MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA Coordenadoria de Pesquisa – CPES Campus Universitário Ministro Petrônio Portela, Bloco 06 – Bairro Ininga Cep: 64049-550 – Teresina-PI – Brasil – Fone (86) 215-5564 E-mail: [email protected] O REALISMO NA FILOSOFIA DE KARL POPPER Raíssa Marcelli A.R. de Melo (ICV), Gerson Albuquerque A. Neto (Orientador, Depto Filosofia – UFPI) INTRODUÇÃO: A discussão da filosofia da ciência toma um rumo diferente quando o filósofo austríaco Karl R. Popper abre a possibilidade de discussão sobre os critérios de ciência e não ciência utilizados. A postura tomada por Popper é resultando da discussão da filosofia da ciência tomada pelos neo-positivistas lógicos como Schlick, Neurath, Carnap e entre outros, que posicionavam o método científico ao crivo da verificação empírica. Descartando a verificabilidade como critério de obtenção de verdade de uma teoria, Popper, em sua postura racionalista crítica, aponta uma solução para problemas que o critério da verificação poderia causar em áreas da ciência como a própria física quântica ou as abstrações matemáticas. Vemos o critério da demarcação da ciência sob o viés falsificacionista de Popper, que compreendia a epistemologia científica não o centralizado no método indutivo, afirmando que as sentenças postuladas pelo indutivismo não poderiam assegurar a verdade da tese, portanto, a formulação das teorias que conseguiriam descrever os fenômenos naturais para postular uma teoria é dada por meio de conjecturas, que inicialmente não são verificadas e que têm suas predicações comparadas ao fenômeno com o intuito de falseá-la ou comprovar a resistência desta teoria ao teste de verificação. Popper trouxe a importância das inferências com capacidade de refutabilidade para a ciência, admitindo que a observação seja apenas dirigida pelo cientista após a formulação da teoria científica (método dedutivo). Contemplando um estudo sobre a verdade e a busca de sua natureza, este estudo se dirigiu em verificar o papel desempenhado pela “verdade” compreendida por Popper, quando esta, no falsificacionismo, age como meio direcionador para o cientista ou filosofo e não sendo alcançável. A busca pela verdade é uma abertura de possibilidades para o aprimoramento da teoria ou para a sustentação da teoria, uma relação intrínseca com as postulações dos critérios de dermacação da ciência. Quanto mais rigor em suas predicações e mais testes resistir, mais próxima à verdade a teoria estará. A verdade enquanto realismo vai assegurar que exista o fato ou objeto independente de uma relação epistêmica com um sujeito. Ex: Todos os dias a terra gira em torno de si mesma, mesmo que não tenha nenhum satélite artificial verificando a ação. Entretanto, há grande adversidade de concepções sobre o conceito de realismo e sua aplicação e o nosso projeto tem vista a investigação como o realismo é trabalhado na filosofia de Karl Popper, por esta dotar grande importância no labor no método científico proposto pelo mesmo. METODOLOGIA: Esta pesquisa foi realizada mediante leitura e análise de textos auxiliares como, As teorias da verdade de Richard L. Kirknam, Ensaio sobre a verdade de Donald Davidson, além da análise dos próprios textos do filósofo Karl R. Popper (Conhecimento objetivo, A Miséria do Historicismo, Conjecturas e Refutações). Nesta leitura, observamos a proposta popperiana de verdade, a aproximação da teoria cientifica a verdade e a reformulação de sua concepção após sua discussão com Alfred Tarski exposta em Conhecimento Objetivo. O conceito de realismo e verdade em Popper parte de sua preocupação, no âmbito da ciência e da filosofia, na busca da verdade por meio de conjecturas que possibilitem falseamento das teorias formuladas. Ademais, a sustentação do critério falsificacionista tem por base lógica a aproximação de uma teoria à verdade, sendo esta impossível de ser alcançada, ao ser testado incansavelmente sob o critério da dedução hipotética. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Em Conhecimento Objetivo (1975), Popper apresenta ter solucionado o problema da indução na filosofia da ciência. Esta solução é dada pelo seu conceito de falseabilidade da teoria. Alguns filósofos, como Thomas Kuhn, apresentaram problemas ao caráter negativo do seu critério: A falseabilidade não apresenta o que é somente aquilo que pode ou não ser falso. Justo pela noção de verdade aproximada que Popper admite como parâmetro para definir a veracidade da teoria. A teoria de senso comum sobre a indução sustenta que toda teoria formulada é baseada em observações empíricas que se repetem e que podem, por ventura, formular leis e padrões que expliquem os fenômenos naturais. Popper identifica nesse processo de formulação das teorias científicas, uma “irregularidade” ou “inconsistência” que possam dificultar a gnoseologia das proposições científicas e naturais. Pelo senso comum, as crenças surgem da hipótese de que as ações que se repetem e percebidas são leis que sempre se repetirão. Popper apropria-se do realismo identificado no senso comum, pois em sua concepção, apresentado no capítulo 21 da obra Conhecimento Objetivo, os filósofos conseguem falar sobre o mundo com maior precisão e responder sobre sua existência a partir do que é visto. Para Popper tudo deve partir do senso comum, mesmo que o mesmo não seja uma fonte completamente confiável, portanto, cabe ao investigador a capacidade da crítica e do experimento. Ele usa o termo do senso comum para aplicar ao conceito de algo mutável ou não fixo, cabe-se aqui, a noção de opinião e instintos que, às vezes, são tomados por verdadeiros sem o crivo da cientificidade, assim: Duas Faces do Senso Comum: Argumento a favor do realismo de senso comum e contra a teoria de senso comum do conhecimento (Conhecimento Objetivo, p.41). CONCLUSÃO: O realismo popperiano pode ser visto de duas fases: Antes e pós a teoria semântica de Tarski. O projeto metafísico do realismo proposto é capaz de atender as necessidades especulativas da ciência, quando se fala de conjectura e refutação, abrindo a possibilidade de aproximação de uma descrição fiel do fenômeno. A ciência como conhecimento provisório e como tentativa funciona como caminho que intermede a verdade sobre o mundo. Assim, a progressão científica, para Popper, só é dada pelas conjecturas e pela capacidade de refutação das hipóteses. O realismo metafísico, ou de senso-comum, enquanto mediadora da busca do cientista pela verdade, possibilita criação de conceitos e de deduções que são levadas em atender as necessidades da descrição dos fatos e que sejam suficientemente capazes de dar conta daquilo que lhe é colocado. Por fim, a ciência perde o medo do fracasso e do erro, pois a especulação da natureza de um fato pode abrir possibilidades de conhecer a verdade e consequentemente, para a epistemologia. A verdade, então, como um objetivo da ciência que deve ser alcançado, é a abertura para a progressão da ciência – sua evolução depende dela – e mesmo sendo inalcançável, o cientista deve tentar ir atrás dela, instigado pela possibilidade do conhecer. Portanto, o método de Popper, compreende a tentativa e o erro da ciência como atribuições de sentido ao mundo, ou tentativa de busca pela compreensão de si e do mundo. REFERÊNCIAS: CHALMERS, Alan F. O que é ciência afinal?. 2ed. Tradução: Raul Fiker. São Paulo: Brasiliense, 1997. Kirkham, Richard. L. Teorias da verdade: uma introdução crítica. Tradução: Alessandro Zir. São Leopoldo: Unisinos, 2003. KUHN, Thomas S. A tensão essencial: Estudos selecionados sobre tradição e mudança científica. Tradução: Marcelo Amaral Penna-Forte. São Paulo: Editora UNESP, 2011. POPPER, Karl. A Miséria do Historicismo. Tradução: Octany S. da Mota & Leonidas Hegenberg. São Paulo: EDUSP, 1980. ____________. Conhecimento Objetivo: Uma abordagem evolucionária. Tradução: Milton Amado. Belo Horizonte: Itatiaia, 1975. ____________. Conjecturas e Refutações. Tradução: Benedita Bettencourt. Lisboa: Almedina, 2003. Palavras-chave: Realismo. Verdade. Popper.