ANÁLISE DA PERFORMANCE REPRODUTIVA DE

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ANÁLISE DA PERFORMANCE REPRODUTIVA DE CAMUNDONGOS
EXPOSTO A FLUOXETINA
Ana Clara Cerato Bispo (Iniciação Científica/UEL), Priscila Mariano, Maria José
Salles, e-mail: [email protected]
Universidade Estadual de Londrina, Centro de Ciências Biológicas,
Departamento de Biologia Geral.
Área de Conhecimento: Medicina
Subárea de Conhecimento: Saúde Materno-Infantil
Palavras-chave: Intrauterino; Fluoxetina; Gestação.
Resumo
Fluoxetina (Daforin®) é um inibidor seletivo da receptação de serotonina
utilizado no tratamento de depressão que é um distúrbio psiquiátrico. Neste
estudo avaliou a performance reprodutiva de camundongos em que se
administrou Fluoxetina durante a gestação. Usaram-se camundongos Swiss
prenhes, divididas em quatro grupos experimentais: um grupo controle (G0),
que recebeu salina e os demais receberam doses de 10mg/kg (G 1), 20mg/kg
(G2) e 30mg/kg (G3) do fármaco. A administração foi realizada via gavage do 8º
ao 17º dia de gestação, que compreende a fase da organogênese. No 18º dia
as fêmeas foram eutanasiadas. Em seguida foram realizados os procedimentos
de laparotomia, histerectomia e o conteúdo uterino foi avaliado de acordo com
os parâmetros do desenvolvimento embriofetal. Os dados foram analisados por
ANOVA seguida de Tukey, no programa GraphPad Prism. O grupo de
tratamento G2 apresentou aumento de reabsorções e diminuição
estatisticamente significativa nas taxas de viabilidade fetal, perda pós
implantacional, diminuição do número de fetos vivos e peso de útero gravídico.
O grupo tratado G3 mostrou diminuição significativa de peso do útero gravídico
e peso fetal. O grupo G1 não teve nenhuma alteração. Conclui-se que das
doses testadas, os grupos G2 e G3 promoveram alterações na performance
reprodutiva. Sendo, o grupo G2 o causador de mais danos na prole.
1
Introdução e objetivo
Fluoxetina (Daforin®) é um inibidor seletivo da receptação de serotonina
utilizado no tratamento de depressão que é um distúrbio psiquiátrico. (NADALVICENS et al., 2009).
Não é recomendado seu uso durante a gestação, tendo em vista que
esta pode ultrapassar a barreira placentária e consequentemente pode
comprometer o desenvolvimento dos fetos. (POHLAND et al., 1989). Sabe-se
que a depressão gestacional, se não tratada, pode levar a depressão pós-parto
e também causar problemas ao recém-nascido (ZESKIND, STEPHENS, 2004).
Assim, deve se avaliar os riscos e os benefícios do uso da Fluoxetina
como uma alternativa de tratamento para a gestante. Infelizmente, existe
apenas uma escassa literatura descrevendo os efeitos da Fluoxetina sobre o
desenvolvimento embrionário e fetal. Diante do exposto, o presente estudo
objetivou avaliar efeitos deste antidepressivo sobre o desempenho reprodutivo.
Procedimentos metodológicos
Após aprovado pelo comitê de ética da Universidade Estadual de
Londrina(CEUA 8052.2011.65). O projeto foi executado. Para tanto, utilizou-se
60 camundogos Swiss prenhes que foram mantidas em regime de
luminosidade controlada, a 22 ± 2 ºC, com água e ração (ad libitum) à vontade.
Os animais foram distribuídas igualmente em quatro grupos
experimentais. Os grupos tratados receberam, por gavage, uma solução de
Fluoxetina (Daforin®) nas seguintes doses: G1 – 10mg/kg, G2 – 20mg/kg e G3 –
30mg/kg. No grupo controle (G0) foi administrado solução salina, a qual é
utilizada para diluição do medicamento. O tratamento foi realizada do 8º ao 17º
dia de gestação que compreende a fase da organogênese.
Avaliou-se os seguintes parâmetros: peso do útero gravídico, presença
de reabsorções (método de Salewski (1964), número de fetos vivos e mortos,
peso e comprimento fetal e peso placentário. A partir destes dados, calculou-se
as taxas de viabilidade fetal (nº de fetos vivos / nº de implantações X 100), taxa
de perdas pós-implantacional (nº de implantações – nº de fetos vivos/ nº de
implantações X 100) e taxas de reabsorções embrionárias (nº de reabsorções/
nº de implantações X 100).
Os dados absolutos com distribuição normal foram analisados pela
ANOVA seguido do teste de Tukey pelo programa estatístico GraphPad Prism.
Resultados e discussão
Na tabela 1, está apresentada as alterações na capacidade reprodutiva dos
animais tratados com Fluoxetina
2
TABELA 1 – Avaliação dos parâmetros de performance reprodutiva dos
camundongos fêmeas submetidos ao tratamento.
Parâmetros
G0
G1
G2
G3
Comprimento fetal (cm)
2,768±0,035
2,728±0,053
2,710±0,032
2,612±0,048
Fetos mortos
0,133±0,090
0,467±0,336
0,067±0,067
0,067±0,067
Fetos vivos
11,530±0,376
9,933±0,836
8,800±0,863a*
10,93±0,473
Índice placentário
0,077±0,003
0,0807±0,004
0,083±0,004
0,086±0,003
Perda pós-implantacional (%)
8,882±1,615
17,130±5,747
31,630±6,670a**,c*
11,920±3,470
Peso do útero gravídico
18,460±0,621
16,070±1,421
13,340±1,191a***
15,150±0,845a**
Peso fetal (g)
1,300±0,034
1,248±0,056
1,205±0,030
1,099±0,0334 a**,b*
Peso placentário (g)
0,099±0,003
0,0993±0,005
0,010±0,005
0,094±0,003
Reabsorção (%)
7,764±1,807
13,140±4,795
31,210±6,458a**,b*,c*
11,480±3,485
Reabsorções
1,000±0,239
1,400±0,4761
4,200±0,947a**, b**,c**
1,467±0,446
Sítios de implantação
12,670±0,374
11,80±0,393
13,070±0,493
12,470±0,3634
Viabilidade fetal (%)
91,120±1,615
82,870±5,747
68,370±6,670 a**,c*
88,080±3,470
a
Dados apresentados em média±SEM. Estatisticamente diferente de G0; b Estatisticamente diferente de
G1; c Estatisticamente diferente de G3; * p<0,05; ** p<0,01. G0=controle; G1= 10mg/kg, G2= 20mg/kg; G3=
30mg/kg. Teste: ANOVA/Tukey.
O grupo de tratamento G2 apresentou aumento de reabsorções e diminuição
estatisticamente significativa nas taxas de viabilidade fetal, perda pós
implantacional, diminuição do número de fetos vivos e peso de útero gravídico
em relação a G0 e G3.
As diferenças entre os grupos apresentadas pelas taxas acima refletem
a diminuição no número de fetos vivos e o aumento no número de reabsorções
encontrado em G2. De acordo com a literatura, a Fluoxetina promove uma
diminuição na taxa de nascidos vivos em camundongos expostos a este
fármaco durante a gestação (Bauer et al., 2010).
Houve uma redução do peso do útero gravídico nas diferentes doses
usadas, entretanto somente nos grupos G2 e G3 o decréscimo foi
estatisticamente significativo quando comparado com o controle. E o peso fetal
também se apresentou diminuído estatisticamente significativo no G3
comparado aos demais grupos. Um possível mecanismo para explicar a
redução de peso dos fetos tratados com a maior dose de fluoxetina é o fato de
que este fármaco prolonga o período de exposição à serotonina endógena, um
potente vasoconstritor uterino, diminuindo o fluxo sanguíneo deste órgão e,
consequentemente, a disponibilidade de nutrientes para o feto (Lundy et al.,
1999).
O grupo G1 não teve nenhuma alteração. Os resultados apontam que o
grupo G2 teve o maior índice de fetotoxicidade.
Conclusão
Conclui-se que as doses do tratamento G2 e G3 promoveram alterações na
performance reprodutiva. Entretanto a dose 20mg/kg foi a que causou mais
danos para o desenvolvimento embriofetal.
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Referências
BAUER, S. et al. Impact of antenatal selective serotonin reuptake inhibitor
exposure on pregnancy outcomes in mice. American Journal of Obstetrics &
Gynecology, v. 203, p. 375.e1-375.e4, 2010.
LUNDY, B. et al. Prenatal depression effects on neonates. Infant Behavior and
Development, v. 22, p. 119-129, 1999.
NADAL-VICENS, M.; CHYUNG, J, H.; TURNER, T. J. Farmacologia da
neurotransmissão serotoninérgica e adrenérgica central. In: GOLAN, D. E. et al.
Princípios de Farmacologia: A base fisiopatológica da farmacoterapia. 2.
ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p.195, 2009.
POHLAND, R. C. et al. Placental transfer and fetal distribution of fluoxetine in
the rat. Toxicology and Applied Pharmacology, v. 98, p. 198–205, 1989.
SALEWSKI, E. Faerbemethoden zum makroskopischen nachweis von
implantationsstellen am uterus der ratte. Naunyn-Schmiedebergs Archiv für
Experimentelle Pathologie und Pharmakologie, v. 247, p. 367, 1964.
ZESKIND, P. S.; STEPHENS, L. E. Maternal selective serotonin reuptake
inhibitor use during pregnancy and newborn neurobehavior. Pediatrics, v. 113,
p.368-375, 2004.
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