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RELATÓRIO DE BOLSA DE IC CNPQ
Universidade Federal do Pará
Nome da Bolsista: Belanny Barbosa Lopes; CPF: 00587149280
RELATÓRIO FINAL TÉCNICO-CIENTÍFICO
Período: Julho/2014 a Julho/2015
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
Título do Projeto de Pesquisa (ao qual está vinculado o Plano de Trabalho): Programa
de investigação do potencial simbólico de macacos-prego e outros estudos
Nome do Orientador: Olavo de Faria Galvão
Instituto/Núcleo: Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento/UFPA
Laboratório: Escola Experimental de Primatas
Título do Plano de Trabalho: Desenvolvimento de teste não verbal de persistência
comportamental em situações de mudança de critério de reforçamento.
RESUMO DO RELATÓRIO ANTERIOR
O projeto “Alcance (span) de reconhecimento espacial em Sapajus spp. e
crianças” foi dado como concluído com a saída do bolsista Ryan Rígel Barbosa do
Espírito Santo. O artigo relatando esse trabalho está em elaboração. A nova bolsista
assumiu a bolsa dando seguimento a um outro plano de trabalho, dentro do escopo do
projeto “Programa de investigação do potencial simbólico de macacos-prego e outros
estudos”, que, por sua vez, deu continuidade ao trabalho de Rodolfo Campos (Campos,
et al 2013), prosseguindo a investigação dasas condições necessárias e suficientes para a
aprendizagem de relações arbitrárias entre estímulos em um formato de pareamento
condicional ao modelo, buscando obter desempenho de “verdadeiro pareamento ao
modelo” (Sidman, et al, 1982; Galvão & Barros, 2014).
INTRODUÇÃO
Utilizando-se o macaco-prego (Sapajus sp) como modelo animal de
desenvolvimento cognitivo, a proposta da Escola Experimental de Primatas é
desenvolver ensino programado individualizado para estudar o potencial desses animais
para aprender relações abstratas, que são pré-requisitos do comportamento simbólico
(Galvão, 2010). Visa-se a possibilidade de aproveitamento dos procedimentos de ensino
dos repertórios a pessoas com déficits cognitivos mais severos, que apresentam
repertório verbal pouco desenvolvido.
No presente estudo o repertório treinado foi o comportamento de escolha
envolvendo relações condicionais arbitrariamente definidas entre estímulos, com o
objetivo de identificar as variáveis de
controle do processo de aprendizagem das
relações diretamente ensinadas e investigar as condições que poderiam facilitar a
aprendizagem de novas relações.
Em estudos prévios, 15 relações arbitrárias foram estabelecidas no repertório de
um macaco-prego (Raul), via alternância de procedimentos de exclusão I e II e
procedimento de tentativa e erro (Brino et al, 2010; Campos, 2013; Campos et al.,
2013). Essa linha de base arbitrária é composta por 5 relações F-G (F1-G1, F2-G2, F3G3, F4-G4 e F5-G5) e suas simétricas G-F, mais 5 relações F-H (F1-H1, F2-H2, F3-H3,
F4-H4 e F5-H5).
A partir dessa linha de base, as 5 relações simétricas H-F foram testadas e os
resultados foram negativos (Campos, 2013). O treino envolvendo todas as relações F-G,
G-F e F-H foi realizado inicialmente no matching com atraso. Quando o teste H-F deu
negativo, passou-se a apresentar as relações no matching simultâneo, supondo-se que
ele seria um facilitador da formação de classes, como observado no estudo de Kastak &
Schusterman (1993).
Após o treino de todas as relações F-G, G-F e F-H no matching simultâneo,
novamente os resultados nos testes de desempenho emergente H-F foram negativos.
Com a mudança de procedimrnto, observou-se que o treino extenso das 15 relações no
matching com atraso, com índices de acertos acima de 90% para todas as relações, não
implicava em bom desempenho no matching simultâneo. O sujeito precisou aprender as
relações condicionais no matching simultâneo, ainda que aprendizagem tenha sido mais
rápida.
O objetivo desse estudo foi utilizar os procedimentos de matching com atraso e
de matching simultâneo alternados para re-treinar extensivamente todas as 15 relações
arbitrárias do repertório do sujeito, visando a aplicação de um novo teste de simetria.
Adicionalmente, tentativas de identidade envolvendo os mesmos estímulos do treino
serão intercaladas às tentativas arbitrárias previamente aos testes de desempenho
emergente,
buscando-se
fornecer
as
discriminações
pré-requisito
aos
testes
(Schusterman & Kastak, 1993; Frank & Wasserman, 2005; Urcuioli, 2008). O estudo
está em andamento e o treino alternado foi aplicado parcialmente, sendo os resultados
aqui apresentados.
MÉTODO
Sujeito
Raul, um macaco prego (Sapajus sp.) macho adulto foi usado como sujeito. Raul
apresentava história prévia em treino de discriminações simples e condicionais.
Ambiente Experimental e Equipamentos
A sala de coletas de dados tem paredes brancas de dimensões 2,4 x 1,9 x 2,8 m
feitas de concreto. Dentro da sala havia um balcão de madeira de medidas 2,4 m x 0,8 m
sobre o qual permaneciam duas câmaras experimentais. O equipamento utilizado foi
uma destas câmaras experimentais. Cada uma apresentava dimensões de 0,6 m x 0,6 m
x 0,6 m, sendo feita de alumínio e acrílico. Em uma das paredes da câmara havia uma
abertura para encaixe de um monitor de 17 polegadas, sensível ao toque; logo acima
havia uma bandeja para a liberação de pelotas de açúcar de sabor banana. Acoplado à
câmara experimental encontrava-se um micro computador Intel Core 2 Duo, no qual as
respostas do sujeito eram registradas. As sessões foram programadas em um software
intitulado PCR (Programa de Contingências de Reforço), desenvolvido por Márcio
Bandeira. Um dispensador automático de pelotas de 190 mg foi utilizado para
consequenciar as respostas corretas. Um relatório escrito de sessão era gerado pelo
software de coleta.
Estímulos
No experimento, 15 figuras coloridas foram utilizadas como estímulos modelo e
comparações; as figuras consistiam de imagens diversas, todas com a mesma dimensão,
de 4 x 4 cm. Elas foram agrupadas em três conjuntos de cinco estímulos cada:
Conjuntos F, G e H (ver Figura 1).
Figura 1. Estímulos usados como modelos e comparações. Conjuntos F, G e H = 15
relações arbitrárias F-G (F1-G1, F2-G2, F3-G3, F4-G4 e F5-G5), G-F (G1-F1, G2-F2,
G3-F3, G4-F4, G5-F5) e F-H (F1-H1, F2-H2, F3-H3, F4-H4 e F5-H5).
Procedimento geral
Foi usado o procedimento de pareamento ao modelo arbitrário (ArbMTS),
simultâneo e com atraso. A posição dos estímulos nas tentativas sucessivas variava de
forma randômica em 16 janelas de uma matriz 4 x 4 na tela do computador. Havia
reforçamento programado para todas as escolhas corretas em todas as condições
descritas a seguir, de treino ou teste.
A cada tentativa, um modelo era apresentado e 5 escolhas se seguiam a ele. Nas
sessões de matching simultâneo, após 5 toques ao modelo, este desaparecia e
imediatamente (0,1 s) reaparecia na mesma posição juntamente com as 5 estímulos de
comparação. Nas sessões de matching com atraso, após 5 toques ao modelo, este
desaparecia da tela e após 1 s, somente os 5 estímulos de comparação eram
disponibilizados na tela do computador. O critério de avanço entre as subfases e fases
do estudo era de 90% de acertos em uma sessão e erros distribuídos nas diferentes
relações treinadas, permitindo-se o máximo de um erro por relação.
Em todas as tentativas, era necessário que dois toques ocorressem no
comparação correto para que houvesse a liberação de uma pelota de alimento de 190 mg
e um intervalo entre tentativas (IET) de 6 s; se os toques ocorressem em qualquer
comparação incorreto, o responder era seguido apenas pelo IET. As escolhas incorretas
produziam a repetição da mesma tentativa até que o sujeito emitisse a escolha correta
(procedimento de correção). O procedimento de correção foi utilizado em todas as
condições experimentais, com exceção da condição de teste.
Fases de treino
Treino de relações arbitrárias
Treino de cinco relações por sessão. Nesta fase, foram treinadas cinco relações
por sessão, 5 F-G, ou 5 G-F ou 5 F-H. Cada sessão era composta por 45 tentativas,
sendo nove de cada relação. Cada conjunto de cinco relações foi treinado em MTS
simultâneo e em MTS com atraso, sendo que a sequência de treino em um ou outro tipo
era randômica. Quando o sujeito atingiu o critério nos dois procedimentos no treino do
mesmo grupo de cinco relações (por exemplo, F-G), seguia-se para o treino de um novo
grupo de cinco relações (por exemplo, G-F) e assim sucessivamente.
Treino de 10 relações por sessão. Nesta fase, foram treinadas dez relações na
mesma sessão. As combinações de relações F-G/G-F, ou G-F/F-H ou F-G/F-H
compunham cada sessão e foram treinadas no MTS simultâneo e no MTS com atraso.
As sessões eram compostas por 50 tentativas, sendo 5 de cada relação. Quando o sujeito
atingiu o critério no treino de cada combinação, seguiu-se o para a próxima combinação
e assim por diante.
Treino de 15 relações por sessão. Nesta fase, serão treinadas 15 relações (F-G,
G-F e F-H) na mesma sessão. Cada sessão será composta por 45 tentativas, sendo 3 de
cada relação. Essa configuração será também treinada no MTS simultâneo e no MTS
com atraso.
Treino de relações arbitrárias e relações de identidade
Nesta fase, serão treinadas as 15 relações (F-G, G-F e F-H) e mais as 15 relações
de identidade (F-F, G-G e H-H) na mesma sessão. Cada sessão será composta por 60
tentativas, sendo 3 de cada relação arbitrária e uma de cada relação de identidade. Essa
configuração será também treinada no MTS simultâneo e no MTS com atraso. O
critério nesta fase será seguido pelo procedimento de teste de simetria.
Teste de simetria das relações H-F (H1-F1, H2-F2, H3-F3, H4-F4 e H5-F5)
Após as sessões de treino, será realizada sessões de testes repetidos de simetria
para verificar a emergência das relações H-F, que não foram treinadas diretamente.
Estas sessões serão compostas por 40 tentativas, contendo dez tentativas de cada
conjunto (F-G, G-F, F-H e H-F), sendo duas de cada relação.
RESULTADOS PARCIAIS
Treino de relações arbitrárias
Treino de cinco relações por sessão. Foram realizadas 33 sessões envolvendo as
fases de treino de cinco relações por sessão. A Figura 2 apresenta os resultados em
termos de porcentagem de acertos por sessão em cada grupo de cinco relações. No
geral, para todos os grupos de 5 relações, um número maior de sessões de MTS
simultâneo foi aplicado comparando-se com o MTS com atraso, no qual o sujeito
atingia o critério mais rapidamente. O sujeito atingiu critério mais rapidamente nos dois
treinos das relações F-G, as mais extensivamente treinadas na história experimental
prévia de Raul. Para a aquisição das relações G-F e F-H, o número de sessões foi
similar, ainda que G-F sejam as simétricas de F-G e tenham também história de treino
bastante extensa para Raul, comparando-se às relações F-H. Para as relações G-F e F-H,
além de um número maior de sessões ter sido necessário, o desempenho em algumas
sessões foi inferior a 70% de acertos, fato não observado nos treinos F-G em que o
Percentagem de acertos
sujeito apresentou desempenho mínimo de 80% de acertos.
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
FG
simultâneo
F G com
atraso
GF
simultâneo
G F com
atraso
F-H com
atraso
F-H
simultâneo
Sessões
Figura 2. Porcentagem geral de acertos por sessão em cada grupo de cinco relações.
Treino de dez relações por sessão. Foram realizadas oito sessões com essa
configuração, sugerindo que a etapa prévia facilitou a exposição a essa fase. A Figura 3
apresenta os resultados. Novamente, o sujeito atingiu o critério mais rapidamente nas
sessões de matching com atraso (uma sessão apenas para critério em todas as
combinações), embora a diferença não tenha sido muito grande porque apenas duas
sessões de matching simultâneo foram algumas vezes aplicadas para que o sujeito
atingisse critério com algumas combinações de relações. Em todas as sessões desta
etapa, o desempenho manteve-se acima de 90% de acertos, sendo necessária apenas
uma repetição para que o critério de erros distribuídos fosse alcançado.
Perecentagem deacertos
100
80
60
40
20
0
F-G/G-F
simultâneo
F-G/G-F com G-F/F-H com
atraso
atraso
G-F/F-H
simultâneo
F-G/F-H
simultâneo
F-G/F-H com
atraso
Sessões
Figura 2. Porcentagem geral de acertos por sessão em cada grupo de dez relações.
CONCLUSÃO
Com os poucos dados já obtidos, a análise já desenvolvida mostrou que no
procedimento com atraso o sujeito atingiu o critério de aprendizagem mais rapidamente
do que com o procedimento simultâneo, provavelmente devido à extensa experiência
com pareamento com atraso. No treino de pareamento simultâneo, o desempenho na
relação FG, inserido no repertório via pareamento com atraso, foi preciso e estável
desde o início, enquanto o desempenho na relação simétrica GF, também inserido no
repertório via pareamento com atraso, foi inicialmente abaixo de 80% de acertos,
indicando que a simetria não funcionou como um facilitador de desempenho, o que
contraria dados da literatura que indicam que após mudanças simétricas o desempenho é
melhor do que após mudanças “cruzadas” nos pares de estímulos relacionados
condicionalmente (Velasco & Tomanari, 2011).
O treino das mesmas relações se mantém para o sujeito do presente estudo com
o objetivo de aplicar todas as etapas de treino programadas e a posterior aplicação do
teste de simetria.
REFERÊNCIAS
Brino, A. L. F., Assumpção, A. P., Campos, R. S., Galvão, O. F., & McIlvane, W. J.
(2010). Cebus cf. apella exhibits rapid acquisition of complex stimulus relations
and emergent performance by exclusion. Psychology & Neuroscience, 3, 209215.
Campos, R. S. (2013). Ensino de relações arbitrárias via exclusão II e teste de simetria
em sapajus spp. Trabalho de conclusão de curso não publicado, Universidade
Federal do Pará, Belém.
Campos, R. S., Brino, A. L. F., & Galvão, O. F. (2013). Expansão de repertório de
relações arbitrárias em Sapajus sp.Via exclusão. Temas em Psicologia, 21, 3148.
Frank, A. J., & Wasserman, E. A. (2005). Associative symmetry in the pigeon after
successive matching-tosample training. Journal of the Experimental Analysis of
Behavior, 84, 147–165.
Galvão, O. F. (2010). Escola Experimental de Primatas: Programa de investigação do
potencial simbólico de macacos-prego e outros estudos. Projeto de Pesquisa.
Galvão, O. F., & Barros, R. S. (2014). Sobre o Desenvolvimento de um Modelo Animal
do Comportamento Simbólico. In: Júlio César Coelho de Rose, Deisy das Graças
de Souza e Maria Stella Coutinho de Alcantara Gil (Eds.) Comportamento
simbólico: bases conceituais e empíricas. pp. 95-110, São Paulo: Cultura
Acadêmica.
Schusterman, R. J., & Kastak, D. (1993). A California sea lion (Zalophus californianus)
is capable of forming equivalence relations. The Psychological Record, 43, 823–
839.
Sidman, M., Rauzin, R., Lazar, R., Cunningham, S., Tailby, W., & Carrigan, P. (1982).
A search for symmetry in the conditional discrimination of rhesus monkeys,
baboons, and children. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 37, 2344.
Urcuioli P. J. (2008) Associative symmetry, “anti-symmetry”, and a theory of pigeons'
equivalence-class formation. Journal of the Experimental Analysis of Behavior,
90, 257–282.
Velasco, S. M., Tomanari, G. Y. (2011). Aprendizagem de relações simétricas ao longo
do treino de discriminações condicionais. Acta Comportamentalia, 19, 149-162.
Dificuldades: Durante a primeira fase de treino houve uma pausa de mais ou
menos uma semana na coleta de dados, pois as pelotas de banana que são utilizadas
como reforço acabaram, o treino foi reestabelecido assim que as pelotas foram
compradas. Houve também um problema com o software usado para o registro de
dados, este passou a alterar a quantidade exata de tentativas que deveriam conter em
cada sessão, esta falha ainda acontece ocasionalmente, um novo software está sendo
testado para que se possa substituir o antigo.
Parecer do Orientador: A bolsista desempenho assídua e eficientemente durante
a vigência da bolsa.
DATA: 11/08/2015
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ASSINATURA DO ORIENTADOR
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ASSINATURA DO ALUNO
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