INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA EM UM CÃO - RELATO DE CASO CAMERA, Letícia1; SCHNEIDER, Catia Letícia Correa1; ALCÂNTARA, Pedro2; ROSSATO, Cristina Krauspenhar3 Palavras-Chave: Rim. Uremia. Cão. Introdução A insuficiência renal crônica (IRC) é uma afecção comum na espécie canina, definida como uma falência renal que persiste por um período prolongado de tempo que pode ser de meses ou anos. Manifestada quando há uma perda de aproximadamente 75% dos néfrons, comprometendo a manutenção do equilíbrio ácido-básico, a eliminação de substâncias tóxicas, a produção de hormônios e a capacidade funcional de outros órgãos (FERREIRA et al, 2009). Pode ter origem congênita, familiar ou adquirida que independentemente da causa primária, apresenta lesões estruturais renais irreversíveis que causam declínio progressivo da função (FERREIRA et al., 2009). Conforme Ferreira et. al., (2009) diversos fatores podem desencadear a IRC como a hipertensão, diabetes mellitus, glomerulonefrite, cistos renais, distúrbios auto-imunes, infecções urinárias, doenças congênitas, processos inflamatórios e neoplasias. As manifestações clínicas são variáveis e sinais clínicos como, vômitos esporádicos, intolerância ao exercício, anemia, emagrecimento progressivo, poliúria e polidpisia podem ser observados. O estágio final é aquele de falência renal, quando o paciente se apresenta em síndrome urêmica grave como anorexia, náuseas, vômito, úlceras na cavidade oral, alterações eletrolíticas, desidratação, anemia e hipertensão, nesse estágio a morte é iminente (CASTRO, 2005). O tratamento clínico conservador da IRC consiste do tratamento auxiliar e sintomático, planejado para a correção de deficiências e excessos 1 Acadêmica do curso de Medicina Veterinária da Universidade de Cruz Alta, UNICRUZ, RS. [email protected] 2 Médico Veterinário do Hospital da Universidade de Cruz Alta, UNICRUZ, RS. [email protected] Professora e responsável pelo Laboratório de Patologia Animal da Universidade de Cruz Alta, UNICRUZ, RS. [email protected] 3 no equilíbrio dos líquidos, eletrólitos, quadro acido-básico, endócrino e nutricional, e que objetiva, portanto, minimizar as conseqüências clínicas e fisiopatológicas da redução do funcionamento renal (DUNN, 2001). Este trabalho tem por objetivo descrever as características clínicas e anatomopatológicas de um canino com insuficiência renal crônica. Metodologia Um canino, macho, Fila Brasileiro, de doze anos de idade, 34 kg, foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade de Cruz Alta, UNICRUZ, RS. O histórico incluía perda de apetite há vinte dias, anorexia, sinais neurológicos como convulsoes e vômitos. Os exames solicitados como triagem foram hemograma completo e exame bioquímico. Foi instituído como tratamento Cloridrato de Tramadol 1.,36 ml de 8 em 8h, Enrofloxacina 10% 3,7 ml de 12 em 12h, ringer lactato 2000 ml,, Metoclopramida 3,4 ml 8 em 8h e Diazepan 3,4 ml (quando necessário). O animal morreu durante tratamento clínico instituído e foi necropsiado no Laboratório de Patologia Animal da mesma instituição, sendo que no momento, fragmentos de rim, fígado e sistema nervoso central foram coletados e fixados em formalina neutra a 10%, e processados de acordo com as técnicas histológicas de rotina e corados pela hematoxilina-eosina. Resultados e Discussões Os resultados dos exames laboratoriais foram: ALT: 247,90 V/ L, Fosfatase Alcalina: 430,93 V/ L, Creatinina: 7,71 mg/ L, Uréia: 29,57 g/ L. Na necropsia havia lesões ulcerativas na porção ventral da língua (Figura 1), sendo que Dunn (2001) ressalta que a estomatite urêmica na IRC está associada à degradação da uréia até amônia pela urease bacteriana, além do hálito urinífero. Palidez das mucosas foi um achado macroscópico frequente, a qual era observada também internamente na serosa dos órgãos. E, segundo DUNN (2001) em animais com IRC tem diminuição na produção de eritropoetina em resposta a hipóxia tecidual intra-renal causada por diminuição da capacidade de transporte de oxigênio, ou pela diminuição do conteúdo de oxigênio. No fígado havia acentuação do padrão lobular (evidenciada por áreas avermelhadas circundadas por linha branca-amarelada). Os rins estavam acentuadamente pálidos, pequenos e com a superfície capsular irregular (Figura 2). De acordo com Camargo (2006) na análise macroscópica do parênquima renal, observaram-se superfície irregular e pontos de retração no parênquima com aderência de cápsula conectiva. Figura 1- Lesões ulcerativas na porção ventral da língua. Figura 2- Rim pálido, pequeno e com superfície capsular irregular. O cão citado clinicamente apresentava vômitos, o que segundo Dunn (2001) é um achado frequente, e resulta dos efeitos de toxinas urêmicas sobre a zona de disparo dos quimiorreceptores do centro bulbar do vômito, e da gastroenterite urêmica. A gravidade dos episódios de vômito correlaciona-se variavelmente com a magnitude da azotemia. As alterações neurológicas podem estar presentes na forma de apatia tremores, ataxia, mioclonias, excitação, convulsão e coma, sendo que muitas das manifestações neurológicas podem ser decorrentes da uremia ou do hiperparatireoidismo renal secundário (TOLEDO-PINTO, 2005). E, segundo este mesmo autor, o comprometimento da excreção de substâncias tóxicas dos rins, ocorre o acúmulo de componentes nitrogenados não protéicos (toxinas uremias) na circulação sangüínea, e, assim, os achados clínicos e laboratoriais na insuficiência renal crônica refletem o estado urêmico do paciente, dando uma característica polissistêmica à doença, com o comprometimento de diversos sistemas, como descrito neste canino. Microscopicamente as lesões renais consistiam de acentuada proliferação de tecido conjuntivo intersticial, com esclerose glomerular e múltiplos cistos. No fígado havia acentuada necrose centrolobular dos hepatócitos. Segundo Ferreira et. al. (2009), o tratamento visa diminuir os efeitos causados pela doença, já que as lesões são irreversíveis. Sendo que o diagnóstico precoce da IRC aumenta as chances do animal ter uma vida satisfatória e de qualidade. E, segundo o mesmo autor, estes animais podem ser tratados em casa, com dieta e medicamentos apropriados. Conclusão Os resultados laboratoriais, características clínicas e anatomopatológicas constituem evidências circunstanciais que permitem o diagnóstico de insuficiência renal crônica. Ressalta-se a importância do médico veterinário conhecer todos os sinais clínicos apresentados pela doença, pois só assim conseguirá diagnosticar e prescrever corretamente o tratamento. Lembrando, que pacientes com insuficiência renal crônica conseguem sobreviver por muitos anos, com qualidade de vida, se o tratamento for adequado, embora não haja reversão das lesões ocasionadas nos rins. Referências FERREIRA et al; Insuficiência Renal Crônica em cão: Relato de Caso. Disponível em www.eventosufrpe.com.br/jepex2009/cd/resumos/R0481-1.pdf., 2009. TOLEDO-PINTO, Eliane Aparecida; NAKASATO, Fernanda Hatsue, RENNÓ, Pauyra de Paula; Insuficiência renal crônica em cães e gatos: revisão de literatura;. www.revista.inf.br/veterinaria05/anais/artigo03.pdf., 2005. DUNN John K. Tratado de Medicina de Pequenos Animais; tradução Paulo Marcos A. de Oliveira – SP, ED. ROCA/2001. CASTRO, N. Maria Cristina; Prolongando a vida do paciente com insuficiência renal crônica; Revista Clínica Veterinária, nº 58, set/out 2005. CAMARGO et al. Alterações morfológicas e funcionais dos rins de cães com insuficiência renal crônica; Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. vol. 58 no.5 Belo Horizonte Oct. 2006.