Controle de qualidade de amostras comerciais de Salvia officinalis

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Controle de qualidade de amostras comerciais de Salvia officinalis L. adquiridas no Mercado Central da cidade de
Controle de qualidade de amostras comerciais de Salvia officinalis L. adquiridas no Mercado Central
Belo Horizonte, Minas Gerais. 2010. Horticultura Brasileira 28: S3452-S3456.
da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais.
Controle de qualidade de amostras comerciais de Salvia officinalis L. adquiridas
no Mercado Central da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais.
Márcia Noelle Monteiro de Castro1; Juliana Tensol Pinto1; Rosana Gonçalves Rodrigêsdas-Dôres2; Filipe Pereira Giardini Bonfim3; Vicente Wagner Dias Casali3.
1
2
LAPPRONA/UFOP- Morro do Cruzeiro-35400-000, Ouro Preto, MG; Centro de Saúde/UFOP- Morro do Cruzeiro 3
35400-000, Ouro Preto, MG; Departamento de Fitotecnia/UFV- 36.570-000, MG. e-mail: [email protected],
[email protected], [email protected], [email protected], [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Segundo a OMS 80% da população dos
países em desenvolvimento dependem da
medicina tradicional para suas necessidades
básicas de saúde. No Brasil, tais produtos são
comercializados em supermercados, casas de
produtos naturais, ou até mesmo em farmácias.
O comércio de plantas medicinais acontece
ainda em feiras livre, comércios varejistas e de
raizeiros. Em levantamento etnofarmacológico
de plantas antiinflamatórias, anti-hipertensivas
e anti-diabéticas; destaca-se, entre as mais
citadas, o chá de Salvia. Entre seus constituintes
fitoquímicos destacam-se o ácido rosmarínico,
ácido caféico e taninos. A designação do gênero
Salvia é derivado do latim Salvare, expressão
que significa salvar ou que salva, em referência
as propriedades curativas da planta, que desde
os tempos antigos foi celebrada como medicinal.
Folhas de Salvia officinalis foram adquiridas no
Mercado Central, da cidade de Belo Horizonte,
Minas Gerais, no mês de março no ano de 2009,
sendo submetidas ao controle de qualidade de
sua matéria seca na Universidade Federal de
Ouro Preto, Minas Gerais. Todas as amostras
comerciais de Sálvia estavam fora dos padrões
de comercialização, estando adulteradas por
contaminantes ou sujidades o que invalida todo
o processo de preparo da matéria-prima vegetal
e da comercialização de tais amostras.
According to WHO 80% of the
population of developing countries depend on
traditional medicine for their basic health
needs. In Brazil, these products are sold in
supermarkets, homes and natural products, or
even in pharmacies. The trade in medicinal
plants still happens in free fairs, retail trades
and healers. In a survey of plants
ethnopharmacological
inflammatory,
antihypertensive and antidiabetic; stands out
among the most cited, the tea of salvia. Among
its phytochemical constituents stand out
rosmarinic acid, caffeic acid and tannins. The
description of the genus Salvia is derived from
Latin Salvaro, an expression which means to
save or saved, in reference to the healing
properties of the plant, which since ancient
times has been celebrated as a medicinal.
Leaves of Salvia officinalis were purchased at
Central Market, the city of Belo Horizonte,
Minas Gerais, in the month of March in the
year 2009, being subjected to quality control
of dry matter at the Universidade Federal of
Ouro Preto, Minas Gerais. All commercial
samples of Salvia were outside the standards
of marketing, being corrupted by contaminants
or dirt which invalidates the whole process of
preparing the vegetable raw material and
marketing of such samples.
Palavras-chave: matéria prima vegetal,
materiais estranhos e sujidades
Keywords: vegetable raw material, foreign
material and dirt
Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010
S 3452
Controle de qualidade de amostras comerciais de Salvia officinalis L. adquiridas no Mercado Central
da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais.
Salvia é um pequeno arbusto ou subarbusto com altura em torno de 30 e 70 cm, de
folhas inteiras, opostas, simétricas, oblongas, lanceoladas, pilosas, possuindo a epiderme
adaxial verde e abaxial embranquecida; as inferiores são pecioladas e as superiores são
sésseis e reticuladas. Suas flores são violetas a azul-violáceas dispostas em verticilos, são
pequenas e agrupadas em espigas terminais, com intenso aroma e abundante néctar. Os
ramos se renovam todo ano, e a planta pode viver de 8 a 10 anos (Alonso, 1999).
Salvia officinalis L. possui aromaticidade, sendo utilizada como condimentar e medicinal
por suas propriedades anti-sépticas, comumente é utilizada em gargarejo nas afecções bucais,
na dor de dente, nos sangramentos na gengiva, na dor de garganta, e em úlceras. Chá de
Sálvia também é recomendado, popularmente, em febres, problemas digestivos e de
estômago, como resolutiva, emenagoga, vulnerária, adstringente, tônica, cicatrizante,
emoliente e estimulante (Martins, 1998; Correa, 1984).
Segundo a Organização Mundial da Saúde, 80% da população dos países em
desenvolvimento o mundo dependem da medicina tradicional para suas necessidades básicas
de saúde. Cerca de 85% da medicina tradicional envolve o uso de extratos de plantas
(Farnsworth, 1997). No Brasil essas plantas tem sido componentes de produtos
industrializados que são comercializados em supermercados, casas de produtos naturais
ou até mesmo em farmácias, muitas vezes sob a designação de fitoterápico ou droga vegetal
(Melo, 2007).
Cada país possui regulamentação para a produção e comercialização de drogas
vegetais, essas regulamentações contem critérios definidos para identidade, pureza e teor
de constituintes químicos, ainda assim, a fraude e a má qualidade dos produtos oferecidos
têm preocupado os profissionais da área da saúde e a comunidade científica (Melo, 2004),
podendo haver ainda problemas nas embalagens dos produtos, não repassando as
informações necessárias sobre o produto adquirido para o consumidor.
Em estudo feito por Morais (2005) algumas plantas medicinais como o chapéu de
couro, chapéu de vaca e assa peixe, comercializadas em Goiânia foi possível a identificação
da planta apenas quanto ao gênero sendo que as diferentes espécies são utilizadas como
apresentado as mesmas propriedades terapêuticas, e algumas amostras comerciais como
vergateza não se conseguiu identificar sequer o gênero. Evidenciando para essa autora a
necessidade de regulamentação pelas autoridades sanitárias do comércio de plantas
medicinais.
Segundo Araújo (2000) a utilização de plantas para fins terapêuticos sem garantia de
segurança e eficácia é agravada pela tendência dos consumidores em adquirir tais produtos
em comércios varejistas, mercados e feiras livres onde os mesmos são comercializados
indiscriminadamente sem o devido controle, representando perigo ao consumidor. A aquisição
de produtos de má qualidade é um dos problemas mais freqüentes nas plantas medicinais
comercializadas, relacionando a condições inadequadas de secagem, armazenamento e
contaminações durante a comercialização que podem expor o material a poeira, calor,
umidade, insetos e roedores.
O aparecimento de microorganismos pode levar a alterações dos princípios ativos ou
ocasionando a produção de substâncias tóxicas por microorganismos, sendo esses bactérias
e fungos o aparecimento de substancias tais como aflotoxinas e micotoxinas podem
comprometer toda a matéria vegetal a ser comercializada (Oliveira, 1991).
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S 3453
Controle de qualidade de amostras comerciais de Salvia officinalis L. adquiridas no Mercado Central
da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais.
Devido a isso esse trabalho teve como objetivos a analise do controle de qualidade de
amostras de Salvia officinalis L. adquiridas no mercado Central, na cidade de Belo Horizonte,
MG, no mês de março de 2009.
MATERIAL E METODOS
Foram adquiridas, no Mercado Central na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, no
mês de março do ano de 2009, embalagens comercias de três marcas distintas contendo
folhas secas de Salvia officinalis L. segundo consta o fabricante, constituindo os tratamentos
SCH, SFL e SAM. Estes tratamentos foram submetidos a ensaios de Controle de Qualidade
que foram realizados na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Ouro Preto, Minas
Gerais, Brasil. Procedeu-se avaliação da qualidade organoléptica (cor, odor, presença de
contaminantes, sujidades) e análises de cinzas totais segundo padrões da Farmacopéia
Brasileira IV (2003), buscando verificar possíveis adulterações. Assim, no ensaio de cinzas
(TC) totais foram utilizadas 3,0 g de folhas secas e pulverizadas, que foram transferidas a
cadinhos de porcelana (Chiarotti), previamente calcinados e colocados em mufla, (FDG 3PS 3000), a 450 ºC por 30 minutos até a total formação de cinzas. Após queda progressiva de
temperatura, todos os tratamentos foram transferidos a dessecador até resfriamento e
procedimentos de pesagem foram todos realizados em balança analítica (Sartorius BP221S).
Amostra controle foi proveniente de cultivo orgânico, material coletado no Horto da UFOP,
Ouro Preto, MG, previamente identificado e com exsicata depositada no Herbário José Badini,
sob número OUPR 8377. A qualidade organoléptica foi feita em comparação de cor com
amostra original, mediante processo de secagem natural, e por catação manual a olho
desarmado, com auxílio de pinça metálica, para verificação de partes estranhas,
contaminantes e sujidades (Farm. Bras. IV, 2003). Calculou-se o peso real da matéria prima
vegetal (peso real comercializado). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado
e os dados foram submetidos análise de média e desvio padrão e comparação de médias.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados estão dispostos na tabela 1. Na avaliação de cinzas totais das amostras
comerciais, o peso médio, de todos os tratamentos, foi de 11,79 ± 0,48 %, foram obtidas a
partir de 3,0279 ± 0,01540 g de folhas secas (Tabela 1). Essa determinação estabelece a
quantidade de substância residual não-volátil no processo de incineração (Farmacopéia
Brasileira IV, 1988). O ensaio de cinzas totais é metodologia rápida, simples e pode ser
facilmente aplicada no controle de qualidade da espécie vegetal seca, permitindo detectar
adulterações e evitar a exposição do consumidor ao risco real do uso de material vegetal
inadequado (Amaral et al., 2003).
Ao se avaliar o peso real, verificou-se que as informações advindas da rotulagem não
correspondiam aos pesos reais. Dois tratamentos (SFL e SAM) relatavam pesos médios de
20 g e possuíam 17,2854 ± 1,0050g e 15,3863 ± 1,0882g respectivamente, caracterizando
fraude venda irregular de matéria-prima vegetal, o tratamento SCH informava que continha
10g e comercializava 14,7208 ± 0,3059, o que também caracteriza fraude, o erro médio de
tais amostras foram de 13 a 23% valor negativo (SFL e SAM) a 47% valor positivo (SCH). É
importante lembrar que a grande maioria das pessoas que consome chás o faz apenas
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da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais.
baseado no peso das embalagens sem fazer pesagem, o que vem em desacordo com o
comercializado e influiria, a partir dos resultados obtidos, drasticamente no resultado esperado.
Já na análise dos elementos estranhos, fica gritante a qualidade inferior da matériaprima vegetal comercializadas, uma vez que o percentual médio de partes do caule (gravetos,
madeiras) e da inflorescência foram respectivamente de 3,80% em SCH e de 1% em SAM
(embalagens de 20g, com cerca de 17g e 15g) e de 3,70% no tratamento SFL (embalagens
de 10 g com cerca de 14g). As alterações de cor, sabor e odor ficaram evidentes nos que
tange o aspecto enegrecido, escuro, queimado e ressecado das folhas (parte permitida para
comercialização), com integridade comprometida com umidade e folhas com sinais de ataque
por insetos (herbivoria) indicando que não houve seleção pós-colheita das folhas, o que veio
a comprometer a qualidade do chá comercializado.
A maioria das plantas medicinais comercializadas está fora do padrão ou está
contaminado por impurezas como terra, areia, dejetos animais, outras espécies vegetais,
coliformes fecais, dentre outros (Scheffer, 2006). Desta forma, é de grande importância o
estabelecimento de padrões de qualidade organolépticos, físico-químicos, microbiológicos
e fitoquímicos que venham atender o mercado consumidor brasileiro (Braga, 2007). Todas
as amostras comerciais de Sálvia estavam fora dos padrões de comercialização, estando
adulteradas por contaminantes ou sujidades o que invalida todo o processo de preparo da
matéria-prima vegetal e da comercialização de tais amostras.
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Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010
S 3455
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Tabela 1. Comparações das médias (g) e desvio padrão de análises dos tratamentos
percentual de cinzas (TPC %), análise de peso da embalagem em gramas (EMB g) e
percentual de contaminantes e sujidades (TCM %) em três amostras comerciais de Salvia
(SCH, SFL e SAM). [Comparisons of means (g) and standard deviation analysis of treatments
percentage ash (TPC%), analysis of the packaging weight in grams (g EMB) and the
percentage of contaminants and dirt (TCM%) in three commercial samples of Salvia (SCH ,
SFL and SAM].
TRAT
SCH
SFL
SAM
TPC (%)
MÉDIAS
EMB (g)
TCM (%)
11,7592±0,4852 A
12,0021±0,2447 A
12,2853±0,3445 A
17,2854±1,0050 B
14,7208±0,3059 A
15,3863±1,0882g A
3,80 A
3,70 A
1B
t significativo ao nível de 5% de probabilidade. [t significant at 5% probability].
Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010
S 3456
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