Qualidade CMA - Protocolos Elaborado em 11/03/2014 Revisão em 2 anos. Protocolo de Controle Glicêmico no Perioperatório Objetivo: Melhorar a monitorização da glicemia perioperatória de pacientes diabéticos e em neonatos e proporcionar melhor controle e tratamento da glicemia no intraoperatório. 1 – Diabéticos O paciente diabético tem alta probabilidade de precisar se submeter a um procedimento cirúrgico. Além disso, a sua morbi-mortalidade é maior que pacientes normais inclusive em procedimentos menores, por diversas razões, especialmente pela obesidade e doença microvascular. Diabéticos apresentam mais infecção no sítio operatório assim como infecção urinária, pneumonia e outras infecções sistêmicas bacterianas e fúngicas, pois a hiperglicemia (>180mg/dl) prejudica a ação de leucócitos e linfócitos. A cicatrização também é prejudicada na hiperglicemia (principalmente quando >240mg/dl) por alteração da função do fibroblasto. Tais efeitos combinados no sítio operatório podem conduzir à deiscência, o que prolonga o tempo de recuperação e hospitalização do paciente. Além disso, mesmo quando a cirurgia cursa sem intercorrências, a permanência hospitalar do diabético é 30-50% maior que o paciente não-diabético. Há estudos que comprovam que, quando em hiperglicemia, eventos isquêmicos são mais graves e com mais sequelas. Diante de tais evidências, é fundamental o controle glicêmico adequado no ato operatório. CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS: Todo paciente diabético deverá ter uma aferição pré-operatória da glicemia capilar, o que pode ser realizado no período pré-operatório, na unidade de Protocolos e Política de Qualidade CMA Página 1 Qualidade CMA - Protocolos internação ou no início do ato operatório, nos casos de urgência/emergência. Esta aferição deve constar no registro do prontuário. A aferição da glicemia capilar deve ser realizada pela enfermagem no momento da coleta dos sinais vitais durante a admissão na unidade de internação para pacientes que internam no dia do procedimento cirúrgico e a checagem desses valores será realizada pelo anestesiologista. Em pacientes com data de internação anterior ao da cirurgia em questão, a glicemia capilar deverá ser aferida na unidade de internação antes da condução do paciente para os centros operatórios (pode ser utilizado o valor obtido na última aferição do controle glicêmico rotineiro da unidade de internação) e os valores obtidos devem ser anotados em prontuário para checagem pelo anestesiologista no início da indução anestésica. Deve ser registrado o horário da aferição da glicemia capilar. No caso de valores de glicemia >200mg/dL, a enfermagem deverá entrar em contato com o hospitalista responsável pela unidade de internação. CUIDADOS INTRA-OPERATÓRIOS: O objetivo para procedimentos cirúrgicos é manter a glicemia < 180mg/dl no intraoperatório. O alvo glicêmico no paciente diabético no intraoperatório compreende valores de até 180 mg/dL. Pacientes diabéticos com glicemia > 180mg/dL devem ter a glicemia aferida de 1/1h e o controle da glicemia capilar deverá ser instituído por meio da infusão de glicose e insulina ou bôlus venoso de insulina, conforme avaliação do médico anestesiologista e levando-se em consideração porte da cirurgia e condições clínicas do paciente. Em pacientes com bom controle glicêmico intra-operatório, recomenda-se a realização de glicemia capilar de 2/2h, com registro adequado da informação em ficha de anestesia. Protocolos e Política de Qualidade CMA Página 2 Qualidade CMA - Protocolos Se a glicemia for menor que 80mg/dl, inicia-se infusão em bolo de 25 ml de glicose a 50% até normalizar e monitoriza-se a glicemia de 1/1h. Em todas as medidas de glicemia IO, deve constar o horário, para que haja continuidade no seguimento da monitorização da glicemia na RPA. A glicemia capilar basal coletada no período pré-operatório deve nortear o intervalo de monitorização no IO, bem como as condutas terapêuticas referentes ao controle da glicemia. Tratamento da hiperglicemia: Solução para Infusão Contínua de Insulina Iniciar com 1U/h ou 0,02 U/kg/h. Usar uma dose menor em pacientes com insuficiência renal, hepática ou com baixo índice de massa corpórea. A solução de insulina é feita com 250 ml de SF 0,9% e 25 U de insulina regular (0,1U/ml) e a solução de glicose é feita com glicose a 5% a 100ml/hora. Inicia-se a infusão de insulina de acordo com a glicemia que é feita de hora em hora. Infusão de insulina (esquema abaixo) e glicose a 5% (100ml/h). Glicemia (mg/dl) Insulina (U/h) Glicemia (mg/dl) Insulina (U/h) 80-100 - 220-260 2.5 100-140 1.0 260-300 3.0 140-180 1.5 300-340 4.0 180-220 2.0 >340 5.0 Protocolos e Política de Qualidade CMA Página 3 Qualidade CMA - Protocolos Bôlus venoso de insulina Glicemia capilar Insulina regular 150 a 200 mg/dL 2U 201 a 250 md/dL 4U 251 a 300 mg/dL 6U 301 a 350 mg/dL 8U Diabético Glicemia capilar na unidade de internação <180 mg/dL Registro em prontuário das glicemias >180md/dL Monitorizar de 2/2h Monitorizar de 1/1h Iniciar infusão terapêutica de insulina Figura 1. Fluxograma para controle glicêmico do diabético no IO 2 – Neonatos Grupos de risco para Hipoglicemia no intra-operatória: RN grandes, RN de diabéticas, RN cujas mães fizeram uso de beta-simpaticomiméticos, mãe fez uso de hipoglicemiantes orais, restrição do crescimento intra-uterino, prematuridade. Protocolos e Política de Qualidade CMA Página 4 Qualidade CMA - Protocolos CUIDADOS INTRA-OPERATÓRIOS: Todo neonato em grupo de risco ou não deverá ter sua glicemia capilar aferida imediatamente após a indução anestésica (ou antes, de acordo com a sintomatologia clínica). Se a glicemia estiver normal na primeira aferição, recomenda-se monitorização a cada duas horas, desde que infusão de glicose mínima esteja sendo infundida. Em casos de hipoglicemia seguido de tratamento, recomenda-se monitorização de 1/1h. Se glicemia sanguínea (capilar) for menor que 40mg, administrar glicose endovenosa. Manter a glicemia capilar >45mg/dL. Tratamento: 200mg/Kg de glicose (2 ml/Kg de glicose a 10%) e manter infusão endovenosa contínua de glicose (2-6mg/Kg/min). A aferição da glicemia, bem como infusões de glicose devem ser registradas em prontuário. Neonato Glicemia capilar na indução >40 mg/dL Registro em prontuário das glicemias <40md/dL Monitorizar de 2/2h e manter infusão de glicose Tratar hipoglicemia Monitorizar de 1/1h Figura 2. Fluxograma para controle glicêmico do diabético no IO Protocolos e Política de Qualidade CMA Página 5 Qualidade CMA - Protocolos 3 – Cirurgias de longa duração (maior que 6 horas) Em cirurgias de longa duração e em pacientes não diabéticos, será realizada glicemia capilar de controle após de 6 horas da indução anestésica. CUIDADOS NA RPA A monitorização intraoperatória da glicemia capilar deve continuar na RPA. O horário de realização da última glicemia capilar pelo anestesiologista no IO deverá definir o próximo horário da realização da glicemia capilar na RPA, bem como o intervalo de monitorização. Nos casos em que a glicemia capilar permanecer >200 mg/dL na alta da RPA, deve haver passagem do caso pela equipe de anestesia para o médico hospitalista da unidade de internação ou UTI, objetivando uma continuidade do tratamento e visando melhor controle glicêmico no pós-operatório. Bibliografia: Anvari M. Is type 2 diabetes a surgical disease? Can J Surg. 2007;50:249-50. Marks JB. Perioperative management of diabetes. Am Fam Physician. 2003 Jan 1;67(1):93-100. Dungan MK, Braithwaite SS, Preiser JC. Stress hyperglycaemia. Lancet. 2009;373(9677):1798-807. Brealey D, Singer M. Hyperglycemia in critical illness: a review. J Diabetes Sci Technol. 2009;3(6):1250-60. Protocolos e Política de Qualidade CMA Página 6 Qualidade CMA - Protocolos Clement S, Braithwaite SS, Magee MF, Ahmann A, Smith EP, Schafer RG, Hirsch IB; American Diabetes Association Diabetes in Hospitals Writing Committee. Management of diabetes and hyperglycemia in hospitals. Diabetes Care. 2004;27(2):553-91. Erratum in Diabetes Care. 2004;27(5):1255. Diabetes Care. 2004;27(3):856. Hirsh, Irl B [corrected to Hirsch, Irl B] Thomas AN, Marchant AE, Ogden MC, Collin S. Implementation of a tight glycaemic control protocol using a web-based insulin dose calculator. Anaesthesia. 2005;60(11):1093-100. Protocolos e Política de Qualidade CMA Página 7