Enfermidades associadas ao BPV Marlise Pompeo Clausl O papilomavírus pertence à família Papillomaviridae, gênero Papillomavirus. São relatadas infecções em diversas espécies animais de mamíferos e aves. Atualmente, o papilomavírus bovino (BPV) está classificado em 6 tipos, compreendidos em 2 subgrupos: Subgrupo A (fibropapilomas): BPV-1, fibropapilomas na região dos tetos e no pênis; BPV-2, trato digestório e bexiga e BPV-5, no úbere, sob a forma de grão de arroz. Subgrupo B (papilomas epiteliotrópicos): BPV-3, epitélio cutâneo; BPV-4, epitélio alimentar e BPV-6 no epitélio do teto. PAPILOMATOSE CUTÂNEA EM BOVINOS Pode ser ocasionada pelos tipos 1, 2, 3, 5 e 6. A carga viral nessas lesões pode atingir 600 cópias virais por célula, tornando as verrugas um material biológico de potencial transmissão da enfermidade. As características morfológicas dessas lesões podem ser bastante variadas, assumindo formatos planos, pedunculares, aspecto de ¨couve-flor¨, entre outros. Fotos de um animal com 2 anos de idade apresentando papilomas cutâneos difusos pelo corpo e com diversos formatos. Animal com papilomatose cutânea com formato plano exemplos de papilomatoses em úbere e têtos. Além da perda econômica referente aos danos ocasionados ao couro do animal, a papilomatose cutânea pode prejudicar a ordenha dos animais acometidos com lesões localizadas nos tetos. Isso é de fundamental importância em explorações, como a leiteira, onde a margem de lucro é muito estreita. Existem diversos tratamentos preconizados, todos com resultados pouco satisfatórios, incluindo o uso de pomadas, sprays, auto hemoterapia e imuno estimulantes não específicos como o antiparasitário Levamisole. A remoção cirúrgica só é possível nos casos onde as lesões não ocupam uma grande extensão. A auto vacina produzida com fragmentos das próprias lesões do animal possui eficácia que varia de 60% a 80%. Por ser uma vacina inativada somente a imunidade humoral é estimulada e no caso de vírus a imunidade principal é a celular. Para a sua produção é importante que sejam coletadas diversas lesões de vários animais acometidos na propriedade. Esse aspecto não deve ser nunca desconsiderado, pois os tipos de BPV envolvidos nessa etiologia não estabelecem imunidade cruzada. O controle da papilomatose cutânea inclui o manejo adequado dos animais acometidos, a eliminação e/ou tratamento precoce e o cuidado de não introduzir ou adquirir animais portadores. HEMATÚRIA ENZOÓTICA BOVINA A etiologia da hematúria enzoótica bovina (HE) estava primariamente relacionada ao consumo prolongado da samambaia (Pteridium aquilinum). Os compostos carcinogênicos, clastogênicos e mutagênicos presentes na planta podem levar ao desenvolvimento de lesões neoplásicas na mucosa vesical. A HE, assim como a samambaia, é de ocorrência mundial. A planta ocorre em regiões tropicais e temperadas. Pode se desenvolver em solos pobres, ácidos, com baixa concentração de cálcio e fósforo e em regiões montanhosas. É uma planta considerada daninha e de baixa tolerância à competição com outras espécies vegetais. A associação geográfica entre a presença de samambaia nas pastagens e a ocorrência de HE é conhecida desde meados da década de 40. Estudos mais recentes têm comprovado o envolvimento concomitante do BPV-2 nessa enfermidade. A HE é caracterizada pela eliminação de sangue vivo na urina, emagrecimento progressivo, caquexia, seguida da morte do animal devido a presença de lesões hemorrágicas, hiperplásicas e neoplásicas na mucosa da bexiga. Os compostos presentes na samambaia em associação com o BPV-2 são capazes de induzir a transformação celular levando a malignidade. A intoxicação aguda pela ingesta de samambaia difere dos casos de HE por se tratar de um quadro de surgimento súbito, geralmente ocorrido no inverno pela indisponibilidade de forrageiras e que pode acometer animais de idades variadas. Os casos de HE são de caráter crônico e geralmente ocorrem em animais acima de 2 anos. Outro diagnóstico diferencial a ser considerado e o da síndrome hemorrágica causada pelo vírus da diarréia viral bovina tipo 2 com a diátese hemorrágica observada na intoxicação aguda por samambaia. Para os casos de HE não existem tratamentos eficazes além da retirada do animal das pastagens infestadas por samambaia. O controle da planta é de difícil execução, tanto pelos custos com a calagem do solo como pelo difícil acesso do maquinário em relevos montanhosos. Fotos de animais com hematúria enzoótica, bexigas com lesões macroscópicas e histopatológicas e urinas de animais com hematúria enzoóticas. TUMORES DO TRATO DIGESTÓRIO SUPERIOR Etiologia semelhante aos casos de HE, pois também está relacionado ao consumo prolongado de samambaia. Porém relata-se o envolvimento do BPV-4 nos casos de indução na formação de tumores principalmente no esôfago. O nome popular caraguatá é uma referência ao aspecto dos tumores semelhantes a estruturas presente na planta caraguatá. A formação de massas tumorais na região da orofarige e esôfago dificulta tanto a alimentação como a respiração, podendo ser observado em alguns casos ruídos respiratórios (¨ronqueira¨) relativos à obstrução. O animal, invariavelmente, sofre emagrecimento progressivo seguido de morte. Fotos de tumores no esófago de um bovino SARCÓIDE EQÜINO Tanto o BPV-1 como o BPV-2 estão envolvidos na etiologia dessa infecção acidental. O papilomavírus é capaz de infectar o eqüino, mas pelo seu caráter espécie-específiconão produz infecção produtiva. O sarcóide eqüino, juntamente com o melanoma, é uma das neoplasias mais comumente relatadas nos cavalos. O tumor benigno pode ocorrer sob a forma única ou de múltiplas lesões de diferentes aspectos que variam desde pequenas verrugas na pele até extensas ulcerações. Os locais de predileção são as regiões paragenital, torácica, abdominal e cefálica, geralmente onde ocorreu injúria prévia. O sarcóide eqüino pode ser confundido com o papiloma eqüino, entretanto este geralmente sofre regressão espontânea, o que raramente ocorre no sarcóide. Os tratamentos disponíveis incluem a remoção cirúrgica e a imunoterapia com a vacina BCG. ENFERMIDADES EM OUTRAS ESPÉCIES ANIMAIS PAPILOMATOSE CANINA O papilomavirus canino (COPV) ocasiona lesões geralmente na mucosa oral, mais comumente de cães jovens. Lesões de aspecto filiforme podem ocorrer no epitélio cutâneo. A ingesta de alimento pelos animais acometidos pode estar dificultada. A remoção cirúrgica pode ser realizada dependendo do número de lesões e comprometimento da mucosa oral. Geralmente, os papilomas sofrem regressão espontânea em decorrência da resposta imunológica. Os animais de produção como ovinos, aves e coelhos também são suscetíveis ao papilomavírus. Nos machos suínos a papilomatose cutânea ocorre geralmente na região escrotal tendo como conseqüência a dificuldade de termorregulação testicular pelo músculo cremaster. Exemplo da diversidade da infecção pelo papilomavírus é a infecção observada em espécies silvestres como macacos e ursos e animais marinhos como tartaruga e golfinho.