ESTRIDOR NA INFÂNCIA Regina H.Garcia Martins Disciplina de Otorrinolaringologia Faculdade de Medicina - Botucatu Unesp ESTRIDOR “Som audível produzido pelo fluxo rápido e turbulento de ar por uma via aérea estreitada” Embriologia da laringe •Desenvolvimento a partir da 3a semana de vida intra-uterina, originando-se do 2o - 6o arcos branquiais •Apêndice central (epiglote) e dois laterais (c. aritenóideas) – glote em T •Principais malformações ocorrem entre a 4a e a 10a semana Particularidades da laringe infantil Laringe da criança não é miniatura da laringe do adulto •Ângulo da cartilagem tireóidea é maior e mais apagado (130o) •Osso hióide posicionado sobre a cartilagem tireóidea •Menor distância entre a cartilagem cricóidea e tireóidea •Cartilagens tireóidea e cricóidea pouco proeminentes e menos palpáveis Particularidades da laringe infantil The larynx- Fried, 1995 Particularidades da laringe infantil La laringe- Atlas anatótmico- Dr. Ferran T. Cabani •Epiglote em ômega e posteriorizada •Cartilagens aritenóideas proporcionalmente maiores The larynx- Fried, 1995 •Língua posteriorizada e proporcionalmente maior The larynx- Fried, 1995 •Menores dimensões das pregas vocais (Criança - 0,7– 0,8mm; mulher - 1,7mm; homem - 2,2mm) The larynx- Fried, 1995 Laringe mais elevada (C3 – C4) C5 ( a partir dos 6 anos) - Maior extensão vocal • Formato da glote oval na criança e triangular no adulto • A região subglótica tem o formato afunilado pelo menor diâmetro da cartilagem cricóidea •Estruturas imaturas da lâmina própria – ausência de ligamento vocal, sem diferenciação das camadas intermediária e profunda – a partir do 6o ano Dificuldades no exame ANAMNESE - PECULIARIDADES Condições do nascimento - fórceps Choro Relação com estado gripal Dispnéia – cianose - estridor Evolução Início do quadro – agudo ou crônico Febre, mal estar, tosse, dispnéia Antecedentes de intubação Malformações craniofaciais - S. genética DRGE, quadro nasossinusal, alergia Desenvolvimento pondo - estatural Condições de amamentação Condições do sono EXAME FÍSICO Avaliar o grau de comprometimento respiratório, atentando-se para: posição da criança no leito presença de ruídos inspiratórios e/ou expiratórios batimento de asa nasal taquipnéia, taquicardia cianose, palidez, sudorese tiragem prejuízo ao sono e à alimentação DIAGNÓSTICO •Exame endoscópico (incluindo árvore traqueobrônquica) é decisivo no diagnóstico •Realizado, inicialmente, em plano anestésico superficial para avaliação funcional da laringe The larynx, 1995 ETIOLOGIA DO ESTRIDOR NA INFÂNCIA TUMORES Processos inflamatórios MALFORMAÇÕES CORPO ESTRANHO TRAUMATISMO •papilomas •malácia Laringites •hemangiomas •paralisia •virais •linfangiomas •diafragma •bacterianas •cistos •atresia •estenose •diastema •mecânico •inalatório •químico •traumas de intubação LARINGITES LARINGITES VIRAIS LARINGITE CATARRAL AGUDA VIRAL Principal causa de disfonia e estridor na infância em crianças de 6 meses a 3 anos Acompanha quadro gripal Parainfluenzae, rhinovirus, vírus sincicial respiratório, mixovírus, adenovírus Sintomas - febre baixa, secreção, tosse, rouquidão, estridor leve Diagnóstico clínico, endoscópico (raramente indicado) Complicações – laringotraqueíte e laringotraqueobronquite viral aguda (secreções espessas e viscosas, taquipnéia, dispnéia, tiragem de fúrcula e estridor inspiratório ou bifásico) LARINGITE CATARRAL AGUDA VIRAL Autolimitada Tratamento sintomático Nas laringotraqueobronquites pode-se introduzir corticoterapia sistêmica por poucos dias (4-5) LARINGITES VIRAIS INCOMUNS Herpética (Herpes vírus varicellae) Sarampo - laringite estridulosa, aparecimento de úlceras e pseudomembranas Mononucleose (Epstein-Barr Vírus – EBV) presença de adenomegalia e pseudomembranas nas mucosas respiratórias VARICELA SARAMPO LARINGITES BACTERIANAS LARINGOTRAQUEÍTES E LARINGOTRAQUEOBRONQUITES BACTERIANAS •Secundárias a quadros virais •Bacterias: Streptococcus pneumoniae, Streptococcus pyogenes, Streptococcus B hemolítico, Haemophilus influenzae, Staphylococcus aureus, Moraxella catarrhalis e Klebsiella pneumoniae •Complicação - pneumonia bacteriana •Tratamento – cefalosporinas de segunda (cefuroxima) ou terceira geração (ceftriaxona Rocefin® – adultos -1-2g/dia; cças – 20-50mg/kg/dia) •Em casos graves - hospitalização e monitoramento do padrão respiratório, intubação com cânula de menor diâmetro SUPRAGLOTITE •Acomete as estruturas da supraglote •Haemophyllus influenzae tipo B •Outros - Streptocococs viridans, Staphylococos pyogenes, Diplococcus pneumoniae SUPRAGLOTITE •Sintomas - dor para engolir, febre baixa, disfagia e odinofagia intensa em horas, voz pastosa, salivação excessiva e desconforto respiratório •Posição do paciente característica •NASOFIBROSCOPIA – estruturas supraglóticas edemaciadas e congestas TRATAMENTO - Vacina conjugada ( a partir de 1985), Antibioticoterapia sistêmica (cefalosporinas de 2a ou 3a geração) Cummings et al, 1998 LARINGITE DIFTÉRICA •Corynebacterium diphtheriae •Sintomas - febre alta, anorexia, linfoadenites, dores de garganta e disfagia •Exame ORL - amídalas e pilares recobertos por membrana acinzentada aderente •Endotoxinas - manifestações cardíacas (miocardites), renais e neurites periféricas •Tratamento – antibiótico sistêmico + soro antidiftérico LARINGITE ESPASMÓDICA AGUDA • Crianças de 1 a 3 anos •Despertar súbito do sono com desconforto respiratório, tiragem e tosse •Sintomas duram alguns minutos e podem se repetir nas noites seguintes •Exame ORL - discreta hiperemia das pregas vocais e da região subglótica TUMORES PAPILOMATOSE DE LARINGE brotos conjuntivo-epiteliais na mucosa laríngea, altamente recidivantes HPV tipos 6 e 11 (DNA vírus) Formas clínicas: infanto-juvenil (rouquidão, dispnéia progressiva) e adulta Diagnóstico – clínico, endoscópico, hibridização in situ, reação da cadeia de polimerase (PCR) Epidemiologia 4,3 a cada 100.000 crianças americanas 2.000 casos novos anuais Neoplasia laríngea mais freqüente Pico de incidência aos 5 anos (na forma infantojuvenil) e aos 20-40 anos (na forma adulta) Aaltonen et al., 2002; Alkotob et al., 2004 TRANSMISSÃO Incerta Vertical – mãe/filho – canal vaginal Suabs orais positivos para HPV em 1/3 das crianças de mães com condiloma genital TRANSMISSÃO Apenas 30% das mães relatam condiloma No adulto – transmissão orogenital CURSO DA DOENÇA Crianças com lesões antes dos 3 anos, pior evolução Fatores que influenciam a evolução: nível socioeconômico baixo, subtipo viral, influência genética e estado imunológico Média de procedimentos cirúrgicos nas crianças – 3 ao ano 50% dos casos realizam em média 10 procedimentos A C B D Figura Figura 1. 1. A) A) Fotomicrografia Fotomicrografia panorâmica panorâmica do do corte corte histológico histológico do do papiloma papiloma escamoso. escamoso. HE. HE. 200x. 200x. B) B) Numerosos Numerosos coilócitos. coilócitos. HE. HE. 400X. 400X. C) C) Detalhe Detalhe dos dos efeitos efeitos citopáticos citopáticos do do vírus: vírus: inúmeras inúmeras células células com com vacuolização vacuolização perinuclear, perinuclear, além além de de paraceratose. paraceratose. HE. HE. 400X. 400X. D) D) Binucleação Binucleação nos nos coilócitos coilócitos (seta). (seta). HE. HE. 400x. 400x. TRATAMENTOS Cirurgia – Bisturi Convencional /Laser CO2 (vantagens do laser: menor sangramento, menos sinéquia) TERAPIAS ADJUVANTES – Interferon , cidofovir, aciclovir INDICAÇÕES Mais de quatro procedimentos cirúrgicos ao ano Complicações extralaríngeas Quadros obstrutivos TERAPIAS ADJUVANTES INTERFERON – ação antiviral, imunomoduladora e antiproliferativa CIDOFOVIR – intralesional – ação antiviral – 5mg/ml, repetida em 2 a 4 semanas. Dose máxima 5mg/kg. ACICLOVIR Naiman et al, 2003; Pontes et al, 2003; Pransky et al, 2003 HEMANGIOMA 50% dos pacientes com hemangioma cutâneo Região subglótica mais freqüente em cças– estridor bifásico exacerbado com o choro Regressão espontânea após 5 anos em 60% dos casos Diagnóstico – clínico, endoscópico, RM, angiografia. CISTOS LINFANGIOMA • malformações congênitas de tecido linfático, císticos e benignos •75% dos casos são cérvicofaciais •Tratamento – cirurgia - OK-432 (Picibani)-mistura liofilizada de Streptococcus pyogenes do grupo A, tipo 3 de origem humana tratados com benzilpenicilina MALFORMAÇÕES LARÍNGEAS LARINGOMALÁCIA Principal causa de estridor neonatal congênito (70%) 90% dos casos - sintomas leves - evolução favorável até 18 meses Estridor inspiratório intermitente Diagnóstico – Nasofibroscopia - plano superficial de sedação Etiologia – imaturidade neuromuscular, hipotonia muscular, alterações na constituição das cartilagens laríngeas, DRGE. LARINGOMALÁCIA - CLASSIFICAÇÃO Traqueotomia em 10% dos casos Olney et al, 1999 Diafragma laríngeo (membrana congênita) Alterações na recanalização da luz glótica Membrana fibroepitelial entre as pregas vocais Diagnóstico clínico e endoscópico - Voz fraca, aguda, com esforços, dispnéia Associação com outras malformações Holinger & Brown, 1967; Narcy et al, 1979, Fried, 1995 ESTENOSE LARÍNGEA CONGÊNITA Defeitos congênitos no desenvolvimento da cartilagem cricóidea Dispnéia e estridor logo ao nascimento, muitas vezes incompatível com a vida As formas adquiridas são mais freqüentes (traumas de intubação Narcy et al., 1979; Fried, 1995, Sennes et al, 2003 PARALISIA LARÍNGEA SEGUNDA PRINCIPAL CAUSA DE ESTRIDOR DO NEONATO NERVO VAGO NERVO LARÍNGEO SUPERIOR Ramo externo ( motor) – m. cricotireóideo Ramo interno - sensitivo NERVO LARÍNGEO INFERIOR músculos intrínsecos da laringe - m.m. tireoaritenóideos, cricoaritenóideo lateral e posterior e aritenóideo. PARALISIA LARÍNGEA PARALISIA LARÍNGEA - ETIOLOGIA •Bilaterais - anomalias congênitas do sistema nervoso central (hidrocefalia, agenesia cerebral, encefalocele e malformação de ArnoldChiari);traumatismos, infecções, tumores • Unilaterias - malformações de grandes vasos do mediastino, tumores congênitos, cirurgias mediastinais, doenças linfoproliferativas, traumatismos mediastinais ou cervicais;tireopatias • Daya et al., 2000; Jong et al., 2000; Brasil et al, 2003 DIASTEMA LARÍNGEO • Rara • Falta da fusão posterior da glote entre a 4a -7a semana de vida intra-uterina • Sintomas - dificuldade na alimentação, aspiração, pneumonias aspirativas • Classificação: tipo I - restrita à musculatura interaritenóidea; tipo II – estende-se até a c. cricóidea; tipo III – região sup. da traquéia; tipo IV- toda traquéia (Parsons et al, 1998; Benjamin & Inglis, 1989) • Diagnóstico endoscópico TRAUMATISMO TRAUMATISMO LARÍNGEO - Mecânico – acidentes automobilísticos, esportes, quedas, arma de fogo e arma branca - Inalatório – fumaça - Químico – DRGE, soda cáustica - TRAUMA DE INTUBAÇÃO TRAUMA DE INTUBAÇÃO Intubação traumática Intubação prolongada Intubação com tubos de diâmetro inadequado Com elevada pressão no balonete Comorbidades associadas Trauma de intubação Trauma de intubação Úlceras superficiais Edema de mucosa Granulomas Sinéquias Estenoses laríngeas ou traqueais Traumas de intubação Trauma de intubação Trauma de intubação - estenose laríngea Trauma de intubação Trauma de intubação Trauma de intubação Diagnósticos diferenciais do estridor Quadros pulmonares - embolia pulmonar, edema agudo de pulmão, asma Quadros cardíacos - ICC, infarto agudo do miocárdio Quadros neurológicos - centrais ou periféricos - miastenia, esclerose múltipla, traumatismo crânioencefálico, crise convulsiva, etc. ACHADOS ENDOSCÓPICOS DA CRIANÇA COM ESTRIDOR Revista Brasileira de Otorrinolaringologia , 2006 Resultado N(%) Traqueotomia (%) Estenose subglótica 15(27,27) 15(27,27) Processo inflamatório em laringe e/ou traquéia 12(21,82) 11(20,00) Paralisia bilateral de pregas vocais 7(12,72) 7 (12,72) Laringomalácia 6(10,90) 2(3,64) Compressão traqueal vascular extrínseca 2(3,64) 2(3,64) Granuloma em subglote 1(1,82) 1 (1,82) Cisto laríngeo congênito 1(1,82) 1 (1,82) Porção membranosa traqueal redundante 1(1,82) 1(1,82) Síndrome de Pirre Robin 1(1,82) 1(1,82) Exame normal 9(16,36) 0(0,00) CORPO ESTRANHO CORPO ESTRANHO Há relatos de aspiração de grãos, moedas, apitos, palitos, botões, pilhas, partes de brinquedos, insetos, espinho, osso, grampos, tachinha, alfinete, papel, piercing,etc.