Relações Precoces e Socialização na Infância

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Instituto Educativo do Juncal
Psicologia B
RELAÇÕES PRECOCES E
SOCIALIZAÇÃO NA
INFÂNCIA
Docente:
António Miguel Trindade
Alunos:
Daniela Louro_12ºA
Inês Santos_12ºA
2010/2011
João Santos_12ºA
Relações Precoces e Socialização na Infância
2010 / 2011
ÍNDICE
INTRODUÇÃO............................................................................................................................ 3
1.
RELAÇÕES PRECOCES ........................................................................................................ 4
1.1.
1.1.1.
A teoria da vinculação de Bowbly ....................................................................... 5
1.1.2.
Cunhagem ......................................................................................................... 9
1.1.3.
Figura de vinculação......................................................................................... 10
1.1.4.
Comportamentos de vinculação precoce.......................................................... 12
1.1.5.
Competências básicas da mãe e do bebé ......................................................... 17
1.1.6.
A vinculação ao pai .......................................................................................... 22
1.2.
As experiências de Mary Ainsworth ......................................................................... 23
1.2.1.
A noção de base de segurança ......................................................................... 23
1.2.2.
Situação estranha ............................................................................................ 24
1.2.3.
Padrões de vinculação...................................................................................... 25
1.3.
2.
A vinculação .............................................................................................................. 4
Ausência de vinculação ............................................................................................ 26
1.3.1.
Separação precoce da mãe .............................................................................. 26
1.3.2.
Total ausência de vinculação ............................................................................ 27
1.3.3.
Privação precoce será reversível?..................................................................... 28
A SOCIALIZAÇÃO NA INFÂNCIA ........................................................................................ 30
2.1.
Mecanismos de socialização .................................................................................... 30
2.1.1.
A teoria de aprendizagem social....................................................................... 30
2.1.2.
Teoria Cognitivo-desenvolvimentista ............................................................... 31
2.2.
Os primeiros agentes de socialização: os pais .......................................................... 32
2.2.1.
Diferentes padrões de educação ...................................................................... 33
2.2.2.
O efeito da criança nos pais ............................................................................. 34
2.3.
Desenvolvimento moral ........................................................................................... 37
2.3.1.
Não fazer mal................................................................................................... 37
2.3.2.
Fazer bem ........................................................................................................ 39
CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 41
ANEXOS .................................................................................................................................. 42
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................... 44
WEBGRAFIA ............................................................................................................................ 44
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INTRODUÇÃO
Os recém-nascidos são seres já “programados” para de adaptarem ao meio
exterior. O bebé tem capacidades que lhe permitem a adaptação ao exterior. A maioria
das percepções desenvolve-se aquando o nascimento da criança.
A audição e o paladar desenvolvem-se logo durante a gravidez. O
desenvolvimento do olfacto já é mais difícil de comprovar.
A diferenciação da temperatura aperfeiçoa-se nas primeiras semanas de
gravidez.
Comportamentos como alterar o tom de voz e fazer caretas, constituem para o
bebé estímulos apropriados ao seu desenvolvimento social.
O comportamento do bebé e as reacções dos pais cruzam-se desde a gravidez
prolongando-se até à infância e ao longo da sua vida.
Estes momentos são cruciais no desenvolvimento de uma criança, pois serão
reflectidos ao longo de todo o seu desenvolvimento como pessoa.
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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1. RELAÇÕES PRECOCES
A relação precoce é uma relação recíproca, que se inicia após o nascimento, que
tem por base o conjunto de comportamentos (sorrir, chorar, vocalizar, agarrar, gatinhar)
que nos primeiros tempos de vida permitem estabelecer a ligação afectiva (vinculo)
entre a criança e quem dela cuida (figura de vinculação).
As relações precoces originam uma tendência, no bebé, de permanecer junto da
figura de vinculação, estabelecendo laços positivos com ela, a que se dá o nome de
vinculação (fig.1).
Fig.1 – Vinculação
(figura de
vinculação – bebé)
1.1. A vinculação
Historicamente, a atenção prestada à criança, enquanto indivíduo com
características próprias distintas do adulto, bem como ao seu desenvolvimento social,
foi mínima. Antigamente pensava-se que o recém-nascido não via, não ouvia, não
distinguia cheiros, era incapaz de qualquer aprendizagem e não necessitava de muitos
carinhos, pois pensava-se que isso poderia criar-lhe manhas.
Contudo a ideia de que existe uma necessidade primária de criar
laços afectivos está presente em diversos investigadores do século
XX.
Freud (fig.2) foi o primeiro a escrever sobre o papel da mãe mas
falou apenas numa perspectiva ligada à sexualidade.
Fig.2 – Sigmund Freud,
médico neurologista
(1856-1939)
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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Para Freud, a questão fundamental é o prazer e, segundo ele, o bebé come porque
lhe dá prazer mamar (fig.3). Freud considera que a primeira manifestação de prazer é
quando o bebé mama. A Natureza dotou o bebé para que o seu
centro de prazer fosse a boca. Mais tarde esse centro de prazer
ir-se-á deslocar pelas várias partes do corpo até aos genitais. O
prazer é o mecanismo que a Natureza tem para a sobrevivência
das espécies. Segundo Freud, quando se coloca uma mão sobre
a cara do bebé, este vira-a como se procura-se o peito materno.
Embora ao início o bebé tenha dificuldades para encontrar o
peito, ao fim de umas semanas já é capaz de mamar com
Fig.3 – Amamentação - prazer
facilidade. Quando o bebé já não necessita do leite materno,
deixará de ter prazer ao mamar.
Actualmente, a teoria de Freud já foi ridicularizada e encarada por alguns como a
“teoria do armário”, pois Freud simplifica a relação do bebé com a mãe numa questão
sexual e de “armazém de alimento”.
Os bebés, apesar de pouco capacitados ao nível comunicativo são seres sociais e já
dentro do ventre da progenitora iniciam a sua relação com os outros, como veremos
mais à frente.
1.1.1. A teoria da vinculação de Bowbly
A primeira teoria consistente sobre a vinculação precoce
surgiu em 1960 e foi proposta por John Bowlby (fig.4).
A vinculação assenta numa relação afectiva recíproca e
não se estabelece devido a necessidades fisiológicas, mas sim
por necessidades emocionais ou afectivas.
Fig.4 – John Bowbly,
psiquiatra e psicanalista
(1907-1990)
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Nesta teoria, foi proposto:
 O
ser
humano
nasce
com
um
conjunto
de
comportamentos inatos que dão ao bebé recém-nascido
oportunidade de sobrevivência (chorar, sorri, balbuciar).
 O bebé não se vincula (fig.5), porque procura comida ou Fig.5 – Vinculação (mãe - bebé)
calor (necessidades biológicas), mas porque nasce com necessidades sociais,
emocionais e afectivas e tendências inatas para estabelecer contacto com os outros
membros da espécie (mãe).
Com base nos milhões de órfãos e crianças perdidas (fig.6) dos seus cuidadores no
final da Segunda Guerra Mundial, Bowbly
elaborou um relatório – Cuidados Maternos e
Saúde Maternal – onde refere a abundância de
factos que demonstram as consequências da
carência de cuidados maternos: relações
afectivas
superficiais,
ausência
de
concentração intelectual, incapacidade de se
Fig.6 – Criança órfã após guerra
relacionar
socialmente
com
o
outro,
delinquência, ausência de relações emocionais, entre outras.
As primeiras experiências afectivas do bebé ocorrem na relação precoce,
normalmente, com a mãe, que é determinante para o desenvolvimento harmonioso da
sua identidade.
1.1.1.1. Necessidade de conforto
Sabemos hoje que muitas espécies demonstram comportamentos paternais e que
as crias se encontram instintivamente programadas para seguir, tocar, chamar e
esconder-se atrás das mães.
A sensação de estarmos seguros porque a outro estamos afectivamente ligados
tem sido amplamente investigada nas últimas décadas e descrita como a base para um
desenvolvimento saudável.
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A necessidade de vinculação, ou seja, a necessidade
de estabelecimento de contacto (fig.7) e de laços
emocionais entre o bebé e a mãe e/ou outras pessoas
próximas é um fenómeno biologicamente determinado.
A necessidade de vinculação é uma necessidade básica
do mesmo tipo que a alimentação e a sexualidade.
O contacto físico com o corpo da mãe é importante
para que a criança não tenha problemas de ansiedade. É
Fig.7 – Necessidade de Conforto
(contacto com o pêlo)
por esta razão que mamar do peito das mães ou tomar
banho com os pais nus são factores importantes e
benéficos para os bebés pois isto dá-lhes mais segurança.
1.1.1.2. Alimento ou conforto? As experiências de Harry
Harlow
Harry Harlow
(fig.
4)
desenvolveu
várias
experiencias, nas décadas de 50 e de 60 do século
passado, relativamente ao desenvolvimento social dos
primatas criados em ambiente laboratorial. Para todas
as experiencias feitas por Harry e toda a sua equipa
definiram dois objectivos a atingir. No primeiro
objectivo pretendia-se compreender de que modo os
diferentes tipos de vínculos, em determinadas etapas no
Fig.8 – Harry Harlow, psicólogo
(1905-1981)
desenvolvimento de uma cria, irão influenciar o comportamento quando se tornar
adulto.
Como segundo objectivo esta equipa propôs-se a provar a toda a comunidade
científica que, através da investigação do desenvolvimento primata, se poderá relacionar
estes resultados com a psicologia do desenvolvimento humano e a psicopatologia.
Em relação a esta questão o primeiro a pronunciar-se foi Bowbly, dizendo que o
medo é que produz a vinculação. Harry Harlow quando se deparou com esta questão
desenvolveu uma experiencia muito importante.
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Nesta experiência (fig.9), Harlow propôs-se a criação macacos recém-nascidos
numa jaula sem a presença da figura de vinculação. A jaula apenas continha duas
estruturas com a forma de macaco, uma destas era feita de arame e equipada com
suporte para a comida, a segunda era feita de tecido felpudo e sem o dispositivo de
alimentação. Como resultado observou-se que as crias durante o seu desenvolvimento
passavam mais tempo junto do modelo tecido usando o modelo de arame apenas para se
alimentar. Este resultado mostrou-se ainda mais evidente quando se coloca um
brinquedo mecânico, aproximando-se fazendo vários ruídos, como consequência as
crias mostram-se assustadas e procuravam imediatamente a “mãe” de tecido.
As crias apesar de necessitarem de se alimentar, ou seja, utilizarem o modelo de
arame nunca procuravam neste o conforto como a faziam no modelo de tecido. Como
conclusão desta experiencia, Harry definiu o conceito de “conforto de contacto” que
definia o que a modelo de tecido proporcionava às crias nesta experiencia. Assim,
mostra-se ser o conforto, como a melhor resposta a esta pergunta, as crias de macaco
gostam da sua mãe, quer seja real ou um modelo de tecido, pela sensação de conforto e
não pela porque é a sua fonte de alimentação.
Fig.9 Necessidade Conforto de contacto (primatas)
Experiências de Harry Harlow
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1.1.2. Cunhagem
A cunhagem é uma forma de aprendizagem que ocorre no
inicio da vida e favorece o estabelecimento de bases para a
vinculação. Este fenómeno foi estudo em primatas e aplica-se a
muitas espécies.
Korand Lorenz realizou várias experiências com aves que
permitiram estudar se estas estão biologicamente programadas
para seguirem objectos familiares.
Experiência: um patinho, assim que consegue andar, é
colocado em contacto com um objecto em movimento (pato de
Fig.10 – A cunhagem nos patos
madeira, botas de Lorenz (fig.10). Ao ver esse estímulo o
patinho tende a aproximar-se e segui-lo. Se o seguir durante mais de dez minutos, o pato
fica cunhado a esse objecto, estabelecendo uma relação de vinculação, pelo que, a
ausência desse objecto lhe provocará perturbação, medo e stress.
Na realidade, normalmente, o movimento da mãe é o primeiro estímulo que o
patinho recebe, estabelecendo assim uma vinculação com esta.
A cunhagem dá-se mais facilmente num período, designado período sensível, sendo
também possível que aconteça após este período. Alguns investigadores questionam-se,
se para os bebés humanos também existirá um período sensível, quando o bebé se
vincula à mãe. Se este facto fosse verdade, quando os bebés, devido a complicações
durante o parto, são retirados das mães, seria prejudicial. Contrariamente, estudos
comprovam que bebés que contactaram logo com a mãe após o parto e aqueles que
foram separados não evidenciavam um período sensível, estabelecendo um vínculo
assim que as condições o permitissem (fig.11).
Fig.11 – Vínculo após o período sensível
Incubadora
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1.1.3. Figura de vinculação
Ao nascer, a criança vem munida de sensações, movimentos e competências
relacionais. As predisposições genéticas para a sociabilidade levam, precocemente, a
criança a vincular-se à mãe.
Para o bebé acabado de nascer, a vinculação não é automática, é também
consequência de um processo de aprendizagem (depende não só de mecanismos
inatos, mas também da qualidade de interacção com as figuras de vinculação).
Ligada ao conceito de vinculação temos as figuras de vinculação e temos como
exemplo, a mãe (fig.12), o pai (fig.13), irmãos mais velhos, avós e até mesmo
educadoras. É sabido que as crianças estabelecem hierarquias de preferência entre
estas figuras. As figuras de vinculação facilitam a aprendizagem da criança por
observação e constitui, portanto, um enriquecimento e um factor de segurança. No
entanto, é necessário que haja qualidade da relação de vinculação, isto é, a relação
deve ser contínua e as figuras de vinculação deverão estar disponíveis, adaptando-se
aos ritmos e necessidades afectivas da criança (carícias, compreensão, comunicação,
companhia e atenção). A relação de vinculação é uma construção progressiva: a
aptidão inata é modelada no decorrer da interacção com o meio social.
No contexto das relações precoces, “mãe” pode ser um adulto que disponha de
tempo para atender o bebé, protegê-lo, dar-lhe amor e todos os cuidados de que
necessita para sobreviver e evoluir.
As mulheres que nunca tiveram filhos podem ser tão boas mães quanto as mães
biológicas, porque ser mãe reside mais em dar-se a uma criança, amá-la e fazê-la
sentir-se segura do que trazê-la ao mundo e cuidar dela por obrigação.
Fig.12 – Vinculação à mãe
Fig.13 – Vinculação ao pai
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Na relação precoce o bebé efectua as primeiras aprendizagens sociais, porque a
relação com a mãe presta-se ao desenvolvimento de competências de aproximação
social.
Se o agente maternidade inspira confiança, as crianças sentem-se mais seguras a
fazer explorações no meio, porque viver um clima de confiança aumenta o autodomínio e a auto-estima.
Os macaquinhos que se vinculam a uma mãe sentem-se seguros e podem libertarse dela para explorar os objectos do ambiente, porque a segurança transmitida pela
mãe contribui para a sua autoconfiança.
O isolamento prolongado durante a infância pode determinar apatia e inabilidade
sexual e parental.
Os cuidados maternos variam com as civilizações, com os povos e com as épocas,
porque ser mãe também é uma questão cultural, o que implica condutas reguladas por
normas específicas.
O modo como hoje se concebe um recém-nascido revolucionou o ambiente físico,
psicológico e social de infantários e creches.
O mundo do bebé é bastante misterioso até ele começar a compreender que a mãe
que lhe dá de mamar de manhã é a mesma que a amamenta à noite. Confrontados,
através de um jogo de espelhos, com múltiplas imagens da sua mãe, os bebés com
menos de 20 semanas de idade não manifestavam sinais de ansiedade e perturbação. A
agitação que bebés mais velhos manifestam tem muito a ver com a inconsciência
gerada pelo facto dos bebés estarem a ver muitas mães, sabendo já nessa idade que só
têm uma mãe. O desenvolvimento da criança só tem a ganhar quando os seus pais e
educadores a vêem mais como um parceiro relativamente activo e competente e menos
como um ser dependente e muito pouco competente.
Fig.14 – Pais:
normalmente as primeiras
figuras de vinculação
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1.1.4. Comportamentos de vinculação precoce
O recém-nascido é um ser imaturo (fig.15) que tem de ser cuidado por adultos,
porque os outros são essenciais à sua sobrevivência e ao desenvolvimento deste novo
ser humano, mas esta imaturidade não significa incapacidade. Desde o nascimento que
o recém-nascido tem a tendência genética para interagir com outras pessoas, ou seja, já
nasce com capacidades que lhe permitem ser activo no relacionamento humano.
O modo como os pais reagem às solicitações do bebé depende dos contextos
socioculturais, porque as normas e os padrões culturais influenciam todas as condutas,
inclusive as parentais.
Fig.15 – O ser humano é o mais
prematuro de todos os mamíferos
Como se caracteriza hoje o comportamento de vinculação?
O comportamento de vinculação refere-se a dados observáveis. Hoje em dia, a
criança é considerada como um ser dotado de natureza activa, desperta para o mundo
exterior. É portadora de necessidades que exigem ser satisfeitas e capacidades que têm
ser desenvolvidas. O bebé é apenas fisicamente indefeso.
Um recém-nascido responde emocionalmente às suas necessidades de
alimentação e de contacto humano, mas o seu mundo mental restringe-se ao presente.
Quando algo se desloca para fora da sua visão, desaparece igualmente da sua mente.
Ao nascer, o bebé não nota qualquer objecto que esteja parado. Ignora a sua presença e
é apenas atraído pelo rosto humano.
Os bebés nascem com um conjunto de reflexos primitivos que não conseguem
controlar. As crianças têm muitos mais reflexos do que os adultos.
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Os movimentos reflexos são programados numa área muito primitiva do cérebro
que determina a resposta imediata ao estímulo. A zona do corpo do bebé onde se toca
é determinante para a resposta.
Os reflexos são muito importantes pois, além de contribuírem para a adaptação do
bebé ao trabalho de parto e ao nascimento, podem desempenhar um papel importante
na programação do comportamento motor, de um modo previsível para os pais, sendo
por isso fundamentais para a sobrevivência do bebé.
Exemplos de reflexos:
Reflexo tónico do pescoço. O feto volta a cabeça com um movimento brusco,
arqueando o corpo, distendendo ou esticando os músculos e encolhendo-se para o lado
contrário. À medida que o trabalho de parto avança, a cabeça volta-se para obrigar o
corpo a arquear-se para um lado, depois para outro, para que o bebé nade na direcção
do canal vertical e o atravesse;
Reflexo da espinal medula. Se o estímulo táctil for nas costas, ao longo da
coluna, num movimento deslizante, ele curva o dorso e o corpo enrola-se todo na
direcção em que está a ser estimulado. O tronco torce-se para um lado e para o outro,
em movimentos semelhantes aos de um réptil, se a estimulação é suficiente ao longo
da espinal medula. No trabalho de parto, o toque nas paredes do canal cervical
mantém os movimentos do bebé que o obrigam a avançar.
Reflexo de afastar a cabeça, quando algo lhe tapa a face.
Reflexo do moro ou do susto (fig.16): Quando
surpreendido por um ruído, ou um movimento súbito, o
recém-nascido arqueará o corpo, levantando os braços
com os dedos abertos. As suas mãozinhas apertam tão
fortemente, que pode ser facilmente erguido da
superfície onde está deitado – um reflexo que
provavelmente é um resíduo da necessidade da cria Fig.16 – Reflexo do moro ou susto
primata para se agarrar ao corpo materno.
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Reflexo “de pé”: Os pés também responderão ao toque. Ao pressionar um dedo
contra a sola do pé, os dedos curvar-se-ão à volta dele.
Fig.17 – reflexo “de pé”
Reflexo de “subida de degrau”: Se, por outro lado, for o dorso do pé que recebe
o estímulo táctil, o bebé dobra o membro inferior pelo joelho, endireitando-se em
seguida.
Reflexo da marcha e da erecção: As pernas do recém-nascido não têm força
suficiente para suportar o peso da criança. Se o segurarem de maneira a que os seus
pés toquem numa superfície dura, ele fará fortes movimentos de marcha, como se
fosse andar.
Fig.18 – reflexo da
marcha e erecção
Reflexo dos pontos cardeais: Quando se toca ao de leve num dos cantos da boca
do bebé, este desloca a cabeça para o lado onde ocorre o toque.
Reflexos de Alimentação: está presente no nascimento e vai diminuindo a partir do
quarto mês, quando a criança começa a levar a mão à boca e se inicia um processo de
adequação da sensibilidade oral. Existem vários tipos de reflexos:
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 Reflexo de sucção (fig.10): Está presente
desde o nascimento e por volta dos 4 meses começa a
tornar-se voluntário. Os bebés sugam tudo o que se
mete na sua boca. A sucção é a continuidade do
reflexo de procura e a forma primitiva de comunicação
com a mãe. O acto de amamentar é muito importante
na interacção entre a mãe e o bebé, sendo uma relação
que se estabelece de forma muito cúmplice. Prepara a Fig.19 – Sucção
criança para se alimentar e, claro está, sobreviver. Um toque nos lábios, por exemplo, é
um sinal que é capaz de provocar no bebé movimentos de sucção. Este movimento de
sucção envolve movimentos coordenados em que intervêm a língua e os lábios. Quando
um mamilo é aproximado da face de um recém-nascido, o seu reflexo é voltar a cabeça,
abrir a boca e começar a sugar. Após a criança introduzir o bico do seio na sua cavidade
oral, o contacto deste com a porção anterior da língua, desencadeia um processo de
movimentos rítmicos de sucção. A vista do biberão é um índice que lhe anuncia e
representa, de algum modo, o leite que se aproxima.
 Reflexo de deglutição: Presente no nascimento e torna-se mais voluntário a
partir do quarto mês, quando se vai aprimorando um processo mais coordenado com a
sucção e a respiração (após sugar, o bebé engole).
 Reflexo de vómito: Está presente ao nascimento e vai-se estendendo até o
sétimo mês. Este reflexo fica presente na vida adulta. No bebé é desencadeado tocandose na porção anterior da língua. O primeiro sinal do desencadeamento deste reflexo é o
arregalar dos olhos.
 Reflexo de mordida: Presente ao nascimento e suprimido por volta do sétimo
mês com o aparecimento da mastigação. Pode ser observado fazendo-se uma pressão
na região da gengiva superior, um pouco à direita ou à esquerda da linha média. Como
resposta teremos um fechar e abrir rítmico de mandíbula.
Qualquer comportamento que permita à pessoa ficar perto ou manter a
proximidade das figuras preferenciais e privilegiadas pode ser considerado como um
comportamento de vinculação.
 Sorrir, vocalizar, agarrar, gatinhar e também chorar, correspondem aos
cinco comportamentos básicos de vinculação.
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Choro, sorriso e vocalizações dirigidas às pessoas que dele cuidam mostram que a
criança é social desde uma idade muito precoce.
CHORO: O choro (fig.20) faz parte do equipamento
natural do bebé. Atinge muitos objectivos num bebé e constitui
um modo eficaz de atrair a atenção da mãe ou da pessoa que
cuida da criança e de dizer à mãe que está a sentir fome, frio,
dores, aborrecimento
e/ou desconforto. O choro é a
manifestação de uma competência relacional.
Fig.20 – O choro (comportamento
O choro provoca automaticamente nos adultos reacções básico de vinculação)
de preocupação, de responsabilidade e de culpa: força-os a reagir, a tentar perceber e
interpretar a razão do choro da criança. O choro leva a mãe a aproximar-se da criança
e a efectuar actos que visam pôr fim ao choro. As crianças prontamente atendidas
aprendem cedo a desenvolver formas de comunicação alternativas. O choro é, por isso,
um meio eficaz de comunicar, bem como o sorriso e expressões faciais.
Os comportamentos do bebé que estão destinados a favorecer a proximidade são o
comportamento de sorriso e de vocalização: são comportamentos de sinalização que
informam a mãe do desejo de interacção do filho. As expressões do bebé são
poderosos sinais de comunicação e socialização (ex. sorriso).
SORRISO (fig.21): Aparece prematuramente. É
inicialmente um acto reflexo, automático. Entre as seis e
as doze semanas aparecem os primeiros sorrisos activos
e intencionais, produto da comunicação entre o bebé e as
figuras de vinculação. Por volta dos 6 meses o sorriso
constitui já um acto social dirigido
a figuras
preferenciais.
Fig.21 – O sorriso
(comportamento básico de vinculação)
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Mais tarde juntam-se os comportamentos de se agarrar e o gatinhar, que são
comportamentos activos da criança e lhe permitem aproximar-se ou seguir a figura de
vinculação.
 Os comportamentos (reacções observáveis) de vinculação informam a mãe do
desejo de interacção do bebé.
 Estes comportamentos parecem ser de Natureza inata: têm como função ligar a
criança à mãe e provavelmente favorecer a vinculação recíproca da mãe à criança.
1.1.5. Competências básicas da mãe e do bebé
Nos primeiros tempos de vida, o universo do bebé centra-se na figura da mãe, pelo
que a relação que se estabelece entre ambos merece ser considerada de modo
particular. Afinal que competências são necessárias à mãe para cuidar do seu
bebé? Que competências apresenta a criança aquando do nascimento?
 As competências da mãe
A mãe desenvolve várias competências para estar à altura do
relacionamento precoce desencadeado pelo recém-nascido:

Competências biológicas:
Fig.22 – A oxitocina é uma
hormona responsável pelo vínculo
estabelecido entre mãe e filho
O comportamento maternal tem por base factores biológicos, que se desenvolvem
desde a gravidez, continuando durante a amamentação. O início do funcionamento do
sistema hormonal a nível dos ovários, hipófise e glândulas mamárias são modificações
fisiológicas que permitem à mãe estabelecer mais facilmente o vinculo com a criança.
No entanto, estas alterações nem sempre levam a mãe ao desejo de amamentar, nem de
cuidar do bebé. Sabe-se que a produção da hormona oxitocina, popularmente chamada
“hormona do amor” está, não só relacionada com o desejo de ser mãe e com o vínculo
que se estabelece entre a mãe e o bebé após a nascença (promove comportamentos que
asseguram a sobrevivência e conforto do bebé), como é ainda responsável por processos
ligados à amamentação e reprodução, uma vez que estimula o trabalho de parto.
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
Competências sociais
As aprendizagens que a mãe tem de adquirir para cuidar adequadamente do bebé,
pois, uma mulher que nunca tenha observado como se cuida de um recém-nascido, se
vier a ter um filho ser-lhe-á mais difícil tratar dele. Por isso é essencial que aprenda
através de livros, de revistas e até de filmes a conhecer as características do bebé e o que
deve fazer em função dele.

Competências emocionais
Conjunto de sentimentos (amor, carinho, dedicação) que propiciam à criança uma
estadia agradável no mundo. O comportamento maternal não só implica tarefas que
visam cuidar da alimentação, da higiene, da protecção, da educação, mas também um
conjunto de sentimentos que desde cedo devem ser transmitidos ao bebé.
“O bebé projecta no interior da mãe sensações,
emoções básicas que não é ainda capaz de organizar
por si. A função da mãe consiste em transformar
essas emoções e devolvê-las ao bebé numa linguagem
que ele possa entender. A linguagem que a mãe usa
nesta comunicação é a linguagem do som e do gesto;
quando a mãe fala com o seu bebé, quando mexe nele,
quando brinca com ele. O que a mãe devolve ao bebé
são pensamentos de bebé – são os pensamentos do
bebé. Um psicanalista chamado Bion (…) dizia que a
mãe pensa pelo bebé. (…)”
Carlos Amaral Dias
Fig.23 – Comunicação
estabelecida entre mãe e filho
Um dos aspectos mais marcantes na relação mãe-bebé é a comunicação (fig.23)
que se estabelece entre ambos. Carlos Amaral Dias refere que a mãe usa uma
“linguagem do som e do gesto” para comunicar com o seu bebé. “a mãe pensa pelo
bebé”, com esta frase o psicanalista sugere o modelo continente - conteúdo para
explicar a relação mãe-bebé. O bebé vivencia medos, receios e angústias (conteúdo) e a
mãe retém os sentimentos vividos pelo seu filho (continente). Uma vez que o bebé não
se sabe expressar concretamente, a mãe, como uma descodificadora, interpreta os seus
sentimentos, respondendo-lhe de acordo com os sinais que o bebé lhe transmite.
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Segundo Bion, a mãe continente reage às necessidades do bebé, interpretando a sua
angústia e ansiedade, mas sem demonstrar estes mesmos sentimentos ao seu filho. Por
outro lado, o bebé também sente alegria e entusiasmo, ao transmitir estes sentimentos
positivos à mãe, ela interpreta-os e retribui-lhos.
A boa mãe comunica eficazmente, isto é, reage às necessidades do bebé,
transformando inquietação e m segurança, desconforto em bem-estar, fazendo-o, deste
modo, sentir-se amado e compreendido.
Exemplo: Suponhamos que um bebé está a chorar e a mãe, através do tipo de
choro, percebe que o bebé tem cólicas. Para lhe atenuar a dor, a mãe massaja-o no
abdómen e, através de uma linguagem terna tenta acalmar o bebé, falando com ele
delicadamente. Esta mãe continente consegue responder às necessidades do seu filho,
sem mostrar pânico ou ansiedade. Ou seja, consegue fazer com que o bebé se sinta
compreendido e acarinhado.
 Características do bebé recém-nascido:
Os recém-nascidos são indivíduos activos: comunicam, vêem, ouvem e reagem
de forma bastante complexa. Desde muito cedo que são capazes de discriminar e
reconhecer rostos, vozes e o odor do que dele cuida, respondendo a vários estímulos.
No entanto, o bebé começa a interagir com o meio envolvente desde a sua idade
intra-uterina. Desde o tempo de gravidez que o bebé começa a interagir com a mãe. A
mãe vai aprendendo aos poucos a conhecer as respostas da criança, ao mesmo tempo
que os fetos vão aprendendo a viver com ela e a comunicar com o meio ambiente.
Fig.24 – Apesar da imaturidade biológica do recém-nascido, este possui
competências que o permitem interagir com a figura de vinculação
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Relações Precoces e Socialização na Infância
2010 / 2011
Num estudo foram colocadas campainhas a cerca de
45cm do abdómen materno e os fetos, de 7 meses, à
primeira campainha saltavam, respondendo ao estímulo
exterior, reagindo cada vez menos com o repetir da
experiência, deixando de reagir. Quando utilizada uma
roca suave, os fetos abriram os olhos, ficaram alerta e
viraram-se parar esta. Quando utilizadas luzes intensas
próximas do abdómen da mãe, verificou-se que o feto
Após o nascimento “O primeiro espelho da
criatura humana é o rosto da mãe: o seu olhar, o
seu sorriso, a sua expressão facial”. Quando
uma mãe se aproxima do seu bebé e se inclina
para ele, a sua expressão é de contentamento
(não se mexe, ergue as sobrancelhas, o rosto
anima-se e a sua boca afunila-se). A mãe reage
assusta-se e quando, posteriormente, utilizadas luzes
suaves não se assustará, virando-se suavemente para
esta. Se o processo for repetido várias vezes o feto
acabará por adaptar-se à luz intensa, não reagindo, e
tornar-se-á mais activo, quando na presença da luz
pronunciando um “O-o-h, és mesmo um menino
esperto!” Ao ver o “O-o-h” da mãe, o bebé
observa a boca da mãe e tenta fazer o mesmo
com a sua, vocalizando um “O-o-h” suave muito
semelhante ao dela. À medida que a mãe repete
o seu “oh-oh”, o bebé começa a mexer a cara e
suave (mais “agradável”).
os ombros, num envolvimento cada vez maior.
Experiências comprovam que os fetos têm a
capacidade de reagir de forma discriminatória a diferentes
estímulos. Eles procuram responder aos estímulos
agradáveis, habituando-se aos estímulos intrusivos.
Os recém-nascidos apresentam várias competências
sensoriais básicas (anexo 1) que, pelo facto de nascerem
prematuros devido a uma imaturidade biológica, os
permitem sobreviver e construir progressivamente o
conjunto de respostas adequadas à adaptação ao mundo,
necessitando de cuidados e de interacções. Este conjunto
complexo de competências básicas vincula ao bebé as
pessoa que cuidam dele.
Fig.25 – Interacção mãe – feto
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Relações Precoces e Socialização na Infância
2010 / 2011
1.1.5.1. Os bebés programados para que gostem deles
Estudos realizados comprovam que a fisionomia
das crias de mamíferos provoca reacções inatas de
protecção nos adultos da sua espécie.
O bebé apresenta determinadas características
físicas que atraem e cativam os adultos (fig.26):
rosto redondo, testa alta, olhos redondos e grandes,
nariz pequeno, bochechas macias, tamanho da
cabeça maior em proporção ao corpo e todo o corpo Fig.26 – As características físicas do
bebé cativam os adultos
com um aspecto rechonchudo.
Os recém-nascidos são programados para se adaptarem às fantasias dos pais, para
recompensar todo o esforço da gravidez. Todos os pais durante a gravidez anseiam por
uma criança sorridente, que reaja ao que a rodeia, tal como normalmente acontece,
para ajudar no trabalho que têm pela frente.
Esta predisposição levou a que os (as) bonecos (as) também disponham destas
características, para que sejam apreciados e queridos pelas crianças. Como exemplo
temos, a maioria dos bonecos da Disney (Mickey (fig.27), Minie), BettyBoop, entre
outros.
Tal como em todos os estudos, existem excepções, como é o caso de quando as
mães matam os filhos. Estas situações são raras e podem derivar de vários factores
psicológicos ou sociais, tal como depressão, violação, ou maus tratos da mãe na sua
infância.
Fig.27 – Evolução na cara
do Mickey onde se torna
evidente o realce dos olhos
e bochechas
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Relações Precoces e Socialização na Infância
2010 / 2011
1.1.6. A vinculação ao pai
A primeira figura de vinculação de um bebé é, normalmente, a mãe, pois é ela que
está a maior parte do tempo com o bebé. No entanto a vinculação do bebé à mãe e ao
pai dá-se quase ao mesmo tempo,
A forma mais fácil de caracterizar a vinculação ao pai
(fig.28) é comparando-a com a vinculação à mãe. Através
de vários estudos realizados, observou-se que a principal
diferença está no modo de brincar, é mais natural que uma
criança brinque com o seu pai do que com a sua mãe. A
explicação pode estar no modo de brincar, pois o pai tende a
ter brincadeiras mais físicas, como levantar e balançar os
Fig.28 – Vinculação ao pai
bebés, a mãe, pelo contrário, brinca, geralmente, muito calmamente com a criança,
utilizando abraços, carícias e contando histórias.
A explicação destas diferenças reside no papel social e económico que cada um tem
na sociedade. Geralmente, o pai trabalha para a família e por isso não participa tanto no
desenvolvimento das crianças, compensando este facto com as brincadeiras activas. As
mães, pelo contrário, estão presentes durante todo o dia, tornando-se mais carinhosas e
protectoras. Outras experiências, feitas com primatas (macacos ou chimpanzés),
mostram o mesmo resultado, as brincadeiras mais rudes e activas são sempre muito
mais comuns nos machos.
Como consequência, os bebés procuram a mãe quando necessitam de conforto e
carinho e o pai para as brincadeiras mais activas, esta diferença na resposta das crianças
aos dois pais é visível desde muito cedo, quando a criança tem mais sorrisos para a mãe
e mais risos para o pai. Com estes dados pode-se concluir que a mãe é a segurança e o
conforto e o pai é a brincadeira.
B
A
Fig.29 – Diferenças entre a vinculação à mãe e ao pai:
A- procura do carinho; B – procura da brincadeira
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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1.2. As experiências de Mary Ainsworth
Uma psicóloga canadiana com o nome de Mary Ainsworth
(fig.30) dedicou a sua vida ao desenvolvimento de situações
experimentais na Psicologia. Este seu trabalho teve grande sucesso,
sendo as suas experiencias as que obtiveram mais impacto e
influencia nesta área.
O trabalho de Ainsworth pode ser dividido em dois grandes
estudos. A noção de “base de segurança” que complementa a teoria de
Bowbly, e a “situação estranha”, que foi desenvolvida em Baltimore
Fig.30 – Mary Ainsworth
(1913-199)
nos EUA.
1.2.1. A noção de base de segurança
Mary Ainsworth através das suas experiências desenvolveu um conceito muito
importante designado de “base de segurança”. Neste conceito, a mãe confere á criança
uma base de segurança, esta base permite-lhe a exploração do meio que a envolve sem
mostrar ansiedade, ou seja, confiando na disponibilidade da figura de vinculação parte
para a exploração do que a rodeia.
Este conceito é complementar com outro conceito chamado de “porto seguro”
que foi desenvolvido por Bretherton e parte também da teoria de Bowbly. De acordo
com esta teoria, cada criança terá uma base de segurança diferente que se vai reflectir no
seu comportamento com ou sem a presença da sua figura de vinculação.
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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1.2.2. Situação estranha
A “Situação Estranha” foi uma das experiencias feitas por Mary Ainsworth.
Teve como objectivo avaliar o tipo de vinculação de um bebé com a mãe, analisando a
sua reacção face á separação, o comportamento exploratório do bebé, reacção ao
estranho e a reunião com a mãe. Este procedimento implica observar a criança, a mãe
(figura de vinculação) e ainda um adulto desconhecido para a criança.
Esta experiencia (fig.31) resumia-se em introduzir uma criança com a sua mãe
numa sala desconhecida, onde a criança teria brinquedos disponíveis para poder brincar.
No próximo passo entra um estranho, começando a falar com a mãe e a aproximar-se da
criança. Passado algum tempo a mãe sai da sala por alguns minutos deixando a criança
sozinha com o estranho. Por fim a mãe volta e o estranho sai.
A
D
B
E
C
F
Fig.31 – Situação estranha (experiência): A – a mãe brinca com a criança;
B – chegada de um estranho; C – a mãe abandona a sala; D – o estranho tenta
interagir com a criança; E – a mãe regressa e o estranho sai; F – a “reunião”
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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1.2.3. Padrões de vinculação
A experiencia anterior foi repetida milhares de vezes, sendo sempre observada
muito cuidadosamente. Nesta experiencia analisam-se dois factores, o comportamento
exploratório da criança e o comportamento de vinculação. Com os diferentes
comportamentos dos bebés na “ Situação Estranha” conseguimos definir três tipos de
padrões de vinculação:
Padrão A
É caracterizado por uma vinculação evitante, a criança, durante a
experiência, mantêm-se distante e afastada da figura de vinculação,
quando a figura de vinculação a deixa manifesta pouca perturbação e
ignora-a quando volta.
Há um domínio do comportamento exploratório da criança sobre o de
vinculação.
Padrão B
As crianças são caracterizadas por uma vinculação segura, brincam
sozinhas e até com o desconhecido quando a figura de vinculação está
presente. Mostra sinais de protesto com a partida da mãe, como o choro, e
quando se dá o regresso a criança procura imediatamente a proximidade e
o conforto.
Há um equilíbrio nas crianças entre o comportamento de exploração e o
de vinculação.
Padrão C
Neste padrão existe uma vinculação insegura, as crianças na experiencia
mostram grande ansiedade, sempre muito agarrada á sua figura de
vinculação, vive o momento da separação com muita perturbação e revela
comportamentos de aproximação-hostilidade no regresso, a criança pede
colo mas rapidamente mostra vontade de se libertar.
O comportamento de vinculação domina sobre o comportamento de
exploração da criança.
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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1.3. Ausência de vinculação
John Bowlby afirma que qualquer perturbação da vinculação inicial da criança
com a primeira figura de vinculação afectará o desenvolvimento emocional da criança,
tornando-a mais insegura no futuro. Como tal, qualquer ausência de vinculação ou
separação precoce são psicologicamente perigosas para a criança, pois a continuidade de
uma relação do bebé com a figura de vinculação é muito importante para saúde mental
da criança.
1.3.1. Separação precoce da mãe
A separação precoce da mãe (fig.32) pode criar
problemas de vinculação (sensação de stress e abandono)
o que causa ansiedade, podendo
levar a danos
Fig.32 – A separação precoce (quebra da
psicológicos e a uma diminuição da esperança média de vinculação) causa danos psicológicos
vida do bebé.
Actualmente, o trabalho exige, muitas vezes, a separação da mãe antes dos 5
meses, o que terá um impacto negativo para o bebé, pois a relação de vinculação é
interrompida.
Fig.33 – O sentimento de stress, raiva e abandono são
alguns dos exemplos dos impactos da separação precoce
Os países do Ocidente defendem que, devido à importância da vinculação, a
mãe fique em casa mais tempo. Existem países que continuam a pagar à mãe para que
elas continuem em casa durante os primeiros meses de vida do bebé (como é o
exemplo da Noruega e do Canadá, que pagam 11 meses). A vinculação é importante
não só devido à mãe (que se sente realizada e segura) mas também pelo bebé que não
é tão ansioso.
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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Estudos realizados com crianças com menos de um ano que foram criadas por
outras pessoas (amas ou creches) que não as mães, durante mais de 20 horas por
semana, comprovam que estas apresentam mais probabilidade de apresentarem
padrões de vinculação insegura na Situação Estranha e de não obedecerem tão
facilmente a pedidos ou ordens de adultos.
No entanto, existem alguns autores que defendem que não é a separação do bebé da
figura de vinculação que o afecta negativamente, mas sim a qualidade da creche que
frequentam.
1.3.2. Total ausência de vinculação
Não ter mãe impede a criança de explorar novas situações e de
desenvolver a capacidade de fazer as coisas por si, sem hesitação ou
retracção. Segundo estudos de alguns países, as crianças órfãs/adoptadas
têm menor esperança média de vida que as crianças que tiveram uma
vinculação normal e pensa-se que isto se deve aos níveis mais
elevados de ansiedade nessas crianças.
Fig.34 – Macaco sem mãe
que não teve qualquer tipo
de vinculação
Experiências realizadas com macacos sem mãe
Harlow realizou experiências com crias de macacos criados sem qualquer contacto
(fig.34). As crias eram isoladas de três a doze meses em jaulas e não viam qualquer ser
vivo.
As observações que se observaram permitiram concluir que um
isolamento de três meses tinha pouco efeito nas crias, já isolamentos
durante períodos de tempo maiores conduziam a perturbações
devastadoras. Nestas situações as crias tendem a encostar-se num
canto da jaula, abraçam-se a si próprios e balançam para a frente e
para trás. Quando colocados em contacto com macacos da mesma
Fig.35 – Macaca
sem mãe como mãe.
idade, criados normalmente, estes não têm os comportamentos
normais dos macacos da sua idade, não brincam, afastam-se e
encostam-se a um canto, podendo mesmo morder-se a si próprio.
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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A privação social precoce dos animais tem consequências devastadoras para a sua
vida futura, quer a nível social, quer a nível emocional. Estes animais na sua vida adulta
manifestarão incompetência em questões sexuais e parentais, chegando mesmo a matar
os filhos.
Tal como os bebés macaco, podemos considerar que os bebés humanos criados em
condições de isolamento sofrerão alterações de desenvolvimento social e emocional.
Exemplo: bebés humanos criados em orfanatos em que
o contacto com adultos é muito reduzido (alimentação e
cuidados
comparados
de
higiene),
com
bebés
quando
criados
normalmente, nos primeiros 3-4 meses
Fig.35 – A indiferença e isolamento não se registavam grandes diferenças, no
são uma das consequências da
entanto, a partir daí, os bebés criados em
ausência de vinculação
isolamento
apresentavam
graves
alterações no seu desenvolvimento social (insaciáveis na procura de
afecto (fig.36) e atenção, ou muito apáticas (fig.35), ou isolam-se, tal
como os macacos de Harlow).
Fig.36 – A procura de
afecto e conforto
1.3.3. Privação precoce será reversível?
Os primeiros anos de vida são um período particularmente importante para o
desenvolvimento humano?
Segundo Freud “os acontecimentos dos primeiros anos [da criança] são de suprema
importância para toda a sua vida posterior”, principalmente entre os 5 e os 6 anos.
No entanto, sabe-se que a privação precoce não é assim tão drástica como Freud
defendia, pois muitos dos efeitos causados pelo isolamento precoce demonstraram-se
reversíveis.
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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Experiência (fig. 37): após seis meses de isolamento foram colocados macacos
resos em contacto com macacos “terapeutas”, isto é, macacos três meses mais novos
criados normalmente, pelo que são muito novos para demonstrarem agressividade,
mas com idade suficiente para iniciar contactos sociais. Num primeiro contacto os
macacos isolados tendem a afastar-se, mas com a persistência dos seus “terapeutas”
em abraçá-los, eles tendem a abraçá-los também e em poucas semanas já brincam com
os “terapeutas”. O que também se verifica em macacos isolados durante um ano.
Com o tratamento certo o passado dos animais pode ser anulado, o que também se
verifica em algumas situações em crianças que foram colocadas em ambientes
benéficos, depois de terem estado isoladas ou criadas em situações bastante
negligenciadas. No entanto, os resultados são muito variáveis, podendo algumas
crianças apresentar melhoras significativas, enquanto outras continuam social e
intelectualmente debilitadas.
Embora a privação precoce possa ter muitos riscos os resultados obtidos em diversas
experiências comprovam que esta pode ser reversível.
A
B
Fig.37 – Terapia para reparar os efeitos do isolamento precoce: A – Um jovem
terapeuta abraça persistentemente um macaco isolado; B – Algumas semanas
mais tarde, os sinais de recuperação já são evidentes.
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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2. A SOCIALIZAÇÃO NA INFÂNCIA
O termo desenvolvimento social refere-se ao aumento de competências e de
capacidades que habilitam o indivíduo para se relacionar afectiva e socialmente com os
outros, isto é, para interagir.
A vinculação entre o bebé e a figura de vinculação é a primeira marca de
socialização na vida do bebé. Mais tarde, as crianças têm a necessidade de aprender
novas coisas (o que devem ou não fazer, como expressar e compreender intenções), que
lhes vão sendo ensinadas através da socialização(fig.38 ), isto é, o processo pelo qual
aprende a conhecer as regras de valores e comportamentos da sociedade em que se
inserem.
A
B
Fig.38 – Socialização: A – Pais; B – Sociedade (Amigos)
2.1. Mecanismos de socialização
Segundo vários teóricos são várias as hipóteses que explicam a socialização e
aprendizagem das crianças: o papel da recompensa e o medo punição, a importância da
imitação e a compreensão crescente da criança do que se espera que ela faça e porquê.
No fundo, todos estes mecanismos são fundamentais para a integração da criança na
sociedade.
2.1.1. A teoria de aprendizagem social
A teoria de que a criança é socializada com base no reforço e na punição, não
deixa dúvidas que é bastante importante. No entanto, esta teoria não explica todo o
processo de socialização.
30
Relações Precoces e Socialização na Infância
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Neste sentido, alguns psicólogos adoptaram a teoria da aprendizagem social, em
que defendem que o ser humano aprende muitas soluções para os seus problemas
baseadas em coisas descobertas pelos que viveram antes dele, o que os torna diferentes
das outras espécies. Segundo esta teoria, a aprendizagem por observação/imitação
(fig.39) é um dos mecanismos mais importantes na socialização. Uma criança ao
observar um modelo, imitando, posteriormente, o que este fez, aprende a fazer uma
coisa que antes não sabia fazer, sem que muitas das vezes nem o aprendiz nem o
modelo recebam uma recompensa. Os bebés, por exemplo, são capazes de imitar as
expressões faciais das pessoas que vêem e, à medida que crescem, a capacidade de
imitar aumenta.
Fig.39 – Aprendizagem por imitação e observação
2.1.2. Teoria Cognitivo-desenvolvimentista
Os cognitivistas também consideram que a aprendizagem por imitação tem um
papel crucial para a socialização, no entanto salientam a importância da compreensão
dos comportamentos e pensamentos interpessoais. Segundo esta teoria, as crianças
possuem uma certa capacidade de compreender as suas próprias acções, não só sabem o
que é “bom” e “mau”, como também sabem o porquê, simultaneamente, também têm
alguma compreensão de com se relacionar com os outros e porquê. Esta compreensão
do que os rodeia aumenta com o avanço do seu desenvolvimento mental (idade).
31
Relações Precoces e Socialização na Infância
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Os cognitivistas defendem que a imitação que a criança faz de um modelo adulto
não está livre de racionalização, por o exemplo: quando um menino imita o seu pai a
vestir umas calças tem que ignorar factos como a posição em que ele se encontra e
posição em que está o pai, dando real atenção à posição do pé do pai em relação às
calças e do seu pé com as suas calças. Da mesma forma a criança também ignora o facto
de o pai estar no chão e ele em cima da cama estando alerta para o facto de que o pai
começou a vestir as calças com o fecho aberto. Assim, podemos compreender que à
medida que as crianças crescem, isto é, aumentam o seu desenvolvimento metal,
conseguem imitar os seus modelos com maior precisão.
2.2. Os primeiros agentes de socialização: os pais
O ambiente que envolve o bebé vai influenciar bastante no desenvolvimento das
suas competências sociais. A dinâmica da interacção mãe - bebé é condição básica
para a integração social e afectiva do recém-nascido.
A relação precoce é crucial para o desenvolvimento da criança em termos sociais,
cognitivos e emocionais, porque uma boa relação entre o bebé e os pais marca
positivamente a evolução de todas as capacidades das crianças, enquanto uma má
relação compromete o seu desenvolvimento.
O êxito do nosso relacionamento social depende
do clima emocional positivo com que vivemos a
relação precoce.
A procura de autonomia por parte da criança é
importante (uma das primeiras manifestações é quando a
criança arrisca a sair do pé dos pais). Quando uma família
Fig.40 – Pais: primeiros agentes de
socialização
se encontra num centro comercial, alguns bebés tendem a correr para longe dos pais
atraídos por algum objecto, porém eles nunca saem da vista dos pais. Outros, ao
estarem perante uma situação semelhante, nunca largam as pernas dos seus pais.
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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Esta última situação levará a que o bebé, no futuro não seja tão autónomo como o
primeiro. Assim, quando as crianças já crescidas vão para o Jardim de Infância,
encontrar-se-ão dois tipos de crianças que agem de maneiras diferentes no primeiro
dia de escola: aqueles que não choram e aqueles que até vomitam quando os pais os
deixam lá, o que as experiências de Mary Ainsworth também comprovaram.
2.2.1. Diferentes padrões de educação
O padrão educativo de uma criança, quando esta tem três ou quatro anos, influenciará
o modo como ela se comportará mais tarde.
Depois de realizados vários estudos, em que se observam várias famílias em
diferentes situações e, depois, de inquiridos os vários pais, para descreverem a forma
como lidam com os filhos, surgiram diferentes padrões e práticas educativas:
Os pais impõem um padrão rígido sobre a
forma de falar e agir da criança.
Estabelecem regras firmes e punições duras
Padrão
e severas face à desobediência. Pensam que
autocrático
não é necessário explicar as regras às
crianças, esperando que elas as aceitem
pelo simples poder paternal (autoridade):
“É assim porque eu digo que é assim”.
As
crianças
são
pouco
comunicativas e amigáveis,
carecem de independência, mais
irritadas,
obedientes
mas
ansiosa e inseguras. Revelam
baixa auto-estima e elevado
índice de depressão.
Padrão
autoritáriorecíproco
Os pais exercem o seu poder paternal
(estabelecem e fazem cumprir regras,
exigências, deveres), ensinando os filhos
a comportar-se, mas também os
encorajam
a
ser
independentes,
permitindo o diálogo entre pais e filhos.
Este padrão tem alguns aspectos do
autocrático e outros do permissivo.
As
crianças
são
mais
independentes e colaboradoras,
auto-confiantes, responsáveis e
com maior sucesso escolar e
social.
Padrão
permissivo
Os pais não impõem a sua autoridade,
impõem pouco controlo e castigos e
poucas restrições e exigências. Dão
liberdade total aos filhos de fazer o que
querem, não exercendo o seu poder
paternal.
As crianças são dependentes,
imaturas e com pouco autocontrolo sobre as emoções e
comportamentos, apresentando
um humor inconstante.
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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As famílias estudadas são dos EUA e, como tal, estes padrões podem não
corresponder as todas as culturas. Por exemplo as crianças chinesas são muito
obedientes, mas esta obediência é-lhes transmitida a partir do carinho, confiança e
proximidade e não pela imposição de castigos e regras.
2.2.2. O efeito da criança nos pais
Relação conjugal

Serve para reforçar laços afectivos e ideias do indivíduo.

A capacidade que o indivíduo tem para estabelecer este relacionamento, permite
que o indivíduo supere problemas que teve com os pais.

Pode ser prejudicial quando os dois não têm o mesmo desejo de ter um filho, o
que pode fazer com que um dos dois não se relacione com o filho.

É muito importante para a tomada de decisão de engravidar.

Um dos pontos centrais na vida de um casal é a decisão de ter ou não ter filhos.

Se for uma relação de compreensão a decisão de engravidar deve ser dos dois, o
que se torna fundamental para um bom começo de vida do bebé recém-nascido e
para o seu dia-a-dia. A satisfação da relação provém também da resolução
conjunta dos problemas.

O casal tem de ter os mesmos objectivos para a relação correr bem e para que o
bebé tenha uma boa infância.

O casal tem de estar preparado para que a adaptação seja saudável.

Por vezes, as necessidades próprias têm de ser esquecidas.
Fig.41 – A decisão de ter um filho
deve ser muito bem ponderada
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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Gravidez
 Gravidez e maternidade
Que questões se levantam à mulher quando pensa em
engravidar?
A primeira das questões é: até que ponto é que a mulher
está preparada para alterar a sua imagem (fig. 42)?

A adaptação à imagem corporal não é fácil.
Fig.42 – A gravidez provoca
alterações corporais na mulher que
por vezes são difíceis de enfrentar
Apesar de ter um bebé ser um momento bonito, a mulher tem dificuldade em se
adaptar às mudanças corporais. Mas, apesar de ao início não ser fácil, depois a mulher
passa a habituar-se. Esta adaptação é conveniente para que ela não culpabilize o bebé.
Identidade materna:
Culturalmente, as mães são aquelas que mais se envolvem na relação com os
filhos. Para algumas mães ter um bebé pode ser uma dádiva e jamais abdicariam desse
papel. Nesta era moderna, nem todas as mulheres vêm a gravidez como algo fantástico,
porque já se sentem realizadas a outros níveis. Tudo depende da história pessoal, das
experiências de vida e também da capacidade que a pessoa tem em integrar os vários
papéis.
 Maternidade. Relação com o filho
Para muitas mães, a relação com o filho é muito íntima e prolonga-se para toda a
vida. Muitas vezes, pode acontecer que a mãe não consiga compreender que o filho tem
personalidade própria, o que condiciona a vida do filho. Por vezes, este tipo de mães
não deixam que o filho desenvolva a sua autonomia e, acabam por “esquecer” o marido,
surgindo, por isso, conflitos entre o casal.
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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 Relação com a família
Na maioria das culturas, o bebé é considerado uma continuidade natural,
representando para todos essa ideia de continuidade. Sempre que uma criança nasce,
assiste-se a novos laços de parentesco entre as famílias. Estes laços são irreversíveis e
por vezes não são fáceis de gerir. É comum existirem conflitos entre familiares devido a
confusões entre os papéis/funções que cada um deve desempenhar após o nascimento da
criança. É aos bebés que se transmite os valores de cada um. Na prática, a continuidade
dos valores dentro de uma família pode ser conturbada devido à troca de papéis que
ocorre dentro das famílias.
Por um lado, o apoio da família é muito importante para a mãe se adaptar á nova
rotina. No entanto, há medida que a mãe se vai adaptando, a família deve afastar-se e
deixar que seja a mãe a cuidar do bebé. A família deve ter consciência do seu papel e
desempenhar apenas as funções que lhe competem.
Representação positiva de ter um filho:
Nalguns
casos,
a
gravidez
é
uma
representação da boa relação que o casal tem.
Quando a relação entre esse casal é boa, ter um filho
é sinónimo de felicidade e bonança.
Fig.43 – Um filho pode ser benéfico
ou prejudicial numa relação
Representação negativa de ter um filho:
Para outros ter um filho pode ser uma ameaça à relação do casal pois apesar de
uma criança dinamizar a relação, faz com que haja menos tempo para os seus pais.
Quando o casal pensa de maneira diferente em relação a uma futura gravidez ou sobre o
papel na educação da criança, surgem conflitos. Quando as ideias dos dois não
coincidem, a boa educação dos filhos pode estar em causa e a relação entre os pais
também. Após um nascimento, é necessário ter a consciência que a vida a dois tem de
ser reestruturada.
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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2.3. Desenvolvimento moral
As crianças podem aprender a ter em conta os desejos dos outros. Elas aprendem
a avaliar o próprio comportamento em termos dos valores dos outros, sendo reforçadas
quando os seus comportamentos estão de acordo com as normas sociais ou censuradas
quando não estão (exemplo: os pais dizerem “estás a ser mau” quando as crianças
adoptam comportamentos “maus”), sentido, por fim, prazer ao observar as normas e
culpa ao transgredi-las.
O desenvolvimento moral está associado ao desenvolvimento cognitivo. A
criança fica cada vez mais apta a compreender os aspectos morais ao longo do seu
desenvolvimento.
2.3.1. Não fazer mal
Segundo Freud, a interiorização do certo e do errado era
instituída através da auto-punição, devido ao sentimento de
culpa e ansiedade. Quando uma criança é castigada por um
acto, este fica associado a ansiedade, para evitar este
sentimento tenta não o repetir. Deste modo a criança interioriza
(fig. 44) a consequência, sendo a partir daí esta a definir a regra
a si mesmo.
Através desta teoria conclui-se que o
grau de
Fig.44 – Interiorização: Uma
interiorização está relacionado com as práticas educativas. menina repreende a sua boneca.
Imitando o modo como a mãe
Mas esta conclusão revelou-se não só falsa, como ralha consigo, dá os primeiros
exactamente invertida. Assim definiu-se o princípio da passos para interiorização das
proibições maternais
suficiência mínima, uma criança interiorizará uma certa
maneira de agir se houver exactamente a pressão suficiente para a fazer comportar-se
dessa maneira, mas não tanta que se sinta forçada. Foram feitas também muitas
experiencias, com resultados positivos no sentido desta teoria.
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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Em relação aos efeitos das práticas educativas já falados, existe uma maior
probabilidade de filhos de pais autoritários-recíprocos interiorizarem as regras, do que
filhos de pais autocráticos ou permissivos, que é explicado pelo diferente tipo de
pressão feitos pelos diferentes tipos de pais.
Quando a criança aprende as reacções ao comportamento alheio também aprende a
responder
a
aspectos
diferentes
do
seu
comportamento.
Estas respostas tendem a diferenciar-se. Uma vertente importante da reacção a si é a
auto-estima pois corresponde ao valor e competência que cada um de nós atribui a si
próprio.
Um dos factores que influenciam a auto-estima é a disciplina dos pais. A falta de
disciplina é, por vezes, interpretada como falta de interesse por parte dos pais. As
crianças com baixa estima adoptam, frequentemente, a atitude de pouco respeito que os
pais revelavam pelo seu valor. Em contra partida, os pais com confiança em si
instalavam
nos
filhos
a
ideia
de
que
podiam
ter
êxito.
A criança a quem se diz a todo o momento que é má ou que não vale nada começa a
aceitar esse retrato de si como verdadeiro e a comportar-se de acordo com esse tipo de
expectativa. A baixa auto-estima caracteriza-se por sentimentos de depressão, desanimo,
isolamento, antipatia e medo de irritar os outros.
A auto-estima é fulcral pois não se limita à avaliação própria, também determina como
o indivíduo se comportará no futuro.
Fig.45 – Principio da suficiente
mínima. A irmã mais velha
repreende a mais nova seguindo o
principio, pode levar à
interiorização
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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2.3.2. Fazer bem
Ainda são muitas as questões que se levantam face à questão de como as crianças
desenvolvem a capacidade de serem capazes de realizar acções morais positivas que
requerem algum esforço pessoal. Muitos estudos comprovam que crianças muito
pequenas ajudam a confortar e ajudar os outros, ainda não se conhece bem é o porque.
Visão hobbesiana de natureza humana: segundo esta visão esses actos
aparentemente desinteressados, são egoístas, pois os pais e professores dizem
constantemente à criança a importância de partilhar e, como tal, as crianças partilham os
seus brinquedos e ajudam os outros, parar obterem a aprovação, estima e apoio dos
amigos e dos adultos.
EMPATIA
A empatia é uma resposta emocional imediata à situação
em que se encontra o outro, mesmo que não ganhemos nada
com isso, refutando a visão hobbesiana de que o homem está
centrado em si próprio de forma inata.
As reacções empáticas começam a ser visíveis desde
bebés, por exemplo, um recém-nascido ao ouvir o choro de
outro também chora e o seu ritmo cardíaco aumenta, o que é
menos provável se ouvir sons não humanos com volume de
som compatível (mesmo o choro computorizado).
Fig.46 – Empatia: chorar
quando o outro chora
Para explicar esta reacção surgiram duas hipóteses:
1ª Hipótese: o bebé associa o choro a sensações desagradáveis (dor, desconforto), ao
ouvirem o choro de outro bebé, recordam essas sensações, desencadeando o choro
empático.
2ª Hipótese: considera que muitas das respostas empáticas são inatas devido à
existência de reacções inatas de alarme e angustia em muitos animais.
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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Ainda não se sabe qual das perspectivas está correcta, mas sabe-se que a resposta
empática surge logo no inicio da vida.
O que aflição empática leva a fazer?
A empatia é apenas o sentir pelo outro e não o ajudar. A aprendizagem de como
ajudar o outro também faz parte da socialização. Por exemplo, uma criança de dois anos
ao ver que a sua mãe fez um corte no dedo, sentirá empatia e ficará aflito e, por isso,
tentará confortá-la com tudo aquilo que ela acha consolador para si própria, dando-lhe,
por exemplo o seu urso de peluche, sendo ainda muito nova para perceber que as
necessidades da mãe são muito diferentes das suas. À medida que uma criança cresce,
torna-se cada vez mais apta para descrever o que o outro está a sentir e saber como
ajudá-lo, no entanto isso não significa que actue, pois o ajudar, não é mais do que a
forma de aliviar a sua própria aflição empática. Uma forma mais simples de aliviar esse
sentimento é a ignorância do outro.
A empatia, embora pareça que leve à generosidade, não a assegura. Em algumas
situações a empatia interfere com a acção de ajuda apropriada, como é o caso dos
soldados, que não podem sentir com as feridas do inimigo e com os médicos e
enfermeiros que não devem sentir com a dor dos seus pacientes.
Fig.47 – A generosidade/ajuda
pode ser uma das respostas à
aflição empática
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CONCLUSÃO
Depois da realização deste trabalho, podemos concluir que o ser humano é um
ser social. A partir do momento em que é concebido ele vais comunicar com o mundo
exterior, com o meio ambiente onde se encontra. Este contacto dá-se, primeiramente,
entre a mãe e o filho.
O recém-nascido desenvolve todos os seus mecanismos sensoriais (que são
inatos). Estes vão ajudá-lo a melhor percepcionar o ambiente que o envolve e, assim,
fazer com que ele se adapte o meio social em que está inserido.
Poderemos problematizar uma questão:
Se os pais (ou outros que o rodeiam) mantiverem uma relação
de maior aproximação e contacto com o recém-nascido, este tornar-se-á uma pessoa
mais sociável ou afável? Ou se, pelo contrário, o bebé e os pais não interagirem de
forma saudável, irá ele transformar-se num ser anti-social?
Não há estudos científicos que o provem (não os encontrámos). Cada caso é um
caso. No entanto, sabemos que é mais fácil para um ser, que desde os seus primórdios
interagiu com outros seres humanos, ser mais dado a socializar, que outro que, ou não
interagiu, ou interagiu de forma incorrecta (por exemplo, crianças que são espancadas).
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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ANEXOS
Anexo 1: Características sensoriais de vinculação
Sentidos
Características precoces
Visão
Miopia (não vê a grandes distâncias)
Comprimento focal fixo de cerca de 25cm, distância
a que se encontra a mãe durante a amamentação,
actos de higiene ou carinho.
Não conseguem seguir um objecto, a menos que
este se mova lentamente;
O brilho dos olhos e da boca e o contorno do rosto
humano são os estímulos visuais que mais
despertam a atenção do recém-nascido;
O relacionamento visual tão próximo da mãe com o
bebé permite um forte união;
Capacidade de visão adulta é atingida aos 6 meses.
Audição
Capacidade muito evidenciada nos recém-nascidos
(boa audição);
Preferência pelo timbre de 500-900 ciclos por
segundo, o timbre da voz humana, pelo que a
reacção dos recém-nascidos ao timbre da voz
humana reforça as tentativas dos pais para
comunicarem com ele;
Aprende a reconhecer as vozes das pessoas que
estão mais perto dele. Reconhece de imediato a voz
da mãe, por ser com ela que estabelece uma relação
mais longa.
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Relações Precoces e Socialização na Infância
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Olfacto
É fortemente apurado; Capacidade de distinguir
cheiros agradáveis (leite) de desagradáveis (vinagre
ou álcool). Por exemplo recém-nascidos com 7 dias
conseguem distinguir o odor do peito da mãe do de
outras mulheres também em fase de amamentação.
Por distinguir muito bem o cheiro da mãe do das
outras pessoas, é importante que a mãe não use
perfumes: para o bebé identificar facilmente o
cheiro da mãe, e não o confundir com outras
pessoas (por exemplo: pessoas que usem o mesmo
perfume que a mãe)
Paladar
Tem o paladar muito desenvolvido;
Capacidade de distinguir diferenças ténues de
paladar. A percepção da mãe, face às diferentes
reacções aos diferentes paladares constitui um
poderoso meio de interacção;
Por se habituar rapidamente ao leite da mãe,
reconhecendo a diferença entre o leite materno e o
de compra, às vezes é complicado uma mudança de
leite.
Tacto
São muito sensíveis ao tacto;
Reagem bem ao contacto físico;
Modo primário de comunicação entre a mãe e o
filho;
As principais sensações da superfície da pele são a
pressão, a dor e a temperatura;
O tacto é fundamental no relacionamento entre o
bebé e quem cuida dele, e funciona também para
alertar, despertar e acalmar.
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