fósforo na nutrição e no desenvolvimento da beterraba

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FÓSFORO NA NUTRIÇÃO E NO DESENVOLVIMENTO DA BETERRABA
PHOSPHORUS IN THE NUTRITION AND DEVELOPMENT OF THE BEET CROP
1
1
1
1
AVALHAES, C. A. , PRADO, R. M. , GONDIM, A. R. O. , ALVES, A. U. , CORREIA, M. A. R.
(1)
1
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Unesp/FCAV, Jaboticabal-SP.
E-mail: [email protected]
RESUMO
Com objetivo de avaliar a nutrição e o desenvolvimento das plantas de beterraba, cultivar Early
Wonder, em função de crescentes doses de fósforo, o experimento foi conduzido em casa de
vegetação no campus da FCAV-UNESP Jaboticabal-SP. O delineamento experimental utilizado
foi o inteiramente casualizado, com quatro repetições e seis tratamentos, sendo estes
compostos pelas seguintes doses de fósforo: 0; 50; 100; 150; 200 e 400 mg dmˉ³, utilizando o
superfosfato triplo. Durante a condução do experimento, avaliou-se a altura e o número de
folhas, a cada dez dias após o transplantio. No final do ciclo (aos 60 dias após o transplantio),
foram avaliados a área foliar e o diâmetro do tubérculo, bem como a massa seca, o teor e o
acúmulo de fósforo na planta e também a concentração de P no solo. A aplicação de fósforo
promoveu incremento no crescimento, no teor foliar de P e na produção da beterraba. A dose
-3
de 400 mg dm de P que proporcionou maior produção de tubérculo, esteve associado com a
-3
concentração de P no solo, de 66,5 mg dm ; e na parte aérea e na raiz tuberosa de 5,2 e 2,6 g
-1
kg , respectivamente.
ABSTRACT
With the objective to evaluate the effect of the phosphorus in the nutrition and growth of
beet plants (Beta vulgaris) an experiment was developed in greenhouse, in the FCAV/Unesp, in
Jaboticabal-SP. The experimental delineation entirely casualized, with six treatments that had
corresponded in four repetitions, being composed by the following rates: 0; 50; 100; 150; 200 e
400 mg dmˉ³ of P, using triple superphosphate. The evaluation during the conduct of the
experiment was done through variables of growth, such as height and number of leaves, every
ten days after transplanting. At the end of the cycle (at 60 days after transplanting), were
evaluated in leaf area and diameter of the tuber, the dry matter, the content of phosphorus and
accumulation of shoot and the tuber of plants. As increased the level of phosphorus in the soil,
there was an increase in the evaluated characteristics, such as: height, fresh and dry matter,
and diameter of the tuber. The application of phosphorus promoted increase in growth, in P
-3
content leaf and production of beet. The dose of 400 mg dm , P, which provided greater
-3
production of tuber, was associated with the merger of P in the soil of 66.5 mg dm , in the
-1
shoots and roots of 5.19 and 2.63 g kg , respectively.
INTRODUÇÃO
A grande maioria dos solos brasileiros é de reação ácida e de baixa fertilidade e
elevada capacidade de retenção de fósforo o que leva à necessidade de aplicação de elevadas
doses de fosfatos, contribuindo para o aumento nos custos de produção, e redução nos
recursos naturais não renováveis que originam esses insumos (MOURA et al., 2001).
Porém, o estado nutricional da planta é primordial e deve ser priorizado para se obter
uma boa produtividade de hortaliças com qualidade (GRANGEIRO et al, 2007), além de retorno
econômico favorável.
A importância do fósforo para o crescimento das plantas está relacionada ao papel na
síntese de proteínas, por constituir nucleoproteínas necessárias à divisão celular, atuar no
processo de absorção iônica (MALAVOLTA,1980). Assim, o fósforo favorece o
desenvolvimento do sistema radicular de hortaliças aumentando a absorção de água e de
nutrientes; aumenta a qualidade e o rendimento dos produtos colhidos (FILGUEIRA, 2000).
Neste contexto, espera-se que fósforo seja um nutriente limitante para a cultura da
beterraba, conforme constatou-se ALVES et al. (2008) em trabalho em solução nutritiva com
omissão do P, entretanto, SCAIFE e TURNER (1983) classificaram a beterraba como hortaliça
com baixa resposta à aplicação de fósforo. De forma geral, nota-se contradição na literatura e
também as pesquisas sobre os efeitos do fósforo na nutrição e produção da beterraba são
escassas, o que é motivo de preocupação para o manejo adequado da adubação dessa
cultura.
Diante disso, este trabalho, objetivou-se avaliar os efeitos da aplicação de fósforo no
solo, na nutrição e no desenvolvimento da beterraba cultivada em vasos preenchidos com um
Latossolo Vermelho distrófico.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi implantado em casa de vegetação na FCAV/Unesp campus
o
o
Jaboticabal-SP, com coordenadas geográficas 21 15'22'' Sul, 48 18'58'' Oeste e altitude de 575
m, com a cultura da beterraba, cultivar Early Wonder.
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado com seis
tratamentos e quatro repetições, realizando o rodízio dos vasos, periodicamente. Os
tratamentos foram compostos pelas seguintes doses de fósforo, tendo como fonte o
superfosfato triplo (44% de P2O5): 0; 50; 100; 150; 200 e 400 mg dmˉ³.
Cada vaso com capacidade de 4 dm³ foi preenchido com 3 dm³ de um Latossolo
Vermelho distrófico peneirado, textura média (EMBRAPA, 1999). A análise química inicial do
solo foi realizada segundo RAIJ et al. (2001), apresentando os seguintes resultados: pH= 4,2;
MO = 17 g dmˉ³; P= 5 mg dmˉ³; K= 0,5 mg dmˉ³; Ca= 4 ; Mg= 2; (H+Al)= 58; SB= 6,5; CTC=
64,5 mmolc dmˉ³; V= 10%.
Em seguida realizou-se a aplicação de calcário (PRNT=125%) com objetivo de elevar
a saturação por base a 70%. A adubação básica, incorporada ao volume de solo, ainda na
ocasião do plantio, recebeu as doses de nivelamento para N (300 mg dmˉ³), K (150 mg dmˉ³),
Zn (2 mg dmˉ³), B (0,5 mg dmˉ³), baseadas na recomendação de MALAVOLTA (1981), tendo
como fontes o sulfato de amônio (20% de N e 24% de S), o cloreto de potássio (60% de K2O),
o sulfato de zinco (22% de zinco e 11% de S) e o ácido bórico (17% de B), respectivamente.
No final do ciclo (aos 60 dias após o transplantio), foi avaliada a massa fresca do
tubérculo, e em seguida a parte aérea e as raízes tuberosas foram lavadas em água destilada
para remover o substrato e, posteriormente seca em estufa de circulação forçada de ar à
o
temperatura de 65 C. Quantificou-se a massa seca tanto da parte aérea como das raízes
tuberosas. Em seguida, o material foi moído e realizado a análise química para determinação
dos teores de P, conforme método descrito por BATAGLIA et al. (1983), e calculou-se o
acúmulo de P nesses órgãos. E foi realizada a análise química do solo, determinando-se a
concentração de P, conforme método descrito por RAIJ et al. (2001).
Realizou-se a análise de variância para as variáveis estudadas e estudos de
regressão polinomial, com auxílio do software SISVAR (FERREIRA, 2000), e as figuras com as
equações realizadas por meio do software Sigma Plot 4.0.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com o aumento das doses de fertilizante fosfatado houve incremento linear de fósforo
2
no solo (y= 0,157x + 0,95 e o R =0,98). Como era esperado, é amplamente relatado na
literatura o incremento linear da concentração de P no solo, com a aplicação do fertilizante
fosfatado (PRADO et al., 2005).
A adubação fosfatada promoveu diferenças significativas nos teores de P na parte
aérea e nas raízes das plantas de beterraba (Figura 1a), fato semelhante aos encontrados por
PRADO et al. (2005) em outras plantas. Observou-se que a adubação fosfatada promoveu
aumento de até 8,5 vezes, quando ao comparado com a testemunha, nos teores de P na parte
aérea; e de 1,5 vez em relação ao teor nas raízes, quando comparado ao teor na testemunha,
em função do aumento do elemento no solo.
O aumento do teor de P na raiz tuberosa em função da aplicação de P, ocorreu
devido o fato do crescimento rápido e contínuo deste órgão (FILGUEIRA, 1982). Os teores de
P na parte aérea, conforme as doses de P foram respectivamente: 0,6; 1,4; 2,5; 2,6; 3,1 e 5,2 g
kgˉ¹ de P e, na raiz tuberosa foram: 1,6; 1,1; 1,4; 1,7; 1,4 e 2,6 g kgˉ¹ de P (Figura 1a). Esses
valores quando comparados ao teor foliar de P considerado adequado por RAIJ et al. (1997) (2
-1
-3
a 4 g kg ), indica que apenas a dose de 50 e 400 mg dm , estavam abaixo ou acima da faixa
adequado segundo o referido autor. Isso demonstra que as doses utilizadas no experimento
proporcionaram um adequado gradiente do nutriente na planta. Porém, FURLANI et al. (1978)
-1
-1
relataram teor de P na parte aérea (6,9 g kg ) e na raiz (8,7 g kg ) da beterraba, maior que o
obtido nesse trabalho. As diferenças nos teores de P na planta dos autores possivelmente
deve-se ao sistema de cultivo distinto, em solo relatado por RAIJ et al. (1997), e em solução
nutritiva indicado por FURLANI et al. (1978), sendo esse último sistema por conter maior teor
de P no meio de cultivo refletiria na planta. Alves et al. (2008) constataram em plantas de
beterraba cultivada em solução nutritiva, um alto teor de P na solução com presença do
-1
-1
nutriente (9,0 g kg ), comparado a solução com a ausência do nutriente (0,8 g kg ).
Observa-se que a aplicação de P, além de aumentar o teor de P (Figuras 1a), refletiu
no incremento do acúmulo do nutriente, com ajuste quadrático, tanto na parte aérea (0,8 até
40,2 mg por planta), como no tubérculo (0,2 até 9,4 mg por planta) (Figura 1b). Nota-se que na
época da colheita, a maior parte do P esteve contido na parte aérea (81%), comparado ao
tubérculo (19%). Entretanto, GRANGEIRO et al. (2006) observaram que o fósforo acumulou-se
preferencialmente nas raízes da beterraba. O P acumulado na planta da beterraba foram
próximos aos encontrados por HAAG & MINAMI (1987).
Da mesma forma que ocorreu com as variáveis de crescimento altura, área foliar,
diâmetro do tubérculo e massa fresca do tubérculo (Figura 2a), houve reflexos na massa seca
da planta (Figura 2b). Esse resultado discorda de SCAIFE e TURNER (1983), que classificaram
a beterraba como uma hortaliça com resposta relativa baixa ao fósforo. O efeito positivo do P
na produção de massa seca das plantas é amplamente relatado na literatura em diversas
culturas (PRADO et al.,2005). E salienta-se que as plantas da testemunha (sem fósforo), além
de não apresentarem desenvolvimento do tubérculo e plantas com parte aérea reduzida,
apresentaram sintomas de deficiência, como avermelhamento das folhas. Alves et al. (2008)
também verificaram arroxeamento intenso das folhas e das raízes e paralisação do
crescimento da raiz tuberose. Este fato ocorre devido ao nutriente afetar vários processos do
metabolismo da planta, como a síntese protéica e de ácidos nucléicos.
-3
Portanto, nota-se que a dose de 400 mg dm de P que proporcionou a maior
produção da beterraba, comercialmente a massa fresca de tubérculo (Figura 2a), esteve
-1
associado com teor foliar de P, de 5,2 g kg , e portanto, pouco acima da faixa sugerida por
-1
RAIJ et al. (1997) (2 a 4 g kg ). Essa diferença ocorreu pelo fato que nesse trabalho as plantas
foram cultivadas em condições de vaso, e de RAIJ et al. (1997) considera as plantas cultivadas
sob condições de campo.
CONCLUSÕES
A aplicação de fósforo promoveu incremento no crescimento, no teor foliar de P e na
-3
produção da beterraba. A dose de 400 mg dm de P que proporcionou maior produção de
-3
tubérculo, esteve associado com a concentração de P no solo, de 66,5 mg dm ; e na parte
-1
aérea e na raiz tuberosa de 5,2 e 2,6 g kg , respectivamente.
REFERÊNCIAS
ALVES, A.U.; PRADO, R.M.; GONDIM, A.R.O.; FONSECA, I.M.; CECÍLIO FILHO, A.B. Efeito da
omissão de macronutrientes no desenvolvimento e no estado nutricional da beterraba.
Horticultura Brasileira,v.26,n.2, 2008.
BATAGLIA, O.C.; FURLANI, A.M.C.;TEIXEIRA, J.P.F.; FURLANI, P.R.; GALLO, J.R. Métodos
de análise química de plantas. Campinas: IAC, 1983. 48 p.
EMBRAPA-EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de
Pesquisa de Solo. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Brasília: Produção de
Informações, 1999, 412 p.
FERREIRA, D.F. Análises estatísticas por meio do Sisvar para Windows versão 4.0.
a
In...45 Reunião Anual da Região Brasileira da Sociedade internacional de Biometria. UFSCar,
São Carlos, SP, Julho de 2000. p.255-258.
FILGUEIRA, F.A.R. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na produção e
comercialização de hortaliças, Viçosa, 2000, 402 p.
FURLANI, A.M.C.; FURLANI, P.R.; BATAGLIA, O.C.; HIROCE, R.; GALLO, J.R.; BERNARDI,
J.B.; FORNASIERI, J.B. Composição mineral de diversas hortaliças. Bragantia, v.37,n.5, p.3344,1978.
GRANGEIRO, L.C.; NEGREIROS, M.Z.; SOUZA, B. S.; AZEVEDO, S.L.; MEDEIROS, M.A.
Acúmulo e exportação de nutrientes em beterraba. Ciências Agrotecnologia,v. 31, n.2, p.
267-273, 2007.
HAAG, H.P.; MINAMI, K. Nutrição mineral de hortaliças: LXIII requerimento de nutrientes pela
cultura da beterraba. Anais da Escola Superior de Agricultura ‘’Luiz de Queiroz’’, v. 44, p.
401-407, 1987.
MALAVOLTA, E. ABC da adubação. São Paulo: Agronômica Ceres, 1989.
MOURA, W.M.; LIMA, P.C.; CASALI, V.W.D.; PEREIRA, P.R.G. Eficiência nutricional para
fósforo em linhagens de pimentão. Horticultura Brasileira, v.19, n.3, p.306-312, 2001.
PRADO, R.M.; VALE, D.W.; ROMUALDO, L.M. Fósforo na nutrição de mudas de
maracujazeiro. Acta Scientiarum, v.27, n.3, p.493-498, 2005.
RAIJ, B. V.; ANDRADE, J.C.; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J.A. Análise química para
avaliação da fertilidade de solos tropicais. Campinas: Instituto Agronômico, 2001. 285 p.
SCAIFE, A.; TURNER, M. Diagnosis of mineral disordens in plants. In: ROBISON, J.B.D.(Ed.).
Vegetables.v.2. London, University of Bristol, 1983.95p.
(a)
5,4
(b)
2
40,8
2
Y1 = 0,74 + 0,0147*X - 0,00000926*X R = 0,98
Y2 = 1,49 - 0,0024*X + 0,00001317*X2 R2 = 0,84
Acúmulo P (mg por planta)
Teor P (g kg-1)
4,2
Y1 = 3,13 + 0,081*X + 0,00003*X2 R2 = 0,95
Y2 = 0,89 + 0,035*X - 0,00004*X2 R2 = 0,96
30,6
3,0
20,4
1,8
10,2
0,6
0,0
0
50
100
150
200
0
400
50
100
150
200
400
Doses de P (mg dm-3)
Doses de P (mg dm-3)
FIGURA 1. Teor (a) e acúmulo (b) de fósforo na parte aérea (Y1) e na raiz tuberosa (Y2) de plantas de
beterraba em função de doses de fósforo.
(a)
Massa fresca do tubérculo, g por planta
32,8
(b)
10,0
2
2
Y1 = 2,43 + 0,035*X - 0,0000479*X R = 0,87
Y2 = 0,92 + 0,021*X - 0,0000345*X2 R2 = 0,73
24,6
Massa Seca (g)
7,5
16,4
5,0
8,2
2,5
2
2
Y = 8,63 + 0,151*X - 0,0003*X R = 0,60
0,0
0,0
0
50
100
150
200
400
-3
Doses de P (mg dm)
0
50
100
150
200
Doses de P (mg dm-3)
FIGURA 2. Massa fresca do tubérculo (a) e, massa seca da parte aérea (Y1) e da raiz tuberosa (Y2) (b)
de plantas de beterraba em função das doses de fósforo.
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