relação com a melhoria da qualidade de vida dos seres humanos. UM OLHAR SOBRE OS OBJETIVOS DA CÚPULA DO MILÊNIO Um acordo entre 191 países signatários ocorrido na Cúpula do Milênio da Organização das Nações Unidas – ONU em 2000, prevê o compromisso destes em erradicar a extrema pobreza e a fome, atingir o ensino básico universal, promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres, reduzir a mortalidade na infância, melhorar a saúde materna, combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças, garantir a sustentabilidade ambiental e por último estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento. Todos estes objetivos deverão ser conduzidos até o ano de 2015 e são pautados em melhorias das condições ambientais entre outras ações. Sabe-se desde as singelas exposições de conteúdo em salas do ensino fundamental que ar, água e solo são elementos básicos da natureza e que todos os ciclos biogeoquímicos são interdependentes. As condições como se apresentam em determinado habitat dependerá da idade geológica, as transformações sofridas em milhões de anos de existência do planeta, da interação entre seres vivos e as modificações sofridas pela permanência de todos os fatores indicados. 10 SANTOS, Sandra Oliveira. Atuações de proteção ambiental e de estratégias sustentáveis. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 08-14, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ Autores consagrados em Gestão Ambiental (PHILIPPI JR & PELICIONI, 2005) relatam que ecologistas se preocuparam demasiadamente em estudar o equilíbrio do ecossistema, do meio ambiente natural e do estudo das relações entre os seres vivos, sem estabelecer relação entre esses e o sistema socioeconômico. Isso reflete no descrédito das pessoas quando se trata de assuntos de preservação e conservação ambiental. É como se não houvesse, por exemplo, uma ligação entre a diminuição do curso de um rio e a presença de áreas habitacionais nas proximidades de sua nascente. Afinal, foram necessários cem anos ou mais para que se percebesse o sinergismo que neste caso a médio e longo prazo, geralmente é negativo. O meio ambiente modificado de forma rápida e drástica poderá propiciar um conforto provisório à sobrevivência humana que justamente pela curta expectativa de vida, hoje creditada em torno de 80 anos, não permite a visibilidade necessária às mudanças negativas. A construção de condomínios habitacionais em extensas áreas não prevê inicialmente a necessidade de escoamento de fluxo de pessoas, da maior necessidade de galerias pluviais e de esgoto, ou mesmo o acréscimo da adutora de fornecimento de água tratada e a distribuição de energia. O mais difícil é prever que estes condomínios atrairão para esta região comércio, movimentação financeira e especulações. Assim, mais pessoas se interessarão em residir nestas áreas que sofrerão expansões vertiginosas a interesses econômicos, novamente, sem direcionamento aos objetivos de um desenvolvimento sustentável. Por falar neste, o termo desenvolvimento sustentável tem sido inúmeras vezes repetido desde em convenções internacionais e até mesmo em reuniões de pequenas magnitudes. Em 1972, ocorreu a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, e por lá criou-se o termo "eco-desenvolvimento”. Mas somente em 1980, a Comissão Brundtland - grupo designado pelo PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente o utiliza no Relatório "Nosso Futuro Comum" (BARBOSA, 2008). De acordo com PNUMA, este termo significa “é aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”. A autora Barbosa (2008) reforça que o desenvolvimento sustentável deve ser uma conseqüência do desenvolvimento social, econômico e da preservação ambiental. Ao considerar qualquer das definições apresentadas e fazer um paralelo com as condições de vida hoje impostas pelo modelo econômico capitalista, verifica-se tamanha utopia das propostas ambientais frente ao crescimento desordenado mesmo das áreas humanizadas planejadas. Voltando a referir-se aos Objetivos do Milênio, há uma referência neste documento sobre a questão da pobreza e indigência, sendo esta uma grande referência para ressaltar os problemas ambientais, ora como causa, ora como consequência. Assim, pessoas que não possuem 11 SANTOS, Sandra Oliveira. Atuações de proteção ambiental e de estratégias sustentáveis. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 08-14, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ habitação digna com rede de água e esgoto, fornecimento de energia, acesso aos meios de transporte entre outros, estariam em um ciclo vicioso de geração de doenças infectocontagiosas, de uso dos poucos recursos ambientais disponíveis e produção de vários fatores contaminantes que serão devolvidos ao meio ambiente. Pereira (2008) ressalta que as taxas elevadas de mortalidade por causas evitáveis permitem concluir pela existência de baixos níveis sanitários e sociais da população. Não é difícil perceber nestes locais a crescente violência que extrapola limites geográficos e de controle social. Outro ponto discutido nestes objetivos, são as doenças infecciosas emergentes e reemergentes, dando ênfase à malária. Para Luna (2002) há uma nítida necessidade de verificação dos perfis de morbidade e mortalidade em nível mundial, com dados mais concretos e acompanhamento das incidências e prevalências com metodologias uniformizadas. Esse autor revê vários entraves para uma política acertada de controle destas doenças, entre estes estão o excesso de burocracia, a lentidão na tomada de decisões, a carência de recursos humanos qualificados e a precariedade das estruturas descentralizadas. A transmissão da malária, assim como outras doenças infecciosas, depende em cada localidade, da interação dos diferentes fatores de risco epidemiológico de origem diversas (biológicos, ecológicos, sociais, culturais, econômicos e políticos), cujo controle depende de ações intervencionistas pluralistas. O próprio documento, que cria os objetivos a serem alcançados pela Cúpula, reforça a necessária participação de instituições fornecedoras de energia, de conhecimento agrícola e de reforma agrária, os agentes financeiros, as construtoras de edificações de moradias e de infra-estrutura. É possível que mesmo em países em desenvolvimento como o Brasil, onde a infraestrutura ainda não conseguiu albergar todos os estratos da população, haja melhor aproveitamento dos recursos naturais caso haja intenção clara da população no quesito de sustentabilidade. Alcançar a dimensão de preservação pelo desenvolvimento da Educação Ambiental é um dos objetivos trabalhados pelo PNUMA. Assim garantir que, até 2015, todas as crianças, de ambos os sexos, terminem um ciclo completo de ensino, seria o início desta premissa. O Brasil já estipulou sua participação nesta proposta desde a criação da nova LDB, a Lei de Diretrizes e Bases para a educação brasileira (Lei nº 9.394, de 20/12/1996), que determina inicialmente, o ensino fundamental, com duração mínima de oito anos, obrigatório e gratuito na escola pública e tem por objetivo a formação básica do cidadão. A Educação Ambiental nesta lei é tratada como tema a ser promovido em todos os níveis de ensino e está situada no inciso 1 do artigo 36. Atualmente está em vigor a Política Nacional de Educação Ambiental (PONEA) regulamentada pelo Decreto Federal 4281 de 25 de junho de 2002. Esta política é baseada nos princípios: 12 SANTOS, Sandra Oliveira. Atuações de proteção ambiental e de estratégias sustentáveis. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 08-14, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ pluralismo de idéias, culturais e de concepções pedagógicas; vinculação com a ética, educação, trabalho e práticas sociais; interdependência entre o meio natural, sócio-econômico, cultural, sob o enfoque da sustentabilidade e por último, avaliação crítica do processo instrucional. De acordo com Velasco (2002), duras críticas são atribuídas à criação deste instrumento, dentre elas a falta de autonomia financeira e mesmo conceituação ultrapassada para os proclamas atuais. Para Mattos (2006) ainda há procedimentos difíceis de serem ultrapassados na implementação de uma acirrada política de Educação Ambiental, as ações interdisciplinares, tanto no quesito pedagógico de formação do conhecimento quanto na construção de espaços sustentáveis. A educação é então vista como uma excelente ferramenta à preservação das condições ambientais que aliada a políticas públicas demonstra melhoria nas condições de vida da população brasileira. Um exemplo seria a diminuição do sarampo, da desnutrição, doenças intestinais e respiratórias em crianças com idade menor de 5 anos. De acordo com dados censitários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010), houve redução de 50% na mortalidade infantil (crianças com menos de 1 ano de idade) entre 1990 e 2008, de 47 por mil nascidos vivos para 23,3 por mil. A promoção da saúde aplicada pelo Programa de Saúde da Família é uma estratégia que procura minimizar os efeitos de uma economia instável e com grande variação na distribuição da renda. Observa-se que estratégias de acompanhamento das famílias com vacinações periódicas, campanhas de controle de doenças infecciosas com melhoria dos hábitos de higiene, introdução de programas para controle de doenças metabólicas estão sendo bem sucedidas pela diminuição dos casos. De acordo com boletim Saúde Brasil 2009, entre 1996 e 2007, houve uma diminuição de 17% na taxa de mortalidade por Doenças Crônicas não transmissíveis, o que equivale a uma redução média de 1,4% ao ano. No mesmo documento, observa-se que houve redução na taxa de mortalidade na infância: de 53,7 óbitos por mil nascidos vivos em 1990, para 22,8 em 2008. A diminuição da mortalidade materna que também é um dos objetivos da Cúpula do Milênio PNUMA apresenta saldos positivos de melhoria de acordo com a análise da situação de saúde do Brasil (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). Houve redução da mortalidade materna de 140 óbitos por 100 mil nascidos vivos, em 1990, para 75, em 2007. No Brasil, as principais causas de morte materna são hipertensão arterial, hemorragia, infecção pós-parto e complicações relacionadas ao aborto (causas diretas) (BRASIL, IPEA, 2004). Entre essas metas anteriormente relacionadas, tem-se ainda o objetivo de garantir a sustentabilidade ambiental. Tal garantia quando alcançada por si só permitirá que todos os outros sete objetivos sejam atingidos. Quando se fala que a grande maioria do esgoto que é lançado nos rios não recebe devido tratamento e ainda pessoas que sequer conseguem água tratada, a realidade 13 SANTOS, Sandra Oliveira. Atuações de proteção ambiental e de estratégias sustentáveis. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 08-14, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ preocupa pela grande relação entre estes indicadores ambientais e a qualidade de vida. Crescem assim, os rumores do não cumprimento do acordo. A meta do sétimo Objetivo de Desenvolvimento do Milênio é integrar os princípios do desenvolvimento sustentável às políticas e programas nacionais e revertera a perda de recursos ambientais (BRASIL, IPEA, 2004). A preocupação em proteger ambientes considerados hotspots como a Mata Atlântica e o Cerrado, poderá a curto espaço de tempo chegar ao grande bioma da Floresta Amazônica (PRIMACK & RODRIGUES, 2001). Este termo citado refere-se às áreas que estão sobre forte pressão ambiental permitida pelas atividades econômicas de agricultura, pecuária, extrativismo e até de urbanização (BRASIL, MMA, 2011). É possível criar situações de crescimento econômico aliada à conservação. No relatório Desenvolvimento econômico sustenta a preservação da Floresta Amazônica, publicado pelo MINISTÉRIO DO EXTERIOR (BRASIL, 2006), observa-se modelos de excelência em utilização dos recursos naturais. Em outras localidades novos exemplos podem surgir e daí emergir uma interação positiva entre ser o humano e viver com o ambiente. CONCLUSÃO Eleger teorias de preservação ambiental em meio ao crescimento populacional humano só trás especulações poéticas que não resolvem às necessidades básicas daqueles que já ganharam o direito à vida. Ao trocar o termo preservação por conservação ganha-se a dimensão de utilizar o ambiente de forma racional e comedida (PRIMACK & RODRIGUES, 2001). As prioridades humanas podem ser direcionadas ao bem estar coletivo com uso sustentável do meio ambiente. Repensar o máximo que se precisa para viver bem depois de ter alcançado o mínimo para a qualidade de vida, economizaria sim, os recursos ambientais. Os objetivos e estratégias discutidos em reuniões intergovernamentais ganham dimensão acentuada quando se coloca especialmente o desenvolvimento econômico em primeiro lugar. Esta visão muitas vezes ofusca as condições de conservação ambiental, especialmente se houver restrições quanto à possibilidade de embargo em alguma vultosa obra. Atualmente a população não está em condições de ignorar as ações que irão proteger os recursos naturais, mesmo por que estes estão se tornando escassos e disputados. Para que possa dar continuidade de crescimento sustentável à espécie humana, é preciso agir com parcimônia e racionalidade. 14 SANTOS, Sandra Oliveira. Atuações de proteção ambiental e de estratégias sustentáveis. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 08-14, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ REFERÊNCIAS BARBOSA, G S. O desafio do Desenvolvimento sustentável. Revista Visões 4ª Edição, Nº4, Volume 1 - Jan/Jun 2008. BRASIL. IBGE. Indicadores de Desenvolvimento Sustentável - Brasil 2010. Disponível em http://www.ibge.gov.br. Acesso: 24 de janeiro 2011. BRASIL. Instituto de Pesquisa Aplicada. Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – Relatório nacional de acompanhamento. – Brasília : Ipea, 2004. BRASIL. MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>. Acesso em: 28 de dezembro de 2010. BRASIL. MMA. Conservação Internacional. Hotspots Revisitados. Brasília: CEMEX. Ed. Agrupación Sierra Madre. Disponível em www.biodiversityhotspots.org. Acesso em 08 de fevereiro 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Saúde Brasil 2009: uma análise da situação de saúde e da agenda nacional e internacional de prioridades em saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 368p. BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Desenvolvimento econômico sustenta a preservação da Floresta Amazônica. Brasília: Ministério do Exterior, março 2006. LUNA, Expedito J. A. A emergência das doenças emergentes. Rev. Bras. Epidemiol. Vol. 5, Nº 3, 2002. MATTOS, S. A educação ambiental na escola: teoria x prática sob o ponto de vista interdisciplinar. II Fórum de Educação Ambiental da Alta Paulista. ISSN 1980-0827. Disponível em www.amigosdanatureza.org.br. Acesso: 24 de janeiro 2011. PEREIRA, M. C. Epidemiologia teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. PRIMACK, R; RODRIGUES, E. A Biologia da Conservação. Ed Planta. 2001. 328p. VELASCO, S. L. Algumas Reflexões sobre a PNEA [Política Nacional de educação Ambiental, Lei no. 9795 de 27/04/1999]. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. Fundação Universidade do Rio Grande, v. 8, 2002, 12-20. 15 ROCHA, Michelle de Menezes; MOURA, Regina Braga de. Dados químicos, farmacológicos e toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 15-27, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ DADOS QUÍMICOS, FARMACOLÓGICOS e TOXICOLÓGICOS DO CHAPÉU-DE-COURO (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): UMA REVISÃO DA LITERATURA Michelle de Menezes Rocha1 & Regina Braga de Moura2 Resumo: Abstract: Este trabalho teve como objetivo apresentar dados científicos sobre características químicas, farmacológicas e toxicológica de Echinodorus macrophyllus, conhecida popularmente como chapéu de couro. Nesta revisão utilizou-se artigos e livros. E. macrophyllus possui derivados diterpenóides: equinolidos A e B, equinofilinas A-F, chapecoderinas A-C e uma lactona diterpênica. Evidenciou-se a ausência de efeitos mutagênicos e citotóxicos em células sanguineas e hepáticas. Há potencial genotóxico em células renais. E. macrophyllus carece de estudos relativos à composição química, farmacologia e toxicidade, para que possa ser indicada seguramente como uma alternativa fitoterápica. This work aimed to present scientific data about chemical, pharmacological and toxicological characteristics of Echinodorus macrophyllus, known as chapéu de couro. In this review we used articles and books. E. macrophyllus presents diterpenoids derivates: equinolides A and B, equinophyllins A-F, and A-C chapecoderins, and a lactone diterpen. It was indicated the absence of cytotoxic and mutagenic effects in blood and liver cells. In kidney cells, there is a genotoxic potential. E. macrophyllus lacks studies about its phytochemistry, pharmacology and toxicology, so that it can be safely stated as a phytotherapeutic alternative. Palavras-chave: Echinodorus macrophyllus. Alismataceae. Chapéu-de-couro Keywords: Echinodorus macrophyllus. Alismataceae. Chapéu-de-couro INTRODUÇÃO Faz tempo que o homem recorre ao uso de plantas para amenizar seus males do corpo ou do espírito, por meio dos chás, banhos, ungüentos, tinturas caseiras e até mesmo nas benzeções (MACIEL; GUARIM NETO, 2006). 1 2 Graduanda em Farmácia, Universidade Estácio de Sá, Campus Akxe, RJ Professora, Laboratório de Estudos da flora Medicinal Brasileira, Universidade Estácio de Sá, Campus Rebouças, RJ. 16 ROCHA, Michelle de Menezes; MOURA, Regina Braga de. Dados químicos, farmacológicos e toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 15-27, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ Várias etapas foram marcantes na transformação do modo de curar, mas é difícil demarcálas com precisão, pois a medicina durante muito tempo esteve associada a práticas mágicas, místicas e ritualísticas. Considerando as plantas como seres espirituais ou não, o fato é que estas adquiriram grande importância na medicina popular, por suas propriedades terapêuticas ou tóxicas (MARTINS et al., 2003). No Brasil, as culturas indígena, africana e européia influenciaram bastante a utilização de plantas (MARTINS et al., 2003). As plantas nativas brasileiras produzem substâncias químicas que podem atuar de forma benéfica ou podem ser consideradas tóxicas para os outros seres vivos, dependendo da dosagem e forma de preparo. Assim, para um uso seguro destas plantas, é importante uma avaliação sob os aspectos químico, farmacológico e toxicológico (GOMES et al., 2001; RITTER et al., 2002). Muitas vezes não se conhece os princípios ativos de uma planta, no entanto, a planta pode ter alguma ação medicinal que justifique seu uso, contanto que não apresente efeitos tóxicos agudos ou crônicos confirmados por meio de pesquisa ou pelo conhecimento popular, em determinados casos (MARTINS et al., 2003). Como exemplo de planta muito utilizada na medicina popular, pode-se citar uma espécies conhecida popularmente como “chapéu-de-couro” (BEVILAQUA et al., 2001; LORENZI; MATOS, 2002): Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli (NUNES et al. 2003). Esta espécie pertence à família Alismataceae (HAYNES; HOLM-NIELSEN, 1994). Suas folhas possuem ação diurética, anti-reumática, antiofídica, depuradora do sangue (MARTINS et al., 2003) anti-sifilítica, antiartrítica, laxativa, eliminadora de ácido úrico, e adstringente, sendo utilizadas em gargarejos contra as inflamações da garganta e também em banhos contra as feridas que não cicatrizam (CORRÊA, 1984). Seu uso é indicado no tratamento de doenças renais, das vias urinárias, e problemas do fígado, além de ser utilizada nas erupções cutâneas (CORRÊA, 1984; MARTINS et al., 2003). OBJETIVO Sendo o chapéu-de-couro uma planta muito utilizada na medicina popular (NUNES et al., 2003), o presente trabalho pretende apresentar uma breve revisão bibliográfica sobre dados farmacológicos, químicos e sobre o potencial de toxicidade da espécie Echinodorus macrophyllus, a fim de se obter ividências que confirmem sua eficácia e segurança. 17 ROCHA, Michelle de Menezes; MOURA, Regina Braga de. Dados químicos, farmacológicos e toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 15-27, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ METODOLOGIA O presente trabalho foi realizado através de uma revisão bibliográfica de dados químicos e farmacológicos de Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli. A busca de dados foi feita em artigos de periódicos nacionais e internacionais indexados, utilizando-se as bases de dados eletrônicas Science Finder, Chemical Abstracts, Biological Abstracs, Web of Science, Science Direct e Scielo; o acervo das bibliotecas da Fundação Osvaldo Cruz e do Jardim Botânico – RJ, bem como livros de Botânica e Farmacologia também foram utilizados. As buscas foram feitas através das palavras-chave: Echinodorus, E. macrophyllus, Alismataceae e chapéu-de-couro. Na pesquisa não houve delimitação de tempo de publicação das obras. Os nomes científicos e as abreviaturas dos autores dos táxons estão de acordo com o International Plant Name Index3 e com a base TROPICOS4, do Missouri Botanical Garden. Os termos botânicos estão de acordo com Judd et al. (2002) e Pereira; Agarez (1977). FAMÍLIA ALISMATACEAE Vent. Família botânica composta por ervas aquáticas ou de solos encharcados, cujas espécies apresentam laticíferos contendo látex branco (Judd et al., 2002). Folhas simples, inteiras, alternas espiraladas, com venação paralela ou palmada; geralmente submersas ou paludosas. Inflorescência determinada, do tipo cimeira, com flores bissexuadas ou unissexuadas em plantas monóicas ou dióicas e diclamídeas, cálice e corola sempre trímeros, androceu dialistêmone, com anteras rimosas; gineceu com ovário hipógino e dialicarpelar; presença de nectários florais. Fruto aquênio (JUDD et al., 2002; SOUZA; LORENZI, 2005). A família Alismataceae é constituída por 12 gêneros e 80 espécies aproximadamente (SOUZA; LORENZI, 2005), sendo a maioria das espécies pertencentes aos gêneros Echinodorus e Sagittaria, presentes nos neotrópicos (HAYNES; HOLM-NIELSEN, 1994). No Brasil, esta família é representada por 18 espécies do gênero Echinodorus e 6 espécies do gênero Sagittaria (HAYNES; HOLM-NIELSEN, 1994) que se distribuem nos estados de Minas Gerais, São Paulo até o Rio Grande do Sul (CORRÊA, 1984). 3 4 Disponível em: http://www.ipni.org Disponível em: http://www.tropicos.org 18 ROCHA, Michelle de Menezes; MOURA, Regina Braga de. Dados químicos, farmacológicos e toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 15-27, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ Segundo Corrêa (1984), a planta é ornamental, nativa de terrenos pantanosos e águas pouco profundas, sendo utilizada em aquários e pequenos lagos artificiais. Em estudo da família como um todo, foi verificado por Boutard et al. (1973) que é comum entre os representantes de Alismataceae a presença de flavonas na forma de C-glicosídeos. Estudos mais específicos têm isolado e identificado outros constituintes químicos dentro da família Alismataceae. Oshima; Iwakawa; Hikino (1983) isolaram alismol e alismoxido, 2 sesquiterpenóides de rizomas de espécies do gênero Alisma. A estrutura do sagitariol foi elucidada por Sharma et al. (1984). Em Alisma plantago-aquatica Pei-Wu et al. (1988) isolaram um sitosterol glicosídeo acilado. Sobre o sitosterol, Raven; Evert; Eichhorn (2001) afirmam que é o esteróide mais abundantemente encontrado nas plantas e que pode ter função hormonal. Em uma subespécie de Sagittaria montevidensis, Radke; Tanaka (2004) identificaram diterpenos abietenos. Zhao; Xu; Che (2008) isolaram do rizoma de Alisma orientale nor-protostano, alisol O e P e o triterpeno 2,3-secoprotostano. Os constituintes químicos relativos a Echinodorus serão tratados no item relativo ao gênero e à espécie. Echinodorus RICH. & ENGEL M. EX A. GRAY O gênero Echinodorus é formado por 26 espécies e restrito ao hemisfério ocidental, compreendendo o norte dos Estados Unidos até a Argentina. No Brasil é representado por sete espécies nativas no Estado de São Paulo (PANSARIN; AMARAL, 2005). Este gênero possui 2 espécies que são utilizadas na medicina popular: Echinodorus grandiflorus e E. macrophyllus (LOPES et al., 2000). São plantas com flores bissexuadas, glabras, possuem caule do tipo rizoma ou estolho. As folhas são emersas ou submersas, presença de aerênquima; limbo linear, lanceolado, elíptico, oblongo ou oval; folhas submersas geralmente sésseis. Inflorescência racemosa ou panícula, raro umbeliforme, verticilos florais 1-18, com flores numerosas. As flores são bissexuadas; apresentam sépalas membranáceas a coriáceas, pétalas brancas, estames numerosos. Aquênio subcilíndrico, em geral com glândulas entre as costelas (PANSARIN; AMARAL, 2005). No gênero já foram identificados derivados clerodano (COSTA et al., 1999). Duarte et al. (2002) identificaram esteróides, flavonóides, polifenóis e saponinas. Os autores constataram que os extratos aquosos obtidos por infusão e decocção, das folhas de Echinodorus grandiflorus apresentam atividade contra diferentes tipos de bactérias gram-negativas, como: Escherichia coli, 19 ROCHA, Michelle de Menezes; MOURA, Regina Braga de. Dados químicos, farmacológicos e toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 15-27, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ Pseudomonas aeruginosa e Salmonella typhimurium. Também foi observada atividade contra Staphylococcus aureus, que é uma bactéria gram– positiva (DUARTE et al., 2002). Schnitzler; Petereit; Nahrstedet (2007) isolaram glicosilflavonas, ácido trans-aconítico e ácidos hidroxicinamoiltartáricos. Echinodorus macrophyllus (KUNTH) MICHELI Sob o aspecto da distribuição geográfica desta espécie, somente a flora do Estado de São Paulo menciona sua distribuição para o Brasil, restringindo-se as regiões leste e oeste do Estado, não mencionando outras regiões. Esta espécie está distribuída da América Central até o sul do Brasil (PANSARIN; AMARAL, 2005). Constitui-se por plantas perenes, robustas; sempre com folhas emersas, caracterizadas principalmente por suas folhas grandes oval-lanceoladas, pecíolo cilíndrico, limbo geralmente oval. Inflorescência em panícula, com 3-15 flores que apresentam pedicelo cilíndrico, ereto ou recurvado e numerosos carpelos. Fruto do tipo aquênio, ligeiramente alado com glândulas lineares (PANSARIN; AMARAL, 2005). COMPOSIÇÃO QUÍMICA Na busca de artigos relativos à composição química desta espécie, verificou-se a escassez de estudos sobre este aspecto. Segundo Martins et al. (2003), E. macrophyllus é uma planta pouco estudada do ponto de vista fitoquímico, e constitui-se principalmente por flavonóides, triterpenos e taninos. Shigemori et al. (2002) detectaram a presença de diterpenos equinolidos A e B (fig. 2), derivados do tipo cembrano com uma lactona diterpênica com 8 membros, no extrato metanólico das folhas de E. macrophyllus. Segundo os autores, ao equinolidos A e B podem ser resultado da oxidação da olefina presente no carbono 3 do ácido equinóico (fig. 1), seguida de sua esterificação. 20 ROCHA, Michelle de Menezes; MOURA, Regina Braga de. Dados químicos, farmacológicos e toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 15-27, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ 4 Figura 1 – Equinolido A (1), equinolido B (2) e ácido equinóico (3). Fonte: Shigemori et al. (2002). De acordo com Bruneton (2001), uma grande variedade de lactonas apresenta atividade antibacteriana, a maioria contra bactérias gram-positivas. Kobayashi et al. (2000a,b) fracionaram o extrato metanólico das folhas de E. macrophyllus com hexano e 90% de metanol aquoso, os resíduos de metanol foram fracionados com acetato de etila e água, enquanto que as porções solúveis em acetato de etila foram submetidas a uma coluna de sílica gel, levando a novos derivados diterpenóides com esqueleto clerodano contendo nitrogênio e um único anel lactâmico, como as echinofilinas A-F (fig. 2) 21 ROCHA, Michelle de Menezes; MOURA, Regina Braga de. Dados químicos, farmacológicos e toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 15-27, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ 4 5 Figura 2 – Echinofilina A (4); Echinofilina B (5), derivados diterpenóides do tipo clerodano. Fonte: Kobayashi et al.(2002a). Sobre os diterpenos com esqueleto clerodano, Murthy et al. (2005) isolaram estes diterpenos do extrato hexânico das sementes de Polyalthia longifolia e verificaram que este extrato apresentava uma expressiva atividade antibacteriana e antifúngica. Novos diterpenos rearranjados do tipo labdano como as chapecoderinas A-C também já foram isolados das folhas de E. macrophyllus (KOBAYASHI et al. 2000c). Ainda não foram descritas as atividades biológicas para os derivados diterpenóides encontrados nos extratos de E. macrophyllus (PINTO et al., 2007). FARMACOLOGIA De acordo com Pinto et al. (2007) Echinodorus macrophyllus é uma planta muito utilizada para tratar doenças reumáticas, que são auto-imunes, e geralmente caracterizam-se por uma resposta exacerbada dos linfócitos T e B. Os autores avaliaram o efeito do extrato aquoso de E. macrophyllus sobre as funções celulares e proliferação celular em ratos tratados oralmente com este extrato durante sete dias. Também foi avaliada a produção de óxido nítrico in vitro. Observaram uma inibição na produção de anticorpos pelas células B, inibição da hipersensibilidade tardia mediada pelas células T e redução da infiltração no tecido subcutâneo por leucócitos. Com isso, demonstraram um efeito imunossupressor pela primeira vez, alertando quanto à importância do uso 22 ROCHA, Michelle de Menezes; MOURA, Regina Braga de. Dados químicos, farmacológicos e toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 15-27, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ adequado, para evitar os efeitos colaterais, especialmente em doenças associadas às imunodeficiências. Pinto et al. (2007) estão realizando estudos para detectar os compostos biologicamente ativos nas folhas do extrato aquoso de E. macrophyllus com a finalidade de descrever mecanismos para os efeitos relatados. Considerando que a artrite reumatóide é uma doença auto-imune caracterizada por uma inflamação no líquido sinovial das articulações e que a resposta humoral e celular podem contribuir para esta inflamação (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2008), este efeito imunossupressor sugere que o extrato aquoso de E. macrophyllus possa ser utilizado nesta patologia. Nas doenças associadas às imunodeficiências em que há deficiência das imunidades humoral e celular, já existe um número reduzido de linfócitos T no sangue periférico, uma redução da resposta proliferativa dos linfócitos do sangue aos ativadores policlonais e também deficiência na hipersensibilidade do tipo tardia (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2008). Devido a estes fatores, não seria recomendado o uso do extrato de E. macrophyllus em pacientes com imunodeficiência. Moreti et al. (2006) avaliaram determinados parâmetros da série vermelha (contagem de eritrócitos, hemoglobina, determinação do hematócrito, volume corpuscular médio, hemoglobina corpuscular média e concentração de hemoglobina corpuscular média) em cinco ratos machos, que receberam uma infusão preparada a partir das folhas trituradas do chapéu-de-couro durante sete dias, constituindo o grupo tratado. Em outro grupo composto por cinco ratos (grupo controle), foi administrado somente água. Ao término do experimento, os animais foram sacrificados e por meio de uma punção cardíaca foi colhido o sangue. As contagens das séries vermelha e branca foram realizadas em aparelho Coulter, modelo T-890. Para a série branca, foi feita uma contagem global e diferencial de leucócitos (MORETI et al., 2006). Considerando-se os resultados obtidos, os autores puderam deduzir que a infusão de chapéude-couro gerou uma leve redução de alguns parâmetros da série vermelha, como por exemplo: hemoglobina, hemácias e hematócrito. Já na série branca, a contagem global de leucócitos e o percentual de eosinófilos, apresentaram diferenças estatisticamente expressivas. Apenas o aumento no número de leucócitos foi considerado significativo do ponto de vista clínico (MORETI et al., 2006). Não existem muitos estudos farmacológicos sobre a espécie E. macrophyllus, entretanto, algumas de suas atividades podem ser justificadas pela presença dos mesmos compostos químicos em outras espécies de plantas que possuem a mesma finalidade de uso. Alguns compostos encontrados nas folhas de E. macrophyllus, como exemplo, os flavonóides, possuem ação diurética, 23 ROCHA, Michelle de Menezes; MOURA, Regina Braga de. Dados químicos, farmacológicos e toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 15-27, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ antimicrobiana, antiedematosa, antiinflamatória e anti-hepatotóxica. Outros compostos, como as saponinas, possuem um efeito laxante suave e também uma atividade diurética (MARTINS et al., 2003). Os taninos têm a propriedade de precipitar proteínas, formando uma camada protetora sobre a pele e as mucosas, agindo em diversas infecções, prevenindo a penetração de agentes que podem ser nocivos em mucosas danificadas, isso pode facilitar a cicatrização, por exemplo, em queimaduras. Também podem contribuir em casos de hemorragias, promovendo a contração de vasos capilares (MARTINS et al., 2003). TOXICOLOGIA De acordo com Lopes et al. (2000) até a realização do seu trabalho, não havia sido feito nenhum estudo sobre o potencial toxicológico de espécies medicinais do gênero Echinodorus para humanos. Os autores desenvolveram um estudo preliminar do potencial toxicológico de E. macrophyllus em ratos machos, utilizando três concentrações diferentes de extrato liofilizado (grupo 1, grupo 2 e grupo 3 ) e uma única concentração do extrato aquoso bruto (grupo 4) obtido das folhas secas da planta, administrado durante seis semanas na água potável, a fim de verificar um possível efeito genotóxico dos rins, das células do sangue, e do fígado. O grupo controle recebeu somente água. Após seis semanas de tratamento, com estes tipos de extrato, os animais foram sacrificados e seus órgãos (rins e fígado) pesados e analisados para verificar se houve alguma mudança funcional nestes órgãos. Não foi detectada nenhuma mudança significativa no peso dos rins e do fígado dos animais tratados com as diferentes concentrações de extrato liofilizado. Com a administração de extrato aquoso bruto, observou-se uma redução no peso dos rins, mostrando um efeito particular nas células renais. Sendo assim, o extrato aquoso de E. macrophyllus parece conter substâncias que atuam de maneira específica nas células renais (LOPES et al., 2000). Ensaios in vitro com células epiteliais renais e hepáticas dos ratos também foram realizados para determinar o potencial citotóxico e mutagênico utilizando extrato aquoso bruto. Nas células renais foi observado um efeito estimulatório, caracterizado pelo aumento no tamanho das células (hipertrofia), já nas células hepáticas, não se observou nenhum efeito estimulatório. Para verificar se as folhas de E. macrophyllus poderiam conter substâncias com potencial genotóxico, foi feito o exame de DNA (ácido desoxirribonucléico) das células dos rins, fígado e sangue dos animais 24 ROCHA, Michelle de Menezes; MOURA, Regina Braga de. Dados químicos, farmacológicos e toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 15-27, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ tratados. Na análise do sangue e das células hepáticas, não foi encontrada nenhuma alteração do DNA, para o extrato aquoso liofilizado ou bruto de E. macrophyllus. Nas células renais, as doses mais elevadas do extrato aquoso bruto ou liofilizado de E. macrophyllus, indicaram a presença de substâncias com potencial genotóxico, sendo que o extrato bruto mostrou um efeito mais acentuado (LOPES et al., 2000). Segundo os autores, estudos adicionais devem ser realizados para esclarecer o potencial genotóxico desta planta no organismo dos mamíferos sendo de extrema importância os testes, principalmente para os tratamentos de longa duração e nos casos de doses elevadas que podem provocar um acúmulo da planta no organismo. Entretanto, a quantidade administrada de 23 mg/kg, que corresponde à dose diária recomendada a humanos, não demonstrou nenhum efeito mutagênico ou citotóxico, sugerindo que a planta possa ser segura ao organismo humano (LOPES et al.,2000). CONCLUSÃO Apesar do “chapéu-de-couro” ser uma planta muito utilizada popularmente, e apresentar diversas indicações de uso, a realização desta revisão bibliográfica demonstrou que ainda existem poucos estudos relativos à composição química e atividade farmacológica de E. macrophyllus. Porém, grande parte das suas atividades pode ser atribuída à presença dos mesmos compostos químicos previamente identificados em outras plantas que possuem as mesmas indicações de uso. Sendo assim, torna-se necessário a realização de novos estudos científicos com a finalidade de identificar quais os compostos presentes nos extratos que são responsáveis pela atividade farmacológica da planta e também conhecer os mecanismos que levam a estas atividades. Além disso, é de extrema relevância a realização de testes que avaliem o potencial toxicológico da planta, para que esta possa ser indicada seguramente como uma alternativa fitoterápica, pois até hoje só foi descrito um único trabalho sobre a avaliação toxicológica da espécie E. macrophyllus. REFERÊNCIAS ABBAS, A. k..; LICHTMAN, A. H. .; PILLAI, S. Imunologia celular e molecular. Tradução Claudia Reali. Rio de Janeiro, Elsevier, 2008. BEVILAQUA, G.A.P. et al. Distribuição Geográfica e Composição química de chapéu de couro (Echinodorus spp.) no Rio Grande do Sul. Ciência Rural, Santa Maria, 31(2):213-8, 2001. 25 ROCHA, Michelle de Menezes; MOURA, Regina Braga de. Dados químicos, farmacológicos e toxicológicos do chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli): uma revisão da literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 15-27, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ BOUTARD, B. et al. Chimiotaxinomie flavonique dês fluviales Biochemical Systematics and Ecology, 1(3): 133-40, 1973. BRUNETON, J. Farmacognosia, fitoquímica, plantas medicinais. Tradução Ángel Villar del Fresno. 2. ed. Zaragoza, Acribia, 2001. CORRÊA, M.P. Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro, Ministério da Agricultura/Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, v. 2, 1984. COSTA, M. et al. Isolation and synthesis of a new clerodane from Echinodorus grandiflorus. Phytochemistry, 50: 117-22, 1999. DUARTE, M.G. R. et al. Perfil fitoquímico e atividade antibacteriana in vitro de plantas invasoras. Revista Lecta, Bragança Paulista, 20(2): 177-82, 2002. GOMES, E.C. et al. Plantas medicinais com características tóxicas usadas pela população do município de Morretes, PR. 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Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ A APLICABILIDADE DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NAS AULAS PRÁTICAS DE ESPORTES COLETIVOS NA GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA Jackson Lopes Oliveira1 & Mariluci Braga2 Resumo: A graduação em Educação Física passou por diversas mudanças ao longo dos anos. A conjuntura política do país interferiu diretamente nestas mudanças, a sociedade e o mercado de trabalho também contribuíram, exigindo profissionais que atendessem a uma nova demanda. Sendo alvo de muitas polêmicas, a grade curricular da graduação em Educação Física tem como disciplina aulas práticas, que necessitam de atenção especial. Foi abordado em nosso estudo as aulas práticas de esporte coletivo - que são repletas de situações que exploram diversos fatores, tais como: técnicos, táticos e cognitivos - na educação a distância, sendo esta última, uma nova proposta pedagógica na graduação em Educação Física. Confrontar a educação a distância na graduação em Educação Física é tema central deste trabalho. Questionar a aplicabilidade da educação a distância na Educação Física é a proposta, tendo como base as características pertinentes a cada uma. Palavras-chave: Graduação em Educação Física. Esporte coletivo. Educação a distância. 1 2 Abstract: The degree in physical education has gone through several changes over the years. The situation in the country's political interfered directly in these changes, society and the labor market also contributed, requiring professionals who meet a new demand. As the target of many controversies, the grade curriculum of graduation in physical education classes has the discipline practices, which require special attention. It was addressed in our study the practice of sports collective lessons - which are filled with situations that operate various factors, such as: technical, tactical and cognitive - in distance education, the latter being a new proposal in teaching degree in physical education. Confronting the distance education in degree in Physical Education is central theme of this work. Questioning the applicability of distance education in Physical Education is our purpose, based on the relevant characteristics of each one. Key-words: Degree in physical education. Sports collective. Distance education. Graduado em Educação Física - Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte/MG. Professora titular de Educação Física da Faculdade Estacio de Sá/MG. 29 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ INTRODUÇÃO A formação em nível superior em Educação Física (EF) provocou ao longo dos anos opiniões divergentes e muitas polêmicas. No contexto histórico brasileiro, foram constantes as mudanças pedagógicas, relacionadas muitas vezes ao momento político em que o país vivia. E tudo isso refletiu diretamente nesta área. Em um primeiro momento, a formação do educador físico era voltada para a atuação apenas no ensino formal, com o passar dos anos, a sociedade e o próprio mercado de trabalho passaram a exigir um profissional com características diferentes, surgiu então o curso de bacharelado em Educação Física, que passou a formar profissionais para atender a esta demanda. E na graduação em Educação Física, muitas são as suas particularidades e características. A sua grade curricular, por exemplo – que inclusive foi tema de diversos debates e polêmicas quanto a sua estruturação – possui aulas práticas, que necessitam de atenção especial. Sendo também foco deste trabalho, será abordado as aulas práticas nos esportes coletivos, que têm como critério para classificação: se existe ou não interação com o adversário. Considerado por crianças e adolescentes como uma das atividades mais recreativas, os esportes coletivos são repletos de situações que exploram diversos fatores, tais como: técnicos, táticos e cognitivos. Ao transportar todas essas propriedades dos esportes coletivos para a graduação em Educação Física, surgem questões mais complexas acerca desta temática como, por exemplo, a construção do conhecimento, a dicotomia entre teoria e prática, e o ensino-aprendizagem. Amparadas por uma crescente demanda por formação profissional, especialização e qualificação da mão-de-obra, as instituições de ensino passam a ofertar serviços e soluções para atingir este público, que em grande maioria, estão geograficamente distantes ou não têm muito tempo disponível. Assim a educação a distância vai ganhando seu espaço no mercado educacional. Ao longo dos anos, as tecnologias a serviço da educação a distância (EaD) evoluíram, das correspondências, dos programas de rádio e televisivos, passaram para os computadores com internet, videoconferência, salas de bate-papo, enfim, um processo em constante mutação, pois a velocidade do avanço tecnológico proporciona tais mudanças. No Brasil, um dos maiores incentivadores da educação a distância é o governo, muitos projetos foram desenvolvidos, alguns com êxito, outros nem tanto, pois a falta de continuidade se fez presente em muitos deles. Mas diante da crescente evolução da educação a distância, foi preciso regulamentar as bases legais para a modalidade, o que ocorreu em dezembro de 1996, autorizado pelo Ministério da Educação e Cultura 30 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ (MEC). A partir de então, passamos a ter leis para a educação a distância nos ensinos básico, superior, pós-graduação, mestrado e doutorado. Confrontar a educação a distância na graduação em Educação Física é tema central deste trabalho. Questionar a aplicabilidade da educação a distância na Educação Física é o propósito, tendo como base as características pertinentes a cada uma. EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A principal característica e o que vai fazer a educação a distância (EaD) se diferenciar da educação convencional, é justamente a distância que separa os alunos dos professores. Caracterizando a EaD como uma aula não presencial, faz-se necessário a utilização de um meio de comunicação entre as partes envolvidas no processo. Poderíamos começar dizendo dos cursos à distância por correspondência, em seguida os programas televisivos, e a partir de então, com o advento da globalização, surge o uso de uma nova tendência, que é o uso de novas tecnologias a serviço da EaD, tais como: mídias (disquetes, cd-rom), áudio, vídeo, teleconferência, videoconferência, internet e programas de computadores (softwares). Segundo Neto (2005), o advento da tecnologia, projetou de forma direta, influências e mudanças também no campo de educação. Mansur (2001) afirma que a EaD nasceu e se desenvolveu como resposta a um acúmulo de necessidades educacionais. No entanto observamos características do EaD inserida em outros contextos, como por exemplo, cursos técnicos profissionalizantes, treinamento e capacitação em empresas. Segundo Preti (1996), a EaD é, uma modalidade não tradicional, típica da era industrial e tecnológica, cobrindo diferentes formas de ensino-aprendizagem, dispondo de métodos, técnicas e recursos, postos à disposição da sociedade, tendo como alunos, um grupo bastante heterogêneo. De acordo com Santos; Rodrigues (1999, p. 23), “a sociedade está tomando rumos em que o conhecimento e a informação assumem papel fundamental”, fazendo com o que, cada vez mais, e um número maior de pessoas, precisam aprender e se reciclar em tempo real, onde quer que estejam e em momentos distintos, momentos que sejam convenientes, em função de uma rotina diária totalmente atribulada. Há também uma busca constante e contínua para resolução de novos problemas, levando em consideração que o trabalho e a aprendizagem estão se tornando multidisciplinares e colaborativos, assim sendo, a EaD ganha destaque por atingir uma maior audiência, atender um nicho de mercado onde as pessoas/clientes/estudantes não podem assistir 31 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ aulas presenciais, envolver educadores, profissionais externos que de outra forma não poderiam ser aproveitados e eliminar a importância da proximidade geográfica. Rodrigues; Barcia (1998) afirmam também que com a crescente demanda por formação, conhecimento e atualização, que ocorre ao mesmo tempo em que o custo das tecnologias vão diminuindo, coloca a EaD como uma alternativa viável e promissora para o atendimento educacional no cenário atual. Santos; Rodrigues (1999) advogam que ao idealizar e planejar um curso de EaD, é primordial analisar criteriosamente as tecnologias e a forma como o serviço será disponibilizado, tanto para os alunos como para o corpo docente, tendo em vista que, os alunos e os educadores são o foco do processo de aprendizagem, e a tecnologia somente os servem. O corpo docente de um curso de EaD, deve ser instruído sobre os conceitos, métodos e tecnologias de EaD, além de saber operar equipamentos e técnicas para o ambiente de EaD. Os estudantes precisam estar altamente motivados, familiarizados com computadores, características presentes na maioria dos que se interessa por este tipo de ensino. A integração entre a tecnologia digital com os recursos da telecomunicação proporcionou condições de ampliar o acesso à educação, no entanto, o formato em que acontece a comunicação entre os alunos e professores e entre os alunos, refletem diretamente no ensino e na aprendizagem, “que precisam ser compreendidas ao tempo em que se analisam as potencialidades e limitações das tecnologias e linguagens empregadas para a mediação pedagógica” (ALMEIDA, 2003, p. 3). Segundo Santos; Rodrigues (1999), todos os programas eficazes de EaD, partem da premissa básica que é um planejamento meticuloso em paralelo com um profundo entendimento das exigências e requisitos do curso e das necessidades dos estudantes. A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL Apesar de ser uma terminologia aparentemente recente, é de fato é, o conceito de EaD, já era utilizado há bastante tempo. Segundo Preti (1996) as transformações vividas no Brasil nos últimos anos, são reflexos do processo evolutivo e a aceleração no ritmo das mudanças, e como resultado passou a gerar um modelo de sociedade em que a formação é parte de uma estratégia de desenvolvimento, produtividade e competitividade. Desta forma, para os órgãos governamentais, as políticas direcionadas para a qualificação da mão-de-obra e dos recursos humanos ganham o máximo de 32 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ interesse e prioridade, e ainda contam com um processo de formação continuada, atualização constante e renovação dos saberes. Segundo informações do Ministério da Educação e Cultura (MEC, 2008), através da sua Secretaria de Educação a Distância (SEED), no Brasil, as bases legais para a modalidade da EaD, foram estabelecidas pela lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996), que foi regulamentada pelo Decreto n.º 5.622, publicado no Diário Oficial da União (D.O.U.) de vinte de dezembro de 2005 (que revogou o Decreto n.º 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, e o Decreto n.º 2.561, de 27 de abril de 1998) com normatização definida na Portaria Ministerial n.º 4.361, de 2004 (que revogou a Portaria Ministerial n.º 301, de sete de abril de 1998). De acordo com Nunes (1992 apud GEREMIAS, 2000), as experiências no Brasil em EaD, são muitas, partindo dos órgãos públicos e das iniciativas privadas, envolvendo grande número de pessoas e um dispêndio financeiro considerável. Porém, os resultados obtidos não foram suficientes para superar as expectativas, tanto governamental como da sociedade de uma forma em geral. Segundo o autor, as principais causas apontadas como fracassos são: “a descontinuidade dos projetos, a falta de memória administrativa pública brasileira e certo receio em adotar procedimentos rigorosos e científicos de avaliação dos programas e projetos” (NUNES, 1992 apud GEREMIAS, 2000, p. 39). Preti (1996) relata que no final do século XVIII, já eram vividas experiências educativas a distância, a partir da segunda metade do século XIX se desenvolveram com êxito, com objetivos claros de qualificação de mão-de-obra em função da crescente demanda oriunda da industrialização. Já no século XX, ocorreu uma rápida expansão, sobretudo no ensino superior. A partir da década de 60 e 70, impulsionada por problemas na educação formal, pelo entusiasmo dos governantes em relação à educação e concomitantemente a chegada do processo de democratização da sociedade, aliados aos avanços tecnológicos na área da comunicação, a EaD vem caminhando a passos largos, encontrando novas formas de educação. GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA A temática acerca da formação em nível superior em Educação Física (EF) tem promovido ao longo dos anos opiniões divergentes e polêmicas nos mais diversos aspectos, como por exemplo, qual a grade curricular ideal, qual é a formação do profissional para o mercado e até em relação ao próprio nome. Muitos destes questionamentos se devem também em relação à dicotomia teoria-prática na EF (GHILARDI, 1998). 33 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ Conforme explica Gonçalves et al (2007), ao se estudar o contexto histórico da Educação Física no Brasil, constata-se as constantes mudanças de concepções pedagógicas, que estavam relacionadas diretamente com os momentos políticos e econômicos que o país vivia. O que refletiu, evidenciando-se um dos grandes problemas existentes que é a falta de identidade do profissional, “e conseqüentemente, o não reconhecimento da sociedade” (GONÇALVES et al; 2007, p. 495). Segundo Betti (2005), após a 2ª guerra, o esporte entrou de forma vagarosa nas escolas e posteriormente nas universidades como campo de pesquisa, onde o objetivo era o de intervir, com embasamento científico, para maximizar o rendimento dos atletas. De acordo com Manuel; Tani (1999), a EF tem uma tradição relativamente longa como curso de preparação profissional. No primeiro momento, o objetivo era o de formar professores para atuar no ensino formal, o que o caracterizava como um curso de licenciatura. Em função das mudanças mercadológicas nos anos 80, onde uma parcela da população necessitava de outras qualidades do profissional de EF, que não ficasse restrito apenas as ocupações tradicionais, ou seja, como professor do ensino formal ou como técnico esportivo, surge o curso de bacharelado em EF, e em algumas universidades o bacharelado em Esporte. Com a criação desses cursos, tornou-se possível o atendimento a uma demanda de vários outros serviços e segmentos de mercado que o típico licenciado não estava preparado para atender, e pelo fato de não estar preparado, abria a possibilidade de um leigo atuar. Surgem então, de acordo com o mesmo autor acima citado, algumas indagações: • Qual é o nosso objeto de estudo? • Como devemos estudá-lo? • Como deve se caracterizar a formação do profissional? Para que se responda a essas questões e muitas outras que problematizam a formação do profissional em EF, se faz necessário que tanto o licenciado quanto o graduado em EF, tenha a noção exata de quais são os seus saberes, quais são as suas responsabilidades para com a sociedade na disseminação do conhecimento teórico e prático, ambos embasados na produção do conhecimento cientifico. Corroborando com esse pensamento, Massa (2002) coloca como exemplo outras áreas que possuem status profissional e social, como por exemplo, a engenharia e a medicina, que não são tão questionadas e não precisam provar porque estão no ensino superior, pois são profissões caracterizadas pela fundamentação acadêmica de suas práticas. Assim sendo, na medicina, se nos relacionarmos com alunos e clientes, é necessário que se tenha conhecimento e embasamento 34 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ acadêmico e cientifico, caso contrário se igualam ao leigo ou ao oportunista e, traçando um paralelo com a EF, os educadores físicos se igualam a qualquer um que conheça um pouco de regras de modalidades esportivas, que repita seqüências de ginástica ou que tenha um apito na boca. Verenguer (1997, p. 172) advoga que “os problemas relacionados a caracterização profissional e às suas condutas, só poderão ser resolvidos se a atuação do profissional estiver alicerçada em um suporte teórico proveniente de pesquisa”. E neste contexto, as universidades têm uma grande parcela de responsabilidade, pois uma de suas principais funções é a formação de recursos humanos que vão possibilitar o atendimento às necessidades da sociedade (GHILARDI, 1998). De acordo com Verenguer (2007), ingressar em uma faculdade e em um curso pretendido é motivo de grande alegria acompanhado de muita expectativa. Especificamente na EF, a grande maioria dos jovens trazem uma visão pré-concebida sobre a profissão, sobre o profissional e sobre o que vão aprender, visão esta que pode ser fruto de experiências esportivas ou escolares, o que só faz aumentar a responsabilidade das universidades, que devem proporcionar um ambiente no qual se possa refletir, superar, lapidar, criticar e, principalmente ampliar os saberes que os jovens trazem consigo, com o objetivo de se conquistar um grau mais elevado e sofisticado de profissionalização. Então todo o processo faz parte de uma grande engrenagem e, todos com suas respectivas parcelas de participação, as instituições de ensino com suas responsabilidades mencionadas acima, o corpo docente com a missão de transmitir os seus saberes para a formação do profissional que o mercado busca e exige, e o próprio graduando, que também precisa se comprometer para se tornar o profissional que a sociedade espera. Segundo Verenguer (2007, p. 39), “a discussão sobre a profissionalização do docente universitário passa a fazer parte da agenda daqueles envolvidos na reflexão sobre a qualidade do ensino superior”. Em uma profissão, as pessoas estão comprometidas com uma carreira, sendo a maneira de executar o trabalho baseada no conhecimento (MANOEL; TANI, 1999). E o corpo docente segue o mesmo caminho. A sua profissionalização reflete diretamente na qualidade do ensino. Na mesma proporção que a sociedade exige mais dos profissionais que vão para o mercado, estes por sua vez, precisão ter os seus conhecimentos ampliados, tornando-se um ciclo. E como subsídio para ampliar os saberes dos graduandos, o corpo docente encontra à sua disposição uma grande aliada, que é a tecnologia, e esta por sua vez, proporciona um novo modelo de educação, que vai exigir do docente uma constante atualização nas novas ferramentas tecnológicas que surgem a todo o momento no âmbito educacional. 35 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ OBJETO DE ESTUDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA Segundo Peres (2001) a Educação Física ainda é uma disciplina que, na maior parte das vezes é marginalizada, chegando até a ser excluída dos projetos pedagógicos de algumas escolas. Existem ainda alguns profissionais que corroboram com esta situação ao afirmarem que deve ser dada maior atenção, ênfase às outras disciplinas como matemática, português e ciências, por exemplo. Existe uma corrente que defende que a Educação Física está em busca da sua identidade, e que o estágio atual em que se encontra é conseqüência das influencias recebidas ao longo dos anos, e a história retrata as influencias da área médica, militar e desportista. Simultaneamente com a influência militar, que primava pela hierarquia de controle de movimentos, a influência médica marcou pelos princípios eugenistas e higienistas, o que significava hábitos saudáveis, higiênicos e a idéia de se aprimorar a raça humana. Sendo estes os pensamentos da época, resultavam em uma concepção de Educação Física como uma perspectiva biológica, que primava pelo físico do ser humano, ou seja, o objetivo era formar o indivíduo perfeito, o homem forte e saudável, e a mulher também, pois a mesma teria que gerar uma prole também saudável, contribuindo para o progresso da humanidade. Após a 2ª guerra, começa a emergir o pensamento desportivo, a relação entre professor-aluno tornava-se diferente, neste momento o professor assumia o papel de treinador e o aluno de atleta, um período excludente, pois àqueles que não tinham aptidão física eram marginalizados e consequentemente excluídos. Segundo Daolio (2004) as concepções de Educação Física como sinônimos de aptidão física, tecnicistas, eugenistas e higienistas, utilizadas durante décadas, apenas refletem a noção mais geral do ser humano, uma visão exclusivamente biológica, que somente nos últimos anos começa a ser ampliada. A partir de uma revisão do conceito de corpo e considerando a dimensão cultural a ele inerente, a Educação Física pode ampliar seus horizontes e seus saberes, para vir a ser uma área que possa estudar o homem além de sua dimensão biológica e a sua cultura corporal de movimento. Sendo o mesmo, um indivíduo inserido em um determinado contexto e em um determinado momento histórico, e qualquer intervenção pedagógica deve levar em consideração todos estes aspectos. PERFIL DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA Segundo Ghilardi (1998) a formação do profissional em Educação Física passou por algumas reformulações ao longo dos anos, desde a sua origem nas Universidades, em função de 36 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ novas exigências do mercado de trabalho e de uma demanda por parte da sociedade. Dentre estas reformulações, uma das mais importantes foi a criação do bacharelado em Educação Física, formando um profissional diferente do licenciado, que tem como segmento de atuação o ensino formal. O bacharel veio atender um outro nicho de mercado. Este nicho de mercado era composto por academias, clubes, empresas, condomínios, personal trainners, onde a atuação do profissional não consiste em somente executar habilidades, mas em saber como e porque executa-las. É mister que tanto o licenciado quanto o bacharel justifiquem a prática de qualquer atividade motora e de qualquer movimento que envolva o corpo humano, em sua interação com o meio. Os profissionais capazes somente de executar habilidades perdem espaço para os profissionais que possuírem um conhecimento mais ampliado que faça compreender o homem e seus movimentos nos mais variados contextos, levando ao seu cliente a dominar o próprio corpo em movimento, tendo possibilidade e capacidade de solucionar os problemas motores que surgirem no seu cotidiano. ESPORTES COLETIVOS Dentro das diversas classificações que se encontra na literatura, e sendo objetivo deste trabalho, abordaremos duas categorias dos esportes. Apesar desta distribuição não incluir todas as modalidades esportivas, envolve uma parcela importante do universo esportivo (GONZALES, 2004). Segundo o mesmo autor, pode-se dizer que os critérios para essa classificação são: • Se existe ou não relação com o companheiro • Se existe ou não interação direta com o adversário De acordo com Greco (2002, p. 62), “os jogos coletivos apresentam uma dualidade constituída entre cooperação (entre jogadores da mesma equipe) e oposição (dos adversários) em dois momentos do jogo, o ataque e a defesa”. Segundo Gonzales (2004), de acordo com esses critérios, é possível classificar as modalidades em individuais e coletivas, corroborando com Silva; Júnior (2005), quando utilizado o critério relação com o companheiro ou com e sem a interação com o adversário. Silva; De Rose Júnior (2005, p. 72) advogam que as modalidades esportivas coletivas podem ser entendidas “como um confronto entre duas equipes, que se dispõem pelo terreno de jogo e se movimentam de forma particular, com o objetivo de vencer”. São exemplos: basquete, futebol, futsal, handebol e o voleibol. 37 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ Segundo Greco (2001) os esportes coletivos são considerados por crianças e adolescentes, com uma das mais interessantes atividades recreativas. Fato que pode ser justificado por vários fatores que são inerentes à modalidade, como por exemplo: companheirismo e rivalidade, estratégias, incertezas e emoções. De acordo com o mesmo autor, “os jogos coletivos são atividades ricas em situações imprevistas, que requisitam do praticante, respostas variadas, velozes, precisas, complexas e muitas vezes realizadas sob pressão de tempo” (GRECO, 2001 p. 48). Corroborando com o autor, Paula et al (2000, p. 13), diz que uma das características dos esportes coletivos é a complexidade, e esta faz com que os atletas “tenham de ter uma permanente atitude tático-estratégica para superar a imprevisibilidade estrutural que as situações do jogo apresentam”. Segundo Greco (2001), o esporte coletivo apresenta como referência a inter-relação entre vários componentes: tempo, espaço, companheiros, adversário, bola, placar, objetivos e metas a alcançar, que representa para o praticante um problema a ser superado. Então as discussões sobre “o que fazer”, “quando fazer”, são imprescindíveis para a compreensão do jogo, e que fazem parte do processo de ensino-aprendizagem-treinamento, onde se ensina e treina os fundamentos, que são pertinentes a técnica (o que fazer) e o que está associado ao cognitivo, que refere-se a tática (quando fazer). Todas as ações dos praticantes de jogos coletivos devem ser analisadas do ponto de vista tático, pois permitem ao praticante se ordenar no tempo e no espaço, na própria ação, considerar a ação do adversário, do colega, e de outros parâmetros que são inerentes à situação de jogo (GRECO, 2001). Diante da popularidade dos jogos esportivos coletivos, será que os mesmos são considerados pelos professores de Educação Física e pelos treinadores como um tema atrativo e simples de se aplicado nas aulas? (GRECO, 2001). De acordo com Greco (1997), os resultados das diversas pesquisas sobre ensinoaprendizagem-treinamento permitem a utilização dos conhecimentos adquiridos para a reformulação dos processos de ensino-aprendizagem-treinamento nos jogos coletivos, seja nas escolas ou nos clubes, utilizando metodologias que sejam adequadas para cada fase e nível de rendimento. E essa reformulação de processos está também associada diretamente aos parâmetros cognitivos, tais como: percepção, atenção, concentração, etc., que fazem parte do treinamento das capacidades táticas. A formação do jovem acontece conforme suas necessidades, seus interesses e sua maturidade. (GRECO, 1997). Segundo Ribeiro; Volossovitch (2004, p. 15), o jogo desenvolve-se em um ambiente onde “impera a instabilidade e a incerteza e onde emergem constantes apelos às capacidades 38 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ decisórias dos atletas”, pois na verdade, encontram-se múltiplas soluções para os problemas que surgem. Então a partir de uma grande variedade de alternativas que o jogo proporciona, o jogador precisa decidir, em um curto espaço de tempo, o que fazer, para onde ir, ou seja, encontrar uma resposta ideal, para a partir daí, saber qual habilidade utilizará, como por exemplo, arremessar ou passar a bola, driblar ou chutar ao gol e também como agir para acabar com os planos táticos do adversário (BOMPA, 2005). Segundo o mesmo autor, tomar decisões no menor tempo possível é difícil para qualquer jogador, independente do seu nível. Vai haver uma variação nas categorias, em função da velocidade do jogo, quanto maior a categoria, mais rápido o jogo, e por conseqüência menor será o tempo para tomar as decisões. Os jogadores devem estar sempre atentos, a “leitura” do jogo permite tomar a decisão visando a melhor ação. Segundo Ribas (2005, p. 104), o professor de Educação Física, deverá conhecer e compreender melhor o que ensina. “Estrutura geral das atividades, tipos de interações, características essenciais, processos de tomadas de decisões, entre outros conceitos, irão auxiliar o professor no desenvolvimento do saber da EF.” O referido autor, faz indagações importantes: Será que temos isso claro em nossa prática pedagógica quando nos deparamos com uma grande quantidade de práticas da cultura corporal de movimento? Será que temos instrumentos suficientes para fazermos esta mediação, organização, sistematização, reflexão e síntese das distintas práticas da cultura corporal de movimento? O que acontece, segundo o mesmo autor, é que às vezes o profissional de EF, ensina o esporte, por exemplo, baseando-se no que viu nos livros, ou na sua experiência prática e não leva em consideração a cultura corporal do movimento que poderia auxiliá-lo na criação das aulas. Os esportes coletivos não requerem uma lógica específica. Claro que alguns jogadores têm uma maior capacidade técnica que outros, mas não seria uma maior capacidade de variação dessas técnicas, uma maior capacidade de avaliar situações problemas e tomar rapidamente as decisões o que os difere dos demais? Os esportes coletivos, tendo como características a cooperação e a oposição, ou seja, a minha ação depende da ação dos companheiros e dos adversários, leva o praticante, a todo o momento, a tomar decisões, em função dos companheiros e dos adversários (RIBAS, 2005). Portanto, o praticante de esportes coletivos deverá ler e interpretar as informações vinda de seus companheiros e adversários e, por outra via, emitir informações aos seus companheiros e adversários, porém, para os companheiros, informações claras e para os adversários, informações obscuras. 39 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ Ao entender melhor a dinâmica das atividades, ficará mais fácil a transmissão de informação pelo professor de EF. Ao mesmo tempo, os próprios alunos e/ou atletas poderão criar as suas formas de participação (RIBAS, 2005). Ou seja, o processo de ensino-aprendizagem poderá ser construído com os próprios alunos. De acordo com o mesmo autor, nos esportes coletivos de forma geral, a lógica interna da modalidade não é um conhecimento único do professor e, na medida do possível, o aluno terá condições de compreender melhor essa lógica, participando diretamente na construção do conhecimento e ampliar o seu universo, entendendo e refletindo sobre o que acontece fora do esporte, mas que é inerente à modalidade, como problemas de violência no esporte, mídia, política, diferenças salariais entre jogadores, patrocinadores e o mundo de interesses que cercam o universo esportivo. A construção do conhecimento não se faz de forma isolada (KUNZ, 1999). A participação ativa do discente é parte fundamental no seu próprio processo de formação e, através desta interação com os docentes – que têm os seus saberes alicerçados pelo conhecimento científico – é possível alcançar uma educação de qualidade (CEZAR; OLIVEIRA, 2007). GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA VS EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Relata Neto (2005) que de acordo com a abordagem de Piaget, o ser humano constrói seu conhecimento e significados a partir das experiências e assimilação. “O indivíduo entende novas experiências relacionando-as com as experiências anteriores” (NETO, 2005, p. 116). Ao se defrontar com uma nova experiência, atual e esta não possuir relação com as experiências antigas, ocorre um desequilíbrio. A proposta pedagógica da graduação em Educação Física é clara no sentido de formar educadores físicos e não atletas de alto rendimento. A construção dos saberes se idealiza e se concretiza no “aprender para ensinar”. E como já foi discutido anteriormente, são muitas as particularidades inerentes ao esporte, especificamente o coletivo. A construção do conhecimento do graduando e também do próprio docente se dá através da interatividade, da troca de experiências e da própria vivência no momento da aprendizagem. Por outro lado, Geremias (2000, p. 13) afirmam que, “a EaD se apresenta na esfera pedagógica como mais uma opção metodológica que, por ser relevante, merece nossa atenção”. E a EaD também apresenta as suas particularidades, dentre elas podemos destacar a que talvez seja a mais evidente, que é a separação física entre o aluno e o professor, e entre os próprios alunos. Estes por sua vez, têm por característica o autodidatismo, a busca pela construção do seu próprio conhecimento. 40 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ Ao correlacionarmos essas duas vertentes, a graduação em EF e a EaD, dúvidas surgirão, pois cada uma delas possuem características bastantes específicas e que se contradizem em relação à sua aplicabilidade. Como teríamos, por exemplo, o realismo das aulas práticas dos esportes coletivos, se na EaD o aluno não se faz presente? Podemos diante de tudo que foi aqui correlatado, entender que a EaD não é capaz de gerar reações imprevistas e imediatas que para o ensino-aprendizagem dos esportes coletivos é de suma relevância. No EaD não tem como o professor perceber estas reações para que o mesmo possa mudar sua metodologia de ensinar. Isso nos faz questionar: seria então a EAD eficaz para o ensino dos esportes coletivos nos cursos de Graduação em Educação Física? Santos; Rodrigues (1999) corroboram quando dizem que uma das principais diferenças da EaD em relação à educação presencial, é que o professor a distância, perde toda a percepção que ele facilmente tem na aula presencial sobre o estado dos alunos se estão confusos, dispersos, frustrados, etc. E além disso ele tem condições de gerar situações de imprevisibilidade, presentes no esporte coletivo, para que os alunos coloquem em prática a tomada de decisão, questão presente a todo o momento nos esportes coletivos. Já o professor a distância pode nem sequer saber se os alunos estão presentes, dificultando assim uma avaliação fidedigna do processo ensino aprendizagem das técnicas e táticas dos esportes coletivos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Segundo Preti (1999) hoje, inegavelmente está comprovada a eficácia da EaD, o que não quer dizer que não cabe questionamentos e que a mesma deve sempre se aprimorar. Existem estudos que apontam os aspectos positivos e negativos da EaD, porém, é importante que entenda a EaD como uma ferramenta a mais no processo pedagógico, capaz de oferecer um serviço de qualidade, acesso ao ensino superior, além de se constituir como uma forma de democratização do saber. De acordo com o autor, em alguns países a EaD já é reconhecida por suas qualidades, sendo considerada como a educação do futuro, de uma sociedade mediatizada pelos processos informativos. De acordo com Geremias (2000), o processo pedagógico vem sofrendo alterações, pois são utilizados os recursos tecnológicos no auxílio à educação. E sempre que a tecnologia avança, o processo educacional se altera para acompanhar este avanço, o que obriga uma adequação tecnológica na educação. 41 OLIVEIRA, Jackson Lopes; BRAGA, Mariluci. A aplicabilidade da educação a distância nas aulas práticas de esportes coletivos na graduação em Educação Física. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ Por outro lado, existe uma crescente demanda social e mercadológica de formação profissional, qualificação e especialização nos mais diversos segmentos. O que só faz aumentar a responsabilidade dos governantes e das instituições de ensino em todos os níveis. Preti (1996) corrobora dizendo que com a crescente demanda por educação, em função de uma série de fatores, tais como: expansão populacional, luta das classes trabalhadoras por educação, ao saber social e em paralelo, a evolução dos conhecimentos científicos e tecnológicos, estão exigindo mudanças no nível funcional e estrutural das escolas e universidades. Do ponto de vista econômico/financeiro ou mercadológico, a lei da procura e da oferta se aplica no estudo abordado, ou seja, existe uma crescente demanda por formação, qualificação e especialização, e existe também, cada vez mais, a oferta por partes das instituições de ensino, que buscam captar o maior número de alunos, oferecendo um ensino de qualidade. Do ponto de vista pedagógico e educacional, cabem algumas ressalvas. Aulas caracterizadas como práticas, que é o caso das aulas de esportes coletivos na graduação em EF, são atendidas na sua plenitude pela EaD? Se na EaD os alunos não se fazem presentes, onde e como abordar a vivência prática que é parte fundamental no processo de produção do conhecimento? A troca de experiência e a interatividade, mesmo que remotamente, acontecem, pois fazem parte do contexto da EaD, então nestes momentos o ocorre a produção do conhecimento, e não cabe questionamentos, mas e quanto aos momentos que exigem a aprendizagem da técnica e da tática no esporte coletivo? Dando uma maior ênfase à questão tática, que sua aprendizagem se concretiza nas tomadas de decisão. Fica então, como sugestão, pontos para serem abordados em futuros estudos nas questões técnicas da EaD, o que ainda a tecnologia pode ofertar à EaD para contemplar estas questões, por exemplo estudos sobre realidade virtual, se a mesma oferece recursos que possam realmente aproximar da realidade, se financeiramente é viável uma proposta embasada nesta tecnologia, tanto para as instituições quanto para os alunos. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. E. B. de. Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem. 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Vol. 02, nº 05, 28-44, Jan. 2011/Jun. 2011. ________________________________________________________________________________ VEIGA, R. T. et al. O ensino à distância pela internet: conceito e proposta de avaliação. Belo Horizonte: EnANPAD, 1998. VERENGUER, R. C. G. Dimensões profissionais e acadêmicas da Educação Física no Brasil: uma síntese das discussões. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, p. 164-175, jul/dez. 1997. Disponível em: < http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCBS/Cursos/Educacao_Fisica/REMEFE-1-12002/art2_edfis1n1.pdf >. Acesso em: 17 jun. 2008. VERENGUER, R. C. G., Graduação em Educação Física: refletindo sobre a docência universitária e as disciplinas do núcleo sócio-cultural. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, São Paulo, v.6, n.2, p. 37-53, 2007. Disponível em: < http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCBS/Cursos/Educacao_Fisica/REMEFE-6-22007/art03_edfis6n2.pdf >. Acesso em: 17 jun. 2008. 45 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de. A importância do diagnóstico precoce das disfunções neuromotoras na recuperação motora em bebês prematuros. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 45-57, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE DAS DISFUNÇÕES NEUROMOTORAS NA RECUPERAÇÃO MOTORA EM BEBÊS PREMATUROS Maria do Céu Pereira Gonçalves1, Vernon Furtado da Silva2, Andrea Rebeca Oliveira de Paula3 Resumo: O presente estudo investigou os efeitos do programa ISME na recuperação motora de bebês prematuros portadores de disfunções neuromotoras, quando o diagnóstico é realizado precocemente, e comparar os resultados com os resultados de 2001. Participaram do estudo atual 182 pré-termos nascidos abaixo de 36 semanas, que ao exame neurocomportamental (com testagem voltada para o tônus muscular e movimentação espontânea), apresentaram sinais de lesão do sistema nervoso central incluindo: hipertonia, resistência à movimentação passiva, sinal da roda denteada e reflexos patológicos, todos com historia de síndrome hipóxico-isquêmica. Os pontos primordiais de análise foram: as idades de aquisição das etapas neuroevolutivas do desenvolvimento motor. O Programa foi implantado na UTIN logo após identificação dos sinais sugestivos de Paralisia Cerebral, e foi continuado no ambulatório intervencional, até que os bebês adquirissem a marcha ativa. Os dados obtidos foram tratados através de estatística descritiva Os dados em termos percentuais finais foram de 173 pré-termos (95,1%) apresentando normalidade nas etapas do desenvolvimento motor no período proposto na escala de Denver II e, aos 12 meses de idade corrigida, apresentaram marcha ativa 1 Abstract: The present study investigated the effects of the ISME program in neuromotor rehabilitation on the motor development of premature babies who underwent neuromotor dysfunctions, when the diagnostic is realized precociously and to compare with the result of another study realized on the year 2001. Take part of the present study 182 premature babies with age under to 36 pregnant weeks and in the Physical neurological exam, presented signals of the CNS lesion. The investigation (including muscle tonus, resistance to passive movement, spontaneous movements and pathologic reflexes) showed hypertonic musculature with resistance to passive movement of all extremities, persistence of primitive reflexes, manifestation of pathological tonic reflexes, lack of righting and balance reactions, all of them with history of hypoxic-ischemic syndrome. The primary points of analysis were: ages of acquisition of neuroevolutive motor development steps. The program was deployed in the NICU after identifying signs suggestive of Cerebral Palsy, and was continued in outpatient intervencional, until the babies got the actively gait. The data obtained were handled through descriptive statistics data in percentage terms were 173 final pre-terms (95.1%) showing normality in steps of motor development in the period proposed in Denver Fisioterapeuta, Mestre em Ciência da Motricidade Humana, Especialista Neurofuncional, Especialista em Psicomotricidade, Instrutora do Conceito Bobath. Fundação Municipal de Petrópolis, Profª Depto. de Fisioterapia da Universidade Estácio de Sá. 2 Ph.D, Universidade Castelo Branco. 3 Fisioterapeuta, Especialista Neurofuncional -RJ. 46 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de. A importância do diagnóstico precoce das disfunções neuromotoras na recuperação motora em bebês prematuros. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 45-57, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ com padrões de postura estática e dinâmica dentro da referencia normal, além da presença normal do mecanismo reflexo postural (reajuste automático). E 9 prétermos (4,9%) mantiveram persistência dos sinais patológicos não adquirindo as etapas neuroevolutivas. Estes percentuais quando comparados aos resultados encontrados no trabalho realizado no ano de 2001, onde participaram 69 pré-termos, sendo que 66 bebês (95,6%) apresentaram normalidade relativamente às etapas neuroevolutivas do desenvolvimento motor em bebês prematuros portadores de disfunções neuromotoras, e somente 3 pré-termos (4,4%) apresentaram persistência dos padrões patológicos. Estes dados nos permitem concluir que o programa ISME se mostra eficaz na recuperação motora de prematuros portadores de disfunções neuromotoras desde que o diagnóstico seja realizado precocemente. Palavras-Chave: Intervenção Sensório-Motora Essencial; Intervenção Neonatal; Disfunções Neuromotoras; Desenvolvimento Motor; Diagnóstico Precoce; Prematuridade. II and scale, to 12 months of corrected age, submitted gait activates with patterns of static and dynamic posture within the normal reference, with normal postural reflex mechanism (automatic adjustment). And 9 pre-terms (4.9%) continued persistence of pathological signs not acquiring steps neuroevolutivas. These percentage when compared to the results found in the work carried out in 2001, attended by 69 pre-terms, with 66 babies (95.6%) showed respect normality neuroevolutivas steps of motor development in premature babies neuromotoras dysfunctions and only 3 preterms (4.4%) showed persistence of pathological patterns. These data allow us to conclude that the ISME program proves effective in recovery premature bearing motor dysfunctions neuromotoras since the diagnosis is carried out prematurely. Key-Words: Prematurity, Hipoxic-Ischemic Syndrome, NICU Interventions, Early Intervention Program, Sensory-Motor Development, Age apropriate to Intervention, Neuromotor Development Stages, Early Diagnosis; ISME. INTRODUÇÃO O desenvolvimento motor normal é constituído pela aquisição das etapas neuroevolutivas, os marcos motores (controle de cabeça, sentar, engatinhar, levantar-se e andar). Este aprendizado se processa através da formação de esquemas motores e engramas sensoriais1, possibilitados pela maturação do cérebro intacto; pela interação com o meio; pelo estado motivacional e pelas habilidades cognitivas2. Na presença de lesão do Sistema Nervoso Central (S.N.C.), devido ao quantitativo de áreas associadas à motricidade, no cérebro, quase sempre uma lesão cerebral, tende a interferir negativamente no desempenho motor do indivíduo3,4,5,6,7,8,9,10,11 e nos bebês prematuros, interfere no desenvolvimento neuro-psico-motor levando ao aparecimento de disfunções neuromotoras. A literatura afirma que os bebês que nascem prematuramente são mais susceptíveis as lesões do SNC devido à imaturidade do sistema nervoso central e a fragilidade da rede vascular 47 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de. A importância do diagnóstico precoce das disfunções neuromotoras na recuperação motora em bebês prematuros. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 45-57, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ cerebral. Atualmente observa-se que esta população vem aumentando devido aos grandes avanços da alta tecnologia das Unidades de Terapia Intensiva – UTIs neonatais, tanto em termos de aparelhos e medicamentos, quanto em melhor capacitação dos profissionais cada vez mais especializados, possibilitando, assim a preservação da vida do pré-termo de risco12,13. Entretanto, esta condição aumenta também assim o numero de bebês de alto risco que sofreram a síndrome hipóxico-isquêmica. A aproximadamente de 25% a 30% dos prematuros de alto risco desenvolvem alguma forma de disfunções neuromotoras nos primeiros meses de vida14,15. Frente a esta situação, e em função da grande importância do diagnóstico precoce, vários protocolos de avaliação foram criados, dentre eles: Brazelton16; Amiel Tison17, Dubowitz e Dubowitz7, Gonçalves18. Assim como, várias propostas de intervenção motora foram implantadas, com o objetivo de minimizar e/ou prevenir a instalação indevida de padrões motores, os protocolos apresentaram resultados significativos19,20,21,14,22. Porém nenhum destes programas intervencionais propôs a intervenção sensório-motora na forma de exercícios, requisitando do recém-nato prematuro respostas corporais ativas. O programa de Intervenção Sensório-Motora Essencial (ISME)13 propõem que a intervenção seja iniciada antes que o bebê experimente e automatize os movimentos patológicos, para que este possibilite a aquisição das etapas neuroevolutivas que constituem o desenvolvimento motor normal, em prematuros portadores de disfunções neuromotoras decorrentes da Paralisia Cerebral, obtive resultado altamente significativo quanto a aquisição das etapas neuroevolutivas. Onde 95,6% dos bebês tratados pelo programa ISME apresentou marcha independente com padrões de movimentos estáticos e dinâmicos dentro da normalidade e somente 4,4% mantiveram a persistência dos padrões patológicos. Frente a estes resultados, entende-se, ser de fundamental importância reavaliar os resultados do obtidos pelo programa ISME em outro período para determinar a eficácia do programa. MATERIAIS E MÉTODOS A população deste estudo foi composta de bebês prematuros que necessitaram de cuidados especiais, tendo que permanecer na UTI neonatal do Hospital Alcides Carneiro do Município de Petrópolis. Foi realizada uma amostra ocasional, composta de 348 bebês pré-termos, nascidos abaixo de 36 semanas, que no período neonatal apresentaram sinais positivos da síndrome hipóxico-isquêmica, no exame neurocomportamental, foram encontrados sinais de lesão do sistema nervoso central tais como: hipertonia, resistência à movimentação passiva, sinal da roda denteada, 48 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de. A importância do diagnóstico precoce das disfunções neuromotoras na recuperação motora em bebês prematuros. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 45-57, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ reflexos patológicos, ausência ou alteração dos reflexos primitivos e das reações de endireitamento normais à idade, desorganização comportamental e irritabilidade. O critério de exclusão utilizado neste estudo foi não apresentar sinais de lesão do SNC e a não assiduidade ao programa e o não seguimento da rotina quanto as orientações do programa ISME no período de Julho/2000 a Junho/2005. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO ESCALA DE SINAIS NEUROLÓGICOS DE DUBOWITZ E COLS. (1970)23 Este protocolo é consistido de 10 itens: Observação da postura em supino; Verificação da extensibilidade do punho (nesta pesquisa foi utilizada a verificação da extensibilidade da flexão dorsal do punho); Dorsiflexão do pé; Retorno da flexão do braço; Retorno da flexão da perna; Ângulo poplíteo; Calcanhar-orelha; Sinal do cachecol; Sentado observar a queda da cabeça; A suspensão ventral foi substituída pela observação da reação labiríntica de retificação na postura em prono. TESTE DE TÔNUS POSTURAL DO CONCEITO BOBATH24 Trata-se de um teste de alta validação (validação lógica) editada por Berta Bobath desde os anos 50 e ainda preconizado em todos os cursos de aperfeiçoamento do Conceito Neuroevolutivo (com reconhecimento mundial), sendo utilizado nos cinco continentes como instrumento de avaliação de tônus postural por todos os terapeutas do conceito neuro-evolutivo. Este teste permite a identificação do tipo de tônus muscular, pela avaliação das adaptações dos músculos “variando as atitudes”, pelos padrões posturais normais impostos nos músculos. Berta Bobath (1986) preconizava que o tipo tônus muscular deve ser avaliado através de padrões posturais e não pelo teste da resistência do músculo ao estiramento. Pode-se encontrar: a) se a atividade reflexa postural é normal, rápida e imediato ajuste do músculo para as mudanças posturais; b) se a espasticidade e rigidez estão presentes, resistência às mudanças de postura e atraso no ajuste das reações; c) se a atetose está presente, intermitente resistência dos músculos para mudanças 49 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de. A importância do diagnóstico precoce das disfunções neuromotoras na recuperação motora em bebês prematuros. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 45-57, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ posturais, alternando com completa ausência de resistência; d) se a flacidez está presente, falta de resistência e hiperextensibilidade das articulações nas mudanças dos padrões posturais. Entretanto, este teste pode ser executado e analisado em concomitância com o teste dos sinais neurológicos de Dubowitz23. TABELA DAS REAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Esta tabela referencial foi elaborada pelos autores: André-Thomas, Dargassies, Illingworth e Minkowski. Mais de 70 reflexos primitivos já foram detectados no período neonatal25. Porém foram selecionados, os mais significativos em termos de ontogênese da motricidade. Tais como: moro; galant; reflexo tônico cervical assimétrico; reação positiva de suporte; marcha automática; preensão palmar e plantar; reação cervical de retificação; reação corporal de retificação; reação labiríntica de retificação; landau; reação de extensão protetora dos braços para frente, para os lados e para trás; reação de colocação dos braços e das pernas; astasia; sucção. Esta tabela tem validade lógica sendo utilizado, como instrumento de avaliação por todos os profissionais desenvolvimentistas. ESCALA EVOLUTIVA DO DESENVOLVIMENTO MOTOR DE DENVER II Esta escala foi revista por Frankenburg e Dodds26, em 1992, tendo sido utilizado somente o protocolo do desenvolvimento motor, (assunto pertinente da pesquisa). Esta tabela preconiza que o bebê deve apresentar as etapas neuroevolutivas do desenvolvimento motor nos referidos períodos: controle da cabeça entre o 3º/5º mês; sentar sem apoio entre o 6º/9º mês; engatinhar entre o 8º/11º mês e andar sozinho entre o 12º/14º mês. Esta escala obteve validade por critério, com índice de 0.9927. 50 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de. A importância do diagnóstico precoce das disfunções neuromotoras na recuperação motora em bebês prematuros. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 45-57, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ PROCEDIMENTOS DE DIAGNOSE Foi aplicado o teste dos sinais neurológicos de Dubowitz23 na UTI neonatal, teste de tônus postural (Bobath), pesquisa dos reflexos primitivos, analise da tabela do Ballard para indicar a idade cronológica do pré-termo e as condições de nascimento através do Apgar. Selecionando os recém-natos prematuros que apresentavam os sinais positivos sugestivos da disfunção neuromotora. PROCEDIMENTO DE INTERVENÇÃO O programa ISME foi iniciado na UTIN intermediaria, depois no alojamento (materno infantil) sendo feito 2 sessões semanais com duração de vinte minutos, respeitando o estado geral do recém-nato principalmente os estados da consciência28 e monitorando o bebê pela abordagem síncrono-ativa29. Após a alta hospitalar, no 1º mês de tratamento ambulatorial foi feito 1 sessão semanal, e a partir do 2º mês foram feitas duas sessões semanais. As sessões intervencionais até os 6 meses de idade corrigida tiveram o tempo de duração de 30 minutos, onde, o principal objetivo foi a normalização do tônus e a entrada das reações automáticas. Após os 6 meses tiveram a duração em media de 40 minutos, o atendimento foi realizado em conjunto com outros educadores, cada qual com um bebê, onde as idades variaram de 6 a 12 meses; nesta fase se estabelece o processo intervencional, objetivando o ganho das etapas do desenvolvimento motor, inerentes a idade corrigida do bebê. O educador exerceu dois papeis fundamentais: de facilitador do movimento propriamente dito, e facilitador da interação do bebê com o objeto, com o outro, e com o meio, sendo por tanto assim, facilitador da motricidade. Estes prematuros após receberem alta fisioterapia por volta de 13 meses de idade corrigida, foram mantidos em follow-up com re-testagem aos 18 meses, aos 2 anos, aos 3 anos, para controle dos padrões motores. O follow-up será mantido até os 7 anos de idade. PROCEDIMENTO DO PROGRAMA ISME Este instrumento de intervenção é um programa de Exercícios Sensório-Motores Essenciais, que pode ser aplicado a partir da 33ª semana de idade gestacional se o bebê estiver clinicamente estável. O programa ISME é fundamentado e teorizado a partir dos fundamentos da 51 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de. A importância do diagnóstico precoce das disfunções neuromotoras na recuperação motora em bebês prematuros. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 45-57, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ neuroplasticidade humana, no Conceito Bobath, na osteopatia, com abordagem psicomotora, onde a MOTIVAÇÃO e a INTERAÇÃO têm que estar presentes. Tem como principais objetivos: a) Facilitar a entrada das reações automáticas, inibindo simultaneamente os padrões motores patológicos; b) Promover a entrada da aquisição das etapas neuroevolutivas e a integração dos reflexos primitivos; c) Promover a formação e a experimentação de programas motores normais (plasticidade neuronal); d) Promover tônus adequado para otimizar a função respiratória (principalmente na fase neonatal). TRATAMENTO ESTATÍSTICO Para responder as questões instituídas na presente pesquisa, os dados utilizados foram tratados através de estatística descritiva. RESULTADOS Os resultados obtidos estão demonstrados na (Fig.1 e 2) e nas figuras com a plotagem referida ao desfecho dos resultados da pesquisa. 350 348 300 250 200 182 150 142 100 50 21 3 0 Inicia ra m o protocolo Cum prira m o protocolo Aba ndono de protocolo Enca m inha dos a outra s clinica s Óbitos Figura 1 – Apresentação do quantitativo da população estudada quanto ao desfecho dos mesmos em relação a aderência ou não ao protocolo de tratamento fisioterapêutico. 52 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de. A importância do diagnóstico precoce das disfunções neuromotoras na recuperação motora em bebês prematuros. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 45-57, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ No período estudado deram entrada no ambulatório de fisioterapia pediátrica 348 bebês encaminhados pelo hospital Alcides Carneiro, ainda no primeiro mês após a alta hospitalar. Destes 182 bebês cumpriram com toda a rotina do programa ISME, com assiduidade e seguindo todas as orientações do programa. Um grupo de 142 bebês abandonaram o tratamento, 21 bebês foram encaminhados a outras clínicas e 3 bebês foram a óbito durante o período estudado (Fig.1). 4,9% Instalação do desenvolvimento motor normal Persistência de padrões motores patológicos 95,1% Figura 2 – Resultados obtidos com a implantação do Programa ISME, na recuperação motora de prematuros portadores de disfunções neuromotoras diagnosticadas precocemente. Em relação aos resultados relativos ao desfecho do grupo de bebês que cumpriram todas as normas do programa ISME, estes dados serão apresentados em termos percentuais finais. Dos 182 bebês que cumpriram o protocolo, 173 pré-termos (95.1%) apresentaram normalidade nas etapas do desenvolvimento motor no período proposto na escala de Denver II e, aos 12 meses de idade corrigida, adquiriram marcha independente com os padrões motores dentre da normalidade. Esta normalidade foi demonstrada através da presença de padrões de postura estática e dinâmica dentro da referência normal, além de presença normal do mecanismo de reflexo postural (mecanismo de reajuste automático). Do grupo que aderiu totalmente o programa, somente 9 prétermos (4.9%) não revelaram os padrões motores dentro da normalidade, observando-se persistência dos padrões motores patológicos e dos reflexos e reações primitivas (Fig. 2). Para uma melhor visualização da comparação dos resultados obtidos nos dois períodos do estudo, estes serão apresentados na tabela 1. 53 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de. A importância do diagnóstico precoce das disfunções neuromotoras na recuperação motora em bebês prematuros. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 45-57, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Tabela 1: Distribuição por percentual dos resultados do programa ISME obtidos em períodos distintos. Períodos do estudo Junho/1995-junho/2000 Julho/2000-junho/2005 N/% N/% Iniciaram protocolo 110 (100%) 348 (100%) Cumpriram o protocolo 69 (72.72%) 182 (52.3%) Abandonaram 41 (27.28%) 142 (40.8%) Encaminhados a outras Clinicas 0 21 (6.04%) Óbitos 0 3 (0.86%) 66 (95.6%) 173 (95.1%) 3 (4.4%) 9 (4.9%) Recuperação total dos padrões motores Persistência dos padrões patológicos DISCUSSÃO Em primeira instância, convém observar o quantitativo de entrada e saída do programa de intervenção usado no estudo (implantado no sistema único de saúde no município de Petrópolis, desde 1995), o que demonstra uma satisfatória permanência dos prematuros dela participantes, conforme pode se observar na figura 1. Diante os resultados encontrados neste estudo, comparando-os com os resultados dos estudos realizados por Gonçalves & Silva (2001), onde participaram 69 pré-termos, sendo que 66 bebês (95,6%) apresentaram normalidade relativamente às etapas neuroevolutivas do desenvolvimento motor em bebês prematuros portadores de disfunções neuromotoras, e somente 3 pré-termos (4,4%) apresentaram persistência dos padrões patológicos, estes apresentavam alem da paralisia cerebral distúrbios associados tais como: malformação do tipo de microcefalia; atrofia dos lóbulos frontais; do corpo caloso; epilepsia de difícil controle; déficit cognitivo e/ou visual; ou a associação de vários deles. Estes sinais também estavam presentes nos bebês do presente estudo que não recuperaram os padrões motores e mantiveram os padrões de movimento patológicos. Em outro estudo realizado por Gonçalves & Silva30, no qual foram excluídos os bebês que apresentavam problemas associados a disfunção neuromotora, 100% dos bebês que tiveram o diagnóstico realizado precocemente e iniciaram o tratamento interventivo imediatamente desde a UTIN, apresentaram recuperação total das disfunções neuromotoras, os quais receberam alta fisioterápica aos 13 meses de idade corrigida. Observa-se que os resultados obtidos se mostram altamente significativos, visto que em todos os trabalhos realizados pela autora os bebês que tiveram o diagnóstico das disfunções 54 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de. A importância do diagnóstico precoce das disfunções neuromotoras na recuperação motora em bebês prematuros. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 45-57, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ neuromotoras realizado precocemente e iniciaram o programa ISME ainda dentro da UTIN, apresentaram recuperação total dos distúrbios motores com percentuais acima de 95% dos casos. Não tendo sido encontrado na literatura dados tão significativos de ganhos obtidos com este objetivo. Pode-se observar que o numero de bebês do presente estudo aumentou significativamente quando comparado com o estudo realizado pela autora em 2001, isto se deu ao fato do aumento do numero de vagas na UTI neonatal do Município de Petrópolis. Importante ressaltar que mesmo com o aumento significativo de bebês, o percentual de recuperação total dos padrões motores foi praticamente o mesmo, tendo um declínio 0.4%, caindo de 95.6% para 95.1%. CONCLUSÃO Com base nos resultados mostrados neste estudo pode-se concluir que houve grande significância na obtenção da reabilitação total dos padrões motores nos pré-termos que tiveram o SNC lesado no período pré-natal ou neonatal. Que conseguiram adquirir as etapas neuroevolutivas necessárias ao desenvolvimento motor, quando a implantação do programa ISME foi iniciada, já na UTI neonatal. Desde que os pré-termos não apresentem associada à síndrome hipóxico-isquêmica, déficit cognitivo, microcefalia frontal, epilepsia fora de controle, outras síndromes, descontinuidade no tratamento, e o diagnóstico tenha sido realizado precocemente. Em função de o programa ISME preconizar a intervenção imediata, desde a UTI neonatal é possível promover a integração dos reflexos primitivos, a inibição total da espasticidade e dos reflexos patológicos, permitindo assim o aprendizado das etapas do desenvolvimento motor. Ao contrário do que se preconiza na reabilitação pediátrica, a qual propõe o inicio da intervenção a partir do 3º ou 4º mês de vida, alegando que o tratamento fisioterapeutico antes deste período possa ser agressivo ao SNC, fato este não observado nas pesquisas realizadas pela autora. Entretanto, também se pode concluir que a presença de problemas associados aos distúrbios neuromotores, que envolvam os estados da motivação, cognição e epilepsia fora de controle, ser de caráter incisivo para o não sucesso do programa ISME quanto ao ganho da aquisição das etapas do desenvolvimento motor normal. Acreditamos que como o programa ISME teve início antes do bebê atingir 40 semanas de idade gestacional, isto sugere que realmente pode e deve-se intervir desde o nascimento, tão imediato quanto à identificação dos sinais neurológicos. Isto sugere também, que a plasticidade neuronal do bebê é muito rica com relação à possibilidade da ampliação das árvores dendríticas, e 55 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de. A importância do diagnóstico precoce das disfunções neuromotoras na recuperação motora em bebês prematuros. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 45-57, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ que a eficiência deste trabalho tenha sido possível porque nesta fase de vida, em que preconizamos o inicio do programa ISME o organismo neuromotor ainda não experimentou o movimento patológico, não criando assim o esquema motor deste movimento. E que, através da ampliação da arborização dendríticas, que é estimulada através dos exercícios sensório-motores essenciais, cria-se então novos esquemas motores promovendo o desenvolvimento das etapas motoras. Utilizando-se também como base os resultados mostrados nestes estudos, pode-se concluir que a intervenção imediata pelo programa ISME promove a recuperação total dos padrões motores associados aos atos de controle de cabeça, sentar, engatinhar e andar dos pré-termos participantes destes trabalhos, que tiveram o SNC lesado no período pré-natal ou neonatal. Estes conseguiram adquirir as etapas neuro-evolutivas necessárias ao desenvolvimento motor, desde que os pré-termos não apresentem associada à síndrome hipóxico-isquêmica, déficit cognitivo, microcefalia frontal, epilepsia fora de controle e outras síndromes, ou tivessem seus diagnósticos realizados tardiamente. Com a implantação do programa ISME desde a UTI neonatal, e o diagnóstico realizado precocemente foram otimizadas condições junto a integração dos reflexos primitivos, inibição total da espasticidade e dos reflexos patológicos, permitindo assim o aprendizado de novos programas motores necessários para a aquisição das etapas do desenvolvimento motor. De acordo com a literatura utilizada, o modelo de intervenção imediata ainda não tinha sido experimentado por outros pesquisadores, embora exista uma vasta literatura abordando o tema de intervenção precoce nas UTI neonatais, nenhuma delas ousou em propor uma terapia, na qual o recém-nato pré-termo tivesse que responder com respostas ativas aos programas intervencionais. O programa proposto ISME preocupa-se de forma intensiva para que estes bebês não atingissem nenhuma forma de estresse. Quanto ao período de quatorze meses de intervenção mostrou-se suficiente para todos os bebês que participaram dos estudos, para que atingissem todas as etapas do desenvolvimento motor no período propício, proposto na grande maioria de tabelas de desenvolvimento motor normal, com a instalação de todas as reações e reflexos normais à idade corrigida, e por volta do 13º mês de idade corrigida, apresentando uso funcional dos braços, com execução de todas as mudanças de postura ativamente (como: passar para sentado, para gatas, engatinhar, passar para de pé, ficar de pé e andar), assim como a normalização dos padrões de movimento na situação estática e dinâmica, com a manifestação do mecanismo de reajuste postural automático. Os resultados encontrados comparados a Escala de Denver II, relativos ao desenvolvimento motor, sugerem que de fato o cérebro lesado também é capaz de aprender, novos 56 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SILVA, Vernon Furtado da; PAULA, Andrea Rebeca Oliveira de. A importância do diagnóstico precoce das disfunções neuromotoras na recuperação motora em bebês prematuros. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 45-57, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ programas motores, uma vez que não tenha automatizado o padrão patológico, confirmando assim, a capacidade de reorganização neural progressiva e extensiva o suficiente para “normatizar” o compêndio operacional da funcionalidade neuromotora, através da ampliação da arborização dendrítica, possibilitada pela plasticidade neuronal. REFERÊNCIAS 1. SCHMIDT RA. Motor Control and Learning: A Behavior Emphasis. Illinois, Human Kinesis Publishers, Inc. Champaign, 1982. 2. FONSECA V. Aprender a Aprender: A Educabilidade Cognitiva. Porto Alegre. ArtMed, 1998. 3. BOBATH B. Abnormal Postural Reflex Activity: London: Willian Heinemann, 1985. 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A importância do diagnóstico precoce das disfunções neuromotoras na recuperação motora em bebês prematuros. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 45-57, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ 17. AMIEL-TISON C. Neurological evaluation of the maturity of newborn infants. Arch. Dis. Child. 1986;43:89-93. 18. GONÇALVES Céu MP. Practicality and Effectiveness of the Physical Examination Protocol for Neonatal Neuromotor Scanning. Fiep Bulletin. Special Edition-Article-II. 2010;80:431-435. 19. ACHENBACH TM, HOWELL CT, AOKI MF, RAUH VA. Nine-Year Outcome of the Vermont Intervention Program for Low Birth Weight Infants. American Academy of Pediatrics, Pediatrics. !993;91:45-55. 20. GUSMAN S & MEYERHOF PG. Intervenção precoce em prematuros e Neonatos de Alto Risco: Neonatologia Clínica e cirúrgica, RJ Ed. Atheneu, 1986. 21. MEYERHOF PG. 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Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ INFLUÊNCIAS DO MEIO SOCIOECONÔMICO E FAMILIAR COMO FATOR DE RISCO DO ATRASO NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR: ESTUDO PILOTO Maria do Céu Pereira Gonçalves, Pamela Paiva Gouveia Simões, Elisangela Teixeira Vieira1. Resumo: Abstract: Observa-se grande demanda de crianças com atraso no desenvolvimento psicomotor sem justificativa neurológica. A profissão, escolaridade materna, renda baixa, estimulação inadequada são fatores que podem levar ao atraso psicomotor. Porém, um só fator não seria causa do atraso. Quanto mais precoce forem realizados o diagnóstico e a intervenção, menor será o impacto na vida dessas crianças. Objetivo: Identificar possíveis causas do atraso no desenvolvimento psicomotor em crianças não neuropatas. Metodologia: Foram estudadas 12 crianças não neuropatas, sem síndromes, com idades entre seis meses e três anos, nascidos acima de 37 semanas gestacionais e com atraso no desenvolvimento psicomotor. Todas incluídas no Projeto de Estimulação Psicomotora da UNESA em Petrópolis-RJ de janeiro a outubro de 2007. Para a coleta de dados, foi elaborado um questionário contendo os dados da criança e dos pais, a renda familiar e a vida familiar, escolar e afetiva da criança. Resultados: A maioria dos pais apresentou nível de escolaridade baixo, tendo os pais nível de escolaridade menor (50% cursaram até a 5ª série) do que as mães (42% cursaram 6ª à 8ª série). A maioria dos pais encontra-se trabalhando informalmente (58%) e a maioria das mães não trabalha (75%), sendo a mãe o indivíduo que exerce maior influência na vida da criança. Nenhuma criança freqüenta creche ou colégio. A maioria das crianças (51%) dorme There is great demand for kids with delay in psychomotor development without neurological justification. The profession, maternal schooling, low-income, inadequate stimulation are factors that can lead to psychomotor retardation. However, one factor would not be cause for the delay. How much more are conducted early diagnosis and intervention, the less impact on the lives of these children. Goal: identify possible causes of delay in psychomotor development in children without neurologic signs. Methodology: 12 children were studied, without syndromes and neurologic injuries, aged between six months and three years, born above 37 weeks of gestation and with delay in psychomotor development. All included in the project of Psychomotor Stimulation of UNESA in Petropolis-RJ from January to October 2007. For collecting data was elaborated a questionnaire containing the data of the child and parents, the family income and family life, child's school and affective. Results: most parents presented low schooling level, having educated parents less (50% received until the 5th series) than mothers (42% received a 6th to 8th grade). Most parents find themselves working informally (58%) and most mothers don't work (75%), being the mother the individual who exerts greater influence in the life of the child. No child attends day care or school. Most children (51%) sleep 10 to 13 hours 1 Universidade Estácio de Sá, Petrópolis, Rio de Janeiro. 59 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SIMÕES, Pamela Paiva Gouveia; VIEIRA, Elisangela Teixeira. Influências do meio socioeconômico e familiar como fator de risco do atraso no desenvolvimento psicomotor: estudo piloto. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ de 10 a 13 horas por noite e de 2 a 3 horas de dia (50%). E, 66% das crianças não têm atividades de lazer. Conclusão: Este estudo sugere que as causas de atraso no desenvolvimento psicomotor na população estudada foram: a falta de estimulação, provavelmente pela baixa escolaridade dos pais e a baixa renda familiar. Portanto, é necessário que se dê continuidade à pesquisa aumentando o número de crianças para que se possa implantar estratégias na comunidade, criando condições para se desenvolverem normalmente. Palavras-chave: Atraso psicomotor, causas do estimulação psicomotora. atraso, per night and 2 to 3 hours of the day (50%). And 66% of children have no leisure activities. Conclusion: This study suggests that the causes of delay in psychomotor development in the population studied were: the lack of stimulation, probably by low schooling parents and low-income families. Therefore, it is necessary to give continuity to search by increasing the number of children in order to deploy strategies in the community, creating conditions to develop normally. Keywords: Psychomotor retardation, causes of delay, psychomotor stimulation. INTRODUÇÃO Com base nas evidências clínicas tem se observado grande demanda aos serviços de fisioterapia de lactentes que apresentam atraso no desenvolvimento psicomotor sem justificativa neurológica. Considera-se que os sistemas sensoriais submetem-se constantemente a mudanças dinâmicas. É a interação desses sistemas dinâmicos que promove o desenvolvimento das habilidades motoras. Acredita-se, portanto, que nenhum agente sozinho seja a causa do atraso no desenvolvimento psicomotor1. O sistema nervoso central (SNC) não é a única estrutura que determina mudanças no desenvolvimento. Mudanças em outros sistemas do corpo, como as do sistema músculo-esquelético e cardio-respiratório, também influenciam o desenvolvimento psicomotor. O tamanho do corpo, a motivação e o contexto ambiental, são importantes agentes de mudanças, sendo o ambiente no qual vivemos um fator de influência essencial e sistemática no desenvolvimento global2. Devido à importância e ao impacto que o atraso no desenvolvimento psicomotor acarreta na criança, é de fundamental importância que se possa, o mais precoce possível, identificar as crianças de maior risco, a fim de minimizar os efeitos negativos daí decorrentes. Existem evidências suficientes de que quanto mais precoces forem os diagnósticos de atraso no desenvolvimento e a intervenção, menor será o impacto desses problemas na vida futura dessas crianças3. Tendo em vista a realidade apresentada por crianças que aparentemente não apresentam problemas de origem endógena que justifiquem o atraso no desenvolvimento de determinadas habilidades, nos deparamos com estudos que evidenciam que crianças de famílias com renda mais 60 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SIMÕES, Pamela Paiva Gouveia; VIEIRA, Elisangela Teixeira. Influências do meio socioeconômico e familiar como fator de risco do atraso no desenvolvimento psicomotor: estudo piloto. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ baixa estão pré-dispostas a vários riscos, entre os quais o de apresentarem gestações desfavoráveis e/ou incompletas e a falta de informações relativas ao parto. Tal cadeia de eventos negativos faz com que essas crianças tenham maior probabilidade de apresentarem atraso em seu potencial de desenvolvimento4. Portanto, nem sempre a criança com atraso no desenvolvimento psicomotor tem uma patologia neurológica, e o quadro clínico pode estar relacionado com uma estimulação inadequada, seja por superproteção, abandono ou falta de orientação, bem como por doenças crônicas, hospitalismo ou um lar desestruturado5. A aquisição das etapas do desenvolvimento motor nos períodos propícios, também denominados de “janelas de oportunidade”, deixam claro que quanto mais se expuser a criança à estímulos benéficos, mais ela aproveitará as potencialidades do seu cérebro. Quando o ambiente é rico em estímulos adequados à idade cronológica, isto facilita a exploração do mesmo, promovendo a maturação do SNC e assim a integração de todos os sistemas sensoriais6. A experimentação é essencial para que a maturação neuromotora seja otimizada, proporcionando, assim a construção da imagem corporal, o desenvolvimento cognitivo e psicossocial, estas, conduzem as relações da criança com seu próprio corpo. A história familiar e a atitude dos pais frente aos filhos, à relação com outras pessoas; a percepção sensorial e a capacidade de utilizar os objetos, a relação ambiental. São fatores que irão influenciar de forma gradual a aquisição de atividades neuropsicomotoras, para tornar possíveis as relações pessoais e ambientais da criança7. O desenvolvimento postural do lactente acontece de forma seqüencial nos seguintes períodos: a criança sustenta a cabeça com 3/4 meses, permanece sentada com 6/7 meses, engatinha com 8/10 meses, se mantém na posição ortostática com 9/11 meses e anda com 12/14 meses de idade8,1,9. O primeiro ano de vida apresenta ritmo acelerado de mudanças que culminam nas funções de mobilidade, porém algumas crianças apresentam fatores de risco para o atraso no desenvolvimento psicomotor como baixo peso ao nascimento, baixo escore no Apgar e fatores ambientais desfavorecedores. Dentre estes temos a baixa renda familiar, amamentação inferior a seis meses, grau de estimulação que recebe e ambiente ao qual é exposta, idade, profissão e escolaridade maternas, estado civil dos pais, peso da criança ao nascimento, idade gestacional, retardo de crescimento intra-uterino10. Na ausência de alimentação adequada durante esse período crítico é possível que a criança não atinja seu verdadeiro potencial genético. Quando uma criança tem fome não saciada, 61 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SIMÕES, Pamela Paiva Gouveia; VIEIRA, Elisangela Teixeira. Influências do meio socioeconômico e familiar como fator de risco do atraso no desenvolvimento psicomotor: estudo piloto. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ pode perder a motivação para explorar o ambiente e, assim, ter um atraso na aquisição de certas habilidades, apresentando, geralmente, retardo no desenvolvimento neuropsicomotor, 7 independentemente se ocorreu lesão cerebral . A implantação de um programa de estimulação precoce simultâneo ao acompanhamento do desenvolvimento de cada criança é de fundamental importância. E é responsabilidade dos profissionais da saúde, com auxílio dos pais ou responsáveis, criar condições para que a criança desenvolva integralmente suas habilidades psicomotoras, estimulando-a com situações, pessoas e objetos que despertem o desejo de agir ou reagir sobre os estímulos que lhe são oferecidos11. O presente estudo destinou-se a identificar as possíveis causas do atraso no desenvolvimento psicomotor em crianças não neuropatas que participaram do Projeto de Estimulação Psicomotora da UNESA no município de Petrópolis, no período de janeiro a outubro de 2007. MATERIAIS E MÉTODOS Foram admitidos no estudo tranversal, lactentes nascidos acima de 37 semanas de idade gestacional com atraso no desenvolvimento psicomotor que participaram do Projeto de Estimulação Psicomotora da UNESA, em Petrópolis – RJ. A amostra foi constituída por 12 crianças de ambos os sexos com idades entre 6 meses e 3 anos (Média = 1 ano e 5 meses; Mediana = 1 ano e 6 meses; Moda = 1 ano e 8 meses; DP = 8.3 meses), com atraso no desenvolvimento psicomotor. Foram excluídos os lactentes com lesão no sistema nervoso central ou com síndromes genéticas, e os nascidos abaixo de 37 semanas de gestação e os que não aceitaram participar da pesquisa. INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS Para a coleta de dados, foi elaborado questionário contendo os dados da criança, dados dos pais, renda familiar e questões sobre a vida familiar, escolar e afetiva da criança. As variáveis referentes à criança incluíam sexo, data de nascimento, local de nascimento, vacinas e tipo de parto. As variáveis referentes aos pais incluíam endereço, idade, nível de escolaridade e situação funcional dos pais. Tipo de moradia como casa própria, quantos cômodos existem na casa, quantas pessoas residem com a criança e qual o grau de parentesco destas, e quais os familiares que exercem maior influência sobre o dia-a-dia da criança. 62 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SIMÕES, Pamela Paiva Gouveia; VIEIRA, Elisangela Teixeira. Influências do meio socioeconômico e familiar como fator de risco do atraso no desenvolvimento psicomotor: estudo piloto. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ As variáveis referentes à vida familiar, escolar e afetiva da criança incluíam: tempo de amamentação, idade que os pais notaram o problema no desenvolvimento da criança e se esta recebeu algum tipo de tratamento, as etapas motoras vivenciadas, como a família se relaciona com a criança, como a criança se relaciona com outras crianças, se o tratamento dado à criança é diferente em relação aos irmãos, se freqüenta creche ou colégio, se dorme bem e quantas horas dormem por noite, se dorme de dia e quantas horas, qual o tipo de alimentação, se nas atividades de lazer, se relaciona com outras crianças ou apenas com adultos. TRATAMENTO ESTATÍSTICO Para responder as questões instituídas na presente pesquisa, os dados utilizados foram tratados através de estatística descritiva. RESULTADOS Os resultados obtidos estão demonstrados na (tabela1) e nas figuras com a plotagem referida a cada variável estudada. Tabela1 – Resultados em Média, Mediana, Moda e Desvio Padrão. Média Mediana Moda Variáveis DP Nível de escolaridade paterna 5ª série 6ª série 5ª série 3.9 série Nível de escolaridade materna 7ª série 7ª série 7ª série 3.3 série Idade do pai 33ª 31ª 28ª 7.9a Idade da mãe 27ª 26ª 19ª 7.7a Número de cômodos na casa 4 4 5 0.9 Número de pessoas que vivem na casa 5 4 3 2.9 Tempo de amamentação 8m 5.5m 0,3,8,24m 8.5m Idade da realização do diagnóstico 8m 5.5m 5m 5.5m Idade do inicio do tratamento fisioterapêutico 8m 5.5m 5m 5.8m Quantidade de horas dormidas: noturnas 10h 11h 9,11h 2h36min Quantidade de horas dormidas: diurnas 1h50min 2h 2h 1h34min De acordo com os resultados encontrados identificou-se que quanto à situação funcional paterna das 12 crianças pesquisadas, 7 (58%) dos pais trabalham informalmente (não têm carteira assinada) e 5 (42%) trabalham formalmente (com carteira assinada). Já quanto à situação funcional 63 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SIMÕES, Pamela Paiva Gouveia; VIEIRA, Elisangela Teixeira. Influências do meio socioeconômico e familiar como fator de risco do atraso no desenvolvimento psicomotor: estudo piloto. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ materna observou-se que 9 (75%) das mães não trabalham, 2 (17%) trabalham informalmente e 1 (8%) trabalha formalmente. Quanto à idade paterna 6 (51%) dos pais possuem idade entre 20 e 30 anos, seguido por 4 (33%) com idades entre 31 e 40 anos, 1 (8%) entre 41 e 50 anos e 1 (8%) com mais de 50 anos. Já quanto à idade materna 5 (42%) com idades entre 21 e 30 anos, seguido por 4 (33%) de 31 a 40 anos e 3 (25%) com idade menor ou igual a 20 anos. O nível de escolaridade paterna é de 6 (50%) dos pais têm até a 5ª série, 3 (25%) possuem da 6ª a 8ª série, 2 (17%) que possuem ensino médio incompleto, e 1 (8%) possui ensino médio completo. Já o nível de escolaridade materna representou 5 (42%) que cursaram da 6ª a 8ª série, 3 (25%) cursaram até a 5ª série, 3 (25%) cursaram o ensino médio completo, e 1 (8%) cursou o ensino médio incompleto (Fig.1). Nível de Escolaridade Paterna Nível de Escolaridade Materna até a 5ª série 17% 8% até a 5ª série 25% 6ª a 8ª série 50% 25% Ensino médio imcompleto 25% Ensino médio imcompleto 8% Ensino médio completo 6ª a 8ª série 42% Ensino médio completo Figura 1: Distribuição dos pais quanto ao nível de escolaridade. Quanto ao tipo de moradia identificou-se que 8 (67%) das 12 famílias pesquisadas possuem casa própria, contra 4 (33%) que não possuem casa própria. Já quanto ao número de cômodos existentes na casa, 5 (42%) apresentam mais de três cômodos, seguido por 4 (33%) com dois cômodos e 3 (25%) com três cômodos. Nas famílias pesquisadas observou-se que em 6 (50%) das residências moram três pessoas (incluindo a criança), seguidas por 4 (33%) onde moram de quatro a sete pessoas e 2 (17%) onde moram de oito a onze pessoas na casa. Sendo que, nestas crianças, quem exerce maior influência é a mãe em 6 (50%) dos casos, seguida por parente em primeiro grau (tias e avós) em 4 (33%) e indivíduo sem grau de parentesco (babá e assistente social) em 2 (17%) dos casos (Fig.2). 64 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SIMÕES, Pamela Paiva Gouveia; VIEIRA, Elisangela Teixeira. Influências do meio socioeconômico e familiar como fator de risco do atraso no desenvolvimento psicomotor: estudo piloto. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Casa Própria Número de Cômodos Dois cômodos 33% Sim 33% 42% Três cômodos Não 67% 25% Mais de três cômodos Figura 2: Distribuição da condição habitacional e número de cômodos. De acordo com o tempo de amamentação, 4 (33%) foram amamentadas durante um período menor do que seis meses, nenhuma das crianças foi amamentada durante um período de sete a doze meses, 3 (25%) foram amamentadas num período entre treze e vinte e quatro meses, 3 (25%) ainda mamam (duas crianças estão com oito meses e uma com seis meses de amamentação), e 2 (17%) não foram amamentadas. Já sobre o tipo de alimentação, 10 (84%) das crianças se alimentam bem, sendo que não têm alimentação específica para a criança, alimentando-se da mesma comida dos adultos, já 1 (8%) só se alimenta do leite materno, sendo que esta criança tem oito meses de idade, e 1 (8%) criança não se alimenta bem, pois está na fase de substituição do leite materno pela alimentação sólida, se negando a comer. 65 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SIMÕES, Pamela Paiva Gouveia; VIEIRA, Elisangela Teixeira. Influências do meio socioeconômico e familiar como fator de risco do atraso no desenvolvimento psicomotor: estudo piloto. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Quanto à idade em que foi diagnosticado o atraso, 6 (50%) das crianças foram diagnosticadas até cinco meses de idade, seguido por 4 (33%) de seis a onze meses e 2 (17%) de doze a vinte e quatro meses. Já quanto à idade em que foi iniciado o tratamento fisioterapêutico, 6 (51%) iniciaram com idade menor do que cinco meses, seguido por 4 (33%) de seis a onze meses, 1 (8%) de doze a vinte e quatro meses e 1 (8%) maior do que vinte e quatro meses. Já quanto à relação com outras crianças, 6 (50%) se relacionam normalmente com outras crianças, seguido de 6 (50%) que não interagem com outras crianças. Quanto ao número de horas que a criança dorme por noite, 6 (51%) dormem de dez a treze horas, seguido por 4 (33%) que dormem de sete a nove horas, 1 (8%) dormem de quatro a seis horas e 1 (8%) não soube informar. Já quanto ao número de crianças que dormem de dia, 6 (50%) dormem de duas a três horas, 2 (17%) dormem até uma hora, 2 (17%) não dormem de dia, 1 (8%) dorme mais de três horas e 1 (8%) não soube informar. Quanto às atividades de lazer, 8 (66%) das crianças não possuem atividade alguma, seguida de 2 (17%) apresentam atividades de lazer apenas com a mãe, e 2 (17%) possuem atividades de lazer com adultos e crianças. Das doze crianças analisadas, nenhuma delas freqüenta qualquer tipo de creche ou colégio, representando 100%. DISCUSSÃO Os países subdesenvolvidos e os países em desenvolvimento concentram a grande maioria das possíveis causas que levam ao atraso no desenvolvimento psicomotor3,4. A falta de recursos sociais e educacionais são fatores de risco que podem contribuir para o atraso no desenvolvimento12. Os níveis de escolaridade materna e paterna do estudo mostram que a maioria dos pais tem nível de escolaridade baixo. Nenhum apresentou grau maior do que o ensino médio completo e, em relação aos pais, o nível de escolaridade foi menor, onde 50% cursaram até a 5ª série, quando comparado ao das mães (42% cursaram da 6ª a 8ª série). Isso sugere que o nível de escolaridade dos pais teve influência sobre o desenvolvimento das crianças estudadas. Quanto à idade dos pais, o estudo não apresentou grau de significância, já que, em geral, os pais tinham idades entre 20 e 30 anos. Quanto à situação funcional paterna, a maioria trabalha informalmente (58%), em relação às mães a grande maioria não trabalha (75%), dedicam se somente ao lar, o que está correlacionado à condição socioeconômica desfavorecida e que pode levar ao atraso. Além disso, a mãe teve o percentual significativo quanto a qual indivíduo exerce maior influência na vida da 66 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SIMÕES, Pamela Paiva Gouveia; VIEIRA, Elisangela Teixeira. Influências do meio socioeconômico e familiar como fator de risco do atraso no desenvolvimento psicomotor: estudo piloto. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ criança (50%), visto que a maioria das mães não trabalha, permanecendo a maior parte do tempo em casa com o lactente. Confirmando que nenhuma das crianças freqüenta creche ou colégio, permanecendo assim, maior tempo em casa. A literatura pesquisada afirma que a estimulação ambiental é um componente crucial para o desenvolvimento psicomotor13. Nas famílias pesquisadas observou-se que em 50% das residências moram três pessoas (incluindo a criança), concluindo que estas crianças não têm irmãos, o que pode estar correlacionado com número de crianças (50%) que não interage com outras crianças. Podendo estar interligado também ao número de crianças que dormem de duas a três horas de dia (50%), já que estas crianças têm poucos estímulos. Observou-se também que a maioria das crianças dorme à noite em torno de 10 a 13 horas (51%) e de dia em torno de 2 a 3 horas, constatando que o número de horas que as crianças passam dormindo é muito extenso. Além disso, a grande maioria das crianças não tem atividades de lazer (66%) e apenas 17% das crianças têm atividades de lazer com outras crianças, o que sugere que a falta de estimulação seja uma das causas do atraso no desenvolvimento psicomotor. A prevenção e a detecção precoce de alterações no desenvolvimento infantil são práticas pouco aplicadas no Brasil, segundo Mastroianni14. Porém, a maioria das crianças incluídas na pesquisa foi diagnosticada com atraso no desenvolvimento psicomotor até cinco meses de idade (50%) e o início do tratamento fisioterapêutico também ficou por volta dessa idade (51%), o que indica que essas crianças tiveram diagnóstico e tratamento não tardio, demonstrando que o Município de Petrópolis fornece uma boa estrutura com relação à saúde infantil. CONCLUSÃO Entre os resultados encontrados, os que mais se destacaram foram relativos ao nível de escolaridade dos pais, a condição socioeconômica e a falta de estimulação dos lactentes incluídas no estudo. Os pais das crianças apresentaram, em sua maioria, nível de escolaridade baixo. Além disso, a maior parte dos pais trabalha informalmente e grande parte das mães não trabalha; o que sugere que essas famílias têm renda familiar baixa. Observou-se que a maioria das crianças estudadas não tem nenhuma atividade de lazer e dorme durante um período muito extenso. Dessa forma, não há estímulos suficientes que possibilitem um desenvolvimento normal. Portanto, este estudo sugere que as causas de atraso no desenvolvimento psicomotor na população estudada foram: a falta de estimulação, baixa escolaridade dos pais e a baixa renda 67 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; SIMÕES, Pamela Paiva Gouveia; VIEIRA, Elisangela Teixeira. Influências do meio socioeconômico e familiar como fator de risco do atraso no desenvolvimento psicomotor: estudo piloto. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ familiar. Entretanto, é necessário dar continuidade à pesquisa, aumentando o número de crianças incluídas, para que se possam ter resultados mais abrangentes e, assim, poder implantar estratégias na comunidade, como um programa de educação na saúde da criança dando ênfase à estimulação essencial e de acompanhamento do desenvolvimento de cada criança. Desta forma podem-se criar estratégias que dêem condições para que estas se desenvolvam normalmente, reduzindo o número de crianças com atraso no desenvolvimento psicomotor encaminhadas aos setores de fisioterapia. Desta maneira, aumentar-se-ia o número de vagas nos serviços públicos especializados, dando lugar a um atendimento otimizado de crianças portadoras de atraso psicomotor de etiologia neurológica ou genética. REFERÊNCIAS 1. TECKLIN, JS. Fisioterapia Pediátrica. Ed Artmed. 3ª ed. Porto Alegre, 2002. 2. SHEPERD, RB. Fisioterapia em Pediatria. Ed Santos. 3ª ed. São Carlo, 1996. 3. 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Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 58-68, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ 12. GRAMINHA, SSV; MARTINS, MAO. Condições Adversas na Vida de Crianças com Atraso no Desenvolvimento. Revista Medicina, Ribeirão Preto. 1997;30(2):259-267. 13. CAON, G; MANSUR, SS; NETO, FR. Avaliação e Intervenção Neuropsicomotora – Estimulação Precoce em Crianças de alto Risco Social. [2004] Disponível em <www.ufmg.br/congrext> Acesso em 09 setembro 2007. 14. MASTROIANNI, ECQ; BOFI, TC; CARVALHO, AC; SAITA, LS; CRUZ, MLS. Perfil do Desenvolvimento Motor e Cognitivo de Crianças com Idade entre Zero e um Ano Matriculadas nas Creches Públicas da Rede Municipal de Presidente Prudente. [2005] Disponível em <www.unesp.br/prograd/pdfne2005/ artigos> Acesso em 24 outubro 2007. 69 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; ABRAHÃO, Natália Sartamento. Abordagem fisioterapêutica em um paciente com neoplasia maligna de encéfalo: relato de caso. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 69-79, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA EM UM PACIENTE COM NEOPLASIA MALIGNA DE ENCÉFALO: RELATO DE CASO Maria do Céu Pereira Gonçalves1; Natália Sarmento Abrahão2 Resumo: O meduloblastoma é um tumor de origem embrionária de natureza maligna, com localização na fossa posterior do Sistema Nervoso Central (SNC), com prevalência no sexo masculino (2:1), sendo mais comum na infância. Estudo relato de um caso de uma criança do sexo feminino, 9 anos com fisiodiagnóstico de hemiparesia direita e paralisia facial à esquerda no pós-cirúrgico, devido há neoplasia maligna do encéfalo do tipo Meduloblastoma; com localização na fossa posterior no SNC, no IV ventrículo, confirmado após Tomografia Computadorizada e Ressonância Magnética. Objetivo: Descrever a atuação da fisioterapia na promoção da qualidade de vida e aquisição da independência para execução das atividades de vida diária. Metodologia: A paciente do estudo foi tratada com intervenção fisioterapêutica baseada no Método Kabat para paralisia facial, e no Conceito Bobath para hemiparesia direita, onde foram realizadas as 3 sessões por semana com a duração de 60 minutos. Resultados: Na primeira avaliação a criança apresentava deficit de equilíbrio que impedia a realização de suas AVDs com independência, não subia e descia escadas sem a ajuda e não corria. Na terceira avaliação a criança apresentou autonomia e independência para realizar as AVDs com leve perda de equilíbrio, corria, descia e subia escadas sozinha. Conclusão: A paciente do estudo mostrou evolução satisfatória com o tratamento fisioterapêutico. As alterações Abstract: The meduloblastoma is a tumor of embryonic origin of malignant nature, with posterior fosse location in Central nervous system (CNS), with prevalence in males (2: 1), but is more common in childhood. Reporting a case study of a female child, 9 years of right hemiparesis with physiotherapy diagnosis and facial paralysis on the left in post surgical, because there are malignant neoplasm of encephalon Meduloblastoma type; with location in IV ventricle, confirmed after computed tomography and magnetic resonance. Objective: To demonstrate the impact of physiotherapy on quality of life and on daily life activities (DLA) in a patient with CNS tumor-related neurological sequelae. methods: ‘The present paper reports a case. The physiotherapeutic intervention was based on the Kabat method for the facial palsy and on the Bobath method for the right hemiparesis. Sixty-minute sessions were performed three times per week. Results: At baseline, the child showed significant imbalance, which preclude the independent execution of DLA. Hence, she was not able to climb or descend stairs or even to run without support. On the third evaluation, although a slight imbalance could be noted, the patient exhibited both autonomy and independence to perform DLA with confidence, and was able to run and to climb and descend stairs by herself. Conclusion: The patient herein described 1 Fisioterapeuta, doutoranda em Pediatria pela UFRJ, docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Estácio de Sá localizada em Petrópolis – RJ. 2 Acadêmica do 8º período do curso de Fisioterapia da Universidade Estácio de Sá, localizada em Petrópolis – RJ. 70 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; ABRAHÃO, Natália Sartamento. Abordagem fisioterapêutica em um paciente com neoplasia maligna de encéfalo: relato de caso. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 69-79, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ motoras apresentadas no inicio do tratamento foram quase totalmente recuperadas. Concluiu-se também que a escolha do modelo de intervenção fisioterapêutica baseado no conceito Bobath e no método Kabat foi adequada porque se observou a recuperação dos padrões motores. Da mesma forma, a promoção da melhora da qualidade de vida, porque se tornou independente, pôde retornar as atividades de lazer, participando ativamente nas brincadeiras. Palavras-Chave: Hemiparesia, Meduloblastoma, Maligna do Encéfalo. Neoplasia showed a satisfactory outcome after physiotherapy. The initial motor abnormalities were almost totally recovered. It is also concluded that the choice of the Kabat and the Bobath methods as bases for the physiotherapeutic interventions was an adequate choice, since it was possible to observe the recovery of motor patterns. In addition, by resuming outside play activities, a significant improve in quality of life was noted. Keyword: Hemiparesis, Medulloblastoma, neoplasm of malignant brain. INTRODUÇÃO O meduloblastoma é um tumor de origem embrionária de natureza maligna, com localização na fossa posterior do Sistema Nervoso Central (SNC), com prevalência no sexo masculino (2:1), sendo mais comum na infância1,2,3,4. O meduloblastoma afeta cerca de 15% das crianças, ocorre em geral no cerebelo5. Apresenta maior incidência entre cinco e sete anos de idade, com manifestação rara entre adultos quando ocorre, predomina entre a 3ª e 5ª década de vida6. O tumor interfere não só no desenvolvimento escolar como também na própria qualidade de vida da criança, ocasionando déficit de aprendizado, queixa de cansaço, distúrbio do comportamento7. Apresentando como sinal inicial à pressão intracraniana imposta pelo tumor1,2,3,4. A agressividade deste tumor é bastante alta. São tumores sólidos, friáveis e infiltram o parênquima cerebelar, geralmente no vérmis, invadem o espaço aracnóide disseminando-se para a via liquórica, leva a metástase cerebelar e intra-raquidiana4,8. O meduloblastoma pode ser ocasionado por comprometimento direto da lesão tumoral com infiltração ou compressão local e hipertensão intracraniana pelo efeito de massa tumoral ou hidrocefalia, ocasionando neste caso: cefaléias matinais, convulsões, vômitos e letargias. Os tumores infratentoriais causam déficit de equilíbrio, alteração da coordenação motora, ataxia, tremores de extremidades, tontura, nistagmo, visão dupla e torcicolo, geralmente fica irritada e letárgica, podendo apresentar alterações da personalidade e do comportamento7,9,5. Os tumores supratentoriais têm como sinais e sintomas: cefaléia seguida por 71 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; ABRAHÃO, Natália Sartamento. Abordagem fisioterapêutica em um paciente com neoplasia maligna de encéfalo: relato de caso. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 69-79, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ convulsões, hemiparesia, hiperreflexia, clônus e alterações sensitivas. A invasão para o tronco encefálico pode levar as alterações ou a paralisia dos nervos cranianos5,7,9. O meduloblastoma pode causar mutismo, que é uma complicação benigna e raramente observada após cirurgias na fossa posterior, caracterizado por disfagia e dificuldade para falar. Não apresenta perda da consciência, causada por lesão supranuclear de nervos cranianos. Este tipo de mutismo é distinto da paralisia pseudobulbar10. O tratamento deste tumor inclui secção cirúrgica, se possível, com o objetivo de remover o máximo do tumor sem danificar os tecidos ao seu redor. São raros os casos de secção total do tumor. A cirurgia costuma ser seguida de radiação, pois o meduloblastoma é muito radiossensível. Metástase pode ocorrer por meio das meninges e áreas envolvidas fora do SNC3,4,5,7 A radiação no crânio para tratamento ontológico do meduloblastoma na infância pode comprometer a área do hipotálamo – hipofisária, levando ao hipopituitalismo, que consiste na diminuição ou cessação da secreção da glândula hipofisária anterior, incluindo os hormônios LH, LSH, somatotropina e corticotropina. Pode resultar da ablação cirúrgica ou de radiação, neoplasias hopofisárias não secretoras, tumores com metástase. Geralmente o hopopituitalismo ocorrer entre seis a dezoito meses após o início do tratamento oncológico1. As alterações endócrinas incluem hipotiroidismo, déficit do hormônio do crescimento (GH) e da gonadotrofina. Das seqüelas neuroendócrinas o mais freqüente é o déficit de GH, ocorrendo em 45% dos pacientes sem outras deficiências hormonais hipofisárias1. Altas doses de radiação na medula espinhal podem ocasionar lesões nos órgãos adjacentes como: hipotiroidismo, desenvolvimento de neoplasias secundárias e hipoplasia da mandíbula. Neste caso, o paciente submetido à radiação do crânio deve ser monitorado com dosagens hormonais de FSH, LH, estradiol, testosterona, TSH, T4 livre, cortisol plasmático, prolactina e, quando necessário, realizar testes para comprovar o déficit do GH1. A radioterapia pode apresentar efeitos adversos que podem ser precoces, aparecendo por volta de seis semanas de tratamento, ocorrendo alopécia transitória ou permanente, dermatite actínica, otite externa ou média aguda secretora, déficit auditivo, mielossupressão que consiste na supressão da função de produção de células sanguíneas da medula óssea7. Em torno de seis a oito meses de tratamento podem ocorrer os sintomas da desmielinização temporária com letargia e cefaléia. Podem ocorrer efeitos tardios como: danos à substância branca, radionecrose em 1% dos casos, disfunções endocrinológicas, auditivas e cognitivas, neoplasias secundárias como: tumores de partes moles, meningiomas, tumores de 72 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; ABRAHÃO, Natália Sartamento. Abordagem fisioterapêutica em um paciente com neoplasia maligna de encéfalo: relato de caso. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 69-79, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ tireóide7. Dentre os distúrbios neuromusculares apresentados pelo desenvolvimento do tumor, sinais de déficit de equilíbrio, falta de força muscular, encurtamento muscular, ataxia, hemeparesia, disfagia e paralisia de nervos cranianos. Estes sinais podem ser tratados pela fisioterapia7,9. O objetivo deste estudo é demonstrar a atuação da fisioterapia na promoção da qualidade de vida e aprimoramento das atividades de vida diária, após secção do tumor meduloblastoma. MATERIAIS E MÉTODOS RELATO DE CASO O presente estudo foi realizado através do relato de caso de MSV, nascida na data de 13 de Fevereiro de 1999, apresentando o fisiodiagnóstico de hemiparesia direita com paralisia facial esquerda, com diagnóstico clínico de Neoplasia Maligna do Encéfalo localizado na fossa posterior ocupando o IV ventrículo, do tipo meduloblastoma, confirmado pelos exames de tomografia computadorizada e ressonância magnética. Foi encaminhada para o INCA e no dia 06 de Abril de 2005 onde realizou a cirurgia para retirada do tumor. A paciente começou os atendimentos na Clínica da Fisiopetrópolis no período de 03 de Maio de 2006 a 14 de Fevereiro de 2008, as sessões de fisioterapia foram realizadas três vezes por semana com duração de sessenta minutos em cada atendimento. Iniciou o tratamento em fisioterapia e fonoaudiologia. No primeiro atendimento fisioterapêutico passou por uma avaliação física, onde apresentou déficit de equilíbrio não conseguindo realizar suas atividades de vida diária sem auxilio de uma segunda pessoa. Durante a avaliação a mãe relatou que o avô paterno faleceu com leucemia, o tio paterno apresentou um tumor no fígado. A mãe nega qualquer patologia pregressa da paciente em questão e não relatou nenhuma doença associada ao tumor. MSV é filha única, no momento da avaliação cursava a 1ª série. Ia freqüentemente ao Rio de Janeiro, onde realizava consultas e tratamento periódico para acompanhamento do póscirúrgico. O tratamento fisioterapêutico foi interrompido no dia 14 de fevereiro de 2008, devido a reincindiva do tumor, levando a paciente a ser internada para tratamento oncológico de 73 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; ABRAHÃO, Natália Sartamento. Abordagem fisioterapêutica em um paciente com neoplasia maligna de encéfalo: relato de caso. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 69-79, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ radioterapia. INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO No presente estudo, foram utilizados os seguintes instrumentos de avaliação: a) Anamnese segundo informações colhidas da mãe da paciente, consistindo em 14 itens: nome da paciente data de nascimento, naturalidade, diagnóstico clínico, diagnóstico fisioterapêutico, exames complementares, queixa principal, história da doença atual, história da patologia pregressa, história familiar, história social, se a paciente apresenta doenças associadas ao tumor, cirurgias e fraturas anteriores e medicamentos em uso. b) Exame Físico consistiu em 10 itens: marcha, amplitude de movimento, força muscular, tônus muscular, coordenação motora, sensibilidade, deformidades, avaliação neurofuncional, atividades de vida diária (AVDs) e fala. Utilizou-se o protocolo de avaliação da Clinica Escola do curso de Fisioterapia da Universidade Estácio de Sá – Fisiopetrópolis - em Petrópolis no estado do Rio de Janeiro, após o aceite da mãe da criança conforme o Termo de Consentimento livre e esclarecido em atendimento à resolução 196/ 96 do CNS. A avaliação foi precedida da anamnese com observações feitas desde o momento que a criança adentra na sala de avaliação. Foram realizadas mobilizações passivas para detectar a presença ou não de bloqueios articulares, encurtamentos e contraturas. Foi utilizada a tabela de teste de força muscular de Kendall11, para verificar o grau de força muscular no membro superior e inferior do dimídio esquerdo. Foram realizados testes de sensibilidade superficial e profunda e avaliação neurofuncional. Foi analisado o tipo de fala no momento em que a paciente interagia com seu terapeuta. INSTRUMENTO DE TRATAMENTO De acordo com a avaliação foram utilizados os seguintes instrumentos de tratamento. Método Kabat facial e Conceito Bobath para o comportamento motor global e equilíbrio. 74 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; ABRAHÃO, Natália Sartamento. Abordagem fisioterapêutica em um paciente com neoplasia maligna de encéfalo: relato de caso. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 69-79, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ PROCEDIMENTO DE TRATAMENTO Método Kabat Execução dos movimentos em toda a sua extensão; facilitação da musculatura da face; movimentos bilaterais para recuperação da simetria facial; facilitação por meio do reflexo de estiramento; correção da resistência. Com objetivos de correção da extensão ativa do movimento; diminuição dos sintomas de fadiga muscular; apoio do movimento na direção correta12. Conceito Bobath Ativação das reações de equilíbrio; transferência de peso corporal nas diversas posturas e facilitação para as mudanças de posturas. Aumentar o controle postural; simetria do corpo; alongamento; propriocepção; estimulação da reação de extensão protetora dos braços; controle sobre a rotação de tronco; trabalho de dissociação de cintura pélvica e escapular. Com objetivo de modificar os padrões anormais de movimento através da inibição dos padrões anormais de movimento com a facilitação simultânea dos padrões normais13. RESULTADOS Os resultados obtidos estão demonstrados na Tabela 1 que apresentará a síntese das três avaliações realizadas durante o período de atendimento da criança na clínica. Período Tabela 1: Apresenta os resultados das avaliações realizadas durante o tratamento. 1º AVALIAÇÃO 2º AVALIAÇÃO 3º AVALIAÇÃO 03-05-06 Queixa Principal (QP) Deficit de equilíbrio nas AVDs. Tônus Muscular Movimentos Involuntários Fala Espasticidade leve. Tremores em MMSS e MMII. Disartria com dificuldade de compreensão. 20-03-07 13-11-07 Corre, mas ainda perde o equilíbrio e precisa de auxilio para subir e descer escadas. Espasticidade leve. Tremores em MMSS e MMII. Corre quando brinca, desce e sobe escada e anda de patineti. Espasticidade leve. Tremores em MMSS e MMII. Disartria com melhor compreensão. Disartria com facilidade de compreensão. Sensibilidade Preservada Preservada Preservada Superficial e Profunda Legenda: MMSS: membros superiores, MMII: membros inferiores, AVDs: atividades de vida diária. 75 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; ABRAHÃO, Natália Sartamento. Abordagem fisioterapêutica em um paciente com neoplasia maligna de encéfalo: relato de caso. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 69-79, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ De acordo com os resultados obtidos podemos observar que no decorrer do tratamento fisioterapêutico a paciente apresentou a aquisição do controle motor para a independência na realização das atividades da vida diária. Assim como também, melhora na qualidade de vida, porque voltou a brincar com independência (Tab. 1). Na Tabela 2 estão descritos os resultados obtidos em relação à coordenação motora, atividades de vida diária (AVDs), amplitude de movimento (ADM) e análise da marcha. Tabela 2: Apresenta os resultados das avaliações realizadas durante o tratamento com relação à coordenação motora, AVD, amplitude de movimento e analise da marcha. Período 1º AVALIAÇÃO: 03-05-06 2º AVALIAÇÃO: 20-03-07 3º AVALIAÇÃO: 13-11-07 Coordenação Motora: Grosseira preservada. Fina alterada. Atividades de Vida Realiza as AVDs com auxilio de uma 2ª pessoa, tem Diária (AVDs): dificuldade para deambular devido o déficit de equilíbrio. Grosseira preservada. Fina pequena alteração. Grosseira preservada. Fina com mínima alteração devida os tremores. Realizada as AVDs com mais Realizada as AVDs sem segurança. Realiza as auxilio de uma segunda atividades mais complexas pessoa. com dificuldade. Encurtamento em MID Encurtamento em MID Encurtamento em MID Amplitude de (Ísquios Tibiais). (Ísquios Tibiais). movimento (ADM) (Ísquios Tibiais). Encurtamento de MSD (peitoral maior). Cabeça protusa, MSD Cabeça protusa, MSE com Analise da marcha: Tronco fletido, cabeça protusa, MSD semifletido, semifletido, MSE postura postura normal, MID com MSE postura normal, normal, mínima elevação uma imperceptível flexão de elevação pélvica de ilíaco pélvica do ilíaco direito joelho e marcha independente direito e rodado para tras; durante a marcha ativa, MID com base alargada. marcha com apoio e base com flexão de joelho e alargada, MID com flexão de marcha com apoio base joelho e dorsifexão. alargada. Legenda: MSD: membro superior direito. MSE: membro superior esquerdo. MID: membro inferior direito. MIE: membro inferior esquerdo. AVDs: atividades de vida diária. ANÁLISE DA FORÇA MUSCULAR (TABELA DE KENDALL) Os resultados obtidos serão demonstrados na Tabela 3 que apresentará a síntese das três avaliações relativas ao teste de força muscular de Kendall realizadas durante o período de atendimento da criança na clinica. De acordo com os resultados demonstrados na Tabela 3, podemos observar que no decorrer do tratamento fisioterapêutico a paciente apresentou uma melhora significativa nos resultados do teste de força muscular. 76 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; ABRAHÃO, Natália Sartamento. Abordagem fisioterapêutica em um paciente com neoplasia maligna de encéfalo: relato de caso. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 69-79, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ Tabela 3: Apresenta os resultados do teste de força muscular. 1º AVALIAÇÃO 03-05-06 2º AVALIAÇÃO 20-03-07 3º AVALIAÇÃO 13-11-07 Esquerdo Esquerdo Esquerdo Movimento de extensão de ombro. 2+ 2+ 4+ Movimento de flexão de ombro 2+ 3 4 Esquerdo Esquerdo Esquerdo Movimento de Extensão de joelho 3 3+ 4+ Movimento de Flexão de joelho 3- 3+ 4+ 3 3+ 4+ Membro Superior Membro Inferior Flexão de Tronco PARALISIA FACIAL EM HEMIFACE ESQUERDA Foi observado que a paciente apresentava um desvio acentuado no músculo orbicular do olho esquerdo, impedindo de fechar o olho por completo. No decorrer do tratamento a paciente fechava o olho esquerdo com facilidade, na terceira avaliação o olho esquerdo fechava por completo. Foi trabalhado ao longo do tratamento o músculo risório. Na primeira avaliação apresentava pouca eficiência. No decorrer do tratamento na ultima avaliação, o músculo apresentava função recuperada dando a possibilidade à paciente de sorrir simetricamente. O zigomático maior e menor, a paciente apresentava assimetria e no decorrer de todo o tratamento apresentou a função preservada. Em relação o músculo depressor do ângulo da boca e depressor do lábio inferior, a paciente apresentava assimetria notável, com o decorrer do tratamento foi possível chegar à simetria do mesmo. O músculo bucinador apresentava-se ineficiente, vindo há ter sua função preservada na ultima avaliação realizada. Os músculos occiptofrontal, corrugador e prócero mantiveram-se com usa atividade preservada desde o inicio do tratamento. DISCUSSÃO A paciente do relato de caso, após a cirurgia de secção parcial do tumor apresentou seqüelas de paralisia facial em hemiface esquerda devido à lesão de nervos cranianos; fala com disartria e dificuldade de compreensão evoluindo para uma fala com disartria e facilidade de compreensão; déficit de equilíbrio era um fator importante que levava a marcha com apoio e base alargada evoluindo para marcha sem apoio, porém ainda apresentava base alargada. No primeiro momento a paciente queixava de constante perda de equilíbrio, não 77 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; ABRAHÃO, Natália Sartamento. Abordagem fisioterapêutica em um paciente com neoplasia maligna de encéfalo: relato de caso. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 69-79, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ conseguindo deambular sem apoio, subir e descer escada sozinha. Com o decorrer do tratamento podemos perceber que a mesma já realizava suas atividades de vida diária e atividades de lazer com autonomia e independência. O tônus muscular e os movimentos involuntários mantiveram-se com espasticidade leve e movimentos involuntários, apresentando tremores de extremidades. No curso das avaliações a paciente apresentou um encurtamento em Ísquios tibiais em MID e apresentou na primeira avaliação um encurtamento de peitoral maior em MSD, não vindo a apresentar o mesmo encurtamento nas seguintes avaliações. Segundo o teste de força muscular de Kendall, os resultados obtidos com a evolução do tratamento fisioterapêutico foram satisfatórios e a paciente apresentou melhora significativa nos resultados atingindo grau 4+ no braço e na perna hemipareticos. A mesma apresentou dificuldade unilateral direita dos movimentos da prova index-nariz em função da hemiparesia direita e tremores em MMSS e MMII existentes no decorrer do tratamento. O tratamento foi interrompido por conseqüência de uma reincindiva constatada por novos exames de ressonância magnética e tomografia computadorizada, de tumor em hemisfério direito e invasão da medula espinhal causando metástase da mesma. Os pacientes descritos por Silva et al10 apresentaram mutismo cerebelar transitório; no primeiro caso a paciente era do sexo feminino, apresentou no primeiro momento dificuldade para deambular e hidrocefalia. A mesma apresentou seqüelas de paresia bilateral do nervo facial e do nervo abducente direito, falava embora com disartria evoluiu para normalidade, com ataxia em membro superior direito, moderada ataxia da marcha. No segundo caso descrito por Silva et al, sexo femenino apresentando os sinais de perda de peso, disartria, marcha atáxica. A mesma apresentava seqüelas de paralisia do véu palatino, marcha atáxica, decomposição bilateral dos movimentos da prova index-nariz; a paciente não conseguia falar após a cirurgia, apresentou mutismo durante três semanas, voltando a falar com disartria. Pode ser constatada presença de recidiva do tumor no cerebelo e no tronco cerebral. Estes sinais se manifestaram neste estudo de caso, assim como também a recidiva. De acordo com Goldberg1 a radiação no crânio para tratamento oncológico pode causar seqüelas neuroendócrinas, sendo deficiência do GH com retardo do crescimento linear. O paciente descrito era do sexo masculino, com idade de dez anos, com sinais e sintomas de cefaléia constante, vertigens, náuseas, vômitos, déficit da força em dimídio direito, marcha com desvio para direita. Diferente dos demais pacientes citados anteriormente e da paciente do relato de caso era do sexo feminino. O paciente foi submetido à radioterapia e aos dez anos de idade foi constatado o déficit de GH, devido o retardo de crescimento pela sua faixa etária e sexo. A paciente do relato de caso não 78 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; ABRAHÃO, Natália Sartamento. Abordagem fisioterapêutica em um paciente com neoplasia maligna de encéfalo: relato de caso. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 69-79, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ apresentou o déficit de crescimento, tendo sua linha de crescimento linear normal em todo o tratamento. Segundo Reis et al,6 dos vinte oito pacientes analisados vinte e dois eram do sexo masculino e seis do sexo feminino. Com recidiva tumoral em um total de 21% dos pacientes, que representa seis pacientes, em quatro anos de seguimento clínico. A paciente em questão apresentou recidiva em torno de quatro anos após a secção do tumor, assim como os 21% dos pacientes descritos por Reis e colaboradores. CONCLUSÃO Com base nos resultados do presente estudo pode-se observar que a fisioterapia teve papel importante na qualidade de vida da paciente descrita no relato de caso, em função das possíveis complicações motoras decorrentes da lesão tumoral e/ou cirúrgica. A paciente mostrou evolução satisfatória com o tratamento fisioterapêutico e as alterações motoras apresentadas no inicio do tratamento foram recuperadas como mostram os resultados da pesquisa. Podemos observar que a escolha do modelo de intervenção fisioterapêutica baseado no Conceito Bobath, que teve como objetivo recuperar grande parte do equilíbrio, com isso melhorar a deambulação, aperfeiçoar as mudanças de postura e a reação de proteção de equilíbrio, minimizando encurtamentos musculares; o uso do Método Kabat foi adequado porque foi possível obter a recuperação dos padrões motores da face, com simetria da mímica facial e o bom funcionamento de todos os músculos envolvidos na mesma. Houve a promoção da melhora na qualidade de vida da criança que se tornou independente, principalmente porque pôde retornar às atividades de lazer, participando ativamente nas brincadeiras e tendo mais segurança para realizar todas as atividades propostas. A paciente mostrou melhora em todos os seus padrões motores, minimizando o déficit de equilíbrio dando condições a paciente de deambular sem apoio ou sem ajuda de uma segunda pessoa; melhorando o seu grau de força muscular e realizando suas AVDs com mais segurança e independência. Houve melhora da fala, devido ao acompanhamento com o fonoaudiólogo que esteve presente no decorrer do tratamento. 79 GONÇALVES, Maria do Céu Pereira; ABRAHÃO, Natália Sartamento. Abordagem fisioterapêutica em um paciente com neoplasia maligna de encéfalo: relato de caso. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 69-79, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ REFERÊNCIAS 1. GOLDBERG TBL; RODRIGUES MAM; TAKATA RT; NOGUEIRA CR; FALEIROS ATS. Deficiência de hormônio do crescimento após radioterapia por meduloblastoma na infância relato de caso. Arq. Neuro-Psiquiatria, São Paulo; 2003;61. 2B. 2. PRADO, RAMOS, VALLE. Atualização terapêutica. São Paulo: Editora Artes Médicas LTDA, 1999. 3. TECLKIN JS. Fisioterapia pediátrica. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. 4. ROTTA NT; OHLWEILER L; RIESGO RDOSS. Neuropediatria, São Paulo: Artmed, 2005. 5. RATLIFFE KT. Fisioterapia na clínica pediátrica. Guia para equipe de fisioterapeutas. São Paulo: Livraria Santos, 2002. 6. REIS FILHO JS; GASPARETTO EL; FAORO LN; ARAÚJO JC; TORRES LFB. Meduloblastoma: achados clínicos, epidemológicos e anátonomo-patológicos de 28 casos. Textos científicos SCIELO, Arquivos de Neuropsiquiatria; 2000; 58(1): 76-80 . www.scielo.br. Publicado na internet em 05/03/2008. 7. LIMA ER; FONSECA KC; CAVANI E; RODRIGUES K. Tumores do sistema nervoso central em oncologia pediátrica. Considerações Gerais. Textos Científicos Sociedade Mineira de Pediatria. www.smp.org.br. Publicado na internet em 30/09/2005. 8. ROSEMBERG S. Neuropediatria. São Paulo: Editora Savier, 1998. 9. STOKES M. Neurologia para fisioterapeuta. São Paulo: Editorial Premier, 2000. 10. SILVA JRG; ATAYDE SA; BRITO JCF; NÓBREGA PV; NEVES VD. Mutismo cerebelar transitório - Relato de dois casos. Arq. Neuro-Psiquiatria, São Paulo; 1999; 57(4):1011-1016. 11. KEENDALL, CREARY, PRONANCE. Músculos provas e função. São Paulo: Editora Manole, 4º edição. 1995. 12. RICHEL, HILDE SABINE. Método kabat–facilitação neuromuscular proprioceptiva. São Paulo: Editora Premier, 1998. 13. BOBATH, BERTA. Hemiplegia no adulto. São Paulo: Editora Manole, 1978. 80 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ PROPOSTA PEDAGÓGICA DE ACORDO COM O PERFIL DOS ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM DE UMA UNIVERSIDADE PARTICULAR DE GOIÂNIA – GO Sue Christine Siqueira1, Silvana L. V. Santos2, Ângela Cristina Bueno Vieira3 Resumo: Abstract: Este artigo teve como objetivo estudar as práticas pedagógicas da atualidade e traçar o perfil do acadêmico de enfermagem do 1º período de uma universidade particular de Goiânia – GO, para propor uma prática que se adequa a este perfil. Para isso, foi realizada uma pesquisa descritiva com abordagem quantitativa com base em dados / arquivo. Dentre os resultados pode-se verificar que os acadêmicos são na maioria jovem entre 16 e 20 anos(44%), do sexo feminino (86%), moram com os pais (44%) e dentre outros fatores, escolheu o curso por gostar (57%) e por acreditar num futuro melhor (37%). Diante deste perfil a prática pedagógica que mais se adequa é a Problematização, por estruturar o acadêmico no momento social, inseri-lo no meio , com atitudes críticas e inovadoras. This article had as objective studies the pedagogic practices of the present time and to trace the academic's of nursing of the 1st period of an university peculiar of Goiânia profile - GO, to propose a practice that is adapted to this profile. For that, a descriptive research was accomplished with quantitative approach with base in data / file. Among the results it can be verified that the academics are in most young between 16 and 20 years (44%), of the feminine sex (86%), they live with the parents (44%) and among other factors, he/she chose the course for liking (57%) and for believing in a better future (37%). before this profile the pedagogic practice that more she adapt it is Problematizacion, for structuring the academic in the social moment, to insert him/it in the middle, with critical and innovative attitudes. Palavras chaves: prática pedagógica, perfil, acadêmico, enfermagem. 1 Key words: pedagogic practice, profile, academic, nursing. Enfermeira especialista docente da Faculdade Estácio de Sá. Enfermeira Ms. Enfermagem da Universidade Salgado de Oliveira Goiânia-Go. 3 Enfermeira Ms. Coord. do curso de enfermagem da Universidade Salgado de Oliveira Goiânia-Go. 2 81 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ INTRODUÇÃO O ensino sofre modificações de acordo com o momento histórico e não poderia ser diferente nos cursos de enfermagem. Inicialmente, estes foram criados para atender às necessidades emergenciais, como na guerra, para atender estrangeiros e doentes mentais. No início do séc. XX, na década de 20 as escolas passaram a preparar o estudante na teoria e prática. Sendo a Escola de Enfermeiras D. Ana Néri a primeira a preconizar a Enfermagem Moderna (TEIXEIRA, 2006). Mediante a importância da formação de enfermeiras para a nossa sociedade, a Lei nº 775 de 06/08/49 tornou obrigatória a existência de cursos de enfermagem em todo centro universitário e/ou faculdades de medicina. São inegáveis os avanços ocorridos no curso de enfermagem ao longo dos anos, perpassando por interesses políticos, Leis de Diretrizes e Bases, Reformas Universitárias, mudanças na grade e conteúdo programático, carga horária, Conferências Nacionais de Saúde, Constituições Federais, até as Diretrizes Curriculares Nacionais para curso de graduação em Enfermagem (DCENF) (BRASIL, 2001). Fernandes (2006) relata que há muitos desafios para a implantação/implementação das DCENF, pois implica mudança de paradigmas, fazer rupturas em práticas e crenças internalizadas. Implica, pois, no grande desafio que é o de formar enfermeiros(as) com competência técnica e política, como sujeitos sociais dotados de conhecimento, de raciocínio, de percepção e sensibilidade para as questões da vida da sociedade. Piotroni (1988) citado por Fernandes (2006) relata que ainda com as transformações contundentes sabe-se que o modelo de ensino na saúde é inegavelmente positivista, dualista, reducionista e mecanicista, herdado da história,proveniente da separação entre a igreja e ciência ocorrida no séc.XVI iniciada com as idéias de Galileu e apoiados incondicionalmente por Isaac Newton e Descartes. Partindo dessa premissa, Teixeira e Vale (2006) propõem pensar sobre as condições das dicotomias, como teoria/prática e ensino/aprendizagem e rever articulações de poder e revelar alternativas, como ensino/pesquisa e ensino/extensão. Para isso, é importante verificar aspectos potencializadores do modo de ensinar e aprender tendo como referência a cultura e o local de inserção do curso e como princípio norteador a construção de conhecimento. Por meio da vivência acadêmica, percebemos a diversidade sócio-econômica-cultural entre os alunos do curso de enfermagem suscitando a necessidade e desejo de conhecer as práticas pedagógicas existentes a fim de verificar a mais adequada ao perfil desses acadêmicos. 82 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Sabe-se que a prática pedagógica preconizada em uma instituição deve atender ao perfil dos acadêmicos. No entanto, é importante identificá-lo durante seu ingresso à universidade e sugerir uma prática pedagógica a fim de possibilitar melhor desenvolvimento individual e no ensino/aprendizagem. Segundo Sordi (2006) é dever da Instituição de ensino e dos docentes assumirem com ética os graduandos e formá-los com pretensão crítica, isolando o tecnicismo, mudando a forma de ensinar e aprender saúde, produzindo transformação. Com este pressuposto, Waldow (2005) sugere um ensino centrado no desenvolvimento do pensamento crítico, flexível às necessidades e características dos acadêmicos. Para esta mesma autora, um dos problemas relacionados ao pensamento crítico, refere-se à falta de uma definição clara em sua aplicação na enfermagem, observado pelas múltiplas interpretações veiculadas, causando confusão entre docentes, estudantes, enfermeiros e pesquisadores. Este pensamento se dá através de alguns aspectos, como atividades produtivas e positivas, sendo um processo e não resultado. O perfil do acadêmico de enfermagem poderá auxiliar na elaboração de uma prática pedagógica que mais se adeque a eles. A participação ativa do educando no processo ensinoaprendizagem é essencial para obtenção de resultados, por isso faz-se necessário conhecer as práticas pedagógicas. O objetivo deste artigo é traçar o perfil do acadêmico de enfermagem a fim de propor uma prática pedagógica que mais se adeque a ele. MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de um estudo descritivo com abordagem quantitativa. Segundo Polit e Hungler (1995) citado por Murta (2006) os estudos descritivos são apresentações com ou sem hipóteses, das características específicas de uma situação com enfoque fundamental na exatidão, num planejamento de pesquisa em situação de vida real, para aumentar o conhecimento do pesquisador sobre o que deseja investigar. Por outro lado, o estudo quantitativo enfatiza o raciocínio lógico, as regras da lógica e os atributos mensuráveis da experiência humana, utilizando procedimentos estruturados e instrumentos formais para a coleta de informações de forma objetiva, analisando os dados estatisticamente. A fim de garantir o cumprimento das questões éticas em pesquisa, o estudo foi submetido à autorização da coordenação do curso de enfermagem da universidade particular, sendo 83 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ que a mesma realiza uma entrevista por meio de questionário no início de cada semestre letivo a fim de levantar o perfil dos acadêmicos que ali ingressam. Os sujeitos da pesquisa foram duzentos e trinta (230) acadêmicos de enfermagem que responderam ao questionário ao ingressarem na universidade particular em questão no ano de 2007. A tabulação foi realizada entre agosto e outubro de 2007. Para obter as informações necessárias para traçar o perfil e propor um método de ensino mais adequado, foram escolhidos 9 (nove) itens mais relevantes do questionário, composto por 18 questões, para a pesquisa, como o sexo, faixa etária, estado civil, componentes da residência, se possui trabalho remunerado, se tem ou não outro urso profissionalizante, qual o período que está matriculado, o porquê da escolha do curso e expectativas sobre o mesmo, dados estes que permitiram traçar o perfil do acadêmico de enfermagem. Os dados foram apresentados por meio de tabelas, gráficos, figuras e analisados à luz das teorias pedagógicas com o objetivo de sugerir uma prática educativa que atenda as necessidades destes acadêmicos. . RESULTADOS O número de alunos matriculados no ano de 2007 foi de 333 alunos no curso de enfermagem em 2007, dos quais 253 no 1º semestre e 80 no 2º semestre de 2007 e destes 230 (69%) acadêmicos de enfermagem do 1º período responderam ao questionário. A maioria dos acadêmicos é do sexo feminino (198/86%), tem entre 16 a 20 anos (101/44%), mora com os pais (101/44%), solteira (191) (83%), possui trabalho remunerado (121/52%), tem curso profissionalizante (101/44%), estuda no período noturno (125/54%), escolheu o curso porque gosta e admira a profissão (137/57%) e deseja um futuro melhor em todos os aspectos (89/37%). Quanto à distribuição por sexo há mais mulheres (198/86%) ingressando no curso de enfermagem que homens (33/14%), conforme Figura1. Segundo estudos de Wetterich e Melo (2007), perpetua ainda um preconceito à profissão de enfermagem por ser historicamente uma profissão feminina, porém em estudo realizado pela USP Ribeirão Preto 2000, revela que houve um movimento no interesse de jovens e a quebra de preconceitos aumentando o número de homens na enfermagem. 84 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ 14% / 33 86% / 198 Masculino Feminino Figura 1 - Distribuição de freqüência dos acadêmicos do 1º período do curso de enfermagem de acordo com sexo, Goiânia, 2007. A faixa etária de maior concentração de alunos entrevistados está entre 16 e 20 anos (101/44%), seguida da faixa etária de 21 a 30 anos (100/43%), caracterizando uma maioria de acadêmicos concentrada na fase adulto jovem (Figura 2). Wetterich e Melo (2007) relatam em seu artigo que muitos autores consideram a idade entre 18 e 20 anos como o final da adolescência, fase essa propícia à tomada de decisões tornando-o capaz de ser responsável por suas atitudes e trabalho. 85 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ 50% 45% 43% / 100 44% / 101 40% 35% 30% 25% 20% 15% 11% / 24 10% 1% / 3 5% 1% / 2 0% 16-20 21-30 31-40 41-50 > 51 Figura 2 – Distribuição da freqüência dos acadêmicos do 1º período de enfermagem por faixa etária, Goiânia, 2007. A Figura 3 mostra que 101acadêmicos (44%) ainda vivem sob tutela dos pais, 24 moram sozinhos (10%), 5 em pensão (2%), o que pode significar que um número reduzido de acadêmicos deixa sua residência para cursar universidade. Outros 34 / 15% Pensão 5 / 2% Amigos 40 / 17% Sozinho 24 / 10% Cônjuge 27 / 12% Pais 101 / 44% 0 20 40 60 80 100 120 Figura 3 – Distribuição da freqüência dos acadêmicos de enfermagem do 1º período de acordo com os componentes da residência, Goiânia, 2007. 86 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Quanto ao estado civil (Figura 4) 191 (83%) apresentavam-se solteiros ao ingressarem na universidade. Dos demais, 28 (12%) eram casados. É importante relacionar estes dados à estruturação do curso, mesmo não sendo integral exige muitos dos alunos e os estágios estão distribuídos pelos períodos da manhã, tarde e noite, o que dificulta para o indivíduo casado. 5% / 12 12% / 28 Solteiro Casado Outros 83% / 191 Figura 4 – Distribuição da freqüência dos acadêmicos de enfermagem do 1º período quanto ao estado civil, Goiânia, 2007. Na Figura 5 não há uma grande diferença entre acadêmicos de enfermagem que possuem trabalho remunerado (121/ 52%) dos que não possuem (110/48%), pois nesta universidade particular de Goiânia-Go o indivíduo pode se matricular em qualquer período, o que diferencia do perfil do acadêmico de universidade integral. 48% / 110 52% / 121 Sim Não Figura 5 – Distribuição da freqüência dos acadêmicos de enfermagem do 1º período que possuem trabalho remunerado, Goiânia, 2007. 87 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Já em relação a ter ou não um curso profissionalizante 95 (41%) acadêmicos de enfermagem do 1º período de enfermagem já fez curso profissionalizante de técnico em enfermagem, como mostra Figura 6. Já por outro lado 101(44%) acadêmicos fizeram outros cursos profissionalizantes, incluindo curso da área da saúde e outros, como cabeleireira. 120 101 / 44% 100 95 / 41% 80 60 40 23 / 10% 20 11 / 5% 0 Técnico em enfermagem Magistério Contabilidade Outros Figura 6 – Distribuição da freqüência dos acadêmicos de enfermagem que já tenham feito curso profissionalizante, Goiânia, 2007. Em pesquisa realizada em 28 escolas de enfermagem do Estado de São Paulo a maioria dos acadêmicos que trabalhava era das várias categorias de enfermagem e na visão de Tavares e colaboradores (1995) eles tentam melhorar as atividades profissionais e querem reconhecimento profissional, pois essas categorias são pouco valorizadas e mal remuneradas. (WETTERICH e MELO, 2007). Um dos fatores importantes para traçar o perfil do acadêmico é verificar o período em que estuda (Figura 7). Em 2007 a maioria está matriculada no período noturno 125 (54%). Ao analisar os dados os acadêmicos que estudam no noturno são os mesmos que têm trabalho remunerado. 88 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ 46% / 106 54% / 125 0% Manhã Tarde Noite Figura 7 – Distribuição da freqüência dos acadêmicos de enfermagem do 1º período por turno matriculado, Goiânia, 2007. É importante ressaltar o motivo que levou à escolha do curso. O motivo mais relevante para a escolha do curso de enfermagem foi o fato de gostar da profissão (137/57%). Já o menos levantado foi por ter realizado teste vocacional (2/1%). (Tabela 1) Tabela 1 – Distribuição da freqüência quanto ao motivo que levou os acadêmicos a escolher o curso de enfermagem para sua formação profissional. Goiânia, 2007. Motivo 2007 n % Por técnico / auxiliar em enf. 15 6 Por gostar da profissão 137 57 Pelas vagas no mercado 54 22 Aptidão pessoal 24 10 Teste vocacional 2 1 Baixa concorrência 4 2 Outros 4 2 240 100 Total 89 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Em 2007, 89 acadêmicos (37%) têm a expectativa de um futuro melhor em todos os aspectos ao término do curso, o que pode estar relacionado ao fato da maioria ser da categoria da enfermagem. Tabela 2 - Distribuição da freqüência quanto ao que o aluno espera que este curso lhe proporcione. Goiânia, 2007. O que o aluno espera 2007 n % Futuro melhor em todos aspectos 89 37 Bom salário / emprego 23 9 Estabilidade profissional 26 11 Maior conhecimento científico 41 17 Satisfação e crescimento profissional 62 26 Outros 0 0 241 100 Total DISCUSSÃO PROCESSOS DE ENSINO/APRENDIZAGEM NA ATUALIDADE De acordo com Guimarães (2004) a prática pedagógica na enfermagem é norteada por correntes filosóficas e o docente está constantemente sofrendo influências em sua ação pedagógica como é demonstrado por vários estudiosos citados em sua obra e descrito a seguir. Para Demo (1995) é necessário que o docente dispense compromisso em educar alicerçado em dois pilares de conhecimento, sendo o técnico-científico e o político-pedagógico, o qual propiciará refletir sobre o processo de ensino-aprendizagem. Azmon (1975) classifica as correntes filosóficas em cinco grandes filosofias educacionais – o perenialismo, o essencialismo, o progressismo, o existencialismo e o behaviorismo, como descrito a seguir. No perenialismo, o docente que o utiliza repousa sobre o ensino enciclopédico, perpetuando as grandes idéias em detrimento da capacidade de criação humana, além de formar enfermeiros reprodutores e não criadores. Já o essencialismo trata das coisas essenciais ou básicas que as pessoas têm de conhecer para sobreviver, enfatizando a técnica para desenvolvimento da sociedade. A partir desta filosofia o 90 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ docente forma técnicos, consolidando as habilidades adquiridas. O progressismo leva o homem a resolver problemas, sendo prático e funcional vendo o outro como objeto. Azmon (1975) ainda relata que o existencialismo destaca o indivíduo, fazendo-o compreender a realidade por ele vivida, encaminhando-o rumo ao aprimoramento, como também, mostra que o educando passa a ver o outro com reflexão. O behaviorismo utiliza métodos de condicionamento como meio de dirigir o comportamento humano, levando à criação de educandos ajustáveis, o qual é punido por atos considerados indesejáveis. Diante destas propostas a corrente filosófica caminha lado a lado com o contexto sócioeconômico-cultural, o que permite através de um perfil de certa população propor uma prática pedagógica mais adequada para uma boa formação. Por outro lado Saviani (1983) citado por Guimarães (2004) classifica estas correntes como humanista tradicional, a qual corresponde ao essencialismo e ao perenialismo; humanista moderno, tendência tecnicista, o qual permeia a resolução de problemas e preconiza mão-de-obra especializada. Diante desta visão que norteia o ensino na enfermagem, é importante e necessário construir um modelo de assistência centrado no homem, passando a ver a prática reflexiva. Partindo deste pressuposto, Faustino e colaboradores (2003) reflete em sua pesquisa sobre os quatro pilares da educação. O aprender a conhecer leva o indivíduo ao prazer da descoberta. O aprender a fazer valoriza e capacita o indivíduo a novas situações. Aprender a viver juntos, compreendendo o outro e, finalmente, aprender a ser, que diz respeito ao desenvolvimento integral da pessoa. Outra abordagem discutida por este autor é a de competência, a qual já vem sendo discutida desde a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que deve ser considerada de forma ampliada no sentido de contemplar a dimensão ético-política no mundo do trabalho. Enfatiza-se também que as competências são aquisições, capacidades, práticas e conhecimentos organizados e têm como premissa a estruturação do conhecimento de acordo com pensamento interdisciplinar, o incentivo a resolução de problemas, a diversificação dos meios de desenvolvimento, contextualização e, por fim, favorece o compromisso com a profissão. Outra concepção pedagógica, segundo Mallmam e Daudt (2003), é a epistemológica, que é sustentada pelo interacionismo sócio-cultural, construtivista, sistêmica e transcendente. É de cunho interacionista, pois o sujeito interage com o outro. O aspecto sócio-cultural baseia-se no 91 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ sentido de que o homem vive num meio social. É construtivista, pois o sujeito constrói seu conhecimento por sua autonomia. É considerada sistêmica, pois o conhecimento/aprendizagem é um todo integrado e transcendental, já que o homem faz parte do universo. Portanto, é um processo que se constrói a partir da interação dos sujeitos entre si e com o mundo. Tavares (2003) preconiza a prática de interação e interdisciplinaridade, as quais propõem desafios a serem superados pelos estudantes que lhes possibilitem ocupar o lugar de sujeitos na construção do conhecimento, sendo integrado a várias disciplinas, ou seja, interdisciplinar, trabalhando com a problematização. A PROPOSTA PEDAGÓGICA: METODOLOGIA DA PROBLEMATIZAÇÃO Diante do perfil traçado neste estudo dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de Goiânia-Go, pode-se verificar de uma forma geral que são solteiros, jovens adultos, habitam com os pais, trabalham, estudam à noite, já são profissionais da categoria, optaram pelo curso porque gostam e querem melhorar de vida. Atualmente, o ensino não pode ser apenas uma transmissão de conhecimento do que já foi construído, mas abarcar toda uma concepção que pretende levar o aluno à aquisição do já sabido, através de novas elaborações, levando – o à criticidade para transformar a realidade social (GUARIENTE e BERBEL, 2000). Desta forma, a sugestão para uma proposta pedagógica mais adequada é a Metodologia da Problematização de Paulo freire (1996), a qual propõe discutir a realidade concreta, interagindo os saberes curriculares com as experiências sociais dos alunos, ética, política, transferência de conteúdos aos alunos que depois de aprendidos, estes operam por si mesmos. Neste sentido, o ensino de Enfermagem deve ser direcionado para a formação de um profissional consciente de sua responsabilidade histórica, crítico da realidade sócio-educacional, como da prática da assistência à saúde e compromissado com o seu atuar transformador contextualizado, vindo ao encontro dos reais interesses da comunidade. Segundo Berbel (1998), a Metodologia da Problematização é desenvolvida em etapas, a fim de completar o Arco de Maguerez. A primeira é a Observação da realidade social, concreta, pelos alunos, a partir de um tema, permitindo aos mesmos identificar dificuldades que serão transformadas em problemas. Já para a mesma autora a segunda etapa é a dos Pontos – chaves, onde os alunos farão reflexões sobre as possíveis causas daquele problema. 92 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ A partir deste pressuposto ocorre a terceira etapa, a teorização, ou seja, investigação propriamente dita. Na quarta etapa há a hipótese de solução, a qual ou quais são construídas após o estudo, como fruto da compreensão profunda após investigação. A quinta etapa e última é a da Aplicação à realidade, ou seja, ação-reflexão-ação ou prática-teoria-prática, tendo como ponto de partida e de chegada o ensino e aprendizagem a partir da realidade social, dinâmica e complexa. Problematização, segundo Cyrino e Pereira (2004), é a transformação social, à conscientização de direitos e deveres dos cidadãos, mediante uma educação emancipatória e libertadora, a fim desenvolver uma consciência crítica para resolver problemas de interesse coletivo intervindo na realidade. Berbel (1998) conceitua a Aprendizagem baseada em problemas como sendo aquela em que os alunos aprendem a aprender e se preparam para resolver problemas relativos à sua futura profissão. Neste sentido é levantado um problema, o qual poderá ser discutido individualmente ou coletivamente, deverão ser levantadas hipóteses, em seguida objetivos serão traçados para explicálo, pesquisas e estudos serão propostos e uma nova discussão será realizada para aplicação do novo conhecimento (CYRINO e PEREIRA, 2004). Como uma grande parte é técnico em enfermagem e tem como opção a Enfermagem por querer melhorar de vida em todos os aspectos a Problematização favorece uma mudança de paradigma na comunidade, pois a partir de uma realidade vivenciada, conhecimento científico e pensamento crítico o profissional tem capacidade de agir e solucionar o problema detectado. CONCLUSÃO Após a análise dos dados a fim de traçar o perfil dos acadêmicos de enfermagem do 1º período de uma universidade particular de Goiânia – GO, pode – se concluir que: os acadêmicos são jovens, solteiros, técnicos em enfermagem e possuem uma expectativa de melhorar de vida com a conclusão do curso, além de o terem escolhido devido gostar do curso. Diante de tantas práticas pedagógicas existentes no mundo da educação, torna-se evidente que a metodologia da problematização é a que mais se adequa ao perfil traçado nesta pesquisa, principalmente porque o profissional de enfermagem deve ser conhecedor da comunidade, observar problemas e solucioná-los. A metodologia da problematização é um desafio a construção de conhecimentos, devido 93 SIQUEIRA, Sue Christiane; SANTOS, Silvana L.V; VIEIRA, Ângela Cristina Bueno. Proposta pedagógica de acordo com o perfil dos acadêmicos de enfermagem de uma universidade particular de Goiânia-GO. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESESGo. Vol. 02, nº 05, 80-94, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ à aproximação da realidade em que o tema em estudo é vivido por diferentes sujeitos, além de desenvolver a interação de professores e alunos no desempenho de atividades de ensino e pesquisa em saúde, voltando-se para a preparação do estudante/ser humano a tomar consciência de seu mundo e atuar intencionalmente para melhorá-lo. REFERÊNCIAS BERBEL, N. A. N. A problematização e a aprendizagem baseada em problemas: diferentes termos ou diferentes caminhos? Interface – Comunicação, Saúde, Educação, v.2, n.2, 1998. BRASIL. Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. Resolução CNE/CES n.3, de 07 de novembro de 2001. Brasília/DF, 2001. CARVALHO, V. de. 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Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ ESTUDO SOBRE ACESSIBILIDADE DAS ESTRUTURAS ESPORTIVAS: REFERÊNCIAS PARA AS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER Marcelo Correa Resumo: Abstract: Compreendendo que para uma política voltada ao segmento de deficientes, tornase necessário contemplar todos os segmentos desta população, envolvidos, portanto, não só com a modificação das estruturas físicas das instalações esportivas da cidade estudada, mas da ação política e pragmática que promova a acessibilidade, principalmente se entre objetivos desta política, encontrarmos o de transformação da realidade cultural, fomentando a participação e acesso, tolerância e enriquecimento cultural. Realizing that for a policy geared to the disabled, it is necessary to include all segments of the population involved, therefore, not only with the modification of the physical structures of the city's sports facilities studied, but the pragmatic and political action that promotes accessibility, especially among the objectives of this policy, we find the transformation of cultural reality, encouraging participation and access, tolerance and cultural enrichment. Palavras-Chave: Acessibilidade. Educação Física. Políticas Públicas. Direitos. Accessibility. Policy. Rights. Key-Words: PhysicalEducation. Public INTRODUÇÃO Os termos ‘deficiente’, ‘desviante’, ‘diferente’ e ‘anormal’ são empregados, muitas vezes, para fazer referência a pessoas que, por possuírem características cognitivas ou motoras diferentes, são impedidas de circular ou viver plenamente. Estes termos traduzem preconceitos e valores éticos de uma sociedade e se consubstanciam na relação entre as pessoas ‘normais’ ou ‘anormais’, ‘iguais’ ou ‘diferentes’, ‘pessoas portadoras de deficiência’ ou não e traduzem, também, desconhecimento de quem são essas pessoas (ALERJ, 2005). A discussão de direitos dos portadores de necessidades especiais começou com o Renascimento europeu nos séculos XV e XVI, e permanece até o século atual; quando gradativamente, vem ocorrendo o aumento dos chamados direitos sociais. 97 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ Com a evolução e reformulação do entendimento do bem comum, começou-se a compreender o bem-estar econômico, o lazer e a educação, os quais passaram a ser considerados direitos. O direito à educação física e à prática esportiva aconteceu em consonância com o panorama político já evidenciado para o século XX. Após a segunda guerra, a educação física desmanchou seus vínculos doutrinários com países como a Suécia, Alemanha e França, deixando de ser vista como preparação de soldados para guerra e passando por ventos como a iniciação esportiva, a psicomotricidade na escola, da aptidão física e a educação física de adultos (TUBINO, 1991). A educação física para pessoas com deficiência considera que alguns indivíduos possuem danos físicos ou psíquicos, inatos ou adquiridos, e que por isto não são capazes de garantir os mesmos níveis de habilidades que outros. Considera ainda que existam pessoas com situações biológicas passageiras, como as grávidas, que necessitam de atenção especial. Inúmeros estudos mostram que as diferentes formas de atividades físicas podem atuar eficientemente como meios específicos da educação física (AZEVEDO, 2004). Diversos documentos abordam este assunto. Um exemplo é a carta Internacional de Educação Física e do Esporte (UNESCO, 1978), que no seu art. 3° estabelece que: "A educação física e os programas de esporte devem adaptar-se às necessidades individuais e sociais"; As resoluções e considerações do XVIII Congresso Panamericano de educação física (PANAMÁ, 1999), ao perceber que: as pessoas com deficiência não são atendidas adequadamente e a sociedade em geral não apóia este grupo de pessoas, recomendou o uso de recreação e de atividades físicas para estas situações; A 3ª Conferência Internacional de Ministros e Altos Funcionários Encarregados da educação física e esporte – MINEPSIII, na Declaração de Punta Del Este (1999), no seu art. 6°, mostra "a importância de promover os programas de esporte e atividades físicas para pessoas de idade avançada e pessoas com deficiência". E completa apontando que as pessoas, pelas suas condições humanas, ao longo da vida, terão necessidades especiais, inclusive, quanto à educação física. A Federação Internacional de Educação Física (FIEP) conclui: Art. 17- A educação física, ao ser reconhecida como meio eficaz de equilíbrio e melhoria em diversas situações, quando oferecida a pessoas com deficiência, deverá ser cuidadosamente adaptada às características de cada caso. 98 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que: em termos de percentuais de 12 a 15% da população de países em desenvolvimento são constituídos de pessoas com algum tipo de deficiência. No Brasil seriam 24,5 milhões de brasileiros (14,5%), segundo dados do censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano 2000. Para que o direito seja respeitado, torna-se fundamental que os mecanismos existentes providenciem mais do que leis, a inclusão das pessoas portadoras de necessidades especiais, deve contar com o entendimento sobre a necessidade das estruturas adequadas a este segmento, sejam estas públicas ou privadas. Quanto às adaptações das estruturas públicas devem ser mencionados as seguintes modificações. Edifícios de esporte e lazer: Devido a cadeiras do tipo cambadas, utilizadas por pessoas com deficiência para a prática de esportes, todas as portas dos edifícios esportivos devem ter a largura mínima de um metro. As arquibancadas devem prover locais para as pessoas com deficiência usuárias de cadeira de rodas e pessoas com dificuldade de locomoção. Tais lugares são associados a uma rota acessível e integrado aos demais de modo a prever que estas pessoas tragam pelo menos um acompanhante. Também os sanitários e vestiários devem ser acessíveis com rampas, barras de apoio, área de transferência lateral, área de manobra, cabides, espelhos e piso antiderrapante (ALERJ, 2005). Apesar de significativas contribuições, na produção científica sobre estruturas físicas, existem problemas, principalmente na educação para pessoas com deficiência, o tema não é tratado na gestão de espaços públicos e privados na cidade escolhida para este estudo, Petrópolis – Rio de janeiro, onde foi realizado um levantamento com as principais estruturas esportivas desta cidade. A pesquisa científica é fator essencial na mudança de atitudes e na busca de formas mais efetivas para a inserção social de todos, o que contempla também a criança com deficiência, daí a necessidade de reflexão e avaliação contínua desta produção a fim de contribuir com a sua melhoria qualitativa. Existem significativas contribuições na produção científica da educação física (EF) sobre as pessoas com deficiência (RONALD, 1985). Vários pesquisadores brasileiros têm investigado as possibilidades e contradições relacionadas à escolarização de crianças com deficiência discutindo modelos teórico-práticos de educação, impactos e conseqüências das políticas educacionais na escolarização dessas crianças como Jannuzzi (1985), Mantoan (1997), Sanches-Gamboa (1998), Carvalho (2000). Entre as várias áreas acadêmicas que têm produzido 99 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ conhecimento sobre o deficiente, a educação física apresenta-se como importante no que diz respeito à busca de elementos que possibilitem a inclusão da pessoa com deficiência na escola regular. Compreendendo que para uma política voltada ao segmento de deficientes, torna-se necessário contemplar todos os segmentos desta população, envolvidos, portanto, não só com a modificação das estruturas físicas das instalações esportivas da cidade estudada, mas da ação política e pragmática que promova a acessibilidade, principalmente se entre objetivos desta política, encontrarmos o de transformação da realidade cultural, fomentando a participação e acesso, tolerância e enriquecimento cultural. O levantamento dos textos e resumos publicados pelo Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE) no período de 1978 a 1999 explicita o crescimento no número de publicações. Silva (1999) reforça que: "apesar de existirem diferenciações no que se refere aos problemas e objetivos abordados, procedimentos teórico-metodológicos e epistemológicos comuns, norteiam a maior parte dos textos”. Contudo, apesar das preocupações e avanços, tendo em vista a complexidade da questão sócio-educativa da EF para pessoas com deficiência, é importante também compreender as contradições que estão presentes, revelando, na maioria das vezes, que a oferta de atendimento educacional para essas pessoas tem tomado rumos não condizentes com as suas necessidades reais (BATISTELLA, 1990). O direito à inclusão das pessoas com deficiência passa pelo crivo da igualdade a que todo cidadão tem direito e deve ser respeitado. Sem tratamento de habilitação e reabilitação o deficiente não terá condições de candidatar-se a um emprego. Sem educação especial, não poderá desenvolver suas potencialidades, dentro de seus limites pessoais. Sem transporte adaptado, não poderá comparecer ao local de trabalho, à escola e ao seu local de lazer (CAMPEÃO, 2005). O conjunto desses instrumentos compõe o direito à inclusão social da pessoa com deficiência. Cada um desses direitos, separadamente ou em conjunto, forma o conteúdo do direito à inclusão. Vida familiar sadia, educação especial, transporte adaptado, direito à saúde, incluindo habilitação e reabilitação, e o direito ao lazer são instrumentos indispensáveis à inclusão social do indivíduo (ARAUJO, 2001). Um sério problema enfrentado pelas pessoas com deficiência é a dificuldade de locomoção. As prefeituras municipais continuam autorizando a construção de edifícios públicos sem rampas de acesso, impedindo a entrada de cadeirantes. Problema semelhante acontece com os banheiros, que em muitos locais não têm a largura necessária para a entrada da cadeira de rodas. 100 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ Vale lembrar que além dos cadeirantes, outras pessoas com deficiência também sofrem com barreiras. Exemplo são os deficientes visuais, que sofrem com a ausência de semáforos sonoros e de guia nos edifícios públicos. Há que se tomar consciência de que a pessoa com deficiência não quer ser objeto de tratamento diferenciado, não quer ser carregado sobre as catracas do metrô nem, tampouco, até à zona eleitoral. Quer apenas, se integrar socialmente, passando despercebido em seu cotidiano (SILVA, 2003). O valor social do presente trabalho consiste na tentativa de identificar a situação das instalações físicas das estruturas esportivas, quebrar preconceitos, os quais impossibilitam o direito universal de ir e vir, o direito à igualdade e ao respeito. Em suma, o que se busca é a convivência respeitosa com as diferenças. Mas para que isso aconteça parece fundamental notificar a sociedade o estado de inconsciência que a envolve, no trato com a pessoa com deficiência, colocando-o em um mundo onde a discriminação encontra justificativa, deixando o deficiente à margem dessa sociedade. Deve-se salientar ainda que a acessibilidade ao espaço construído não deva ser vista como um conjunto de medidas que favoreceriam apenas as pessoas com deficiência, o que poderia até aumentar a exclusão e segregação destes grupos, mas sim medidas técnico-sociais e culturais destinadas a permitir que o espaço acolha todos os seus usuários em potencial (Acessibilidade Universal). Neste sentido, é importante compreender a acessibilidade como sendo uma real abertura à possibilidade de convívio entre as diferenças, beneficiando toda a sociedade e proporcionando uma melhor qualidade de vida para todos os cidadãos. O exercício do convívio, que permite a troca entre as mais diversas condições sociais, físicas e culturais entre as pessoas, é fundamental para a diminuição e / ou desaparecimento de categorizações estereotipadas (ALERJ, 2005). Objetivou-se neste trabalho mapear todos os ginásios esportivos da cidade de Petrópolis, com o intuito de averiguar se são acessíveis para pessoas com deficiência, e quais adaptações possuem. Esse estudo teve como objetivos específicos, a destacar: Levantar fontes, procurando identificar fatores que possam contribuir para a elaboração de um projeto de implantação de acessibilidade nos ginásios esportivos públicos e privados, visando às pessoas com deficiência. 101 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ METODOLOGIA 1. Foram feitas entrevistas abertas contendo dez perguntas para os gestores de ginásios e quadras no município de Petrópolis, para que expusessem sua situação em relação à acessibilidade e inclusão. 2. Um questionário fechado contendo dez perguntas foi feito para dez pessoas com deficiência residentes em Petrópolis. Ambos foram voltados para a questão da acessibilidade e da inclusão de pessoas com deficiência nos ginásios esportivos na cidade de Petrópolis. Tanto as entrevistas abertas quanto o questionário fechado continham questões relacionadas às características sócio-demográficas e à dificuldade de acesso a ginásios esportivos da cidade. Para avaliação da satisfação com atenção, alguns cuidados foram adotados, como a utilização de uma questão com duas opções de resposta (sim ou não) para o questionário aplicado para pessoas com deficiência. Facilitando a expressão de níveis de satisfação mais baixos, maior variabilidade nas respostas e maior associação com medidas de intenção de comportamento das pessoas com deficiência. Antes da realização de cada entrevista, foi feita uma abordagem individual com os gestores e indivíduos com deficiência, em momentos diferentes, com a apresentação dos objetivos da pesquisa e o convite para participar desta, garantindo a privacidade das respostas. Com o objetivo de obter informações sobre as principais dificuldades e necessidades do usuário para usufruir dos ginásios esportivos o instrumento aplicado para as pessoas com deficiência teve por objetivo final dar voz a esse seguimento. Os participantes deste estudo eram portadores de paralisia cerebral (PC) divididos em duas categorias e dois graus em relação à deficiência motora: 1- Andantes: grau moderado e leve. 2- Pessoas em cadeiras, grau severo. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A entrevista com os gestores dos ginásios esportivos na cidade de Petrópolis teve como objetivo averiguar a situação real em relação a acessibilidade e inclusão das pessoas com deficiência nesses espaços públicos esportivos. 102 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ 01) Porque não há acesso para pessoa com deficiência? ESTRUTURA ANTIGA, ACESSO PARCIAL. FALTA DE VERBA 05 50% 02 20% 02 20% 01 10% ACESSO TOTAL SEM ACESSO CONSTRUÇÃO ANTIGA Com o resultado obtido verificou-se que (50%) cinqüenta por cento dos entrevistados acenaram que a problemática do acesso está ligada a estruturas antigas, enquanto (20%) vinte por cento alegaram falta de verba, enquanto (20%) vinte por cento alegaram terem acesso, e (10%) dez por cento alegam não ter acesso. 02) Poderia citar alguma melhoria voltada à saúde, qualidade de vida/lazer voltada para pessoa com deficiência que freqüentam ou podem vir a freqüentar? SOCIAL E LAZER ATIVIDADE FÍSICA NENHUMA MELHORIA 04 40% 02 20% 04 40% 103 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ Com o resultado obtido verificou-se que (40%) quarenta por cento dos entrevistados afirmaram a melhora se dá pela integração social e lazer, (20%) respondeu que a atividade física é responsável por essa melhora (40%) responderam não terem melhorias de qualidade de vida para pessoa com deficiência por não fazerem esse atendimento. 03) Tem conhecimento da obrigatoriedade da lei de acessibilidade? SIM 07 70% NÃO 03 30% Com o resultado obtido verificou-se que (70%) setenta por cento dos entrevistados tinham conhecimento da lei enquanto (30%) trinta por cento não tinham conhecimento da mesma. 04) Existe alguma pessoa com deficiência que tentou freqüentar esse local? FREQUENTA COM DIFICULDADE NÃO FREQUENTA 09 90% 01 10% Com o resultado obtido verificou-se que (90%) noventa por cento dos entrevistados responderam que freqüentaram o local com dificuldades, (10%) dez por cento respondeu que não tem pessoa com deficiência freqüentando o local. 05) Já foi questionado sobre a possibilidade da atender pessoa com deficiência? SIM POR FALTA DE PROJETO NÃO 03 30% 03 30% 104 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ SIM, MAS FALTA PROFESSOR 01 10% 03 30% ESPECIALIZADO. JÁ TEM ATENDIMENTO Com o resultado obtido verificou-se que (30%) trinta por cento já foi questionado, mas por falta de projeto não pode fazer atendimento, (30%) trinta por cento nunca foram questionados enquanto (10%) dez por cento foi questionado, mas por falta de professor especializado não pode atender e (30%) já fazem esse atendimento. 06) Já houve algum evento em que os pessoas com deficiência ficaram impossibilitados de participar ou assistir? NÃO 07 70% 03 30% NUNCA TEVE PROCURA PARA RELIZAÇÃO DE EVENTOS Com o resultado obtido verificou-se que (70%) setenta por cento não teve problemas de aceso para pessoa com deficiência, e (30%) trinta por cento responderam que ate o momento não tiveram procura para realização de eventos para pessoa com deficiência. 07) Há algum projeto para sensibilização desse problema? SIM NÃO 03 30% 05 50% 105 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ HÁ PROJETO, MAS NÃO 02 ESTÁ EM ANDAMENTO. 20% Com o resultado obtido verificou-se que (30%) trinta por cento dos entrevistados tem projetos para pessoa com deficiência, enquanto (50%) cinqüenta responderam não terem projetos, e (20%) vinte por cento responderam que tem projetos, mas não estão em andamento. 08) Conhece algum ginásio ou espaço público adaptado para pessoa com deficiência? SIM 05 50% NÃO 05 50% Com resultado obtido verificou-se que (50%) cinqüenta por cento dos entrevistados conhecia algum ginásio adaptado, e (50%) cinqüenta por cento responderam não conhecer. 09) Achou interessante obter essa informação sobre acessibilidade e inclusão para pessoa com deficiência? INTERESSANTE MUITO INTERESSANTE EXCELENTE 07 70% 02 20% 01 10% 106 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ Com o resultado obtido verificou-se que (70%) setenta por cento dos entrevistados responderam que é interessante obter essa informação, (20%) vinte por cento responderam que é muito interessante, e (10%) dez por cento respondeu que é excelente ter essa informação. 10) Qual sua opinião sobre a problemática da inclusão e acessibilidade das pessoas com deficiência? ASSEGURAR OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA COMO CIDADÃO ACABAR COM O PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO 02 20% 02 20% 03 30% 02 20% 01 10% PROMOVER PESQUISAS E ESTUDOS PARA ESSE SEGUIMENTO FOLTA INFORMAÇÃO PARA ATENDER PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FAZER PARCERIAS ENTRE OS ORGÃOS COMPETENTES FALTA DE INTERESSE PELA PARTE DO GOVERNO Com o resultado obtido verificou-se que (20%) vinte por cento dos entrevistados disseram que tem que assegurar o direito das pessoas com deficiência como cidadão, (20%) responderam que é preciso acabar com o preconceito e a discriminação, (30%) trinta por cento responderam que é preciso promover pesquisas e estudos para esse seguimento porque falta informação para atender pessoas com deficiência, (20%) responderam que falta fazer parcerias entre os órgãos competentes, (10%) dez por cento respondeu que falta interesse por parte do governo. Responderam a este instrumento pessoas com deficiência (PC) paralisia cerebral residentes em Petrópolis, praticantes de atividades físicas. 107 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ O objetivo era saber o que mais dificulta a pessoa com deficiência no acesso a ginásios e a praticas esportivas de lazer nos locais. 11) Já fez atividade física em ginásio? SIM 08 80% NÃO 02 20% Com o resultado obtido verificou-se que (80%) oitenta por cento dos entrevistados responderam terem feito atividades físicas em ginásios, e (20%) vinte por cento responderam que nunca fizeram. 12) Teve alguma dificuldade neste local? SIM 03 NÃO 07 30% 70% O resultado obtido verificou-se que (30%) trinta por cento dos entrevistados tiveram algum tipo de dificuldade, enquanto (70%) setenta por cento responderam que não tiveram nenhuma dificuldade. 13) Já freqüentou instalações com vestiários adaptados? SIM 03 30% NÃO 07 70% 108 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ Com o resultado obtido verificou-se que (30%) trinta por cento dos entrevistados já freqüentou instalações com vestiários adaptados, enquanto (70%) setenta por cento responderam que não freqüentou instalações com vestiários adaptados. 14) Já freqüentou uma arquibancada com acesso? SIM 02 20% NÃO 08 80% Com o resultado obtido verificou-se que (20%) vinte por cento dos entrevistados já freqüentou arquibancadas com acesso, e (80%) oitenta por cento responderam não terem freqüentado uma arquibancada com aceso. 15) Já freqüentou quadras adaptadas? SIM 05 50% NÃO 05 50% Com o resultado obtido verificou-se que (50%) cinqüenta por cento dos entrevistados já freqüentaram quadras adaptadas, enquanto (50%) cinqüenta por cento responderam que nunca freqüentaram. 16) Você tem conhecimento ao direito universal? SIM 08 80% NÃO 02 20% 109 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ Com o resultado obtido verificou-se que (80%) oitenta por cento dos entrevistados responderam que tem conhecimento do direito universal, e (20%) vinte por cento responderam que não conheciam. 17) Gostaria de ter acesso ao esporte, atividades físicas e lazer? SIM 09 90% NÃO 01 10% Com o resultado obtido verificou-se que (90%) noventa por cento dos entrevistados responderam que sim gostariam, e (10%) dez por cento respondeu que não gostaria. 18) Sabe da importância da atividade física sistemática? SIM 09 90% NÃO 01 10% Com o resultado obtido verificou-se que (90%) noventa por cento dos entrevistados responderam que sim, e (10%) dez por cento responderam que não. 19) Já sentiu melhorias com a prática de atividades físicas? SIM 10 100% NÃO - - 110 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ Com o resultado obtido verificou-se que (100%) cem por cento dos entrevistados responderam sentiram melhorias com a pratica de atividades físicas. 20) Você tem ou teve profissionais de educação física com formação especializada para seu atendimento? SIM 07 70% NÃO 03 30% Com o resultado obtido verificou-se que (70%) setenta por cento dos entrevistados tem ou teve um profissional de educação física especializado, e (30%) por cento responderam nunca ter tido um profissional de educação física especializado para seu atendimento. O resultado em termos percentuais vem confirmar que é preciso fazer muito ainda para tornar a acessibilidade e inclusão da pessoa com deficiência na cidade de Petrópolis uma realidade. Deve-se salientar ainda que a acessibilidade ao espaço construído não deva ser vista como um conjunto de medidas que favoreceriam apenas às pessoas com deficiência (ALERJ 2005). CONCLUSÃO Como reflexão final, importa chamar a atenção para a necessidade de procurar imprimir racionalidade científica em relação à inclusão que é “o conceito de vida independente” (CRESPO, 2003). Acessibilidade designa que todos os ambientes, os meios de transporte e os utensílios sejam projetados para todos e, portanto, não apenas para pessoas com deficiência (SASSAKI, 2003). Deve-se entender a pessoa com deficiência como cidadão ativo na sociedade, e que como tal tem seus direitos e deveres, e que tem muito a contribuir, com seu trabalho, exemplo de luta, perseverança. Para que isso aconteça é necessário que a sociedade entenda a pessoa com deficiência como cidadão pleno na sua essência e que sejam visíveis os papéis que desempenham seus componentes centrais: sociedade civil e governo, cuja comunicação é fundamental para realização desse projeto. 111 CORREA, Marcelo. Estudo sobre acessibilidade das estruturas esportivas: referências para as políticas de educação físíca, esportes e lazer. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ A adaptação de prédios e espaços públicos através de medidas simples como a construção de rampas com corrimão, transporte, elevadores, piso antiderrapante e portas largas, oportuniza o acesso a suas dependências como banheiros, quadras, piscinas e campos permite o direito de ir e vir livremente para todos fazendo jus ao que se afirma freqüentemente: “Ser diferente é normal ” 1 (CAMPEÃO, 2005). Através da pesquisa constatou-se que muitas das edificações esportivas em Petrópolis têm mais de trinta anos, e que na época de sua construção não havia a preocupação e a informação do direito ao acesso de pessoas com deficiência. Quanto aos ginásios esportivos públicos ou privados constatou-se que há um Cenário de dificuldades, já que a maioria não possui acesso, ou quando possui é parcial. Diante do quadro atual torna-se relevante à estruturação de políticas públicas e privadas dando incentivos voltados a esse seguimento da sociedade. Aguarda-se um futuro em que a sociedade será mais paritária, na qual a inclusão e a acessibilidade serão de fato realidades. Tendo em mãos esses resultados, percebe-se que é preciso construir acessos sim, mas primeiramente se faz necessário construir conceitos como rota acessível, inclusão e aceitação e que se aprenda, a respeitar o direito universal, porque somos todos iguais, somos seres humanos. A conscientização e a informação são ferramentas importantes para a acessibilidade e inclusão das pessoas com deficiência, mas é preciso que cada um faça a sua parte não privilegiando as pessoas com deficiência, porque ao que parece o que é bom para a pessoa com deficiência é excelente para quem não é. REFERÊNCIAS ARAUJO, Luiz Alberto David. A proteção constitucional das pessoas portadores de deficiência. 3 ed. rev. atual. e ampl. 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Vol. 02, nº 05, 96-113, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ BATTISTELLA, Linamara Rizzo. Programa de educação física em centros de reabilitação. Abordagem Interdisciplinar. In: SIMPÓSIO PAULISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA, 3., 1990, São Paulo. Anais... São Paulo: Ed. USP, 1990. CAMPEÃO, M. Fator de reabilitação e promoção de saúde para a pessoa com deficiência. Petrópolis: Prefeitura de Petrópolis (SETRAC), 2005. CARTA Internacional de Educação Física e do Esporte. UNESCO, 1978. CARVALHO, R. E. A nova LDB e a Educação Especial. 2. ed. Rio de Janeiro: Ed. WVA, 2000. CRESPO, Ana Maria Morales. Conceito de vida independente e o papel da universidade na inclusão das pessoas com deficiência. 2003. Disponível em: http://www.entreamigos.com.br/textos/educa/oconceito.htm. Acesso em: 18 maio 2007. GIORGI, A. Phenomenology and psychological. Pittsburgh: Duchisne University Press, 1985. 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Foi realizada uma extensa revisão, com artigos oriúndos de sites renomados de publicação científica, entre eles o PubMed, Lilacs, e Scielo, onde foi possível concluir que a prótese reversa de Grammont é um método inovador de cirurgia, o qual vem obtendo resultados satisfatórios em casos de artroplastia de ombro. Os principais resultados observados são a recuperação da mobilidade perdida, que leva a um grau satisfatório de retorno funcional, além do alívio substancial da dor. Contudo, a protetização reversa é uma técnica inovadora e relativamente recente, necessitando de maiores estudos para a elucidação de seus benefícios e completo embasamento científico, bem como sua aplicação na prática cirúrgica. The present study has the objective of rewiewing the main data on Grammont Reverse Prosthesis, its use in shoulder arthroplasty, as well as the main indications for arthroplasty, showing the functional and biomechanical benefits of this prosthetization technique. An extensive review was performed, with articles from renowned scientific publishing sites, including PubMed, Lilacs and Scielo, where it was possible to conclude that the Grammont Reverse Prosthesis is an innovative method of surgery, which has achieved satisfactory results in shoulder arthroplasty. The main results observed are the recovery of lost mobility, which leads to a satisfactory degree of return to function, besides the substantial relief of pain. However, the reverse prosthesis is an innovative and relatively new technique, requiring further studies to elucidate its benefits and complete scientific basis, as well as its application in surgical practice. Shoulder Prosthesis. Key-words: Arthoplasty, Grammont, Reverse Palavras-chave: Artroplastia de Ombro, Grammont, Prótese Reversa. 1 Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção de grau em bacharel em Fisioterapia na Faculdade Estácio de Sá de Goiás sob a orientação do Prof. Esp. Marcelo Watanabe de Matos. Trabalho de Conclusão de Curso, para obtenção do grau de Bacharel em Fisioterapia, da Faculdade Estácio de Sá de Goiás, sob a orientação do Prof. Esp. Marcelo Watanabe de Matos. 115 SILVEIRA, Arthur Antunes Oliveira da. Revisão sistemática dos efeitos da utilização da prótese reversa de Grammont em artroplastidas de ombro. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 114-125, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ INTRODUÇÃO O complexo articular do ombro é composto por três articulações sinoviais, a esternoclavicular, a acromioclavicular e a glenoumeral, além de uma quarta articulação, a escapulotorácica, considerada uma articulação fisiológica por não possuir os tecidos típicos de uma articulação sinovial, como cápsula articular, membrana sinovial, líquido sinovial e cartilagem hialina (KAPANDJI, 1990). Graças às habilidades motoras deste complexo e à incapacidade gerada a partir da lesão do mesmo, um número crescente de estudos vem sendo realizados, tanto por médicos, quanto por outros profissionais da área da saúde, visto que as doenças da região cervicobraquial, com ênfase para as síndromes dolorosas do ombro, estão entre as causas mais frequentes de consultas clínicas. Um dos métodos mais eficazes de tratamento cirúrgico das patologias do ombro é a artroplastia, que envolve a substituição da articulação glenoumeral por uma prótese metálica, podendo ser ela total ou parcial (CHECCHIA et al., 2010). Devido à alta taxa de instabilidade pósoperatória e à grande reincidência na colocação de uma prótese (VEADO; FLORA, 1994) surgiu recentemente uma técnica inovadora, onde os componentes da articulação glenoumeral são invertidos, tornando a cavidade glenóide convexa e a cabeça do úmero côncava. Essa nova técnica de protetização recebeu o nome de Prótese Reversa de Grammont. Sendo assim, este estudo tem como objetivo, avaliar e destacar os principais efeitos da utilização da prótese reversa em artroplastia de ombro. METODOLOGIA A presente pesquisa consiste em uma revisão bibliográfica realizada por meio de publicações em artigos científicos, revistas, jornais e livros, disponíveis em base de dados, dentre elas podemos citar: Lilacs, Scielo, Mediline e bibliotecas universitárias. Publicações estas que abordam anatomia do ombro, tipos de artroplastias e prótese reversa de Grammont, assim como todos os contextos diretos e indiretos ligados ao tema da pesquisa. 116 SILVEIRA, Arthur Antunes Oliveira da. Revisão sistemática dos efeitos da utilização da prótese reversa de Grammont em artroplastidas de ombro. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 114-125, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ DESENVOLVIMENTO ANATOMIA O ombro não é uma articulação única, mais sim um conjunto funcional que permite unir o membro superior ao tórax (KAPANDJI, 2000). É uma estrutura capaz de realizar amplitudes de movimento superiores a 180 graus, graças aos movimentos coordenados das articulações que o compõem, e possui a maior liberdade de movimento do corpo humano (VEADO; FLORA, 1994). A estrutura anatômica do ombro está representada na figura 1: Figura 1: Anatomia do complexo articular do ombro Fonte: Southern California Orthopaedic Institute – 2010 A articulação glenoumeral é a mais discutida quando se fala do complexo do ombro. Ela é do tipo esferóide e é formada pela fossa glenóide da escápula e pela cabeça do úmero. A profundidade da cavidade glenóide é aumentada por uma camada fibrocartilaginosa chamada de lábio glenóide, sendo esse lábio de grande importância para estabilidade da cabeça do úmero durante o movimento da glenoumeral, visto que aumenta esta concavidade e, por consequência, aumenta o contato ósseo nesta região (KONIN, 2006). A escápula com a cavidade glenóide esta representada na figura 2: 117 SILVEIRA, Arthur Antunes Oliveira da. Revisão sistemática dos efeitos da utilização da prótese reversa de Grammont em artroplastidas de ombro. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 114-125, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Figura 2: Vista anterior da escápula e cavidade glenóide Fonte: Biomecânica online – FMUSP - 2010 A cápsula da articulação glenoumeral cobre a articulação desde a fossa glenóide até o colo anatômico do úmero (DÂNGELO; FATTINI, 2002). Por ser extremamente frouxa, a cápsula contribui para uma ampla mobilidade articular e uma grande instabilidade desta articulação. É reforçada anteriormente, posteriormente e inferiormente por estruturas ligamentares e tendíneas distintas (ANDREWS; HARRELSON; WILK, 2000). Como há mínimo contato entre a cavidade glenóide e a cabeça umeral, a articulação do ombro depende de estruturas ligamentares, musculares e tendíneas para ter estabilidade durante sua movimentação (VAN DE GRAAFF; WAFAE, 2003). A cápsula do ombro está representada na figura 3: Figura 3: Cápsula articular do ombro Fonte: Biomecânica online – FMUSP – 2010 118 SILVEIRA, Arthur Antunes Oliveira da. Revisão sistemática dos efeitos da utilização da prótese reversa de Grammont em artroplastidas de ombro. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 114-125, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ A combinação dos movimentos articulares coordenados e das estruturas periarticulares envolvidas, permite que o braço e a mão sejam posicionados no espaço, levando a uma ampla variedade de funções. O resultado é uma amplitude de movimento que permite orientar o membro superior nos três planos do espaço e nos seus três respectivos eixos, podendo assim realizar os movimentos de extensão e flexão no plano sagital, os de abdução e adução no plano frontal, e os de rotação interna e externa no plano transversal, sendo considerada a articulação de maior mobilidade entre todas do corpo humano. (KAPANDJI, (1990) e SILVA et al.,2009). A força dos músculos do manguito rotador é o elemento principal para a estabilidade dinâmica da articulação glenoumeral. Suas fibras musculares encontram-se em grande proximidade com a articulação e seus tendões se fundem à cápsula articular. A função primária dos músculos estabilizadores consiste em manter a cabeça umeral dentro da cavidade glenóide e neutralizar as grandes forças de cisalhamento geradas pelos motores primários. Além desses músculos, é necessário destacar também as ações da cabeça longa do bíceps e determinadas porções do deltóide na estabilização dessa articulação. Ao redor da articulação glenoumeral estão localizadas as bolsas (bursas) subacromial e subdeltóide. Essas bolsas permitem que os tendões do supra-espinhal e os da cabeça longa do bíceps braquial possam deslizar suavemente debaixo do acrômio. Além disso, essas bursas proporcionam nutrientes para os tendões do manguito rotador (ANDREWS; HARRELSON; WILK, 2000). PATOLOGIAS Frontera et. al (2001, p. 215), atenta para o fato de que todas as doenças articulares possuem fatores intrínsecos como: a rigidez, a dor, a deformidade articular, a contratura dos tecidos moles, atrofia muscular, a perda do condicionamento físico generalizado e a diminuição da função, onde a perda da força muscular geralmente se associa aos fatores citados. De acordo com Hall (2000), o ombro é suscetível tanto aos tipos traumáticos quanto por uso excessivo (overuse) de lesões, onde se incluem entre 8% a 13% de todas as lesões relacionadas ao desporto. Em grande parte dos casos, dores no ombro são sintomas de lesões provocadas pela repetição de movimentos que machucam os tendões e por processos crônico-degenerativos que ocorrem depois dos 40 ou 50 anos de idade (CECHIA, 2009). As principais patologias que acometem essa articulação são as síndromes relacionadas ao ombro doloroso, podendo ser classificadas por seu fator etiológico como: afecção periarticular, alteração da articulação glenoumeral, alterações estruturais, e outras afecções reumáticas. Neer et 119 SILVEIRA, Arthur Antunes Oliveira da. Revisão sistemática dos efeitos da utilização da prótese reversa de Grammont em artroplastidas de ombro. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 114-125, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ al. (1982) ressaltaram que as principais indicações da artroplastia total do ombro são a osteoartrose, a artrose por instabilidade, a artrite reumatóide, as sequelas de trauma e as revisões de artroplastias parciais do ombro. Torchia et al (1997), relataram que 83% dos resultados eram satisfatórios quanto à melhora da dor, na avaliação clínica de 89 pacientes após cinco anos, submetidos à artroplastia de ombro. Hasan et al. (2002) avaliaram 139 pacientes submetidos a artroplastia de ombro que evoluíram com maus resultados. Observaram também que as complicações mais comuns nesses pacientes eram a rigidez (74%) e a soltura (59%) do componente glenoidal, provavelmente devido à falha no “balanço” das partes moles e ao mau posicionamento do componente glenoidal. Entre as principais causas de insucesso das artroplastias de ombro estão à soltura da prótese, o suporte ósseo deficiente e o desgaste assimétrico da cavidade glenoidal, comuns nos casos de osteoartrose primária, luxações inveteradas e sequelas de instabilidade (CHECCHIA et al., 2010). Também foi descrito que a causa mais comum de protetização é o processo de envelhecimento natural, onde os distúrbios de ombro são raros entre 40 anos e aumentam na faixa de 50 e 60 anos, continuando aumentar a partir dos 70 anos (MENDONÇA JR; ASSUNÇÃO, 2005). HISTÓRICO DA PROTETIZAÇÃO A artroplastia do ombro foi introduzida e popularizada por Neer, sendo realizada desde 1951. Mas, segundo Lugli (1978), foi o cirurgião francês Péan que, em 1893, realizou a primeira substituição da articulação do ombro. No entanto, as primeiras descrições da artroplastia parcial de ombro, para tratamento da artropastia por lesões do manguito rotador, datam de 1982, quando Neer as realizou em 16 pacientes, obtendo resultados satisfatórios em 10, com seguimento mínimo de 24 meses. A artropastia do manguito rotador é conhecida desde o século 19, primeiramente por Smith em 1853 e Adams em 1873, que a descreveram como lesão maciça, ou ruptura do manguito rotador (SMITH, 1953a e SMITH, 1953b). Richard et al. (1952) foram os primeiros autores a relatar o uso da substituição artroplástica da epífise umeral proximal em pacientes com fraturas ou luxações, fraturas cominutivas e fraturas articulares da articulação glenoumeral. A artroplastia do ombro, ao longo dos anos, tem se tornado um procedimento comumente realizado na prática ortopédica (KONIN, 2006 e CHECCHIA, 2010). Durante todos esses anos, somente 5% do total das artroplastias do ombro realizadas no mundo tiveram seus resultados publicados, sendo a maioria em grandes centros. Dessa forma, 95% dos procedimentos foram realizados sem qualquer documentação cientifica (MATSEN et al. 2004). A artroplastia convencional está representada na figura 4: 120 SILVEIRA, Arthur Antunes Oliveira da. Revisão sistemática dos efeitos da utilização da prótese reversa de Grammont em artroplastidas de ombro. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 114-125, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Figura 4: Artroplastia convencional de ombro Fonte: American Academy of Orthopaedic Surgeons - 2010 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA ARTROPLASTIA A artroplastia do ombro proporciona um tratamento eficaz para uma variedade de patologias que afetam seu mecanismo funcional, contudo, esta técnica está associada a um conjunto de complicações que podem conduzir à falência da prótese. A perda do movimento do ombro normalmente é ocasionada por lesões grandes e maciças, que comprometem tendões que não podem ser restaurados de forma adequada (FOLGADO et al. 2010). Desta forma, a prótese invertida foi introduzida em 1985 por Grammont (GRAMMONT; BAULOT, 1993), sendo que algumas próteses similares haviam sido usadas anteriormente por Gerard et al. (1973), além de Neer, que também tentou o modelo reverso (NEER; WATSON; STANTON, 1982). A prótese de Grammont está representada na figura 5: 121 SILVEIRA, Arthur Antunes Oliveira da. Revisão sistemática dos efeitos da utilização da prótese reversa de Grammont em artroplastidas de ombro. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 114-125, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Figura 5: Prótese Reversa de Grammont Fonte: American Academy of Orthopaedic Surgeons – 2010 Anteriormente, a prótese reversa foi projetada por Reeves, Liverpool, Bayley e Neer, Averill, Kolbel, Kessel, Fenlin e Gerard na década de 1970 e 1980. No entanto, o denominador comum para o seu fracasso foi o afrouxamento da glenóide com resultados desastrosos e altas taxas de complicação, que levaram ao abandono desta técnica (GRAMMONT; BAULOT, 1993). Segundo Hatzidakis, Norris e Boileau (2005), há três casos específicos em que temos encontrado resultados satisfatórios na utilização da prótese reversa, sendo que as características comuns desta indicação ocorrem quando o mecanismo biomecânico para a elevação está perdido, seja através da perda irreparável do manguito rotador, ou mal posicionamento grave das tuberosidades, sendo que a primeira indicação é de osteoartrite irreparável primária do ombro com lesão maciça do manguito rotador, e em pacientes com osteoartrite secundária ou osteonecrose. A segunda indicação se refere ás sequelas das fraturas graves, onde os pacientes tiveram o ombro deslocado e, normalmente, fraturas cominutivas com grande perda de massa óssea, na parte proximal do úmero. A terceira indicação para a artroplastia reversa do ombro é uma revisão da artroplastia que falhou anteriormente, onde é feita a troca do material protético antigo pelo novo. Grammont e Baulot (1993) relatam que os maiores benefícios trazidos pela prótese reversa são o retorno do sono repousante e a facilidade em executar atividades simples da vida diária, onde o alivio da dor é o benefício mais relatado. A Prótese Reversa de Grammont possui um procedimento complicado e o indivíduo deve estar suficientemente orientado, para compreender e aceitar os riscos da cirurgia. Ele deve possuir uma qualidade óssea suficiente para a realização do processo cirúrgico e fixação da prótese, além de motivação pessoal e cooperação, que são elementos importantes para um bom prognóstico. As figura 6 e 7 mostram as diferenças entre protetização convencional e a protetização reversa ao raio-x: 122 SILVEIRA, Arthur Antunes Oliveira da. Revisão sistemática dos efeitos da utilização da prótese reversa de Grammont em artroplastidas de ombro. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 114-125, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Figura 6: Raio-x evidenciando protetização convencional Fonte: American Academy of Orthopaedic Surgeons – 2010 Figura 7: Raio-x evidenciando a protetização reversa de ombro Fonte: American Academy of Orthopaedic Surgeons - 2010 DISCUSSÃO Segundo os Juvenspan, Nourissat e Doursounian (2010), as inversões de próteses totais do ombro obtiveram os melhores resultados a curto e médio prazo. Elas fornecem excelente alívio da dor e melhoram significativamente elevação ativa, contudo seu efeito limitado na rotação externa e na força não tem qualquer impacto sobre a taxa de satisfação do paciente. Baulot, Chabernaud e Grammont (1995), bem como Buttet et al. (1995), relataram bons resultados com a Prótese Reversa Delta. Um estudo recente da Rittmeister e Kerschbaumer (2001) também confirmou os bons resultados em pacientes com artrite reumatóide. 123 SILVEIRA, Arthur Antunes Oliveira da. Revisão sistemática dos efeitos da utilização da prótese reversa de Grammont em artroplastidas de ombro. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 114-125, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Lyman et al. (2005) afirmaram que os melhores resultados das artroplastias de ombro estão associados ao maior volume cirúrgico, sendo isto confirmado pelo estudo de Hammond et al (2003). CONCLUSÃO Concluímos que a Prótese Reversa de Grammont é um método cirúrgico inovador, o qual vem obtendo resultados satisfatórios em artroplastias de ombro, levando a uma importante recuperação funcional da articulação, no que tange principalmente ao ganho de amplitude de movimento e força muscular com redução do quadro álgico, com menores taxas de complicações pós-cirúrgicas. Contudo, por ser uma técnica inovadora e relativamente recente, a protetização reversa necessita de maiores estudos para a elucidação de seus benefícios e completo embasamento científico, bem como para sua ampla aplicação na prática cirúrgica internacional. REFERÊNCIAS ADAMS, R. Treatise of rheumatic or chronic rheumatic arthritis of all the joints. London: Churchill and Sons, 1873, 2, pp. 91-175. AMERICAN ACADEMY OF ORTHOPAEDIC SURGEONS. Shoulder Joint Replacement. Acesso em 02/11/2010 .Disponível em: http://orthoinfo.aaos.org/topic.cfm?topic=A00094 ANDREWS, J. R.; HARRELSON, G. L.; WILK, K. E. 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A realização deste estudo está relacionada à necessidade de contribuir para ampliar a literatura nessa área, haja visto a existência de poucos estudos no Brasil sobre este tema. A partir desta revisão de literatura, foi possível identificar que os principais fatores que determinam a aderência dos alunos, são o conhecimento e qualificação dos professores, a forma como eles se relacionam com os alunos e suas atitudes durante as aulas. Conclui-se que o educador físico tem influência na aderência dos alunos praticantes de exercício em academias. A partir disso, sugere-se a realização de outros estudos para investigar os fatores que influenciam o comportamento do educador físico neste ambiente. Palavras-Chave: Academia. Aderência. Educador Físico. 1 Abstract: The objective of this study is to investigate in the literature, if the physical educator has influence in adherence of students who pratice exercises in gym. The achievement of this study is related to the need of contribution to enlarge the literature in this area, since there is just a few studies in Brazil related to this theme. From this literature review, it was possible to identify that the main factors that determinate the adherence of the students are teacher's knowledge and qualification, including the way that they relate with the students and their attitudes during classes. The conclusion is that physical educators has influence in adherence of students who pratice exercises in gym. Since there, the suggestion is to realize more studies to investigate the factors that influence the behavior of physical educators in this environment. Key-Words: Gym. Adhrence. Physical Educator. Aluno Educação Física FESBH. Aluna Educação Física FESBH. 3 Professora Orientadora FESBH – Graduada em E.F pela UFMG – Pós-Graduada em Fisiologia do Exercício pela Universidade Veiga de Almeida – Coordenadora da Formula Academia. 4 Professora Mestre Co-Orientadora FESBH - Graduada em E.F pela UFMG – Pós-Graduada em Informática Aplicada à Educação pela PUC/MG - Mestre em Ciência da Comunicação pela UFSC. 2 127 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci. A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ INTRODUÇÃO Percebe-se que atualmente os indivíduos têm um estilo de vida pouco saudável, em função do estresse e estafa do cotidiano, de uma alimentação inadequada e da irregularidade na prática de exercícios físicos5. Com esses fatores citados, a qualidade de vida da população fica abalada, tanto em estado físico quanto psicológico. Hoje em dia, cada vez mais pessoas são sedentárias, sendo, justamente, estas as que mais teriam a ganhar com a prática regular de atividade física6, seja como forma de prevenir doenças, promover saúde ou simplesmente em busca do bem-estar. Os benefícios da prática regular de atividade física que antes eram apenas constatados pela observação não controlada e não cientifica, hoje são evidenciados cientificamente por diversas áreas. O estilo de vida ativo, assim como o exercício físico, resultam em importantes benefícios fisiológicos, além de possibilitar o aproveitamento do tempo de vida com o mínimo de estresse por restrições físicas e assédios de doenças que diminuem sua funcionalidade e vitalidade (PATE, et. al., 1995; SALLIS ; WILMORE, 1995; SHEPARD ; BOUCHARD, 1994; USDHHS, 1996 apud ROJAS, 2003). Perante a conscientização e constatação da importância da prática de exercícios físicos, sobretudo orientados, as academias7 surgem como alternativa para grande parte da população, sendo um local privilegiado para a prática de exercícios físicos, fazendo com que o número de academias aumente a cada dia, principalmente nos grandes centros urbanos. Saba (2001, p. 52) cita que “pesquisas mostram que o aumento do número de academias é impressionante, assim como o número da população que se vale de seus serviços, conforme cresce a consciência da importância do desenvolvimento do exercício físico”. Apesar do elevado número de academias e das informações sobre a importância da prática de atividade física, pode-se observar que um grande número de pessoas, que iniciam programas nestes locais, desiste por diversos fatores. Estudos americanos destacam que a desistência é mais acentuada ao final do primeiro e terceiro mês de participação (CANTWEL, 1998; DISHMAN, 1994 apud ROJAS, 2003). 5 Exercício físico é toda atividade física planejada, estruturada e repetitiva, que tem por objetivo a melhoria e manutenção de um ou mais componentes da aptidão física (CASPERSEN et al., 1985 apud GUISELINI, 2006, p. 32). 6 Defini-se atividade física como qualquer movimento corporal, produzido pelos músculos esqueléticos, resultando em gasto energético maior do que os níveis de repouso (CASPERSEN et al., 1985 apud GUISELINI, 2006, p. 23). 7 Local que oportuniza o ambiente e a orientação para a prática de programas de exercício físico (ROJAS, 2003). 128 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci. A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ Ao iniciar um programa de exercício físico, a maior dificuldade que se encontra é a aderência8 a essa atividade. Deste modo, percebe-se que os educadores físicos que atuam em academias, devem direcionar atenção tanto no incentivo ao ingresso, quanto na manutenção de indivíduos em programas de exercício físico (MALAVASI ; BOTH, 2005). Mesmo sendo conhecida e comprovada a importância da prática de exercícios físicos, tanto para a saúde quanto para a melhoria da qualidade de vida, ainda hoje é verificada uma rotatividade muito grande nas academias. Partindo desse pressuposto, o objetivo do presente estudo é investigar na literatura se o educador físico tem alguma influência na aderência dos alunos praticantes de exercício físico em academias. A realização deste estudo esta relacionada à necessidade de contribuir para ampliar a literatura nessa área, haja vista a existência de poucos estudos no Brasil sobre este tema. REVISÃO DE LITERATURA ACADEMIA A prática de atividades físicas existe desde a pré-história das mais variadas formas. Nesse período as atividades físicas eram praticadas de forma obrigatória pela própria necessidade de sobrevivência. O homem pré-histórico precisava lutar, caçar e pescar para sobreviver, nadar para atravessar rios e caminhar longas distâncias já que era nômade e mudava constantemente sua morada (TUBINO, 1992). Com o passar dos tempos e diferindo de acordo com cada civilização as atividades físicas tiveram diversos enfoques como higiênico, fisiológico, moral, ritual, recreativo, espiritual entre outros, tendo sido a dança uma das atividades físicas mais significantes para o homem na antiguidade (OLIVEIRA, 1983 apud MARTINS, 2008). Tubino (1992) reforça que, com o passar de muitos anos, a atividade física foi tomando forma de exercício físico, pois outros objetivos foram sendo atribuídos a sua prática. De acordo com este autor, foi com a civilização grega que as atividades físicas passaram a ser reconhecidas como historicamente importantes. Como ressalta Oliveira (1983 apud MARTINS, 2008), no período chamado histórico, na Grécia antiga, surgem os grandes jogos gregos, que eram verdadeiras festas 8 Segundo Saba (2001, pag. 39) entende-se como aderência “a manutenção da prática de exercícios físicos por longos períodos de tempo, como parte da rotina dos indivíduos.” 129 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci. A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ populares e religiosas, as quais envolviam, além de competições atléticas, provas literárias e artísticas. As atividades físicas dos indígenas no Brasil eram muito semelhantes àquelas realizadas na pré-história. Nossos primeiros habitantes eram habilidosos e praticavam diversas atividades físicas para sua sobrevivência, tais como: arco e flecha, canoagem, natação, luta, caça, pesca entre outras (OLIVEIRA, 1983 apud MARTINS, 2008). Em 1837, período após a chegada da família real portuguesa ao Brasil, o Ginásio Nacional criado como instituição-modelo no Rio de Janeiro, incluiu a ginástica nos seus currículos e que em 1851, começou a legislação referente à matéria, obrigando a prática da ginástica nas escolas primárias do Município da Corte (OLIVEIRA, 1983 apud MARTINS, 2008). De acordo com Capinussú; Costa (1989 apud MARTINS, 2008), as academias existem em moldes organizacionais desde 1867, quando foi fundada na cidade de Bruxelas, na Bélgica, uma instituição onde se objetivava o ensino da cultura física através de aparelhos. Após essa data o surgimento de novas instalações onde se praticavam atividades físicas foi se intensificando em outros países europeus como França e Inglaterra, e também nos Estados Unidos. Já no Brasil, conforme Capinussú (2006) coube a um imigrante japonês, exímio praticante de jiu-jítsu, por volta do ano de 1914, montar em sua própria casa na cidade de Belém do Pará a primeira academia em moldes comerciais. No que se refere ao surgimento da primeira academia no Rio de Janeiro, o mesmo autor relata ter sido em 1925 quando um português fundou um ginásio na zona central do Rio de Janeiro onde oferecia atividades de halterofilismo e ginástica olímpica. Importante observar que a ênfase das academias era inicialmente nas lutas marciais e no halterofilismo, sendo que inclusive Capinussú; Costa (1989, apud MARTINS, 2008) se referem à década de 50 como “época de ouro das academias dedicadas ao ensino do halterofilismo.” A concepção das academias foi mudando e a ênfase ao halterofilismo, assim como nas lutas, perdendo espaço, até que nos anos 70 surgiu a nomenclatura musculação, para quebrar o preconceito que existia contra o halterofilismo e também atrair as mulheres para essa atividade (MORAES, 2006). A década de 70 ficou marcada pelos trabalhos desenvolvidos pelo Dr. Kenneth Cooper. A obra intitulada “Aeróbica” afirmava que todas as pessoas, inclusive as não treinadas, poderiam realizar alguma prática corporal, pois isso traria enormes benefícios para a saúde, despertando na população o gosto pela atividade física especialmente pela corrida, chamada por ele em inglês de jogging (NOVAES; VIANNA, 2003 apud MARTINS, 2008). 130 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci. A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ Com isso os exercícios aeróbios tiveram grande aceitação por parte da população brasileira, sendo, inclusive, utilizado como meio de treinamento para atletas, particularmente do futebol profissional. Sob orientação do professor Claudio Coutinho, a seleção brasileira de futebol Campeã do Mundo no México em 1970, teve como base de sua preparação física os exercícios aeróbios. O alto nível de habilidade, característica marcante do jogador brasileiro, associado à ciência do treinamento aeróbio, propiciou uma façanha inédita: o tricampeonato mundial de futebol. (GUISELINI, 2006). Ainda de acordo com Guiselini (2006), essa época ficou marcada pela redescoberta da prática do exercício físico, em particular dos exercícios aeróbios. “Fazer Cooper”, virou sinônimo de caminhada e corrida nas praias, parques, ruas; virou moda, tornou-se um comportamento novo entre milhares de sedentários. Neste mesmo período surge à ginástica aeróbica, as professoras Jack Sorensen e Phylips Jacobson, apresentam uma combinação de exercícios aeróbios (caminhadas, corrida e saltos) e músicas, organizadas em pequenas coreografias. A ginástica aeróbica tornou-se um dos maiores fenômenos socioculturais e esportivos no EUA e depois no Brasil. Já consagrados, os exercícios aeróbios adentram a década de 80 com um novo local para sua prática: as academias de ginástica (GUISELINI, 2006). Assim a ginástica aeróbica se consagra entre os jovens como o principal exercício físico praticado nas academias, juntamente com a musculação, que até então era restrita as academias de halterofilismo e frequentadas exclusivamente por homens. A década de 80 fica marcada pela “década de culto ao corpo”, denominada assim pela grande valorização das formas volumosas e pelo envolvimento das mulheres nas salas de musculação (GUISELINI, 2006). Esse período ficou conhecido, como o “boom” das academias (TUBINO, 1989 apud MARTINS, 2008; MORAES, 2006). Na década de 90, a ginástica aeróbica e a musculação serviram de base para o surgimento de novas formas de se exercitar. A nova abordagem da prática de exercício físico, com suporte de novas pesquisas cientificas, contribuiu para o surgimento de novos equipamentos (GUISELINI, 2006). A ciência e a tecnologia chegam definitivamente às academias e aos programas de exercício físico. A década de 90 fica marcada pela grande aceitação do conceito de Fitness9, e assim, a educação física conquista um novo espaço na sociedade, o exercício físico deixa de ser 9 O American College of Sports Medicine (1995 apud MARTINS, 2008) define ftness como “a obtenção ou manutenção dos componentes do condicionamento físico, correlacionados com uma boa ou elevada saúde, sendo necessários para realização de tarefas diárias e no confronto com os desafios esperados e inesperados.” 131 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci. A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ visto como uma prática de moda e é definitivamente incorporado como um habito saudável (GUISELINI, 2006). O fitness relacionado à saúde envolve componentes que apresentam uma relação diretamente proporcional ao melhor estado de saúde e, adicionalmente, demonstraram adaptação positiva à realização regular da atividade física e de exercícios físicos. São eles: resistência cardiorrespiratória, força e resistência muscular, flexibilidade, composição corporal e coordenação motora. (BARBANTI 1993 apud GUISELINI, 2006). Exercício físico regular e alimentação adequada são considerados por médicos, psicólogos e professores de educação física os principais hábitos a serem incorporados no estilo de vida das pessoas. O sedentarismo passa a ser visto como uma doença, e varias pesquisas demonstraram os seus efeitos para a saúde da população mundial: maior incidência de enfarto do miocárdio, diabetes, hipertensão arterial, entre outras doenças (GUISELINI, 2006). A década de 90 também ficou marcada pela criação do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) e respectivos Conselhos Regionais de Educação Física (CREF). A sociedade reconhece e aceita a estreita relação entre educação física e a saúde, e os profissionais de educação física passam a fazer parte do seleto grupo de profissionais da saúde (GUISELINI, 2006). No entanto o conceito de fitness, condicionamento físico relacionado à saúde, no final da década de 1990, é substituído por um novo conceito: wellness10. Os profissionais relacionados à saúde, incluídos neste contexto os educadores físicos, entendem que cuidar do ser humano não pode ser mais de forma tradicional (GUISELINI, 2006). Surge então na educação física uma nova abordagem na formação dos profissionais para o novo milênio: o profissional do bem estar (wellness). O profissional deve estar preparado para compreender a importância do exercício e saber aplicá-lo como meio de mobilização e equilíbrio da energia física, emocional, social, mental e espiritual de todos aqueles interessados em sentir-se bem (GUISELINI, 2006). Desde o seu surgimento, as academias têm absorvido um número cada vez maior de adeptos, com faixas etárias e motivos de procura diferenciados (MARCELLINO, 2003), exigindo dos profissionais de Educação Física conhecimentos que vão além dos aspectos físicos e biológicos do movimento humano. Segundo dados do Confef (2010 apud SABA, 2010) o número de academias em funcionamento e registradas no Brasil é de 17.666. A proliferação das academias de ginástica é uma 10 Corbin (apud SABA, 2001, p. 43) define wellness como sendo “a integração de todos os aspectos da saúde e aptidão (mental, social, emocional, espiritual e física), que expande um potencial para viver e trabalhar efetivamente, dando uma significante contribuição para a sociedade”. 132 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci. A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ realidade em todo mundo e a rotatividade de alunos é um fenômeno que estimula os profissionais e pesquisadores da área a investigar os motivos atribuídos a aderência nos programas estruturados de exercícios físicos oferecidos neste espaço (MARCELLINO, 2003). ADERÊNCIA Quando uma pessoa inicia um programa de atividade física, seja esta iniciativa causada por necessidade ou por convicção, a maior dificuldade que se encontra é na aderência desta atividade em longo prazo. A aderência, ou seja, o comprometimento do praticante de exercícios físicos com a sua rotina programada de treinamento, não ocorre logo no início da prática, pois há um processo lento que vai da inatividade à manutenção da prática de exercícios físicos (NASCIMENTO et al., 2007). O sucesso de qualquer programa de exercícios físicos esta relacionado à motivação de seus participantes, a motivação é caracterizada como um processo ativo, intencional e dirigido a uma meta (SAMULSKI, 2009), considerada uma variável fundamental para a aderência (WEINBERG ; GOULD, 2001). A palavra motivação exerce um grande efeito sobre as pessoas, principalmente quando se refere à prática de atividade física em geral. Muitas vezes a motivação pode ser responsável por inúmeras razões pelas quais o individuo decidira realizar alguma atividade ou não (MALAVASI ; BOTH, 2005). Um dos principais aspectos que auxiliam no desenvolvimento da motivação é a conscientização dos participantes sobre a relevância da prática regular de exercício físico enquanto um componente importante para a sua vida (DECI; RYAN, 2000; SOARES, 2004 apud LIZ et al., 2010). De acordo com Saba (2001), a atividade física é benéfica tanto no aspecto biológico, como também no nível psicológico. O autor aponta melhorias na capacidade cardiorrespiratória, aumento na expectativa media de vida, entre outras, como exemplos de benefícios que a prática do exercício proporciona às pessoas. No nível psicológico, os aspectos relacionam-se ao aprimoramento dos níveis de auto-estima, da auto-imagem, diminuição dos níveis de estresse e tantos outros (SABA, 2001). O estudo de revisão realizado por Liz et al., (2010), sobre os motivos de aderência e desistência de brasileiros praticantes de exercícios físicos em academias, levanta dados importantes acerca desta temática. 133 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci. A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ Dentre estes, os motivos “saúde” e “estética” foram os mais citados para a aderência, seguidos de “resistência, condicionamento e aptidão física”, “bem-estar”, “proximidade da academia da casa ou do trabalho”, “qualidade de vida”, “prazer pelo exercício” e “socialização” (LIZ et al., 2010). Alguns estudos assinalam que a procura por um ideal estético sobrepõe à busca pela saúde (TAHARA et al., 2003; ARAÚJO et al., 2007; ZANETTI et al., 2007 apud LIZ et al., 2010). Este fato dificulta uma orientação profissional adequada, pois há divergência entre o objetivo do professor e do aluno. Assim, de acordo com as considerações de Ryan et. al. (1997 apud LIZ et al., 2010), a busca pela aparência idealizada não garantiria a aderência de praticantes de exercícios físicos em academias. A “socialização” como um dos principais motivos de aderência em academias sustenta a afirmativa de quando as pessoas se identificam com os membros do grupo em que convivem sentem mais prazer e atração pela atividade proposta (RYAN; DECI, 2000; WANKEL, 1993 apud LIZ et. al., 2010). Nesse sentido, organizar o ambiente das academias de maneira a favorecer a socialização entre os alunos e destes com o professor deve ser uma preocupação dos administradores desses estabelecimentos (LIZ et. al., 2010). Os motivos “bem-estar” e o “prazer pelo exercício” estão relacionados aos benefícios psicológicos proporcionados pela prática regular de exercícios físicos (BATISTA, 2001; ZANETTE, 2003; PEREIRA ; BERNARDES, 2005; ZANETTI et al., 2007 apud LIZ et al., 2010). Santos; Knijnik (2006 apud LIZ et al., 2010) afirmam que as pessoas que têm prazer pela prática, conseguem remanejar e derrubar as barreiras e dificuldades que encontram para aderirem aos exercícios físicos. Assim sendo, fazer com que o individuo se sinta bem ao praticar exercícios físicos deve ser um objetivo dos profissionais envolvidos na orientação de exercícios físicos. O EDUCADOR FÍSICO A conscientização da importância da atividade física para uma boa qualidade de vida tem levado cada vez mais pessoas a se exercitarem. Contudo, uma prática realmente saudável e inserida como parte da rotina dos indivíduos, depende de orientação adequada, o que cabe ao profissional formado em Educação Física. A graduação em Educação Física oferece formação em licenciatura e bacharelado, o profissional com licenciatura pode atuar como professor de Educação Física na educação formal. 134 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci. A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ Já a área de atuação do bacharel é voltada para clubes, academias, hotéis e associações, onde exerce funções administrativas ou elabora treinos de musculação, ginástica, atividades aquáticas, treinamentos esportivos entre outros (ROJAS, 2009). Desse mercado de trabalho, as academias caracterizam uma significativa parcela, sendo uma das principais empregadoras dos profissionais que optam pelo bacharelado (ANTUNES, 2003). Um estudo realizado por Martins (2008) levanta importantes considerações a respeito da atuação do bacharel em educação física nas academias. E através de uma pesquisa, revela a sua importância na permanência dos alunos a prática de exercícios nas academias. Pereira (1996 apud MARTINS, 2008) menciona algumas características que segundo ela o professor de academia deve possuir, entre estas: ser criativo e comunicativo, ser solicito e prestativo, inspirar confiança a respeito de seus procedimentos, se relacionar bem com os alunos, chamá-los pelo nome, se preocupar quando faltam, se manter atualizado e informado entre tantas outras. Ela menciona ainda que a função do professor pode ir além de ministrar aulas. O papel do professor é acompanhar o desenvolvimento dos alunos, incentivá-los, elogiá-los, corrigi-los quando necessário, orientá-los, mostrar-se preocupado e interessado (PEREIRA, 1996 apud MARTINS, 2008). Aulas mal ministradas podem impedir a manutenção e a aderência ao exercício físico. Essa posição é compartilhada por Berger ; Mclnman (1993), que apresentam dados confirmando que os indivíduos que recebem pouca atenção do corpo técnico tendem a desistir duas vezes mais, que os indivíduos que recebem elevada atenção. (SABA, 2001 pg. 83) É importante destacar que, as pessoas não frequentam as academias somente com fins estéticos. Essa finalidade pode até existir, mas não isoladamente. Atualmente, quando as pessoas andam cada vez mais apressadas, estressadas e sedentárias, a prática de exercício físico constitui também um idílio de saúde e paz (SABA, 2001). Ainda de acordo com o mesmo autor “a busca sequiosa por ideal estético – acredita-se que na maioria dos casos frustrantes – pode ser responsável pela elevada rotatividade de clientes [...]” (SABA 2001, p. 50). Saba (2001) acredita que ao se falar nos objetivos da atividade física na academia se deva tirar a ênfase dada à beleza, à estética, e passar a enfatizar a qualidade de vida, o bem-estar e o aumento da expectativa media de vida. E destaca ainda que “o preparo dos profissionais é de fundamental importância na mudança desse paradigma.” (SABA, 2001, p. 53). 135 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci. A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ Pereira (2006 apud MARTINS, 2008) afirma que a culpa pelas pessoas não inserirem em seu cotidiano a prática de atividade física é dos professores de Educação física, que ainda não descobriram sua importância como disseminadores de uma vida mais saudável. Para que isso ocorresse bastaria que os professores comentassem em suas aulas que, por exemplo, um abdômen grande não significa apenas estar fora dos padrões de beleza impostos pela sociedade, mas também a grande probabilidade, de acordo com pesquisas, de vir a contrair diabetes e doenças cardiovasculares (PEREIRA, 2006 apud MARTINS, 2008). Ainda de acordo com Guiselini (2006), é papel do educador físico, informar freqüentemente os alunos sobre os benefícios da prática regular do exercício físico que ocorrem ao longo da vida, principalmente no processo de envelhecimento, no qual ocorre a diminuição do condicionamento físico, decorrente da idade, que é muito menor entre os indivíduos ativos. Com relação à motivação, é papel do profissional de educação física, por meio de sua atuação, orientar seu aluno no sentido de uma prática motivante. É necessário que o aluno seja o centro da relação “sujeito” x “atividade física”, fomentando seu sentimento de autonomia e conseqüentemente tornando-o mais motivado. Nesse sentido, os exercícios devem ser orientados em função das preferências dos alunos, ao invés de adequar este a atividades previamente estabelecidas (DECI; RYAN, 2000 apud LIZ et al., 2010). Ainda é destacado por Martins Junior (2000 apud LIZ et. al., 2010), a importância de o professor conhecer as teorias acerca da motivação, pois essas informações possibilitaram elaborar estratégias mais eficazes para manter o aluno fisicamente ativo. Deste modo, percebe-se que os educadores físicos que atuam em academias, devem direcionar atenção tanto no incentivo ao ingresso, quanto na manutenção de indivíduos em programas de exercício físico (MALAVASI ; BOTH, 2005). CONSIDERAÇOES FINAIS Através desta revisão de literatura, foi possível identificar que, o educador físico tem grande influência na aderência dos alunos praticantes de exercícios físicos em academias. Pode-se observar que, as academias ao longo dos anos, apresentaram constantes mudanças na sua concepção, passando a adotar novos conceitos, técnicas e abordagens com o intuito de promover a saúde e qualidade de vida de seus alunos. Com toda essa evolução no mercado de academias, se faz necessário que o educador físico acompanhe essas mudanças. E para tal, é fundamental que eles busquem o conhecimento 136 REZENDE, Filipe Figueiredo de; VIEIRA, Marcelle Valentim; BICALHO, Beatriz; BRAGA, Mariluci. A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ técnico/cientifico, se atualizem constantemente e acima de tudo tenham uma visão ampla sobre seu campo de atuação. No transcorrer deste estudo, foi possível identificar que o conhecimento técnico/cientifico, é de extrema importância para o profissional. Pois de posse destes conhecimentos o profissional é capaz de avaliar, prescrever e direcionar os alunos a uma prática consistente, regular e motivante. Aliando conhecimento/técnico à características como, atenção, cordialidade, criatividade entre outros, esse profissional será responsável por influenciar a aderência destes alunos a prática de exercícios nas academias. Cabe salientar que, no transcorrer da elaboração deste estudo, houve o desafio, de encontrar referências bibliográficas consistentes sobre o tema investigando o papel do educador físico na aderência de alunos em academias. A partir disso, sugere-se a realização de outros estudos para investigar os fatores que influenciam o comportamento do educador físico neste ambiente. REFERÊNCIAS ANTUNES, C. A. Perfil profissional de instrutores de academias de ginástica e musculação. Lecturas Educación Fisica e Deportes, Revista Digital, Buenos Aires, n. 60, maio., 2003. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd60/perfil.htm. Acesso em: 12 outubro. 2010. CAPINUSSÚ, J. M. Academias de ginástica e condicionamento físico: origens. In: DA COSTA, Lamartine (org.). 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A influência do educador físico da aderência dos alunos a prática de exercícios em academia. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 126137, Jan. 2011/Jun 2011. ________________________________________________________________________________ MARTINS, M. C. O papel dos professores de educação física na permanência dos alunos em uma academia da cidade de São Leopoldo. Trabalho de Conclusão de Curso (Faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto) – Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2008. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/graduacao/article/viewFile/4158/3147. Acesso em: 7 abril. 2010. MORAES, L. C. O boom das academias. Rio de Janeiro: [2006]. Disponível em: http://www.totalsport.com.br/colunas/moraes/ed1501.htm. Acesso em: 09 out. 2010. NASCIMENTO, G. Y.; SORIANO, J. B.; FÁVARO, P. E. 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Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 138-146, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________ ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO CLIENTE VÍTIMA DE TRAUMA RAQUIMEDULAR: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO Emília Rodrigues Ferreira1 Rogério Pereira Bernardes1 Francino Machado de Azevedo Filho2 Gleydson Melo3 Resumo: Abstract: O estudo teve o objetivo de realizar uma busca por publicações de enfermagem sobre trauma raquimedular no período de 2000 a 2009 no Brasil, observando o perfil das vítimas e a assistência de enfermagem ofertada naquele momento. Trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica, de abordagem exploratória. Foi possível selecionar 14 artigos publicados sobre trauma raquimedular em língua portuguesa. Os pacientes acometidos, em sua maioria, são adultos jovens, do sexo masculino, solteiros e residentes em áreas urbanas, que necessitam de assistência domiciliar em todos os momentos do processo de cuidar. O estudo demonstrou a necessidade de um plano de cuidados próprios para cada paciente dependendo do grau da lesão, abordando de forma ampla o paciente e a família. The study had the objective to lift the publications of nursing on trauma raquimedular in the period from 2000 to 2009 in Brazil, lifting the profile of the victims and presence of nursing. It the question is an inquiry of bibliographical revision, approach exploratória. It was possible to lift 14 articles published on trauma raquimedular in Portuguese language. The attacked patients, in his majority, are young adults, of the masculine sex, unmarried and resident in urbane areas, which need home presence at all the moments of the process to take care. The study demonstrated the necessity of a plan of own cares for each patient depending on the degree of the injury, boarding in the spacious form the patient and the family. Palavras Chave: Trauma raquimedular, assistência, enfermagem. Key-Words: Spinal trauma, care, nursing. INTRODUÇÃO Medula espinhal é a porção alongada do sistema nervoso, é a continuação do encéfalo, que se aloja no interior da coluna vertebral em seu canal vertebral, ao longo do seu eixo crâniocaudal. (DANGELO; FATTINI, 2007). A medula espinhal é formada por segmentos e raízes nervosas, e essas raízes emergem da medula no nível de cada segmento. São sete cervicais, doze torácicos, cinco lombares e cinco 1 Acadêmicos de Enfermagem, 8° Período da Faculdade Estácio de Sá de Goiás. Orientador e Professor de Enfermagem da Faculdade Estácio de Sá de Goiás. 3 Co-orientador e Professor de Enfermagem da Faculdade Estácio de Sá de Goiás. 2 139 FERREIRA, Emília Rodrigues; BERNARDES, Rogério Pereira; FILHO, Francino Machado de Azevedo; MELO, Gleydson. Assistência de enfermagem ao clinte vítima de trauma raquimedular: um estudo bibliográfico. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 138-146, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________ sacrais e quatro coccigenas. Os segmentos de C5 a T1 inervam os membros superiores, enquanto os segmentos de T12 a S4 se destinam aos membros inferiores. (ALBUQUERQUE; FREITAS, 2009). A lesão medular é definida como toda a agressão da medula espinhal que pode levar a danos neurológicos, relacionados às funções motora, sensitiva, visceral, sexual e trófica e pode ter origem traumática por acidente automobilístico, ferimento por arma de fogo, mergulho em águas rasas e queda de altura ou, ainda, causas não traumáticas como tumores, processos infecciosos, alterações vasculares, malformações, processos degenerativos ou compressivos. Nesse universo, a literatura aponta, no país e fora dele, claramente, a expressividade do trauma relacionado ao aumento da violência urbana. (AZEVEDO; SANTOS, 2006). Lesão medular envolve uma série de complicações, dentre elas o choque medular, que representa uma repentina perda da atividade reflexa na medula espinhal (arreflexia) abaixo do nível do trauma. Nesta condição os músculos enervados pela parte do segmento da medula situada abaixo do nível da lesão ficam completamente paralisados e flácidos e os reflexos são ausentes. A pressão arterial cai e as partes do corpo abaixo do nível da lesão ficam paralisadas e sem sensibilidade. (BRUNI; et.al, 2004). A lesão instável da coluna vertebral sem lesão neurológica, principalmente em pacientes politraumatizados, vitima de colisões em alta velocidade, inconscientes ou alcoolizados, possuem grande potencial de lesão adicional das estruturas nervosas durante o resgate e transporte dos pacientes, existindo inúmeros exemplos clínicos de pacientes com quadro neurológico normal após o acidente, e que sofreram lesão das estruturas nervosas durante o resgate e transporte. (DEFINO, 1999). O nível neurológico da lesão é determinado pelo mais caudal segmento sensitivo e motor preservado bilateralmente. Porém, o funcionamento motor pode estar comprometido em nível diferente do sensorial e as perdas podem ser assimétricas. Nesses casos, até quatros segmentos neurológicos podem ser descritos em um mesmo paciente: sensorial direito, sensorial esquerdo, motor direito e motor esquerdo. Uma lesão completa, no plano transverso, é definida como ausência de função motora e sensitiva nos miótomos e dermátomos inervados pelos segmentos sacrais da medula. Uma lesão incompleta há preservação da função motora e/ou sensitiva abaixo do nível neurológico, incluindo os segmentos sacrais. (MENDES; ARAÚJO, 2006). No Brasil na maioria dos casos, tal lesão tem origem traumática, sendo o ferimento ocasionado por arma de fogo, acidente automobilístico e quedas, as causas externas mais freqüentes. As vitimas desses traumatismos são predominantemente adultos jovens, com idade 140 FERREIRA, Emília Rodrigues; BERNARDES, Rogério Pereira; FILHO, Francino Machado de Azevedo; MELO, Gleydson. Assistência de enfermagem ao clinte vítima de trauma raquimedular: um estudo bibliográfico. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 138-146, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________ variando de 18 e 35 anos e na proporção de quatro homens para uma mulher. Tais lesões geram uma incapacidade de alto custo para o governo e acarreta importantes alterações no estilo de vida do paciente. (GONZALES; et.al, 2001). O atendimento do paciente no local do acidente é de grande importância para a sua avaliação inicial, reconhecimento de suas lesões e prevenção de lesões adicionais durante o seu resgate e transporte para local onde deverá receber o atendimento definitivo. Devem ser sempre consideradas a presença de uma lesão da coluna vertebral e a manutenção da imobilização do paciente até que esse tipo de lesão possa ser avaliado com segurança por meio de radiografias e outros exames complementares, quando necessários. O lesado medular apresenta uma das mais graves incapacidades que podem acometer um individuo, pois o torna um paciente com alterações motoras e sensitivas, alem de ter desregulado suas funções fisiológicas, passando a apresentar alterações respiratórias, vasculares, da atividade sexual, urinarias e intestinais. (SARTORI; MELO, 2002). Dado a complexidade do quadro clínico e a necessidade de assistência de enfermagem especializada e sistematizada, assim como, da equipe interdisciplinar que esteja preparada para a prática assistencial de cuidar do cliente vítima de trauma raquimedular, assegurando o cuidado holístico do paciente e continuidade da assistência, espera-se destes profissionais um alto preparo para prática assistencial. (GONZALES; et. al, 2001). OBJETIVO Levantar o perfil das vítimas e o papel da enfermagem na assistência a vítima de trauma raquimedular. METODOLOGIA Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica, de abordagem exploratória, utilizando como critério de inclusão, artigos publicados entre 2000 a 2009, em língua portuguesa, que abordassem o trauma raquimedular no Brasil e que tenha sido realizado por enfermeiros. A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. (GILL, 2002). Foi feita busca e seleção de artigos junto à base de dados da Scielo, Bireme e Lilacs, utilizando os descritores: Trauma Raquimedular e Enfermagem. 141 FERREIRA, Emília Rodrigues; BERNARDES, Rogério Pereira; FILHO, Francino Machado de Azevedo; MELO, Gleydson. Assistência de enfermagem ao clinte vítima de trauma raquimedular: um estudo bibliográfico. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 138-146, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________ Selecionados os estudos que atendiam aos critérios de inclusão, foram realizadas leituras sistemáticas dos artigos e categorização dos dados encontrados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Após o levantamento foram selecionados 14 artigos publicados por enfermeiros em língua portuguesa, no Brasil. Foi possível levantar o perfil das vitimas de trauma raquimedular no Brasil e descrever o papel da enfermagem na assistência ao lesado medular, quanto no atendimento intra-hospitalar, quanto na reabilitação. PERFIL DAS VITIMAS DE TRAUMA RAQUIMEDULAR NO BRASIL As lesões medulares são cada vez mais freqüentes devido principalmente ao aumento da violência urbana. Dentre as causas, o acidente de trânsito e a agressão por arma de fogo são as mais comuns. Os pacientes acometidos, em sua maioria, são adultos jovens, do sexo masculino, solteiros e residentes em áreas urbanas. (VALL; BRAGA; ALMEIDA, 2006). As vítimas na sua maioria fazem parte da população economicamente ativa e em idade altamente produtiva, configurando assim, o trauma raquimedular como uma situação que afeta não só o sistema de saúde brasileiro, mais também o sistema econômico e previdenciário. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO CLIENTE HOSPITALIZADO COM DIAGNÓSTICO DE TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR Nos indivíduos com lesão medular, é muito comum existir a somatória de necessidades não atendidas. (VENTURINI; DECESARO; MARCON, 2006). A cada internação, o enfermeiro executa o Processo de Enfermagem que é constituído de exame físico e entrevista, sendo que a partir daí é realizado o levantamento de dados específicos relacionados à deficiência física e incapacidades que nortearão as ações da Enfermagem especializada para a assistência à pessoa com deficiência física. (LEITE; FARO, 2005). Para tanto, é fundamental adotar um método de trabalho capaz de direcionar e organizar as atividades de enfermagem de acordo com as necessidades de cada paciente. O processo de enfermagem possibilita esta organização, pois é uma metodologia embasada em referências teóricas, de acordo com a filosofia de cada instituição, podendo atender aos pacientes de forma individualizada e integral nas suas necessidades biopsicossociais. (CAFER; 142 FERREIRA, Emília Rodrigues; BERNARDES, Rogério Pereira; FILHO, Francino Machado de Azevedo; MELO, Gleydson. Assistência de enfermagem ao clinte vítima de trauma raquimedular: um estudo bibliográfico. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 138-146, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________ et.al, 2005). Com isso, o uso das teorias de enfermagem promove a identidade profissional, pois fornece uma base firme na qual a enfermeira se apóia quando suas idéias são questionadas. (CARVALHO; DAMASCENO, 2003). Os diagnósticos de enfermagem em indivíduos com lesão raquimedular, hospitalizados, de acordo com a proposta da North American Nursing Diagnosis Association (NANDA) e, de maneira subseqüente, apresentar propostas de intervenções de enfermagem, com base na Nursing Interventions Classification (NIC). A utilização das classificações é de extrema importância, pois possibilita uma padronização da linguagem para os diagnósticos, intervenções e resultados de enfermagem, favorecendo a reflexão sobre as habilidades dos enfermeiros em examinar as tendências de sua prática e avaliar a qualidade de cuidados prestados aos pacientes. Os pacientes portadores de lesão medular apresentam alguns diagnósticos de enfermagem específicos. (CAFER; et.al, 2005). Os diagnósticos de enfermagem com maior freqüência ao cliente com trauma raquimedular, descritos nos estudos foram: alteração sensorial de percepção sinestésica, impotência, déficit de conhecimento sobre paraplegia, mobilidade física prejudicada e disfunção sexual. (CARVALHO; DAMASCENO, 2003). As intervenções descritas com maior freqüência nos estudos e que devem orientar a assistência de enfermagem são: oferecer suporte emocional através do diálogo e do aconselhamento, falar, individualmente, sobre o tipo de lesão que ele apresenta e as repercussões na sua sexualidade, manter diálogo aberto e franco sobre os sentimentos, deixando aflorar os medos, favorecendo um diálogo franco, estimular a socialização através de contatos com os amigos, reservar um tempo para deixá-lo expressar seus sentimentos, estimular o uso de terapias para promover a saúde, incluindo massagens, toque, aconselhamento, promover ambiente seguro e de apoio, ensinar a reeducação vesical e intestinal, implementar cuidados relativos a higiene, alimentação, eliminações, mobilidade física, e integridade cutâneo-mucosa, ajudar a sentar na cadeira de rodas, ensinar os mecanismos com o corpo e a cadeira, propiciar condições para que o paciente reconheça que ainda é capaz de um relacionamento sexual, fazer orientação individual sobre novas técnicas e maneiras de realizar a atividade sexual. (CARVALHO; DAMASCENO, 2003). Ao trabalhar com pessoas fragilizadas pela paraplegia e pelo sofrimento, é exigido da enfermagem exercitar a sua própria pessoa, quer compartilhando sentimentos, quer utilizando um enfoque intelectual direcionado aos problemas, o que requer que ela domine os fatos, os princípios e conceitos daquilo que ela pensa. (CARVALHO; DAMASCENO, 2003). 143 FERREIRA, Emília Rodrigues; BERNARDES, Rogério Pereira; FILHO, Francino Machado de Azevedo; MELO, Gleydson. Assistência de enfermagem ao clinte vítima de trauma raquimedular: um estudo bibliográfico. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 138-146, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________ As intervenções de enfermagem não trazem de volta os movimentos perdidos, mas permitem a convivência com a incapacidade de maneira digna e com melhor qualidade de vida. (VALL; BRAGA; ALMEIDA, 2006). A lesão raquimedular deixa incapacidades permanentes. É com tais conseqüências que se procura planejar cuidados em longo prazo, coerentes com as expectativas e possibilidades clínicas e sociais do paciente e família. (LEITE; FARO, 2005). ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO CLIENTE EM REABILITAÇÃO O processo de reabilitação é longo e envolve componentes atitudinais, psicossócioespirituais, econômicos e políticos sendo muitas vezes um desafio tanto para o paciente como para o enfermeiro. (FARO, 2006). O enfermeiro tem características que facilitam o seu papel educador com o paciente: é ele o elemento da equipe que mais tempo permanece ao lado do paciente e tem a capacidade de observá-lo e considerá-lo como todo e não apenas como um caso. A reabilitação faz parte dos cuidados de Enfermagem enquanto um modelo assistencial, bem como uma especialidade. A assistência de Enfermagem na reabilitação tem como principais objetivos auxiliar o paciente a se tornar independente o máximo que puder dentro de suas condições, promover e incentivar o autocuidado através de orientações e treinamento de situações, preparar o deficiente físico para uma vida social, familiar da melhor maneira possível e com qualidade. (LEITE; FARO, 2005). O enfermeiro tem papel expressivo junto aos demais profissionais reabilitador da equipe, compreendendo uma assistência holística e compartilhada onde o binômio paciente-família tem o seu papel preservado junto à equipe de especialistas, papel este definido em sua expressão clínica e acadêmica, o significado de somar esforços, compartilhar responsabilidades, conhecimento, reconhecer os limites e enfatizar potencialidades e habilidades. O enfermeiro reabilitador tem como compromisso garantir às pessoas com deficiências e incapacidades, assistência nos vários níveis de complexidade, utilizando métodos e terapêuticas específicos. Ainda, lhe cabe subsidiar tecnicamente a implantação de serviços especializados de enfermagem em reabilitação na busca por melhores condições de vida, de integração social e na independência para as atividades básicas da vida diária das pessoas com deficiências, bem como a implementação de assistência especializada, pautada no binômio indivíduo família frente às incapacidades impostas e, para tanto, na qualidade de um educador. (FARO, 2006). 144 FERREIRA, Emília Rodrigues; BERNARDES, Rogério Pereira; FILHO, Francino Machado de Azevedo; MELO, Gleydson. Assistência de enfermagem ao clinte vítima de trauma raquimedular: um estudo bibliográfico. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 138-146, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________ A presença da deficiência e incapacidade no contexto familiar altera a dinâmica das relações e a complexidade de suas interações. As famílias que vivenciam essa situação passam por transformações no decorrer do tempo e as que mais se sobressaem são as marcadas pela presença de crises. Diante da necessidade de acolher o indivíduo com LM e apoiar seu processo de recuperação e reabilitação, cada pessoa da família individualmente e respeitando suas características peculiares, busca manter a integridade física e emocional do grupo, desenvolvendo, favorecendo ou fortalecendo as relações familiares. Por isto, cuidar desses pacientes exige conhecer suas famílias, que constituirão o principal apoio durante o processo de doença e reabilitação, para possibilitar uma assistência mais humana e efetiva. (VENTURINI; DECESARO; MARCON, 2007). CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se perceber com esse estudo o quanto e importante à atuação dos enfermeiros no atendimento ao paciente portador de lesão raquimedular, durante toda a internação, pois o lesado medular e a família chegam ao hospital com muito medo e cheio de dúvidas, muitos por falta de conhecimento e por se sentirem inseguros, então o enfermeiro realizará uma avaliação para proporcionar um atendimento sistematizado, planejado e implementado, atuando como orientador junto ao lesado medular e a família a fim de evitar complicações, controlar as crises de espasticidade e evitar incapacidades secundárias. Os estudos demonstraram a necessidade de um plano de cuidados próprios para cada paciente dependendo do grau da lesão, abordando de forma ampla o paciente e a família. Em casos de lesão raquimedular, deve-se considerar que a reabilitação tenha início o mais rápido possível, assim que for fechado o diagnóstico de lesão raquimedular, pois, envolve a aprendizagem do paciente e da família diante de uma vida completamente diferente. A partir daí, o maior desafio é a prevenção das complicações ou de incapacidades secundárias que, se contornadas, melhoram gradativamente o potencial funcional dos pacientes e também promover a reintegração ao meio social. Dessa forma, cabe à enfermagem utilizar recursos que possam aprimorar a assistência prestada a esses pacientes. A implementação dos diagnósticos e intervenções de enfermagem, de maneira precisa, em que constituem uma alternativa a ser utilizada, possibilitando a melhora da qualidade do atendimento quanto dos resultados esperados. Portanto, é oportuno lembrar a necessidade do preparo dos enfermeiros, bem como dos familiares que participam do processo de 145 FERREIRA, Emília Rodrigues; BERNARDES, Rogério Pereira; FILHO, Francino Machado de Azevedo; MELO, Gleydson. Assistência de enfermagem ao clinte vítima de trauma raquimedular: um estudo bibliográfico. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 138-146, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________ assistência ao lesado medular, sendo necessária a realização de estudos, orientações e treinamentos neste âmbito do cuidado junto a eles. Observa-se que a maioria dos artigos pesquisados relata sobre a preocupação da qualidade de vida, a forma de enfrentamento diante da lesão raquimedular e da preparação da alta hospitalar do lesado medular. Notou-se ainda que todas devem ser estudadas juntamente com a equipe multiprofissional e montado um plano estratégico junto com a família fazendo com que eles compreendam e entendam as necessidades de vida diária desse paciente, e principalmente que eles tenham que se adaptar ao novo estilo de vida paciente e o paciente também aprenderá a se adaptar a nova condição de vida que terá daí em diante, pois o tratamento é lento e demorado, após a alta hospitalar deve continuar o tratamento de reabilitação e receber o acompanhamento domiciliar do profissional de enfermagem. Acredita-se que a concepção de saúde-doença, no âmbito da reabilitação, leva a compreender o homem a partir de o seu fazer, do seu estilo de vida e cidadania e não a partir de sua doença ou deficiência. A prevenção seria a melhor forma de solucionar ou de, pelo menos, minimizar os danos causados pelos traumas. REFERÊNCIAS 1. ALBUQUERQUE, Ana Lúcia Pereira de; FREITAS; Consuelo Helena Aires de; JORGE, Maria Salete Bessa. 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Vol. 02, nº 05, 147-162, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ REABILITAÇÃO VESTIBULAR ATRAVÉS DOS EXERCÍCIOS DE CAWTHORNE E COOKSEY PARA PREVENÇÃO DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Cleidiane Ferreira Da Silva1; Adriano Luis Fonseca2 Resumo Abstract Atualmente, a população idosa vem crescendo de maneira significativa, gerando cada vez mais a necessidade de estudos sobre a complexidade envolvida no fenômeno do envelhecimento. Neste processo verificamos uma diminuição na funcionalidade de todos os sistemas orgânicos. A força muscular diminui, assim como o número de fibras musculares, equilíbrio, flexibilidade, agilidade e coordenação motora, levando a uma redução da mobilidade corporal.Esta fase compromete a habilidade do Sistema Nervoso Central (SNC) em realizar o processamento dos sinais vestibulares, visuais e proprioceptivos responsáveis pela manutenção do equilíbrio corporal.As quedas são as conseqüências mais perigosas do desequilíbrio e da dificuldade de locomoção, representando assim, um grande problema de saúde dos idosos. A reabilitação vestibular (RV) surgiu a fim de procurar restabelecer o equilíbrio por meio de estimulação e aceleração dos mecanismos naturais de compensação, induzindo o paciente a realizar o mais perfeitamente possível os movimentos e para possibilitar uma melhor qualidade de vida. Currently, the elderly population is growing significantly, generating more and more the need for studies about the complexity involved in the phenomenon of aging. In this process we found a decrease in the functionality of all systems. Muscle strength decreases, and the number of muscle fibers, balance, flexibility, agility and coordination, leading to a reduction in mobility corporal. This phase compromises the ability of the central nervous system (CNS) to perform the signal processing vestibular visual and proprioceptive responsible for maintaining balance corporal. The falls are the most dangerous consequence of imbalance and difficulty in walking, thus representing a major health problem of idosos. The rehabilitation (VR) has emerged to seek to restore the balance through stimulation and acceleration of the natural mechanisms of compensation, inducing the patient to perform as perfectly as possible the movement and to facilitate a better quality of life. Palavras-chave: Envelhecimento; Quedas; Vestibular. 1 2 Reabilitação Keywords: Aging; falls; vestibular rehabilitation. Graduada em Fisioterapia pela Faculdade Estácio de Sá de Goiás/FESGO. Prof. Ms., orientador da pesquisa e Gerente Acadêmico da Estácio de Sá de Goiânia-GO. 148 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ INTRODUÇÃO A população idosa vem crescendo de maneira significativa, gerando cada vez mais a necessidade de estudos sobre a complexidade envolvida no fenômeno de envelhecimento (CUNHA, et al, 2008). Segundo Zanardini, et al (2007) o envelhecimento é um processo natural que se manifesta por um declínio das funções de diversos órgãos. Em função de tantas estruturas e sistemas alterados pela passagem do tempo, muitas queixas se tornam freqüentes na população idosa, dentre as quais se destacam as tonturas e a vertigem, patologias que acometem o sistema vestibular (CUNHA, et al, 2008). Este sistema é referencial absoluto na manutenção do equilíbrio. Seu déficit funcional pelo envelhecimento resulta em alterações no equilíbrio e aumento na possibilidade de quedas (RIBEIRO e PEREIRA, 2005). Junior (2007) diz que a reabilitação vestibular (RV) procura restabelecer por meio da estimulação e aceleração dos mecanismos naturais de compensação, induzindo o paciente a realizar o mais perfeitamente possível os movimentos que estavam acostumados a fazer antes de surgir a tontura. Exercícios como os de Cawthorne e Cooksey permitem novos padrões de estimulação vestibular e esta intervenção seria capaz de promover melhoras nas reações de equilíbrio, e assim possibilitando uma melhor qualidade de vida aos idosos (SANTOS, et al, 2008). Estes exercícios caracterizam-se por um programa de reabilitação vestibular e envolvem movimentos de cabeça, pescoço e olhos; exercícios de controle postural em várias posições (sentado, em apoio bipodal e unipodal, andando); uso de superfície de suporte macio para diminuição do “input” proprioceptivo; exercícios com olhos fechados para abolição da visão (JUNIOR, 2007). Esses exercícios buscam promover a melhora do equilíbrio global, da qualidade de vida e a restauração da orientação espacial para o mais próximo do fisiológico, através da estimulação dos fenômenos de adaptação (SOARES, 2007). O ENVELHECIMENTO O envelhecimento pode ser compreendido como um conjunto de alterações estruturais e funcionais desfavoráveis do organismo que se acumulam de forma progressiva, especificamente em função do avanço da idade. Essas modificações prejudicam o desempenho de habilidades motoras, 149 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ dificultando a adaptação do indivíduo ao meio ambiente, desencadeando modificações de ordem psicológica e social (CUNHA,et al, 2009). Neste processo verificamos uma diminuição na funcionalidade de todos os sistemas orgânicos. As sensações ocasionadas pelos estímulos externos e conduzidas pelos proprioceptores estão diminuídas, além da acuidade visual e o equilíbrio (SOARES,2007). As características mais marcantes no processo do envelhecimento é o declínio da capacidade funcional, força, equilíbrio, flexibilidade, agilidade e coordenação motora, constituem variáveis afetadas diretamente por alterações neurológicas e musculares. O comprometimento no desempenho neuromuscular, evidenciado por paresia, incoordenação motora, lentidão e fadiga muscular constitui um aspecto marcante neste processo. O desbalanço entre a formação e a reabsorção óssea, que torna favorável o surgimento de osteopenia e osteoporose, elevando assim o risco de incapacidade na população idosa (MEIRELES, et al, 2008). Uma das alterações mais evidentes é a perda de massa muscular ou sarcopenia. A perda de massa ocorre principalmente pela diminuição no peso muscular e também em sua área de secção transversal. Também se deve á perda de unidades motoras e ao fato de que nas placas motoras dos idosos as pregas são mais numerosas e as fendas sinápticas se tornam mais amplas, reduzindo a superfície de contato entre o axônio e a membrana plasmática. Conseqüentemente, o idoso terá menor qualidade em sua contração muscular, menor força, menor coordenação dos movimentos e provavelmente, maior probabilidade de sofrer acidente (por exemplo, quedas) (REBELATTO e MORELLI, 2007). Segundo Papaléo (2005), as fibras musculares que se perdem são substituídas por tecido conjuntivo, ocorrendo aumento do colágeno intersticial no músculo do idoso. Esta fase compromete a habilidade do Sistema Nervoso Central (SNC) em realizar o processamento dos sinais vestibulares, visuais e proprioceptivos responsáveis pela manutenção do equilíbrio corporal, como diminuir os reflexos adaptativos. O principal sintoma resultante da disfunção do sistema vestibular na população idosa é a tontura, e pode estar associada a outras disfunções, como as auditivas e as manifestações neurovegetativas. As quedas são as conseqüências mais perigosas do desequilíbrio e da dificuldade de locomoção, representando assim, um grande problema de saúde dos idosos (SANTOS, et al, 2008). Segundo Perracini (2002) queda é uma mudança de posição inesperada, não-intencional, que faz o indivíduo permanecer em um nível inferior, por exemplo, sobre o mobiliário ou no chão. Podem ser classificadas a partir da freqüência com que ocorrem e do tipo de conseqüência advinda do evento. A queda acidental é aquele evento único que dificilmente voltará a se repetir e é 150 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ decorrente de uma causa extrínseca ao indivíduo, em geral pela presença de um fator de risco ambiental danoso, como piso escorregadio, um degrau sem sinalização. A queda recorrente expressa a presença de fatores etiológicos intrínsecos, como doenças crônicas, polifarmácia, distúrbios do equilíbrio corporal, e déficits sensoriais (PERRACINI, 2002). Merritt (2007) relata que os períodos de alto risco de quedas ocorrem durante o mês subseqüente a uma alta hospitalar em indivíduos fracos ou durante episódios de doença aguda ou exacerbações de condições crônicas. O uso de inúmeras medicações, especialmente drogas psicoativas como antidepressivos, aumenta as chances de queda. Pereira, et al (2001) descreve a ocorrência de quedas por faixas etárias a cada ano: 32% em pacientes de 65 a 74 anos; 35% em pacientes de 75 a 84 anos; 51% em pacientes acima de 85 anos; No Brasil, 30% dos idosos caem ao menos uma vez ao ano. A freqüência de quedas é maior em mulheres do que em homens da mesma faixa etária. Cunha (2009) expõe dois fatores de risco de quedas que são: Fatores intrínsecos: indicam-se patologias artríticas, depressão, hipotensão postural, alterações cognitivas, visuais, do equilíbrio, da marcha, da força muscular, tonturas, vertigem, síncopes. Fatores extrínsecos: fraca ou má iluminação da casa (especialmente em período noturno), superfícies irregulares ou escorregadias, tapetes soltos, objetos no caminho, vestuário e calçados inadequados. Um dos fatores causais da queda que afetam muitos idosos é a labirintite ou labirintopatia que é uma afecção determinada por comprometimento do ouvido interno (labirinto). Labirintite seria a inflamação do labirinto (JUNIOR, 2007). SISTEMA VESTIBULAR De acordo com Pedalini, et al (1999) nosso equilíbrio depende de integrações que permitem ao SNC (áreas vestibulares, tronco cerebral e cerebelo) reconhecer posições e movimentos da cabeça em relação ao corpo e ao espaço. São quatro os sistemas fundamentais nessa função: - vestibular: via principal de informação para o SNC dos movimentos da cabeça; - visual: atua como sensor das relações espaciais; - proprioceptivo: informa a posição das diversas partes do corpo no espaço em determinado momento através de sensores localizados nos músculos, tendões, cápsulas articulares e tecido cutâneo; - auditivo: permite a orientação espacial, através da percepção esterofônica. As manifestações das alterações que comprometem esse sistema podem ser percebidas 151 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ como: desequilíbrio,desvio de marcha, instabilidade, sensação de flutuação, sensação rotatória, quedas. O estímulo vestibular é utilizado para gerar os movimentos oculares compensatórios e as respostas posturais durante os movimentos da cabeça e ajuda a resolver as informações conflitantes procedentes das imagens e do movimento real. As informações advindas de receptores sensoriais no aparelho vestibular interagem com as informações visuais e somatossensoriais para produzir o alinhamento corporal e o controle da postura adequada. A importância das contribuições vestibulares para a postura e para o equilíbrio é resolver conflitos quando um ou mais sistemas enviam informações equivocadas (MEIRELES,et al, 2008). O sistema vestibular tem um componente periférico (que consiste em visual, vestibular e somatossensorial) e um central. O controle do equilíbrio e da postura dependem das informações sensoriais procedentes de vários receptores periféricos, incluindo o aparelho vestibular que alcança o córtex sensorial e os centros de integração do tronco cerebral e no cerebelo. Essa alça aferente do mecanismo de equilíbrio. Os sinais então transmitidos através do tracto corticoespinhal e as vias do tronco cerebral até os músculos periféricos e extra-oculares. Essa alça eferente do mecanismo de equilíbrio (DE LISA, et al, 2002). O aparelho vestibular é o órgão sensorial que detecta as sensações de equilíbrio. Ele é constituído por um sistema de câmaras e tubos ósseos localizados na parte petrosa do osso temporal, denominados labirinto ósseo, e dentro há um sistema de câmaras e tubos semimembranosos, denominado labirinto membranoso. O labirinto membranoso é parte funcional do aparelho vestibular (GUYTON e HALL, 2002). Figura 1. Localização do labirinto no osso temporal. Fonte:Netter, 1998. 152 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Figura 2. Labirinto ósseo e membranoso. A janela mostra os compartimentos dos fluidos perilinfáticos e endolinfáticos. Fonte: HAIN, T. C; RAMASWASAMY, T. S; HILLMAN, M. A. Anatomia e Fisiologia do Sistema Vestibular Normal. In: Herdman, S. J. Reabilitação vestibular. São Paulo: Manole, 2002. Segundo Doretto (2005) o labirinto ósseo costuma ser considerado como o espaço existente entre a parte óssea e a parte do labirinto membranoso; esse espaço contém um líquido denominado endolinfa; o revestimento externo é constituído pelo periósteo, o qual, nessa região, é bastante fino, sendo que a janela oval e a janela redonda (ou janela do vestíbulo e janela da cóclea) são constituídas apenas pelo mesmo. O labirinto membranoso,é banhado por líquido interno (endolinfa) e a parte externa (perilinfa). A endolinfa possui elevada viscosidade, densidade específica. A perilinfa é o oposto, possui baixa viscosidade, densidade específica (GONÇALVES, 2005). O labirinto consiste de duas partes: o vestíbulo (utrículo e o sáculo e os canais semicirculares) (DANGELO e FATTINI, 1997). As paredes do utrículo e do sáculo contêm pequena região espessada, chamada mácula. As duas máculas, que ficam perpendiculares entre si, são receptores para o equilíbrio estático, embora também contribuam para alguns aspectos do equilíbrio dinâmico (TORTORA e GRABOWSKI, 2000). Para o equilíbrio estático, eles dão informação sobre a posição da cabeça no espaço e são essenciais para a manutenção da postura e do balanço apropriados. Para o equilíbrio dinâmico, eles detectam a aceleração e a desaceleração – por exemplo, um automóvel que está acelerando e desacelerando (TORTORA e GRABOWSKI, 2000). As máculas sinalizam a posição da cabeça quando a mesma sofre uma modificação linear (inclinando-se para trás, ou para o lado, ou para o lado direito ou esquerdo) (DORETTO, 2005). 153 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Os três ductos semicirculares membranosos, junto com o sáculo e o utrículo, atuam no equilíbrio dinâmico (TORTORA e GRABOWSKI, 2000). De acordo com Tortora e Grabowski (2000); Quando a cabeça se move os ductos semicirculares membranosos, presos a ela , bem como as células ciliadas, em seu interior, movemse com ela. Entretanto, a endolinfa não é presa e retarda-se, devido à inércia. Conforme as células ciliadas em movimento se arrastam por sobre o líquido estacionário, os feixes de cílios se curvam. A curvatura dos feixes de cílios produz um potencial receptor, o que leva á produção de impulsos nervosos que se propagam ao longo do ramo vestibular do nervo vestíbulo-coclear (VIII). A maior parte das fibras no ramo vestibular do nervo vestíbulo-coclear (VIII) entra no tronco encefálico e termina nos diversos núcleos vestibulares, no bulbo e na ponte. As fibras restantes entram no cerebelo, pelo pedúnculo cerebelar inferior, através de vias bidirecionais. Fibras de todos os núcleos vestibulares se estendem até os núcleos dos nervos cranianos, que controlam os movimentos oculares-oculomotor (III), troclear (IV) e abducente (VI) - e até o núcleo do nervo acessório (XI), que participa do controle dos movimentos da cabeça e do pescoço. Além disso, as fibras do núcleo vestibular lateral formam o trato vestíbulo-espinhal, condutor de impulsos para os músculos esqueléticos, reguladores do tônus muscular, em resposta aos movimentos da cabeça (TORTORA e GRABOWSKI, 2000). O nervo vestíbulo-coclear (VIII) é composto por uma parte vestibular e uma coclear. A parte vestibular é formada por fibras que se originam nos neurônios sensitivos, que conduzem impulsos nervosos relacionados com o equilíbrio, originados em receptores da porção vestibular do ouvido interno. A parte coclear do VIII par é constituída de fibras que se originam de neurônios sensitivos do gânglio espiral e que conduzem impulsos nervosos relacionados com a audição (MACHADO, 2006). O cerebelo, continuamente, recebe informação sensorial atualizada, originada no utrículo e no sáculo. O mesmo monitora essa informação e faz ajustes corretivos nas atividades motoras, originadas no córtex cerebral. Essencialmente, em resposta a entrada input do utrículo, do sáculo e dos ductos semicirculares membranosos, o cerebelo emite, continuamente, impulsos nervosos para as áreas motoras do cérebro. Esse feedback permite a correção dos sinais do córtex motor para os músculos esqueléticos , para manter o equilíbrio(TORTORA e GRABOWSKI, 2000). O sistema vestibular sofre um processo de degeneração com o envelhecimento, havendo importante redução no número das cristas vestibulares; o número de fibras que inervam as células ciliadas também se encontra acentuadamente reduzido. A degeneração do sistema vestibular ocorre principalmente no Sistema Nervoso Periférico (SNP). Há também uma perda significativa de 154 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ sensores das células vestibulares, um decréscimo dos neurônios vestibulares primários, uma diminuição da densidade das células corticais e um decréscimo das células de Purkinje do cerebelo. Todas essas alterações resultam em déficits na transmissão de informação, perda da plasticidade, acentuando a síndrome do desequilíbrio no idoso (ZUCCO, 2004). Reabilitação Vestibular Este sistema requer movimento para a recuperação das lesões. A reabilitação vestibular (RV) procura restabelecer o equilíbrio por meio de estimulação e aceleração dos mecanismos naturais de compensação, induzindo o paciente a realizar o mais perfeitamente possível os movimentos que estavam acostumados a fazer antes de surgir a tontura. Este termo significa um trabalho não apenas com o sistema vestibular, mas com inúmeras estruturas que fazem parte do nosso sistema de equilíbrio. É uma opção de tratamento para pacientes portadores de distúrbios vestibulares que envolvem estimulações visuais, proprioceptivas e vestibulares (JUNIOR, 2007). A reabilitação vestibular tem sido evidenciada por agir fisiologicamente sobre o sistema vestibular, sendo um recurso terapêutico pela sua proposta de atuação baseada em mecanismos centrais de neuroplasticidade conhecidos de modificação de reflexos adaptativos. (ZANARDINI, et al, 2007). Fig. 3 Exercícios de Bandt-Daroff. Fonte: HERDMAN, SJ. Vestibular Rehabilitation. Third Edition. Third Edition. Pa: FA Davis Co; Contemporary Perspectives in Rehabilitation. Philadelphia, 2007. Os exercícios de reabilitação vestibular visam melhorar a interação vestibulovisual durante a movimentação cefálica, ampliar a estabilidade postural estática e dinâmica nas condições 155 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ que produzem informações sensoriais conflitantes e diminuir a sensibilidade individual á movimentação cefálica (ZANARDINI, et al, 2007). Os exercícios de Cawthorne - Cooksey foram desenvolvidos na década de 1940. No Brasil está sendo implantado há duas décadas. Naquela época tornaram-se os pioneiros ao desenvolver exercícios como método de reabilitação vestibular. Cawthorne (médico otorrinolaringologista), estava tratando pacientes com déficits vestibulares unilaterais e disfunções pós-concussivas. Junto com o Dr. Cooksey (fisioterapeuta), ele desenvolveu uma série de exercícios que envolviam as queixas do paciente sobre a vertigem e o comprometimento do equilíbrio. Esses exercícios incluem movimentos cefálicos, tarefas que exigem a coordenação óculo-cefálica, movimentos corporais globais e tarefas de equilíbrio (HERDMAN, 2002). Os objetivos da reabilitação são: promover a estabilização visual durante os movimentos e melhorar a interação vestíbulo-visual durante a movimentação da cabeça; ampliar a estabilidade postural estática e dinâmica e diminuir a sensibilidade individual a essa movimentação. Os exercícios com os olhos, cabeça e corpo, suscitam o conflito sensorial que acelera a compensação e recalibração do sistema vestibular (ZUCCO, 2009). Exercícios vestibulares de Cawthorne e Cooksey poderiam programar subsídios para que novos rearranjos das informações sensoriais periféricas aconteçam, permitindo-se que novos padrões de estimulação vestibular necessários em novas experiências, passem a ser realizados de forma automática. Este treino promove melhoras nas reações de equilíbrio com conseqüente diminuição na possibilidade de quedas (SANTOS, 2008). Estes exercícios caracterizam-se por um programa de reabilitação vestibular e envolvem movimentos de cabeça, pescoço e olhos; exercícios de controle postural em várias posições (sentado, em apoio bipodal e unipodal, andando); uso de superfície de suporte macio para diminuição do input proprioceptivo; exercícios com olhos fechados para abolição da visão (JUNIOR, 2007). Os exercícios devem ser introduzidos lentamente, para que o paciente possa se sentir menos ansioso e mais flexível quanto à introdução de novos exercícios. Á medida que os sintomas diminuem, atividades mais difíceis vão sendo introduzidas (ZUCCO, 2009). Junior (2007) propõe que para haver resposta adequada, é preciso que o processo seja estável, ou seja, não aconteça em surtos ou crises. Herdman (2002) apresenta as normas para o desenvolvimento dos exercícios. Os pontos a seguir devem ser considerados quando se emprega os exercícios de Cawthorne - Cooksey no tratamento de um paciente com lesão periférica unilateral: 156 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ 1. Os criadores recomendam que os exercícios sejam executados em várias posições e diferentes velocidades de movimento; 2. Além disso, é preciso que os pacientes executem os exercícios de olhos abertos e depois fechados. De acordo com Cawthorne e Cooksey, a execução dos exercícios com os olhos fechados reduz a dependência do paciente das informações visuais e possivelmente força uma compensação mais eficaz, através de mecanismos vestibulares e somatossensoriais. 3. Eles também recomendam que os pacientes sejam treinados para que tenham funções normais em ambientes barulhentos e lotados de gente. Tais situações podem ser muito difíceis para os indivíduos com disfunções vestibulares. 4. Para encorajar uma participação ativa, Cawthorne e Cooksey pediam para que os pacientes se exercitassem juntos, em sessões diárias em grupos. Eles acreditavam que o exercício em grupo seria mais econômico e divertido para os pacientes, além de facilitar a identificação de simulações. EXERCÍ EXERCÍCIOS DE CAWTORNE E COOKSEY Figura 1. Movimentação dos olhos Figura 2. Movimentação de olhos e cabeça Figura 4 Figura 3 Figura 9 (HERDMAN et al., 2002) Fig.4 Exercícios de Cawthorne e Cooksey. HERDMAN. et al, 2000 157 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Protocolo de Exercícios de Cawthorne e Cooksey Fig.5 Cawthorne, 1944, Cooksey, 1946. Fonte: ZEIGELBOIM, et al, 200 A diligência e a perseverança são exigidas, porém quanto mais cedo e regularmente o regime de exercícios for executado, mais rápido e completo será o retorno as atividades normais (HERDMAN, 2002). Este protocolo é de fácil aplicação e permite a sua realização em grupo, havendo uma maior interação (ZEIGELBOIM, et al, 2008). DADOS DA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA 158 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Vários autores estudaram a aplicação dos exercícios labirínticos em pacientes portadores de algum tipo de vestibulopatia, com o intuito de recuperar o equilíbrio corporal e a orientação espacial, devolvendo ao paciente a capacidade de reinstituir a sua rotina, evitar quedas e conseqüentemente melhorar a qualidade de vida. Pedalini (1999) descreveu em se trabalho que foram estudados 116 indivíduos portadores de labirintopatias de etiologias variadas, tratados clinicamente sem resultado satisfatório ou portadores de disfunções crônicas. A amostra foi composta por 78 pacientes do sexo feminino e 38 do sexo masculino. Os pacientes foram orientados a realizar os exercícios diariamente em duas sessões, repetindo 10 vezes cada movimento, durante dois a três meses de terapia. Foram observados que dos 116 pacientes estudados, 88 (75,7%) tiveram sucesso com o tratamento, sendo 64 (55,1%) com melhora total e 24 pacientes (20,6%) apresentaram melhora parcial. Knobel, et al (2003) expõe em sua pesquisa que foram estudados 12 pacientes, foi realizada uma avaliação esclarecedora sobre o sintoma e sobre o tratamento proposto; sugestão de mudança de hábitos inadequados (postura,dependência, atividade física), quando existentes; treinamento, composto de movimentos de olhos, cabeça e tronco, marcha, coordenação motora e relaxamento cervical; sessões de acompanhamento quinzenais ou mensais (dependendo da disponibilidade e da necessidade do paciente) por aproximadamente 3 meses. O tempo de tratamento variou de 2 a 3 meses para 50,0% dos pacientes (n=6) e se prolongou por mais de 3 meses para outros 50,0% (n=6). O critério de melhora se baseou no relato do próprio paciente sobre o grau de melhora geral. 75% (n=9) dos pacientes referiram melhora significativa da tontura após a RV e 25% (n=3) relataram melhora parcial. Resende, et al (2003), para este estudo foram encaminhados 16 pacientes do sexo feminino com idade superior a 60 anos. Todos avaliados por médicos otorrinolaringologistas e diagnosticados como portadores de Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB) pela história clínica, não apresentando outras doenças sistêmicas. Todos receberam como medicação o extrato de Gingko-biloba (40mg de 12/12h) durante 30 dias. A Reabilitação Vestibular em grupo foi benéfica no tratamento de idosos portadores de VPPB. Ribeiro e Pereira (2005) realizaram os seguintes critérios em seu trabalho. Foram selecionados 30 indivíduos aptos a participarem da pesquisa. Todos foram avaliados pela Escala de Equilíbrio de Berg (EEB) e após nove semanas foram reavaliados. Os componentes do grupo foram submetidos aos exercícios de Cawthorne e Cooksey, três vezes por semana, durante sessenta 159 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ minutos. Os exercícios aplicados foram capazes de melhorar o equilíbrio, e conseqüentemente, diminuir a possibilidade de queda. Mantello (2006) em seu trabalho, contou com a participação de 40 indivíduos idosos de ambos os gêneros, com faixa etária de 60 a 84 anos, divididos em dois grupos conforme o diagnóstico médico, tontura de origem vascular ou metabólica. Os pacientes passaram por anamnese, aconselhamento, avaliação da qualidade de vida (escala de quantificação da tontura e Dizziness Handicap Inventory brasileiro). Foi concluído que em idosos portadores de labirintopatias de origem vascular e metabólica a Reabilitação Vestibular foi um tratamento efetivo. Morettin, et al (2007), seu estudo foi realizado para quantificar a efetividade da reabilitação vestibular em 39 pacientes, com idade variando de 16 a 82 anos, de ambos os sexos, que apresentavam qualquer tipo de alteração do equilíbrio corporal, (vertigem, tontura, desequilíbrio ao andar, sintomas neurovegetativos [náuseas, vômitos, sudorese fria, palidez], podendo estar associados sintomas auditivos {perda de audição, zumbido}, e hipótese diagnóstica de síndrome vestibular periférica e/ou central. Antes do início da RV, todos os pacientes realizaram as avaliações otorrinolaringológicas, com o objetivo de verificar qualquer alteração que possa influenciar nos resultados obtidos na avaliação do sistema vestibular, avaliação audiológica e exame vestibular. Todos os pacientes foram instruídos a realizar os exercícios em casa, no mínimo 3 vezes ao dia, todos os dias durante o tratamento. Os pacientes eram acompanhados em visitas semanais, para a indicação de novos exercícios personalizados, de acordo com a necessidade do paciente. Ao final da pesquisa 30 pacientes concluíram o tratamento e 50% deles já não sentiam tontura. De acordo com Zanardini, et al (2007), foram avaliados oito idosos, na faixa etária de 63 a 82 anos, sendo três do sexo masculino e cinco do sexo feminino, com queixa de tontura de etiologia diversa, encaminhados de uma unidade asilar. Os idosos foram submetidos aos seguintes procedimentos: anamnese, avaliação otorrinolaringológica e vestibular. Realizaram-se os exercícios durante oito semanas, duas vezes ao dia, na Unidade Asilar sob a orientação e supervisão do fonoaudiólogo com duração de dois meses. Os exercícios objetivaram promover o retorno da função dos equilíbrios estático e dinâmico, restaurando também a orientação espacial. Logo após o tratamento foram observadas melhoras da sintomatologia e do prognóstico clínico. Santos, et al (2008) sua pesquisa foi desenvolvida com idosas pertencentes a um grupo de atividade física do Centro de Convivência do Idoso. Realizou-se inicialmente o teste para avaliação do estado cognitivo Mini-Mental-MEEM, foi aplicado o questionário de identificação,e posteriormente, foi realizado teste de equilíbrio através da Escala do Equilíbrio de Berg (EEB). Foram selecionadas 38 idosas, na faixa etária de 60 a 80 anos. O período da realização da 160 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ intervenção foi de dois meses, totalizando nove semanas, com duas sessões semanais, com o tempo estimado de cada sessão de 45 minutos. O estudo demonstrou que as idosas obtiveram melhora no índice da EEB após intervenção utilizando-se o protocolo de exercícios de Cawthorne e Cooksey. Os resultados sugeriram que este método melhora distúrbios vestibulares e diminui o risco de quedas. Tavares, et al (2008) relata que foi feito um levantamento de dados contidos nas fichas dos 93 pacientes submetidos a reabilitação vestibular. A média etária dos pacientes foi de 52 a 82 anos, sendo 56 do sexo feminino e 37 do sexo masculino. As sessões de RV foram individuais e constaram de orientações ao paciente sobre: funcionamento da audição e do equilíbrio, a alteração labiríntica do paciente, sobre a própria RV (mecanismos de compensação labiríntica, neuroplasticidade e função dos exercícios) e de exercícios baseados no protocolo de Cawthorne e Cooksey. 51 (83,6%) tiveram benefício com a terapia confirmando a eficácia do tratamento. CONCLUSÃO Diante da complexidade do sistema vestibular, no decorrer deste trabalho, procurou-se explicar de forma clara e sucinta sua importância em relação a manutenção do equilíbrio corporal dos idosos, associados aos sinais visuais, proprioceptivos, somatossensorial, musculoesquelético e SNC. É importante destacar que as alterações fisiológicas podem levar ao desequilíbrio, mas também há outros fatores envolvidos e que conseqüentemente podem causar quedas, contudo a população idosa em sua grande maioria está predisposta a essa alteração do equilíbrio. A reabilitação vestibular (RV) é um processo terapêutico que visa acelerar os mecanismos de compensação central por meio da plasticidade neuronal, obtidos com a execução de exercícios repetitivos que visam promover a redução significativa dos sistemas labirínticos. Os exercícios de Cawthorne e Cooksey são de simples realização, de baixo custo, e proporcionam aos idosos um aumento da motivação, integração e socialização, quando as práticas dos exercícios são feitas em grupo. Com isso, melhora a auto-estima, reduz as chances dos idosos sofrerem de depressão, evita a incidência de quedas, melhorando assim a qualidade de vida. Conforme os dados expostos, conclui-se que os exercícios de Cawthorne e Cooksey são eficazes no tratamento das disfunções vestibulares. REFERÊNCIAS 161 SILVA, Cleidiane Ferreira da; FONSECA, Adriano Luis. Reabilitação vestibular através dos exercícios de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ CUNHA, Márcio Fernandes. et al. A influência da fisioterapia na prevenção de quedas em idosos na comunidade: estudo de comparativo. Revista de Educação Física, Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, jul./set. 2008. Disponível em: < www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br> .Acesso em: 04 mar. 2010. CUNHA, Carolina Menezes. et al. Controle postural e sistema vestibular no idoso: abordagem fisioterapêutica. Vale do rio doce, 2007. Disponível em: < www.fag.edu.br. Acesso em: 12 abr. 2010. DELISA, J.A;GANS,B.M. Tratado de medicina de reabilitação: princípios e práticas.3 ed.São Paulo: manole,2002. DORETTO, D. Fisiopatologia clínica do sistema nervoso fundamentos da semiologia. 2 ed.São Paulo: atheneu , 2005. GONÇALVES, Naíla Storti. 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Reabilitação vestibular através dos exercícios de Cawthorne e Cooksey para prevenção de quedas em idosos: uma revisão bibliográfica. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 147-162, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ PAPALÉO, NETTO .M; CARVALHO FILHO, E.T. Geriatria: Fundamentos, clínica e terapêutica. ed.São Paulo: Atheneu, 2005. PEDALINI, Maria Elisabete Bovino. et al. Reabilitação vestibular como tratamento da tontura: experiência com 116 casos. Revista Eletrônica de ORL do Mundo, São Paulo, v.3 ,n.2, abr./jun.1999.Disponível em : < www.arquivosdeorl.org.br/acervo>. Acesso: 14 de jun. de 2010. PERRACINI, M.R. Prevenção e manejo de quedas. 1. ed. São Paulo: manole, 2005. REBELATTO, J.R; MORELLI, J.G.S. Fisioterapia Geriátrica – A prática da assistência ao idoso. 2. ed. São Paulo: manole, 2007. RESENDE, Carolina R. et al. 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Acesso em 12 de maio de 2010. 163 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ MOCHILAS ESCOLARES E A COLUNA VERTEBRAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UMA REVISÃO DE LITERATURA Andréia Novais Pereira Carneiro1; Michele de Lima Ribeiro Santos1; Viviane Delfim Figueroa1; Breno Gontijo Nascimento2 Resumo: Abstract: Nos últimos anos a mochila escolar ganhou destaque como fator de risco para alterações posturais na coluna vertebral e queixas de dor nas costas. Assim, o objetivo deste trabalho foi verificar por meio de uma revisão de literatura os efeitos da mochila escolar sobre a coluna vertebral de crianças e adolescentes. Foram revisados artigos indexados publicados entre os anos de 2000 e 2010 nas bases de dados PubMed, BIREME e SciELO. As palavraschave utilizadas na pesquisa foram mochilas, escolares, coluna, dor nas costas e as similares em inglês. Vários autores relatam que o tempo prolongado de transporte das mochilas escolares e cargas superiores a 15% do peso corporal levam a um aumento da assimetria lombar e da inclinação anterior do tronco acompanhada por redução da lordose lombar, diminuição do ângulo crânio-vertebral, da atividade dos músculos paravertebrais, do reposicionamento da região lombar, fadiga muscular e sugerem que a quantidade de carga transportada não deva exceder 10 a 15% do peso corporal. Os fatores psicossomáticos e o gênero feminino foram significativamente associados com a queixa de dor nas costas. A fisioterapia pode utilizar esses achados para atuar na prevenção dessas disfunções com exercícios específicos para aumentar a capacidade de resistência muscular dos escolares, além de sessões educativas para alertar os escolares, as famílias e influenciar as políticas da escola a fim de diminuir os agravos das alterações e dores na coluna vertebral que interferem severamente na qualidade de vida. In recent years the backpack to prominence as a risk factor for postural changes in the spine and complaints of back pain. Thus, the aim was to verify through a literature review the effects of backpack on the spine in children and adolescents. We reviewed indexed articles published between 2000 and 2010 in the PubMed, SciELO and BIREME. The keywords used in the research were backpacks, school, spine, back pain and similar ones in English. Several authors have reported that prolonged transportation of backpacks and loads of over 15% of body weight lead to increased asymmetry of the lumbar and trunk inclination followed by a reduction of lumbar lordosis, decreased cranio-vertebral angle, the activity of the paraspinal muscles, repositioning of the lower back, muscle fatigue and They suggest that the amount of cargo should not exceed 10 to 15% of body weight. Psychosomatic factors and female gender were significantly associated with complaints of back pain. Physical therapy can use these findings to work in the prevention of these disorders with specific exercises to increase muscle endurance capacity of the students, and educational sessions to alert students, families and influencing school policies in order to lessen the hardships and pains of changes in the spine that severely affect the quality of life. 1 2 Acadêmicos do curso de Fisioterapia da Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte. Professor docente da Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte, Doutor em Bioengenharia UFMG. 164 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Palavras-chave: Keywords: Mochilas. Escolares. Coluna Vertebral. Dor nas Backpacks. School. Spine. Back pain. Costas. INTRODUÇÃO A mochila é o meio mais popular entre as crianças e adolescentes para o transporte de materiais escolares principalmente pela sua praticidade. Esse transporte usualmente com duas alças e fixação dorsal é uma rotina diária dos estudantes que se repete durante anos consecutivos. Portanto, há uma preocupação crescente sobre as possíveis consequências do uso da mochila sobre a coluna vertebral, já que nessa fase o organismo está em constante desenvolvimento músculoesquelético. Essa preocupação se deve à associação entre o transporte da mochila escolar, alterações posturais e queixa de dor nas costas (CARDON; BALAGUÉ, 2004b; NEGRINI, CARABALONA, 2002; SHEIR-NEISS et al, 2003). A coluna vertebral das crianças difere da coluna do adulto em dois aspectos importantes: o esqueleto da criança possui maior quantidade de cartilagem em áreas onde ocorre o crescimento; o pico de crescimento ocorre na idade escolar durante a puberdade, quando as partes moles tem certa dificuldade em se alongar na mesma proporção que os ossos o que gera um desequilíbrio muscular. Esses aspectos sugerem que a coluna vertebral das crianças e adolescentes apresente menor capacidade de resistir às pressões e, portanto mais suscetível a microtraumas repetitivos que a coluna vertebral do adulto (BRACKLEY; STEVENSON, 2004; KIM et al, 2008; RAMPRASAD et al, 2009). Chansirinukor et al (2001), relatam que a aplicação de forças externas como o transporte de carga na mochila pode influenciar o crescimento, desenvolvimento e alinhamento corporal. Isso se torna um fator de risco importante para queixa de dor nas costas na fase adulta. Na tentativa de determinar um limite adequado de carga nas mochilas, diversos estudos examinaram os efeitos da carga de mochilas por meio de parâmetros biomecânicos e posturais (CHOW et al, 2007; KIM et al, 2008; NEUSCHWANDER et al, 2009; RAMPRASAD et al, 2009; van GENT et al, 2003). Brackley e Stevenson (2004), a partir de uma revisão crítica baseada em resultados biomecânicos e fisiológicos recomendam que o peso transportado na mochila escolar não deva exceder 10 a 15% do peso corporal das crianças. Ao contrário, Grimmer et al (2002), não encontraram evidências que limitem a carga das mochilas em 10% do peso corporal e sugere que sejam feitos estudos com cargas maiores. 165 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Um número crescente de pesquisas tem demonstrado que a queixa de dor nas costas por crianças em idade escolar é mais freqüente do que se pensava (BAUER E FREIVALDS, 2009; CARDON; BALAGUÉ, 2004a; LINDSTROM-HAZEL 2009). Sheir-Neiss et al (2003), demonstraram que os adolescentes que transportavam mochilas com cargas maiores apresentaram maior queixa de dor nas costas. Haselgrove et al (2008) e Negrini e Carabalona (2002), demonstram que o tempo prolongado de transporte das mochilas também está associado com queixa de dor nas costas em adolescentes. Refutando esses achados van Gent et al (2003), relatam que os fatores psicossomáticos parecem estar mais relacionados com a queixa de dor nas costas. Devido à divergência dos resultados apresentados na literatura, este trabalho tem como objetivo verificar a influência da mochila escolar sobre a coluna vertebral em crianças e adolescentes. OBJETIVO GERAL Verificar por meio de uma revisão de literatura os efeitos da mochila escolar sobre a coluna vertebral de crianças e adolescentes. OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Explicitar as principais alterações na coluna vertebral de crianças e adolescentes decorrentes do uso da mochila escolar. • Correlacionar a queixa de dor nas costas freqüente entre as crianças e adolescentes com a mochila escolar. • Investigar se há um consenso na literatura sobre um limite de carga transportada na mochila diariamente por crianças e adolescentes. METODOLOGIA Foi realizado em estudo exploratório por meio de revisão de literatura em artigos indexados publicados entre os anos de 2000 e 2010 nas bases de dados PubMed, BIREME e SciELO. As palavras-chave utilizadas na pesquisa foram mochilas, escolares, coluna, dor nas costas e as similares em inglês. Foram selecionados os artigos de interesse para o estudo, ou seja, aqueles 166 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ que faziam referência em seus dados a aspectos relacionados ao peso das mochilas escolares, alterações na coluna vertebral e queixa de dor nas costas em crianças e adolescentes sem deformidades músculo-esqueléticas e com idade superior a seis anos e inferior a dezoito anos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Fluxograma: processo de seleção dos artigos para a revisão 74 artigos Incluídos 42 artigos ALTERAÇÕES POSTURAIS *11 avaliaram a respostas posturais da coluna no plano sagital e frontal *02 avaliaram as respostas posturais e a propriocepção da coluna *03 utilizaram a eletromiografia para avaliar as respostas DOR NAS COSTAS *04 avaliaram os fatores de risco para lombalgia em escolares *16 avaliaram a relação da mochila escolar e queixa de dor nas costas *01 avaliou a prevalência de sintomas osteomusculares em escolares *03 avaliaram os fatores de risco para queixa de dor nas Excluídos 32 artigos * 04 avaliaram efeito de sessões educativas *07 avaliaram efeito sobre a marcha *05 avaliaram alterações posturais não associadas à mochila *03 avaliaram efeito sobre o ombro *01 avaliou efeito sobre MMII *01 avaliou conhecimento dos pais sobre a carga *01 não avaliou a mochila como fator de risco *02 não avaliaram efeitos sobre a coluna *01 avaliou traumas agudos causados pela mochila *01 não informa a idade do sujeito *02 avaliaram capacidade pulmonar *01 avaliou crianças com alterações músculo-esqueléticas *01 não avaliou dores nas costas *01 avaliou sujeitos com idade >18 anos *01 avaliou influência da idade e gênero 167 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Doze artigos avaliaram os efeitos da mochila escolar de duas alças transportada na região posterior da coluna vertebral por meio de dois parâmetros: inclinação anterior do tronco (IAT) e o ângulo crânio-vertebral (ACV) (Figura 1). Bracley et al (2009), definem o IAT como o ângulo entre o cruzamento de uma linha vertical que passa desde o quadril até a base do pescoço e o ACV como o ângulo entre o cruzamento de uma linha horizontal entre o processo espinhoso de C7 e o tragus da orelha. Figura 1: Ângulo Crânio-Vertebral (Fonte: KIM et al, 2008) A inclinação anterior do tronco mostrou-se aumentada com o crescente aumento de cargas da mochila escolar (CHOW et al, 2007) (Figura 2). Bauer e Freivalds (2009), relatam que a IAT foi maior com 15 e 20% de carga com um aumento de 174% entre 10 e 15% do peso corporal e 119% entre 15 e 20% do peso corporal. Esse aumento parece ser necessário para mudar o centro de gravidade do sistema (peso e mochila). Considerando que é necessário um maior trabalho muscular para a manutenção do equilíbrio dinâmico, Bracley et al (2009), Hong et al (2003) e Negrini e Negrini (2007), avaliaram os efeitos da carga durante a caminhada e observaram um maior aumento da IAT com o aumento da distância percorrida transportando mochila com carga entre 15 e 20% do peso corporal, acompanhado por uma diminuição da lordose lombar em ambos os estudos. Esse achado pode estar associado à fadiga muscular. 168 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Figura 2: Inclinação Anterior do Tronco (Fonte: CHOW et al, 2007) Um estudo eletromiográfico em escolares de 11 a 14 anos demonstrou redução da atividade dos paravertebrais com o aumento da carga de 0 a 20% do peso corporal (BAUER E FREIVALDS, 2009). O mesmo resultado foi observado por Motmans et al (2006), com carga de 15% do peso corporal. No estudo de Negrini e Carabalona (2002), a única variável associada à lombalgia durante o transporte da mochila foi a fadiga, relatada por 65,7% dos estudantes. Haselgrove et al (2008), relatam que a redução da resistência muscular e pobre controle de tronco são conhecidos como fatores de risco para queixa de dor nas costas. O ACV foi avaliado nos estudos de Brackley et al (2009), Chansirinukor et al (2001), Kim et al (2008), Korovessis et al (2005) e Ramprasad et al (2009), que observaram uma redução significativa com 15% de carga indicando a inclinação anterior da cabeça como forma de manter o centro de gravidade do corpo ligeiramente à frente da articulação lombossacral. Cheung et al (2010), ao compararem um grupo com queixa de dor e um grupo controle sem queixa encontrou diminuição significativa do ACV com carga de 10% do peso corporal no grupo com queixa de dor, enquanto no grupo controle essa alteração foi significativa com 15%. Chansirinukor et al (2001), observaram que houve maior redução do ACV após caminhada de 5 minutos e sugere que o tempo também influencia na posição do pescoço. Kim et al (2008), ainda relatam um aumento da atividade eletromiográfica dos paravetrebrais médio-cervicais na tentativa de manter a extensão do pescoço. Em um primeiro estudo que utilizou a ressonância magnética para medir a resposta da coluna lombar a diferentes cargas de mochila Neuschwander et al (2009), observaram que com cargas crescentes (10, 20 e 30% do peso corporal) houve aumento significativo da assimetria 169 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ lombar representada por um ângulo de Cobb maior que 10° em uso de carga de 20% do peso corporal em 50% dos indivíduos, além de compressão discal de T12 a S1 com maior valor para os discos caudais (L5-S1). Negrini e Negrini (2007), ao comparar efeitos de cargas simétricas e assimétricas observaram um desvio lateral do tronco contrário à carga assimétrica de 20% do peso corporal, que reflete a necessidade de manter a linha central do corpo. O transporte assimétrico também foi significativamente associado à queixa de dor nas costas nos estudos de Korovessis (2005) e Skoffer (2007). Apesar dos estudos enfatizarem as alterações sobre a coluna cervical e lombar, a coluna torácica também merece atenção. Briggs et al, (2009), encontraram maior prevalência de dor na coluna torácica entre crianças e adolescentes significativamente associada com alterações posturais devido ao uso da mochila. Assim como Moore et al, (2007), que relatam que a sobrecarga da mochila escolar está associada à dor na região torácica. Carvalho e Rodacki (2008), encontraram um aumento da cifose torácica e maior rotação da coluna com carga de 20% do peso corporal e sugerem que essa postura possa causar estresse em estruturas que não absorvem e transmitem de maneira eficiente os esforços aplicados sobre a coluna. Devido a falta de diretrizes sobre o posicionamento do centro de massa da mochila Carvalho e Rodacki (2008), padronizaram em T8 e observaram um aumento da IAT e segmento lombar estável, enquanto Chow et al (2007), padronizaram ao nível de T12 e também observou aumento do IAT porém, com diminuição da curvatura lombar. Ambos utilizaram carga de 10 e 20% do peso corporal, isso mostra que os efeitos da carga aplicada podem mudar de acordo com o seu posicionamento na coluna. A aplicação de cargas no nível de T7, T12 e L3 (Figura 3) demonstrou uma IAT em todos os posicionamentos sendo maior em T7 e sugere que a melhor posição para o centro de massa da mochila seria ao nível de L3 a fim de minimizar as alterações posturais (BRACKLEY; STEVENSON, 2004; BRACKLEY et al, 2009; GRIMMER et al, 2002). Chow et al (2010), ainda sugerem que a alteração ocasional da posição da mochila em anterior e posterior possa minimizar os efeitos sobre a coluna. 170 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ Figura 3: Posicionamento do centro de massa da mochila em T7, T12 e L3 (Fonte: GRIMMER et al, 2002) O reposicionamento das articulações depende da integração sensorial de informações visuais, vestibulares e proprioceptivas. Chow et al (2007), relatam a diminuição da consistência do reposicionamento na coluna lombar, enquanto na coluna torácica não foi encontrada nenhuma alteração. Este achado é corroborado por Negrini e Negrini (2007), que após a remoção da carga observou que apenas a lordose lombar não retornou ao seu valor de pré-carregamento. Esses achados sugerem que o reposicionamento da coluna esteja mais associado com o próprio aumento da carga ao invés da simples mudança de informações sensoriais causada pelo transporte da mochila. Atualmente a queixa de dor nas costas é comum entre as crianças e adolescentes a nível mundial. Skoffer (2007), Whittfield e Legg (2005), encontraram alta prevalência de sintomas músculo-esqueléticos com relatos de lombalgia de 64,8% e 35% respectivamente. No estudo longitudinal realizado por Jones et al (2003), para determinar a ocorrência de lombalgia em estudantes entre 11 a 14 anos com um follow-up de 12 meses, foi relatado a ocorrência de lombalgia em 18% dos escolares sem associação com a carga da mochila escolar. Esse achado pode ter sido influenciado pela mensuração da carga somente no primeiro dia da semana da coleta de dados, não sendo registrada no follow-up. Porém, o tempo de transporte das mochilas foi significativamente associado com o risco de lombalgia. Da mesma forma Haselgrove et al (2008), relatam que o transporte prolongado da mochila pode aumentar o risco de queixa de dor nas costas em adolescentes. Lindstrom-Hazel (2009), Sheir-Neiss et al (2003), em seus estudos encontraram que as crianças que iam caminhando para a escola queixaram-se mais de dorsalgia e lombalgia de maior intensidade. Ao analisar a associação entre dor na coluna e percepção de carga da mochila Haselgrove et al (2008), relatam que a percepção de carga em termos de cansaço foi fortemente 171 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ associada com dor nas costas e pescoço particularmente durante o transporte da mochila com uma prevalência de 27% de dor nas costas e 34% no pescoço. Assim como no estudo de Szpalski et al (2002), onde as crianças que responderam sentir a sua mochila pesada demais queixaram-se mais de dor nas costas. Isso sugere que há a necessidade de considerar os fatores pessoais, incluindo as reações físicas das crianças a tais cargas e que a queixa de dor nas costas em crianças deve ser vista a partir de um modelo biopsicossocial, assim como nos adultos (RENEMAN, 2006). Outros estudos avaliaram os fatores de risco para lombalgia em escolares e concluíram que há pouca evidência científica de relação causal com a carga de mochilas escolares (CARDON; BALAGUÉ, 2004b; TREVELYAN; LEGG, 2006; WATSON et al, 2003). Talbott et al (2009), relatam que 99% dos estudantes avaliados em seu estudo usavam mochila e metade a percebia muito pesada, mas, apenas 33,5% atribuíram sua dor à mochila. Da mesma forma, GoodGold et al (2002), relatam que dos 345 estudantes avaliados sem seu estudo 55% eram submetidos a carga superior a 15% do peso corporal e 1/3 relatou história de dor nas costas. No estudo de Negrini e Carabalona (2002), a queixa de dor nas costas foi claramente associada à fadiga durante o transporte (65%), mas não com a sensação de mochila pesada. Esses resultados sugerem que a necessidade de se considerar outros fatores como a resistência muscular dos escolares. A maioria das crianças (80%) avaliadas por Wall et al (2003), utilizavam mochila para fins escolares e aquelas que apresentavam dor nas costas significativamente grave que exigia avaliação ortopédica não atribuíram sua dor à mochila. Porém, conclui que as mochilas possam causar leve à moderada dor nas costas que não necessitem de cuidados médicos. Van Gent et al (2003), avaliaram 745 adolescentes entre 12 e 14 anos e encontraram 43% de queixa de dor no pescoço/ombro e 46% nas costas onde os fatores psicossomáticos tiveram maior associação com a dor. Crianças com altos níveis de dificuldades psicossociais e sintomas somáticos como dor abdominal, cefaléia e dor de garganta são mais propensas a desenvolver lombalgia (JONES et al, 2003). Apesar dos fatores psicossociais estarem significativamente relacionados com a queixa de dor nas costas em escolares não há evidência de que a modificação desses fatores possa ter efeito preventivo sobre a lombalgia (CARDON; BALAGUÉ, 2004a; WATSON et al, 2003). Além disso, o gênero feminino apresenta-se como um fator relevante na prevalência de queixa de dor nas costas, que pode estar ligado às diferenças na resistência muscular e dos limiares de dor quando comparado ao gênero masculino (HASELGROVE et al, 2008; KOROVESSIS et al, 2004; NAVULURI; NAVULURI, 2006; SIAMBANES et al, 2004; SKAGGS et al, 2006). 172 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ A sobrecarga da mochila escolar mostrou-se associada às alterações posturais na coluna e dor nas costas em vários estudos. Mackenzie et al (2003), em uma revisão apontam que a carga superior a 15% do peso corporal está associada com dor nas costas e alterações posturais. Bauer e Freivalds (2009), Brackley et al (2009), Chansirinukor et al (2001) e Mackie e Legg (2008), observaram que as respostas posturais foram mais sensíveis ao transporte crescente de carga e sugerem que o limite de carga transportado nas mochilas pelos escolares não deva exceder 10% a 15% do peso corporal. A disponibilidade de armários nas escolas pode ser uma das formas de redução da carga transportada nas mochilas, sendo sua ausência relatada como fator de risco para a queixa de dor nas costas (SKAGGS et al, 2006; LINDSTROM-HAZEL, 2009). Outros fatores como a forma de carregar a mochila e o tempo de transporte sobre os ombros desempenha importante papel no relato de fadiga e dor nas costas pelos escolares (COTTALORDA et al, 2004; HASELGROVE et al, 2008; JONES et al, 2003; LINDSTROM-HAZEL, 2009; SHEIR-NEISS et al, 2003; SIAMBANES et al, 2004; SKOFFER, 2007). O uso de mochilas com cargas maiores que 15% do peso corporal por crianças e adolescentes leva a alterações na coluna vertebral como forma de manter o centro de gravidade corporal. Essas alterações acentuam com o tempo prolongado de exposição a essas cargas e colaboram para a queixa de dor e disfunção na coluna vertebral de crianças e adolescentes. Os resultados dos artigos revisados sobre o limite de carga se baseiam somente no peso da criança e indica que um aluno mais pesado pode transportar mais carga. Considerando a diferença entre a capacidade e a demanda outros fatores como a altura e o índice de massa corporal ser considerados para a definição de carga transportada nas mochilas escolares, uma vez que um escolar obeso está mais suscetível à lesão por inaptidão física. Apesar dos fatores psicossomáticos exercerem influência na queixa de dor nas costas por crianças e adolescentes os fatores mecânicos não podem ser negligenciados. CONCLUSÃO Este estudo mostrou que a sobrecarga na mochila escolar, o tempo de transporte e a forma assimétrica foram significativamente associados com as alterações na coluna vertebral de crianças e adolescentes. Assim, é indicado que o transporte de mochilas escolares seja de forma simétrica, sobre os ombros, com o centro de massa da mochila ao nível de L3 e que não exceda cargas entre 10 a 15% do peso corporal. Os fatores psicossomáticos e o gênero feminino foram 173 CARNEIRO, Andréia Novais Pereira; SANTOS, Michele de Lima Ribeiro; FIGUEROA, Viviane Delfim; NASCIMENTO, Breno Gontijo. Mochilas escolares e a coluna vertebral de crianças e adolescentes: uma revisão de literatura. Estácio de Sá – Ciências da Saúde. Revista da Faculdade Estácio de Sá. Goiânia SESES-Go. Vol. 02, nº 05, 163-176, Jan. 2011/Jun 2011. _______________________________________________________________________________________ significativamente associados à queixa de dor nas costas, o que sugere que somente o controle da carga possa não ser suficiente para a redução da queixa de dor nas costas. A fisioterapia pode utilizar esses achados para atuar na prevenção dessas disfunções com exercícios específicos para aumentar a capacidade de resistência muscular dos escolares, além de sessões educativas para alertar os escolares, as famílias e influenciar as políticas da escola a fim de diminuir os agravos das alterações e dores na coluna vertebral que interferem severamente na qualidade de vida. São necessários estudos futuros que explorem a relação entre a carga de mochilas escolares e a altura, índice de massa corporal e resistência muscular de crianças e adolescentes. REFERÊNCIAS BAUER, DH; FREIVALDS, A. Backpack load limit recommendation for middle school students based on physiological and psychophysical measurements. Work, 32: 339–350, 2009. BRACKLEY, HM; STEVENSON, JM. Are Children's Backpack Weight Limits Enough? A Critical Review of the Relevant Literature. Spine, October, 2004. BRACKLEY, HM; STEVENSON, JM.; SELINGER, JC. 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De preferência redigidos em português, a REVISTA publicar eventualmente textos em língua estrangeira (inglês, francês, espanhol). 2 – Os originais serão submetidos apreciação do Conselho Editorial, após prévia avaliação do Conselho Consultivo, o qual poder aceitar, recusar ou reapresentar o original ao autor com sugestões para alterações. Os nomes dos relatores permanecerão em sigilo, omitindo-se também os nomes dos autores perante os relatores. 3 – Os artigos e comentários críticos devem ser apresentados com original e cópia e devem conter entre 10 (dez) e 18 (dezoito) laudas e 70 (setenta) toques de 30 (trinta) linhas. 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Ex.: (ADORNO, 1968) ou o ano serão identificados por uma letra depois da data. Ex.: (PARSONS, 1967ª), (PARSONS, 1964b). 8 – A bibliografia (ou referências bibliográficas) ser apresentada no final do trabalho, listada em ordem alfabética, obedecendo aos seguintes esquemas: a) No caso de livro: SOBRENOME, nome. Título sublinhado. Local de publicação, Editora, data. Ex.: GIDDENS, Anthony. Novas regras do método sociológico. Rio de Janeiro, Zahar, 1978. Solicita-se observar rigorosamente a sequência e a pontuação. b) No caso de coletânea: SOBRENOME, Nome. Título não sublinhado. In: SOBRENOME, Nome, org. Título do livro sublinhado. Local de publicação, editora, data, p. ii-ii. Ex.: FICHTNER, N. A escola como instituição de maltrato infância. In: KRINSKY, S., org. A criança maltratada. São Paulo, Almeida, 1985. p. 87-93. Solicita-se observar rigorosamente a sequência e a pontuação. c) No caso de artigo: SOBRENOME, nome. Título do artigo. Título do Periódico Sublinhado, local de publicação, número do periódico (número do fascículo): página inicialpágina final. Mês(es) e ano de publicação. Ex.: CLARK, D. A. Factors influencing the retrieval and control of negative congnotions. Behavior and Therapy, Oxford, 24(2): 151-9. 1986. Solicita-se observar rigorosamente a sequência e a pontuação. d) No caso de tese acadêmica: SOBRENOME, Nome. Título da tese sublinhado. Local, data, número de páginas, dissertação (Mestrado) ou Tese (Doutorado). Instituição em que foi defendida. (Faculdade e Universidade). Ex.: HIRANO, Sedi. Pré-capitalismo e capitalismo: a formação do Brasil Colonial. São Paulo, 1986, 403 p. Tese (Doutorado). Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Solicita-se observar rigorosamente a sequência e a pontuação. GUANICUNS III 2006 24-09-06.pmd 294 24/9/2006, 20:20 9 – Uma vez publicados os artigos remetidos e aprovados pelo Conselho Consultivo e pelo Conselho Editorial, A REVISTA, se reserva todos os direitos autorais, inclusive os de tradução, permitindo, entretanto, a sua posterior reprodução com transcrição e com devida citação da fonte. 10 – Os conceitos emitidos nos trabalhos serão de responsabilidades exclusiva dos autores, não refletindo obrigatoriamente a opinião do Conselho Consultivo e do Conselho Editorial. 11 – A REVISTA de caráter interdisciplinar e pretende se consolidar como um instrumento de reflexão crítica, contribuindo para dar visibilidade produção técnico-científica do corpo docente e discente da instituição. 12 – A REVISTA aceita colaborações, sugestões e críticas, que podem ser encaminhadas ao Editor, através do e-mail supracitado. 13 – Originais não aproveitados serão devolvidos, mas fica resguardado o direito do autor(a) em divulgá-los em outros espaços editoriais. Naturalmente toda a responsabilidade pelos artigos a seus respectivos autores. Endereço: Avenida Bandeirantes, n. 1140, Setor Leste CEP: 76.170-000/Caixa Postal: 07 Dúvidas:Tel/Fax: 62-81259000 E-mail: [email protected] Solicita-se permuta/Exchange desired.