Análise do Comportamento do Consumidor na Teoria Econômica Consumer Behavior analysis in the Economic Theory Sandro Celestino da Rosa Wollenhaupt * O estudo do comportamento do consumidor é a descrição de como os indivíduos tomam decisões de gastar seus recursos disponíveis em itens relacionados ao consumo. Algumas teorias de análise do comportamento do consumidor utilizam pressupostos racionais, ou seja, o traço distintivo do ser humano é sua capacidade de consciência e raciocínio. O postulado mais forte dessa corrente de pensamento consiste no conceito de que o ser humano distinguese por sua capacidade de solução lógica de problemas e de flexibilidade na busca de opções e soluções. Uma das teorias racionais mais conhecidas sobre o comportamento do consumo vem da Economia. De acordo com essa visão, o consumo é ditado por escolhas racionais sobre a disponibilidade dos produtos e dos recursos necessários. Dessa forma, o artigo busca descrever, por meio de pesquisa bibliográfica, o comportamento do consumidor na Teoria Econômica. Palavras-chave: comportamento de consumo, Economia. ABSTRACT The consumer behavior study is the description of as the individuals take decisions of spending his available resources in items related to the consumption. Some consumer behavior analysis theories use presuppose rational, or be, human being's distinctive trace is his conscience and reasoning capacity. The strongest postulate of this current of thought consists in the concept that the human being it distinguishes for his problems solution logic capacity and of flexibility in the options and solutions search. One of the more well known rational theories about the consumption behavior comes of to Economy. According with this vision, * Professor da Universidade Luterana do Brasil. Mestre em Marketing pela Universidade Fernando Pessoa, Portugal. [email protected] the consumption is dictation for rational choices about the products availability and of the necessary resources. Thus, the article searches describe, by means of bibliographical research, the consumer behavior in the Economic Theory. Key words: consumption behavior, Economy. INTRODUÇÃO O interesse pelo comportamento do consumidor não é novo. As relações de troca, desde que se tem registro, já criavam hipóteses e explicações sobre os compradores. Uma das ciências que primeiro analisou o comportamento de consumo dos indivíduos foi a Economia. Todos os seres humanos se defrontam, no decorrer de suas vidas, com necessidades que precisam ser atendidas. Assim desejam bens e serviços que sejam capazes de atendê-los. A necessidade tem um conteúdo subjetivo e sua manifestação é individual. Dessa forma, é possível afirmar que a necessidade é uma sensação de falta, uma sensação que pode representar certo mal-estar. Os seres humanos têm grande quantidade de necessidades , mas limitadas possibilidades de satisfazê-las. Por isso, tem de escolher os produtos e serviços que lhe dêem o máximo de satisfação. A partir dessas observações, buscou-se analisar, por meio de pesquisa bibliográfica, descrever o comportamento do consumidor na teoria econômica através da utilização dos conceitos de tabela de indiferença, curva de indiferença, restrição orçamentária, taxa marginal de substituição, equilíbrio do consumidor, efeito-preço, efeito-renda e efeito substituição. 2 1. TEORIA ECONÔMICA DE COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Vamos focalizar nossa atenção no comportamento do consumidor sobre as atividades por ele realizadas para atender às suas necessidades: o consumo. Sob a ótica econômica podemos conceituar segundo Carvalho, o consumidor como uma unidade do setor de consumo, representada tanto por um indivíduo quanto por uma família que possui um orçamento disponível para gastos e tem todas as condições de decidir como utilizá-lo. Assim, é possível afirmar que todas as pessoas que recebem renda monetária seja decorrente somente da contrapartida em oferta de trabalho. Os dependentes, os incapazes e os demais que recebem renda monetária por transferências são participantes da categoria de consumidores. Portanto, a origem da renda não é o fato principal para caracterizar o consumidor; esse fato principal é a despesa em dinheiro com o consumo de bens e serviços (2002, p. 19). Historicamente, ao observar-se o desenvolvimento da teoria do consumidor, nota-se a existência de duas abordagens, segundo as quais uma série de autores procurou analisar o comportamento do consumidor: a abordagem cardinal e a abordagem ordinal (GARÓFALO, 1985). 1.1 Teoria cardinal Os economistas Jevons (1854) e Walras (1874), os formuladores da teoria cardinal, acreditavam que a utilidade era uma característica "mensurável" dos bens e serviços, que podia ser medida. Acreditavam que a utilidade era uma qualidade "aditiva", isto é, a satisfação do consumidor era a soma das utilidades obtidas no consumo dos bens e serviços de sua cesta de mercadorias. Esses autores afirmavam que a utilidade de um bem ou serviço era a sua capacidade de satisfazer as necessidades das pessoas. A utilidade representava um grau de 3 satisfação que os consumidores atribuem aos bens e serviços que podem adquirir no mercado (GARÓFALO, 1985). Vejamos mais detalhadamente os fundamentos da Teoria Cardinal. Em primeiro lugar, essa teoria supunha que a utilidade poderia ser medida. Em outras palavras uma xícara de café, por exemplo, daria ao consumidor 3 unidades de utilidade, ou 3 utis. Se, juntamente com a xícara de café, o consumidor comesse um pedaço de pão que lhe oferecesse, por exemplo, 4 "utis", a satisfação total do consumidor seria de 7 "utis" (GARÓFALO, 1985). Basicamente existem de acordo com Garófalo (1985), duas críticas que podem ser feitas à teoria cardinal da utilidade. São elas: 1. a primeira refere-se à mensuração da utilidade. Por ser uma qualidade avaliada subjetivamente, ela depende da escala de utilidade estabelecida pelo consumidor para cada bem, o que impossibilita a generalização dessa forma de mensuração; 2. a segunda crítica diz respeito à propriedade aditiva da utilidade. Sabemos que existem alguns bens que, quando consumidos ao mesmo tempo, têm utilidade maior do que quando consumidos isoladamente. Nesse caso, não é possível somar as utilidades de cada bem para se obter a utilidade total. Assim, uma pessoa que come um prato de arroz com feijão, por exemplo, está obtendo uma utilidade bem maior do que se consumisse o arroz e feijão separadamente. 1.2 Teoria ordinal 4 Os economistas Fischer (1892) e Pareto (1906) contornaram os principais problemas da teoria cardinal e deram à teoria do comportamento do consumidor a forma que conhecemos hoje. Essa formulação é conhecida como Teoria Ordinal do comportamento do consumidor. Inicialmente, esses economistas reconheceram que a utilidade não é uma qualidade aditiva e passaram a estudá-la como sendo decorrente do consumo de todos os bens simultaneamente (PINDYCK, 1994). Dessa forma segundo Pindyck, a quantidade consumida de um bem interfere na utilidade de outro bem. Por exemplo: geralmente, as pessoas tomam café com açúcar, numa dada proporção. Entretanto, se for colocado muito açúcar no café, ele ficará tão ruim que não será bebido, perdendo, conseqüentemente, sua utilidade. Por outro lado, convencidos de que a utilidade dos bens, apesar de incontestável, é uma qualidade de avaliação subjetiva, os quatro economistas abandonaram a idéia de medi-la (1994, p. 64). Antes, reconhecendo que o consumidor prefere alguns bens e serviços a outros, introduziram uma ordem de preferência para qualificar a utilidade. Assim, pode-se dizer que um bem tem mais utilidade do que outros, mas não se estabelece a quantidade de utilidade correspondente de cada um. Para a teoria ordinal, se uma pessoa prefere chá a café, o chá, para essa pessoa, tem mais utilidade do que o café. Mais uma vez, é importante ressaltar que a teoria ordinal apenas ordena bens, não lhes atribuindo qualquer quantidade de utilidade. A abordagem ordinal da teoria do consumidor representa uma linha de pensamento mais recente, em relação à abordagem cardinal. Sua característica fundamental está no fato de rejeitar a hipótese de mensurabilidade quantitativa da utilidade, substituindo-a pela hipótese de comparabilidade. Assim, para a abordagem ordinal, a utilidade não é mensurável, mas comparável. É, portanto, pela comparação das utilidades das coisas que o consumidor escolhe as diferentes alternativas de consumo de bens ou de combinações de bens capazes de atender a suas necessidades (PINDYCK, 1994). 5 1.2.1 Escolha ótima: a maximização do bem-estar As necessidades dos seres humanos são insaciáveis, uma vez que nem todas podem ser satisfeitas inteiramente. Adicionalmente, a plena satisfação do consumidor é cerceada por seu limitado poder de compra. Na realidade, grande quantidade de pessoas deseja muitas coisas que não pode adquirir. Assim, os consumidores devem escolher entre bens que precisam ter e os que podem ficar fora de seu plano de consumo. Todavia, o consumidor realiza um esforço bastante grande no sentido de maximizar seu bem-estar, e é esse comportamento que a teoria econômica procura explicar, definindo a escolha ótima do consumidor, ou seja, a escolha que permita a execução de um plano de consumo, que leve ao mais alto nível de bem-estar ou de satisfação (ou ainda utilidade), compatível com o orçamento disponível para gastos (DUBOIS, 1998). Para explicar o mecanismo desse comportamento, a teoria econômica se vale de conceitos e hipóteses tirados da Teoria Ordinal do Comportamento do Consumidor, tais como: os conceitos de Tabela de Indiferença, Curva de Indiferença, Taxa Marginal de Substituição e Restrição Orçamentária. Em uma Tabela de Indiferença estão colocadas infinitas combinações possíveis entre dois bens, igualmente desejáveis ao consumidor, porque todas elas lhe propiciam a mesma satisfação, de tal forma que, para ele, é indiferente a escolha de qualquer uma (CARVALHO, 2002). 6 O fato de se considerar apenas dois bens deriva da hipótese da existência de um consumidor que possua um plano de consumo constituído por apenas dois bens, que tenham entre si certo grau de substutibilidade. É uma hipótese bastante simplificadora, porém conveniente para maior facilidade de compreensão do mecanismo de ajuste. Tomemos um exemplo numérico para facilitar a percepção do conceito de tabela de indiferença. A figura 1.1 apresenta uma lista de combinações dos bens X e Y, todas desejadas pelo consumidor. Figura 1.1 - Tabela de indiferença X Y 10 0 7 1 5 4 4 4 Fonte: Carvalho, 2002 As combinações entre os bens são: 10 unidades de X e 0 de Y; 7 unidades de X e 1 de Y e assim sucessivamente. A disposição das quantidades de X e Y está de tal forma que o consumidor não manifesta preferência por nenhuma das combinações. É indiferente a todas elas porque todas são igualmente desejáveis; sente-se igualmente bem ao escolher qualquer uma das combinações existentes. Todavia, percebe-se claramente que, embora todas as combinações possam ser indiferentes ao consumidor, a participação dos bens X e Y em cada uma delas é indiferente. Na primeira combinação existem 10 unidades de X e nenhuma de Y; na segunda combinação já existem 7 unidades de X e uma unidade de Y. Todavia, para o consumidor, ambas as combinações são indiferentes. Como ajustar os desejos do consumidor e as quantidades dos bens? Vejamos: se a combinação 7 unidades de X e 1 unidade de Y é indiferente à combinação 10 unidades de X e zero de Y, é porque para o consumidor a perda 7 de 3 unidades de X é perfeitamente compensada em termos subjetivos de bem-estar pelo ganho de uma unidade de Y. Assim, ao passar de uma combinação para outra, seu nível de bem-estar não muda, embora seu patrimônio se modifique em termos das quantidades possuídas de cada um dos bens (CARVALHO, 2002). Vê-se, assim, que só é possível manter o nível de bem-estar constante quando houver uma perfeita compensação entre a quantidade do bem que se reduz e a quantidade do bem que aumenta na nova combinação. Em outras palavras, para que se mantenha o nível de bem-estar constante é necessário que haja uma perfeita compensação subjetiva de satisfação, provocada pela redução da participação de X e o ganho subjetivo de satisfação decorrente do aumento da participação de X, e o ganho subjetivo de satisfação decorrentes do aumento da participação de Y na nova combinação (CARVALHO, 2002). A necessidade de compensação entre perdas e ganhos subjetivos de satisfação, quando as combinações entre os bens são modificadas, leva a outro conceito importante da Teoria Ordinal do Consumidor: o conceito de Taxa Marginal de Substituição entre os bens (SALVATORE, 1981). Para Salvatore, pode-se definir Taxa Marginal de Substituição (TMS) entre os bens, a variação necessária da quantidade de um deles, que compense a variação da quantidade do outro, para que o nível de bem estar mantenha-se constante. Vê-se, assim, que a taxa marginal de substituição vai sempre relacionar duas variações, uma delas representando um decréscimo da participação de um dos bens e a outra representando um acréscimo da participação de outro bem (1981, p. 94). Podemos representar a TMS da seguinte forma: TMS = -X / +Y onde: -X: decréscimo da participação de X na combinação. 8 +Y: acréscimo da participação de Y na combinação. Isso significa que a TMS é decrescente. De fato, esse comportamento pode ser visto na figura 1.2. Figura 1.2 Tabela de comportamento da TMS Bem X -X Bem Y +Y TMS = -X +Y 10 0 3 7 1 -3 1 -2 1 -1 1 2 5 2 1 4 4 Fonte: Carvalho, 2002 Uma curva de indiferença é a representação gráfica de uma tabela de indiferença. Utilizando, entretanto, uma linguagem mais técnica, podemos definir a curva de indiferença como uma linha em que todos os pontos representam combinações de dois bens que proporcionam ao consumidor o mesmo nível de satisfação, bem-estar ou ainda utilidade. Admitindo que o plano de consumo do consumidor seja representado por diversas curvas de indiferença, identificando sua Escala de Preferências, passa-se ao conceito de Mapa de Indiferença como nos mostra a figura 1.3, isto é, um conjunto de curvas de indiferença, 9 representando cada uma um dado nível de bem estar ou de utilidade usufruído pelo consumidor (CARVALHO, 2002). Figura 1.3 - Curva de indiferença e mapa de indiferença q1 q1 U q2 Curva de indiferença U3 U2 U1 q2 Mapa de indiferença Fonte: Salvatore, 1981. A escolha ótima do consumidor será aquela que permite que ele maximize seu bem-estar ou de satisfação, respeitadas as limitações do orçamento disponível para gastos. A Teoria Microeconômica considera que, quando o consumidor realiza sua escolha ótima e, conseqüentemente, adquire quantidades dos bens que lhe proporcionam satisfação máxima, dentro dos limites do orçamento, está em equilíbrio. É o chamado Equilíbrio do Consumidor (SALVATORE, 1981). 10 Para a determinação desse equilíbrio, é necessário que se introduza na análise, segundo Salvatore (1981), além da parte subjetiva satisfação, bem-estar, utilidade também a parte objetiva, isto é, os preços das mercadorias e o orçamento que o consumidor dispõe para gastos. O instrumento teórico, passível de representação gráfica, e que permite sintetizar as informações sobre o orçamento do consumidor e sobre o preço dos bens, é denominado Linha de Preços, Linha de Orçamento ou ainda Restrição Orçamentária o que pode ser observado na figura 1.4. Figura 1.4 - Restrição Orçamentária q1 Restrição Orçamentária 100 50 100 50 100 q2 Fonte: Salvatore, 1981. Podemos definir linha de preços como uma linha que representa as quantidades dos bens que o consumidor pode comprar, combinadamente, gastando toda a sua renda, dados os preços e dada a renda disponível para consumo num dado momento (SALVATORE,1981). Graficamente, é possível representar o equilíbrio do consumidor lançando mão das ferramentas já descritas anteriormente: as Curvas de Indiferença e a Restrição Orçamentária. A figura 1.5 apresenta o gráfico de Equilíbrio do Consumidor. 11 Figura 1.5 - Gráfico de equilíbrio do consumidor q1 A C E M U3 U1 F U2 q2 0 N B Fonte: Férguson, 1982. A linha reta AB representa a restrição orçamentária ou o orçamento disponível (renda disponível para gastos); sua inclinação mostra a relação entre os preços dos dois bens e sua posição define a dimensão do orçamento. As três curvas de indiferença foram extraídas do infinito conjunto de curvas de indiferença que constitui o mapa de indiferença do consumidor. Esse consumidor estará em equilíbrio no ponto E, que está simultaneamente situado sobre a linha de preços AB e sobre a curva de indiferença U1. Isso significa que ambas as linhas são tangentes entre si no ponto E. A combinação dos bens q1 e q2 em E (OMq1+ONq2) é a preferida a todas as outras também possíveis. Isso ocorre porque no ponto E o consumidor maximiza seu bem-estar, representado pela curva de indiferença U1, dentro das limitações de seu orçamento, definido pela posição da linha AB. Se tivesse que comprar menos de q2 e mais de q1, indo, por exemplo, para o ponto C, passaria para uma curva de indiferença mais baixa, curva U2 - portanto, com menos nível de bem-estar, mas com o mesmo dispêndio total AB. 12 Por outro lado, se tivesse que comprar mais de q2 e menos de q1, iriam, por exemplo, para o ponto F, também na curva de indiferença U2, mais baixa e com o mesmo gasto total AB (FÉRGUSON, 1982). Evidentemente, o consumidor gostaria de usufruir um nível de bem-estar representado por uma curva de indiferença mais alta - por exemplo, a curva U3; mas essa possibilidade não existe porque seu orçamento (reta AB) é insuficiente para permitir esse nível de bem-estar. Assim, o ponto E é o melhor ponto possível e a combinação dos dois bens correspondentes a ele (OMq1+ONq2) é aquela que proporciona o máximo de bem-estar dentro das restrições do orçamento. Essa maximização do bem-estar define o equilíbrio do consumidor (FÉRGUSON, 1982). 1.2.2 Modificações no equilíbrio do consumidor O consumidor encontra-se em equilíbrio quando maximiza a sua satisfação, respeitada a sua restrição orçamentária. A noção de equilíbrio baseia-se no princípio da racionalidade: o consumidor, sendo racional, vai procurar, dentro do seu orçamento, tentar obter o máximo de satisfação possível. Uma vez atingido o equilíbrio, permanecerá estável enquanto for possível manter seus pré-requisitos, ou seja, enquanto permanecerem inalteradas as variáveis objetivas, a renda disponível, e os preços dos bens (LEFTWICH, 1974). Logicamente, a posição de equilíbrio também se modifica com a alteração das variáveis subjetivas, como os hábitos do consumidor. Todavia estas últimas são de difícil mensuração. As alterações na posição de equilíbrio são conhecidas na teoria do consumidor como análise 13 dos efeitos ou, melhor, dizendo, das causas que têm por efeito a modificação da posição de equilíbrio (LEFTWICH, 1974). A análise dos efeitos é feita separadamente pela teoria econômica, havendo uma denominação peculiar para cada uma. É extremamente importante lembrar que, por razões didáticas, serão analisados os efeitos separadamente. Na realidade, os mesmos ocorrem simultaneamente (CARVALHO, 2002). Efeito-renda Entende-se por Efeito-renda a modificação na posição de equilíbrio do consumidor, que decorre de uma variação na sua renda disponível, mantidos constantes os preços dos bens. Em geral agindo racionalmente, e, se houver um aumento de sua renda, o consumidor comprará maiores quantidades de bens, desde que os preços não sofram nenhuma alteração. Por conseguinte, um aumento da renda desloca a linha paralelamente para a direita. Esse deslocamento pode ser observado na figura 1.6 (ABREU, 1995). Figura 1.6 - Efeito-renda q1 F” Curva de Renda-consumo F’ F U3 U1 G U2 G’ G” q2 14 Fonte: adaptado. Abreu, 1995. O deslocamento paralelo identifica a obtenção de maiores níveis de satisfação decorrentes de aumento da renda sem haver nenhuma modificação nos preços dos bens. Se houvesse redução da renda disponível, os deslocamentos da linha de preços ocorreriam paralelamente para a esquerda. Observando a figura 1.6, verifica-se a existência dos pontos A,B,C, que são pontos de equilíbrio do consumidor em diferentes níveis de satisfação alcançáveis, em razão da variação da renda no sentido de aumento. Unindo esses pontos, chega-se a uma linha denominada linha ou curva renda-consumo, que mostra a variação do consumo dos bens e, como decorrência da variação da renda, mantidos constantes os preços dos bens (ABREU, 1995). Efeito-preço Define-se Efeito-preço como sendo uma modificação da posição de equilíbrio do consumidor, decorrente de alteração nos preços de um dos bens, mantida constante a sua renda disponível. Esse efeito caracteriza uma modificação na ordem das compras do consumidor em função de modificação nos preços dos bens, embora a sua renda não se modifique. Claro que nesse caso ocorre um deslocamento não paralelo das linhas de preço, ou seja, um giro das linhas centradas no intercepto do eixo do bem, cujo preço não se modificou. Esse deslocamento pode ser observado na figura 1.7. Verifica-se que a declividade das linhas de preço se altera, pois ocorrem modificações nos preços dos bens. Assim, as sucessivas linhas de preços continuam retas, porém com declividades ou inclinações diferentes (ABREU, 1995). 15 A hipótese aceita na representação gráfica da figura é a de que o preço do bem q2 diminui, mas o ponto F, que é o intercepto no eixo do bem q1, que não se modifica. Por outro lado, os pontos G, G’, G”, interceptos no eixo do bem q2, que revelam que à medida que p2 diminui, aumenta o consumo de q2. Vê-se que a posição de equilíbrio vai se modificando e ao mesmo tempo revelando aumento de satisfação para o consumidor, tão logo sejam atingidas as curvas que revelam utilidade cada vez maior (pontos A,B,C). Unindo os diferentes pontos de equilíbrio A, B, e C, tem-se uma linha indicadora das modificações da posição de equilíbrio do consumidor, surgidas em decorrência da variação do preço de um dos bens. Denomina-se linha ou curva de preço-consumo (ABREU, 1995). Figura 1.7 - Efeito-preço q1 F Curva de Preço-consumo C B U3 A U2 U1 0 G G’ G” q2 Fonte: adaptado. Abreu, 1995 16 Efeito-substituição O Efeito-substituição demonstra como o consumidor realoca suas compras, quando se modificam os preços relativos dos bens, independentemente de haver uma modificação direta na sua renda. Mostra, portanto, como os consumidores vão comprar mais dos bens cujos preços relativos baixaram, com o objetivo de substituir os que ficaram relativamente mais caros. Este fenômeno está representado pela figura 1.8 (LEFTWICH, 1974). Figura 1.8 - Efeito-substituição q2 A A’ E M E’ M’ 0 N N’ U1 B B’ q1 Fonte: adaptado. Leftwich,1974 17 Para o Efeito-substituição da figura 1.8, parte-se da hipótese de que a renda real do consumidor permanece constante em termos de utilidade, isto é, ao se modificarem os preços dos bens, a posição de equilíbrio muda de ponto, permanecendo, porém, na mesma curva de indiferença. Em outras palavras, isso significa dizer que, embora haja modificação na declividade da linha de preços em virtude de uma modificação nos preços dos bens tal fato não impede que continue havendo tangência na mesma curva de indiferença, já tangenciada no ponto de equilíbrio anterior. Assim, o Efeito-substituição caracteriza-se apenas por mera modificação na posição do ponto de equilíbrio sobre a mesma curva de indiferença; é um deslocamento da posição de equilíbrio ao longo da curva (LEFTWICH, 1974). Inicialmente, são tomados apenas dois bens q1 e q2. Admita-se que o preço do bem q2, que é p2, aumente em virtude da retirada, por parte do governo, de um subsídio até então existente para o preço desse bem, a título de auxílio governamental ao consumo. A retirada do subsídio transfere para o consumidor, em termos de elevação do preço, o diferencial que era coberto por ele. Claro que, quando isso acontece, o consumidor fica relativamente mais pobre. Assim sendo, simultaneamente admite-se, como efeito compensatório que se dê ao consumidor um aumento indireto ou relativo em sua renda disponível: por exemplo, uma redução do imposto de renda. Tal evento compensa o empobrecimento relativo do consumidor, ocasionando a elevação do preço de q2, provocada pela retirada do subsídio governamental (LEFTWICH, 1974). O objetivo da compensação de renda é manter o consumidor no mesmo nível de utilidade em que se encontrava antes da elevação do preço do bem q2. Em outras palavras, admite-se que a compensação de renda tem por finalidade manter constante a renda real do consumidor 18 em termos de utilidade. Se isso ocorrer e o consumidor agir racionalmente, tenderá a aumentar o consumo do bem q1 que ficou relativamente mais barato. Paralelamente reduzirá o consumo do bem q2, que ficou relativamente mais caro, substituindo-o pelo mais barato, determinando assim uma nova combinação entre eles. Essa combinação, todavia, mantém no mesmo nível de utilidade em que se encontrava anteriormente à modificação do preço do bem q2 (LEFTWICH, 1974). 1.3 Críticas às teorias econômicas A primeira crítica dirigida à teoria foi feita sobre as condições de transparência, ou seja, a hipótese de um conhecimento perfeito das necessidades e produtos suscetíveis de as satisfazer. Tal hipótese é pouco realista: um grande hipermercado oferece mais de 100.000 artigos. Como poderíamos conhecê-los? O conhecimento que um indivíduo tem de si mesmo e do meio envolvente é imperfeito e existe um limite restritivo à capacidade de absorção de informação do ser humano. Devemos, por esse motivo, rejeitar a teoria? Não necessariamente, pois, de um lado, existem situações nas quais a condição de transparência é menos problemática (por exemplo, os mercados alimentares como o pão, o leite e a farinha, nos quais está presente um pequeno número de casos) e, de outro lado, revisões do modelo permitem levar em consideração o caso de uma informação imperfeita, em particular pela introdução de mecanismos que traduzem a incerteza das preferências (WESSELS, 2002). A segunda hipótese, da coerência (transitividade) das preferências também foi objeto de numerosas pesquisas. Os trabalhos consagrados ao processo de tratamento da informação mostram, em particular, que o indivíduo já não podia, a partir de um certo limite dependendo, 19 por um lado, das suas capacidades cognitivas e, por outro lado, do número de entidades a classificar, assegurar a transitividade das suas escolhas (WESSELS, 2002). A terceira hipótese (a maximização da satisfação), no centro do esquema clássico, encontra-se, também, em contradição com a observação do comportamento de compra. Em algumas situações, o consumidor não procura otimizar o seu comportamento, mas contenha-se em atingir um nível "satisfatório" do objeto considerado quanto às características essenciais como a qualidade do produto ou serviço, é o que todo agente constata depois de decidir, após ter passado nas compras um tempo considerado suficiente, passar ao ato, mesmo se souber que continuando a procurar, talvez encontrasse melhor ou mais barato (WESSELS, 2002). CONSIDERAÇÕES GERAIS Na vida somos forçados a escolher continuamente. Quando optamos por algo, temos de renunciar a outras coisas. A partir desta premissa, a pesquisa buscou descrever, a partir da teoria econômica, como os consumidores alocam seus recursos, que são limitados, adquirindo bens e serviços para a satisfação de suas necessidades, que são ilimitadas. Assim, agindo racionalmente, o consumidor sempre toma uma decisão ótima, ou seja, a escolha que permita a execução de seu plano de consumo, que lhe conduza ao mais alto nível de bemestar. Em suma, o importante é ter em mente que o estudo do comportamento do consumidor a partir da teoria econômica, não é absoluto, sendo perigosa qualquer classificação inflexível, pois com o dinamismo atual das relações econômicas, certamente existem outras abordagens 20 acerca do tema, além da que foi descrita, e outras que advirão de estudos de pesquisadores deste assunto tão freqüente nos dias atuais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, J. Microeconomia: uma abordagem introdutória. São Paulo: Makron Books, 1995. CARVALHO L. C. P. Microeconomia introdutória: para cursos de Administração e Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2002. DUBOIS, B. Compreender o consumidor. Lisboa: Dom Quixote, 1998. FÉRGUSON, C. E. Teoria microeconômica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982. GARÓFALO, G. Teoria microeconômica. São Paulo: Atlas, 1985. LETFWICH, R. H. Sistema de Preços e alocação de recursos. São Paulo: Livraria Pioneira, 1974. PINDYCK, Robert. Microeconomia. São Paulo: Makron Books, 1994. SALVATORE, D. Microeconomia. São Paulo: McGraw-Hill, 1981. WESSELS, W. J. Microeconomia: teoria e aplicações. São Paulo: Saraiva, 2002. 21 22