Evangelho segundo S. Lucas 8,1-3. Em seguida, Jesus ia de cidade

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Evangelho segundo S. Lucas 8,1-3.
Em seguida, Jesus ia de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, proclamando e anunciando a
Boa-Nova do Reino de Deus. Acompanhavam-no os Doze e algumas mulheres, que tinham
sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual
tinham saído sete demónios; Joana, mulher de Cuza, administrador de Herodes; Susana e
muitas outras, que os serviam com os seus bens.
João Paulo II
Mulieris Dignitatem, § 16
"Os doze estavam com ele, assim como algumas mulheres"
O fato de ser homem ou mulher não comporta nenhuma limitação, tal como não limita em
absoluto a acção salvífica e santificante do Espírito no homem o fato de ser judeu ou grego,
escravo ou livre, segundo as palavras bem conhecidas do apóstolo: «todos vós sois um só em
Cristo Jesus» (Gál 3, 28).
Esta unidade não anula a diversidade. O Espírito Santo, que opera essa unidade na ordem
sobrenatural da graça santificante, contribui em igual medida para o fadto de que se «tornem
profetas os vossos filhos» e se tornem profetas «as vossas filhas» (Jl 3,1). «Profetizar»
significa exprimir com a palavra e com a vida «as grandes obras de Deus» (cf. At 2, 11),
conservando a verdade e a originalidade de cada pessoa, seja homem ou mulher. A
«igualdade» evangélica, a «paridade» da mulher e do homem no que se refere às «grandes
obras de Deus», tal como se manifestou de modo tão límpido nas obras e nas palavras de
Jesus de Nazaré, constitui a base mais evidente da dignidade e da vocação da mulher na Igreja
e no mundo. Toda vocação tem um sentido profundamente pessoal e profético. Na vocação
assim entendida, a personalidade da mulher atinge uma nova medida: a medida das «grandes
obras de Deus», das quais a mulher se torna sujeito vivo e testemunha insubstituível.
João Paulo II
Mulieris dignitatem
"Os doze acompanhavam-no, bem como algumas mulheres"
Na história da Igreja, desde os primeiros tempos, havia, ao lado dos homens, numerosas
mulheres para quem a resposta da Igreja-Esposa ao amor redentor do Cristo-Esposo era
compreendida com toda a sua força expressiva. Em primeiro lugar, vemos aquelas que tinham
encontrado pessoalmente Cristo, que o tinham seguido e que, após a sua partida, “eram
assíduas à oração” (Act 1,14) com os apóstolos, no Cenáculo de Jerusalém, até ao dia de
Pentecostes. Nesse dia, o Espírito falou através “dos filhos e das filhas” do Povo de Deus (Act
2,17; Jl 3,1)... Essas mulheres, e outras mais tarde, tiveram um papel activo e importante na
vida da Igreja primitiva, nas comunidades seguintes, graças aos seus carismas e às suas
múltiplas maneiras de servir… O apóstolo Paulo fala das suas “fadigas” pela causa de Cristo:
mostravam os diversos domínios do serviço apostólico na Igreja, começando pela “Igreja
doméstica”. Com efeito, “a fé sem desvio” passa aí da mãe aos filhos e aos netos, tal como se
passou em casa de Timóteo (2 Tm 1,5).
O mesmo se renova no decurso dos séculos, de geração em geração, tal como mostra a
história da Igreja. Na verdade, a Igreja, ao defender a dignidade da mulher e a sua vocação,
manifestou gratidão e honrou aquelas que, fiéis ao Evangelho, participaram em todo o tempo
na missão apostólica de todo o Povo de Deus. Santas mártires, virgens, mães de família deram
testemunho da sua fé com coragem e também, pela educação dos seus filhos no espírito do
Evangelho, transmitiram a fé e a tradição da Igreja… Mesmo perante graves discriminações
sociais, as santas mulheres agiram com liberdade, fortes na sua união com Cristo…
Ainda nos nossos dias, a Igreja não cessa de se enriquecer graças ao testemunho de numerosas
mulheres que realizam a sua vocação à santidade. As santas mulheres são uma incarnação do
ideal feminino; mas são também um modelo para todos os cristãos, um modelo de “sequela
Christi” , do que é a vida no seguimento de Cristo, um exemplo da forma com o a IgrejaEsposa deve responder com amor ao amor d o Cristo-Esposo.
Papa Bento XVI
Audiência geral de 14/2/07 (trad. DC 2376, p. 264 © copyright Libreria Editrice Vaticana)
«Acompanhavam-No os Doze, e também mulheres»
Sabemo-lo, de entre os seus discípulos Jesus escolheu doze homens como Pais do novo Israel,
e escolheu-os para «estarem com Ele e para os enviar a pregar» (Mc 3, 14). Este facto é
evidente mas, além dos Doze, colunas da Igreja, pais do novo Povo de Deus, também muitas
mulheres são escolhidas no número dos discípulos. Posso apenas brevemente mencionar
aquelas que se encontram no caminho do próprio Jesus, a começar pela profetisa Ana, até à
Samaritana, à mulher sírio-fenícia, à hemorroísa e à pecadora perdoada. Não me referirei
sequer às protagonistas de algumas eficazes parábolas, por exemplo a uma dona de casa que
amassa o pão, à mulher que perde a dracma, à viúva que importuna o juiz. Mais significativas
nesta nossa reflexão são aquelas mulheres que desenvolveram um papel activo no contexto da
missão de Jesus.
Em primeiro lugar, pensamos naturalmente na Virgem Maria que, com a sua fé e a sua obra
materna, colaborou de modo único para a nossa Redenção, e de tal forma que Isabel veio a
proclamá-la «bendita [...] entre as mulheres», acrescentando: «Feliz de ti que acreditaste» (Lc
1, 45). Tornando-se discípula do Filho, Maria manifestou em Caná total confiança nele e
seguiu-O até à Cruz, onde recebeu dele uma missão materna para com todos os seus
discípulos de todos os tempos, representados por João.
Surgem depois várias mulheres que, a diversos títulos, gravitaram em torno da figura de Jesus,
com funções de responsabilidade. São exemplo eloquente disso as mulheres que seguiam
Jesus para o assistir com os seus bens e das quais Lucas nos transmite alguns nomes: Maria de
Magdala, Joana, Susana e «muitas outras». Depois, os Evangelhos informam-nos que as
mulheres, diversamente dos Doze, não abandonaram Jesus na hora da Paixão. Entre elas
destaca-se, em particular, Madalena, que presenciou a Paixão, mas que para além disso foi
também a primeira testemunha do Ressuscitado e quem O anunciou. É precisamente para
Maria de Magdala que S. Tomás de Aquino reserva a singular qualificação de «apóstola dos
apóstolos», dedicando-lhe este bonito comentário: «Como uma mulher tinha anunciado ao
primeiro homem palavras de morte, assim uma mulher foi a primeira a anunciar aos apóstolos
palavras de vida».
(Referências bíblicas : Mc 3,14-15 ; Lc 2,36-38 ; Jo 4,1-39; Mc 7,24-30 ; Mt 9,20-22 ; Lc
7,36-50 ; Mt 13,33 ; Lc 15,8-10 ; Lc 18,1-18 ; Lc 1,42 ; Lc 1,45 ; Jo 2,25 ; Jn 19,25-27 ; Lc
8,2-3 ; Mt 27,56.61; Mc 15,40 ; Jo 20,1.11-18)
Evangelho segundo S. Lucas 8,4-15. – cf.par. Mt 13,1-23; Mc 4,1-20
Como estivesse reunida uma grande multidão, e de todas as cidades viessem ter com Ele,
disse esta parábola: «Saiu o semeador para semear a sua semente. Enquanto semeava, uma
parte da semente caiu à beira do caminho, foi pisada e as aves do céu comeram-na. Outra caiu
sobre a rocha e, depois de ter germinado, secou por falta de humidade. Outra caiu no meio de
espinhos, e os espinhos, crescendo com ela, sufocaram-na. Uma outra caiu em boa terra e,
uma vez nascida, deu fruto centuplicado.» Dizendo isto, clamava: «Quem tem ouvidos para
ouvir, oiça!» Os discípulos perguntaram-lhe o significado desta parábola. Disse-lhes: «A vós
foi dado conhecer os mistérios do Reino de Deus; mas aos outros fala-se-lhes em parábolas, a
fim de que, vendo, não vejam e, ouvindo, não entendam.» «O significado da parábola é este: a
semente é a Palavra de Deus. Os que estão à beira do caminho são aqueles que ouvem, mas
em seguida vem o diabo e tira-lhes a palavra do coração, para não se salvarem, acreditando.
Os que estão sobre a rocha são os que, ao ouvirem, recebem a palavra com alegria; mas, como
não têm raiz, acreditam por algum tempo e afastam-se na hora da provação. A que caiu entre
espinhos são aqueles que ouviram, mas, indo pelo seu caminho, são sufocados pelos cuidados,
pela riqueza, pelos prazeres da vida e não chegam a dar fruto. E a que caiu em terra boa são
aqueles que, tendo ouvido a palavra, com um coração bom e virtuoso, conservam-na e dão
fruto com a sua perseverança.»
São João Crisóstomo (c. 345-407), bispo de Antioquia, depois de Constantinopla, doutor da
Igreja
Homilia no regresso do exílio, sobre a cananeia
O semeador semeia sem contar
Hoje não persuadi o meu ouvinte, mas talvez o persuada amanhã, ou talvez dentro de três ou
quatro dias. Às vezes, o pescador que em vão lançou as redes durante todo o dia apanha à
noite, quando se vai embora, o peixe que não conseguiu pescar durante o dia. O lavrador não
deixa de cultivar a terra mesmo que não obtenha grandes colheitas durante vários anos; por
fim, é frequente um só ano reparar, e com abundância, todas as perdas anteriores. […]
Deus não nos pede que tenhamos sucesso, mas que trabalhemos; ora, o nosso trabalho não
será menos recompensado por não termos sido escutados. […] Cristo sabia perfeitamente que
Judas não se converteria; e contudo, tentou convertê-lo até ao fim, censurando-lhe o seu
pecado em termos comoventes: “Amigo, a que veste?” (Mt 26, 50). Ora, se Cristo, que é o
modelo dos pastores, trabalhou até ao fim pela conversão de um homem desesperado, quanto
devemos fazer nós por aqueles por quem nos foi ordenado que esperemos sempre!
S. Gregório Magno (cerca de 540 - 604), papa, doutor da Igreja
Homilias sobre o Evangelho
Dar fruto pela perseverança
Vigiai para que a palavra que recebestes ressoe no fundo do vosso coração e aí permaneça.
Tende cuidado para que a semente não caia ao longo do caminho, receando que o Espírito
mau venha apagar a palavra da vossa memória... Tende cuidado para que o chão pedregoso
não receba a semente e não produza uma boa acção desprovida das raízes da perseverança.
Com efeitos, muitos se alegram ao ouvir a palavra e se dispõem a empreender boas obras.
Mas apenas as provações começaram a apertá-los, eles renunciam ao que tinham
empreendido. Assim, o solo pedregoso teve falta de água, de tal forma que o germe da
semente não chegou a dar o fruto da perseverança.
Mas o terra boa dá fruto pela paciência: entendamos por isso que as nossas boas obras podem
ter valor se suportarmos pacientemente os inconvenientes que o nosso próximo nos provoca.
Aliás, quanto mais avançamos para a perfeição, mais provas temos de suportar; uma vez que a
nossa alma abandonou o amor do mundo presente, cresce a hostilidade d esse mundo. É por
isso que vemos muitos que penam sob um pesado fardo (Mt 11,28), sendo boas as suas
obras… Mas, de acordo com a palavra do Senhor, “eles produzem fruto pela sua
perseverança”, suportando humildemente essas provas, de tal forma que, após terem penado,
serão convidados a entrar na paz do céu.
S. Teodoro de Studite (759-826), monge de Constantinopla
Homilia 2 para a Natividade de Maria
«Enfim caiu grão na boa terra»
É a Maria, parece-me, que se dirige o bem-aventurado profeta Joel quando grita: «Não temas,
terra, canta e alegra-te, porque o Senhor realizou em ti grandes coisas» (2, 21). É que Maria é
uma terra: essa terra sobre a qual o homem de Deus Moisés recebeu a ordem de tirar as
sandálias (Ex 3, 5), imagem da Lei da qual a graça virá ocupar o lugar. É ainda essa terra
sobre a qual, pelo Espírito Santo, se estabeleceu aquele acerca de quem cantamos que assenta
a terra sobre as bases» (Sl 103, 5). É uma terra que, sem ter sido semeada, faz eclodir o fruto
que dá a todo o ser o alimento (Sl 135, 25). Uma terra sobre a qual não brotou o espinho do
pecado: bem pelo contrário, deu à luz Aquele que o arrancou pela raiz. Uma terra, enfim, não
maldita como a primeira, com searas cheias de espinhos e de cardos (Gn 3,18), mas sobre a
qual repousa a bênção do Senhor, e que traz no seu seio um «fruto bendito» como diz a
palavra sagrada (Lc 1, 42)...
Alegra-te, Maria, casa do Senhor, terra que Deus pisou com os Seus passos... Alegra-te,
paraíso mais feliz que o jardim do Éden, no qual germinou toda a virtude e brotou a Árvore da
Vida.
S. Boaventura (1221-1274), franciscano, doutor da Igreja
Breviloquium, Prólogo, 2-5
"A semente é a palavra de Deus"
A origem da Escritura não se situa na investigação humana mas na divina revelação que
provém do «Pai das Luzes», «a quem toda a paternidade no céu e na terra vai buscar o nome»
(Ti 1,17; Ef 3,15). Dele, por seu Filho Jesus Cristo, se derrama em nós o Espírito Santo. Pelo
Espírito Santo, partilhando e distribuindo os seus dons a cada um de nós segundo a sua
vontade (He 2,4), é-nos dada a fé e «pela fé, Cristo habita nos nossos corações» (Ef 3,17).
Deste conhecimento de Jesus Cristo deriva, como de uma fonte, a solidez e a inteligência de
toda a Sagrada Escritura. É, pois, impossível entrar no conhecimento de Escritura sem possuir
em primeiro lugar a fé infusa em Jesus Cristo, que é a luz, a porta e o alicerce de toda a
Escritura...
O resultado ou o fruto da Sagrada Escritura não é qualquer coisa, é a plenitude da felicidade
eterna. Porque, na Escritura, estão «as palavras de vida eterna» (Jo 6,68); portanto, ela foi
escrita, não só para que acreditemos, mas também para que possuamos a vida eterna na qual
veremos e amaremos e onde os nossos desejos serão inteiramente satisfeitos. Então, com os
desejos satisfeitos, conheceremos verdadeiramente «o amor que ultrapassa todo o
conhecimento» e assim ficaremos «cheios da plenitude de Deus» (Ef 3,19). É nesta plenitude
que a divina Escritura se esforça por nos introduzir; é em vista deste fim, é com esta intenção
que a Sagrada Escritura deve ser estudada, ensinada e entendida.
Evangelho segundo S. Lucas 8,16-18. – cf.par. Mc 4,21-25; cf. Mt 5,1; 10,26
«Ninguém acende uma candeia para a cobrir com um vaso ou para a esconder debaixo da
cama; mas coloca-a no candelabro, para que vejam a luz aqueles que entram. Porque não há
coisa oculta que não venha a manifestar-se, nem escondida que não se saiba e venha à luz.
Vede, pois, como ouvis, porque àquele que tiver, ser-lhe-á dado; mas àquele que não tiver,
ser-lhe-á tirado mesmo o que julga possuir.»
S. João Crisóstomo (cerca de 345 - 407), bispo de Antioquia, depois de Constantinopla,
doutor da Igreja
Homilia 15 sobre S. Mateus
A lâmpada no lampadário
"Não se acende uma lâmpada para a pôr debaixo do alqueire". Mais uma vez, com estas
palavras, Jesus incita os seus discípulos a levarem uma vida sem mancha, aconselhando-os a
velar constantemente sobre si mesmos, uma vez que estão colocados diante dos olhos de todos
os homens, tal como atletas num estádio visto por todo o universo (1 Co 4,9).
Declara-lhes: "Não digais: 'Podemos agora sentar-nos tranquilos, escondidos num cantinho do
mundo', porque ides estar à vista de todos os homens, tal como uma cidade situada no cimo de
um monte (Mt 5,14), tal como em casa uma luz que se pôs sobre o lampadário...
Eu acendi a luz do vosso archote, mas cabe-vos alimentá-la, não só para vosso proveito
pessoal, mas no interesse de todos os que a virem e forem, por ela, conduzidos à verdade. As
piores malícias não poderão lançar qualquer sombra sobre a vossa luz, se viverdes na
vigilância dos que são chamados a conduzir para o bem o mundo inteiro.
Que a vossa vida responda, pois, à santidade do vosso ministério, para que a graça de Deus
seja anunciada em toda a parte".
Sermão atribuido a Sto. Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da
igreja
Cf. Discurso sobre o salmo 139,15; Sermões sobre S. João, nº 57
"Prestai artenção à forma como escutais"
«Que cada um esteja sempre pronto para escutar, mas lento para falar» (Ti 1,19). Sim, irmãos,
digo-vos francamente..., eu que muitas vezes vos falo a vosso pedido: a minha alegria é sem
mancha quando me sento entre os ouvintes; a minha alegria é sem mancha quando escuto e
não quando falo. É então que eu saboreio a palavra com toda a segurança; a minha satisfação
não é ameaçada pela vanglória. Quando estamos sentados sobre a pedra sólida da verdade,
como se recearia o percipício do orgulho? «Escutarei, diz o salmista, e encher-me-ás de
alegria e de júbilo» (Sl 50,10). Nunca fico mais alegre do que quando escuto; é o nosso papel
de ouvinte que nos mantém numa atitude de humildade.
Pelo contrário, quando tomamos a palavra... precisamos de uma certa retenção; mesmo se não
cedo ao orgulho, tenho medo de o fazer. Mas, se escuto, ninguém pode roubar a minha alegria
(Jo 16,22) porque ninguém é testemunha dela. É verdadeiramente a alegria do amigo do
esposo de quem S. João diz que «fica de pé e escuta» (Jo 3,29). Fica de pé porque escuta. O
primeiro homem, também, quando escutava Deus, ficava de pé; quando escutou a serpente,
caíu. O amigo de esposo fica, pois, «transbordante de alegria à voz do Esposo»; o que faz a
sua alegria não é a sua voz de pregador ou de profeta, mas a voz do próprio Esposo.
S. Máximo Confessor (cerca de 580 - 662), monge e teólogo
Pergunta 63 a Talássio
"Uma lâmpada para os meus passos é a tua palavra, uma luz no meu caminho" (Sl
118,105)
A lâmpada no lampadário é nosso Senhor Jesus Cristo, a verdadeira luz do Pai "que ilumina
todo o homem que vem a este mundo" (Jo 1,9). Dito de outra forma, é a Sabedoria e a Palavra
do Pai; tendo aceitado a nossa carne, tornou-se realmente e foi chamado a "luz" do mundo. É
celebrado e exaltado na Igreja pela nossa fé e pela nossa piedade. Torna-se assim visível a
todas as nações e brilha para "todos os da casa", isto é, para o mundo inteiro, tal como é dito
nas suas palavras: "Não se acende uma candeia para a pôr debaixo de um vaso mas no
candelabro onde brilhe para todos os da casa" (Mt 5,15).
Como se vê, Cristo designa-se a si mesmo como lâmpada. Sendo Deus por natureza, tornou-se
carne no plano da salvação, uma luz escondida na carne, tal como debaixo de um vaso... Era
nisto que David pensava quando dizia: "Uma lâmpada para os meus passos é a tua palavra,
uma luz no meu caminho" (Sl 118,105). Porque faz desaparecer as trevas da ignorância e do
mal entre os homens, o meu Salvador e Deus é chamado lâmpada na Sagrada Escritura.
Porque é o único a poder aniquilar as trevas da ignorância e a dissipar a escuridão do pecado,
tornou-se para todos caminho de salvação. Conduz junto do Pai aqueles que, pelo
conhecimento e pela virtude, avançam com ele pelo caminho dos mandamentos, considerado
caminho da justiça.
O lampadário é a Santa Igreja porque o Verbo de Deus brilha por causa da sua pregação. É
deste modo que os raios da sua verdade podem iluminar o mundo inteiro... Mas com uma
condição: não a esconder sob a letra da lei. Todo aquele que fica preso apenas à letra da
Escritura vive segundo a carne: põe a lâmpada debaixo do vaso. Pelo contrário, colocada no
lampadário, a Igreja ilumina todos os homens.
Bem aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da
Caridade
No Greater Love (trad. Não há amor maior)
«Prestai atenção ao modo como escutais»
Escuta em silêncio. Porque o teu coração transborda com um milhão de coisas, tu não podes
escutar nele a voz de Deus. Mas assim que te pões à escuta da voz de Deus no teu coração
pacificado, ele enche-se de Deus. Isso requer muitos sacrifícios. Se pensamos que queremos
rezar, temos de nos preparar para isso. Sem desfalecimento. Não são senão as primeiras etapas
em direcção à oração, mas se não as concluímos com determinação, nunca alcançaremos a
última etapa, a presença de Deus.
É por isso que a aprendizagem deve ser feita desde o início: colocar-se à escuta da voz de
Deus no seu coração; e, no silêncio do coração, Deus põe-se a falar. Depois, da plenitude do
coração sobe o que a boca deve dizer. Aí opera-se a fusão. No silêncio do coração, Deus fala e
tu só tens que escutar. Depois, uma vez que o teu coração entra em plenitude, porque ele se
encontra repleto de Deus, repleto de amor, repleto de compaixão, repleto de fé, compete à tua
boca pronunciar-se.
Lembra-te, antes de falares, que é necessário escutar e só então, das profundezas de um
coração aberto, podes falar e Deus entende-te.
Evangelho segundo S. Lucas 8,19-21. – cf.par. Mt 12,46-50; Mc 3,31-35
Sua mãe e seus irmãos vieram ter com Ele, mas não podiam aproximar-se por causa da
multidão. Anunciaram-lhe: «Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-te.» Mas Ele
respondeu-lhes: «Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a
põem em prática.»
Santo Ireneu de Lyon (c. 130-c. 208), bispo, teólogo e mártir
Contra as heresias, III, 22
Somos Seus irmãos porque Sua Mãe ouviu a palavra e a pôs em prática
A Virgem Maria foi obediente quando disse: “Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim
segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). Pelo contrário, Eva foi desobediente, tendo desobedecido
quando era ainda virgem. E assim como Eva, desobedecendo, se tornou causa de morte para si
mesma e para todo o género humano, assim também Maria, tendo por esposo aquele que lhe
tinha sido antecipadamente destinado mas mantendo-se virgem, se tornou, pela sua
obediência, causa de salvação para si mesma e para todo o género humano. […] Porque o que
foi ligado só pode ser desligado quando se desfaz o nó, de tal maneira que um primeiro nó é
desatado por um segundo, tendo o segundo a função de desatar o primeiro.
Era por isso que o Senhor dizia que os primeiros seriam os últimos, e os últimos os primeiros
(Mt 19, 30). E também o profeta afirma a mesma coisa, ao dizer: “Em lugar dos teus pais,
virão os teus filhos” (Sl 44, 17). Porque, ao tornar-Se “o Primogénito dos mortos”, ao receber
no seu seio os pais antigos, o Senhor fê-los renascer para a vida em Deus, tornando-Se Ele
mesmo “o princípio” (Col 1, 18), já que Adão fora o princípio dos mortos. É também por isso
que Lucas começa a sua genealogia pelo Senhor, fazendo-a depois remontar até Adão (Lc 3,
23ss.), indicando assim que não foram os pais que deram a vida ao Senhor, mas foi Ele, pelo
contrário, que os fez renascer no Evangelho da vida. Da mesma maneira, o nó da
desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria, porque aquilo que a virgem Eva
tinha atado pela sua incredulidade foi desatado pela Virgem Maria pela sua fé.
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de Africa) e doutor da Igreja
Sobre a santa virgindade
Maria, Mãe de Cristo, mãe da Igreja
Aquele que é o fruto de uma única Virgem Santa é a glória e a honra de todas as outras santas
virgens; porque elas próprias são, como Maria, as mães de Cristo, se fizerem a vontade de seu
Pai. A glória e a felicidade da Maria por ser a mãe de Jesus Cristo desabrocham sobretudo nas
palavras do Senhor: "Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu
irmão, minha irmã e minha mãe" (Mt 12,50).
Ele indica assim o parentesco espiritual que o liga ao povo que resgatou. Os seus irmãos e as
suas irmã são os homens santos e as mulheres santas que tomam parte com ele na herança
celeste. A sua mãe é toda a Igreja porque é ela quem, pela graça de Deus, gera os membros de
Jesus Cristo, isto é, aqueles que lhe são fiéis. A sua mãe é também toda a alma santa que faz a
vontade do Pai e cuja caridade fecunda se manifesta naqueles que gera para ele, até que ele
mesmo neles seja formado (Ga 4,19)
Maria é certamente a mãe dos membros do Corpo de Cristo, isto é, de nós
próprios, porque, pela sua caridade, ela cooperou para gerar na Igreja os
fiéis que são os membros desse divino chefe de quem é verdadeiramente mãe
segundo a carne.
Isaac de l'Étoile (? - cerca de 1171), monge cisterciense
Sermão 51
«Percorrendo com o olhar os que estavam sentados à sua volta, Jesus disse: "Eis a
minha mãe e os meus irmãos"»
A Virgem Maria ocupa, de pleno direito, o primeiro lugar na assembleia dos justos, ela que
gerou verdadeiramente o primeiro de entre os justos. Cristo é, com efeito, "o primogénito de
um grande número de irmãos" (Ro 8,29)... A justo título, aquilo que, nas Escrituras inspiradas
por Deus, se diz em geral dessa virgem que é a Igreja aplica-se em particular à Virgem Maria;
e o que se diz em particular da virgem mãe que é Maria compreende-se em geral no que toca à
Igreja, virgem mãe. Quando um texto fala de uma ou de outra, isso pode ser aplicado quase
sem distinção a uma e à outra.
Cada alma crente é também, à sua maneira, esposa do Verbo de Deus, mãe, filha e irmã de
Cristo, simultaneamente virgem e fecunda. A própria Sabedoria de Deus, o Verbo do Pai,
designa ao mesmo tempo a Igreja em sentido universal, Maria num sentido muito especial e
cada alma crente em particular... A Escritura diz: "Permanecerei na herança do Senhor" (Sir
24,12). A herança do Senhor, em sentido universal, é a Igreja; de forma mais especial, é
Maria; em sentido particular, é a alma de cada crente. Na sua morada no seio de Maria, Cristo
ficou nove meses; na morada da fé da Igreja, permanecerá até ao fim do mundo; no
conhecimento e no amor da alma do crente, habitará pelos séculos dos séculos.
Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, doutora da Igreja
Últimos Diálogos, 21/08/1897
Ela vivia de fé como nós
Como eu gostava de ser padre para pregar acerca da Virgem Santa! Uma só vez bastava-me
para dizer tudo o que penso a esse respeito.
Teria, primeiro, feito entender a que ponto se conhece mal a sua vida Não precisaria de dizer
coisas inacreditáveis ou que não se sabem; por exemplo, que muito pequenita, aos três anos, a
Virgem Santa foi ao Templo oferecer-se a Deus com sentimentos ardentes de amor e
absolutamente extraordinários; quando ela lá foi talvez simplesmente para obedecer a seus
pais... Para que um sermão sobre a Virgem me agrade e me faça bem, preciso de ver a sua
vida real, não a sua vida suposta; e estou certa de que a sua vida real devia ser muito simples.
Mostram-na inabordável, era preciso mostrá-la imitável, fazer ressaltar as suas virtudes, dizer
que ela vivia de fé, como nós; dar provas pelo Evangelho onde lemos: «eles não
compreenderam o que lhes dizia» (Lc 2,50). E esta outra, não menos misteriosa: «Os seus pais
ficavam admirados com o que diziam dele» (Lc 2,33). Essa admiração supõe uma certa
estranheza, não acham?
Sabe-se bem que a Virgem é a rainha do Céu e da terra, mas é mais mãe que rainha, e não é
preciso dizer, por causa das suas prerrogativas, que ela eclipsa a glória de todos os santos,
como o sol ao nascer faz desaparecer as estrelas. Meu Deus! Eu penso exactamente o
contrário, creio que ela aumentará muito o esplendor dos eleitos. Está certo falar das suas
prerrogativas, mas não é preciso dizer que isso... Quem sabe se alguma alma não iria mesmo
sentir um certo afastamento em relação a uma criatura tão superior e não diria para consigo:
«Se assim é, mais vale brilhar tanto quanto se possa num cantinho».
O que a Virgem tinha a mais do que nós é que ela não podia pecar, que estava isenta de
pecado original, mas, por outro lado, teve muito menos sorte do que nós porque não tinha
Virgem Santa para amar, e é uma grande doçura a mais para nós.
Evangelho segundo S. Lucas 8,22-25: A tempestade acalmada. – cf.par. Mt 8,23-27; Mc
4,35-41
Evangelho segundo S. Lucas 8,29-39: O possesso geraseno. – cf.par. Mt 8,28-34; Mc 5,120
Evangelho segundo S. Lucas 8,40-56: A filha de Jairo e a hemorroíssa. – cf.par. Mt 9,1826; Mc 5,2-43
ff
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