CULTURA DE RISCO E O TITANIC Marco Nutini Toda e qualquer organização apresenta dois tipos de cultura: aquela pretendida pela alta administração e a cultura real, praticada em campo. Essa última é composta de valores explícitos e implícitos, associados ao comportamento real das pessoas. A cultura organizacional real está para o desempenho de uma organização assim como o terroir(1) está para o vinho. Segundo os especialistas, o terroir influencia muito a qualidade do produto final, caracterizando-a como única, não copiável, sendo o argumento para a existência dos produtos de denominação controlada de origem (bordeaux, alentejo, etc.). A abordagem científica já permitiu replicar os métodos de plantio e de colheita e os processos de fermentação e de maturação, mas não se sabe ainda como replicar o terroir. Se você quiser compreender tecnicamente um vinho (não é o meu caso), será compelido a estudar o terroir e como ele combina com os demais fatores que compõem o paladar, a cor, o buquê e o et cetera do vinho. A analogia cai como uma luva para o mundo organizacional. A combinação da cultura e do estilo de gestão com outros fatores que caracterizam o output de uma organização é única, praticamente impossível de ser replicada, o que torna o estudo do sucesso ou do fracasso empresarial ainda mais fascinante, obrigando-nos a ter cautela na aplicação de fórmulas excessivamente simplistas de prognóstico do futuro de uma empresa. Todavia, mesmo sendo cada caso um caso, eu sou um dos sujeitos que acreditam piamente que é possível traçar linhas gerais de análise para nortear uma reflexão sensata sobre como uma determinada organização é conduzida. A cultura é basal, ou seja, qualquer iniciativa séria de upgrade de um processo gerencial passa necessariamente por sua revisão. Ela depende fortemente das pessoas e dos legados da organização – como as coisas foram feitas no passado e o que deu certo ou errado. Como ela é feita de valores arraigados a seres humanos, demora-se muito para promover mudanças na cultura. Comparada a outros fatores críticos de sucesso da estratégia de uma organização, a cultura é praticamente imutável em um período de tempo relativamente curto e é mais resiliente – verga com o vento, mas volta sem deformação ao ponto de origem. Sempre fui fascinado por entender como a cultura organizacional e o modelo de gestão influenciam o desempenho de uma empresa. Em 1992, larguei um bom emprego numa excelente multinacional, a Eastman Kodak (falarei sobre ela em outro artigo), para me dedicar à consultoria em gestão e ao estudo de casos. Agreguei-me, naquele mesmo ano, à Rev. 1 Fundação Nacional da Qualidade – junto à qual milito até hoje, – e venho, desde então, ajudando a moldar o modelo que é hoje a principal referência no Brasil para excelência da gestão. A busca sem fim por um modelo quali-quantitativo que nos permita julgar se uma organização é bem administrada tem sido muito recompensadora, embora possa ser, em determinadas circunstâncias, frustrante. Não há dúvidas de que cultura e modelo de gestão são a plataforma de sustentação do sucesso empresarial; entretanto, a frustração decorre do fato de que a maioria dos executivos lhes atribui menor importância em comparação a outros fatores, pois não são as causas imediatas, tangíveis e óbvias do sucesso (ou do fracasso). Por isso, é comum que se atribua menor senso de urgência à cultura e à gestão. Desde que tive essa percepção, passei a estudar os conectores da cultura e da gestão com o desempenho organizacional, para poder convencer executivos a atropelar essa inércia. Você já deve ter ouvido falar de caçadores de tornados, cientistas que lutam para aumentar a compreensão sobre as causas e a dinâmica de cada tornado dos muitos que assolam o meio-oeste norteamericano todos os anos, com o fim de melhorar a capacidade para predizer quando um tornado vai se formar e como ele irá se comportar. Eles foram representados no filme Twister, no qual um casal (protagonizado por Bill Paxton e Helen Hunt) perambulava à borda de furacões para lançar sensores dentro deles. Não é só imaginação hollywoodiana, não, esses cientistas existem de fato e o perigo é real(2). Além da louvável intenção de ajudar a prevenir perdas e danos futuros, esses cientistas têm muito de aventureiros: eles gostam da adrenalina que invade o metabolismo quando se está próximo a um desses fenômenos da natureza. Quem é aficionado de gestão de risco comunga um pouco do espírito dessa turma, só que sem a parte da aventura radical. Eu, por exemplo, curto um belo desastre empresarial: tenho prazer em estudá-lo e compreender suas origens. Entenda, não sou um abutre atrás de carniça, pois também curto histórias de sucesso pelo mesmo motivo: elas nos ensinam a compreender o passado e melhorar nossa capacidade de antecipar o comportamento futuro das organizações. Tenho tido minha quota de ambos, sucessos e fracassos empresariais. Testemunhei muitos deles bem de perto, às vezes até perto demais. Mas, infelizmente, ainda não é possível jogar sensores remotos dentro de uma empresa para mapear o que acontece em real time para predizer seu comportamento, como está fazendo o projeto Twistex(3) com tornados. O estudo analítico da história é uma ferramenta poderosa para aprendizado, apoiando o refinamento Pág. 1 CULTURA DE RISCO E O TITANIC Marco Nutini dos modelos existentes sobre o que determina o desempenho empresarial e de como os fatores críticos se inter-relacionam. Em especial, o aprendizado de casos históricos é fundamental para o processo gerencial de Gestão de Risco, pois boa parte desse processo gira em torno da projeção de eventos que nunca aconteceram em uma determinada organização. Em outras palavras, para o processo ser eficaz ele é obrigado a aprender com eventos históricos ocorridos em outras organizações. Aqui é que entra o caso Titanic. Você deve estar se perguntando: mas por que cargas d’água o Titanic seria um bom tema para aprender sobre cultura de risco? Bem, para começar, o Titanic é um caso fartamente documentado, havendo diversos livros dedicados a explorar a conexão do Titanic com gestão empresarial e análise de risco(4). É o caso mais famoso de tragédia plenamente evitável em época de paz, ou seja, sem intenção de dolo. É também um exemplo óbvio de que o uso de técnicas básicas de prevenção – simulação de contingências, treinamento, maior envolvimento do pessoal de operação, integração de informações, etc. – seria suficiente para mitigar significativamente, ou até mesmo eliminar, o drama humano. Imagino que você conheça a história do Titanic e provavelmente tenha assistido ao blockbuster de James Cameron, recordista absoluto de bilheteria da história do cinema. Pergunte a alguém a causa do naufrágio e você ouvirá uma das respostas abaixo. • • • • • O Titanic raspou num iceberg de forma desafortunada. O iceberg rasgou o casco de bombordo da proa até a popa. O capitão Edward John Smith foi negligente em relação aos alertas de iceberg na rota. Havia uma crença generalizada de que o navio era inafundável. O navio estava singrando o Atlântico em velocidade acima da que seria prudente para as condições de navegação. O navio tinha problemas estruturais desconhecidos à época, em função da tecnologia de construção naval. As respostas acima são todas corretas e realmente explicam o acidente sob um ponto de vista estritamente técnico. Elas têm a ver com o fato de o Titanic ser uma embarcação inovadora e com a estratégia usada pela White Star Line, sua proprietária, para disputar a supremacia no setor com a Cunard, sua principal concorrente. A esmagadora maioria dos milhares de livros e filmes produzidos sobre o Titanic aborda as coisas, digamos, interessantes da história: o acidente, a vida dos passageiros famosos e anônimos, o contraste entre as classes sociais, os dramas do capitão e do projetista do navio, etc., mas não a causa-raiz: o Rev. 1 contexto cultural que permitiu, e até incentivou que o capitão do navio assumisse sozinho riscos excessivos, inimagináveis quando os analisamos à luz dos protocolos atuais de navegação. O naufrágio do Titanic tem muito em comum com outros eventos catastróficos causados exclusivamente pelo homem, tais como o vazamento de petróleo do Exxon Valdez no Alasca, a explosão do reator nuclear de Chernobyl, a recente colisão do navio Costa Concordia contra rochas no litoral da Itália e outros tantos: alguém na ponta da execução causou o evento por negligência ou incompetência, em ambiente de risco conhecido, operando para organizações que não foram sensíveis aos claros sinais de vulnerabilidade emitidos previamente. O Titanic é um ícone de fim e de início de duas eras: em 1912, a revolução industrial inglesa chegara ao seu ápice junto com o Império Britânico e grandes corporações começavam a controlar o mundo. Pela primeira vez, o conceito de que uma empresa precisava prestar contas a todas as partes interessadas ganhou chão, pois o principal executivo de uma grande corporação foi cobrado ferozmente pela opinião pública – a imprensa e o povo nas ruas, não a rainha ou o arcebispo – por impactos sociais causados por um ato falho de sua organização. Por uma dessas tramas do destino, tanto o homem da operação (o capitão do navio, Edward John Smith) como o homem da estratégia (o CEO da White Star Line, Joseph Bruce Ismay) estavam juntos a bordo, tomando as decisões que levaram ao acidente. Bruce Ismay havia embarcado em Southampton, sem a família, para a estreia do Titanic. Ele gostava de participar das viagens inaugurais da frota e tinha negócios rápidos a resolver em New York. Pouco se sabe da realidade das interações que os dois principais protagonistas da tragédia tiveram durante os quatro dias de navegação, porque um deles morreu ao final do ato e não pôde dar seu testemunho. Bruce, como era conhecido, era filho do fundador da White Star Line (Thomas Henry Ismay, falecido em 1899) e foi o cérebro empresarial por trás da construção de três navios similares pelo estaleiro Harland & Wolff (o Olympic, o Titanic e o Gigantic, cujo nome foi alterado posteriormente para Britannic), à época as três maiores embarcações de passageiros do mundo. A White Star Line havia sido vendida para o grupo de John Pierpont Morgan, o capitalista norte-americano, em 1902. Ou seja, o financiamento dos três megaprojetos não foi um problema. Bruce Ismay tinha tão boa reputação como administrador que continuou como CEO da White Star, mesmo tendo sido, no início das negociações, resistente ao assédio de J. P. Morgan. Pág. 2 CULTURA DE RISCO E O TITANIC Marco Nutini Bruce embarcou no último escaler salva-vidas que saiu do Titanic já prestes a ser engolido pelo Atlântico, enquanto o capitão Smith ficou a postos e desceu com o navio pelo qual era responsável, como costumavam fazer os capitães de antanho. Por conta disso, Bruce foi execrado pela opinião pública pelo resto de sua vida (ele somente viria a morrer 25 anos depois, em 1937). Além de ter sido tratado como covarde, por ter valorizado mais a sua vida do que a de 1.517 passageiros que não tiveram espaço nos salva-vidas e morreram, ele foi também acusado de ter forçado a manutenção da velocidade na noite do naufrágio, pois queria provar que seus navios eram superiores aos da Cunard. Em seu depoimento aos inquéritos sobre o acidente, Bruce negou essa teoria, enfatizando que jamais interferiu nas decisões tomadas pelo capitão Smith e que decidiu embarcar no salva-vidas apenas porque naquele deck só haviam restado ele e o oficial encarregado, que se recusou a embarcar, o que foi confirmado pelos passageiros que estavam naquele salva-vidas. Não era a primeira vez, nem seria a última, que a White Star tinha um de seus navios acidentados e muitas lições haviam sido aprendidas. A inteligência naval da Inglaterra era notória. O capitão tinha excelente reputação e experiência em guerra, mas, à exceção de algumas colisões menores, nunca tinha experimentado uma situação grave como aquela para os passageiros e demonstrou não estar preparado para a contingência. A incerteza, a mãe de todos os riscos, juntou peças de uma forma interessante: uma noite calma, sem lua (o que dificulta a visualização), com neblina, num ano no qual a formação de icebergs foi recorde. Ele sabia de tudo isso e manteve a rotina, quando deveria ter parado o navio. Capitães muito mais jovens e inexperientes em outros navios que estavam na mesma região pararam suas embarcações ou reduziram a marcha e ficaram na proa de binóculo. Smith não fez nada e recolheu-se aos seus aposentos como se fosse uma noite como outras tantas de sua longa carreira. Tudo indica que ele estava em uma zona de conforto e que a cultura da White Star estava permitindo que isso acontecesse sem questionamentos. É interessante notar que nenhum regulamento naval vigente em 1912 foi violado, tanto que Bruce Ismay e a White Star não sofreram qualquer tipo de punição legal. Os salva-vidas eram realmente muito insuficientes para o número de passageiros, mas essa era a norma vigente e, além disso, o tempo de descida dos escaleres foi um gargalo mais relevante. É verdade também que os portões de acesso da terceira classe para os andares superiores ficavam trancados, por força da lei americana de imigração e que, nos momentos posteriores à batida no iceberg, houve uma certa demora para que o encarregado abrisse os portões. Entretanto, não foi comprovado Rev. 1 que alguma morte fosse diretamente ligada a esse fato. Apesar de terem sido instalados inquéritos nos EUA e na Inglaterra, ambos acompanhados com sofreguidão pela imprensa mundial, a White Star Line continuou operando normalmente e somente sofreu reveses financeiros moderados por conta do naufrágio (indenizações às famílias, principalmente). Pelo lado positivo, o episódio motivou alterações profundas na regulamentação e na percepção de como uma organização deveria ser responsabilizada por eventos causados por negligência ou omissão, mudanças que nos afetam até hoje. Para a vida pessoal de Bruce Ismay e de sua família, contudo, o episódio foi devastador e ele nunca se recuperou plenamente. Bruce conhecia muito bem os riscos da navegação naquela rota do Atlântico e sabia que o navio não era inafundável, até porque isso não existe. Ele era um homem do mar, tanto quanto o capitão. O Titanic era sua cria, tendo sido concebido por ele em parceria com os proprietários do estaleiro comissionado, esses também importantes acionistas da White Star. Se ele não quis interferir nas decisões do capitão Smith -- o que ele sempre alegou até morrer --, isso revela uma cultura forte de respeito solene entre homens do mar, que levou a White Star, em nome de uma honra esquisita para nós um século depois (já que morreram 1.517 pessoas), a ficar dependente das decisões de um único homem em uma situação de grande perigo. Essa é a versão oficial. Contudo, se Bruce Ismay realmente interferiu e mandou seguir viagem custe o que custar -- como preferiam entender a imprensa da época e todos os romances e filmes a seguir --, essa hipótese revelaria uma cultura de ambição e tirania que teria atropelado o bom senso e a segurança. É óbvio que ninguém é dono da verdade no assunto Titanic, existindo, inclusive, interessantes e divertidas teorias da conspiração, todas fundamentadas no fato de que a barbeiragem tinha sido inacreditável para um capitão tão experiente, com 62 anos e às vésperas da aposentadoria. A mais célebre delas sustenta que o navio foi afundado deliberadamente, a mando de J. P. Morgan, para fraudar o seguro(5). Em resumo, a história do Titanic revela duas hipóteses plausíveis de pano de fundo cultural para o naufrágio, ambas fatores causais do resultado conhecido: 1) A White Star desprezava a segurança dos passageiros e a colocou em risco para bater recordes. 2) A White Star, como qualquer empresa naval, mantinha um sólido respeito à rígida hierarquia militar nos seus navios e confiava cegamente em seus capitães. Pág. 3 CULTURA DE RISCO E O TITANIC Marco Nutini Com base no histórico da White Star e da filosofia mantida desde o início da empresa, em 1868, pela família Ismay, eu fico com a segunda versão. A cultura militar e o perigo da rotina Empresas de transporte marítimo ainda têm estruturas organizacionais das áreas operacionais baseadas na hierarquia militar, em especial nas embarcações. E não é só a estrutura organizacional que é similar: a cultura também, mesmo que não se trate de organizações voltadas para a defesa. Não é à toa que os acidentes do Costa Concordia e do Exxon Valdez têm em comum com o Titanic justamente o contexto cultural e um protagonista autocrático, ou seja, o capitão. Se isso ainda ocorre em 2014, imagine como era em 1912, com velhos lobos do mar forjados em combate, herdeiros da tradição naval do século anterior. Vários elementos da cultura saudável de risco não estavam a bordo do Titanic: • O posicionamento claro da alta administração em relação a quais riscos eram aceitáveis e quais eram inaceitáveis, posicionamento esse que deveria ser disseminado para todos. • Manutenção de fluxo ágil de informações sobre risco para cima e para baixo na hierarquia, sem medo de consequências. • Encorajamento de whistle blowing, ou seja, possuir canais para as pessoas reportarem eventos e incidentes que evidenciem descolamento em relação ao posicionamento da alta administração. • Questionamento constante dos métodos decisórios da organização, para obter um padrão de alerta. Nos três casos mencionados, as tripulações já haviam testemunhado inúmeras vezes o comportamento de risco dos capitães, mas a falta de posicionamento, a hierarquia rígida, a impossibilidade de questionamento e o medo de virar um “delator” inibiram completamente qualquer atitude proativa das pessoas que poderiam ter evitado os acidentes. É importante destacar que não sou contra a estrutura militar e sua cultura: o problema é que elas foram desenvolvidas para o ambiente de guerra ou crise. A hierarquia rígida decorre do fato de que as equipes que estão em missão no campo de ação têm autonomia total, muitas vezes estão sem comunicação com a base e precisam de comando local absolutista, pois não há muito tempo para consenso, nem para deliberações. É uma situaçãolimite com risco de vida, obviamente. A estrutura militar exige prontidão, mesmo em época de paz. Em Rev. 1 tese, ela está preparada para emergência o tempo todo e treina isso fortemente, por meio de simulações e manutenção do estado de “sempre alerta”. Aí reside o X da questão: quando a estrutura é transplantada para uma organização não-militar, pode-se perder esse traço importante da cultura militar, em especial quando o ambiente de trabalho é tranquilo e teoricamente sem surpresas -- também um ponto em comum dos três acidentes. Como já vimos, o acidente do Titanic ocorreu em uma situação rotineira de navegação no Ártico. Imagino que muitas pessoas no nível de comando intermediário da tripulação tenham ficado preocupadas com a postura blasé do capitão, que determinou a manutenção normal do curso e foi dormir, sem gerar qualquer plano especial de alerta aos perigos evidentes. Imagino também que eles devem ter pensado: “O que se há de fazer? Sempre foi assim...”. Infelizmente, eles não puderam comprovar isso em seus depoimentos, porque morreram no acidente. Lições aprendidas Qualquer organização já estabelecida tem uma cultura de risco instalada. Então, a primeira coisa a fazer para mudá-la é tomar o pulso dela. Defina os elementos culturais desejáveis e identifique os potencialmente adversos junto à alta administração. A seguir, verifique como as pessoas percebem esses elementos. Por exemplo: elas acham que há liberdade para relatar situações de risco sem sofrer retaliações? Elas conhecem os riscos inerentes ao negócio? Elas sabem qual é o grau de autonomia que se espera delas? Elas acham que os líderes estão preparados para lidar com riscos? Diversas metodologias estão à disposição para medir os elementos culturais de risco e avaliar como anda a cultura de risco da organização, tais como: • Pesquisa específica de cultura de risco (pode ser na forma de survey ou por meio de entrevistas). • Incorporação de questões sobre percepção da gestão de risco na pesquisa de clima ou na pesquisa de valores. • Criação de grupos focais interfuncionais. • Estudo do comportamento das pessoas, com base na análise do histórico de desvios, incidentes e outras manifestações reais de risco que a organização experimentou. A seguir, deve-se diagnosticar se a organização não tem bolsões de cultura inconsistente com o resto da organização e identificar as causas dessa discrepância, tais como: estrutura local excessivamente autocrática, acomodação em zona Pág. 4 CULTURA DE RISCO E O TITANIC Marco Nutini de conforto, ausência de sistemas locais para sensibilização e estímulo, etc. Por fim, e sempre com o aval da alta administração, na terceira fase você vai tentar interferir nos elementos culturais que descolaram do que se pretende que seja a cultura de risco da organização. Isso parece, mas não é, trivial; o remédio tem que ter dose certa, não pode ser pior do que a doença. Mudanças culturais devem ser feitas com a devida cautela, com a compreensão da dinâmica e do equilíbrio dos sistemas envolvidos. A linha de ação geralmente passa por: • Revisar os valores da organização e o método para sua disseminação. • Reposicionar a tolerância do sistema de liderança a determinados tipos de risco e deixar claro o novo posicionamento. • Efetuar mudanças cirúrgicas na estrutura organizacional e – possivelmente o passo mais importante – • Revisar a espinha dorsal da trilha educacional, que vai desde a integração de novos colaboradores até o aprimoramento dos líderes, para fortalecer o tal “estado de alerta”, ou seja, para desenvolver a sensibilidade ao risco mesmo em ambiente de rotina. pesquisador, Carl Young, que também faleceram fazendo o que mais gostavam. http://newswatch.nationalgeographic.com/2013/06/02/thestunning-tornado-videos-of-storm-chaser-tim-samaras-who-hasdied/ (3) Twistex é a sigla para Tactical Weather Instrumental Sampling In/Near Tornadoes Experiment, projeto que congrega vários especialistas em meteorologia de tornados nos EUA. https://www.facebook.com/TeamTWISTEX (4) Um bom exemplo: Collision Course: How Good Decisions Sank the Titanic and Why, Joseph Mortati, 2013, Kindle Edition. (5) Essa teoria é tema dos livros Titanic: The Ship That Never Sank?, de autoria de Robin Gardiner e Olympic and Titanic: The Truth Behind the Conspiracy, de Mark Chirnside. Outras teorias incluem abordagens, digamos, mais cinematográficas, tais como a maldição de uma múmia escondida em um carro no depósito do Titanic. Outras Referências Bibliográficas Titanic: Enterprise and Risk – Kevin Mc Philips, 2012, Sentia Publishing, Kindle Edition. The Ismay Line – Wilton J. Oldham, 1961, Andrews UK Limited, Kindle Edition. Seja qual for a etapa da Gestão de Risco em que vocês estejam colocando foco no momento, é altamente recomendável a realização de benchmarking. Gestão de Risco é um processo gerencial bem praticado em vários setores empresariais no Brasil, e há fartura de bons exemplos de iniciativas de ajuste da cultura de risco. Não há necessidade de buscar organizações do setor onde você atua: o processo gerencial de Gestão de Risco tem a vantagem de ser comparável ao de qualquer tipo de organização. Por exemplo, os grandes bancos brasileiros são muito competentes nessa área e têm processos já refinados de fortalecimento da cultura de risco. É sempre bom lembrar que benchmarking exige planejamento e preparação: defina previamente quais são os pontos-chave da visita à outra organização e envie com antecedência suas expectativas. Desejo-lhe sucesso e espero encontrálo em um de nossos workshops! Esclarecimentos adicionais (1) O terroir é a combinação do solo pedregoso apropriado ao cultivo de parreiras com o clima de uma região específica. Aviso que não sou enólogo, só sei distinguir vinho bom de vinho péssimo. Realmente admiro quem consegue analisar taninos e perceber castanhas verdes e framboesas maduras nas notas finais. (2) Em 2013, um dos mais conhecidos storm chasers do mundo, Tim Samaras, fundador do Twistex, morreu em Oklahoma na companhia de seu filho, o cinegrafista Paul Samaras, e de outro Rev. 1 Pág. 5